Artigo: O Critério de Cientificidade Por Meio Das Virtudes

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Artigo: O critério de cientificidade por meio das virtudes

O CRITÉRIO DE CIENTIFICIDADE POR MEIO DAS VIRTUDES


THE CRITERION OF SCIENTIFIC THROUGH THE VIRTUES

Adilson Koslowski

RESUMO
O problema da demarcação é uma das clássicas questões em filosofia da ciência. Ele não teve
muita atenção nas últimas décadas entre os filósofos da ciência comparada àquela recebida no
início do século XX, contudo continua sendo importante. Pensamos existirem várias formas
de buscar uma solução ao desafio. Apresentaremos uma proposta que tem suas origens na
filosofia da ciência de Thomas Kuhn (1973). A escolha de teorias é baseada nas virtudes
cognitivas e pragmáticas das teorias.
PALAVRAS-CHAVE: O problema da demarcação. Virtudes. Filosofia da ciência. Thomas
Kuhn.

ABSTRACT
The problem of demarcation is one of the classic questions in philosophy of science. It has not
had much attention in recent decades among philosophers of science compared to that
received in the early twentieth century, yet still important. We think there are several ways to
find a solution to the challenge. We will present a proposal which has its origins in the
philosophy of science Thomas Kuhn (1973).
KEY WORDS: The problem of demarcation. Virtues. Philosophy of science. Thomas S.
Kuhn.


Professor de Filosofia na Universidade Federal do Sergipe/DFL. E-mail: [email protected].

Sapere aude – Belo Horizonte, v. 8, n. 16, p. 492-507, ago./dez. 2017 – ISSN: 2177-6342
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Adilson Koslowski

INTRODUÇÃO

Nosso objetivo neste texto é sustentar a abordagem que remonta a Thomas Kuhn em
seu ensaio Objetividade, juízo de valor e escolha teórica de 1973, dez anos após A estrutura
das revoluções científicas (1962)1, presente posteriormente em seu livro Tensão Essencial, de
1977. Pretendemos estabelecer algumas virtudes que possam nos orientar na decisão de ser
uma teoria científica ou não. Semelhante ao médico que diagnostica seu paciente por meio de
certos sintomas, mutatis mutandis, por meio das virtudes nós podemos estabelecer se uma
teoria é científica ou não.
Não acreditamos que uma teoria geral possa dirimir todos os problemas quando nos
deparamos com alguma visão que se supõe científica. Dado o fracasso de uma solução
simples ao problema, existe vaguidade nos conceitos de ciência e não ciência que fazem com
que abandonemos uma solução estabelecida em algum tipo de algoritmo. A proposta é
proporcionar uma solução geral e não nos livrar imediatamente das controvérsias se uma dada
teoria é ou não científica; porém, estabelece critérios gerais – as virtudes – que podem nos
orientar no discernimento a respeito da cientificidade ou não de uma teoria.

1 O PROBLEMA DA DEMARCAÇÃO: O QUE É E SUAS TRÊS FASES

Os filósofos da ciência frequentemente discutem a natureza da ciência no chamado


problema da demarcação. A saber, estabelecer um conjunto de propriedades ou
características da ciência que a distingam de outras abordagens como a religiosa, a metafísica
e, principalmente, a pseudociência. Em especial, a pseudociência sustenta teorias que se
supõem científicas. Ultimamente, temos notado que a discussão da demarcação, no âmbito da
filosofia da ciência, se centra no problema de distinguir entre ciência e pseudociência.
Problemas como a distinção entre filosofia e ciência ou, mais especificamente, metafísica e
ciência são tratados na metafilosofia, na metaontologia e não mais diretamente no problema
da demarcação (PIGLIUCCI; BOUDRY, 2013).
O problema da demarcação foi tema central a partir dos anos 20 do século passado
entre os positivistas lógicos e racionalistas críticos, perdendo infelizmente muito de sua

1
Nesse livro e em outros Kuhn defende o critério de resolução de problemas como distinção entre ciência e
pseudociência. Para Kuhn, a astrologia não é ciência e nunca foi, pois não tem como objetivo a busca de solução
de quebra-cabeças, típico da atividade da ciência normal. Popper (1974), não obstante, sustenta que a astrologia
tem seus puzzles, e esse não seria um critério adequado.

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importância entre os filósofos da ciência de nossos dias2. Segundo o filósofo húngaro Imre
Lakatos (1980, p. 01): “A demarcação entre ciência e pseudociência não é um problema de
filosofia de poltrona: é de vital relevância política e social.” Lakatos tem razão. O critério de
demarcação afeta o currículo na Escola e na Universidade, levando à questão sobre o que
iremos ensinar. Afeta as políticas e agências de financiamento de pesquisa: para que
instituição ou grupo de pesquisa devem ser distribuídos os recursos? Nos tribunais: que
procedimentos são dignos de confiança para justificar certas sentenças? Nas universidades:
que tipo de evento pode ser feito e fomentado nos campi das universidades? Na saúde: quais
medicamentos e procedimentos adotar?
Esse assunto gera disputas calorosas. Há quem defenda que o marxismo, a
psicanálise3, a economia clássica, o criacionismo, a parapsicologia, a homeopatia, a
astrologia, a teoria das supercordas sejam pseudociências. Contudo, existem defensores
zelosos para todas essas alegadas ciências. Os casos mais beligerantes, em nossa opinião, são
o ensino do criacionismo nas escolas (principalmente nos EUA) e a utilização de
medicamentos e procedimentos como a homeopatia e a acupuntura na medicina.
Observando a história do problema, distinguimos, grosso modo, três momentos. O
primeiro tem seu início na década de 20 e vai até a década de 60. Esse período é marcado
pelas reflexões do positivismo lógico e do racionalismo crítico. É um período de otimismo
exagerado acerca da possibilidade de estabelecer uma resposta ao problema da demarcação.
Acreditam os filósofos desse período que podemos, a partir de um princípio único, resolver
vários problemas em filosofia da ciência e igualmente o problema da demarcação.
No segundo momento, a confiança na possibilidade de estabelecer critérios de
distinção entre ciência e não ciência desaparece, e somos levados ao outro extremo, o
pessimismo da década de 60, que se expressa em obras da chamada “nova filosofia da
ciência”, hoje não tão nova, cujos membros principais são Thomas S. Kuhn, com a obra
Estrutura das revoluções científicas de 1962, e Contra o método, de Paul Feyerabend, de
1975. A nova filosofia da ciência influenciou perspectivas altamente críticas da ciência
moderna como alguns teóricos da sociologia do conhecimento científico (programa forte) que
negam qualquer critério objetivo de distinção epistêmica ou racional entre ciência e quaisquer
discursos, como é expresso na obra de Bruno Latour e Steve Woolgar intitulada Vida em

2
Para uma visão geral do problema, ver o verbete da Stanford Encyclopedia of philosophy “Pseudo-science and
Science” de Sven Ove Hansson (2015).
3
O caso da psicanálise é bastante controverso. Ver as críticas em Pinckney (1970), Mello (1967), Perelson
(2005), Onfray, (2011), Santamaría e Fumero, (2008). Para uma defesa, ver Roudinesco (2011).

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laboratório: a fabricação de fatos científicos, de 1997. Outro exemplo vem do polêmico


filósofo e físico Paul Feyerabend (2007, 2011), que defendeu um critério anarquista, a saber,
que não há critério ou critérios que distingam a ciência de outras teorias ou mesmo do mito.
De acordo com Feyerabend, o prestígio epistêmico da ciência advém de seus compromissos e
benefícios políticos; o que precisamos é separar a ciência do Estado, assim como separamos
há algum tempo a Igreja do Estado; as pessoas devem ser livres para escolher as teorias que
desejam e não estar submetidas às decisões arbitrárias da comunidade científica e dos
governos.
No terceiro momento, em nossos dias, existem tentativas que desejam estabelecer
critérios entre os excessos de otimismo e pessimismo relativista. Nossa proposta se enquadra
nessa tentativa.
Como já dissemos anteriormente, existem várias estratégias ou modelos para resolver
o problema da demarcação. Para exemplificar, apresento três estratégias. A primeira estratégia
é estabelecer uma definição de ciência e, consequentemente, estabelecer critérios de distinção
a partir da definição ou da natureza da ciência. Selecionamos dois exemplos que são as
propostas dos filósofos Michel Ghins e Mario Bunge. Uma segunda estratégia é sustentar a
existência de um método científico que deve ser respeitado pelos cientistas para que o seu
produto seja uma teoria ou modelo científico. Para essa estratégia recorremos novamente a
Mário Bunge4. E, por fim, nossa proposta é estabelecer uma lista de virtudes teóricas e
pragmáticas que nos ajudem a distinguir a ciência da pseudociência.
Mas, antes de apresentar essas três estratégias, vejamos algumas propostas que não
foram bem-sucedidas na história da filosofia da ciência como solução ao problema da
demarcação. Tudo o que é dito nesta pequena reconstrução histórica (incompleta) está
espalhado em vários escritos sobre o assunto5. Contudo, vale apenas relembrar principalmente
as duas soluções fracassadas do positivismo e do racionalismo crítico.
Os positivistas lógicos concebiam a ciência como uma linguagem diferente das
demais. Para eles, a ciência é um discurso significativo. Aliás, a ciência é o único discurso
completamente significativo. Os enunciados científicos das ciências empíricas são sintéticos e
empiricamente verificáveis. A saber, um conjunto finito de observações pode tornar o
enunciado científico empírico verdadeiro. Os enunciados das ciências formais, por sua vez,

4
Deixamos claro que Bunge é um dos críticos da possibilidade de demarcar a ciências apelando para um único
critério.
5
Informações desenvolvidas neste texto a respeito do problema da demarcação foram influenciadas e devem-se
ao Filósofo Antonio Diéguez Lucena, apresentadas na Universidade de Málaga em 04 de abril de 2014.

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são apenas tautologias. Há pelo menos dois sérios problemas com esse critério de
demarcação: a ciência sustenta leis universais, como a Lei da Gravitação, que não podem ser
verificadas por um conjunto finito de observações. E segundo o problema de Hume, os
raciocínios indutivos não são demonstrativos, mas apenas prováveis.
Outra solução dada pelos positivistas ao problema foi estabelecer o critério de
confirmação, enfraquecendo o requisito para um enunciado ser significativo e, portanto,
verdadeiro. Um enunciado empírico é confirmado apenas probabilisticamente. Contudo, esse
critério tinha seus próprios defeitos, entre eles, a segunda lei da termodinâmica, que não é
passível de confirmação. Além disso, não se conseguiu estabelecer um cálculo de
probabilidades que confirmasse uma lei com o mínimo de justificação.
Para complicar, as pseudociências podem ser confirmadas – como, por exemplo,
algumas predições da astrologia. Por fim, o critério da verificação ou da confirmação quando
aplicado a si próprio mostra-se inconsistente, perfazendo a chamada falácia da
autorreferência6. Mario Bunge (1989, p. 402) sustenta que o princípio de verificação é uma
tese falsa. Há conceitos significativos e não verificáveis, e, antes de qualquer experimento
para verificar algo, devemos saber o significado do que será testado. “O significado precede o
teste e não o contrário”. Em suma, teste e significação são independentes.
Segundo o critério do falseacionismo, as hipóteses científicas diferem das hipóteses
não científicas, pois as primeiras podem ser falseadas ou refutadas. Enquanto as hipóteses das
pseudociências não podem ser falseadas. Todas as evidências confirmariam as
pseudociências. Os pseudocientistas elaboram teses e buscam apenas as evidências que
possam confirmá-las e não as expõem às que possam falsificá-las. Além dos mais, tratam de
elaborar teorias que são resistentes a qualquer tipo de evidência contrária, são autoimunes.
Karl Popper exemplifica essa estratégia da pseudociência em Conjeturas e Refutações (1972,
p. 65) a respeito da psicanálise:

Certa vez, em 1919, informei-o [a Adler] de um caso que não me parecia ser
particularmente adleriano, mas que ele não teve qualquer dificuldade em analisar nos
termos da sua teoria do sentimento de inferioridade, embora nem mesmo tivesse
visto a criança em questão. Ligeiramente chocado, perguntei como podia ter tanta
certeza. “Porque já tive mil experiências desse tipo” - respondeu; ao que não pude
deixar de retrucar: “Com este novo caso, o número passará então a mil e um…” O
que queria dizer era que suas observações anteriores podiam não merecer muito mais

6
Por exemplo, a tese (1) afirma: “Não há nenhuma proposição verdadeira”. Se aplicarmos o critério da tese (1) a
si mesma torna-a paradoxal. A tese (1) não resiste ao seu próprio critério. Assim, tese (2) “Só as frases que são
verificáveis são significativas”, novamente, se aplicarmos o critério da tese (2), ela própria não é significativa,
pois não é verificável.

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certeza do que a última; que cada observação havia sido examinada à luz da
experiência anterior, somando-se ao mesmo tempo às outras como confirmação
adicional. Mas, perguntei a mim mesmo, que é que confirmava cada nova
observação? Simplesmente o facto de que cada caso podia ser examinado à luz da
teoria. Refleti, contudo, que isso significava muito pouco, pois todo e qualquer caso
concebível pode ser examinado à luz da teoria de Freud e de Adler. Posso ilustrar
esse ponto com dois exemplos muito diferentes de comportamento humano: o do
homem que joga uma criança na água com a intenção de afogá-la e o de quem
sacrifica sua vida na tentativa de salvar a criança. Ambos os casos podem ser
explicados com igual facilidade, tanto em termos freudianos como adlerianos.
Segundo Freud, o primeiro homem sofria de repressão (digamos, algum componente
do seu complexo de Édipo) enquanto o segundo alcançara a sublimação. Segundo
Adler, o primeiro sofria de sentimento de inferioridade (gerando, provavelmente, a
necessidade de provar a si mesmo ser capaz de cometer um crime), e o mesmo havia
acontecido com o segundo (cuja necessidade era provar a si mesmo ser capaz de
salvar a criança). Não conseguia imaginar qualquer tipo de comportamento humano
que ambas as teorias fossem incapazes de explicar. Era precisamente esse fato - elas
serviam sempre e eram sempre confirmadas - que constituía o mais forte argumento
em seu favor. Comecei a perceber aos poucos que essa força aparente era, na
verdade, uma fraqueza.

As verdadeiras teorias científicas, segundo o falseacionismo, têm como destino serem


falseadas. O que deve o cientista fazer é procurar refutar as teorias e não buscar verificá-las ou
confirmá-las. As teorias científicas aceitas são aquelas resistentes à falsificação e
consequentemente têm um alto grau de corroboração.
Igualmente esse critério tem vários problemas. Para refutar algo, temos que aceitar
algo como básico (enunciados básicos); mas esses enunciados básicos também são falíveis;
logo, não podemos refutar nada absolutamente, mas apenas relativamente à nossa base
empírica. Os cientistas também defendem hipóteses ad hoc. Por exemplo, o caso do neutrino
postulado por Wolfgang Pauli, em 1930, ilustrado por Kuhn na Estrutura das revoluções
científicas7. Além disso, não há nada que possa falsear uma lei como a segunda Lei de
Newton (F = m.a), ou o segundo princípio da termodinâmica. Ademais, podem-se refutar
afirmações da pseudociência, como certas previsões astrológicas.

2 PROPONDO UMA DEFINIÇÃO DE CIÊNCIA

Uma estratégia para resolver o problema da demarcação é construir uma definição de


ciência. Tendo posse de uma definição de ciência, teremos consequentemente um critério de
demarcação. Contudo, houve grande ceticismo na possibilidade de estabelecer a essência da

7
Não que os cientistas acreditassem nos neutrinos antes de serem confirmados por experimentos, o que
aconteceu bem mais tarde de sua postulação no ano de 1953 pelo experimento de Cowan e Reines realizado nos
Estados Unidos, mas tinham esperança de que a existência dos neutrinos fosse confirmada, pois manteria o
princípio fundamental da conservação de energia intacto.

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ciência a partir da década de 60. Muitas definições foram contestadas, pois elas refletiam as
posições filosóficas e normativas dos seus proponentes que eram rejeitadas por outras
perspectivas. Há igualmente entre os filósofos8 influenciados pelo segundo Wittgenstein que
negam a possibilidade de haver uma definição essencialista de ciência. Contudo, tal estratégia
não eliminou a busca pelas definições, pois há filósofos que continuam propondo definições
da ciência que possibilitariam resolver igualmente o problema da demarcação.
Uma proposta de definição encontra-se no livro Uma introdução à metafísica da
natureza: representação, realismo e leis científicas, de 2013, do filósofo belga Michel Ghins.
Sumariamente, sua definição de ciência estabelece que uma teoria científica é um conjunto de
modelos e proposições satisfeitas (tornadas verdadeiras) por esses modelos. Algumas dessas
proposições alcançam o status de leis. Essas proposições são explicativas, descrevem
mecanismos causais, e os elementos das teorias maduras devem ser interpretados
(frequentemente) de modo realista. Longe de evitar controvérsias, tais definições pressupõem
elementos contestados por outros filósofos. No caso da definição de Ghins, temos a noção de
modelo que é controversa, a defesa de leis científicas é contestada por filósofos como Bas van
Fraassen em Laws and Symmetry (1989), Ronald Giere em Science without Laws (1999) e
Nancy Cartwright em How the Laws of Physics Lie (1983) e Nature’s Capacities and their
Measurements (1989). A noção de mecanismo causal interpretado de modo realista será
rejeitada por filósofos empiristas. Essa definição parece pressupor o monismo metodológico
e, portanto, sustentar a indiferença entre ciências naturais e humanas, o que não é aceito por
todos.
Outra proposta de definição de ciência que oferece explicitamente uma solução ao
problema da demarcação é a de Mario Bunge. A ciência básica factual (BUNGE, 1989, p. 28-
29) é constituída de dez elementos9. O elemento base é a comunidade de pesquisadores (CP)
que é constituída de pessoas treinadas, com forte comunicação entre si e aberta a receber e
treinar outros indivíduos interessados. A CP pertence a uma comunidade maior, a sociedade.
A sociedade fomenta a CP ou pelo menos a tolera. O discurso da comunidade de
pesquisadores se refere a entidades reais e não a imaginosas ou fantasmagóricas. A CP possui
uma filosofia ontologicamente realista. O mundo é composto de entidades concretas que

8
Por exemplo, Dupré (1993).
9
São eles: (1) a comunidade dos investigadores; (2) a sociedade que os apoia ou tolera; (3) o domínio ou
universo de discurso; (4) a concepção geral ou filosofia da CP, (a) a epistemologia realista, (b) o ethos, (5) o
fundo formal; (6) o fundo específico; (7) os problemas; (8) o fundo de conhecimento acumulado, (9) os
objetivos, (10) a metódica.

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mudam por meio de leis e são independentes do pesquisador. Uma epistemologia de que
podemos conhecer o mundo parcial e gradualmente, e um ethos que busca a verdade acima de
outros valores como a utilidade, o poder, o dinheiro. Possui uma coleção de teorias lógicas e
matemáticas atualizadas e uma base de dados, hipóteses e teorias atualizadas e razoavelmente
confirmadas e corrigíveis, bem como métodos efetivos. Os problemas que a CP deseja
resolver são sobre coisas reais. Há um cabedal de teorias e hipóteses e dados compatíveis com
o depósito fornecido pela tradição da CP. O objetivo da CP é descobrir regularidades,
sistematizar teorias e refinar métodos. Os métodos são conferíveis, analisáveis e justificáveis.
A CP é contígua com outras comunidades em seu objeto de pesquisa tanto quanto em
métodos e teorias que compartilha com outras comunidades de pesquisa. Os elementos da
comunidade, com exceção da sociedade que a hospeda, modificam-se com o tempo.
Bunge (2006, p. 56) sustenta que uma atividade cognitiva (e, igualmente uma teoria
que não satisfaça mesmo que aproximadamente todas as condições) não é científica. As
atividades que satisfazem parcialmente são semicientíficas ou protocientíficas. E aqueles
campos que não satisfazem, mas se consideram científicos, são de fato pseudocientíficos. Para
Bunge o conceito de ciência é não absoluto, mas gradual. As disciplinas são mais ou menos
científicas, desenvolvidas em maior ou menor grau, perspectiva que consideramos muito
importante quando lidamos com o problema da demarcação. De acordo com Bunge, toda e
qualquer solução do problema da demarcação deverá levar em conta essa gradação, pois é
raro teorias científicas nascerem completamente maduras (isso se alguma delas for real e
completamente madura).
De um modo mais sintético e direto, Bunge (2006, p. 58) resume seu critério de
demarcação assim: “Uma hipótese ou teoria é científica se e somente se (a) for precisa; (b) for
compatível com o grosso do conhecimento cientifico relevante, e (c) juntamente com
hipóteses subsidiárias e dados empíricos, acarretar consequências empiricamente testáveis”.
Esquematicamente: Científica ↔ Comprovável & compatível com o conhecimento comum
(científico). Por exemplo: o alegado poder de algumas pessoas de mover objetos com a força
do pensamento é uma tese pseudocientífica, segundo Bunge, as razões para isso seriam: 1)
que o fato nunca foi comprovado por observação ou experimento; (2) que o fato é
incompatível com o princípio de conservação de energia.

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3 O MÉTODO CIENTÍFICO COMO CRITÉRIO DE DEMARCAÇÃO

Se existe um método científico, não seria ele um critério para demarcar a ciência e a
não ciência? Parece-nos que sim. Contudo, muitos filósofos, desde a década de 1960, têm
criticado a noção de método científico, alegando que se trata de um mito filosófico. Se
entendermos o método científico como um método único, universal para todas as ciências, um
conjunto de regras, um algoritmo que seja capaz de inventar hipóteses e resolver problemas
parece que tal coisa não existe.
Contudo, existem defesas sofisticadas da existência de um método científico comum a
todas as ciências. Entre os defensores da existência de um tal método estão, por exemplo,
Barry Gower em Scientific Method: and historical and philosophical introduction, publicado
em 1997, e Mário Bunge, em várias obras, entre as quais destaca-se La investigación
científica, de 198910.
Como dissemos acima, Mario Bunge é defensor do método científico há décadas. Sua
visão é de que existe um método geral da ciência, e todas as ciências particulares devem
obedecer. Porém, como ele mesmo afirma a respeito do método “[ele apenas] forma, mas não
informa”. Contudo, ele ressalta, cada ciência tem seu conjunto de métodos particulares
adaptados ao objeto de estudo específico. Bunge chama esse conjunto de métodos de
metódica que difere muito entre as ciências. As metódicas da matemática, da botânica e da
biomedicina são muito distintas. Além disso, em cada subárea há diferenças, por exemplo, a
metódica para se estudar o cérebro é, em grande parte, distinta da do pulmão.
Vejamos como Bunge resume as etapas do método científico geral em seu livro
Epistemologia (1980, p. 25):

(1) Descobrimento do problema ou lacuna num conjunto de conhecimentos. Se o


problema não estiver enunciado com clareza, passa-se à etapa seguinte; se o estiver,
passa-se à subsequente.
(2) Colocação precisa do problema, dentro do possível em termos matemáticos,
ainda que não necessariamente quantitativos. Ou ainda recolocação de um velho
problema à luz de novos conhecimentos (empíricos ou teóricos, substantivos ou
metodológicos).
(3) Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema (por ex.,
dados empíricos, teorias, aparelhos de medição, técnicas de cálculo ou de medição).
Ou seja, exame do conhecimento para tentar resolver o problema.
(4) Tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados. Se a
tentativa resultar inútil, passa-se para a etapa seguinte; em caso contrário. À
subsequente.

10
Para maiores esclarecimentos acerca do método científico, ver Nola e Shankey (2007).

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(5) Invenção de novas ideias (hipóteses, teorias ou técnicas) ou produção de


novos dados empíricos que prometam resolver o problema.
(6) Obtenção de uma solução (exata ou aproximada) do problema com auxílio do
instrumental conceitual ou empírico disponível.
(7) Investigação das consequências da solução obtida. Em se tratando de uma
teoria, procura de prognósticos que possam ser feitos com seu auxílio. Em se
tratando de novos dados, exame das consequências que possam ter para as teorias
relevantes.
(8) Prova (comprovação) da solução: confronto da solução com a totalidade das
teorias e da informação empírica pertinente. Se o resultado é satisfatório a pesquisa e
dada por concluída até novo aviso. Do contrário, passa-se para a etapa seguinte.
(9) Correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na
obtenção da solução incorreta. Esse é, naturalmente, o começo de um novo ciclo de
investigação.

Contudo, a visão da existência do método científico que era aceita pela maioria dos
filósofos da primeira metade do século XX foi posta em questão famosamente por dois
filósofos que defenderam o pluralismo em relação ao método científico. O primeiro deles foi
Thomas Samuel Kuhn com a famosa obra a Estrutura das revoluções científicas, de
1962/1975. Sustentou nessa obra que a ciência é estabelecida quando da emergência de um
paradigma. O paradigma informa os cientistas de uma determinada comunidade quais são os
problemas e o modo adequado de resolver os problemas ou quebra-cabeças (puzzles).
Contudo, os paradigmas são históricos e igualmente o modo de se fazer ciência. Não há
apenas várias ciências, mas há várias químicas, físicas, biologias que foram se sucedendo na
história da ciência. Há ciências, há métodos. Muitos filósofos da ciência nas últimas décadas
do século passado aceitaram os argumentos de Kuhn contra a existência de um método
científico geral.
O segundo contestador é Paul Feyerabend (1924-1994) em sua obra Contra o método,
de 1975/2007. Nas palavras de Feyerabend no início de seu famoso livro:

A ideia de conduzir os negócios da ciência com o auxílio de um método que encerre


princípios firmes, imutáveis e incondicionalmente obrigatórios vê-se diante de
considerável dificuldade quando posta em confronto com os resultados da pesquisa
histórica. Verificamos, fazendo um confronto, que não há uma só regra, embora
plausível e bem fundamentada na epistemologia, que deixe de ser violada em algum
momento. Torna-se claro que as violações nas são eventos acidentais, não são o
resultado de conhecimentos insuficientes ou de desatenção que poderia ter sido
evitada. Percebemos, ao contrário, que as violações são necessárias para o progresso.
(FEYERABEND, 2007, p. 29).

Segundo Feyerabend, o único procedimento que não atrapalha o desenvolvimento e o


progresso científico é o “tudo vale”, o seu famoso anarquismo epistemológico.

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4 O CRITÉRIO DE CIENTIFICIDADE POR MEIO DE VIRTUDES

Nesse momento, proponho uma estratégia para diferenciar a ciência da pseudociência


a partir das ideias de Thomas S. Kuhn. Essa estratégia não busca uma definição de ciência ou
um critério único e simples para distinguir ciência de não ciência, nem se baseia em um
suposto método científico universal11.
O cerne do que estamos propondo, à maneira de Thomas Kuhn, é estabelecer virtudes
que podem nos auxiliar a distinguir quando uma determinada teoria é científica ou não. Em
seu texto “Objetividade, juízo de valor e escolha teoria”, de 1973, escrito a partir de uma
conferência proferida na Furman University na Carolina do Sul (E.U.A), Kuhn tem como
tema que a escolha entre teorias científicas não é algorítmica. Ele deseja defender-se da leitura
relativista da escolha entre teorias de paradigma rivais que foi feita principalmente de seu
capítulo 11 da Estrutura acerca da Resolução de revoluções. A escolha teórica seria apenas,
segundo Lakatos, uma questão de “psicologia de massas”. Nesse texto, Kuhn (1977, p. 385)
sustenta que são cinco as características que tornam uma teoria científica uma boa teoria. São
eles a exatidão, a consistência interna e externa, o longo alcance, a simplicidade e a
fecundidade12. Porém, pesados e hierarquizados de modos diversos entre paradigmas.
Temos que deixar claro que um dos elementos de nossa proposta é que uma teoria
pode ser mais científica do que outras, assim como faz Bunge (2006). Por exemplo, a teórica
quântica é considerada exemplo típico de ciência. Apenas a título de exemplo, enquanto a
economia pode ser colocada numa zona intermediária, a acupuntura, a homeopatia, a ufologia
e a astrologia são exemplos típicos de pseudociência, pois possuem poucas virtudes ou falta
alguma virtude importante13.
Estamos entendendo por virtude uma propriedade ou característica também de teorias,
não apenas de ações humanas. Essa propriedade relacional é fruto de uma avaliação de um
sujeito ou de uma comunidade em relação a uma teoria ou modelo. Os termos “virtude” e
“valor” são tomados como sinônimos. Podemos distinguir as virtudes em sociais, cognitivas e
pragmáticas. Um exemplo de virtude social é a liberdade. O que nos interessa para resolver o
11
Existem muitos outros critérios de cientificidade a partir de virtudes ou valores, por exemplo, o baseado no
ethos científico como o proposto pelo sociólogo Robert K. Merton (1942).
12
Esse modo de conceber a escolha teórica foi desenvolvido posteriormente por McMullin (1996), Lacey (1999;
2008) e outros. Estamos neste texto aplicando a mesma solução para a escolha entre teorias como uma solução
viável ao problema da demarcação.
13
Nem todos concordariam com tais alegações de pseudocientificidade dessas perspectivas, apenas como
exemplo, o caso da homeopatia, uma defesa de sua cientificidade ou simpatia ver Chibeni (2002). Na mesma
revista, o interessado pode achar vários artigos que defendem a cientificidade da homeopatia.

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problema da demarcação são as virtudes cognitivas e pragmáticas. As virtudes cognitivas e


pragmáticas são características de teorias aceitáveis (LACEY, 1999, p. 45). As virtudes
cognitivas são condutoras epistêmicas, isso é, indicam que a teoria é justificada, verdadeira ou
parcialmente verdadeira. As virtudes pragmáticas são aquelas que promovem alguma
vantagem prática, por exemplo, a simplicidade teórica.
Mas quais são as virtudes que tornariam uma teoria aceitável como científica?
Elencaremos abaixo uma lista de virtudes que não pretende ser completa, pois até o momento
não há tal lista. Essas virtudes estão disseminadas na literatura filosófica sobre o tema14.
As virtudes como critério de demarcação posto sumariamente é o seguinte: uma teoria
ou modelo que contenha virtudes cognitivas e pragmáticas e que seja reconhecida (por
indivíduo ou comunidade competente) pode ser qualificada como teoria cientificamente
madura ou não.
Vejamos algumas dessas virtudes que fornecem critérios para a demarcação advinda
de várias fontes teóricas:
1. Adequação empírica (as teorias científicas e suas predições dão conta do que é
observável); (Bas van Fraassen)15.
2. Universalidade (as teorias científicas valem ou para o universo todo – as leis da
física – ou para o contexto para as quais são elaboradas – as leis biológicas);
(Aristóteles).
3. Objetividade (o objeto da pesquisa, os procedimentos e os resultados são
públicos e qualquer cientista com as qualificações necessárias e o laboratório
adequado pode refazer o experimento e replicar os resultados); (Karl Popper).
4. São abertas à crítica racional e não defendidas a todo custo contra as
evidências empíricas contrárias; (Karl Popper).
5. As hipóteses, as leis e as teorias estão claramente elaboradas e de modo ideal
matematizadas; (Mário Bunge).
6. As hipóteses são passíveis de contrastação empírica e fazem predições
arriscadas. Elas podem ser verificadas (há apoio em evidências) e podem ser
falseadas; (Mário Bunge).

14
Além do texto de Kuhn já citado, ver McMullin, 1983 e 1996; Lacey, 1999, cap. 3, p.45-65; 2008, p. 84-86.
15
Estamos apenas exemplificando autores que defenderam de modo bastante veemente essas virtudes em suas
metaciências, pois há muitos outros que defenderam e defendem as mesmas virtudes tanto no passado como no
presente como propriedades importantes das teorias científicas.

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Artigo: O critério de cientificidade por meio das virtudes

7. A validez das teorias não está baseada na mera autoridade de seu proponente;
(Mário Bunge).
8. As teorias são postas de lado a partir de em contrário e substituídas por teorias
melhores. (Aristóteles, Tomás de Aquino).
9. A ciência progride no sentido que uma teoria estável demais é um indício de
não ser científica; (Thomas Kuhn).
10. As teorias são coerentes internamente (logicamente) e coerentes externamente
com outras teorias científicas; (Mário Bunge).
11. Há experimentação controlada e reprodutível; (Karl Popper).
12. Fecundidade: a teoria deve ser fonte de novas descobertas; (Thomas Kuhn).
Uma teoria que possui essas virtudes em algum grau torna-as aceitáveis como teorias
científicas. A aplicação desse critério é semelhante ao diagnóstico médico e pode sempre ser
revisto, ampliado e não aplicado quando temos boas razões para fazê-lo. Portanto, uma teoria
que não possui uma determinada virtude não implica que estejamos imediatamente diante de
um caso de pseudociência, bem como ter algumas virtudes não torna a teoria imediatamente
ciência. Esse modo de estabelecer qual é uma teoria científica é vago e impreciso. Partilhamos
a visão aristotélica e kuhniana de que sobre certos assuntos não podemos exigir maior
exatidão dada à natureza do objeto. Parece não ser igualmente possível, por enquanto,
estabelecer com precisão os níveis de cientificidade.
Outro modo de colocar os critérios de cientificidade é não focando nas virtudes das
teorias, mas no oposto, nos vícios ou antivalores. Seguimos aqui a lista elaborada por Seven
Ove Hansson (2015) a partir de várias fontes:
1. Crença na autoridade: devemos aceitar uma teoria porque alguém com habilidades
especiais a defende e devemos segui-lo na aceitação dessa teoria.
2. Experiências não repetíveis: experiências que não podem ser refeitas por outras
pessoas em condições similares.
3. Teoria não submetida a teste: uma teoria com capacidade de ser testada, mas não
foi submetida a testes.
4. Desconsiderar algo que desabone a teoria: observações, experimentos, dados que
falsifiquem a teoria são negligenciadas.
5. Teste tautológico: o teste apenas confirma a teoria, não permite refutá-la.
6. Perda teórica: uma teoria melhor é abandonada em favor de uma teoria pior, a
saber, explica menos coisa que a anterior.

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Em suma, parece-nos que a pergunta correta no caso da demarcação por meio de


virtudes ou vícios, ao modo de Goodman em seu texto Quando há arte? (2007), não é o que é
a ciência, mas quando há ciência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos que o problema da demarcação é um sério problema, não apenas com


repercussões teóricas, mas consequências práticas. Igualmente, há várias soluções, modelos
ou estratégias para enfrentar o problema da demarcação. De modo sumário, vimos três
perspectivas: a primeira é buscar uma definição de ciência e assim ter critérios de
discriminação entre ciência e não ciência. Outro modo é estabelecer uma metodologia própria
da ciência que a distinga de outras práticas, o chamado método científico. Por fim, outro
modo, baseado em Thomas Kuhn, é por meio de virtudes que possibilitem a distinção entre o
que é ciência e não ciência.
Compartilhamos, porém timidamente, o otimismo de Seven Oven Hansson (2015),
mesmo que não temos uma teoria metacientífica da demarcação precisa o suficiente para
resolver todos os casos envolvendo o discernimento de ciência e não ciência, na maioria dos
casos, há um consenso nas comunidades científicas sobre quais teorias são científicas e
aquelas que não são. Assim, são consideradas como exemplos de não ciências: o
criacionismo, a astrologia, a homeopatia, a ufologia, a teoria dos antigos astronautas, a teorias
da negação do holocausto, a negação da mudança climática, a fotografia kirlian ou a
kirliangrafia, a radiestesia, o catastrofismo velikovskiano. Todavia, na sociedade, na mídia e
entre os políticos há uma grande confusão, como exemplos: a recusa das vacinas como
conspiração do Estado; a homeopatia como terapia nos hospitais públicos; a campanha de
políticos e religiosos para estabelecer o ensino do criacionismo nas escolas.

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