A Mulher Adúltera Na Bíblia e Jesus
A Mulher Adúltera Na Bíblia e Jesus
A Mulher Adúltera Na Bíblia e Jesus
João 8
8.1 — As pessoas foram para casa (v. 53), mas Jesus, que não tinha onde
reclinar a cabeça (Lc 9.58), passou a noite no monte das Oliveiras.
Todo o povo vinha ter com ele. Como a Festa dos Tabernáculos havia se
encerrado no dia anterior (Jo 7.2,37), ainda havia muitos visitantes em
Jerusalém. Atraídos pelo surgimento de um Rabi famoso, formou-se logo
uma multidão. Assentando-se. Os mestres antigamente em Israel
costumavam sentar-se para ensinar. Jesus ficou na posição de um mestre
que tinha autoridade.
8.6 — Tentando-o. Se Jesus dissesse que ela não deveria ser apedrejada,
estaria opondo-se à Lei judaica. Se dissesse para apedrejá-la, Jesus estaria
opondo-se à lei romana, que não permitia que os judeus aplicassem
execuções (Jo 18.31). Quanto ao que Jesus escrevia com o dedo na terra
só se pode conjecturar. Alguns dizem que Ele escreveu os Dez
Mandamentos registrados em Êxodo 20. Mas se o que Ele escreveu fosse
importante realmente teria isso registrado. Talvez a questão aqui não seja
o que Ele escreveu, mas o fato de Ele ter escrito.
No Antigo Testamento, Deus escreveu a Lei com Seu dedo (Êx 31.8). E bem
provável que, caso Jesus estivesse mesmo escrevendo a Lei, Ele
simbolicamente estava dizendo ser não apenas um mestre da Lei, mas o
próprio Legislador e Juiz. Se fosse um mero rabi, Ele teria dado Seu
veredicto segundo a Lei mosaica. No entanto, como o Promulgador da Lei,
Ele pôde agir com aquela mulher do mesmo modo como Deus agiu com
Israel no deserto: perdoando!
8.11 — A advertência não peques mais indica que Jesus havia perdoado a
mulher. Contudo, embora não a tenha condenado, Ele não foi
condescendente com seu pecado. Alguns acham que o Senhor os
perdoará depois que eles fizerem o melhor que puderem. Mas Jesus
perdoou aquela mulher depois de ela ter feito o pior que podia. Jesus nos
ama como somos (Rm5.8), mas nos ama mais ainda para permitir que
continuemos sendo os seres limitados que somos.
Leia esta reflexão sobre o texto de João 8,1-11. Penso que você vai
compreender melhor a perícope.
Esta é uma história muito interessante que só aparece no Evangelho de
João. O texto relata que enquanto Jesus esta ensinando no Templo, os
escribas e fariseus “trazem uma mulher que foi surpreendida em flagrante
delito de adultério” e na Lei está escrito que “tais mulheres devem ser
apedrejadas”. Que pecado ela cometeu para ser trazida diante da
comunidade e ser condenada à morte? Vamos ver o que a Torá (Lei) nos
diz sobre o pecado de adultério:
“Se um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será
morto o adúltero e a adúltera”(Lv 20,10).
Observamos que a Torá diz que os dois serão mortos, o adultero e a
adultera. Mas é interessante notar que não diz com que tipo de morte
eles devem morrer.
Voltarmos ao texto, no Evangelho notamos duas coisas: Não existe um
homem, somente a mulher e esta deve ser mostra a pedradas. Chegamos
à conclusão que o pecado dessa mulher não se refere ao que está escrito
em Lv 20,10. Portanto, a pergunta é: de que tipo de adultério se trata? E
onde está escrito que Moisés ordena apedrejar tais mulheres.
Quando lemos o texto imediatamente pensamos que se trata de sexo,
mas na realidade se trata de outro tipo de pecado, vejamos o texto da
Torá no qual está escrito que tipo de transgressão ela cometeu:
“Quando no meio de ti, em alguma das tuas cidades que te dá
o Senhor, teu Deus, se achar algum homem ou mulher que
proceda mal aos olhos do Senhor, teu Deus, transgredindo a
sua aliança, que vá, e sirva a outros deuses, e os adore, ou ao
sol, ou à lua, ou a todo o exército do céu, o que eu não
ordenei; e te seja denunciado, e o ouvires; então, indagarás
bem; e eis que, sendo verdade e certo que se fez tal
abominação em Israel, então, levarás o homem ou a mulher
que fez este malefício às tuas portas e os apedrejarás, até que
morram”.(Dt 17,2-5)
Para compreendermos melhor este texto temos que saber que a Escritura,
para falar do relacionamento entre Deus e Israel, usa a linguagem do
casamento. Deus é o esposo e Israel é a esposa. No momento em que a
comunidade é fiel, Israel é tratada como a virgem de Israel. Há
circunstâncias em que ela é infiel e aí ela é chamada de prostituta, ou
adultera; e há também circunstâncias em que ela faz o papel de viúva,
como se o esposo estivesse morto, então Israel é apresentado na figura da
viúva. Estes quatro aspectos: virgindade, prostituição, adultério e viuvez
caracterizam na Escritura, e no Novo Testamento, o povo de Israel – Israel
é a mulher fiel, ou infiel. Veja-se Ez. 16, Os. 1.
Percebemos então que o pecado da mulheré o de infidelidade à aliança,
não se trata de uma transgressão na área do sexo. Ela foi infiel não a um
homem, mas a Deus. A Aliança, o casamento, como nas Bodas de Kaná, foi
violada.
Houve uma transgressão da Aliança de algum modo e neste caso, segundo
a lei, ela deve ser apedrejada.
Os escribas e fariseus tinham razão, a “Lei ordena apedrejar tais
mulheres”. “Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.” Este
gesto de Jesus é muito significativo e aparece apenas uma vez na
Escritura.
“Quando Ele terminou de falar com Moisés no monte Sinai,
entregou-lhe as duas tábuas do Testemunho, tábuas de
pedra, escritas pelo dedo de Deus.”(Ex 31,18).
O gesto de Jesus, ‘Inclinando-se, ele escrevia sobre a terra’, evoca o Dom
da Torá no Sinai (Sl. 18,10), e significa, neste contexto, que o autor do
texto está fazendo Jesus estar de acordo com a injunção da Torá e a
afirmação dos Fariseus. Vamos, então, apedrejar a mulher. Mas, há um
problema: para fazermos isso é necessário que sejamos puros, sem
pecado – lembremo-nos que a Mulher representa o povo, isto é, Fariseus
e escribas que estão presentes na historinha – então, como nenhum dos
presentes, exceto Jesus é puro, evidentemente, o autor faz com que todos
se retirem de cena, exceto Jesus – por isso é que o gesto acima é
novamente repetido, mas com novo sentido: agora sua função é falar de
uma nova atitude, uma nova revelação (?), ou um aspecto ainda não
percebido na revelação do Sinai – isto é, o perdão.
As tabuas de Pedra escritas com o dedo de Deus é a Torá, a Aliança entre
Deus e o povo de Israel. Este gesto de Jesus de escrever com o dedo nos
leva a refletir sobre duas realidades; primeiramente que Ele é o próprio
Deus que se abaixa para estar com a humanidade; em segundo lugar quer
recordar quantas vezes na história de Israel houve infidelidades, e quantas
vezes Deus lhe perdoou.
Mas eles persistiam em interrogá-lo, então, ele se ergue e diz: “Quem de
vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra!”. Ele se
inclina novamente e continua a escrever. Com esta frase de Jesus eles
caem em si e percebem que são pecadores. Logo, começam a sair um
após o outro, começando pelos mais velhos.
Poderíamos explorar mais este conceito de infidelidade, no entanto, o
mais importante é reconhecermos nossa condição de criaturas. Todos nós
temos as mesmas dificuldades. Deus na sua infinita bondade nos perdoa
sempre.
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