Ebook - Balão Das Letras - Livro

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Estado da Bahia Apresenta

João Eduardo Silva de Araújo e Marcelo Oliveira Lima (org.)

ANTOLOGIA BALÃO DAS LETRAS

Projeto Balão das Letras

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FICHA TÉCNICA

Coordenação do projeto: Carolina Gumarães

Organização e revisão: João Araújo e Marcelo Lima

Ilustrações: Bruno Marcelo (Bua)

Diagramação: Lara Carvalho

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Sumário

Apresentação ..................................................................................................  8

As Obras Adaptadas

O pequeno príncipe em Trancoso  ................................................... 9

O Laço Azul  ......................................................................................... 14

Traços de Sangue  .............................................................................. 20

Joana e a carranca do Rio Corrente  ............................................... 26

Maré   ...................................................................................................  30

Epifania   ............................................................................................... 35

Evangeline ........................................................................................... 40

No Capoeirão dos Taquaruçus da Loucura   .................................. 44

Alice no reino de Axum   ................................................................... 50

A Cartomante   ..................................................................................... 56

Mané Riachão  ..................................................................................... 60

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Sobre os editores   

João Araújo  .......................................................................................... 65

Marcelo Lima  .....................................................................................  66

Sobre o ilustrador   

Bruno Marcelo  .................................................................................... 67

Sobre o projeto  ............................................................................................ 68

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Apresentação
É com muito prazer que apresentamos ao público a 1ª Antologia Balão das Letras,
uma publicação bastante especial para todos os que participaram dessa primeira edição
do projeto. A rigor, a Antologia é uma coletânea de argumentos de autores nascidos ou re-
sidentes no interior da Bahia que adaptaram para histórias em quadrinhos um conjunto
bastante diverso de textos literários. Mas ela é mais que isso. É também o produto final de
duas oficinas de roteiro gratuitas voltadas à adaptação de obras literárias para HQs. Assim,
a Antologia é a culminação de um projeto mais amplo, chamado Balão das Letras, que in-
vestiu na formação de jovens roteiristas no estado da Bahia, a partir do incentivo à leitura e
apropriação de obras literárias brasileiras sob domínio público.
O Balão das Letras compreendeu ainda a produção de materiais didáticos sobre a
linguagem das HQs1 e a adaptação de textos literários para essa mídia2, assim engrossando
a bibliografia nacional sobre o tema, com uma preocupação em auxiliar com materiais di-
dáticos na formação de jovens interessados no roteiro para quadrinhos que não tiveram a
oportunidade de participar das nossas oficinas.
Mas esse livro não é só o resultado de um esforço pedagógico. Ele também é um portal
para um conjunto de histórias altamente imaginativas, em que o leitor vai conhecer a rela-
ção entre Tia Nastácia e os mitos lovecraftianos, apreciar uma visita do Pequeno Príncipe à
cidade baiana de Trancoso, e entender o que acontece quando um assassino tem um interes-
se macabro pelo folclore brasileiro. É com o convite para fruir essas histórias que fechamos
essa apresentação, e com o desejo genuíno de que esses textos estimulem a imaginação dos
seus leitores como estimularam a da equipe de produção dessa antologia.
Agradecemos aos alunos que enfrentaram a árdua jornada de criação para que esse
ebook existisse. Também somos gratos ao apoio financeiro do Estado da Bahia, através do
Fundo de Cultura, Fundação Cultural do Estado da Bahia, Secretaria de Cultura e Secreta-
ria da Fazenda. Sem esse apoio, nosso projeto não seria possível.
Por fim, desejamos a todos uma boa leitura!

Atenciosamente,

João Araújo e Marcelo Lima.

1 Intitulado Um breve ensaio sobre as narrativas dos quadrinhos, de autoria de João Araújo, esse texto pode ser encon-
trado aqui: <https://www.balaodasletras.com/_files/ugd/62d840_2fd86d543e9e476e938b2d‌e3fcd368b1.pdf>. Acesso em: 06 de fev.
2023.

2 Intitulado Da literatura para as HQs: um breve ensaio sobre o processo de adaptação, de autoria de Marcelo Lima, esse
texto pode ser encontrado aqui: <https://www.balaodasletras.com/_files/ugd/62d840_4‌a18f838b96543cd8d0ddf214d992a05.pdf>.
Acesso em: 06 de fev. 2023.

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O pequeno príncipe em Trancoso
Amanda Kerolainy Braga Santos

ADAPTADO DE: O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry

SINOPSE

Em viagem pela Terra, o Pequeno Príncipe avista uma vila chamada Trancoso. Pessoas dan-
çam e celebram em torno de um baobá, semelhante ao que conheceu no planeta do pregui-
çoso. Alarmado, porém curioso, se aproxima e observa os festejos. Logo é surpreendido por
Milena e Jeremias, que foram resgatar uma bola perdida. O principezinho se assusta com
a passividade deles diante do “terrível” baobá, logo diz que a árvore pode destruir o local a
qualquer momento, mas que ele não deixará. Assustados, Jeremias e Milena avisam à comu-
nidade sobre o perigo da árvore. Os mais velhos, porém, tranquilizam as crianças ao con-
tarem que o baobá é um símbolo de força e beleza. A dupla vê o principezinho pegar uma
picareta. Jeremias e Milena impedem o Príncipe de cometer uma tragédia contra o baobá e
o convidam a conhecer a cultura local.

ARGUMENTO

Trancoso, 2019

De carona em um cometa, passando por uma nebulosa e outra, o PEQUENO PRÍN-


CIPE se depara com a Terra. Logo avista um vilarejo chamado Trancoso. Vê muitas pessoas
a dançar, cantar e celebrar em torno de uma árvore robusta. Alarmado, porém curioso, deci-
de conhecer o local e, de longe, observa os festejos. De repente, o Príncipe sente um objeto
atingir suas costas e cai. Ele se vira e vê uma bola e dois adolescentes, MILENA e JEREMIAS.
Eles pedem desculpas, pois estavam jogando altinha e sem querer chutaram a bola para lon-
ge. Ainda confuso, o Pequeno Príncipe pergunta o motivo da festa em torno do baobá. Disse
ter experiência de longa data com essas “criaturas terríveis” que, por terem raízes profundas,
poderiam destruir o local a qualquer momento.
Jeremias e Milena se olham sem acreditar nas palavras do Pequeno Príncipe. Por isso,
o principezinho mostra um desenho da última vez que visitou o planeta do preguiçoso. As
crianças se assustam com o desenho e correm para alertar à comunidade, contudo os mais

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velhos relembram que os baobás são o símbolo de resistência para o povo negro. O Pequeno
Príncipe grita aos quatro ventos: “Tenham cuidado! Os baobás são uma ameaça”, “Vejam ao
seu redor... Não existe vegetação, o solo está árido”. Com muito esforço, “quase colocando os
bofes para fora”, o principezinho tenta pegar uma picareta abandonada ao lado de um dos
mastros que seria erguido em comemoração à festa de São Sebastião. Nem bem se sustenta
em pé com a ferramenta, mas ataca o baobá.
Milena e Jeremias ficam preocupados diante da tragédia anunciada. O Pequeno Prín-
cipe, exausto, cai no chão. As crianças buscam um chá de casca do baobá para acalmar a
pressão arterial do principezinho. De início, ele se recusa a tomá-lo, mas não lhe resta ou-
tra saída: tomaria o chá ou seria levado à polícia por dano ao patrimônio cultural, já que a
árvore está plantada ali há mais de 400 anos e, desde então, as pessoas comemoram todas
as festas ao seu redor. O Pequeno Príncipe fica intrigado e incrédulo com a longevidade da
árvore, ao mesmo tempo, é levado por uma curiosidade e resolve tomar o tal chá.
Aparentemente mais calmo, as crianças o convidam a ir à “Casa das festas” para sa-
ber mais sobre a história do baobá, como também da cultura local a partir dos relatos de
SEU FLOR, anfitrião da festa de São Sebastião naquele ano e um dos primeiros moradores
de Trancoso. Ao chegarem, são recepcionados com um banquete. O príncipe estranha ta-
manha fartura e de que tudo é oferecido gratuitamente. Milena e Jeremias apresentam o
viajante a Seu Flor. Em seguida, ele é convidado a ouvir sobre a história local em forma de
cantiga e no ritmo do samba de couro. O Príncipe é chamado para entrar na roda e “remexer
o esqueleto”. Meio desengonçado, um pé para lá e outro para cá, coloca o gingado nos de-
dinhos indicadores das mãos. Milena e Jeremias comentam que o chá da casca de baobá foi
“tiro e queda” para o Príncipe. Ele, ainda desconfiado de tudo, escuta a expressão e começa
a esbravejar:
- Fui enganado! Sabia que o maldito baobá iria me levar à morte.
- Nãooo... Eu não quero morrer.
O Pequeno Príncipe é novamente acalmado. Seu Flor diz que o baobá é sinônimo de
resistência e vitalidade ancestral, é uma forma de manutenção da memória do povo negro,
dos que vireram antes de nós, como o Jeremim, um príncipe que foi sequestrado da África,
escravizado no Brasil e que por muita luta, não pela simples assinatura da princesa Isabel,
conseguiu resistir e deixar o seu legado em nossa comunidade.
O principezinho se surpreende com a história do príncipe africano. Milena e Jeremias
chamam novamente o Pequeno Príncipe para darem continuidade ao tour pelo Quadrado,
pois no fim da tarde tem a roda de capoeira e o som da banda Afrobraz no mirante. Antes de
saírem, veem o principezinho analisando a arquitetura da casa, os quadros com a Trancoso
Antiga, feitos pelo artista plástico Damião Conceição Vieira, e uma mesa com utensílios de
artesanato local, como a técnica das luminárias e dos cestos trançados com a palha taboa. O
Príncipe se impressiona também com uma tigela de açaí, e comenta:

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- Acho que as frutas vermelhas estavam passadas, pois este creme está roxo!
Milena e Jeremias dizem que é ele que não sabe o que está perdendo. Então, o princi-
pezinho experimenta o “creme roxo”, mas acha o sabor forte demais. Sem perceber, sai com
o “bigodinho” sujo de açaí e a criançada começa a rir dele. Fica meio bravo, porém, manten-
do a elegância, tira um lenço do bolso e se limpa.
No mirante, atrás da igrejinha, Milena e Jeremias apresentam o visitante ao grupo de
capoeira local. O principezinho se encanta com os sons do berimbau, do agogô e do ataba-
que, além dos movimentos da capoeira. Diz não entender tamanho desempenho e habili-
dade corporal dos garotos. Jeremias e Milena relembram que a capoeira é uma expressão
cultural e esporte afro-brasileiro, cuja origem está direcionada aos negros africanos e ao
Quilombo de Palmares, que tinha por um dos líderes Zumbi.
Agregando à roda de capoeira, chega a banda Afrobraz. A percussão, formada por es-
tudantes, jovens e adolescentes, ganha força e voz com a professora MAYLA. Mesmo se sen-
tindo bem no ambiente, o principezinho ainda não fica convicto de que o baobá não é uma
ameaça, então volta ao local onde viu a árvore pela primeira vez. Para ele, a imagem já não
era a mesma. Tomado por uma atmosfera inexplicável, sente que realmente fez conclusões
precipitadas. O principezinho comenta:
- Fui um tolo! Não está certo julgar o baobá com base na história única que tinha,
principalmente a partir da minha cultura.
Ao despertar de sua consciência, o Pequeno Príncipe agradece a acolhida e diz que
precisa fazer uma retratação no planeta do preguiçoso. Milena e Jeremias entregam uma
casca de baobá ao principezinho, como lembrança de Trancoso. Ele se afasta da comuni-
dade, ao som da banda Afrobraz, que toca “Minha pequena Eva”. O Pequeno Príncipe diz
que partiria, mas que todos ali haviam lhe cativado. Milena e Jeremias se sentem ainda mais
orgulhosos de fazerem parte de uma comunidade tão especial e rica em tradições. Encerram
dizendo:
- Ubuntu, Pequeno Príncipe!

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SOBRE A AUTORA
Sou a Amanda Kerolainy Braga Santos, professora de Língua Portuguesa e mestranda do
Programa de Pós-graduação em Ensino e Relações Étnico-raciais (UFSB). Admiradora dos
textos infantis e das personagens que conseguem vencer o tempo e se fixam na memória dos
adultos, como “A Turma da Mônica” e “O Pequeno Príncipe”. Minha criança interior segue
feliz com a possibilidade de mostrar ao Pequeno Príncipe outras visões de mundo, e isto foi
possível por meio da adaptação em quadrinhos, cujas possibilidades também me encantam.

E-mail: [email protected]

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O Laço Azul
Bianca Gharib

ADAPTADO DE: O Laço Azul, novela de Júlia Lopes de Almeida

SINOPSE

Madalena e Lucila são irmãs gêmeas advindas de um pacto familiar que dizia: todas as mu-
lheres da família materna, que fossem inférteis, receberiam a chance de uma gravidez, mas
que geraria apenas gêmeos. Um dos gêmeos deveria ser escolhido pelos pais para usar sem-
pre um laço azul, representando a pureza e aquele que daria continuidade à família, o outro
sempre seria a sombra. Lucila, nascida primeiro, foi a escolhida e era quem recebia todo
o afeto dos pais, sobrando para Madalena as obrigações. Madalena sabia que não deveria
tentar saber os porquês de sua condição, mas não sabia que Lucila sabia as respostas e pla-
nejava a libertação das duas.

ARGUMENTO

Madalena, 18 anos, vive com os pais e a irmã gêmea, Lucila. Madalena trabalha com os
pais na loja de tecidos, enquanto Lucila é designada a se cuidar e estudar para o vestibular.
Madalena, sob ordens dos pais, não pode sonhar com um futuro. Mesmo que ouse começar
a pensar em uma fuga da realidade, é impedida. A realidade sempre bate à porta.
Desiludida, estava arrumando o depósito da loja, verificando o estoque de tecidos e
Lucila chegou do cursinho, reclamando sobre o fardo de estudar. A irmã observou o laço
azul em broche na roupa da outra e deixou de lado qualquer resquício de sonho, somente
escutou. Não prestava mais atenção ao que Lucila falava, sua mente voltou ao dia em que
disse aos pais que queria fazer vestibular também, mas foi mandada nunca mais questionar
nada e recebeu um tapa na face esquerda. Em resposta, silenciou-se e encarou Lucila, que
tinha a feição plácida, mas os olhos vidrados na irmã.
Desde então, nenhuma das duas tocava no assunto. Lucila reclamava, Madalena es-
cutava. Fosse sobre estudos ou sobre o dia seguinte, como está fazendo, no qual teria que
entregar saquinhos de doces enrolados em laços azuis a crianças do bairro . Era tradição
anual e desde o primeiro ano de idade das gêmeas, Madalena ficava em casa, enquanto Lu-
cila era recebida pelas pessoas e orgulhava aos pais. Ao passo que uma enrolava e desenro-
lava sedas, malhas, microfibras, gabardines e, entre tantos, o que mais detestava, o cetim, em

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específico o cetim azul claro. Olhar para aquele tecido era o mesmo que olhar para Lucila.
A outra olhava para o mesmo cetim que carregava sempre consigo, sendo distribuído nos
saquinhos de doces. A cada sorriso, aperto de mãos, abraços ou fotos, sentia-se sufocar. Não
pelo ar, mas por aquele laço azul posto em seu peito por seus pais.
Lucila, querendo evitar o sufoco, teve uma ideia que não era nova, mas estava esque-
cida: Madalena iria em seu lugar. Eram idênticas em fisionomia, só poderiam diferenciá-las
por causa do laço. Já não conversavam como no passado, mas tinham uma conexão vinda do
ventre. Sua mãe até costumava dizer “Gostam das mesmas frutas, odeiam da mesma forma
o amarelo e o violeta, bordam com igual perfeição, a letra é absolutamente semelhante, e o
seu modo de exprimir o pensamento é idêntico, o que faz com que uma pareça o fonógrafo
da outra!”. Já na juventude, Lucila trocaria o amarelo e violeta por azul. Ela própria odiava o
azul e jurava que em silêncio Madalena também o fazia.
Observando a concentração de Madalena fazendo laços em saquinhos, Lucila disse
“Vá em meu lugar amanhã. Basta colocar o laço, ninguém saberá!”. Madalena sentiu-se ten-
tada, os olhos gritavam que queriam conhecer o mundo lá fora, mas, por medo, derrubou o
plano e disse para Lucila esquecer. Derrotada, a escolhida não insistiu e seguiu em silêncio.
Os pais chegaram juntos, como sempre, e perguntaram se Madalena já havia termi-
nado os saquinhos para a oferenda. A resposta era não e à destinada ao trabalho só restou
um monte de reclamações. Lucila, sentindo-se sufocada, recolheu suas coisas, olhou para a
irmã e saiu, recebendo sorrisos e afagos dos pais, ouvindo o mais velho dizer “Amanhã será
um grande dia!”.
Madalena mencionou sair também para uma pausa, mas foi impedida pelos olhares
severos e pelas bocas dizendo “Termine suas obrigações. Sua irmã não pode atrasar amanhã
por incompetência sua.”. Estimulando lembranças, tais palavras fazem Madalena voltar à
véspera do dia da oferenda de quando tinha 9 anos. Lucila, por ser criança, achava mara-
vilhoso distribuir doces e pedia sempre para que a irmã fosse junto, nunca sendo acatada.
Tentava insistir, mas carinhosamente os pais diziam para que ela parasse com aquilo e dei-
xasse a irmã cumprir os serviços. Não sabe o porquê, mas foi a última vez em que Lucila
insistiu em sua presença no dia das oferendas.
No andar de cima da loja ficava a casa, onde Lucila já se encontrava. Sabia que a irmã
não se deitaria tão cedo e que seus pais ficariam vistoriando até sentirem-se exaustos, mas
Madalena ainda continuaria.
De frente para o espelho, desfazendo o encaixe do alfinete, Lucila lembrou-se de
quando, aos 9 anos, ajudou Madalena a embalar os saquinhos com laços azuis. Foi a última
vez em que pediu para que a irmã fosse com ela. Depois de receber carinhosos “nãos” dos
pais, desistiu. Madalena parecia triste e olhava para o laço azul que nunca saía do broche
fincado às roupas de Lucila. Odiando ver a irmã triste e se sentindo triste, Lucila se levantou
com a intenção de pedir mais uma vez que Madalena pudesse ir, mas acabou escutando es-

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condida uma conversa dos pais, que estavam atrás do balcão da loja: “Nunca quisemos duas
filhas! A condição foi posta e aceitamos. Fim!”. Entendendo o que significava, nunca contou
a Madalena e nunca, nunca mais, voltou a pedir para deixarem a irmã ir. E nunca esqueceu
do que ouviu.
Aos 12 anos, usufruindo da liberdade de ir e vir, Lucila escutou a mãe ao telefone fa-
lando com alguma prima. Só conseguia ouvir as falas da mãe, mas juntou todas as peças e
descobriu que havia um pacto, que foi feito por uma parente antiga, da parte materna, que
não conseguia vingar uma gravidez sequer, com As Entidades Gêmeas. Estas atenderam,
mas condicionaram que todas as mulheres da família, que fossem inférteis, seriam agracia-
das somente por gêmeos. Um dos gêmeos deveria ser escolhido pelos pais para usar sempre
um laço azul, representando a pureza e aquele que daria continuidade à família. Depois
disto, só restou conversa chata. Aparentemente a prima faria o pacto também, mas não inte-
ressava. Mais uma vez, Lucila não pôde contar à irmã, mas torcia que ainda fossem idênticas
em pensamentos.
Enquanto Lucila tecia os próprios planos e preparava-se para dormir, Madalena, ain-
da realizando caprichos dos pais, lembrava dos raros momentos de coragem em que pergun-
tava o porquê de não poder ter um laço azul também, mas sempre ouvia: “não sacrifiquem
um amor para viver o outro”. Mas que amor? Madalena era capaz de reconhecer qualquer
tipo de tecido, poderia até dizer quantos fios tinha, mas não sabia tecer o caminho para o tal
amor. Nunca entendeu a frase. Até mesmo o amor da irmã que achava ter, desapareceu na
infância.
Terminando de embalar, olhou o relógio, passava da 00h. Poderia descansar um pou-
co. Subiu para a casa e deitou-se em sua cama. Na do lado, Lucila já dormia.
Na manhã seguinte, Madalena acordou e, desnorteada, encontrou o laço da irmã so-
bre a cama vazia. Estranhou. Não parecia ser muito cedo. Mesmo que tivesse esquecido,
teria voltado para buscar. Seus pais jamais a deixariam sem o laço. Sentindo-se tentada, lem-
brou da ideia, já enterrada, sobre trocarem de lugar e, em um ato de coragem que veio sem
a pergunta: “Por que não posso usar um laço também?”, Madalena pegou o laço e pôs em si
mesma. Segurou a respiração por alguns segundos e, ao notar que nada aconteceu, soltou o
ar. O tal amor sacrificado era mentira, pensou.
Ninguém estava pela casa, somente o silêncio. Talvez seus pais estivessem fazendo
hora na loja, depois sairiam com Lucila. Sem tirar o laço, desceu para a loja, encontrando-a
escura, sem as portas abertas e sem o barulho de rua. Talvez, mudou de pensamento, todos
foram entregar as oferendas e tinham um laço reserva para Lucila.
Sem pensar muito, decidiu voltar para o andar de cima e se ajeitar para o trabalho. Antes
que pudesse ir às escadas, a claridade vinda pelas frestas da porta fechada do depósito cha-
mou a atenção. Estariam lá?, pensou. Em movimentos hesitantes, Madalena abriu a porta.
Conhecia o lugar como a própria palma da mão, olhou para o canto dos saquinhos e esta-

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vam lá, bagunçados, espalhados, diferentemente de como os deixou. Parecia que alguém
chegou a pegá-los, mas os derrubou.
O rolo de cetim azul estava jogado ao chão e o tecido havia sido cortado tortuosamen-
te. Somente alguém que nunca trabalhou na loja faria aquilo.
Os olhos de Madalena sabiam quem estava ao centro do cômodo, mas estavam com
medo ver. Sem poder fugir, encarou as costas de Lucila e, como se sentisse a irmã olhando,
finalmente para ela, Lucila se virou. Fiapos de cetim azul estavam em sua roupa, mas já não
tinha o laço azul em seu peito.
Sem palavras, Madalena entendeu que Lucila estava ansiosa para mostrar algo. Che-
gando para o lado, revelou à Madalena os dois corpos dos pais enforcados por um único e
torto laço azul que os ligava. “Sacrifiquei um amor pelo outro”, disse Lucila.
Madalena, que sempre sacrificou tudo, em choque, perguntou o que aquilo significa-
va. Aquela frase nunca fez sentido. Lucila então respondeu com um evidente orgulho “Odiá-
vamos amarelo e violeta, lembra? Mas passei a odiar o azul e sei que você também. Estamos
livres..”.
E ironicamente tecido e atado por um pedaço mal cortado de cetim azul, o amor fra-
terno que Madalena nunca recebeu dos pais, foi fiado por Lucila.

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SOBRE A AUTORA
Me chamo Bianca Gharib, de Feira de Santana – Bahia. Graduada em Letras Vernáculas
pela UEFS, pesquisei “Os Amores Voláteis em Turismo para Cegos, de Tércia Montenegro”.
Atualmente, como bolsista CAPES no Mestrado (UEFS), pesquiso “O Insólito Ficcional em
Júlia Lopes de Almeida”, autora da novela “O Laço Azul”, que escolhi para a adaptação.
Acabei descobrindo Júlia de Almeida como uma das idealizadoras da Academia Brasileira
de Letras, mas que nunca assumiu a cadeira de número 3 por ser mulher. Nos últimos anos
ela vem sendo resgatada e até fizeram em HQ, pela SESI-SP, uma releitura de três contos da
autora, por Verônica Berta.
Acreditando que é uma autora com uma vasta obra a ser explorada, me senti motivada a es-
colher “O Laço Azul” para a adaptação. A obra original tem sulcos de suspense que sempre
me fazem imaginar além do que está escrito, imaginar cenas que ficariam ótimas postas em
desenhos. Mantive a essência do laço, das gêmeas e até mesmo algumas falas, mas me atrevi
a costurar com um pouco de horror. Espero que a Júlia não se importe!

E-mail: [email protected]

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Traços de Sangue
Arthur Lima

ADAPTADO DE: Assassino Quadrinista, de Arthur Lima

SINOPSE

Sérgio está afastado da polícia após o brutal assassinato de sua subordinada pelas mãos de
um Serial Killer que deixa referências ao Folclore brasileiro na cena do crime. Com o casa-
mento indo bem e avanços nas terapias, decide retornar ao trabalho, porém não será fácil
conter seu desejo de vingança e interesse de pelo caso após receber um misterioso e-mail
que o leva a Webcomic escrita pelo assassino.

ARGUMENTO

A cidade de Itapetinga amanhece suja de sangue após o assassinato de Marília. O lí-


der de sua equipe, policial Sérgio colapsa em prantos vendo sua subordinada sem vida com
a cintura costurada a uma grande calda de peixe na lagoa da cidade.
Dois meses depois, Sérgio diz a seu psiquiatra que está aceitando a morte da colega,
mas não consegue perdoar o assassino, o médico diz que não deve perdoa-lo, mas sim seguir
em frente, prestes a sair da consulta recebe a carta que o libera para retornar ao trabalho.
Sérgio chega em casa preparado para dar a notícia e é bem recebido por Célia, sua esposa o
abraça após o teste de gravidez dar positivo e se alegra, mas esconde a preocupação por ela
já ter sofrido dois abortos espontâneos.
Na delegacia é bem recebido pelo delegado Milton, um velho barbudo que prefere
tudo a moda antiga “- Maria estava no comando da equipe e sei que você é amigo dela, mas
cá entre nós... mulher não tem pulso firme!”. Ao entrar na sala estende a mão para Maria,
que o abraça, gesto raro da mulher. O policial conhece o novato Góes, simpático e extro-
vertido, o jovem o lembra Marília e logo ganha sua afeição. Maria sem cerimônias coloca a
papelada de casos em cima da mesa de Sérgio, que curioso pergunta quem pegou o caso do
assassino mítico e odeio a resposta, Lucas. Sérgio fica até mais tarde para se atualizar sobre
os casos e recebe um misterioso e-mail levando-o ao macabro site da Webcomic “A caçada”.
Nela um caçador fiel e um padre devoto matam figuras do Folclore brasileiro que atra-
palham o desenvolvimento de sua vila. Saci Pererê, Iara, são algumas de suas histórias, mas
a mais recente retrata a caçada do Curupira, os dois invadem a floresta e seguem as pegadas

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inversas da criatura e a matam. Sérgio nota a semelhança entre os temas do assassino mítico
e as criaturas caçadas, mas acredita ser uma inspiração de mal gosto ou uma triste coinci-
dência.
No dia seguinte, a delegacia está um caos, repórteres na porta, policiais correndo de
um lado para o outro. Na sala do delegado, Sérgio vê Lucas discutindo com Milton e vai se
informar com Maria, atendendo ligações que não param de chegar. O assassino mítico re-
tornou, dessa vez matou “o curupira”.
Na sala de interrogatório, Lucas repudia cada explicação de Guilherme, namorado
da vítima e principal suspeito, sua falta de álibi e ter sido colega de Marília no E.M sugerem
uma forte ligação, mas Sérgio não o vê como culpado pelo menos não o único. Maria inter-
vém, mas o policial lhe mostra a Webcomic sugerindo haver dois assassinos. A policial não
leva sério a teoria e Sérgio confronta a colega buscando entender por que ela não se envol-
vera nesses dois meses. Pragmática, Maria responde “- Eu segui as ordens”. Sérgio inquieto
pega seu distintivo para ir a casa do acusado. Maria o impede, afinal a polícia já foi lá e a
família dificilmente falaria novamente. Sérgio observa Góes no celular e tem uma ideia.
Novo na cidade, Góes se passa por um repórter que pretende contar a versão de Gui-
lherme. A mãe do rapaz contém as lágrimas ao falar do filho, mas o pai se incomoda ao falar
sobre relacionamento dele e Valto, a vítima. Do lado de fora, Sérgio nota desenhos na pare-
de de um dos quartos e arromba a janela mesmo com os avisos de Maria. Quarto arrumado,
poucos móveis e na parede desenhos de Guilherme, “- talvez aquela HQ seja realmente do
assassino, dele mesmo”... porém, Sérgio nota a evolução do traço do jovem, comparando as
datas dos desenhos ele evoluiu muito rápido. O policial nota uma ilustração sem assinatura,
um Ourobouros.
Na delegacia, Sérgio tem dificuldades em achar o autor, então Góes dá a dica de tirar
foto do desenho e pesquisar a imagem. A equipe chega ao nome de Lito, quadrinista falido
que sobrevive dos louros de sua única história de sucesso. Góes se lembra de ter visto esse
nome na convenção de quadrinhos da cidade vizinha.
A convenção está lotada, mas o estande de Lito vazio, Sérgio se apresenta e pede que
o autor autografe o desenho do ouroroubos, Lito fica em choque e tenta desconversar, mas a
pressão de Sérgio após notar um corte contornando seu tornozelo, faz o quadrinista admitir
que fez o desenho para um aluno. Lito pede para que os policiais saiam, mas Sérgio sem pa-
ciência o intimida, falando que Guilherme está sendo acusado de um crime. Com peso na
consciência, Lito afirma que o jovem não tem relação com o caso e tudo está ligado ao Ouro-
bouros, grupo que havia se envolvido em busca de inspiração para criar suas histórias, mas
não imaginou no que se metia. Temendo por sua vida, Lito diz que só falará com proteção
e segurança garantida pela polícia. Sérgio sai para fazer a ligação pedindo o auxílio e Góes
fica responsável por vigiar o autor.
O delegado se irrita com Sérgio por estar investigando paralelamente um caso quase

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fechado e nega o pedido. Sérgio tenta reforçar sua teoria falando sobre a Webcomic, mas
não tem sucesso. Voltando ao estande, o vê vazio e Góes ao celular, mas antes que pudesse
indagar onde o autor estava, ouve um grito. Os policiais se aproximam e veem Lito agonizan-
do ao chão, após ser esfaqueado, ele diz “Um escolhido, um escolhido” e aponta para o lado,
mas Sérgio só consegue ver o tornozelo cortado e a tanga de um cosplay. Em busca da figura
de um guerreiro, Sérgio aborda um Cosplay, mas ao conferi seu tornozelo, não está cortado.
Em casa, Sérgio procura o significado do Ourobouros, sua leitura evidencia a morte
e reconstrução simbolizada pela serpente comendo o próprio rabo e paralelamente ocorre
um ritual com o homem que matou Lito. Uma figura com máscara de Ourobouros talhada,
completa o círculo no tornozelo do assassino com uma faca e diz que agora renascido o Bra-
sil também conhecerá suas histórias. Sérgio percebe que na HQ há um ourobouros talhado
no machado do caçador, mas antes de supor qualquer coisa Célia o repreende por ter retor-
nado ao caso. “- Um inocente vai ser preso”, argumenta Sérgio, para Célia ele está obcecado,
o caso já foi encerrado. Sérgio não entende e ao entrar no site de notícias vê o vídeo de pro-
nunciamento de Lucas e Milton afirmando que Guilherme é o Assassino Mítico e expunha
seus temas numa Webcomic.
Na delegacia Sérgio confronta seus Lucas, que relembra o apelido de Sérgio “treme-
-treme”, por ser mole demais. Sérgio é chamado por Milton que o afasta da polícia nova-
mente. Maria é a única que ainda confia no parceiro e o ajuda a entender o que Lito disse no
leito de morte. Eles chegam a conclusão que os escolhidos ajudam o assassino, apontando
vítimas. Lito escolheu uma vítima, Valto, namorado de Guilherme seu aluno, mas nunca
chegou a matar. Rememorando o símbolo, Maria diz que o círculo só se completa após co-
meter um assassinato. Sérgio supõe que após isso todos são o assassino mítico, afinal o Ou-
robouros remete ao “Tudo é um”.
Milton liga para Sérgio, uma nova HQ foi lançada e o delegado está sendo pressio-
nado pela mídia. Na história é revelado que o principal inimigo do padre e caçador é um
lobisomem, os dois tentam caça-lo, mas a lua cheia se esconde atrás das nuvens e a dupla
assassina um inocente galanteador de rosa numa encruzilhada. Sérgio é reinserido na po-
lícia e fala sobre o boto cor de rosa, traçando um suposto perfil de vítima. Góes é mantido
dentro da delegacia por se encaixar no perfil, outros policiais vigiam algumas encruzilhadas
enquanto a cidade silenciosa enclausura seus habitantes dentro de suas casas.
Maria e Sérgio ficam na encruzilhada próxima a casa de Góes, nenhum movimento
acontece até tarde da noite, mas a tia do rapaz oferece um copo de água para os policiais e
agradece por cuidarem de seu sobrinho. “- Ele sempre foi tão fechado, fico feliz que esteja
fazendo amigos.”. No câmbio recebe o chamado de retornar a delegacia.
Os dois chegam e veem Lucas com a arma apontada para a cabeça de Góes. Irritado
fala: “- Esse desgraçado comeu minha esposa”. Góes desmente, mas os ânimos não se acal-
mam. Lucas está desequilibrado e a iminência da morte de Góes se aproxima, mas Sérgio

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não consegue puxar o gatilho para salvar o subordinado, Maria realiza o disparo certeiro
e mata Lucas. Sérgio abalado vê Maria acudindo Góes, respira fundo e vai até o corpo de
Lucas, confere seu tornozelo sem nenhum corte. Ao entrar na delegacia está passando um
jornal que informa sobre outras mortes temáticas em 5 cidades do brasil, Sérgio entra no site
e vê outras 5 Webcomics diferentes. Então afirma: “- Escolhidos não são o assassino mítico,
são novos autores”.
O caso vai para os federais, mas o site é atualizado com uma nova história onde reve-
la-se que o caçador sempre foi o lobisomem e o padre tem a difícil missão de mata-lo após
ver sua amada ser assassinada na forma de mula sem cabeça. Sérgio continua a pesquisar e
guarda os documentos do caso na entrada de ar do quarto de sua futura bebê, ao descobri
Célia o confronta, indagando se o policial quer vingança e se tornar um assassino.
Com os federais mobilizando a polícia para as igrejas, Sérgio desabafa em um bar
junto a Maria. Indo ao banheiro, Sérgio olha para o espelho e se enxerga como o padre da
Webcomic e resolve a questão, o assassino busca matar sua esposa em sua casa. Corre para
casa, enquanto Maria tenta avisar os federais. Chegando em casa vê o homem com a másca-
ra de ourobouros rendendo sua esposa, antes que tire a máscara Sérgio o reconhece como
Góes, que explana seu fascínio em transformar histórias em realidade. Esse seria é o fim de
“A Caçada”, após isso ele editorará os outros títulos, buscando romper o limite da ficção e o
real. Sérgio com arma em punho tenta dissuadir o assassino enquanto Célia se debate para
se desprender da mesa. O assassino tenta esfaquear Célia, mas Sérgio atira em seu peito.
Enquanto Sérgio liberta Célia, Góes ao chão fala que o policia não devia ser capaz de matar,
não agora. Sérgio diz que não é o padre, Góes se levanta em frenesi “-A mula precisa morrer,
precisa morrer”. Nesse momento, Sérgio afasta Célia e leva a facada, empurra o assassino
ao chão e toma sua arma. Sérgio consumido pela raiva levanta a faca para apunhala-lo, mas
enfinca a arma no chão, ao lado da cabeça do assassino. As sirenes da polícia chegam junto
a Maria e prendem Góes.
Três anos depois, Sérgio passa pela rua durante o carnaval e pessoas se fantasiam dos
personagens de “A caçada”, o policial entra na delegacia, onde Maria é a Delegada, ela diz
que os federais fizeram outra oferta para Sérgio se juntar a equipe que caça os autores serial
killer, mas este recusa. Ao chegar em casa Sérgio recebe um beijo de sua esposa e já corre
para o quarto da filha Marília, que pede para o pai contar aquela história “- Era uma vez,
uma sereia chamada Marília, a rainha das águas que encantava a todos com sua voz...”

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SOBRE O AUTOR
Desde jovem fascinado por histórias, Arthur Lima se mudou de Itapetinga para Vitória da
Conquista (BA) buscando estudar cinema. Na universidade conheceu o roteiro e outras face-
tas da linguagem audiovisual que inspiram sua escrita e trajetória como docente e roteirista.

E-mail: [email protected], [email protected]

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Joana e a carranca do Rio Corrente
Maiara Luz

Livremente inspirado na personagem Yara Flor, a Mulher Maravilha brasileira,


de Joëlle Jones.

SINOPSE

Joana é uma garotinha que adora aprontar quando sua mãe, chefe de uma comunidade de
artistas, não está olhando. Ela sonha em ser uma aventureira contadora de histórias. Em
uma dessas suas aventuras, Joana pega uma das obras feita por sua mãe, uma carranca de
proteção, e leva para o rio corrente, onde, não se atenta a ela e a perde próximo ao rio. Assim
se inicia a caçada pela carranca no Rio Corrente, uma aventura que a leva as profundezas
da água, proporcionando o encontro e o conflito com seres que residem no rio. A busca pela
carranca perdida mostrará o quanto Rio Corrente é lindo, a importância do apoio e como
uma amizade pode surgir, e entender que temos algo e alguém nos protegendo.

ARGUMENTO

Pensando em aprontar mais uma de suas peripécias, a menina Joana pega alguns
equipamentos da sua mãe escondida e leva para o rio, onde deixa cair um dos instrumentos
na água.
Com medo de que descubram o que ela fez, Joana pede ao boto para que a ajude a
encontraro objeto que deixou cair na água.
Joana começa a entrar na água a passos arrastados, com o intuito de poder sentir algo
nos pés que remetessem a carranca que ela procura. Ao estar a meio corpo submerso, avista
o Nego D’agua lhe observando mais a frente. Ao percebe-lo vai de encontro a ele e o ques-
tiona de porquê estar ali, na qual teve como resposta um debochado “porque sou o Nego
D’agua”.
Ela entra totalmente na água junto com o boto e nada até o fundo do rio Corrente
para encontrar o objeto perdido, olhando pelas pedras, vendo os diversos tipos de peixe e até
pensando que o nego D’agua poderia ser o vilão que pegou a sua carranca.
Joana questiona mais uma vez o Nego D’agua e pergunta se viu a pequena carranca
na água, e teve uma vaga resposta do garoto “Vejo várias carrancas pelo Rio Corrente”. Afli-
ta, ela pede para que caso tenha encontrado e pego, que devolvesse, pois é muito especial
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para ela.
Com o sol já começando aparecer, Joana sai da água já desesperançosa, para na beira do rio
e uma memória da sua mãe lhe vem em mente. Joana para estática e lembra do momento
que sua mãe lhe fez prometer que cuidaria e teria muito cuidado com a pequena carranca
para que não estragasse ou perdesse. Quando volta a si, o medo do castigo que irá receber
da sua mãe a deixa preocupada.
Joana vai de encontro as suas peças de roupas, toda molhada e cabisbaixa. Ao co-
locar as mãos em sua roupa e pressionar os bolsos, ela sente que a carranca que achou ter
perdido, estava lá o tempo todo. Ao fundo, a garota escuta a voz sua mãe se aproximando e
perguntando onde estava, sendo acolhida com um beijo no rosto e um sermão de “Estava
preocupada”.
Joana abaixa seu queixo e olhando para a carranca pensa “UFA!! DESSA ESCAPEI
POR POUCO”, solta um suspiro e sorri.
FIM

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SOBRE A AUTORA
Maiara Luz, publicitária de formação, atua na área da fotógrafa, videomaker, editora e pla-
nejamento. É agente cultural na promoção e realização de eventos e oficinas culturais como
o “Beleza Oculta: Registrando encantos no cotidiano” e a realização da “Feira Nascentes:
Economia e Cultura na Bacia do Rio Corrente”. Disposta a contribuir com o outro, quero
sempre proporcionar sorrisos e ajudar ao próximo.
Jogar, ouvir música, rabiscar, ter contato com a natureza e fotografar são atividades que con-
sidera essenciais. Apaixonada pela arte, acredita que com a cultura podemos educar e ser
mais felizes.

E-mail: [email protected]

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Maré
Joelma Stella

ADAPTADO DE: Maré - roteiro de animação de cinco minutos escrito por Joel-
ma Stella e Ricardo Araújo

SINOPSE

Marina e Alice vivem em países diferentes, separados por uma baía. Em uma noite de ano
novo começa uma guerra no país de Marina, e as duas meninas vêem suas vidas mudarem.
Enquanto Marina começa uma jornada com a sua família para tentar sobreviver a guerra,
Alice vê o ódio contra os migrantes do país vizinho crescer com a chegada dos refugiados.
Com o avanço da violência a guerra se expande e atinge os dois países, atravessando a baía.
As meninas fogem da guerra pelo mar com suas famílias. Partindo de margens opostas, elas
se conhecem quando as embarcações em que estavam naufragam, e só elas sobrevivem.
Levadas juntas pelas ondas até os destroços de madeira onde improvisam um barco, elas
precisam superar o medo, a tristeza e as diferenças que as separam, para juntas conseguirem
sobreviver à maré e chegar em terra firme.

ARGUMENTO

MARINA e ALICE são duas meninas de onze anos que vivem em países diferentes,
separados por uma baía. Ambas moram com suas famílias perto da orla, em vilas de traba-
lhadores portuários. Alice tem um vizinho que é também seu melhor amigo, Mateus. Ele e
sua família são migrantes vindos do outro lado da baía. Todos os dias depois da aula Alice
e Matheus pedalam até a praia para ver o mar. Sentados na areia, Mateus conta para Alice
histórias do país vizinho, a menina gosta de imaginar como é a vida do outro lado. Na mar-
gem oposta Marina está sentada na areia sozinha, desenhando em seu caderno. Ela também
gosta de imaginar como são as coisas do outro lado da baía. Talvez lá ela conseguisse fazer
um amigo. Antes do Sol se pôr completamente as três crianças sobem em suas bicicletas e
pedalam para casa.
Na noite de ano novo os moradores dos dois países vão até a praia ver os fogos soltos
em alto mar. Marina está com a mãe e a avó, e Alice está com os pais e a família de Mateus
do outro lado. Alice e Mateus brincam de pega pega na areia, enquanto giram fitas de papel
colorido laminado. Marina abraça seu caderno em um abraço e sorri enquanto olha a mãe
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e a avó dançando na beira da água. Perto da meia noite as duas meninas vão até a margem
para observar a explosão dos fogos. Logo depois dos primeiros fogos elas são surpreendidas
por uma grande explosão no mar.
O incidente dá início a uma guerra no país de Marina. Muitos civis começam a fugir
atravessando a baía para tentar refúgio no país vizinho. A mãe e a avó de Marina decidem se
juntar a um grupo de mulheres e crianças que tentam sair do país por terra, cruzando a fron-
teira perto do fim da baía. A menina se aproxima das crianças do grupo, elas compartilham
o medo e a confusão diante do momento que estão vivendo. Marina desenha as crianças em
seu caderno nas pausas do deslocamento entre um esconderijo e outro.
Enquanto isso, no país vizinho, Alice passa a conviver com o preconceito e a violência
contra os refugiados que chegam pelo mar. Mesmo famílias de migrantes que já vivem há
gerações no país passam a sofrer com atos de violência. Mateus começa a ser hostilizado na
escola por alguns colegas, e Alice tenta proteger o amigo. A guerra acaba se expandindo e
chegando ao país de Alice e Mateus.
O comboio de Marina é atacado por um grupo de homens próximo à fronteira. Algu-
mas mulheres e crianças são sequestradas e assassinadas. Marina consegue fugir com sua
família e mais algumas pessoas. O grupo decide que vai tentar fugir pelo mar. A família de
Mateus começa a se preparar para fugir do país agora que a guerra se instalou e a violência
contra os migrantes está fora de controle. Alice está deprimida com a situação do amigo. Um
dia antes da fuga a casa deles é atingida por uma bomba e todos morrem. A casa de Alice
que é geminada com a casa de Mateus também é abalada pela bomba. Diante dessa situação
a família de Alice também decide fugir da guerra pelo mar.
Depois de conseguir voltar com o que restou do comboio para a orla, Marina embarca
em um barco clandestino com sua família para tentar fugir da guerra pela baía. Simultane-
amente Alice embarca na margem oposta em uma embarcação similar com seus pais. As
embarcações saem da baía para o mar aberto na madrugada, e são surpreendidas por uma
forte tempestade. Os barcos em que as meninas estão acabam naufragando. A mãe de Mari-
na acaba se afogando para salvar o caderno de desenho da menina. Ali perto Alice também
vê os pais se afogarem para que ela sobreviva. Apenas as duas meninas sobrevivem à tem-
pestade.
Alice e Marina se encontram entre os destroços dos naufrágios. As meninas acabam
se estranhando e brigando quando descobrem que são de margens opostas da guerra. O
conflito entre elas diminui à medida que percebem que vão precisar colaborar entre si se
quiserem sobreviver. Elas começam a compartilhar suas histórias. Marina conta a Alice so-
bre a mãe e a avó, como a mãe se sacrificou para salvar seu caderno, e como era a vida do seu
lado da baía. Alice conta sobre a sua família e sobre as idas à praia com Mateus, nas quais
ele contava histórias da outra margem. Ela se emociona ao contar da perseguição contra a
família do amigo e o seu fim trágico. As meninas choram abraçadas sobre os restos de ma-

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deira que as mantém flutuando no mar.
Depois de se reconciliarem, Marina e Alice começam a trabalhar juntas. Elas melho-
ram a estrutura de madeira que serve de embarcação para ambas. Elas se revezam nadan-
do ao redor do barco presas por uma corda em busca de mais itens que possam ajudar na
sua sobrevivência em alto mar. Passados alguns dias as meninas estão fracas e desidratadas.
Elas se alimentam mal, comem peixes que conseguem pescar e consomem crus, e racionam
o pouco de água que conseguiram coletar da chuva. Mesmo nesse contexto adverso, uma
amizade começa a se construir entre elas e uma espécie de calmaria se instala na rotina das
meninas.
Um dia ao amanhecer, quando se preparam para pescar, elas são surpreendidas por
uma nova tempestade, tão violenta quanto aquela que fez as embarcações em que estavam
antes de se conhecerem naufragarem. Elas usam a corda para se amarrem uma à outra e
lutam para manter sua jangada na superfície, mas uma onda acaba arrebentando a embar-
cação e lançando as meninas para o fundo do mar. Alice fica inconsciente, e Marina faz um
último esforço para nadar com a amiga até a superfície. Ela se agarra a um pedaço grande
de madeira que encontra flutuando e consegue amarrar a corda que une ela e Alice pela
cintura na madeira antes de ser surpreendida por uma nova onda.
Quando a tempestade passa, Marina e Alice estão desacordadas, flutuando presas aos
destroços pela corda. A maré conduz as meninas até a orla de uma praia, onde são avistadas
por dois pescadores que pescam perto da costa. Eles resgatam as meninas, e as reanimam
dentro do barco pesqueiro. Elas perguntam para os pescadores que lugar é aquele, e quando
descobrem que estão longe da guerra, contam para eles como foram parar ali. Os pescadores
dizem que vão levá-las para terra firme e procurar atendimento médico para as meninas.
Alice e Marina ainda estão atadas pela corda que as une pela cintura, elas entrelaçam suas
mãos, esboçam um sorriso e olham para a praia, esperando o momento de pisar novamente
na areia.

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SOBRE A AUTORA
Joelma Stella trabalha como produtora e educadora social. Também é gestora do ponto de
cultura Casa Candeeiro do Oeste, em Sítio do Mato, Bahia. Nas horas vagas trabalha em
projetos autorais de literatura, artes visuais e audiovisual. É graduada em Artes pela UFBA
e mestranda em Cultura e Sociedade no Pós-Cultura UFBA.

https://www.instagram.com/jostellasm/
https://twitter.com/Joelma_Stella

E-mail: [email protected]

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Epifania
Mariana Barbosa

ADAPTADO DE: Bodas, texto autoral

SINOPSE

Uma jovem solitária mulher busca nos livros sanar sua solidão. A sua tristeza, contudo, se
agrava quando a chuva destrói a sua coleção. Desgostosa, foge daquele ambiente devastado,
mas choca-se com um rapaz que lhe derruba os únicos livros que lhe restaram ilesos. En-
furecida, parecia que seus problemas e aquele dia não teriam fim. Mas, aquele episódio lhe
traria ainda mais surpresas. O que esse jovem rapaz causaria a Luísa de tão intempestuoso
que lhe mudaria a vida? Será mesmo que sua solidão estava com os dias contados?

ARGUMENTO

Da janela de casa, LUÍSA consegue ver o caos da cidade. Observa a chuva quase sem
ação, olha os carros passando, o semáforo e a urgência da metrópole que, também, lhe afli-
ge. A sala revirada, os papeis e os livros amontoados refletem a angústia da noite.
No rosto devastado a angústia da perda do seu bem mais valioso: sua coleção de livros raros.
A enchurrada lhe levou não apenas os livros, mas também a possibilidade de sonhar, suas
mais doces lembraças.
Em meio ao caos, enquanto ainda busca coragem para trabalhar, ouve na rádio:
“SUGIRO QUE SAIAM DE CASA COM O GUARDA-CHUVA! A FRENTE FRIA VEIO PRA
FICAR!”
— NÃO É POSSÍVEL?!!!!! - gritou! Já não bastava perder minha coleção inteira?!
Pega a capa de chuva e sai. Sente que precisava fugir daquele ambiente devastado.
Mas, a fuga, na verdade, era de si mesma. Então, caminha distraída até que:
OPS!!
Splash tchá! chuá!
— NÃO ACREDITO! MAIS ISSO AGORA?! – grita enfurecida.
— Perdoe-me! Foi minha culpa! Não prestei atenção.
— A culpa é toda minha. Ando distraída.
Abaixam quase que ao mesmo tempo e pegam os livros da moça que estavam no chão.
O rapaz então se oferece para acompanhá-la, mas Luísa recusa:

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— Não precisa. Trabalho logo ali naquela livraria.
— Eu insisto. Te acompanho até lá.
Mesmo sem graça, ela aceita e rebate:
— Desculpe-me. Sei que fui rude. Mas é que esses são os únicos livros que me restam.
— Como assim?
— É que meus livros foram destruídos nessa última chuva. Uma telha quebrou logo em cima
da estante. Daí você já sabe...
— Nem sei o que dizer...
Em silêncio, caminharam mais alguns metros. Chegando a livraria, o rapaz sorri e diz:
— A propósito, eu sou o Pedro. Como se chama?
— Perdão, olha como fui mal educada. Pode me chamar de Luísa.
Eles sorriem e se despedem:
— Ops! Quase esqueço de entregar seus livros. Tome! Aqui está seu tesouro!
— E são. - risos. Últimos remanescentes.
Trocam telefones e se despedem. O dia passa arrastado. E, apesar do caos, Luísa não
tira o rapaz da cabeça. Retorna pra casa se questionando se ele realmente ligaria... E... antes
de abrir a porta, o telefone toca:
Trim! trim! prim!
Corre, joga a sacola de compras sobre a mesa e pega o celular ansiosamente:
— Oi! Sou eu....
— Pensou que não ligaria?
— É... é... Não... imagina... Mas, cheguei bem. Obrigada!
— Ah! Fiquei preocupado.
Foram muitas as conversas até que se vissem mais uma vez...
Dias passados... Vai até a cozinha, abre um vinho, brinca com a taça e tenta se concen-
trar na narrativa de um livro qualquer. Tudo em vão.
Ding! dim! plim! trim!
Ele chegou! Pensou ela que abre apressadamente a porta:
Smack ... Smack.
— Fica à vontade, Pedro. Me acompanha no vinho?
— Adoraria.
Sentam no sofá e sorriem de coisas triviais. Na tentativa de quebrar o gelo, ele pergun-
ta:
— Queria ver uma foto tua quando criança. Me mostra?
— Morro de vergonha, mas vou pegar.
— Ah! Por um instante pensei que guardasse apenas livros. – brincou.
Uma noite de trocas, brincadeiras e descobertas. Tudo muito novo para ela que acos-
tumou-se a ser só.

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A presença de Pedro agora é constante na casa que está rodeada não apenas de livros,
mas, também, de porta-retratos. Luísa pela primeira vez saboreava o gosto da felicidade.
Em uma noite como tantas outras, ela estava a espera de Pedro. Ouve-se gritos e da
janela pode se ver a confusão de carros parados na avenida. Não tardou e a notícia chega:
— Vizinha, corre!
— O que houve? - perguntou Luísa.
— Acho que a senhora conhece o rapaz.
— Que rapaz?
Levada pela angústia, segue em direção a multidão. Mas, nem de longe desconfia que
ali estava o seu grande amor.
— NÃAAAAAAAAAO!!!!! - urrou Luiza. É o Pedro! O meu Pedro!
Um misto de dor e solidão mais uma vez invade sua vida. Viveria um luto eterno. E
todas as noites seguintes voltava-se para aquela rua como se ainda o esperasse. Ele que foi
levado pela ansiedade de corpos e das máquinas em movimento: o seu primeiro e único
amor.
Meses depois, deitada no sofá, Luísa acaricia a barriga e deixa evidente sua silueta: em
seu ventre uma nova vida e a certeza de um amor interrompido. Há dias que tenta, sem su-
cesso, concluir a leitura de um dos poucos livros que restou da sua antiga coleção. Na página
marcada a seguinte frase:

“Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade
sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar…”

Luiza então murmura:


— Ah, essa Clarice!!!!
Levanta-se, como se nada mais tivesse a declarar, desliga as luzes e fecha a janela.

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SOBRE A AUTORA
Mariana Barbosa é poeta e apaixonada por literatura. Mestra (2014) e Especialista (2011) em
Estudos Literários pela Universidade Estadual de Feira de Santana; Graduada em Letras
Vernáculas (2009) e em Pedagogia (2021); especializou-se em Metodologia de Ensino de
Língua Portuguesa e Literatura (2017) e em Educação Especial Inclusiva (2018) pelo Centro
Universitário Leonardo Da Vinci. Atua como professora de Literatura e Produção textual
na rede particular de ensino; faz parte do Corpo Editorial da Revista Graduando (UEFS);
participou de diversas antologias, sendo primeiro lugar no concurso da coletânea O Quanto
Que Eu Te Amo (2017), selo Darda Editora (Campos dos Goytacazes/RJ).

https://www.instagram.com/maribarbosapoeta/
https://www.twitter.com/MarianaBPoeta
https://www.facebook.com/mary.barbosa.52/

E-mail: [email protected]

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Evangeline
Ricardo Silva de Araújo

ADAPTADO DE: A rouxinol e a rosa, de Oscar Wilde

SINOPSE

Evangeline é uma jovem que teve seus sonhos raptados e presos por uma criatura sombria,
que tem enormes garras e usa uma capa preta para não revelar a sua face. Essa criatura leva
os seus sonhos para um universo alternativo, nesse outro universo, a garota conhece diversos
seres vivos e estranhos que ela já tinha visto em algum de seus sonhos. Seu desafio nesta
terra de pesadelos é enfrentar o seu próprio medo para chegar até a criatura maléfica que
mantém os seus sonhos em cativeiro e libertá-los para ela voltar para o seu mundo. Mas,
conseguir a chave que abre a porta para ela voltar para casa requer um preço que Evangeline
precisa pagar.

ARGUMENTO

Anoitece, em seu quarto EVANGELINE pega a sua flauta e começa a tocar uma de
suas canções favoritas. A música a deixa em paz e tira todo o seu medo. Um vento frio sopra
pela janela do quarto arrepiando Evangeline. Colocando a flauta sobre a mesa de cabeceira,
ela se dirige até a janela e a fecha.
Exatamente à meia noite ela resolve ir dormir mesmo sem sono. Quando Evangeline
adormece ela, começa a entrar em uma paralisia do sono, ficando sem se mover e falar. De
repente, ela avista uma criatura de capuz preto que não revela o seu rosto. Evangeline só
consegue ver as mãos brancas pelancudas e com garras enormes. A criatura coloca a mão
em seu pescoço e a prende sobre a cama no mesmo instante em que puxa um de seus pés.
Ela sente pelo seu corpo um frio sem tamanho e não consegue enxergar nada.
Ela acorda em um lugar estranho e fica confusa. Sem saber onde está, começa a explo-
rar aquele outro universo, que se assemelha com um bosque sombrio, com grandes árvores
que escondem todo o céu.
Chegando perto de uma árvore, Evangeline encontra uma mariposa do tamanho da
palma de sua mão. O animal voa e ela o segue até chegar em um baú de madeira feito com
um tronco de uma árvore. Abrindo o objeto, ela encontra uma flauta amarela que brilha
como uma joia de âmbar.

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Evangeline senta em uma rocha perto de algumas árvores e começa a lamentar, se
perguntando como poderia sair desse lugar. Ela ouve uma voz dizendo: ‘existe um jeito, mas
é tão apavorante que eu não quero arriscar a contar’. Quem responde é um homem árvore.
Evangeline murmura e pede para aquela criatura falar como ela poderia sair daquele mun-
do.
Responde a árvore: “se queres sair daqui é preciso moldar a chave com música à luz
da lua de sangue, mas nesse mundo a lua azul se torna vermelha, apenas com uma gota de
sangue derramada no lago dos pesadelos de quem irá tocar a canção. Você precisa ir até o
altar do leste, onde a criatura que te trouxe aqui sai todas as noites para roubar mais sonhos.
Na ausência dela, você tem que ir até o lago que espelha os piores pesadelos e derramar o
seu sangue”.
Ao chegar no portão do altar leste, a menina se depara com uma surpresa assustado-
ra, uma fera horrenda que se assemelha com um lobisomem vigia o portão. A fera percebe
a presença de Evangeline naquele local e começa o ataque contra a jovem, a mariposa que
acompanha a menina avança sobre o bicho e, por magia, suas asas ficam brilhosas a ponto
de cegar a fera. Evangeline consegue entrar no altar.
Colocando o lenço nos olhos para não olhar para o lago, ela espeta o seu dedo com
o espinho de uma roseira seca que fica na margem e derrama algumas gotas de seu sangue
na água. Tocando a flauta no altar a lua começa a se avermelhar pela metade. Naquele mo-
mento ela retira o lenço para olhar o quanto falta para a lua ficar avermelhada por completo.
Evangeline se descuida, acaba olhando para o lago e, nele, ela consegue ver o reflexo de sua
imagem dormindo em seu próprio quarto. Ela não resiste e pula no lago.
O lago é tão profundo que Evangeline começa a afundar, sem saber para quem pedir
ajuda. Então, em pensamento, começa a clamar. No mesmo instante ela vê a imagem de um
leão na superfície. Encarando seu próprio medo, ela começa a nadar até chegar à superfície.
Ao sair do lago, não encontra o leão, mas percebe que a lua vermelha segue pela metade. A
menina volta a fazer o ritual e, nesse momento, a criatura maléfica de seus pesadelos retorna
ao altar e se transforma em uma grande serpente, o terror de Evangeline. Encorajada pela
voz que ouviu quando estava no lago, ela começa a tocar a flauta e de repente a lua fica tão
vermelha quanto os céus do leste. A criatura é destruída ao som de Evangeline e, no ramo
mais alto da roseira seca na margem do lago, sai uma rosa rubra que abre a porta daquele
mundo que a leva para casa.

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SOBRE O AUTOR
Ricardo Araujo adora fazer cinema, é pesquisador e Bacharel em Comunicação/Jornalismo
pela UFBA . Há doze anos produz conteúdos autorais no Canal Icon Estúdio no Youtube. É
mestrando em Cultura e Sociedade no Pós-Cultura UFBA.

https://www.instagram.com/ricardoaraujoart/
https://twitter.com/CultRicardo
https://youtube.com/@IconEstudio

E-mail: [email protected]

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No Capoeirão dos Taquaruçus da
Loucura
Roberto Reis

ADAPTADO DE: Essa história é uma história original livremente baseada nas
obras de Monteiro Lobato (O Sítio do Pica-Pau Amarelo) e de H. P. Lovecraft (os
mitos de Cthulhu).

SINOPSE

Tia Anastácia tem uma premonição assustadora do futuro, em que a Narizinho será sacri-
ficada. E para desespero da cozinheira, Pedrinho chega ao Sítio do Pica-Pau Amarelo para
mais uma temporada de férias e planeja uma noite de histórias de terror, contando histórias
de H.P. Lovecraft. Os moradores do sítio nem imaginavam que alguns dos seus temores po-
deriam se tornar realidade.
ARGUMENTO

Tia Nastácia tem uma visão enquanto corta cabeças de peixes na cozinha do sítio. Em
sua visão, Narizinho é sacrificada pela Cuca em um ritual macabro. Ela desperta dessa visão
com os gritos de Narizinho comemorando a chegada de Pedrinho para as férias costumeiras
no sítio.
Após a recepção, Pedrinho, muito empolgado, comenta com Dona Benta que trouxe
para casa um livro de um autor de terror cósmico muito famoso, o H.P. Lovecraft, e sugere
como maneira de testar a coragem de Emília e Narizinho, que a avó leia a história durante a
noite em volta da fogueira para todos eles. Tia Nastácia escuta a conversa e diz a Dona Benta
que esse tal horror cósmico não parece ser coisa para as crianças. Dona Benta concorda, mas
se a filha Tonica deixa o menino ler essas coisas, então ela não se meterá entre eles.
As crianças passam o dia empolgadas com a tal noite do terror que o Pedrinho trou-
xe como novidade. Enquanto fazem os preparativos, Emília lembra a Narizinho que eles já
testemunharam tantas coisas descabidas no sítio do Pica-Pau Amarelo, que duvida que o tal
livro de Pedrinho seja mesmo assustador. O Visconde de Sabugosa reclama com o Marquês
de Rabicó que gostaria muito de saber por que só naquele lugar tantas coisas incomuns
eram possíveis. O Marquês diz que pra ele não tem importância, desde que ele sempre te-
nha suas abóboras deliciosas para comer.

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Enquanto Pedrinho monta a fogueira, Tia Nastácia folheia o livro enorme deixado
pelo menino na mesa. O livro parece emanar uma energia estranha. A mulher abre o livro
e lê um trecho em que fala sobre o Necronomicon Ela resmunga em voz alta, “imagina só...
um livro que deixa maluco quem lê? Isso não é coisa boa!”. Tia Nastácia se assusta com a
entrada de Pedrinho e deixa o livro cair no chão sobressaltada. O menino pergunta se ela vê
fantasmas. Ela comenta que anda sonhando acordada e por isso está cansada. Ele pede a Tia
Nastácia para preparar ótimos quitutes para a noite.
Na mata fechada, um homem verde e careca desperta ouvindo murmúrios próximos.
Quando ele abre os olhos, onde deveriam haver cabelos, aparecem chamas vermelhas. O
Curupira desperto pega sua lança e espia entre arbustos. Ele vê um Jacaré humanoide com
fiapos de cabelos loiros segurando um livro aberto e sussurrando repetidamente: “Ph’nglui
mglw’ nafh Cthulhu R’lyeh wgah’nagl fhtagn.” Ao sentir que está sendo observada, a Cuca
fecha seu livro que tem a capa parecida com couro humano, e corre mata adentro.
No terreiro, com todos em volta da fogueira, Dona Benta descreve para as crianças
as criaturas conhecidas como os Adoradores de Dagon, os peixes humanoides fétidos que
servem ao deus Dagon. Rabicó e Quindim preferem não ouvir o resto da história e se des-
pedem com um boa noite. Emília e Narizinho dizem que aquela história é ridícula, pois já
estiveram no Reino das Águas Claras e não havia nada como Dagon e seus Adoradores por
lá. Naquele reino todos eram gentis. As duas também se retiram para dormir.
Pedrinho fica muito frustrado com a recepção negativa de sua história e é consolado
pelo Visconde de Sabugosa e Tia Nastácia, que, mesmo aflita com aquela narrativa tenebro-
sa, consola o menino dizendo que, no dia seguinte, ele encontrará alguma aventura que des-
perte a atenção da menina e da boneca. Eles não veem, mas formas monstruosas (Dagons)
os observam enquanto isso. Dona Benta então declara a noite como encerrada e pede que
todos vão para as suas camas.
Enquanto Narizinho coloca Emília para dormir em uma gaveta aberta, a boneca re-
clama do cheiro de peixe podre que está sentindo desde que Dona Benta começou a contar
a história. Narizinho sugere que a boneca esteja apenas impressionada com a história que a
avó começou a ler para eles. Tia Nastácia entra no quarto para se certificar que se a menina e
a boneca já estão em suas camas. A boneca diz então que Tia Nastácia deve lhes contar outra
história para que aquele cheiro de peixe podre vá embora. A mulher diz que está cansada
para histórias e que irá abrir um pouco a janela para ventilar o quarto.
Ao abrir as cortinas, um monstro com formato de peixe olha diretamente para Tia
Nastácia, que grita horrorizada! No instante seguinte o monstro Adorador de Dagon quebra
a janela e entra no quarto da garota se atirando em Tia Nastácia. Narizinho e Emília gritam
aterrorizadas e correm para fora do quarto enquanto outros Adoradores de Dagon entram
pela janela amontoados e ferozes clamando pela “Mãe!”. Enquanto luta com o monstro, Tia
Nastácia tem seu peito atravessado pelo braço de uma das criaturas, mas, apesar de ferida

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gravemente, ela apenas desmaia.
Tia Nastácia sonha com o dia em que conhece Narizinho. A menina se mudou muito
pequena para morar com avó após perder os pais. Tia Nastácia, repleta de ternura, rasga
sua saia velha, colhe marcela, e, enquanto costura a boneca, sussurra baixinho: vocês serão
melhores amigas, vão sempre sorrir, vão cuidar uma da outra, e vão viver em um mundo
encantado. Ela entrega a boneca para a menina e diz: “A tia fez essa amiguinha para você...
Qual o nome dela?”. A Narizinho responde enquanto abraça a boneca, “É Emília, Tia!”
Ao acordar, Dona Benta conta a Tia Anastácia que os monstros levaram Narizinho.
Nastácia se lembra então da visão que teve na manhã do dia anterior e pede que os outros
confiem nela, pois ela sabe que Narizinho está com a Cuca e eles precisam resgatar a garota
o mais rápido possível. Emília, Visconde e Pedrinho se armam e usam o Pó de Pirlimpimpim
para serem teletransportados para o Capoeirão dos Taquruçus, onde fica a gruta da Cuca, a
bruxa do Capoeirão.
O Curupira recebe o trio, e diz que já deveria imaginar que eles estavam por trás da-
quele furdunço mágico. Pedrinho conta ao Curupira o que aconteceu, e ele conta aos me-
ninos que no dia anterior ele viu a cuca com um livro amaldiçoado, e desde então a bruxa
havia perdido a sanidade. Pedrinho se lembra do Necronomicon e o medo que Tia Nastácia
ficou quando leu sobre o livro, e se pergunta como aquele livro chegou no Capoeirão.
Neste momento, O Visconde se Sabugosa volta a ser apenas um boneco de sabugo co-
mum, para a surpresa de todos. Emília se preocupa com a possibilidade de virar uma bone-
ca comum, e se Tia Anastácia poderia a trazer a vida de novo, caso a mulher não morresse.
O Curupira junta as peças e entende o que acontece. Ele pede que Pedrinho e Emília sigam
para a caverna da Bruxa e a distraiam o máximo que puderem, enquanto ele volta ao sítio
com o boneco de sabugo.
Ao entrarem na caverna da Cuca, eles percebem que ela está com uma aparência mais
assustadora que o comum. A bruxa segura um livro e um punhal em sua mão e recita encan-
tamentos em um idioma estranho. No altar, Narizinho está amarrada e vários Adoradores
de Dagon estão ajoelhados em volta do dela Emília grita por Narizinho, tirando a Cuca do
transe. A bruxa se revolta, ela precisa despertar o seu noivo Cthulhu, para que juntos possam
iniciar a era dos deuses bestiais. Ela questiona o porquê da magia não estar funcionando,
pois Narizinho deveria ser a mãe da magia e o vórtice de magia no mundo. Afinal, ela deu
vida a Emília, uma mera boneca de pano. Emília olha para Pedrinho com cara de esperta.
O Curupira chega ao sítio do Pica-Pau e ordena a tio Barnabé (que o reverencia) que
o leve até Tia Nastácia, pois é chegada a hora de ela liberar sua magia e assumir sua forma
real. Emília caminha em direção ao altar pergunta para a Cuca se ela sabia que a ilustre Mar-
quesa de Rabicó e Condessa de Três Estrelinhas tinha com irmão o Visconde de Sabugosa.
A Cuca em choque pergunta como a boneca é irmã do sabugo? Emília responde que quem
deu vida a eles foi Tia Nastácia. O Curupira entra no quarto onde Dona Benta está sentada

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cuidado de Anastácia, ele diz: “Todos esses anos, sonhando os sonhos dos outros e cuidando
das dores dos outros fizeram com que ela esquecesse quem ela realmente era. É chegada a
hora de despertar e espantar a escuridão com seu amor. Desperte e salve-nos!”. Tia Nastácia
desperta, agora como uma deusa em vestimentas douradas.
Ao mesmo tempo, a deusa encarnada aparece na gruta do Capoeirão. Pedrinho e Emí-
lia aproveitam a distração da Cuca e desamarram Narizinho. A deusa guardiã diz “Aquele
que Dorme deverá continuar a dormir para toda eternidade, este reino está sob a minha
proteção e toda ameaça está banida!”. Os Adoradores de Dagon desaparecem, a Cuca volta
a ser uma mulher e foge dali. As crianças pegam o Necronomicon e voltam para o Sítio.
Após o incidente, Tia Nastácia ainda precisa trabalhar para desenvolver a sua magia
e descobrir mais sobre a sua linhagem mágica. Emília a reconhece como mãe, assim como o
Visconde. E as crianças passam a trata-la como Rainha Anastácia.

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SOBRE O AUTOR
Baiano do interior... do interior de livros, de quadrinhos, de séries, de filmes, de games e de
si próprio.

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E-mail: [email protected]

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Alice no reino de Axum
Thassya Luz

ADAPTADO DE: Alice no país das Maravilhas, de Lewis Carroll

SINOPSE

Alice vive em um país no futuro, no qual as memórias ancestrais do seu povo estão sendo
apagadas pela rainha Catarina. Após vivenciar o falecimento da sua avó, devido à perda
de memória. Alice é resgatada por Dayo, descobre que é herdeira da pedra badu e a única
pessoa capaz de reverter a magia da tirana. Eles embarcam às pressas até Axum – o reino
africano onde habitam os guardiões da ancestralidade. Em Axum, a garota recebe uma mis-
são e é treinada pela duquesa de Lumumba para aprimorar os seus poderes. Após enfrentar
enigmas e derrotar a rainha, Alice salva o seu país e volta para casa. Mas isso só é possível
através da conexão da garota com os seus antepassados.

ARGUMENTO

Janeiro de 2259. Salvador.


ALICE está navegando em uma folha gigante no mar. A neblina a impede de enxer-
gar o que está acontecendo ao redor. A garota começa a remar sem destino e escuta um
som percussivo muito forte. Olha ao entorno, mas não identifica de onde vem o barulho.
Subitamente, flechas começam a cair do céu. Rema desesperadamente e é sugada por um
redemoinho. Ela desperta do sonho assustada com o barulho de DONA ENÔ, sua avó. Que
bate em sua porta dizendo:: “oxe, vai se atrasar pra aula de novo?”     
Dona Enô, está muito debilitada, pois foi infectada com o vírus CHN-12. Esse agente
patogênico está contaminando todo o país e tem como sintomas o apagamento das memó-
rias ancestrais, levando à morte em casos graves. As pessoas com essa doença não se lem-
bram dos costumes tradicionais mais antigos, como: preparar um banho de folhas, fazer
uma comida típica ou cultuar festas para as entidades. Elas acabam vagando pela cidade
perdidas e sem saber quem são. O pior é que ninguém sabe como tudo isso começou, nem
descobriram a cura.
Alice detesta a sua vida entediante de adolescente. A não ser pela companhia dos seus
amigos e a sua vontade de ser uma grande cientista. Ela passa noites estudando, tentando
achar soluções para os problemas de saúde que circundam o seu país. Além disso, a garota

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ainda tem que dar conta dos sonhos surreais que a cada dia só pioram e cuidar da sua avó.
Após voltar da escola, chega em casa cansada e faminta por um acarajé. No entanto, encon-
tra sua avó debruçada sobre a mesa e sem vida. A garota se derrama em lágrimas. Inconfor-
mada e com muita raiva do acontecimento, sai pedalando com a sua bicicleta pela orla de
Itapuã. Nesse momento, ela olha para o mar e passa pela sua cabeça todos os momentos em
que viveu ao lado de dona Enô. As ondas parecem acalmá-la, mas o desespero por não ter
mais aquele colo é maior. Desatenta esbarra em uma árvore e cai no chão.
De repente, começa a ouvir o mesmo barulho percussivo que havia escutado no so-
nho. Questiona-se se é um sonho ou realidade, logo em seguida um Lêmure falante e vesti-
do com um humano se aproxima. DAYO - o lêmure, conta que ela é herdeira da pedra badu
e a única pessoa capaz de reverter o vírus. Alice carrega uma pedra que ganhou dos seus pais
quando ainda era bebê, mas só agora entendeu o que aquele objeto precioso significava.
Para salvar o seu país, a garota precisa acompanhar Dayo até o reino de Axum. Alice
hesita de início, pois nunca lhe convidaram nem para uma festa: “como assim viajar para um
reino?” Começa a refletir também sobre nunca mais ver os seus amigos JU e CAIO. No en-
tanto, ela simpatiza com Dayo e pensa: “que bicho mais engraçado com esse chapéu”. Aceita
o desafio e embarca para o mundo desconhecido.
Alice chega até Axum e fica impressionada com a beleza do lugar, diferente do seu
país, esse novo ambiente é rico em biodiversidade (tem muitas plantas e seres ancestrais an-
tropomórficos). Seres como: a mulher serpente que usa um manto de arco-íris e o feiticeiro
poderoso vestido com folhas vivas que conversam entre si. Ela olha ao redor, percebe certos
cenários que já apareceram nos seus sonhos e se assusta.
Dayo, como um bom guia, prepara um café para Alice conhecer os demais habitantes
do reino. No café estão presentes A DUQUESA DE LUMUMBA - uma senhora com uma
coroa roxa e a princípio não muito simpática, OS IRMÃOS IBEJIS - dois meninos gêmeos
muito agitados que carregam em suas mãos uma folha pontiaguda. Alice fica muita calada
no início, porém faz amizade com os irmãos Ibejis. Eles começam a praticar travessuras que
a fazem rir muito.
A duquesa conta que o vírus que está infectando o país, foi causado pela rainha Ca-
tarina - uma monarca que está em guerra com Axum e quer dominar todos os países sob
a proteção dos ancestrais. Alice começa a se questionar mais uma vez se tudo aquilo é um
sonho e desnorteada acaba desmaiando. Todos a amparam e com um olhar de dúvida a du-
quesa fala: “não é essa a garota. Dayo, você tem certeza que foi no lugar certo?”  
Alice se recompõe e entende que não tem escapatória, ela é a única pessoa que pode
confrontar a monarca. Em seguida a duquesa de Lumumba faz um passeio pela antiga casa
dos antepassados e a garota fica em êxtase pelo contato com toda a história da sua família. O
feiticeiro EWÉ aparece e faz uma magia de proteção para a pedra badu.
Após o café e o ritual de consagração, Alice, curiosa em desbravar, sai pela floresta e

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encontra uma ave colorida. A garota fica encantada com a beleza do pássaro e segue até uma
porta dourada. Para a surpresa de Alice, aquela porta a leva para um dos lugares mais peri-
gosos do reino- o labirinto dos sonhos. Cada porta do labirinto transporta para pesadelos.
Na primeira porta, Alice dá de cara com a sua escola, um ambiente no qual as pessoas não
são muito legais e lhe ameaçam. No início ela fica desesperada, mas começa a entender que
é apenas algo irreal e inicia o confronto. Depois de encarar os seus medos sozinha, ela sai do
labirinto. Esse é o momento em que se dá conta de quem realmente é e percebe o poder que
carrega dentro de si.
Alice volta para encontrar Dayo. O lêmure ficou chateado porque ela saiu sozinha.
Dayo chama a Duquesa de Lumumba para ensiná-la as tradições do reino de Axum e pre-
pará-la para enfrentar a rainha Catarina. No treinamento a garota não é muito suscetível a
receber ordens e faz sempre muitas perguntas. Mas com o tempo encanta-se com os feitiços
e os conhecimentos ancestrais. Além de ver a duquesa como uma figura tão semelhante a
sua avó.
Depois de conhecer mais o reino, a garota inicia uma jornada até o castelo da rainha
Catarina. Dayo dá a missão para os irmãos Ibejis de acompanhá-la na travessia do rio Nilo.
Embarcam em uma concha gigante para chegar até o reino. No início parece tudo muito
calmo e eles se divertem como crianças. No entanto, logo são surpreendidos com animais
encantados e desconhecidos. Lançam feitiços e lutam contra esses seres. Depois da expe-
riência do labirinto, Alice fica mais segura e com menos pavor de não conseguir cumprir a
missão.
  Após longos dias viajando e cansados, ficam parados no meio do rio sem achar o
portal. A garota logo lembra de um sonho que teve e parecia estar nesse mesmo lugar. Dessa
forma, lança um feitiço nas águas e eles são sugados por um redemoinho no rio até chega-
rem ao reino.
Mais calmos por terem chegado seguros, seguem por terra até as portas do castelo.
Alice tem a brilhante ideia de usar o seu colar com a pedra badu para transformar-se em
ouro e conseguir entrar nos aposentos da rainha.
No entanto, Catarina já esperava a presença de Alice por ali, pois estava vigiando de
longe todos os seus passos. Por isso, apresenta-se com a sua tropa de soldados no jardim
para capturá-la. A garota começa uma luta com ela e os soldados, mas não consegue derro-
tá-los. Acaba sendo pega e presa no calabouço das relíquias.
Sem esperanças e com medo de não conseguir voltar para casa, se entrega à derrota e
começa a chorar. Nesse momento a rainha aparece no calabouço e fala para Alice que quem
causou tudo isso foi o seu próprio povo, pois eles ficaram tão cegos em possuir riquezas su-
perficiais que ela se aproveitou para contaminá-los com o vírus e roubar as suas memórias.
A garota fica perplexa com o que ouviu e deita segurando a sua pedra. Começa a sonhar
com a sua avó e recebe mensagens significativas que lhe dão forças para continuar tentando

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derrotar a rainha.
Alice acorda, recupera o fôlego e faz um ritual para entrar em contato com os seus
ancestrais. Dessa forma, ela consegue se libertar do calabouço e inicia um novo confronto.
A garota finalmente alcança os seus poderes superiores e derrota Catarina com a ajuda dos
irmãos Ibejis.
Eles retornam para o reino de Axum e são recebidos com muita festa pelos seres. Ali-
ce em seguida volta para o seu país. Apesar de não ter mais a sua avó viva, percebe que agora
tem uma nova família, os seres de Axum, no qual ela pode visitá-los quando quiser. Além da
família dos seus amigos , Ju e Caio que sempre foram próximos.
As pessoas começaram a se curar aos poucos e entenderam que as tradições são teias
que as mantêm vivas. Por isso, todos aqueles que se foram com a doença são reverenciados
e são criados espaços de memória em todo o país - protegidos pela pedra badu. Para que as
próximas gerações nunca esqueçam da sua ancestralidade.

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SOBRE A AUTORA
Redatora publicitária e roteirista. Já trabalhou em marcas como: Heineken, TikTok e Strava.
Acredita que as histórias têm o poder de conectar pessoas e entende que para criar bons
enredos é preciso vivências socioculturais.

https://www.linkedin.com/in/thassyaluz/

E-mail: [email protected]

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A Cartomante
Thiago Lins

ADAPTADO DE: A Cartomante, de Machado de Assis

SINOPSE

Após anos de ausência, Camilo reencontra o seu melhor amigo Vilela, casado com Rita. Fas-
cinados um pelo outro, Camilo e Rita vislumbram a chance de uma felicidade possível e es-
caparem de uma rotina tediosa e asfixiante. Porém, depois de semanas de encontros furtivos,
recebem uma série de cartas anônimas, ameaçando revelar todo o caso para Vilela. Tomado
por forte angústia, e sem opções, Camilo resolve deixar o seu ceticismo de lado e encontrar
uma cartomante para saber de sua sorte. Ela revela que o seu futuro será promissor e nada
acontecerá de grave. Extasiado, corre para contar à amada. No entanto, encontra-a morta e
ensanguentada no esconderijo de costume. E sangrando por “duas bocas”, seu amigo Vilela
estira Camilo no chão.

ARGUMENTO

Camilo, funcionário público indicado pela mãe, não seguiu a carreira de médico como
o pai gostaria. Não almeja outras possibilidades de crescimento pessoal. Emocionalmente
entorpecido, mostra-se cético e relutante diante de quase tudo. Mas tudo muda ao reencon-
trar seu velho amigo, o advogado Vilela, e sua esposa, Rita, em um encontro nas ruas do Rio
de Janeiro, no princípio de 1869.
Dona de uma beleza estonteante, não demora para Camilo e Rita sentirem-se atraídos
um pelo outro. A rotina letárgica e fora de propósito de Camilo, por vezes encerrada entre as
quatro paredes de uma enfadonha sala de escritório, parece ganhar um novo significado ao
vislumbrar uma felicidade possível com Rita (que por sua vez, sofre em meio a uma socie-
dade pautada por aparências). E por iniciativa de Rita, ambos, “pisando folgadamente por
cima das ervas e pedregulhos” (DE ASSIS, 2012, p.24-25), ao se encontrarem em uma antiga
casa na antiga Rua dos Barbonos (longe da vista de todos), decidem, enfim, consumar todo
o seu amor.
Passado um tempo, Rita começa a receber cartas anônimas que deixam claro que al-
guém sabe do adultério, e que haverá severas consequências. Será alguém próximo da famí-
lia ou o próprio Vilela? Tais questões atemorizam o casal, em especial Camilo, que vislum-

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brava desfrutar todo o seu amor por Rita sem riscos.
Diante de tais circunstâncias, Camilo decide parar de encontrar Rita e desfazer qual-
quer suspeita por parte de Vilela, além de evitar o próprio, temendo qualquer represália. Tal
postura gera tormento a Camilo, mas - a despeito da estranheza de Vilela em não visitá-lo
mais -, segue firme em seu propósito de esconder qualquer suspeita de traição, mesmo que
gerasse alguns constrangimentos. Da última vez, quando Vilela e Camilo se encontraram,
e o amigo indagara a Camilo o porquê de tamanha ausência, este respondeu que era por
causa de uma menina com quem estava envolvido, uma “paixão frívola”.
Ao perambular pelas ruas, Camilo depara-se com a residência de uma cartomante, de
anúncio bem chamativo. Corroído pela impossibilidade de concretizar seu amor por Rita,
Camilo deixa de lado todo o seu ceticismo e arrisca ler a sua sorte com a cartomante; esta
se mostra bastante persuasiva ao convencê-lo que o seu futuro será de paz e felicidade, sem
gravidade nenhuma. Extasiado diante da revelação, Camilo não vê a hora de contar para
Rita sobre tal novidade.
No entanto, horas depois de se dirigir até ao esconderijo de costume, encontra Rita
morta e ensanguentada sobre um canapé. De súbito, Vilela aparece com um revólver em
punho. E com dois tiros, seu velho amigo estira Camilo no chão.

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SOBRE O AUTOR
Thiago Lins da Silva é graduado em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual de Feira
de Santana (UEFS). Reside em Feira de Santana.

E-mail: [email protected]

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Mané Riachão
Vinícius Souza Santos

ADAPTADO DE: O conto Manuel do Riachão, de Annibal Mascarenhas (Viriato


Padilha)

SINOPSE

Mané Riachão, o mais afamado e fantástico violeiro do sertão,do norte ao nordeste. Com o
desejo de ser o melhor violeiro do mundo, suas aventuras, para muitos satânicas, e as des-
graças que se espalhavam quando muito ele permanecia em determinado lugar, eram de co-
nhecimento geral. e depois de ser expulso de mais uma cidade por uma cantada inoportuna
durante uma missa, Mané segue sua peregrinação maldita.
Após vários dias vagando como uma verdadeira alma penada, como se a praga rogada pelas
pessoas, e uma energia diferente o tivessem guiando até aquele determinado lugar, Mané
Riachão se depara em mais um forró de desconhecidos.
Um após outro, Mané Riachão vence seus oponentes. Porém surge um Louro misterioso
com seu machetinho e rimas perfeitas, e revela a identidade diabólica de Mané. O Louro o
derrota impiedosamente, o mandando para o inferno e o castigo eterno.

ARGUMENTO

Uma velha SANFONEIRA tenta ensinar o instrumento a seus dois netos, uma GARO-
TA e um GAROTO, que retruca e alegando não conseguir evoluir como sua irmã, diz que fa-
ria qualquer coisa para ser o melhor sanfoneiro do mundo sem muito esforço, até um pacto
com o diabo. A Sanfoneira o repreende e começa a contar a história de MANÉ RIACHÃO.
Que alguns diziam ter feito pacto para ser um grande violeiro, outros, que ele é o próprio
diabo.
Mané Riachão mais uma vez está semi-bêbado em um bar na beira de uma estrada de
chão em um povoado esquecido por Deus. Ele pede inúmeras doses sem pausa, enquanto
toca sua viola. O dono do bar vai até os fundos do estabelecimento e abre uma porta por
onde adentra uma multidão furiosa, que deseja que ele vá embora imediatamente, alegando
terem descoberto a verdadeira identidade de Mané. Que enquanto tocava sua viola em uma
missa na igreja da cidade, fingindo ser um religioso, mas realmente estava interessado na es-
posa de um dos fazendeiros mais poderosos da região e após cantar a mulher casada, e pegar
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todo o dinheiro das doações para a igreja. Como castigo, uma praga destruiu as plantações
em todo o lugar. Mané percebendo a situação difícil, decide partir de imediato. Tocando
uma última quadra de viola, ele segue seu caminho estrada a fora.
Como que se tivesse sido amaldiçoado pelas pessoas do povoado anterior, Mané se-
gue vários dias de caminhada pela caatinga, sem encontrar sequer uma alma viva. Com sede
e fome, ele decide subir o topo de uma serra, na busca de encontrar alguma saída para sua
lamentação. Do alto ele vê uma festa de São João em uma pequena casa.
Com o desejo de mais uma batalha em roda de viola, ele segue em direção até a aglo-
meração. Aproveitando um momento oportuno já dentro da festa, Mané empunha sua viola
e começa a tocar algumas quadras de boas vindas. Atraídos pelo seu talento único, todos se
aproximam de Mané, que se torna o centro das atenções. Sem muita demora, surgem vários
candidatos a batalhar no centro da roda de viola. E com rimas e instrumental perfeito, Mané
derrota todos que vão desistindo um a um.
Sem mais candidatos a competidores, Mané, percebendo que mais uma vez não exis-
tem mais competidores páreos para suas modas, pega uma garrafa de cachaça,abre um sor-
riso amarelo no rosto, empunha sua viola e começa sua saída triunfante cantando uma qua-
dra de despedida. Quando ele já esta passando pela porta, um HOMEM LOURO, com a pele
branca feito nuvem, surge por trás das pessoas, e empunhando um machetinho, começa a
tocar chamando Mané Riachão para uma disputa final. Mané sente um arrepio por todo o
corpo, e surpreso por ser chamado pelo seu nome em um ambiente no qual é um completo
desconhecido, Mané vira-se para o Homem Louro e começa a disputa.
Com uma calma surpreendente, o Homem Louro usa artimanhas incríveis para rima
após rima, quadra após quadra, mesmo sem levantar o olhar em momento algum, vencer
Mané Riachão, que notando sua iminente derrota perante ao público cada vez mais eufórico
com a destreza de seu oponente, pela primeira vez em sua vida de violeiro, Manuel se ener-
va, cometendo diversos erros seguidamente.
O Homem Louro não dá trégua e cada vez mais incisivamente, revela a todos a iden-
tidade de Mané Riachão, que se vê acanhado e começa a analisar uma forma de fuga. O
Homem Louro então toca mais uma quadra e neste momento ouve-se um estrondo e todas
as luzes se apagam.
Uma aura desce sobre o Homem Louro, sua roupa se torna belas asas brancas, seu
machetinho se torna uma palma que cobre seu peito. Ele começa a flutuar e pela primeira
vez olha nos olhos de Mané Riachão que tenta fugir por entre as árvores e a fogueira apaga-
da. O Homem Louro levanta seu braço fazendo se abrir o chão sob os pés de Mané Riachão,
sombras negras puxam Mané para dentro do chão e este se fecha. O Homem Louro cumpri-
menta todas as pessoas perplexas e flutua pelo ar sumindo entre as árvores.
A Sanfoneira está terminando a história, completando que os mais velhos contavam
para ela quando criança. O Garoto e a Garota estão em silêncio e boquiabertos. A Sanfonei-

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ra repreende o garoto dizendo para o mesmo ter cuidado com o que deseja, O Garoto faz o
sinal da cruz, corre rapidamente para dentro da casa e volta dedilhando a sanfona comple-
tamente sem jeito. A Sanfoneira e a Garota sorriem felizmente.

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SOBRE O AUTOR
Nasci na periferia da cidade de Salvador, filho de família humilde. Todas as dificuldades que
surgiram ao longo da vida não me impediram de lutar e estudar. Sempre fui apaixonado pe-
las mais diversas artes, e mesmo com a falta de oportunidades, continuo buscando a minha
chance de adentrar neste universo e poder apresentar a minha arte.
Com toda trajetória acadêmica em escola pública, hoje sou Graduando em Cinema e Au-
diovisual pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Possuo experiência no
audiovisual, compondo a equipe de produção do longa-metragem Na Rédea Curta (2022) de
Ary Rosa e Glenda Nicácio, pela produtora baiana, Rosza Filmes. E diversos outros curtas
metragens universitários, como Assistente de direção, roteirista, na finalização e no som
direto e em equipes de produção.

http://lattes.cnpq.br/1826584424761541

E-mail: [email protected]

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Sobre os professores
João Araújo
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia
(PPGCCC - UFBA), e membro grupo de pesquisa em Análise de Teleficção (a-tevê). Foi pro-
fessor substituto das disciplinas Estética da Comunicação e Oficina de Comunicação Au-
diovisual também pela Universidade Federal da Bahia, e hoje atua como professor, pesqui-
sador, organizador e coordenador pedagógico em empreendimentos culturais e acadêmicos
diversos. Dentre esses empreendimentos, na pesquisa, se destacam a coordenação dos pro-
jetos de investigação “Vários Mundos, Uma Bahia: Um Estudo da Ficção Seriada Baiana”
(financiado pelo Edital Setorial de Audiovisual do Fundo de Cultura da Bahia, 2019) e “Jogos
de Todos os Santos: um estudo da construção de mundos ficcionais nos videogames baia-
nos” (Prêmio das Artes Jorge Portugal 2020 - Premiação Aldir Blanc Bahia). Já na docência,
se destaca a atuação contínua junto ao Centro de formação de roteiristas de narrativas seria-
das para televisão e internet Estação do Drama (UFBa), com premiações em editais diversos.

Estou no Lattes: http://lattes.cnpq.br/3456835344222735


Estou no Academia.edu: https://independent.academia.edu/Ara%C3%BAjoJo%C3%A3o

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Sobre os professores
Marcelo Lima
Roteirista e professor de audiovisual e HQs. Doutor em Comunicação pela UFBa. Recebeu
o Prêmio João Ubaldo Ribeiro da Prefeitura de Salvador (2017) pela adaptação para HQ do
romance “O Bicho que Chegou a Feira”, de Muniz Sodré. Foi um dos convidados para o
Colaboratório Criativo, iniciativa de inclusão profissional de roteiristas negros com apoio
da Netflix. Escreveu a série animada Auts (Takapy), exibida na PlayKids, TVE e TV Cultura.
Cocriou as séries animadas Pequenos Narradores (Takapy) exibida na TV Aratu, e Galera
da Praia (Griot Filmes/Tamar/Studio Belli), a ser exibida na TV Rá-Tim-Bum. Foi roteirista
das séries Formula Dreams (Story Productions/SP), Beliche Voador (Plot Kids/SC); e a se-
gunda temporada da série animada Mundo Ripilica (Marisol/SP), exibida na Discovery Kids
e Amazon Prime; foi head writer de desenvolvimento de universo ficcional do personagem
Nenê do Zap (Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal) a partir de argumento coescrito com
Anna Muylaert; escreveu o argumento para filme documentário derivado do álbum QVV-
JFA?, do rapper Baco Exu do Blues; desenvolveu seu primeiro longa live-action Caindo no
Mundo, uma comédia universitária passada em Salvador e voltada para o público jovem
adulto com financiamento da Netflix e supervisão de roteiristas desta plataforma de strea-
ming. Atualmente desenvolve o projeto transmídia Os Afrofuturistas, financiado pela SE-
CULT/BA e pelo Itaú Cultural e com HQ a ser lançada em Abril de 2023 pela Editora Veneta;
é roteirista na Conspiração Filmes desde julho de 2021, onde desenvolve e escreve projeto
de série chefiado por Lázaro Ramos; trabalha em parceria com a WIP Ventures, de Bruno
D’Angelo e Pedro Pizzolato, no desenvolvimento de IPS autorais.

Estou no Instagram: https://www.instagram.com/marcelo.o.lima/


Estou no LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/marcelo-lima-345aa974/
Estou no Lattes: http://lattes.cnpq.br/7498734050018745
Tenho um site com portfólio, cursos e materiais para download: https://www.marceloro-
teiros.com/

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Sobre o ilustrador
Bruno Marcelo
Baiano de Salvador (de sangue Uruguaio), Formado em Artes Plásticas pela Escola de Belas
Artes da UFBA, com especialização em Novas Mídias e Tecnologia para a criação Pictori-
ca, pela UNA Universidade Nacional de Las Artes - Buenos Aires Argentina. Trabalha com
quadrinhos, ilustração, game designer e professor de desenho. Já foi professor substituto na
EBA UFBA, já participou de um monte de exposições, de diversas publicações e de muitas
feiras de quadrinhos e arte impressa. Na área de quadrinhos fez um Sketchbook que é uma
coletânea de seus cadernos de desenho e foi co autor do quadrinho Cidade Motor, respon-
sável pelos desenhos e escreveu e desenhou todo em aquarela a HQ Areia.

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Sobre o projeto

RESUMO DO PROJETO

O projeto “Balão das Letras - Oficinas de Adaptação Quadrinhística” é uma iniciativa que
visa contribuir para a capacitação, especialmente do público jovem, em adaptar textos literá-
rios para o formato de quadrinhos. Ele consiste na realização de oficinas online, totalmente
gratuitas, e distribuição de materiais didáticos, a partir das quais os alunos e alunas apren-
derão a planejar e escrever roteiros para narrativas gráficas; compreender os elementos que
estruturam a linguagem visual; e dissecar os componentes básicos das narrativas literárias,
como seus enredos, personagens, ambientes e atmosferas.

O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia, através do Fundo de Cultura, Fundação
Cultural do Estado da Bahia, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda.

www.balaodasletras.com

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