Artigo Imprensa No Rio de Janeiro Século XIX
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Artigo Imprensa No Rio de Janeiro Século XIX
Resumo
Abstract
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Graduada em História pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Professora da educação básica na
rede estadual de ensino.
entre os anos de 1870 e 1880, os jornais e revistas cresceram em importância e
atraíram leitores e curiosos, ao expor o cotidiano da corte e os debates políticos nas
assembléias.
Outra função dos jornais foi investir em espaços de entreterimento, ao
divulgar espetáculos teatrais e exposições privadas, além acolher comerciantes que
passaram a pagar para terem espaços em anúncios dentro dos jornais. Sem terem
ainda uma conotação exclusivamente política, a imprensa divulgava idéias acerca da
realidade política ao criticarem atos dos gabinetes imperiais em função das diretrizes
estabelecidas pelo poder moderador.
A vida de imperador D. Pedro II e a família imperial eram assuntos discutidos
na imprensa, seja para comentar discursos do monarca na fala do trono ou criticar
os gastos do casal D´Eu em suas viagens a Europa.
Outra função dos jornais e de seus jornalistas era colaborarem na construção
de uma auto-imagem de diversos personagens que fizeram parte da história no
Império brasileiro. Mereceu destaque na imprensa daquele periodo os escritores
mestiços a favor da abolição como José do Patrocínio, Luiz da Gama e André
Rebouças ou republicanos como Silva Jardim, Quintino Bocaiúva, Lopes Trovão,
Aristides Lobo, Rui Barbosa, entre outros.
Outros não tiveram destaque na imprensa ou ficaram na história do Brasil,
pois era comum que os autores e redatores, nas páginas dos jornais usassem
pseudônimos ou escrevessem de forma anônima. Penso que isso incitava a
imaginação do leitor e a curiosidade por trás de textos bem elaborados desses
escritores desconhecidos que passavam a imagem de salvadores da nação e da
civilização. Além disso, os anônimos tentaram construir no imaginário popular uma
auto-imagem de “cidadãos” favoráveis ao progresso, de promotores do
desenvolvimento nacional e de transmissores de informações verídicas.
Na primeira fase da campanha abolicionista, na década de 1870 e 1880 ,ler e
escrever sobre a fuga de cativos era comum na imprensa carioca. Cada redator,
principalmente no jornal ligado a causa abolicionista, publicava noticias sobre fugas
das fazendas da região, maltrato aos escravos domésticos e as ações dos capitães
do mato com o intuito de gerar comoção perante o leitor. O objetivo principal desses
jornais era levar os leitores a ter num novo olhar sobre a resistência escrava, as
estratégias de luta do negro por sua liberdade para criar no imaginário popular idéias
favoráveis à abolição. Para isso era necessário investir numa nova auto-imagem dos
escravos perante os leitores, pois não era importante naquele momento expor o
negro como vil, rebelde e criminoso. Pois assim eram visto os mesmos pela
sociedade escravista até 1870. Uma década após a Lei do Ventre Livre, a imprensa
passou divulgar que os escravos eram pessoas que lutavam para terem sua
dignidade humana, perdida durante quatrocentos anos de cativeiro. Segundo a
imprensa , a consciência de humanidade do negro só seria concretizada com sua
liberdade mediante a emancipação.
O jornal em circulação na corte funcionava como um tipo de memória escrita
de determinada época. A crise na sociedade escravista foi a fase registrada pelas
páginas de diferentes jornais. Os acontecimentos na corte, a opinião dos leitores,
anúncios foram eternizados pela imprensa escrita.
No período próximo a promulgação da Lei Áurea existia toda uma
preocupação dos jornalistas com a imagem, com os documentos que seriam
difundidos, no processo abolicionista e de seus agentes como os escravos, os
abolicionistas, a Princesa Isabel e os partidos políticos.
A imprensa do Rio de Janeiro, na década de 1880, ao mesmo tempo em que
colaborava com a normatização da sociedade, desenvolvia uma nova identidade. De
denunciador e reparador das injustiças cometidas por políticos e fazendeiros a
imagem de salvadores, ao serem portadores da verdade e de ser aqueles que
acabariam com as iniqüidades sociais. Conrad comenta que
As ineficiências das leis abolicionistas foram alvos de críticas por parte dos
intelectuais e políticos liberais na imprensa brasileira. Neste ponto os abolicionistas
nos jornais passaram a ocupar um espaço político, e debater junto com a opinião
pública, a necessidade de extinção do trabalho escravo e a liberdade do negro.
A relação jornalista e leitor eram enfatizados pela imprensa , na década de
1880, quando os periódicos não conseguiam fugir totalmente da publicação de rixas
pessoais e políticas entre os jornalistas e os proprietários dos jornais.
As primeiras publicações que surgiram no final do século XIX seria o marco
de uma discussão política e ideológica sobre sociedade, escravidão e regime
democrático.
O contexto da crise monárquica favoreceria a cisão entre a república e a
Abolição, nos artigos e debates diretos entre os jornais, de acordo com as
tendências políticas de seus proprietários e redatores. Era comum um artigo
publicado ser a resposta á redação de outro jornal. Os debates entre jornalistas
sobre o processo de escravatura e as discussões sobre as leis abolicionistas com o
Sexagenário, foram publicadas com certo alarde pela imprensa, de modo geral.
Portanto, o primeiro jornal de propaganda liberal “A Reforma” apareceria no
Rio de Janeiro em 1869, ao apresentar um projeto de reforma na escravatura com a
emancipação dos filhos de escravas, seguida de uma alforria integral e gradual dos
escravos existentes no Império. Ele foi fundado por Antônio Serra e apoiado por
políticos do Partido Liberal, do Senador Nabuco de Araújo. Por ocasião da Guerra
do Paraguai, estava em circulação neste jornal, a figura do marido da princesa
Isabel, Gastão de Orleans, Conde D’Eu como o comandante ideal frente a Caxias,
um dos líderes dos conservadores. Numa utilização político-partidária de sua
imagem, tentava-se elevar o prestígio do consorte da futura herdeira do trono.
Outro jornal abolicionista, Radical Paulistano, foi criado pelo clube radical, que
contava com a presença de jovens com idéias abolicionistas como Rui Barbosa, Luiz
da Gama e Joaquim Nabuco, em 1868. O jornal seguia o mesmo estilo do A
Reforma, ao encaminhar suas criticas ao sistema escravista apoiada pelo Império,
ao culpá-lo pela condição de atraso na nação e pela deserção do governo em
abandonar o projeto emancipacionista.
O jornal A República criada em 03 de dezembro de 1870, lança um manifesto
assinado pelos representantes do Partido Liberal e pelo fundador do Partido
Republicano Zacarias Góes. Este jornal em 1871 discutia o parlamento e a lei do
Ventre Livre, revelando uma tensão permanente entre abolição e república. O fim do
cativeiro era uma questão social em debate, devido às leis emancipacionistas e as
opiniões que penetravam nos jornais republicanos. Esta preocupação estava
presente em meio às elites da província do Rio de Janeiro. A Abolição era discutida
na imprensa, segundo A República, por homens que tinham uma preocupação com
a ação política. Já jornal antiescravista, O Philantropo, em 1880 já era favorável à
abolição radical e a entrada do negro no trabalho livre.
Um dos grandes jornais abolicionistas que surgiram na década de 1880 foi a
Gazeta de Noticias, de Ferreira de Araújo, e junto com O Abolicionista fundado, pela
sociedade antiescravista do Brasil na década de 1880, e defendia a emancipação
imediata dos escravos e denunciava os castigos físicos severos contra os negros.
Depressa foi ultrapassado pelo jornal mais radical, Gazeta da Tarde, sobre o
controle de José Ferreira de Meneses até sua compra por José do Patrocínio em
1887.
Em relação aos desafetos políticos, os jornais republicanos, O Paiz e Gazeta
Nacional, fizeram parte da história da imprensa neste período, ao destacar em seus
textos publicados ataques pessoais a jornalistas e redatores. Estes jornais
representaram uma releitura do Império na intenção de intervir na realidade social,
ao defender a república e a abolição, de criar comportamentos e de formar opiniões.
O Jornal O Paiz foi fundado em 01 de outubro de 1884, na Rua do Ouvidor
numero 63, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O primeiro proprietário foi João
José dos Reis Júnior e Quintino Bocaiúva foi seu principal redator até 1899. O jornal
apresentou-se como um periódico neutro e imparcial. Mas seus redatores se
envolveram em algumas polêmicas com o jornal O Brazil. Este jornal acusava O
Paiz, de não se neutro em relação a assuntos partidários.
Para ele, O Paiz afirmava que debatia questões políticas e sociais e suas
criticas dirigidas ao governo eram muito superficiais. Por conta das criticas do Brazil,
vários outros periódicos também criticam o Paiz por sua posição de neutralidade, de
não apoiar abertamente os republicanos e de defender os abolicionistas
republicanos como Patrocínio e Bocaiúva, além de apoiar monarquistas
abolicionistas como Nabuco e André Rebouças.
Em relação à campanha abolicionista, O Paiz teve vários artigos escritos por
Nabuco e Joaquim Serra que defenderam a abolição imediata e sem indenização.
Bocaiúva assume uma posição neutra de não assinar um artigo que apoiasse a
abolição, pois seus textos se voltaram para questões como a ordem monárquica, a
defesa do federalismo, a laicização do Estado, o registro civil e a questão militar.
Apesar de negar o republicanismo buscando uma neutralidade partidária, não havia
como negar seu envolvimento no abolicionismo tendo Patrocínio e Bocaiúva, como
principais jornalistas. O jornal O Paiz recebeu diversas homenagens da Imprensa
Carioca no dia 13 de maio, como principal órgão de luta a favor da abolição.
O jornal Gazeta Nacional foi fundado em 03 de dezembro de 1887. Sua
primeira sede foi na Rua dos Ourives número 31, mudando posteriormente para a
Rua da Ajuda número 23. No inicio, o jornal informava ao leitor sua missão de
defender as liberdades individuais e a república federativa. Aristides Lobo, seu
principal redator, defendia ao escreve no jornal Gazeta Nacional, o federalismo e a
descentralização política. O caráter republicano da Gazeta Nacional foi assumido
com relação ao seu subtítulo – órgão Republicano- e de sua ligação indireta com o
Partido Republicano do Rio de Janeiro. Sua ligação com a causa abolicionista se
torna evidente em 1888. Na pagina principal do jornal, os artigos escritos por Lobo,
divulgavam a campanha republicana, textos sobre abolição e criticas a família
imperial, principalmente do Conde D´eu e da princesa Isabel.
A Gazeta Nacional teve fama por um curto período, ao editar os artigos do
jornal Província de São Paulo. Isso ajudou o jornal a sobreviver por um longo
período.
No entanto, o jornal teve curta duração ao deixar de circular em junho de
1888. As dificuldades financeiras do jornal foram aparecendo ao longo de sua
circulação na corte. Algumas dividas adquiridas por conta da má administração
foram sanadas por políticos do partido republicano carioca e por simpatizantes do
jornal. O fim das dividas foi o suficiente para impedir a falência do jornal. Patrocínio,
ao se envolver em polêmicas com os jornais republicanos, lamentou fim do jornal e
não deixou de criticar crise financeira da Gazeta Nacional. Aristides Lobo arruinado
se desligou do Jornal em março de 1888 e se mudou para São Paulo, onde passou
a editar o jornal Diário Popular, da mesma linha do Gazeta Nacional, agora sob a
direção de J.J. Pernambuco.
As narrativas construídas e vinculadas nestes dois periódicos ajudaram a
entender mais sobre o processo abolicionista. O escravo e o liberto revelaravam
como a imprensa pensava, não somente no fim do cativeiro, mas como se projetaria
os jornais, no pós - abolição. Nos artigos sobre o movimento republicano, o tema era
sempre sobre a formação de uma nação aprimorada, quer fosse pela abolição da
escravatura, quer fosse pela adoção de uma república, ao receber diferentes
enfoques, de acordo com os discursos presentes nestes jornais.
O Paiz e a Gazeta Nacional, insistentemente, divulgavam os artigos do Jornal
A Província de São Paulo e o jornal a Federação, de Lopes Trovão ligados ao
partido republicano de São Paulo e do Rio Grande do Sul. A estratégia desses
jornais era enfraquecer a ordem imperial através de criticas a centralização política.
Aristides Lobo que representava o partido no Rio de Janeiro, enfatizava em seus
artigos, a liberdade individual ao atacar o escravismo. Os comícios republicanos de
Silva Jardim eram noticiados pela Gazeta Nacional e O Paiz, apesar das
divergências com Bocaiúva e sua exclusão, na participação no governo provisório
após o golpe de 15 de novembro de 1889.
Segundo Conrad, a imprensa nacional se mostrou indecisa e vagarosa nos
primeiros anos em relação ao abolicionismo, mas a presença de jornais de
propriedade de estrangeiros na cidade do Rio de Janeiro, nesta época, motivou de
imediato os abolicionistas em atrair o leitor para a causa que defendiam. A Revista
Ilustrada, um semanário em estilo Punch, pelo cartunista de origem italiana, Ângelo
Agostini. O semanário inicia sua circulação no ano de 1876. Agostini recebe o apoio
de outros jornalistas, ao publicar em seu semanário caricaturas e comentários a
serviço do abolicionismo, e que atrai a ira dos escravistas. Patrocínio escreve no
jornal Cidade do Rio sobre Ângelo Agostini a seguinte nota
Não desanima, não hesita, não gradua o seu fervor. Uma vez na luta, só
conhece dois deveres: vencer ou morrer. Ângelo não é só um propagandista, é um
apóstolo. Não defende só, ama realmente os negros. Comove-se diante dos seus
sofrimentos, indigna-se como um irmão, como um pai, quando os vê maltratados. 2