37 - Material Didático - Psicologia Da Educação

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Psicologia da Educação

NÚCLEO COMUM
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
Núcleo de Ensino a Distância

Créditos e Copyright

CDD 700 SANTOS, Sonia Cristina A. S.

Psicologia da Educação. Sonia Cristina A. S. Santos. Atualizado por


Any Carolina Ribeiro Silva. – Santos, 2023.

95 fls.

Universidade Metropolitana de Santos, Curso de Licenciatura.

1. Ensino a distância. 2. Ensino e Aprendizagem. 3. Psicologia da Educação

CDD 700

Vanessa Laurentina Maia


Crb8 71/97
Bibliotecária UNIMES

Este curso foi concebido e produzido pela UNIMES Virtual. Eventuais marcas aqui
publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários.

A UNIMES Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste


curso oriundo da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em
qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos.

É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato.

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SUMÁRIO

Aula 01_O nascimento da psicologia científica. ....................................................... 4

Aula 02_Concepções de desenvolvimento humano: inatismo e ambientalismo ...... 9

Aula 03_O Behaviorismo: as formas de aprendizagem e os conceitos de reforço e a


punição. ...................................................................................................................13

Aula 04_ A Psicanálise e o funcionamento da personalidade .................................17

Aula 05_A psicologia da forma – Gestalt.................................................................23

Aula 06_A psicologia humanista de Abraham Maslow e Carl Rogers .....................27

Aula 07_Psicologia da aprendizagem de David Ausubel e Jerome Bruner .............31

Aula 08_ A concepção interacionista e a teoria de Jean Piaget ..............................37

Aula 09_As etapas do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget ..........................46

Aula 10_A teoria de Lev Semionovitch Vygotski e a função da brincadeira. ...........49

Aula 11_A abordagem de Henri Wallon e o papel da afetividade na Escola. ..........54

Aula 12_ A teoria de Carl Gustav Jung e a sua relevância para a Educação e atuação
do professor. ...........................................................................................................62

Aula 13_ O conceito de inteligência e a teoria de Gardner e Robert Sternberg ......68

Aula 14_A atuação do educador: procedimentos de ensino e sua influência no


desenvolvimento de crianças ..................................................................................73

Aula 15_O fracasso escolar ....................................................................................78

Aula 16_A adolescência: Aspectos biopsicossociais, Políticas Públicas e o papel da


Escola......................................................................................................................82

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Aula 01_O nascimento da psicologia científica.

Palavras-chave: senso comum; ciência psicológica; psicologia.

Iniciaremos nosso curso entrando em contato com o nascimento da


Psicologia como ciência e as principais tendências teóricas do século XX. Desejo
bons estudos!
O conhecimento do senso comum é produzido no meio social por meio da
vivência histórica. Caracteriza-se pela ausência de método; é um conhecimento
direcionado para a prática e que adquire valor de verdade no interior do meio social
em que se encontra. Está intrinsecamente ligado ao sistema de crenças do meio
social e cultural do sujeito. O conhecimento do senso comum é um conhecimento
intuitivo e seu critério de verdade não é universal, ou seja, varia de acordo com a
crença e com a cultura de cada pessoa.
A dona de casa, quando usa uma garrafa térmica, sabe por quanto tempo o
café permanecerá razoavelmente quente, sem fazer nenhum cálculo complicado e,
muitas vezes, desconhecendo completamente as leis da termodinâmica. (BOCK et
all,1988, p.18).
O conhecimento adquirido através do senso comum pode ter grande
utilidade durante o processo de formação de um aluno, já que pode servir de ponto
de partida.
O que é psicologia do senso comum?
Usamos o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos, como
por exemplo, quando falamos do poder de persuasão ou de compreensão de alguém
ou da capacidade que algumas pessoas têm de escutar os outros e darem bons
conselhos. Essa psicologia, usada no dia a dia pelas pessoas, é chamada de
psicologia do senso comum.
No entanto, o senso comum não seria suficiente para as exigências de
desenvolvimento da humanidade.
Assim, destacamos outras formas de conhecimento humano:

Ciência: reflexão sobre o cotidiano, mas segue um método, denominado


método científico que é baseado na observação e no empirismo.

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O que é ciência?
A ciência é uma atividade reflexiva, que procura compreender, elucidar e
alterar o cotidiano a partir de um estudo sistemático e não simplesmente da
adaptação à realidade. Quando fazemos ciência, afastamo-nos da realidade para
compreendê-la melhor, transformando-a em objeto de investigação - o que permite
a construção do conhecimento científico sobre o real.
Por aspirar à objetividade na ciência suas conclusões devem ser passíveis
de verificação e isentas de emoção (isto é, busca-se atingir a neutralidade) para,
assim, tornarem-se válidas para todos, ou seja, poderem ser generalizadas em todas
as situações.

PSICOLOGIA CIENTÍFICA
A Psicologia, enquanto definida como ciência que tem por objeto o estudo
do homem considerando seus aspectos psicológicos, sociais, biológicos e seus
variados modos de expressão usufrui do conhecimento do senso comum para
analisar pensamentos, reações, sonhos, linguagem e comportamento. Não obstante,
o psiquismo humano, além de se formar de modo individual, relaciona-se fortemente
ao meio no qual o sujeito está inserido.

Qual é o objeto da psicologia científica?


O HOMEM a insere no campo das Ciências Humanas
Qual é o objeto específico da psicologia?
O comportamento humano - Corrente Comportamentalista
O inconsciente – Corrente Psicanalista
O ser integral – Corrente Gestaltista
Para ser considerado científico, um conhecimento precisa ter um objeto
específico de estudo. Assim, por exemplo, o objeto da astronomia são os astros e o
da biologia são os seres vivos. Entretanto, o mesmo não ocorre com a Psicologia,
que, como a Antropologia, a Sociologia e outras ciências humanas, estuda o homem
e esta é uma dificuldade comum a todas as ciências humanas: separar o objeto de
estudo e o sujeito que o examina.

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Assim, a Psicologia, hoje, caracteriza-se por uma diversidade de objetos de


estudo. Esta situação nos leva a questionar que, no momento, não existe uma
psicologia, mas Ciências Psicológicas em desenvolvimento.
No século XIX, o papel da ciência destaca-se e seu avanço se torna
necessário num contexto em que o capitalismo está em fase de crescimento. Uma
nova ordem econômica gera impulso para o desenvolvimento da ciência que será
usada como base para o capitalismo.
Em meados do século XIX, problemas e temas da psicologia passam a ser
estudados pela fisiologia e neurofisiologia.

A ORIGEM DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA


Em 1846, a neurologia enuncia que as doenças mentais são resultado da
ação de diversos fatores sobre as células nervosas.
Em 1860, a Psicofísica passa a estudar as relações entre estímulos físicos
e as respectivas sensações. ”As cores eram estudadas como fenômeno da
Psicologia”. (BOCK et all, 2008,p.38).
Aproximadamente por volta de 1890, Wundt cria o - Laboratório de
Psicofisiologia na Universidade de Leipsig, na Alemanha, estuda a correspondência
entre fenômenos mentais e fenômenos orgânicos.
É a partir de Wundt que a psicologia se torna ciência:
- define seu objeto de estudo (o comportamento, a vida psíquica e a
consciência);
- delimita seu campo de estudo - formula métodos de estudo desse
objeto de estudo;
- formula teorias.

O surgimento da Psicologia

Sabemos que a preocupação do homem com a subjetividade é tão antiga


quanto às primeiras formas do pensamento racional. Quando o homem pensa acerca
do mundo, dos outros homens e de si mesmo, elabora ideias psicológicas. Com o
desenvolvimento do pensamento, o homem cria as ciências como forma de
compreensão do mundo; entre essas ciências, cria a Psicologia, tendo como objetivo

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o entendimento do que hoje chamamos subjetividade, bem como a interpretação


desta na sua relação com o mundo e com outros homens. Isso significa que a
Psicologia pode ser considerada uma ciência social, e seu objeto de estudo, o
homem.
Embora tenha nascido na Alemanha, é nos EUA que a Psicologia encontra
rápido crescimento. Ali surgiram as primeiras abordagens ou escolas em Psicologia,
as quais deram origem às inúmeras teorias que existem atualmente.
Até o final do século XIX, os filósofos estudavam a natureza humana
mediante a especulação, a intuição e a generalização baseadas em sua limitada
experiência. Uma grande transformação ocorreu, quando estes mesmos filósofos
começaram a aplicar os instrumentos e métodos que já tinham se mostrado bem-
sucedidos nas ciências físicas e biológicas, no tocante às questões relativas à
natureza humana. Apenas quando os pesquisadores passaram a se apoiar na
observação e na experimentação cuidadosamente controladas para estudar a mente
humana, é que a Psicologia começou a alcançar uma identidade que a distinguia de
suas raízes filosóficas (BOCK, 2008).
Conforme dito anteriormente Wilhelm Wundt , em 1879, cria na Universidade
de Leipzig, na Alemanha, o primeiro laboratório de Psicologia, passando assim a ser
conhecimento científico aquele produzido em laboratório, com a utilização de
instrumentos de observação e de medição. Com isso, a Psicologia liga-se às
especialidades da Medicina e não mais à Filosofia, uma vez que aquela se utilizava
de método de investigação das ciências naturais como critério rigoroso de
construção do conhecimento.
Atualmente existem inúmeras linhas teóricas na Psicologia. Dentre elas, as
mais conhecidas são: o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise.
O Behaviorismo, também chamado comportamentalismo, surge com
Watson em 1913, e se desenvolve fortemente nos Estados Unidos. Suas aplicações
práticas permitem que questões sejam formuladas com clareza e encontrem
respostas.
A partir da noção de comportamento (do inglês behavior), define-se o fato
psicológico de modo concreto. Tem seu foco centrado nos acontecimentos objetivos,
denominando-os como estímulos e respostas que podem ser mensurados
objetivamente, constituindo, com isso, a base de toda a psicologia científica.

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A Psicanálise: surge em Viena, na Áustria, na década de 1890, com Freud,


um médico interessado em achar tratamento efetivo para pacientes com sintomas
neuróticos ou histéricos. A partir da prática médica, recupera a Psicologia a
importância da afetividade e postula o inconsciente como objeto de estudo,
rompendo a tradição da Psicologia como ciência da consciência e da razão.
Gestalt: seus fundadores conduziram pesquisas sobre a percepção e a
interpretação da informação pelos sentidos humanos, considerando que a psicologia
deveria estudar não apenas os comportamentos específicos, mas principalmente,
como as partes unem-se para formar um todo significativo ou organizar as
experiências na criação do significado de um evento; enfatizando assim, a
necessidade de compreender o homem como totalidade e não como fragmentos das
ações e processos humanos.
Nesta aula, você aprendeu que, atualmente, não é possível falar em uma
Psicologia, mas em ciências psicológicas e que as linhas mais conhecidas são:
Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise.

REFERÊNCIAS
BOCK, A.M. B; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: uma introdução ao
estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.
CABRAL, C. & NICK, E. Dicionário técnico de Psicologia. 10. ed. Revista e
ampliada. São Paulo: Cultrix, 2000.

MYERS, D. Introdução à psicologia geral. Rio de Janeiro: LTC Editora AS, 1999.

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Aula 02_Concepções de desenvolvimento humano: inatismo e


ambientalismo
Palavras-chave: inatismo; ambientalismo; desenvolvimento humano

Agora, iremos estudar as concepções teóricas a respeito do


desenvolvimento humano e esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de
compreender as diferentes perspectivas teóricas sobre o este tema.

“As diversas teorias de desenvolvimento apresentadas a seguir apoiam-se


em diferentes concepções de homem e do modo como ele chega a
conhecer. Tais teorias dependem da visão de mundo existente em uma
determinada situação histórica” (DAVIS & OLIVEIRA, 2003, p.26).

Quais fatores que determinam o desenvolvimento humano e que fazem parte


de constante discussão?
A visão de desenvolvimento em Psicologia nem sempre teve, ao longo da
história, a mesma concepção que tem atualmente.
A história da construção da Psicologia como um todo, segundo Bock et all
(2008), está ligada a cada momento histórico, às exigências de conhecimento da
humanidade, às demais áreas de conhecimento humano e aos novos desafios
colocados pela realidade econômica e social e pela insaciável necessidade do
homem de compreender a si mesmo e ao seu desenvolvimento.
Segundo MARTINCOWSKI (2002), parte dos autores acredita que o
desenvolvimento humano seja determinado pela informação genética, maturação
fisiológica e funcionamento neurológico, ou seja, fatores endógenos do organismo.
Essas teorias ou abordagens as quais enfatizam tais fatores são
denominadas inatistas. Outra parte acredita que fatores ambientais passam a
determinar o desenvolvimento do indivíduo após o seu nascimento, essas são
nomeadas ambientalistas.

A natureza, dizem-nos, é apenas o hábito. Que significa isso? Não há hábitos


que só se adquirem pela força e não sufocam nunca a natureza? É o caso, por
exemplo, do hábito das plantas, cuja direção vertical se perturba. Em se lhe
desenvolvendo a liberdade, a planta conserva a inclinação que a obrigaram a tomar;
mas a seiva não muda, com isto, sua direção primitiva; e se a planta continuar a

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vegetar, seu prolongamento voltará a ser vertical. O mesmo acontece com os


homens. (Rousseau apud DAVIS & OLIVEIRA, 2003, p.27.).
Esta concepção considera que fatores como: hábitos, valores, crenças,
personalidade, formas de pensar, reações emocionais já estão prontos no homem
no seu nascimento, sendo muito pouco influenciados ou transformados ao longo de
sua existência. Dessa forma, ao longo do processo de desenvolvimento espontâneo
do ser humano, o ambiente (e a educação e o ensino) teria uma interferência mínima.

Nessa concepção, onde “o homem já nasce pronto”, muito pouco se pode


fazer para aprimorá-lo naquilo que ele é ou poderá vir a ser.
Nessa teoria, aspectos como: desejos, fantasias, sentimentos não são
levados em conta, assumindo o ambiente influência ímpar na adaptação do
comportamento; há também uma intensa preocupação em explicar os
comportamentos observáveis do indivíduo com ênfase nos fatores biológicos do
desenvolvimento.
Tal concepção gera uma ideia de homem que produziu uma abordagem
rígida, autoritária e, pessimista para a educação. Nesta concepção, o homem “já
nasce pronto”, e muito pouco se pode aprimorar daquilo que ele é, ou poderá vir a
ser. Desta maneira, não vale a pena considerar algo que possa vir a ser feito em
benefício do desenvolvimento deste ser humano (MARTINCOWSKI, 2002).
Nesta concepção, o ambiente assume imensa importância no
desenvolvimento do ser humano. O homem é concebido como um ser extremamente
plástico, que se desenvolve em função das condições presentes no meio em que
está inserido (DAVIS & OLIVEIRA, 1994).
A concepção ambientalista atribui ao ambiente um grande poder no
desenvolvimento humano. O homem desenvolve suas características em função das
condições presentes no meio em que se encontra. A esta concepção dá-se o nome
de empirismo.
Na Psicologia, o grande defensor da posição ambientalista é o norte-
americano, B.F. Skinner.

Imagem 1:Fotografia, em preto e branco, do teórico Skinner

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Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Burrhus_Frederic_Skinner
Acesso em: 03 abr 2023

Em sua teoria, há uma constante preocupação em explicar os


comportamentos observáveis do sujeito, não levando em consideração aspectos
como: o raciocínio, os desejos e fantasias, os sentimentos, mas, principalmente,
como o ambiente influencia e molda os comportamentos do indivíduo
(MARTINCOWSKI, 2002).
Esses conceitos serão aprofundados na aula 04, referente ao Behaviorismo.
Nesta concepção de comportamento defendida por Skinner e seus
seguidores, o papel do ambiente é muito mais importante do que a maturação
biológica. São os estímulos presentes numa dada situação que levam ao
aparecimento de um determinado comportamento.
Como isso ocorre?
Segundo os ambientalistas, os indivíduos buscam maximizar o prazer e
minimizar a dor. Manipulando-se os elementos presentes no ambiente, ou seja, os
estímulos, torna-se possível controlar o comportamento. Desta forma, é possível
fazer com que aumente ou diminua a frequência com que um determinado
comportamento apareça ou desapareça, ou então que apareça apenas em situações
adequadas; fazer com que o comportamento se refine e aprimore etc. (DAVIS &
OLIVEIRA, 1994).

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Observe que nesta concepção ambientalista, o indivíduo é enfocado como


extremamente reativo à ação do meio ambiente, sendo passivo diante deste e
facilmente manipulado e controlado pela simples alteração das situações em que se
encontra.

REFERÊNCIAS

BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 1996.


DAVIS, C. & OLIVEIRA, Z. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1994

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Aula 03_O Behaviorismo: as formas de aprendizagem e os


conceitos de reforço e a punição.

Palavras-chave: condicionamento; reforço; punição.

Na aula anterior, vimos as duas concepções que norteiam importantes


visões de mundo e de homem. Agora veremos com um pouco mais de detalhes
algumas destas teorias.
Vejamos inicialmente algumas formas de aprendizagem enfatizadas
pelo Behaviorismo (behavior em inglês = comportamento).
O Behaviorismo considera a Psicologia como a ciência do comportamento e procura
compreender o comportamento para prevê-lo e até modificá-lo, se necessário.
Define comportamento como sendo o conjunto de reações ou respostas que um
organismo apresenta às estimulações do ambiente.
Agora, quando falam em aprendizagem, a definem como: modificação de
comportamento ou aquisição de novas respostas ou reações e explicam que a
aquisição de novas reações (modificação do comportamento) resulta do processo
de condicionamento, ou seja, as respostas passam a ser dadas na presença de
determinados estímulos. Desta forma, observamos que o meio ambiente passa a
modelar ou dar forma aos comportamentos de uma pessoa.
Vejamos este exemplo: quando uma criança está fazendo algo e
rapidamente falamos: “não” (estímulo), a criança interrompe o que está fazendo
(comportamento determinado pela palavra “não”). Esta criança tenderá em outras
vezes, ao ouvir a palavra “não”, a interromper o que estiver fazendo, ou seja, na
presença do estímulo (palavra não), ela dá a resposta de interromper o que estiver
fazendo.
O medo que a maioria dos adultos apresenta ao ter que passar por
tratamento dentário é outro exemplo da aprendizagem dentro desta teoria. A primeira
vez em que o adulto ouve o som do motor do dentista, não apresenta nenhuma
reação. Porém, depois de algumas vezes em que esta pessoa passa a ir ao dentista
e associa o som do motor com a dor provocada pela agulha, passa a ser o suficiente
ouvir o barulho do funcionamento do motor, para que tenha reações de medo: suor,
aumento dos batimentos cardíacos etc.

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Vejamos os pontos importantes destes exemplos: inicialmente o som do


motor do dentista é um estímulo neutro em relação às respostas emocionais de medo
daquela pessoa. O estímulo de dor provocado pela agulha do aparelho provoca suor,
aumento dos batimentos cardíacos, etc. Assim, depois de o som ter sido seguido
uma ou mais vezes pela dor, ele passou a adquirir algumas características do
estímulo da dor, e sua apresentação passa a produzir as reações de medo. Esta
sequência descrita acima mostra o princípio do chamado condicionamento
clássico, ou seja, se um estímulo neutro (palavra não, barulho do motor), em relação
a uma determinada reação, for algumas vezes associado a um estímulo que a
provoca naturalmente (dor causada pela agulha do aparelho), ele passará a provocar
aquela reação (suor, aumento dos batimentos cardíacos).
Torna-se importante salientar que o condicionamento não ocorre apenas em
situações de medo ou dor, mas em qualquer condição, fazendo com que o meio
ambiente modele ou dê formas aos comportamentos de uma pessoa.
O condicionamento foi o ponto inicial de John Watson (1878-1958), um dos
iniciadores do Behaviorismo nos Estados Unidos. Watson dizia que todas as
capacidades humanas são aprendidas e, desta maneira, a aprendizagem seria a
grande responsável pelas mudanças que ocorrem ao longo da vida dos seres
humanos, modelando, assim, seus pensamentos, valores e sua conduta social.
Para os teóricos desta “escola”, toda a aprendizagem consistiria em adquirir, após
condições especiais, novas reações a estímulos antes indiferentes ou neutros. Não
acreditam na existência de estágios ou de níveis que possam caracterizar as
diferentes fases da vida. Assim, as condutas de um bebê, de uma criança, de um
adolescente e de um adulto, que são diferentes, apenas são resultados da história
de condicionamentos de cada um deles.
Educar o ser humano resume-se a estabelecer “condicionamentos” na
infância.
Leia com atenção o texto abaixo e reflita: quais são os reflexos deste tipo de
aprendizagem para o aluno hoje?
Os educadores precisam conhecer o processo do condicionamento. Uma
das razões para isso é que muitos reflexos automáticos podem ser condicionados
enquanto a criança ainda está na escola. Um aluno pode ser condicionado a temer
matemática, ciências, redação, ou qualquer outra disciplina escolar. Respostas

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automáticas, tais como: suores, aceleração dos batimentos cardíacos ou sentimento


de ansiedade geral, podem ser causadas por certas disposições de espírito que
passam a ser associadas com vários aspectos da situação escolar. Crianças que
tenham sido condicionadas de tal modo que ficam paralisadas pelo medo à simples
vista de um problema matemático, não serão capazes de aprender muita
matemática. Elas podem tentar, sinceramente, aprender a matéria, mas
simplesmente não são capazes, por causa de um desconforto grande e incapacitante
que acompanha suas tentativas. Não se está dizendo que os professores criam
esses medos intencionalmente, mas eles podem, inconscientemente, montar o palco
para tal condicionamento.
Por exemplo: um problema de matemática é apresentado, seguido de
alguma outra ação do professor, a qual pode, na experiência passada da criança, já
estar associada com sentimentos de tensão. Agora, o problema de matemática, em
si, provoca reações automáticas de ansiedade por parte da criança. Após umas
poucas associações desse tipo, a mera apresentação do problema de matemática
começa a eliciar ansiedade. Algumas vezes esse processo ocorre porque os
professores, eles mesmos têm um medo condicionado da matemática e,
inconscientemente, o transmitem a seus alunos sob a forma de rabugice, ameaças
ou uma abordagem difícil à aprendizagem da matéria.
Verificaremos agora, dois conceitos importantes para o
behaviorismo: reforço e punição.
O conceito de reforço está associado ao condicionamento operante proposto
por Skinner. Conceitualmente, um estímulo reforçador é todo aquele que aumenta a
probabilidade de um determinado comportamento ocorrer novamente.
O papel do reforço é tornar frequente uma resposta no comportamento do
indivíduo, garantir a manutenção dessa resposta, ou seja, evitar a extinção da
resposta.
O reforço pode ainda ser definido como positivo ou negativo.
Os estímulos reforçadores positivos estão relacionados a estímulos
agradáveis que diminuam a “necessidade” do organismo, isto é, estímulos que o
organismo busca para atingir o equilíbrio, como por exemplo: alimento, água etc.
Já os estímulos reforçadores negativos estão mais relacionados ao aumento
da probabilidade de um determinado comportamento ocorrer, por meio da evitação

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de um estímulo aversivo. Isto é, o organismo busca evitar que algo desagradável


aconteça.
Os estímulos reforçadores também podem ser de duas
ordens: primários ou secundários.
Os estímulos reforçadores primários são aqueles diretamente ligados à
satisfação do funcionamento biológico do organismo como, por exemplo, alimento,
água etc. Por outro lado, os estímulos reforçadores secundários não estão
diretamente ligados à satisfação do funcionamento biológico do organismo e podem
ser indiretos e culturalmente aprendidos. Um dos exemplos mais claros é o dinheiro,
que não fornece diretamente os alimentos, mas sua posse significa, indiretamente,
a posse do alimento.
Para que ocorra um condicionamento ótimo, o reforço deve ocorrer
imediatamente após a resposta. Assim, Skinner acreditava que o aluno em sala de
aula deveria ser reforçado logo que apresentasse a resposta apropriada. O reforço
deveria ser imediato.
Punição
É um procedimento que inibe a frequência de ocorrência de um
comportamento, ocasionando a supressão temporária do comportamento
condicionado, porém não altera a motivação. Podemos observar este procedimento
ocorrendo frequentemente em nosso cotidiano: um que nos chama atenção,
principalmente nas grandes cidades, diz respeito às multas de trânsito. Apesar de
vermos o aumento significativo da aplicação de multas (punições) aplicadas aos
motoristas por suas infrações, estas punições não os motivam a adotar
comportamentos mais adequados para o trânsito.

REFERÊNCIAS
BARROS, C.S.G. Pontos de Psicologia escolar. São Paulo: Ática, 1991.
BOCK, A.M.B; FURTADO, O; TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: uma introdução ao
estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.

SABINI, M.A.C. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática, 2004.

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Aula 04_ A Psicanálise e o funcionamento da personalidade

Palavras-chave: Inconsciente; funcionamento da personalidade; mecanismos de


defesa

O que é Psicanálise?
Psicanálise é um método desenvolvido pelo médico neurologista vienense
Sigmund Freud, para tratar de distúrbios psíquicos a partir da investigação do
inconsciente.

Imagem 2:Fotografia, em preto e branco, do psicanalista Sigmund Freud

Disponível em:
https://www.gettyimages.pt/fotos/freud?mediatype=photography&phrase=freud&sort=mostpopular
Acesso em 03 abr 2023

Amando-o ou odiando-o, não se pode deixar de admitir que Sigmund Freud


(1856-1939) influenciou significativamente a cultura ocidental. Para reconhecer sua
influência, precisamos compreender as suas principais ideias sobre: o
inconsciente, os mecanismos de defesa contra a ansiedade e a estrutura e
o funcionamento da personalidade por ele propostas.

Sigmund Freud estudou na Universidade de Viena, onde se formou em


Medicina, especializando-se em Psiquiatria. Após ter se formado, iniciou
atendimento às pessoas com distúrbios nervosos; deparando-se com pacientes que,
por exemplo, perderam a sensibilidade da mão... No entanto, não havia nervo
sensorial que, se lesionado, deixasse apenas a mão inteira insensível. Freud lançou-

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se então a encontrar a causa destes distúrbios e começou a interrogar-se se alguns


deles não poderiam ter causas psicológicas e não fisiológicas.
Freud então começou a criar sua primeira concepção sobre a estrutura e o
funcionamento da personalidade, referindo-se à existência de três sistemas ou
instâncias psíquicas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente.

Explorando o inconsciente
Para pesquisar essa possibilidade, Freud foi para Paris e lá permaneceu por
vários meses, estudando com Breuer, um neurologista que usava a hipnose para
tratar pacientes com esses distúrbios (estado mental transitório, semelhante ao
estado de sono embora afetando a pessoa acordada). É caracterizado pela ausência
de reação aos estímulos do ambiente, pela ausência de iniciativa comportamental,
pela sugestibilidade extrema e normalmente pelo esquecimento subsequente depois
da volta ao estado normal.
Ao voltar para Viena, Freud começou a hipnotizar pacientes, incentivando-
os, durante a hipnose, a falar de si mesmos e das circunstâncias relacionadas com
o início dos sintomas. Às vezes os sintomas diminuíam depois da terapia, ou até
mesmo chegavam a desaparecer.
Enquanto utilizava com seus pacientes a hipnose, Freud acabou
descobrindo o “inconsciente”. Analisando os relatos dos pacientes sobre suas
vidas, ele concluiu que a perda da sensibilidade da mão, ou uma surdez podiam ser
causadas por não querer o paciente ouvir ou tocar alguma coisa que lhe provocava
uma intensa ansiedade.
Assim, Freud convenceu-se de que a mente humana seria como um iceberg,
em que, a maior parte fica oculta. Nossa percepção consciente é a parte do iceberg
que flutua acima da superfície. Por baixo da superfície está a
região inconsciente, muito maior, contendo pensamentos, desejos, sentimentos e
lembranças para os quais, em grande medida, não estamos “despertos”.
Para a Psicanálise, alguns desses pensamentos guardamos
temporariamente numa área pré-consciente, de onde podemos recuperá–los à
vontade para a percepção consciente. Freud, no entanto, interessava-se mais
detidamente pela “massa” de paixões e pensamentos inaceitáveis que ele acreditava
que reprimimos, ou bloqueamos à força, porque admiti-los seria doloroso demais.

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Para Freud, a vida humana é dividida em fases (biologicamente


determinadas) e que seguem uma sequência linear definida. São fases universais e
baseadas no desenvolvimento psicossexual humano. Além disso, os processos
desencadeados em uma fase nunca estão plenamente completos e continuam
agindo durante toda a vida da pessoa.
A primeira destas fases tem o nome de fase oral e o seu período de
existência ocorre nos primeiros 18 meses de vida do ser humano em que os prazeres
do bebê se concentram em sugar, morder e mastigar.

Imagem 3 Imagens com fotos de bebês sendo amamentado, chupando chupeta e


chupando o dedo

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eiagMiuMuXo


Acesso em 03 abr 2023

Agora, dos 18 meses aos 3 anos na vida do ser humano, desenvolve-se a


segunda fase, chamada de fase anal. Neste período do desenvolvimento, os
músculos do esfíncter tornam-se mais sensíveis e controláveis e a retenção e a
eliminação através do controle da bexiga e do intestino se transformam em fonte de
satisfação. Digamos que o prazer da criança se dá no controle da eliminação do coco
e do xixi.
Mais ou menos dos 3 aos 6 anos, surge a chamada fase fálica, a área de
prazer desloca-se, podemos dizer, para os genitais. Durante esta fase, os meninos
procuram a estimulação genital e desenvolvem ao mesmo tempo desejos sexuais
inconscientes pela mãe e ciúme e ódio do pai, que consideram um rival.

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Com esses sentimentos, os meninos podem sentir-se culpados por um lado


e com medo de uma possível punição de seu pai. Freud chamou esse conjunto de
sentimentos de complexo de Édipo, por causa da lenda grega de Édipo, que, sem
saber, matou o pai e casou-se com a mãe.
Dos 6 anos à puberdade, as crianças entram na chamada fase de latência,
e os sentimentos e desejos sexuais reprimidos são redirecionados e investidos em
conhecimento e aprendizagem, pois nesta fase a criança está a pleno vapor,
vivenciando a experiência da vida escolar.
Na puberdade, a latência dá lugar à fase final, a fase genital, à medida em
que a pessoa começa a experimentar sensações sexuais em relação às outras.
Outro importante conceito psicanalítico diz respeito aos mecanismos de
defesa. Estes mecanismos, não por acaso, chamam-se de mecanismos de defesa.
Têm exatamente esta função; de nos defender daquilo que o psiquismo percebe
como sendo “perigoso” à nossa sobrevivência psíquica.
Os mecanismos de defesa são ações psicológicas que buscam reduzir as
manifestações iminentemente perigosas ao Ego
Vejamos como funcionam os mecanismos de defesa
Para vivermos em grupo, não podemos dar vazão a nossos impulsos sexuais
e agressivos, de qualquer maneira. Para a possibilidade da convivência temos que
controlá-los. Agora, quando o ego (a parte do aparelho psíquico que está em contato
com a realidade externa) teme perder o controle da guerra interior entre as
demandas do id e do superego, o resultado é uma nuvem negra de ansiedade
desfocada. Freud propôs que o ego se protege contra a ansiedade com os
mecanismos de defesa, que reduzem ou redirecionam a ansiedade por vários
meios, todos eles distorcendo a realidade.
Id e o superego, a ansiedade introduz-se na consciência. A ansiedade é
quando o ego falha em satisfazer a ambos, o desconfortável, portanto as
pessoas tentam se livrar dela de qualquer maneira. Uma forma comum de
repelir a ansiedade é por meio dos mecanismos de defesa. Os mecanismos
de defesa são estratégias que o ego usa, inconscientemente, para reduzir
a ansiedade, distorcendo nossa percepção da realidade. (HUFFMAN, 2003,
p. 505)

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Vejamos alguns dos principais mecanismos de defesa:

A repressão é uma defesa que afasta determinada coisa da consciência,


mantendo-a distante. Ela afasta da consciência um pensamento, ideia, evento que
possam ser potencialmente provocadores de ansiedade. “A repressão nunca é
realizada de uma vez por todas, mas requer um constante consumo de energia para
manter-se, enquanto o reprimido faz tentativas constantes para encontrar uma
saída” (Fenichel apud Brenner, 1975.) Também lidamos com a ansiedade por meio
da regressão -- recuando para um estágio de desenvolvimento anterior, mais
infantil, onde nos sentimos mais seguros e confortados. Assim, por exemplo, você já
observou a cena de uma criança em seu primeiro dia de aula na escola? A ansiedade
pode tornar-se muito intensa e, diante dela, o que a criança pode fazer? Regredir ao
conforto de chupar o dedo - este conforto é uma regressão, pois chupar o dedo é um
comportamento anterior, mais primitivo, digamos, ao de ir para a escola.
A projeção é um mecanismo que disfarça os impulsos ameaçadores,
atribuindo-os a outros. A pessoa projeta algo de si mesmo considerado como
indesejável no mundo externo, não percebendo que este algo é seu. Por exemplo,
você já deve ter ouvido comentários críticos do tipo: “Como essa pessoa é ciumenta”
não se dando conta de que ela também o é. Ou então já ouviu comentários como:
Essa pessoa não confia em mim” pode ser uma projeção do sentimento do fato de
“ela não confiar na outra pessoa”. (Myers,1999,p.298).
A racionalização deixa-nos inconscientemente gerar explicações de
autojustificativas, a fim de podermos esconder de nós mesmos as verdadeiras
razões para nossas ações. Assim, os bebedores contumazes podem dizer que
bebem com os amigos “apenas para serem sociáveis”.
Outro mecanismo, o deslocamento, desvia os impulsos sexuais ou
agressivos para um objeto mais aceitável psicologicamente do que aquele que os
despertou. Por exemplo, uma criança que está com sentimentos negativos como a
raiva por um conflito vivenciado com seus pais e não consegue expressar seu
sentimento contra eles, pode deslocar essa raiva para um amiguinho da classe, ou
mesmo para a professora.
Importante: Cabe ressaltar mais uma vez que esses mecanismos de defesa
funcionam de maneira indireta e inconsciente, reduzindo a ansiedade ao disfarçar os

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impulsos ameaçadores. Somente o profissional de psicologia poderá avaliar


questões patológicas relacionadas aos mecanismos de defesa.

REFERÊNCIAS
BOCK, A.M.B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: uma introdução ao
estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.

HUFFMAN, K.; VERNOY, M.; VERNOY, J. Psicologia. São Paulo: Atlas, 2003.
MYERS, D. Introdução à psicologia geral. Rio de Janeiro: LTC Editora AS, 1999.

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Aula 05_A psicologia da forma – Gestalt

Palavras-chave: Gestalt; percepção, assimilação.

Gestalt é um termo alemão de difícil tradução. O termo mais próximo em


português seria forma, figura, estrutura, todo, padrão etc.
Assim, Psicologia gestaltista ou gestáltica é o nome de uma escola
psicológica, fundada por Max Wertheimer, aproximadamente em 1910, na
Alemanha.
A percepção é o ponto de partida e também um dos temas centrais desta
teoria. Os experimentos com a percepção levaram os teóricos da Gestalt ao
questionamento de um princípio implícito na teoria behaviorista – em que há relação
de causa e efeito entre o estímulo e a resposta - porque, para os gestaltistas, entre
o estímulo que o meio fornece e a resposta do indivíduo, encontra-se o processo de
percepção. O que o indivíduo percebe e como percebe é um dado importante para
a compreensão do comportamento humano.
Na visão dos gestaltistas, o comportamento deveria ser estudado nos seus
aspectos mais globais, levando em consideração as condições que alteram a
percepção do estímulo.
O todo é mais que a soma das partes. Assim, uma paisagem não é apenas
relva + árvore + nuvens + outros detalhes. É uma percepção única, que depende do
relacionamento especial existente entre as partes.
A percepção que temos de um objeto qualquer é um todo, tem um caráter
global, é uma Gestalt. Esse todo depende do relacionamento especial existente entre
as partes.
Quando eu vejo uma parte de um objeto, ocorre uma tendência à restauração
do equilíbrio da forma, garantindo o entendimento do que estou percebendo. Na
percepção o todo pode exceder a soma de suas partes. Há muito mais na percepção
do que os sentidos podem alcançar.
Quando percebemos um objeto qualquer, algum aspecto dele se destaca,
aparece mais claramente. Chama-se figura esse aspecto que emerge contra um
fundo mais vago e que mais atrai a atenção. Por exemplo: em uma sinfonia, a
melodia é a “figura” e o acompanhamento é o “fundo”. A percepção de um objeto

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depende deste relacionamento. Conforme se dirija a atenção para um ou outro


aspecto do objeto, a percepção muda completamente.
A Gestalt encontra nesses fenômenos da percepção as condições para a
compreensão do comportamento humano. A maneira pela qual percebemos um
determinado estímulo irá desencadear nosso comportamento.
PERCEPÇÃO: RESPOSTA AO ESTÍMULO (pode ser mental, corporal,
comportamental).

INTERPRETAÇÃO – Organização mental dos estímulos

Gestalt
“cada parte é percebida como elemento formador do todo”
- os objetos parecem ser percebidos em relação ao seu fundo e esta relação
faz com que o indivíduo chegue a um julgamento (importância)
=> Figura e Fundo a parte que se destaca é denominada figura e o conjunto
menos definido chama-se fundo.
Imagem 4: Vaso de Rubin. Imagem preta e branca. Em preto vê-se um vaso. Em branco vê-
se duas faces rosto frente a frente

Disponível em: https://www.visaonainfancia.com/figura-fundo/


Acesso em 04 abr 2023

Figura e fundo
- O que nos permite diferenciar é o contorno (fronteira física que mais parece
pertencente à figura).

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- Se a figura não possui contorno claro tendemos a utilizar


o fechamento (tendência de completar a figura).

Aplicações à aprendizagem
Segundo Barros (1991), na Psicologia da Gestalt, há vários modos de
aprender: por gradação, diferenciação, assimilação e redefinição.
Aprendizagem por gradação: uma das maneiras de perceber coisas
consiste em se estabelecer um relacionamento de gradação entre as várias partes
da coisa percebida.
Kohler, R. Grisi e outros demonstraram isso em experimentos.
O fato de a criança, de início, perceber a forma total, a Gestalt das coisas, e
estabelecer gradação entre suas partes, aconselha o ensino pela apresentação
inicial de frases e palavras completas, para que haja oportunidade de
estabelecimento dessa relação de gradação, e desaconselha a apresentação inicial
de letras ou sílabas isoladas.(KOHLER apud BARROS, 1991, p.75).
Aprendizagem por diferenciação: é o processo que realizamos para
destacar, dentre as restantes, uma parte do objeto que estamos percebendo.
Assim, quando alfabetizamos uma criança, apresentamos a mesma palavra
em sentenças diferentes, para que essa palavra se destaque dentre as demais
(BARROS, 1991, p. 76). Veja o exemplo:

Lili tem uma pata


A pata nada no lago
As penas da pata são cinzas

Aprendizagem por assimilação. Este processo segue-se ao de


diferenciação.
Em relação à leitura, o aprendizado por assimilação é ilustrado pelo fato de
que uma criança é capaz de escrever uma palavra nova, por exemplo: camelo, por
ter aprendido anteriormente as palavras: boneca, menino e lobo (BARROS, 1991,
p. 78).
Aprendizagem por redefinição

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Redefinir significa perceber um estímulo de modo inteiramente novo,


conforme a situação total em que ele se apresenta a posição em relação aos demais
estímulos (BARROS, 1991, p.78).
Por exemplo, é diferente o modo pelo qual percebemos um simples ponto (.).
Na frase: O dia está bonito. O ponto é definido como ponto final.
Ele aparece em situações diferentes, nós o redefiniremos de várias maneiras:
como sinal de abreviatura, em: Dr. Sra. Ilmo.
Como pingo das letras i / j .
Como letra do código Morse, em _ _ . ... (mês)

Conforme o professor Grisi:


“As conclusões pedagógicas deste fato apresentam grande interesse.
Compreendemos como é inconveniente o ensino de um objeto isolado do
contexto total da situação em que ele desempenha certo papel. Por
exemplo: no ensino elementar da leitura, não é aconselhável estudar cada
um dos valores fonéticos das letras independentemente das situações em
que tais valores se apresentam. Uma letra, por exemplo, S ou X, é
diversamente percebida conforme a palavra em que a encontremos: soma,
casa, ansiedade, passo, horas, caixa, exame, próximo...” (GRISSE apud
BARROS, 1991, p. 79).

Desta forma, entende-se que o início de toda a atividade pedagógica deve


dar-se com a apresentação do objeto ou matéria da aprendizagem em situações
totais. Essa condição é necessária ao ato de aprender.
Será que estas percepções diferentes também não estariam presentes em
vários dos preconceitos que observamos? Reflita sobre isto.

REFERÊNCIAS
BARROS, C.S.G. Pontos de psicologia escolar. São Paulo: Ática, 1991.
BOCK, A.M.B; FURTADO, O; TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: uma introdução ao
estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.

CABRAL, C. & NICK, E. Dicionário técnico de psicologia. 10. ed. Revista e


ampliada. São Paulo: Cultrix, 2000.

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Aula 06_A psicologia humanista de Abraham Maslow e Carl Rogers

Palavras-chave: psicologia humanista; Maslow; Rogers

Nesta aula, iremos falar um pouco sobre a Psicologia Humanista e a forma


como o homem é abordado nesta teoria.
A Psicologia Humanista enfatiza a pessoa completa, para além de sua
compartimentalização. Dois teóricos ilustram essa ênfase no potencial humano e na
visão do mundo através dos olhos de uma pessoa: Abraham Maslow (1908-1970) e
Carl Rogers (1902-1987). Nesta aula, falaremos de Abraham Maslow.
Maslow cita o comportamento motivacional que, segundo ele, é explicado
pelas necessidades humanas. Para Maslow a motivação é o resultado de estímulos
que agem com força sobre os indivíduos, levando-os à ação. Para que haja ação ou
reação é preciso que um estímulo seja implementado, seja decorrente de coisa
externa ou proveniente do próprio organismo. Esta teoria nos dá ideia de um ciclo, o
Ciclo Motivacional.
Imagem 5: Fotografia, em preto e branco do teórico Abraham Maslow

Disponível em: https://filosofojr.wordpress.com/2012/04/27/abraham-maslow/


Acesso em 3 abr 2023

Maslow propôs que somos motivados por uma hierarquia de necessidades.


Se nossas necessidades fisiológicas, que estão na base da pirâmide estão

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atendidas, passamos a nos preocupar com a segurança pessoal; se alcançamos o


sentido de segurança, procuramos amar, ser amados e amar a nós mesmos. Depois
de atingirmos a autoestima, procuramos a autorrealização, ou seja, o processo de
satisfação total de nossos potenciais. Desta maneira, a hierarquia das necessidades
básicas propostas por Maslow teria a forma de pirâmide e cada degrau, as
necessidades, hierarquizadas:
• 1°necessidades fisiológicas (fome, sono, sede...)
• 2°necessidades de segurança (estabilidade, organização)
• 3°necessidades de amor e de pertinência (amizade, família)
• 4°necessidades de estima (aprovação, autorrespeito)
• 5°necessidades de autorrealização (desenvolvimento de suas
capacidades).

Maslow desenvolveu suas ideias por meio do estudo de pessoas saudáveis


e criativas, observou que elas possuíam determinadas características como:
autoconsciência e autoaceitação eram francas e espontâneas, afetuosas e
abnegadas, não se deixavam paralisar pelas opiniões dos outros. Concentravam seu
interesse em problemas, e não em si mesmas. Focalizavam suas energias numa
tarefa específica. Desfrutavam de pequeno número de relacionamentos profundos,
em vez de muitos, mas superficiais.
Maslow enfatizou que o desenvolvimento psicológico do ser humano ocorre
por meio da satisfação, bem-sucedida, de necessidades mais elevadas e
satisfatórias. Buscar a satisfação de necessidades mais elevadas é um indicativo de
saúde psicológica, e o crescimento dá-se pela autorrealização que representa um
compromisso a longo prazo com o próprio crescimento e o desenvolvimento máximo
das capacidades, e não em uma acomodação por falta de autoconfiança ou por
preguiça (FADIMAM & FRAGER, 2002).
Vejamos agora outro relevante autor humanista: Carl Rogers.
Carl Rogers nasceu em 1902, nos Estados Unidos. Considerava as
pessoas basicamente boas e dotadas de tendências para autorrealização. Cada um
de nós seria como uma semente, pronta para o crescimento e a realização, a menos
que seja frustrado por um ambiente que iniba seu desenvolvimento. Rogers definiu

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três condições para a constituição de um contexto que promova o crescimento:


autenticidade, aceitação e empatia.

Imagem 6: Fotografia colorida do teórico Carl Rogers

]
Disponível em: https://iptc.net.br/carl-rogers/
Acesso em 03 abr 2023

A terapia rogeriana define-se como não diretiva e centrada no cliente


(palavra que Rogers preferia a “paciente”), porque cabe a ele a responsabilidade
pela condução e pelo sucesso do tratamento. Para Rogers, o terapeuta apenas
facilita o processo. Em seu ideal de ensino, o papel do professor se assemelha ao
do terapeuta e o do aluno ao do cliente. Isso quer dizer que a tarefa do professor é
facilitar o aprendizado, que o aluno conduz a seu modo.
Segundo Rogers, as pessoas promovem nosso crescimento ao serem
genuínas verdadeiras - sendo francas com seus próprios sentimentos, abandonando
as fachadas, mostrando-se transparentes e autor reveladoras. Também promovem
o crescimento pela aceitação - ao nos oferecer consideração positiva
incondicional. É uma atitude que nos preza mesmo sabendo de nossas
deficiências.
Por fim, as pessoas alimentam o crescimento através da empatia. À medida
que as pessoas são ouvidas com empatia, torna-se possível para elas escutar com
mais precisão o fluxo das suas experiências interiores.
Para Rogers, a autenticidade, a aceitação e a empatia alimentam o
crescimento não apenas no relacionamento entre educador e educando, mas

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também entre pais e filhos, chefe e subordinado, gerente e membro da equipe - na


verdade, entre dois seres humanos, o que quer que sejam.
Para Maslow e mais ainda para Rogers, um aspecto central da
personalidade é o autoconceito: todos os pensamentos e sentimentos que temos
vão na direção de busca de uma resposta à indagação: “quem sou eu?” Se nosso
autoconceito é positivo, tendemos a agir e perceber o mundo de maneira positiva.
Se é negativo - se ficamos muito aquém do “eu ideal”, sentimo-nos insatisfeitos e
infelizes. Assim um objetivo importante para pais, professores e amigos é ajudar o
outro, a conhecer, aceitar e ser honesto consigo mesmo.
Rogers enfatizou que as forças positivas em direção à saúde e ao
crescimento são naturais e inerentes ao organismo e que os seres humanos têm a
capacidade de experienciar e de se tornarem conscientes de seus desajustamentos.
Esta capacidade que possuímos é associada a uma tendência subjacente à
modificação do nosso autoconceito. Postulou que o processo de ajustamento não é
estático, e desta forma, as novas aprendizagens e experiências são assimiladas
cuidadosamente.
Carl Rogers não acreditava nos sistemas educacionais que enfatizam
exageradamente o desempenho intelectual, desvalorizando, de alguma forma os
aspectos emocionais.
A motivação para aprender depende dos objetivos estabelecidos pelo
próprio aluno. É o interesse do aluno que determina os objetivos a serem alcançados.
E a tarefa do professor é oferecer um conjunto de possibilidades quanto aos recursos
didáticos. E, ele próprio deve considerar-se como um recurso a mais para o aluno.

REFERÊNCIAS
CABRAL, C. & NICK, E. Dicionário técnico de psicologia. 10. ed. Revista e
ampliada. São Paulo: Cultrix, 2000.

FADIMAN, J. & FRAGER, R. Teorias da Personalidade. São Paulo: HARBRA,


2002.
MYERS, D. Introdução à psicologia geral. Rio de Janeiro: LTC Editora AS, 1999.

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Aula 07_Psicologia da aprendizagem de David Ausubel e Jerome


Bruner

Palavras-chave: teorias cognitivistas; teoria da instrução; aprendizagem


significativa

Nesta aula, apresentaremos a Psicologia da Aprendizagem propriamente


dita e quais as contribuições para a Educação. Para a Psicologia, o conceito de
aprendizagem é complexo. Poderíamos dizer que a Psicologia da Aprendizagem
estuda o complexo processo através do qual as formas de pensar e os
conhecimentos existentes em uma sociedade são apropriados pela criança. (DAVIS
& OLIVEIRA, 2003).
Há um número considerável de teorias da aprendizagem. Estas são
genericamente agrupadas em duas categorias: teorias do condicionamento e teorias
cognitivistas. (BOCK, 2002)
As teorias do condicionamento definem a aprendizagem por meio de suas
consequências comportamentais e enfatizam as condições ambientais, como forças
que impulsionam a aprendizagem na conexão entre estímulo e resposta. Terminada
a aprendizagem, estímulo e resposta estarão de tal modo unidos que o aparecimento
do estímulo evoca a resposta aprendida e condicionada.
Já as teorias cognitivistas definem a aprendizagem como um processo de
relação do sujeito com o mundo externo e que tem consequências no plano da
organização interna do conhecimento (organização cognitiva). Assim, à medida que
o indivíduo adquire um número maior de novas ações, adquire também formas de
inserção em seu meio.
Para os cognitivistas, o que mantém um comportamento são os processos
cerebrais centrais, como a atenção e a memória, que são integradores dos
comportamentos. Para os teóricos do condicionamento, o comportamento é mantido
pela sequência de respostas.
Após compreendermos as definições de Psicologia da Aprendizagem e
segundo as teorias do condicionamento e as teorias cognitivistas, veremos um dos
principais representantes dentro da Psicologia da Aprendizagem – David Ausubel.
Sua teoria cognitivista da aprendizagem, propõe uma explicação teórica do processo
de aprendizagem; todavia, reconhece a importância da experiência afetiva. Para
Ausubel:

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“aprendizagem significa organização e integração do material na estrutura


cognitiva. É a estrutura cognitiva, entendida como conteúdo /total de ideias
de certo indivíduo e sua organização; ou conteúdo e organização de suas
ideias em uma área particular de conhecimentos.” (1968, pp. 37-39.)

Um dos pontos básicos de sua teoria é a cognição, definida por Ausubel


como “o processo pelo qual o mundo de significados tem origem”. À medida que o
ser se situa no mundo, estabelece relações de significação, isto é, atribui significados
à realidade em que se encontra. Estes significados são pontos de partida para a
atribuição de outros significados. Assim tem origem na estrutura cognitiva os
primeiros significados, constituindo-se em pontos básicos de ancoragem, dos
quais derivam outros significados. (BOCK, 2002).
Desta forma, observa-se que o cognitivismo se preocupa com o processo de
compreensão, transformação, armazenamento e utilização das informações no
plano da cognição.
Outro conceito importante para esta teoria é o de aprendizagem. Esta é
definida como o processo de organização das informações e de integração do
material à estrutura cognitiva. Esta teoria também diferencia aprendizagem
mecânica de aprendizagem significativa.
Assim, aprendizagem mecânica refere-se à aprendizagem de novas
informações, com pouca ou nenhuma associação com conceitos já existentes na
estrutura cognitiva.
Você consegue se lembrar daquelas fórmulas de química e física decoradas
para a prova?
Este é um exemplo típico deste tipo de aprendizagem, pois o conteúdo não
se relacionava com nada que você possuía em sua estrutura cognitiva (por isso você
apenas decorou, pois não entendia o que aquelas fórmulas diziam).
Agora, aprendizagem significativa processa-se quando um novo conteúdo
(informações, ideias), relaciona-se com conceitos relevantes, disponíveis e claros na
estrutura cognitiva, sendo assimilado por ela. Estes conceitos disponíveis são os
pontos de ancoragem para a aprendizagem.
Por exemplo, estamos mostrando para você um conceito novo - o de
aprendizagem significativa. Para que você tenha este conceito assimilado em sua
estrutura cognitiva, torna-se necessário que a noção de aprendizagem,
anteriormente apresentada a você, esteja lá, como ponto de ancoragem.

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Pontos de ancoragem: São formados com a incorporação, à estrutura


cognitiva, de elementos (ideias ou informações) relevantes para a aquisição de
novos conhecimentos e com a organização destes, de modo que, progressivamente,
generalizarem-se, formando conceitos.
Ausubel propõe, no que se refere à aprendizagem escolar, que sejam
estabelecidos dois tipos diferentes de processos ou dimensões, que dão lugar às
quatro classes fundamentais de aprendizagem incorporadas por sua teoria. A
primeira distinção é a que diferencia entre aprendizagem por recepção e
aprendizagem por descoberta. A segunda diz respeito às aprendizagens
significativas, por oposição às mecânicas ou repetitivas.
Na aprendizagem por recepção, o aluno recebe os conteúdos que deve
aprender em sua forma final, acabada; não necessita realizar nenhuma descoberta,
além da compreensão e da assimilação dos mesmos, de modo que seja capaz de
reproduzi-los, quando lhe for solicitado.
A aprendizagem pela descoberta implica uma tarefa diferente para o aluno;
neste caso, o conteúdo não se dá em sua forma acabada, mas deve ser descoberto
por ele. Esta descoberta, ou reorganização do material deve ser realizada antes de
poder assimilá-lo; o aluno reordena o material, adaptando-o à sua estrutura cognitiva
prévia, até descobrir as relações, leis ou conceitos que posteriormente assimila.
A aprendizagem significativa
Distingue-se por duas características: a primeira é que seu conteúdo pode
ser relacionado de um modo substantivo, não arbitrário, com os conhecimentos
prévios do aluno; a segunda é que este deve adotar uma atitude favorável para tal
tarefa, dotando de significados próprios os conteúdos que assimila.
A aprendizagem repetitiva
Produz-se quando os conteúdos da tarefa são arbitrários, quando o aluno
carece dos conhecimentos necessários para que os conteúdos se tornem
significativos, ou se adota a atitude de assimilá-los de modo repetitivo, arbitrário.
Ausubel considera evidente que a principal fonte de conhecimentos provém
da aprendizagem significativa. A aprendizagem por descoberta e, em geral, os
métodos de descoberta têm uma importância real na escola, especialmente durante
a etapa pré-escolar e os primeiros anos de escolaridade, assim como para
estabelecer os primeiros conceitos de uma disciplina em todas as idades e para

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avaliar a compreensão alcançada mediante a aprendizagem significativa. Contudo,


o corpo básico de conhecimentos de qualquer disciplina é adquirido mediante a
aprendizagem significativa, e é graças a este tipo de aprendizagem, por meio da
linguagem, que a humanidade construiu, armazenou e acumulou conhecimento e
cultura. Desta maneira, a tarefa do educador deve ser a de programar, organizar e
sequenciar os conteúdos, de modo que o aluno possa realizar uma aprendizagem
significativa, encaixando novos conhecimentos em sua estrutura cognitiva prévia e
evitando, portanto, a aprendizagem memorística ou repetitiva.
Segundo Ausubel (1968), o âmago do processo de aprendizagem
significativa está em que as ideias simbolicamente expressas sejam relacionadas de
maneira não arbitrária e substantiva ao que o aprendiz já sabe, ou seja, a algum
aspecto relevante da sua estrutura de conhecimento. Para este teórico, a
aprendizagem significativa pressupõe dois pontos importantes: l) que o material a
ser aprendido seja potencialmente significativo para o educando, e relacionável a
sua estrutura de conhecimento de modo não arbitrário e não literal; 2) o educando
deve manifestar uma disposição de relacionar o novo material de maneira
substantiva e não arbitrária à sua estrutura cognitiva. (MOREIRA & MASINI, 1982).
A partir de concepções sobre o processo de aprendizagem, alguns
pesquisadores, desenvolveram teorias sobre a aprendizagem, procurando discutir e
sistematizar o processo de organização das condições para a aprendizagem.
Dentre estes pesquisadores, destacaremos Jerome Bruner, que concebeu
o processo de aprendizagem como “captar as relações entre os fatos”, adquirindo
novas informações, transformando-as para novas situações.
Denominou suas ideias de teoria da instrução, não teoria da
aprendizagem, pois acredita que esta é descritiva, ou seja, relata o que aconteceu
após a aprendizagem ter ocorrido, pois teoria da instrução é prescritiva, ou seja,
prescreve como dada matéria pode ser ensinada de forma mais eficaz.
O ponto central de sua teoria é sua concepção de desenvolvimento cognitivo,
procurando explicar como a criança, nas diferentes etapas de sua existência, tende
a representar o mundo com o qual interage em três níveis de representação
cognitiva: enativa, icônica e simbólica. (BARROS, 1991).
Representação enativa (ou ativa): neste nível, a criança representa o
mundo pela ação. Por exemplo, se nós perguntarmos a uma criança onde fica o

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supermercado, ela muito provavelmente nos levará até lá; no entanto, não consegue
representar o caminho para chegarmos até lá.
Representação icônica: neste nível, a criança já possui a imagem ou
representação mental dos objetos: tal imagem existe independentemente da ação.
Um exemplo é verificarmos como a criança consegue desenhar um copo, sem
representar o ato de beber.
Representação simbólica: neste nível, a criança pode representar o mundo
por símbolos, abstratamente, sem necessidade de usar ação ou imagens, já
conseguindo traduzir a experiência vivida em linguagem.
O princípio geral que norteia a proposta de Bruner está na concepção do
ensino voltado para a compreensão das relações entre os fatos e entre as ideias,
como única forma de se garantir a transferência do conteúdo aprendido para novas
situações. Este mesmo princípio, Bruner acredita que deva ser utilizado para
trabalhar o erro do aprendiz. O erro deve ser instrutivo na sua concepção. O
professor deverá reconstituir com o aprendiz o caminho de seu raciocínio, para
encontrar o momento do erro, e a partir daí, reconduzi-lo ao raciocínio correto.
Para Bruner, o ensino envolve a organização da matéria de maneira eficiente
e significativa para o aprendiz. Desta maneira, o educador deve preocupar-se não
só com a extensão da matéria, mas, principalmente, com sua estrutura.
Compreende que a aprendizagem deve sempre ser capaz de nos levar
adiante, e está na dependência de como se domina a estrutura da matéria estudada,
isto é, a natureza geral do fenômeno; as ideias mais gerais, elementares e essenciais
da matéria. Para de fato, irmos adiante, torna-se necessário ainda o desenvolvimento
de uma atitude de investigação.
Assim, formula sua teoria enfatizando que a estrutura da matéria deve
caminhar no sentido de o conteúdo do ensino ser estruturado a partir dos conceitos
mais gerais e essenciais desta matéria e, a partir daí, desenvolver-se como uma
espiral - no sentido dos conceitos mais gerais para os particulares, aumentando
gradativamente a complexidade das informações. (BOCK, 2002).
Quanto à atitude de investigação, Bruner sugere que seja utilizado o método
da descoberta como método básico do trabalho educacional, pois concebe que o
aprendiz tem condições de percorrer o caminho da descoberta científica,
investigando, perguntando, experimentando e descobrindo.

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Bruner concebe o trabalho do professor como o de um tradutor: traduzir a


linguagem da ciência para a linguagem da criança. Bruner acredita que o
desenvolvimento do ser humano, em grande parte é resultante da estimulação
ambiental. Desta maneira, insiste em que o ambiente onde a criança vive pode
determinar grandes diferenças em relação à idade em que passam pelos diversos
estágios, coincidindo desta maneira com Piaget. (BARROS, 1996).
Reforça que uma variedade de estímulos e mudanças no ambiente são
necessários para um desenvolvimento cognitivo adequado, enfatizando que a
criança deve ser exposta, desde cedo, a estímulos variados.
Este teórico acredita que a criança tem dentro de si um grande desejo de
aprender, é naturalmente curiosa e isto deve ser muitíssimo aproveitado em sua
educação.

REFERÊNCIAS

BOCK, A.M.B; FURTADO, O; TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: uma introdução ao


estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.

CABRAL, C. & NICK, E. Dicionário técnico de psicologia. 10. ed. Revista e


ampliada. São Paulo: Cultrix, 2000.

DAVIS, C. & OLIVEIRA, Z. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1994.

MOREIRA, M. A & MASINI, E.F.S. Aprendizagem significativa: a teoria de David


Ausubel. São Paulo: Editora Moraes, 1982.

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Aula 08_ A concepção interacionista e a teoria de Jean Piaget


Palavras-chave: Piaget; interacionista; estágios de desenvolvimento

Vamos agora estudar o enfoque interacionista do desenvolvimento humano.


Os interacionistas acreditam na interação entre o organismo e o meio, e na
ação recíproca entre ambos promovendo mudanças sobre o indivíduo. Desta forma,
podemos dizer que é na interação da criança com o mundo físico e social que as
características e particularidades desse mundo vão sendo conhecidas. Para que seja
possível a construção deste conhecimento sobre o mundo, para cada criança, torna-
se necessário uma elaboração, ou seja, uma ação desta criança sobre o mundo.
É importante observar que, para a concepção interacionista, o conhecimento
não é algo pronto e acabado ou adquirido de maneira passiva em relação ao meio;
ao contrário, o que é enfatizado é a interação entre o organismo e o meio, e nesta
interação o conhecimento vai se construindo ao longo da vida do indivíduo por meio
de sua ação sobre o mundo.
Esta teoria dá importância tanto aos fatores subjetivos quanto aos fatores
objetivos, ambos igualmente importantes para o desenvolvimento da criança. Temos
dois importantes representantes desta corrente interacionista: o suíço Jean Piaget e
o russo Lev S. Vygotsky. Nesta aula iremos contemplar a teoria de Jean Piaget.
Quem foi Jean Piaget e qual a importância de sua obra, para que hoje
compreendamos como o conhecimento se desenvolve? A teoria de Jean Piaget é
explicada por vários autores, como Wadsworth, 1992; Davis et al.,1990. As
discussões que se seguem baseiam-se nestes autores.
Imagem 7: Fotografia, em preto e branco, do teórico Jean Piaget

Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1709/jean-piaget-o-biologo-que-


colocou-a-aprendizagem-no-microscopio
03 abr 2023

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Piaget defende a visão interacionista do desenvolvimento humano.


Seu trabalho foi baseado em procurar compreender o nascimento e a
evolução do pensamento humano, por meio do estudo profundo e cuidadoso da
maneira pela qual as crianças constroem as noções fundamentais, tais como: as de
tempo, espaço, objeto, causalidade etc.
Seu trabalho iniciou com crianças de escolas francesas, submetidas a testes
de inteligência, cujas respostas eram tidas como erradas. Piaget começou a
perceber que estas respostas eram consideradas erradas a partir do ponto de vista
do adulto e que a criança não é um adulto em miniatura. Ela possui uma lógica de
funcionamento mental que difere qualitativamente da lógica de funcionamento do
adulto.
Com esta observação em mente, Piaget começou então a investigar como
esta lógica de funcionamento mental infantil se transforma em uma lógica adulta,
tendo como princípio o ponto de vista de que o desenvolvimento humano se dá por
meio de um processo contínuo de trocas entre o organismo vivo e o meio ambiente,
em que ocorre uma assimilação progressiva do meio ambiente, que implica em
uma acomodação das estruturas mentais a estes aspectos novos do mundo externo.
Os quatro conceitos básicos do desenvolvimento cognitivo de Piaget são:
esquema, assimilação, acomodação e equilibração.
Esquemas são estruturas mentais com que os indivíduos intelectualmente
se adaptam e organizam o ambiente. Estes não têm correlatos físicos, não são
observáveis; são conjuntos de processos dentro do nosso sistema nervoso. É do
esquema que brota o comportamento.
Ao nascer, os bebês sugam tudo aquilo que for colocado em suas bocas,
sem diferenciar a mamadeira do dedo ou do bico do seio. Algum tempo depois, já
conseguem fazer uma diferenciação quando estão com fome. (BARROS, 1996).
Os esquemas mentais do adulto resultam dos esquemas da criança e são
mais numerosos e complexos, como também refletem seu nível atual de
compreensão e conhecimento do mundo.
Assimilação é o processo de entrada, de encaixe de um novo objeto num
esquema mental já existente. Pela assimilação, os estímulos são “forçados” a se
ajustarem aos esquemas da pessoa. (BARROS, 1996).

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A assimilação ocorre continuamente, pois o ser humano está continuamente


processando um grande número de estímulos, possibilitando a ampliação dos
esquemas e explicando, desta forma, o crescimento da inteligência. Está refletindo
uma mudança quantitativa na vida mental.
Acomodação é o processo cognitivo através do qual ideia, informações,
objetos são incorporados a padrões de comportamento, ou esquemas já existentes.
Neste processo a pessoa é “forçada” a mudar seus esquemas ou criar novos
esquemas para acomodar os novos estímulos. (BARROS, 1996).
No processo de assimilação, não ocorrem mudanças dos esquemas, e sim
ampliação. No processo de acomodação há transformação.
Segundo Cláudia Davis e Zilma de Oliveira (1994), embora a assimilação e
a acomodação sejam processos distintos e opostos, numa realidade eles ocorrem
ao mesmo tempo. Por exemplo: ao pegar uma bola, ocorre assimilação, na medida
em que a criança pequena faz uso do esquema de pegar (certa postura de braço,
mão e dedos) já conhecido, atribui à bola o significado de “objeto que se pega”.
No entanto, a acomodação também está presente, uma vez que o esquema
em questão precisa ser modificado para ajustar-se às características do objeto.
Assim, a abertura dos dedos e a força empregada para retê-lo são diferentes quando
se pega uma bola de gude ou uma bola de futebol. (DAVIS & OLIVEIRA,
2003).
Uma das grandes contribuições dos estudos de Piaget foi a de poder
demonstrar que existem formas de perceber, compreender e de se comportar diante
do mundo, próprias de cada faixa etária.
Para Piaget, o processo de adaptação dos seres humanos refere-se à
assimilação e acomodação. A assimilação, como já vimos é o processo de entrada
(alimentos, ações ou experiências), e a acomodação é o processo de organizar,
hospedar, organizar o conhecimento.
Assimilação é o processo cognitivo pelo qual objetos, pessoas, ideias,
informações são incorporadas a esquemas ou padrões de comportamento já
existentes.
A assimilação não resulta em mudanças de esquemas, mas afeta a
ampliação deles. A transformação dos esquemas ocorre através do outro processo,

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o de acomodação. Na realidade, a assimilação de algo novo é sempre intermediada


pela acomodação, que é um processo de ajustamento.
Assim, quando não é possível ajustar um estímulo novo a um esquema já
existente, pelo fato de não existir uma estrutura cognitiva na qual o estímulo possa
adaptar-se, então se inicia o processo de acomodação.
Pode-se definir a acomodação como a criação de novos ou a modificação
de velhos esquemas, produzindo mudanças na estrutura cognitiva (esquemas) ou
no seu desenvolvimento. Uma vez modificada a estrutura cognitiva, o estímulo é
prontamente assimilado. A assimilação é, portanto, sempre o fim desse processo.
O que Piaget defende com sua teoria é que a criança é um ser agente no
processo de desenvolvimento. Segundo ele, o homem não é um ser passivo, que
apenas reage a ruídos, luzes e perda de apoio. Ele é um organismo ativo e curioso
que experimenta e busca meios de regular o equilíbrio entre a assimilação e a
acomodação, ou seja, entre sua realidade interior e a do mundo.
O ponto-chave do desenvolvimento para Piaget é a busca da equilibração.
O organismo está constantemente desequilibrando-se diante de novos e contínuos
estímulos externos e, através da assimilação e acomodação desses novos
estímulos, o organismo estará sempre procurando uma nova equilibração. Nesse
processo, ocorre o desenvolvimento.
A equilibração é definida por Piaget como um processo autorregulador,
dinâmico e contínuo. Sua função é produzir uma coordenação balanceada entre
assimilação e acomodação. Portanto, esse processo é um mecanismo de
crescimento e aprendizagem.
Assim, o desenvolvimento é um processo de equilibração e de adaptação
constante e progressiva que vai de um estado inferior até um estado mais elevado
de equilíbrio. É a busca de equilíbrio que impulsiona o indivíduo, seu organismo, sua
mente e uma autorregulação e em direção a níveis mais elevados de pensamento.
Para Piaget, o desenvolvimento é um processo de equilibrações sucessivas,
porém, embora contínuo o desenvolvimento é caracterizado por diversas fases,
etapas, ou períodos, em que cada uma delas define um momento de
desenvolvimento, ao longo do qual a criança constrói certas estruturas cognitivas.
Desta maneira, Piaget considera que o desenvolvimento passa por quatro etapas

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distintas: sensório-motora, pré-operatória, operatório-concreta e operatório-


formal. (DAVIS & OLIVEIRA, 2003).
Cada uma destas quatro etapas possui características que lhe são
peculiares. Vejamos quais são estas características.

Imagem 8: Criança, aproximadamente 2 anos, brincando

Disponível em: http://psicopedagogiacuritiba.com.br/fases-desenvolvimento-infantil-parte-


2-estagio-sensorio-motor/
Acesso em 03 abr 2023

Etapa sensório-motor: nascimento até os dois anos de idade.


Ocorre do nascimento até, aproximadamente, os dois anos de idade, e a
atividade intelectual é de natureza sensório-motora: o bebê percebe o ambiente e
age sobre ele. A sua principal ocupação é com a interação dos sentidos (audição,
visão, tato etc.) com o ambiente. Nela, a criança baseia-se exclusivamente em
percepções sensoriais e em esquemas motores que são construídos a partir de
reflexos inatos, por exemplo, a sucção, para resolver seus problemas, que são
essencialmente práticos: bater numa caixa, pegar um objeto, jogar a bola etc.
Nesse período, muito embora a criança já tenha uma conduta inteligente,
considera-se que ela ainda não possui pensamento lógico. Isto porque, nessa idade,
a criança não dispõe ainda da capacidade de representar eventos, de evocar o
passado e de referir-se ao futuro. Está presa ao aqui e agora da situação. Para
conhecer, portanto, lança mão de esquemas sensório-motores: pega, balança, joga,
bate, morde objetos e atua sobre os mesmos de uma forma “pré-lógica”, colocando
um sobre o outro, um dentro do outro. (DAVIS & OLIVEIRA, 2003)

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A partir da construção de esquemas pela transformação da sua atividade


sobre o meio, a criança vai construindo e organizando noções. Nesse processo,
afetividade e inteligência são aspectos indissociáveis e influenciados, desde cedo,
pela socialização. (DAVIS & OLIVEIRA, 2003)
Dentre as principais aquisições do período sensório-motor, destaca-se a
construção da noção de “eu”. Esta construção vai ajudar o bebê a, aos poucos, ir
diferenciando o mundo externo do seu próprio corpo. O bebê explora o seu corpo,
conseguindo perceber suas diversas partes, e provavelmente vai experimentando
emoções diferentes, o que também vai dando contribuição para a formação da base
do seu autoconceito.
Aos poucos este período vai-se modificando, e esquemas cada vez mais
complexos são construídos, preparando o surgimento da função simbólica, ou seja,
a capacidade de representar eventos futuros.
A etapa pré-operatória: dos 2 anos aos 7 anos, aproximadamente.
Imagem 9: Imagem de desenho com duas crianças do sexo masculino brincando com
cavalos e espadas de madeira

Disponível em: http://psicologiad40.blogspot.com/2012/06/estagio-pre-operatorio.html>


Acesso em 04 abr 2023

Por volta dos dois anos, aproximadamente, surge a linguagem oral,


ocorrendo uma grande transformação na qualidade do pensamento em relação à
etapa anterior. O surgimento da linguagem oral possibilitará à criança dispor, além

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da inteligência prática construída na fase anterior, de esquemas interiorizados,


chamados de esquemas representativos ou simbólicos, ou seja, esquemas que
envolvem uma ideia preexistente a respeito de algo: a criança começa a usar
símbolos, imagens ou palavras, que representam coisas e pessoas que não estão
presentes. (BARROS, 1996).
Assim, a partir dos dois anos em diante, a criança possuidora dessas novas
possibilidades de lidar com o meio, poderá tomar um objeto ou uma situação por
outra, por exemplo: pode tomar uma boneca por um bebê ou pegar uma chave,
colocá-la na mão e agir como se fosse seu pai preparando-se para sair de casa.
Pode substituir objetos, ações, situações e pessoas por símbolos, que são as
palavras. Compreende que “papai” se refere a uma pessoa específica, que dizer
“água” indica a expressão de um desejo. Tem origem, então, o pensamento
sustentado por conceitos. (DAVIS & OLIVEIRA, 2003).
O pensamento pré-operatório indica, portanto, inteligência capaz de ações
interiorizadas, ações mentais. É diferente do pensamento adulto: depende das
experiências infantis e, ao referir-se a elas, a criança as centra em si mesma; por
isto mesmo, o pensamento pré-operatório recebe o nome de pensamento
egocêntrico (ou seja, centrado no ego, no sujeito). É um pensamento não flexível
que tem como ponto de referência à própria criança. Veja o exemplo abaixo:
Adulto: quantos irmãos você tem?
Criança: eu tenho só um irmão.
Adulto: e seu irmão, quantos irmãos tem?
Criança: meu irmão! Ora, nenhum...
Observe que a criança leva em consideração apenas o seu próprio ponto de
vista, não conseguindo ainda colocar-se ou perceber o outro, na sua forma de sentir
ou pensar. Essa forma de pensar, onde há uma tendência a tomar o próprio ponto
de vista como sendo único, é chamada de egocentrismo.
Outra característica do pensamento desta etapa é o animismo, ou seja,
atribuir aos fenômenos vida e consciência. Por exemplo: ao ver o reflexo do sol na
janela do carro que se locomove, a criança diz que este tem vida (por parecer se
locomover junto com o carro).
Uma segunda característica do pensamento da criança nesta etapa é
o artificialismo, ou seja, a criança considera que as coisas são produtos da

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fabricação e da vontade humanas; assim, pensa que os rios e as montanhas foram


construídos pelo homem.
Uma terceira característica interessante do pensamento é o finalismo. Para
a criança nesta etapa, cada coisa tem uma função e uma finalidade que justificam
sua existência e suas características. Por exemplo: a criança acredita que as nuvens
se deslocam de um lugar para ir para outro, porque têm que ir chover neste outro
lugar e que as árvores grandes aparecem nos passeios longos, e nos passeios
curtos aparecem às pequenas.
O pensamento pré-operatório é também extremamente dependente da
percepção imediata, sofrendo com isto uma série de distorções. Veja este exemplo:
uma criança de cinco anos terá dificuldade em considerar iguais duas filas
compostas do mesmo número de elementos, se uma delas “parecer” mais comprida
que a outra.
A criança, no período pré-operatório, não tem noção de conservação. Para
ela, mudando-se a aparência do objeto, muda também a quantidade, o volume, a
massa e o peso do mesmo.
As ações, no período pré-operatório ainda não são reversíveis. Vejamos este
exemplo simples que nos é dado por Davis e Oliveira (1994): “Ao se pedir para uma
criança de quatro anos acrescentar 3 lápis a uma determinada quantidade de lápis
e depois retirar 3, ela não entenderá que ficou com o número inicial de lápis, a não
ser que faça a contagem dos lápis disponíveis em todos os momentos da operação.”
Observe que falta uma das condições de pensamento necessárias para que haja
uma operação: a reversibilidade. Neste período, a criança ainda não é capaz de
perceber que é possível retornar, mentalmente, ao ponto de partida.

REFERÊNCIAS

BARROS, C.S.G. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática,


2002.

BARROS, C.S.G. Psicologia e construtivismo. São Paulo: Ática, 1996.

CABRAL, C. & NICK, E. Dicionário técnico de psicologia. 10. ed. Revista e


ampliada. São Paulo: Cultrix, 2000.

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DAVIS, C. & OLIVEIRA, Z. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1994.

SPRINTHALL, RC; SPRINTHALL, N.A. Educational Psychology.Reading,


Addison-Wealey, 1977.

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Aula 09_As etapas do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget


Palavras-chave: sensório-motor; pré-operatória; operatório- concreto; operatório-
formal.

Nesta aula daremos continuidade aos estudos das etapas de


desenvolvimento segundo Jean Piaget. Vimos anteriormente às características do
das etapas sensório-motor e pré-operatório. Sigamos com as caraterísticas das
etapas operatório concreto e operatório formal.

A etapa operatório-concreta: dos 7 aos 12 anos, aproximadamente.

Por volta dos sete, até os 12 anos de idade, as operações da inteligência


infantil são concretas, ou seja, só se referem a objetos que podem ser manipulados.
Ao longo desta etapa, as ações interiorizadas cada vez mais vão se tornando
mais reversíveis e consequentemente, flexíveis. O seu pensamento vai se tornando
menos egocêntrico.
O pensamento é denominado operatório, porque é reversível:
a criança pode retornar, mentalmente, ao ponto de partida, por exemplo: a criança
opera quando tem noção de que 3 + 4 = 7, pois sabe que 7 – 4 = 3.
Imagem 9: Crianças em sala de aula olhando para relógio enquanto a professora aponta
para os números presentes no objeto.

Disponível em: http://psicopedagogiacuritiba.com.br/fases-desenvolvimento-infantil-parte-4-estagio-


operatorio-concreto/>acessoem 03 set. 2019.
Acesso em 03 abr 2023

A construção das operações possibilita a noção de conservação. O


pensamento agora se baseia mais no raciocínio do que na percepção. Neste período
de desenvolvimento, o pensamento operatório é denominado concreto, porque a

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criança só consegue pensar corretamente se puder apoiar seu pensamento em algo


que exista concretamente e possa ser observado. A criança não consegue ainda
pensar abstratamente.

A etapa operatório-formal: após os 12 anos de idade


Esta etapa se dá após os 12 anos de idade, quando a criança já não depende
tanto da percepção ou da manipulação de objetos concretos. Encontrando-se nesta
etapa, o púbere torna-se capaz de raciocinar logicamente, mesmo se o conteúdo do
seu raciocínio for incompleto; pode pensar de modo lógico e correto mesmo com um
conteúdo de pensamento incompatível com o real. Já a criança na etapa operatório-
concreta, não: ela se desequilibra e falseia no raciocínio, porque é prisioneira da
realidade concreta. (DAVIS & OLIVEIRA, 2003).

Imagem 10: Fotografia de diversos adolescentes segurando cadernos de estudos.

Disponível em: http://geopsic.blogspot.com/2011/11/jean-piaget-periodo-operatorio-


formal.html
Acesso em 03 abr 2023

A partir dos 13 anos, o raciocínio pode, pela primeira vez, utilizar hipóteses,
que são possibilidades, nem falsas nem verdadeiras. O pensamento formal é,
portanto, hipotético-dedutivo, ou seja, é capaz de deduzir conclusões a partir depuras
hipóteses, e não somente através de observação real.

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Ao atingir a etapa operatório-formal, o adolescente atinge o grau mais


complexo do seu desenvolvimento cognitivo. A partir de agora, a tarefa será apenas
a de ajustar, solidificar suas estruturas cognitivas.
Para Jean Piaget, as etapas de desenvolvimento do pensamento são, ao
mesmo tempo, contínuas e descontínuas. São contínuas porque sempre se apoiam
na anterior, incorporando-a e transformando-a e descontínuas, porque cada nova
etapa não é mero prolongamento da que lhe sucedeu: transformações qualitativas
radicais ocorrem no modo de pensar dos adolescentes e jovens.
Torna-se importante observarmos que as diferentes etapas cognitivas
apresentam características que lhes são próprias e cada uma delas constitui um
determinado tipo de equilíbrio, e ao longo de todo o desenvolvimento mental, o ser
humano passa de uma etapa para outra, buscando um novo e mais completo
equilíbrio que depende, todavia, das construções anteriores.

REFERÊNCIAS

BARROS, C.S.G. Pontos de psicologia escolar. São Paulo: Ática, 1991.

BARROS, C.S.G. Psicologia e construtivismo. São Paulo: Ática, 1996.

DAVIS, C. & OLIVEIRA, Z. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1994.

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Aula 10_A teoria de Lev Semionovitch Vygotski e a função da


brincadeira.

Palavras-chave: mediação; interações humanas; interação dialética; brincar.

Um outro tipo de interacionismo foi proposto Lev Seminovitch Vygotsky


(1896- 1934). Nascido na Rússia escreveu, em sua curta vida, uma ampla e
importante obra. Vamos conhecer?

Imagem 10: Fotografia em preto e branco do teórico


Lev Seminovitch Vygotsky

Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/382/lev-vygotsky-o-teorico-do-ensino-


como-processo-social
Acesso em 04 abr

Vygotsky atribui importância ímpar ao papel da interação social no


desenvolvimento do ser humano, defendendo a ideia de contínua interação entre as
mutáveis condições sociais e a base biológica do comportamento humano. Partindo
de estruturas orgânicas elementares, determinadas basicamente pela maturação,
formam-se novas e mais complexas funções mentais, a depender da natureza das
experiências sociais a que as crianças se acham expostas. (DAVIS & OLIVEIRA,
2003).
Com a ajuda do adulto, as crianças assimilam ativamente aquelas
habilidades que foram construídas pela história social ao longo de milênios: aprende
a sentar-se, andar, comer com talheres etc. Pelas intervenções constantes do adulto

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e de crianças mais experientes, os processos psicológicos mais complexos


começam a se formar. (REGO, 1995).
A fala tem um papel fundamental como organizadora da atividade prática e
das funções psicológicas humanas, pois é através dela que o ambiente físico e social
pode ser mais bem compreendido, modificando, desta forma, a qualidade do
conhecimento e do pensamento que o ser humano tem a respeito do mundo que o
cerca.
Na visão de Vygotsky, pensamento e linguagem são interligados e é no
cruzamento dos elementos comuns de ambos que nasce o pensamento verbal. Este,
porém não inclui, todas as formas de pensamento ou de linguagem.
Vygotsky não aceita a possibilidade de existir uma sequência universal de
estágios cognitivos, como propõe Piaget. Para Vygotsky, os fatores biológicos
preponderam sobre os sociais apenas no início da vida das crianças e as
oportunidades que se abrem para cada uma delas são muitas e variadas, adquirindo
destaque em sua teoria as formas pelas quais as condições e as interações humanas
afetam o pensamento e o raciocínio.
É importante ressaltar que, nesta abordagem, o que ocorre não é uma
somatória entre fatores inatos e adquiridos e, sim, uma interação dialética que se dá,
desde o nascimento, entre o ser humano e o meio social e cultural em que se insere.
A parte mais conhecida da extensa obra produzida por Vygotsky em seu
curto tempo de vida converge para o tema da criação da cultura. Aos educadores
interessa, em particular, os estudos sobre desenvolvimento intelectual. Vygotsky
atribuía um papel preponderante às relações sociais nesse processo, tanto que a
corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de
socioconstrutivismo ou sociointeracionismo.
O papel mediador do professor na dinâmica das interações interpessoais e
na interação das crianças com os objetos de conhecimentos.
Segundo Vygotsky, as demonstrações, explicações, justificativas e
questionamentos do professor são fundamentais no processo educativo. Isto não
quer dizer que ele deva “dar sempre a resposta pronta”. Tão importante quanto o
fornecimento de informações e pistas é a promoção de situações que incentivem a
curiosidade das crianças, que possibilitem a troca de informações entre os alunos e
que permitam o aprendizado das fontes de acesso ao conhecimento. Neste caso, é

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importante que se planejem atividades que envolvam observação, resolução de


questões específicas (que podem ser respondidas individual ou em grupos maiores)
ou mesmo propostas de estudos e preparação de seminários, palestras ou outras
apresentações. (REGO, 1995)
Conhecer o nível efetivo das crianças: suas descobertas, crenças, opiniões,
“teorias” a respeito do mundo que as cerca, bem como estabelecer uma relação de
diálogo com as crianças criando situações onde elas possam se expressar é o
caminho que este teórico indica como sendo propiciador de avanços, reestruturação
e ampliação do conhecimento já tido pela criança.
A função da brincadeira no desenvolvimento infantil, segundo Vygotsky
Para Vygotsky, o ensino sistemático não é o único fator responsável por
alargar os horizontes da zona de desenvolvimento proximal (ZDP), descrita como
“caminho que a criança vai percorrer para desenvolver funções que estão em
processo de amadurecimento e que se tornarão funções consolidadas,
estabelecidas no seu nível de desenvolvimento real”. (VYGOTSKY apud
BARROS,1996).
Este teórico considera o brinquedo uma importante fonte de promoção do
desenvolvimento. Apesar de não ser um dos aspectos mais predominantes da
infância, o brinquedo exerce uma enorme influência no desenvolvimento infantil. O
brinquedo dá origem a situações imaginárias que, aos poucos, vão auxiliando a
criança a se libertar das limitações da percepção das situações concretas em que
ela se encontra, permitindo-lhe atuar a partir de representações mentais. Conflitos e
tensões entre os desejos infantis e suas limitações grandemente impostas pelos
adultos são resolvidos no brinquedo. (BARROS, 1996).
Sendo a brincadeira uma atividade que não visa a um resultado, seu objetivo
está na ação em si mesma, e o brinquedo a principal atividade, não pela quantidade
de tempo em que a criança dele se ocupa, mas pela sua relação com o
desenvolvimento psíquico infantil.
Nas situações de brincadeira, a criança cria uma situação ilusória e
imaginária, como forma de satisfazer seus desejos não realizáveis. Esta é, aliás, a
característica que define o brinquedo de um modo geral. A criança brinca pela
necessidade de agir em relação ao mundo mais amplo dos adultos e não apenas ao
universo dos objetos a que ela tem acesso.

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Imagem 11: Fotografia com 3 crianças, aproximadamente 3 anos. Brincam com baldes e
areia.

Disponível em: https://recantoestela.com.br/criancas-brincando-na-areia-beneficios/


Acesso em 3 abr 2023

A brincadeira representa a possibilidade de solução do impasse causado, de


um lado, pela necessidade de ação da criança e, de outro, por sua impossibilidade
de executar as operações exigidas por essas ações. “A criança quer ela mesma guiar
o carro; mas não pode agir assim, e não pode, principalmente porque ainda não
dominou e não pode dominar as operações exigidas pelas condições objetivas reais
da ação dada” (LEONTIEV, 1988, p.121). Assim, através do brinquedo, a criança
projeta-se nas atividades dos adultos, procurando ser coerente com os papéis
assumidos.
Mesmo havendo uma significativa distância entre o comportamento na vida
real e o comportamento no brinquedo, a atuação no mundo imaginário e o
estabelecimento de regras a serem seguidas criam uma zona de desenvolvimento
proximal, na medida em que impulsionam conceitos e processos de
desenvolvimento. (REGO, 1996.)

REFERÊNCIAS
BARROS, C.S.G. Pontos de Psicologia Escolar. São Paulo: Ática, 1991.

BARROS, C.S.G. Psicologia e construtivismo. São Paulo: Ática, 1996.

REGO, C. T. Vygotsky: uma perspectiva histórica cultural da educação. São


Paulo: Vozes, 1996.

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SABINI, M.A.C. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática, 2004.

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Aula 11_A abordagem de Henri Wallon e o papel da afetividade na


Escola.

Palavras-chave: afetividade; movimento, inteligência; formação docente.

Nesta aula, falaremos sobre outro importante teórico da aprendizagem


humana: Henri Wallon. Nascido em Paris, em 1879 e falecido em 1962. Viveu em
um período marcado por instabilidade social e turbulência política, as duas guerras
mundiais, que foram fundamentais na construção da sua teoria pedagógica.
Imagem 12: Fotografia em preto e branco do teórico Henri Wallon

Disponível em:
https://guiadofuturo.com.br/henri-wallon/
Acesso em 03 abr 2023
Em 1914, atuou como médico do exército francês, permanecendo vários
meses no combate. O contato com lesões cerebrais de ex-combatentes fez com que
revisse posições neurológicas que havia desenvolvido no trabalho com crianças
deficientes, ao cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos.
Ao longo de toda a vida, dedicou-se a conhecer a infância e os caminhos da
inteligência nas crianças. Participou ativamente das propostas de reforma do sistema
educacional francês, notadamente na coordenação do projeto Langevin Wallon, de
Reforma do Ensino.

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A ABORDAGEM TEÓRICA DE HENRI WALLON


A gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social, ou
seja, o “ser humano é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a
intervenção da cultura para se atualizar” (GALVÃO, 2001).
Admite o organismo como condição primeira do pensamento, pois toda a
função psíquica supõe um componente orgânico. No entanto, considera que não é
condição suficiente, pois o objeto de ação mental vem do ambiente no qual o sujeito
está inserido, ou seja, de fora.
A ideia walloniana é que o ambiente e a criança influenciam-se
reciprocamente e que cada criança estabelece um sistema próprio de relação com o
meio, a cada momento. Podemos observar este aspecto nas atividades em que ela
se envolve na forma pela qual interage com os demais, no tempo que dedica a cada
atividade, no significado que atribui a aspectos da situação, nos locais e objetos que
seleciona para brincar. Cada meio ambiente estabelece determinadas condições
(meios) de desenvolvimento para a criança, e esta vai selecionar, dentre os
elementos nele disponíveis, aqueles que seriam condições para a realização de seus
objetivos.
Wallon realiza um estudo que é centrado na criança contextualizada, em que
o ritmo no qual se sucedem as etapas do desenvolvimento é descontínuo, marcado
por rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa, profundas
mudanças nas anteriores.
A passagem dos estágios de desenvolvimento não se dá linearmente, por
ampliação, mas por reformulação, instalando-se no momento da passagem de uma
etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança.
Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano, de acordo com
Wallon, que se sucedem em fases com predominância afetiva e cognitiva são:
Impulsivo-emocional: ocorre no primeiro ano de vida. Neste período a
predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas, as
quais intermedeiam sua relação com o mundo físico.
Sensório-motor e projetivo: vai até os três anos de vida. As aquisições da
marcha e da preensão dão à criança maior autonomia na manipulação de objetos e
na exploração dos espaços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da
função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-se ao fato da ação do

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pensamento precisar dos gestos para se exteriorizar. Segundo Wallon, ato mental
se desenvolve a partir do ato motor.
Personalismo: situa-se dos três aos seis anos de vida. Neste estágio
desenvolve-se a construção da consciência de si mediante as interações sociais,
reorientando o interesse das crianças pelas pessoas.
Categorial: dos 6 aos 11 anos, os progressos intelectuais dirigem o interesse
da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior.
Adolescência: a partir dos 11 anos ocorre nova definição dos contornos da
personalidade, desestruturados devido às modificações corporais resultantes da
ação hormonal. Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona pelo
adolescente, neste estágio.
Na sucessão de estágios, há uma alternância entre as formas de atividades
e de interesses da criança, denominada de “alternância funcional”, em que cada fase
predominante (de dominância, afetividade, cognição) incorpora as conquistas
realizadas pela outra fase, construindo-se reciprocamente, num permanente
processo de integração e diferenciação.
Segundo Wallon, ao nascer, a criança dispõe de expressividade que garante
que suas demandas, solicitações, sejam atendidas por outro membro da espécie.
Mas ainda, o meio humano serviria de intermediário até para as relações diretas
indivíduo-meio físico. Isso ocorre porque a emoção que a criança dispõe ao nascer
garante o surgimento de reações sensório-motrizes que irão constituir novas
condições de desenvolvimento, capazes de introduzir o indivíduo no ambiente físico
e, posteriormente, no das representações, garantindo-lhe o acesso ao meio
simbólico, cultural.
Na perspectiva walloniana, a inteligência está sempre a serviço da pessoa.
As etapas da inteligência são pensadas como instrumentos do “eu”e não como um
fim em si mesmas. Suas diferentes estruturas constituem recursos adicionais postos
a serviço de um “eu” ampliado e flexibilizado.
A criança, no início do desenvolvimento não está empenhada na “construção
do real”, mas sim, em constituir-se a si mesma, em explorar o corpo, em verificar os
próprios limites físicos, para só depois se entregar à exploração sistemática do
mundo externo. O desenvolvimento da pessoa para Wallon não começa
cognitivamente. Em quase todo o primeiro ano de vida, a atividade da criança está

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voltada para a sensibilidade interna, a princípio visceral e depois afetiva. O período


emocional corresponde ao predomínio da motricidade expressiva que a manifesta.
Antes de modificar o ambiente físico, o movimento atua sobre o meio humano em
forma de comunicação. O primeiro instrumento usado pela criança é o adulto e neste
sentido, ela é um ser social. (GALVÃO, 2001).
Wallon dizia que reprovar um educando era sinônimo de negar, excluir, ou
seja, seria a própria negação do ensino. Suas ideias basearam-se em quatro
elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a
inteligência e a formação do eu como pessoa.
a) a afetividade: as emoções para Wallon têm um papel importante no
desenvolvimento da pessoa. É através dela que o educando exterioriza seus
desejos.
b) o movimento: as emoções dependem fundamentalmente, segundo
Wallon, da organização dos espaços para se manifestarem. Portanto, a motricidade
tem caráter pedagógico, tanto pela qualidade do gesto e do movimento, quanto por
sua representação.
Deve-se desta maneira dispensar especial atenção ao material pedagógico
e lúdico, preocupando-nos em quebrar a imobilidade e a rigidez na sala de aula,
notada no próprio espaço físico, para que seja possível, à criança movimentar-se e
não ficar restrita à carteira, limitando desta maneira, a fluidez de suas emoções e
pensamento.
c) a inteligência: através de seus estudos, Wallon pode ter observado que o
desenvolvimento da inteligência depende essencialmente de como cada um faz
diferenciações com a realidade exterior. É na solução dos confrontos que a
inteligência evolui.
d) o eu e o outro: na teoria de Wallon, a construção do eu depende
essencialmente do outro, quer seja para ser referência, quer seja para ser negado,
principalmente a partir do momento em que a criança começa a viver a chamada
crise de oposição, em que a negação do outro funciona como uma espécie de
instrumento de descoberta de si própria. Aos 3 anos dá-se esta fase, onde
manipulação, sedução e imitação do outro são características.

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O papel da escola na educação


Muito diferente dos métodos tradicionais que, na maioria priorizam a
inteligência e o desempenho do aluno em sala de aula, a proposta de Wallon coloca
o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. Sua teoria
pedagógica diz que o desenvolvimento intelectual envolve mais do que um simples
cérebro, e o aluno devem ser considerados como um todo.
A afetividade, as emoções, o movimento e espaço físico são colocados em
um mesmo plano, e sugere que as atividades pedagógicas sejam trabalhadas de
formas variadas. Assim, por exemplo, em uma sala de leitura, o educando pode fica
sentado, deitado ou fazendo coreografias da história contada pelo educador. Temas
e disciplinas não devem ficar restritos ao seu conteúdo, e sim contribuírem para a
descoberta do Eu e do Outro.
Imagem 13: Fotografia de professora sentada junto com seus alunos. Em conjunto,
professora e alunos, escrevem e desenham em uma mesma folha.

Disponível em:
http://rdrnews.com.br/2019/10/04/parceria-entre-professor-e-pedagogo-melhora-trabalho-
em-sala-de-aula/
Acesso em 03 abr 2023

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A importância das brincadeiras infantis para o desenvolvimento


neuropsicológico, segundo Henri Wallon.
Para Wallon, as brincadeiras infantis são fundamentais ao desenvolvimento
das aptidões físicas e mentais, atuando como agente facilitador para o
estabelecimento do vínculo social com seus semelhantes, a descoberta de sua
personalidade, o aprendizado da vivência em sociedade e o preparo para o
desempenho das funções da vida adulta.
O jogo é reconhecido como meio de fornecer à criança um ambiente
agradável, motivador, planejado e enriquecido possibilitador de aprendizagem, de
habilidades. A brincadeira infantil é um importante mecanismo para o
desenvolvimento da aprendizagem na criança.
O educando não deve ser visto como um agente passivo da aprendizagem,
nem o educador um transmissor. A noção de um ensino despertado pelo interesse
do educando pode transformar o sentido do que se entende por material pedagógico.
O interesse do educando comanda o processo da aprendizagem, suas
experiências e descobertas, o motor de seu processo da aprendizagem e o educador
torna-se um gerador de situações estimuladoras e eficazes.
Neste contexto, o jogo ganha um espaço como ferramenta ideal da
aprendizagem na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno, ajudando-
o a construir suas novas descobertas, desenvolvendo e enriquecendo sua
personalidade, podendo simbolizar um instrumento pedagógico que leve o educador
à condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.

Afetividade na relação-professor e aluno.


Uma das grandes contribuições de Henri Wallon para a Educação é o estudo
da afetividade na relação professor-aluno, refletindo diretamente no processo de
ensino e aprendizagem dos alunos.

Wallon (1971, p. 91) diz sobre o caráter contagioso das emoções: “A emoção
necessita suscitar reações similares ou recíprocas em outrem e [...] possui sobre o
outro um grande poder de contágio”. Dentro desta ótica, o processo de ensino e de
aprendizagem envolvem tanto os aspectos racionais, quanto os emocionais, que são
sensíveis ao Homem. Assim, é necessário que os professores e alunos entrem em
contato com suas emoções e aprendam a lidar com elas e com as emoções do outro.

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Segundo Almeida e Mahoney (2014), a teoria de Henri Wallon supera a


dicotomia entre a razão e emoção porque que integra aspectos cognitivos, afetivos
e motores no processo ensino aprendizagem.

De acordo com as autoras, para Henri Wallon, a afetividade diz respeito à


capacidade e disposição do ser humano em ser afetado pelo mundo externo e
interno mediante sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis
(MAHONEY; ALMEIDA, 2014).

Reis et al. (2012), após pesquisa realizada com 70 professores do 6° ano ao


9° do Ensino Fundamental II, sobre a concepções acerca da afetividade na relação-
professor, apontou que a maioria dos pesquisados (77,14%) concebem como fatores
afetivos contribuintes para a aprendizagem do aluno a amizade e o respeito. Para os
professores a interação saudável influencia no processo de ensino e de
aprendizagem. Dentre os pesquisados, 34,48% buscam conversar com seus alunos
nos momentos em que precisam de apoio emocional, buscando a confiança do
discente, despertando motivação e desejo de aprender. Dessa forma, no momento
em que o professor conquista a confiança do aluno, a possibilidade de o processo
de aprendizagem acontecer é significativa, já que o aluno sente afetividade por parte
do professor, o que motiva apetite pelo aprender (Mahoney; Almeida; 2015).
O estudo da afetividade na perspectiva de Henri Wallon é fundamental para a
formação do professor que busca um estado de conscientização e de compromisso
com a sua atuação e prática docente contemplando concomitantemente, a
responsabilidade humana e sua consciência acerca da importância da afetividade na
relação professor- aluno.
O professor, não somente no plano racional, como na dimensão afetiva,
precisa romper com o modelo tradicional da própria formação, para transcender aos
aspectos humanos inerentes as relações, e assim auxiliar na verdadeira educação
psíquico-afetiva junto aos discentes. A maneira como cada educador valoriza a sua
formação e o bom relacionamento com seus alunos irá refletir nas suas ações e
práticas pedagógicas.

A disponibilidade que próprio educador tem para cuidar de si mesmo, a


valorização deste cuidado em si, investir em sua formação visando não somente os
aspectos cognitivos e a reflexão sobre a sua prática poderá contribuir na relação com

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seus alunos. Observaram a grandiosa contribuição do estudo da afetividade nas


relações com os alunos para a sua atuação como professor?

Você estudou que, para Wallon:


✓ Apesar de toda a função psíquica supor um componente orgânico, o objeto
de ação mental vem do ambiente no qual o sujeito está inserido, ou seja, de
fora.
✓ O ambiente e a criança influenciam-se reciprocamente.
✓ Cada criança estabelece um sistema próprio de relação com o meio.
✓ A passagem dos estágios de desenvolvimento não se dá linearmente.
✓ A o estudo acadêmico da afetividade na formação do professor é fundamental
para o desenvolvimento saudável da relação-professor-aluno.

REFERÊNCIAS

CABRAL, C. & NICK, E. Dicionário técnico de psicologia. 10. ed. Revista e


ampliada. São Paulo: Cultrix, 2000.

CARVALHO, Diana Carvalho de. A psicologia frente a educação e o trabalho


docente. Psicol. estud., Maringá, v. 7, n. 1, p. 51-60, jun. 2002 . Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
73722002000100008&lng=pt&nrm=iso . Acesso em :16
dez. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722002000100008 .

DANTAS, H. HenriWallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.


São Paulo: Summus, 1992.

MYERS, D. Introdução à psicologia geral. Rio de Janeiro: LTC Editora AS, 1999.

SILVA, Any Carolina Ribeiro. Afetividade na relação professor-aluno non nono


ano do Ensino Fundamental em um Colégio no munícipio de Santos. 209. 107
f. Dissertação (Mestrado em práticas docentes no ensino fundamental) -
Universidade Metropolitana de Santos, Santos, 2019.

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Aula 12_ A teoria de Carl Gustav Jung e a sua relevância para a


Educação e atuação do professor.

Palavras-chave: introversão; extroversão, atitude consciente; personalidade;


funções

A psicologia analítica foi criada por Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço que
desenvolveu uma teoria que atualmente tem influenciado as práticas educacionais.

Imagem 12: Fotografia, em preto e branco, do teórico Carl Gustav Jung

Disponível em: https://www.gettyimages.com.br/detail/foto-jornal%C3%ADstica/carl-jung-


sits-for-a-portrait-late-in-his-life-the-foto-jornal%C3%ADstica/514081216?adppopup=true
Acesso em 03 abr 2023

Foram muitas as contribuições de C.G. Jung na área da Educação. Em


conferências a educadores, o autor enfatizava a necessidade de os educadores
investirem não apenas em sua formação acadêmica, mas sobretudo, na sua
formação pessoal buscando um autoconhecimento.
Segundo Jung (2008, p.61):

Talvez os senhores se admirem de que eu esteja falando da educação dos


educadores. Devo declarar-lhes que, de acordo com minha opinião,
ninguém, absolutamente ninguém está com sua educação terminada ao
deixar a escola, ainda que conclua o curso superior.

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Para Jung (2008), a grande tarefa do educador é permitir que o adolescente


ao deixar a escola, tenha consciência de sua identidade, independente de sua família
ou grupo social. Só assim, segundo Jung, poderemos auxiliar esse jovem a fazer
uma escolha correta que corresponda à sua verdadeira realização na vida.
Quando o aluno cursa o Ensino Médio, ele ainda adolescente, precisa de
orientação para que possa descobrir dentro de si mesmo o que realmente pretende
fazer de sua vida. Essa não é uma tarefa fácil e deveria ser desenvolvida aos poucos
pelos educadores, que deveriam ser preparados para ensinar o aluno a descobrir
por si mesmo o que realmente deseja para seu futuro, ao invés de proporem modelos
coletivos que podem não se encaixar com seus interesses e habilidades.
Jung (2008) irá valorizar muito na Educação o papel do professor e o impacto
de sua personalidade na relação com o aluno. Para ele isso é tão importante ou até
mais do que o método empregado. Acredita que por melhor que seja o método, se
mal-empregado, de nada adiantará para o desenvolvimento e aprendizagem da
criança.
Mas é, sobretudo, em sua teoria sobre os Tipos Psicológicos que vemos uma
das maiores contribuições de Jung ajudando no trabalho de educadores para lidar
com as diferenças individuais de seus alunos e a observarem suas próprias
tipologias, avaliando como elas se refletem na dinâmica do ensino-aprendizagem.
Na psicologia analítica, Jung (1987) irá identificar dois tipos de atitudes
psicológicas orientadas para o objeto e para o próprio sujeito: extroversão e a
introversão.
Na extroversão, o indivíduo tem facilidade em interagir e se articular em
relação ao meio externo. Sua dificuldade, muitas vezes, está em ter atitudes mais
reflexivas e individuais, sem a interação com pessoas.
Na introversão, o indivíduo tem facilidade em refletir segundo apenas suas
próprias referências internas e evita o meio externo por ter um certo receio de iniciar
novos contatos e descobrir novos ambientes.
Assim, o aluno extrovertido, por exemplo, será uma criança ou adolescente
que vai se colocar mais em sala de aula, terá facilidade em novos contatos e
trabalhos grupais, além de uma maior necessidade de interagir com os colegas.
Muitas vezes, o professor, sobretudo, se for do tipo oposto ao do aluno, poderá julgá-
lo como alguém exibicionista, que não consegue ficar quieto e sem limites. Esse

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aluno muitas vezes é diagnosticado como hiperativo e como tendo déficit de atenção,
o que é muito inadequado. Na realidade, verificamos que se trata de uma criança ou
adolescente que se expressa no mundo através do contato com o outro e articula-se
com muita facilidade. O educador deve preparar atividades que acolham os anseios
grupais e de interação desse aluno e também propor atividades individuais que
exijam uma maior reflexão e valorização do silêncio para que ele possa aprender a
cultivar também aspectos da introversão.
Já o aluno introvertido, provavelmente será mais silencioso, acolherá com
mais facilidade trabalhos individuais e fará suas reflexões sem tanta necessidade de
trocar com seus colegas. Muitas vezes é julgado, especialmente, por professores do
seu tipo oposto, como alguém triste, inadaptado e que não participa da aula. Isso
pode ser um erro, pois, na verdade muitos desses alunos, quando têm oportunidade,
demonstram que apesar de não falarem muito, participam das aulas compreendendo
bem o que diz o professor e se saem muito bem em tarefas individuais que não
exijam contato com os outros ou exposição diante da sala de aula. O professor
deverá criar atividades que valorizem esses aspectos e também atividades grupais
com maior exposição, para que possam trabalhar suas dificuldades com a
extroversão.
Além dos tipos psicológicos, Jung (2012) criou as funções da consciência
que se combinam com os tipos de atitude. São elas:
1- As funções racionais (pensamento e sentimento)
O pensamento, organiza, classifica, analisa e apreende o significado dos
fatos. O sentimento julga e atribui valores adequados aos aspectos positivos e
negativos de forma geral.
2- As funções irracionais (sensação e intuição)
A sensação é capacidade de perceber o mundo pelos sentidos. A intuição
ultrapassa a percepção pelos sentidos e é capaz de perceber aquilo que ainda está
inconsciente, mas que já está por acontecer.
Todos têm, em potencial, as quatro funções da consciência, mas devido a
vários fatores da história de vida de cada um, algumas serão mais usadas e outras
menos desenvolvidas. Essas quatro funções irão compor junto à atitude extrovertida
ou introvertida um tipo específico de personalidade.

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Uma das funções sempre irá predominar na personalidade do indivíduo e


Jung a chamou de: FUNÇÃO PRINCIPAL. Durante nossa vida, usaremos outras
duas funções que são as chamadas FUNÇÕES AUXILIARES, com as quais
aprenderemos também a ver o mundo através delas. Mas temos também as
FUNÇÕES INFERIORES e que representam aquela forma de apreender o mundo,
com a qual temos maior dificuldade e, provavelmente teremos sempre como pouco
desenvolvida ou no inconsciente. Será sempre uma área de dificuldade e, aprender
a lidar com essa função e desenvolvê-la até onde for possível é nosso grande
desafio.
Conforme vimos, as funções da consciência propostas por Jung (2012)
somando aos tipos de atitude irão compor oito tipos característicos que serão
descritos de maneira abreviada.

1- Tipo: Pensamento Extrovertido


Esse tipo costuma ser racional, organizado e metódico. Guiado pela lógica,
não consegue compreender considerações de caráter mais subjetivo. São
normalmente muito lógicos e objetivos. Sua função inferior é o sentimento
introvertido, o que revela uma capacidade desse indivíduo de nutrir sentimentos leais
e profundos, embora não demonstre possuir os mesmos.
2- Tipo: Pensamento Introvertido
Esse tipo também costuma organizar ideias. Para ele é muito importante a
sequência lógica das ideias para que se possa chegar a algum lugar. Suas reflexões
partem das próprias ideias que ele tem a respeito de algo, independente do meio
externo. Seu sentimento extrovertido é sua função inferior, daí a dificuldade em lidar
com suas emoções. Embora seu sentimento seja mais perceptível para as pessoas
do que no pensamento extrovertido, quando gosta de alguém, costuma ser muito
dedicado e dependente de seus relacionamentos.
3- Tipo: Sentimento Extrovertido
Esse tipo costuma se relacionar bem com seu meio social. Estabelece
vínculos afetivos com facilidade e costuma ser muito flexível em seus julgamentos,
sempre levando em conta aspectos positivos e negativos de uma situação ou de
alguém que esteja avaliando. São muito queridos por amigos e familiares pela forma
como se comportam em empatia com o ambiente. Costumam ter uma percepção

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rápida da necessidade dos outros e estão sempre prontos para ajudar e dar apoio
aos que necessitam de ajuda. Como o pensamento introvertido é sua função inferior,
às vezes apresentam, sem perceber, pensamentos ruins sobre si mesmo.
4- Tipo: Sentimento Introvertido
Esse tipo também tem facilidade em adaptar-se à vida social, porém seus
valores são elevados e apresentam uma ética que é percebida por todos que o
rodeiam. São mais acomodados, porém, onde estiverem irão exercer uma influência
positiva. Apresentam a tendência de produzir, a partir de poucas ideias, uma grande
produção. Com o pensamento inferior extrovertido, não raro, invadem pensamentos
negativos sobre outras pessoas.
5- Tipo: Sensação Extrovertido
Esse tipo é o mais perceptivo de todos no que se refere aos fatos externos.
Seus sentidos são bem apurados e além de bom gosto são capazes de perceber os
fatos e as pessoas com uma riqueza de detalhes. Em geral são detalhistas na
captação de dados da realidade, daí serem mais lentos na execução de tarefas,
embora sejam bem caprichosos.
Normalmente têm bom gosto e se dão muito bem em sua carreira
profissional. Na nossa cultura ocidental esse talvez seja o tipo mais aceito. Sendo a
intuição introvertida sua função inferior, costumam desconsiderar totalmente aquilo
que não é palpável para os sentidos e quando têm pressentimentos, normalmente
são sombrios.
6- Tipo: Sensação Introvertido
Esse tipo costuma observar com detalhes um ambiente, o tipo de pessoas
que nele se encontram, a partir de uma referência sua, mais subjetiva. Normalmente
são pessoas sensíveis que, aparentemente, parecem não ter percepção alguma.
Embora silenciosas são capazes de captar as coisas com profundidade e observar
o que se passa no ambiente, em detalhes. Por terem como função inferior a intuição
extrovertida costuma ter pressentimentos ruins a respeito do ambiente.

7- Tipo: Intuitivo Extrovertido


Esse tipo é aquele capaz de prever possibilidades futuras no que se refere
ao coletivo e por isso são muito empreendedores. Através de sua intuição
conseguem ter palpites acertados do que pode acontecer. São extremamente

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criativos e sonhadores, impulsivos, porém descuidados com seu corpo e suas


necessidades básicas. Sendo a sensação sua função inferior, apresentam
dificuldades com as coisas concretas, com o mundo real e com a implantação de
suas ideias. Seu aprendizado é, não apenas ter ideias, mas também concretizá-las.
8- Tipo: Intuitivo Introvertido
Esse tipo tal como o anterior tem a capacidade de prever o futuro, porém sua
intuição está voltada para ele mesmo. Os artistas, escritores e poetas, também se
enquadram nesse tipo. Da mesma forma que o intuitivo extrovertido tem dificuldades
corporais e com a compreensão da realidade através dos sentidos. Esse tipo
também é impreciso com os fatos e são mais voltados para sua percepção da
atmosfera inconsciente em que vive.

REFERÊNCIAS

JUNG, C.G. A vida simbólica. Petrópolis:Vozes, 2012.


JUNG, C.G. O desenvolvimento da personalidade. Petrópolis: Vozes, 2008.
JUNG, C.G. Tipos Psicológicos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,1987.
JUNG, C.G. A vida simbólica. Petrópolis: Vozes, 2012.
VON FRANZ, M.L.; HILLMAN, J.A. A tipologia de Jung. São Paulo: Cultrix,
1995.
VON FRANZ, M.L. Psicoterapia. São Paulo: Paulus,1999.

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Aula 13_ O conceito de inteligência e a teoria de Gardner e Robert


Sternberg

Palavras-chave: tipos de inteligência; triarquia da inteligência; habilidades


cognitivas

Esta realmente é uma temática instigante. Nesta aula, estudaremos


conceitos de inteligência. Mas, afinal o que é ser inteligente? Que tipos de
inteligência? Qual a importância de discutirmos tais questões para pensarmos a
avaliação do nosso aluno?
Somos seres pensantes. Pensamos sobre coisas passadas, projetamos
nosso futuro, fantasiamos, criamos, somos capazes de pensar sobre nós mesmos.
Fazemos música, poesia, construímos máquinas incríveis, transformamos o mundo
em símbolos e códigos. Somos uma incrível espécie de seres.
Essa capacidade de pensar, da qual somos dotados, sempre foi objeto de
curiosidade dos filósofos, cientistas e também dos psicólogos. Assim, um dos
aspectos mais pesquisados do pensamento foi a inteligência.
“[...] esta foi uma decisão inteligente”, nesta frase podemos identificar uma
das concepções que o senso comum apresenta sobre a inteligência: a qualidade que
as pessoas possuem para resolver corretamente um problema.
Outras concepções de inteligência incluem a qualidade de adaptar-se às
situações novas e aprender com facilidade.

O que se fala da inteligência?


A inteligência pode ser um adjetivo, e não algo ou algum fator que pode ser
medido e avaliado. Ser inteligente qualifica a produção cognitiva e intelectual do
homem. Desta maneira, os dados obtidos nos testes não são medidos da
inteligência, mas medidas da eficiência intelectual do indivíduo.
Também os níveis baixos nos testes não implicam, necessariamente, pouca
inteligência. A criança que apresenta dificuldades em verbalizar, ou em aprender o
que lhe é ensinado, deve ser compreendida, não como uma deficiente intelectual ou
pouco inteligente, mas sim como uma criança que provavelmente, vive naquele
momento, dificuldades, conflitos relacionados ao seu desenvolvimento, sendo um

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dos sintomas um rebaixamento na produção intelectual. Esta criança deve ser


considerada em todas as suas capacidades, na sua globalidade.
Todas as expressões humanas são carregadas de elementos psíquicos,
decorrentes de sua capacidade cognitiva, afetiva, corporal.
Já os teóricos contemporâneos acreditam que a inteligência é mais
complexa do que estes conceitos simples. Apesar de parecer que há uma relação
entre as diversas habilidades mentais, há pessoas que levam vantagem em algumas
áreas específicas da inteligência em comparação a outras.
Gardner (1996) importante teórico cognitivo propôs uma teoria de múltiplas
inteligências e assim identificou, inicialmente, oito tipos de inteligências:
1) a inteligência linguística: para lidar com a linguagem. Por exemplo:
falar, escrever uma carta, ler e compreender um livro;
2) a inteligência lógica-matemática: para lidar com a solução de
problemas ou a análise científica. Por exemplo: resolver um problema matemático;
3) a inteligência espacial: para lidar com os mapas mentais. Por exemplo:
desenhar a planta de uma loja, resolver como colocar vários objetos dentro de uma
caixa;
4) a inteligência musical: para lidar com habilidades musicais. Por
exemplo: tocar um violino, cantar uma canção;
5) a inteligência corporal-cinestésica: para lidar com os movimentos
corporais. Por exemplo: escalar, dançar;
6) a inteligência interpessoal: para lidar com habilidades sociais. Por
exemplo: perceber os sentimentos dos outros, falar facilmente com outras pessoas;
7) a inteligência intrapessoal: para compreender a si mesmo. Por exemplo,
reconhecer determinadas emoções, planejar determinados objetivos que possam ser
alcançados;
8) a inteligência naturalística: para estar em harmonia com a natureza.
Por exemplo, perceber produtos que sejam seguros para o ambiente.
De acordo com Gardner (1994), as pessoas conhecem seu mundo por meio
dessas oito inteligências. Da mesma forma que as pessoas diferem em seu perfil de
inteligência - seus pontos fortes em várias áreas, e nas formas com que utilizam suas
inteligências para aprender novos conteúdos, solucionar problemas.

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Gardner sugere, baseado nas descobertas de sua teoria, que os educadores


criem novas formas de avaliação, tais como fornecer oportunidades para dançar ou
representar um episódio histórico. Desta maneira, Gardner acredita que os
educadores possam dar aos educandos que não são linguisticamente “fortes”, a
oportunidade de demonstrar seus conhecimentos e modalidades dominantes da
inteligência.
Nesta abordagem, observamos que, quando o indivíduo está bem, do ponto
de vista da vida psíquica, conseguindo lidar adequadamente com seus conflitos, tem
todas as condições para enfrentar o mundo, realizando “atos inteligentes”, ou seja,
resolvendo adequadamente problemas que se apresentam, sendo criativo,
verbalizando bem suas ideias etc.
Outra teoria que define a inteligência humana como uma triarquia bem-
sucedida. O que é isto? Veremos agora.
A teoria da triarquia da inteligência foi desenvolvida por Robert
Sternberg (1985). Este teórico sugere que, mais importante do que exteriorizar
produtos da inteligência como, por exemplo, dar respostas corretas seria valorizar
os processos de pensamentos que a pessoa utiliza para chegar até as respostas.

Imagem 14: Fotografia, preto de branco, do teórico Sternberg

Disponível em: https://www.intelltheory.com/sternberg.shtml


Acesso em: 03 abr 2023

Por isto, a teoria da inteligência, segundo Sternberg deve considerar esses


processos.

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De acordo com sua teoria da “triarquia da inteligência” bem-sucedida, há três


aspectos da inteligência que estão relacionados:
a) os componentes internos da inteligência;
b) o uso desses componentes na adaptação às mudanças ambientais;
c) a aplicação de experiências vivenciadas anteriormente em situações da
vida real.
Alguns indivíduos tendem a ter aptidão para utilizar um ou mais desses
aspectos da inteligência. Falaremos agora mais detalhadamente sobre cada um
destes três componentes da inteligência, segundo esta teoria:
l) o aspecto interno da inteligência diz respeito aos nossos processos
mentais. Sternberg subdividiu este aspecto em três: aquele que utilizamos para
adquirir e guardar conhecimentos, aquele que utilizamos na percepção e aquele que
utilizamos para planejar, monitorar e avaliar nosso pensamento;
2) o aspecto adaptativo da inteligência: utilizado quando usamos nossos
componentes internos para adaptar ou mudar o nosso ambiente, ou então para
selecionar novos ambientes que são mais interessantes para nossos objetivos;
3) aspectos da experiência da inteligência: dizem respeito à habilidade do
indivíduo para aprender, com base em experiências passadas, na solução de novos
problemas.
A importância desta teoria está em ser valorizado o processo subjacente do
pensamento, muito mais do que somente o produto final, apontando para a
importância da aplicação das habilidades mentais nas situações reais da vida, ao
invés de uma testagem isolada das habilidades.
Há muitas diferenças de opinião entre os mais variados teóricos
contemporâneos quanto ao conceito do que é inteligência. Apesar de ser de difícil
definição, há algumas concordâncias quanto a ser a inteligência a habilidade ou
habilidades cognitivas empregadas em adquirir, lembrar e utilizar o conhecimento de
sua própria cultura para resolver problemas cotidianos e para adaptar-se tanto em
ambientes modificáveis quanto em ambientes estáveis. (HUFFMAN et al, 2003).

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REFERÊNCIAS

CABRAL, C. & NICK, E. Dicionário técnico de psicologia. 10. ed. Revista e


ampliada. São Paulo: Cultrix, 2000.

DAVIS, C. & OLIVEIRA, Z. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1994.

GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a Teoria das Inteligências Múltiplas.


Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.

HUFFMAN, K.; VERNOY, M.; VERNOY, J. Psicologia. São Paulo: Atlas, 2003.

MIRANDA, Maria José. A inteligência humana: contornos da pesquisa. Paidéia


(Ribeirão Preto), Ribeirão Preto, v. 12, n. 23, p. 19-29, 2002.

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Aula 14_A atuação do educador: procedimentos de ensino e sua


influência no desenvolvimento de crianças

Palavras-chave: relação professor-aluno; formação pessoal; inclusão.

Após termos discutido, vários aspectos relevantes das mais variadas teorias
do desenvolvimento e da aprendizagem humanas, nesta aula discutiremos alguns
pontos a respeito da atuação do educador e sua influência no desenvolvimento de
crianças e adolescentes.
Na interação adulto-criança, compete ao adulto ser mediador e colaborador
no processo de introdução da criança no universo cultural de sua sociedade dando
credibilidade à sua competência para ensinar, e na da criança em se apropriar do
conhecimento já elaborado pelos adultos. Da mesma forma, quando pensamos na
relação educador-educando supomos que aquele ajude, inicialmente, o educando
em sua tarefa de aprender, pois esta ajuda gerará a possibilidade de o educando
pensar com autonomia. Por meio desta interação, o educador, poderá ajudar o
educando a, aos poucos, ir construindo novos significados, novas habilidades e
novos conhecimentos.
Imagem 15: Fotografia de professor do sexo masculino que escuta atentamente seus
alunos

Disponível em: https://pt.dreamstime.com/professor-que-interage-com-os-alunos-


image117730492
Acesso em: 03 abr 2023
Na troca de experiências que esta relação pode estabelecer, o educador
deve procurar entender, a cada momento, os motivos e dificuldades dos educandos,
seus modos particulares de reagir e sentir diante das várias situações que se

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apresentam, proporcionando que as interações em sala de aula possam ser


produtivas, superando os obstáculos que surgem no processo de construção do
conhecimento.
Tendo espaço para uma participação ativa em sala de aula, o educando
poderá ter diferentes oportunidades de coordenar suas ações tanto com seus
colegas como também com o educador, utilizando diversos modos de expressão:
oral, escrita, gráficos, corporais etc.
É importante que a sociedade em geral e a escola, em particular valorizem
as pequenas construções infantis no dia a dia, compreendendo e incentivando seus
diversos modos de construir e de expressar estas construções.
Tais atitudes demandam, das pessoas preocupadas com a educação,
empenho, atenção e sensibilidade para avaliar os progressos e esforços realizados
pela criança. O elogio a construções, formulações, resoluções diferentes de
determinados problemas podem ser o tijolo inicial na construção do cidadão
consciente e crítico.
Em relação à atuação do professor Jung (2008, p.59) afirma: “Sua tarefa não
consiste apenas em meter na cabeça das crianças certa quantidade de
ensinamentos, mas também em influir sobre as crianças, em favor de sua
personalidade total.”
Para Jung (2008), o educador deve, antes de tudo, cuidar de sua formação
pessoal para que não exija de seu aluno algo que ele mesmo é incapaz de realizar.
Também para o psicólogo Rogers, o papel do professor não se resume
apenas a um reprodutor de conteúdos. Para Rogers (2001, p.52):

[...] a didática centrada na pessoa enfatiza o professor e o aluno como


pessoas e sua relação existe em um clima de respeito mútuo, onde cabe ao
professor, basicamente, dar ao aluno condições favoráveis para
desenvolver seu potencial intelectual e afetivo. (ROGERS, 2001, p. 52).

Ou seja, para Rogers (2001), o professor deve ter um papel facilitador na


relação que envolve ensino e aprendizagem. Assim, podemos observar que, durante
nosso curso, muitos autores enfatizaram a importante diferença entre um professor
e um verdadeiro educador. Todos destacam o papel do professor como um
educador, no que se refere à formação do aluno.

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Esse tipo de atuação envolve uma prática onde o professor tem que se
transformar integralmente, já que o ato de ensinar carrega, antes de tudo, uma
relação de ausência de poder e de respeito pelo outro que pode ser diferente, que
pode trazer questões nunca antes questionadas. Ou seja, um educador que vive
uma relação com o aluno onde ambos ensinam e aprendem como já destacou Freire
(1997) de forma contundente em toda sua obra.
“Mestre não é aquele que sempre ensina, mas quem, de repente, aprende”.
Guimarães Rosa.
Incentivar a participação ativa dos educandos no processo de
aprendizagem, onde estes possam expressar-se quer seja fazendo perguntas, quer
seja propondo soluções, dando opiniões nas variadas situações que se apresentam,
este pode ser o ponto inicial de um processo ensino-aprendizagem inclusivo,
participativo e que considera o educando não como um depositário dos saberes do
educador, mas sim, um contribuinte deste processo. De outro modo, um ensino
pautado exclusivamente em aulas expositivas está fadado ao fracasso.
É, portanto, necessário que este educador seja um interlocutor que incentive
o educando a estabelecer relações entre o que foi aprendido na escola com outras
experiências fora dela e a propor outros temas e problemas que considerem
relevantes para serem debatidos.
Para que isto possa ocorrer, o educador deve ter condições de poder ajudar
os educandos a superar visões de mundo restritivas, individualistas ou autoritárias,
fornecendo possibilidades de significações mais flexíveis, complexas e criativas, e
desta maneira, poder favorecer a compreensão de outros pontos de vista.
Atualmente, é imprescindível que o educador se questione sobre seu método
de ensino e aprendizagem, pois deve levar em conta as diversidades culturais que
envolvem a inclusão social.

Para incluirmos um aluno em sala de aula é necessário ir além de nosso


papel de professores, devemos investir em nossa formação pessoal, para que não
tenhamos preconceitos. Por isso, o trabalho de inclusão e aceitação das diferenças
culturais envolve um trabalho com o educador de informação, pois ele precisa saber
como é uma forma cultural diferente da sua e, sobretudo deve ter uma personalidade
flexível, capaz de enxergar o universo do aluno que lhe pareça diferente, como algo

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a ser explorado e compreendido. Nesse processo terá que aprender com esse aluno
e buscar formas de interagir com o mesmo, além de fornecer atividades a ele que
contemplem sua participação com sua bagagem cultural.
Sobrinho (2011), comenta a respeito de uma criança indígena que vai
estudar na cidade e ao fazer uma atividade falando sobre profissão, o que gostaria
de tornar-se como profissional, a menina fez uma história de uma fazedora de farinha
que evitava que todos passassem fome e que era isso que gostaria de ser. Segundo
Sobrinho (2011.p.191) a professora da menina, desconsidera sua história e lhe
responde:
“Menina, você tá brincando comigo? Eu mandei falar de profissão e não ficar
inventando coisa que não tem sentido. Onde já se viu falar que fazedora de
farinha é profissão?! Acho mesmo que você não entende o que eu ensino e
quer continuar sendo índia. Presta atenção que você não está na aldeia e
que mora na cidade e na cidade todo mundo tem que ter uma profissão.”

Nem precisamos destacar quanto preconceito encontramos nos dizeres


dessa professora que desconsidera, inclusive, a origem étnica da aluna. Além disso,
desconstrói seus sonhos e ideais que estão sendo expressos segundo seus valores
culturais.
Esse é um exemplo de como é imprescindível um novo formato no papel do
educador hoje, não um mero reprodutor de conhecimentos limitados, mas alguém
que está sempre aprendendo e recriando suas aulas e formas de ensinar.
De nada adianta o professor se colocar como alguém que faz inclusão social
ou que respeita as diversidades culturais, se ele age de forma contraditória. Para
formamos educadores que incluem as diferenças, precisamos conscientizá-los a
trabalhar as mesmas em sua personalidade, pois só assim sua prática vai
corresponder às propostas de inclusão na Educação.

REFERÊNCIAS

BARROS, C.S.G. Psicologia e construtivismo. São Paulo: Ática, 1996.

BOCK, A.M.B; FURTADO, O; TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: uma introdução ao


estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.

DAVIS, C. & OLIVEIRA, Z. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1994.

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FREIRE, P. Professora sim, tia não: carta a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho
d’Água, 1997.

JUNG, C.G. O Desenvolvimento da Personalidade. Petrópolis:Vozes,2008.

NASCIMENTO, A. C.; URQUIZA, A. H.A.; VIEIRA, C.M.N.(org.) Criança


indígena: diversidade cultural na educação e representações sociais. Brasilia:Liber
livro, 2011.

ROGERS, C. Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes,2001.

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Aula 15_O fracasso escolar


Palavras chaves: cultura; fracasso escolar; aprendizagem

Trataremos nesta aula de um assunto que tem nos inquietado ao longo


destas últimas décadas no Brasil: o fracasso escolar de nossas crianças.
Na realidade brasileira é grande o número de crianças e adolescentes que
não conseguem um nível razoável de aprendizado na escola e são reprovadas no
final do ano, acabando por desistir de estudar após alguns anos. Estes fatos, a
repetência e a evasão escolar têm desafiado educadores a buscar as suas causas
e tentar combatê-las.
Imagem 15: Fotografia de criança encostada com a parte superior da cabeça em lousa,
com diversas operações matemáticas, com expressão de tristeza

Disponível em: https://br.psicologia-online.com/o-que-e-o-fracasso-escolar-causas-tipos-e-


consequencias-285.html
Disponível em: 03 abr 2023

Profissionais da educação, sociólogos e psicólogos têm procurado descobrir


as causas do fracasso escolar em nossas escolas públicas, e nesta busca criam
teorias para tentar explicar a existência de tantos alunos repetentes e mesmo
multirrepetentes, como também o que tem levado ao abandono dos estudos.
Uma teoria que tenta dar uma explicação destes fatos é a da privação ou
carência cultural. Esta teoria originou-se nos Estados Unidos e teve boa aceitação
entre os educadores brasileiros na década de 1970. Explica que o fracasso escolar,
que ocorre com as crianças oriundas das camadas sociais de baixa renda seria
causado por sua privação ou carência cultural: por pertencer a famílias com poucos
ou quase nenhum recurso, estas crianças não têm acesso mínimo às informações

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culturais no lar e, por isso, chegam à escola numa situação de inferioridade em


relação às demais crianças das classes sociais mais altas.
Uma outra teoria é a reprodutivista (a escola como produtora do fracasso
escolar). Esta teoria foi apresentada pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu.
Ele e seus seguidores acreditam que a falta de sucesso destas crianças
oriundas das camadas sociais menos favorecidas não é causado por suas
características psicológicas ou por sua incapacidade de aprender e, sim, pela própria
estrutura da escola, pois nesta teoria, a escola é vista como um aparelho ideológico
do Estado, que objetiva apenas aos interesses da classe social dominante,
funcionando como uma produtora de desigualdades, onde os padrões culturais
valorizados são os das classes dominantes e o conhecimento dos menos
privilegiados são discriminados.
A escola recebe da classe dominante a tarefa de “reproduzir” a hierarquia
social. (BARROS, 1991).
Tanto os métodos de ensino quanto os exames oral e escrito são bastante
vantajosos para as crianças da classe média, pois a capacidade linguística dentro
deste enfoque é a que é privilegiada, pesando muito mais do que o próprio
conhecimento da disciplina. Desta maneira, as crianças das classes trabalhadoras
ou desprivilegiadas são muito prejudicadas pela educação determinada pela
sociedade de classes.
É lamentável que muitos educadores não percebam sua participação nessa
injustiça, atuam sem compreender que a escola é um instrumento que trata de modo
desigual crianças de diferentes classes sociais e prejudica uma boa parte de seus
alunos.
Torna-se, então, necessário que nossas escolas sejam melhoradas,
principalmente as escolas públicas, que seus objetivos, métodos, currículos e
formação de educadores sejam revistos e modificados.
O fracasso, seja ele pessoal ou profissional afeta o autoconceito do
indivíduo. E, como podemos definir autoconceito?
Poderíamos dizer que é o julgamento que o indivíduo faz de si mesmo,
segundo as atitudes que formou, por meio de suas várias experiências. As atitudes
são importantes para os nossos comportamentos; no entanto, aquelas que
formamos com relação a nós mesmos são as mais importantes.

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A formação do autoconceito dá-se de uma forma lenta, não é imediata em


nossa vida. Desenvolve-se a partir das experiências pessoais da criança e da reação
das outras pessoas ao seu comportamento inicial. Assim, é por demais importante,
o modo pelo qual se reage ao comportamento da criança: aprovando-o ou
desaprovando-o, poderá determinar o tipo de autoconceito que a criança
desenvolverá.
Normalmente são os adultos significativos para a criança, como os pais,
educadores e outros que ocupam posição de autoridade, que afetam o tipo de
autoconceito que a criança desenvolve. Por exercerem algum controle sobre ela e
por terem um significado importante, a criança respeita a sua opinião.
Vejamos um pequeno exemplo: o pai de uma criança, ao ensinar algo para
ela, causa-lhe dificuldade de compreender e assim irrita-se com ela e castiga-a por
isto. Estas atitudes poderão ter para a criança o significado de acentuação de
aspectos “maus”, fornecendo-lhe a consciência de que é “má”. Da mesma forma, o
educador que censura a criança por esta “ter falta de inteligência”, pode desencadear
nesta criança o sentimento de incapacidade de aprender.
Esse conceito de si é central para o que a pessoa faz ou deixa de fazer,
podendo acarretar consequências significativas em seu desenvolvimento.
Torna-se necessário contribuir para que a criança venha a desenvolver um
autoconceito positivo, pois como vimos, este tem importância ímpar na determinação
do que esta criança fará ou deixará de fazer.
Variadas pesquisas já revelaram que o sugerir ou indicar do adulto para com
determinados tipos de comportamentos para a criança, estes tendem a ser
produzidos por ela: atribuindo-lhe um rótulo, por exemplo, de “preguiçosa”, “burra”,
frequentemente observou-se que o adulto força a criança a viver de acordo com o
rótulo que lhe foi atribuído.
Da mesma forma, importantes estudiosos do autoconceito têm afirmado que
os educadores precisam acentuar os aspectos positivos da criança, acentuar a
confiança no seu êxito, enfatizando os elogios, ao invés das reprovações e
dificuldades. Mesmo nos aspectos disciplinares, o educador deve ser cuidadoso em
não diminuir a autovalorização e autoestima da criança, procurando evitar
comentários avaliatórios e de julgamento.

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REFERÊNCIAS
BARROS, C.S.G. Psicologia e construtivismo. São Paulo: Ática, 1996.

BARROS, C.S.G. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática,


2002.

BOCK, A.M.B; FURTADO, O; TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: uma introdução ao


estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.

SABINI, M.A.C. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática, 2004.

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Aula 16_A adolescência: Aspectos biopsicossociais, Políticas


Públicas e o papel da Escola
Palavras-chave: adolescência; aspectos psicológicos; políticas públicas

Eu olho no espelho e não me reconheço. Quem é esse cara barbudo e com


o corpo peludo? O gozado é que por dentro sinto que sou eu, mas quando
olho no espelho não sei quem é esse cara ... (F. 13 anos)

Eu não sei por que eu ainda não menstruei! Tenho vergonha de perguntar
pra minha mãe. Minhas amigas também não sabem que eu ainda não fiquei
mocinha. Quando elas comentam que estão naqueles dias e sofrem com as
cólicas eu fico quieta. Se elas perguntam eu digo que também sofro com as
cólicas... Por que até agora, não menstruei? (S. 14 anos)

A partir desta aula abordaremos o desenvolvimento na adolescência, as


Políticas Públicas e o papel da escola no desenvolvimento integral e saudável do
adolescente. Os relatos acima mostram depoimentos de dois adolescentes
preocupados com as intensas mudanças do corpo que acontecem com meninos e
meninas a partir de 10 anos de idade. No caso do garoto de 13 anos a barba e o
corpo peludo mostram um desenvolvimento precoce para a idade. No caso da
menina, a primeira menstruação, chamada menarca ainda não ocorreu. Podemos
dizer que ela tem um desenvolvimento anormal? Não. Essas variações são normais,
mas atormentam nossos adolescentes, com dúvidas sobre seu corpo e sua
sexualidade.

As transformações físicas neste período entre a infância e a vida adulta são


acompanhadas de mudanças biológicas, psicológicas e sociais levando o
adolescente a um período de mudanças que podem ser tranquilas ou turbulentas.
Em algumas culturas os adolescentes passam por esta fase sem grandes conflitos.
Nas sociedades ocidentais atuais, o processo de mudanças fisiológicas, com
desenvolvimento das características sexuais -a puberdade- tem ocorrido mais cedo
que nas gerações anteriores. A melhoria das condições nutricionais e a assistência
médica, entre outras condições, responde por melhores condições físicas dos
nossos adolescentes.

A adolescência é caracterizada por três fases:

1) pré-adolescência: dos 11 aos 14 anos, aproximadamente. Período


caracterizado, principalmente por mudanças hormonais ocasionando o

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desenvolvimento de características sexuais primárias e secundárias. As


características sexuais primárias são aquelas relacionadas diretamente à
reprodução: os órgãos reprodutores e a genitália externa.

As características sexuais secundárias, nas meninas, estão relacionadas ao


crescimento dos pelos pubianos, o desenvolvimento das mamas, o alargamento dos
quadris, o surgimento de acnes etc.

Nas meninas, o pico de crescimento em estatura ocorre por volta dos 12 anos
de idade e apresenta consideráveis variações em relação à idade
cronológica, podendo ocorrer entre os 10 e os 14 anos (Malina et al., 2009;
Rogol et al., 2002; Rowland, 1996). Após o pico de crescimento em estatura,
ocorre a menarca, diretamente associada à elevação da produção de
hormônios femininos (estradiol). Entretanto, não há um ganho acentuado de
massa muscular, uma vez que não há elevação significativa na produção de
testosterona (Malina et al., 2009; Rogol et al., 2002). Assim, as meninas
aumentam o percentual de gordura corporal (principalmente na região dos
seios e quadris), o que não favorece a execução de habilidades motoras. (RE,
A.H.N, 2011)

Nos meninos, podemos citar como características sexuais secundárias o


aparecimento de pelos pubianos, aparecimento da barba e de pelos corporais,
crescimento do pênis, mudança na voz, aparecimento de acnes etc. O crescimento
corporal também pode apresentar diferenças entre os meninos:
Em geral, os jovens que apresentam maturação biológica precoce (antes dos
13 anos de idade), possuem maior capacidade metabólica e tamanho
corporal, em comparação aos seus pares de mesma idade cronológica com
ritmo maturacional normal (por volta dos 13-14 anos) ou tardio (após os 14
anos) (Malina et al., 2000, 2009; Pearson, Naughton, &Torode, 2006; Ré et
al., 2005). Vale destacar a transitoriedade desse fenômeno biológico, ligado
ao ritmo de crescimento e maturação individual. (RE, A.H.N, 2011)

Em ambos os sexos, aos 16 anos aproximadamente, os níveis hormonais


adultos são atingidos. O início deste desenvolvimento vem se alterando, segundo
pesquisas recentes. Atualmente, o início da puberdade ocorre entre 10 e 11 anos
de idade, para as meninas e por volta dos 13 anos para os meninos.

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Imagem 16: Imagem de desenho com dois adolescentes, um sexo masculino e outro do
sexo feminino. Ambos olhando para um espelho reconhecendo mudanças corporais

.Disponível em:

https://amigopai.wordpress.com/2017/04/22/mudancas-fisicas-e-comportamentais-da-
puberdade-e-da-adolescencia/

Acesso em 03 abr 2023

Será comum encontrarmos na mesma classe alunos de 13 anos bem


desenvolvidos, com aparência de jovens adultos junto com colegas, também de 13
anos que ainda têm aparência de meninos e meninas. O professor com classes de
alunos adolescentes deve evitar situações de humilhação ou bullying, pois o
adolescente que for humilhado fica vulnerável à influência dos colegas e pode ficar
psicologicamente marcado por essas lembranças.

2) adolescência intermediária: dos 14 aos 17 anos, aproximadamente. Dois


eventos marcam este período: o desenvolvimento esquelético dos meninos
ultrapassa o das meninas de mesma idade em peso e altura e o surgimento da
menarca (primeira menstruação) já deve ter ocorrido entre as meninas. Entre os
meninos a ocorrência de ejaculação durante o sono é uma ocorrência marcante. Tais
eventos aumentam a preocupação dos pais com as primeiras experiências sexuais
dos filhos, a gravidez e doenças sexualmente transmissíveis.

3) adolescência tardia: dos 17 aos 20 anos, aproximadamente. Nesta fase


estabelecem-se os relacionamentos afetivos e as emoções são o foco das

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preocupações do jovem adulto. Nesta fase há uma expectativa, por parte dos pais,
por este jovem firmar sua identidade, fazer uma escolha quanto a prosseguir nos
estudos ou iniciar um trabalho e se tornar independente.

Em relação à escola, o adolescente de 17 anos está finalizando o Ensino


Médio e se preparando para o vestibular. É uma fase de muitas cobranças de um
bom desempenho escolar e de ingresso em uma instituição de ensino superior, de
preferência pública.

Aspectos psicológicos da adolescência

Segundo Piaget, a partir dos 12 anos, aproximadamente, inicia-se um


estágio que Piaget denominou de estágio operatório-formal.

“A reorganização cerebral, especialmente do córtex pré-frontal dorsolateral,


associada às experiências vividas se expressam em desenvolvimento cognitivo que
será mais ou menos intenso, dependendo das experiências vivenciadas.”
(HERCULANO apud ALMEIDA, 2015, p.14). Como as regiões pré-frontais do córtex
se desenvolvem gradualmente, o controle dos impulsos ainda é falho. A
impulsividade do adolescente está associada à falta de controle e este
comportamento pode ser um transtorno para o adolescente, seus pais e seus
professores. O controle dos impulsos pode ser aprendido. Técnicas de relaxamento
e meditação ajudam no controle da ansiedade e podem ser praticados em casa e na
escola.

Outro aspecto psicológico em destaque é a busca por uma identidade


própria, um novo “Eu”. Esta busca justifica o afastamento do adolescente da família
e sua oposição aos adultos. Ele agora busca afastar-se dos familiares e identificar-
se com adultos jovens, bem-sucedidos socialmente.

Preocupações sociais do adolescente

Pertencer a um grupo de jovens é sua principal preocupação social. Ele


busca identificar-se com seus pares na forma de comunicação (modo de falar, gírias,
modo de vestir etc.) Tais “tribos” determinam suas escolhas por jogos, músicas,

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esportes etc. Apesar do afastamento da família este adolescente ainda necessita de


um acompanhamento dos pais e dos professores.

Imagem 16: Foto de grupo de adolescente multiétnicos sorrindo em selfie

Disponível em: https://br.depositphotos.com/44307747/stock-photo-group-of-multiethnic-


teenagers-taking.html
Acesso em: 03 abr 2023

Apresentam estatura e compleição física de jovens adultos, mas são


vulneráveis às pressões sociais de alguns grupos que podem dominá-los pelo medo
de serem agredidos ou humilhados publicamente.
Professores devem evitar insistir que seus alunos adolescentes falem em
público e devem evitar que sejam expostos a episódios de bullying. O diálogo e os
“acordos” mediados pelo adulto (professor) é o caminho mais acertado para
estabelecer limites consistentes e a paz social no ambiente escolar.

Compreendemos que a adolescência é uma fase” caracterizada por um


período de vulnerabilidade física, psicológica e social, com complexas mudanças no
processo de desenvolvimento do ser humano” (DAVIM et al, 2009). Para proteger e
atender às necessidades psicológicas, físicas e sociais básicas dos adolescentes

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organizou-se ao longo das últimas décadas, uma rede de apoio político-social para
os adolescentes.
Ao longo dos anos, muitas tentativas foram feitas no sentido de acompanhar
e dar assistência aos adolescentes. Esta deve ser uma preocupação de pais,
educadores e de toda a sociedade. Segundo Davim et al (2009), o Código de
Menores, de 1927 foi o primeiro a regulamentar políticas públicas para crianças e
adolescentes. Depois, em 1941 surge o Serviço de Assistência ao Menor (SAM)
“com a finalidade de atender menores carentes e delinquentes, institucioná-los e
estudá-los” (p.134).
Este serviço foi identificado como semelhante ao sistema prisional, com
denúncias de tortura, abuso moral, sexual e corrupção administrativa e, por isso, em
1964 foi extinto. Em dezembro desse mesmo ano foi criada a Fundação Nacional do
Bem-Estar do Menor (FUNABEM) cujo objetivo era “promover políticas públicas de
bem-estar para crianças e adolescentes, distribuir recursos e financiamentos em
nível estadual das Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor (FEBEM)” (DAVIM
et al, 2009, p.134).

Em 1974, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) apoiou um


estudo interdisciplinar na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC/MG), buscando visão sociológica aos problemas relacionados com
crianças e adolescentes de risco, fortalecendo os movimentos sociais.
Dando continuidade a esses movimentos, a fase pioneira experimental da
Educação Social de Rua (ESR), denominada “fase romântica”, durou cerca
de 4 anos, apoiada, entre outros, pelo UNICEF e pelo Ministério da
Previdência e Assistência Social (MPAS), que implantaram, em 1982, o
Projeto Alternativas de Atendimento dos Menores de Rua, objetivando
desenvolver abordagens de intervenção comunitária, avaliando
experiências dos educadores da Praça da Sé e de algum projeto de base
comunitária, voltadas principalmente para o problema do desemprego.
(OLIVEIRA, W.F. apud DAVIM et al, 2009, p.134).

O primeiro órgão governamental de apoio à criança de rua surgiu em São


Paulo, em 1987, como a Secretaria do Menor (SM). Esta Secretaria contava com
recursos da Fundação BANESER que ofereciam contratação e registro de
professores. Finalmente, em 1990 temos a Lei Nº 8.069, e 13 de julho de 1990. que
dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA considera
adolescente o cidadão entre 12 e 17 anos e 11 meses, fase em que ele é considerado
inimputável, ou seja, incapaz de responder criminalmente a um crime. Somente após

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18 anos de idade será considerado responsável por um ato criminal (artigo 104 do
ECA).

O desenvolvimento biopsicossocial e cultural do adolescente sofre


influências de sua cultura e sub-cultura, da família e dos companheiros,
sendo fator mais poderoso para determinar seu comportamento, a pressão
dos grupos de pares. Soma-se a tudo isto, a carência de esclarecimentos
sobre sexo e/ou constrangimento provocado pelo tema, fazendo com que
os educadores sexuais e os pais desses jovens não assumam seu papel,
vendo-se dessa forma, os mesmos iniciarem a atividade sexual no momento
em que ainda não estão preparados. (DAVIM et al, p.133)

O pertencimento a um grupo é fator psicológico decisivo para o ajuste


emocional do adolescente. Não pertencer a um grupo de adolescentes significa
sentimento de menos valia e até depressão. Os pais e professores devem estar
atentos às manifestações de tristeza constante e de isolamento dos adolescentes.
As situações de isolamento podem ser mascaradas pelo uso frequente da internet.
A este respeito, no ano 2000, um psiquiatra japonês, Dr. Tamaki Saito
identificou uma nova doença social caracterizada por uma reclusão autoimposta, por
um período de pelo menos seis meses. Na maioria das vezes esses adolescentes e
jovens adultos isolam-se por perceber o mundo como hostil ou violento. Essa
síndrome foi identificada como hikikomori, que em japonês significa “estar confinado”
atinge indivíduos que embora sadios fisicamente não trabalham, não estudam, não
praticam atividades físicas, nem se relacionam com as pessoas, nem mesmo da
própria família.
O autoisolamento começa com faltas frequentes à escola, com longas horas
no quarto, depois os adolescentes param de fazer refeições com a família, dormem
durante o dia e ficam à noite jogando online. Vão fechando os canais de
comunicação a cada dia que passa. Precisam, a partir daí, de orientação para si
mesmos e para a família. Ao perceber casos como este o professor deve alertar os
pais a buscar ajuda e, se necessário, acionar o Conselho Tutelar para conseguir a
devida assistência à família e ao adolescente.
Outro desafio, no tocante às políticas públicas de assistência ao adolescente
diz respeito à gravidez na adolescência. Segundo relatório da Organização Mundial
da Saúde a cada mil adolescentes brasileiras entre 15 e 19 anos, 68,4 ficaram
grávidas e tiveram seus bebês.

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Segundo Carissa Etienne, diretora da Organização Pan-Americana de


Saúde/OPAS, a gravidez na adolescência “não apenas cria obstáculos para seu
desenvolvimento psicossocial, como se associa a resultados deficientes na saúde e
a um maior risco de morte materna. Além disso, seus filhos têm mais risco de ter
uma saúde mais frágil e cair na pobreza”.
A escola deve promover programas de orientação aos adolescentes e suas
famílias. Apesar de algumas meninas idealizarem a maternidade e às vezes supor
que uma gravidez poderia fortalecer o vínculo com o namorado, o que se vê,
frequentemente, é o afastamento do rapaz que, preocupado com a própria
sobrevivência e pressionado pela família, acaba por abandonar a parceira e seu filho.
Muitas grávidas adolescentes abandonam a escola acarretando danos para
seu futuro. A falta de qualificação profissional dificulta conseguir emprego, o que
perpetua as condições precárias de vida e subsistência das adolescentes nascidas
em famílias com baixa renda.
Políticas públicas como o Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD)
apresentam propostas pontuais, sem participação dos adolescentes e jovens. Outro
programa, o Programa de Saúde da Família (PSF/ESF) ao criado para dar amparo
à família, incluindo os adolescentes, não conseguiu amparar esse público em
referência à prevenção às drogas, à violência, ao abuso psicológico ou sexual e à
gravidez na adolescência.
Quanto a esta temática uma nova tentativa foi realizada em 2019, com a
criação da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, por meio
da Lei nº 13.798/2019. De acordo com a Lei nº 13.798/2019 que instituiu a Semana,
ela deve ser realizada anualmente na semana que incluir o dia 1º de fevereiro.
Enfim, cuidar da saúde física e psicológica dos nossos adolescentes deve
ser um compromisso de toda a sociedade, mas principalmente da família e da escola.
No BNCC do Ensino Médio encontramos orientações sobre como desenvolver temas
globalizadores e interdisciplinares e a sexualidade é um destes temas, que
favorecem - a participação e o protagonismo dos jovens, citam como exemplo
Núcleos de estudos: desenvolvem estudos e pesquisas, promovem fóruns
de debates sobre um determinado tema de interesse e disseminam
conhecimentos por meio de eventos – seminários, palestras, encontros,
colóquios –, publicações, campanhas etc. (juventudes, diversidades,
sexualidade, mulher, juventude e trabalho etc.). (BNCC, 2018,p.472)

Tais cuidados são necessários, para o equilíbrio emocional e uma educação plena.

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Neste contexto, é importante compreender a relevância da a escola para o


desenvolvimento saudável dos alunos, para a sua proteção sendo importante a
compreensão desse espaço e das relações estabelecidas, principalmente, entre
amigos de classe e seus professores.
A escola exerce grande expectativa no adolescente, não pela aquisição de
conhecimento, mas por ser o ponto de encontro diário com seus amigos. A escola é
o local de formação profissional e de orientação vocacional, segundo pais e
professores, mas para os adolescentes é o local onde se encontram, influenciam e
são influenciados por seus pares. Para compreender melhor a relação
escola/adolescência, eu recomendo a leitura de um livro escrito por Marlene
Rodrigues e publicado em 1976, com uma riqueza de depoimentos não encontrados
em outras obras de Psicologia. Procurei edições mais recentes, mas não encontrei.
A obra intitula-se Psicologia Educacional: uma crônica do desenvolvimento humano.
Os relatos dos adolescentes sobre a escola são ainda bem atuais:
Eu gosto muito do colégio, mas só por causa da turma. Os professores me
entediam: não há o que fazer e o que eles ensinam é desinteressante e
muito antigo. (Maurício, 16 anos)

A gente vem à escola porque é obrigada. De vez em quando aparece um


professor que é amigo de verdade, mas isso é milagre. O que vale mesmo
é o bandinho da gente. (Percival, 15 anos)

Eu adoro meu colégio, não por causa das matérias ou dos professores, mas
porque a gente pode conversar bastante e namorar. (Silene, 14 anos)

Eu gosto de estudar e de fazer coisas. Há muitas matérias interessantes


para se aprender, mas os professores não sabem ensinar e estão sempre
zangados (Luiz, 15 anos)

A escola é um desastre. Nós estamos numa era planetária há tempos e,


diariamente, a televisão mostra descobertas sensacionais. A gente vê, além
de ouvir. Mas o ensino... bem, continua medieval, quanto no século XV. É
um blá, blá, blá contínuo, irritante e ridículo. (Nelson, 19 anos)
(Rodrigues 1976, p. 126)

Então, nesta escola “desinteressante”, a partir do 5º. Ano, a criança começa


a mudar seu comportamento. Se, nos anos anteriores, ela atendia prontamente a
professora, agora volta o foco da sua atenção para os colegas, especialmente para
os “engraçadinhos” ou para os líderes da classe. Muitas vezes o líder é também o
“palhaço” da classe.

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Será então, neste ambiente que vamos encontrar uma queixa comum aos
pais e aos professores que atuam no final do Ensino Fundamental e no Ensino
Médio: a indisciplina dos adolescentes.
A indisciplina preocupa os adultos e os professores, principalmente quando
associada à violência. Os adolescentes têm dificuldades em controlar seus impulsos
e por isso, basta uma pequena provocação dos colegas para desencadear uma
reação, muitas vezes violenta. E a violência física ou moral (como no caso do
bullying) não é um problema só de países em desenvolvimento, como o nosso.
Mesmo em países desenvolvidos, com ótimas instalações e excelentes condições
de trabalho escolar há queixas de professores quanto à indisciplina e até episódios
de extrema violência, em que adolescentes armados executam colegas, professores
e funcionários e, em seguida, cometem suicídio.
A violência acontece em escolas públicas e particulares e não se restringe a
uma classe econômica, credo, gênero ou orientação sexual. Nos casos de atos
violentos os infratores são encaminhados pela escola ao Conselho Tutelar. Como
vimos na aula anterior, a função do Conselho Tutelar é orientar adolescentes e suas
famílias e não punir, até porque os adolescentes são considerados imputáveis antes
dos 18 anos.
A ideia de indisciplina está relacionada a uma dimensão ética de
cumprimento ou não, de um código de conduta. As regras podem ser cumpridas
porque concordam com elas ou porque temem alguma punição no caso de
descumprimento. Alunos indisciplinados são “reforçados” pelos colegas quando são
reconhecidos como corajosos por enfrentarem os professores e demais funcionários
da escola. Eles estabelecem, segundo Aquino (2009), a “soberania do um” (p.15).
Essa sensação de poder sobre os demais é um componente reforçador que exigirá
do professor uma atitude firme, mas não autoritária, para conter o aluno
indisciplinado.

[...] é fato que, salvo o enfrentamento personalizado de alguns, a maioria


dos educadores não sabe, ao certo, como administrar o ato indisciplinado
(dialogar? punir? encaminhar? ignorar?). Não se sabe ao certo como geri-
lo, já que muitas vezes não se é capaz de compreendê-lo em sua
complexidade. (AQUINO, I.G. 2003)

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Algumas vezes, porém, o comportamento disruptivo se dá pelo


desconhecimento das regras ou dos “combinados”. É preciso haver clareza do
comportamento que se espera do aluno e dos demais membros da comunidade
escolar. Debater a necessidade das regras e as consequências da transgressão
costuma dar bons resultados, principalmente quando as regras e as consequências
do seu cumprimento ou não são elaboradas pelos próprios alunos, com mediação
dos professores.
Ardito (1999), com o objetivo de estudar a percepção de 32 adolescentes em
escola pública de São Paulo acerca da emoção da raiva no contexto escolar, a partir
da fundamentação teórica Henri Wallon, constatou que adolescentes são afetados
negativamente nos momentos em que são desrespeitados, acusados injustamente,
humilhados na frente dos outros e nas situações em que não existe diálogo entre
aluno e professor. Também, são afetados negativamente quando há atitudes
autoritárias do docente. Constata-se ainda que os professores apresentam grande
dificuldade para entender com clareza os aspectos inerentes da adolescência. Ardito
(1999) apontou alternativa aos professores a seguinte medida: corrigir o erro sem
humilhar o discente, respeitar o mesmo em todas as situações, objetivar o diálogo,
se colocar no lugar do educando, favorecer a troca de ideias e verificar os fatos antes
de acusar injustamente os alunos.

Estrela apud Aquino (2009) aponta outros fatores, além da falta de regras
que explicam a indisciplina dos alunos:
A escola não pode ficar imune às tensões e desequilíbrios da sociedade
envolvente e, por isso, poderá ver-se a indisciplina que atualmente perturba
a vida de muitas escolas como um reflexo dos conflitos e da violência que
grassa na sociedade em geral. As desigualdades econômicas e sociais, a
crise de valores e o conflito de gerações são alguns dos fatores que podem
explicar os desequilíbrios que afetam tanto a vida social quanto a vida
escolar. (p.39)

Adolescentes refletem socialmente as experiências afetivas que vivenciam


em suas famílias. Sentimentos, como: timidez, desejo de afirmação e culpa podem
ser a origem da ansiedade que é comum nesta fase do desenvolvimento. Além disso,
o medo é outro sentimento presente. Alunos adolescentes relatam que seus maiores
medos são: falar em público e ser humilhado publicamente. Tais situações ameaçam
a integridade do adolescente e podem desencadear reações de raiva e

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agressividade. Rodrigues (1976, p. 189-190) apresenta alguns depoimentos que


ilustram esses medos e ansiedades:

Eu detesto Educação Física. Não tenho jeito para essas coisas. Sou muito
acanhada, tenho uma educação muito rígida em casa, morro de vergonha
e detesto me expor aos olhos dos outros. E se antes eu já não gostava,
agora odeio ginástica e os esportes em geral. Tenho medo do fracasso, da
gozação dos outros e dos ‘elogios’ da professora: ‘não é assim, manteiga
derretida’, ‘não é assado,madame gelatina, é assim! Ah, eu a odeio.
(Laurinha, 14 anos)

Eu me sinto muito infeliz. Sou tímido, tenho medo das pessoas e de


qualquer situação [...] quero dar a minha opinião, participar, mas não posso.
Fico paralisado. Quando eu era menino, minha mãe me mandava calar a
boca a toda hora. Na escola, o professor de Português disse, logo no
primeiro dia de aula que só poderia falar quem soubesse expressar-se
direito. Os ‘analfabetos’ que ficassem mudos. O professor de Inglês, certa
vez me mandou ler um trecho na frente de todos. Ele era zombeteiro, irônico
e eu estava trêmulo. Queria sumir ou morrer. Não sei como eu consegui ler.
Quando acabei, ele ficou em silêncio um tempo imenso. A classe e eu
também. Depois ele perguntou: ‘Já acabou, sabichão?’ Respondi que sim.
Então ele disse: ‘Bem, agora leia em Inglês. Essa língua eu não conheço’.
Resultado: quase morri de vergonha e nunca mais aprendi idioma algum,
apesar as inúmeras tentativas [...] Eu tenho medo de tudo, das pessoas,
principalmente. (Jairo, 19 anos)

Tais relatos demonstram a fragilidade psicológica dos adolescentes em


situações de abuso moral. Muitos ficam em sofrimento, aturando em silêncio a
opressão dos adultos. Outros revidam agressivamente com palavras, insultos e até
com agressões físicas.
Nem “vítimas, nem algozes” segundo Júlio Groppa Aquino, o adolescente
pode mudar seu comportamento indisciplinado, se lhe for oferecida a possibilidade
de ser ouvido e de participar ativamente das decisões que dizem respeito à sua vida
escolar. Estamos falando da democratização das relações escolares. Na escola
democrática a disciplina seria obtida, segundo o autor, mediante acordo entre os
alunos e professores, num “contrato pedagógico” em que os alunos são coautores
das regras e dos procedimentos a que se submeterão quando não cumprirem as
regras combinadas. Tais acordos podem ser elaborados em assembleias de sala de
aula, espaço e momento para falar e de ser ouvido.
Nestas assembleias exercita-se a gestão democrática da sala de aula e até
da escola, como um todo. Para ler mais sobre as assembleias estudantis Aquino
(2009) recomenda a obra Democracia e participação escolar: propostas de
atividades, de Puig Rovira, J. M.,da editora Moderna.

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Falando em democracia na escola visando o diálogo, a formação autônoma


e humanística do aluno e da escola-cidadã encerramos com palavras daquele que
ficou mundialmente conhecido por defender esses princípios: Paulo Freire
Interessou-nos sempre, e desde logo, a experiência democrática através da
educação. Educação da criança e do adulto. Educação democrática que
fosse, portanto, um trabalho do homem com o homem e nunca um trabalho
verticalmente do homem sobre o homem ou assistencialistamente do homem
para o homem, sem ele. (FREIRE, 2001, p. 70).

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