O Xintoísmo de Estado Leonardo-Henrique-Luiz
O Xintoísmo de Estado Leonardo-Henrique-Luiz
O Xintoísmo de Estado Leonardo-Henrique-Luiz
Direção Editorial
Comitê Científico
229 p.
ISBN: 978-65-5917-492-8
DOI: 10.22350/9786559174928
CDD: 900
Índices para catálogo sistemático:
1. História 900
Sobre o Mestrado em História Social da
Universidade Estadual de Londrina
Natsume Soseki
SUMÁRIO
PREFÁCIO 13
R ICHARD G ONÇALVES A NDRÉ
INTRODUÇÃO 21
FERRAMENTAS EPISTEMOLÓGICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
ESTRUTURA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
1 45
CONSTRUINDO A MODERNIZAÇÃO: O ESTADO MEIJI (1868)
O PROJETO DE NAÇÃO JAPONESA: RESTAURAÇÃO MEIJI? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
MITOGAKU E O PROJETO DE NAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
O IMPERADOR E O ESTADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
IMPERIALISMO JAPONÊS NA ÁSIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
2 88
XINTOÍSMO: UMA RELIGIÃO JAPONESA
A PRODUÇÃO SOBRE O XINTOÍSMO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
O XINTOÍSMO E O ESTADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
XINTOÍSMO: UMA RELIGIÃO? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
3 123
EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO JAPONÊS
CONTEXTUALIZAÇÃO DO KYŌIKU CHOKUGO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
ANÁLISE DO EDITO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
4 164
O HABITUS XINTOÍSTA NO BRASIL
A COLÔNIA DE ASSAÍ: UM ESPAÇO NIKKEI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
A EDUCAÇÃO NIKKEI NO BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
O KYŌIKU CHOKUGO NO BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
REFERÊNCIAS 217
PREFÁCIO
1 Doutor em História pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e pós-doutor em Língua, Literatura e Cultura
Japonesa pela Universidade de São Paulo (USP). É professor do Departamento de História da Universidade
Estadual de Londrina (UEL) e docente do Pós-Graduação em História Social da UEL. Coordena, juntamente com
Leonardo Henrique Luiz, o Laboratório de Pesquisa sobre Culturas Orientais (LAPECO), sendo editor,
juntamente com Luiz e José Rodolfo Vieira, da Prajna: revista de culturas orientais.
2 Embora exista a terminologia aportuguesada “Xintoísmo”, opta-se aqui por “Shintō” não apenas em razão de
sua proximidade em relação ao vocábulo japonês, mas também devido à incômoda sensação de unicidade
gerada pelo sufixo “ismo” comumente utilizado no Ocidente para referir-se às diferentes concepções e práticas
religiosas. Algumas delas, como o próprio Shintō, são fragmentárias a ponto de resistir a essa tônica
centralizadora.
14 • O espírito de Yamato
REFERÊNCIAS
HANDA, Tomoo. O imigrante japonês: história de sua vida no Brasil. São Paulo: T.A.
Queiroz Editor, Centro de Estudos Nipo-Brasileiros, 1987.
HARDACRE, Helen. Shinto and the state, 1868-1988. Princeton: Princeton University
Press, 1989.
KURODA, Toshio. Shinto in the history of Japanese religion. Journal of Japanese studies,
n. 7, p. 1-21, 1981.
Leonardo Henrique Luiz • 19
MAEDA, Hiromi. Court rank for village shrines: the Yoshida house's interactions with
local shrines during the mid-Tokugawa period. Japanese journal of religious studies,
v. 29, n. 3-4, p. 325-358, 2002.
MULLINS, Mark R. Religion in occupied Japan: the impact of SCAP’s policies on Shinto.
In: ANDERSON, Emily (Org.). Belief and practice in imperial Japan and colonial Korea.
Singapore: Palgrave Macmillan, 2017. p. 229-248.
ROTS, Aike P. Sacred forests, sacred nation: the Shinto environmentalist paradigm and
the rediscovery of chinju no mori. Japanese journal of religious studies, v. 42, n. 2, p.
205-233, 2015.
SHOJI, Rafael. The failed prophecy of Shinto nationalism and the rise of Japanese
Brazilian Catholicism. Japanese journal of religious studies, v. 35, n. 1, p. 13-38, 2008.
TEEUWEN, Mark; SCHEID, Bernhard. Tracing Shinto in the history of kami worship.
Japanese journal of religious studies, v. 29, n. 3-4, p. 195-207, 2002.
INTRODUÇÃO
O poema acima que abre o presente livro 3 foi escrito pelo literato
japonês Natsume Soseki (1867-1916) na obra Eu sou um gato (2008). No
romance, o poema é declamado pelo professor Kushami, personagem
que representa o alter ego do autor, aos seus colegas de profissão. Esse
poema, publicado em 1905, apresenta uma série de elementos comuns
ao discurso intelectual e político japonês da época que é sumarizado por
Soseki na ideia de “Espírito de Yamato” 4.
Há uma carga de ironia nessa descrição do espírito de Yamato feita
por Soseki, pois aqui o espírito está presente e é louvado por todos os
japoneses mesmo não tendo uma definição clara (pelo menos do ponto
de vista das pessoas comuns). Diversas figuras, como o “Almirante
Togo” (líder na vitória japonesa contra os russos em Port Arthur, 1905),
bem como “Os farsantes, os especuladores, os assassinos” também o
possuiriam, de igual maneira, sem distinção hierárquica. Além disso, o
espírito de Yamato seria algo da mesma categoria que o Tengu, um tipo
de ser mitológico que assombraria os bosques e montanhas pregando
peças nas pessoas (HADLAND, 2004). Dessa forma, o espírito de Yamato
5 Esses conceitos são entendidos com base nas formulações de Roger Chartier (2002, p. 73), segundo o qual as
práticas “[...] visam a fazer reconhecer uma identidade social, a exibir uma maneira própria de estar no mundo,
a significar simbolicamente um estatuto e uma posição; enfim, as formas institucionalizadas e objetivadas
graças às quais ‘representantes’ (instâncias coletivas ou indivíduos singulares) marcam de modo visível e
perpetuado a existência do grupo, da comunidade ou da classe [...]”, isto é, o conceito de prática está baseado
na forma com que os grupos estabelecem o seu “fazer” baseados em determinado repertório cultural
compartilhado. Os sentidos desse “fazer” são conferidos pelas representações que visam explicar e apresentar
o mundo pelo ponto de vista dos grupos.
6 Partindo do pressuposto de que a nação passou a ser um elemento importante na definição das identidades
no mundo moderno, Stuart Hall (2004) define “identidade nacional” por meio do estabelecimento do Estado-
nação em um território que instituiu símbolos, eventos e histórias como sendo parte de uma representação
coletiva. Na modernidade, essa representação da identidade foi perpetuada pelo sistema escolar visando
unificar o território, pois antes da formação do Estado-nação a lealdade e a identificação eram relacionadas à
tribo, à religião e à região.
7 Transformações que ocorreram no Japão a partir de 1868 (ALBUQUERQUE, 1971). Esse período teve como
marco uma série de mudanças na organização política, econômica e social do Japão, buscando a transformação
da região em país no sentido moderno do termo (Estado-nação), isto é, com mudanças que burocraticamente
instituíram uma educação compulsória, uma moeda oficial, um governo com representantes e leis definidas,
entre outros elementos. Ver também o capítulo 1.
8 Japoneses que vivem no exterior ou descendentes nascidos fora do Japão.
Leonardo Henrique Luiz • 23
10 O conceito é abordado com base na relação entre língua, discurso e ideologia, considerações estas feitas
por Eni P. Orlandi (2009, p. 17). Segundo a autora, “[…] não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem
ideologia: o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é assim que a língua faz sentido.”. Mais
precisamente, “[…] o discurso é o lugar em que se pode observar essa relação entre língua e ideologia,
compreendendo-se como a língua produz sentidos por/para os sujeitos”.
26 • O espírito de Yamato
A noção de habitus [...] é importante para lembrar que os agentes têm uma
história, que são o produto de uma história individual, de uma educação
associada a determinado meio, além de serem o produto de uma história
coletiva, e que em particular as categorias de pensamento, as categorias do
juízo, os esquemas de percepção, os sistemas de valores, etc. são o produto
da incorporação de estruturas sociais (BOURDIEU; CHARTIER, 2012, p. 58).
11 O termo será discutido ao longo do trabalho, mas por ora definimos o Estado xintoísta com base em Rafael Shoji
(2008, p. 16): “O xintoísmo de Estado é essencialmente entendido aqui como uma reinvenção moderna da tradição
que enfatizou elementos seletivos em nome da unidade do povo japonês. Sustentou a centralização política, por
meio da suposta divindade do imperador e do expansionismo imperialista no Japão da Era Meiji”. No original: “State
Shinto is essentially understood here as a modern reinvention of tradition that emphasized selected elements in
the name of the unity of the Japanese people. It sustained political centralization, through the assumption of the
emperor's divinity, and the imperialist expansionism that caught Japan in the Meiji Era”.
Leonardo Henrique Luiz • 29
A apropriação tal como a entendemos visa uma história social dos usos e
das interpretações, relacionados às suas determinações fundamentais e
inscritos nas práticas específicas que os produzem. Dar assim atenção às
condições e aos processos que, muito concretamente, sustentam as opera-
ções de construção do sentido (na relação de leitura mas também em muitas
outras) [...]
30 • O espírito de Yamato
12 Normalmente essa palavra é traduzida como “deus”, mas conforme André (2011, p. 45), “Ainda que traduzido
para o português como ‘deus’, o conceito de kami refere-se a uma série de entidades diferentes e, portanto,
irredutíveis às noções ocidentais de divindade”.
13 The International Military Tribunal for the Far East, responsável por julgar os crimes cometidos pelo Japão na
Segunda Guerra Mundial, seguiu os modelos de jurisprudência do Tribunal de Nuremberg (KLAUS, 2016).
32 • O espírito de Yamato
14 “The kindergarten has attracted attention for requiring its young pupils to bow before portraits of the
imperial family, sing the national anthem daily, and learn the 1890 imperial rescript on education, which
emphasises sacrifice for the country”.
Leonardo Henrique Luiz • 33
Por outro lado, ao conhecer esse repertório cultural, seja por meio
dos trabalhos acadêmicos, seja pela literatura ou cultura pop japonesas,
certos elementos que muitas vezes podem ser naturalizados por quem
cresceu nesse ambiente me pareciam diferentes logo nos primeiros
contatos. O próprio tema, que perpassa todo o livro, pode se encaixar
nesse padrão. É comum que em meio aos produtos culturais referentes
ao Japão, mesmo atualmente, haja o contato com a perspectiva naciona-
lista da cultura japonesa que exalta os valores patrióticos e certo
espírito japonês, colocando “as coisas do Japão” em um pedestal
17 Apesar de ser um texto rico em informações sobre as atitudes e pensamentos profundamente enraizados
na cultura japonesa, esse livro foi escrito como produto final do encargo que a autora recebeu em 1944 pelos
Estados Unidos de estudar o Japão para melhor combatê-lo. Portanto, apresenta certos pontos parciais em
relação à cultura japonesa no que se refere aos motivos da guerra. Além disso, é um trabalho antropológico
sem observação de campo (no Japão), na medida em que a autora entrevistou apenas os japoneses que
imigraram aos Estados Unidos e prisioneiros de guerra.
36 • O espírito de Yamato
FERRAMENTAS EPISTEMOLÓGICAS
o qual a religião pode ser entendida como campo 18 que atua legitimando
a ordem social com símbolos, regras e práticas definidas. Devido à rela-
ção próxima com o Estado japonês, o xintoísmo pôde atuar em vários
setores da vida pública desde o século XIX. Entretanto, conforme argu-
mentaremos ao longo do livro, essa atuação não era entendida pelos
japoneses como algo religioso, apesar de ser considerada sagrada.
Se observarmos o caso da fonte selecionada, o Kyōiku Chokugo,
desde sua publicação em 1890 até a revogação em 1948, atuou nessa con-
dição de sagrado, mas não propriamente religioso. Por mais que os
japoneses do período tenham lido e conservado o texto como algo que
transcendia o mundo profano, o Kyōiku Chokugo não era colocado como
parte de uma religião específica, sendo nesse sentido, por exemplo, di-
ferente da Bíblia cristã. O edito é algo que só faz sentido tendo como
base o habitus japonês pós-Era Meiji, composto por um repertório dis-
cursivo em torno da nação. Quando os imigrantes japoneses chegaram
ao Brasil, esses indivíduos trouxeram parte significativa desse habitus,
que foi reproduzido de diversas formas. Tal fenômeno é difícil de ser
percebido devido à lacuna nos documentos, entretanto defendemos que
a seleção do Kyōiku Chokugo como fonte possibilita demonstrar a pre-
sença do habitus nacionalista japonês.
Além disso, a própria fonte passou por modificações no território
brasileiro. A mais perceptível se deu na década de 1980, quando o texto
19 A cultura material é entendida aqui pela definição de Julian Droogan (2013, p.14, tradução de Richard
Gonçalves André), que a define como “[...] elementos manufaturados da cultura que são materialmente
corporificados, tais como artefatos, arquitetura, monumentos e assim por diante, bem como objetos que são
materializados, mas não são geralmente vistos como manufaturados, como produtos naturais, lugares e, de
fato, paisagens como um todo [...]”.
40 • O espírito de Yamato
ESTRUTURA
20 Conforme é evidenciado ao longo do trabalho, o xintoísmo possuiu várias faces no Japão moderno. Essa
religião era encontrada em relação com o Estado, referenciada como Kōshitsu Shintō 皇室神道 – Xintoísmo
da Casa Imperial ou, mais precisamente, Kokka Shintō 国家神道 – Estado xintoísta; ou como religião
independente do Estado, conhecida como Kyōha Shinto 教派神道 – traduzido muitas vezes para o inglês
como “Sect Shinto”; entretanto, o termo Kyōha não tem o mesmo significado pejorativo de sect ou seita,
portanto preferimos traduzir como “escolas xintoístas” ou “denominações xintoístas”. Além disso, temos o Jinja
Shintō神社神道 – Xintoísmo de santuário, que pode ser entendido como os santuários locais nos quais era
realizada a adoração para algum kami.
42 • O espírito de Yamato
ou outros termos como kokutai 21, kokugaku 22, yamato damashii, entre ou-
tros, para analisar algum aspecto específico do período. Entretanto,
salientamos que esses vários elementos estão em constante diálogo e
tomaram forma em 1890 no Kyōiku Chokugo. No entanto, como o pre-
sente livro tem a religião como foco, nossa abordagem privilegia a
discussão com base no xintoísmo.
21O kokutai 国体 pode ser definido como “estrutura nacional”, englobando o sistema de governo e a
identidade nacional (KLAUS, 2016). Defendemos que a ideia de nacionalidade japonesa entre 1868-1945 não
pode ser separada da devoção imperial, apesar dessa relação ter variado e se tornado mais próxima nos anos
da Segunda Guerra Mundial.
22O kokugaku 国学 refere-se à corrente intelectual japonesa que rejeitou as influências budistas e
confucionistas, enfatizando os aspectos xintoístas anteriores a esses valores “estrangeiros” (KLAUS, 2016).
48 • O espírito de Yamato
23 Período entre 1603 e 1868, em que a família Tokugawa exerceu o monopólio político. Segundo André (2011,
p. 38), “[…] os Tokugawa permaneceram à frente da vida estatal japonesa, unificando o país e fechando
relativamente suas portas ao Ocidente, excetuando-se algumas trocas com os holandeses”.
50 • O espírito de Yamato
26 “[...] during Tokugawa times and even earlier, Japanese thinkers themselves had developed their own kind
of an ideal nation, based on religious concepts associated with a generic system called ‘Shintô’”.
54 • O espírito de Yamato
27 Apesar de aparentemente pequeno, o Japão é formado por um conjunto de ilhas, que, somadas, têm uma
extensão territorial maior que países como Alemanha, Reino Unido e Itália (FERGUSON, 2007). As quatro
principais ilhas são Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku (ver mapa 1). Entretanto, conforme demonstra Elisa
Sasaki Pinheiro (2009), dentro da suposta uniformidade da sociedade japonesa existem diversos grupos que
são considerados minoritários, como é o caso dos habitantes de Okinawa (sul) e Hokkaido (norte), ilhas que só
foram formalmente anexadas durante a Era Meiji e passaram pelo processo de imperialismo colonialista.
28 “The spiritual principles of the Meiji Restoration, and thus of the modern, Meiji-period nation-state of Japan,
were developed and shaped into a powerful political ideology by the scholars of this important national school
at the end of the Edo period”.
Leonardo Henrique Luiz • 55
29 Os daimiō foram indivíduos poderosos, que controlavam grandes porções de terras (os han) durante o
xogunato. De maneira particular, o daimiō de Mito, atual província de Ibaraki, se destacou por ter concorrido
com o poder do xogunato e se colocado ao lado do imperador Meiji, cedendo armas, conhecimento e o
aparato ideológico (ANDRÉ, 2011).
30 De acordo com Covington Scott Littleton (2010), O Kojiki foi compilado a pedido do clã Yamato por um
cortesão chamado Ono Yasumaro, que buscou realizar a genealogia dos principais clãs que dominaram a vida
política no Período Nara (710-794 d.C.), no qual foi enfatizada a descendência do clã de Yamato com
Amaterasu-o-mi-kami (uma forma de estabelecer a supremacia sobre os demais clãs). Posteriormente, os
principais clãs japoneses reagiram a esse texto encomendando o Nihon Shoki, no qual “[…] os autores do
Nihonshoki sentiram-se obrigados a recontar cada evento mitológico importante de uma série de perspectivas
diferentes, refletindo as versões consideradas sagradas pelos clãs principais. O resultado foi uma mistura de
soluções conciliatórias, redundâncias e até contradições” (LITTLETON, 2010, p. 37).
56 • O espírito de Yamato
31 伊勢神宮 (Isejinguu) é um complexo, formado por vários santuários, dedicado ao culto da deusa Amaterasu.
Segundo Klaus (2016, p. 180), o santuário é a “[...] ‘Meca’ do Xintoísmo imperial”, centrado na figura da família
imperial.
32 A periodização da história japonesa pode variar de acordo com os autores, mas um bom exemplo pode ser
encontrado na definição de Teeuwen e Scheid (2002, p. 196): “Nós usamos ‘período antigo’, ‘período medieval’,
‘período pré-moderno’, e ‘período moderno’ como equivalentes dos termos japoneses kodai, chûsei, kinsei e
kindai. ‘Antigo’ e ‘clássico’ referem-se aproximadamente aos períodos até o século XII, ‘medieval’ entre os
séculos XII e XVI, ‘pré-moderno’ dos séculos XVII ao XIX e ‘moderno’ a partir da Restauração Meiji em 1868”.
Leonardo Henrique Luiz • 57
Scheid (2002), Fabio Rambelli (2002), Hiromi Maeda (2002), entre outros,
demonstram a existência de uma série de outras relações entre os bu-
dismos e os xintoísmos que podem ser constatadas ao longo da história
japonesa.
Da mesma forma, o confucionismo exerceu um papel importante
no discurso xintoísta. De acordo com a interpretação de Klaus, que tam-
bém adotamos aqui, o nacionalismo japonês que ressaltou as virtudes
individuais (perspectiva presente no Kyōiku Chokugo) esteve ligado às
propostas da Escola de Mito, por meio das quais há também uma nega-
ção das influências estrangeiras. Contradição curiosa, pois grande parte
do discurso moral xintoísta tem base no confucionismo. Ao discutir a
tradição confuciana clássica, que concerne principalmente aos traba-
lhos de Confúcio (552-479 a.C.), Mario Poceski (2013, p. 43) argumenta
que, apesar das transformações políticas na China, os princípios básicos
do confucionismo continuaram a “[…] moldar os valores e comporta-
mentos de muitas pessoas na China e no resto do Leste da Ásia”. Mesmo
tendo várias faces,
O IMPERADOR E O ESTADO
33 “[…] while China must resort to complicated systems of rationally based ethics in order to bring its supposed
spiritual chaos under control”.
Leonardo Henrique Luiz • 61
34 “[...] argue that the original role of the Emperor is not political but religious/cultural [...]”
35 “In the same manner, the Prime Minister today is approved by the Emperor for form's sake. This perfunctory
approval by the Emperor does not make any difference in the Prime Minister's role for the Japanese people, but
through the ritual of approval, the Emperor looks more powerful than the Prime Minister, at least to foreigners”.
62 • O espírito de Yamato
ponto de vista estrangeiro, tenno parece ser o Imperador que faz a exi-
bição do poder do Japão, seja em operações militares ou econômicas” 36
(FURUNO, 1990, p. 12). Essa é uma percepção construída por um autor
da década de 1990, portanto devemos nos perguntar como ela foi cons-
truída. Não teria essa imagem do imperador, como um símbolo do poder
japonês aos olhos estrangeiros, de ser considerada uma permanência
com base nas representações criadas pelo próprio Japão entre 1868 a
1945? Além disso, devemos considerar que o Ocidente recebe conveni-
entemente essa representação do corpo sagrado imperial, pois não é
estranho para os ocidentais reconhecer na figura real os símbolos do
poder político, mesmo com características próprias, no caso japonês.
Ao discutir o papel do imperador e do Estado, é necessário levar em
consideração as transformações ao longo do tempo. Nesse sentido, as
mudanças do período Meiji possuem uma série de particularidades. No
caso do Imperador Meiji (1852-1912), Midori Ichikawa (2000, p. 22) argu-
menta que ele pode ser considerado o “primeiro imperador ‘visível’ do
Japão”, pois antes da Era Meiji os imperadores raramente se ausenta-
vam do Palácio Imperial e a maioria da população não estava
familiarizada com eles. Segundo a autora,
Algumas pessoas que viviam na parte norte do Japão, por exemplo, não sa-
biam da existência do imperador. Habitantes do nordeste e do distrito de
Kanto tinham a tendência de respeitar os xoguns (governantes do Japão) e
lordes feudais do antigo governo Tokugawa, mas ser indiferentes ou ter
36 “The Emperor is not the most powerful individual in the eyes of the Japanese people. In the eyes of
foreigners, however, tenno appears to be the Emperor who makes a display of Japan's power either in military
operations or in economic advances”.
Leonardo Henrique Luiz • 63
37 “Some people who lived in the northern part of Japan, for example, did not even know of the existence of
the emperor at all. Inhabitants in the northeastern and Kanto district tended to respect shoguns (rulers of Japan)
and feudal lords of the old Tokugawa government but be indifferent or have antipathy to the new Meiji
government and the Meiji Emperor. Some people who inhabited the Kanto district called the Meiji Emperor
ten-ko or kin-ko. The words, ten and kin, mean emperor, but ko is a word that is put after a name to belittle its
referent”.
38 “The Meiji Emperor was welcomed by people from government offices and schools at all the places he
visited throughout his journeys. However, many local people showed no respect for the emperor. A journalist
who accompanied the emperor on one of the journeys wrote that along the road there were local people with
dirty working clothes who were expecting to see only something unusual”.
64 • O espírito de Yamato
39 “The Imperial Rescript on Education began to have absolute power in the education system. Nobody could
object to it. Through this rescript, all the people in the state learned that they had to obey the emperor because
he and his ancestors had been the leader of Japan, which was a legend renewed and promoted by the Japanese
government” (grifos nossos).
Leonardo Henrique Luiz • 65
40 Além disso, Kanto é uma das principais regiões do Japão, formada por cidades como Tóquio, Chiba,
Yokohama etc.
41 “[...] a centralized polity, a conscript army, a national tax base, a system of compulsory education, and a host
of other measures taken toward the goal of creating, in the phrase of the day, a 'wealthy nation and strong
military.' In fact, the early Meiji state did far less than it claimed to have done, not least because it had neither
the power nor the resources to implement the surge of paper reforms it promulgated in the late 1860s and
early 1870s”.
66 • O espírito de Yamato
Para a autora, o Estado Meiji nas primeiras décadas não era tão
forte a ponto de realizar as transformações locais. Segundo Gluck, fo-
ram as elites locais que fizeram grande parte do processo de
modernização. Por exemplo, apesar da proposta de levar a educação bá-
sica para todo o país contida no Código de Educação Básica de 1872,
O governo pode ter legislado o sistema escolar nacional, mas foram as elites
locais que construíram as escolas e pagaram os professores, e foram as fa-
mílias que pagaram as mensalidades para seus filhos […] As famílias
pagavam porque elas acreditavam no valor prático da aprendizagem e por
causa das expectativas sociais. Elas também resistiram ao novo sistema por
suas próprias razões, protestando contra salários, às vezes destruindo edi-
fícios escolares e recusando-se a enviar seus filhos para a escola em vez dos
trabalhos no campo. Em resumo, as pessoas ajudaram a modernizar-se (e
nacionalizar-se), mas eles não o fizeram sempre conscientemente e quase
sempre em busca de seus interesses (GLUCK, 2011, p. 682-683, grifos nos-
sos) 42.
42 “The government may have legislated a national school system, but it was the local elites who built the
schools and paid the teachers, and it was the families who laid out the tuition for their children. [...] The families
paid up because they believed in the practical value of learning and because of social expectations. They
resisted the new system for their own reasons, too, protesting salaries, sometimes destroying school buildings,
and declining to send their children to school rather than to work in the fields. In short, the people helped to
modernize (and nationalize) themselves, but they did so not always consciously and almost always in pursuit
of their own interests” (grifos nossos).
Leonardo Henrique Luiz • 67
Com a sua derrota na guerra, o Japão não perdeu apenas antigas colônias,
mas, também as memórias de sua empreitada colonial. Ao trocar o papel de
colonizador do Japão com os EUA, o melodrama EUA-Japão passou a escon-
der a conexão histórica do Japão com a Ásia no discurso social japonês do
pós-guerra.
por meio dos Zaibatus 43 era conduzido pelo Estado Meiji (BEASLEY,
1989).
De acordo com Beasley (1989), a primeira guerra contra a China em
1894-5 ocorreu por essa exploração japonesa a um antigo estado súdito
chinês (a Coreia era mantida como um estado tributário ao Império Chi-
nês). Como resultado da vitória japonesa, a Coreia se tornou sua zona de
influência. Além disso, a ilha de Taiwan e a península de Liaodong (Lia-
otung) foram invadidas pelo Japão. Segundo o autor (BEASLEY, 1989, p.
69),
43 Termo para se referir ao conjunto dos conglomerados financeiros e industriais do Império japonês, essas
empresas exerceram o domínio econômico no Japão até o final da Segunda Guerra Mundial, sendo inclusive
incentivadoras de projetos imperialistas. Empresas como Mitsubishi, Mitsui, entre outras, têm raízes nesse
período.
44 “Japan's victory over China in 1894-5 at once undermined the stability of the treaty port system. By
demonstrating that China's weakness was much greater than had been thought it encouraged the powers, led
by France, Germany, and Russia - ostensibly seeking compensation for 'defending' China against Japanese
claims to Liaotung - to insist on demands which China had previously been able to refuse”.
74 • O espírito de Yamato
45 “Such uncertainties were to persist throughout the history of the Japanese colonial empire. Different
governments at different times were to prefer different emphases. However, there were some assumptions that
were widely held, at least with respect to the 'sovereign' colonies of Taiwan, Korea, and Karafuto [Sul da ilha
Sacalina]. One was the desirability of their being ultimately integrated with Japan, both culturally and politically.
Another was that Japan had a civilizing - or perhaps one should say modernizing - mission, which applied as
much to promoting education and public health and economic development as it did to political behavior.
With the passing of time there was a tendency to put such ideas into a traditionalist framework of Japanese
political thought, that is, to relate colonies to the 'national polity' (kokutai), implying a special relationship with
a divinely descended emperor”.
46 Foi a mais importante das divisões dentro do exército imperial japonês. Responsável pelas ações na
Manchúria, muitas vezes sua atuação foi considerada independente da vontade de Tóquio. Entre suas filas
surgiram importantes membros do governo japonês, ocupando cargos militares e civis, como Hideki Tōjō, um
dos políticos mais importantes do Estado Showa durante a Segunda Guerra Mundial e que acumulou diversos
cargos, entre os quais o de Primeiro-Ministro (1941-1944) (BEASLEY, 1989).
76 • O espírito de Yamato
47 “In the early-1930s, with Japanese agriculture mired in depression, prominent Nohonshugisha [intelectuais
e pensadores sobre agricultura] began to look to the Manchurian countryside as a solution to the problems
hampering Japanese agriculture. This intersected with the strategic designs of Kwantung Armyplanners who
proposed to move Japanese settlers to the border regions of north Manchuria to block Russian advances and
tamp down Chinese resistance. From the outset agricultural emigration was linked to Army objectives, thereby
creating a mix of the military and the ideological that was fraught with contradictions - presenting problems
for both the planners of emigration policy and the people who went to the continent as settlers”.
Leonardo Henrique Luiz • 77
48 “The preliminary phase of the emigration movement was set in motion with a five-year trial emigrations plan
that aimed at putting 1,000 colonists into north Manchuria in the first two years of the program. This first farmer-
soldier stage gave rise to many of the long-term trends that characterized the migrations to Manchuria:
recruiting in the north and central regions of Japan, locating colonists in strategic zones, a racial harmony
ideology, and the creation of a heroic/patriotic imagery used to attract settlers and energize public support
behind the movement”.
78 • O espírito de Yamato
49 “Every level of government was mobilized in the effort to meet recruitment quotas. But the Patriotic Youth
Brigade movement relied most heavily on community and village leaders and especially principals and teachers
to convince boys to join. School authorities encouraged students to volunteer for the program through
classroom lectures, special meetings, and regular programs, invoking patriotism and Japan's special mission in
Manchuria and Asia. National and local governments sponsored a variety of teacher training sessions and tours
to Youth Brigade training centers designed to inform and indoctrinate educators with the Manshu nogyo imin
ethos. Teachers then transmitted the message to the schools.”.
50 O autor ressalta o papel decisivo dos professores: “Em uma tabela de 1941, listando as motivações para aderir
a Brigada Juvenil, 46% apontaram ‘orientação do professor’ como a principal razão (3422 de 7299)” (McDOWELL,
2002, p. 47).
Leonardo Henrique Luiz • 79
Leste Asiático foi publicado em 1941. Além disso, muitas prefeituras imple-
mentaram programas destinados a preparar os rapazes para a inserção na
Brigada Patriótica da Juventude. Dirigidos pelas escolas, os programas ge-
ralmente consistiam em sessões de curta duração com uma programação
diária de cursos fortemente ponderados para doutrinar os estudantes com
o “espírito colonizador” e uma “consciência continente”, enquanto também
proporcionavam treinamento prático na agricultura e na indústria. Um
programa nacional em uma escola secundária de Maebashi tipifica a com-
binação de emigração e educação no sistema escolar durante a guerra.
Representantes dos meninos da segunda série foram selecionados para uma
sessão de treinamentos de quatro dias, focada em desfiles militares, exer-
cícios físicos e palestras, tudo com o objetivo de inspirar a ideia de “colono
continental” entre os participantes. No último dia, os meninos foram obri-
gados a anunciar se planejavam se inscrever na Brigada Juvenil, com os que
se candidatavam obrigado a apresentar uma explicação por escrito descre-
vendo suas razões para não se juntar 51 (McDOWELL, 2002, p. 47-48).
51 “After 1940 special 'rise-of-Asia' (koa) courses were added to the school curriculum and a textbook extolling
the Japanese mission in East Asia was published in 1941. Further, many prefectures implemented programs
designed to prepare boys for induction into the Patriotic Youth Brigades. Directed by the schools, the programs
usually consisted of short-term sessions with a daily schedule of courses heavily weighted to indoctrinating
students with 'colonizing spirit' and 'continental consciousness' while also providing hands-on agricultural and
industrial training. A Maebashi national high school program typifies the blending of emigration and education
in the wartime school system. Representatives from second-grade boys were selected for a four-day training
session that focused on military parades, physical exercise, and lectures all with the goal of infusing a
'continental colonizing' ideal in the participants. On the last day the boys were required to announce whether
they planned to enroll in the Youth Brigades, with non-applicants obliged to submit a written explanation
outlining their reasons for not joining”.
80 • O espírito de Yamato
52 “Education was divided between classroom instruction, physical exercise, and technical training. Lessons
were given on the 'imperial spirit' of the nation (kokoku seishin), topics related to Manchurian emigration
(Manshu shokumin mondai), agricultural manufacturing and production, Japanese and 'Manshugo,'
Japanese/Manchurian history, hygiene, and nutrition. For physical/martial training the boys practiced kendo,
judo, and sumo. Finally, the participants learned agricultural methods, architecture, and road construction”.
84 • O espírito de Yamato
[...] Royama afirmou que o que existia entre a Manchúria e o Império japo-
nês não era uma fronteira territorial moderna, mas uma “zona fronteiriça”
(henkyô chitai 辺境地帯). Essa forma peculiar de fronteira, Royama argu-
menta, “pertence ao [estágio particular] antes do estabelecimento de um
Estado moderno soberano, isto é, a etapa de um Estado tribal (shuzoku kokka
種族国家)”. A “zona de fronteira” se desenvolveria em uma fronteira mo-
derna apenas quando o “Estado tribal” evoluísse para um “Estado étnico”
(minzoku kokka 民族国家). A zona de fronteira pré-moderna finalmente de-
sapareceria quando um Estado-nação (kokumin kokka 国民国家) surgisse.
Implícita nessa proposição estava a suposição de que a China contemporâ-
nea não era nem mesmo um “Estado étnico”, muito menos um Estado-nação
soberano 53.
53 “[...] Royama claimed that what existed between Manchuria and the Japanese empire was not a modern
territorial border, but a 'frontier zone' (henkyô chitai 辺境地帯). This peculiar form of border, Royama state,
'belongs to the [particular stage] prior to the establishment of the modern sovereign state, that is, the stage of
a tribal state (shuzoku kokka 種族国家).' The 'frontier zone' would develop into a modern territorial boundary
only when the 'tribal state' evolved into an 'ethnic state' (minzoku kokka 民族国家). The premodern frontier
zone would finally disappear when a sovereign nation-state (kokumin kokka 国民国家) came into being.
Implicit in this proposition was the assumption that contemporary China was not even an 'ethnich state,' let
alone a sovereign nation-state”.
Leonardo Henrique Luiz • 85
54 “Differences between the two factions were in many respects a matter of emphasis, since both
acknowledged a common objective in creating a 'purer' and more powerful Japan”.
86 • O espírito de Yamato
55 “Analyses of imperialism too often treat it as static. [...] Japan's began with what might be called a period of
'dependency' [...] In the second stage, starting in 1905, Japanese imperialism became more self-assertive. Like
Bismarck's Germany a generation earlier, Japan behaved after the Russo-Japanese War as an abrasive latecomer,
seeking equality of esteem not only through an insistence on treaty rights, but also through the acquisition of
spheres of influence. Finally, after 1930 - though there had been indications of it as early as the First World War
- Japanese leaders set out to substitute a Japan-centred system of imperialism in East Asia for that which they
had inherited from the nineteenth-century West. To do so required both a restructuring of economic patterns
and the promotion of a specifically 'Asian' ideology”.
Leonardo Henrique Luiz • 87
56 Grupo de religiões que surgiram a partir da segunda metade do século XIX, tendo a maior expansão com o
término da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Algumas dessas religiões são: Seicho-No-Ie, Igreja Messiânica
Mundial, Perfect Liberty, Tenrikyo.
Leonardo Henrique Luiz • 91
57 “Studies of shinto in Western languages are few and far between. In this journal, too, articles on Shinto have
been rare. Compared to Japanese Buddhism, or Japanese New Religions, Shinto has had little appeal to both
scholars and students even in Japan. Yet, few university courses about Japanese culture, history, and religion
manage to get around the subject altogether”.
58 “Also there exist argument whether it is appropriate to regard Shinto as religion. Therefore, we have
fundamental problem in what points Shinto is distinguished from Japanese culture in general”.
Leonardo Henrique Luiz • 93
59 “In the course of a series of symposium, a basic question has been brought about. It is whether or not Shinto
should be regarded as independent religion in Japanese history. And Shinto is regarded as a religion from
ancient time. Among Japanese scholars of Shinto studies, these questions have ever hardly been argued.
However, ideas suggested by Kuroda Toshio that Shinto had been constructed in the early modern age was
accepted among some European scholars” (grifos nossos).
94 • O espírito de Yamato
Distinguindo entre os cultos aos kami por um lado, e xintoísmo por outro,
torna-se possível observar o xintoísmo como uma série de tentativas de im-
por um foco unificado sobre o fragmentado culto aos kami, ou criando uma
60 Ao contrário da maioria dos estudiosos do budismo até então, Kuroda formula uma teoria denominada
“Sistema Kenmitsu” (顕密体制 – kenmitsutaisei). Essa teoria defende que, no período “medieval japonês”
(séculos XII-XVI), as religiões dominantes não eram os “Novos Budismos de Kamakura”, isto é, as escolas Zen,
Jodô e Nichiren, mas sim o Budismo Kenmitsu, composto por escolas como Tendai e Shingon. Essas escolas
dominantes incorporavam um sistema exotérico-esotérico, no qual as práticas da religiosidade xintoísta eram
incorporadas ao repertório budista (KURODA, 1981). Esse processo era justificado por intermédio do sistema
honji suijaku (本地垂迹), em que os kami xintoístas eram apropriados pelos monges budistas como
manifestações dos Budas no Japão. Sobre isso, ver também Gonçalves (1971) e Rambelli (2002).
Leonardo Henrique Luiz • 95
61 “Distinguishing between kami cults on the one hand, and Shinto on the other, makes it possible to view
Shinto as a series of attempts at imposing a unifying framework upon disparate kami cults, or at creating a
distinct religious tradition by transforming local kami cults into something bigger”.
62 “My purpose was – and still is – to show the deep links between pre-modern and modern Japan in the
intellectual history of Shintô and religious thought, especially by investigating the function of Shintô as a
religious system to legitimize political, i.e., imperial power, a trend which culminated in the concept of a specific
Japanese national polity (kokutai) during late Tokugawa and early Meiji times” (grifos no original).
63 “He [Teeuwen] particularly criticizes its presentation of Shintô history as a straight, continuous development
from pre-modern times to modern governmental State Shintô”.
96 • O espírito de Yamato
64 Para uma visão mais ou menos completa desse debate, ver a resenha feita por Teeuwen (1999) sobre a
primeira publicação do livro de Klaus e o “Epilogue” (KLAUS, 2016, p. 379) acrescentado à nova versão do livro
Kokutai.
Leonardo Henrique Luiz • 97
65 “[...] supported the foreign military ventures through the concept of the world as a single family”.
Leonardo Henrique Luiz • 99
66 “Strongly offended by this interpretation, postwar scholars affiliated with Shrine Shinto who are active even
now, such as Ashizu Uzuhiko, Sakamoto Koremaru, and Nitta Hitoshi have tried to draw a different picture based
on the historical evolution of State Shinto. These scholars suggest that Shrine Shinto was not always allied with
the militarist, expansionist, and totalitarian ideologues who advocated the Kokutai discourse. Dividing Shrine
Shinto from the practice system based on the Kokutai discourse and emperor worship, they emphasize certain
events that reveal that Shrine Shinto was not consistently treated well by the state”.
100 • O espírito de Yamato
Em contraste com o Ise Hall of Imperial Studies, o Institute for the Study of
the Imperial Classics não foi uma instituição pública, mas sua fundação re-
fletia as preocupações do governo, na medida em que podemos
anacronicamente descrevê-lo como uma instituição do “terceiro setor” 68.
autores que não fazem parte dessas duas instituições são professores,
principalmente no Japão, Alemanha e Estados Unidos, em departamen-
tos de Sociologia, Estudos Orientais e Estudos das Religiões, como
apontado acima.
De qualquer forma, as críticas dos intelectuais xintoístas à inter-
pretação de Murakami, apresentadas por Shimazono (2009, p. 97),
tiveram como principal contribuição a ênfase na necessidade da con-
textualização no uso do termo Estado xintoísta. De acordo com esse
grupo, Murakami estabelece a ligação da religião com o Estado como um
contínuo, enquanto essa relação teria variado desde a Restauração
Meiji, com aproximações mais intensas nos anos anteriores à Segunda
Guerra Mundial.
Nesse sentido, no presente livro, adotamos a maneira conceitual
que Shimazono (2009, p. 99) define a relação do xintoísmo com o Estado:
“O xintoísmo pode ser entendido com um sistema coerente de práticas
e ideias religiosas unidas em torno da crença nos kami japoneses. O ‘Es-
tado xintoísta’ foi formando quando esse sistema conceitual e de
práticas se relacionaram com Estado, encontrado em partes do xinto-
ísmo, uma nova coerência.” 69 Essa distinção é importante, pois
possibilita perceber a gradual aproximação da religião com o Estado (no
período de 1868 até 1945) e como o currículo escolar reforçava o ensino
da ética e da história com formas nacionalistas, sacralizadas pela publi-
cação do Kyōiku Chokugo em 1890.
69 “Shinto might be understood as a somewhat coherent system of practices and religious ideas united in the
belief in the kami of the Japanese land. ‘State Shinto’ was formed when those conceptual systems and practices
that related to the state, found in part of Shinto, acquired a new coherence”.
102 • O espírito de Yamato
O XINTOÍSMO E O ESTADO
Como uma prática costumeira desde que Hokkaido foi incorporada no co-
meço do período Meiji, o governo local estabeleceu um santuário estatal
classificado como o mais alto em cada colônia. Esses santuários eram
70 “At the time of the Meiji Restoration, the only shrine outside of Japanese territory existed in the Japanese
residential area near Pusan, the only Korean port open to Japan in the early modern period”.
104 • O espírito de Yamato
71 “As a customary practice since Hokkaido was incorporated at the beginning of the Meiji period, the home
government established one state shrine to be ranked highest in each colony. Those shrines were known as Sō
Chinju 総鎮守, and were dedicated to the general guardian deities in each region”.
Leonardo Henrique Luiz • 105
[…] Ele visitou a casa de cada colono e conversou avidamente com cada pes-
soa. Descrevendo-a como ‘minha guerra sagrada (seisen 聖戦), ele tentou
convencer os colonos a construírem o santuário, compartilhando sua con-
vicção de que ‘a devoção dos imigrantes japoneses ao culto nos Santuários
xintoístas podem mudar as pessoas do país acolhedor. Transformando os
sentimentos anti-japonês em sentimentos pró-japoneses’ 73 (KOJI, 2010, p.
59).
72 “[…] Japanese diplomatic authorities were also uncooperative and had been unwilling to issue him a
passport because they wanted to avert cultural friction that might result from his Shinto activities in a mainly
Christian country”.
73 “[…] he visited each settler’s home and eagerly talked with the people. Describing it as “my sacred war”
(seisen 聖戦), he zealously tried to persuade the settlers to build the shrine, sharing his conviction that the
“Japanese immigrants’ pious worship of Shinto shrines may move the people in host countries. It can turn anti-
Japanese sentiment into pro-Japanese feelings.”
106 • O espírito de Yamato
74 “He was permitted to build only a tiny tentative shrine using scraps of wood and timber to enshrine the
Suwa Shrine’s talisman in a sympathizer’s yard. His activities were sometimes ridiculed by the Japanese-Brazilian
newspapers, and later the Aliança Settlers Committee petitioned the Japanese Minister of Foreign Affairs to
prohibit anyone who intended to build Shinto shrines from entering Brazil again”.
Leonardo Henrique Luiz • 107
75 “[…] were the result of forced hegemony of the mainland ‘Japanese nation’ upon others in the frontiers”.
108 • O espírito de Yamato
76 “[…] who is a journalist affiliated with the most prestigious Shinto educational institution in Japan,
Kokugakuin University”.
Leonardo Henrique Luiz • 109
77 “In a passage giving his opinion [Maeda] on the spread of Shinto in Hawaii, which he attributes to missionary
work, qualifies his statemets at the end with the caveat that the shrines were sustained by the ujiko [people
under protection of local deity] system and ‘plain faith’. This importance cannot be underrated due to the fact
that ujigami and ujiko were one of the main markers of a binding regional identity in Japan, to the point that
they were what defined and unified the community unit in opposition to neighboring village during disputes”.
110 • O espírito de Yamato
78 São os altares domésticos onde se faz o culto aos kami. Em seu interior é possível encontrar as imagens
imperiais e as representações dos kami do panteão xintoísta. Normalmente o kamidana fica no mesmo cômodo
que o butsudan (仏壇) - altar budista onde é realizado o culto aos ancestrais.
79 “[…] in order to address concerns about Shinto being a vanguard of Japanese imperialism.”
Leonardo Henrique Luiz • 111
80 “Even as the vast mayority of Issei strove to accustom themselves to American dress, learn English and prove
their loyalty to the nation, it was difficult for most of them to drop culturally engrained modes of thinking,
modes of thought partially influenced by Shinto.”
81 “When giving sermons, she exhorted her followers to maintain proper Yamato Damashii [Japanese Spirit]
and that by maintaining belief in Japan’s victory, it would surely occur. Various pamphlets from Japanese
sources were distributed at meetings, including some with strong State Shinto messages”.
112 • O espírito de Yamato
82 “[...] State Shinto is one of the expressions of nationalism that developed in many countries of the world in
the nineteenth and twentieth centuries. What is understood as Emperor System Nationalism from the
standpoint of political history or political ideological history can be seen from a different angle of religious
history to be State Shinto”.
114 • O espírito de Yamato
Todos esses locais guardam, mesmo para o homem mais francamente não-
religioso, uma qualidade excepcional, “única” são os “lugares sagrados” do
seu universo privado, como se neles um ser não-religioso tivesse tido a re-
velação de uma outra realidade, diferente daquela de que participa em sua
existência cotidiana (ELIADE, 2010, p. 28).
Leonardo Henrique Luiz • 115
83 “It is appropriate to understand ‘Shrine Shinto’ as a part of State Shinto that was controlled by the state and
that related only to a specific aspect of the State Shinto [...]”
84 “[...] State Shinto did not have sufficient competence and symbolic resources to respond to people's
individual spiritual needs. Even children indoctrinated with the principles of State Shinto at school would later
find other religions and sects to have more resources to turn to for their spiritual life. In this sense, State Shinto
and other religions coexisted based on a relation of a kind of division of roles”.
Leonardo Henrique Luiz • 117
85 “The term State Shinto within the meaning of this directive will refer to that branch of Shinto (Kokka Shinto
or Jinja Shinto) which by official acts of the Japanese government has been differentiated from the religion of
Sect Shinto (Shusha Shinto or Kyoha Shinto) and has been classified a non-religious national cult commonly
known as State Shinto, National Shinto or Shrine Shinto”.
86 “State Shinto is understood to include the whole efforts of the government that utilized the Shinto thought
and practice as the pillar for national integration from the Meiji Restoration (1868) to end of World War II (1945)”.
Leonardo Henrique Luiz • 119
87 “[...] considers State Shinto to consist of Shrine Shinto, Imperial House Shinto, and the Kokutai (National Polity)
Doctrine which advocates that Japan has a unique state system from ancient times based upon Emperor
worship. He also assumes that this system has infiltrated into every person's consciousness”.
120 • O espírito de Yamato
88 “The Japanese populace from the Meiji Restoration to the early period of the Meiji Era, however, did not
consider the social structure and the order of thought based only on such a concept of ‘religion’. [...] Shinto,
Confucianism, and Buddhism have been considered as the ‘Three Teachings (Sankyo)’ in Japan for a long time.
But it is questionable if these religions have been considered to be three different bodies of teachings equipped
with religious organizations, respectively. As the Japanese term shukyo as a translation for ‘religion’, gained an
institutional concept, attempts to use other terms such as chikyo (indoctrination), kyogaku (cultivation), and
Koudou (the benevolent Imperial way) emerged”.
Leonardo Henrique Luiz • 121
89 Literato japonês cujo estilo é marcado por romances realistas. Entre suas obras está o romance Sôbô, de
1933, que apresenta as diversas críticas ao processo imigratório.
122 • O espírito de Yamato
90 “The problem with this account is that it reifies nationalism, education, and the state, and treats the
relationships among them as static and unchanging. As a result, it tends to overlook, downplay, or dismiss
evidence of challenges to the status quo that was allegedly established by the early 1890s”.
Leonardo Henrique Luiz • 125
Esses detalhes constituem a força do livro. Eles não apenas explicam os in-
divíduos-chave que participaram nos debates sobre a política educacional,
mas também eles demonstraram as maneiras pelas quais as conexões
126 • O espírito de Yamato
91 “These details constitute the strength of the book. Not only do they flesh out the key individuals who
participated in the debates on educational policy, but also they demonstrate the ways in which personal
connections among elites facilitated the global circulation of modern ideas and institutions in the nineteenth
century”.
92 “Indeed, the problems that plague Duke's narrative are presaged in his decision to dedicate the book ‘To the
Japanese samurai who led their nation into the modern era,’ a line that smacks of the heroic narrative that
dominated an earlier generation of English-language surveys covering Japan's transformation from insular,
feudal backwater to modern nation-state and budding world power”.
Leonardo Henrique Luiz • 127
[…] pode-se dizer que Duke se afasta da narrativa padrão em sua interpre-
tação bondosa do edito – não, como frequentemente se afirma, como um
precursor do fascismo e ultranacionalismo japonês, mas como a “conver-
gência de ideias entre modernistas e tradicionalistas” e a síntese da “Ciência
Ocidental e da moralidade Oriental no século XX” (pp. 348-49) – e em seu
relato mais detalhado dos bastidores de como a versão final do edito tomou
forma 93 (LINCICOME, 2010, p. 459).
93 “[...] it may be said that Duke departs from the standard narrative is in his more charitable interpretation of
the rescript – not, as is often claimed, as harbinger of Japanese fascism and ultranationalism but as the
'convergence of ideas from the modernists and the traditionalists' and a synthesis of 'Western Science and
Eastern morality for the twentieth century' (pp. 348-49) - and in his more detailed behind-the-scenes account
of how the final version of the rescript took shape”.
128 • O espírito de Yamato
também estava presente [...]”. No original: “[...] as reported by Chief Secretary Yoshii Tōmomi from the Imperial
Household who was also in attendance [...]” (DUKE, 2009, p. 350).
96 “[...] Japanese education and the imperial institution in the modern world”.
97 “that up to now the emperor had not been directly related to education [...]”
98 “On the basis of his classroom observations, according to Motoda, the emperor concluded that the guiding
motive in education should be chukun aikoku, ‘loyalty and love of country’. The implication was certainly
understood by both parties that this meant loyalty to the emperor. Without doubt this was intended as a
criticism of the Tanaka Fujimaro [Vice-Ministro da Educação em 1874] era, when the new school curriculum was
overwhelmingly devoted to the adoption of western culture and technology to the perceived neglect of
Japanese culture and customs” (grifos no original).
130 • O espírito de Yamato
99 O motivo do assassinato é revelador das tensões da época. Mori era abertamente cristão e defendia os
valores do cristianismo para uma educação mais próxima do Ocidente. Ver, por exemplo, a citação de um
trecho do prefácio de um livro didático feito por Mori em 1888 (DUKE, 2009). Sobre o motivo do assassinato:
“Uma carta escrita pelo assassino revelou o motivo. Em um conhecido acidente, Mori teria negligenciado os
costumes no Santuário de Ise, sagrado na crença xintoísta e intimamente relacionado com a tradição imperial.
O Japan Weekly Mail relatou que Mori violou o procedimento aceito de ‘entrando no Santuário principal sem
remover seus sapatos e erguendo uma cortina sagrada com sua bengala’. Independente da veracidade do
relato dos eventos, o assassino de Mori interpretou o relato como uma afronta ao imperador”. No original: “A
letter written by the killer revealed the motive. In a well-known incident, Mori had reportedly disregarded
custom at the Ise Shrine sacred to the Shinto belief that is intimately related to the imperial tradition. The Japan
Weekly Mail reported that Mori violated accepted procedure by ‘entering the principal Shrine without removing
his shoes and by raising a sacred curtain with his cane.’ Regardless of the veracity of the accounts of the event,
the assassin interpreted Mori’s reported actions as an affront to the emperor” (DUKE, 2009, p. 345).
100 “Yamagata Arimoto, the prime minister; Inoue Kowashi, senior government official and author of the Meiji
Constitutions of 1889; Yoshikawa Akimasa, minister of education; and Motoda Nagazane, elder tutor to the
emperor were all deeply involved in the process”.
101 “Yamagata recalled in his memoirs that the emperor had personally urged the government to strengthen
morals education”.
Leonardo Henrique Luiz • 131
102 “He argued that an ‘Imperial Rescript’ should not sow the seeds of religious controversy by supporting or
criticizing any particular religion. Nor should it have a political bias favoring any party. In addition, it should not
indicate a bias toward East or West. Rather, an imperial edict must embody the emperor's desires, reflecting a
broad prospective”.
Leonardo Henrique Luiz • 133
103 “The surviving written evidence indicates that Motoda Nagaze was, in essence, the originator of ‘The
Imperial Rescript on Education’ of 1890. In other words, even though Inoue was the author of the ‘Rescript’,
Motoda was the mastermind behind it” (tradução nossa).
104 Para uma versão oficial do processo de elaboração do edito, consultar o site do Ministério da Educação do
Japão (MEXT, 2018a).
105 “[...] of the Shintôist ideology of the land of the gods and contemporary liberal thought on constitutional
law”.
134 • O espírito de Yamato
106 “Having ushered in a hasty program of Westernization during the first decade after the Meiji Restoration –
including the establishment of Asia's first system of universal, compulsory schooling, in which Neo-Confucian
metaphysics have way to Western positivism and utilitarianism – the Meiji oligarchs, we are told, were
persuaded by conservative elites that the pendulum had swung too far. This prompted a ‘conservative
counterattack’ that culminated in such measures as: promulgation of the Imperial Rescript on Education, a
stronger emphasis into the curriculum; and the reintroduction of Confucian ethics into the curriculum; the
introduction of military-style physical education (heishiki taiso) to instill discipline and respect for authority; and
increased government control over curricula and textbooks”.
Leonardo Henrique Luiz • 135
Esse parece ser um grande impasse, pois logo surge uma série de
questões, que podem ser resumidas da seguinte forma: se o edito não
tinha poder de lei, então qual era o peso real desse documento para as
diretrizes curriculares? Conforme argumenta Nolte (1983, p. 284), “Por
esse procedimento, seus autores claramente definiram o Edito como
moral, em vez de legal ou político [...]” 108. Esse objetivo moral se torna
claro ao analisar as propostas contidas no Kyōiku Chokugo (no próximo
tópico).
Apesar dessa aparente limitação de atuação do edito, é abundante
na literatura especializada a afirmação que define como esse docu-
mento teve grande prestígio quando disseminado pelo país
(SHIMAZONO, 2009). Mesmo para o governo de ocupação norte-ameri-
cano, o edito representou o xintoísmo de Estado nas esferas moral e
educacional, por isso a necessidade de revogá-lo em 1948. Segundo Shi-
mazono (2009, p. 110), o texto “Foi considerado o princípio sagrado da
educação revelado pelo imperador e, como tal, era o centro da educação
ética” 109. Por isso, no “Princípios Fundamentais das Regras do Ensino
Fundamental (Shōgakkō kyōsoku taikō 小学校教則大綱)” de 1891, é
107 “Repeal by the Diet stands in ironic testimony to the Rescript's power, for the Rescript never had the force
of law to begin with. It was issued without the counter-signature of a minister of state, which the Constitution
required of all laws, imperial ordinances, and imperial rescripts that were relevant to affairs of state”.
108 “By this procedure its framers clearly meant to define the Rescript as moral rather than legal or political [...]”
109 “It was considered the sacred principle of education revealed by the emperor, and as such, was the center
of ethics education”.
Leonardo Henrique Luiz • 137
110 Esses lugares eram miniaturas de templo budistas ou santuários xintoístas, e chamados de Hôanden (奉安
殿). Normalmente, esses pequenos santuários eram instalados dentro das escolas e guardavam as imagens do
casal imperial e uma cópia oficial do Kyōiku Chokugo. Em ocasiões solenes, como o aniversário do imperador,
a comemoração do dia da Fundação Nacional etc., esses santuários eram abertos e o diretor realizava
ritualmente a leitura do edito reverenciada pelos alunos (KITAGAWA, 1990; SHIMAZONO, 2009).
138 • O espírito de Yamato
(1990, p. 169) mostra como seu “[…] ensaio sobre a religião japonesa e
sua relação com o sistema imperial está inextricavelmente ligado às mi-
nhas próprias memórias de infância [...]” 113. Algumas experiências
relatadas nesse tópico são reveladoras, como um evento no qual o dire-
tor da escola primária onde Kitagawa estudou, durante a década de 1920,
teria sido demitido devido a uma “pronúncia errada” (KITAGAWA, 1990,
p. 170) do Kyōiku Chokugo. Segundo o autor, o diretor tinha grandes res-
ponsabilidades em relação aos objetos imperiais.
113 “[...] essay on Japanese religion and its relationship to the imperial system is inextricably bound up with my
own childhood memories [...]”
114 “The school principal preserved the edict not only by reading and implementing its program but by
guarding the text. One of the supremely important duties of the principal was to guard constantly the little iron
treasure house situated in the school yard, in which an official copy of the edict, as well as portraits of the
emperor and empress, were kept. These portraits were displayed ceremonially on important occasions so that
people could make obeisance to them”.
140 • O espírito de Yamato
ANÁLISE DO EDITO
115 “[...] many textbooks offered the complete text of the Imperial Rescript on Education at the beginning of
every volume, and in textbooks for higher elementary schools, one volume or one part of one volume was
usually devoted to an interpretation of the Imperial Rescript”.
142 • O espírito de Yamato
Assim, Inoue afirma claramente que os pontos essenciais do Edito são, por
um lado, as virtudes pessoais (Confucionistas), e por outro lado, o apelo ao
patriotismo. Mas em sua opinião, essas não são áreas separadas, mas que se
fundem em um todo espiritual inseparável sob o termo chûkun-aikoku, “le-
aldade ao governante, amor pelo país” 116 (KLAUS, 2016, p. 221-222, grifos no
original).
116 “Thus, Inoue clearly states that the essential points of the Rescript are, on the one hand, (Confucian)
personal virtues, and on the other hand, the call to widespread patriotism. But in his view, these two areas are
not separate, but rather, they merge into an inseparable spiritual whole under the term chûkun-aikoku, ‘loyalty
to the ruler, love for the country’” (tradução nossa).
117 “[...] while China must resort to complicated systems of rationally based ethics in order to bring its supposed
spiritual chaos under control”.
Leonardo Henrique Luiz • 143
118 Ver, por outro lado, o comentário sobre o Kyōiku Chokugo de Οnishi Hajime (1864-1900), que era cristão.
Uma análise da interpretação de Onishi foi realizada por Nolte (1984) e o comentário do autor pode ser
encontrado como anexo no artigo de Nolte.
119 “[...] Inoue declares that Shintô and the Japanese nation both came into being at the same time; Japanese
mythology possesses a unique character and forms the basis of Japanese ancestor worship”.
144 • O espírito de Yamato
120 Essa crítica também pode ser encontrada brevemente em Bourdieu e Chartier (2012, p. 133). Entretanto, é
preciso pontuar que o presente trabalho não tem por objetivo um exame exaustivo dos conceitos de Bourdieu.
Essa é uma consideração que pode ser problematizada em uma análise mais completa.
Leonardo Henrique Luiz • 145
121 Contudo, isso não quer dizer que defendemos a existência de uma suposta homogeneidade cultural no
Japão, mas, na ordem discursiva dos líderes Meiji, essa homogeneidade era um marco identitário, que
possibilitava a diferenciação em termos de identidade nacional. Esse discurso foi certamente propagado pelos
meios oficiais, como o Kyōiku Chokugo nas escolas, mas não anulou as diferenças culturais que marcaram as
classes sociais, os gêneros e as religiões.
146 • O espírito de Yamato
122 “O edito original foi danificado em 1923 em um terremoto catastrófico que atingiu Tóquio, e foi perdido
nos anos 1960. Mas, como o Japan Times relata, foi redescoberto no Museu Nacional de Tóquio em 2012 –
ainda danificado, mas de volta às mãos do governo. A segunda metade do documento de 315 caracteres não
pode ser aberta por causa dos graves danos, e o Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia
planeja colocá-lo no Arquivo Nacional do Japão em Tóquio para o trabalho de restauração”. No original: “The
original edict itself was badly damaged in 1923 in a catastrophic earthquake that tore Tokyo to shreds. And it
was lost all together in the 1960s. But as the Japan Times reports, it was rediscovered in the Tokyo National
Museum in 2012—still damaged, but back in government hands. The latter half of the 315-character document
cannot be opened because of severe damage, and the Ministry of Education, Culture, Sports, Science and
Technology said it plans to place it with the National Archives of Japan in Tokyo for restoration work”
(BLAKEMORE, 2017). Ver também texto no site do The Japan Times (LOST EDUCATION, 2014).
123 Segundo Sakane e Hinata, “O hiragana e o katakana são dois tipos de escrita silábica japonesa, ou seja, uma
espécie de escrita fonética, em contraposição ao kanji, ou ideograma chinês, que é uma escrita figurativa. Se o
kanji é originário da China, o hiragana e o katakana são produtos nacionais, embora estes derivem daquele. Se,
em linhas gerais, o hiragana nasceu de uma forma abreviada do kanji, o katakana é uma parte extraída do
ideograma chinês” (SAKANE; HINATA, 1997).
Leonardo Henrique Luiz • 147
朕惟フニ我カ皇祖皇宗國ヲ肇ムルコト宏遠ニ徳ヲ樹ツルコト深厚ナリ我カ臣民克ク
忠ニ克ク孝ニ億兆心ヲ一ニシテ世世厥ノ美ヲ濟セルハ此レ我ガ國軆ノ精華ニシテ教
育ノ淵源亦實ニ此ニ存ス爾臣民父母ニ孝ニ兄弟ニ友ニ夫婦相和シ朋友相信シ恭儉己
レヲ持シ博愛衆ニ及ホシ學ヲ修メ業ヲ習ヒ以テ智能ヲ啓發シ徳器ヲ成就シ進テ公益
ヲ廣ノ世務ヲ開キ常ニ國憲ヲ重ジ國法ニ遵ヒ一旦緩急アレハ義勇公ニ奉ジ以テ天壌
無窮ノ皇運ヲ扶翼スヘシ是ノ如キハ獨リ朕カ忠良ノ臣民タルノミナラズ又以テ爾祖
先ノ遺風ヲ顕彰スルニ足ラン
斯ノ道ハ實ニ我カ皇祖皇宗ノ遺訓ニシテ子孫臣民ノ倶ニ遵守スヘキ所之ヲ古今ニ通
シテ謬ラス之ヲ中外ニ施シテ悖ラス朕爾臣民ト倶ニ挙挙服膺シテ咸其徳ヲ一ニセン
コトヲ庶幾フ
明治二十三年十月三十日
御名御璽
大日本帝国 (Dai Nippon Teikoku – Império do Japão), 1890.
Our Imperial Ancestors have laid the foundation of Our Empire on a broad
basis and have deeply implanted their virtues: Our subjects all united in
their loyalty and filial piety have for generations (1) achieved their beauty.
This is the glory of Our national constitution, and on this also must Edu-
cation be based.
Ye, Our subjects, be filial to your parents, affectionate to your brothers; as
husbands and wives be harmonious; as friends be true; bear yourselves in-
humility and moderation; (2) extend your benevolence widely to all;
cultivate knowledge and practice arts, thereby developing intellectual fac-
ulties and perfecting moral capacity; further more advance public good and
promote common interests; always respect the Constitution and observe
the laws; (3) should emergency arise, offer yourselves to the state loyally
and bravely; and thus support Our Imperial Throne coeval with the Heav-
ens and the Earth. So shall ye not only be Our good and faithful subjects,
but make manifest the character inherited from your ancestors (HIRATA,
1994, p. 60-61, grifos no original) 124.
124 Segundo Hirata, essa tradução foi feita com base nessa versão do edito:
朕惟フニ我力皇祖皇宗国ヲ肇ムルコト宏遠二徳ヲ樹ツルコト深厚ナリ我力臣民克ク忠二克ク孝二
億兆心ヲーニシテ世々蕨ノ美ヲ済セルハ此レ我力国体ノ精華ニシテ教育ノ淵源亦実二此二存ス爾
Leonardo Henrique Luiz • 149
legitimidade (lembrar que o Ministério da Educação incentivava comentadores oficiais). A existência dessa
variedade inclusive reforça o poder do Kyōiku Chokugo como discurso legitimador da nação e, portanto,
cobiçado por diferentes grupos.
Leonardo Henrique Luiz • 151
Por outro lado, Klaus (2016) cita uma tradução que possui pequenas
diferenças na versão em inglês. A partir dos exemplos mostrados, po-
demos perceber as possíveis variações das traduções. Dessa forma, a
tradução para o português que sugerimos também deve ser considerada
como uma interpretação do texto em japonês, portanto, possui limites.
A tradução a seguir foi realizada por nós, cotejando a versão em japonês
com as versões em inglês citadas; além disso, atentamos para as críticas
presentes em Hirata (1994) e Pereira (2013). Apesar de ser um texto
curto, a fonte apresenta grande dificuldade para ser traduzida, portanto
buscamos dar mais prioridade às referências em relação ao xintoísmo
de Estado, ao mesmo tempo em que mantemos o texto inteligível para o
leitor contemporâneo.
128 Podemos inferir que tais disciplinas foram organizadas com base em pressupostos que apresentaram ideias
de uma longa continuidade na história japonesa, desde a fundação mitológica até os atuais reinados dos
imperadores. Nesse sentido, a história cumpriu um papel ligado à moral, de ser a mestra da vida. Em termos de
formulação de uma “consciência histórica” japonesa, Ricardo Mário Gonçalves (1975) demostra como as
formulações do budismo voltadas ao culto ao Buda Amida elaboraram uma “Teoria da Decadência” para
explicar os eventos trágicos durante o período Kamakura (segunda metade do século XII a fins do século XIII).
Segundo o autor (GONÇALVES, 1975, p. 6), essas ideias “[…] tiveram a função de dar, nas épocas de crise uma
explicação para as incertezas e calamidades e de apontar aos indivíduos um caminho para sua superação”.
129 Formam a compilação de ensinamentos atribuídos a Confúcio (551-479 a.C.).
Leonardo Henrique Luiz • 155
teus pais estão vivos, serve-os de acordo com o ritual. Quando eles mor-
rem, enterra-os de acordo com o ritual, oferece-lhes sacrifícios de
acordo com o ritual’” (CONFÚCIO, 2005, p. 8). No discurso do Kyōiku
Chokugo, a piedade filial é estendida para a figura do imperador, que
oferece sua proteção sagrada em troca da devoção. Mesmo tendo origem
chinesa, esse discurso foi mesclado ao culto aos ancestrais e transfor-
mado em algo teoricamente autêntico do Japão e sem influências
estrangeiras, principalmente com os discursos nacionalistas da Escola
de Mito.
A questão dos ancestrais imperiais (皇宗) é entendida por alguns
autores, entre os quais Benedict Anderson (2008), como o aspecto mais
importante no estabelecimento da devoção imperial e do nacionalismo,
pois é por meio desse elemento discursivo que a identidade do Império
foi construída. Inclusive, é comum a grande importância dada pelos ja-
poneses à realização do culto aos ancestrais em esfera doméstica,
mesmo teoricamente o indivíduo não pertencendo a nenhuma religião.
Por fim, o Kokutai (国体), pode ser definido como “corpo nacional”,
englobando o sistema de governo e a identidade nacional, portanto
constituiu a própria ideia de nacionalidade japonesa. Juntos, esses três
elementos formaram as principais características xintoístas presentes
no edito. Pode-se perceber que esses três elementos estão estritamente
relacionados com o imperador, pois a piedade filial confucionista era
estendida dos familiares para o governante; ao mesmo tempo, a legiti-
midade do governante Meiji vinha da suposta ancestralidade divina. Por
fim, o discurso da organização nacional não era pensado sem a presença
do imperador.
156 • O espírito de Yamato
130 “[...] both used nearly identical Chinese characters to emphasize the primary themes that run throughout
them. Although the characters for benevolence, justice, loyalty, and filial piety (jingi chūkō) were used in
different combinations of words or variations in the two documents, the meaning was essentially the same”.
Leonardo Henrique Luiz • 159
131 “[...] modern principles of statehood built on laws rooted in western-style constitutionalism”.
160 • O espírito de Yamato
sua forma mais pura no Edito Imperial de Educação de 1890 132 (KLAUS, 2016,
p. 223, grifos no original).
132 “[...] the basic principles of the Japanese »national morality,« the relationship between »national morality«
and the kokutai (Chapter III), the importance of Shintô (Chapters IV and V), bushidô (ch. VI), the characteristics
of Japanese familism (kazoku-seido; chapters VII-IX) etc. Inoue also emphasizes that the principles of the
Japanese national morality are found in their purest form in the Imperial Rescript on Education of 1890”.
133 “Japan's aggressive policy of expansion, which began in 1890, was rooted to a great extent in religious
nationalism and the belief in the superiority of the divine character of the nation, based on Shintô”.
134 De acordo com Certeau (2014, p. 253, grifo no original), “[...] entendo por ‘crença’ não o objeto do crer (um
dogma, um programa etc.), mas o investimento das pessoas em uma proposição, o ato de enunciá-la
considerando-a verdadeira – noutros termos, uma ‘modalidade’ da afirmação e não o seu conteúdo”.
Leonardo Henrique Luiz • 161
135 Além de vários pequenos confrontos com os alunos ao longo do romance, Botchan reclamava da falta de
ordem durante as comemorações públicas da vitória japonesa na guerra contra a Rússia, pois “Os alunos
cantavam os hinos militares à revelia, sem terem sido instruídos a fazê-lo, e ao terminar soltavam gritos de
guerra sem motivo aparente. Pareciam um bando de samurais desgarrados a percorrer a cidade” (SOSEKI, 2016,
p. 143).
136 “[...] to bow before Yasukuni Shrine. They justified their refusal by referring to the guarantee of freedom of
religion in Article 28 of the Constitution”.
162 • O espírito de Yamato
nikkeis. Nesse cenário, o Kyōiku Chokugo foi apropriado por meio de duas
tendências gerais: servindo como suporte ao nacionalismo japonês no
Brasil e, principalmente, às atividades de organizações nacionalistas
como a Shindō Renmei; que levaram esse discurso aos extremos; por
outro lado, esse mesmo discurso do edito que definia o ser japonês foi
apropriado servindo para a negociação da identidade dos descendentes
como “nipo-brasileiros”, realizado por meio da mudança de uma série
de significados do discurso nacionalista japonês. No presente capítulo,
buscamos discutir essas duas tendências com base nas fontes disponí-
veis, que evidenciam as apropriações do Kyōiku Chokugo.
138 “[...] Brasil Takushoku Kumiai – ブラジル拓殖組合, Corporação de Colonização do Brasil, também
conhecida como BRATAC [...]” (ANDRÉ, 2011, p. 127). Foi a empresa responsável pelo loteamento da região.
168 • O espírito de Yamato
NS: Eu via aquele raio de quadro, pendurado dentro de casa, cheio de letri-
nhas... ficava pensando: “o que será que é aquilo? Será que é uma reza, uma
oração, uma coisa budista, né”. E minha mãe... sabe, todo respeito falava:
“Tem que respeitar”… Ninguém sabia porque que tinha que respeitar aquilo
sabe? Minha mãe lia para mim (LUIZ, 2019).
Essa cópia do Kyōiku Chokugo foi adquirida pelos pais isseis, que
contrataram um japonês mascate com habilidades de escrita que pas-
sava pela região. Saiki conta que seus pais compraram o edito devido à
importância que o texto teria para eles. Essa importância foi aprendida
nas escolas no Japão, onde os alunos eram obrigados a memorizar a re-
citação, inclusive com castigos para os que não conseguiam decorar.
Segundo Saiki, até hoje, aos 95 anos de idade sua mãe consegue recitar
partes do Kyōiku Chokugo. Em suas palavras, o conteúdo estaria mais do
que “gravado”, estaria “cravado” em sua mãe; além disso, ela recita
como forma de “exercício de memória”. Houve a tentativa de passar esse
ensinamento para os filhos, ainda em âmbito doméstico, por meio de
explicações e leituras do edito (embora a entrevistada não lembre com
clareza como se davam essas explicações, além de serem “palavras do
Leonardo Henrique Luiz • 171
NS: [...] Onde ele chegava lá, fazia reverência e aí ele levantava a cabeça, todo
mundo em silêncio total. Eu achava que era uma grande coisa que estava
fazendo né… Fica assim... sabe? Aquele silêncio, coração ficava até a 1000 né
[risos] Aí ele abria, amarrava de um lado, amarrava do outro, assim sabe?
Tudo muito formal.
LHL: Aham... Abria as cortininhas...
NS: [ininteligivel] A hora que da... amarrava tudo, estava aberto, né.. com a
fotografia a mostra. Dava aquele 1, 2, 3 passo assim... não sei quantos passos,
era tudo contado… dava os passos, fazia reverência de novo. Aí começava
o... encerramento. A hora que terminava, ele ia lá, só terminava na hora que
fechava aquilo... (LUIZ, 2019).
Segunda
184510 108248 38 845 3230 11905 53947 740 917 4640
geração
Terceira
geração 29387 20560 3 102 310 2127 5574 96 49 556
[...] devo dizer que os dados estatísticos não refletem necessariamente o real
impacto do budismo sobre a sociedade brasileira. A maior parte das organi-
zações budistas abre suas portas para os interessados em ouvir palestras,
freqüentar cursos ou participar de retiros de meditação sem exigir adesão
formal dos mesmos ao budismo. Muitas pessoas têm tido suas vidas influ-
enciadas ou transformadas pelo budismo sem necessariamente terem
sentido necessidade de se converter ao mesmo (GONÇALVES, 2005, p. 206).
141 “Although most people are counted as parishioners of Shinto shrines, they do not think themselves
Shintoists, or they do not regard Shinto as a religion”.
Leonardo Henrique Luiz • 181
142 Segundo Kumasaka e Saito (1973, p. 450), “Nos fins da década de 30, as escolas japonesas multiplicavam-
se de tal maneira que, nesta época, cerca de trinta mil filhos de emigrantes japoneses estudavam em mais de
quinhentas escolas”.
Leonardo Henrique Luiz • 183
143 Entretanto, a discussão feita por Omuro não teve como objetivo principal analisar esses elementos. Além
disso, em algumas das entrevistas realizadas, a autora não perguntou sobre o Edito da educação, como é
destacado: “Então novas questões foram acrescentadas nas entrevistas realizadas por último. Uma questão
sobre o Kyōiku Chokugo, um Edito Imperial sobre a Educação, que era declamado diariamente nas escolas
japonesas até o final da Segunda Guerra Mundial. A pesquisadora desconhecia havia [sic.] essa prática no Japão
e também em algumas escolas japonesas instaladas no Brasil. Outra questão que passou a ser acrescentada nas
últimas entrevistas foi a referente ao movimento Shindô Renmei” (OMURO, 2015, p. 31).
186 • O espírito de Yamato
com o Kyōiku Chokugo, pois, como será demonstrado, o edito também foi
interpretado no Brasil como uma forma de legitimar a contribuição dos
imigrantes japoneses na sociedade brasileira.
Tendo sido educados desde o final da Era Meiji até o início da Era Showa, a
maioria dos japoneses no Brasil aprenderam a cultivar o espírito japonês
(yamato damashii) para acreditar na divindade do imperador, e se necessá-
rio, para morrer por ela e pelo imperialismo japonês que resultaria na
Esfera de Co-Prosperidade do Grande Leste Asiático (daitôa kyôeiken) 144
(SHOJI, 2008, p. 14).
144 “Having been educated from the end of Meiji Era through the beginning of Showa Era, the majority of the
Japanese in Brazil had learned to cultivate the Japanese spirit (yamato damashii) to believe in the divinity of the
emperor, and if necessary to die him and for the Japanese imperialism that was to result in the Greater East Asia
Co-Prosperity Sphere (daitôa kyôeiken)”.
145 É necessário destacar que termos como “cultura pré-migratória” são generalizações, pois abrangem
aspectos seletivos da sociedade japonesa.
190 • O espírito de Yamato
146 Existem linhas contraditórias de interpretação sobre a atuação da Shindō Renmei. Por não ser o objetivo
principal do presente texto, apresentaremos aquela que pode ser considerada com maior embasamento
historiográfico. Entretanto, existem análises que não foram ainda amplamente abordadas do ponto de vista
historiográfico e que contestam a narrativa padrão dos eventos, destacando o documentário “Yami no Ichinichi
- O Crime que abalou a Colônia Japonesa no Brasil” (2012). Nele, o diretor buscou mostrar que a Shindō Renmei
não teria relação com os assassinatos contra membros da colônia japonesa. Consideramos que essa
interpretação busca criar novas memórias sobre o evento e apresenta uma perspectiva controversa pela falta
de embasamento na documentação. Trabalhos futuros podem contribuir para entender esse fenômeno: ver
também a discussão em Carvalho (2017).
Leonardo Henrique Luiz • 191
“[...] preferia vê-los mortos do que vê-los confessar que eram membros da
Shindô [...]”.
De uma perspectiva cronológica dos atentados, o autor aponta abril
de 1946 como o primeiro pico de ataques causando feridos e mortes. O
segundo pico deu-se em julho de 1946, com a prisão dos principais líde-
res da Shindō Renmei; os assassinatos continuam, mas de forma
desordenada (CARVALHO, 2017, p. 482). Em termos oficiais, o autor ob-
serva que
Shindô Renmei pode ser entendida como um novo movimento religioso que
teve como objetivo a restauração do xintoísmo de Estado dentro do micro-
cosmo representado pelos imigrantes japoneses no Brasil, propagando uma
nova crença na vitória japonesa como o reforço de sucessivas profecias fra-
cassadas 149 (SHOJI, 2008, p. 24).
Essa interpretação de Shoji vai além das análises feitas até então
sobre a Shindō Renmei, pois acrescenta de maneira reveladora o aspecto
religioso da organização. Além disso, contribui para o presente livro ao
demonstrar a influência do Estado xintoísta na vida dos imigrantes no
Brasil, e que essa influência teve uma conexão importante com a edu-
cação: “O Estado japonês não foi transplantado para o Brasil, mas os
trabalhadores japoneses migrantes (dekasegi) no Brasil, educados nas
escolas japonesas no começo do século XX, sustentaram a religiosidade
do xintoísmo Imperial mesmo depois da Segunda Guerra Mundial” 150
(SHOJI, 2008, p. 15).
Em termos de identidade, normalmente o fenômeno da Shindō
Renmei é entendido como uma rejeição violenta da identidade brasileira
(LESSER, 2001). Entretanto, de maneira complementar, defendemos que
essa rejeição só é possível pela existência de um discurso nacionalista
149 “[…] Shindô Renmei can be understood as a new religious movement that had as its objective the
restoration of the State Shinto inside the microcosm represented by the Japanese immigrants in Brazil,
propagating a new belief in Japanese victory as the reinforcement of successive failed prophecies”.
150 “The Japanese State was not transplanted to Brazil, but the Japanese migrant workers (dekasegi) in Brazil
alone, educated at Japanese schools at the beginning of the twentieth century, sustained the religiosity of
Imperial Shinto even after the Second World War.”
196 • O espírito de Yamato
151 Antes de ser enviado para o presídio de Anchieta, Sato relata que “Eu fiquei três meses preso no
Departamento de Ordem da Política Social, dando depoimentos e sendo torturado, para contar onde estava o
dinheiro da sociedade, uma vez que eu era tesoureiro. Mas eu não abri a boca, apesar de sofrer muito. A sede
não tinha tanto dinheiro nem armas” (SATO, 2003, p. 41)
198 • O espírito de Yamato
nome para Shindô Renmei, uma associação pública, registrada por inter-
médio de um advogado brasileiro. A associação secreta foi fechada antes do
término da 2° Guerra Mundial e nasceu a Shindô-Renmei (SATO, 2003, p.
37-38).
No dia 20 de junho, vai ter a festa dos 90 anos da imigração japonesa, pedi-
ram à associação Rosso Tomono-kai, para as pessoas idosas fazerem a
limpeza do Museu [Histórico da Imigração Japonesa do Paraná – em Rolân-
dia] e exporem objetos nos lugares. Neste Museu, há muitas fotos do
passado e também fotos da família imperial. Cada vez que nos visitam, eu
sinto falta da foto do imperador Meiji que é importante e significa muito
para este Museu, uma vez que, o imperador Meiji foi quem fez o pacto de
amizade Brasil-Japão, e a primeira imigração veio no tempo dele. Como em
casa, eu tinha uma foto do imperador Meiji com a Imperatriz, doei pra o
Museu, e coloquei-o num lugar mais alto que o das outras fotos. Coloquei,
também, um quadro em que o imperador Meiji distribui, à nação: ‘Palavra
Imperial sobre a Educação’, em que fala como a pessoa deve se comportar
neste mundo: ter piedade, honestidade, Alma moral (Espírito justo), paz,
152 Sato (2003, p. 185-186) faz uma longa menção a um desses textos: “Um dia o amigo Shigueo Nishida
emprestou-me um livro que trouxe da Biblioteca Municipal de Londrina, cujo título era ‘Tasukon 100 Anos’, que
foi publicado em 20 de janeiro de 1990, escrito por Toyoshima Hidesaku, e impresso no Japão por uma editora
de Tokyo. O livro conta toda a história da venda de ienes desvalorizados, pelos oportunistas que se
aproveitaram dos patrícios, em São Paulo, e de todos os visitantes, autoridades, e de pessoas importantes do
Japão, que vieram ao Brasil após o término da guerra. Eles agradavam esses visitantes para esconder o que
fizeram aos patrícios. Eles ficaram na boa! Este livro não existe mais para ser comprado, porque os derrotistas
incineraram os volumes para não fica como prova. Mas ficou um exemplar do livro na Biblioteca Pública
Municipal de Londrina, e doado em 10 de novembro de 1999, pelo Senhor Uchikubo. Eu tenho a fotocópia de
uma parte do livro. No livro conta, como na verdade, o Japão tinha sido derrotado na 2° Guerra Mundial. As
pessoas que reconheceram logo a derrota e as pessoas que possuíam bastantes ienes, já desvalorizados, não
queriam perder e fizeram mais propaganda com notícias falsas, deixando os patrícios confusos. Estas pessoas
eram os derrotistas e ficaram como membros das diretorias das associações dos Nipo-Brasileiros. Estas pessoas,
a maioria, foram condecoradas pelo Governo do Japão, e os membros dos vitoristas, que tanto amavam a pátria,
não foram condecorados”.
200 • O espírito de Yamato
relação amigável com todo mundo, união, amor à nação, educação dos fi-
lhos, respeito aos idosos (SATO, 2003, p. 170-171, grifos nossos).
153 Essa documentação foi cortesia de Richard Gonçalves André, que gentilmente cedeu a documentação.
Leonardo Henrique Luiz • 201
São Paulo, em cidades como Santa Cruz do Rio Pardo. De certa forma,
essas várias ocorrências revelam mais uma vez a circularidade das prá-
ticas entre várias regiões onde havia a presença de nikkeis.
Conjecturamos que o próprio Kyōiku Chokugo também circulou nessas
regiões. Em termos de documentação, o relatório do Deops aponta que
tais ameaças ocorreram até a década de 1950.
Por outro lado, existe a variante em português exposta no Museu
de Rolândia. Esse Kyōiku Chokugo é uma tradução de Isami Morita (mé-
dico que atuou na região de Paranaguá), mas conjecturamos que essa
versão também esteve presente no norte do Paraná. Mas, o que exata-
mente significa a tradução de um texto, base do nacionalismo japonês,
para o português? Em primeiro lugar, é revelador a existência de tradu-
ções do Kyōiku Chokugo, tendo em vista que o texto era recitado nas
escolas japonesas, onde a língua foi um importante elemento étnico.
Uma primeira hipótese que lançamos é de que a tradução de Morita pre-
sente no museu pode ser datada um pouco mais tardiamente, e tinha o
papel de alcançar os descendentes que não sabiam falar o japonês. De
fato, no documento é assinado como sendo da década de 1980, ou seja,
uma época em que o nacionalismo japonês da Era Meiji não fazia mais
tanto sentido, pois os japoneses já estavam relativamente bem estabe-
lecidos no Brasil; portanto, defendemos que essa tradução deve ser
entendida em meio às disputas na definição da identidade nikkei.
Podemos pensar esse fenômeno em termos de negociação de iden-
tidade, no sentido proposto por Lesser (2001). Em um panorama
generalizado do período, identificamos grupos nikkeis buscando
Leonardo Henrique Luiz • 203
PEÇO, PORTANTO, A VÓS, O POVO NIPÔNICO, QUE SEJAIS BEM FIÉIS AOS
PAIS, AMIGOS ENTRE IRMÃOS, HARMONIOSOS OS CASAIS, CONFIANTES
EM COLEGAS ÍNTIMOS, HUMILDES NO COMPORTAMENTO, FILANTRO-
POS, ESTUDIOSOS EM CIÊNCIAS, PORTADORES DE PROFISSÃO,
DESENVOLTOS EM FACULDADES INTELECTUAIS, PRATICANTES DA VIR-
TUDE MORAL, DEDICADOS A INTERÊSSES PÚBLICOS, CUMPRIDORES DE
DEVERES E OBRIGAÇÕES, RESPEITADORES DA CONSTITUIÇÃO NACIO-
NAL, OBEDIENTES ÀS LEIS E HERÓICOS NOS ACONTECIMENTOS
ABSOLUTAMENTE INEVITÁVEIS, AJUDANDO SEMPRE A SORTE DA IN-
FINDA CORTE IMPERIAL.
TUDO ISSO, NÃO QUER SIGNIFICAR QUE APENAS SEJAIS SINCEROS, LEAIS
E FIÉIS À MINHA PESSOA, MAS TAMBÉM FICAIS REVELADORES DOS BONS
COSTUMES DOADOS POR VOSSOS ANCESTRAIS.
FONTES
BLAKEMORE, Erin. Japan will allow its schools to use a controversial 19th-Century
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