Filosofia Exercicios

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Filosofia exercicios – Descartes

15. Leia o texto seguinte.

A propósito das experiências, notei que elas são tanto mais necessárias quanto mais avançado
se está no conhecimento. […] Procurei descobrir em geral os princípios ou causas primeiras de
tudo o que existe ou pode existir no mundo. […] Revendo no meu espírito todos os objetos que
já se apresentaram aos meus sentidos, ouso afirmar que nada notei em tais objetos que não
possa facilmente explicar pelos princípios que descobrira. Mas também tenho de admitir que o
poder da natureza é tão amplo e tão vasto, e que estes princípios são tão simples e tão gerais,
que dificilmente descubro algum efeito particular que, à partida, não possa deles ser deduzido
de muitas maneiras diferentes; pelo que a minha maior dificuldade é quase sempre descobrir
de qual dessas maneiras um efeito particular depende dos princípios. Para isso, não conheço
melhor recurso do que procurar novas experiências, cujos resultados variam consoante qual
dessas maneiras fornece a explicação correta.

15.1. Neste texto, Descartes mostra ter recuperado a confiança nos sentidos.
Explicite o contexto em que, anteriormente, Descartes tinha perdido a confiança nos sentidos.

15.2. Descartes afirma que as experiências «são tanto mais necessárias quanto mais avançado
se está no conhecimento». Porquê? Na sua resposta, integre adequadamente informação do
texto.

9. Ao aplicar a dúvida metódica, Descartes chega a imaginar que há um génio maligno que o
engana sistematicamente nos seus raciocínios, mas acaba por concluir que

(A) a hipótese é improvável e, por ser improvável, não tem poder persuasivo.
(B) só Deus teria o poder de o enganar, e Deus, sendo bom, não o quereria enganar.
(C) esse génio não o poderia enganar acerca da sua própria existência enquanto ele pensasse
que era alguma coisa.
(D) esse génio, sendo maligno, não poderia garantir a veracidade das ideias claras e distintas
nem o conhecimento

14. Leia o texto seguinte.

Descartes ficou eternamente famoso com o seu dito «penso, logo existo» (cogito ergo sum).
Mas deu-lhe muito trabalho chegar a ele […]. Ao considerar a autoapreensão o caso
paradigmático de conhecimento, […] Descartes colocou-nos firmemente no centro do domínio
cognitivo. […] A ênfase mudou de «como são as coisas?» para «como podemos saber como são
as coisas?».

14.1. De acordo com o texto, deu muito trabalho a Descartes chegar ao cogito. Explique como
Descartes lá chegou.

14.2. «Como podemos saber como são as coisas?» Será que o cogito é o passo fundamental da
resposta a esta questão?

Na sua resposta, deve:


−− apresentar inequivocamente a sua posição; −− argumentar a favor da sua posição.

14. Leia o texto seguinte.

Quis procurar […] outras verdades e, tendo escolhido o objeto dos geómetras, […] revi algumas
das suas demonstrações mais simples. E, tendo notado que a grande certeza que todos lhes
atribuem se funda apenas em serem concebidas com evidência, […] notei também que não
existia nelas absolutamente nada que me assegurasse da existência do seu objeto. Pois, por
exemplo, via bem que, ao supor um triângulo, era necessário que os seus três ângulos fossem
iguais a dois ângulos retos; mas, apesar disso, nada via que me garantisse que no mundo
exterior existisse algum triângulo. Ao passo que, voltando a examinar a ideia que eu tinha de
um ser perfeito, descobria que a existência estava nela contida, do mesmo modo, ou mais
evidentemente ainda, que na ideia de um triângulo está compreendido que os seus três
ângulos são iguais a dois ângulos retos […].

14.1. Reconstitua o argumento a favor da existência de Deus apresentado no texto.

15. De acordo com Descartes, a ciência teria de se basear em princípios irrefutáveis, que
seriam verdades evidentes conhecidas a priori, por intuição intelectual. Essas verdades incluem
os factos básicos da realidade física.

Concorda com esta perspetiva de Descartes? Na sua resposta, deve:


− clarificar o problema da justificação do conhecimento;
−− apresentar inequivocamente a sua posição;
−− argumentar a favor da sua posição, recorrendo a aspetos que considerar relevantes da
teoria empirista ou da teoria racionalista do conhecimento, ou de perspetivas sobre a evolução
e a objetividade da ciência

16. 16. Leia o texto seguinte.

Estabelecemos [...] que todos os corpos […] são compostos de uma mesma matéria,
indefinidamente divisível em muitas partes [...], as quais se movem em direções diferentes […];
além disso, estabelecemos [...] que continua a haver a mesma quantidade de movimentos no
mundo. No entanto, não podemos determinar apenas pela razão o tamanho dos pedaços de
matéria, ou a que velocidade se movem […]. Uma vez que há inumeráveis configurações
diferentes de matéria, […] apenas a experiência pode ensinar-nos que configurações realmente
existem.

16.1. Identifique os factos referidos no texto que, de acordo com Descartes, são determinados
a priori e os que são determinados a posteriori.

SOLUÇÕES - 2022 ÉPOCA ESPECIAL

15.1 Explicitação do contexto da perda da confiança nos sentidos:

− Descartes decidiu submeter todas as suas crenças ao teste da dúvida, de modo a determinar
se alguma lhe resistia;
− as crenças que resistissem ao teste ‒ deliberado e exaustivo ‒ da dúvida, sendo indubitáveis e
seguras, seriam candidatas a fundamentos do conhecimento;
− as crenças provenientes dos sentidos foram postas em causa por ter havido ocasiões em que
os sentidos nos enganaram (não sendo sensato, para o propósito de encontrar os fundamentos
do conhecimento, confiar em fontes que já nos levaram a errar).

15.2 Explicação: − os «princípios ou causas primeiras de tudo o que existe ou pode existir no
mundo» são muito simples e gerais, ao passo que «o poder da natureza é [...] amplo e [. ]
vasto»;
− à medida que o conhecimento avança, mais efeitos particulares vamos deduzindo desses
princípios gerais;
− isso significa que qualquer efeito particular pode «ser deduzido de muitas maneiras
diferentes» dos princípios ou causas primeiras;
− para saber «de qual dessas maneiras um efeito particular depende dos princípios», é
necessário o recurso a «novas experiências», cujos resultados permitem identificar a
«explicação correta».

2022 2ª FASE

09. (C)

2022 1ª FASE

14.1.Explicação de como Descartes chegou ao cogito:


− Descartes submeteu todas as suas crenças a um processo deliberado de dúvida, de modo a
verificar se alguma crença era indubitavelmente verdadeira;
− (num primeiro momento,) este processo atingiu as crenças a posteriori, dependentes dos
sentidos;
− (posteriormente,) a hipótese do génio maligno pôs também em causa as crenças a priori, que
podem ser obtidas sem o concurso da experiência;
− porém, ainda que o génio maligno fosse capaz de o enganar em tudo, não o poderia enganar
quanto ao facto de ele existir enquanto pensava (por conseguinte, o processo exaustivo de
dúvida deixou incólume, e até reforçou, a crença de que ele próprio existe e é um ser
pensante).

14.2. Apresentação inequívoca da posição defendida; Justificação da posição defendida

No caso de o examinando afirmar que o cogito é o passo fundamental da resposta à questão


apresentada:
− o cogito é indubitável e, sendo a primeira certeza, é o fundamento seguro do conhecimento;
− a partir da indubitabilidade do cogito é possível inferir outras verdades e recuperar a
confiança nas nossas faculdades;
− desde que usadas de modo prudente (aplicando o critério da clareza e distinção), as nossas
faculdades permitem-nos conhecer o mundo.

Texto 2

E notando que esta verdade «eu penso, logo existo» era tão firme e tão certa que todas as
extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de a abalar, julguei que a podia aceitar,
sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava.

16. No Texto 2, Descartes refere as «extravagantes suposições dos céticos». Apresente um


argumento cético que possa justificar tais suposições

17. Em sua opinião, o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes é um fundamento sólido


do conhecimento? Justifique.

2021 – ÉPOCA ESPECIAL

14.1 Reconstituição do argumento:


− na ideia de perfeição está contida a ideia de existência, tal como na ideia de triângulo está
contida a ideia de os seus três ângulos serem iguais a dois ângulos retos;
− enquanto na ideia de triângulo nada assegura a sua existência, na ideia de ser perfeito (Deus)
está contida a existência;
− logo, é impossível ser perfeito e não existir.
OU
− um ser perfeito tem todas as perfeições;
− a existência é uma perfeição;
− logo, um ser perfeito (Deus) existe.

2021 2ª FASE

15. Clarificação do problema:

– uma das condições do conhecimento é a justificação, e a justificação pode basear-se na


experiência / pode ser a posteriori, ou pode basear-se apenas na razão / pode ser a priori;

– há quem considere que a justificação última do conhecimento só poderá proporcionar


certeza se for irrefutável e que, por isso, terá de ser a priori, e há quem considere que, pelo
facto de se apoiarem na experiência, mesmo as justificações mais básicas podem ser postas em
causa/refutadas.

Apresentação inequívoca da posição defendida.

Justificação da posição defendida – cenários de resposta:

No caso de o examinando concordar com a perspetiva de Descartes:

− o cogito é conhecido a priori, isto é, por intuição intelectual, e também a existência de Deus
pode ser conhecida pelo recurso a argumentos a priori (que, partindo da análise da ideia de ser
perfeito, concluem que Deus existe);

− as verdades básicas da matemática e, em especial, as verdades da geometria, que são


conhecidas priori, contribuem para o conhecimento dos factos básicos da realidade física e são
irrefutáveis;
− como é atestado pelos erros da física e da astronomia ‒ por exemplo, pelos erros da teoria
geocêntrica ‒, a ciência torna-se mais falível se o conhecimento dos factos básicos da realidade
física depender inteiramente dos dados fornecidos pela experiência;
− é plausível considerar que, caso seja a priori, o conhecimento dos factos básicos da realidade
física seja irrefutável.

No caso de o examinando não concordar com a perspetiva de Descartes:

− só o conhecimento de relações de ideias pode ser produzido apenas pelo recurso à razão, isto
é, a priori;
− contudo, o conhecimento de relações de ideias não tem qualquer relevância para o
conhecimento dos factos básicos da realidade física;
− todo o conhecimento substancial, que inclui o conhecimento dos factos básicos da realidade
física, depende da experiência;
− dadas as grandes mudanças científicas já ocorridas ao longo da história da ciência, mesmo
teorias aparentemente infalíveis, como as que dizem respeito aos factos básicos da realidade
física, podem ser refutadas pela experiência.

2021 1ª FASE

16.1 Identificação dos factos que, de acordo com Descartes, são determinados a priori:
− todos os corpos são compostos de uma mesma matéria, indefinidamente divisível em partes,
as quais se movem em direções diferentes;
− a mesma quantidade de movimentos mantém-se no mundo.
Identificação dos factos que, de acordo com Descartes, são determinados a posteriori:
− as configurações de matéria que realmente existem;
− o tamanho e a velocidade dos pedaços de matéria.

2020 1ª FASE

16.Apresentação de um argumento cético (usado pelos céticos anteriores a Descartes ou seus


contemporâneos, ou mobilizado ou avançado por Descartes):
‒ os sentidos enganam-nos muitas vezes;
‒ por essa razão, todas as nossas crenças empíricas podem ser falsas. OU
‒ enganamo-nos muitas vezes ao raciocinar;
‒ por essa razão, todos os nossos raciocínios podem ser errados / todas as nossas conclusões
podem ser falsas. OU
‒ acreditamos, por vezes, que estendemos um braço;
‒ quando sonhamos, por vezes, também acreditamos que estendemos um braço;
‒ não dispomos de um modo seguro de distinguir as crenças que temos quando acordados das
crenças que temos quando sonhamos;
‒ ora, quando num sonho acreditamos que estendemos um braço, essa crença é falsa;
‒ logo, a crença de que, num certo momento, estendemos um braço pode sempre ser falsa. OU
‒ acreditamos que 2+2=4 ou que um quadrado tem quatro lados;
‒ estejamos acordados ou a dormir, as crenças referidas são verdadeiras;
‒ imaginemos, no entanto, que um génio maligno extremamente poderoso e astuto tem o
poder de causar ilusões na nossa faculdade de raciocínio;
‒ assim, mesmo as proposições de que 2+2=4 ou de que um quadrado tem quatro lados
podem ser falsas;
‒ logo, podemos acreditar em proposições que nos parecem inteiramente evidentes e essas
proposições serem falsas. OU
‒ para serem justificadas, as nossas crenças apoiam-se noutras crenças, e assim
sucessivamente, o que nos conduz a uma regressão infinita;
‒ nesse caso, nenhuma crença está justificada.

17. Apresentação inequívoca da posição defendida . Justificação da posição defendida:


No caso de o aluno considerar que o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes é um
fundamento sólido do conhecimento:
‒ se se duvida, e duvidar é uma forma de pensamento, então não se pode, consistentemente,
negar que se existe;
‒ o cogito resiste a todos os argumentos céticos (designadamente, ao argumento do génio
maligno);
‒ sendo o cogito uma certeza inabalável, pode servir de fundamento ao conhecimento.
No caso de o aluno considerar que o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes não é um
fundamento sólido do conhecimento:
‒ do facto de haver pensamentos que expressam dúvidas não se segue a existência de um ser
pensante que é a sede desses pensamentos;
‒ Descartes apenas poderia ter concluído que «se há estados de dúvida, há pensamentos», e
nada mais;
‒ nada garante a existência de um eu que duvida ou pensa. OU
‒ embora o cogito, em si mesmo, possa ser considerado uma certeza inabalável, não é um
fundamento sólido, pois não serve de base a nenhuma outra crença; ‒ caso alcançássemos o
cogito após o método da dúvida sugerido por Descartes, teríamos de confiar nas nossas
faculdades de raciocínio para progredir além do cogito; ‒ ora, o método da dúvida que nos
levou ao cogito (particularmente, a hipótese do génio maligno ou do Deus enganador que se
comprazesse em enganar-nos) pôs em causa as nossas faculdades.

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