As Estruturas Clínicas e A Criança - pt.1
As Estruturas Clínicas e A Criança - pt.1
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ampiiada e
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As estruturas clínicas e a criança
3'edição - 4" reimpressão 2019
Coordenação editorial
Karol Oliveira
Direção de Arte
Tiago Rabello
Diagramação e Capa
Casa de Ideias
Diagramação
Berenicy Raelmy Silva
Impmso no Brasil
Printed in Brzil
u
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Este liwo é uma coletânea de artigos realizados em mo-
- =:rtos distintos, mâs que têm um ponto em comum: eles bus-
-.::: situar ústa das estruturas clínicas.
a criança do ponto de
Gostaria de agradecer a todos que contribuíram de alguma
:::ra para a produção destes trabalhos: aos colegas, aos profes-
::s. aos alunos, aos analistas e analisantes, tão importantes,
, i. um de uma forma, para a minha prráxis analítica.
De forma muito especial, agradeço a Nilza Rocha Féres,
" -- quem discuti muitos desses temas, por toda a colaboração
-: :re prestou com sua interlocução atenta, disponibilidade
- --jado. As críticas foram fundamentais para um questiona-
- : - r -r contínuo e acarretaram um aprimoramento do trabalho
" -=rrido de um maior rigor teórico. Por outro lado, o seu
- --lo possibilitou-me arriscar e não recuar diante de temas,
. :r=s. um tanto controvertidos.
.......
Prefácio à primeira ediçao ....... ........... I I
Prefácio à segunda ediçao .......19
Prefácio à terceira ediçao ........23
A criança e o sintoma ..............27
Entrevistas preliminares: o sintoma da criança e o
fantasma dos pais ........,...........39
A importância do diagnóstico
na direção da cura ...................59
O Outro da histérica ...............77
A perversão na infância ........... 85
TFREUDS.(1908).Fantasiashistéricasesuarelaçáocomabissexualidade.ln:EdiçaoStandard
Brasileira das obras psicológicas completas de. v.lX. Rio de .Janeiro lmago,1976.
i-'-\C.{ E O SINTOMÁ 3r
' FÉRES, Nilza Rocha. Frase frequentemente pronunclada por ela em seminários que realizava.
1§Ç.{ E O SINTOMA
'l
LACAN, Jacques. lntervenciones y textos 2. Buenos Aires: Manantial, 988, p. 55.
YoLlNoa MourÁo MÉgr
a LACAN, Jacq .l
ue s. Le sém i n a i re, I ivre Vl I I : Le tra n sfert. paris: Seu il. 99.1
.,.L!\CAEOS]NTOMA 35
5 FÉRES, Nilza Rocha. Estruturas clínicas e ética. Do desejo estragado ao salmão defumado
ou da neurose obsessiva à neurose histérica, p.21 -25.|nRev.Griphos-psicaná\ise,n.11,1993.
---r-r\ÇÁEOSINTOMA
Referências
FERES, Nilza Rocha. Estruturas clínicas e ética. Do desejo estragado
;o salmão defumado ou da neurose obsessiva à neurose histérica, p.
)1 -25. In: Rev. Gríphos-psicandlise, n. I 1, I 993.
Acriançaeafarnília
Constatamos, considerando a história, que â criança foi
üsta de formas distintas no decorrer dos tempos, não possuindo
o stetus que possui atualmente. Assim, na Idade Média, não
haüa um lugar particular preüsto para a criança. Esta, depois
de desmamada, era misturada aos adultos e partilhava de seus
trabalhos e jogos. A família não se ocupava dela, não controlava
a sua socialização. Ela aprendia o que devia saber ajudando
os adultos a fazê-Iol.
Nos séculos XVI e XVII aparece a preocupação com a
educação cujo objetivo era produzir adultos convenientes para
os ideais da sociedade. Ao lado da educação prática dada às
classes populares, uma educação nova era ministrada às crian-
ças da classe burguesa, que implicava vigilância, disciplina e
segregação, o que era feito pelos colégios. Surge, pois, uma
nova criança, acriança escolar, que tem como efeito recentrar
a família em torno dela.
A promoção do signifrcante educação faz aparecer o
significante criança, operando um deslocamento no qual se
funda a ordem familiar modema, estabelecendo novos modos
de laços sociais ao redor dela2.
A psicanálise produz uma ruptura. A criança que Freud
põe em cena assinala o fracasso dos educadores. Ela não é
uma criança policiada, educada, disciplinada, mas uma crian-
ça üsada pelo gozo. Esta nova criança é, antes de tudo, um
r ARIÊS, Philippe . História social da crianço e da familrrr. Rio de Janeiro: Guanabara, 1 981 .
'? CLASTRES, Guy. A criança no adulto. ln: Acríança nodiscursoonalitico. Rio de Janeiro:
)orge Zaiar, 1991 .
ENTREVTSTAS pRxLIMINARt:s: o srNToMÁ DÀ cRrÀNcA E o FANrÀsMÁ Dos PArs 41
i LACAN,Jacques.Oscomplexosfamiliares.Riode)aneiro: JorgeZahar,1987,p.22
YoLANDA MolrRÀo MErRÁ
II
O sintorua d.a criança
Como se articulam o sintoma da criança e o fantasma dos
pais? Como operar com essa articulação na clínica com criança?
A criança não vem ao analista com suas próprias pernas.
Quando os pais trazem uma criança ao analista, eles vêm com
um incômodo sobre a criança. Mas, a queixa é dos pais! O tra-
balho do analista é possibilitar que essa queixa se transforme
em uma demanda de análise da criança.
Os pais de Eduardo procuraram o analista com a queixa
de fobia escolar. Chamou a atenção que, na primeira entre-
üsta, o casal "não entendeu" que a sessão haüa sido marcada
só para eles e levaram o filho. Este fato poderia indicar como
a separação era difícil para eles, e como eles incluÍam o filho
nas suas questões. Logo na apresentação, a mãe diz que tirou
do seu nome o sobrenome paterno e que "o que tirou no seu
nome voltou no frlho". O que esse filho vinha recompor? O
que a mãe tirou e voltou no filho?
Sabemos, desde Freud, que o sintoma é um sinal e um
substituto de uma satisfação pulsional que permaneceu re-
ENTREVTSTÀS pRxLrMrNARxs: o sINroMA DÁ CRIANCA E o FÀNTÁSMA Dos pAIs
III
O sintorna e & verd.ad.e do par familirar
Desde 1938 Lacan busca dar conta da relação do sintoma
da criança com os "complexos familiares": o complexo como
fator inconsciente é a causa do sintoma e permite dar conta dos
6 LAURENI Êric. Laço inconsciente e laço social.Texto não publicado.Trad. Nilza Rocha Féres.
Er-rnevts'res pIELIMTNÂRES: o sINToM^ DA cRIANÇA E o FÁNrAsMÁ Dos pÂrs
ry
O lwgar dos pais e d.a criança:
o objeto e ofantasma
Qual é, pois, o lugar dos pais na direção da cura?
Há uma tentação de colocar os pais no lugar da causa,
=r ando o sujeito a encontrar sua
justificativa na transferência.
?cdemos levantar as seguintes questões: os pais são os res-
rnsáveis pela situação do filho? A experiência analítica leva
. lm afastamento dos pais? Enfim, como os pais aparecem na
,:-álise com criança?
Quando analisamos uma criança, a presença dos pais
siste na análise sob diferentes modalidades, que podemos
,
*fmar de momentos transferenciais.
Exemplificando, José é trazido para análise pelos pais,
-- se indagam se â separação do casal teria acarretado algum
:juízo para o filho. Muito ligado ao pai, queixa-se de medo de
' -,r sozinho e longe dos pais. Podemos resumir a demanda dos
. > na pergunta: será que a separação pode trazer algum dano?
)'Ja sessão José brinca que dois aüões tombam e explodem.
i HARTMANN,AIicia;TKACH,Carlos.Lospadres,bajotransferencia,enlaclínlcadeninos
neuróticos, p.58. ln: Nlôos en Psicoanálisis. Buenos Aires: Manantial, 1 989.
Exrnrvrstas pnELrMrNÀREs: o srNToMÁ DA cRrÁNÇA E o FÁNTASMA Dos pArs
'q MILLER, Jacques-Alain. Notas do seminário realizado em setembro de 1993: Sobre a lógico
do curo (anolaçoes pessoais).
Yolawoe lvÍounÀo Mnrne
rr FÉRES, Nilza R. Frase frequentemente pronunciada por ela em seminários que realizava.
-r IRE\IISIAS PMLIMINÀRES: O SINTOMA DA CRIÁNÇA E O FANTASMA DOS PAIS
1'z
MILLER,,lacques Alain. A entrada em análise. ln Falo n.2. Salvador: Fator, 1990.
54 Yor,c.Noi. IvÍorrRÁo MsrRÁ.
VI
r3 LESERRE,Anibal.Unninoesunhombre.Psicoanálisisconninos.BuenosAires: Atuel,1994
p.33.
PRELIMINARES: O SINTOMA DA CRIANÇA E O FÁNTASMA DOS PÁtS 55
=\TRE\TISTAS
Referências
-\RIÊS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Ja-
neiro: Guanabara, 198l ,279 p.
CLASTRES, Guy. A criança no adulto. ln A criança no üscurso
analítico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, I 99 I . I 79 p.
CLASTRES, Guy. Seminário: Sobre a perversão. ln: Letras d.a Coi.sa,
A qwestão
A questão do diagnóstico foi, inicialmente, carregada
de elementos provenientes da psiquiatria clássica. Fazer um
diagnóstico era encaixar os distúrbios de um paciente em
uma classe, buscando uma entidade nosológica que pudes-
se abrigar indivíduos com tais distribuições de sintomas. A
doença vinha para primeiro plano e o doente, de uma certa
forma, desaparecia.
Isto gerou, mesmo dentro da psiquiatria, um movimento
no sentido contrário, que recusava toda e qualquer tentativa
de encaixar o sujeito em uma entidade nosológica. É .o-o r"
dissessem: não queremos tratar da doença e sim do doente.
YoLÁNDÂ MoURÁo MEIRÂ
II
Freud: diagnóstico e tratetnento
Freud, desde o início de sua obra, apontou para a impor-
tância da elaboração de um diagnóstico inicial, que tem um
papel decisivo na direção do tratamento. Diz ele em Sobre o
lnício do'Ilatamento:
rFREUD,Sigmund(']913).Sobreoiníciodotratamento.EdiçãoStandardBrasileiradasobras
psicológicas completas de. v.Xll. Rio de Janeiro: lmago, '1 969, p.165.
I
s FREUD Sigmund (1912). Recomendaçoes aos médicos que exercem a psicanálise. ESB. v
Xll. Rio de Janeiro: lmago, 1969,p.152-153.
] -!\L']-.\ DO DIACNÓS]'ICO NÁ 1]IRECÀO I)A CI]I?A
:-r'r't, p. 153.
: 3 U L, Fra nçois. Mais a lém dos fenômenos. ln. A querela dos diagnósticos - Jacques Lacan
,. ro5. Rio de .Janeiro: Jorge Zahar, 1989, p.60.
Yor.aNoa MouRÁo MErRA
III
Entrad.a em andlise
Em primeiro lugar, nem todas as pessoas que vão ao ana-
lista têm uma demanda de análise. O diagnóstico inicial dá
subsÍdios para que o analista possa fazer o trabalho de torção
que possibilita constituir uma verdadeira demanda de análise.
A direção do tratamento seria diferente em sujeito de estru-
tura neurótica, psicótica ou perversa? Sabemos, por exemplo,
do risco que existe em se tomar um psicótico em análise: um
surto pode ser desencadeado por uma palawa. Por outro lado,
a simples proposta de deitar no divã pode ser suficiente para
desencadear uma psicose em um sujeito de estrutura psicótica.
Em segundo lugaq esta etapa do diagnóstico é uma etapa
inicial da análise, que poderíamos chamar, acompanhando
Lacan, de entreüstas preliminares. A que üsam?À entrada em
análise, que consiste na introdução ao inconsciente.
\ L\ÍpoR'IâNcrA Do DIAcNósTIco NÁ DIREÇÁo DÀ cuRÁ
8 MILLER,Jacques-Alain.Aentradaemanálise.ln:Falo,n.2,Salvador:Fator,1990,
Yor-,c.No-A. MorrRÁo
IV
A estrutwra
Mas, afinal, o que é estrutura?
Lembremos a analogia da construção de uma casa,
citada no capítulo anterior. Para levantar uma casa usamos
vigas, elementos que sustentam a construção que vai ser
realizada, e outros elementos que se chamam de vedação,
por exemplo, as paredes, que completam essa construção. Os
elementos de estrutura são fundamentais, pois permitem que
a casa seja levantada e que o teto não nos caia na cabeça.
Então, os elementos da estrutura são os de responsabilidade,
os essenciais, os que suportam.
Como isto acontece no psiquismo humano? Quais são
esses elementos que suportam a construção psíquica? Como
se dá a estruturação psíquica?
Como vimos anteriomente, em úrtude do seu desamparo,
o indivíduo está submetido a um outro que the assegura sua
sobrevivência e que the possibilita a entrada na Cultura. A
YoLANDÁ llorrRÀo ]vÍÉRÂ
'q FÉRES, Nilza. Estruturas clínicas e ética. Do desejo estragado ao salmão defumado ou
da neurose obsessiva à neurose histérica, p.21-25.|n: Rev. Griphos-psicanálise, n. ll, Belo
'r LACAN,Jacques-Eldeseoysuinterpretación.ln:Losformacionesdelinconsciente.Buenos
Aires: Nueva Visión, 1979.
Yourr.oa ]vÍourÀo Mrrpa
Referências
FÉRES, Nilza. Estruturas clínicas e ética. Do desejo estragado ao sal-
mão defumado ou da neurose obsessiva à neurose histérica, p.21-25-
In: Rev. Grtpkos-psicanálise, n. I l, Belo Horizonte, 1993.
FRE,UD, Sigmund (1912). Recomendações aos médicos que exercem
a psicanálise. Edição SnnÁard Brasileira das obras psicológicas completas
de. v.I.Jl. Rio de Janeiro: Imago, 1969.
:
Á rMpoRTÂNCIA Do DrÀcNósrICo NA DIREÇÀo DA cllRÀ