Psi - Mecell
Psi - Mecell
Psi - Mecell
1.1 INTRODUÇÃO
A Psicologia Médica é o ramo da Medicina que tem a Psicologia
como campo interdisciplinar específico. Pode ser definida como o
estudo das relações médico-paciente e das ações psicológicas na
prática médica em geral, que se constitui como uma ciência única
e independente da Psiquiatria e da Psicologia.
Grandes contribuições à Psicopatologia vieram da Psicologia
Médica, em especial das relacionadas a Ernst Kretschmer (1888-
1964) e Sigmund Freud (1856-1939), que recomendavam a
especialização em psicanálise das distintas especialidades
médicas, aperfeiçoando os profissionais na lida com os processos
transferenciais da relação médico-paciente. Os conceitos de
psicanálise a seguir foram retirados das obras de Sigmund Freud,
resumidas no livro Noções básicas de Psicanálise (1987), de
Charles Brenner.
1.2 CONTRIBUIÇÕES DE FREUD
A transferência e a contratransferência são uma forma de
projeção típica da relação terapêutica entre paciente e médico e
podem caracterizar-se de forma positiva, com sentimentos de
afeto e admiração, ou negativa, com sentimentos de
agressividade e resistência, dependendo dos laços inconscientes
e emocionais que emergem dessa relação.
Denominamos “transferência” as projeções relacionadas a
reações emocionais do paciente, dirigidas ao médico, com base
nos conflitos infantis dos pacientes com relação às figuras
paterna e materna. A “contratransferência” envolve sensações,
sentimentos e percepções que brotam no médico, emergentes do
relacionamento terapêutico com o paciente, também com base
em seus conflitos inconscientes. Espera-se que o médico esteja
preparado emocionalmente para saber lidar com tais conflitos.
#importante
Transferências são as projeções do
paciente dirigidas ao médico, enquanto
as contratransferências são projeções do
médico em relação ao paciente.
1.3 INCONSCIENTE
Freud iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose
como forma de acesso aos conteúdos mentais no tratamento da
histeria. Ao observar melhora, elaborou a hipótese de que a causa
da doença era psicológica, não orgânica. Essa hipótese serviu de
base para seus outros conceitos, como o do inconsciente. Assim,
abandonou o uso de hipnose em pacientes com histeria, em favor
da interpretação de sonhos e da livre associação como vias de
acesso ao inconsciente.
Freud procurou uma explicação à forma de operar do
inconsciente, propondo uma estrutura particular. No primeiro
tópico, recorreu à imagem do iceberg, em que o consciente
corresponde à parte visível, e o inconsciente corresponde à parte
não visível, ou seja, à parte submersa do iceberg. Em sua teoria,
Freud estava preocupado em estudar o que levava à formação
dos sintomas psicossomáticos.
1.4 ID, EGO E SUPEREGO
Quando sua preocupação se voltou para a forma como se dava o
processo da repressão, Freud passou a adotar os conceitos de id,
ego e superego.
O id representa os processos primitivos do pensamento e
constitui, segundo Freud, o reservatório das pulsões, e, dessa
forma, toda a energia envolvida na atividade humana seria
advinda do id. Inicialmente, considerou que todas essas pulsões
seriam de origem sexual. Posteriormente, introduziu o conceito
das pulsões de morte, que atuariam no sentido contrário ao das
pulsões de agregação e preservação da vida. O id é responsável
pelas demandas mais primitivas e perversas.
O superego, a parte que contra-age ao id, representa os
pensamentos morais e éticos internalizados.
O ego permanece entre ambos, alternando nossas necessidades
primitivas e crenças éticas e morais. É a instância na qual se inclui
a consciência. Um eu saudável é aquele que tem a habilidade para
adaptar-se à realidade e interagir com o mundo exterior de uma
maneira que seja cômoda para o id e o superego.
1.5 EROS E TÂNATOS
Freud estava especialmente interessado na dinâmica dessas três
partes da mente. Argumentou que essa relação é influenciada por
fatores ou energias inatas, que chamou de pulsões. Descreveu
duas pulsões antagônicas: eros, a pulsão sexual com tendência à
preservação da vida, e tânatos, a pulsão da morte, que levaria à
desagregação de tudo o que é vivo, à destruição. Ambas não
agem de forma isolada, estão sempre trabalhando em conjunto.
1.6 CONTRIBUIÇÃO DE KÜBLER-ROSS
A psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, em sua obra Sobre a
morte e o morrer (1985), pesquisou e trabalhou com o tema do
luto, descrevendo cinco fases desse processo. Existem
pensamentos e comportamentos comuns às pessoas que
passam por cada uma dessas fases, e a descrição delas pode
facilitar a compreensão e a percepção sobre o que ocorre com as
pessoas que vivenciam o luto.
▶ Fase 1 — negação: É uma defesa psíquica, em que o indivíduo
acaba negando o problema, tentando encontrar algum jeito de
não entrar em contato com a realidade e geralmente não quer
falar sobre o assunto;
▶ Fase 2 — raiva: nessa fase, o indivíduo revolta-se com o mundo,
sente-se injustiçado e não se conforma que isso está
acontecendo com ele;
▶ Fase 3 — barganha: essa é a fase na qual o indivíduo começa a
negociar; por exemplo, prometendo que será uma pessoa melhor
se sair daquela situação;
▶ Fase 4 — depressão: a pessoa retira-se para seu mundo interno,
isolando-se e considerando-se impotente perante o que ocorre;
▶ Fase 5 — aceitação: o indivíduo não sente mais desespero e
consegue enxergar a realidade como realmente é, assimilando
por completo a perda ou a morte.
Como a Psicologia
contribui para o estudo
da relação médico-
paciente?
A Psicologia Médica contribui para melhor
compreensão dos mecanismos psicológicos que
norteiam tanto a relação médico-paciente quanto a do
paciente com uma patologia ou perda em sua vida.
Associação Médica do Paraná
O processo seletivo da AMP tem duas fases: a primeira é um
exame de múltipla escolha e a segunda é a defesa do currículo ou
uma prova prática. Para a primeira fase você terá que responder
100 questões, com cinco alternativas cada, nas áreas de Clínica
Médica, Cirurgia Geral, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia e
Medicina Preventiva e Social.
Para a prova da primeira fase, espere encontrar questões mistas.
Para Cirurgia, por exemplo, as perguntas costumam ser mais
diretas e conceituais, enquanto para Clínica Médica são mais
comuns casos clínicos. Estude com mais atenção os temas:
atendimento inicial ao politraumatizado, Cirurgia Vascular,
queimaduras, Ortopedia, hemorragia digestiva, abdome agudo,
Oncologia Gastrintestinal, insuficiência cardíaca, meningite,
endocardite, cefaleia, dislipidemia e pneumonia.
Também não se esqueça de estudar sangramento na gravidez,
ciclo ovariano, alterações da gravidez, pré-natal, parto, doenças
malignas da mama, vulvovaginites e cervicites, síndromes
respiratórias na infância, meningites, traumas na infância e
adolescência, aleitamento e reanimação neonatal. Sistema Único
Saúde (SUS), atestado de óbito, saúde do trabalhador e
Epidemiologia são temas importantes para as questões de
Medicina Preventiva e Social, mas de todas as cinco áreas essa é
a que ganha menor destaque na prova.
AMP | 2020
Um médico residente do primeiro ano avalia um paciente com
história de ascite de grande volume e derrame pleural à direita
que, ao final da investigação, fecha o diagnóstico de cirrose com
hidrotórax hepático. Uma semana após este diagnóstico, outro
paciente interna no serviço por derrame pleural à direita e ascite
discreta, o mesmo residente ao lembrar o caso recente, em seu
raciocínio intuitivo, coloca o hidrotórax hepático como
diagnóstico provável, sendo que o diagnóstico final é de neoplasia
metastática. O atalho cognitivo que gerou a hipótese diagnóstica
errônea no segundo caso é o de:
a) heurística da ancoragem
b) heurística da simplicidade
c) heurística de disponibilidade
d) heurística de representatividade
e) nenhum atalho cognitivo foi utilizado
Gabarito: c
Comentários:
a) A heurística da ancoragem envolve ajuste insuficiente da
probabilidade inicial de doença — para cima ou para baixo — após
um exame positivo ou negativo, isto é, apegando-se ao
diagnóstico inicial. Por exemplo, após realizar um exame
altamente sensível que resultou negativo, o médico continua
acreditando na existência do diagnóstico que motivou o pedido
do exame.
b) Também conhecida como navalha de Ockham, é um tipo de
raciocínio que orienta para a hipótese mais simples possível a
acomodar todos os sinais e sintomas apresentados pelo paciente.
Contudo, não há nenhuma base biológica que determine a
correção desse raciocínio.
c) A heurística de disponibilidade é um fenômeno descrito pelos
psicólogos Amos Tversky e Daniel Kahneman, no qual ocorre viés
cognitivo em que as pessoas predizem a frequência de um evento
baseando-se no quão fácil conseguem se lembrar de um exemplo
semelhante. No caso do enunciado, as apresentações clínicas dos
dois pacientes foram parecidas, o que fez o residente pensar
imediatamente no mesmo diagnóstico para ambos, dando menor
peso a outras informações que são importantes para orientar o
raciocínio clínico, como aspecto epidemiológicos e antecedentes
pessoais e familiares.
d) Na heurística da representatividade um evento é considerado
ou percebido como tendo uma grande probabilidade de ocorrer
quando é representativo ou típico de um tipo de situação, isto é,
quando tem um elevado grau de semelhança com as principais
características desta situação. Por exemplo, diante da tríade
sudorese, cefaleia e palpitações, o médico prontamente
considera o diagnóstico de feocromocitoma, apesar de outras
condições serem mais comuns e poderem também cursar com os
mesmos sintomas.
e) Foi utilizada heurística de disponibilidade.
O que investigar em um
exame psíquico
completo?
2.1 PSICOPATOLOGIA
A Psicopatologia propõe-se a conhecer e descrever os
fenômenos psicopatológicos para, dessa forma, oferecer à
Psiquiatria as bases para a compreensão e o estudo do psiquismo
humano. Compete a ela reunir materiais para a elaboração do
conhecimento dos fenômenos com o qual a Psiquiatria possa
coordenar a sua ação diagnóstica, curativa e preventiva. Como
dito por Paulo Dalgalarrondo, em seu livro Psicopatologia e
semiologia dos transtornos mentais (2008): “A semiologia é a
base, o pilar fundamental da atividade médica. Saber observar
com cuidado, olhar e enxergar, ouvir e interpretar o que se diz,
saber pensar, desenvolver um raciocínio clínico crítico e acurado
são as capacidades essenciais do profissional de saúde”. O
diagnóstico em Psiquiatria é feito com base no exame psíquico,
excluindo outras patologias clínicas que possam cursar com
alterações no psiquismo.
2.2 FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS
ALTERAÇÕES
2.2.1 Consciência
Consciência é a capacidade do indivíduo de entender o que está
acontecendo dentro e fora de si mesmo, estando desperto e
funcionante. As alterações da consciência podem ser
quantitativas e qualitativas.
Em seu aspecto quantitativo, a consciência vai do grau de maior
alerta, o estado vígil, passando pela sonolência, torpor
(obnubilado), estupor (semicomatoso) e coma.
O paciente sonolento usualmente fica dormindo e acordando;
com algum esforço, desperta e estabelece contato. O torporoso
acorda com dificuldade, não plenamente, despertando e
permanecendo confuso. No estupor, ele só acorda mediante
estímulos muito vigorosos, não sendo capaz de se manter alerta
espontaneamente. No estado comatoso, não acorda,
apresentando o maior grau de rebaixamento do nível de
consciência.
Qualitativamente, a consciência é avaliada como a aptidão em
apreender todos os fenômenos interiores ou exteriores e integrá-
los a um contexto real das circunstâncias ocorridas no presente,
no passado e que ocorrerão futuramente. As alterações
qualitativas são apresentadas a seguir.
2.2.1.1 Estado crepuscular
▶ Hiperestesia:
▷▷ Intoxicação por alucinógenos, epilepsia;
▷▷ Aumento das formas de sensibilidade.
▶ Hipoestesia:
▷▷ Quadros depressivos;
▷▷ Diminuição das formas de sensibilidade.
▶ Anestesia: abolição de todas as formas de sensibilidade.
2.2.4.2 Qualitativas
#importante
Ilusão é a percepção deformada da
realidade, uma interpretação errônea do
que existe; enquanto alucinação é a
percepção real de um objeto inexistente.
2.2.5 Memória
Memória é a capacidade de registrar, manter e evocar fatos
passados. Há quatro dimensões principais do seu funcionamento:
▶ Percepção: modo como o sujeito percebe os fatos e atitudes em
seu cotidiano e os reconhece psiquicamente;
▶ Fixação: capacidade de gravar imagens na memória;
▶ Conservação: tudo o que o sujeito guarda para o resto da vida —
a memória aparece como um todo e é um processo tipicamente
afetivo;
▶ Evocação: atualização dos dados fixados — nem tudo pode ser
evocado.
A função mnésica pode ser avaliada pela rapidez, precisão e
cronologia das informações oferecidas pelo próprio paciente,
assim como a observação da capacidade de fixação. A memória
pode ser imediata, de curto ou de longo prazo.
Podem existir as alterações quantitativas: hipermnésia, que é a
aceleração psíquica; hipomnésias ou amnésias. Essas últimas
podem ser anterógradas — o paciente não consegue fixar
memória a partir do evento que causou o dano cerebral — ou
retrógradas — perda da memória para fatos ocorridos antes do
trauma. Podem, também, ocorrer amnésias lacunares ou
seletivas.
O exame da memória passada (retrógrada) é feito com perguntas
sobre o passado do paciente e data de acontecimentos
importantes. Contradições nas informações podem indicar
dificuldades.
Com relação à memória recente (anterógrada), podem ser feitas
perguntas rápidas e objetivas, como “O que você fez hoje?”, ou
dizer um número de quatro ou cinco algarismos ou uma série de
objetos e pedir para que o paciente os repita após alguns minutos.
Para o exame da memória de retenção, pode-se pedir a ele que
repita algarismos na ordem direta e depois inversa.
#importante
A amnésia pode ser anterógrada — o
paciente não fixa a memória a partir do
evento que causou o dano —, retrógrada
— perda para fatos ocorridos antes do
trauma —, lacunar ou seletiva.
2.2.7 Pensamento
Por meio do pensamento ou do raciocínio, o ser humano é capaz
de manifestar suas possibilidades de adaptar-se ao meio. É por
ele que conceitos são elaborados, os juízos são articulados,
construídos e comparados, os problemas são solucionados,
conhecimentos são adquiridos e ideias são desenvolvidas,
transformadas e criadas.
É importante a investigação do curso, da forma e do conteúdo do
pensamento.
2.2.7.1 Curso
#importante
Uma ideia delirante deve ter aspectos
como incorrigibilidade,
influenciabilidade e
incompreensibilidade.
#importante
O exame psíquico deve ser completo e
deve espelhar exatamente o estado
mental do paciente no período
analisado.
2.4.2 CID-11
A Classificação Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde — também conhecida como Classificação
Internacional de Doenças — CID-11 — foi publicada pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) em junho de 2018,
apresentada para adoção em maio de 2019 — durante a
Assembleia Mundial da Saúde — entrando em vigor em 1º de
janeiro de 2022. As principais mudanças na CID-11 em Psiquiatria
foram a inclusão do gaming disorder (distúrbio em jogos
eletrônicos) e da síndrome de burnout, como “problemas gerados
e associados ao emprego ou desemprego”.
A CID-11 fornece códigos relativos à classificação de doenças e
de grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais,
queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos
ou doenças. A cada estado de saúde é atribuída uma categoria
única à qual corresponde um código CID-11. Essa é a classificação
usada para laudos, atestados e pareceres médicos.
#importante
Documentos médicos com fins judiciais
devem utilizar a CID-11, enquanto o DSM-
5 é usado em prontuários e discussões.
O que investigar em um
exame psíquico
completo?
Um exame psíquico completo deve ser iniciado assim
que visualizarmos o paciente, atentando para sua
apresentação, atividade psicomotora e
comportamento, atitude para com o entrevistador,
atividade verbal e linguagem, estado de consciência,
atenção espontânea e voluntária, orientação auto e
alopsíquica, afetividade, sensopercepção, pensamento,
memória de curto e longo prazos, vontade e
pragmatismo, inteligência, crítica de seu estado e
planos para o futuro.
Associação Médica do Rio Grande do Sul - Processo
Seletivo Unificado
O processo seletivo da AMRIGS-PSU é uma avaliação com
questões mais diretas e objetivas de múltipla escolha, que
abordam casos clínicos, o uso de imagens, achados de exames,
hipóteses diagnósticas e questionamento de tratamentos.
Há temas mais recorrentes e que merecem atenção. Em Clínica
Médica são cobradas: Psiquiatria — psicofarmacologia e outros
tratamentos em Psiquiatria; Infectologia — tipos de infecções;
Cardiologia — temas relacionados a hipertensão arterial
sistêmica. Cirurgia Geral tem foco em hérnias de parede
abdominal, abdome agudo, tratamento cirúrgico da obesidade e
cirurgia metabólica.
Em Ginecologia, preste atenção em anticoncepção, HPV e
neoplasias intraepiteliais cervicais, patologias neoplásicas e
câncer de endométrio. Em Pediatria são relevantes Neonatologia,
aleitamento materno e desenvolvimento. Por fim, Saúde Coletiva
cobra estudos epidemiológicos, Medicina de Família e
Comunidade e análise de métodos diagnósticos.
AMRIGS-PSU | 2021
Menino de 8 anos é trazido à consulta pelos pais. Ambos referem
que o filho está “sempre agitado”, que é incapaz de brincar
calmamente, que com frequência fala demais e interrompe os
outros, apresentando muita dificuldade em esperar a sua vez (por
exemplo, em uma fila). Além disso, evita ou reluta em se envolver
em atividades que exijam esforço mental, é bastante
desorganizado nas suas tarefas diárias e repetidamente perde
coisas (seu material escolar, seus óculos, entre outros). O menino
confirma as informações trazidas pelos pais. Em função dessa
sintomatologia, você realiza o diagnóstico de Transtorno de
Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) subtipo combinado e
indica tratamento psicoterápico e farmacológico. Sobre o
tratamento farmacológico do TDAH em crianças, é correto
afirmar que:
a) a terapia farmacológica não é considerada o tratamento de
primeira linha
b) os estimulantes do sistema nervoso central são
contraindicados para uso em crianças com anormalidades e
riscos cardíacos conhecidos
c) o metilfenidato é altamente eficaz nesse Transtorno, porém
apresenta muitos efeitos adversos
d) ao contrário do que se pensava anteriormente, a administração
contínua do metilfenidato por muitos anos, sem qualquer
interrupção, não apresenta queda em centímetros durante o
processo de crescimento
Gabarito: b
Comentários:
a) Atualmente, o tratamento se baseia em tratamento
farmacológico e psicoterápico, sendo o farmacológico muitas
vezes usado isoladamente devido às dificuldades em se
conseguir seguimento terapêutico adequado, bem como
profissionais habilitados para tal.
b) Fazem parte das contraindicações do uso de metilfenidato:
▶ Problema exclusivo de aprendizado, deficiência de escolaridade
decorrente de má adaptação escolar, projeto pedagógico sem
singularidade, relação professor-aluno inadequada, propostas de
reforço de atividades que expõem a criança/adolescente a
conflito diante dos colegas, gerando discriminação e maus-tratos
entre pares;
▶ Discinesias, tiques motores, síndrome de Gilles de la Tourette;
▶ Glaucoma;
▶ Hipertireoidismo;
▶ Arritmias cardíacas;
▶ Angina pectoris;
▶ Hipersensibilidade à droga e seus componentes;
▶ Psicoses;
▶ Hipertensão severa.
c) Trata-se de medicação segura e bastante utilizada para tal
propósito.
d) Observa-se que a redução de apetite é dose-dependente. Já a
insônia, a cefaleia, a dor abdominal e a tontura não foram
influenciadas pela quantidade ingerida. Quanto à redução do
apetite, é importante ressaltar com os pais a efemeridade do
fenômeno e incentivar o uso de alimentos mais calóricos e
polivitamínicos que compensem a perda de peso e a baixa ingesta
alimentar.
Como diagnosticar e
diferenciar delirium de
demência?
3.1 INTRODUÇÃO
O agrupamento dos transtornos mentais orgânicos compreende
uma série de transtornos mentais reunidos, tendo em comum
uma etiologia demonstrável como doença, lesão cerebral ou
outro comprometimento que leva à disfunção cerebral. A
disfunção pode ser primária, em ação direta sobre o sistema
nervoso, ou secundária. O comprometimento que ocorre é o das
funções cognitivas — memória, linguagem, atenção; por vezes,
precedido de deterioração do controle emocional, do
comportamento social ou da motivação. As principais síndromes
mentais orgânicas são o delirium e a demência.
3.2 DELIRIUM
3.2.1 Definição
Delirium, ou estado confusional agudo, é uma síndrome clínica
caracterizada por rebaixamento súbito do nível de consciência,
comprometimento da atenção, distúrbios da percepção
(distorções, ilusões e alucinações), distúrbio da capacidade de
compreensão e de abstração, delírios pouco estruturados e
fugazes, déficit de memória de fixação e relativa preservação da
memória remota, desorientação — mais comumente no tempo —,
comprometimento da atividade psicomotora (aumento ou
redução), alteração do ciclo sono-vigília, transtornos emocionais
(depressão, ansiedade, medo, irritabilidade, euforia, apatia,
perplexidade), com início abrupto dos sintomas e flutuação ao
longo do dia, tendendo a piorar à noite. Tem duração limitada, em
geral dias ou semanas, e os sintomas desaparecem quando o
fator de causa é identificado e tratado.
3.2.2 Epidemiologia
Trata-se de um transtorno bastante frequente, principalmente
entre pacientes internados. Dados revisados da literatura médica
apontam delirium em cerca de 30% dos pacientes que estão em
unidades cirúrgicas de tratamento intensivo e unidades cardíacas
de cuidados intensivos, e 40 a 50% dos que estão se
recuperando de cirurgias por fraturas de quadril. O delirium pode
acometer até 80% dos pacientes criticamente enfermos sob
ventilação mecânica, segundo estudos americanos e canadenses.
Porém, é comumente subdiagnosticado; aproximadamente 70%
dos casos não são reconhecidos pelos médicos, o que leva a
aumento nas taxas de mortalidade e morbidade, declínio da
capacidade funcional e prolongamento das internações
hospitalares.
3.2.3 Etiologia
▶ Causas extracranianas: infecções sistêmicas, transtornos
metabólicos, hipóxia, hipercapnia, hipoglicemia, desequilíbrio
eletrolítico, doença hepática ou renal, deficiência de tiamina,
estados pós-operatórios e trauma;
▶ Causas intracranianas: infecções, como meningite e encefalite,
encefalopatia hipertensiva, estados convulsivos pós-ictais,
sequelas de traumatismo craniano, lesões focais do lobo parietal
direito e lesões da superfície inferomedial do lobo occipital;
▶ Abstinência de substâncias: álcool (delirium tremens),
anfetaminas e relacionadas, sedativos, hipnóticos e ansiolíticos e
outras substâncias;
▶ Medicamentos: anestésicos, cardiovasculares, analgésicos,
antimicrobianos, antiasmáticos, antiparkinsonianos,
anticonvulsivantes, corticosteroides, anti-histamínicos,
relaxantes musculares, anti-hipertensivos e anticolinérgicos
(psicotrópicos);
▶ Toxinas: anticolinesterase, dióxido de carbono,
organofosforados, substâncias voláteis, monóxido de carbono,
combustíveis ou tintas.
3.2.4 Subtipos de delirium
Existem cinco subtipos de apresentação clínica para o delirium.
São eles:
▶ Delirium subsindrômico: pouco reconhecido, preenche apenas
parcialmente os critérios diagnósticos;
▶ Delirium hipoativo e seu extremo, o subtipo catatônico: apatia e
redução da capacidade de respostas. Associado a maior
mortalidade, é o menos diagnosticado e usualmente confundido
com quadro depressivo;
▶ Delirium hiperativo e seu extremo, o subtipo excitado:
inquietação, agitação e labilidade emocional, sendo mais
facilmente detectado;
▶ Delirium misto: alternância entre os tipos hipo e hiperativo;
▶ Delirium prolongado ou persistente: presenciado em diversos
cenários, inclusive após a alta hospitalar, geralmente em
pacientes com comprometimento cognitivo basal ou com
sequelas.
3.2.5 Diagnóstico
Quando se suspeita do diagnóstico de delirium, é essencial tentar
encontrar e tratar a causa-base, que deve ser o foco principal do
manejo. Deve-se fazer exame físico completo, revisão de
prontuário — procurando, principalmente, por mudanças de
comportamento, inclusão de novas drogas ao regime e resultados
de exames complementares — e solicitar exames laboratoriais e
de imagem adequados. É importante a solicitação de todos os
exames laboratoriais, pois sempre haverá causa orgânica no
delirium.
O Confusion Assessment Method (CAM) é um instrumento para
diagnóstico de delirium que se apoia em quatro critérios:
▶ Critério 1: início agudo ou curso flutuante;
▶ Critério 2: desatenção;
▶ Critério 3: pensamento desorganizado;
▶ Critério 4: nível alterado de consciência.
O diagnóstico de delirium requer a presença dos critérios 1 e 2
associados aos critérios 3 ou 4.
▶ Exames básicos: hemograma completo com diferencial de
leucócitos, eletrólitos, índices renais e hepáticos, glicemia; testes
de função da tireoide; testes sorológicos para sífilis; teste
sorológico para HIV; análise de urina; eletrocardiograma;
eletroencefalograma; radiografia torácica; e triagem para drogas
no sangue e na urina.
▶ Exames adicionais: cultura de sangue, urina; concentração de
ácido fólico e B12; tomografia computadorizada ou ressonância
magnética do cérebro; punção lombar e exame do liquor.
3.2.5.1 Diagnósticos diferenciais
3.3.3 Diagnóstico
Devem ser solicitados exames laboratoriais tanto para
diagnóstico quanto para tentar estabelecer a etiologia da
demência. São os mesmos exames realizados nos casos de
delirium.
3.3.3.1 Doença de Alzheimer
▶ Fase inicial:
▷▷ Distração;
▷▷ Dificuldade para lembrar nomes, palavras e números;
▷▷ Dificuldade para aprender coisas novas;
▷▷ Desorientação em ambiente familiar;
▷▷ Redução das atividades sociais.
▶ Fase intermediária:
▷▷ Perda marcante da memória e das funções cognitivas;
▷▷ Deterioração das habilidades verbais;
▷▷ Alterações de comportamento;
▷▷ Delírios e alucinações;
▷▷ Incapacidade de convívio social;
▷▷ Fugas ou perambulação pela casa;
▷▷ Início da perda do controle esfincteriano.
▶ Fase avançada:
▷▷ Tendência da fala desaparecer;
▷▷ Delírios e alucinações continuam;
▷▷ Transtornos de comportamento;
▷▷ Perda do controle da bexiga e dos intestinos;
▷▷ Tendência a ficar acamado;
▷▷ Dificuldade para engolir alimentos, necessitando de sonda
para alimentação.
Vários estudos demonstraram que a doença de Alzheimer é
idade-dependente e que o risco aumenta em familiares,
demonstrando que a genética está fortemente relacionada. A
hereditariedade está muito mais marcada na chamada doença de
Alzheimer familiar (15 a 20%), cujo início é precoce, antes dos 65
anos, do que na doença de Alzheimer esporádica (80 a 85%),
caracterizada pelo aparecimento em idades mais avançadas. A
forma familiar está relacionada à herança autossômica dominante
com penetrância idade-dependente. Já na forma esporádica, há
um padrão de alta frequência e baixa penetrância, distúrbio
relacionado a um único gene ou um modelo multifatorial com
múltiplos genes e/ou fatores não genéticos. O componente
genético parece variar de família para família: algumas
fortemente relacionadas, outras sem grande relevância.
3.3.3.2 Demência vascular
#importante
Suspeita-se de demência vascular na
presença de quadro abrupto, alterações
no exame neurológico e histórico de
doença cardiovascular.
Como diagnosticar e
diferenciar delirium de
demência?
Para o diagnóstico e a distinção entre delirium e
demência, devemos observar o quadro clínico, a
evolução e a reversibilidade da patologia. O delirium é
agudo e ocorre em pacientes sem antecedentes de
alterações de memória. É um quadro flutuante, de curta
duração, que melhora quando a causa de base é
identificada e tratada (reversível). Ocorre prejuízo da
atenção, déficit de memória recente e são comuns
delírios e alucinações.
A demência é um quadro insidioso e progressivo,
geralmente irreversível. A consciência geralmente se
preserva, e delírios e alucinações são comuns apenas
na progressão da patologia.
Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade
Estadual Paulista
Para a primeira etapa da FMB-UNESP, o candidato precisa realizar
uma prova de 100 questões de múltipla escolha, com quatro
alternativas cada. Já na segunda etapa será avaliado o currículo
do candidato.
Para a prova, é importante estudar as especialidades de Pediatria,
Saúde Coletiva, Ginecologia e Obstetrícia, que são as áreas de
conhecimento mais cobradas. Considere que as áreas de Clínica
Médica, Cirurgia Geral e Medicina Preventiva e Social também
farão parte das avaliações.
A dica é prestar uma atenção especial em Neonatologia, Sistema
Único de Saúde (SUS), doenças estruturais do sistema
cardiovascular, medidas de frequência, estudos epidemiológicos,
Medicina Legal, leis orgânicas de saúde, atenção primária à saúde
e Estratégia Saúde da Família, doenças infecciosas, infecções
sexualmente transmissíveis e AIDS. Esses temas foram os mais
recorrentes nas últimas edições da prova.
FMB-UNESP | 2020
Para o diagnóstico de delirium, segundo o algoritmo Confusion
Assessment Method, são obrigatórias as seguintes
características:
a) pensamento desorganizado ou incoerente e déficit de memória
b) déficit de memória e dificuldade para manter a atenção
c) agitação e modificação aguda do estado mental
d) modificação aguda do estado mental e dificuldade para manter
a atenção
Gabarito: d
Comentários:
a) Veja o comentário geral na alternativa correta.
b) Veja o comentário geral na alternativa correta.
c) Veja o comentário geral na alternativa correta.
d) O Confusion Assessment Method é um instrumento para
diagnóstico de delirium que se apoia em quatro critérios:
▶ 1: início agudo ou curso flutuante;
▶ 2: desatenção;
▶ 3: pensamento desorganizado;
▶ 4: nível alterado de consciência.
O diagnóstico de delirium requer a presença dos critérios 1 e 2
associados aos critérios 3 ou 4.
Intoxicação e abstinência:
o que fazer?
4.4.3 Abstinência
A interrupção do uso contínuo de cocaína é, em geral, seguida de
uma crise que pode ser vista como síndrome de abstinência, na
qual a exaltação dá lugar a apreensão, depressão profunda,
sonolência e inércia. A abstinência pode durar até dez semanas, e
são frequentes as recaídas.
A cocaína possui ação parecida com a dos antidepressivos,
portanto, a abstinência dela leva a sintomas depressivos.
4.4.4 Efeitos crônicos
Síndrome psicótica com delírios paranoides, alucinações visuais e
auditivas e ideias de autorreferência. Nas grávidas que usam
cocaína, foram descritos efeitos teratogênicos, incluindo
anormalidades do trato urinário e deformidade dos membros do
feto.
4.4.5 Tratamento
Basicamente são tratados os sintomas depressivos, ansiosos ou
psicóticos produzidos pela droga ou pela abstinência. O
tratamento é sintomático e de manutenção; na psicose cocaínica,
aplica-se haloperidol, 5 mg, IM ou VO, a cada 6 horas, ou
tioridazina, 25 a 50 mg, a cada 8 horas.
4.5 CANNABIS (MACONHA)
Durante a fase de intoxicação, o usuário apresenta hiperemia
ocular, aumento do apetite, xerostomia e taquicardia. Acontece,
ainda, aumento da sensibilidade aos estímulos externos,
revelando cores e detalhes antes não percebidos. A percepção do
tempo também é afetada, passando a ser sentido como se
estivesse mais lento. Sensações de que o mundo está diferente,
distante ou de que houve uma mudança em si mesmo, como se
não fosse a mesma pessoa ou se estivesse sonhando, também
podem ocorrer. Como efeito imediato, há prejuízo na memória de
curto prazo, na atenção e na capacidade de recordação e de
retenção do conhecimento. Há dificuldade para a realização de
tarefas que apresentem múltiplas etapas. A capacidade de
traduzir em palavras o que se pensa também fica lesada. Além
disso, as capacidades motoras ficam prejudicadas, como a de
exercer a força muscular original. Inibição dos reflexos,
incoordenação e desequilíbrio podem acontecer em doses mais
altas.
4.5.2 Efeitos em longo prazo
Têm sido muito estudados os prejuízos permanentes que a
maconha pode causar após o uso intenso durante tempo
prolongado (mais de dez anos). Os achados não são conclusivos;
não se pode, por enquanto, confirmar nem descartar efeitos
como a síndrome amotivacional — indivíduo apático, sem
persistência em seus objetivos —, embora ela se manifeste em
muitos usuários. Os testes neuropsicológicos não puderam
detectar prejuízos, assim como os testes de imagens. A ausência
de alterações nos exames não pode ser considerada ausência de
prejuízo; é possível que este só aconteça a uma parte dos
usuários, ou que os instrumentos e as técnicas de pesquisa ainda
não sejam capazes de localizar o problema.
4.5.3 Dependência e abstinência
A maioria não se torna dependente, e a minoria desenvolve
síndrome de uso compulsivo da droga. Na abstinência, os
sintomas são irritabilidade, insônia, tremores, visão turva e
incoordenação dos movimentos.
4.5.4 Tratamento
O tratamento baseia-se nos mesmos princípios de outras drogas.
Deve-se incentivar a abstinência e tratar seus efeitos
sintomaticamente. Grupos de apoio e psicoterapia são de grande
ajuda.
4.6 OPIOIDES
4.6.1 Definição
Opioide é um termo designado para qualquer substância,
endógena ou sintética, similar à morfina. São elas: heroína, ópio,
codeína, metadona, fentanila e meperidina.
4.6.2 Intoxicação aguda
Pode haver sonolência e até inconsciência, miose, depressão
respiratória, resposta reduzida à dor, bradicardia, convulsões e
coma. Tríade clássica: coma, pupilas “em ponta de alfinete” e
depressão respiratória. Trata-se de uma emergência, devendo-se
garantir suporte à vida e medicar o paciente com naloxona
(antagonista opioide).
4.6.3 Dependência e abstinência
A tolerância desenvolve-se rapidamente. Todavia, os sintomas de
abstinência sucedem unicamente com uso crônico e parada
abrupta. Na abstinência ocorrem sudorese, midríase, ansiedade e
fissura, lacrimejamento, rinorreia, tremores, diarreia, náuseas e
vômitos, dor muscular e nas articulações, taquicardia, aumento da
pressão arterial, calafrios e insônia.
4.6.4 Tratamento e complicações
A metadona pode evitar sintomas de abstinência. As
complicações são atribuídas ao uso intravenoso —
tromboflebites, úlceras, meningite bacteriana, hepatites e HIV — e
podem ser evitadas, por exemplo, com agulhas descartáveis.
4.7 INALANTES
4.7.1 Intoxicação aguda
Os inalantes causam euforia, desinibição, zumbidos, ataxia, risos
imotivados e fala pastosa. Com doses mais altas, podem ocorrer
arritmia cardíaca, depressão do SNC com convulsões, coma e
morte.
4.7.2 Efeitos em longo prazo
Não há evidências de tolerância ou abstinência. As principais
complicações crônicas são atrofia cortical e cerebelar,
insuficiência renal crônica e hepatite tóxica.
4.8 SEDATIVOS E HIPNÓTICOS
(BENZODIAZEPÍNICOS)
4.8.1 Abstinência
A abstinência tem início de dois a dez dias após a parada do uso.
Podem advir irritabilidade, insônia, tremores, sudorese,
palpitação, cefaleia, dores musculares e déficits de memória.
Os benzodiazepínicos não são indicados por períodos
prolongados, devendo-se diminuir gradualmente a sua dosagem,
até a retirada do medicamento.
4.8.2 Efeitos em longo prazo
O risco de dependência é muito grande, e podem ocorrer piora da
memória e da coordenação motora, sonolência, tontura, quedas e
fraturas. Benzodiazepínicos devem ser sempre introduzidos por
curto espaço de tempo, para evitar dependência.
4.9 ALUCINÓGENOS
4.9.1 Definição
Os alucinógenos são substâncias naturais (cogumelos) e
sintéticas (LSD) que causam alucinações e perda de contato com
a realidade. Os principais efeitos ocorrem no sistema
serotoninérgico. A tolerância desenvolve-se rapidamente, mas
não existe dependência ou abstinência.
4.9.2 Intoxicação aguda
Podem ocorrer ansiedade, ideação paranoide, medo de perder o
juízo, despersonalização, desrealização, comprometimento da
crítica, ilusões, alucinações, midríase, taquicardia, sudorese, visão
turva, tremores e incoordenação motora.
4.9.3 Efeitos em longo prazo
Mesmo com pouco ou único uso, pode haver fenômeno de
flashback — alucinações dias após a ingestão —, transtorno
psicótico prolongado e bad trip — pânico, depressão e
comportamento suicida.
4.10 ANFETAMINAS
4.10.1 Definição
A mais conhecida é a metanfetamina, ou ecstasy, de uso
recreativo. Porém, as anfetaminas também podem ser utilizadas
para o tratamento de doenças psiquiátricas, como o transtorno
de déficit de atenção e hiperatividade.
4.10.2 Intoxicação
O indivíduo sob sua ação tem insônia, inapetência, sente-se cheio
de energia e fala mais rápido. Quem toma anfetaminas é capaz de
executar uma atividade qualquer por mais tempo, sentindo
menos cansaço, o qual só aparece horas mais tarde, quando a
droga já não está mais presente no organismo; com uma nova
dose, as energias voltam, embora com menos intensidade. De
qualquer modo, as anfetaminas fazem com que o organismo reaja
além de suas capacidades, exercendo esforços excessivos, o que,
logicamente, é prejudicial à saúde. Causam midríase, taquicardia e
aumento da pressão sanguínea — crise hipertensiva. Se uma
pessoa exagera na dose, fica mais agressiva, irritadiça e começa a
suspeitar de que outros estão tramando contra ela — chamado
delírio persecutório. Os sinais físicos ficam também muito
evidentes: midríase acentuada, pele pálida devido à contração
dos vasos sanguíneos e taquicardia. Tais intoxicações são graves,
e a pessoa, geralmente, precisa ser internada até a
desintoxicação completa. Algumas vezes, durante a intoxicação, a
temperatura aumenta muito, o que é bastante perigoso, pois pode
levar a convulsões.
4.10.3 Abstinência
Chega a atingir quase 90% dos usuários. A pessoa sente grande
falta de energia (astenia), tornando-se bastante deprimida,
ansiosa e agitada.
4.11 NICOTINA
4.11.1 Mecanismo de ação e intoxicação
A nicotina age como agonista nicotínico de receptores de
acetilcolina. Na intoxicação, podem ocorrer cefaleia, náuseas e
tontura.
4.11.2 Abstinência
Ocorrem humor disfórico ou deprimido, insônia, irritabilidade,
ansiedade, inquietação e dificuldade de concentração. Entre as
perturbações físicas, estão bradicardia e aumento do apetite e do
peso.
4.11.3 Tratamento
De acordo com a publicação Causas e prevenção: tabagismo, de
2018, do Instituto Nacional de Câncer (INCA), 428 pessoas
morrem por dia no Brasil em decorrência do tabagismo,
contabilizando 12,6% de todas as mortes registradas no país. Ao
todo, 156.216 mortes poderiam ser evitadas todos os anos, caso o
uso de tabaco fosse eliminado. O INCA ainda aponta que R$ 56,9
bilhões são perdidos a cada ano em função de despesas médicas
e perda de produtividade decorrentes do tabaco.
A avaliação global do paciente e do grau de dependência a
nicotina é fundamental para estabelecer um planejamento
terapêutico na cessação do tabagismo. A avaliação é feita pelo
questionário de tolerância de Fagerström, que também ajuda na
tomada de decisão sobre a conduta individualizada. Recomenda-
se o tratamento farmacológico a todo fumante acima de 18 anos,
com consumo maior do que 10 cigarros/dia, sendo essa uma
medida efetiva para a cessação do tabagismo.
Verifica-se o grau de interesse do paciente em parar de fumar, de
acordo com o modelo que o classifica em fases motivacionais
comportamentais:
▶ Pré-contemplativa: não quer parar de fumar;
▶ Contemplativa: pensa em parar de fumar;
▶ Ativa: preparado para iniciar tratamento;
▶ Manutenção e recaída: voltou a fumar.
Deve-se avaliar o grau de dependência à nicotina, saber sobre
experiência pregressa com fármacos para tabagismo e
considerar a presença de comorbidades. A prescrição deve
considerar todos esses aspectos acrescidos das
contraindicações, efeitos colaterais e precauções para o uso.
Para tratamento, segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas — Dependência à Nicotina, podem ser usados:
▶ Adesivos de nicotina: 21 mg, 14 mg e 7 mg, em 24 horas, e 15
mg, 10 mg e 5 mg, em 16 horas. A dose deve ser prescrita
considerando-se o consumo médio de cigarros/dia, variando de
14 a 21 mg/d, com o objetivo de controlar os sintomas de
abstinência, podendo aumentar a dose a critério médico;
▶ Goma de nicotina ou pastilhas: 4 e 2 mg. Fumantes de 25
cigarros ou mais devem utilizar gomas ou pastilhas de 4 mg e
fumantes de menos de 25 cigarros/dia devem utilizar gomas de 2
mg. As gomas devem ser consumidas a cada 1 ou 2 horas ao
longo de 6 semanas, com redução progressiva do consumo até a
14ª semana;
▶ Bupropiona: comprimidos de 150 mg de cloridrato de
bupropiona de liberação prolongada. Iniciar com 150 mg, 1x/d, no
quarto dia prescrever 150 mg, 2x/d, usualmente por 12 semanas;
▶ Vareniclina: comprimidos de 0,5 e 1 mg de tartarato de
vareniclina. Iniciar com 0,5 mg, 1x/d. No quarto dia, prescrever 0,5
mg, 2x/d, no sétimo dia prescrever 1 mg, 2x/d, por 12 ou 24
semanas.
A terapia com bupropiona e vareniclina não requer cessação
imediata do tabagismo. Recomenda-se a interrupção deste a
partir do oitavo dia após o início desses medicamentos.
Embora não tenham aprovação do Food and Drug Administration
(FDA) para tratamento do tabagismo e provoquem muitos efeitos
colaterais, existe evidência científica de que a nortriptilina e a
clonidina sejam superiores ao placebo no tratamento do
tabagismo, podendo contribuir em situações em que os
medicamentos considerados de primeira linha não podem ser
utilizados.
Figura 4.1 - Questionário de tolerância de Fagerström
5.1 DEFINIÇÃO
O termo “psicose” tem recebido, historicamente, diversas
definições diferentes, nenhuma com aceitação universal. A mais
estreita está restrita a delírios ou alucinações proeminentes, sem
crítica por parte do paciente. Ainda mais ampla é a definição que
igualmente inclui outros sintomas positivos da esquizofrenia,
como discurso desorganizado, comportamento amplamente
desorganizado ou catatônico.
De acordo com o glossário da American Psychiatric Association, o
termo “psicótico” refere-se a um amplo comprometimento do
teste da realidade.
#importante
Na psicose, é possível encontrar delírios,
alucinações e comportamento
desorganizado, podendo estar presentes
em várias condições ou patologias:
esquizofrenia, transtornos de humor
(mania ou depressão), intoxicação e
abstinência de substâncias químicas, uso
de medicamentos e delirium.
#importante
Os transtornos esquizofrênicos não
podem ser diagnosticados durante
doença cerebral, abstinência,
intoxicações ou outros transtornos que
possam alterar o paciente.
5.2.2 Histórico
Em 1896, Emil Kraepelin cunhou o termo “dementia praecox”
para uma doença que tendia a começar relativamente cedo e
produzir prejuízo claro e persistente em aspectos das funções
cognitivas e comportamentais. No início, ele considerava a
doença com curso crônico e prognóstico ruim, porém, no
decorrer de sua vida profissional, acompanhou grande amostra
de pacientes e observou que 12,5% se recuperaram.
Em 1908, Eugen Bleuler modificou o termo para esquizofrenia (do
grego schizo, cindido/dividido; e phrén, mente), para ele, o sintoma
mais importante era a fragmentação na formulação e na
expressão do pensamento — o “afrouxamento de associações”.
Identificou os “As” bleulerianos: Associações (dissociações) no
processo do pensamento; Ambivalência; Autismo; Afeto
embotado; Avolição e Atenção prejudicadas. Kurt Schneider,
interessado em identificar sintomas patognomônicos, como
Bleuler, estabeleceu uma hierarquia de sintomas para o
diagnóstico da esquizofrenia, de acordo com sua importância.
Tais concepções influenciaram as classificações e os critérios
atuais, como o DSM-5 e a CID-11.
A hierarquia é dividida em sintomas de primeira e segunda ordem.
Os de primeira ordem não são obrigatórios para o diagnóstico de
esquizofrenia.
▶ Primeira ordem: percepção delirante, alucinações auditivas
(vozes que fazem comentários e/ou que dialogam entre si),
sonorização do pensamento, roubo do pensamento, vivências de
influência sobre o pensamento, difusão do pensamento e eco do
pensamento;
▶ Segunda ordem: intuição delirante, perplexidade, humor
depressivo ou exaltado e vivência de empobrecimento afetivo.
5.2.3 Prevalência
Cerca de 1% da população é acometida pela doença, geralmente
iniciada antes dos 25 anos, sem predileção por qualquer camada
sociocultural. O diagnóstico baseia-se, exclusivamente, na
história psiquiátrica e no exame do estado mental. É
extremamente raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10
ou após os 50 anos, e parece não haver nenhuma diferença na
prevalência entre homens e mulheres.
5.2.4 Curso
A idade média de início do primeiro episódio psicótico de
esquizofrenia situa-se na primeira metade da casa dos 20 anos
para homens e no final da casa dos 20 para as mulheres. O início
pode ser abrupto ou insidioso, mas a maioria apresenta algum
tipo de fase prodrômica, manifestada pelo desenvolvimento lento
e gradual de uma variedade de sinais e sintomas — retraimento
social, perda do interesse pela escola ou pelo trabalho,
deterioração da higiene e dos cuidados pessoais, comportamento
incomum e ataques de raiva. Os membros da família podem
encontrar dificuldades para interpretar tal comportamento,
presumindo que a pessoa está “passando por uma fase”. Por fim,
o aparecimento de alguns sintomas da fase ativa marca a
perturbação como esquizofrenia.
A idade de início pode ter importância tanto fisiopatológica
quanto prognóstica. Os indivíduos com início precoce são, mais
frequentemente, do sexo masculino e têm ajustamento pré-
mórbido mais fraco, aquisição educacional inferior, mais
evidências de anormalidades estruturais do cérebro, sinais e
sintomas negativos mais proeminentes, mais evidências de
prejuízo cognitivo — avaliados com testes neuropsicológicos — e
pior prognóstico. Inversamente, os indivíduos com início mais
tardio são, com frequência, do sexo feminino, têm menos
evidências de anormalidades estruturais do cérebro ou prejuízo
cognitivo e apresentam melhor prognóstico.
A maioria dos estudos sobre curso e resultado da esquizofrenia
sugere que o desenvolvimento seja variável. Alguns indivíduos
apresentam exacerbações e remissões, enquanto outros
permanecem cronicamente doentes. A variabilidade na definição
e na determinação impossibilita a previsão acurada do resultado
da esquizofrenia em longo prazo. A remissão completa, isto é,
retorno ao pleno funcionamento pré-mórbido, provavelmente,
não é comum. Daqueles que continuam enfermos, alguns
parecem ter curso razoavelmente estável, ao passo que outros
apresentam piora progressiva associada à incapacitação severa.
Logo no início da doença, os sintomas negativos podem ser
proeminentes, aparecendo, primariamente, como aspectos
prodrômicos.
Posteriormente, surgem os sintomas positivos. Uma vez que são
particularmente suscetíveis ao tratamento, na maioria diminuem,
mas, em muitos indivíduos, os sintomas negativos persistem
entre os episódios de sintomas positivos. Há um grupo de fatores
associados a um melhor prognóstico: bom ajustamento pré-
mórbido, início agudo, idade mais tardia de aparecimento, eventos
estressores, perturbação do humor associada, breve duração dos
sintomas da fase ativa, bom funcionamento entre os episódios,
mínimos sintomas residuais, ausência de anormalidades na
estrutura cerebral, funcionamento neurológico normal, história
familiar de transtorno do humor e ausência de história familiar de
esquizofrenia.
5.2.5 Padrão genético
O DSM-5 aponta que existe forte contribuição dos fatores
genéticos na determinação do risco para esquizofrenia, embora a
maioria dos indivíduos com diagnóstico do transtorno não tenha
história familiar de psicose. Essa tendência é atribuída a um
espectro de alelos de risco, que são associados a outros
transtornos mentais, incluindo transtorno bipolar, depressão e
transtorno do espectro autista. Os parentes biológicos em
primeiro grau de indivíduos com esquizofrenia estão em risco 10
vezes maior para a doença do que a população geral.
As taxas de concordância para esquizofrenia são maiores em
gêmeos monozigóticos do que em gêmeos dizigóticos. Adoções
têm mostrado que os parentes biológicos de indivíduos com
esquizofrenia têm risco substancialmente aumentado para a
doença, enquanto os parentes adotivos não apresentam aumento
no risco. Embora muitas evidências sugiram a importância de
fatores genéticos na etiologia da esquizofrenia, a existência de
uma taxa substancial de discordância em gêmeos monozigóticos
também indica a importância de fatores ambientais.
5.2.6 Diagnóstico
Os sintomas característicos da esquizofrenia podem ser
agrupados, genericamente, em dois tipos: positivos e negativos.
Os positivos são os mais floridos e exuberantes; os negativos são,
em maior parte, os déficits, mostrados a seguir:
▶ Positivos:
▷▷ Alucinações: mais comuns auditivas e visuais e, menos
comuns, táteis e olfativas;
▷▷ Delírios: persecutórios, de grandeza, de ciúmes, somáticos,
místicos, fantásticos;
▷▷ Perturbações da forma e do curso do pensamento:
incoerência, prolixidade, desagregação;
▷▷ Comportamento desorganizado, bizarro;
▷▷ Agitação psicomotora;
▷▷ Negligência dos cuidados pessoais.
▶ Negativos:
▷▷ Pobreza do conteúdo do pensamento e da fala;
▷▷ Embotamento ou rigidez afetiva;
▷▷ Prejuízo do pragmatismo;
▷▷ Incapacidade de sentir emoções e sentir prazer;
▷▷ Isolamento social;
▷▷ Diminuição de iniciativa e da vontade.
Alguns sintomas, embora não sejam específicos da esquizofrenia,
são de grande valor para o diagnóstico, como os seguintes:
▶ Audição dos próprios pensamentos — sob a forma de vozes;
▶ Alucinações auditivas que comentam o comportamento do
paciente;
▶ Alucinações somáticas;
▶ Sensação de ter os próprios pensamentos controlados;
▶ Irradiação desses pensamentos;
▶ Sensação de ter as ações controladas e influenciadas por algo
exterior.
Os sintomas positivos da esquizofrenia são mais facilmente
revertidos com medicação, enquanto os negativos tendem a ser
mais refratários.
Habitualmente, o surgimento da esquizofrenia é notado quando a
família e os amigos observam que a pessoa mudou de
comportamento. Ela passa a ter mau rendimento em áreas
significativas da vida cotidiana, como na escola, no trabalho ou
nas relações sociais e familiares. Comumente, há notável falta de
interesse por cuidados pessoais.
São sentimentos experimentados pelos próprios pacientes:
▶ Perplexidade: no começo da doença, relatam sentimento de
estranheza sobre a experiência, alguma confusão sobre de onde
vêm os sintomas — normalmente, alucinações — e se perguntam
por que sua experiência diária tem mudado tanto;
▶ Isolamento: o esquizofrênico experimenta sensação intensa de
ser diferente dos demais e de estar separado de outras pessoas.
O isolamento social e a evitação de contatos tornam-se
evidentes;
▶ Ansiedade e medo: na maior parte, a experiência cotidiana é
invadida por sensação geral de mal-estar e ansiedade.
Evidenciam-se os períodos de terror intenso, causados por um
mundo dentro do qual tudo parece perigoso e incontrolável,
normalmente atribuído às origens externas e mágicas.
5.2.7 Critérios diagnósticos – DSM-5
5.2.7.1 Sintomas característicos
Dois ou mais dos seguintes, cada qual presente por uma porção
significativa de tempo durante o período de um mês, ou menos,
se tratados com sucesso:
▶ Delírios;
▶ Alucinações;
▶ Discurso desorganizado — frequente descarrilamento ou
incoerência;
▶ Comportamento amplamente desorganizado ou catatônico;
▶ Sintomas negativos, como embotamento afetivo, alogia ou
avolição.
Caso os delírios sejam bizarros ou as alucinações consistam em
vozes que comentam o comportamento ou os pensamentos da
pessoa, ou duas ou mais vozes conversando entre elas, apenas
um dos sintomas descritos é necessário para o diagnóstico de
esquizofrenia.
5.2.7.2 Disfunção social/ocupacional
#importante
Na presença de quadros depressivos
prolongados, acima de dois anos, sem
comprometimento no trabalho e na vida
social, deve-se suspeitar de distimia.
Como diagnosticar um
transtorno de humor?
O diagnóstico de um transtorno de humor é clínico,
baseado na psicopatologia observada no exame
psíquico e no histórico da patologia do paciente. Não se
deve esquecer que alterações de humor podem ser
secundárias a patologias clínicas ou ao uso de
medicamentos ou substâncias psicoativas.
Associação Médica do Rio Grande do Sul - Processo
Seletivo Unificado
O processo seletivo da AMRIGS-PSU é uma avaliação com
questões mais diretas e objetivas de múltipla escolha, que
abordam casos clínicos, o uso de imagens, achados de exames,
hipóteses diagnósticas e questionamento de tratamentos.
Há temas mais recorrentes e que merecem atenção. Em Clínica
Médica são cobradas: Psiquiatria — psicofarmacologia e outros
tratamentos em Psiquiatria; Infectologia — tipos de infecções;
Cardiologia — temas relacionados a hipertensão arterial
sistêmica. Cirurgia Geral tem foco em hérnias de parede
abdominal, abdome agudo, tratamento cirúrgico da obesidade e
cirurgia metabólica.
Em Ginecologia, preste atenção em anticoncepção, HPV e
neoplasias intraepiteliais cervicais, patologias neoplásicas e
câncer de endométrio. Em Pediatria são relevantes Neonatologia,
aleitamento materno e desenvolvimento. Por fim, Saúde Coletiva
cobra estudos epidemiológicos, Medicina de Família e
Comunidade e análise de métodos diagnósticos.
AMRIGS-PSU | 2021
Pacientes com esse transtorno se caracterizam por ter um
distúrbio do humor crônico e flutuante, com muitos períodos de
hipomania e de depressão menor. Apresentam dificuldades
conjugais devido à natureza imprevisível de suas mudanças de
humor e a irritabilidade acentuada. Também é comum, nesses
pacientes, o abuso de álcool e outras substâncias. Assinale o
diagnóstico que corretamente se relaciona com a descrição
sintomatológica apresentada.
a) transtorno distímico
b) transtorno ciclotímico
c) transtorno de humor bipolar tipo I
d) transtorno de humor bipolar tipo II
Gabarito: b
Comentários:
a) No transtorno distímico, atualmente chamado de transtorno
depressivo maior persistente, há a presença de sintomas
depressivos durante dois anos, sem a presença de sintomas de
hipomania.
b) O transtorno ciclotímico é caracterizado por períodos de
sintomas hipomaníacos e sintomas depressivos por um período
de dois anos, mas que não satisfazem os critérios para depressão
maior ou hipomania.
c) Para o diagnóstico de transtorno bipolar tipo I, é necessária a
presença de pelo menos um episódio maníaco. Episódios de
depressão maior também estão presentes.
d) Para o transtorno bipolar tipo II, é necessário períodos de
hipomania e os episódios de depressão são episódios de
depressão maior.
Como diagnosticar e
diferenciar os transtornos
de ansiedade?
7.1 INTRODUÇÃO
A ansiedade é o grande sintoma de características psicológicas
que mostra a intersecção entre o físico e o psíquico, uma vez que
tem claros sintomas físicos, como taquicardia, sudorese,
tremores, tensão muscular, aumento das secreções, aumento da
motilidade intestinal e cefaleia. Trata-se de um sinal de alerta, que
adverte sobre perigos iminentes e capacita o indivíduo a tomar
medidas para enfrentar ameaças. O medo é a resposta a uma
ameaça conhecida, definida; a ansiedade é uma resposta a uma
ameaça desconhecida, vaga.
A ansiedade prepara o indivíduo para lidar com situações
potencialmente danosas ou qualquer ameaça à unidade ou
integridade pessoal, tanto física como moral. Dessa forma, ela
prepara o organismo para tomar as medidas necessárias para
impedir a concretização desses possíveis prejuízos. Portanto, é
uma reação natural e necessária para a autopreservação. Não se
trata de um estado normal, mas de uma reação. As reações de
ansiedade normais não precisam ser tratadas porque são naturais
e autolimitadas. Os estados de ansiedade anormais, que
constituem síndromes de ansiedade, são patológicos e requerem
tratamento específico.
Figura 7.1 - Níveis de ansiedade
#importante
A ansiedade ocorre em picos de poucos
minutos no pânico e em platô de
semanas no transtorno de ansiedade
generalizada.
7.4 TRANSTORNO OBSESSIVO-
COMPULSIVO
O transtorno obsessivo-compulsivo consiste na combinação de
obsessões e compulsões. Segundo o DSM-5, obsessões são
pensamentos recorrentes e insistentes, caracterizados por serem
desagradáveis, repulsivos, contrários à índole do paciente e
incontroláveis. Como o paciente perde o controle sobre os
pensamentos, muitas vezes passa a praticar atos que, por serem
repetitivos, tornam-se rituais. Esses atos objetivam prevenir ou
aliviar a tensão causada pelos pensamentos; assim, as
compulsões podem ser secundárias às obsessões. As
compulsões são gestos, rituais ou ações sempre repetitivas e
incontroláveis. Um paciente que tenta evitá-las acaba submetido
a uma tensão muito grande, por isso sempre cede. Não ocorre
perda do juízo, e o indivíduo sempre percebe o absurdo ou o
exagero do que se está passando; no entanto, como não sabe o
que acontece, teme estar enlouquecendo e, pelo menos no
começo, tenta esconder seus pensamentos e rituais. No
transtorno obsessivo-compulsivo, os dois tipos de sintomas
quase sempre estão juntos, mas pode haver a predominância de
um em relação ao outro.
Tal transtorno apresenta dois picos de incidência. O primeiro, na
infância, e o segundo, em torno dos 30 anos. A incidência é
aproximadamente a mesma entre homens e mulheres, com
pequenas diferenças de um estudo para outro. Entre as crianças,
observa-se o aparecimento um pouco mais comum nos meninos.
O tratamento é realizado com antidepressivos. No início, podem-
se utilizar benzodiazepínicos para o alívio rápido dos sintomas.
Destaca-se a importância da psicoterapia, em especial da linha
cognitivo-comportamental.
7.4.1 Sintomas obsessivos mais comuns
▶ Sentir medo de contaminar-se por germes;
▶ Imaginar que tenha ferido ou ofendido outras pessoas;
▶ Imaginar-se perdendo o controle, realizando violentas
agressões;
▶ Ter pensamentos sexuais urgentes e intrusivos;
▶ Ter dúvidas morais e religiosas;
▶ Ter pensamentos proibidos.
#importante
Todos os transtornos têm em comum o
prejuízo social gerado por eles.
Como diagnosticar e
diferenciar os transtornos
de ansiedade?
Os estados de ansiedade anormais, que constituem
síndromes de ansiedade, são patológicos e requerem
tratamento específico. O diagnóstico dos diferentes
tipos de transtornos é baseado no quadro clínico. É
importante saber diferenciar os tipos de transtornos:
▶ Síndrome do pânico: crises imprevisíveis com
sintomas físicos intensos e de curta duração;
▶ Transtorno de ansiedade generalizada: ansiedade
elevada, na maior parte do tempo, com sintomas físicos,
por pelo menos seis meses;
▶ Transtorno obsessivo-compulsivo: misto de sintomas
obsessivos e compulsivos, estes agindo como
neutralizadores dos primeiros;
▶ Fobia social: ansiedade elevada quando em avaliação
de outras pessoas;
▶ Transtorno de estresse pós-traumático: decorrente de
situação ameaçadora de forte intensidade;
▶ Síndrome de burnout: síndrome resultante de estresse
crônico relacionada ao trabalho.
#importante
Nos distúrbios de anorexia nervosa, é
marcante a perda de peso ou a
manutenção de um peso abaixo do
normal, ao contrário da bulimia, em que
os pacientes costumam ganhar peso ou
apresentar sobrepeso.
8.1.2 Gravidade
A gravidade do transtorno é baseada no Índice de Massa
Corpórea (IMC). Os intervalos a seguir são derivados das
categorias da Organização Mundial da Saúde para baixo peso em
adultos; para crianças e adolescentes, deve-se utilizar os
percentis do IMC correspondentes à faixa etária.
O nível de gravidade pode ser aumentado de maneira a refletir
sintomas clínicos, o grau de incapacidade funcional e a
necessidade de supervisão.
▶ Leve: IMC maior ou igual a 17 kg/m2;
8.1.3 Tratamento
Dependendo das condições clínicas, muitas vezes é necessário
proceder à internação para o restabelecimento da sua saúde em
ambiente hospitalar, como no caso de IMC abaixo de 15 ou
ideação suicida. Em caso de regime de hospitalização, procede-se
à correção hidroeletrolítica, à dieta hipercalórica — mesmo contra
a vontade do paciente —, à correção de possíveis alterações
metabólicas e ao início do tratamento psiquiátrico.
A psicofarmacoterapia é indispensável, normalmente feita com
antidepressivos tricíclicos que tenham como efeito colateral o
estímulo do apetite e o ganho de peso — caso da maprotilina,
amitriptilina ou clomipramina. Na necessidade de sedação, o que
quase sempre acontece, recomenda-se que seja feita com
neurolépticos e, preferencialmente, com aqueles que também
aumentam o apetite — caso da levomepromazina.
Devem estar associados psicoterapia e acompanhamento
nutricional. Mesmo após a melhora, é importante saber que as
recaídas são frequentes. No caso da internação, a taxa de recidiva
imediata é superior a 25%. Portanto, o acompanhamento desses
pacientes deve ser feito durante anos.
8.2 BULIMIA NERVOSA
A bulimia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por
episódios recorrentes de compulsão periódica, que possuem os
seguintes aspectos:
▶ Ingestão, em um período limitado de tempo (2 horas), de uma
quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria
das pessoas consumiria durante um período similar e sob
circunstâncias similares (binges);
▶ Sentimento de falta de controle sobre o comportamento
alimentar durante o episódio: sentimento de incapacidade de
parar de comer ou de controlar o que ou quanto está comendo;
▶ Comportamento compensatório inadequado e recorrente, com
o fim de prevenir aumento de peso, como autoindução de vômito,
uso indevido de laxantes, diuréticos, enemas ou outros
medicamentos, jejuns ou exercícios excessivos (vigorexia):
▷▷ A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios
inapropriados ocorrem, em média, no mínimo uma vez por
semana durante três meses. A autoavaliação é indevidamente
influenciada pela forma e pelo peso do corpo;
▷▷ O distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de
anorexia nervosa.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-5), a prevalência de 12 meses de bulimia nervosa
entre jovens do sexo feminino é de 1 a 1,5%. A maioria dos
pacientes com bulimia nervosa é do sexo feminino, na proporção
de 9:1. O início dos sintomas vai dos últimos anos da adolescência
até os 40 anos, com média de início por volta dos 20 anos.
Algumas profissões, em particular, parecem apresentar maior
risco, como as de jóqueis, atletas, manequins e pessoas ligadas à
moda em geral. Aspectos socioculturais são importantes, na
medida em que a doença parece também mais comum em
classes econômicas mais elevadas.
8.2.1 Tratamento
Quando necessária, a internação acontece por complicações
associadas, como depressão com risco de suicídio, perda de peso
acentuada com comprometimento do estado geral,
hipopotassemia seguida de arritmia cardíaca e casos de
comportamento impulsivo — abuso de álcool, drogas,
automutilação, cleptomania e promiscuidade sexual.
Os antidepressivos têm demonstrado maior eficácia na
diminuição dos episódios bulímicos e são indicados os tricíclicos
ou inibidores seletivos de recaptação da serotonina, como a
fluoxetina e a fluvoxamina, mesmo na ausência de depressão
coexistente. Devem estar associados psicoterapia e
acompanhamento nutricional.
#importante
Na bulimia, geralmente há sobrepeso,
uma vez que vômitos e diarreia não
contribuem para a perda de peso.
9.1 INTRODUÇÃO
Indivíduos com distúrbios de personalidade estão entre os
usuários mais assíduos dos serviços de emergência,
representando, para o médico, casos bastante complexos,
confusos e que consomem muito tempo e energia.
O correto diagnóstico e a abordagem desse tipo de paciente são
fundamentais para que o seu comportamento não influencie a
avaliação e a conduta objetiva do caso.
Definição e sintomas do transtorno de personalidade:
▶ Definição: de acordo com a Classificação Internacional de
Doenças (CID-11), esse agrupamento compreende diversos
estados e tipos de comportamento clinicamente significativos
que tendem a persistir e são a expressão característica da
maneira de viver do indivíduo e de seu modo de estabelecer
relações consigo próprio e com os outros. Alguns desses estados
e tipos de comportamento aparecem precocemente durante o
desenvolvimento individual, enquanto outros são adquiridos mais
tardiamente durante a vida. Eles representam desvios extremos
ou significativos das percepções, dos pensamentos, das
sensações e sobretudo das relações com os outros em
comparação àquelas de um indivíduo médio de dada cultura. Tais
tipos de comportamento são, em geral, estáveis e englobam
múltiplos domínios da conduta e do funcionamento psicológico.
Com frequência, são associados a sofrimento subjetivo e a
comprometimento de intensidade variável do desempenho social;
▶ Sintomas: iniciam-se na adolescência e continuam por toda a
vida adulta, podendo ser atenuados na velhice. Em graus variados,
o distúrbio influencia todas as facetas da personalidade, incluindo
cognição, humor, comportamento e relacionamento interpessoal.
No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM-5), diferentemente da CID-11, os transtornos da
personalidade estão reunidos em três grupos, com base em
semelhanças descritivas. O grupo A inclui os transtornos da
personalidade paranoide, esquizoide e esquizotípica. Indivíduos
com esses transtornos frequentemente parecem esquisitos ou
excêntricos.
O grupo B inclui os transtornos da personalidade antissocial,
borderline, histriônica e narcisista. Indivíduos com esses
transtornos costumam parecer dramáticos, emotivos ou
erráticos. O grupo C inclui os transtornos da personalidade
evitativa, dependente e obsessivo-compulsiva. Indivíduos com
esses transtornos com frequência parecem ansiosos ou
medrosos.
Deve-se observar que esse sistema de agrupamento, embora seja
útil em algumas pesquisas, apresenta sérias limitações e não foi
consistentemente validado. É também bastante frequente que
pessoas apresentem diagnóstico ou características de mais de
um transtorno de personalidade.
Estimativas de prevalência para os diferentes grupos no DSM-5
sugerem 5,7% para os transtornos do grupo A, 1,5% para os do
grupo B e 6% para os do grupo C, com 9,1% para qualquer
transtorno da personalidade, indicando concomitância frequente
de transtornos de grupos diferentes.
Dados do National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related
Conditions, de 2001/2002, sugerem que cerca de 15% dos
adultos dos Estados Unidos apresentam pelo menos um
transtorno da personalidade.
9.2 DEFINIÇÃO
O distúrbio de personalidade resulta de interações complexas
entre constituição pessoal, temperamento, experiências
pessoais, relacionamento familiar e oportunidades de aquisição
de modelos comportamentais — fatores constitucionais e
ambientais.
Figura 9.1 - Características dos distúrbios de personalidade primário e secundário
Fonte: elaborado pelo autor.
11.2.2 Tratamento
O tratamento é realizado com a família, a criança e a escola.
Terapia, principalmente da linha comportamental, apresenta boa
eficácia. Quanto à farmacologia, o principal medicamento
utilizado é o metilfenidato (Ritalina®). Alternativas são os
antidepressivos (tricíclicos, bupropiona) e os anti-hipertensivos
(clonidina). Quanto à eficácia do tratamento, em 70% dos casos
há diminuição de, pelo menos, 50% dos sintomas com a
medicação.
11.3 TRANSTORNOS DO ESPECTRO
AUTISTA
Trata-se de um grupo de transtornos caracterizados por
alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e
modalidades de comunicação e por um repertório de interesses e
atividades restrito, estereotipado e repetitivo.
As características essenciais do transtorno do espectro autista
são, segundo o DSM-V, prejuízo persistente na comunicação
social recíproca e na interação social e padrões restritos e
repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Esses
sintomas estão presentes desde o início da infância e limitam ou
prejudicam o funcionamento diário.
Os sintomas costumam ser reconhecidos durante o 2º ano de
vida (12 a 24 meses), embora possam ser vistos antes dos 12
meses de idade, se os atrasos do desenvolvimento forem graves,
ou percebidos após os 24 meses, se os sintomas forem mais
leves.
As características comportamentais tomam-se inicialmente
evidentes na primeira infância, com alguns casos apresentando
falta de interesse em interações sociais no 1º ano de vida.
Algumas crianças apresentam platôs ou regressão no
desenvolvimento, com uma deterioração em comportamentos
sociais ou uso da linguagem, frequentemente durante os 2
primeiros anos de vida. Tais perdas são raras em outros
transtornos, podendo ser um útil sinal de alerta para identificação
do transtorno do espectro autista. Geralmente, é acompanhado
de outras manifestações inespecíficas, como fobias, alterações
do sono ou da alimentação, crises de hétero ou
autoagressividade.
O tratamento medicamentoso, quando necessário, visa à melhora
do comportamento. Podem ser utilizados antipsicóticos, como
risperidona, ou antidepressivos, como fluoxetina, para diminuição
da impulsividade e agressividade.
#importante
Para o diagnóstico investiga-se
perturbação característica do
funcionamento em cada um destes três
domínios: interações sociais,
comunicação e comportamento
focalizado e repetitivo.
11.4 DISLEXIA
A característica essencial da dislexia é um comprometimento do
desenvolvimento das habilidades de leitura, não atribuíveis
exclusivamente à idade mental, transtornos de acuidade visual ou
escolarização inadequada. A capacidade de compreensão da
leitura, o reconhecimento das palavras, a leitura oral e o
desempenho de tarefas que necessitam da leitura podem estar
comprometidos. Pode haver associação a transtornos emocionais
e do comportamento durante a escolarização. Pessoas com
dislexia não apresentam retardo mental, e não há tratamento
medicamentoso para ela. O tratamento exige a participação de
especialistas em várias áreas — Pedagogia, Fonoaudiologia,
Psicologia etc.
Quais as principais
patologias psiquiátricas
da infância?
As principais patologias psiquiátricas da infância são
retardo mental, transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade, transtornos do espectro autista e
dislexia.
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo
A Santa Casa-SP tem um processo seletivo com duas fases. Na
primeira, você realizará uma prova de múltipla escolha, com 100
questões, para cada uma delas há cinco alternativas. As questões
são distribuídas igualmente entre os temas de Clínica Médica,
Cirurgia Geral, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia e Medicina
Preventiva e Social.
Estude com atenção os seguintes temas: trauma, abdome agudo,
atendimento inicial, pancreatite aguda, litíase biliar e cuidados
pós-operatórios. Também merecem reforço os temas: terapia de
reposição hormonal, incompatibilidade Rh, gemelaridade,
hemorragia pós-parto, violência sexual, anticoncepção, parto, pré-
natal, câncer de cólon uterino, clínica ampliada, prevenção
quaternária, ensaios clínicos, Sistema Único de Saúde (SUS),
estudos epidemiológicos, Medicina Legal, atenção primária e
análise de métodos diagnósticos.
Não se esqueça de estudar fibrose cística, anemia falciforme,
aleitamento, vacinação infantil, doenças exantemáticas, doenças
glomerulares, infecção por vias aéreas, ACLS, infarto agudo do
miocárdio, acidente vascular cerebral, tuberculose, infecções
sexualmente transmissíveis e sepse. Prepare-se também para
questões com eletrocardiogramas, pois são comuns neste
processo seletivo.
Já a segunda fase está dividida entre uma prova prática e a
análise e arguição do currículo. A prova prática será realizada em
ambientes sucessivos. Serão cinco estações práticas, também
relacionadas às cinco áreas básicas que serviram de tema para a
primeira fase. A avaliação será inteiramente documentada por
meios gráficos ou eletrônicos. Na segunda etapa, além da análise
do currículo, há uma entrevista, então, se você conseguir chegar
nesta etapa, esteja preparado.
SANTA CASA-SP | 2020
Um adolescente de catorze anos de idade compareceu à consulta
ambulatorial, referindo tristeza por término de namoro há duas
semanas. Além disso, relatou diminuição no rendimento escolar,
há dois meses, por ter muito sono durante as aulas e dificuldade
para prestar atenção. Ao exame físico, o médico constatou lesões
cicatriciais de ferimentos cortocontusos em ambos os membros
superiores.
Com base nessa situação hipotética, assinale a alternativa que
apresenta a conduta que não é recomendada:
a) abordar o paciente em ambiente acolhedor e estimar o risco de
tentativa de suicídio
b) demonstrar compreender as emoções do paciente que
motivaram suas ações e verificar transtornos psiquiátricos
coexistentes
c) determinar tipo, quantidade e gravidade das lesões e a
disposição do paciente para aderir ao tratamento
d) avaliar a data da última vacinação para tétano ou aplicar reforço
e checar alguns dados laboratoriais, incluindo pesquisa para
anticorpos de hepatite C
e) notificar a família, internar o paciente e iniciar tratamento
específico
Gabarito: e
Comentários:
a) Veja o comentário geral na alternativa correta.
b) Veja o comentário geral na alternativa correta.
c) Veja o comentário geral na alternativa correta.
d) Veja o comentário geral na alternativa correta.
e) A avaliação deve ser realizada em tom amistoso, acolhedor e
livre de julgamentos, devendo ser consideradas as seguintes
variáveis: grau de perigo, grau de intencionalidade e grau de
violência contra si mesmo. Além disso, é preciso verificar se é um
ato isolado ou faz parte de uma história de autoagressões
recorrentes, seguido de avaliação de presença de quadro
psiquiátrico e análise dos contextos familiar, social e ambiental,
devendo ser encaminhado para acompanhamento
psicoterapêutico. A hospitalização deverá ser indicada como
medida de cuidado se os fatores de risco superarem os de
proteção. Consideram-se relevantes nessa avaliação:
probabilidade elevada de tentativa de suicídio, história de
tentativas anteriores, uso de meio violento, ambiente
desfavorável (conflitos familiares, violência doméstica, abuso
sexual ou falta de condições da família de dar apoio e proteção ao
paciente) ou presença de transtorno mental descompensado,
principalmente depressão ou sintomas psicóticos.
Como se deve avaliar e
manejar emergências
psiquiátricas?
13.1 ANTIDEPRESSIVOS
Acredita-se que o efeito antidepressivo se deve ao aumento da
disponibilidade de neurotransmissores no Sistema Nervoso
Central (SNC), notadamente da serotonina (5-HT), da
noradrenalina (NE) e da dopamina (DA). Ao bloquearem
receptores 5-HT2, da 5-HT, os antidepressivos também
funcionam como antienxaquecosos. O aumento de
neurotransmissores na fenda sináptica ocorre por meio do
bloqueio da recaptação da NE e da 5-HT no neurônio pré-
sináptico ou, ainda, da inibição da monoaminoxidase (MAO),
enzima responsável pela inativação desses neurotransmissores.
Podem-se dividir os antidepressivos em quatro grupos:
▶ Antidepressivos tricíclicos (ADTs);
▶ Inibidores seletivos de recaptação da 5-HT;
▶ Inibidores da MAO (IMAOs);
▶ Outros antidepressivos.
13.1.1 Antidepressivos tricíclicos
▶ Amitriptilina (150 a 300 mg/d);
▶ Clomipramina (150 a 300 mg/d);
▶ Imipramina (150 a 300 mg/d);
▶ Nortriptilina (50 a 150 mg/d).
Os ADTs impedem a recaptação de NE e 5-HT, resultando no
aumento dos neurotransmissores na fenda sináptica. Parece
haver, também, diminuição de receptores pré-sinápticos do tipo
alfa-2, cuja estimulação pela NE da fenda por mecanismo de
feedback negativo inibiria a liberação de NE.
Assim, quanto menor o número desses receptores, menor sua
estimulação e, consequentemente, mais NE seria liberada na
fenda. Portanto, há dois mecanismos relacionados à recaptação:
um inibindo diretamente a recaptação e outro diminuindo o
número dos receptores.
É importante, com relação à farmacocinética dos ADTs, o
conhecimento do período de latência para a obtenção dos
resultados terapêuticos. Normalmente, esses resultados são
obtidos após um período de 15 até 30 dias depois do início da
utilização. Os ADTs são potentes anticolinérgicos, e, por essa
característica, seus efeitos colaterais são acentuados e ocorrem
logo no início do tratamento, sem período de latência.
Os principais efeitos colaterais dos antidepressivos tricíclicos são:
▶ Oftalmológicos: há dificuldade de acomodação visual;
▶ Gastrintestinais: secura na boca ocorre em quase 100% dos
pacientes, resolvida com ingesta aumentada de água.
Constipação intestinal também acontece em quase 100% das
vezes e é resolvida com mudança no hábito alimentar ou uso de
laxantes;
▶ Cardiocirculatórios: os ADTs podem provocar aumento na
frequência cardíaca, mas as taquicardias importantes são raras.
Outro efeito circulatório que pode molestar o paciente é a
hipotensão postural;
▶ Geniturinários: a retenção urinária pode ser observada,
principalmente, em homens e portadores de adenoma de
próstata. Com muita frequência, encontra-se disúria em ambos os
sexos. Na esfera sexual, podem ocorrer diminuição da libido,
retardamento do orgasmo e, mais raramente, anorgasmia (em
ambos os sexos);
▶ SNC: sedações iniciais e sonolência são encontradas no início
do tratamento, diminuindo sensivelmente após os seis primeiros
dias. Em doses terapêuticas, insônia, agitação e aumento da
ansiedade não são comuns. Em indivíduos mais idosos, pode-se
encontrar a chamada síndrome anticolinérgica central, com
agitação, confusão mental, delírios e alucinações. Então,
considera-se o uso de doses menores em tais pacientes. Em
predispostos, podem ocorrer convulsões do tipo generalizadas
pelo fato de os ADTs diminuírem o limiar convulsígeno;
▶ Alterações gerais: tremores finos das mãos são observados
com certa frequência e respondem muito bem aos
betabloqueadores (propranolol). Sudorese excessiva pode
também incomodar o paciente, mas não necessita de cuidado
especial. É comum ganho de peso, e, algumas vezes, os pacientes
referem impulso para comer doce.
Os ADTs estão indicados para o tratamento dos estados
depressivos de etiologia diversa: depressão associada a
esquizofrenia e distúrbios de personalidade, síndromes
depressivas senis ou pré-senis, distimia, depressão de natureza
reativa, neurótica ou psicótica, síndromes obsessivo-compulsivas,
fobias e ataques de pânico, estados dolorosos crônicos, profilaxia
de enxaqueca e enurese noturna (a partir de 5 anos e com prévia
exclusão de causas orgânicas). A amitriptilina está mais indicada,
também, aos casos de ansiedade associados a depressão,
depressão com sinais vegetativos, dor neurogênica, anorexia e
casos de dor crônica grave (câncer, doenças reumáticas, nevralgia
pós-herpética, neuropatia pós-traumática ou diabética).
Clomipramina está mais indicada a casos de transtorno
obsessivo-compulsivo e outros transtornos do espectro ansioso.
É importante lembrar: a nortriptilina é mais indicada para idosos
por ter menor efeito anticolinérgico; os tricíclicos são
contraindicados no primeiro trimestre da gestação; devem-se
solicitar sempre ecocardiograma e hemograma, pelo risco de
leucopenia e plaquetopenia; e deve-se introduzir medicação em
dose baixa e aumentar, progressivamente, até a dose terapêutica.
As contraindicações aos ADTs são bloqueio de ramo ventricular,
glaucoma de ângulo fechado, prostatismo e pós-infarto agudo do
miocárdio.
13.1.2 Inibidores seletivos de recaptação da serotonina
▶ Citalopram (20 a 60 mg/d);
▶ Fluoxetina (20 a 80 mg/d);
▶ Paroxetina (20 a 40 mg/d);
▶ Sertralina (50 a 200 mg/d);
▶ Escitalopram (10 a 20 mg/d).
O efeito antidepressivo dos inibidores seletivos de recaptação da
serotonina (ISRSs) parece ser consequência do bloqueio seletivo
da recaptação da 5-HT. A fluoxetina foi o primeiro representante
dessa classe de antidepressivos e tem um metabólito ativo, a
norfluoxetina. Este metabólito é o ISRS que se elimina mais
lentamente do organismo. A incidência de efeitos colaterais
anticolinérgicos, anti-histamínicos e alfabloqueadores, assim
como o risco de superdosagem, é menor nos ISRSs do que nos
ADTs. Entretanto, a fluoxetina tem se associado a alguns casos de
acatisia, especialmente quando a dose é muito alta, e a
estimulação do SNC parece maior com a fluoxetina do que com
outros ISRSs. A paroxetina origina mais sedação, efeitos
anticolinérgicos e extrapiramidais que outros ISRSs. Têm-se
relatado sintomas de abstinência com a supressão brusca do
tratamento com a paroxetina.
Os ISRSs estão indicados para o tratamento dos transtornos
depressivos, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do
pânico, transtornos fóbico-ansiosos, neuropatia diabética, dor de
cabeça tensional crônica e transtornos alimentares. A fluoxetina
tem ação anorexígena, com discreta redução do peso corpóreo
durante os primeiros meses. Há recuperação do peso com a
continuidade do seu uso.
Os ISRSs representam uma boa escolha para pacientes com
comorbidades clínicas, principalmente cardiovasculares, mas
estão contraindicados para insuficiência hepática — metabolismo
hepático (citocromo p450).
O uso é recomendado pela manhã — pois pode causar insônia se
tomado mais tardiamente — e os efeitos colaterais são diarreia,
náuseas, dispepsia, insônia, cefaleia, diminuição da libido e
alteração na ejaculação.
13.1.3 Inibidores da monoaminoxidase
▶ Tranilcipromina (50 mg/d);
▶ Moclobemida (300 a 600 mg/d).
Os chamados IMAOs promovem o aumento da disponibilidade da
5-HT por intermédio da inibição da monoaminoxidase
responsável pela degradação desse neurotransmissor
intracelular. Não são drogas de primeira escolha para depressão,
mas são excelentes nas depressões atípicas e nas fobias sociais.
Os de inibição irreversível (tranilcipromina) têm o inconveniente
de exigirem restrição para alimentos com tiramina, como queijos,
vinhos e feijão. Os principais efeitos colaterais são hipotensão
postural, bradicardia, tremores, sudorese, insônia e disfunções
sexuais. Não devem ser utilizados com ISRS, pois podem
desencadear síndrome serotoninérgica — hipertermia, mioclonia,
hipertensão, hiperatividade, tremor e sedação.
13.1.4 Antidepressivos atípicos
Os antidepressivos atípicos são os mais modernos, com melhor
perfil de efeitos colaterais. A eficácia, no entanto, é semelhante à
dos anteriores.
▶ Venlafaxina (serotoninérgico, noradrenérgico, dopaminérgico):
150 a 225 mg/d;
▶ Desvenlafaxina (serotoninérgico, noradrenérgico): 50 a 200
mg/d;
▶ Reboxetina (noradrenérgico): 8 a 10 mg/d;
▶ Fluvoxamina (serotoninérgico): 100 a 300 mg/d;
▶ Mirtazapina (serotoninérgico, noradrenérgico, dopaminérgico):
15 a 45 mg/d;
▶ Trazodona (serotoninérgico): 150 a 600 mg/d;
▶ Duloxetina (serotoninérgico, noradrenérgico): 60 a 120 mg/d.
Quadro 13.1 - Principais indicações para uso dos antidepressivos
#importante
Os efeitos extrapiramidais são mais
comuns com o uso de antipsicóticos
típicos.
#importante
A eletroconvulsoterapia é a primeira
indicação em gestantes bipolares, idosos
com ideação suicida e catatônicos.
13.5.3 Riscos
Antes do início das aplicações, por questão de segurança
relacionada ao risco da anestesia, é sempre realizada avaliação
pré-ECT, que consiste em:
▶ Exames laboratoriais — hemograma, glicemia, nível sérico de
potássio;
▶ Eletrocardiograma e avaliação cardiológica;
▶ Avaliação odontológica;
▶ Exame de fundo de olho ou tomografia de crânio;
▶ Radiografia de tórax.
Apesar de ser um tratamento muito seguro, há algumas
condições nas quais há risco aumentado, por isso há
contraindicação relativa ao uso da ECT. É claro que, caso o risco
de ficar sem ECT seja maior, deve-se fazê-la, tomando os devidos
cuidados. As contraindicações relativas são: infarto do miocárdio
recente, até seis meses; condições que aumentem a pressão
intracraniana, como tumores ou hematomas; aneurisma cerebral
ou sangramentos cerebrais. Arritmias devem ser avaliadas por
cardiologista, pois a maioria não contraindica a ECT.
13.5.4 Efeitos colaterais
São dois os principais efeitos colaterais da ECT: dor de cabeça,
que costuma melhorar com analgésicos comuns e alterações na
memória, que é recuperada completamente em seis meses. Com
as técnicas modernas, esses efeitos são leves e pouco
frequentes.
13.5.5 Curso do tratamento
A ECT costuma ser realizada três vezes por semana, com uma
média de 6 a 12 aplicações para apresentar o seu efeito — mínimo
de 1 e máximo de 20 aplicações. Pode ser feita com o paciente
internado ou em regime ambulatorial — ele vem de casa para a
sessão e, ao acordar da anestesia, retorna. A frequência e o
número das aplicações são decididos pelo consenso entre o
médico que indicou a ECT e a equipe especializada. Se o paciente
responde bem ao tratamento, pode ser realizada a ECT de
manutenção, na qual as aplicações se tornam espaçadas: no
começo, semanalmente; depois, quinzenalmente e, por fim,
mensalmente.
13.6 ESTIMULAÇÃO TRANSMAGNÉTICA
A estimulação magnética transcraniana repetitiva (TMS) de alta
frequência sobre o córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo
apresenta resultados satisfatórios e significativos no tratamento
de pacientes com depressão maior. É uma técnica
neurofisiológica que permite a indução de um campo magnético
no cérebro de maneira indolor e não invasiva. A TMS é aplicada
colocando-se uma espiral metálica envolta em plástico (bobina)
sobre a cabeça para a emissão de pulsos magnéticos que atuam
sobre o cérebro de maneira focalizada. Dependendo da
frequência, os estímulos podem aumentar ou diminuir a atividade
da área cerebral atingida e, assim, pode-se aplicar
terapeuticamente modulando (equilibrando) o funcionamento
neuronal, de acordo com o problema apresentado.
13.7 PSICOTERAPIA
A psicoterapia é uma possibilidade de tratamento que visa à
abordagem das dificuldades afetivas ou mentais do paciente para
a sua melhora global. É uma excelente aliada ao tratamento
farmacológico na maioria dos pacientes.
Existem vários tipos de psicoterapia, com técnicas variadas para a
sua aplicação. A melhor é a que atende satisfatoriamente às
expectativas tanto do terapeuta quanto do paciente. Algumas são
citadas a seguir.
13.7.1 Psicanálise
A psicanálise é um método de tratamento psíquico e de
investigação do inconsciente, desenvolvido por Sigmund Freud
(1856-1939). Freud desenvolveu os conceitos de transferência e
contratransferência. Em uma perspectiva psicanalítica, a
transferência ocorre quando o indivíduo, durante o processo de
exploração dos conteúdos internos da psique, por meio da
associação livre, começa a projetar no analista atitudes e
sentimentos infantis. É por meio dela que o terapeuta pode
auxiliar o paciente. Partindo da transferência, recriam-se
situações capazes de organizar muitos níveis de experiências,
vínculos e diferenciações. A contratransferência é a projeção e a
distorção do vínculo que parte do terapeuta para o paciente.
13.7.2 Psicoterapia cognitiva
Sistema de terapia cujo princípio básico é que as cognições —
pensamentos, crenças, interpretações — de um indivíduo diante
das situações influenciam suas emoções e seus
comportamentos. O terapeuta atua sobre as cognições, a fim de
alterar as emoções e os comportamentos que as acompanham.
13.7.3 Psicoterapia comportamental
Esse é o nome dado à abordagem fundamentada no
behaviorismo radical de Skinner. Caracteriza-se por preocupar-se
com a comprovação científica de seus procedimentos. O
terapeuta comportamental investiga vários aspectos do
comportamento — motores, afetivos, cognitivos — e busca
estabelecer relações do tipo de comportamento com as
condições físicas e sociais em que este ocorre. Estilo de terapia
bastante utilizado para alívio de sintomas de doenças mentais.
13.7.4 Psicologia analítica
A psicologia analítica foi criada por C. G. Jung. Apesar de ter
muitos aspectos em comum com a psicanálise, Jung acentua a
importância do simbolismo cultural e arquetípico na formação da
personalidade.
13.7.5 Psicodrama
Muito parecida com o teatro, esta modalidade de psicoterapia foi
desenvolvida por J. L. Moreno. Sua linha de ação é o desempenho
dos vários papéis por parte do paciente em seu cotidiano.
Quais são as principais
classes de medicações
psiquiátricas?
As principais classes de medicações psiquiátricas são:
antidepressivos, utilizados em quadros de depressão
unipolar e transtornos de ansiedade; antipsicóticos,
utilizados em quadros de agitação, psicose, transtorno
bipolar e como potencializadores de antidepressivos;
ansiolíticos e hipnóticos, usados no tratamento de
ansiedade de curta duração e insônia, respectivamente;
estabilizadores de humor, usados no tratamento de
transtorno afetivo bipolar, controle da impulsividade e
como potencializadores de antidepressivos.
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Na primeira fase da PUC-RS, atente-se para os temas de Bioética
e Epidemiologia. No geral, a prova contém 60 questões, com
quatro alternativas, divididas entre as áreas de Cirurgia Geral,
Clínica Médica, Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria e Medicina de
Família e Comunidade. Esteja preparado para perguntas sobre
Sistema Único de Saúde (SUS), atendimento primário e
Cardiologia. Na fase seguinte, apenas para alunos aprovados, será
realizada uma avaliação curricular. Por isso é importante ficar
atento à formatação e à entrega.
PUC-RS | 2020
Quanto ao tratamento farmacológico da esquizofrenia, afirma-se:
I - Antes de se considerar um paciente resistente a determinada
droga, é necessário um período de 4 a 6 semanas de
administração de doses adequadas do fármaco sem que exista
qualquer resposta ao tratamento.
II - A clozapina, a despeito de apresentar risco de efeitos adversos
potencialmente graves (como a agranulocitose), é reconhecida
por ser um antipsicótico mais eficaz que os demais antipsicóticos
típicos, particularmente em casos refratários.
III - O aparecimento de efeitos colaterais extrapiramidais (como
distonias, impregnação e tremores) é indicação de suspensão de
uso de antipsicóticos típicos.
Estão corretas as afirmativas:
a) I e II, apenas
b) I e III, apenas
c) II e III, apenas
d) I, II e III
Gabarito: a
Comentários:
a) I - Correta. O Schizophrenia Algorithm da International
Psychopharmacology Algorithm Project (IPAP) define que um
paciente é considerado como refratário se não responder a dois
ensaios clínicos de quatro a seis semanas de duração de
monoterapia com dois Antipsicóticos de Segunda Geração (ASG),
ou a dois ensaios com um Antipsicótico de Primeira Geração
(APG), se não estiverem disponíveis ASGs.
II - Correta. A clozapina é o único agente comprovadamente
eficaz no tratamento da esquizofrenia refratária.
III - Incorreta. Os efeitos extrapiramidais podem ser tratados com
associação de outras drogas, como anticolinérgicos,
benzodiazepínicos e betabloqueadores, não implicando
necessariamente a suspensão do antipsicótico atípico.
b) Veja o comentário geral na alternativa correta.
c) Veja o comentário geral na alternativa correta.
d) Veja o comentário geral na alternativa correta.