Exemplo de Projeto de Pesquisa
Exemplo de Projeto de Pesquisa
Exemplo de Projeto de Pesquisa
RESUMO
Propõe-se, esta pesquisa, a investigar a variação morfêmica na 1ª pessoa do plural (P4,
“nós”) em verbos regulares de 1ª e 2ª conjugação (CI e CII) em IdPr (Presente do
Indicativo) e IdPt2 (Pretérito Perfeito do Indicativo). No português padrão brasileiro,
conforme Câmara Junior (1970), Monteiro (2002) e Zanotto (1986), haveria uma
neutralização entre as formas verbais (canônicas) de P4 no IdPt2 e IdPr nos verbos
regulares de CI e CII, uma vez que seria Ø (zero) a DMT (desinência modo-temporal)
em ambos os tempos na P4. Entretanto, observa-se certa alternância no PB – em alguns
contextos – no que se refere a essas formas verbais, como, por exemplo, o verbo chegar,
o qual é canonicamente conjugado em P4 como chegamos (nos dois tempos verbais),
mas pode aparecer na sua forma não-canônica cheguemo(s), sendo que o –s final pode
ser pronunciado ou não. De modo semelhante, isso ocorre na 2ª conjugação, como no
caso de lemos, realizado como limo(s). Já em Portugal, de acordo com Câmara Junior
(1970), existiria uma mudança de significado relacionada à nasalidade (cantámos no
IdPt2, e cantamos no IdPr) em relação à CI. Todavia, em Vasconcelos (1970 [1901]), é
relatada a ocorrência de formas verbais não-canônicas em certas regiões de Portugal,
como amemos (para amámos), em CI, além de descimus (para descemos), em CII,
mostrando que a oposição distintiva em tal país europeu não se daria apenas pela
nasalização, mas também pelo alçamento da vogal temática (VT). Sobre isso, é possível
argumentar que se trate de um alçamento vocálico da VT, consistindo em alomorfia
(variação) ou oposição significativa. Por outro lado, percebemos, em estudos
antecedentes (PEREIRA, 2014; PEREIRA, LEHMKUHL-COELHO e LOREGIAN-
PENKAL, 2016), que tais variantes não-canônicas costumam ser usadas com mais
frequência em contexto de IdPt2. Isso poderia reforçar a hipótese de que não se trate de
um alçamento da VT, mas sim que os sujeitos estariam, intuitivamente, inserindo uma
DMT (que resultaria num Ø como VT) para desneutralizar as formas de IdPt2 e IdPr.
Tal modificação resultaria numa reacomodação do sistema com vistas a uma
funcionalidade de desambiguização de tempo, modo e aspecto.
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“Le parler de la région des Amazones, par exemple, présente quelques particularités, de même que celui
du Pará, où l’on dit canúa <canoa>, avec le changement d’ô en u, comme aux Açores”
(VASCONCELOS, 1901, p. 134, tradução nossa).
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De modo geral, o termo “caipira”, conforme Bortoni-Ricardo (2011) está relacionado à cultura rústica
do estado de São Paulo, mas hoje em dia é também usado para descrever o “modo rústico e tradicional
dos habitantes do campo, independentemente da região geográfica” (BORTONI-RICARDO, 2011, p. 57).
1ª e 2ª conjugação (CI e CII) em IdPr (Presente do Indicativo) e IdPt2 (Pretérito Perfeito
do Indicativo), com foco no PB (português brasileiro), mas observando as descrições
linguísticas do PE (português europeu) e como essa variedade influencia na variedade
brasileira.
Contextualizando-se o fenômeno em questão, é preciso explicar que, no
português brasileiro padrão, não haveria formas verbais diferentes nos verbos regulares3
de 1ª e 2ª conjugação, na P4 (nós), no que se refere aos tempos de Pretérito Perfeito do
Indicativo (IdPt2) e Presente do Indicativo (IdPr), como se pode observar nos exemplos
a seguir:
(1) Verbos de 1ª Conjugação
1a. Nós plantamos a toda estação. (Presente do Indicativo)
1b. No mês passado, nós plantamos. (Pretérito Perfeito do
Indicativo).
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No caso do verbo “dar”, por exemplo, há uma distinção entre as formas de IdPr – damos – e IdPt2 –
demos.
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É interessante observar que essas formas verbais não-canônicas, além da mudança da VT (ou desinência
modo-temporal – DMT –, a depender do ponto de vista), apresentam uma desinência número-pessoal
(DNP) não-padrão na maioria dos dados, isto é, ao invés de aparecer a DNP padrão –mos, aparece –mo, e
esse é motivo pelo qual deixamos o –s entre parênteses em alguns exemplos.
se em e: trabaiêmo = trabalhamos, caminhêmo = caminhamos” (AMARAL, 1976
[1920], p. 29).
Nesse sentido, o grande linguista brasileiro Castilho (1992, p. 250) também
afirmou que haveria “elevação da vogal temática a para e e [de] e para i no pretérito
perfeito do indicativo, para distingui-lo do presente do indicativo: fiquemo (por
ficamos), bebimo (por bebemos)”. Além disso, ao tratar sobre a morfologização dos
sufixos modo-temporais do latim vulgar ao português, tal linguista explica que a
distinção entre os tempos verbais (ocorrida no latim vulgar) é restabelecida no
português popular, “elevando a vogal temática no pretérito de C1 e C2 (cf. amamos ~
amemos, bebedemos ~ bebimos)” (CASTILHO, 2016, p. 152). Seria, então, uma nova
forma verbal ou um restabelecimento da diferenciação entre contextos verbais que, no
surgimento do português, acabaram se neutralizando?5
Em Pereira, Lehmkuhl-Coelho e Loregian-Penkal (2016), obtivemos dados
dessas formas verbais não-padrão6 na região sudeste do Paraná, o que nos levou a
perceber que tal fenômeno linguístico parece ser característico a regiões com
características rurais (como é o caso daquela comunidade de fala da pesquisa citada),
onde há outros fenômenos linguísticos associados a essa variedade (como a epêntese do
–i-, o uso do /R/ retroflexo, entre outros). Observemos um trecho de entrevista
sociolinguística citado em Pereira, Lehmkuhl-Coelho e Loregian-Penkal (2016), com
tais características:
(3) Informante: Tem mais é bol-, é futebol, a gente vai, né, futebol,
né que a gente vai, né, nós tocamo um time dali, da colonha, né.
Tamo, joguemo7 treis jogo, né, perdimo um, empatemo um e ganhemo
otro. [...] Os jogador tanto do interior daqui memo, tanto peguemo de
cidade. [...]
Entrevistadora: Você foi eleito pra ser técnico?
Informante: Aqui da central? É que num tinha ninguém pra tocar o
Varziano, daí nóis peguemo pra tocá. Tava parado o time da colonha,
né? Daí nóis peguemo pa tocá com meu irmão otro.
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Julgamos importante mostrar que, no latim vulgar (que deu origem a várias outras línguas, dentre elas, o
português), havia uma distinção das formas verbais em relação aos tempos de IdPr e IdPt2.
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A partir disso, as formas verbais “canônicas” – com a representação C – seriam aquelas pertencentes à
norma padrão (neutralizadas nos dois tempos verbais), ao passo que as formas resultantes de uma
concordância não-padrão são nomeadas de “não-canônicas” – NC.
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Consideramos como não-canônicas as formas verbais com levantamento vocálico em ambos os
contextos temporais, mas, em pesquisas anteriores (PEREIRA, 2014; e PEREIRA, LEHMKUHL-
COELHO e LOREGIAN-PENKAL, 2016), percebemos que o tempo verbal de IdPt2 parece ser um
condicionante para o uso não canônico. Lembramos também que, em Pereira (2014) – estudo feito em
Florianópolis-SC –, não encontramos dados de variação na 2ª conjugação, mas apenas na 1ª, enquanto em
Pereira, Lehmkuhl-Coelho e Loregian-Penkal (2016), cujo foco era o sudeste do Paraná, foram
encontrados dados não-canônicos em ambas as conjugações (CI e CII).
Entrevistadora: E aí vocês vão pra outras comunidades jogar, como é
que é?
Informante: Nós jogamo, é, nós jogava nas comunidade
[ininteligível] tinha um time rural também, né? Do interior, que
faziam antigamente [...] [Ininteligível] três jogo, perdimo treis ano
passado i... depois que no final que nóis fumo ganhando, que não caiu.
[...] Tem que vendê 40 cartela. Se não vendê, você tem que pagá do
teu borso, né? Esse ano, as comarca, paguemo, né? Deu a metade, eu
di a metade, porque é difícil você vendê, né? [...] Só que ganhemo um
jogo de camisa do meu sobrinho de Curitiba, né? [...] Nós já tava bem
desacorçoado [...] Ano passado, as veiz, nóis começava com deiz,
nove jogador, rapaiz... E é onze que joga, sabe? Nóis começava com
nove, deiz, [...] dava, ih... ma, rapaiz, daí pricisava, desacorçoemo.
[...] Daí ficava ruim, né... Daí nóis fiquemo, não era fácil nóis imo
jogá daqui, tudo...
Por outro lado, no que se refere ao português europeu (PE) padrão, existiria uma
diferença de nasalização da VT (vogal temática) para os contextos de presente
(cantamos), e um traço não nasalizado da VT nos casos de pretérito perfeito
(cantámos), pertinentemente à 1ª conjugação. Já no que tange à 2ª conjugação, haveria
neutralização – em similaridade à norma padrão do PB – também no PE (forma
comemos, por exemplo).
Nesse caso, como a pronúncia para cada contexto seria diferenciada, as formas
verbais de IdPr e IdPt2 também podem ser distintas na sua ortografia, colocando-se
acento na forma verbal que diz respeito ao pretérito perfeito, como mostra Câmara
Junior (2010 [1970], p. 42).
Tal descrição dá indícios de que esse uso não-canônico parece ser algo mais
antigo no português europeu, e é provável, então, que ocorra em “ilhas de
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Em 2014, participei do I International Symposium on Variation in Portuguese, na Universidade do
Minho, em Braga, Portugal, e apresentei um estudo ainda preliminar sobre este fenômeno ao qual me
dedico agora no Doutorado. Após minha apresentação de comunicação oral, alguns professores nativos de
Portugal lá presentes asseveraram que essa distinção de segmento nasal não é, de fato, tão uniforme e
corrente na fala dos portugueses. Segundo esses participantes do evento, há muitas variações conforme as
regiões do país e também no que diz respeito aos contextos de fala e escrita, mostrando que, assim como
no Brasil, o que é exposto na norma padrão não é efetivamente o que ocorre na língua em uso.
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Présent de l’indicatif: Il y a plusiers hésitations. Au Nord de Trás-os-Montes, on dit, à la 1ª conjug. –
amos, ex. Ama-mos < 1 . amus ; dans une grandepartie du pays, au Nord, aussie bien qu’au Sud, on dit –
emos , ex. amemos, – peut-être sous l’influence de temos (et aussi havemos), qui est d’un emploi si
fréquent dans la conjugaison périphrastique. Dans le Minho, on peut entendre –ámos. – Dans les autres
conjugaisons, il n’y a rien à observer. (À Batalha j’ai entendu descimus). [...] Parfait: Dans Le Nord e
dans le Centre, la terminaison –emos (-êmos, -émos, -iêmos, d’après les lios phonétique) est très fréquente
dans la Iª conjug., par analogie avec la Iª personne du sing. (-ei) : <> lat- amus (-auimus). A l’Androal on
dit : -ámos, comme dans le langue littéraire. Exs. : amemos, amámos. (VASCONCELOS, 1970 [1901], p.
111-112, tradução nossa).
conservadorismo” no Brasil, se, de fato, essas formas forem mais antigas, mas isso é
algo que ainda carece de investigações. Apontando nesta direção, Foeger, Yacovenco e
Scherre (2017, p. 15), ao pesquisarem a concordância verbal na P4 em Santa Leopoldina
– ES (região de característica rural), acabam por obter também dados do fenômeno
linguístico a que nos dedicamos e afirmam que:
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Este objetivo está relacionado ao fato de a Profa. Dra. Alina Villalva, atuar nas áreas de investigação
relativas à morfologia e variação, com larga experiência em estudos de mudança morfológica.
Questão 2: O que relatam as obras portuguesas a respeito desse fenômeno
linguístico?
Objetivo 2: Consultar textos sobre o assunto em obras portuguesas e ocorrências
variáveis de 1ª pessoa do plural (P4, “nós”) em verbos regulares de 1ª e 2ª conjugação
em língua portuguesa nas modalidades oral e escrita.
Hipótese 2: Em similaridade ao que afirma Vasconcelos (1970 [1901]), é
possível que outras obras de descrição da língua portuguesa, em sua variedade europeia,
revelem a existência de formas não-canônicas de P4 nos contextos temporais de IdPr e
IdPt2.
3. METODOLOGIA
Nesta seção, trataremos acerca da metodologia que será (e tem sido) usada no
período em que estamos/estivermos no Brasil e também respectiva ao possível período
de sanduíche em Portugal, pois são passos de pesquisa que diferem em seus objetivos,
dentro da elaboração da tese de Doutorado. Trata-se de uma investigação, de modo
geral, que se utiliza do método indutivo, utilizando-se de variados tipos de pesquisa, em
cada fase do processo, tais como: entrevista, pesquisa de campo e pesquisa
bibliográfica. (cf. MARCONI; LAKATOS, 2003).
No que se refere ao processo metodológico executado no Brasil, utilizaremos
metodologia sociolinguística quantitativa de descrição, levando em conta algumas das
obras clássicas da teoria sociolinguística, como Labov (2008 [1972]) e Weinreich,
Labov e Herzog – WLH – (2006 [1968]). Para tanto, estamos em processo de
finalização de 24 entrevistas sociolinguísticas (técnica de entrevista, aos moldes das
pesquisas sociolinguística feitas no Brasil) na cidade de Quedas do Iguaçu – PR, que
farão parte do banco VARLINFE – pertencentes à UNICENTRO, campus Irati – (já
composto pelo mesmo número de entrevistas de cada uma das seguintes cidades: Irati,
Mallet, Prudentópolis, Ivaí, Rebouças, Rio Azul e Cruz Machado). Tal banco de
entrevistas tem como característica traços rurais, uma vez que a região é marcada pelo
trabalho agrícola e por uma população muito ligada ao campo, com um falar peculiar a
um “dialeto caipira”.
Nesse ínterim, a parte de pesquisa de campo já começou a ser feita e será
finalizada após a volta do período no exterior. Consideramos que se trate de uma
pesquisa de campo, de viés quantitativo-descritivo, a partir de estudos de verificação de
hipóteses (algumas elencadas na seção anterior, embora a tese apresente ainda outras),
baseando-nos no que apontam Marconi e Lakatos (2003, p. 187), pois consiste em uma
investigação de pesquisa empírica:
3. CRONOGRAMA
Desenvolvimento de discussão
Participação em eventos
Atividades
em Portugal
Busca por referencial
da Tese)
Villalva
especializado
Mês e ano
Outubro /2018 X X X
Novembro X X X X
/2018
Dezembro /2018 X X X X
Janeiro /2019 X X X X
Fevereiro /2019 X X X X
Março/2019 X X X X
5. REFERÊNCIAS