TESE DCI 2004 (Ricardo Rodrigues)

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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA

INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO

MESTRADO EM: DESENVOLVIMENTO E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

“DINÂMICAS ECONÓMICAS E POLÍTICA


EXTERNA PORTUGUESA NOS PAÍSES NÃO
LUSÓFONOS DA SADC (1975-2002)”

RICARDO JORGE DA SILVA RODRIGUES

Orientação: Professor Doutor Manuel Ennes Ferreira


Júri:
Presidente: Professor Doutor Adelino Augusto Torres Guimarães, Professor Catedrático do
Instituto Superior de Economia e Gestão, da Universidade Técnica de Lisboa
Vogais: Doutor José Carlos Gaspar Venâncio, Professor Catedrático da Universidade da Beira
Interior
Doutor Manuel António de Medeiros Ennes Ferreira, Professor Auxiliar do Instituto Superior de
Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa.

Maio – 2004
ÍNDICE
Introdução.................................................................................................................................................. 5
PARTE I
Capítulo I – Uma Síntese da Teoria das Relações Internacionais........................................................ 8

1 – A Teoria das Relações Internacionais............................................................................................... 8


2 – O Objecto das Relações Internacionais............................................................................................ 11
3 – As Concepções das Relações Internacionais................................................................................... 12
3.1 – O Modelo Realista............................................................................................................ 15
3.2 – O Modelo Idealista........................................................................................................... 18
3.3 – A Sociedade de Estados.................................................................................................... 20
3.4 – O Modelo Pluralista-Independente................................................................................ . 22
3.5 – O Modelo Neo-Marxista................................................................................................... 25
3.6 – Uma Síntese....................................................................................................................... 27

4 – A Vertente Económica das Relações Internacionais...................................................................... 28


4.1 – A Noção de Interdependência.......................................................................................... 28
4.2 – Os Conceitos Internacionalização/Globalização/Mundialização................................. 30
4.3 – O Ordenamento da Economia Internacional: O Papel da Integração Regional........ 35
4.3.1 – Tipos de Integração Regional......................................................................... 37
4.3.2 – Razões que Originam a Integração Regional................................................ 38

PARTE II
Capítulo II - Política Externa e Diplomacia Económica..................................................................... 44
1 – Um Enquadramento Conceptual...................................................................................................... 44
2 – A política externa e diplomacia económica..................................................................................... 47
2.1 – A Articulação com a Política Externa da UE................................................................. 48
2.2 – A Acção Diplomática na SADC....................................................................................... 53
2.3 – A Política Externa de Portugal face à SADC................................................................ 54
Capítulo III – A SADC............................................................................................................................ 59
1 - Os Objectivos da SADCC.................................................................................................................. 60
2 – A Passagem de SADCC para SDC................................................................................................... 61

2.1 – Os Objectivos da SADC................................................................................................... 63


2.2 – Enquadramento Institucional......................................................................................... 64
2.3 – Alguns Constrangimentos da SADC.............................................................................. 65

3 – O Futuro da Integração Económica na África Sub-Sahariana e o Nepad.................................. 67


Capítulo IV – O Caso Portugal/Países não lusófonos da SADC......................................................... 70
1 – O Comércio Bilateral entre os Portugal e os Países Não Lusófonos da SADC............................ 70
2 – O Investimento Directo Estrangeiro................................................................................................ 96
3 – Balanço............................................................................................................................................... 101
Conclusão.......................................................................................................... ...................................... 107
Anexos...................................................................................................................................................... 109
Bibliografia.............................................................................................................................................. 114

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Dedico
à minha filha Maria Frederica
e aos meus Pais

3
AGRADECIMENTOS

Quero agradecer em primeiro lugar ao Professor Doutor Adelino Torres, a


forma exemplar com que acedeu à resolução dos contornos burocráticos que
envolveram a produção desta tese de Mestrado. O seu empenhamento activo
ajudaram decisivamente a solucionar aquela questão, o que me confirmou a ideia
que tinha de um mestre dedicado verdadeiramente à Academia e que luta
incessantemente pelo seu êxito e pelo sucesso dos seus mestrandos.
Em segundo lugar, ao Professor Manuel Ennes Ferreira, meu orientador,
pela forma amiga e sincera com que trabalhou comigo. Foram diversos os
momentos que passámos, mas não queria esquecer neste trabalho o seu apoio,
dedicação, paciência e impulso enorme que me deu para a concluir.
Em terceiro, a uma pessoa (que já não convive directamente comigo, mas)
que foi a principal causa e a principal força inicial para a realização deste
Mestrado, a diplomata e amiga, Dr.ª Joana Gaspar.
Por último, a toda a minha família, em especial à minha mulher, pelo
tempo em que estive ausente, mas que doravante será compensado.
A todos, um bem haja e um eterno muito obrigado!

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INTRODUÇÃO

Em África sempre houve uma tendência para que os países considerem a


necessidade de olharam para outros, sobretudo quando se verificam depressões
económicas a nível mundial. O impacto deste efeito neste continente acaba por
resultar numa redução do investimento e do comércio. A agenda ‘África’ perde
peso.
Factos como estes revelam que é fundamental cooperação regional entre
os países africanos. A União Africana (UA) começa agora a ganhar alguma força
e peso a nível interno (de que é exemplo a NEPAD) e também a nível externo.
Percebe-se que os líderes africanos querem agora apostar numa lógica
continental e não numa lógica de Estados.
O projecto da UA é um projecto ambicioso, que tem como elemento
essencial a supressão gradual de um conceito de Estado frágil para uma estrutura
integrada a nível continental. A própria carta da UA reúne e é composta por
valores essenciais, como a democracia política, a boa governação, o respeito
pelos direitos do Homem.
A ideologia, a mentalidade e o esforço dos dirigentes africanos parece
estar a mudar para melhor, no sentido em que pretendem apresentar obra feita,
pretendem vender melhor o seu país para captar investimento, estando para isso a
identificar os problemas dos atrasos estruturantes, criando também novas
estratégias para os resolver. A criação da Nova Parceria para o Desenvolvimento
(NEPAD) tem origem precisamente num diagnóstico simples: os dirigentes
africanos perceberam finalmente que muitos dos problemas que assolam nos seus
territórios são comuns a muito outros e, portanto, o esforço conjunto para a sua
solução é o que se adivinha mais eficaz.
Portugal, por razões históricas óbvias, tem sido um parceiro privilegiado
dos PALOP em África. Simultaneamente, é também claro o interesse económico,
político e cultural que Portugal tem na manutenção de um bom relacionamento
com esses países.

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Os casos de Angola e Moçambique, enquanto parte integrante da SADC,
será o exemplo mais paradigmático. No entanto, nos últimos anos, parece
existirem indícios que a atitude portuguesa para com os países africanos não-
PALOP tem sido mais activa. Há por isso a percepção que existe um potencial de
relacionamento económico com a SADC que pode trazer benefícios políticos e
diplomáticos a Portugal.
Face ao discurso dos sucessivos governos no que concerne ao
relacionamento económico com África e à informação estatística que mais é
referida na comunicação social, é de esperar que existe uma secundarização
assinalável no estabelecimento de laços e reforço dos já existentes entre Portugal
e os países não lusófonos da SADC. No final, o trabalho debruçar-se-á sobre
recomendações genéricas para essa aproximação.
Neste contexto, esta tese procura investigar a correlação existente ou não
entre os objectivos estratégicos da diplomacia portuguesa na região Austral de
África e o aprofundamento do relacionamento económico – nomeadamente
através do comércio e do investimento – durante o período compreendido entre
1975-2002, com outros países integrantes do SADC, com particular destaque
para África do Sul, Zimbabwe, Botswana, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia,
Tanzânia, Malawi e Lesoto.
Pareceu-nos essencial analisar as dinâmicas económicas e a política
externa portuguesa na SADC.
Numa primeira parte, abordamos a parte teórica das relações
internacionais e a sua vertente económica, com particular destaque para os efeitos
da integração regional. Na segunda parte, pretende-se observar o posicionamento
de Portugal face a África, através da política externa e diplomacia económica,
passando, em seguida a uma análise à SADC e a um estudo de caso em torno do
posicionamento de Portugal face àquele espaço de integração económica.

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PARTE I

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CAPÍTULO I

UMA SÍNTESE DA TEORIA DAS RELAÇÕES


INTERNACIONAIS

1 - A TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Os filósofos Espinoza, Rosseau e Kant foram, no século XVIII, os


primeiros a examinar as relações internacionais no mundo, com base na força e
poder dos Estados. Mas foi após a 1ª Guerra Mundial que o estudo da ciência das
relações internacionais mais se desenvolveu, através das universidades anglo-
saxónicas, e, desde então, teve sempre subjacente o estudo das relações e
contactos estabelecidos entre Estados, com particular destaque para a política
externa dos mesmos, apresentando-se de natureza variada, desde conflitos inter-
estaduais à cooperação nos planos político, económico, estratégico, cultural...
Para isso, muito contribuíram os pensamentos de Edward Carr, de
Reinhold Niebuhr, Hans Morgenthau, Frederick Schuman, Nicholas Spykman,
Raymond Aron, Marcel Merle, George Kennan, Henry Kissinger, Rudolf
Hilferding, Nicholai Boukharine, Rasa Luxemburgo, Lénine, entre outros.
Devido a esta situação, começou a tornar-se evidente a necessidade de se
impor uma visão larga e global das relações internacionais, tendo em conta o
conjunto de fenómenos internacionais, que contemplam a existência do Estado,
logo, das suas fronteiras. Estas dão a sua especificidade na dimensão
internacional das relações sociais, mesmo se, em determinadas regiões – Médio
Oriente ou África Sub-Sahariana, a noção de fronteira tenda, hoje em dia, a ser
desafiada e a sofrer mutações.
As relações internacionais podem assim ser definidas como o conjunto de
relações e comunicações susceptíveis de ter dimensões política, económica,

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social e cultural, estabelecidas entre grupos sociais, atravessando as respectivas
fronteiras (Braillard e Djalili, 1988, p.11).
O campo das relações internacionais tomou, no decorrer do século XX,
uma importância muito grande na vida das sociedades devido a processos de
mutação complexos. Em primeiro lugar, as trocas internacionais conheceram um
crescimento e uma diversificação sem precedentes sob o efeito do processo de
modernização que se inscreveu na dinâmica da revolução industrial. Este
crescimento das trocas foi sobretudo estimulado pelo desenvolvimento das redes
de comunicação associadas ao progresso tecnológico, assim como pela divisão
internacional do trabalho e a constituição de um mercado mundial.
Depois, a revolução tecnológica conduziu à criação de novos sistemas de
armamento cuja aplicação em larga escala é susceptível de ameaçar a existência
de toda a humanidade.
Neste contexto, os conflitos internacionais tomaram também um
crescimento e uma diversificação sem precedentes. Por outro lado, com o
desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia, derivado do aumento das
trocas internacionais, originou-se o processo de globalização e mundialização das
relações internacionais. Esta importância sem precedentes adquirida pelas
relações internacionais, torna necessária uma reflexão sistemática sobre esta
questão complexa.
O estudo das relações internacionais conheceu, no decorrer das últimas
décadas, um desenvolvimento rápido, marcado, por um lado, pelo crescimento
quase exponencial de trabalhos de análise e pesquisa e, por outro, por
importantes mutações a nível mundial. Assistimos, de facto, desde o período
entre as duas Grandes Guerras, a uma multiplicação do número de trabalhos
consagrados às relações internacionais e à aparição progressiva de uma
comunidade científica de origens diversas, tendo como objecto de reflexão os
fenómenos internacionais (Braillard e Djalili, 1988, p.7).
O processo que autonomiza as relações internacionais concretiza-se pela
criação, desde o fim da Primeira Guerra Mundial, de instituições de ensino e
pesquisa consagradas às relações internacionais. Limitado inicialmente aos

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Estados Unidos e à Grã-Bretanha, este fenómeno acabaria por se estender
progressivamente, no pós-Segunda Guerra Mundial, ao conjunto da Europa
ocidental, depois à União Soviética e mesmo a alguns países do Terceiro Mundo.
Estamos perante um crescimento do interesse pelas relações internacionais
e que se deve, em parte, à consequência da importância tomada pela política
internacional durante o século XX, e, nomeadamente, pelas profundas
repercussões que os dois conflitos mundiais tiveram sobre o conjunto da
sociedade internacional. E os factos são claros para Braillard e Djalili (1988, pp
7-8), ainda que, tradicionalmente, o estudo das relações internacionais se dedique
mais à história diplomática, à filosofia política, ao direito internacional e até à
economia, numerosas disciplinas como a sociologia, a psicologia, a antropologia,
a etnologia investiram também neste domínio, o que conduziu a uma
desconcentração e a um enriquecimento do estudo das relações internacionais.
Esta evolução permitiu que vários estudiosos e analistas reivindicassem
para as relações internacionais o estatuto científico das mesmas.
Estamos assim de acordo com Carr (1964), quando este assinala que a
nova disciplina das relações internacionais é a consequência do desejo fortemente
sentido nos Estados Unidos no clima dos pós-Primeira Guerra Mundial de compreender
as origens de um tal conflito e de construir uma sociedade internacional pacífica.
Sob a influência combinada da penetração das ciências sociais e das
alterações profundas da vida internacional - multilateralização da diplomacia,
desenvolvimento de novos sistemas de armamento, descolonização,
universalidade do modelo Estado-Nação, mundialização do campo estratégico-
diplomático e dos mercados económico-financeiros, reforço das
interdependências, desenvolvimento dos meios de comunicação, globalização
dos problemas ecológicos e amplificação dos fluxos migratórios – o estudo das
relações internacionais abriu-se a novas dimensões, como o fenómeno da
organização internacional, dos processos de integração regional, da estratégia
nuclear ou, ainda, dos problemas de desenvolvimento sócio-económico.

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Basicamente, a fundação da teoria das Relações Internacionais deve-se à
insatisfação com que outras disciplinas compreendiam e situavam o próprio
sistema internacional.
A este propósito, Cravinho (2002, pp 18-19) apresenta-nos três
interpretações com que os especialistas de outras disciplinas ainda hoje olham
para as relações internacionais: a primeira, e mais frequente, é que a disciplina
nada mais é senão jornalismo internacional contemporâneo, por vezes bem feito
e por vezes nem isso (...); segundo, a falta de um corpo de instrumentos
conceptuais próprios; (...) terceiro, a dificuldade em estabelecer e consolidar uma
problemática clara retira objectividade e convicção à disciplina e faz com que do
exterior seja frequentemente vista com uma amálgama de incoerências (...)

2 - O OBJECTO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O estudo científico dos factos e vida internacionais são, sem margem para
dúvida, o objecto desta disciplina em permanente desenvolvimento. Mas quando
nos referimos à palavra internacional temos tendência a confundir os limites da
sua abrangência. Por exemplo: que tipo de relações internacionais podemos
atribuir a uma empresa que estabelece laços comerciais com outra empresa e que
tipo de relações internacionais podemos atribuir a um governo quando estabelece
relações diplomáticas com outro Estado?
Pinto (1972, p.26) admite que as relações internacionais «são todas as
relações sociais em que os participantes ou o conteúdo estão ligados a duas ou a
várias sociedades políticas estatais». Podemos assim aferir que a definição de
relações internacionais extrapola as relações diplomáticas entre Estados ou os
limites estritos das embaixadas ou das chancelarias.
Virally (1959, p. 438), por seu turno, define as relações internacionais
como «as que escapam ao domínio de um poder político único» ou «as relações
entre poderes políticos que escapam ao domínio de um poder político superior».

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Mas, neste caso, percebe-se que Pinto vá um pouco mais longe quando alarga a
conexão entre as relações internacionais e as relações inter-estatais.
Conforme se afirma anteriormente, estas definições não concentram em si
toda a amplitude e universo das relações internacionais, sobretudo as
contemporâneas.
Nos últimos anos, é muito evidente que as relações inter-estados não se
limitam às relações meramente políticas, extravasando de todo essa esfera.
Vejam-se os exemplos das relações internacionais entre empresas, como a EDP e
a espanhola Iberdrola, entre a PT e a Telefónica. Podemos registar também
exemplos da participação dos sindicatos de um país em relação a uma crise
internacional, exemplos como a intervenção das ONG’s no mundo nas mais
diversas áreas, como a saúde, a cultura, os direitos humanos, entre outros. Não
têm estas questões o mesmo peso da política dos Estados?
Deste ponto de vista, poderíamos dizer que tudo é internacional, dado que
a unidade de base já não é o Estado, mas antes o indivíduo comprometido numa
acção ou numa situação mundial.
Quando Huntzinger (1987, p.11) refere que «as relações internacionais são
a ciência dos factos sociais internacionalizados», entende-se a dimensão do
objecto desta disciplina que, no fundo, abrange as relações políticas, as relações
económicas, as relações estratégicas, num mundo global, mas delimitado.
Diríamos mesmo, a verdadeira encruzilhada.

3 - AS CONCEPÇÕES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A teoria das relações internacionais sempre esteve separada em três


grandes correntes filosóficas fundamentais.
Tucídides, Lenine, Maquiavel, Hobbes, Hume, Clausewitz, Rosseau, entre
outros, foram grandes pensadores e tudo ou quase tudo reflectiram sobre as
relações internacionais, a paz e a guerra, as nações e os homens, a cooperação e o
conflito. Por exemplo, Maquiavel sonhava com a grandeza de Florença e com o
destino da República. Já Hobbes vivia obcecado com a segurança civil quando

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escreveu o Léviathan. Clausewitz reflectiu sobre a guerra e foi um dos que mais
reflectiu sobre as relações entre as nações. Hegel e Fichte construíram a sua
reflexão a partir do Estado. Marx sonha com a revolução na Alemanha e na
Inglaterra. Lenine com a Rússia (Huntzinger, 1987, pp 52-53).
Todos estes actores e pensadores promoveram três grandes correntes de pensamento, ou
seja, três paradigmas fundamentais das relações internacionais.
Clausewitz, Vitoria e Marx são a imagem mais clara da contradição destes três
paradigmas: a sociedade internacional como relação entre Estados soberanos e
independentes através do interesse nacional, do poder, da guerra ou do equilíbrio; a
sociedade internacional como comunidade universal, encontro de homens, combinação
de relações individuais e transnacionais; a sociedade internacional como sistema de
dominação dos poderosos sobre os fracos, dos possuidores sobre os possuídos, dos
exploradores sobre os explorados. (Huntzinger, 1987, pp 53, 54)

O primeiro paradigma acabaria por surgir com os teóricos do equilíbrio


europeu - Tucídides, Maquiavel, Hobbes, Vattel, Hume – e com os teóricos do
nacionalismo europeu - Rosseau, Espinoza, Clausewitz - do século XIX. Este
modelo era considerado como a teoria clássica das relações internacionais. Este
primeiro paradigma é o de uma coexistência dos Estados, os quais, com a sua
força e soberania dos seus exércitos e da sua diplomacia, agem entre si para o
melhor dos seus interesses, praticando uma espécie de egoísmo inteligente.
O segundo paradigma é aquele que define que os direitos fundamentais
pertencem aos homens e não aos Estados. Huntzinger (1987, p.54), sublinha que,
o estoicismo, Cícero, o cristianismo medieval, o «jusnaturalismo» do século
XVI, o cosmopolitismo do século XVIII exprimiram na sua época o segundo
paradigma, que é duplamente idealista, no sentido vulgar e filosófico do termo.
Este segundo paradigma é o da existência de uma comunidade internacional da
societas inter gentes de Cícero e de Vitoria. Esta comunidade universal é
composta por homens ... pré-existentes aos Estados e preservam direitos e
prerrogativas fundamentais que jamais lhe podem ser retirados.
Neste modelo, tudo pertence aos homens e não aos Estados. No fundo,
existem neste paradigma, uma visão universalista do homem e uma visão prática,

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baseada na importância adquirida pelas relações económicas, comerciais e
culturais a respeito das relações diplomáticas.
Posteriormente, foram os revolucionários franceses de 1793, como Fichte,
Hegel, Marx e Engels, Hobbson, Hilferding, Lenine, Boukharine, que
exprimiram o terceiro paradigma. Para estes o mundo era dividido entre aqueles
que fazem a história e aqueles que a sofrem, com muitas desigualdades e onde o
domínio era executado por muito poucos, sob diversas formas. Estamos a falar
aqui de uma sociedade internacional de dependência política e económica,
baseada na exploração e na dominação, à imagem das sociedades internas
baseadas na divisão entre governantes e governados (Huntzinger, 1987, p. 55).
Esta separação teórica perceptível nestes três paradigmas é confirmada nas
escolas de pensamento contemporâneas das relações internacionais.
Os desenvolvimentos contemporâneos da teoria das relações
internacionais inscrevem-se num contexto muito diferente daquele que dominou
o conjunto das reflexões políticas analisadas anteriormente. São sobretudo mais
completos, por se tratarem de um produto de especialistas das relações
internacionais, não filósofos ou homens políticos, mas universitários ou homens
da ciência.
Por outro lado, são menos ambiciosos, pois não visam propor novos
paradigmas nem apresentar grandes visões fulgurantes, mas dão continuidade às
grandes construções teóricas, às grandes abordagens elaboradas no decurso dos
séculos precedentes no continente europeu.
Hans Morganthau ou Raymond Aron, por exemplo, são continuadores de
Hobbes e Clausewitz e não renovam verdadeiramente a teoria das relações
internacionais.
O reconhecimento da existência de 5 grandes concepções das relações
internacionais é hoje pacificamente aceite, sendo elas a visão realista, a idealista,
a sociedade de Estados, a pluralista-interdependente e a neo-marxista. Mas,
aceitar esta distinção entre estas correntes, obriga a destacar alguns conceitos
chave que, quando analisados de forma específica, acabam por ter uma lógica
menos consensual pelos estudiosos e observadores.

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3.1 – O modelo realista

Falar das concepções realistas e sem recuar ao tempo da Antiguidade para


sublinhar o papel do historiador grego Tucídides, seria um erro. Na Grécia,
Tucídides foi dos primeiros a reflectir, de forma aprofundada, sobre as relações
internacionais. Este grego privilegiou a dimensão conflituosa das relações
internacionais nas suas análises, nomeadamente a guerra de Peloponeso entre
Esparta e Atenas (431-404 a.C.).
A análise do conflito entre as duas cidades foi muito minuciosa por parte
de Tucídides, descrevendo o longo afrontamento que decorreu no apogeu de
ambas e em plena posse dos respectivos impérios.
Na abordagem, o historiador levanta questões sobre as causas que
levariam ambas as cidades ao confronto puro e duro, quando poderiam viver
pacificamente lado a lado. Mas, mais importante, Tucídides interroga-se sobre as
origens profundas do conflito, acabando por encontrar a explicação essencial no
imperialismo de Atenas, considerando que a guerra resulta do excesso de poder:
quanto maior uma cidade, maior a ambição e desejo de conquista.
No mesmo sentido, a tradição realista leva-nos a recuar alguns séculos.
Foi a concepção predominante para caracterizar a política internacional durante
os séculos XVIII, XIX e meados do século XX.
O mestre que descobriu Hobbes, Clausewitz e Hume foi Reinhold Niebuhr
(1892-1971), fundador da escola realista americana e exerceu uma influência
considerável sobre homens como Frederick Schuman e Hans Morganthau. A sua
principal obra foi ‘Moral man and Immoral Society’ (1932). Era teólogo
protestante, um pessimista religioso em relação ao homem e à sociedade.
Conforme Cravinho refere “são sobretudo Niebuhr, Carr e Morgenthau
que definem os parâmetros do realismo que dominou a disciplina de Relações
Internacionais durante largas décadas” (2002, p.140).
A proposição crítica dos realistas é a de que o Mundo é constituído por
Estados que ‘habitam’ num ambiente anárquico, embora anárquico não
signifique ‘caos’. Anarquia deverá ser entendida por ordem, estabilidade e por

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formas reguladas de interacção entre unidades independentes. Nas relações
interestaduais, anarquia significa que, definitivamente, os Estados só podem
contar com eles próprios para a sua segurança. Não existe nenhum outro tipo de
super autoridade que faça a gestão das relações entre soberanos.
Nas relações internacionais, contudo, anarquia é muitas vezes equiparada
com insegurança, medo e guerra. Porquê? Se recorrermos aos pensamentos de
Rosseau (cit in Holsti, 1995, p.5), os Estados devem eles próprios armarem-se
para se prepararem para as contingências que alguns dos seus vizinhos possam
desenhar para atacar, ... mas no processo de acumulação de armamento para sua
segurança, outros Estados podem interpretar essa atitude como potenciais
ameaças para a sua própria segurança. Este processo de acção e reacção é
designado por dilema de segurança: os meios pelos quais cada Estado recorre
para a sua segurança, gera a insegurança para os outros. (Holsti, 1995, p. 5)
Mas porque é que não havia uma maior preocupação com a cooperação,
em vez da competição? O próprio Rosseau (cit in Holsti, 1995, p. 6) responde a
esta questão com uma parábola. Sete homens primitivos, decidem que teriam
uma melhor oportunidade de apanhar um cervo armados com lanças em vez de
cercarem o animal. Fizeram assim o cálculo racional segundo o qual, se
cooperassem, teriam 80% de hipóteses em matar o animal, embora soubessem
que o teriam de dividir entre eles, o que totalizava 15% para cada um. Esta é uma
melhor solução do que cada um por si. Actuando por si só, cada caçador teria
apenas 5% de hipóteses para matar o cervo, embora, no caso de ser bem
sucedido, atingisse os 100% do ‘jogo’.
Neste cenário, Rosseau demonstra por que é racional a colaboração. Todos
beneficiam. Mas porque que razão este sistema falha? No cenário de caça, por
exemplo, aparece a conhecida lebre e um dos caçadores deduz ter uma excelente
oportunidade de a caçar. Nessa tentativa, acaba por fazer barulho suficiente para
espantar o cervo e os restantes caçadores acabam por ir para casa aborrecidos e
sem nada. Rosseau demonstra assim que, em qualquer momento, qualquer um
dos caçadores pode abandonar uma estratégia de recompensa colectiva em

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detrimento da ambição individual de cada um. Eis o porquê da falibilidade deste
sistema.
Nas relações interestaduais é exactamente igual. Todos os Estados querem
ganhar – maximizar recompensas – através da colaboração. Mas desde que o
sistema anárquico compele cada príncipe (caçador) a optar pelos ganhos de curto
prazo ou imediatos, as bases da colaboração ficam destruídas e os potenciais
prémios de uma acção conjunta são substituídas pela desconfiança, deserção e
guerra.
Para os realistas, os grandes factores da política internacional têm que ver
com questões de segurança, guerra e paz. A realidade da diplomacia é que os
ganhos de um Estado são os custos de outro, e que nenhum Estado pode
depositar confiança num outro para sua própria defesa e bem-estar. É uma
espécie de jogo de soma nula.
Daqui decorre uma importante questão: é esta visão pessimista da política
internacional assente numa construção meramente teórica? A história das
relações internacionais desde Vestefália, em 1648, dá-nos uma irresistível
evidência de que é razoavelmente correcto descrever a dinâmica das relações
entre Estados num ambiente de anarquia. De acordo com Watson (cit in
Cravinho, 2002, p.62), apesar do falhanço na aplicação dos tratados assumidos
pelos Estados em Vestefália a transição vestfaliana é caracterizada pelo gradual
desaparecimento de uma ordem onde a autoridade política do clero e da nobreza
se fazia sentir de forma descentralizada, mesmo que por vezes sem grande
eficácia...Em substituição dessa ordem horizontal e descentralizada, desenvolve-
se uma nova ordem internacional baseada em entidades territoriais distintas e
autónomas...Primeiro impõe-se a doutrina da independência dos poderes políticos
em relação à Igreja Católica e ao Santo Império Romano...Segundo, e corolário
do primeiro princípio, estabelece-se que os Estados não devem interferir nos
assuntos internos de outros Estados.
Desde 1648 já houve várias dezenas de conflitos, sem contar com crises e
várias tentativas de criação de impérios e sistema hegemónicos. O período da
Guerra Fria, as crises na Bósnia e na Croácia, o 11 de Setembro de 2001, os

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conflitos entre israelitas e palestinianos, o fundamentalismo islâmico, etc, dão-
nos uma evidência mais contemporânea. Estas relações são caracterizadas por
uma substancial insegurança, pelo primado da segurança nas suas relações e pelo
assumir de que qualquer movimento do adversário é tomado com propósitos
malévolos. Apesar de se admitir que as alianças podem reforçar a segurança,
cada um terá que ter as armas suficientes para actuar sozinho se tal for
necessário. O caso recente de testes balísticos nucleares, onde a Índia e o
Paquistão tendem a responder reciprocamente perante novos testes, é disso
exemplo.
Tucídides, na Grécia Clássica, foi pioneiro dos estudos das relações
internacionais, como referimos no início deste ponto. Seguiu-se depois uma visão
idealista, logo após a Primeira Guerra Mundial, enquanto um dos paradigmas
dominantes das relações internacionais.

3.2 – O modelo idealista

A extensão do conflito, as consequências do recurso aos meios de


destruição massiva sem poupar vidas humanas suscitou uma profunda repulsa e
uma imperiosa necessidade de criar meios que impedissem uma nova Guerra
Mundial, assegurando ao sistema internacional a paz e a estabilidade.
É conhecido o esforço das potências europeias, em 1918, em restabelecer
a união que antecipou o conflito: o Concerto Europeu.
Como consequência, desenvolveu-se uma importante corrente idealista,
muito impulsionada pelo presidente americano Wilson, e que buscava alguma
inspiração no liberalismo, no socialismo utópico e no pacifismo. No fundo, a
nova corrente idealista apostava para o seguinte: conflitos violentos entre Estados
podem ser evitados por uma transformação da realidade interestadual, graças ao
respeito pelo Direito, à injunção da moral na vida internacional e à extensão da
democracia.

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O projecto idealista girava assim em torno da segurança colectiva, cujos
grandes eixos são a renúncia voluntária à guerra como instrumento da política
internacional, o desarmamento e a reorganização da vida internacional de forma
voluntária e racional. O projecto Sociedade das Nações, impulsionado pelo
presidente Wilson, é o que melhor representa a corrente idealista. Porém, o
objecto principal dos idealistas era o de fundamentar os factos com base numa
análise lúcida da realidade, de forma a evitar guerras e assegurar as relações
internacionais pacíficas. O estudo das relações internacionais procura assim
conduzir a uma explicação prática imediata.
O conceito idealista é entendido assim como complexo, mas sofisticado.
Refere que o direito internacional deve ser um dos instrumentos para moderar
conflitos entre Estados, regular e diminuir a conflitualidade. É de facto um
conceito que toma a noção de que a cooperação é possível com um regulamento
e mecanismos jurídicos de redução de conflitos.
O ambiente internacional é entendido como pacífico, caso contrário, o
direito teria que por si só regular e impor a ordem internacional. Para usar o
direito é necessária uma estrutura internacional - como a Sociedade das Nações e,
no pós-IIª Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas - com o objectivo
de formular e preservar esse direito.
Para os idealistas, a guerra era o resultado dos regimes ditatoriais devido
ao expansionismo e conquista de territórios, ou da percepção errada de sinais
internacionais. Rato (1997), por exemplo, defendeu que “esta não é uma
consequência lógica nem racional, mas tem momentos em que o é”.
O interesse nacional do Estado tinha subjacente um aumento do seu
próprio poder, ou seja, todo o seu agir internacional tem por base o interesse
nacional, enquanto que o equilíbrio de poderes pretendia garantir a estabilidade
no conflito internacional entre Estados.
Como refere Rato (1997), “é entendido como equilíbrio militar, tal como
alguma projecção económica, embora menos. O equilíbrio militar é que assegura
a existência futura do Estado. Equilíbrio significa ter capacidade estável

19
relativamente aos outros Estados que ameaçam mais, como por exemplo, na
Guerra Fria, a Nato e o Pacto de Varsóvia”.

Realismo vs Idealismo

Pressupostos Realismo Idealismo

Natureza Humana Egoísta Altruísta

Actores Principais Estado Estados e Outros, incluindo indivíduos

Causas do comportamento Busca racional dos próprios interesses Motivos psicológicos dos decisores
do Estado

Natureza do sistema Anarquia Comunidade


Internacional

Fonte: Goldstein, Joshua S., International Relations, 2ª ed., New York, HarperCollins, 1996, p.53

É claro nestas referências que os realistas defendem que a paz é sempre


preservada pelo equilíbrio de poderes, mas o grande problema era que, na
ausência desse equilíbrio, a guerra seria inevitável. Isto permite concluir que o
desequilíbrio é a grande causa da guerra.
Ou seja, e em síntese, “para os realistas, o Estado é o actor principal. É
entendido como entidade unitária, ou seja, projecta o seu poder para o exterior.
Portugal apresenta-se perante o exterior com uma só voz. É uma perspectiva nas
Relações Internacionais que não é partilhada por todos. Para alguns, o Estado
deve ser desagregado, dado que os seus interesses nem sempre são bem
articulados”, exemplifica Rato (1997).
Falamos então do paradigma alternativo, nomeadamente, a desagregação
do Estado.

3.3 – A Sociedade de Estados

O jurista Hugo Grotius foi a personalidade que escreveu as primeiras


linhas sobre direito internacional no século XVII. Na altura, os Estados

20
ganhavam as suas primeiras formas. Ele fez uma analogia entre a posição e as
condições dos Estados entre si e dos indivíduos no seio da própria sociedade.
“Existe de facto uma ‘sociedade de estados’, um grupo similar de actores que
regulam as sua relações através de formas como a diplomacia e comércio,...”,
(Grotius cit. in Holsti, 1995, p.7).
Um mecanismo tradicional que sustenta a sociedade de Estados é o
equilíbrio de poder. Como um caminho para a política, o equilíbrio é
simplesmente um mecanismo pelo qual os Estados colaboram para manter a sua
independência contra ameaças dos que procuram a hegemonia ou a criação do
império mundial. Assim, por exemplo, no início de 1700, os Estados da Europa
colaboraram numa guerra contra Luís XIV, de quem se suspeitava uma estratégia
para criar um super Estado Bourbon, cercando Espanha e França. Similarmente,
em 1813, os Estados da Europa formaram a grande coligação que derrotou
Napoleão, cujos planos visavam substituir o sistema de Estados por um império
com Paris no seu centro. Também, em 1939, os Estados livres da Europa, os
países da Commonwealth e os Estados Unidos, uniram forças para derrotar o
grande projecto de Hitler, que visava uma ‘nova ordem’ dominada pela
Alemanha. Estes são todos exemplos do equilíbrio de poder. O equilíbrio não
tem a intenção de evitar a guerra; o seu objectivo é salvaguardar a soberania e
independência dos Estados – a sociedade de Estados – que são ameaçados por
aqueles que pretendem destruir o sistema de Estados e colocar em seu lugar
novas formas centralizadas e imperiais de controle.
Tal como os realistas, esta descrição não é difícil de ser sustentada tendo
em conta as características essenciais à política internacional. Temos
organizações internacionais que ditam e explicitam as normas de conduta e
fornecem uma variedade de serviços e procedimentos para lidar com os conflitos
internacionais.
Os Estados que recusaram conduzir as suas relações através do modesto
reconhecimento das regras do jogo foram excluídos do clube. Existiam de facto
grupos de Estados representados por regimes que não aceitavam algumas das
regras fundamentais do jogo. Mais recentemente, são exemplos o Irão de

21
Ayatollah Khomeini e a Líbia do coronel Khadaffi, ostracizados por vários
Estados devido a terem condutas desapropriadas. Todos os membros das Nações
Unidas votaram a condenação do governo revolucionário iraniano quando nada
fez para evitar que a equipa da embaixada americana em Teerão ficasse refém.
Esta foi uma violação elementar da regra da imunidade diplomática e todos os
governos o sancionaram.

3.4 – O modelo Pluralista-Interdependente

Hierarquizando interesses, os realistas incidem a sua visão nas questões


militares, cujo fim último é o interesse nacional. O Estado é para o seguidores
desta política um actor racional através da política externa.
Os pluralistas, como David Mitrany, John Burton e mais recentemente
Giscard d’Estaing, entre muitos outros, nem sempre assentam a sua filosofia nas
questões militares, pois estendem-na a factores também de ordem económica,
ambiental, entre outros. O Estado tem prioridades em função das conjunturas.
Em Portugal, as prioridades também já tiveram origens múltiplas, sendo disso
exemplo o esforço nacional para a adesão à moeda única, a adesão à CEE, na
colonização, entre outros.
A racionalidade para os pluralistas nem sempre é a aparência que existe,
uma vez que, para eles, a política externa resulta da burocracia, do impacto das
elites económicas, políticas. Logo, a política externa não é necessariamente
racional, mas antes uma política de compromisso.
Segundo Rato (1997), no modelo pluralista, os resultados não são os melhores
no sentido da maximização do poder, sendo também impossível avaliar a racionalidade
da política externa. A verdade é que tanto uns como outros têm razão. São ambos
racionais.
Ainda de acordo com Rato (1997), os realistas não se preocupam com as
percepções, pois a paz garante-se com o equilíbrio de poder. Este problema
coloca-se na diplomacia. Até que ponto é que um interlocutor quer realmente

22
transmitir o que diz? Até que ponto é possível fazermo-nos compreender ao
outro?
No entanto, as duas concepções anteriores de política internacional
incidem a sua análise nas actividades dos Estados. Também são consensuais nos
principais problemas com que o Estado se confronta: a segurança, a paz e a
ordem. A política internacional constitui assim um domínio de actividade,
largamente divorciado de outros processos como o comércio ou outras formas de
comunicação entre sociedades.
O modelo pluralista-interdependente, em contraste, associa os problemas
políticos ao social – e particularmente o económico – em sentido lato. Os
pressupostos deste modelo negam assim a hipótese do analista se abstrair de um
complexo espaço de inter-relacionamentos entre sociedades apenas pelos
aspectos políticos e de segurança.
Mas quem são os principais actores nesta perspectiva? Os Estados são
importantes para definirem regras nos sectores da economia, da tecnologia, das
comunicações. Mas, sozinhos, não determinam a agenda internacional, nem
conseguem tomar decisões alheios dos interesses, valores e aspirações das
milhares de empresas existentes, bancos, partidos políticos, cidadãos... São estes
agentes, que não são o Estado que traçam a agenda e que criam todo o tipo de
coligações transnacionais e influenciam as políticas de qualquer Estado
individual.
Eles actuam como grupos de pressão internacional, publicitam problemas
e propõem soluções para os mesmos. O poder do conhecimento, da publicidade,
da ciência, da tecnologia, da economia, substitui largamente os poderes das
armas e exércitos. Mesmo nos grandes fóruns internacionais, como as Nações
Unidas, os grupos não governamentais têm acesso a delegados, fornecem todo o
tipo de informação e fazem lobby em defesa das suas soluções preferidas para
uma variedade de problemas internacionais e que vão desde a ameaça de extinção
de espécies animais ao tratamento de refugiados em vários países.
A política, então, não é feita por apenas alguns políticos e burocratas que
ocupam lugares de executivos e diplomáticos. A política emerge de um longo

23
processo de interacção e consulta entre grupos privados transnacionais, políticos,
burocratas e muitos outros. Daí, o termo pluralista. Em muitos países, a política
emerge de um grande e complexo processo de pedidos, consultas e, algumas das
vezes, coacção entre uma variedade de grupos nacionais e transnacionais, por um
lado, e de funcionários públicos, por outro.
A característica mais importante do sistema global contemporâneo é o da
interdependência. O significado do termo, no senso comum, refere que qualquer
acontecimento, tendências ou decisões que aconteçam têm um impacto em
qualquer outro lugar. Uma eleição na Grã-Bretanha vai acabar, por exemplo, por
ter algum impacto nos preços das acções no mercado de Tóquio. Mas o conceito
acaba, no entanto, por ser mais complicado. A interdependência sugere uma
dependência mútua: a necessidade de dois ou mais actores fornecerem bens e
serviços entre si. Portanto, sugere que dois actores não conseguem unir interesses
nos campos da segurança, economia, alimentar, ambiental, sem cooperar.
Como ilustração, suponhamos que, por razões de guerra ou catástrofe ou
sanções económicas, a oferta de petróleo do Médio Oriente era cancelada. Quais
seriam os custos para encontrar uma solução alternativa? Neste caso hipotético,
os custos seriam enormes para os europeus. Mas também iria arruinar as
economias dos países produtores no Médio Oriente. Tanto a oferta como a
procura iriam sofrer danos. São mutuamente dependentes, ou interdependentes.
No modelo pluralista-interdependente, o aumento da interligação das
economias nacionais tem também aumentado significativamente as
vulnerabilidades de todos os Estados. E, como resultado, muitos e novos pontos
têm surgido na agenda internacional. Questões de guerra e paz passaram para um
segundo plano. Governos, grupos transnacionais, grupos nacionais actuam no
levantamento de muitos assuntos ligados a problemas económicos e técnicos para
a sua coordenação ou resolução. Mas como é que os governos e as firmas
poderão expandir o comércio multilateral quando enfrentam pressões
proteccionistas? Como é que os governos coordenam as políticas nacionais para
reduzir as pressões inflacionistas globais? Ou, como é que uma diversidade de

24
actores colabora para terminar com a extinção de elefantes no sentido de
aproveitar o que resta deste tipo de espécies?
Nestes assuntos, o peso do poder militar ou da força militar tem cada vez
menos relevância. Os assuntos são decididos com base em evidências científicas,
no domínio de várias técnicas negociais, na liderança, na habilidade de fazer
coligações.
Nesta perspectiva, o desenvolvimento da cooperação internacional, com a
multiplicação das estruturas de cooperação que são as organizações
internacionais, manifesta uma evolução profunda das relações internacionais,
assentes na interdependência e na comunhão de interesses.

3.5 – O modelo neo-marxista (do imperialismo e da dependência)

As escolas do imperialismo surgem na década de 60 e são as que, de uma


maneira ou de outra, tomam em conta todos ou parte dos raciocínios de Hobson,
Rosa Luxemburgo, Rudolf Hilferding, Nicolai Boukharine e Lenine e concebem
a sociedade internacional como um sistema integrado mas dialético, marcado por
uma dominação organizada e institucional de um grupo, a classe dominante,
sobre os outros.
A concepção neo-marxista que defende que o imperialismo é ainda, depois
das descolonizações, o factor dominante das relações internacionais e que
justifica o subdesenvolvimento dos países do Terceiro Mundo, tem como
defensores autores como Paul Baran, Samir Amin, Pierre Jalée, entre outros.
Para os neo-marxistas, o sistema internacional não é um sistema de
Estados com natureza autónoma. Para eles, o que é importante é a divisão
internacional do trabalho, tal como se verifica nas diversas sociedades. No
sistema internacional, as sociedades (Estados) também têm tarefas específicas: o
desempenho do Estado em tarefas internacionais pode influenciar a
movimentação de capitais e pessoas.

25
De acordo com este modelo, Portugal seria uma sociedade ou zona semi-
periférica e não uma sociedade rica ou pobre.
Segundo Rato (1997), Portugal poderia ser alvo de um ‘take-off’
(desenvolvimento do país), mas tal efeito poderia nunca verificar-se segundo as
teses marxistas, dado que estes defendem que os países semi-periféricos têm
tendência para não acompanhar a inovação e entrarem em decadência. Neste
modelo, não há possibilidade de separar política interna de política externa. O
Estado não é unitário, não é neutro, o Estado serve para promover determinados
interesses.
Recorde-se que, para Lenine, o imperialismo é muito mais do que um
simples fenómeno de expansão colonial. Ele é consequência directa do
desenvolvimento dos monopólios e do desenvolvimento do capital financeiro e a
luta entre imperialismos conduz frequentemente à guerra.
Os conflitos entre Estados são a expressão e a consequência das
contradições inerentes ao modo de produção capitalista. A política externa é
determinada pelos interesses das classes dominantes e só a vitória do socialismo
poderia assegurar de maneira durável a paz no mundo.
Os teóricos desta corrente, como referimos atrás, demonstraram como
após a descolonização, a lógica imperialista continuou a prevalecer na leitura das
relações internacionais, agravando a situação de subdesenvolvimento do Terceiro
Mundo. Para poder sobreviver, o capitalismo explora as periferias para exportar
os seus capitais que aí têm uma taxa de lucro mais elevada e para escoar a sua
produção e assegurar o abastecimento de matérias primas.
A dependência da periferia, reforçada por toda a espécie de meios –
empresas multinacionais, organizações internacionais, ajuda, exportação de
capitais... – conduz então à espoliação do Terceiro Mundo.
Esta visão das relações internacionais está no centro das reivindicações
por uma nova ordem económica internacional e de uma importante corrente de
estudos do desenvolvimento. O subdesenvolvimento não é nunca, segundo esta
escola, resultado de factores endógenos.

26
3.6 – Uma síntese

Em suma, todas estas concepções são válidas, mas todas têm as suas
lacunas ou insuficiências. Para Morgenthau (1948), o Estado continua a ter um
papel muito importante na cena internacional. A natureza conflituosa e anárquica
das relações internacionais parece, também, não ser susceptível de grandes
contestações. Os realistas, porém, subestimam as forças não estaduais e o peso
das forças económicas. Já para os pluralistas-interdependentes, a
interdependência favoreceu a intervenção de outros actores que não os Estados,
perspectivando-se um sistema internacional com base na cooperação. No entanto,
a interdependência não diminui conflitos ou a prevalência dos interesses
nacionais. A tese da interdependência é um pouco tecnocrática (deixa o político
para segundo plano) e assenta na morte das ideologias (o que hoje é
perfeitamente contestável).
Os idealistas preocupavam-se mais a segurança colectiva, com uma maior
incidência no indivíduo. O Estado tinha subjacente um aumento do seu próprio
poder, ou seja, todo o seu agir internacional, tendo por base o interesse nacional,
enquanto que o equilíbrio de poderes pretendia garantir a estabilidade no conflito
internacional entre Estados.
Por fim, o modelo marxista tem a virtude de chamar a atenção para a
assimetria da interdependência. Não se pode admitir que haja uma dependência
mútua equilibrada entre sociedades com dimensões e níveis de desenvolvimento
diferentes. Porém, faz uma leitura muito simplista dos fenómenos internacionais,
ao desprezar a importância de factores políticos, culturais, psicológicos,
nacionais e ideológicos. Por outro lado, explicar o subdesenvolvimento a partir
da situação de dependência, torna-se algo extremamente excessivo.
Várias épocas são reflectidas nestas concepções e todas elas têm ainda
hoje validade quando complementadas.
Resumindo, todas as concepções são válidas, mas todas têm lacunas ou
insuficiências. Com efeito, se todos os modelos esclarecem utilmente algumas

27
dimensões ou aspectos das relações internacionais, nenhum considera de forma
satisfatória a complexidade global do fenómeno.

4 – A VERTENTE ECONÓMICA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A discussão sobre o aparecimento de novos centros de poder tem vindo a


aumentar o que, por sua vez, tem diminuído e desvalorizado os Estados enquanto
actores internacionais.
Para Kindleberger (1969), “o Estado nacional já quase não existe como
entidade económica”. Eis uma afirmação um pouco excessiva, mas muitas vezes
partilhada pelos analistas.
Alguns economistas liberais acentuam o aparecimento de uma
independência entre todas as sociedades e o desenvolvimento de novos actores,
como as empresas e os bancos internacionais. Para os economistas marxistas, por
exemplo, o facto marcante é o domínio exercido por algumas potências
capitalistas desenvolvidas sobre a maior parte dos países em vias de
desenvolvimento.
Porém, todos admitem que a economia contemporânea representa para o
destino de cada um dos Estados um papel cada vez mais importante e estabelece
nas relações internacionais um novo tipo de relações.

4.1 – A noção de interdependência

Esta visão leva-nos a uma análise mais precisa da interdependência ou da


abertura recíproca das economias nacionais. O conceito de interdependência
remete para o estado presente das relações económicas internacionais, que se
caracterizam pelo desenvolvimento de influências recíprocas entre as economias

28
nacionais e pela multiplicação dos laços entre os actores económicos dos
diferentes países.
A interdependência significa assim a multiplicação das relações entre todas as
economias nacionais, ligadas ao processo de desenvolvimento das trocas entre as
nações. Porém, nenhuma nação dispõe dos recursos naturais, alimentares ou minerais,
ou de capacidades de produção – mão-de-obra, capitais, tecnologia – em todos os
domínios da vida económica. A autarcia económica é sempre uma impossibilidade para
qualquer Estado, qualquer que seja a grandeza dos seus recursos. Cooper (1968) foi um
dos primeiros autores a analisar a noção de interdependência. Para ele, a
interdependência pode definir-se como o estado no qual as economias nacionais são
sensíveis e influenciáveis de maneira significativa às variações das economias
estrangeiras, e de uma maneira geral às transformações que intervêm no meio
económico internacional.
Daqui depreendemos que, qualquer situação económica vivida por uma
economia nacional, como por exemplo um processo de inflação, um alto nível de
desemprego, será rapidamente transmitida às outras economias. Daí que o grau
de abertura de uma economia dite a sua maior ou menor sensibilidade a
processos como este.
Por outro lado, a interdependência mundial das economias apresenta-se-
nos como um processo irreversível e ligado a um desenvolvimento de uma nova
divisão internacional do trabalho.
Segundo o Relatório Interfuturs da OCDE (1979), os grandes ramos
industriais estruturam-se agora à escala de vários Estados, a articulação dos
factores de produção – mão-de-obra, matérias-primas, capital – é efectuada cada
vez mais pelas grandes empresas, a uma escala universal ou regional.
Deste ponto de vista, a interdependência tem que ser interpretada como
um conceito que dá conta do estádio mais avançado de um capitalismo que
desenvolveu consideravelmente as suas forças produtivas à escala internacional
pela internacionalização da sua produção, dos seus mercados e das suas trocas,
adquirindo novas formas de organização.
Para Huntzinger (1987, p 138), “a interdependência significa então o grau
de integração atingido pelas relações económicas internacionais, devido à própria

29
dinâmica do sistema capitalista”. Segundo este autor, é importante admitir que o
crescimento de firmas multinacionais constitui um desafio muito sério ao
exercício da soberania económica dos Estados.
Para Vernon (1971, p.197), “a integração económica mundial, acelerada
pelas firmas, provoca reciprocamente uma certa desintegração das economias
nacionais”.
No fundo, o sistema económico mundial acaba por desempenhar um duplo
papel: revela as forças e as fraquezas económicas dos Estados e acentua as
desigualdades entre eles. Mas é pacificamente aceite que o sistema económico
internacional não conduz à perda de independência dado que todos os Estados-
nações são penetrados pela economia internacional.
Em suma, o sistema mundial caracteriza-se pela existência de um sistema
duplo: um sistema de interdependências entre países desenvolvidos e um sistema
de maior dependência dos países pobres em relação aos desenvolvidos. Como
exemplo, vemos que a França e a Alemanha são economias interdependentes,
enquanto que, por exemplo, Cabo Verde e a União Europeia não são
interdependentes, ou seja, Cabo Verde é mais dependente da União Europeia.
Isto considerando todos os pressupostos ou vectores de interdependência,
como a troca de bens e serviços (rendimentos, competitividade, preços da oferta),
como os movimentos financeiros, a moeda e a política económica.

4.2 – Os conceitos internacionalização/globalização/mundialização

Apesar das relações económicas internacionais de um país não se


circunscreverem aos movimentos empresariais, a internacionalização da
actividade económica de um país está intimamente ligada com a actividade das
empresas.
Desde finais da II Guerra Mundial, segundo Mendes as taxas de
crescimento do comércio externo foram sempre superiores às da produção. As
economias tornaram-se mais abertas para o exterior. No entanto, as trocas

30
concentraram-se nalgumas regiões, de modo que internacionalização não se opõe
a fragmentação da economia mundial. (1997, p. 24)
Assim, o conceito de internacionalização apresenta uma característica
unidimensional, assumindo-se como um movimento estratégico de dentro para
fora que pode abarcar níveis diferentes, desde a simples exportação até à criação
de estabelecimentos produtivos no estrangeiro. Porém, esta visão é algo limitada
e colide com a ideia de internacionalização de um país em sentido global, já que
ignora movimentos activos de empresas estrangeiras.
Para Silva (1999, p.31), a internacionalização de uma economia é o
conjunto de todas as relações, que afectam a esfera económica, estabelecidas
entre uma nação e todas as outras. Esta definição implica a separabilidade dos
mercados geográficos nacionais. Neste sentido, a internacionalização pressupõe a
manutenção de alguma reserva de domínio específico de uma nação, de forma
que ela, por sua iniciativa, o possa trocar, vender, disponibilizar, ou não, face a
outras nações.
Por outro lado, à medida que o comércio mundial cresce, o papel
tradicional dos mercados nacionais é crescentemente eclipsado por um sistema
alternativo, nomeadamente o comércio gerado pelas empresas multinacionais,
através de importações e exportações que fazem entre as suas diversas
subsidiárias.
Vários autores consideram por isso que a globalização é essencialmente
um sistema económico de interdependência desenhado de modo a ignorar
prerrogativas das nações, mesmo as das mais poderosas.
Esta tentativa de definição de globalização ignora um pouco o papel dos
Estados enquanto agentes prioritários do sistema económico actual, apontando
implicitamente para outros, tais como empresas e grupos económicos e
financeiros, esse papel de liderança.
Na base da crescente globalização que se assiste nos dias de hoje
verificamos uma maior dispersão geográfica das empresas, que se localizam em
diferentes mercados nacionais, uma maior globalização na óptica do produto e do
consumo (de que é exemplo a cadeia McDonald’s) e a uma maior globalização

31
da produção de bens e serviços, distribuída potencialmente por todo o mundo,
tendo como pressupostos o custo da mão-de-obra, o know-how, a localização de
clientes, facilidades financeiras e fiscais, entre outros.
Daqui extraímos que a globalização é a fase mais aprofundada dos
processos de internacionalização, ultrapassando mesmo este conceito ao destruir
a prevalência das inter-relações entre nações que lhe está subjacente, através da
endogeneização dessas relações que homogeniza o conjunto das nações.
Para Stiglitz (2002, p.40) a abertura do comércio internacional ajudou os
países a crescer mais, comparativamente com outras circunstâncias: o comércio
internacional fomenta o desenvolvimento económico quando as exportações de
um país impulsionam o seu crescimento económico...Graças à globalização,
muita gente no mundo vive hoje mais tempo que antes, e o seu nível de vida é
muito superior...A globalização reduziu a sensação de isolamento vivida em
muitos países em desenvolvimento e permitiu que uma grande parte da sua
população tivesse acesso a um nível de conhecimento que não estava ao alcance
nem dos mais ricos de qualquer país há um século.
Se, por um lado, a globalização transformou o mundo, Stiglitz (2002,
p.43) descreve-nos o seu reverso da medalha da seguinte forma: o Ocidente
obrigou os países pobres a eliminar as barreiras comerciais, mas manteve as suas
próprias barreiras, impedindo os países em desenvolvimento de exportar os seus
próprios produtos agrícolas e privando-os assim desse rendimento necessário...A
minha luta foi quase sempre inglória. Os interesses comerciais e financeiros
especiais prevaleceram, e quando transitei para o Banco Mundial vi claramente
os efeitos que esta política surtiu nos países em desenvolvimento.
A grande dúvida ainda hoje se coloca: afinal o que é esta globalização que
suscita tantas críticas e, ao mesmo tempo, tantos elogios? Para Stiglitz (2002,
p.46) não é mais do que a integração mais estreita dos países e dos povos que
resultou da enorme redução dos custos de transporte e de comunicação e a
destruição de barreiras artificiais à circulação transfronteiriça de mercadorias,
serviços, capitais, conhecimentos e pessoas.

32
No entanto, Stiglitz (2002, p.59) defende que a perpetuação da
instabilidade global tem custos muito elevados. A globalização pode ser
reformulada e, quando o for, e todos os países tiverem uma palavra a dizer nas
políticas que os afectam, é possível que ela ajude a criar uma nova economia
mundial em que o crescimento seja mais sustentável e menos volátil, e os frutos
do crescimento sejam partilhados de uma forma mais equitativa.
Mas então o que podemos distinguir quando falamos em globalização e
mundialização? Embora associados, há algumas distinções a registar. Podemos
ver a mundialização da economia como a interdependência de todos os sistemas
de consumo e de produção existentes no globo, em consequência das estratégias
de globalização empreendidas por empresas e grupos económicos (Silva, 1999,
p.36). Assim, o objecto de análise passa a ser o mundo como um todo, tal como
ele existe em função das estratégias de globalização das empresas.
Silva (1999, p.36) argumenta que foi o progresso tecnológico ou a
evolução tecnológica, nomeadamente as tecnologias de informação, a tecnologia
digital, é que tornaram possíveis as estratégias da globalização.
Não menos interessante é a afirmação de Krugman (1996), designação que
ele deriva do que chama teorias da internacionalização “popularuchas” e que
estão na base das grandes contestações à mundialização, e que refere que o
progresso tecnológico é que está no coração do problema e não a competição
entre países.
Desde finais da II Guerra Mundial, as taxas de crescimento do comércio
externo foram sempre superiores às taxas de crescimento da produção, ou seja, as
economias tornaram-se mais abertas para o exterior. No entanto, as trocas
concentraram-se nalgumas regiões de modo que a internacionalização não se
opõe à fragmentação da economia mundial.
As trocas comerciais relativas, por exemplo, à tríade América do Norte-
Europa-Japão/Extremo Oriente industrializado representavam em 1980 cerca de
60% das trocas mundiais e, em 1990, cerca de 75%, sendo que, actualmente,
superam os 90%.

33
A globalização ou a mundialização é o fenómeno que tende a aumentar a
integração das economias e que afecta os mercados, as operações financeiras e os
processos produtivos. Os mercados dos principais produtos estão quase todos
mundializados, como são exemplo o petróleo e energia, as indústrias aeronáutica,
informática, robótica, construção naval, telecomunicações, armamento, produtos
televisivos, entre outros...
Cada vez mais se fala num mercado mundial, caracterizado por um
enorme mobilização dos capitais. A globalização financeira é o processo que
conduz à integração de todos os controlos que travam a livre circulação do
capital entre os grandes países industrializados. Só Nova Iorque, Londres e
Tóquio controlam mais de 80% das transacções que se efectuam nos mercados
financeiros em todo o mundo.
Actualmente, as empresas, mesmo as médias, estão cada vez mais a
delinear a sua política no plano mundial, como se pode ver na concepção do
produto, no marketing, na localização dos locais de produção, na implantação
comercial... Porter, em 1990, popularizou a noção de ‘firma global’, que procura
maximizar as suas posições competitivas ao nível planetário.
Fazendo uma breve retrospectiva macro-económica dos últimos 30 anos,
que vão desde os choques monetários dos anos 70 (com paridades fixas entre
moedas e o dólar e o regime de câmbios fixos), dos choques petrolíferos (1973 –
quadruplicação do preço do petróleo; 1979 – multiplicação por 2,5 durante dois
anos), às políticas de austeridade dos anos 90, com um aumento da competição e
do endividamento, considerando-se também as alianças dos países desenvolvidos
e a competitividade dos países pobres, tiram-se algumas conclusões.
A primeira constata que a economia mundial é hoje dominada pelos
Estados Unidos, Japão e União Europeia. O desenvolvimento da integração
económica à escala dos continentes reforça a estrutura da tríade na economia
mundial. Os países em desenvolvimento parecem querer agarrar-se a um destes
três pólos. As relações entre estes últimos permanecerão marcadas pelos conflitos
(sobretudo comerciais), pois cada um deles tem interesses próprios, mas estão
estreitamente interdependentes no plano económico.

34
A segunda conclusão tem um carácter negativo: não é muito correcto
deduzir da primeira conclusão que a hegemonia mundial é partilhada pela tríade.
A questão da hegemonia é sobretudo política, autónoma relativamente às
determinações económicas. Actualmente, o sistema-mundo organiza-se em torno
de uma estrutura económica triádica com hegemonia socio-política americana.
A terceira conclusão é relativa à natureza da hegemonia, a qual foi
conduzida a tomar uma nova forma numa época de interdependência e
mundialização. O tipo de hegemonia a exercer-se no novo contexto mundial é
muito mais subtil que a simples ordem coerciva. As interdependências e as
grandes questões mundiais ressaltam a necessidade de um mecanismo político
capaz de fazer aderir voluntariamente um grande número de actores às opções de
uma potência hegemónica.

4.3 – O Ordenamento da Economia Internacional: O Papel da


Integração Regional

Falar sobre uma nova ordem internacional poderá ser redundante, se


tivermos em conta o que Kissinger (1994, p.705) questionou: “como o número de
Estados se multiplica e a sua capacidade de interagir aumenta, sobre que
princípios pode uma nova ordem mundial ser organizada?”.
Eis a dúvida. Há no entanto quem prefira o termo ‘ordenamento’ em vez
de ‘ordem’ para acentuar o dinamismo e as transformações incessantes das regras
que regem a economia global.
O ordenamento jurídico da economia internacional é a expressão de
doutrinas económicas, de ideologias políticas e de concepções filosóficas
relativas à economia mundial.
O ordenamento económico mundial de inspiração liberal, assenta na
doutrina das vantagens comparativas e, segundo esta tese, os bens e serviços,
enquanto circulam e são comercializados livremente, tendem a ser produtos em

35
condições óptimas de eficácia e a satisfazer ao menos custo as necessidades dos
consumidores.
Compatível com uma concepção não intervencionista do papel do Estado,
esta doutrina, na sua forma extrema, conduz à total liberdade de acção das
empresas privadas e à liberdade de circulação dos bens e serviços através das
fronteiras sem qualquer tipo de entraves.
Estes princípios podem provocar excessos, com acordos abusivos ou
posições dominantes, falseando o mercado e daí a necessidade de regulamentar a
concorrência.
Por outro lado, os Estados têm tendência a defender as suas economias da
concorrência estrangeira e intervêm na economia, embora cada vez o façam
menos, em virtude dos acordos internacionais de liberalização económica.
Perante isto, o ordenamento geral da economia internacional é expressão
de um liberalismo atenuado pelas regulamentações que tendem a organizar a
concorrência e a limitar os proteccionismos.
Certo é que o ordenamento da economia internacional assenta no princípio
da liberdade das trocas. As transacções de bens e das mercadorias estão
submetidas ao princípio do livre-cambismo – ideia que presidiu à sugestão dos
EUA de se fundar uma organização internacional do comércio e que acabaria por
dar origem ao GATT, hoje à OMC. No que diz respeito à regulamentação do
sistema financeiro (moeda e imposto), foi criado o FMI.
O reconhecimento dos desequilíbrios nas relações económicas entre
Estados expressa-se na noção solidária de desenvolvimento e, neste sentido,
foram criadas entidades específicas de apoio ao desenvolvimento, como o Banco
Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento em 1945 e, mais tarde, no
seio das Nações Unidas, a Conferência para o Comércio e Desenvolvimento em
1964 que, no espírito dos seus fundadores, deveria atenuar o impacto da acção e
funções do GATT, ou seja, o neo-liberalismo, organizando trocas internacionais
segundo um modo mais ‘dirigista’, nomeadamente no que respeita aos Países em
Vias de Desenvolvimento.

36
Neste contexto, nos últimos tempos tem-se denotado uma acentuada
predisposição para a regionalização económica. Em 1990, a OCDE separava,
teoricamente, regionalização e globalização, considerando-os fenómenos
distintos, mas interdependentes. Globalização era então definida como um
fenómeno fundamentalmente micro-económico (globalização dos mercados de
bens e serviços, da produção, da concorrência), comandado por acções e
estratégias de sujeitos micro-económicos (empresas, por exemplo). A
regionalização, segundo o mesmo estudo, era definida como um conjunto de
medidas tomadas pelos Estados para aumentar ou diminuir os obstáculos às
trocas, aos investimentos, aos fluxos de tecnologia e a outros movimentos de
factores entre os grupos de países.
Como consequência, a integração regional é uma reacção às necessidades
de ajustamento das forças económicas e decorre do fenómeno da
interdependência. Nas razões da integração regional, podemos enunciar o
progresso técnico, que favoreceu a expansão multinacional das empresas e a
mobilidade do capital e a mundialização das actividades industriais que, por
efeito, alargou o conjunto de medidas que influem sobre a competitividade
internacional, ao mesmo tempo que reduz a eficácia das políticas comerciais e
industriais tradicionais.
O processo mais recente de globalização está assim na origem do reforço
dos acordos regionais, uma vez que levou os Estados a tentarem liberalizar e a
harmonizar as suas políticas económicas a fim de reforçar a competitividade do
mercado.
Cada acordo regional aplica um conjunto de medidas e varia segundo o
ritmo de ajustamento requerido. Entre elas destacam-se a supressão dos controlos
nas fronteiras, a abertura dos mercados públicos às empresas da região, a garantia
de mobilidade total do capital (pelos detentores de activos e fornecedores de
serviços financeiros) e medidas que favorecem a intensificação de concorrência.

4.3.1 Tipos de Integração Regional

37
Nas últimas décadas, a evolução tecnológica tem permitido, como já foi
referido, a expansão das economias e por sua vez, das empresas, aumentando as
trocas internacionais e a mobilidade dos capitais..
O processo de globalização obrigou a uma maior organização por parte dos
Estados, no sentido de liberalizar e harmonizar as suas políticas económicas, para
tornar os mercados competitivos. Para isso foram criados acordos de integração
regional, com ritmos e prazos pré-definidos.
Mendes (1997, p.122) resume-nos o objectivo destes acordos de integração
regional, cujas formas mais importantes são as seguintes, de acordo com Balassa:

- Zonas de Comércio Livre: Têm por objectivo eliminar obstáculos às


trocas comerciais de bens e serviços, mantendo cada Estado autonomia em
matéria de política pautal em relação a países terceiros;
- União Aduaneira: É uma zona de comércio livre com um novo elemento,
que é a Pauta Aduaneira Comum aplicável a todos os países terceiros;
- Mercado Comum: É uma forma de integração económica que se traduz
numa união aduaneira, acrescida de livre circulação dos factores de
produção;
- União Económica: Constitui o estádio mais avançado de integração
económica, entrando em linha de conta com a livre circulação dos factores
de produção e a harmonização das políticas económicas dos países
membros.

4.3.2 Razões que originam a Integração Regional

São várias, mas Mendes (1997, p. 122) destaca três:

1 – Alargamento de mercados e obtenção de ganhos comerciais resultantes


da racionalização e da especialização das estruturas de produção;
2 – Aumento da coesão política: amortece as tensões políticas e forja uma
cooperação política através do elo comercial;

38
3 – Realização de outros objectivos de política comerciais e económicos:
igualizar as vantagens do jogo entre os principais parceiros comerciais, diminuir
a supremacia económica de um parceiro comercial grande e poderoso, lançar a
cooperação multilateral.
Seguindo este tipo de política, podemos rapidamente explicar a lógica e os
objectivos fundamentais do processo de integração regional e que são
consequência dos acordos estabelecidos entre os Estados que a compõem.
Os países começam por adquirir vantagens com a fluidez das trocas dentro
da área definida, os produtos internos de preço mais elevado são substituídos por
outros similares menos caros, que provêm de outros parceiros, sendo que o
objectivo é libertar recursos internos que possam ser mobilizados e incrementar a
exportação. Falamos assim da criação de comércio intra e extra-regional.
Os consumidores, por seu lado, beneficiam também pelo aumento da
oferta e pela concorrência de preços. Ao mesmo tempo, obtêm-se as economias
de escala, ou seja, com ganhos de eficiência na produção e comercialização.
Por outro lado, a existência de obstáculos comerciais extensivos à zona,
leva ao consumo de bens produzidos na área, o que dá origem ao chamado desvio
de comércio, ou seja, pode acontecer também que a produção de bens no exterior
da zona seja mais eficiente, perdendo os países algum bem-estar relativamente à
solução da liberalização multilateral. Por conseguinte, a reafectação de recursos
devido ao acréscimo da concorrência resultante da integração, provoca custos
suplementares e é mal aceite, politicamente, por certos grupos sociais.
Para os países fora da zona de integração, as vantagens podem ser
consideradas pelo aumento das trocas na componente da procura de bens
estrangeiros. No entanto, terão outras limitações a considerar se quiserem entrar
na zona de comércio, como formalidades de fronteira, regras de origem, pauta
aduaneira comum.
Eis alguns exemplos:
Continente Americano
- NAFTA

39
A NAFTA é o acordo Norte-Americano de Comércio Livre, tendo sido
notificado no âmbito do GATT em Fevereiro de 2003. Após ratificação do
Canadá, EUA e México, entrou em vigor em 1 de Janeiro de 1994.

- ALADI
A Associação Latino-Americana de Integração é um acordo de cooperação
económica em algumas áreas, celebrado entre vários países da América Latina.

- MCAC – Mercado Comum da América Central

- CARICOM – Comunidade e Mercado Comum das Caraíbas

- PACTO ANDINO
A Comunidade Andina é uma união aduaneira que funciona desde 1995, com o
objectivo de fazer circular livremente as mercadorias dos seus países membros,
sem qualquer tipo de barreiras. E 1995 passou a ser adoptada uma Pauta Externa
Comum, adoptada pelo Colômbia, Equador e Venezuela em níveis básicos de
5%, 10%, 15% e 20%. A Bolívia tem um tratamento preferencial mediante a qual
aplica somente níveis de 5% e 10%. O Perú não subscreveu o acordo. Através da
Declaração de Santa Cruz, em Janeiro de 2002, os presidentes andinos definiram
que a Bolívia, a Colômbia, o Equador, o Perú e a Venezuela aplicarão, o mais
tardar até 31 Dezembro de 2003, uma pauta externa comum.

- MERCOSUL
O Mercado Comum do Sul foi criado em 5 de Agosto de 1994 para estabelecer uma
União Aduaneira entre os seus fundadores (Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina)

Continente Africano
- CEDEAO
A Comunidade Económica de Estados da África Central foi fundada em 1975,
com o objectivo de liberalizar o comércio intra-regional, mas sem grande

40
sucesso, apesar de alguma cooperação. É composta pelo Bením, Burkina Faso,
Cabo Verde, Gâmbia, Gana, Guiné Bissau, Guiné Canacri, Libéria, Mali, Níger,
Nigéria, Senegal, Serra Leo e Togo.

- CEAO
A Comunidade Económica da África Ocidental foi fundada em 1973 e tinha por
objectivo a integração dos países que a compõem através do comércio e
eliminação de todas as barreiras na década de 90. Os êxitos foram parciais,
acabando por se transformar na UEMOA.

- UEMOA
A União Económica e Monetária da África Ocidental foi criada em 1994,
resultado da fusão entre a UMOA e a CEAO. Os objectivos são em tudo
idênticos aos da CEAO. A UEMOA é composta pelo Benín, Burkina Faso, Costa
do Marfim, Guiné Bissau, Malí, Níger, Senegal e Togo.

- CEMAC
A Comunidade Económica e Monetária da África Central foi fundada em 1998,
em substituição da UDEAC (criada em 1964). Visa a integração através do
comércio e união monetária total, bem como do livre movimento de mão de obra
e de capitais. Foi uma organização que sofreu bastante bloqueios e que acabou
por se transformar em CEMAC – Camarões, Chad, África Central, Congo
Brazaville, Gabão e Guiné Equatorial.

- SADC
A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral foi criada em 1992 em
substituição da SADCC, fundada em 1979. O objectivo é a cooperação para a
liberalização económica, desenvolvimento de projectos comuns no sector dos
transportes, comunicação, agricultura, indústria e energia. Registou importantes
êxitos na realização dos seus objectivos, sobretudo em matéria política. Os
principais bloqueios derivaram dos conflitos no Congo. Os países membros são

41
Angola, Botswana, Namíbia, Congo, Seycheles, Suazilândia, África do Sul,
Tanzânia, Zâmbia, Zimbabue, Lesoto, Malawi, Maurícias e Moçambique.

- COMESA
O Mercado Comum da África Austral e Oriental foi fundado em 1994, em
substituição da PTA. O seu objectivo é a criação de uma área de comércio livre e
registar uma liberalização total do comércio em 2000. Teve importantes êxitos,
mas sempre ameaçada pelos própria competência da SADC. A COMESA é
composta por países como Angola, Burundi, Comores, Congo (kinshasa),
Eritreia, Etiópia, Quénia, Lesoto, Madagáscar, Malaui, Maurícias, Moçambique,
Namíbia, Ruanda, Seycheles, Somália, Suazilândia, Sudão, Uganda, Yibuti,
Zâmbia e Zimbabwe.

- SACU
A União Aduaneira da África Austral foi criada em 1910 e, como o próprio nome
indica é uma união aduaneira, com o objectivo de integrar mercados, capitais e
mão de obra. Realizou todos os seus objectivos. É composta pela Suazilândia,
África do Sul, Bostswana, Lesoto e Moçambique.

Continente Europeu
CEEA
CECA
UE

Continente Asiático
- ASEAN
A Associação das Nações do Sudeste Asiático foi criada em 1967 e corresponde
a uma zona de comércio livre, com uma pauta preferencial comum. O Bunei, o
Cambodja, a Indonésia, o Laos, o Iémen, a Malásia, as Filipinas, Singapura, a
Tailândia e o Vietnam são os países os seus países membros.

42
PARTE II

43
CAPÍTULO II

POLÍTICA EXTERNA E
DIPLOMACIA ECONÓMICA

1. UM ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

Neste capítulo pretendemos verificar o significado e o papel da Política


Externa portuguesa e da Diplomacia nas relações políticas e económicas entre
Portugal e a SADC.
No fundo, analisar os pontos em que a diplomacia, através do MNE, e a
política externa, através dos vários governos PSD e PS, têm sido determinantes
numa aproximação de Portugal junto dos principais países que compõem a
SADC.
Os conceitos de política internacional, política externa, relações
internacionais e diplomacia são bastantes vezes confundidos, dado que levantam
algumas dúvidas nos seus objectivos, muitas vezes comuns.
Segundo Reino (1997), ex-embaixador de Portugal na ONU e em Madrid,
a diplomacia é um instrumento privilegiado da política externa, reconhecendo
também a existência de uma imensidão de definições sobre o que são relações
internacionais, política internacional, política externa e diplomacia: “as
distinções estão entre as acções e as interacções dos Estados”.
Para este diplomata, a Política Externa corresponde aos objectivos e
princípios que o Estado quer seguir face à comunidade internacional e que são
publicados (Constituição), enquanto que a Diplomacia não é mais do que um
instrumento ou conjunto de instrumentos que permitem prosseguir esses
objectivos.
Segundo o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, “aquilo
que habitualmente é designado por «acção externa» corresponde em larga

44
medida ao que em Portugal, na nossa tradição político-administrativa,
entendemos por «negócios estrangeiros» - isto é, o conjunto das questões que
resultam do relacionamento de um Estado, enquanto entidade soberana, com os
seus parceiros e demais agentes da comunidade internacional” (Gama, 1999,
p.103).
Mas quando é que a política externa se torna política internacional? A
distinção entre os termos talvez seja mais académica do que real, como já se
constou com as definições entre diplomacia e política externa. Mas são
aproximadas as diferenças dos objectivos e acções (decisões e políticas) de um
Estado ou Estados e a interacção entre dois ou mais Estados.

Política Externa Política Internacional


Outros Estados
Estado (ambiente) Estado A Estado B
Objectivos Acções

Capacidades,
R Resultado dos Resposta Resposta
definir políticas,
objectivos e
necessidades,
acções
aspirações, etc
Acções Objectivos

Fonte: Holsti, K.J., International Politics – A Framework for Analysis, 7ª ed., New Jersey, Prentice Hall, 1995, p.19

Como distinção de política internacional e política externa, o termo


Relações Internacionais pode referir-se a todas as formas de interacção entre os
membros de sociedades separadas. O estudo das relações internacionais inclui a
análise das políticas externas ou processos políticos entre Estados. Contudo,
deverão ser incluídos nessa análise, os estudos, por exemplo, de uniões de
comércio internacional, da Cruz Vermelha Internacional, turismo, comércio
internacional, transportes, comunicações e o desenvolvimento de valores e ética
internacionais.
Apesar do nascimento de outros actores internacionais, o Estado
permanece como o actor central das relações internacionais. Marcel Merle (1984,
p.7) é esclarecedor quando refere que “a política externa é a parte da actividade

45
do Estado que está virada para ‘fora’, o mesmo é dizer que trata, em oposição à
política interna, dos problemas que se colocam para além fronteiras”.
Para a política externa, o Estado procura responder ao comportamento de
outros actores internacionais e, de uma maneira geral, agir de acordo com os seus
princípios quando o ambiente é favorável e transformar esse mesmo ambiente
quando este se apresenta desfavorável. Noutros termos, o Estado procura, através
da política externa, manter ou aumentar o seu peso e influência fora do seu
território nacional.
Uma das características importantes da política externa e que a distingue
das demais políticas, é ter como campo de acção um espaço que escapa em
grande parte ao seu próprio controlo. No seio das restantes políticas públicas, a
política externa assume hoje uma importância extremamente relevante, derivada
das rápidas e constantes transformações que se verificam ao nível das relações
internacionais.
Por outro lado, se olharmos para a política internacional na perspectiva de
Estados individuais, em vez do Estado como parte de um sistema internacional
em que está integrado, não encontramos muitas diferenças. Por aí se vê que são
as condições internas dos Estados que acabam por mais influenciar a política dos
mesmos. Guerras, alianças, imperialismo, manobras diplomáticas, isolamento e
os imensos objectivos da acção diplomática, podem ser vistos como resultado das
pressões políticas domésticas, ideologias nacionais, opinião pública ou
necessidades económicas e sociais.
Para analisarmos a política internacional e a política externa dos Estados,
temos também que nos concentrar nas acções e comportamentos individuais dos
homens de Estado, nomeadamente as suas ideologias, motivações, percepções,
valores. São eles que acabam por estar empossados para tomar decisões em nome
dos Estados. Exemplo bem claro desta situação é a declaração de Guerra ao
Iraque, quando Portugal se juntou aos EUA e Inglaterra, por decisão quase
exclusiva do seu primeiro-ministro Durão Barroso, completamente à margem da
soberana decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

46
Eis algumas questões horizontais em política externa que têm vindo a ser
conduzidas pelos sucessivos governos portugueses e que são exemplo da nossa
afirmação e valorização no plano internacional que excede porventura a nossa
dimensão, mas que correspondem às nossas responsabilidades históricas:

- a defesa dos direitos do Homem, valor ético e universal


- o apoio aos esforços da comunidade internacional na questão dos
refugiados
- a escolha dos Oceanos no sistema multilateral das Nações Unidas
- o combate ao tráfico de drogas
- o desenvolvimento sustentado e a sua relação com as questões ambientais
- a disponibilidade para agir em processos de Paz como Angola,
Moçambique, Sahara Ocidental e em Timor, entre muitos outros

Estes são alguns pontos que são consensuais na sociedade portuguesa,


fazendo da política externa um instrumento ao serviço de grandes temas ou
desígnios nacionais.

2. POLÍTICA EXTERNA E DIPLOMACIA ECONÓMICA

Se considerarmos a política externa portuguesa, verificamos que existem


laços muito próximos com algumas zonas do globo, como são exemplo alguns
países do continente africano, sul americano e asiático. Falar em países como
Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, a par
do Brasil e de Timor, com quem as relações políticas e diplomáticas sempre
foram intensas, é constatar que é reconhecido por todos os Estados o
conhecimento e a experiência que Portugal teve e tem naqueles países. É
reconhecer igualmente a importância e o peso da história nesta vertente da
política de Estado. São exemplos onde Portugal dinamiza a sua política externa
sem que para isso tenha que renunciar a nada do que nesta é essencial.

47
2.1. A ARTICULAÇÃO COM A POLíTICA EXTERNA DA UE

É sabido que o continente africano figurou sempre num lugar de relevo


entre as prioridades da política externa portuguesa. Como membro da União
Europeia, Portugal tem vindo a alertar os Estados Membros para a necessidade
de a Europa prestar mais atenção aos assuntos africanos. Aliás, e neste sentido, a
Cimeira UE-África, em 2000, é um exemplo claro deste procedimento, dado que
Portugal foi um dos seus principais impulsionadores.
Para irmos mais atrás no tempo, esta preocupação com África vêm desde
1974 quando, em Portugal, surgiu uma nova ordem política e constitucional que
instaurou as bases para um novo relacionamento com os recém-independentes
Estados africanos e com os Países em Desenvolvimento em geral (MNE, 1995,
p.9). Após o 25 de Abril de 1974, percebe-se que Portugal sempre quis
acompanhar de perto a evolução dos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa, não rejeitando as suas responsabilidades históricas e morais para
com os Estados em formação.
Na busca da cicatrização da descolonização, Portugal “foi construindo e
afirmando verdadeiras relações Estado a Estado” (MNE, 1995, p.10), sobretudo
com aqueles países de língua portuguesa, facto que começou a ser bem patente
nos programas de Governo a partir de 19801.
Observando o elenco dos objectivos gerais da política externa portuguesa,
facilmente se constata que a relação com África é um dado incontornável da
acção externa do Estado português. No entanto, é patente ao longo da história, o
dilema Europa ou África? Este foi sem dúvida um dilema que não apenas tocou
os sucessivos governos, mas também a sociedade portuguesa.
Este dilema “atravessou desde sempre a sociedade portuguesa, com
especial ênfase nas décadas de 60 e nos primeiros anos da década de 70 ... (mas)
o duplo direccionamento continua a alimentar polémicas” (Ferreira e Almas,
1996, p.40). Uma afirmação sintomática de Mário Soares em 1986, reflecte bem

1
VI, VII e VII Governos Constitucionais.

48
este aspecto: “sempre entendi e defendi que os dois projectos (integração
europeia e CPLP) não eram incompatíveis nem, muito menos, contraditórios:
eram antes perfeitamente complementares” (in Ferreira e Almas, 1996, p.40).
De acordo com os autores atrás referidos, “a opção europeia quer do ponto
de vista político quer económico assumiu, claramente a partir de 1976, o estatuto
de opção estratégica no quadro da vertente atlântica em que desde sempre
Portugal se inseriu, obrigando-o a uma clara redefinição geográfica, ou seja, sem
alterar a sua condição atlântica, Portugal alterou o seu lugar no mundo e o seu
destino na história: da África para a Europa” (Ferreira e Almas, 1996, p 41).
Nos anos 80, quando se assistiu a um impulso político-diplomático e
económico em relação aos Palop, verificamos que de entre alguns dos objectivos
da política externa portuguesa do Governo do Primeiro-Ministro Cavaco e Silva,
se destacam:
- a consolidação da construção europeia; o combate às tendências
de excessiva continentalização da Europa, quer pela manutenção da
ligação atlântica, quer pela promoção da ligação a África;
- o desenvolvimento de uma diplomacia económica activa (MNE,
1995, p11)
Fala-se pela primeira vez em diplomacia económica e denota-se a
importância que África sempre teve nos planos externos de Portugal e da sua
respectiva Política de Cooperação.
Como Ministro dos Negócios Estrangeiros, Durão Barroso afirmava
mesmo ao Jornal Expresso, em 17 de Julho de 1993, que “África representa a
diferença específica na definição da personalidade político-diplomática
portuguesa” (in MNE, 1995, p.12).
Foi também com Cavaco e Silva, durante a década de 80, que Portugal
assistiu a uma melhoria qualitativa da sua cooperação bilateral, graças a uma
progressiva abertura das relações políticas Estado a Estado e com a adopção de
programas de desenvolvimento por parte dos próprios países africanos lusófonos.
A verdade é que nos seus governos, África foi sempre preponderante na
definição da política externa portuguesa, mas muito circunscrita aos Países de

49
Língua Oficial Portuguesa e numa lógica muito bem definida: traduzir a Política
de Cooperação a uma “’Vocação Histórica’ que deveria contribuir para a
definição da nossa identidade em política externa e o facto de ela operar através
da chamada ‘Ajuda Pública ao Desenvolvimento’, (MNE, 1995, p.12).
Por outro lado, até à primeira metade da década de 80, o sistema de
cooperação multilateral foi pouco relevante. Porém, percebia-se já, sobretudo a
partir de 1986, que era fundamental reforçar essa vertente da cooperação
portuguesa como forma de desenvolver as relações económicas, políticas e
culturais de Portugal com países terceiros.
Um dos exemplos, entre outros possíveis, que aqui interessam destacar e
que ilustra bem a importância multilateral da cooperação portuguesa em África,
foi precisamente “a participação nacional em reuniões da SADCC (Conferência
para a Coordenação do Desenvolvimento da África Austral), e que permitiu a
participação do nosso país nos projectos de reabilitação da linha de caminho-de-
ferro Nacala – Entrelagos em Moçambique” (MNE, 1995, p.128).
Mais tarde, já em 1995, com a tomada de posse de um novo Governo
socialista, liderado por António Guterres, deu-se uma viragem na leitura sobre o
peso de África na orientação da política externa portuguesa. Portugal, muito mais
virado para a Europa, quis olhar para África através dessa mesma Europa,
abandonando o modelo do país e relançou o modelo inter-regional, ou seja UE-
África
Como afirmava Jaime Gama em 1998 no Clube Português do Benelux,
‘Portugal, no plano internacional, tem tido uma política externa ambiciosa, quer
na vertente bilateral, quer enquanto voz ouvida nas instâncias multilaterais a que
pertencemos’ (Gama, 1999, p.45). O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de
António Guterres defendia que num mundo multipolar (para os optimistas), ou
desordenado e instável (para o campo oposto), os interesses estratégicos
deveriam passar pela ponderação de algumas coordenadas base, onde se
destacava uma muito específica: o desenvolvimento do continente africano. Para
ele, era uma região ‘onde temos uma importante palavra a dizer; foi com esse
intuito que lancei a iniciativa de realização de uma Cimeira Europa-África,

50
entretanto endossada pela União Europeia e que poderá ter lugar no decurso da
nossa Presidência no ano 2000’ (Gama, 1999, p.46). O que efectivamente se
verificou.
Este facto é bem demonstrativo da viragem da política externa portuguesa
com relação a África como um todo, abandonando – sem esquecer o seu papel
para o desenvolvimento dos PALOP e a paz em Angola – o modelo que apenas
olhava para a África portuguesa, a África ‘palopiana’.
Aliás, já alguns anos antes, em 1996, a presença de Jaime Gama na
reunião ministerial UE/SADC em Windhoek, Namíbia, foi o exemplo da
importância que Portugal conferia às iniciativas conjuntas da UE e de países
africanos e o relevo que o Governo português concedia ao estreitamento das
relações com todos e com cada um dos países que integram a SADC e com
aquela organização.
Com uma nova mudança de governo, a actual política externa portuguesa
para África é-nos apresentada com as seguintes prioridades:
1º - PALOP
2º - África do Sul, por se o primeiro país em África com mais portugueses:
são cerca de 500 mil, a maioria saídos de Angola, e os restantes de Moçambique;
é a principal economia da África Austral; foi o primeiro investidor estrangeiro
em Moçambique até 2000 e só Angola poderá competir ao mesmo nível no
futuro.
3º - Reforço dos laços de Cooperação e Económicos, primeiro pelas
empresas portuguesa e, depois, pelo interesse dos próprios países. (MNE, 2004)
Tal como a maioria dos parceiros da União Europeia, Portugal procura as
melhores soluções para racionalizar a sua máquina diplomática e adaptá-la às
novas exigência que se colocam. Muitas dúvidas têm surgido acerca das próprias
relações entre os Estados da União, ou seja, se mantêm as formas clássicas para a
defesa dos seus interesses nacionais consagrados. Isto deriva naturalmente da
multiplicação das instâncias de decisão, do carácter integrador do modelo
europeu que parecem aconselhar uma diplomacia mais económica e cultural do
que política, mais exposta e menos reservada.

51
Portugal, sobretudo através do actual Governo PSD-PP, tem procurado um
modelo diplomático ideal, uma diplomacia que acentue a sua vocação económica
e acrescente às suas práticas tradicionais uma focagem comercial.
Para tanto, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, António Martins da
Cruz, lançou a 6 de Fevereiro de 2003 uma das bandeiras do Governo: a
Diplomacia Económica, procurando delinear agora e com mais precisão aquilo
que fora já considerado em meados da década de 90 no consulado socialista,
como atrás foi sublinhado. A diplomacia económica procura efectuar uma maior
aproximação entre o MNE e o Ministério da Economia, agilizando as suas
estruturas no exterior e criando plataformas comuns que permitam uma
abordagem integrada.
Com este ‘refresh’ na diplomacia portuguesa, o Governo pretende que
aquela se afirme em termos da sua capacidade profissional articulando a acção
dos diplomatas e dos conselheiros económicos, e demonstre a sua relevância
perante as exigências do interesse nacional e das suas prioridades. A diplomacia
económica pretende assim criar e explorar novas oportunidades para as empresas
portuguesas e para a economia nacional, promovendo a sua internacionalização,
bem como apoiar a captação de investimento directo estrangeiro.
Em matéria africana, o cenário diplomático muda o seu figurino. Segundo
a Direcção África do Ministério dos Negócios Estrangeiros, «uma coisa é termos
ambições, outra coisa são os meios, tornando frustradas muitas das iniciativas
diplomáticas com o continente africano e muito mais com a SADC» (MNE,
2004). Poderíamos fazer muito mais em África, apesar de todos os seus
problemas. Enquanto África for tratada de uma forma menor, não haverá grandes
progressos. Questões como a NEPAD e a reformulação da União Africana são
excelentes e positivas, bem como as forças de ‘peace-keeping’. A Diplomacia
Económica, no fundo, sempre funcionou. Resta saber se funcionou sempre bem.
(MNE, 2004).

52
2.2. A ACÇÃO DIPLOMÁTICA NA SADC

Fazendo uma pequena resenha do peso diplomático de Portugal na SADC,


verificamos que em 1997 tínhamos embaixadas em Angola, Moçambique, África
do Sul, Zimbabwe, Zâmbia, Namíbia e República Democrática do Congo, ou
seja, em 7 dos 14 países que compõem a SADC.
De 1997 para cá, Portugal encerrou, em 1998, a embaixada da Zâmbia e,
em Novembro de 2003, a da Namíbia, sendo que em Harare (Zimbabwe) e em
Kinshasa (República Democrática do Congo), as embaixadas têm cada uma
apenas um embaixador e um secretário de embaixada.
A embaixada na Zâmbia, agora encerrada, abriu em 1977, após o 25 de
Abril, quando aquele país era o grande opositor à África do Sul devido ao
Apartheid. Era um país fundamental na região. Foi lá que se negociou a
descolonização de Moçambique. Fora isso, nunca houve grandes momentos na
Zâmbia e a comunidade portuguesa residente é diminuta. Na Namíbia, a
embaixada foi criada em 1991 depois de este país se ter tornado independente em
1990. Foi uma promessa do Governo de Cavaco e Silva, quando na altura Durão
Barroso era Secretário de Estado da Cooperação. Foi um sinal de apoio de
Portugal ao fim do Apartheid e ao fim do colonialismo, nomeadamente com a
saída de África do Sul da Namíbia. (MNE, 2004)
Segundo a Direcção África do MNE, «o encerrar de embaixadas fica
sempre mal para o país de origem porque demonstra não haver vontade em
estreitar relações político-diplomáticas e económicas». O caso da embaixada da
Namíbia foi talvez aquele que menos relevo teve na política diplomática
portuguesa, já que “não há grandes laços de Portugal com a Namíbia e a
comunidade portuguesa é muito reduzida. Há até pendente uma visita do
Presidente da República, Jorge Sampaio, que tem vindo a ser consecutivamente
adiada devido a relações pouco simpáticas a respeito de Portugal por parte do
presidente namibiano. Por outro lado, quando se abre uma representação
diplomática em determinado país, é comum que o outro o faça também no país

53
de origem, coisa que nunca aconteceu com a Namíbia em Portugal”, (MNE,
2004).
Deve ser destacado o facto de, em todo o mundo, e desde 1997, Portugal
ter encerrado apenas duas embaixadas, ambas em África e em países da SADC.
Nos países que compõem a SADC, Portugal detém apenas três boas
embaixadas, ou seja, com todos os serviços a funcionar em pleno e com uma
dinâmica completamente distinta das restantes, sendo elas Angola, Moçambique
e África do Sul (contemplando também os consulados).
Por outro lado, e quase em compensação, Portugal abriu uma embaixada
em Addis Abeba, na Etiópia, em Fevereiro de 2002, funcionando como uma
embaixada bilateral: faz-se representar na Etiópia e na União Africana, que tem
sede naquele país. Conforme destaca o MNE (2004), “é fundamental para
Portugal ter uma ‘antena’ ligada junto da União Africana, onde a língua
portuguesa é também uma língua oficial da Organização. Por outro lado, é
também um sinal do interesse português em estar próximo do organismo
supremo dos países africanos. O papel agora de Portugal passará pela influência
política, económica, social e cultural que conseguir junto da União Europeia”.
Em suma, o balanço feito pela Direcção África do MNE no que toca à
presença diplomática de Portugal nos países do SADC é benéfico: “o balanço é
positivo, sobretudo em embaixadas como Angola, Moçambique e África do Sul,
juntamente com o ICEP. Existe, no entanto, um potencial enorme, com riscos
grandes, mas com oportunidades de negócio fabulosas, mas faltam pessoas para
fazer prospecção e trabalho comercial nos restantes países e embaixadas da
SADC” (MNE, 2004).

2.3 A POLÍTICA EXTERNA DE PORTUGAL FACE À SADC

Portugal tem vindo, desde a fundação desta organização, a participar nas


suas conferências anuais, manifestando a sua disponibilidade para: “primeiro,
analisar com os países lusófonos da SADC, Angola e Moçambique, propostas de
acção em relação a projectos de impacto regional por eles considerados

54
prioritários e que se insiram nos interesses portugueses; segundo, no decurso das
reuniões, efectuar encontros com delegações de outros países doadores com vista
a análise das possibilidades de perspectivar formas de actuação conjunta em
projectos na área da SADC” (MNE, 1995, p.156).
Eis alguns exemplos:
a) Caminho-de-Ferro de Nacala, em que Portugal, juntamente com a
França e a União Europeia, continuou envolvido na fase final da
reconstrução da via férrea que liga o porto de Nacala ao Malawi;
b) Apoio, em 1986, ao estudo de reabilitação de infraestruturas urbanas
(água e saneamento) da cidade da Beira, no âmbito do projecto
regional do «Corredor da Beira»;
c) Corredor do Limpopo, tendo a intervenção portuguesa estado a cargo
de uma empresa nacional na reabilitação da linha férrea de
Chicualacuala;
d) Escola Ferroviária de Inhambane, na qual se desenvolveu um centro de
formação profissional com o apoio de uma empresa portuguesa.
Com o tempo, e como vimos antes, em matéria especificamente africana,
Portugal elege dois postos muito claros como prioridade para a sua política:
o aumentar as suas relações com aquele continente, com particular
incidência nos Países de Língua Oficial Portuguesa, procurando dar
um novo impulso e uma abordagem renovada, sobretudo no caso
de Angola, aproveitando as novas perspectivas do Processo de Paz,
mas também em relação a Moçambique e aos outros PALOP
o desenvolver, no quadro da CPLP, uma maior densidade de
relacionamento em múltiplas matérias de cooperação por forma a
permitir-lhe potenciar a sua visibilidade internacional.
A política externa portuguesa face a África tem tido sempre continuidade
ao longo dos diversos Governos, embora a sensibilidade e os efeitos práticos
dessa política não sejam uniformes ao longo de tempo, como referem algumas
fontes: “os Governos africanos sentiram-se sempre mais confortáveis com

55
Governos Sociais Democratas, por existir ainda alguma mágoa com o Partido
Socialista face ao processo histórico da descolonização” (MNE, 2004).
Em virtude do passado histórico e da própria dimensão de um pequeno
país no quadro das relações internacionais, em matéria de política externa, as
relações bilaterais de Portugal com os países da SADC resumem-se aos países
lusófonos, nomeadamente, Angola e Moçambique. Quase todas as relações com
os restantes países da SADC são fortemente influenciados pelo diálogo entre a
UE-SADC. Como destaca o MNE (2004), a influência do caso do Zimbabwe é
um exemplo paradigmático: “este diálogo UE-SADC tem tido muitas barreiras
por causa do Zimbabwe. Portugal defende que não pode ser refém da questão
Mugabe e respectiva instabilidade política, que põe em causa todas as relações
com os outros países africanos. Trata-se de uma problemática bilateral entre o
Zimbabwe e o Reino Unido, mas que está a afectar todos os outros membros”.
Segundo as informações facultadas pela Direcção África do Ministério dos
Negócios Estrangeiros de Portugal, esta situação foi apreciada na última reunião
ministerial no Maputo, em Novembro de 2002, onde Portugal defendeu a
continuação do diálogo entre a União Europeia com os países do SADC. Portugal
quer uma relação alargada com África, o que ficou muito claro quando assumiu a
presidência na UE em 2000, ao defender um diálogo regular com África. A
primeira Cimeira realizou-se no Cairo em 2000, tendo sido Portugal o grande
impulsionador deste diálogo, primeiro com a União Africana e depois com as
organizações regionais. (MNE, 2004)
A partir de 2000, com António Guterres a liderar o Governo português, a
situação no Zimbabwe deteriorou-se ainda mais com a tomada de terras e
reformas agrárias levadas a cabo pelo presidente Mugabe, que havia sido eleito
em eleições pouco claras e credíveis (Março de 2002). Foi então que as relações
UE-Zimbabwe esfriaram, tendo a UE criado um plano de sanções contra o
Zimbabwe. Portugal, com a imposição de sanções, defende que o Zimbabwe tem
problemas de direitos democráticos e humanos, mas não pretende condicionar as
relações com a SADC.

56
Enquanto principais impulsionadores deste diálogo, é visto com muita
preocupação este cerrar de posições face ao Zimbabwe, sob pena de prejudicar o
diálogo, primeiro, com Angola e Moçambique e, segundo, com toda aquela zona.
Portugal tem noção que Mugabe representa um símbolo de luta anti-
colonial no Zimbabwe, mas também noutros países da SADC e, quando surgem
medidas anti-Zimbabwe, fazem-se de imediato associações a medidas
colonialistas. (MNE, 2004)
Segundo a Direcção África do Ministério dos Negócios Estrangeiros, por
contingência própria, Portugal poderá aumentar ou reforçar a sua presença na
SADC através das suas ex-colónias. No entanto, segundo a mesma fonte, a
aproximação de Portugal à SADC foi uma aposta certeira, mas não muito bem
sucedida, essencialmente por falta de meios. Portugal tem acompanhado sempre
as cimeiras da SADC, “para que Angola e Moçambique tenham mais peso e
força na zona e no seio da organização, até porque a maioria dos países são
anglófonos”. (MNE, 2004)
O sucesso da SADC é visto por Portugal como relativo, pois segundo a
Direcção África do MNE (2004) «é bonita no papel, mas não funciona em termos
práticos». Não é comparável a integração regional de uma União Europeia com
países de desenvolvimento baixo e com níveis de crescimento desiguais, com
condições muito difíceis, onde existem enormes barreiras para desenvolver
políticas monetárias, cambiais e de comércio. E, na SADC, seria um suicídio
eliminar barreiras alfandegárias, pois seriam engolidos pela África do Sul.
(MNE, 2004)2
Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a cooperação com a
SADC existe sobretudo ao nível político. Ao nível da União Europeia, se já é
difícil ter uma política externa e económica comum, ainda o é mais quando se
refere à SADC: “a SADC é sobretudo uma entidade política, uma entidade que
previne conflitos. Ao nível económico tem uma dificuldade de princípio: os
países são competidores entre si. Ao nível económico, a Comunidade só

2
De facto, Moçambique, bem como quase todos os países da região, importa bastante da África do Sul
(sobretudo bens e serviços), importando também os seus níveis de inflação (que em 2003 deve chegar a
11% em Moçambique).

57
persistirá no futuro quando diminuir a concorrência dos países membros entre si,
tal como já aconteceu na UE”3 (MNE, 2004)
Portugal, segundo o MNE, antes de pensar no peso que quer assumir na
SADC, deverá analisar o peso que a própria SADC tem para si, na região e na
União Africana, e só depois verificar e medir a sua influência na região. Portugal
tem capital político, de proximidade com Angola, Moçambique e também com a
África do Sul. O papel de Portugal passa também pelo peso e presença na União
Europeia, no sentido de aumentar a cooperação e as suas capacidades com
aqueles países. (MNE, 2004)
Apesar deste cenário, os países membros da SADC guardam boa imagem
de Portugal. Segundo o MNE (2004), a imagem é positiva, mas mitigada.
Angola, Moçambique, Zimbabwe e Namíbia ainda são países com governos
saídos das lutas de libertação. Portugal tem ainda uma imagem de país branco,
colonialista e opressor, apesar que essa imagem é ainda mais carregada no que
toca ao Reino Unido. Toda a zona foi, sobretudo, colonizada por ingleses e
Portugal acaba por funcionar como contra-poder e país benevolente. Por outro
lado, Portugal tem ainda a vantagem de não participar em grandes condenações
internacionais na zona. Portugal concedeu muito apoio para a criação da SADC e
suporte à cooperação entre os países. A questão do Zimbabwe, por exemplo, deu,
na região, muita força e simpatia a Portugal. O ex-ministro dos Negócios
Estrangeiros, António Martins da Cruz, foi mesmo o único representante da UE
a estar presente na Cimeira Ministerial realizada no Maputo em 2002.
Em matéria de política externa, percebe-se facilmente que as relações com
a SADC vão continuar a estar condicionadas pela situação no Zimbabwe e,
segundo o MNE, a nossa política externa face à SADC passará obrigatoriamente
pela União Europeia: «a nossa cooperação bilateral será sempre consagrada aos
PALOP. Tudo o que seja ou saia desta esfera será sempre residual» (MNE,
2004).

3
Aqui, a “concorrência” deve ser entendida ao nível da actividade de bens exportáveis e não da produção
industrial.

58
CAPÍTULO III

A COMUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA


ÁFRICA AUSTRAL (SADC)

A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) foi


antecedida pela Conferência para a Coordenação do Desenvolvimento da África
Austral (SADCC), que foi criada em 1980 pelos governos de nove países
africanos: Angola, Botswana, Lesoto, Malawi, Moçambique, Suazilândia,
Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe.
Para Rowlands, (1998, p.920), tudo teve origem no poder e uso do poder:
“se formos além dos números, a experiência revela uma ansiedade em torno do
domínio da África do Sul, característica dominante da actividade regional no
último século. A SADCC foi formada, claramente e em parte, porque havia uma
grande preocupação acerca do impacto que a África do Sul vinha tendo sobre os
seus vizinhos para norte”.
Abordar o tema do SADC leva-nos também a contextualizar a sua origem,
obrigando-nos a reportar à razão que levou os Estados africanos a reunir esforços
em torno da cooperação e da integração regionais. Para Mistry (2000, p.553), “a
primeira foi aderir rigidamente às fronteiras coloniais deixadas pelos impérios
europeus...A segunda inclinação prende-se com o enfatizar, desde o início das
independências, da indispensável integração económica em todas as sub-regiões
de África e do continente como um todo”.
A formação do SADC foi, por isso, o culminar de um longo processo de
consultas entre os líderes daquela região. Nos finais dos anos 70, ficou claro para
os líderes da região que ter apenas uma bandeira e um hino nacional não seria
suficiente para atingir os níveis de desenvolvimento desejáveis para cada país.
Por outro lado, as experiências positivas de um trabalho em equipa no que
ficou conhecido pelos ‘Frontline States’, cujo objectivo era avançar na luta

59
política, procurando isolar a África do Sul, tinham que se traduzir numa
cooperação mais alargada na procura de um desenvolvimento económico e
social.
No entanto, e na visão de Mistry (2000, p.554), o compromisso dos países
africanos com a integração parece ser mais visceral do que racial, mais retórica
que real: “os ideais da integração africana tiveram como base ambições
transcontinentais, slogans políticos evocativos, imensos tratados e instituições
regionais e tendências proteccionistas”.
O pensamento de Mistry não está muito longe do que se passou na história
da formação do SADCC. Esta Conferência nasceu de inúmeras consultas levadas
a cabo por representantes de alguns daqueles países da linha da frente (desde
1977), que reuniu os ministros dos Negócios Estrangeiros desses Estados em
Gaborone, Botswana, em Maio de 1979. Esta reunião acabou por ter seguimento
na Tanzânia (Arusha), em Julho de 1979. Um ano depois nasceu a Conferência
para o Desenvolvimento da África do Sul (SADCC).

1 – Os objectivos da SADCC

Para entendermos, com precisão, a importância e o papel da SADCC,


vamos agora analisar os seus principais objectivos:

1 – Reduzir a dependência dos Estados Membros


2 – Implementar programas e projectos com impacto nacional e regional
3 – Mobilizar os recursos dos Estados Membros, na procura da auto-confiança
colectiva
4 – Assegurar um entendimento e apoio internacional

Através da SADCC, os países fundadores procuraram, numa primeira


fase, demonstrar os benefícios tangíveis por trabalharem em conjunto e cultivar
um clima de confiança e verdade entre os Estados Membros.

60
O SADCC foi desenvolvido desde então para se tornar numa organização
com um Programa de Acção, cobrindo diversos sectores como o Económico e o
Social, nomeadamente, a energia (Angola), o turismo, o ambiente, as águas,
emprego e trabalho (Lesoto), cultura, informação, desporto, transporte e
comunicações (Moçambique), pescas, recursos marítimos e floresta (Malawi e
Namíbia). As Finanças e Investimento (África do Sul), Desenvolvimento de
Recursos Humanos (Suazilândia), Alimentar (Zimbabwe), Agricultura, Recursos
Naturais e Saúde (Botswana), Assuntos Legais, Emprego e Trabalho (Zãmbia)
são ainda outros sectores que fazem parte do Plano de Acção. Cada sector é
coordenado por um Estado Membro, com alguns deles a coordenar mais de um
sector.
Segundo Mshomba (2000, p.188), houve uma evolução na coordenação
das responsabilidades nestes sectores: “a desagregação destas áreas de
cooperação e o aparente acordo na distribuição de responsabilidades entre os
Estados membros permitiu ao SADCC identificar projectos de interesse comum.
Isto fez com que do SADCC um sucesso relativo na captação de fundos
internacionais para os seus projectos. Porém, a excessiva dependência por fundos
internacionais é a fraqueza do SADCC. Em média, 85% das necessidades
financeiras dos projectos do SADCC advêm de fontes internacionais...”.

2 – A passagem da SADCC para SADC

Nos últimos dois anos, a SADC levou a cabo um exercício de


reestruturação das suas instituições, cujo resultado deu origem a um relatório
adoptado numa Cimeira Extraordinária a 9 de Março de 2001 em Windhoek,
Namíbia. Esta reestruturação foi exigida pelo número de dificuldades e
constrangimentos encontrados no processo de transformação da organização de
uma conferência coordenada para uma Comunidade, nomeadamente:
- Reformas institucionais inadequadas para accionar uma efectiva
transformação de SADCC (Conferência Coordenada) para SADC (a

61
Comunidade). Para além disso, a fonte de provisão e o sistema de gestão
não estavam a ser correctamente dirigidas.
- A necessidade de colocar no terreno os mecanismos apropriados capazes
de traduzir o elevado grau do compromisso político de forma a perceber-
se o alcance e a escala de uma comunidade construída através da
integração regional. Isto implica delegar autoridade e força na capacidade
de decisão das mais relevantes agências responsáveis pela execução da
agenda do SADC.
- Necessidade de uma sinergia entre, por um lado, objectivos e estratégia
do Tratado e, por outro, Programa de Acção do SADC e enquadramento
institucional.
- Capacidade limitada para mobilizar os próprios recursos da região nos
mais diversos níveis de actuação para a implementação do seu Programa.
- A enorme dependência financeira externa do Programa de Acção do
SADC era de 80%, o que comprometia a sustentabilidade do Programa.

Esta passagem ocorreu em Agosto de 1992, quando os Chefes de Estado e


de Governo membros da Conferência reuniram em Windhoek, na Namíbia, para
assinar a Declaração e o Tratado que deu origem a uma nova SADC – South
African Development Community (Comunidade para o Desenvolvimento da
África Austral), passando de 10 membros (Namíbia, Botswana, Suazilândia,
Zimbabwe, Tanzânia, Zâmbia, Malawi, Angola, Moçambique e Lesoto) para 14
(África do Sul – 1994, Maurícias – 1995, República Democrática do Congo e
Seyhelles, ambas em 1997).
Os líderes da SADCC reconheciam naquele momento que a Conferência
tinha servido para os primeiros esforços na cooperação para o desenvolvimento.
Chegava o monto de formalizar e dar um novo corpo legal à Organização.
Era também uma preciso dar um maior enfoque à questão da sua
organização, deixando apenas de coordenar projectos para passar a um processo
mais complexo de integração das economias dos Estados Membros. Daí o

62
Tratado, que não é mais do que um documento para a construção de uma
Comunidade de Estados da África Austral.
Os Estados Membros do SADC deveriam, a partir de então, agir com respeito
a alguns princípios. Segundo o sítio da Organização (SADC, 2003), estes são os
fundamentais:
- Igualdade soberana para todos os Estados Membros
- Solidariedade, Paz e Segurança
- Direitos Humanos, Democracia e o respeito pela Lei
- Igualdade, equilíbrio e benefícios mútuos
- Resolução pacífica de conflitos

2.1 - Os objectivos da SADC

Com base no exposto, rapidamente a organização reformulou os seus


objectivos de forma a tornar eficaz e mais eficiente a sua coordenação. O site
oficial da SADC (SADC, 2003) destaca os seguintes:
- Desenvolvimento e Crescimento Económico, atenuar a pobreza, aumentar
a qualidade de vida do povo sul africano e apoiar as desigualdades sociais
através da integração regional
- Envolver valores políticos comuns, sistemas e instituições
- Promover e defender a paz e a segurança
- Promover um desenvolvimento sustentado com base numa auto-confiança
colectiva, e uma interdependência dos Estados Membros
- Adquirir uma complementaridade entre as estratégias e programas
nacionais e regionais
- Promover e maximizar o emprego produtivo e a utilização de recursos na
Região
- Utilizar de forma sustentada os recursos naturais e uma efectiva protecção
ambiental
- Fortalecer e consolidar as afinidades históricas, sociais e culturais e laços
entre os povos da Região.

63
- Aprovar o Protocolo do Comércio (a vigorar desde 2003 em toda a zona
de integração)

O fim último da SADC, a Comunidade, é construir uma Região na qual haja


um alto grau de harmonização e racionalização capaz de potenciar os recursos
para atingir uma auto-confiança colectiva no sentido de melhorar os níveis de
vida dos povos da região.

2.2 - Enquadramento Institucional

No momento da criação das instituições da Conferência, os países


fundadores estavam particularmente sensíveis com as lições e experiências das
tentativas e esforços passados na cooperação regional em África, nos quais,
alguns deles, acabaram por falhar e tornarem-se numa verdadeira desilusão. Isto
sucedeu devido a falhas no tratamento de pontos extremamente sensíveis na
cooperação regional, como seja uma justa e equitativa partilha de custos e
benefícios.
Para evitar erros semelhantes, a SADC definiu desde o início a
necessidade de colocar um ênfase especial numa disposição institucional
descentralizada que assegure aos estados membros a formulação e a
implementação das decisões políticas.
Contudo, no novo exercício de reestruturação, ficou claro que existe um número
de problemas que inibem um desempenho eficiente e efectivo na actual estrutura
e que inclui (SADC, 2003):
- Provisão inadequada de recursos e pessoas pelos Estados, que levou a uma
distribuição inadequada de responsabilidades e obrigações;
- Procedimentos e regras de gestão e administração atribuídas de forma
diferente para equipas envolvidas na gestão do Programa Regional;
- Crescimento rápido de departamentos que originaram diferentes
prioridades e actividades, dependentes de recursos limitados, proliferando
reuniões e aumento de custos;

64
- Com base na actual estrutura e circunstâncias, o Secretariado viu-se
incapaz de executar o seu mandato tal como previsto no Tratado,
especialmente a execução do plano estratégico e de gestão;
- Ausência de um enquadramento institucional onde os ministros dos
Negócios Estrangeiros responsáveis pela política externa da região da
SADC pudessem discutir e adoptar posições comuns em matérias
pertinentes para a organização nos diversos fora internacionais.

Para evitar erros passados, o artigo 9, apresenta-nos as instituições que


passaram a compor a SADC (SADC, 2003):
a) Cimeira de Chefes de Estado ou Governo
b) Conselho de Ministros
c) Comissões
d) Comité de Oficiais
e) Secretariado
f) Unidades de Coordenação Sectorial
g) Tribunal

Outras instituições poderão ser estabelecidas quando necessárias. Em


termos de decisões, está estabelecido no artigo 10 (SADC, 2003) que a ‘Cimeira
deve ser a responsável pela direcção e controle de funções de toda a política do
SADC e as suas decisões devem ser tomadas por consenso e directamente
aplicadas’. O mesmo se estende a todas as restantes instituições, incluindo o
próprio Tribunal.

2.3 – Alguns Constrangimentos da SADC

Apesar de agora haver um enquadramento legal com assinatura do


Tratado, existem ainda muitas barreiras a ultrapassar para que se possam atingir
os actuais objectivos e cortar com o passado (SADCC), ainda que faseadamente.
Tsie (1996, p. 85) refere mesmo que a estrutura institucional permanece fraca: “o

65
ponto mais fraco são as Unidades de Coordenação Sectorial, que são diversas
vezes infundadas e constituídas por funcionários fracamente motivados e com
um reduzido conhecimento dos objectivos do SADC. Como resultado, a
coordenação e implementação das políticas e programas do SADC em sectores
como a Indústria e Comércio, Indústria Mineira e Recursos Humanos tem sido
lenta e ineficaz”.
Apesar dos vários esforços para atingir uma mercado alargado, a
integração em África dificilmente tem progredido. Segundo Mistry (2000,
p.556), “os governos africanos estão ainda muito comprometidos com a
integração, apesar de hoje serem mais realistas e práticos. Isso talvez fosse
inevitável, dados os registos prolongados de falhanços económicos, conflitos por
resolver e as duas crises de dívida e ajustamento...O lançamento da iniciativa de
redução e alívio da dívida para os países pobres altamente endividados ajudou
muito pouco para melhorar a situação”.
De acordo com algumas interpretações, a integração regional tem quer ser
interpretada como uma alternativa, não um complemento, para a liberalização do
comércio em todo o SADC. Com o acordo de liberalização finalmente assinado
na zona, são esperadas substituição de importações face ao resto do mundo.
Para tal é preciso imprimir uma nova dinâmica ao SADC, perdida desde
que a África do Sul aderiu à organização regional, quando o então SADCC tinha
um papel fundamental e de sucesso no combate ao Apartheid.
Para Olivier (2001, p.43), a SADC tem sido muito estática desde a sua
criação. O debate local acerca do seu papel e utilidade é esporádico e superficial.
Pior do que isso, segundo o mesmo autor, a maioria dos governos aceitam
facilmente este status quo: “não é nada surpreendente que o SADC tenha
degenerado num estado virtual de ossificação. Claro que, como vimos no caso
europeu e outros exemplos regionais, não se podem esperar milagres. Contudo,
sem uma contínua fermentação intelectual, revisões e reformas, a actual
configuração do SADC inspira pouca confiança para uma emergência gradual de
um novo e mais efectivo programa regional de acção”.

66
A SADC só viabilizará o seu futuro caso aproveite a tendência favorável
do comércio livre, para obter benefícios directos no longo prazo e além-
fronteiras, convertendo o sector privado no motor da integração regional,
limitando o papel do Estado a uma intervenção moderada para controlar o
mercado. Esta liberalização dos mercados acaba por já ser um facto: primeiro
pela aprovação do Protocolo de Comércio que já vigora e, segundo, pela
penetração sul-africana dos sectores mineiro, bancário, aéreo, ferroviário,
cervejeiro, turístico e das telecomunicações.

PIB – SADC EXPORTAÇÕES - SADC

Fonte: Banco Mundial, Free Trade Agreements and SADC Economies, Africa Regions Working Paper Series, Nº 27, p.
5, 2002

3 – O futuro da integração económica na África Sub-Sahariana e o


NEPAD

O resultado das últimas três ou quarto décadas de integração regional em


África é pouco significativo por se ter colocado ao serviço da construção do
Estado-nação, pelos poderes políticos e, inclusivé, para a sua unidade e
estabilidade. Como diz Badi (2001, p.85), “na actualidade, a evocação de
factores externos utilizada para justificar o fracasso da integração regional
desapareceu... Esta oportunidade tem que ser aproveitada para realizar as trocas

67
importantes e colocar a integração regional ao serviço do desenvolvimento e da
unidade dos países africanos”.
O futuro, segundo ainda Badi (2001, p.87), passará simplesmente por uma
etapa de coordenação de políticas nacionais de desenvolvimento, centradas em
infra-estruturas horizontais, complementares e populares, no abandono de uma
regra de unanimidade e de soberanias e na adopção de uma política monetária
africana.
Para isso, África terá que ultrapassar outros obstáculos como o fracasso do
desenvolvimento, ou seja, a crise económica e financeira interna, que teve
origem na aplicação dos programas de ajustamento estrutural, ao que se juntou a
crise do Estado nacionalmente debilitado e sem uma base política e jurídica
sólida.
Foi neste contexto que foi criada, a 9 de Março de 2003, a NEPAD, a
Nova Parceria para o Desenvolvimento de África. A NEPAD, que assenta a sua
actividade numa lógica continental, regional e nacional, vincula os países ao
cumprimento cuidado das normas internacionalmente aceites e pelo respeito da
democracia e dos direitos humanos.
O enquadramento estratégico da NEPAD surge assim de um mandato da
Organização da União Africana aos chefes de Estado da Algéria, Egipto, Nigéria,
Senegal e África do Sul, para desenvolver uma solução integrada para o
desenvolvimento de África.
Segundo o site oficial da NEPAD (www.nepad.org), os seus objectivos visam
o seguinte:
a) Erradicar a pobreza;
b) Colocar os países africanos, individual e colectivamente, num patamar de
crescimento e desenvolvimento sustentável;
c) Evitar a marginalização de África no processo de globalização e catapultar
os benefícios da sua integração na economia global;

Para o director do Instituto de Assuntos Internacionais da África do Sul, Greg


Mills (2003), “a NEPAD já está a fazer a diferença. Há mais democracia, as

68
políticas económicas são mais comuns, a imagem e visibilidade mudou,
aumentou a transparência e o interesse reformista. No longo prazo, o
desenvolvimento vai ser sinónimo de mais poder para as mulheres, de empresas
mais fortes, de menos doenças e mais investimento directo. A NEPAD mudou o
tom do debate. África espera a salvação e já não é um continente sem esperança.
África e Europa vão ter que desenvolver a NEPAD”.

69
CAPÍTULO IV

O CASO PORTUGAL / PAÍSES NÃO LUSÓFONOS DA


SADC

Este capítulo vai incidir sobre as relações económicas efectuadas desde


1975 até 2002 entre Portugal e os países não lusófonos que compõem a SADC.
De entre estes últimos foram retirados as Seycheles, as Maurícias e a República
Democrática do Congo pois significam pouco para Portugal, e em termos
comparativos, ainda significam menos, sobretudo por uma questão de dimensão e
importância estratégica. Já Angola e Moçambique foram alvo de uma análise de
dados em anexo, mas também não constam na nossa interpretação. Isto porque já
são sobejamente conhecidas as razões históricas e preferenciais que levam
Portugal a ter relações privilegiadas com ambos os países. Portanto, dos 14
membros, analisaremos os 9 restantes.
O objectivo deste ‘Estudo de Caso’ é precisamente o de tentar perceber a
importância económica e político-diplomática que aquela zona tem para
Portugal, análise esta que é efectuada pelo lado político-diplomático (ver capítulo
II) e pelo lado económico, o que será feito neste capítulo.
Neste contexto, como fundamento principal deste trabalho, iremos agora
analisar qual tem sido o papel das relações económicas de Portugal com os
seguintes países no período de 1975-2002: Malawi, Lesoto, África do Sul,
Botswana, Namíbia, Zimbabwe, Tanzânia, Zâmbia e Suazilândia.

1. O comércio bilateral entre Portugal e os países não lusófonos da SADC

1.1 O Malawi

Analisando em primeiro lugar o caso do Malawi, verifica-se que de 1975 a


2002, só uma vez, e em 1975, as exportações de Portugal com o Malawi
ascenderam a 0,1% do total exportado para o mundo, tendo esse montante

70
PORTUGAL/MALAWI
Exportações
(unidade: euros)

Exportações Peso do
Peso Malawi nas Totais Port. c/ Peso Malawi nas Exportações Totais Malawi nas
Valor Exportações Totais de Exp. Totais Port. África Sub- Exp. Port. p/ Áf de Portugal c/ Exp. Port p/
ANOS Absoluto Portugal no Mundo (%) Sahariana Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 243343 246047000 0,1% 24216010 1,0% 13665815 1,8%
1976 15871 274780000 0,0% 18081364 0,1% 11448355 0,1%
1977 26211 387492000 0,0% 34066380 0,1% 23743084 0,1%
1978 207739 530973000 0,0% 36822358 0,6% 24904530 0,8%
1979 292784 878137000 0,0% 58541395 0,5% 38930324 0,8%
1980 38911 1155331000 0,0% 84623478 0,0% 61542991 0,1%
1981 28800 1281475000 0,0% 118020241 0,0% 89713111 0,0%
1982 44956 1654725000 0,0% 145458824 0,0% 71801497 0,1%
1983 109695 2536728000 0,0% 172561342 0,1% 108577533 0,1%
1984 79363 3793757000 0,0% 273763121 0,0% 170073563 0,0%
1985 229885 4847053000 0,0% 350098947 0,1% 167190654 0,1%
1986 153210 5398295000 0,0% 320452704 0,0% 98224432 0,2%
1987 384219 6539254000 0,0% 315865529 0,1% 111236613 0,3%
1988 554354 7890770000 0,0% 405087484 0,1% 200276882 0,3%
1989 157181 10054322000 0,0% 576073658 0,0% 317039869 0,0%
1990 532995 11650909000 0,0% 665645828 0,1% 330342286 0,2%
1991 913623 11742118000 0,0% 559059532 0,2% 467716276 0,2%
1992 1019926 12346254000 0,0% 765642302 0,1% 611999436 0,2%
1993 1296874 12342118000 0,0% 495615566 0,3% 351632872 0,4%
1994 758172 14842424000 0,0% 470396345 0,2% 326987535 0,2%
1995 409014 17466999000 0,0% 529319345 0,1% 352172486 0,1%
1996 718268 18933709000 0,0% 649798984 0,1% 417717612 0,2%
1997 3601000 20924821000 0,0% 720837781 0,5% 515571430 0,7%
1998 1431000 22251543000 0,0% 706731776 0,2% 501929754 0,3%
1999 319230 23025907000 0,0% 620619307 0,1% 419882196 0,1%
2000 1087000 26378762000 0,0% 783032891 0,1% 530929144 0,2%
2001 1300000 27322792000 0,0% 832789000 0,2% 654733000 0,2%
2002 446000 27089805000 0,0% 930158000 0,0% 716816000 0,1%

correspondido a 243 mil euros. Estes valores pesaram somente 1,8% das
exportações de Portugal para toda a SADC. Porém, o ano em Portugal mais
exportou, em termos absolutos, para o Malawi foi em 1997, quando as
exportações ascenderam a 3,6 milhões de euros, montante este que corresponde a
0,0% do que Portugal exportou para o mundo e 0,7% para países da SADC.
Em sentido contrário, o Malawi nunca foi um país muito atraente para
Portugal em matéria de importações, apesar de, entre 1977 a 1985, o volume
importado ter correspondido a uma média de 1% no total importado da SADC.

71
Mas, o ano em que se verificou maior valor de importação foi em 2000, tendo
importado 13 milhões de euros, 3,9% do total importado nesse ano dos países
membros do SADC.

Importações
(unidade: euros)

Importações Peso do
Peso Malawi nas Totais Portugal c/ Peso Malawi nas Importações Totais Malawi nas
Valor Importações Totais de Imp. Totais Port. Áfr Sub- Imp. Port. p/ Áf de Portugal c/ Imp. Port p/
ANOS Absoluto Portugal no Mundo (%) Sahariana Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 26650 496174000 0,0% 33196362 0,1% 23942550 0,1%
1976 87603 652719000 0,0% 34847742 0,3% 19386196 0,5%
1977 263978 950980000 0,0% 43427525 0,6% 18914562 1,4%
1978 225107 1147875000 0,0% 33422642 0,7% 19373677 1,2%
1979 350250 1655642000 0,0% 65034941 0,5% 36384811 1,0%
1980 339915 2371717000 0,0% 110355318 0,3% 34496138 1,0%
1981 697474 3037751000 0,0% 153482522 0,5% 38628375 1,8%
1982 2123013 3760840000 0,1% 262471274 0,8% 52477864 4,0%
1983 2111975 3488294000 0,1% 301577623 0,7% 55700257 3,8%
1984 2729202 5789214000 0,0% 594276518 0,5% 92847593 2,9%
1985 2849323 6616696000 0,0% 620630171 0,5% 175801778 1,6%
1986 731838 7195123000 0,0% 606630207 0,1% 148899523 0,5%
1987 934433 9802948000 0,0% 745046847 0,1% 137222245 0,7%
1988 5155884 12820429000 0,0% 993708513 0,5% 185832474 2,8%
1989 4682510 14979878000 0,0% 1061990807 0,4% 268670374 1,7%
1990 2956479 17904699000 0,0% 1072876109 0,3% 556526375 0,5%
1991 3820572 19009566000 0,0% 177160962 2,2% 273109928 1,4%
1992 2689987 20388748000 0,0% 213461837 1,3% 260813878 1,0%
1993 1586177 19367210000 0,0% 315394899 0,5% 153988880 1,0%
1994 2603725 22346764000 0,0% 129173692 2,0% 197005465 1,3%
1995 1491405 25083034000 0,0% 251543780 0,6% 219791258 0,7%
1996 11048373 27070420000 0,0% 342624276 3,2% 252476399 4,4%
1997 10818000 30624739000 0,0% 399791502 2,7% 271637630 4,0%
1998 12130000 34490772000 0,0% 597490049 2,0% 301422091 4,0%
1999 12240000 37505656000 0,0% 466405962 2,6% 249512852 4,9%
2000 13043000 43257180000 0,0% 482532097 2,7% 336971596 3,9%
2001 12713000 44053966000 0,0% 426772000 3,0% 415777000 3,1%
2002 11482000 40655880000 0,0% 382352000 3,0% 353981000 3,2%

Porém, foi em 1999 que as importações de Portugal do Malawi assumiram


maior peso no seio dos países da SADC, com 4,9%. Apesar de um volume
inferior face a 2000, os 12 milhões de euros importados do Malawi em 1999
corresponderam a 2,6% do total importado de toda a África Sub-Sahariana.

72
No ano de 1997, quando Portugal teve o seu maior registo em
exportações, exportou sobretudo veículos automóveis, tractores, ciclo e outros
veículos terrestres, mas também reactores nucleares, caldeiras, máquinas,
aparelhos e instrumentos mecânicos. Estes produtos são essencialmente os
principais e mais exportados para o Malawi para o período em análise.
No que toca a importações, os açúcares e produtos de confeitaria, bem
como tabacos e sucedâneos de tabaco foram sempre os produtos preferenciais de
Portugal nas suas trocas comerciais com o Malawi, especialmente no período
compreendido entre 1996 e 2002.

1.2 O Lesoto

O Lesoto é um país de pequena dimensão e como tal a sua expressão em


matéria de trocas comerciais com Portugal é praticamente nula. No período em
análise, de 1975 a 2002, o peso do comércio de Portugal com o Lesoto na SADC,
na África Sub-Sahariana e no mundo, nunca atingiu 1%, seja em exportações,
seja em importações.
Denota-se, no entanto, um maior peso das exportações face às
importações. O ano mais significativo, comparando com os restantes parceiros da
SADC, foi o de 1987, quando o peso do Lesoto nas exportações totais de
Portugal com a SADC ascendeu a 0,1%, o correspondente a 148 mil euros. No
entanto, foi em 1992 que o volume de exportações foi maior para o período em
análise, ascendendo a 150 mil euros.
Registe-se ainda que num total de 27 anos em análise, Portugal apresenta
10 anos em que não registou qualquer exportação para o Lesoto, nomeadamente,
de 1975 a 1978, 1982 e 1983, 1995 e 1996, e 1998.

73
PORTUGAL/LESOTO
Exportações
(unidade: euros)

Exportações
Peso Lesoto nas Totais Portugal c/ Peso Lesoto nas Exportações Totais Peso do Lesoto
Valor Exportações Totais de Exp. Totais Port. África Sub- Exp. Port. p/ Áf de Portugal c/ nas Exp. Port p/
ANOS Absoluto Portugal no Mundo (%) Sahariana Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 0 246047000 0,0% 24216010 0,0% 13665815 0,0%
1976 0 274780000 0,0% 18081364 0,0% 11448355 0,0%
1977 0 387492000 0,0% 34066380 0,0% 23743084 0,0%
1978 0 530973000 0,0% 36822358 0,0% 24904530 0,0%
1979 200 878137000 0,0% 58541395 0,0% 38930324 0,0%
1980 0 1155331000 0,0% 84623478 0,0% 61542991 0,0%
1981 20221 1281475000 0,0% 118020241 0,0% 89713111 0,0%
1982 0 1654725000 0,0% 145458824 0,0% 71801497 0,0%
1983 0 2536728000 0,0% 172561342 0,0% 108577533 0,0%
1984 18146 3793757000 0,0% 273763121 0,0% 170073563 0,0%
1985 1840 4847053000 0,0% 350098947 0,0% 167190654 0,0%
1986 5845 5398295000 0,0% 320452704 0,0% 98224432 0,0%
1987 148152 6539254000 0,0% 315865529 0,0% 111236613 0,1%
1988 1516 7890770000 0,0% 405087484 0,0% 200276882 0,0%
1989 1975 10054322000 0,0% 576073658 0,0% 317039869 0,0%
1990 78785 11650909000 0,0% 665645828 0,0% 330342286 0,0%
1991 32022 11742118000 0,0% 559059532 0,0% 467716276 0,0%
1992 150267 12346254000 0,0% 765642302 0,0% 611999436 0,0%
1993 99759 12342118000 0,0% 495615566 0,0% 351632872 0,0%
1994 5000 14842424000 0,0% 470396345 0,0% 326987535 0,0%
1995 0 17466999000 0,0% 529319345 0,0% 352172486 0,0%
1996 0 18933709000 0,0% 649798984 0,0% 417717612 0,0%
1997 35000 20924821000 0,0% 720837781 0,0% 515571430 0,0%
1998 0 22251543000 0,0% 706731776 0,0% 501929754 0,0%
1999 5000 23025907000 0,0% 620619307 0,0% 419882196 0,0%
2000 10000 26378762000 0,0% 783032891 0,0% 530929144 0,0%
2001 1000 27322792000 0,0% 832789000 0,0% 654733000 0,0%
2002 42000 27089805000 0,0% 930158000 0,0% 716816000 0,0%

Se as exportações para o Lesoto assumem um valor quase residual naquela


zona regional de África, as importações são ainda mais precárias. Portugal regista
16 anos sem importar qualquer produto do Lesoto, nomeadamente, de 1975 a
1979, 1981 e 1982, 1984 e 1985, 1988, 1996, e de 1998 a 2002.
Só em 1993 e 1994, as importações portuguesas do Lesoto registaram
0,1% do total importado da SADC, correspondendo a 84 e 100 mil euros,
respectivamente. Sublinhe-se que o total das importações feitas por Portugal em
países da SADC ascendeu em 1993 a 153 milhões de euros e em 1994 a 197

74
milhões de euros. Curiosamente, só em 1994 o volume importado do Lesoto
significou 0,1% do total importado por Portugal da África Sub-Sahariana, que
nesse ano foi de 129 milhões de euros.

Importações
(unidade: euros)

Importações
Peso Lesoto nas Totais Portugal c/ Peso Lesoto nas Importações Totais Peso do Lesoto
Valor Importações Totais de Imp. Totais Port. África Sub- Imp. Port. p/ Áf de Portugal c/ nas Imp. Port p/
ANOS Absoluto Portugal no Mundo (%) Sahariana Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 0 496174000 0,0% 33196362 0,0% 23942550 0,0%
1976 0 652719000 0,0% 34847742 0,0% 19386196 0,0%
1977 0 950980000 0,0% 43427525 0,0% 18914562 0,0%
1978 0 1147875000 0,0% 33422642 0,0% 19373677 0,0%
1979 0 1655642000 0,0% 65034941 0,0% 36384811 0,0%
1980 733 2371717000 0,0% 110355318 0,0% 34496138 0,0%
1981 0 3037751000 0,0% 153482522 0,0% 38628375 0,0%
1982 0 3760840000 0,0% 262471274 0,0% 52477864 0,0%
1983 758 3488294000 0,0% 301577623 0,0% 55700257 0,0%
1984 0 5789214000 0,0% 594276518 0,0% 92847593 0,0%
1985 0 6616696000 0,0% 620630171 0,0% 175801778 0,0%
1986 1182 7195123000 0,0% 606630207 0,0% 148899523 0,0%
1987 3566 9802948000 0,0% 745046847 0,0% 137222245 0,0%
1988 0 12820429000 0,0% 993708513 0,0% 185832474 0,0%
1989 394 14979878000 0,0% 1061990807 0,0% 268670374 0,0%
1990 22650 17904699000 0,0% 1072876109 0,0% 556526375 0,0%
1991 33115 19009566000 0,0% 177160962 0,0% 273109928 0,0%
1992 24481 20388748000 0,0% 213461837 0,0% 260813878 0,0%
1993 84795 19367210000 0,0% 315394899 0,0% 153988880 0,1%
1994 100000 22346764000 0,0% 129173692 0,1% 197005465 0,1%
1995 75000 25083034000 0,0% 251543780 0,0% 219791258 0,0%
1996 0 27070420000 0,0% 342624276 0,0% 252476399 0,0%
1997 15000 30624739000 0,0% 399791502 0,0% 271637630 0,0%
1998 0 34490772000 0,0% 597490049 0,0% 301422091 0,0%
1999 0 37505656000 0,0% 466405962 0,0% 249512852 0,0%
2000 0 43257180000 0,0% 482532097 0,0% 336971596 0,0%
2001 0 44053966000 0,0% 426772000 0,0% 415777000 0,0%
2002 0 40655880000 0,0% 382352000 0,0% 353981000 0,0%

A par do Malawi, Portugal exporta para o Lesoto, quase sempre e na


maioria, máquinas, aparelhos e materiais eléctricos, aparelhos de gravação ou
reprodução de som e imagem e de som em televisão. Muito pontualmente,
Portugal chegou a exportar também reactores nucleares, caldeiras, máquinas,
aparelhos e instrumentos mecânicos.

75
Os produtos mais importados foram vestuário e acessórios de vestuário.
Muito pontualmente e com valor insignificante, Portugal importou pérolas
naturais ou cultivadas, preciosas ou semi-preciosas, metais preciosos, bijuteria,
bem como pastas, feltros e falsos tecidos e artigos de cordoaria.

1.3 A África do Sul

A África do Sul é o país mais importante, a seguir a Angola e


Moçambique, ou seja, de todos os países da SADC.
Praticamente desde 1975, as exportações portuguesas para este país foram
sempre em ordem crescente e bastante estáveis. Em 1975, o volume exportado
ascendeu a 1,7 milhões de euros e, em 2002, esse volume já atingia os 60
milhões de euros.
Em 1976, as exportações portuguesas para África do Sul pesavam 25,1%
do total exportado para países da SADC. Em 2002, esse peso diminuiu para
8,4%, apesar do extraordinário aumento em valor das exportações para aquele
país.
As exportações para África Sul têm um registo muito distinto quando
comparadas com os restantes países da SADC. A média mantém-se entre 8% e
12% do total exportado para a zona.
No entanto, quando comparadas com o total exportado por Portugal para o
mundo, África do Sul dificilmente consegue atingir 1% do total exportado ao
longo dos anos em análise. Só em por duas vezes, em 1976 e 1977, o peso dessas
exportações superaram a barreira de 1% do total exportado de Portugal para o
mundo.
Tendo em conta a África Sub-Sahariana, as exportações para África do
Sul também apresentam um desempenho bem acima da média, quando
comparadas com os restantes países da SADC. Em 1976, o peso das exportações
para África Sul traduziram-se em 15,9% do total exportado para a África Sub-
Sahariana, o melhor registo para o período em análise. Excluindo o ano de 1976,
a média mantém-se entre os 5% e os 7%.

76
O produto que Portugal mais exporta para África do Sul e que se mantêm
regulares ao longo do período em análise é principalmente a cortiça, só muito poucas
vezes ultrapassada pelas fibras sintéticas ou artificiais descontínuas.
Para além destas duas categorias de produtos, a concorrência mais directa
nos produtos exportados são os reactores nucleares, caldeiras, máquinas,
aparelhos e instrumentos mecânicos.

PORTUGAL/ÁFRICA DO SUL
Exportações
(unidade: euros)

Exportações
Peso Áf. Sul nas Exportações Totais Peso Áf Sul nas Totais de Peso Áf Sul
Valor Exportações Totais de Exp. Totais Port. Portugal c/ África Exp. Port. p/ Áf Portugal c/ nas Exp. Port
ANOS Absoluto Portugal no Mundo (%) Sub-Sahariana Sub-Saha. (%) SADC p/ SADC (%)
1975 1735602 246047000 0,7% 24216010 7,2% 13665815 12,7%
1976 2870192 274780000 1,0% 18081364 15,9% 11448355 25,1%
1977 4531219 387492000 1,2% 34066380 13,3% 23743084 19,1%
1978 2388658 530973000 0,4% 36822358 6,5% 24904530 9,6%
1979 3528027 878137000 0,4% 58541395 6,0% 38930324 9,1%
1980 6653260 1155331000 0,6% 84623478 7,9% 61542991 10,8%
1981 9331526 1281475000 0,7% 118020241 7,9% 89713111 10,4%
1982 8849392 1654725000 0,5% 145458824 6,1% 71801497 12,3%
1983 16502489 2536728000 0,7% 172561342 9,6% 108577533 15,2%
1984 25450544 3793757000 0,7% 273763121 9,3% 170073563 15,0%
1985 12725561 4847053000 0,3% 350098947 3,6% 167190654 7,6%
1986 11785616 5398295000 0,2% 320452704 3,7% 98224432 12,0%
1987 13027029 6539254000 0,2% 315865529 4,1% 111236613 11,7%
1988 23314342 7890770000 0,3% 405087484 5,8% 200276882 11,6%
1989 29654771 10054322000 0,3% 576073658 5,1% 317039869 9,4%
1990 24602198 11650909000 0,2% 665645828 3,7% 330342286 7,4%
1991 32239846 11742118000 0,3% 559059532 5,8% 467716276 6,9%
1992 24332458 12346254000 0,2% 765642302 3,2% 611999436 4,0%
1993 29967777 12342118000 0,2% 495615566 6,0% 351632872 8,5%
1994 38252810 14842424000 0,3% 470396345 8,1% 326987535 11,7%
1995 45106293 17466999000 0,3% 529319345 8,5% 352172486 12,8%
1996 60000000 18933709000 0,3% 649798984 9,2% 417717612 14,4%
1997 65121000 20924821000 0,3% 720837781 9,0% 515571430 12,6%
1998 58833000 22251543000 0,3% 706731776 8,3% 501929754 11,7%
1999 58908000 23025907000 0,3% 620619307 9,5% 419882196 14,0%
2000 59656000 26378762000 0,2% 783032891 7,6% 530929144 11,2%
2001 58862000 27322792000 0,2% 832789000 7,1% 654733000 9,0%
2002 60492000 27089805000 0,2% 930158000 6,5% 716816000 8,4%

As máquinas, aparelhos e materiais eléctricos, aparelhos de som e vídeos


são a quarta categoria de produtos mais exportados para África do Sul.

77
No que toca a importações de África do Sul, as categorias de produtos de
referência que mais sustentam os volume registados de trocas comerciais são
apenas dois.

Importações
(unidade: euros)

Importações
Importações Totais Peso Áf Sul nas Importações Totais Peso Áf Sul nas Totais de Peso da Áf Sul
de Portugal no Imp. Totais Port. Portugal c/ África Imp. Port. p/ Áf Portugal c/ nas Imp. Port
ANOS Valor Absoluto Mundo (%) Sub-Sahariana Sub-Saha. (%) SADC p/ SADC (%)
1975 3057980 496174000 0,6% 33196362 9,2% 23942550 12,8%
1976 4486582 652719000 0,7% 34847742 12,9% 19386196 23,1%
1977 7913772 950980000 0,8% 43427525 18,2% 18914562 41,8%
1978 10732759 1147875000 0,9% 33422642 32,1% 19373677 55,4%
1979 15052373 1655642000 0,9% 65034941 23,1% 36384811 41,4%
1980 13625791 2371717000 0,6% 110355318 12,3% 34496138 39,5%
1981 11756013 3037751000 0,4% 153482522 7,7% 38628375 30,4%
1982 17408450 3760840000 0,5% 262471274 6,6% 52477864 33,2%
1983 18848629 3488294000 0,5% 301577623 6,3% 55700257 33,8%
1984 23129358 5789214000 0,4% 594276518 3,9% 92847593 24,9%
1985 40316302 6616696000 0,6% 620630171 6,5% 175801778 22,9%
1986 45405991 7195123000 0,6% 606630207 7,5% 148899523 30,5%
1987 51808292 9802948000 0,5% 745046847 7,0% 137222245 37,8%
1988 82529419 12820429000 0,6% 993708513 8,3% 185832474 44,4%
1989 113702955 14979878000 0,8% 1061990807 10,7% 268670374 42,3%
1990 127359762 17904699000 0,7% 1072876109 11,9% 556526375 22,9%
1991 111829061 19009566000 0,6% 177160962 63,1% 273109928 40,9%
1992 95926352 20388748000 0,5% 213461837 44,9% 260813878 36,8%
1993 82585967 19367210000 0,4% 315394899 26,2% 153988880 53,6%
1994 94587045 22346764000 0,4% 129173692 73,2% 197005465 48,0%
1995 97380313 25083034000 0,4% 251543780 38,7% 219791258 44,3%
1996 90412000 27070420000 0,3% 342624276 26,4% 252476399 35,8%
1997 106059000 30624739000 0,3% 399791502 26,5% 271637630 39,0%
1998 118993000 34490772000 0,3% 597490049 19,9% 301422091 39,5%
1999 100283000 37505656000 0,3% 466405962 21,5% 249512852 40,2%
2000 134231000 43257180000 0,3% 482532097 27,8% 336971596 39,8%
2001 120502000 44053966000 0,3% 426772000 28,2% 415777000 29,0%
2002 124535000 40655880000 0,3% 382352000 32,6% 353981000 35,2%

Os combustíveis minerais, óleos minerais e produtos da sua destilação, as


matérias betuminosas e as ceras minerais, são sem qualquer margem de dúvida os
produtos mais comprados por Portugal à África do Sul.

78
Como segunda categoria mais importante no volume de compras
portuguesas a África do Sul surgem os peixes e crustáceos, moluscos e outros
invertebrados aquáticos.
Analisando as importações, percebe-se que Portugal é um país altamente
importador de produtos sul africanos, apesar do total de importações por ano, de
1975 a 2002, não ultrapassar nenhuma vez 1% daquilo que o país importa do
mundo.
No entanto, em 1978, destaque-se, de todas importações feitas em países
da SADC, 55,4% tiveram origem na África do Sul. Registo semelhante voltou a
verificar-se em 1993, quando Portugal importou 82 milhões de euros de África
do Sul, cerca de 53,6% do total importado da SADC.
O maior volume de importação registou-se em 2000, tendo o volume de
importação atingido os 134 milhões de euros, correspondendo a 29% do total
importado dos países da SADC.
O peso que África do Sul assume na importações totais de Portugal na
África Sub-Sahariana também é relevante, nomeadamente em 1994, quando esse
peso se traduziu em 73,2%.

1.4 O Botswana

O Botswana é um país sem grande importância para Portugal ao nível das


exportações, mas do qual Portugal é altamente importador quando se compara
com os restantes países da SADC.
As exportações portuguesas para o Botswana, nomeadamente no seio dos
países que compõem a SADC, não tiveram nenhuma expressão de 1975 a 1979,
ganhando uma ligeira força posteriormente de 1980 até 1999. Os anos de 1999 e
2000, são de facto dois anos onde o Botswana se mostra um cliente dos produtos
portugueses, merecedor de algum registo.
Em 1999, o Botswana comprou 7,6 milhões de euros em mercadorias,
quando o melhor registo até então tinha sido precisamente o ano anterior (1998),
quando importou 832 mil euros de produtos. O ano 2000 foi o ano em que o

79
Botswana mais importou de Portugal – 19 milhões de euros – o correspondente a
3,6% do total que Portugal exportou para os países da SADC. Os anos de 2001 e
2002, foram também dois excelentes anos, com volumes de 15 e 17 milhões de
euros, respectivamente.

PORTUGAL/BOTSWANA
Exportações
(unidade: euros)

Exportações
Peso Botswana Totais Portugal c/ Peso Botswana Exportações Totais Peso Botswana
Valor Exportações Totais de nas Exp. Totais África Sub- nas Exp. Port. p/ de Portugal c/ nas Exp. Port p/
ANOS Absoluto Portugal no Mundo Port. (%) Sahariana Áf Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 0 246047000 0,0% 24216010 0,0% 13665815 0,0%
1976 0 274780000 0,0% 18081364 0,0% 11448355 0,0%
1977 0 387492000 0,0% 34066380 0,0% 23743084 0,0%
1978 0 530973000 0,0% 36822358 0,0% 24904530 0,0%
1979 0 878137000 0,0% 58541395 0,0% 38930324 0,0%
1980 2798 1155331000 0,0% 84623478 0,0% 61542991 0,0%
1981 31409 1281475000 0,0% 118020241 0,0% 89713111 0,0%
1982 31050 1654725000 0,0% 145458824 0,0% 71801497 0,0%
1983 27967 2536728000 0,0% 172561342 0,0% 108577533 0,0%
1984 11886 3793757000 0,0% 273763121 0,0% 170073563 0,0%
1985 6284 4847053000 0,0% 350098947 0,0% 167190654 0,0%
1986 4559 5398295000 0,0% 320452704 0,0% 98224432 0,0%
1987 13706 6539254000 0,0% 315865529 0,0% 111236613 0,0%
1988 89229 7890770000 0,0% 405087484 0,0% 200276882 0,0%
1989 478152 10054322000 0,0% 576073658 0,1% 317039869 0,2%
1990 164907 11650909000 0,0% 665645828 0,0% 330342286 0,0%
1991 12165 11742118000 0,0% 559059532 0,0% 467716276 0,0%
1992 90851 12346254000 0,0% 765642302 0,0% 611999436 0,0%
1993 125000 12342118000 0,0% 495615566 0,0% 351632872 0,0%
1994 0 14842424000 0,0% 470396345 0,0% 326987535 0,0%
1995 20000 17466999000 0,0% 529319345 0,0% 352172486 0,0%
1996 44891 18933709000 0,0% 649798984 0,0% 417717612 0,0%
1997 20000 20924821000 0,0% 720837781 0,0% 515571430 0,0%
1998 832992 22251543000 0,0% 706731776 0,1% 501929754 0,2%
1999 7636595 23025907000 0,0% 620619307 1,2% 419882196 1,8%
2000 19044103 26378762000 0,1% 783032891 2,4% 530929144 3,6%
2001 15481000 27322792000 0,1% 832789000 1,9% 654733000 2,4%
2002 17443000 27089805000 0,1% 930158000 1,9% 716816000 2,4%

Em termos de importações, o registo também não é animador, apesar de


demonstrar que Portugal é um país altamente importador do Botswana, face às
exportações. Verificamos que de 1975 a 1996, as importações são meramente
residuais e só a partir de 1999 é que Portugal importa do Botswana 15,4 milhões

80
de euros, o correspondente a 2,1% do total das importações feitas em todos os
países da SADC, aumentando significativamente esse valor nos anos
subsequentes. Em 2001 e 2002, Portugal importa 18,8 milhões e 21,7 milhões de
euros, respectivamente, o que corresponde a um peso de 4,5% e 6,1% do total
importado por Portugal na SADC, respectivamente.

Importações
(unidade: euros)

Importações Peso do
Peso Botswana Totais Portugal c/ Peso Botswana Importações Totais Botswana nas
Valor Importações Totais de nas Imp. Totais África Sub- nas Imp. Port. p/ de Portugal c/ Imp. Port p/
ANOS Absoluto Portugal no Mundo Port. (%) Sahariana Áf Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 10 496174000 0,0% 33196362 0,0% 23942550 0,0%
1976 0 652719000 0,0% 34847742 0,0% 19386196 0,0%
1977 284619 950980000 0,0% 43427525 0,7% 18914562 1,5%
1978 4135 1147875000 0,0% 33422642 0,0% 19373677 0,0%
1979 15697 1655642000 0,0% 65034941 0,0% 36384811 0,0%
1980 0 2371717000 0,0% 110355318 0,0% 34496138 0,0%
1981 12584 3037751000 0,0% 153482522 0,0% 38628375 0,0%
1982 50 3760840000 0,0% 262471274 0,0% 52477864 0,0%
1983 0 3488294000 0,0% 301577623 0,0% 55700257 0,0%
1984 14614 5789214000 0,0% 594276518 0,0% 92847593 0,0%
1985 0 6616696000 0,0% 620630171 0,0% 175801778 0,0%
1986 24485 7195123000 0,0% 606630207 0,0% 148899523 0,0%
1987 183592 9802948000 0,0% 745046847 0,0% 137222245 0,1%
1988 0 12820429000 0,0% 993708513 0,0% 185832474 0,0%
1989 16480 14979878000 0,0% 1061990807 0,0% 268670374 0,0%
1990 6289 17904699000 0,0% 1072876109 0,0% 556526375 0,0%
1991 24066 19009566000 0,0% 177160962 0,0% 273109928 0,0%
1992 369464 20388748000 0,0% 213461837 0,2% 260813878 0,1%
1993 159615 19367210000 0,0% 315394899 0,1% 153988880 0,1%
1994 0 22346764000 0,0% 129173692 0,0% 197005465 0,0%
1995 44891 25083034000 0,0% 251543780 0,0% 219791258 0,0%
1996 0 27070420000 0,0% 342624276 0,0% 252476399 0,0%
1997 5000 30624739000 0,0% 399791502 0,0% 271637630 0,0%
1998 174579 34490772000 0,0% 597490049 0,0% 301422091 0,1%
1999 5212438 37505656000 0,0% 466405962 1,1% 249512852 2,1%
2000 15437794 43257180000 0,0% 482532097 3,2% 336971596 4,6%
2001 18899000 44053966000 0,0% 426772000 4,4% 415777000 4,5%
2002 21730000 40655880000 0,1% 382352000 5,7% 353981000 6,1%

Sem dúvida que o Botswana tem em Portugal um bom cliente, os valores


importados assumem um grande peso no total das importações com origem em
toda a África Sub-Sahariana e, sobretudo, na SADC.

81
Em matéria de principais produtos exportados, Portugal vende para o
Botswana sobretudo, mas em poucas quantidades, máquinas, aparelhos e
materiais eléctricos, aparelhos de gravação e reprodução de som e imagem, bem
como reactores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos
mecânicos.
Depois, e de forma variada e alternada, vende as seguintes categorias de
produtos: algodão, armas e munições, obras em ferro fundido, ferro ou aço.
Ao nível das importações, onde o Botswana se destaca dentro dos países
mais pequenos da SADC, Portugal compra essencialmente carnes e miudezas, e
comestíveis. Outro dos produtos mais comprados por Portugal no Botswana são
as peles, excepto peles com couro, e couros, obras de couro, peles com pelo e
obras de peles com pelo e peles com pelo artificiais.

1.5 A Namíbia

A Namíbia é provavelmente dos países menos relevantes com que


Portugal desenvolve trocas comerciais.
No período em análise, o peso relativo das exportações portuguesas
naquele país não atingem nunca 1% do total exportado por Portugal para os
países da SADC. De 1975 a 1989, Portugal nunca exportou qualquer produto
para a Namíbia. Em 1990, ano em que aparecem os primeiros registos, Portugal
vendeu 129 mil euros de mercadorias para a Namíbia e até 2002 o melhor registo
em termos de trocas verificou-se em 1998, quando o montante de vendas
ascendeu a 2,7 milhões de euros, apesar de em 2002 esse valor aproximar-se
muito dos 2 milhões de euros. São no entanto fatias muito insignificantes ao
nível das exportações portuguesas para a África Sub-Sahariana e para o conjunto
de países que formam a SADC.

82
PORTUGAL/NAMÍBIA
Exportações
(unidade: euros)

Exportações
Peso Namíbia Totais Portugal c/ Peso Namíbia nas Exportações Totais Peso Namíbia
Valor Exportações Totais de nas Exp. Totais África Sub- Exp. Port. p/ Áf de Portugal c/ nas Exp. Port p/
ANOS Absoluto Portugal no Mundo Port. (%) Sahariana Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 0 246047000 0,0% 24216010 0,0% 13665815 0,0%
1976 0 274780000 0,0% 18081364 0,0% 11448355 0,0%
1977 0 387492000 0,0% 34066380 0,0% 23743084 0,0%
1978 0 530973000 0,0% 36822358 0,0% 24904530 0,0%
1979 0 878137000 0,0% 58541395 0,0% 38930324 0,0%
1980 0 1155331000 0,0% 84623478 0,0% 61542991 0,0%
1981 0 1281475000 0,0% 118020241 0,0% 89713111 0,0%
1982 0 1654725000 0,0% 145458824 0,0% 71801497 0,0%
1983 0 2536728000 0,0% 172561342 0,0% 108577533 0,0%
1984 0 3793757000 0,0% 273763121 0,0% 170073563 0,0%
1985 0 4847053000 0,0% 350098947 0,0% 167190654 0,0%
1986 0 5398295000 0,0% 320452704 0,0% 98224432 0,0%
1987 0 6539254000 0,0% 315865529 0,0% 111236613 0,0%
1988 0 7890770000 0,0% 405087484 0,0% 200276882 0,0%
1989 0 10054322000 0,0% 576073658 0,0% 317039869 0,0%
1990 129722 11650909000 0,0% 665645828 0,0% 330342286 0,0%
1991 116184 11742118000 0,0% 559059532 0,0% 467716276 0,0%
1992 254142 12346254000 0,0% 765642302 0,0% 611999436 0,0%
1993 808052 12342118000 0,0% 495615566 0,2% 351632872 0,2%
1994 414002 14842424000 0,0% 470396345 0,1% 326987535 0,1%
1995 1880468 17466999000 0,0% 529319345 0,4% 352172486 0,5%
1996 2319410 18933709000 0,0% 649798984 0,4% 417717612 0,6%
1997 309254 20924821000 0,0% 720837781 0,0% 515571430 0,1%
1998 2708472 22251543000 0,0% 706731776 0,4% 501929754 0,5%
1999 568629 23025907000 0,0% 620619307 0,1% 419882196 0,1%
2000 1446513 26378762000 0,0% 783032891 0,2% 530929144 0,3%
2001 759000 27322792000 0,0% 832789000 0,1% 654733000 0,1%
2002 1965000 27089805000 0,0% 930158000 0,2% 716816000 0,3%

Ao nível das importações, o cenário é em tudo muito idêntico. Tal como


não houve exportações para a Namíbia até 1989, também não houve qualquer
registo em termos de compras portuguesas àquele país.
No entanto, por três vezes, de 1989 a 2002, a Namíbia consegue traduzir
um peso superior ou igual a 1% do total das importações feitas por Portugal em
toda a SADC: em 1993 (1,3%), em 1994 (1,2%) e em 2002 (1,1%).

83
Em 1990, ano do primeiro registo de produtos importados por Portugal à
Namíbia, o montante ascendeu a 1,6 milhões de euros, tendo vindo a crescer até
2002, ano em que apresentou 3,7 milhões de euros de produtos importados.

Importações
(unidade: euros)

Importações
Importações Totais Peso Namíbia Totais Portugal c/ Peso Namíbia nas Importações Totais Peso da Namíbia
de Portugal no nas Imp. Totais África Sub- Imp. Port. p/ Áf de Portugal c/ nas Imp. Port p/
ANOS Valor Absoluto Mundo Port. (%) Sahariana Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 0 496174000 0,0% 33196362 0,0% 23942550 0,0%
1976 0 652719000 0,0% 34847742 0,0% 19386196 0,0%
1977 0 950980000 0,0% 43427525 0,0% 18914562 0,0%
1978 0 1147875000 0,0% 33422642 0,0% 19373677 0,0%
1979 0 1655642000 0,0% 65034941 0,0% 36384811 0,0%
1980 0 2371717000 0,0% 110355318 0,0% 34496138 0,0%
1981 0 3037751000 0,0% 153482522 0,0% 38628375 0,0%
1982 0 3760840000 0,0% 262471274 0,0% 52477864 0,0%
1983 0 3488294000 0,0% 301577623 0,0% 55700257 0,0%
1984 0 5789214000 0,0% 594276518 0,0% 92847593 0,0%
1985 0 6616696000 0,0% 620630171 0,0% 175801778 0,0%
1986 0 7195123000 0,0% 606630207 0,0% 148899523 0,0%
1987 0 9802948000 0,0% 745046847 0,0% 137222245 0,0%
1988 0 12820429000 0,0% 993708513 0,0% 185832474 0,0%
1989 0 14979878000 0,0% 1061990807 0,0% 268670374 0,0%
1990 1640606 17904699000 0,0% 1072876109 0,2% 556526375 0,3%
1991 690391 19009566000 0,0% 177160962 0,4% 273109928 0,3%
1992 1253928 20388748000 0,0% 213461837 0,6% 260813878 0,5%
1993 2070011 19367210000 0,0% 315394899 0,7% 153988880 1,3%
1994 2319410 22346764000 0,0% 129173692 1,8% 197005465 1,2%
1995 2084975 25083034000 0,0% 251543780 0,8% 219791258 0,9%
1996 1147235 27070420000 0,0% 342624276 0,3% 252476399 0,5%
1997 528725 30624739000 0,0% 399791502 0,1% 271637630 0,2%
1998 2543869 34490772000 0,0% 597490049 0,4% 301422091 0,8%
1999 1865504 37505656000 0,0% 466405962 0,4% 249512852 0,7%
2000 2997775 43257180000 0,0% 482532097 0,6% 336971596 0,9%
2001 3898000 44053966000 0,0% 426772000 0,9% 415777000 0,9%
2002 3772000 40655880000 0,0% 382352000 1,0% 353981000 1,1%

Ao nível das exportações, podemos afirmar que Portugal foi um vendedor


de variados produtos para a Namíbia que, no seu conjunto, prefizeram montantes
razoáveis. Numa primeira fase, desde que há registos a partir de 1990, Portugal
exportou sobretudo preparações de produtos hortículas, de frutas e outras partes
de plantas. Numa segunda fase, as máquinas, aparelhos e materiais eléctricos,

84
aparelhos de gravação e reprodução de som e imagem ganharam maior dimensão
no peso das vendas.
Mas produtos como cerâmica, fibras sintéticas ou artificiais, pastas, feltros
e falsos tecidos, fios especiais, cordéis, cordas e cabos, bem como sabões,
agentes orgânicos de superfície, preparações para lavagem, preparações para
lubrificantes, ceras artificiais, ceras preparadas, produtos de conservação e
limpeza, velas e artigos semelhantes, massas ou pastas para modelar, ‘ceras’ para
dentistas e composições para dentistas à base de gesso, estiveram sempre na lista
regular da Namíbia.

1.6 O Zimbabwe

O Zimbabwe é um país que consegue assumir uma preponderância


comercial com Portugal bem melhor que a Namíbia, mas nem por isso
extraordinária. Em termos de exportações, apesar de ser um país irrelevante nas
exportações totais de Portugal no mundo, assume-se com um peso bem razoável
e regular no total das exportações portuguesas para a África Sub-Sahariana e para
os países que compõem a SADC.
De 1975 a 1979 Portugal nada exportou para o Zimbabwe. Em 1980, Portugal
exportou para a SADC 61 milhões de euros, tendo o Zimbabwe representado nesse bolo
a fatia de 1,3% do total dos produtos exportados.
Em 1993, Portugal exportou 351 milhões de euros para os países da
SADC, tendo o Zimbabwe representado 2,7% desse mesmo total, ou seja,
comprou 9,3 milhões de euros de produtos portugueses.
Segundo os últimos dados disponíveis no Instituto Nacional de Estatística
(INE, 2003), em 2002, Portugal vendeu 2,8 milhões de euros em mercadorias
para o Zimbabwe, representando apenas 0,4% do total exportado por Portugal
para os países da SADC.
Em matéria de importações, Portugal volta a revelar-se um bom cliente
nas relações com o Zimbabwe. Apesar de 1975 a 1978 não haver registos de

85
importações, a partir de 1979, o Zimbabwe assume um peso de destaque no total
de importações efectuadas por Portugal na SADC.

PORTUGAL/ZIMBABWE
Exportações
(unidade: euros)

Exportações Peso
Exportações Totais Peso Zimbabwe Totais Portugal c/ Peso Zimbabwe Exportações Totais Zimbabwe nas
Valor de Portugal no nas Exp. Totais África Sub- nas Exp. Port. p/ de Portugal c/ Exp. Port p/
ANOS Absoluto Mundo Port. (%) Sahariana Áf Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 0 246047000 0,0% 24216010 0,0% 13665815 0,0%
1976 0 274780000 0,0% 18081364 0,0% 11448355 0,0%
1977 0 387492000 0,0% 34066380 0,0% 23743084 0,0%
1978 0 530973000 0,0% 36822358 0,0% 24904530 0,0%
1979 0 878137000 0,0% 58541395 0,0% 38930324 0,0%
1980 780633 1155331000 0,1% 84623478 0,9% 61542991 1,3%
1981 465986 1281475000 0,0% 118020241 0,4% 89713111 0,5%
1982 341851 1654725000 0,0% 145458824 0,2% 71801497 0,5%
1983 707150 2536728000 0,0% 172561342 0,4% 108577533 0,7%
1984 178190 3793757000 0,0% 273763121 0,1% 170073563 0,1%
1985 223426 4847053000 0,0% 350098947 0,1% 167190654 0,1%
1986 166319 5398295000 0,0% 320452704 0,1% 98224432 0,2%
1987 567896 6539254000 0,0% 315865529 0,2% 111236613 0,5%
1988 1426287 7890770000 0,0% 405087484 0,4% 200276882 0,7%
1989 1217760 10054322000 0,0% 576073658 0,2% 317039869 0,4%
1990 4775895 11650909000 0,0% 665645828 0,7% 330342286 1,4%
1991 7216962 11742118000 0,1% 559059532 1,3% 467716276 1,5%
1992 8613152 12346254000 0,1% 765642302 1,1% 611999436 1,4%
1993 9347472 12342118000 0,1% 495615566 1,9% 351632872 2,7%
1994 5501740 14842424000 0,0% 470396345 1,2% 326987535 1,7%
1995 4663760 17466999000 0,0% 529319345 0,9% 352172486 1,3%
1996 3676140 18933709000 0,0% 649798984 0,6% 417717612 0,9%
1997 5860875 20924821000 0,0% 720837781 0,8% 515571430 1,1%
1998 6359673 22251543000 0,0% 706731776 0,9% 501929754 1,3%
1999 5970610 23025907000 0,0% 620619307 1,0% 419882196 1,4%
2000 5357089 26378762000 0,0% 783032891 0,7% 530929144 1,0%
2001 5507000 27322792000 0,0% 832789000 0,7% 654733000 0,8%
2002 2879000 27089805000 0,0% 930158000 0,3% 716816000 0,4%

Entre 1984 e 1991, Portugal passou de importações na casa dos 9 a


10 milhões de euros para 29,9 milhões de euros em 1990, anos em que o
Zimbabwe chegou mesmo a pesar entre 10% e 12% do total importado da
SADC.
Mas, em 1998, ano em que Portugal importou 301 milhões de euros de
toda a SADC, 13,5% foi apenas do Zimbabwe, o correspondente a 40 milhões de

86
euros. O ano de 1998 foi mesmo o ano em que o Zimbabwe mais vendeu para
Portugal, apesar do período de 1994 a 2002 representar um bom desempenho em
matéria de importações portuguesas, mas que nunca representaram mais do que
0,1% do total importado por Portugal do mundo.

Importações
(unidade: euros)

Importações Peso do
Importações Totais Peso Zimbabwe Totais Portugal c/ Peso Zimbabwe Importações Totais Zimbabwe nas
Valor de Portugal no nas Imp. Totais África Sub- nas Imp. Port. p/ de Portugal c/ Imp. Port p/
ANOS Absoluto Mundo Port. (%) Sahariana Áf Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 0 496174000 0,0% 33196362 0,0% 23942550 0,0%
1976 0 652719000 0,0% 34847742 0,0% 19386196 0,0%
1977 0 950980000 0,0% 43427525 0,0% 18914562 0,0%
1978 0 1147875000 0,0% 33422642 0,0% 19373677 0,0%
1979 2598 1655642000 0,0% 65034941 0,0% 36384811 0,0%
1980 4224309 2371717000 0,2% 110355318 3,8% 34496138 12,2%
1981 4863229 3037751000 0,2% 153482522 3,2% 38628375 12,6%
1982 5354500 3760840000 0,1% 262471274 2,0% 52477864 10,2%
1983 9285895 3488294000 0,3% 301577623 3,1% 55700257 16,7%
1984 10425838 5789214000 0,2% 594276518 1,8% 92847593 11,2%
1985 22564738 6616696000 0,3% 620630171 3,6% 175801778 12,8%
1986 10147639 7195123000 0,1% 606630207 1,7% 148899523 6,8%
1987 19054403 9802948000 0,2% 745046847 2,6% 137222245 13,9%
1988 23521014 12820429000 0,2% 993708513 2,4% 185832474 12,7%
1989 28014086 14979878000 0,2% 1061990807 2,6% 268670374 10,4%
1990 29920980 17904699000 0,2% 1072876109 2,8% 556526375 5,4%
1991 21176988 19009566000 0,1% 177160962 12,0% 273109928 7,8%
1992 6297223 20388748000 0,0% 213461837 3,0% 260813878 2,4%
1993 8669107 19367210000 0,0% 315394899 2,7% 153988880 5,6%
1994 26376432 22346764000 0,1% 129173692 20,4% 197005465 13,4%
1995 22625472 25083034000 0,1% 251543780 9,0% 219791258 10,3%
1996 35788749 27070420000 0,1% 342624276 10,4% 252476399 14,2%
1997 28740734 30624739000 0,1% 399791502 7,2% 271637630 10,6%
1998 40696920 34490772000 0,1% 597490049 6,8% 301422091 13,5%
1999 30955397 37505656000 0,1% 466405962 6,6% 249512852 12,4%
2000 23687912 43257180000 0,1% 482532097 4,9% 336971596 7,0%
2001 34258000 44053966000 0,1% 426772000 8,0% 415777000 8,2%
2002 23624000 40655880000 0,1% 382352000 6,2% 353981000 6,7%

Na análise das exportações para o Zimbabwe, podemos concluir que


Portugal é essencialmente exportador de fibras sintéticas ou artificiais,
descontínuas. Produtos como aeronaves, aparelhos aéreos, máquinas e materiais
eléctricos, produtos diversos das indústrias químicas, produtos químicos, plástico

87
e obras de plástico, foram alternando entre si no peso das exportações paras
aquele país.
Em sentido inverso, verificamos que Portugal compra essencialmente
tabacos e seus sucedâneos, bem como açúcares e produtos de confeitaria. Apesar
de menos fluentes, as compras de algodão e sal, enxofre, terras e pedras, gesso,
cal e cimento, assumem uma relativa importância.

1.7 A Tanzânia

As exportações portuguesas para a Tanzânia são quase insignificantes,


pese embora o volume que regista em termos de transações comerciais se situe
acima da média, quando comparado com os países atrás analisados. Entre 1975 e
1987, os valores exportados nunca atingiram um milhão de euros. As
exportações, para o período em análise, só por uma vez representaram mais de
1% do total exportado por Portugal para a SADC, nomeadamente em 1989, ano
em que o volume exportado ascendeu a 3,6 milhões de euros. O ano de 1996 foi
aquele que Portugal mais volume exportou (4,1 milhões de euros) para a
Tanzânia, correspondendo a 1% do total exportado para a SADC (417 milhões de
euros).
Portanto, a Tanzânia nunca se assumiu muito interessada em comprar
produtos portugueses, representando 0,0% do que Portugal exporta para o mundo
e tendo também um peso quase nulo no total exportado por Portugal para a
África Sub-Sahariana.
Na análise das compras de produtos à Tanzânia, quase que se poderia
afirmar que são inversamente proporcionais às exportações. No seio da SADC,
podemos quase afirmar que a Tanzânia é talvez um dos países preferenciais para
as compras portuguesas na região. Sem atingir grande volumes nos seus fluxos,
Portugal manteve sempre, desde 1975, uma afluência estável nas suas trocas. Por
exemplo, em 1995, Portugal comprou 21,9 milhões de euros de produtos à
Tanzânia, tendo este volume representado 0,1% do total importado do mundo,

88
8,7% do total importado da África Sub-Sahariana e 10% do total importado da
SADC.

PORTUGAL/TANZÂNIA
Exportações
(unidade: euros)

Exportações
Exportações Totais Peso Tanzânia Totais Portugal c/ Peso Tanzânia nas Peso Tanzânia
Valor de Portugal no nas Exp. Totais África Sub- Exp. Port. p/ Áf Exportações Totais de nas Exp. Port p/
ANOS Absoluto Mundo Port. (%) Sahariana Sub-Saha. (%) Portugal c/ SADC SADC (%)
1975 1620 246047000 0,0% 24216010 0,0% 13665815 0,0%
1976 3701 274780000 0,0% 18081364 0,0% 11448355 0,0%
1977 16006 387492000 0,0% 34066380 0,0% 23743084 0,1%
1978 58389 530973000 0,0% 36822358 0,2% 24904530 0,2%
1979 50149 878137000 0,0% 58541395 0,1% 38930324 0,1%
1980 23488 1155331000 0,0% 84623478 0,0% 61542991 0,0%
1981 26356 1281475000 0,0% 118020241 0,0% 89713111 0,0%
1982 63317 1654725000 0,0% 145458824 0,0% 71801497 0,1%
1983 224758 2536728000 0,0% 172561342 0,1% 108577533 0,2%
1984 135812 3793757000 0,0% 273763121 0,0% 170073563 0,1%
1985 194057 4847053000 0,0% 350098947 0,1% 167190654 0,1%
1986 139074 5398295000 0,0% 320452704 0,0% 98224432 0,1%
1987 384159 6539254000 0,0% 315865529 0,1% 111236613 0,3%
1988 1818502 7890770000 0,0% 405087484 0,4% 200276882 0,9%
1989 3695793 10054322000 0,0% 576073658 0,6% 317039869 1,2%
1990 2366292 11650909000 0,0% 665645828 0,4% 330342286 0,7%
1991 3718398 11742118000 0,0% 559059532 0,7% 467716276 0,8%
1992 1507631 12346254000 0,0% 765642302 0,2% 611999436 0,2%
1993 1137259 12342118000 0,0% 495615566 0,2% 351632872 0,3%
1994 922776 14842424000 0,0% 470396345 0,2% 326987535 0,3%
1995 2264542 17466999000 0,0% 529319345 0,4% 352172486 0,6%
1996 4194890 18933709000 0,0% 649798984 0,6% 417717612 1,0%
1997 803064 20924821000 0,0% 720837781 0,1% 515571430 0,2%
1998 414002 22251543000 0,0% 706731776 0,1% 501929754 0,1%
1999 214483 23025907000 0,0% 620619307 0,0% 419882196 0,1%
2000 374098 26378762000 0,0% 783032891 0,0% 530929144 0,1%
2001 664000 27322792000 0,0% 832789000 0,1% 654733000 0,1%
2002 249000 27089805000 0,0% 930158000 0,0% 716816000 0,0%

Verifica-se que nos últimos anos (de 1999 a 2002), Portugal tem vindo a
diminuir o volume importado, mas nunca abaixo dos 10 milhões de euros.
Os tecidos impregnados, revestidos, recobertos ou estratificados são os
produtos mais exportados por Portugal para a Tanzânia. Sem grande relevância,
encontramos ainda nas exportações portuguesas produtos como plástico e obras

89
de plástico, produtos químicos inorgânicos, produtos cerâmicos e alumínio e
obras de alumínio.

Importações
(unidade: euros)

Importações
Importações Totais Peso Tanzânia Totais Portugal c/ Peso Tanzânia nas Peso da Tanzânia
Valor de Portugal no nas Imp. Totais África Sub- Imp. Port. p/ Áf Importações Totais de nas Imp. Port p/
ANOS Absoluto Mundo Port. (%) Sahariana Sub-Saha. (%) Portugal c/ SADC SADC (%)
1975 621397 496174000 0,1% 33196362 1,9% 23942550 2,6%
1976 551795 652719000 0,1% 34847742 1,6% 19386196 2,8%
1977 405368 950980000 0,0% 43427525 0,9% 18914562 2,1%
1978 477893 1147875000 0,0% 33422642 1,4% 19373677 2,5%
1979 1672010 1655642000 0,1% 65034941 2,6% 36384811 4,6%
1980 2405068 2371717000 0,1% 110355318 2,2% 34496138 7,0%
1981 2024301 3037751000 0,1% 153482522 1,3% 38628375 5,2%
1982 3270897 3760840000 0,1% 262471274 1,2% 52477864 6,2%
1983 4108727 3488294000 0,1% 301577623 1,4% 55700257 7,4%
1984 8388453 5789214000 0,1% 594276518 1,4% 92847593 9,0%
1985 12633044 6616696000 0,2% 620630171 2,0% 175801778 7,2%
1986 12549555 7195123000 0,2% 606630207 2,1% 148899523 8,4%
1987 8896449 9802948000 0,1% 745046847 1,2% 137222245 6,5%
1988 13865479 12820429000 0,1% 993708513 1,4% 185832474 7,5%
1989 15042023 14979878000 0,1% 1061990807 1,4% 268670374 5,6%
1990 13405198 17904699000 0,1% 1072876109 1,2% 556526375 2,4%
1991 15266687 19009566000 0,1% 177160962 8,6% 273109928 5,6%
1992 16645284 20388748000 0,1% 213461837 7,8% 260813878 6,4%
1993 19128899 19367210000 0,1% 315394899 6,1% 153988880 12,4%
1994 20924571 22346764000 0,1% 129173692 16,2% 197005465 10,6%
1995 21902215 25083034000 0,1% 251543780 8,7% 219791258 10,0%
1996 17168623 27070420000 0,1% 342624276 5,0% 252476399 6,8%
1997 18171207 30624739000 0,1% 399791502 4,5% 271637630 6,7%
1998 19617721 34490772000 0,1% 597490049 3,3% 301422091 6,5%
1999 10863818 37505656000 0,0% 466405962 2,3% 249512852 4,4%
2000 14669646 43257180000 0,0% 482532097 3,0% 336971596 4,4%
2001 11352000 44053966000 0,0% 426772000 2,7% 415777000 2,7%
2002 10583000 40655880000 0,0% 382352000 2,8% 353981000 3,0%

Já a Tanzânia, o produto que mais exporta para Portugal é essencialmente


algodão. Peixes e crustáceos e moluscos são os segundos produtos mais
importados por Portugal. Outras fibras têxteis vegetais, fios de papel e tecidos de

90
fios de papel ganharam alguma relevância nas importações portuguesas mais
recentes (no período em análise).

1.8 A Zâmbia

A Zâmbia, quer ao nível das exportações e das importações não


seguramente um país privilegiado para Portugal em matéria de trocas comerciais.
O peso que assume entre os restantes países em análise que compões a SADC é
francamente residual.
Em matéria de exportações, o ano de 1975 foi seguramente o ano mais
importante. Foi o ano em que as compras da Zâmbia a Portugal mais impacto
tiveram a nível global. Senão, note-se que, o volume exportado de 287 mil euros
por Portugal para aquele país traduziu-se me 0,1% do total exportado para o
mundo, 12% do total exportado para África Sub-Sahariana e 2,1% do total
exportado para a SADC. Só mais tarde, em 1982, a Zâmbia voltou a significar
algum peso nas exportações portuguesas, que ascenderam a 1,5 milhões de euros,
cerca de 0,1% do total exportado por Portugal para o mundo, 1,1% do total
exportado para África Sub-Sahariana e 2,2% do total para a SADC.
Nos 28 anos em análise, é ainda de sublinhar que em 12 desses anos as
exportações para a Zâmbia corresponderam a 0,0% do total exportado Portugal
para a SADC.
No que toca a importações, Portugal teve um ano em que se
mostrou um verdadeiro comprador de produtos zambianos, nomeadamente, em
1979, quando comprou 3,8 milhões de euros de mercadorias, cerca de 10% do
total importado de toda a SADC e 5,9% do total importado da África Sub-
Sahariana. Depois, só em 1996 é que as importações portuguesas da Zâmbia
retomaram alguma força, mantendo-se essa mesma força até 2002, quando foram
importados 11,7 milhões de euros em mercadoria, 3,3% do total importado da
SADC (35 milhões de euros), o correspondente a 3,1% do total importado da
África Sub-Sahariana.

91
PORTUGAL/ZÂMBIA
Exportações
(unidade: euros)

Exportações
Exportações Totais Peso Zâmbia nas Totais Portugal c/ Peso Zâmbia nas Exportações Totais Peso Zâmbia nas
Valor de Portugal no Exp. Totais Port. África Sub- Exp. Port. p/ Áf de Portugal c/ Exp. Port p/
ANOS Absoluto Mundo (%) Sahariana Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 287611 246047000 0,1% 24216010 1,2% 13665815 2,1%
1976 45515 274780000 0,0% 18081364 0,3% 11448355 0,4%
1977 31563 387492000 0,0% 34066380 0,1% 23743084 0,1%
1978 13008 530973000 0,0% 36822358 0,0% 24904530 0,1%
1979 34925 878137000 0,0% 58541395 0,1% 38930324 0,1%
1980 143778 1155331000 0,0% 84623478 0,2% 61542991 0,2%
1981 253354 1281475000 0,0% 118020241 0,2% 89713111 0,3%
1982 1557361 1654725000 0,1% 145458824 1,1% 71801497 2,2%
1983 37399 2536728000 0,0% 172561342 0,0% 108577533 0,0%
1984 29578 3793757000 0,0% 273763121 0,0% 170073563 0,0%
1985 20745 4847053000 0,0% 350098947 0,0% 167190654 0,0%
1986 50378 5398295000 0,0% 320452704 0,0% 98224432 0,1%
1987 49989 6539254000 0,0% 315865529 0,0% 111236613 0,0%
1988 70704 7890770000 0,0% 405087484 0,0% 200276882 0,0%
1989 165082 10054322000 0,0% 576073658 0,0% 317039869 0,1%
1990 186879 11650909000 0,0% 665645828 0,0% 330342286 0,1%
1991 200970 11742118000 0,0% 559059532 0,0% 467716276 0,0%
1992 61776 12346254000 0,0% 765642302 0,0% 611999436 0,0%
1993 179567 12342118000 0,0% 495615566 0,0% 351632872 0,1%
1994 229447 14842424000 0,0% 470396345 0,0% 326987535 0,1%
1995 140000 17466999000 0,0% 529319345 0,0% 352172486 0,0%
1996 44891 18933709000 0,0% 649798984 0,0% 417717612 0,0%
1997 384074 20924821000 0,0% 720837781 0,1% 515571430 0,1%
1998 69831 22251543000 0,0% 706731776 0,0% 501929754 0,0%
1999 64843 23025907000 0,0% 620619307 0,0% 419882196 0,0%
2000 139663 26378762000 0,0% 783032891 0,0% 530929144 0,0%
2001 974000 27322792000 0,0% 832789000 0,1% 654733000 0,1%
2002 635000 27089805000 0,0% 930158000 0,1% 716816000 0,1%

Para o período em análise, Portugal vendeu sobretudo bebidas, líquidos


alcoólicos e vinagres, mas também máquinas e aparelhos eléctricos de som e
imagem.

92
Importações
(unidade: euros)

Importações
Importações Totais Peso Zâmbia nas Totais Portugal c/ Peso Zâmbia nas Importações Totais Peso da Zâmbia
Valor de Portugal no Imp. Totais Port. África Sub- Imp. Port. p/ Áf de Portugal c/ nas Imp. Port p/
ANOS Absoluto Mundo (%) Sahariana Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 200701 496174000 0,0% 33196362 0,6% 23942550 0,8%
1976 59446 652719000 0,0% 34847742 0,2% 19386196 0,3%
1977 162248 950980000 0,0% 43427525 0,4% 18914562 0,9%
1978 227362 1147875000 0,0% 33422642 0,7% 19373677 1,2%
1979 3867264 1655642000 0,2% 65034941 5,9% 36384811 10,6%
1980 1408884 2371717000 0,1% 110355318 1,3% 34496138 4,1%
1981 475045 3037751000 0,0% 153482522 0,3% 38628375 1,2%
1982 535075 3760840000 0,0% 262471274 0,2% 52477864 1,0%
1983 124614 3488294000 0,0% 301577623 0,0% 55700257 0,2%
1984 2477893 5789214000 0,0% 594276518 0,4% 92847593 2,7%
1985 5363793 6616696000 0,1% 620630171 0,9% 175801778 3,1%
1986 686176 7195123000 0,0% 606630207 0,1% 148899523 0,5%
1987 250102 9802948000 0,0% 745046847 0,0% 137222245 0,2%
1988 1790130 12820429000 0,0% 993708513 0,2% 185832474 1,0%
1989 5183607 14979878000 0,0% 1061990807 0,5% 268670374 1,9%
1990 1545450 17904699000 0,0% 1072876109 0,1% 556526375 0,3%
1991 2192156 19009566000 0,0% 177160962 1,2% 273109928 0,8%
1992 2113272 20388748000 0,0% 213461837 1,0% 260813878 0,8%
1993 379086 19367210000 0,0% 315394899 0,1% 153988880 0,2%
1994 89783 22346764000 0,0% 129173692 0,1% 197005465 0,0%
1995 1311838 25083034000 0,0% 251543780 0,5% 219791258 0,6%
1996 9098073 27070420000 0,0% 342624276 2,7% 252476399 3,6%
1997 11043385 30624739000 0,0% 399791502 2,8% 271637630 4,1%
1998 12854021 34490772000 0,0% 597490049 2,2% 301422091 4,3%
1999 3037679 37505656000 0,0% 466405962 0,7% 249512852 1,2%
2000 6409552 43257180000 0,0% 482532097 1,3% 336971596 1,9%
2001 8614000 44053966000 0,0% 426772000 2,0% 415777000 2,1%
2002 11733000 40655880000 0,0% 382352000 3,1% 353981000 3,3%

No que toca a importações, fluxo maior nas trocas comerciais entre ambos
os países, os produtos mais desejados por Portugal incidiram, fundamentalmente,
em duas categorias: Açúcares e produtos de confeitaria, e algodão.

1.9 A Suazilândia

A Suazilândia é um dos país para onde Portugal menos exporta na SADC,


pois em nenhuma vez o peso das exportações superou os 0,1% no total exportado
por Portugal para a SADC. Apesar de registar alguns fluxos comerciais, houve

93
ainda três anos (de 1985 a 1987) em que Portugal não registou qualquer venda
para este país. O ano em que Portugal mais volume atingiu foi em anos mais
recentes, quando em 2002 atingiu os 952 mil euros em vendas, num ano onde o
total exportado para a SADC atingiu os 716 milhões de euros e para a África
Sub-Sahariana os 930 milhões de euros.

PORTUGAL/SUAZILÂNDIA
Exportações
(unidade: euros)

Exportações Totais Peso Suazilândia Exportações Totais Peso Suazilândia Exportações Totais Peso Suazilândia
Valor de Portugal no nas Exp. Totais Portugal c/ África nas Exp. Port. p/ de Portugal c/ nas Exp. Port p/
ANOS Absoluto Mundo Port. (%) Sub-Sahariana Áf Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 5845 246047000 0,0% 24216010 0,0% 13665815 0,0%
1976 1082 274780000 0,0% 18081364 0,0% 11448355 0,0%
1977 11098 387492000 0,0% 34066380 0,0% 23743084 0,0%
1978 8574 530973000 0,0% 36822358 0,0% 24904530 0,0%
1979 25014 878137000 0,0% 58541395 0,0% 38930324 0,1%
1980 44058 1155331000 0,0% 84623478 0,1% 61542991 0,1%
1981 42886 1281475000 0,0% 118020241 0,0% 89713111 0,0%
1982 32835 1654725000 0,0% 145458824 0,0% 71801497 0,0%
1983 57685 2536728000 0,0% 172561342 0,0% 108577533 0,1%
1984 11886 3793757000 0,0% 273763121 0,0% 170073563 0,0%
1985 0 4847053000 0,0% 350098947 0,0% 167190654 0,0%
1986 0 5398295000 0,0% 320452704 0,0% 98224432 0,0%
1987 0 6539254000 0,0% 315865529 0,0% 111236613 0,0%
1988 11193 7890770000 0,0% 405087484 0,0% 200276882 0,0%
1989 39115 10054322000 0,0% 576073658 0,0% 317039869 0,0%
1990 234185 11650909000 0,0% 665645828 0,0% 330342286 0,1%
1991 98422 11742118000 0,0% 559059532 0,0% 467716276 0,0%
1992 200 12346254000 0,0% 765642302 0,0% 611999436 0,0%
1993 5000 12342118000 0,0% 495615566 0,0% 351632872 0,0%
1994 100000 14842424000 0,0% 470396345 0,0% 326987535 0,0%
1995 334194 17466999000 0,0% 529319345 0,1% 352172486 0,1%
1996 458894 18933709000 0,0% 649798984 0,1% 417717612 0,1%
1997 259374 20924821000 0,0% 720837781 0,0% 515571430 0,1%
1998 144651 22251543000 0,0% 706731776 0,0% 501929754 0,0%
1999 194531 23025907000 0,0% 620619307 0,0% 419882196 0,0%
2000 433954 26378762000 0,0% 783032891 0,1% 530929144 0,1%
2001 865000 27322792000 0,0% 832789000 0,1% 654733000 0,1%
2002 952000 27089805000 0,0% 930158000 0,1% 716816000 0,1%

As importações da Suazilândia conseguem um registo bem mais positivo,


embora de para o período em análise, de 1975 a 1978 não se ter registado
qualquer compra portuguesa a este país.

94
No entanto, nos anos subsequentes foram sempre em crescendo. O ano de
1996 foi aquele em que Portugal mais importou da Suaziândia. Foram 30 milhões
de euros de mercadorias importadas, o correspondente a 8,8% do total importado
da África Sub-Sahariana e 11,9% do total importado dos países da SADC.
Porém, os anos de 1988, 1989, de 1995 a 1999 e ainda 2001 mereceram de
Portugal as maiores importações da Suazilândia.

Importações
(unidade: euros)

Importações Totais Peso Suazilândia Importações Totais Peso Suazilândia Importações Totais Peso Suazilândia
Valor de Portugal no nas Imp. Totais Portugal c/ África nas Imp. Port. p/ de Portugal c/ nas Imp. Port p/
ANOS Absoluto Mundo Port. (%) Sub-Sahariana Áf Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 0 496174000 0,0% 33196362 0,0% 23942550 0,0%
1976 0 652719000 0,0% 34847742 0,0% 19386196 0,0%
1977 0 950980000 0,0% 43427525 0,0% 18914562 0,0%
1978 0 1147875000 0,0% 33422642 0,0% 19373677 0,0%
1979 6893 1655642000 0,0% 65034941 0,0% 36384811 0,0%
1980 2040 2371717000 0,0% 110355318 0,0% 34496138 0,0%
1981 1326168 3037751000 0,0% 153482522 0,9% 38628375 3,4%
1982 1782035 3760840000 0,0% 262471274 0,7% 52477864 3,4%
1983 419838 3488294000 0,0% 301577623 0,1% 55700257 0,8%
1984 4214418 5789214000 0,1% 594276518 0,7% 92847593 4,5%
1985 8058010 6616696000 0,1% 620630171 1,3% 175801778 4,6%
1986 8833755 7195123000 0,1% 606630207 1,5% 148899523 5,9%
1987 5916092 9802948000 0,1% 745046847 0,8% 137222245 4,3%
1988 10065073 12820429000 0,1% 993708513 1,0% 185832474 5,4%
1989 23305179 14979878000 0,2% 1061990807 2,2% 268670374 8,7%
1990 6638551 17904699000 0,0% 1072876109 0,6% 556526375 1,2%
1991 9209699 19009566000 0,0% 177160962 5,2% 273109928 3,4%
1992 9827086 20388748000 0,0% 213461837 4,6% 260813878 3,8%
1993 423978 19367210000 0,0% 315394899 0,1% 153988880 0,3%
1994 1541285 22346764000 0,0% 129173692 1,2% 197005465 0,8%
1995 15223311 25083034000 0,1% 251543780 6,1% 219791258 6,9%
1996 30047585 27070420000 0,1% 342624276 8,8% 252476399 11,9%
1997 11093265 30624739000 0,0% 399791502 2,8% 271637630 4,1%
1998 6080346 34490772000 0,0% 597490049 1,0% 301422091 2,0%
1999 11527219 37505656000 0,0% 466405962 2,5% 249512852 4,6%
2000 319230 43257180000 0,0% 482532097 0,1% 336971596 0,1%
2001 18201000 44053966000 0,0% 426772000 4,3% 415777000 4,4%
2002 8539000 40655880000 0,0% 382352000 2,2% 353981000 2,4%

As exportações de Portugal para a Suazilândia são fundamentadas com


base em diversos produtos, sendo que uns se destacam mais que outros de forma
alternada. No entanto, a Suazilândia revelou-se sempre muito interessada na

95
compra de papéis e cartões, obras de pasta de celulose, de papel ou cartão, fibras
sintéticas ou artificiais, reactores nucleares, caldeiras máquinas, aparelhos e
instrumentos mecânicos, bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres, produtos
cerâmicos, entre outros.
As importações portuguesas, que se revelaram, no período em análise,
bem mais superiores que as exportações, dizem-nos que Portugal comprou
sobretudo açúcares e produtos de confeitaria. Para além destes, mais duas
categorias marcaram as importações portuguesas da Suazilândia: preparações de
produtos hortícolas, de frutas e outras partes de plantas e ainda, móveis,
mobiliário médico-cirúrgico, colchões, almofadas, aparelhos de iluminação,
anúncios, tabuletas, cartazes e placas indicadoras, construções pré-fabricadas.

2. O Investimento Directo Estrangeiro

Analisados os principais fluxos das trocas comerciais e do comércio


internacional entre Portugal e os principais países que compõem a SADC, o
Investimento Directo Estrangeiro (IDE) dá-nos também uma ideia muito concreta
da importância daqueles mercados para as empresas portuguesas que investem no
exterior, nomeadamente na zona austral de África.
Antes de partirmos para uma análise do Investimento Português nos países
da SADC, há que notar uma transformação bem clara de Portugal nesta matéria
sobretudo na década de 90. Segundo um estudo de 2003 do DPP (Departamento
de Prospectiva e Planeamento, do Ministério das Finanças) sobre Prospectiva e
Planeamento, a partir da segunda metade da década de 90 e nos inícios da década
de 2000, verifica-se que Portugal sofreu uma grande alteração qualitativa do seu
posicionamento em termos dos fluxos de IDE devido ao processo crescente de
globalização mundial e à intensificação da internacionalização da economia
portuguesa: “de tradicional receptor líquido de investimento estrangeiro,
Portugal, entre 1998 e 2001, torna-se investidor líquido no exterior. Contudo, em
2002 assistiu-se a uma inversão desta tendência, voltando o investimento directo
do exterior em Portugal a superar o de Portugal no exterior” (DPP, 2003, p.87).

96
Segundo o mesmo estudo, verifica-se que, em termos líquidos, a evolução
do IDE de Portugal no Exterior em 1990 ascendeu a 154 milhões de euros
quando, no sentido inverso, o montante de IDE que entrou em Portugal atingiu 2
mil milhões de euros. Esta tendência, onde Portugal foi mais receptor de IDE do
que investidor, manteve-se até 1998. Em 1998, Portugal investiu no exterior 3,4
mil milhões de euros quando, em sentido inverso, os fluxos de entrada atingiram
os 2,8 mil milhões de euros.
O ano de 2001 foi mesmo aquele em que, em termos absolutos, Portugal
mais investiu no estrangeiro (8,4 mil milhões de euros) e onde mais investimento
estrangeiro entrou em Portugal (6,5 mil milhões de euros).
Em suma, de 1996 a 2002, Portugal acaba por registar um IDE no exterior
de 28,7 mil milhões de euros, quando em sentido inverso os fluxos líquidos de
IDE em Portugal ascenderam a 25,8 mil milhões de euros.
Especificando os destinos para os quais se dirigiu o IDE português, a
União Europeia e o Brasil destacam-se em grande medida, dado que, segundo
DPP (2003), entre 1996 e 2002 representaram 88,7% do total investido no
exterior. Claro que, no seio da UE, o país que mais absorveu o investimento
português é a Espanha (27,5%), como um destino natural dos nossos
investimentos, seja pela proximidade, seja pela grandeza e interligação das suas
economias.
Olhando para África, percebe-se que as empresas portuguesas têm estado
atentas ao seu desenvolvimento mas, como é natural, os investimentos acabam
por assentar em pressupostos de proximidade, daí o peso significativo nos
investimentos para África, mas no Norte de África. Segundo o DPP (2003), o
Egipto, Marrocos e Tunísia, no período de 1996 a 2001, representaram 5% do
total do investimento directo português no estrangeiro. Com valores modestos,
surgem os EUA (1,4%) e os PALOP (2,4%) e, nestes últimos, mais de metade
dos recursos destinaram-se a Angola.
Na análise do IDE português nos países da SADC, segundo dados do
Banco de Portugal, verificamos que Angola lidera os interesses das empresas
portuguesas, logo seguida por Moçambique.

97
Nos países não lusófonos da SADC, o que mais importa nesta análise,
regista-se que apenas a África do Sul é o país de maiores interesses para o IDE
português, tendo registado um fluxo, de 1996 a 2003, de 67,9 milhões de euros.
Dos restantes dados disponibilizados pelo Banco de Portugal, o Botswana
e o Malawi têm sido os outros dois únicos países onde o IDE português tem
vindo a ganhar algum peso, mas ainda assim muito diminuto.
No entanto, importa sublinhar que, para os países que compõem a SADC,
o IDE português regista sempre saldos líquidos negativos.

Investimento Directo de Portugal no exterior (IPE)


Valores em milhares de euros
ANO
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
TERRITÓRIO E S Saldo E S Saldo E S Saldo E S Saldo E S Saldo E S Saldo E S Saldo E S Saldo

ANGOLA 17.192 18.024 -832 17.102 49.422 -32.320 24.933 63.059 -38.125 8.307 100.346 -92.039 14.636 134.595 -119.960 11.920 59.966 -48.047 18.328 78.114 -59.785 9.312 41.653 -32.342

MOCAMBIQUE 3.226 18.995 -15.768 4.232 23.195 -18.963 7.717 34.241 -26.524 17.543 37.755 -20.212 26.510 100.648 -74.139 20.263 69.827 -49.564 13.874 25.620 -11.746 62.421 29.381 33.040

BOTSWANA 0 0 142 11.505 -11.363 6.557 -6.557 11.038 5.212 5.826 2.251 -2.251 2.234 1.487 747 55.232 16.646 38.586

AFRICA DO SUL 570 539 31 118 16.507 -16.388 585 28.765 -28.180 475 1.055 -580 4.616 4.087 529 16.865 3.378 13.487 16.838 9.645 7.193 14.339 3.963 10.377

MALAWI 0 0 0 34 -34 208 -208 441 3.799 -3.359 898 8.190 -7.292 1.596 -1.596

Outrso países da SADC 742 283 459 29 -29 175 -175 14 28 -14 3 40 -37 215 -215 1 -1 13 1 11

Total 21.730 37.841 -16.110 21.452 89.152 -67.700 33.378 137.744 -104.367 26.338 145.774 -119.436 56.803 244.790 -187.988 49.489 139.436 -89.948 52.171 123.056 -70.885 141.316 93.239 48.076
Fonte: Banco de Portugal (2004))

2.1 O Botswana

O Botswana é um país que tem alterado a sua posição anual enquanto


receptor líquido do investimento português. Portugal, desde 1998, tem mantido
uma regularidade nos seus investimentos, sobretudo em 1998-2003. De realçar
que o investimento português ascendeu acima dos 11,5 milhões de euros em
1998 e a 16 milhões em 2003. Mas quer em 2000 quer, sobretudo, em 2003,
assistiu-se a um elevado desinvestimento de 11 milhões e de 55 milhões de
euros, respectivamente, no que resultou num investimento líquido negativo de
Portugal naquele país. Podemos dizer que o Botswana não é um país para onde
Portugal canaliza grandes investimentos, apesar deste ter vindo a aumentar, mas
de forma irregular.

98
2.2 A África do Sul

África do Sul, a seguir a Angola e a Moçambique, é o maior destino para o


investimento português na região austral de África. Segundo os dados fornecidos
pelo Banco de Portugal, de 1996 a 2003, o IDE português ascendeu a 67,9
milhões de euros.
Em sentido inverso, a África do Sul é o país relativamente ao qual
Portugal consegue captar mais investimento directo. Para o período em análise,
Portugal recebeu daquele país 54,4 milhões de euros.
Percebe-se que Portugal consegue manter assim uma posição de crédito
relativo, apesar de entre 2001 e 2003 ter existido um desinvestimento líquido que
ascendeu a 48 milhões de euros.

2.3 O Malawi

O Malawi é um país cujo IDE em Portugal é pouco significativo, uma vez


que só a partir do ano de 1999 há registos de tais movimentos. Em 2001, o
desinvestimento líquido de Portugal foi de 441 mil euros, mais que duplicou para
898 mil euros em 2002, e, em 2003, voltou a não haver registos.
Em termos de investimento líquido, os valores não são extraordinários.
Em 1999, Portugal investiu directamente 34 mil euros, em 2000 cerca de 208 mil
euros, e só a partir de 2001, com 3,7 milhões de euros, é que começa a aumentar
com algum significado esse investimento. Em 2002, o fluxo português para o
Malawi ascendeu mesmo a 8,1 milhões de euros.

2.4 A Namíbia4

4
Os dados sobre o IDE português na Namíbia foram concedidos em 2002 pelo Banco de Portugal, mas
apenas de 1996 até 1999.

99
Segundo o Banco de Portugal, em 1996 Portugal desinvestiu 742 mil
euros e investiu directamente 200 mil euros. A partir de 1996, Portugal não mais
desinvestiu na Namíbia.
Em 1997, Portugal investiu directamente na Namíbia cerca de 29 mil
euros, mais que o duplicou em 1998 para 175 mil euros e, segundo o Banco de
Portugal, nunca mais voltou a investir directamente naquele país.

2.5 O Zimbabwe5

O Zimbabwe é um país onde Portugal não tem qualquer preferência em


matéria de investimento directo. De 1996 até 1999, Portugal apenas por uma vez
dirigiu para este país algum IDE e isso verificou-se em 1999, num montante
residual que ascendeu a 28 mil euros.

2.6 Outros países (SADC)

Numa análise global do IDE português na SADC, verificamos que


Portugal direcciona a maior parte do seu investimento para três países: Angola,
Moçambique e África do Sul. Os restantes países da SADC, não lusófonos,
representam uma fatia muitíssimo pequena.
Portugal sempre investiu mais directamente nos países que compõem a
SADC e só por uma vez, em 2003, Portugal desinvestiu mais do que investiu na
zona austral de África.
Desde 1996 a 2003, Portugal apresenta um IDE em países da SADC que
ascende a mil milhões de euros, tendo desinvestido para o mesmo período, cerca
de 400 milhões de euros. Ou seja, Portugal investiu directamente mais do dobro
que o montante desinvestido naqueles países.
No cômputo geral, percebe-se que muito do investimento directo para a
SADC é destinado a três países muito concretos: Angola, sem dúvida o maior
destino do IDE português, Moçambique, segundo maior destino, e África do Sul.

5
Idem.

100
Nesta análise do IDE, percebemos também que os países da SADC
continuam à margem dos investimentos estratégicos de Portugal no Mundo, pese
embora os últimos anos comecem a dar sinais que essa tendência possa vir a ser
contrariada. Mas também trata-se apenas de pequenos sinais.
É importante ainda destacar que o IDE de Portugal destina-se a apenas 7
países da SADC: Angola, Moçambique, África do Sul, Namíbia, Botswana,
Malawi e Zimbabwe, pela respectiva ordem de importância. Por outro lado, é
relevante observar que em 1999 a Namíbia já não recebeu IDE e o Malawi (34
mil euros) e Zimbabwe (28 mil euros) entram pela primeira vez nos destinos do
IDE português.
A verdade é que se Portugal tem apresentado níveis de investimento
directo de alguma dimensão naquela zona austral de África, também apresenta
níveis de desinvestimento líquido muito regulares e significativos.

3. Balanço

Analisado em pormenor os variados elementos das relações económicas, o


esforço político e diplomático subjacente às teorias das Relações Internacionais
abordadas na primeira parte deste trabalho, podemos aferir que o balanço
português nas relações com os países africanos tem um lado positivo e outro
negativo.
Por um lado, ele é positivo. Portugal não mais esqueceu África após as
descolonizações, procurando via PALOP regenerar a imagem deixada e
procurando acentuar a sua capacidade de influência através da União Europeia e
através das diversas organizações internacionais.
Por outro lado, procurando manter algum peso em África, Portugal não o
tem feito de forma activa, dinâmica e estratégica, o que acentua o seu lado mais
negativo. Ou seja, quantitativa e qualitativamente, Portugal não é um actor
privilegiado em África. Se do ponto de vista Continental o seu peso é residual, o
mesmo se passa ao nível regional, facto que se pretende demonstrar com este

101
trabalho dando como exemplo a região austral de África, nomeadamente através
da SADC e, mais especificamente, através dos países não lusófonos.
Politicamente, os sucessivos Governos acenaram sempre muito bem com a
imagem do seu interesse estratégico por África. Há duas décadas atrás, nos anos
80, Portugal conseguiu recuperar alguma influência nas relações com África
quando o Governo de Cavaco e Silva redefiniu uma orientação política clara em
favor dos PALOP. Foi reconhecida esta orientação através e sobretudo, mais
tarde, do processo de Paz em Angola, mas pouco ou nada mais se adiantou. Em
seguida, em meados da década de 90, o Governo de António Guterres procura
catapultar os interesses portugueses em África, mas não de uma forma bilateral
como se fez com Cavaco, mas sim de uma forma inter-regional: UE-África. O
governo de Guterres defendeu a tese, e provavelmente poderia ser a solução mais
viável para que Portugal se mantivesse activo e guardasse para si a liderança das
relações com África no seio da UE, desta espécie de triangulação. Ora, a ser
assim, num âmbito inter-regional, Portugal começou desde então e até à
actualidade a tentar cimentar o relacionamento com África via UE, sem, contudo,
eliminar a autonomia da relação bilateral. Naturalmente que não teria outra saída
que não esta, pois estaria um pouco condenado à marginalização, caso
mantivesse exclusivamente a estratégia bilateral. Verificamos assim que o
Continente Africano esteve sempre na agenda internacional de Portugal e da sua
acção externa.
É bem evidente que Portugal é um país de relações privilegiadas com os
Palop, facto que tem sido benéfico no seio da União Europeia, mas que também
lhe tem trazido alguns dissabores em matéria de relações bilaterais.
Após 1980, Portugal constrói uma estratégia de relações Estado a Estado
para a sua política externa, onde África se apresenta e se impõe nos seus
horizontes.
Ainda que o dilema ‘Europa ou África’ subsistisse, Portugal acabou mais
tarde por optar necessariamente pela via europeia, nomeadamente a partir de
1986 com a sua entrada na CEE, não esquecendo contudo a linha e a sua
apetência por África.

102
Foi então com o Governo de Cavaco e Silva que se deu a primeira
viragem política em relação a África após as independências das ex-colónias. Em
rigor, aquele adopta uma atitude que anteriormente havia sido preconizada por
Francisco Sá Carneiro. Falou-se pela primeira vez em diplomacia económica,
mas o conceito esmoreceu. Apostou-se claramente numa opção estratégica de
aproximação aos PALOP. Com esta aproximação, a política de cooperação
bilateral ganhou uma nova dimensão e dinâmica. Ao seguir uma política Estado a
Estado e de cooperação bilateral, o Governo social democrata indexava também
diversos programas de desenvolvimento para os PALOP. Portugal tinha assim
uma visão africana muito mais lusófona do que virada para o desenvolvimento
global e regional de África.
Com a mudança à esquerda do Governo nos anos 90, liderado por António
Guterres, dá-se a segunda viragem política. Portugal assume definitivamente que
a sua relação com o Continente Africano não se cingiria apenas aos PALOP, mas
a toda a África, via União Europeia, sem esquecer os seus laços históricos e
privilegiados com os PALOP. Deste modo, e desde 1995, Portugal passa a
assumir as suas relações com África via União Europeia, procurando que aquele
continente ganhe mais força e dinâmica internacional no seio das suas
prioridades.
É neste quadro que o Governo português promoveu então, em 2000, a
Cimeira UE-África, tentando lançar as bases sólidas que permitissem uma
relação mais efectiva, integrada e sistemática com a Europa e África.
O objectivo essencial do papel português na cena internacional era o de
acabar de vez com o preconceito de um continente onde era inútil investir.
Portugal tentava, assim, colocar o continente africano, definitivamente, na
agenda internacional.
Por outro lado, Portugal nunca abandonou o diálogo com países e
organizações africanas. Nesta matéria, e em particular a SADC, Portugal sempre
quis conferir-lhe dinamismo e dimensão política, dialogando de forma aberta e
olhando a participação dos seus membros neste processo de forma
imprescindível.

103
Para Portugal, segundo Jaime Gama, “esta organização – SADC – e os
seus Estados, pelo nível de realizações já conseguidas, tanto no plano político
como económico, terá certamente um papel fundamental a desempenhar como
pólo dinamizador de toda a África” (1999, p.270).
Para o Governo português, o facto de a SADC ter Angola e Moçambique
como membros e onde a língua portuguesa é oficial, serviu sempre para que
seguisse a actividade deste bloco regional com muita atenção.
Em 1998, na Reunião Ministerial UE/SADC que decorreu em Viena de
Áustria, Jaime Gama, então MNE português, afirmou serem “encorajadores os
progressos feitos no âmbito da SADC, para se atingir os seus grandes objectivos
de uma integração económica mais estreita e de uma cooperação político-
diplomática mais efectiva” (1999, p.290).
O MNE teve ainda oportunidade de demonstrar a sua preocupação com a
conjuntura económica e financeira desfavorável que então se vivia como
principal barreira ao desenvolvimento da SADC. Um dos factores mais
importantes a que se referiu foi a PAZ na região que ainda não havia sido
alcançada, nomeadamente em Angola, na República Democrática do Congo e em
alguns Estados vizinhos.
Mais recentemente, com o Governo PSD-PP, liderado por Durão Barroso,
renasceu um novo input político: a diplomacia económica.
Martins da Cruz, ex-MNE de Durão Barroso, quis dar uma nova forma e
imprimir uma nova dinâmica à diplomacia tradicional através da diplomacia
económica, atribuindo-lhe uma focagem comercial e de investimento. Porém, até
hoje, nunca se conheceram resultados práticos desta iniciativa., não passando por
isso, de um bom plano de intenções.
Na análise em concreto ao posicionamento diplomático de Portugal na
SADC, a estratégia nunca foi muito dinâmica, tal como se pretendia ao nível
político. Ou seja, o lado diplomático andou sempre desfasado do lado político.
Portugal teve sempre uma presença diplomática paupérrima naquela
região austral de África. Digamos que, desde 1997, Portugal tinha apenas 7
embaixadas nos 14 países que compõem a SADC, o que é muito pouco, mas

104
suficiente para traduzir a importância daqueles países nas relações externas de
Portugal com o mundo e, neste particular, com África. Muito pouco mesmo para
quem ambiciona mediar as relações UE-África e para quem pretende fomentar e
estreitar relações com vista ao desenvolvimento económico e sustentado da
SADC. O cenário agravou-se ainda mais quando Portugal acabou por encerrar,
em 1998, a embaixada da Zâmbia, e, em 2003, a da Namíbia.
Basicamente, apesar de uma visão política abrangente sobre o papel da
SADC na região austral de África, Portugal trabalha apenas três grandes e
significativas embaixadas: Angola, Moçambique e África do Sul.
Podemos daqui aferir que a acção diplomática não é directamente
acompanhada pela acção política ou governativa, o que não deixa de ser
inquietante. Ou seja, Portugal empenha-se bastante no acompanhamento da
política da SADC, via organizações internacionais ou bilateralmente, mas depois
não disponibiliza recursos humanos, financeiros e logísticos para empreender as
suas relações com os Estados membros da SADC.
No plano económico, comercial e do investimento, a situação acaba por se
ressentir daquele diminuto empenho. Importa desde logo realçar que existe um
sinal evidente que nos leva a afirmar que Portugal privilegia apenas as relações
com Angola, Moçambique e mais recentemente com a África do Sul. Todos os
outros membros da SADC são residuais no peso que assumem nas relações
comerciais e de investimento.
Percebe-se assim claramente que Portugal é um país importador dos países
não lusófonos da SADC onde, a partir do ano de 1995, e para o período em
análise, se regista um grande incremento dos fluxos de compras de produtos
oriundos daquela região. Significa dizer que a balança comercial portuguesa é
altamente deficitária nas trocas comerciais com a SADC, retirando desse ‘bolo’
Angola, Moçambique e a África do Sul.
Vale a pena ainda destacar a força das importações portuguesas com
origem nos países como o Zimbabwe, Tanzânia e Zâmbia. À excepção dos três
países que atrás referimos, estes são efectivamente aqueles que mais vendem

105
para Portugal, sobretudo a partir de 1994 (no caso do Zimbabwe), de 1988 (no
caso da Tanzânia) e de 1997 (no caso da Zâmbia).
Em matéria de exportações, muito pouco há a referir. Portugal exporta
para todos os países da zona, mas em valores muito baixos e, em alguns casos,
quase nulos. O grande volume de exportações verifica-se sobretudo para a tríade
Angola/Moçambique/África do Sul.
Em matéria de IDE, verifica-se que Portugal tem vindo não só a aumentar
mas também a manter os seus fluxos de investimento directo na zona Austral de
África, mas com direcções bem definidas: Angola, Moçambique e África dos
Sul. É verdade também que países como o Botswana e o Malawi têm ganho
alguma expressão, mas sem qualquer valor relativo no total que Portugal investe
no exterior.
Por outro lado, pelos volume de desinvestimento de Portugal na SADC ao
longo do período em análise, poderemos assistir a uma repetição da tendência em
anos vindouros. Só o ano de 2003 poderá traduzir alguma inversão, sobretudo
porque foi o único ano em que o saldo do total do IDE líquido português foi
positivo, ascendendo a 48 milhões de euros.
Em síntese, Portugal não tem sabido nem conseguido potenciar a força
comercial e de instalação nos países da tríade para assim expandir e explorar
novos negócios noutros países que compõem a SADC. Não admira, assim, que o
baixo esforço político-diplomático nos países não lusófonos não tenha tradução
prática de intenção estratégica e de presença privilegiada no domínio económico.

106
CONCLUSÃO

A análise das Dinâmicas Económicas e Política Externa Portuguesa nos


Países Não Lusófonos da SADC de 1975 a 2002, leva-nos a retirar diversas
conclusões sobre o posicionamento de Portugal face à zona austral de África,
com especial relevo para a SADC.
O objectivo deste trabalho foi o de verificar até que ponto Portugal se
empenhou activamente no terreno, e não apenas em retórica, e se interessou
igualmente em investir política e diplomaticamente na África Austral não
lusófona no período em análise, tendo em consideração o desiderato da
promoção dos seus interesses económicos articulados com a sua política externa.
Verificámos que a excessiva concentração e atenção de Portugal em
Angola e em Moçambique, países lusófonos, começou por ser uma
potencialidade para os interesses económicos de Portugal na região, mas
rapidamente apercebemo-nos que esse posicionamento e importância
transformou-se também numa fraqueza. A razão é uma só: Portugal nunca
conseguiu vencer o círculo da lusofonia.
Por outro lado, Portugal procurou liderar o processo de diálogo UE-
África, no sentido de conseguir maior visibilidade ao nível político não só nas
relações histórias que mantém com alguns Estados africanos como também junto
dos seus parceiros europeus. É verdade que foi grande impulsionador de uma
imagem favorável do continente africano, visando uma maior aproximação dos
Estados mais desenvolvidos aos menos desenvolvidos. Abandonou então uma
estratégia de diálogo bilateral, tentando passá-la para um domínio multilateral. O
cerne da questão nesta mudança é que, ainda assim, Portugal manteve-se (e
mantém-se) confinado ao espaço lusófono, não conseguindo aumentar a sua
credibilidade nem influência juntos dos restantes países membros da SADC.
Sendo a África Austral uma das mais dinâmicas zonas de África, em
particular da África Sub-Sahariana, graças sobretudo à inserção da África do Sul
naquela área e à existência de um esquema de integração económica que parece

107
ganhar peso como a SADC, estamos perante um mercado alargado do ponto de
vista económico que tem todas as possibilidades de ser aproveitado pelas
empresas portuguesas.
Mas para que as economias de escala funcionem e para que Portugal possa
usufruir de outras vantagens económicas, financeiras e comerciais, beneficiando
a expansão dos interesses empresariais na região, é necessário um aumento da
sua presença ao nível político. Infelizmente, o que verificámos com este trabalho,
é que Portugal sempre teve uma presença fugaz na região, onde tudo gira em
torno do ‘umbigo’ lusófono, do ‘pecado’ original, que são Angola e
Moçambique. Portugal demonstra muitas fraquezas na região e dá sinais de uma
visão estreita para uma afirmação sustentada e forte que poderia assumir na zona,
seja pelo potencial de crescimento da região, seja pela diáspora portuguesa aí
estabelecida (África do Sul e Zimbabwe).
Ao nível diplomático, sabendo-se que o conceito da diplomacia
económica está estrategicamente presente no discurso de política externa desde
há duas décadas, verifica-se que a ausência de interesses políticos na região
marca um falhanço total da estratégia e presença diplomática portuguesa nos
países não lusófonos da SADC.
Portugal, que encerrou desde 1997 apenas duas embaixadas no mundo, fê-
lo logo em dois países membros da SADC: primeiro, em 1998, na Zâmbia e, em
2003, na Namíbia. Actualmente, Portugal tem representação diplomática em
Angola, Moçambique, África do Sul, Zimbabwe e República Democrática do
Congo.
Este é de facto um dos maiores sintomas do falhanço na promoção dos
interesses portugueses ao nível diplomático na região e onde o papel das ex-
embaixadas foi apenas político e nunca económico.
Neste cenário, somos compelidos a concluir que o encerramento das
embaixadas e uma defesa activa da diplomacia económica é uma verdadeira
contradição e até mesmo um paradoxo. Sem embaixadas, Portugal perde os seus
pontos de passagem e perde também agentes activos que difundam e atraiam os
interesses económicos portugueses, uma vez que a expansão política e

108
diplomática é uma forma de afirmação de um Estado que abre o caminho para a
actuação empresarial e ecoómica.
A diplomacia económica, que deveria servir como um garante e uma
almofada de segurança para as empresas portuguesas, não funciona nem tira
partido da forte influência e imagem positiva que Portugal tem em Angola e em
Moçambique.
Por outro lado, as ‘mega’ embaixadas destes dois países não têm
capacidade de penetração nos outros países da SADC. Desta forma, é evidente
que a resolução recente do problema da guerra em Angola poderá de novo levar
Portugal à tentação de restringir ou polarizar em demasia a sua acção de
promoção económica na zona àquele país.
Em suma, a despeito das declarações de interesse estratégico na região
Austral de África, Portugal nunca conseguiu ver mais além do que o seu próprio
passado histórico – Angola e Moçambique. Isto leva-nos a considerar que
Portugal, pura e simplesmente desistiu de considerar o espaço não lusófono da
África Austral como região política e economicamente estratégica ao nível da sua
política externa.
Assim sendo, as dinâmicas económicas e a política externa de Portugal
junto da SADC, e particularmente dos países não-lusófonos, reduziu-se apenas
ao papel de mero observador, ainda assim privilegiado nos países lusófonos. O
que foi e é pouco. O reduzido valor do investimento directo português nos países
não lusófonos da SADC bem como o inexpressivo valor do seu comércio externo
(em termos absolutos e relativos) com estes mesmos países, revela a posição
frágil que Portugal tem. A menos que se encare a zona austral como uma área
que pode tornar-se um imenso mercado a ser optimizado para os interesses
económicos e empresariais portugueses, Portugal jamais poderá ousar pensar que
politicamente será um ‘player’ atentanente escutado e procurado quer pelos
países que compõem a SADC quer ao nível do interior da União Europeia. A
redefinição da orientação estratégica político-diplomática e económica na política
externa portuguesa impõem-se, não apenas ao nível do discurso, como é o caso
da diplomacia económica, mas no campo das acções concretas.

109
Anexos :

COMÉRCIO INTERNACIONAL

PORTUGAL/ANGOLA
Exportações
(unidade: euros)

Exportações
Exportações Totais Peso Angola nas Totais Portugal c/ Peso Angola nas Exportações Totais Peso Angola nas
de Portugal no Exp. Totais Port. África Sub- Exp. Port. p/ Áf de Portugal c/ Exp. Port p/
ANOS Valor Absoluto Mundo (%) Sahariana Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 8565507 246047000 3,5% 24216010 35,4% 13665815 62,7%
1976 4389760 274780000 1,6% 18081364 24,3% 11448355 38,3%
1977 12123337 387492000 3,1% 34066380 35,6% 23743084 51,1%
1978 14461931 530973000 2,7% 36822358 39,3% 24904530 58,1%
1979 29293772 878137000 3,3% 58541395 50,0% 38930324 75,2%
1980 44414695 1155331000 3,8% 84623478 52,5% 61542991 72,2%
1981 69029419 1281475000 5,4% 118020241 58,5% 89713111 76,9%
1982 33635204 1654725000 2,0% 145458824 23,1% 71801497 46,8%
1983 55158084 2536728000 2,2% 172561342 32,0% 108577533 50,8%
1984 113335571 3793757000 3,0% 273763121 41,4% 170073563 66,6%
1985 133278962 4847053000 2,7% 350098947 38,1% 167190654 79,7%
1986 68759469 5398295000 1,3% 320452704 21,5% 98224432 70,0%
1987 72883869 6539254000 1,1% 315865529 23,1% 111236613 65,5%
1988 147944229 7890770000 1,9% 405087484 36,5% 200276882 73,9%
1989 251493216 10054322000 2,5% 576073658 43,7% 317039869 79,3%
1990 291905856 11650909000 2,5% 665645828 43,9% 330342286 88,4%
1991 394377734 11742118000 3,4% 559059532 70,5% 467716276 84,3%
1992 551574914 12346254000 4,5% 765642302 72,0% 611999436 90,1%
1993 277755608 12342118000 2,3% 495615566 56,0% 351632872 79,0%
1994 242316018 14842424000 1,6% 470396345 51,5% 326987535 74,1%
1995 259464690 17466999000 1,5% 529319345 49,0% 352172486 73,7%
1996 304845322 18933709000 1,6% 649798984 46,9% 417717612 73,0%
1997 393880747 20924821000 1,9% 720837781 54,6% 515571430 76,4%
1998 368033040 22251543000 1,7% 706731776 52,1% 501929754 73,3%
1999 276708133 23025907000 1,2% 620619307 44,6% 419882196 65,9%
2000 370985923 26378762000 1,4% 783032891 47,4% 530929144 69,9%
2001 503600000 27322792000 1,8% 832789000 60,5% 654733000 76,9%
2002 568954000 27089805000 2,1% 930158000 61,2% 716816000 79,4%

110
Importações
(unidade: euros)

Importações
Importações Totais Peso Angola nas Totais Portugal c/ Peso Angola nas Importações Totais Peso Angola nas
de Portugal no Imp. Totais Port. África Sub- Imp. Port. p/ Áf de Portugal c/ Imp. Port p/
ANOS Valor Absoluto Mundo (%) Sahariana Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 14960091 496174000 3,0% 33196362 45,1% 23942550 62,5%
1976 6291253 652719000 1,0% 34847742 18,1% 19386196 32,5%
1977 4604927 950980000 0,5% 43427525 10,6% 18914562 24,3%
1978 1605246 1147875000 0,1% 33422642 4,8% 19373677 8,3%
1979 3880612 1655642000 0,2% 65034941 6,0% 36384811 10,7%
1980 3834543 2371717000 0,2% 110355318 3,5% 34496138 11,1%
1981 4697698 3037751000 0,2% 153482522 3,1% 38628375 12,2%
1982 9038711 3760840000 0,2% 262471274 3,4% 52477864 17,2%
1983 7510195 3488294000 0,2% 301577623 2,5% 55700257 13,5%
1984 27684480 5789214000 0,5% 594276518 4,7% 92847593 29,8%
1985 69831750 6616696000 1,1% 620630171 11,3% 175801778 39,7%
1986 55844983 7195123000 0,8% 606630207 9,2% 148899523 37,5%
1987 28000294 9802948000 0,3% 745046847 3,8% 137222245 20,4%
1988 22442468 12820429000 0,2% 993708513 2,3% 185832474 12,1%
1989 40559731 14979878000 0,3% 1061990807 3,8% 268670374 15,1%
1990 62454265 17904699000 0,3% 1072876109 5,8% 556526375 11,2%
1991 72109286 19009566000 0,4% 177160962 40,7% 273109928 26,4%
1992 78081229 20388748000 0,4% 213461837 36,6% 260813878 29,9%
1993 4783471 19367210000 0,0% 315394899 1,5% 153988880 3,1%
1994 4743568 22346764000 0,0% 129173692 3,7% 197005465 2,4%
1995 9841282 25083034000 0,0% 251543780 3,9% 219791258 4,5%
1996 9676679 27070420000 0,0% 342624276 2,8% 252476399 3,8%
1997 39310262 30624739000 0,1% 399791502 9,8% 271637630 14,5%
1998 21897227 34490772000 0,1% 597490049 3,7% 301422091 7,3%
1999 10130585 37505656000 0,0% 466405962 2,2% 249512852 4,1%
2000 57661036 43257180000 0,1% 482532097 11,9% 336971596 17,1%
2001 128049000 44053966000 0,3% 426772000 30,0% 415777000 30,8%
2002 69987000 40655880000 0,2% 382352000 18,3% 353981000 19,8%

111
COMÉRCIO INTERNACIONAL

PORTUGAL/MOÇAMBIQUE
Exportações
(unidade: euros)

Peso Exportações Peso


Exportações Totais Moçambique nas Totais Portugal c/ Peso Moçambique Exportações Totais Moçambique nas
de Portugal no Exp. Totais Port. África Sub- nas Exp. Port. p/ de Portugal c/ Exp. Port p/
ANOS Valor Absoluto Mundo (%) Sahariana Áf Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 2798251 246047000 1,1% 24216010 11,6% 13665815 20,5%
1976 4088781 274780000 1,5% 18081364 22,6% 11448355 35,7%
1977 6870891 387492000 1,8% 34066380 20,2% 23743084 28,9%
1978 7616643 530973000 1,4% 36822358 20,7% 24904530 30,6%
1979 5630350 878137000 0,6% 58541395 9,6% 38930324 14,5%
1980 9278972 1155331000 0,8% 84623478 11,0% 61542991 15,1%
1981 10306381 1281475000 0,8% 118020241 8,7% 89713111 11,5%
1982 26803438 1654725000 1,6% 145458824 18,4% 71801497 37,3%
1983 34979554 2536728000 1,4% 172561342 20,3% 108577533 32,2%
1984 29524820 3793757000 0,8% 273763121 10,8% 170073563 17,4%
1985 18669795 4847053000 0,4% 350098947 5,3% 167190654 11,2%
1986 15327450 5398295000 0,3% 320452704 4,8% 98224432 15,6%
1987 22377330 6539254000 0,3% 315865529 7,1% 111236613 20,1%
1988 23539444 7890770000 0,3% 405087484 5,8% 200276882 11,8%
1989 29241363 10054322000 0,3% 576073658 5,1% 317039869 9,2%
1990 30578550 11650909000 0,3% 665645828 4,6% 330342286 9,3%
1991 27739278 11742118000 0,2% 559059532 5,0% 467716276 5,9%
1992 22759335 12346254000 0,2% 765642302 3,0% 611999436 3,7%
1993 29927873 12342118000 0,2% 495615566 6,0% 351632872 8,5%
1994 35793737 14842424000 0,2% 470396345 7,6% 326987535 10,9%
1995 36711525 17466999000 0,2% 529319345 6,9% 352172486 10,4%
1996 40287906 18933709000 0,2% 649798984 6,2% 417717612 9,6%
1997 43136042 20924821000 0,2% 720837781 6,0% 515571430 8,4%
1998 61372093 22251543000 0,3% 706731776 8,7% 501929754 12,2%
1999 66704242 23025907000 0,3% 620619307 10,7% 419882196 15,9%
2000 69123412 26378762000 0,3% 783032891 8,8% 530929144 13,0%
2001 63138000 27322792000 0,2% 832789000 7,6% 654733000 9,6%
2002 54073000 27089805000 0,2% 930158000 5,8% 716816000 7,5%

112
Importações
(unidade: euros)

Peso Importações Peso


Importações Totais Moçambique nas Totais Portugal c/ Peso Moçambique Importações Totais Moçambique nas
de Portugal no Imp. Totais Port. África Sub- nas Imp. Port. p/ de Portugal c/ Imp. Port p/
ANOS Valor Absoluto Mundo (%) Sahariana Áf Sub-Saha. (%) SADC SADC (%)
1975 4151200 496174000 0,8% 33196362 12,5% 23942550 17,3%
1976 7347158 652719000 1,1% 34847742 21,1% 19386196 37,9%
1977 4212228 950980000 0,4% 43427525 9,7% 18914562 22,3%
1978 4455761 1147875000 0,4% 33422642 13,3% 19373677 23,0%
1979 10121636 1655642000 0,6% 65034941 15,6% 36384811 27,8%
1980 5490228 2371717000 0,2% 110355318 5,0% 34496138 15,9%
1981 5648397 3037751000 0,2% 153482522 3,7% 38628375 14,6%
1982 5872452 3760840000 0,2% 262471274 2,2% 52477864 11,2%
1983 8606757 3488294000 0,2% 301577623 2,9% 55700257 15,5%
1984 7372602 5789214000 0,1% 594276518 1,2% 92847593 7,9%
1985 5133503 6616696000 0,1% 620630171 0,8% 175801778 2,9%
1986 1939864 7195123000 0,0% 606630207 0,3% 148899523 1,3%
1987 6788190 9802948000 0,1% 745046847 0,9% 137222245 4,9%
1988 5134645 12820429000 0,0% 993708513 0,5% 185832474 2,8%
1989 8992587 14979878000 0,1% 1061990807 0,8% 268670374 3,3%
1990 11028431 17904699000 0,1% 1072876109 1,0% 556526375 2,0%
1991 12287297 19009566000 0,1% 177160962 6,9% 273109928 4,5%
1992 23704177 20388748000 0,1% 213461837 11,1% 260813878 9,1%
1993 15717121 19367210000 0,1% 315394899 5,0% 153988880 10,2%
1994 20670184 22346764000 0,1% 129173692 16,0% 197005465 10,5%
1995 22590556 25083034000 0,1% 251543780 9,0% 219791258 10,3%
1996 24032082 27070420000 0,1% 342624276 7,0% 252476399 9,5%
1997 27364052 30624739000 0,1% 399791502 6,8% 271637630 10,1%
1998 28461408 34490772000 0,1% 597490049 4,8% 301422091 9,4%
1999 39295298 37505656000 0,1% 466405962 8,4% 249512852 15,7%
2000 45235981 43257180000 0,1% 482532097 9,4% 336971596 13,4%
2001 39748000 44053966000 0,1% 426772000 9,3% 415777000 9,6%
2002 36978000 40655880000 0,1% 382352000 9,7% 353981000 10,4%

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