Política e Organização Da Educação Básica

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 107

UNIVERSIDADE

Núcleo de Educação a Distância

POLÍTICA E
ORGANIZAÇÃ
O DA
EDUCAÇÃO
BÁSICA

NÚCLEO COMUM
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Créditos e Copyright

TAVARES, Elisabeth dos Santos

Políticas e Organização da Educação Básica. Elisabeth dos


Santos Tavares. Santos: Núcleo de Educação a Distância da
UNIMES, 2016. p. (Material Didático. Licenciatura).

Modo de acesso: www.unimes.br

1. Ensino a distância. 2. Licenciaturas. 3. Políticas


Educacionais

CDD 370

Este curso foi concebido e produzido pela Unimes Virtual. Eventuais marcas aqui
publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários.

A Unimes Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste curso
oriundo da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em
qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos.

Copyright (c) Unimes Virtual

É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato.

UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

PLANO DE ENSINO

NÚCLEO COMUM
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

CURSO: Licenciaturas
COMPONENTE CURRICULAR: Política e Organização da Educação Básica
CARGA HORÁRIA TOTAL: 80h

EMENTA
As políticas sociais e educacionais com base nos pressupostos do Estado Moderno
no Brasil, da Constituição Federal e da LDB, enfatizando o papel desse Estado na
elaboração das políticas atuais. A descentralização na Educação Brasileira e sua
organização. Estabelecimento de uma relação prática, encontrada na realidade atual
na organização da Educação Básica, com os textos legais.

OBJETIVO GERAL
Promover condições para que o aluno aproprie-se de conhecimentos e habilidades
para o exercício das atividades de gestão, elaboração, acompanhamento e
avaliação de projetos, dos sistemas de ensino, escolas e outros espaços educativos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
UNIDADE I - Relação entre Estado X Política X Planejamento X Legislação.
Objetivo da Unidade
Estabelecer uma reflexão crítica na relação entre Estado X Política X Planejamento
X Legislação, iniciando-se pelo conceito de Estado.

UNIDADE II - As Políticas Sociais e de Descentralização na Educação no


Brasil.
Objetivo da Unidade
Analisar criticamente as políticas sociais e educacionais que se traduziram em
planos e projetos governamentais, especialmente na década de 90.

UNIDADE III - Constituição Federal Relevância com a Temática Educação.


Objetivo da Unidade

NÚCLEO COMUM
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Conhecer a realidade social, econômica e política em que está inserido o processo


educacional no Brasil a partir dos aspectos sociais, políticos e culturais que a
configuram;
Estabelecer uma interlocução da realidade social, da educação hoje e os
referenciais teóricos da sociologia e das políticas educacionais.
UNIDADE IV: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: o Texto e o
Contexto.
Objetivo da Unidade
Compreender os processos de planejamento e implementação das políticas
educacionais para a educação básica, bem como os princípios filosóficos e
pedagógicos expressos na LDBEN e nas diretrizes curriculares nacionais de
Educação Infantil e Ensino Fundamental;
Desenvolver a capacidade de identificar problemas socioculturais e educacionais,
propondo respostas às questões da democratização e qualidade do ensino.
REFERÊNCIA BÁSICA:
Bruel, Ana Lorena de Oliveira. Políticas e legislação da educação básica no
Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2012.
HEIN, Ana Catarina Angeloni (org). Organização e legislação da educação-São
Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016.
SOARES, Kátia Cristina Dambiski. Marco Aurélio Silva. Sistema de
Ensino: legislação e política educacional para a educação básica. Curitiba:
Intersaberes 2017. Série Fundamentos da Educação.
REFERÊNCIA COMPLEMENTAR
ARROYO, Miguel, G e. ABRAMOWICZ, Anete (orgs). A Reconfiguração da
Escola. Entre a negação e a afirmação de Direitos. Campinas. SP; Papirus, 2009
(Coleção Papirus Educação)
CAMARGO, Daiana; SANTA CLARA, Cristiane Aparecida (orgs). Educar a criança
do século XXI: outro olhar, novas possibilidades. Curitiba: Intersaberes, 2015. p.
178-197
DEMO, P. A nova LDB: ranços e avanços. Campinas, SP: Papirus, 1997.
________.Plano Nacional de Educação. Uma visão crítica. Campinas, SP; Papirus,
2016.

NÚCLEO COMUM
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Quem sabe faz a hora de construir o projeto
político-pedagógico. Editora Papirus 2007. Coleção Magistério: Formação e
trabalho Pedagógico.

METODOLOGIA
As aulas serão desenvolvidas por meio de recursos como: videoaulas, fóruns,
atividades individuais, atividades em grupo. O desenvolvimento do conteúdo
programático se dará por leitura de textos, indicação e exploração de sites,
atividades individuais, colaborativas e reflexivas entre os alunos e os professores.

AVALIAÇÃO
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e
apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como
forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte
teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos
específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e Prova Presencial,
de acordo com a Portaria de Avaliação vigente.

NÚCLEO COMUM
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Sumário

Aula 01_O Estado: Conceito e Tendências.................................................................8

Aula 02_O Estado e a Relação com as Políticas Sociais..........................................11

Aula 03_Relação Estado X Política X Planejamento.................................................13

Aula 04_Fatores de Influência no desenvolvimento das políticas sociais.................15

Aula 05_Estado X Política X Planejamento X Legislação..........................................17

Aula 06_O Ciclo de uma Política...............................................................................19

Resumo_Unidade I....................................................................................................21

Aula 07_Planejamento...............................................................................................23

Aula 08_A Política Educacional e a Escola...............................................................25

Aula 09_O que é Projeto Político Pedagógico?.........................................................28

Aula 10_Descentralização de Políticas Públicas.......................................................30

Aula 11_Descentralização de Políticas Públicas e a Educação................................33

Aula 12_Descentralização X Educação X Gestão (Parte I).......................................36

Aula 13_Descentralização X Educação X Gestão (Parte II)......................................38

Aula 14_Descentralização X Educação X Gestão (Parte III).....................................41

Aula 15_Descentralização X Educação X Gestão (Parte IV).....................................43

Aula 16_Descentralização X Educação X Gestão (Parte V)......................................45

Aula 17_É uma questão de competência?................................................................47

Resumo_Unidade II...................................................................................................50

Aula 18_Constituição da República Federativa do Brasil (Parte I)............................52

Aula 19_Constituição da República Federativa do Brasil (Parte II)...........................56

Aula 20_Constituição da República Federativa do Brasil (Parte III)..........................60

NÚCLEO COMUM
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 21_A Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional


................................................................................................................................... 65

Aula 22_Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional – Os Princípios...............68

Resumo_Unidade III..................................................................................................72

Aula 23_LDB - Da Organização Básica Nacional......................................................73

Aula 24_LDB – Da Organização da Educação Nacional: Dos Níveis e Modalidades


de Educação e Ensino...............................................................................................76

Aula 25_LDB – As disposições gerais para a Educação Básica...............................79

Aula 26_LDB - Fins da Educação Infantil..................................................................84

Aula 27_A LDB, o Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos...............88

Aula 28_LDB - Os objetivos do Ensino Médio...........................................................92

Aula 29_Educação Profissional e Tecnológica..........................................................94

Aula 30_A LDB – E a Educação Especial.................................................................97

Aula 31_LDB – Dos Profissionais da Educação......................................................100

Aula 32_LDB – Dos Recursos Financeiros..............................................................104

NÚCLEO COMUM
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 01_O Estado: Conceito e Tendências

Em nossa primeira aula abordaremos a compreensão da concepção de


Estado, pois o Estado está no centro do planejamento e da execução das políticas
sociais públicas, especialmente as educacionais. Vamos buscar essa concepção!
A concepção de Estado apresenta uma grande concordância entre cientistas
quanto ao seu conceito. Conforme o Dicionário do Pensamento Social do Século XX,
de Jorge Zahar Editor, uma definição incluiria três elementos.
1. Um estado é um conjunto de instituições, definidas pelos próprios
agentes do Estado;
2. Essas instituições encontram-se no centro de um território
geograficamente limitado – a sociedade;
3. O Estado monopoliza a criação de regras dentro do seu território – é a
criação de uma cultura política comum partilhada por todos os cidadãos.
Segundo o Dicionário de Política,
“Estado contemporâneo envolve numerosos problemas,
derivados principalmente da dificuldade de analisar
exaustivamente as múltiplas relações que se criaram entre
Estado e o complexo social e de captar, depois, os seus efeitos
sobre a racionalidade interna do sistema político”. (BOBBIO et.
Al, 1999, p.101)
Vale ainda destacarmos outro conceito de Estado que se refere a um
“povo social, política e juridicamente organizado, que dispondo
de uma estrutura administrativa, de um governo próprio, tem
soberania sobre determinado território” (KOOGAN-HOUAISS,
1993, p. 341).
É possível considerar o Estado como o conjunto de instituições permanentes,
órgãos: legislativo, forças armadas, tribunais e outras, que, localizadas em nossa
sociedade, possibilitam a ação dos governos, configurando-se assim o Estado e o
desempenho de suas funções.
O mesmo se dá em relação às políticas sociais. Compreendidas como de
responsabilidade do Estado quanto a sua implementação e manutenção, referem-se
a ações que devem determinar um padrão de proteção social, na redistribuição dos

NÚCLEO COMUM
8
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

benefícios sociais, visando à diminuição das desigualdades estruturais produzidas


pelo desenvolvimento social e econômico.
Geradas a partir de um processo de tomada de decisão que envolve não só
os órgãos públicos, mas diferentes organismos e agentes da sociedade relacionada
à política implementada, não se constituem, portanto em políticas estatais, mas sim
em políticas públicas. Têm suas raízes nos movimentos populares do século XIX,
especialmente em razão dos conflitos surgidos entre capital e trabalho, quando das
primeiras revoluções industriais.
Temas como saúde, educação, habitação, previdência têm assumido a
vanguarda na discussão das políticas sociais.
Intrínsecas relações estão estabelecidas entre Estado, políticas públicas e
governos; logo visões diferentes de Estado, sociedade, políticas sociais e
consequentemente políticas educacionais geram projetos diferentes de intervenção,
deixando-se, portanto, de lado o que possa parecer neutralidade. Há ainda a
considerar o momento histórico e político em que ocorrem essas relações.
Ainda que possamos correr riscos ao definir o Estado e suas funções de
modo tão sintético, o que nos interessa neste momento é fazer uma reflexão que
nos possibilite compreender o porquê desse Estado, no Brasil, estar se
apresentando como gerador de um “déficit” de cidadania no nível em que nos
encontramos, o porquê da erosão dos parcos direitos sociais, o porquê da educação
tão sucateada.
Ensaiando algumas respostas: É sob as transformações do cenário
mundial que se abre o espaço para um novo estágio de globalização do capitalismo
e, consequentemente, a expansão do mercado mundial, propiciando um novo
regime de acumulação.
A consolidação das políticas neoliberais tem como marco o Consenso de
Washington (1989), cujas orientações passaram a nortear as políticas do Fundo
Monetário Internacional e do Banco Mundial na concessão dos empréstimos aos
países necessitados de recursos, políticas essas que têm nos ajustes estruturais,
entre outras questões, a redefinição do papel do Estado.
No Brasil, o ajuste estrutural tem se definido como um conjunto de programas
e políticas orientadas e introduzidas por essas e outras organizações financeiras.

NÚCLEO COMUM
9
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

O que tem se apresentado como “reforma” do Estado, através da política


econômica "ainda" em curso e dos programas de ajuste estrutural que se seguem,
tem se referido a uma redução unilateral da intervenção estatal nos setores de
produção e também dos serviços sociais. O problema básico da sociedade
brasileira, as desigualdades estruturais e a exclusão social econômica e política dos
segmentos pobres da população não tem sido amenizado com as reformas
realizadas e em curso.
O texto aponta que há uma orientação internacional, por meio da política
econômica "ainda" em curso e dos programas de ajuste estrutural que seguem, para
a reforma do Estado. Afirma-se que essa reforma tem se referido a uma redução
unilateral da intervenção estatal nos setores de produção e também dos serviços
sociais.
Para refletir: Como você percebe a reforma do Estado no Brasil? Os serviços
sociais estão sendo ampliados? Como se deram as privatizações? No que nos
auxiliaram as privatizações efetuadas?

NÚCLEO COMUM
10
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 02_O Estado e a Relação com as Políticas Sociais

Na aula anterior vimos que o que se tem apresentado como “reforma”


do Estado, por meio da política econômica em curso, tem se referido a uma
redução unilateral da intervenção estatal nos setores de produção e serviços sociais.
Sabemos que o problema básico da sociedade brasileira - as desigualdades
estruturais e a exclusão social econômica e política dos segmentos pobres da
população não tem sido amenizado com as reformas realizadas e em curso.
As desigualdades sociais e econômicas estruturais têm prolongado
dependências que oferecem possibilidades de manipulação e abuso de poder por
parte das elites dominantes e que representam, para os pobres, impossibilidade de
acesso aos serviços públicos na satisfação de suas necessidades.
É a crise do Estado-nação. O Estado, entendido como a organização
política que, a partir de um determinado momento histórico, conquista, afirma e
mantém a soberania sobre um determinado território, aí exercendo, entre outras, as
funções de regulação, coerção e controle social, tem essas funções mutáveis e com
configurações específicas ao funcionamento, expansão e consolidação do sistema
econômico capitalista.
Com relação à nação, definida apenas como o conjunto de cidadãos do
Estado no início da democratização do próprio Estado, sofreu uma lenta evolução
antes de coincidir com o seu significado mais atual, quando a "nação" ou o "povo"
passaram a ser concebidos por meio de critérios históricos e étnicos.
No entanto, em geral, os Estados-nação têm desempenhado um papel
bastante ambíguo. Enquanto externamente têm sido os propagadores da
diversidade cultural, da autenticidade da cultura nacional, internamente têm
produzido a homogeneização e a uniformidade, esmagando a rica variedade de
culturas locais existentes no território nacional, por meio do poder da polícia, do
direito, do sistema educacional ou dos meios de comunicação social e, a maior parte
das vezes, por todos eles em conjunto.
Nesta "crise ideológica construída", os Estados nacionais não são afetados
igualmente e nem todos cumprem os mesmos papéis no processo da economia
globalizada. Enquanto uns podem se beneficiar, outros não; porém, são cada vez
mais distantes as possibilidades da resistência à globalização econômica, política e

NÚCLEO COMUM
11
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

cultural quando se pensa neste mesmo Estado como principal ou único mobilizador
nacional de ações que se contraponham a esta economia.
Nesse contexto, os desafios que se impõem às políticas sociais são
complexos. Os desafios nos remetem para a necessidade de se inscreverem na
agenda política os processos e as consequências da reconfiguração e
ressignificação das cidadanias, se considerarmos as manifestações presentes, cada
vez mais heterogêneas e plurais de identidades, em sociedades e regiões
multiculturais.
É interessante formarmos um glossário para a nossa disciplina e isto é muito
fácil.
O que é um glossário? Está definido como “vocabulário ou livro em que se
explicam palavras de significação obscura ou dicionário de termos técnicos,
científicos, poéticos” pelo Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira. No nosso caso, talvez o significado mais adequado
seja um pequeno dicionário de termos técnicos e científicos. Vamos começar? Não
se acanhe, faça seu glossário em uma pasta no computador ou no final do seu
caderno. Vamos a um exemplo:
Heterogêneas = de outro gênero, de diferente natureza (Novo Dicionário da Língua
Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira).
É importante citarmos a fonte, para que, em caso de dúvida, todos possam
consultar também.

NÚCLEO COMUM
12
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 03_Relação Estado X Política X Planejamento

Já estamos compreendendo um pouco mais as relações entre o Estado e as


políticas sociais. Vamos continuar?
As ações de governo podem ser entendidas como formas de intervenção do
Estado; logo pressupõem que, ao pensarmos nessas ações, podemos afirmar que
elas fazem parte de um grande planejamento. Esse planejamento não pode ser
considerado como qualquer planejamento, mas como um planejamento coerente
com o projeto político representativo desse governo.
Isto nos permite compreender uma relação nem sempre clara para a maioria
dos educadores. Uma relação que evidencia a influência da opção política dos
governos sobre o planejamento e, consequentemente, sobre suas ações.
É interessante lembramos que um governo representa as forças hegemônicas
de uma dada sociedade, num dado momento histórico, e que essas forças têm,
ainda que não evidente, um projeto político a concretizar.
Pensando em educação, podemos afirmar que as ações que vivenciamos na
escola estão influenciadas por essa política e esse planejamento. Assim,
“o planejamento educacional constitui uma forma de intervenção do
Estado em educação, que se relaciona, de diferentes maneiras,
historicamente condicionadas, com outras formas de intervenção do
Estado em educação (legislação e educação pública) visando à
implantação de uma determinada política educacional do Estado,
estabelecida com a finalidade de levar o sistema educacional a
cumprir as ações que lhe são atribuídas enquanto instrumento desse
mesmo Estado”. (Horta, 1991, p.195).
É importante destacarmos que o Estado tem no seu interior diferentes forças
representativas da sociedade civil (sociedade política), o que nos faz também
compreender que no seu interior se trave um jogo político. Vale ressaltar que a
sociedade civil (fora do Estado) tem formas de atuação que podem representar
forças dependendo de articulação.
Embora tenhamos afirmado que as ações de governo podem ser entendidas
como formas de intervenção do Estado e que elas fazem parte de um grande
planejamento coerente com o projeto político representativo desse governo, nem

NÚCLEO COMUM
13
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

sempre o que se propaga é o que está sendo efetivamente concretizado, ou seja,


nem sempre as intenções formais expressas nos planos de governo são coerentes
com a sua forma de atuar e com os princípios e meios firmados nos discursos
oficiais.
Distintos fatores podem influenciar o desenvolvimento das políticas sociais.
Esses fatores diversos merecem uma análise até mesmo para estabelecermos uma
relação com a realidade que se vive no Brasil.
Assim como outras políticas sociais, a educação é influenciada pela opção
política de um governo, e a execução de seu planejamento é decorrente dessa
política. Como processo, no seu desenvolvimento pode se travar um jogo político
entre forças representativas da sociedade e ainda poderá sofrer influência de fatores
que a façam se distanciar de seus princípios e meios propostos e propagados.
Referência
HORTA, José Silvério Bahia. Planejamento educacional. In: MENDES,
Durmeval (coord.) Filosofia da educação no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1991.

NÚCLEO COMUM
14
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 04_Fatores de Influência no desenvolvimento das políticas sociais

Como vimos na aula anterior, fatores distintos têm influenciado o


desenvolvimento das políticas sociais. Podemos, segundo (Arretche 2001), assim
enumerá-los:
1. o distanciamento dos programas em relação a seus objetivos iniciais,
em decorrência, geralmente, de distorções na sua implementação pela
forma como os benefícios são apropriados pela população;
2. a baixa cobertura dos programas;
3. a escassez e/ou má utilização de seus recursos financeiros;
4. a má qualidade dos serviços prestados;
5. o grau de privatização dos programas e
6. a implementação de modo que privilegie interesses de grupos privados
em detrimento do grupo supostamente beneficiário da política.
Ainda, segundo a autora, outros fatores também influenciam no
desenvolvimento das políticas sociais, dentre eles:
 a subordinação dos programas à política econômica e a outros
objetivos externos como rentabilidade e lucro;
 a baixa participação dos beneficiários, reais ou potenciais, nas
diferentes fases dos programas, aí incluída a inexistência de canais
institucionais pelos quais a população possa se expressar, encaminhar
sugestões e demandas ou influir no processo de decisão ou
implementação;
 a centralização, tanto na formulação, implementação e na organização
administrativa ou em outros aspectos relacionados ao programa,
quanto ao processo político com repercussões diretas sobre estes e
 o uso político e/ou clientelista dos programas, para fins eleitorais e/ou
de apoio político.
A autora considera ainda que a falta de integração entre as agências
institucionais na implementação dos programas, fator que diz respeito
especificamente ao funcionamento dos programas sociais, aparece com alta

NÚCLEO COMUM
15
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

incidência nos estudos realizados sobre avaliação de políticas públicas sociais no


Brasil.
Uma reflexão a respeito da influência dos fatores acima expostos sobre as
políticas sociais talvez permita a identificação de problemas vividos na nossa
sociedade e bem próximo, na nossa cidade. Faça a sua reflexão! E, se possível,
socialize estas informações. É um exercício de cidadania.
LEMBRETE:
Vamos continuar alimentado nosso glossário! Quais são as novas palavras
que vamos acrescentar?

NÚCLEO COMUM
16
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 05_Estado X Política X Planejamento X Legislação

Vimos nas aulas anteriores como podemos conceituar o Estado e a relação


que se estabelece entre esse Estado, a Política e o Planejamento. Vimos também
como fatores distintos podem influenciar o desenvolvimento das políticas sociais.
Vamos avançar mais, vamos identificar que além dessas relações outra se
estabelece com a legislação.
Como isso acontece? Vamos recordar que no Brasil, temos três poderes
constituídos: o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. Cada um
desses poderes tem competências e atribuições específicas que se integram
visando à garantia da nossa democracia e dos direitos de todos os cidadãos,
conforme previsto na Constituição Federal, nas Constituições Estaduais e nas Leis
Orgânicas dos municípios.
A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de
outubro de 1988, em seu preâmbulo, declara que os nossos representantes, os
deputados federais e os senadores eleitos, em Assembleia Nacional Constituinte,
portanto uma assembleia específica para a elaboração da constituição, reuniram-se
para,
“instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna,
internacional, com a solução pacífica das controvérsias”.
O preâmbulo e o texto da nossa constituição refletem claramente o contexto
histórico que se vivia na época, quase de euforia pelo término da ditadura e pelo
retorno do regime democrático. Portanto, há uma relação entre legislação e o
contexto histórico, contexto este que envolve a política e também o planejamento
como vimos anteriormente.
A legislação apresenta um sentido prospectivo, representa um projeto que se
deseja. Contudo, nem sempre ela garante a mudança pretendida. No Brasil há uma
tendência em se atribuir um valor extremado à legislação.

NÚCLEO COMUM
17
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Por outro lado, não podemos deixar de analisar uma outra questão que
envolve a legislação. Se já compreendemos que ela reflete um dado momento
histórico, ela poderá servir para regulamentar uma determinada política e servir a
determinadas forças.
No caso da Educação Brasileira, podemos afirmar que a legislação
educacional tem refletido uma concepção de reforma do Estado, por meio da
redefinição das responsabilidades das instâncias governamentais, seja ela federal,
estadual ou municipal, sob o discurso oficial da descentralização administrativa e
financeira. Embora tenhamos traçado relações que permeiam o Estado, a Política, o
Planejamento e a Legislação, podemos afirmar que esta não é uma regra que não
permita exceções. Dependendo das circunstâncias, da realidade e dos diferentes
momentos históricos, essa relação pode-se se dar não na ordem que
estabelecemos, mas diferentemente, as interfaces que se estabelecem apontam a
necessidade da ocorrência de um movimento dialético.
Não há neutralidade quando tratamos de educação. Educação é sempre
um ato político, como afirmou Paulo Freire.
Reflexão: Diante das questões aqui apresentadas, como me posiciono?

NÚCLEO COMUM
18
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 06_O Ciclo de uma Política

Já sabemos que uma política é o que se pretende realizar por meio das ações
governamentais. Diferentes momentos estão contidos em uma política ou nas
políticas. São o que vamos denominar estágios, etapas, fase ou ciclos e que
pressupõem algumas questões.
Os estágios:
 Organização da agenda
 Formulação
 Implementação
 Avaliação
 Término
Na organização da agenda, questões se tornam parte da agenda pública, as
quais são consideradas pela agência administrativa e pelo corpo legislativo.
Na formulação, o problema ou problemas são discutidos e definidos, e uma
decisão é tomada, decisão essa que passa a agregar apoios ou oposições, e uma
abordagem é adotada para solucioná-los.
Na implementação da política, são criados programas, aspectos da política
são modificados para dar atendimento às necessidades, aos recursos necessários e
às exigências almejadas pelos implementadores. Há uma transferência da decisão
tomada e da ação para a agência administrativa responsável pela implementação.
As ações desenvolvidas pela agência administrativa são avaliadas, e o
impacto da política e os processos pelos quais ela está sendo implementada são
considerados na avaliação.
Vários são os fatores que levam à descontinuidade de uma política, ou seja, a
seu término. Podemos considerar como fatores determinantes a perda do apoio
político, a ausência de resultados alcançados, o descumprimento de metas, o custo
considerado alto, a falta de recursos e outros.
Esta elaboração dos estágios de uma política, no entanto, não ocorre de
modo linear como pode parecer à primeira leitura. No concreto, em situação real
eles se mesclam e até se sobrepõem e podem ocorrer em sequência diversa da aqui
apresentada, o que quer dizer que o processo é dinâmico, incorpora atores,

NÚCLEO COMUM
19
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

contextos, realidades e ainda pode, por interesse dos formuladores, serem


reformulados em razão de conflitos e tensões que desencadeia.
No entanto, o conhecimento destes estágios intrínsecos à política nos permite
uma visão de todo o processo, distinguindo como a política vem sendo “feita” e não
apenas como uma determinação.
Se já sabemos que uma política é o que se pretende realizar, por meio das
ações governamentais, a análise de políticas, desde que registrada cientificamente,
aponta para a oportunidade do aprimoramento dessa mesma política por meio de
tomada de decisões, influenciando assim a “política no futuro”. Há uma outra
questão, a do envolvimento dos cidadãos na política, da participação na política que
permeia a complexidade do assunto.
Na tentativa de ampliarmos nossa compreensão em relação à política, seus
estágios e seu aprimoramento, propomos uma reflexão.
Cada um de nós, pensando em Educação, pode identificar a política que
vem sendo proposta para a nossa cidade?
Em caso afirmativo, qual é ela? Ela vem sendo implementada?
Vem alcançando resultados positivos? Quais?
O que você entende que deveria estar proposto na sua cidade?

NÚCLEO COMUM
20
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Resumo_Unidade I

Nesta unidade, entendemos a concepção de Estado definindo seu papel na


execução das políticas sociais públicas, entendendo por quais razões o estado
implantou “reformas”, afastando-se de programas econômicos e, voltando-se a
questões sociais e quais foram os fatores relevantes nesta tomada de decisão.
Recordamos que o Brasil possui três poderes constituídos, o Executivo,
Legislativo e Judiciário. Eles possuem atribuições específicas que se integram,
garantindo assim a democracia e direito de todos, conforme previsto na Constituição
Federal, Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios.
Ao relacionar política e educação, podemos afirmar que “Educação é sempre
um ato político” (PAULO FREIRE), uma vez que está vinculada a legislações e em
diferentes momentos históricos.
Política é o que se pretende realizar por meio de ações governamentais.
Estas ações passam por diferentes estágios. São eles: organização de agenda,
formulação, implementação, avaliação e término.
Assim como as relações e ações que se estabelecem no Estado demandam
de Planejamento, podemos dizer que planejar está próximo ao nosso cotidiano.
Entendemos o que envolve a ação de planejar que está presente na
Educação com ênfase no Planejamento Participativo.
Chegamos ao capítulo Política Educacional da Escola que se define pelo
Projeto Político Pedagógico e que acaba por estar vinculado a forças hegemônicas
da sociedade, que expressa o projeto político de um governo.
Analisamos a descentralização de políticas públicas e sob qual discurso ela
foi implantada e define o que é o Projeto Político Pedagógico, qual o caminho de sua
construção para transformação da realidade.
Referências Bibliográficas
ARRETCHE, Marta. Estado Federativo e Políticas Sociais: Determinantes
da Descentralização. Rio de Janeiro: Revan; são Paulo: FAPESP, 2000.
HORTA, José Silvério Bahia. Planejamento educacional. In: MENDES,
Durmeval (coord.) Filosofia da Educação no Brasil. Rio de Janeiro. Civilização
Brasileira, 1991.

NÚCLEO COMUM
21
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

SILVA, Tomaz Tadeu da. A “nova” direita e as transformações na


pedagogia, In: GENTILI, Pablo A. A.; Silva, Tomaz Tadeu da (org) [e outras]
Neoliberalismo, qualidade total e educação: visões críticas. 9° ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2001.
VASCONCELLOS, Celso dos santos. Planejamento: Projeto de Ensino-
aprendizagem e projeto político pedagógico – elementos metodológicos para
elaboração e realização. São Paulo. Libertad, 1999.

NÚCLEO COMUM
22
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 07_Planejamento

Compreendendo as relações que se estabelecem entre o Estado, a Política, a


Legislação e o Planejamento, podemos afirmar que a ideia de Planejamento é muito
próxima do nosso cotidiano. Logo percebemos que planejar é uma atividade
humana, prescinde de pessoa humana ou pessoas humanas.
E o que mais envolve a ação de planejar?
Envolve um agir racional, uma organização das ações que pretendemos
executar com vistas a alcançar determinado fim, a preparação de um conjunto de
decisões que orientam o nosso agir.
Vimos em aulas anteriores que o Planejamento é um procedimento por meio
do qual se assegura coerência dos processos decisórios em relação às ações
desenvolvidas para se alcançar o sucesso de um projeto político.
Assim, podemos afirmar que como a política, o planejamento apresenta de
forma explícita ou não, um caráter ideológico. Como uma atividade própria de
governo, indissociável da política, é fruto de uma complexa relação que se
estabelece entre a sociedade civil e a sociedade política. Essa não neutralidade
destaca a superação do entendimento de que o Planejamento possa ser um
instrumento burocrático, ainda que muitos assim o entendam.
Logo, se apresentado com um caráter ideológico, vamos entender que há
perspectivas diversas do Planejamento, ou seja, ele pode possibilitar transformações
sociais ou a conservação, conforme as forças que o conduzem.
Se realizarmos uma retrospectiva histórica, talvez possamos considerar que a
atividade de planejar seja tão antiga quanto a existência do homem.
Conforme Vasconcelos (1999) é no “mundo da produção”, com o fenômeno
da Revolução Industrial e com o surgimento da Administração, no fim do século XIX,
que a sistematização do planejamento ganhou força, passando, posteriormente, a
fazer parte da organização de outras áreas como a educacional.
Em Taylor (1856-1915), vamos deparar com a preconização da necessidade
da separação entre o planejar e o executar, numa distinta e radical visão entre a
concepção e a realização, o que muito influenciou o encaminhamento do
planejamento como uma atividade tecnocrática, em que o poder de decisão e
controle se concentra nos técnicos ou políticos ou ainda nos especialistas e não nos

NÚCLEO COMUM
23
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

agentes que o executam. Essa influência permaneceu por muito tempo e impregnou
não só as políticas sócias como também a educação.
Diferentes linhas de planejamento foram se estabelecendo com a evolução do
processo histórico. Na atualidade, especialmente no campo da educação, podemos
destacar o Planejamento Participativo como uma tendência e expressão da
resistência de educadores que se colocaram resistentes à separação anteriormente
exposta.No Planejamento Participativo, estão valorizadas “a construção, a
participação, o diálogo, o poder coletivo local, a formação da consciência crítica a
partir da reflexão sobre a prática de mudança”. (Vasconcellos, 1999, p. ). Há um
rompimento com outras formas de planejar, e o planejamento se torna um
instrumento da possibilidade da interferência na realidade para transformá-la.
A ênfase no Planejamento Participativo revela um ressignificar de uma prática
ainda presente na educação. Remete-nos a acreditar na possibilidade de mudança
da realidade, a querer mudar algo, a vislumbrar a possibilidade da realização de
uma determinada ação que dá sentido ao nosso fazer.
Referência Bibliográfica:
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: Projeto de ensino-
aprendizagem e projeto político pedagógico – elementos metodológicos para
elaboração e realização. São Paulo: Libertad, 1999.

NÚCLEO COMUM
24
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 08_A Política Educacional e a Escola

É na década de 1990 que as políticas educacionais passaram a colocar a escola


como um dos focos de seus objetivos. O debate sobre a escola emerge
considerando a reflexão de dois fatores: que função social tem a escola? E a
importância do projeto político-pedagógico da escola?

Já na segunda década dos anos dois mil, após significativa discussão, é efetivada a
Base Nacional Comum Curricular, prevista no artigo 210, da Constituição Federal e
também na LDBEM, em seu artigo 26. Como resultado desse processo de diálogo e
participação, em 2017, é instituída pelo Conselho Nacional de Educação a Base
Nacional Comum Curricular voltada para a Educação Infantil e Ensino
Fundamental, por meio da Res. CNE/CP nº 2/2017. Já a discussão do Ensino
Médio continuou em processo organizado, com os educadores participando
em comitês de debates, culminando com o documento homologado pelo MEC
em dezembro de 2018.

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA

A preocupação com a questão do “ensinar” na escola já vem de algum tempo. No


entanto, nas duas décadas passadas, especialmente, foram incorporados novos
referenciais a esses estudos inicias, e outros fatores passaram a ser considerados
como determinantes para o sucesso da escola.
Especialmente a partir da democratização do acesso, ou seja, quando a massa da
população passa a frequentar a escola, essa escola se depara com crianças de
diferentes classes sociais, raça e gênero que até então não se encontravam dentro
dela.

É a partir daí que, considerando os resultados do trabalho da escola, as reflexões se


ampliam e passamos a nos preocupar com a exclusão de crianças pela escola, que
função tem o currículo - conservadora ou emancipadora, como a organização, a

NÚCLEO COMUM
25
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

cultura e a gestão da escola podem promover também a inclusão ou exclusão das


crianças. Assim, entendemos que, na realidade, a escola não tem uma única função
social, mas diversas funções sociais e das mais complexas.

Ainda podemos afirmar que o conjunto de profissionais que integram a escola têm
suas próprias culturas, seus valores e que, por não poderem se dividir em partes,
como pessoas, carregam para o interior da escola os seus valores. Enquanto
mediadores do processo educacional, agentes, atores têm suas práticas
impregnadas dessa pessoa humana que são. Daí a importância e a relevância
do projeto político-pedagógico da escola.

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Esse projeto político pedagógico, construído em bases sólidas, vai expressar os


fundamentos éticos e políticos do nosso fazer, ou seja, que homem queremos
formar e para que sociedade. O que pensamos não é tão simples como pode
parecer, considerando o conjunto de todos os atores presentes na escola. Irá além,
deve contemplar com clareza a nossa opção epistemológica, como entendemos o
processo do ensinar e o processo do aprender, como consideramos o professor e o
aluno nesse processo, o que é o conhecimento e como se constrói.

O QUE É A BNCC_ BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR?

É um documento normativo que define o conjunto de aprendizagens essenciais que


todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da
Educação Básica.

Seu principal objetivo é ser a balizadora da qualidade da educação por meio do


estabelecimento de um patamar de aprendizagem e desenvolvimento a que todos os
alunos têm direito.

Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº


9.394/1996), a Base deve nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das
Unidades Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas

NÚCLEO COMUM
26
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em


todo o Brasil. O grande desafio é tornar a BNCC um instrumento vivo e dinâmico em
ação nas escolas.

Estes três novos focos presentes hoje na discussão sobre a escola – sua função
social, a importância do seu projeto político-pedagógico e a articulação adequada
com as bases de um currículo nacional, não esgotam nossa reflexão. Há uma
relação direta entre a escola e os sistemas educacionais a que se vinculam, não há
espaço para a concretização efetiva deste processo, se os sistemas não se
democratizarem. Há uma relação de dupla mão, sistema de ensino e escola ou vice-
versa. Os sistemas de ensino expressam o projeto político das forças hegemônicas
da sociedade, que expressa o projeto político de um dado governo.

Mais uma vez cabe a afirmação: não há espaço para a neutralidade.

NÚCLEO COMUM
27
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 09_O que é Projeto Político Pedagógico?

Nas aulas anteriores vimos que a escola se tornou um dos focos mais
importantes da política educacional. Nesse sentido, a função social da escola e o
seu projeto político pedagógico são dois fatores que merecem destaque.
Vamos refletir sobre o Projeto Político Pedagógico:
1. O QUE É O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO?
2. ONDE ESTÁ SITUADO O PPP?
Podemos afirmar que o Projeto Político Pedagógico é o grande projeto de
uma escola. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um
processo de planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se objetiva na
caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar, a
partir de um posicionamento quanto a sua intencionalidade e de uma leitura da
realidade.
É um caminho para a construção da identidade da escola. É um instrumento
para a transformação da realidade.
Como processo, implica a expressão das opções da escola, de concepções
acerca do conhecimento e o julgamento da realidade, bem como das propostas de
ação para concretizar o que se propõe. Vai além, supõe a colocação em prática
daquilo que foi projetado, sempre acompanhado da análise dos resultados
alcançados.
A DINÂMICA DA CONSTRUÇÃO DO PPP

COMPETÊNCIAS EXIGIDAS PARA A CONSTRUÇÃO DO PPP


São várias as competências exigidas na construção do PPP:
Conceitual - saber exatamente o que é o PPP.
Atitudinal - o desejo e a decisão de fazer o PPP (sensibilização, sem
queimar etapas);

NÚCLEO COMUM
28
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Procedimental - criatividade para alcançar a participação de todos: individual


e em grupos.
Para tanto se exige amadurecimento democrático.
“O planejamento, como tarefa natural ao ser humano, é o processo
de divisar o futuro e agir no presente para construí-lo. Assim, planejar
é organizar um conjunto de ideias que representem esse futuro
desejado e transformar a realidade para que esse conjunto nela se
realize no todo ou em parte”. (GANDIN; GANDIN, 1999, p.37).
Como podemos perceber, embora a descrição deste modelo apresente
etapas distintas, essa distinção se faz apenas para organizar pedagogicamente as
ideias do todo, ou seja, apenas para mostrar a sequência em que elas devem ser
apresentadas, pois é evidente que, para o seu SUCESSO, nenhuma etapa poderá
ser desconsiderada em virtude da interdependência que há entre elas.
AO TÉRMINO DA UNIDADE, VAMOS REFLETIR SOBRE ALGUMAS
QUESTÕES:
1. Que tipo homem e sociedade queremos ajudar a construir?
2. O que compreendemos como valores? Quais são os nossos valores?
3. Quais são os valores dos nossos alunos?
4. O que representa o amor na nossa vida? Nós amamos? De que maneira?
Podemos melhorar nosso amor?
5. Que relações mantemos com nossos alunos? E eles conosco? Estamos
felizes? Podemos melhorar? Como?
6. Considerando a realidade e as nossas condições de vida e os aspectos da
vida contemporânea, o que nos dá prazer? E o que nos causa inquietação?
Por quê? O que podemos fazer para contribuir?
7. Como viver nossas utopias na nossa escola?
Referência
GANDIN, Danilo e GANDIN, Luís Armando. Temas para um projeto político
pedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

NÚCLEO COMUM
29
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 10_Descentralização de Políticas Públicas

Nas aulas anteriores procuramos partir do macro (Estado) até chegarmos ao


micro (escola) estabelecendo conceitos e relações que nos possibilitam
compreender as questões do cotidiano que vivenciamos na nossa vida individual,
como cidadãos e na nossa vida profissional, na escola. Da mesma forma, vamos
iniciar a nossa discussão sobre a descentralização das políticas sociais,
especialmente da educação.
É sob as transformações do cenário mundial que se abre o espaço para um
novo estágio de globalização do capitalismo e, consequentemente, a expansão do
mercado mundial, propiciando um novo regime de acumulação. A consolidação das
políticas neoliberais tem como marco o Consenso de Washington, cujas
orientações passaram a nortear as políticas do Fundo Monetário Internacional e
do Banco Mundial na concessão dos empréstimos aos países necessitados de
recursos, conforme vimos anteriormente.
No Brasil, o ajuste estrutural tem se definido como um conjunto de programas
e políticas orientadas e introduzidas por essas e outras organizações financeiras.
Segundo Silva (2001, p. 13-14),
“[...] o que estamos presenciando é um processo amplo de
redefinição global das esferas social, política e pessoal, no qual
complexos e eficazes mecanismos de significação e representação
são utilizados para criar e recriar um clima favorável à visão social e
política liberal. O que está em jogo não é apenas uma reestruturação
neoliberal das esferas econômica, social e política, mas uma
reelaboração e redefinição das próprias formas de representação e
significação social. O projeto neoconservador e neoliberal envolve,
centralmente, a criação de um espaço em que se torne possível
pensar o econômico, o político e o social fora das categorias que
justificam o arranjo social capitalista. Nesse espaço hegemônico,
visões alternativas e contrapostas à liberal/capitalista são reprimidas
a ponto de desaparecerem da imaginação e do pensamento até
mesmo daqueles grupos mais vitimizados pelo presente sistema [...]”
Neste cenário, as políticas públicas de descentralização emergem como
estratégias de consenso. Mas embora tais políticas no discurso oficial sejam

NÚCLEO COMUM
30
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

apresentadas como um programa de solução de problemas, indicando as vias de


ação e os recursos disponíveis, as políticas de descentralização têm revelado
também os confrontos e as contradições culturais que se traduzem a partir da
própria concepção de descentralização, no desenvolvimento e no acompanhamento
das ações deflagradas.
O Brasil, segundo Arretche (2000), no início dos anos de 1980 viveu um
conjunto de reformas político-institucionais, como a retomada das eleições diretas, a
descentralização fiscal e a definição dos municípios como federativos autônomos.
Num Estado Federativo, marcado por desigualdades regionais e fracas capacidades
econômicas e administrativas de governos locais, o processo de reforma do Estado
tornou-se bastante complexo.

Glossário
Consenso de Washington: Expressão que designa um conjunto de medidas
em favor da economia de mercado com o intuito de “recuperar” economicamente a
América Latina. Denominada de neoliberais, essas medidas pregam a redução da
participação do Estado na economia com a privatização de empresas públicas,
ainda a flexibilização das leis trabalhistas, a redução da carga fiscal e a abertura
comercial. Ao contrário do que pregavam os seus elaboradores, os países que
adotaram inocentemente o receituário do Congresso tiveram aumento do
desemprego, redução dos salários dos trabalhadores e, consequentemente, perda
crescente de poder aquisitivo, com o agravamento da concentração de renda,
deixando uma enorme distância entre ricos e pobres. Houve, também, diminuição do
investimento do poder público na área social diante da “necessidade” do controle
fiscal visando o pagamento de sua dívida pública. O baixo crescimento econômico
dos países que adotaram o modelo do Consenso de Washington não justifica o alto
nível de sacrifício imposto às
suas respectivas populações.

NÚCLEO COMUM
31
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Banco Mundial: Instituição Internacional de financiamento do


desenvolvimento social e econômico. Criado em 1944, com o objetivo de recuperar
os países destruídos após a II Guerra Mundial, conta hoje com 183 países-
membros, inclusive o Brasil, tendo como principal função o recolhimento de recursos
junto a mercados financeiros internacionais para financiar os países em
desenvolvimento, visando combater a pobreza mundial.
FMI: Criado em 1945, objetiva a estabilidade do sistema monetário
internacional através do equilíbrio na balança de pagamentos e nos sistemas
cambiais dos 181 países membros, como também, a expansão do comércio e no
negócio de capitais, chegando a promover empréstimos aos seus membros.

Referências
ARRETCHE, Marta. Estado Federativo e Políticas Sociais: Determinantes
da Descentralização. Rio de Janeiro: Revan; São Paulo: FAPESP, 2000.
SILVA, Tomaz Tadeu da. A “nova” direita e as transformações na
pedagogia da política e na política da pedagogia, In: GENTILI, Pablo A. A.;
SILVA, Tomaz Tadeu da (org.) [e outras] Neoliberalismo, qualidade total e educação:
visões críticas. 9º ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

NÚCLEO COMUM
32
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 11_Descentralização de Políticas Públicas e a Educação

Vamos entender esse processo de descentralização nas políticas públicas,


especialmente na educação!
“O processo de descentralização das políticas sociais inicia-se,
efetivamente, nos anos de 1990, com a transferência da função de
gestão do governo federal para Estados e Municípios.
“Descentralização aqui significa a institucionalização no plano local
de condições técnicas para a implementação de tarefas de gestão de
políticas sociais” (ARRETCHE, 2000, p.16).
De acordo com a autora, o processo de reforma do Estado está condicionado
à natureza das relações entre Estado e sociedade e entre os vários níveis de
governo. Os resultados alcançados são variáveis, de acordo com a política e os
locais onde estão sendo implementados.
Em um processo de transferência de atribuições, a riqueza econômica, a
capacidade fiscal e administrativa dos governos locais exercem um fator
diferenciador. Para a implementação da descentralização, é decisiva a estratégia
governamental de incentivo para que os governos locais queiram assumir tais
atribuições.
A adesão dos governos locais à transferência de atribuições depende
diretamente de um cálculo no qual são considerados, de um lado, os custos e
benefícios derivados da decisão de assumir a gestão de uma dada política e, de
outro, os próprios recursos fiscais e administrativos com os quais cada
administração conta para desempenhar tal tarefa (ARRETCHE, 2000, p.48).
A transferência de atribuições, no Brasil, tem se realizado com base em uma
barganha federativa; quando um nível de governo considera os custos políticos,
financeiros e administrativos de uma gestão, muito elevados, procura transferi-los
para outras administrações.
Na Educação, os princípios de descentralização, gestão
democrática e autonomia escolar passam a estar presentes nos debates e nas
reflexões que buscam soluções para a situação em que se encontra a educação
brasileira. Virou quase lugar comum sua defesa, mas na revelação do discurso
comum, práticas com objetivos bem diferenciados têm emergido.

NÚCLEO COMUM
33
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Vale ressaltar ainda que essa descentralização da educação, apresentada


como uma tendência moderna dos sistemas educativos, pouco tem a ver com as
questões educativas propriamente ditas, conforme Krawczyk (2002), mas muito mais
com a busca de uma governabilidade da educação pública.
“Busca-se analisar a concepção da reforma educacional no marco de
um novo ordenamento das relações internacionais e da
reconfiguração do modelo de Estado provedor e regulador para o
modelo de Estado forte e minimalista e, principalmente, enquanto
expressão da lógica dos binômios globalização/comunitarismo e
centralismo/localismo”. (KRAWCZYK, 2002, p.60).
De fato, o que se apresenta é uma globalização contemporânea que supõe
uma nova ordem econômica, que invalida a necessidade de uma base territorial e de
estratégias nacionais ante as regras dos mercados internacionais no âmbito da
produção e que apresenta, ao mesmo tempo, a gestão local como a forma mais
adequada para vincular os custos e vantagens dos serviços públicos e privados.
Nessa perspectiva, a gestão educacional proposta apresenta a coexistência
de espaços de decisão e ação, descentralizados e privados, juntamente com outros
espaços altamente centralizados e intervencionistas, substituindo-se então o Estado
social pelo Estado controlador, avaliador.
Fica claro que a reforma do Estado em andamento redefine as
responsabilidades do próprio Estado, do mercado e da sociedade e o modelo de
organização e gestão da educação que instaura a Reforma Educacional no Brasil,
conforme afirma Krawczyk (2002), está definido pela descentralização em três
dimensões que se complementam, gerando uma nova lógica de governabilidade da
educação pública: descentralização entre diferentes instâncias de governo –
municipalização; descentralização para a escola – autonomia escolar; e
descentralização para o mercado – responsabilidade social.
Referências
ARRETCHE, Marta. Estado Federativo e Políticas Sociais: Determinantes
da Descentralização. Rio de Janeiro: Revan; São Paulo: FAPESP, 2000.
KRAWCZYK, Nora Rut. Em busca de uma nova governabilidade na
educação. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade e Maria de Fátima Felix Rosar (orgs.).
Política e gestão da educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

NÚCLEO COMUM
34
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

NÚCLEO COMUM
35
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 12_Descentralização X Educação X Gestão (Parte I)

O processo de descentralização trouxe transformações na área


administrativa, onde surgiu a gestão como um importante componente
organizacional de instituições públicas e privadas.
Sob o ponto de vista da gestão educacional, Casassus (1997) analisa a
transformação institucional dos sistemas educativos na América Latina, levando em
conta dois aspectos:
 O primeiro está relacionado com a própria teoria, que nos permite,
segundo o autor, gerar marcos interpretativos que ampliam nossa
capacidade de entender o que observamos, o que está
acontecendo.
 O segundo, que se refere à gestão, à ideologia da gestão, ou seja,
o conjunto de conceitos que dominam o pensamento atual.
Conforme Casassus (1997), até meados da década de 1980 não se falava em
gestão. Em primeiro lugar, o autor afirma que esta se achava separada em duas
atividades conceitualmente distintas: a de planejamento e a de administração,
apresentando assim uma distinção entre aqueles responsáveis pela elaboração dos
planos, os que fixavam objetivos, determinavam as ações a serem executadas, e os
que estavam encarregados de executar as ações predeterminadas. O modelo assim
desenhado apresentava uma separação clara entre a ação de planejar da ação de
executar. Esta separação deixou de ter validade conceitual como teoria da ação
subjacente à qual se integram os dois processos, ou seja, o de pensar e o de
executar, presentes na noção de gestão.
A segunda questão destacada pelo autor refere-se à definição mesmo de
gestão. Afirma que, numa visão clássica, a gestão implica:
“[...] uma capacidade de gerar uma relação adequada entre a
estrutura, a estratégia, os sistemas, o estilo, as capacidades,
as pessoas e os objetivos superiores da organização
considerada [...] a capacidade de articular os recursos de que
se dispõe de maneira a alcançar o que se deseja. Numa visão
que evoca o tema da identidade em uma organização, a gestão
implica a geração e a manutenção de recursos e processos em

NÚCLEO COMUM
36
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

uma organização para que ocorra aquilo que se tenha decidido


que ocorra [...]” (CASASSUS, 1997, p.4).
O que se coloca em destaque é que a gestão tem a ver com os componentes
de uma organização como arranjos institucionais, a articulação de recursos, os
objetivos e, sobretudo, as inter-relações entre as pessoas na ação. Por esta razão,
Casassus (1997) reitera que implícita ou explicitamente os modelos de gestão se
fundamentam em alguma teoria da ação humana dentro das organizações e que é
necessário esta compreensão para se entender adequadamente os processos de
gestão. Nesta perspectiva, a ação em uma organização é uma ação deliberada e
toda ação deliberada tem uma base cognitiva, reflete normas, estratégias e supõe o
modelo do mundo no qual se dá.
Por fim, em sua terceira questão, Casassus (1997, p.5) trata da vinculação
do tema da gestão ao da aprendizagem, no qual se concebe
“[...] a ação da gestão como um processo de aprendizagem da
adequada relação entre estrutura, estratégia, sistemas, estilo,
capacidades, pessoas e objetivos superiores, tanto no interior da
organização quanto ao entorno [...]”
O que não pode significar uma elaboração pessoal, mas sim o que se
constitui e se verifica na ação, num processo de aprendizagem contínuo.

NÚCLEO COMUM
37
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 13_Descentralização X Educação X Gestão (Parte II)

Com os indicativos apresentados por Casassus, considerando a aula anterior,


o autor identifica os modelos de gestão, que denomina marcos conceituais e
ressalta que, embora se apresentem em um dado momento histórico, podem ou não
se apresentar na sua forma pura, assim como podem ou não se mesclar.
São identificados os modelos:
 normativo,
 prospectivo,
 estratégico,
 estratégico-situacional,
 qualidade total,
 reengenharia e
 comunicacional.
Utilizado na década de 1950, o modelo normativo, construído a partir de
técnicas de projeção de tendências em médio prazo e sua consequente
programação, constitui-se num esforço maior da introdução da racionalidade no
exercício do governo em suas intenções de alcançar o futuro pelas ações do
presente. É importante destacar aqui a visão linear de futuro, tido como único e certo
em que a sociedade estava ausente, não se considerando as pessoas e suas
interações. Foi o período no qual se iniciaram os planos nacionais de
desenvolvimento, que tinham como consequência a elaboração dos planos
nacionais de educação, um modelo de um alto nível de generalização e abstração.
Com a constatação de que o futuro realizado não coincidia com o futuro
previsto. Conforme a visão normativa estabelece-se nos anos 1960 a 1970, com a
crise do petróleo, o modelo prospectivo no qual o futuro é previsível por meio da
construção de cenários. O enfoque é o mesmo do modelo normativo, só que
aplicado considerando-se diferentes cenários de futuro.
Já na década de 1980, estabelece-se uma tendência que vincula
planejamento e gestão a considerações econômicas. O modelo que se estabelece é
de que são necessárias normas, táticas e estratégias para se chegar ao futuro
desejado, normas que permitam relacionar a organização com o entorno. A gestão

NÚCLEO COMUM
38
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

estratégica consiste então na capacidade de articular os recursos que possui


uma organização, sejam eles humanos, técnicos, materiais, financeiros.
Segundo Casassus (1997), a crise do petróleo repercutiu tardiamente na
América Latina, transformando-se, no início dos anos de 1980, em uma crise
estrutural, gerando uma situação social instável e sendo o tema da governabilidade
introduzido por meio de uma visão situacional, sobre a viabilidade das políticas.
Reconhecendo-se o antagonismo dos interesses dos atores da sociedade e
do tema da viabilidade política, juntam-se os temas da viabilidade técnica,
econômica, organizativa e institucional, e a gestão se apresenta como o processo de
resolução dos problemas. A realidade adquire o caráter da situação em relação ao
ator e à sua ação, há uma preocupação de análise e abordagem dos problemas, no
caminho a percorrer até o futuro desejado.
Com o início dos anos de 1990, uma nova situação se desenha, orientando-
se o modelo para a melhoria da qualidade do processo, de acordo com as
necessidades dos usuários dos sistemas educativos, ganhando relevância a
melhoria do produto mediante ações direcionadas para diminuir a burocracia e
custos, maior flexibilidade administrativa e operacional, aprendizagem contínua,
aumento da produtividade, criatividade nos processos. Busca-se diminuir os
desperdícios e melhorar os processos existentes numa visão do conjunto da
organização.
Casassus (1997) afirma que entre as práticas de gestão dos sistemas
educacionais, na segunda metade dos anos de 1990, prevalece principalmente a
perspectiva estratégica clássica combinada com a perspectiva da Qualidade Total.
Já o modelo de reengenharia, segundo o autor, situa-se no reconhecimento
de contextos de mudanças dentro de um marco de competência global. Nesta
perspectiva, Casassus (1997) distingue três aspectos de mudança:
 o primeiro prevê que as melhorias não bastam, exige-se uma mudança
qualitativa;
 o segundo reconhece que os usuários têm, por meio da
descentralização, a abertura do sistema e maior poder e maior
exigência pela qualidade da educação que desejam;

NÚCLEO COMUM
39
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

 o terceiro aspecto se refere às mudanças, processo que também deve


ser transformado.
Enquanto o modelo de Qualidade Total implica melhorar o que há hoje,
buscando diminuir desperdícios e melhorar os processos existentes, numa visão do
conjunto da organização, a reengenharia se define como uma reconceitualização
funcional e redesenho radical dos processos. Nesta perspectiva, o modelo de
reengenharia visa a uma mudança radical, não se tratando de melhorar o que existe,
mas de reconsiderar radicalmente como está concebido o processo.
Numa visão posterior, já na segunda metade da década de 1990, a tendência
de se olhar a organização sob o ponto de vista das redes de comunicação, faz com
que o processo de comunicação ganhe relevância quanto à facilitação ou
impedimento na concretização das ações planejadas. A gestão aparece como
desenvolvimento de compromissos de ação obtidos por meio de comunicações para
a ação; nesta perspectiva, a gestão é a capacidade de formular petições e obter
promessas.

NÚCLEO COMUM
40
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 14_Descentralização X Educação X Gestão (Parte III)

Da análise detalhada que realiza, conforme nossas aulas anteriores,


Casassus, o autor, elabora três conclusões:
· a primeira é que na evolução dos modelos evidencia-se um processo que
caminha do quantitativo para o qualitativo, no qual o gestor se transforma de analista
para coordenador de ações;
· a segunda é que as diferentes práticas e processos sucedem-se
incorporando uns aos outros, ou seja, em alguma medida os novos contêm os
anteriores; e
· a terceira é a de que, neste processo de concretização, passa-se de uma
perspectiva sistêmica abstrata para uma engenharia social, reconhecendo-se a
existência da sociedade com seus atores sociais em tensão, ou seja, reconhece-se
a existência da organização, a importância dos processos e, finalmente, a
emergência da pessoa humana como o elemento chave que torna possível o
funcionamento das organizações.
No marco da importância das reformas educativas, a gestão do sistema e da
escola vem se apresentando ao lado do processo de desenvolvimento da
modernização do Estado, redesenho e introdução de maior racionalidade na
gestão e em particular nos processos de descentralização e desconcentração em
sua gestão.
A redefinição das responsabilidades e atribuições dos diferentes órgãos do
sistema educativo apontam a escola como lugar estratégico na produção de uma
maior eficiência em sua gestão, maior qualidade e efetividade em seu trabalho.
Enquanto na década de 1980 a preocupação se deu pela construção de
relações sociais democráticas no interior da escola, pelo direito de participação dos
diferentes sujeitos, na reforma há uma inversão, porque, conforme observa
Krawczyk (2002, p.65):
Deixa de ser expressão da demanda da comunidade educativa por maior
autonomia escolar em busca da democratização das relações institucionais, para
passar a ser resultado da preocupação dos órgãos centrais por redefinir quem deve
assumir a responsabilidade da educação pública: tanto pela definição de seu
conteúdo, como pelo seu financiamento e pelos resultados.

NÚCLEO COMUM
41
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Essa discussão, uma das mais relevantes da política educacional nos anos de
1990 e hoje muito presente, deve-se, na realidade, à redefinição do Estado de Bem-
Estar Social, em consequência da política neoliberal predominante.

Referências
KRAWCZYK, Nora Rut. Em busca de uma nova governabilidade na
educação. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade e Maria de Fátima Felix Rosar (orgs.).
Política e gestão da educação. Belo Horizonte : Autêntica, 2002.

NÚCLEO COMUM
42
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 15_Descentralização X Educação X Gestão (Parte IV)

Nós encerramos a aula anterior afirmando que a discussão sobre a


redefinição das responsabilidades e atribuições dos diferentes órgãos do sistema
educativo, que definem a escola como lugar estratégico na produção de uma maior
eficiência em sua gestão, maior qualidade e efetividade em seu trabalho, é uma das
mais relevantes da política educacional nos anos de 1990 e hoje ainda é muito
presente. Deve-se, na realidade, à redefinição do Estado de Bem-Estar Social, em
consequência da política neoliberal predominante.
Outro aspecto relevante deve ser destacado. Munín (1998) nos revela que
essas propostas surgem como uma nova forma para “melhorar a escola” por meio
da maior “liberdade” para seus atores.
A autora destaca que essa posse de maior liberdade é uma liberdade
negativa, no sentido de que ela surge ao eliminar-se um dever por parte do Estado,
tratando-se então da utilização dos recursos dos próprios atores, na ausência dos
tradicionais recursos normativos e materiais do Estado.
Segundo a autora, essa autonomia da escola, a descentralização dos
sistemas educacionais, a privatização de escolas públicas, a livre escolha das
escolas por parte da clientela correspondem na realidade às reformas do Estado
Regulador para formas societárias, privadas de coordenação, como demonstram as
reformas educacionais em andamento em diversos países, especialmente na
América Latina.
Da forma como têm sido apresentados, os discursos oficiais têm encontrado
uma forte carga positiva por parte de diferentes setores da sociedade, quando trata
da questão da autonomia, entendida como forma de expressão de êxito dos desejos
de liberdade dos indivíduos perante o Estado.
Porém, o que significa esta liberdade?
“A autonomia da escola merece ser analisada fora da contradição
proposta pelo discurso neoliberal/conservador entre o “controle do
Estado” e a “liberdade” dos atores da escola. Porque, em que pese
ser um tema que parece tão pedagógico, tal como do domínio
cotidiano das escolas e dos professores, trata-se de um tema
político” (MUNÍN, 1998, p.11).

NÚCLEO COMUM
43
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

O Estado não deixa de exercer seu controle, nem sua regulação; continua
sendo a expressão das relações sociais assimétricas de dominação capitalista,
exercendo o controle sobre o indivíduo segundo a concepção liberal, mas também
como concretização das relações sociais historicamente determinadas. O Estado
mínimo não significa necessariamente um Estado mais débil, mas, sim, reforça a
ideia de liberdade para o indivíduo escolher e responsabilizar-se pelas suas
escolhas.
Desta forma, o Estado mínimo provoca relações de maior assimetria numa
sociedade com fortes desigualdades sociais como a nossa. Assim, novas formas de
controle implicam maior liberdade imposta para os indivíduos. Isto se observa pelas
mudanças nas políticas públicas, na legislação e na própria dinâmica de poder que
se estabelece. Evidencia-se o rebaixamento de investimentos em políticas sociais
das quais fazem uso as camadas menos favorecidas da população e privilegiam-se,
por meio de regulamentações, os setores mais altos.
Merece análise ainda a ideia de liberdade proposta pelo discurso oficial ante o
controle do Estado. A ausência do controle do Estado potencializa a dependência
dos recursos próprios dos atores sociais e sua diferente taxação em negociações
assimétricas; torna então a liberdade conveniente para os setores que detêm
maiores recursos.
Neste sentido, nas escolas autônomas, os atores sociais ficam “livres”
do Estado e “aceitantes” e dependentes de seus próprios recursos, o que
provoca desigualdade entre as escolas e legitimação da desigualdade.

NÚCLEO COMUM
44
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 16_Descentralização X Educação X Gestão (Parte V)

Ao final da aula passada discutimos a ideia crescente da liberdade individual


frente ao controle do Estado. A diminuição da participação estatal aumenta a
responsabilidade dos demais atores sociais pelos possíveis fracassos das ações
empreendidas. Surgem, nesta perspectiva, duas questões centrais na construção
da autonomia da escola:
 A primeira, a de que o estado, ao conceder maior liberdade à escola,
obriga seus participantes a uma maior atuação nas decisões
pedagógicas, organizacionais e financeiras;
 A segunda, a de que potencializa a liberdade desses atores, ao
aumento da qualidade e de outros efeitos positivos na escola,
responsabilizando-os, portanto, pelos resultados.
Assim, os efeitos da medida política de se introduzir liberdade no sistema
educativo por meio da autonomia da escola têm revelado que o afastamento estatal
não garante a autonomia. Pelo contrário, a autonomia fica condicionada ao maior ou
menor poder de recursos dos atores das próprias escolas.
Desta forma, a desigualdade do rendimento dos alunos e as desigualdades
entre as escolas representam uma redistribuição regressiva do serviço educativo
público. A legitimação da distribuição regressiva da educação, a aceitação da
passagem da responsabilidade do Estado para os atores das escolas, trazem a
consequente responsabilização desses atores com relação aos resultados
alcançados.
Portanto, os atores da escola que, aparentemente, têm maior liberdade do
Estado, estão cada vez mais dependentes de seus recursos num contexto cada vez
mais complexo. O que provoca um consenso entre a opinião pública com relação à
autonomia da escola é a satisfação de se verem livres da interferência do Estado, o
que, segundo Munín (1998), os impede de imputar ao Estado os resultados
alcançados.
Nesse sentido, nas democracias liberais, em que se insere a área
educacional, a autonomia da escola vem representando uma pressão: a aprovação
do afastamento do Estado ante os direitos individuais (referentes à raça, gênero,
sexualidade para anuir aos direitos da “maioria normal”) e a sustentação de um

NÚCLEO COMUM
45
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

neoliberalismo globalizado produtor de maiores desigualdades econômicas e sociais


com cada vez menor compensação do Estado. Uma armadilha da própria política
neoliberal.

NÚCLEO COMUM
46
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 17_É uma questão de competência?

O que estamos propondo nesta aula é mais uma reflexão sobre as condições
políticas, sociais, econômicas, culturais e educacionais em que vivemos na
atualidade.
Já sabemos que a consolidação das políticas em andamento não só no Brasil,
mas mundialmente, tem como marco o Consenso de Washington (1989), cujas
orientações passaram a nortear as políticas do Fundo Monetário Internacional e do
Banco Mundial na concessão dos empréstimos aos países necessitados de
recursos, políticas essas que têm ajustes estruturais, como a redefinição do papel do
Estado e acarretando uma redução unilateral da intervenção estatal nos setores de
produção e também dos serviços sociais. Problemas básicos da sociedade,
especialmente as mais pobres como a brasileira, as desigualdades estruturais e a
exclusão social, econômica e política dos segmentos pobres da população não têm
sido amenizadas com as reformas realizadas e em curso.
Sabemos ainda que a transformação internacional e a evolução rápida das
tecnologias, os novos conceitos e “modelos” de organização estão provocando o
desaparecimento de antigas profissões, e estão surgindo.
Para enfrentarmos este desafio, podemos afirmar que precisamos de muita
competência. E, não é por acaso que tanto se fala em competência. Alguns
estudiosos do assunto tratam a questão da competência numa relação íntima com a
questão do mercado de trabalho. Consideramos que também esta questão deve
estar pautada nas nossas reflexões, mas não só elas. Na realidade, precisamos ser
competentes para sobreviver nas condições já relatadas e precisamos compreender
que o estabelecimento de competências é parte daquele projeto político de que tanto
falamos.
Mas, afinal, o que é competência?
Ainda que concordemos com a maioria dos conceitos que já estão postos,
atrevemo-nos a dizer que competente é alguém que sabe, sabe fazer, conhece suas
próprias crenças e valores de mundo, define o que é realmente importante e coloca
tudo isto em movimento partindo para a ação.
Precisamos, como professores, cada vez mais, da competência do
conhecimento. As informações e os saberes podem ser desenvolvidos com leituras

NÚCLEO COMUM
47
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

e os meios de socialização são fantásticos hoje e precisamos deles para trabalhar


com nossos alunos, além de uma outra competência que é técnica, que é adquirida
quanto mais acumularmos experiências e conhecimento.
O potencial intelectual reúne diferentes tipos de inteligência. Entre eles, as
capacidades de compreensão, de extrapolação, de discernimento, de concentração,
de dedução, de lógica, de criação.
No nosso caso específico de professor, é necessário o raciocínio verbal,
a boa memória, a capacidade de avaliação e discernimento, a capacidade de
síntese. Quanto mais combinamos ou associamos estas aptidões, mais
aumentamos o nosso o potencial de competência.
Quando falamos das grandes mudanças e da velocidade com que elas
ocorrem, falamos de como enfrentá-las, ou seja, sabemos que o enfrentamento
pressupõe tensão e, por essa razão, podemos afirmar que nossas inteligências
afetam nossas emoções e nossas emoções afetam as nossas inteligências.
Uma das soluções é a manutenção do nosso entusiasmo, da nossa
esperança, contudo, sem euforia.
A reflexão e conscientização que estamos sempre fazendo a respeito
dos valores da vida e do potencial humano é parte do equilíbrio entre as
questões materiais e os valores espirituais. Os professores e a escola assim
desenhados conquistam com seus alunos o direito de usufruir os prazeres
físicos, emocionais, intelectuais e espirituais.
De certa maneira estamos falando de competência de vida, o que representa
um conjunto de competências.

NÚCLEO COMUM
48
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

NÚCLEO COMUM
49
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Resumo_Unidade II

De que forma a descentralização das políticas públicas estão relacionadas


com a educação?
A reforma educacional no Brasil, iniciado nos anos de 1990 está
fundamentada em três dimensões: municipalização, autonomia escolar e
responsabilidade social.
A descentralização educacional trouxe um novo foco na área, a Gestão, que
reflete capacidades de relacionamentos, articulação, elaboração, organização,
dentre outras capacidades e, principalmente as interrelações, entre as pessoas a
ação.
Conhecemos diferentes modelos de gestão e como eles se constroem,
levando a entender a realidade atual, que se define como Estado de Bem-Estar, em
consequência da política neoliberal predominante.
A descentralização leva a duas questões centrais na construção da
autonomia da escola, uma que o Estado concede maior liberdade aos atores e outra,
que esta liberdade pressupõe maior responsabilidade nos resultados.
Refletimos sobre as condições políticas, sociais, econômicas, culturais e
educacionais nos dias de hoje. São inúmeras as transformações que por muitas
vezes geram condições de desigualdade social. Precisamos ser competentes para
sobreviver a estas condições. E o que é competência? Entendemos o que é
competência e conhecemos um conjunto delas que fazem parte do novo paradigma
de trabalho e estudo.

NÚCLEO COMUM
50
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Referências
ARRETCHE, Marta. Estado Federativo e Políticas Sociais: Determinantes
da Descentralização. Rio de Janeiro: Revan; São Paulo: FAPESP, 2000.
CASASSUS, Juan. Marcos conceptuales para el analise de los câmbios
em la gestion de los sitemas educativos[presentado no seminário Internacionale
de Referencia de la Gestión de los Sistemas Educativos em lá década de los
noventa, Santiago, Chile, 13, 14 de noviembro de 1997].
KRAWCZYK, Nora Rut. Em busca de uma nova governabilidade na
educação. In: Dalila Andrade e Maria de Fátima Felix Roscar (orgs). Política e
gestão da educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
MUNÍN, Helena (comp.). La autonomia de la escuela: ? liberdad y
equidad?: um recorrido por la discusión alemana de los años noventa. Buenos
Aires, Argentina: Editora Aique, 1998.

NÚCLEO COMUM
51
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 18_Constituição da República Federativa do Brasil (Parte I)

“Oxalá, um dia, todos os cidadãos, com pleno conhecimento do que


inscrito está no texto supremo, passem a exercer com plenitude a
cidadania, exigindo que os governos sejam, verdadeiramente,
servidores do povo e não - como ocorre na atualidade - servidos pela
sociedade. Oxalá os brasileiros se conscientizem de que ser cidadão
é mais importante que ser presidente da República, porque este está
a serviço do cidadão e não o cidadão a serviço do presidente”.
(Martins, 2005)
A partir dessa aula iniciamos o estudo da Constituição Da República
Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, nas partes que tem
relevância para a educação.
De acordo com MARTINS (2005), é importante saber que no século XXI,
todos os países do mundo têm sua Constituição, mesmo nas ditaduras. A diferença
é que, nelas, a Constituição é imposta por quem tem o poder e nos regimes
democráticos, elas são geradas a partir da participação do povo, por meio de um
plebiscito ou de seus representantes.
Para iniciar nosso estudo vamos fazer uma breve retrospectiva histórica das
Constituições brasileiras. A nossa primeira Constituição foi a de 1824, promulgada
pelo Imperador D. Pedro I e foi considerada moderna em comparação à época. Teve
vigência até 1891, quando Rui Barbosa e outros juristas elaboraram o texto
constitucional que se tornou a primeira Constituição da República. Esta possuía
poucos artigos, semelhante à Constituição Americana. Foi na Constituição de 1891
que as províncias do período imperial foram transformadas em Estados da
Federação Brasileira. Apesar de ser considerada perfeita com relação aos
princípios, a prática indicava uma política não democrática, o que levou ao
movimento de 1930 e, quatro anos após, à promulgação da Constituição de 1934.
Nova mudança na história das constituições brasileiras mostra que em 1937,
Getúlio Vargas com novo golpe cancelou as eleições e aprovou uma nova
Constituição. Com a queda de Getúlio Vargas, foi elaborada por juristas, uma nova
Constituição, aprovada em 1946 e que durou até 1967, mesmo com as alterações
em 1964, após o movimento militar. Em 1969, com a queda do Presidente Costa e

NÚCLEO COMUM
52
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Silva, o texto constitucional recebeu nova redação e foi considerada uma nova
Constituição.
Com a queda do regime militar, o país movimenta-se para a criação da
Assembleia Nacional Constituinte e, depois de dois anos de debates no Congresso
Nacional, é promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988.
A Constituição de 1988 tem as seguintes partes:
TÍTULO I - Dos Princípios Fundamentais
TÍTULO II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais
TÍTULO III - Da Organização do Estado
TÍTULO IV - Da Organização dos Poderes
TÍTULO V - Da Defesa do Estado e Das Instituições Democráticas
TÍTULO VI - Da Tributação e do Orçamento
TÍTULO VII - Da Ordem Econômica e Financeira
TÍTULO VIII - Da Ordem Social
TÍTULO IX - Das Disposições Constitucionais Gerais
TÍTULO X - ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS
Pode-se dizer que a Constituição de 1988 ainda se encontra em processo de
elaboração, pois até hoje já sofreu inúmeras emendas e outras se encontram
tramitando pelo Congresso Nacional. Entretanto, todo cidadão brasileiro precisa
conhecer e compreender o texto legal e suas disposições para todo o país.
É importante destacar que o Título I – Dos Princípios Fundamentais –
composto pelos quatro primeiros artigos, define quais são os direitos fundamentais
do Estado brasileiro, mas vamos nos deter na análise do Art. 1º:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.

NÚCLEO COMUM
53
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Para MARTINS (2005, p. 15):
O Brasil escolheu a forma federativa, como os Estados Unidos, como a
Alemanha, como a Argentina, não só pela dimensão do país, mas
fundamentalmente por entender que essa descentralização administrativa - que
implica órgãos públicos mais próximos do povo – facilitaria o governo. Por isso é
uma República Federativa, “formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios
e do Distrito Federal”, e aqui há uma inovação absoluta, em termos de Direito
Constitucional.
De acordo com o Dicionário Michaellis on-line, soberania significa:
“[...] S. do povo ou s. popular: princípio segundo o qual todo
o poder político emana do povo e é em nome dele exercido
(consignado na Constituição brasileira). S. política,
Sociol: possibilidade que tem o Estado de usar do poder, limitado
somente pelas condições da política interna e obrigações contratuais
para com outras nações” (Dicionário Michaellis on-line, 2014).
Quanto à cidadania, pode-se dizer que ela é o elemento principal de
Constituição Democrática, pois ela destina-se ao cidadão e tem que oferecer a ele
todas as prerrogativas para exercer seus direitos e assumir todos os deveres
perante aos outros cidadãos.
O inc. III trata sobre a “dignidade humana”, de onde se destaca que se a
Constituição é destinada ao cidadão, deve imperar a dignidade do ser humano, que
o Estado tem a função de reconhecer e respeitar. E para garantir essa dignidade
humana, é necessário haver oportunidade para a realização de todo cidadão por
meio do trabalho e da livre iniciativa, de acordo com o inc. IV e, para MARTINS
(2005, p.20), “a livre iniciativa, o liberalismo econômico, o capitalismo, a economia
de mercado não poderão deixar de respeitar os valores sociais do trabalho.”
Por fim, o inc. V – o pluralismo político, ou seja, todos os cidadãos têm
liberdade de pensamento e de “escolher o seu governo ideal, desde que
democrático”.

NÚCLEO COMUM
54
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

NÚCLEO COMUM
55
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 19_Constituição da República Federativa do Brasil (Parte II)

É muito importante para o educador, especialmente aqueles que optarem


para a área da gestão escolar, conhecer mais detalhadamente a legislação, bem
como o processo legislativo.
Saber sobre a competência dos Poderes da República é fundamental também
para que, como cidadãos, possamos “cobrar” dos nossos representantes, segundo o
que compete a cada um deles. A Constituição define a “Organização dos Poderes”.
Vejamos nesta aula sobre o Poder Legislativo, sua incumbência na elaboração das
Emendas à Constituição e a quem cabe a iniciativa das Leis:
Seção VIII
DO PROCESSO LEGISLATIVO
Subseção I
Disposição Geral
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:
I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação,
alteração e consolidação das leis.
Subseção II
Da Emenda à Constituição
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado

NÚCLEO COMUM
56
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da
Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
membros.
§ 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal,
de estado de defesa ou de estado de sítio.
§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três
quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por
prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
Subseção III
Das Leis
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer
membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do
Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos
Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e
nos casos previstos nesta Constituição.
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
II - disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e
autárquica ou aumento de sua remuneração;
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços

NÚCLEO COMUM
57
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

públicos e pessoal da administração dos Territórios;


c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de
cargos, estabilidade e aposentadoria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
18, de 1998)
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como
normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o
disposto no art. 84, VI; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos,
promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a
reserva. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
§ 2º - A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos
Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado
nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos
por cento dos eleitores de cada um deles.Art. 62. Em caso de relevância e urgência,
o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei,
devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
[...]Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da
República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na
Câmara dos Deputados.
[....]Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que
deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.
[...]Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.

FIQUE ATENTO:
De acordo com a Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de
1998 :
Art. 10. Os textos legais serão articulados com observância dos
seguintes princípios:
I - a unidade básica de articulação será o artigo, indicado pela

NÚCLEO COMUM
58
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

abreviatura "Art.", seguida de numeração ordinal até o nono e


cardinal a partir deste;
II - os artigos desdobrar-se-ão em parágrafos ou em incisos; os
parágrafos em incisos, os incisos em alíneas e as alíneas em itens;
III - os parágrafos serão representados pelo sinal gráfico "§", seguido
de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste, utilizando-
se, quando existente apenas um, a expressão "parágrafo único" por
extenso;
IV - os incisos serão representados por algarismos romanos, as
alíneas por letras minúsculas e os itens por algarismos arábicos.

VOCÊ ACOMPANHA AS DECISÕES REALIZADAS NO CONGRESSO


FEDERAL? E NA SUA CIDADE, VOCÊ SABE O QUE ESTÁ NA PAUTA DAS
REUNIÕES DA CÂMARA MUNICIPAL?
Procure se informar, pois a maioria dessas decisões tem influência direta
sobre as nossas vidas.

NÚCLEO COMUM
59
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 20_Constituição da República Federativa do Brasil (Parte III)

Esta aula trata de uma parte fundamental para todos que estão em processo
de formação para a carreira docente: o Título VIII – Da Ordem Social, Capítulo III –
Da Educação, da Cultura e do Desporto, Seção I – Da Educação, de onde serão
destacados os artigos fundamentais para nosso estudo.
Toda política educacional tem suas bases no texto constitucional assim como
toda legislação que dele advém. É importante destacar que a educação está
proclamada como “direito” de todas as pessoas, da mesma forma que se configura
como “dever” do Poder Público e da família. Assim, todas as pessoas, sem
distinção, podem exigir que o Poder Público cumpra com sua obrigação, da mesma
forma, a família será responsabilizada se não zelar pela educação de seus filhos.
Artigo 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
No Art. 206, são estabelecidos os princípios para o ensino. Estes são regras
básicas que disciplinarão todas as demais normas, sob a pena de serem
invalidadas, se consideradas inconstitucionais. De acordo com os princípios
estabelecidos na Constituição o ingresso em uma escola deve ser igual para todos,
é vedada a criação de escola com regras excludentes, em qualquer circunstância.
Já o princípio elencado no inc. III se destaca por ser fundamentalmente
moderno, pois já houve tempos em nossa história em que os professores não
podiam discordar dos métodos, ideias e concepções pedagógicas. A gratuidade é
outro ponto importante nos estabelecimentos oficiais, deixando claro o dever do
Estado.
O inc. V procura garantir a melhoria qualitativa do ensino público, pois os
diagnósticos da baixa qualidade apontam como uma das causas a desvalorização
dos profissionais do ensino e aponta ainda o ingresso exclusivamente por concurso
público.
A gestão democrática do ensino público segue o princípio constitucional do
país, onde se faz necessária a participação efetiva de todos os envolvidos, como
uma forma de colaboração para a melhoria da educação. Quanto à garantia do

NÚCLEO COMUM
60
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

padrão de qualidade e este está sob a responsabilidade dos gestores de cada


instituição, visto não se ter estabelecido um padrão de qualidade em nível nacional.
E por fim o piso salarial, que foi instituído pela Lei n° 11.738, de 16 de julho de
2008, a partir de 2009. Os critérios para estabelecimento do piso estão baseados no
FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), que
representa o compromisso da União com a educação, sendo seu objetivo principal a
redistribuição de recursos pelo país.
Artigo 206 - 0 ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte
e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma
da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de
provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 53, de 2006)
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação
escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
53, de 2006)
A garantia para efetivação da oferta da educação está estabelecida no Art.
208, reafirmando o dever do Estado. Aqui se deve entender como Estado, tanto a
União, como os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios. O texto legal
já sofreu várias alterações por meio das Emendas Constitucionais e por isso é
importante que sempre seja consultado em fonte atual para evitar eventuais
transtornos.
Destaca-se importante alteração no inc. I, de “ensino fundamental, obrigatório
e gratuito” para “educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade”, que leva à consequente alteração também do inc. VII. E

NÚCLEO COMUM
61
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

este artigo ainda conta com outra importante alteração: a idade para atendimento da
criança na educação infantil, que passa de “zero a seis anos” para “até 5 (cinco)
anos de idade”.
Neste artigo está presente também a garantia de acesso ao ensino obrigatório
como “direito subjetivo”, isto significa que a pessoa que não for atendida, por
exemplo, para matrícula em uma escola pública, poderá impetrar mandado de
segurança para que a escola seja obrigada a admiti-la como aluno.
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59,
de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
59, de 2009)
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º - O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela
frequência à escola.

NÚCLEO COMUM
62
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

A Constituição determina que haja um padrão mínimo de conteúdos para


ministração no ensino fundamental, ou seja, noções básicas de nossa arte e cultura,
preservação dos valores nacionais e regionais, nossa identidade, para que não
percamos nossas raízes. E é com base nesse artigo que foram posteriormente
estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação, as Diretrizes Curriculares
Nacionais para todos os níveis da educação brasileira. Outro ponto relevante é a
determinação do ensino em língua portuguesa, garantindo o cultivo do nosso idioma
e a identidade de brasileiros.
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de
maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e
artísticos, nacionais e regionais.
§ 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.
§ 2º - O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa,
assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas
maternas e processos próprios de aprendizagem.
No artigo 211, o destaque fica para o regime de colaboração entre a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios e para os §§ 2º e 3º, que determina o
nível de atuação para os Estados e os Municípios. A União terá como obrigação
básica a organização de um sistema federal de ensino e dar assistência técnica e
financeira aos Estados, Distrito Federal e aos Municípios.
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão
em regime de colaboração seus sistemas de ensino.
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios,
financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria
educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de
oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante
assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na
educação infantil. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)

NÚCLEO COMUM
63
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino


fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a
assegurar a universalização do ensino obrigatório. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino
regular. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
Embora o Art. 214, trate sobre o Plano Nacional de Educação - PNE, ele
ainda não se tornou realidade para a educação brasileira, e o projeto de lei que criou
o PNE para vigorar de 2011 a 2020, ainda está em tramitação no Congresso
Nacional.
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração
decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de
colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação
para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos
níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos
das diferentes esferas federativas que conduzam a:(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III - melhoria da qualidade do ensino;
IV - formação para o trabalho;
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação
como proporção do produto interno bruto. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
59, de 2009)
O capítulo da Educação traz importantes e valiosos direcionamentos para a
Educação brasileira, entretanto ainda muitos deles ainda estão longe de ser
concretizados. Cabe a cada cidadão despender esforços para “cobrar” dos nossos
representantes no Congresso Nacional a efetivação dos preceitos estabelecidos na
Constituição.

NÚCLEO COMUM
64
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 21_A Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional

Conforme vimos em aulas anteriores a Constituição Federal prevê em seus


dispositivos a responsabilidade da família e do Estado com a educação.Outras
fontes legais ratificam e explicitam esta obrigatoriedade, como o Estatuto da Criança
e do Adolescente, assegurando assim não só um direito, mas também um princípio
de coercibilidade, já que prevê sanções para o eventual não cumprimento, tanto por
parte da família quanto por parte do poder público.
As conquistas da humanidade, consagradas por meio de instrumentos, como
a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948), a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948), as várias Constituições Nacionais e a atual
Constituição Brasileira, em seu Artigo 5º, constituem as fontes de inspiração da
Educação.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº. 9.394, de 20
de dezembro de 1996, ao atribuir a responsabilidade da educação à família e ao
Estado, o faz retratando o Artigo 205 da Constituição Federal e igualmente o faz, ao
abordar a dimensão tecnológica da educação, a qualificação para o trabalho. Assim,
estabelece em seu Art. 1º:
Art. 1º - A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem
na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais.
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve,
predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática
social.

NÚCLEO COMUM
65
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Essa lei tem um objetivo estrito: disciplinar apenas a educação escolar. E é


importante ressaltar a amplitude da educação: inicia com os primeiros ensinamentos
no seio da família, estende-se com o aprendizado na convivência humana e vai
desenvolver-se nas instituições escolares, vai aperfeiçoar-se com os movimentos
sociais, organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
Art. 2º - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
A finalidade da educação está centrada no desenvolvimento do educando; no
preparo para o exercício da cidadania; e na qualificação para o trabalho como forma
de preparar para vida.
A finalidade da Educação está explicitada envolvendo três questões:
O pleno desenvolvimento do educando significa que a educação, como
processo intencional, deve contribuir para que a dimensão psicológica do
desenvolvimento da criança transcorra de maneira harmoniosa e progressiva e que
o nível cognitivo em evolução, esteja voltado para a assimilação de certos
conhecimentos e de certas operações mentais. Assim, as condições de
aprendizagem devem estar garantidas, desde a primeira etapa do desenvolvimento,
que corresponde às aprendizagens desenvolvidas na fase inicial da evolução da
criança, quando as aprendizagens estimulam a formação de hábitos sensório-motor,
passando pela segunda etapa correspondente à formação consciente de estruturas,
do entendimento de propriedades e de relações fundamentais do mundo real,
quando se adquirem formas de fazer e de aplicar conhecimentos adquiridos.
Preparo para o exercício da cidadania, que reafirma a condição básica de
ser cidadão, isto é, titular de direitos e de deveres a partir de uma condição universal
assegurada na Carta de Direitos da Organização das Nações Unidas e de uma
condição particular porque assegurado na Constituição Federal, onde “todos são
iguais perante a lei”. Ao discriminar como direitos sociais, a educação, a saúde, o
trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, direitos esses considerados na atualidade

NÚCLEO COMUM
66
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

e universalmente, como indicadores de competência social, o que se impõe é que a


educação é condição para se chegar à cidadania.
Qualificação para o trabalho que, se de fato, pretende resgatar a sala de
aula como um ambiente funcional para a sociedade em transformação,
necessita fazer do trabalho socialmente produtivo um elemento gerador de dinâmica
escolar. Ao estudante deve ser garantido o estímulo do aprendizado nas formas de
produtividade. Assim, o objetivo da educação científica é a omnilateralidade do
homem, visto que é no trabalho que ele se realiza. Aprender é, portanto, conhecer e
aprender a fazer, onde as potencialidades humanas se concretizam. A qualificação
para o trabalho está aqui como formação humana do aluno que, pela ação do
trabalho, contribui, como cidadão, para a humanização das estruturas sociais,
econômicas e políticas da vida real.
Glossário
Ominilateralidade:
Originalmente, o conceito foi mais bem explicitado por Kruspkaja – esposa de Lênin
– que se inspirara no conceito de omnilateralidade formulado e desenvolvido por
Marx e que correspondia à concepção de que o ser humano deve ser
integralmente desenvolvido em suas potencialidades, através de um processo
educacional que levasse em consideração a formação científica, a política e a
estética, com vista à libertação das pessoas, seja da ignomínia da pobreza, seja
da estupidez da dominação.

Referência

ROMÃO, José Eustáquio. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO SÉCULO XXI.


Disponível em:<http://www.senac.br/informativo/BTS/283/boltec283b.htm> Acesso
13 de jun. de 2014.

NÚCLEO COMUM
67
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 22_Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional – Os Princípios

Nesta aula vamos examinar o art.3º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional, que institui sobre os princípios os quais o ensino deve seguir:
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da
legislação dos sistemas de ensino;
IX - garantia de padrão de qualidade;
X - valorização da experiência extraescolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. (Incluído pela Lei nº
12.796, de 2013).
Os princípios explicitados na LDB, de fato, constituem matéria constitucional
(CF-Art. 206) e, para tanto a sua aplicação ao ensino ministrado nas escolas
brasileiras é norma.
O que está se garantindo é que, quando oferecida sob a forma de ensino
sistematizado, a educação esteja norteada por princípios básicos que sustentam o
mundo dos valores e as significações da organização escolar. Assim, os princípios
devem ser entendidos como elementos presentes no diálogo pedagógico e na
prática de ensino de cada curso, de cada Escola, de cada Sistema de Ensino, de
cada projeto educativo, de modo que o ser, o valer e o refletir sejam vividos como
elementos integradores nas diferentes circunstâncias da sala de aula.
A igualdade de condições para o acesso e permanência na escola vai além
de se proclamar que a educação é direito de todos. É exigência que se definam

NÚCLEO COMUM
68
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

parâmetros de qualidade para a educação, que representem melhoria de resultados


dos programas escolares e, especialmente, melhoria da eficiência dos sistemas de
ensino.
A liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, divulgar o
pensamento, divulgar a arte e divulgar o saber é, além de mais uma vez se constituir
em norma constitucional, princípio implícito do processo de uma aprendizagem com
autonomia.
Quanto ao pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, significa que o
espaço escolar e o ensino nele ministrado devem estar em sintonia e ser
vivenciados a partir do conceito de heterogeneidade cultural.
O respeito à liberdade e o apreço à tolerância são manifestações avançadas
da evolução democrática. O multiculturalismo vai sendo reconhecido na medida em
que se fortalecem por meio do reconhecimento e do respeito à representatividade do
nosso povo e os direitos civis das minorias.
A coexistência de instituições públicas e privadas de ensino responde não
apenas a exigências de uma sociedade pluralista, mas também a dispositivos
constitucionais que já estabelecem a corresponsabilização do ensino ao Estado e à
iniciativa privada.
Quanto à gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais, entende-
se que o contribuinte quando paga seus impostos, paga a escola.
A valorização do profissional da educação escolar é tema frequente em todas
as discussões sobre educação, porém, como se trata de uma questão política,
entende-se que cabe à sociedade brasileira exigir que os representantes políticos
estabeleçam os mecanismos para a concretização deste princípio por meio de
legislação.
Vale ressaltar que a gestão democrática do ensino público tem sido um
desafio para muitos educadores. Entende-se que a gestão da educação seja pública
ou privada, só pode se dar de forma democrática já que pressupõe o conceito de
construção da cidadania, que inclui a autonomia, a participação, a construção
compartilhada dos níveis de decisão e um posicionamento crítico em relação à ideia
de subalternidade. Nada tem a ver com o modelo burocrático tradicional, tecnicista e
excludente de escola.

NÚCLEO COMUM
69
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Na gestão democrática, a ideologia da burocracia, que tem como eixo a


hierarquia autoritária, é substituída pela vontade comum, pela construção coletiva de
um projeto político-pedagógico que cria a identidade da escola e que tem em todos
os participantes a representatividade na execução, no acompanhamento e na
avaliação desse mesmo projeto.
Não se pode falar em qualidade da educação sem que façamos uma
vinculação entre educação escolar, trabalho e práticas sociais. Assim, o currículo
escolar é o espaço para esta concretização, o que significa uma urgente
transformação da nossa pedagogia. O texto legal propõe um ensino ativo,
enriquecido pelo dinamismo interno do “trabalhar” e fecundado pelas vibrações
transformadoras das práticas sociais.
A valorização da experiência extraescolar significa a aplicação na vivência
prática dos conhecimentos teóricos, tanto na vida laboral como na social, ou seja,
fora da atividade escolar. Conhecimentos estes que são de grande utilidade para a
melhoria das condições de trabalho e das realizações humanas.
O inciso XI está bem claro e dispensa maiores explicações, pois o ensino
deverá preparar o educando tanto para a realidade do trabalho, quanto para a
dinâmica da convivência social.
No Art. 4º vemos que o dever de educar é restrito à educação escolar e,
como competência do Estado, se refere às quatro entidades que compõem a
federação nacional: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Os
incisos deste artigo foram alterados substancialmente pela Lei 12.796, de 2013,
passando a ter a seguinte redação:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, organizada da seguinte forma:
a) pré-escola;
b) ensino fundamental;
c) ensino médio;
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou

NÚCLEO COMUM
70
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,


preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para todos os
que não os concluíram na idade própria;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com
características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades,
garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência
na escola;
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde;
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e
quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do
processo de ensino-aprendizagem.
X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental
mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4
(quatro) anos de idade. (Incluído pela Lei nº 11.700, de 2008).
Para reflexão:
Entre o que propõe a Lei e a nossa realidade, há uma sintonia?
As questões tratadas dizem respeito à nossa vida real? Somos afetados por elas?

NÚCLEO COMUM
71
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Resumo_Unidade III

Esta unidade se inicia com a Constituição da República Federativa do Brasil,


promulgada em 1988.
Iniciamos com uma breve apresentação histórica sobre os Títulos que
compõem a Constituição Federal e vimos também seus princípios fundamentais.
Conhecemos posteriormente os artigos que tratam do poder legislativo, muito
importante para o educador, especialmente aqueles que optarem para a área da
gestão escolar, conhecer mais detalhadamente a legislação, bem como o processo
legislativo.
Passamos ao capítulo sobre educação e cultura, atentando ao que tange à
educação e, em seguida, iniciamos o estudo da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – LDB.
Conhecemos seus princípios e vimos que o dever de educar é restrito à
educação escolar e, como competência do Estado, se refere às quatro entidades
que compõem a federação nacional: a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios. E pudemos observar que entre tantas alterações já realizadas na LDB, a
Lei 12.796, de 2013 traz grandes modificações.
Também foi importante analisar as responsabilidades que a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios têm com a questão da educação. Nesta
unidade também pudemos conhecer os níveis e modalidades de educação e ensino,
conforme disposto no Título V da LDB.
Para finalizar, estudamos as disposições gerais que se aplicam à Educação
Básica.
Referências
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro
de 1988.
BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394, de
20 de dezembro de 1996.
DEMO, Pedro. A nova LDB: Ranços e Avanços. Campinas, SP: Papirus,
2011, 23ªed.
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Conheça a Constituição: comentários à
Constituição Brasileira, volume 1 - Barueri, SP: Manole, 2005.

NÚCLEO COMUM
72
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 23_LDB - Da Organização Básica Nacional

No Título IV da LDB vamos nos deparar com as responsabilidades que a


União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios têm com a questão da
educação.
Na realidade, o que ocorre é que, em regime de colaboração, essas instâncias têm
atribuições e competências específicas, cabendo explicitamente a União:
§ 1º Caberá à União a coordenação da política educacional, articulando os
diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva
em relação às demais instâncias educacionais.
Neste mesmo Título IV, o Artigo 9º vai explicitar mais ainda as incumbências
da União, por meio dos incisos de I ao IX, sendo que o primeiro parágrafo trata
do Conselho Nacional de Educação, criado por lei, estabelecendo que o mesmo
tenha funções normativas e de supervisão e atividade permanente.
As incumbências dos Estados estão explicitadas no Artigo 10 da lei.
Repare que no texto da Lei 9394/96, o Parágrafo Único que consta desse
artigo se refere às competências do Distrito Federalque, conforme o texto são as
referentes aos Estados e Municípios.
É no Artigo 11 que você vai encontrar as incumbências dos Municípios. A
lei possibilita aos municípios a criação de seus próprios sistemas de ensino ou por
se integrarem ao sistema estadual de ensino ou ainda, compor com ele um sistema
único de educação básica.
É importante conhecer também as incumbências dos estabelecimentos de
ensino:
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as
do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas;
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;
V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;

NÚCLEO COMUM
73
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de


integração da sociedade com a escola;
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso,
os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como
sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº
12.013, de 2009).
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da
Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos
que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual
permitido em lei. (Incluído pela Lei nº 10.287, de 2001).
Queremos destacar a incumbência das escolas para: “[...] elaborar e executar
sua proposta pedagógica”. Já estudamos sobre a importância das nossas escolas
terem, bem definida, a Proposta Pedagógica. É ela que dá a identidade à escola, é
ela que, construída coletivamente com os alunos, com os pais, com os professores,
com os funcionários, estimula a participação de toda a comunidade escolar.
Especialmente nas escolas públicas, essa participação é fundamental!
Neste mesmo artigo, a lei prevê ainda que cabe às escolas: “[...] articular-se
com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade
local com a escola”.
É fundamental que compreendamos que a ESCOLA é parte da sociedade e
que não pode e não deve isolar-se entre muros.
Para terminar, vamos ressaltar as incumbências dos docentes no Art. 13,
pois aí está explícito o dever de ministrar a educação de acordo com as tarefas
indicadas e suas respectivas responsabilidades.
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de
ensino;
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino;
III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor
rendimento;

NÚCLEO COMUM
74
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar


integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao
desenvolvimento profissional;
VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a
comunidade.
Verifica-se que, de acordo com a legislação, a atuação profissional do
docente não se restringe à sala de aula. Particularmente relevante é sua
participação no trabalho coletivo da escola, o qual se concretiza na elaboração e
implementação do projeto pedagógico do estabelecimento escolar e ao qual deve
estar subordinado o plano de trabalho de cada docente. Além disso, constitui parte
da responsabilidade do professor a colaboração nas atividades de articulação da
escola com as famílias dos alunos e a comunidade em geral. Amplia-se assim,
substancialmente, tanto o papel do profissional da educação como da própria
escola, colocando ambos como elementos dinâmicos plenamente integrados na vida
social mais ampla. (Parecer CNE/CP 53/99)
Embora possa parecer um tanto burocrático, veja como é importante
participarmos da elaboração da Proposta Pedagógica da Escola, pois temos de
elaborar e cumprir um plano de trabalho, segundo essa proposta.
Você sabia que esta nossa constituição é também chamada de Constituição
Municipalista? Na realidade, nela os municípios foram reconhecidos como entidades
federativas, o que nunca antes havia acontecido no Brasil.

NÚCLEO COMUM
75
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 24_LDB – Da Organização da Educação Nacional: Dos Níveis e


Modalidades de Educação e Ensino

Por meio de uma retrospectiva histórica das Leis de Diretrizes e Bases da


Educação do Brasil, vamos perceber que a expressão educação básica é recente.
Na primeira LDB, a Lei nº 4.024/61, as expressões referiam-se à “educação de grau
primário” e à “educação de grau médio” ou ensino primário e médio. Na década de
setenta, a reestruturação da educação resultou em uma organização em dois níveis,
o ensino de 1º e 2º graus (Lei 5692/71), com uma subdivisão interna diferente
daquela da legislação anterior.
A expressão educação básica começa a ser incorporada ao discurso da
política educacional a partir dos anos de 1980. Na realidade, o contexto histórico do
momento já apontava para a necessidade da universalização da educação básica,
inclusive com observações em documentos oficiais. É bem verdade que a educação
básica então proposta se restringia “[...] a possibilitar a leitura, a escrita e
compreensão da língua nacional, o domínio dos símbolos e operações matemáticas
básicas, bem como o domínio dos códigos sociais [...]”.
Com a Constituição de 1988, desaparecem as expressões ensino de 1º grau
e ensino de 2º grau, sendo, substituídas pelas denominações, ensino fundamental,
ensino médio, creche e pré-escola.
Hoje, as novas formas de se nomear a educação básica já foram assimiladas
pelo sistema educacional, mas até a aprovação da nova LDB (Lei 9394/96),
conviveram as nomenclaturas da lei anterior e do texto constitucional.
Na educação básica, devem ser construídos alguns importantes alicerces da
formação humana. Fazem parte de suas finalidades o desenvolvimento do
educando, visando assegurar a formação comum necessária ao exercício da
cidadania e ao desenvolvimento de meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores.
Para a apreciação do tema da educação básica na Lei nº 9.394/96, entende-
se que algumas observações sejam feitas. O Título V trata: “Dos Níveis e
Modalidades de Educação e Ensino”, compreendendo desdobramentos assim
expressos:

NÚCLEO COMUM
76
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Capítulo Seção Artigo(s)

I Da Composição
21
dos Níveis Escolares

I Das Disposições Gerais 22 a 28

II Da Educação Infantil 29 a 31

III Do Ensino
32 a 34
Fundamental

II Da Educação
IV Do Ensino Médio 35 a 36
Básica

IV-A Da Educação
36-A a
Profissional Técnica de
36-D
Nível Médio

V Da Educação de
37 a 38
Jovens e Adultos

III Da Educação
39 a 42
Profissional

IV Da Educação
43 a 57
Superior

V Da Educação
58 a 60
Especial

NÚCLEO COMUM
77
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

O quadro acima nos permite uma visualização de como está estabelecida a


educação básica como um nível composto de subníveis. De acordo com o Art. 21:
Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e
ensino médio;
II - educação superior.
No entanto, estudiosos apontam alguns problemas, quando se vê, por
exemplo, que a educação de jovens e adultos, por princípio uma modalidade, está
localizada na educação básica, enquanto que a educação profissional encontra-se
fora dela, sendo ambas constituídas em modalidades de ensino, no que
concordamos, já que as modalidades se referem a formas de educação que podem
estar presentes em um ou mais níveis de ensino.
É o caso da educação especial, em que os portadores de necessidades
educacionais especiais podem estar inseridos desde a educação infantil a até o
ensino superior, necessitando apenas de uma modalidade especial de atendimento.
No caso da educação de jovens e adultos, esta modalidade insere-se no ensino
fundamental e no ensino médio, e não na educação infantil ou no ensino superior. A
educação profissional, por sua vez, pode se localizar no ensino fundamental, no
ensino médio, no ensino superior e até mesmo para não escolarizados, o que não
deixa ainda de se tratar de educação.
Estas considerações revelam que a LDB tem apresentado nestes aspectos
certa confusão e tem produzido interpretações dúbias.

NÚCLEO COMUM
78
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 25_LDB – As disposições gerais para a Educação Básica

No Capítulo II da LDB, vamos encontrar as disposições gerais que se aplicam


à Educação Básica, onde podemos observar, tanto no espírito da lei quanto em
alguns detalhes do texto legal, o esforço dos legisladores em garantir uma proposta
flexível para a organização dos sistemas de ensino. Comecemos pelo Art. 23:
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos
semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados,
com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o
recomendar.
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se tratar de
transferências entre estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como
base as normas curriculares gerais.
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais,
inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem
com isso reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei.
Aqui podemos observar uma inovação de grande profundidade, pois são
colocados todos os meios com vistas a atingir o fim maior, que é o “interesse do
processo de aprendizagem”. Se é preciso que o aluno aprenda, então abrem-se
novas possibilidades de organização para que isso possa ocorrer.
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada
de acordo com as seguintes regras comuns:
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um
mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado
aos exames finais, quando houver;
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino
fundamental, pode ser feita:
a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou
fase anterior, na própria escola;
b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas;

NÚCLEO COMUM
79
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita


pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e
permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do
respectivo sistema de ensino;
É preciso observar, entretanto, que no quesito “classificação e reclassificação”
não se desvincula o caráter avaliativo necessário e nem a regulamentação para este
processo. Este é um passo importante e coerente em direção da autonomia dos
estabelecimentos escolares.
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o
regimento escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada
a sequência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino;
Neste inciso, reafirma-se o cuidado para que o aluno possa progredir, mas
não se descuidou de preservar a sequência do currículo e as normas estabelecidas
pelos sistemas, o que significa garantir o direito à aprendizagem com o devido
aproveitamento.
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas,
com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas
estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares;
V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência
dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do
período sobre os de eventuais provas finais;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do
aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao
período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados
pelas instituições de ensino em seus regimentos;
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no
seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência
mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação;

NÚCLEO COMUM
80
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares,


declarações de conclusão de série e diplomas ou certificados de conclusão de
cursos, com as especificações cabíveis.
Nos incisos IV e V, fica caracterizado o aspecto mais importante de uma lei a
serviço da aprendizagem do aluno, para fazer cumprir os direitos do aluno. Para o
aluno que progredir mais rapidamente, pode ser oferecido a possibilidade de avanço
no processo formativo, mas ao contrário, para aquele aluno que apresentar atraso
na aprendizagem, a escola poderá envidar todos os esforços para garantir sua
recuperação.
É preciso observar, entretanto, que no quesito “classificação e reclassificação”
não se desvincula o caráter avaliativo necessário e nem a regulamentação para este
processo. Este é um passo importante e coerente em direção da autonomia dos
estabelecimentos escolares.
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do
ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada
sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
economia e dos educandos.
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente,
o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e
natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil.
§2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais,
constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação
básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.
§3o A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é
componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa
ao aluno:
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas;
II – maior de trinta anos de idade;
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar,
estiver obrigado à prática da educação física;
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969;

NÚCLEO COMUM
81
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

V – (VETADO)
VI – que tenha prole.
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das
diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das
matrizes indígena, africana e europeia.
§ 5º Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a
partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja
escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da
instituição.
§ 6o A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do
componente curricular de que trata o § 2o deste artigo.
§ 7o Os currículos do ensino fundamental e médio devem incluir os princípios
da proteção e defesa civil e a educação ambiental de forma integrada aos conteúdos
obrigatórios.
O Art. 26 estabelece uma “base nacional comum”, entretanto é fundamental
observar que as características próprias de cada localidade também estão no corpo
da lei, garantidas na parte diversificada. Este artigo sofreu alterações das Leis nº
10.793/2003, 11.769/2008, 12.287/2010 e mais recentemente, a Lei 12.796/2013.
Outro destaque importante refere-se ao acréscimo do Art. 26-A feito pela Lei
nº 11.145/2008:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio,
públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira
e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos
aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população
brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da
África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura
negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional,
resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes
à história do Brasil.

NÚCLEO COMUM
82
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos


indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.
Demo alerta sobre a flexibilidade da lei e destaca:
“A flexibilidade pode ser confundida com o abuso do direito de
interpretar; por exemplo, a progressão regular ou continuada será
facilmente interpretada como “progressão automática”, introduzindo a
farsa já comum de empurrar o aluno para frente sem qualquer
comprovação da aprendizagem adequada; avaliações ainda
preliminares de tais “ciclos básicos” indicariam seu desacerto, porque
podem obter resultados insatisfatórios de aprendizagem; todo mundo
passa, mas ninguém aprende” (DEMO, p. 25, 2011).

NÚCLEO COMUM
83
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 26_LDB - Fins da Educação Infantil

Nesta aula buscamos elucidar o que a LDB traz sobre a Educação Infantil.
Destacamos para iniciar o estudo, o inc. V do Art. 11, das incumbências do
Município:
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade,
o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente
quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de
competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela
Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino.
Já o Art. 26 estabelece a base nacional comum para a organização do
currículo da educação infantil e dos demais níveis da educação básica. É importante
observar que a Lei 9394/96 foi alterada pela Lei 12796/2013 e muitos incisos foram
acrescentados na LDB:
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do
ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada
sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
economia e dos educandos. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
No Artigo 29 da Lei, a Educação Infantil, considerada como primeira etapa da
Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até
cinco anos de idade, em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social, em
complementação à ação da família e da comunidade.
Trata ainda, no Artigo 30, das instituições onde será desenvolvida essa
educação, ou seja, nas creches que, necessariamente, não precisam ter esta
denominação, e que atenderão as crianças até três anos de idade, e as pré-escolas
que atenderão as crianças de quatro e cinco anos de idade.
Já no Artigo 31, a temática abordada é a avaliação na Educação Infantil que
tem um caráter de acompanhamento e de registro do desenvolvimento das
crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino
Fundamental.

NÚCLEO COMUM
84
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes


regras comuns: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das
crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino
fundamental;
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um
mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional;
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno
parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral;
IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a
frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas;
V - expedição de documentação que permita atestar os processos de
desenvolvimento e aprendizagem da criança.
O princípio aqui contido é de que todas as crianças são capazes de aprender,
cada qual em seu próprio ritmo, e essa é a relevância que nos interessa como
educadores.
A educação infantil também está estabelecida no § 3º do Art. 58, onde se
destaca:
§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início
na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
Com relação à atuação dos profissionais, o Art. 62 estabelece que:
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício
do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino
fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal.
Todas as transformações ocorridas desde a aprovação da LDB trouxeram
“intenso processo de revisão de concepções sobre educação de crianças em
espaços coletivos, e de seleção e fortalecimento de práticas pedagógicas
mediadoras de aprendizagens e do desenvolvimento das crianças. Em especial, têm
se mostrado prioritárias as discussões sobre como orientar o trabalho junto às
crianças de até três anos em creches e como assegurar práticas junto às de quatro

NÚCLEO COMUM
85
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

e cinco anos que prevejam formas de garantir a continuidade no processo de


aprendizagem e desenvolvimento das crianças, sem antecipação de conteúdos que
serão trabalhados no Ensino Fundamental.” (DCNEI/MEC) Neste sentido, foram
fixadas diretrizes nacionais para educação infantil por meio da Resolução nº 5, de
17/12/2009, que além de nortear as propostas curriculares e os projetos
pedagógicos, estabelecem paradigmas para a própria concepção dos programas de
cuidado e educação, com qualidade.
As DCNEI estabelecem ainda algumas definições:
2.1 Educação Infantil: Primeira etapa da educação básica, oferecida em
creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não
domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que
educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada
integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de
ensino e submetidos a controle social. É dever do Estado garantir a oferta de
Educação Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção.
2.2 Criança: Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e
práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca,
imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e
constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
2.3 Currículo: Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os
saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural,
artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento
integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.
2.4 Proposta Pedagógica: Proposta pedagógica ou projeto político
pedagógico é o plano orientador das ações da instituição e define as metas que se
pretende para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças que nela são
educados e cuidados. É elaborado num processo coletivo, com a participação da
direção, dos professores e da comunidade escolar.
Também está estabelecido que as propostas pedagógicas da educação
Infantil devem respeitar os seguintes princípios:

NÚCLEO COMUM
86
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

 Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do


respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas,
identidades e singularidades.
 Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do
respeito à ordem democrática.
 Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da
liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e
culturais.
Todo um trabalho coletivo na construção de conhecimentos sobre a educação
da criança de 0 a 5 anos está sendo desenvolvido pelo MEC em parceria com
instituições públicas e privadas. É preciso que os gestores e os docentes busquem o
acesso a estes estudos e documentos para melhor orientarem a seleção, a
organização e o uso do material disponível.
Você já pensou em pesquisar se o atendimento às crianças na Educação
Infantil atende a todos na sua cidade?
Há falta de vagas nas creches e nas escolas públicas?
Comece a pesquisar!

NÚCLEO COMUM
87
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 27_A LDB, o Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos

O Ensino Fundamental está regulamentado nos Artigos 32 a 34 da LDB, com


as alterações especialmente trazidas pela Lei nº 11.274/2006. Esta lei tornou
obrigatória a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental e a matrícula das
crianças aos 6 (seis) anos de idade, com o objetivo de oferecer a formação básica
do cidadão, mediante:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos
o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a
aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.
A LDB também estabelece que seja facultado aos sistemas de ensino
organizar o ensino fundamental em ciclos. Os estabelecimentos também podem
adotar a progressão continuada, desde que não haja prejuízo da avaliação do
processo de ensino aprendizagem.
Outras alterações presentes no texto da LDB dizem respeito à inclusão de
conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz
o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8069/1990 e ao estudo sobre os
símbolos nacionais como tema transversal, incluído pela Lei 12.472/2011.
A ampliação da escolaridade no Ensino Fundamental é antiga no campo das
políticas públicas de educação. Tal medida envolve a reelaboração do projeto
político pedagógico da escola e a reflexão do que representa esse “novo” ensino
fundamental e a educação infantil, não se tratando de uma medida técnica.
Outro fator a ser considerado é o de que com a possibilidade do
estabelecimento de Sistemas de Ensino pelos municípios, estes têm que assumir a
responsabilidade pela democratização desse debate, envolvendo os segmentos
interessados e considerando questões como a dos recursos financeiros, materiais e
humanos disponíveis a fim de que o plano adotado garanta as condições

NÚCLEO COMUM
88
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

pedagógicas e administrativas bem como acompanhamento e avaliação desse


processo.
É relevante, ainda, discutir os efeitos de uma política em suas interações com
outras políticas para que não se endossem apenas os efeitos positivos mais
aparentes ou às críticas até então levantadas sobre esta política.
É importante ressaltar que também foram estabelecidas Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental as quais devem ser observadas
pelos estabelecimentos de ensino ao definir suas propostas pedagógicas e seus
regimentos, compartilhando os princípios aí estabelecidos. São diretrizes para o
ensino fundamental:
I - As escolas deverão estabelecer, como norteadores de suas ações
pedagógicas:
a) os Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade
e do Respeito ao Bem Comum;
b) os Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do exercício
da Criticidade e do respeito à Ordem Democrática;
c) os Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, e da Diversidade
de Manifestações Artísticas e Culturais.
II- Ao definir suas propostas pedagógicas, as escolas deverão explicitar o
reconhecimento da identidade pessoal de alunos, professores e outros profissionais
e a identidade de cada unidade escolar e de seus respectivos sistemas de ensino.
III - As escolas deverão reconhecer que as aprendizagens são constituídas
na interação entre os processos de conhecimento, linguagem e afetivos, como
consequência das relações entre as distintas identidades dos vários participantes do
contexto escolarizado, através de ações inter e intrassubjetivas; as diversas
experiências de vida dos alunos, professores e demais participantes do ambiente
escolar, expressas através de múltiplas formas de diálogo, devem contribuir para a
constituição de identidades afirmativas, persistentes e capazes de protagonizar
ações solidárias e autônomas de constituição de conhecimentos e valores
indispensáveis à vida cidadã.
IV- Em todas as escolas, deverá ser garantida a igualdade de acesso dos
alunos a uma Base Nacional Comum, de maneira a legitimar a unidade e a

NÚCLEO COMUM
89
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

qualidade da ação pedagógica na diversidade nacional; a Base Nacional Comum e


sua Parte Diversificada deverão integrar-se em torno do paradigma curricular, que
visa estabelecer a relação entre a Educação Fundamental com: a vida cidadã e as
áreas do conhecimento.
V – As escolas deverão explicitar, em suas propostas curriculares, processos
de ensino voltados para as relações com sua comunidade local, regional e
planetária, visando à interação entre a Educação Fundamental e a Vida Cidadã; os
alunos, ao aprender os conhecimentos e valores da Base Nacional Comum e da
Parte Diversificada, estarão também constituindo suas identidades como cidadãos
em processo, capazes de ser protagonistas de ações responsáveis, solidárias e
autônomas em relação a si próprios, às suas famílias e às comunidades.
VI - As escolas utilizarão a Parte Diversificada de suas propostas curriculares,
para enriquecer e complementar a Base Nacional Comum, propiciando, de maneira
específica, a introdução de projetos e atividades do interesse de suas comunidades
(Art.. 12 e 13 da LDB)
VII - As Escolas devem, através de suas propostas pedagógicas e de seus
regimentos, em clima de cooperação, proporcionar condições de funcionamento das
estratégias educacionais, do espaço físico, do horário e do calendário escolar, que
possibilitem a adoção, a execução, a avaliação e o aperfeiçoamento das demais
Diretrizes, conforme o exposto na LDB, Art. 12 a 14.
Para que todas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
Fundamental sejam realizadas com êxito, são indispensáveis o espírito de equipe e
as condições básicas para planejar os usos de espaço e tempo escolar.
Cabe ainda tratar neste momento sobre a Educação de Jovens e Adultos,
entendida como uma modalidade da educação básica, com especificidade própria
que está contemplada nos Artigos 37 e 38 da LDB, os quais estabelecem o
atendimento gratuito “dos jovens e adultos que não tiveram acesso ou continuidade
de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”.
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos
adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades
educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus
interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.

NÚCLEO COMUM
90
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do


trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.
§3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente,
com a educação profissional, na forma do regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741,
de 2008)
§Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que
compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento
de estudos em caráter regular.
Por se constituir em uma modalidade com especificidades próprias, tornou-se
necessário aprofundar os estudos, pois o que se praticava até então eram os cursos
supletivos tratados de forma assistemática pelo próprio sistema. Após uma série de
audiências públicas, teleconferências, fóruns e encontros intermediados pela
Câmara da Educação Básica do Conselho Nacional de Educação chegou-se à
elaboração das diretrizes curriculares nacionais para a EJA.
Assim, é fundamental considerar os princípios da contextualização e do
reconhecimento de identidades pessoais e das diversidades coletivas para a
elaboração das propostas pedagógicas para os cursos da EJA.
A flexibilidade curricular deve significar um momento de aproveitamento das
experiências diversas que estes alunos trazem consigo como, por exemplo, os
modos pelos quais eles trabalham seus tempos e seu cotidiano. A flexibilidade
poderá atender a esta tipificação do tempo mediante módulos, combinações entre
ensino presencial e não–presencial e uma sintonia com temas da vida cotidiana dos
alunos, a fim de que possam se tornar elementos geradores de um currículo
pertinente. (Parecer CNE/CEB 11/2000)

NÚCLEO COMUM
91
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 28_LDB - Os objetivos do Ensino Médio

Na nossa aula de hoje, vamos trabalhar as finalidades do Ensino Médio


estabelecidos na LDB.
Quais são eles?
São finalidades do Ensino Médio:
 A consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no
ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
 A preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com
flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento
posteriores.
 O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico;
 A compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada
disciplina.
O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, você se recorda?
A Educação Básica é formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Ensino Médio. Cabe lembrar também que a Lei nº 12.796/2013, ao alterar a LDB,
estabelece a garantia do ensino médio obrigatório e gratuito.
A elaboração do currículo do ensino médio deve atender ao disposto no Art.
36 da LDB:
I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da
ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade
e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao
conhecimento e exercício da cidadania;
II - adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa
dos estudantes;

NÚCLEO COMUM
92
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

III - será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória,
escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das
disponibilidades da instituição.
IV – serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias
em todas as séries do ensino médio.
§ 1º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão
organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção
moderna;
II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem.
§ 2º - Revogado.
§ 3º Os cursos do ensino médio terão equivalência legal e habilitarão ao
prosseguimento de estudos.
É importante compreender a necessidade de se adotar formas
diferenciadas de organização curricular com base nos princípios orientadores,
buscando a garantia de uma formação eficaz que seja capaz de atender aos
anseios dos jovens, que conduzam a participação do processo de construção
de uma sociedade mais solidária e ofereça condições para inserção no mundo
do trabalho.

NÚCLEO COMUM
93
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 29_Educação Profissional e Tecnológica

Na aula de hoje abordaremos a questão da educação profissional e veremos


que desde a aprovação da Lei 9.394/96, a LDB, esta etapa da educação nacional
tem sofrido alterações e críticas. As alterações em vigor foram estabelecidas pela
Lei nº 11.741/2008 com a criação da Seção IV-A – Da Educação Profissional
Técnica de Nível Médio – com quatro novos artigos, do 36-A ao 36-D, acrescentou
um novo parágrafo na Seção V, que trata sobre a Educação de Jovens e Adultos e
alterou também a redação de dispositivos do Capítulo III do Título V, que passou a
denominar-se Da Educação Profissional e Tecnológica.
A legislação estabelece como característica da educação profissional técnica
de nível médio o contexto da preparação para o exercício de profissões técnicas,
isto e, a habilitação profissional no ensino médio, seja ela ao mesmo tempo ou em
continuidade a formação geral do educando.
Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível médio será desenvolvida
nas seguintes formas: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
I - articulada com o ensino médio;
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha concluído o ensino
médio.
Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível médio deverá
observar:
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes curriculares nacionais
estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação;
II - as normas complementares dos respectivos sistemas de ensino;
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos de seu projeto
pedagógico.
Essa alteração da LDB reitera a concepção de que a educação profissional
integra a educação básica como uma das possibilidades de desenvolvimento de
ensino médio e não como uma modalidade educacional.
Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível médio articulada, prevista
no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, será desenvolvida de forma: (Incluído
pela Lei nº 11.741, de 2008)

NÚCLEO COMUM
94
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino


fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação
profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se
matrícula única para cada aluno;
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio ou já o esteja
cursando, efetuando-se matrículas distintas para cada curso, e podendo ocorrer:
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportunidades
educacionais disponíveis;
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as oportunidades
educacionais disponíveis;
c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de
intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao desenvolvimento de
projeto pedagógico unificado.
Uma crítica que se faz é sobre o currículo centrado no desenvolvimento de
competências, o que está contrariando os princípios constitucionais, reafirmados na
LDB, que destaca “a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber e do pluralismo de ideias e concepções
pedagógicas (CF. art. 206, incisos II e III e LDB. art. 3o, incisos II e III)”, além de
assegurar progressivos graus de autonomia pedagógica a suas unidades escolares
(LDB. art. 15).
A educação profissional tecnológica também recebe as alterações da Lei
11.741/2008 nos artigos 39 a 42 da Lei 9.394/96, ficando assim estabelecido:
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos
da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação
e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. (Redação dada pela Lei nº
11.741, de 2008)
§ 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica poderão ser
organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a construção de diferentes
itinerários formativos, observadas as normas do respectivo sistema e nível de
ensino.
§ 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os seguintes cursos:
I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissional;

NÚCLEO COMUM
95
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

II – de educação profissional técnica de nível médio;


III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação.
§ 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de graduação e pós-
graduação organizar-se-ão, no que concerne a objetivos, características e duração,
de acordo com as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho
Nacional de Educação.
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em articulação com o
ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições
especializadas ou no ambiente de trabalho.
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional e tecnológica,
inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação
para prosseguimento ou conclusão de estudos. (Redação dada pela Lei nº 11.741,
de 2008)
Art. 42. As instituições de educação profissional e tecnológica, além dos seus
cursos regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada
a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de
escolaridade. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)
A educação profissional não deve ser compreendida como um simples
“ensinar a fazer” e “preparar para o mercado de trabalho”, ela deve proporcionar a
compreensão das dinâmicas sociais e produtivas da sociedade moderna e também
habilitar para o exercício das profissões.

NÚCLEO COMUM
96
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 30_A LDB – E a Educação Especial

A questão da educação especial é tratada na LDB, nos artigos 58 a 60 e com


alterações introduzidas pela Lei nº. 12.796, de 2013 estabelece:
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de
ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades ou superdotação.
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola
regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não
for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.
§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início
na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação:
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização
específicos, para atender às suas necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível
exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e
aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os
superdotados;
III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior,
para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular
capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na
vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem
capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os
órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade
superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;

NÚCLEO COMUM
97
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares


disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios
de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com
atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo
Poder Público.
Parágrafo único. O poder público adotará, como alternativa preferencial, a
ampliação do atendimento aos educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na própria rede pública regular
de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo.
Apesar da Lei representar um avanço no campo da educação especial, que
até há bem pouco tempo não tinha apoio dos sistemas de ensino e funcionava
apenas em instituições especializadas, ainda vemos que há um longo caminho a ser
percorrido na conquista de uma educação de fato inclusiva.
Há um movimento mundial em defesa de uma educação sem exclusão, onde
todos possam ter o direito de estar juntos para aprender e participar da construção
do conhecimento sem nenhum tipo de discriminação. De acordo com o MEC/SEESP
(2007):
A educação especial se organizou tradicionalmente como
atendimento educacional especializado substitutivo ao ensino
comum, evidenciando diferentes compreensões, terminologias
e modalidades que levaram à criação de instituições
especializadas, escolas especiais e classes especiais. Essa
organização, fundamentada no conceito de
normalidade/anormalidade, determina formas de atendimento
clínico-terapêuticos fortemente ancorados nos testes
psicométricos que, por meio de diagnósticos, definem as
práticas escolares para os alunos com deficiência.

Uma série de estudos, com avanços e recuos, tem sido desenvolvida por
instituições públicas e privadas, bem como tem sido foco de atenção na legislação
da educação nacional desde a década de 1990. Temos que destacar a aprovação

NÚCLEO COMUM
98
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial, Res. CNE/CEB nº 2/200, as


quais ampliam o caráter da educação especial no sentido de prestar o atendimento
educacional especializado complementar ou suplementar à escolarização.
Em 2008, o MEC/SEESP apresentou a Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, visando constituir políticas públicas
promotoras de uma educação de qualidade para todos os alunos. Este documento
faz um resgate histórico e traça um perfil da educação inclusiva no Brasil, tendo
como objetivo:
Assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino
para garantir: acesso ao ensino regular, com participação,
aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do
ensino; transversalidade da modalidade de educação especial
desde a educação infantil até a educação superior; oferta do
atendimento educacional especializado; formação de
professores para o atendimento educacional especializado e
demais profissionais da educação para a inclusão; participação
da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos
transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e
articulação intersetorial na implementação das políticas
públicas.

O ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos independente do seu


talento, da deficiência, origem socioeconômica ou origem cultural.
Ainda há muito para fazer, tanto as instituições educacionais quanto os
profissionais envolvidos ainda carecem de condições estruturais e formação
adequada para o atendimento especializado e para uma real educação inclusiva.

NÚCLEO COMUM
99
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

NÚCLEO COMUM
100
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 31_LDB – Dos Profissionais da Educação

Nesta aula falaremos sobre o que a LDB diz dos profissionais da educação
que somos nós.
A Lei nº 9.394/96 dedica um título aos profissionais da educação (Título VI,
Art. 61 a 67), indicando as universidades ou instituições superiores de educação
como o espaço privilegiado da formação de profissionais para a educação básica.
Também neste título estão presentes alterações circunstanciais trazidas
essencialmente pelas Leis nº 12.014, de 2009 e nº Lei nº 12.796, de 2013, da qual
destacamos:
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que, nela
estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos,
são: (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009)
I – professores habilitados em nível médio ou superior para a docência na
educação infantil e nos ensinos fundamental e médio;
II – trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia, com
habilitação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação
educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas;
III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou
superior em área pedagógica ou afim.
Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a
atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos
das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos:
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos
fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho;
II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados
e capacitação em serviço;
III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições
de ensino e em outras atividades.
O texto inicial da LDB admitia a formação mínima para o exercício do
magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental,
a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Entretanto, estabeleceu também

NÚCLEO COMUM
101
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

um prazo máximo de dez anos para que os professores tivessem essa formação,
esse aspecto foi alterado no Art. 62, admitindo a formação em nível médio para o
magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental:
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício
do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino
fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal. (Redação dada
pela Lei nº 12.796, de 2013)
Na prática a questão da formação em nível médio tem gerado polêmicas,
especialmente quanto aos concursos públicos que têm exigido a formação superior,
mas que nos termos deste artigo torna-se dispensável a exigência. Entretanto dados
do MEC apresentados no 6º Fórum Nacional Extraordinário dos Dirigentes
Municipais de Educação, promovido pela União Nacional dos Dirigentes Municipais
de Educação (Undime), em Florianópolis demonstram há um grande número de
professores participando dos programas de formação:

(Fonte: MEC. Disponível em <http://portal.mec.gov.br> Acesso em 10 de jun 2014).


O Art. 67 reafirma o texto constitucional quanto à valorização dos profissionais
da educação e inclui os incisos:
[...]
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento
periódico remunerado para esse fim;

NÚCLEO COMUM
102
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

[...]
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação
do desempenho;
V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga
de trabalho;
VI - condições adequadas de trabalho.
Muitas ações têm sido desenvolvidas pelo MEC no sentido de organizar um
sistema de formação de professores, acompanhe o quadro abaixo:

(Fonte: MEC. Disponível em <http://portal.mec.gov.br> Acesso em 10 de jun


2014)
O Conselho Nacional de Educação (CNE) discutiu e elaborou diversos
pareceres, resoluções e diretrizes sobre o tema. Esses dispositivos legais têm
recebido críticas das associações de educadores, especialmente a Resolução 02/97,
que dispõe sobre os programas especiais de formação pedagógica de docentes
para as disciplinas do currículo do ensino fundamental, do ensino médio e da
educação profissional em nível médio e do Parecer nº53/99, que estabelece as
Diretrizes Gerais para os Institutos Superiores de Educação.
Na realidade, as críticas decorrem da distinção que se faz entre universidades
de ensino e universidades de pesquisa, instituindo-se aí uma concepção de

NÚCLEO COMUM
103
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

formação de professores apenas de caráter técnico-profissionalizante, excluindo-se


o valor da pesquisa inseparável da formação de professores.
A proposta de formação de especialistas no curso de pedagogia, separada da
formação de professores, tem causado, no âmbito dos diferentes foros dos
educadores, muitos conflitos. Tal medida, percebida como uma retomada às já
superadas habilitações, os “especialistas”, contraria a caminhada já realizada, a
produção teórica da área e a própria LDB, ao estabelecer a experiência docente
como pré-requisito para o exercício das demais funções do magistério.
É importante conhecer as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de
Pedagogia, instituída pela Resolução CNE/CP nº 1/2006, pois ela define os
princípios, condições de ensino e de aprendizagem, procedimentos a serem
observados em seu planejamento e avaliação, pelos órgãos dos sistemas de ensino
e pelas instituições de educação superior do país, nos termos explicitados nos
Pareceres CNE/CP, nos 5/2005 e 3/2006.

NÚCLEO COMUM
104
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 32_LDB – Dos Recursos Financeiros

Embora muitos educadores não tenham grande conhecimento da questão dos


recursos financeiros da educação, este é um fator que deve merecer de todos os
educadores muita atenção.
É no Título VII da LDB, em dez artigos, que se encontra um dos pontos em
que a educação básica brasileira mais evoluiu nos últimos três anos: a dos recursos
financeiros.
Há quatro tipos de fonte de recursos para a educação: a constitucional ampla
(receita de impostos), a constitucional restrita (recursos vinculados, do tipo salário-
educação, cotas federal e estadual), a constitucional compensatória (incentivos
fiscais) e as fontes alternativas (recursos diversos previstos em lei).
A constitucional ampla foca a receita de impostos, decorrente dos tributos
arrecadados em cada uma das esferas da administração pública. A Constituição
Federal define, no Artigo 18, quais são as esferas da organização político-
administrativa do País: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. As
transferências constitucionais também estão definidas na Constituição Federal.
A constitucional restrita é assim denominada em razão da aplicação vinculada
do salário-educação. Esta é uma contribuição social, criada em 1964, com o objetivo
de “suplementar as despesas públicas com a educação elementar”, cujo objetivo
inicial foi o combate ao analfabetismo. A origem do salário-educação encontra-se no
desconto de 2.5% da folha de pagamento dos empregados, sendo que deste
montante, 1% fica no INSS, órgão encarregado de arrecadar recursos. Com a
criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério, as empresas não poderão mais descontar despesas
realizadas com o ensino fundamental de seus empregados e dependentes.
Outra fonte de recurso, a constitucional compensatória, é constituída dos
incentivos fiscais que, de fato, nada mais são do que mecanismos de amortização
de impostos (imposto de renda) ou de isenções fiscais, previstas em lei. O processo
garante que pessoas físicas ou pessoas jurídicas que financiem programas
escolares ou bolsas de estudo, com recursos próprios, podem ter estas despesas
abatidas do imposto de renda a pagar.

NÚCLEO COMUM
105
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Por último, as fontes alternativas são aquelas oriundas de legislações


emergentes, como é o caso dos impostos especiais que se criam para atender, em
caráter provisório, certas situações e que envolvem um aporte de recursos
adicionais.
Na LDB, Lei 9.394/96 os recursos financeiros estão disciplinados nos artigos
68 a 77, cabendo aqui destacar:
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino
as despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das
instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a:
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais
da educação;
II - aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e
equipamentos necessários ao ensino;
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino;
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente
ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino;
V - realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos sistemas
de ensino;
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e privadas;
VII - amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender ao
disposto nos incisos deste artigo;
VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de
transporte escolar.
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, foi criado pela Emenda
Constitucional nº 53/2006 e regulamentado pela Lei nº 11.494/2007, para substituir o
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização
do Magistério - Fundef, em vigor no período de 1998 a 2006.
É um fundo formado, na quase totalidade, por recursos provenientes dos
impostos e transferências dos estados, Distrito Federal e municípios, vinculados à
educação por força do disposto no art. 212, da Constituição Federal. Além desses
recursos, a título de complementação, também se inclui uma parcela de recursos

NÚCLEO COMUM
106
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

federais, sempre que, no âmbito de cada Estado, seu valor por aluno não alcançar o
mínimo definido nacionalmente. Independentemente da origem, todo o recurso
gerado é redistribuído para aplicação exclusiva na educação básica.
Sua implantação começou em 2007, sendo plenamente concluída em 2009,
quando o total de alunos matriculados na rede pública foi considerado na
distribuição dos recursos e o percentual de contribuição dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios para a formação do Fundo atingiu o patamar de 20%.
O FUNDEB promove a distribuição dos recursos com base no número de
alunos da educação básica informado no censo escolar do ano anterior, computando
os estudantes matriculados nos respectivos âmbitos prioritários de educação, ou
seja, os municípios recebem os recursos do FUNDEB com base no número de
alunos da educação infantil e do ensino fundamental, e os estados, com base nos
alunos do ensino fundamental e médio.
Ainda que de modo bastante simplificado tenhamos chamado a atenção
quanto à importância de compreendermos quais são os recursos financeiros
destinados à educação, esta é uma tarefa complexa. No entanto, como educadores,
precisamos aprofundar este conhecimento, sem o qual não será possível fiscalizar
os recursos públicos destinados à educação, desde a arrecadação até a
aplicação. É nosso dever de cidadania.

NÚCLEO COMUM
107

Você também pode gostar