The Fear of The Dark (Blood and Moon 1)

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Essa traduçã o foi efetuada pelo grupo BASTET GODDESS; revisã o

amadora, sem fins lucrativos.

Todos os direitos dessa obra pertencem exclusivamente ao autor(a).


Reconhecimento devido aos autores, avaliem os livros em plataformas
apropriadas, e se puderem comprem a obra original.

Revisã o feita de fã s para fã s, pode conter erros; algumas palavras foram


modificadas para melhor compreensã o, mas nada que altere o trabalho
do autor(a).

Esse arquivo destina-se puramente ao uso pessoal. PROIBIDO vender ou


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SINOPSE

Assim que o sol se põ e, Grander ganha vida com os mortos-vivos. Abrigando


uma guerra territorial vampírica entre violentos Seguidores de Sangue, os
Filhos da Lua pacifistas sã o apanhadas no fogo cruzado... Nikola Kingston
caminha por este planeta há mais de sete séculos. Perdendo a vida de
adoraçã o pacífica à sua Deusa, o Filho da Lua se viu preso na violenta teia da
luta pelo poder de Grander. E quando de repente lhe é concedido acesso ao
lado da fronteira de Malkolm, quem ele encontra além do cheio de cicatrizes e
perigosamente instá vel Mestre Asher Black? Pior ainda, ele nã o consegue tirar
o corpo flexível do vampiro ou o sangue escaldante de sua cabeça...
Os jogos eram divertidos, mas isso era uma guerra - Nikola Kingston era o
inimigo. O Seguidor de Sangue Asher Black nã o responde a ninguém, exceto
seu Deus e Lorde Malkolm, governando como segundo em comando com mã o
de ferro. E quando Lord Malkolm decide converter Nikola Kingston no Deus
do Sangue, um feito que requer a morte de um Filho da Lua, Asher se vê
obsessivamente atraído pelo corpulento e mal-humorado Nikki. Asher queria
segurar essa raiva em suas mã os, moldá -la no guerreiro enterrado sob olhos
prateados e moral equivocada. Mais de um tipo de fronteira separa Nikola e
Asher. O destino os condenou a destruir um ao outro? Ou trairã o os seus
deuses e os seus clã s para responder à atraçã o que arde entre eles? Onde isso
vai acabar? No sangue ou no sexo?
THE FEAR OF THE DARK

BLOOD AND MOON

PARTE I
AVISO DE CONTEÚDO

Este é um romance Dark MM escrito para adultos. Há cenas de sexo


explícito. Os avisos de gatilho incluem; violência extrema, sangue, agressão
sexual implícita/fora da página (Não ente Mcs), suicídio, homofobia, abuso
forçado de substâncias, implicações de automutilação, morte e trauma. A
discrição do leitor é aconselhada.
Para Ron, que me colocou de pé quando pensei que não aguentaria mais.

A Kussy e Lance, por me darem força e coragem para transformar meus escritos no

que vocês estão segurando.

Para os criativos queer que achavam que nunca teriam voz, mas gritavam a plenos

pulmões, de qualquer maneira.

E para a equipe por trás de tudo.


CAPÍTULO UM

NIKOLA

Um vampiro está caçando dentro do meu bar favorito. Tanto para uma
noite de folga.
Nikola Kingston engoliu o resto de sua vodca, empurrando o copo sobre
o balcã o ú mido com o pagamento da conta preso embaixo. Ele olhou em
volta instintivamente, as pontas dos dedos batendo no topo do bar com
energia reprimida. Havia uma razã o para ele assombrar locais populares
para beber – eles eram locais de mel para vampiros de todas as classes
sociais. Isso incluía intrusos do outro lado da fronteira.
E Nikola, com seus sentidos afinados por séculos de vida, e ainda mais
aguçados vivendo sob o comando de Lady Morrigan nas ú ltimas décadas,
identificou facilmente o cheiro de cobre e pinho do clã de Lorde Malkolm.
Ele se recostou e examinou o espaço animado. A noite ainda era uma
criança, chegando perto das dez. A maioria dos lugares com uma base de
clientes humanos nã o ficava aberta depois da meia-noite, dado o fato de
que os cidadã os mortais da cidade de Grander sabiam que nã o deviam
ande pelas ruas tarde demais depois de escurecer. Mas era fim de
semana e os humanos nã o eram exatamente conhecidos por seus
instintos de sobrevivência. Entã o, o lugar estava lotado.
Mesmo assim, o invasor que Nikola avistou se destacou. Ele permaneceu
na varanda interna, examinando a multidã o dançante e bebendo abaixo
com olhos vermelhos que o marcavam como um Seguidor de Sangue.
Será que a criatura notou Nikola ou simplesmente descartou Nikola
como apenas mais um Filho da Lua? Baseando sua observaçã o na
contraçã o faminta dos lá bios do invasor e na suavidade leitosa de suas
bochechas, Nikola acreditou que ele fosse um vampiro recentemente
Transformado – jovem demais para saber melhor. Ou muito arrogante.
Nikola decidiu nã o agir ainda. Mantendo o monstro noturno na sua visã o
periférica, ele avaliou suas opçõ es. Ao contrá rio do outro vampiro, ele
nã o era um vampiro que caçava para devorar e matar.
Ele era um Filho da Lua, marcado por olhos prateados, e nã o extraía
poder nem prazer do assassinato. A perfuraçã o dos dentes de Nikola no
pescoço de um humano era semelhante ao beijo de um amante. O ato de
se alimentar, pelo menos de acordo com sua pró pria filosofia, era algo
em que um humano participava – e nã o era vítima.
Porém, verdade seja dita, se o demô nio de olhos vermelhos fosse um
membro do clã de Morrigan, Nikola nã o teria pestanejado. Você é a
companhia que mantém , sua consciência o repreendeu. Ele descartou o
pensamento, lembrando a si mesmo que devia sua vida ao seu criador, e
parte desse contrato ordenava que ele defendesse as fronteiras
estabelecidas entre Lady Morrigan e Lorde Malkolm.
O clube estava a todo vapor naquela noite fria de outubro. Homens sem
camisa e com a temperatura corporal elevada pelo á lcool tropeçavam em
torno dos outros clientes em danças de acasalamento quebradas e
suadas. O baixo eletrô nico da mú sica techno pulsava no alto-falante
montado no alto, e o chã o estava cheio de corpos balançando e bebidas
derramadas. Torcendo, rindo, cantando e o soluços ocasionais teriam
sido um zumbido sem sentido para os ouvidos humanos, mas Nikola foi
capaz de distinguir as notas individuais.
Entrelaçando-se entre os sons da vida estava o colorido das emoçõ es que
irradiavam de cada ser humano como calor. O caleidoscó pio de
sentimentos variava da excitaçã o ao desgosto e ao tédio, ameaçando
dominar Nikola se ele baixasse a guarda. Mas um Filho da Lua nã o
chegou à idade de Nikola sem aprender a filtrar até mesmo os
pensamentos mais barulhentos.
Um sorriso tocou seus lá bios. Quando jovem, o mundo de hoje era algo
que ele simplesmente nã o poderia ter imaginado. Tecnologia, política,
guerra – embora estas coisas confundissem a velha mente com a
velocidade com que progrediram – nã o podiam ser comparadas aos
círculos sociais do ser humano moderno. Nikola preferia este clube
principalmente porque era um símbolo literal de amor, sexo e interaçõ es
que antes eram um crime indescritível.
Antes que pudesse se perder na retrospectiva, como costumava fazer, ele
se concentrou respirando fundo. O intruso havia se deslocado para o lado
norte de sua sacada e Nikola nã o queria correr o risco de perdê-lo no
meio da multidã o.
Nikola seguiu a linha de visã o escarlate.
No bar do térreo, um jovem bebia uma cerveja clara. As pontas do anel
preto do septo tocavam a borda da caneca a cada aumento. Ele tinha
cabelos desgrenhados e olhos cansados. Com sua pele bronzeada e traços
faciais marcantes, ele tinha o físico perfeito para ser um banhista, mas se
vestia mais pró ximo de uma groupie de banda de rock, com a camisa
preta rasgada nas mangas e jeans skinny rasgados. Ele prestava muito
mais atençã o ao telefone do que a qualquer outra pessoa ao seu redor.
Nikola se perguntou se ele veio sozinho. O jovem parecia claramente
infeliz com sua situaçã o atual. Talvez ele tenha recebido má s notícias.
Talvez seus companheiros o tivessem abandonado onde ele estava.
Independentemente do que aconteceu, a decepçã o pairava sobre ele
como um miasma.
Não viaje pelas ruas de Grander sozinho à noite. Essa era uma regra que
Nikola ouvia sussurrar entre os humanos com frequência.
Nikola recostou-se e esperou, observando tanto o humano quanto o
vampiro mortal. Outros participantes da festa circulavam ao redor de
Nikola, alguns parando para se dirigir a ele, muitas vezes numa tentativa
bêbada de fazer algum movimento. Nikola podia admitir que se
considerava uma criatura visualmente agradá vel. Pele lisa, um rabo de
cavalo loiro prateado que chegava até o meio das costas, olhos prateados.
Suas roupas eram simples, mas elegantes, compostas por uma camisa de
botã o bem ajustada e calças sociais casuais, destacando sua constituiçã o
alta e musculosa. Ele descobriu que quanto menos se vestisse, mais fá cil
seria acompanhar as tendências modernas.
Seus admiradores consideraram sua quietude e silêncio sobrenaturais
como rejeiçã o. Se algum deles respondeu com raiva, ele nã o se importou
o suficiente para perceber.
O outro vampiro desceu as escadas em direçã o ao andar térreo. Se
houvesse algum sangue nas veias famintas de Nikola para alimentá -lo,
seu coraçã o estaria disparado de excitaçã o. O outro vampiro nã o
reconheceu sua presença, entã o talvez ele nã o visse Nikola como uma
ameaça.
Um erro comum.
O Seguidor de Sangue atravessou a multidã o na pista de dança. A criatura
evitou os clientes com tanta graça que era como se estivesse realmente
participando da celebraçã o da vida noturna. Alguns homens até tentaram
agarrar o homem esguio, mas ele escapou de suas mã os como se fossem
tã o fracos quanto a carícia de uma neblina.
O vampiro predador colocou a mã o no ombro do humano, fazendo-o se
assustar. O vampiro sorriu desculpando-se, sentando-se ao lado de sua
presa. Sangue carmesim corou nas bochechas do homem por cima da
lisonja vazia que o vampiro fez sobre seu penteado. Nikola notou a forma
como as pupilas do Seguidor de Sangue explodiram com uma fome
acentuada.
O humano fez movimentos circulares em direçã o aos seus pró prios
olhos, indicando o brilho vermelho anormal dos olhos do vampiro.
Nikola franziu a testa, suspeitando que o humano pudesse nã o ser daqui.
Havia lendas urbanas em torno dos olhos vermelhos entre os civis de
Grander – embora a maioria dos que estavam perto o suficiente para
contemplar as piscinas escarlates nã o vivessem para contar a histó ria.
O vampiro riu, dizendo em voz alta: — Lentes? Você gosta deles? — O
humano tropeçou em um elogio nervoso. O vampiro interrompeu a
tentativa desajeitada atraindo-o para um beijo intenso.
A criatura, abrindo os olhos, encontrou o olhar furioso de Nikola
enquanto o humano se afogava em flagrante. Exultando com sua vitó ria.
Ah, então ele me considera um Filho da Lua qualquer.
Se ao menos isso fosse verdade.
O vampiro predador inclinou a cabeça e murmurou seu convite ao
humano. Nikola podia sentir os tremores de seus encantos sedutores
percorrendo a sala. Nenhum humano tinha chance contra a hipnose de
um vampiro, seja da Lua ou do Sangue. Os ombros tensos do humano
murcharam e um sorriso apaixonado tocou seu belo rosto. Vampiro e
presa se levantaram, e o vampiro depositou dinheiro na conta do
humano.
Nikola permitiu que eles atravessassem a multidã o antes de decidir
segui-los. Se ele fosse muito ó bvio, o Seguidor de Sangue poderia tentar
fazer uma cena no espaço pú blico, e se era uma coisa que qualquer um
dos líderes vampíricos punia mais, eram os espetá culos pú blicos.
Ele manteve essa distâ ncia enquanto seguia a dupla na noite fria. Lua
nova, o tipo de noite em que a maioria dos Seguidores de Sangue eram
mais ativos. Ele manteve os olhos fixos na nuca do vampiro enquanto
eles manobravam pelo animado bairro festivo, os letreiros de néon e as
lâ mpadas da rua refletindo nas calçadas brancas em um vertiginoso
turbilhã o de luzes e cores. A festa O distrito era um dos poucos lugares
seguros na cidade de Grander, mas estava longe de ser hermético.
Era simples manter o controle do vampiro e de sua presa, mesmo em
meio à multidã o cambaleante e bêbada. Nikola só precisava ouvir o
silêncio de um coraçã o tranquilo.
Nikola perseguiu os dois por mais alguns quarteirõ es, misturando-se à s
sombras. Certamente o vampiro Malkolm havia percebido seu
perseguidor, mas ele parecia nã o se preocupar. Ele realmente nã o via
Nikola como a ameaça legítima que era.
Os sons do baixo e da confraternizaçã o entre bêbados desapareceram
enquanto eles caminhavam por avenidas mais silenciosas e escuras. Os
apartamentos e empresas ao redor estavam tã o mortos quanto o céu
noturno. Aqueles que moravam por aqui eram espertos o suficiente para
ficar dentro de casa depois do pô r do sol, acomodados com relativa
segurança em suas camas.
— Onde foi que você disse que morava? — a voz do humano ecoou.
O vampiro nã o respondeu e em vez disso colocou a mã o no ombro do
homem. Mesmo à distâ ncia, Nikola podia sentir a emoçã o humana
percorrendo as ruas vazias. Uma emoçã o aguda que se transformou em
medo quando os olhos do vampiro brilharam escarlates, como cerejas de
cigarro queimando no escuro.
A mã o do vampiro bateu na boca do humano, abafando seu grito que se
aproximava. A dupla se moveu como um borrã o enquanto o vampiro
puxava sua presa para mais fundo em um beco apertado. Havia um
ditado por aqui que dizia algo como: Grander é um labirinto para se
perder, então vá direto para casa e ignore os gritos na rua.
Nikola entrou em açã o, seus passos mal tocando o chã o enquanto ele
dobrava a esquina correndo. Esse humano não é seu para se alimentar, foi
o primeiro pensamento de Nikola, um fio de seu senso de dever para com
Lady Morrigan. E ele se odiava por isso, por suas açõ es nã o terem
nenhuma motivaçã o heró ica real.
Ele silenciosamente enviou uma oração de perdão à Deusa da Lua. Ela não
me abandonou depois de todos esses anos, então não a abandonarei.
O vampiro tinha o humano preso contra uma parede, com a boca
fechada. Unhas pretas enroladas em garras, cravando-se nas bochechas
macias do humano. Um sorriso alegre expô s presas animalescas
enquanto o humano se debatia em vã o. Esse sorriso vacilou quando o
Seguidor de Sangue olhou para cima e avistou Nikola atacando-o.
Utilizando toda a escala de sua constituiçã o gigantesca, Nikola bateu com
o ombro no vampiro. O humano se libertou, gritando, e caiu no chã o
fugindo. Bom, Nikola pensou. Não preciso dizer a ele para fugir.
O vampiro Malkolm caiu no asfalto, com um rosnado nos lá bios. Ele
tentou se levantar, mas Nikola deu um chute em seu rosto. Ele sentiu o
barulho de ossos quebrando sob o couro do sapato. Como a criatura nã o
tinha se alimentado recentemente, nã o havia sangue para derramar.
Nikola se ajoelhou e agarrou o intruso pelo colarinho, forçando-o a olhar
em seus olhos prateados. Os olhos vermelhos brilhando com veemência
raivosa. — Quem diabos é você, Filho da Lua? — o Seguidor de Sangue
rosnou.
— Nikola Kingston de Lady Morrigan, — ele respondeu calmamente, com
uma nota de tristeza em sua voz inglesa. — Talvez você já tenha ouvido
falar de mim.
O reconhecimento e o medo pulsaram no intruso. Antes que ele pudesse
reagir, Nikola deu um soco em sua mandíbula, deslocando-a e
nocauteando-o.

Nikola arrastou o invasor até a Dust Street, que ficava ao longo da borda
oeste da fronteira entre os territó rios de Malkolm e Morrigan. Estava
começando a chuviscar, formando poças na calçada decrépita. As
unidades habitacionais iminentes estavam totalmente silenciosas a esta
hora.
Ele rolou o vampiro sobre a linha invisível do territó rio com a ponta do
sapato. O invasor viveria esta noite, viveria para contar a histó ria.
Apenas mais uma gota no oceano que foi a histó ria de Nikola Kingston.
Ele enfiou as mã os nos bolsos e soltou um suspiro. Não estive em
patrulha, mas mesmo assim me foi negada uma bebida. Ele precisaria
caçar amanhã enquanto explorava com quem quer que fosse designado –
um infeliz acaso. Nikola detestava alimentar-se perto da presença dos
Seguidores de Sangue de Lady Morrigan, que frequentemente zombavam
dele por “deixar sua presa escapar”. Esse foi o preço de ser o ú nico Filho
da Lua no clã de Morrigan. O ú nico Filho da Lua entre todos os clã s de
Sangue, até onde ele sabia.
— Você é a companhia que mantém, — disse Nikola para si mesmo. Ele
começou a se virar, mas um movimento chamou sua atençã o.
O invasor desapareceu de onde Nikola o deixou. Um grunhido ecoou pela
noite, mais profundo dentro do territó rio de Malkolm, seguido por
soluços grosseiros. Entã o, uma segunda voz, tensa e cortante de raiva.
— Que porra você pensa que está fazendo? Você está tentando começar
uma merda que nã o tem como terminar?
— Senhor, sinto muito.— Nikola reconheceu a sú plica do invasor.
— Idiota! — Houve o som á spero de metal colidindo com osso. Entã o um
grito. Alguém, provavelmente um superior, estava disciplinando aquele
vampiro por cruzar os limites – pelo menos isso significava que foi um
incidente isolado e nã o um movimento por parte de Malkolm.
Mesmo assim, vou relatar.
Nikola continuou se movendo, deixando para trá s os sons da surra
implacá vel.
CAPÍTULO DOIS

ASHER

Asher Black ficou meio aliviado por esse idiota ter aparecido na praia
naquele momento. Ele tinha muita energia para desabafar desde que o
chefe decidiu que todos deveriam ficar quietos e observar seus inimigos.
Observar. Tch. Onde está a diversão nisso? Asher acertou um golpe final
nas costelas do idiota, aproveitando o golpe satisfatório, e jogou o pé-de-
cabra de lado. Ele bateu contra a lixeira antes de cair no concreto cheio
de lixo.
Asher olhou por cima do nariz para o idiota chorã o, afastando seus
cachos escuros e pegajosos dos olhos. Cristo, qual era mesmo o nome
desse cara? O Rei Supremo deu permissã o a Malkolm para aumentar seus
nú meros, entã o Asher estava tendo dificuldades para acompanhar
nomes e rostos de novatos.
— Mestre, por favor.— Asher revirou os olhos e o chutou na lateral para
garantir. Ele sentiu um osso quebrado sob a ponta de aço da bota. O
vampiro se agitou, estremecendo e tossindo – ele estaria engasgando
com sangue se conseguisse se alimentar.
— Eu nã o vou matar você, — disse Asher, parecendo desanimado.
Malkolm nã o gostaria que Asher eliminasse os novos nú meros para os
quais vinha pedindo luz verde nas ú ltimas duas décadas. — Mas só
porque você idiota nã o conseguiu pegar um humano em territó rio
inimigo. O que diabos você estava fazendo lá , hein?
— Meu... meu bar favorito... estou com saudades...
Asher se agachou e agarrou um punhado de cabelo do idiota, puxando
sua cabeça para trá s, entã o ele foi forçado a olhar no rosto de Asher.
Como todo mundo, o novato ficou boquiaberto com a cicatriz de uma
polegada de largura que corria diagonalmente da sobrancelha esquerda
de Asher até o canto direito da boca. Asher resistiu à vontade de bater o
crâ nio do idiota no asfalto.
— Você nã o é mais um humano,— Asher disse, sua voz uniforme e baixa,
uma alteraçã o séria de seu maníaco estridente momentos atrá s. O
vampiro tremeu. — Isso significa que você tem novas regras a seguir. Se
você sente muita falta da sua antiga vida, posso acabar com seu
sofrimento.
— N-nã o! — o vampiro gritou. Asher ficou quase desapontado. — Eu
quero viver!
— Entã o é melhor você começar a viver para Lorde Malkolm. — Asher se
levantou e verificou a hora em seu celular. Faltavam mais algumas horas
para o nascer do sol. Talvez o novato se recuperasse o suficiente para se
abrigar em algum lugar antes disso. Ah bem. Não é problema meu.
Mas antes que pudesse deixar o idiota entre os escombros, ele precisava
perguntar algo. — Estou surpreso que quem bateu na sua bunda te
deixou sem te matar. Quem você encontrou?
O vampiro ofegou entre os ossos quebrados.
— Ele... Nikola Kingston.
Asher inclinou a cabeça. Esse era um nome que ele sempre ouviu. O
mú sculo do clã de Lady Morrigan, o ú nico seguidor da Deusa da Lua que
corria entre os lobos.
— Nikola. Nikola Kingston.— Asher virou o rosto para a chuva e soltou
uma gargalhada. — Oh, o que eu faria para enfrentar você, aquele que
não mata.
Alguns disseram que Nikola era um covarde, mas Asher achou que era
preciso muita coragem para deixar seus inimigos viverem, tudo em nome
de sua Deusa da Lua.
E em nome do meu Deus do Sangue, espero que nos encontremos em breve,
Nikki.

Asher estava assobiando ao se aproximar da mansã o de Lord Malkolm.


Ficava no meio da zona sul da cidade, delimitada por muros de
paralelepípedos. Dois guardas, vestidos com tú nicas tã o escuras que
praticamente se misturavam à s sombras, estavam postados na entrada
em arco da cerca de ferro pontiaguda. Asher só teve que se aproximar
para fazê-los se afastar e abrir os portõ es.
— Bons meninos, — disse Asher, embora nã o tivesse certeza de seus
gêneros reais sob os capuzes. Ele bateu no ombro de um deles ao passar.
Nenhum dos dois reagiu fora da reverência habitual.
Velhos tempos.
Asher olhou para o exterior da mansã o. O lugar era vagamente vitoriano,
ou assim Asher pensava, completo com um par de colunas gregas, janelas
planas em arco e degraus brancos que conduziam a uma plataforma de
varanda de entrada. Ivy rastejou pelos painéis escuros das paredes,
conduzindo o olhar até as pontas de suas torres.
Dolorosamente estereotipado. Asher se perguntou preguiçosamente
como Lady Morrigan viveu isso. Se Asher fizesse as coisas do seu jeito,
ele modernizaria as coisas, criaria o lugar perfeito com o qual as crianças
legais só poderiam sonhar. Barris e um teatro ao ar livre e coisas assim.
Ei. Talvez houvesse uma razã o para ele nã o ser responsá vel pelo design
exterior.
Ele suspirou melancolicamente e subiu os degraus, olhando com desdém as
gárgulas de carvão apoiadas do lado de fora. Sério, foi o chefe encarregado
da decoração ou foi algum aleatório que acabou de ouvir a palavra
vampiro e saiu correndo com ela?
— Lar Doce Lar! — Asher chamou para o salã o de baile. O amplo espaço
era decorado em tons de vermelho profundo – carpete escarlate, cortinas
marrons e tapeçarias de fogo adornando a insígnia do lobo uivante de
Malkolm. O lustre acima brilhava com rubis.
À primeira vista, tudo parecia impecá vel. O chã o era tã o polido que
refletia os tetos arqueados e os arcobotantes.
Apó s uma inspeçã o mais detalhada, pode-se perceber detalhes
imperfeitos. Sangue velho manchou o chã o e algumas bandeiras. Havia
fendas e rachaduras nas paredes e no piso onde os vampiros se
agarravam com suas garras. O leve cheiro de decomposiçã o estava
permanentemente presente no ar.
Embora atualmente vazio, era fá cil evocar a imagem do salã o de baile
cheio de vampiros vorazes, atacando uns aos outros em seu caminho
para massacrar os infelizes humanos presentes. O cheiro metá lico ú mido
se agarrou a todas as superfícies.
Dois lances de escadas subiam até os andares superiores. A esta hora,
muitos vampiros do lado de Malkolm na cidade estariam no subsolo ou
escondidos em seus aposentos privados.
— Mestre Asher, Lorde Malkolm está esperando por você.— Asher
inclinou a cabeça na direçã o de Riccardo, avistando o Vampiro
Mascarado quando ele apareceu. Asher nunca tinha visto o rosto do cara
desde que ele constantemente o escondia atrá s de uma má scara pá lida
de Mardi Gras, apenas seus lá bios brancos visíveis. Através dos boatos,
Asher ouviu rumores de cicatrizes terríveis de origem violenta.
Sim, identificável.
— Entendi, — disse Asher e começou a se dirigir à s portas ornamentadas
abaixo das escadas. Em cada um havia esculturas intrincadas e
espelhadas dos lobos de Malkolm. Riccardo curvou-se ao passar e seguiu
atrá s dele. Asher, por instinto, estava ciente de cada movimento de
Riccardo.
Asher parou e deixou Riccardo abrir as portas com maçanetas douradas.
Avançando, ele retomou a liderança quando começaram a descida para
as cavernas sinuosas. Luzes laranja zumbiam pelos corredores
apertados, sua potência diminuindo. Asher relembrou sua primeira
impressã o como membro dos mortos-vivos – a visã o noturna. A
escuridã o nã o era um véu para o vampiro, mas simplesmente um filtro
de roxos, azuis e cinzas.
Asher nunca lamentou sua vida humana. Por que ele faria isso, quando
ser imortal era tã o libertador?
Ele soltou uma risada que ecoou pelos corredores. Ele sentiu Riccardo
lhe lançar um olhar, mas o Vampiro Mascarado nã o perguntou.
Eles chegaram a uma porta de madeira, com outro lobo meticulosamente
esculpido em sua superfície. A coisa podre era mais antiga que toda a
mansã o acima de suas cabeças, mas nã o tã o antiga quanto as pró prias
catacumbas. Lorde Malkolm era mais velho do que tudo.
Riccardo se moveu para usar a aldrava de bronze, mas Asher já estava
batendo na porta com os punhos.
— Entre,— veio a voz pesada do senhor. Asher abriu caminho, caindo de
joelhos e abaixando a testa no chã o frio. Riccardo fez o mesmo ao lado
dele. Havia apenas três seres aos quais Asher se curvaria: seu senhor, seu
rei e seu deus. Ele mataria por Malkolm. Ele morreria uma segunda
morte pelo Rei Supremo. Ele já havia morrido uma vez pelo Deus do
Sangue.
Mas a sua devoçã o foi dada voluntariamente – e nã o recebida.
— Levante-se, — ordenou Lorde Malkolm. Em sincronia, Riccardo e
Asher se levantaram e sentaram-se de joelhos. Asher observou a cena.
Malkolm usava vestes de cetim, o cabelo preto puxado para trá s por uma
fita índigo e a barba na altura do peito amarrada frouxamente. Velas
tremeluziam por toda parte, fazendo sombras dançarem pela extensa
biblioteca de livros antigos e pergaminhos ainda mais antigos que
caberiam perfeitamente em um museu. Cera derretida e fragmentos de
ossos cobriam o chã o de terra e em algum lugar da escuridã o havia um
gotejar constante de á gua.
Como comandante de criptídeos, ele com certeza vivia como um.
Na parte de trá s da toca havia um altar dedicado ao pró prio Deus do
Sangue. Fêmures e crâ nios estavam dispostos sobre uma mesa baixa, e
uma tigela manchada de sangue, atualmente vazia, foi colocada de lado.
Velas de chá iluminavam a pintura da era renascentista da divindade
feroz.
Dois megafones enrolados na cabeça careca do homem musculoso, sua
pele bronzeada ondulando com mú sculos e seus olhos vermelhos
brilhando com raiva desenfreada enquanto ele entregava um machado
de duas pontas, escarlate pingando de sua borda. A seus pés descalços
estavam os corpos empilhados de homens mortos em armaduras
brilhantes, uma lua envolta em nuvens de tempestade pairando ao fundo.
Asher estremeceu de reverência, enviou uma rá pida oraçã o de lealdade e
forçou sua atençã o de volta para seu senhor.
— Encontrei-me com Sua Majestade esta noite, — disse Malkolm, com a
voz suave como seda. Seu tom era indiscernível e seus olhos estavam
vazios enquanto ele olhava para Asher. — Ele me aconselhou a permitir
que Nikola Kingston, de Lady Morrigan, tivesse acesso ao nosso
territó rio.
Asher franziu a testa. Aquele homem de novo. — Ah, palavra? — Ele
sentiu Riccardo enrijecer ao seu lado e acrescentou com tato: — Meu
senhor.
Malkolm nã o reagiu ao lapso de respeito. Asher teve sorte de ser quem
era, sendo o segundo em comando e tudo.
— Sim. Sua Majestade acredita que, apesar do envolvimento direto de
Nikola sob o comando do Mestre Corvellious, o tratado que permite o
santuá rio dos Filhos da Lua em toda Grander se aplica a ele também.—
Ele acariciou as fibras lisas de seu cavanhaque, um sorriso cruel se
espalhando por seus lá bios vermelhos. Criou o retrato de um demô nio.
Asher sentiu seu â nimo aumentar de excitaçã o.
— O Rei Supremo... tem meu favor.
Asher sorriu com todos os dentes, compreendendo de repente. Riccardo
nã o estava muito atualizado e se atreveu a perguntar: — Permissã o para
falar, meu senhor? — Malkolm ergueu uma sobrancelha. — Isso nã o
permite que Nikola funcione como espiã o?
Malkolm ergueu o queixo, a expressã o endurecendo. Riccardo deixou
cair a testa na terra. O senhor falou, sua voz entrecortada.
— Eu expressei meu desejo de... adquirir Nikola pessoalmente, e esta foi
a proposta do Rei Supremo. Nó s o deixamos entrar, e ele pode se juntar a
nó s sob o comando do Deus do Sangue, nos deixando muito mais perto
de derrotar o exército covarde de Morrigan.
Malkolm sustentou o olhar de Asher. O jovem vampiro se contorceu de
antecipaçã o. — Nikola receberá um convite em breve. E quando ele
aceitar, preciso que você o traga até mim... e fique de olho nele. Seguindo
em frente, converter Nikola Kingston e aprender tudo o que puder sobre
o clã de Morrigan no processo será sua principal prioridade. Designarei
Riccardo para supervisionar os recrutas mais novos durante qualquer
uma de suas ausências.
Asher estava feliz por nã o ter que chicotear e chutar recém-nascidos
selvagens em soldados disciplinados, mas mesmo isso nã o era nada em
comparaçã o com a perspectiva de enfrentar o lendá rio Nikola Kingston.
Qual é a melhor maneira de direcionar alguém para o Deus do Sangue?
Bem ... com sangue.
Ele engoliu uma risada maníaca. O próprio Deus do Sangue respondeu à
minha oração, ao que parece. Asher manteve a compostura ao dizer: —
Como desejar, meu senhor.
Você e eu nos encontraremos em breve, Nikki Kingston.
CAPÍTULO TRÊS

NIKOLA

Nikola morava em um subú rbio rico fora dos limites da cidade. Oakwood,
lar de mansõ es barrocas e de aposentados que raramente se
aventuravam em Grander. As casas do bairro eram espaçadas
esporadicamente, permitindo a cada morador seu amplo quintal. Muitos
foram cercados, outros pontilhados por viveiros de peixes.
As á rvores floresciam entre as propriedades, uma lufada de ar fresco
natural depois de serem cercadas pelo horizonte da cidade e zonas de
construçã o. Estradas de cascalho serpenteavam pelo cená rio, um desses
caminhos subia até uma pequena mansã o no topo de uma colina.
Era descaradamente gó tico. Telhados pontiagudos e á guas-furtadas
íngremes tornavam o projeto assimétrico, mas permaneciam graciosos
com suas janelas salientes e acabamentos brancos salpicando a madeira
marrom. O alpendre, com gradeamento decorado com arcos agudos,
envolve o primeiro andar, forrado de sebes. Trepadeiras subiam pela
parede norte, como se a natureza estivesse tentando arrastar a escura
casa de bonecas para a floresta circundante.
Sempre teatral, foi Veronica quem escolheu a casa, e quem eram Nikola
ou Francis para negar à jovem donzela seus desejos excêntricos?
Nikola estacionou o Lexus compartilhado, de propriedade de Veronica
sob seu pseudô nimo humano, na garagem. O espaço estava lotado com
uma coleçã o de instrumentos musicais e materiais de arte de Veronica,
seu meio em constante evoluçã o. Nikola afastou a insegurança de que ele
realmente nã o acrescentava nada ao conjunto da vida, sempre servindo
sob o comando de Corvellious, o vampiro que o gerou.
Com um suspiro, ele entrou em sua casa, permitindo-se uma sensaçã o de
conforto. Atravessando a cozinha de azulejos pretos e brancos que
continha apenas copos e uma geladeira cheia até a borda de uísque e
vinho, ele foi até a sala de estar. Três sofá s vermelhos circulavam em
frente a uma lareira fria. Uma mesa de centro de mogno ficava no centro,
repleta de esboços inacabados e poemas incompletos. Um lustre brilhava
no alto, aquecendo o local com seu brilho suave.
Tapetes gastos subiam pelas amplas escadas que levavam ao resto dos
corredores da casa, cada centímetro das paredes decoradas com algum
tipo de pintura, madeira queimada, tapeçaria ou fotografia.
Uma pintura da Deusa da Lua acima do manto da lareira deu as boas-
vindas a Nikola em casa. Ele parou diante dela, examinando suas
pró prias pinceladas. A obra de arte já tinha uma década e retratava a
mã e de todas as Crianças da Lua ajoelhada nas á guas de uma salina. Sua
pele era negra como a noite, pontilhada pelas luzes de estrelas distantes.
Seu cabelo, pairando sobre os ombros delicados, brilhava branco com a
luz refletida da lua cheia. Seus olhos estavam fechados - uma decisã o
artística porque Nikola nã o achava que conseguiria capturar totalmente
o brilho surreal que fazia suas pró prias íris parecerem ferro barato em
comparaçã o.
Ele nã o ouvia a voz dela há três décadas, desde que serviu no clã de
Morrigan. Pela vida dele, ele nã o poderia suportar olhar na cara dela. Eu
poderia ser melhor para você. Mas como sem virar as costas ao Mestre
Corvellious? Depois de tudo que seu pai vampiro fez por ele?
Corvellious era dono de si, podia escolher seu pró prio caminho... e Nikola
devia a ele sua segunda vida.
Nikola pode passar o resto de seus dias tentando diminuir a distâ ncia
entre eles. Era possível que Corvellious tivesse seu pró prio sentimento
de traiçã o.
Nikola preferiu nã o insistir nessas coisas.
— Jesus, cara! — Nikola ficou surpreso, assustado com o ú nico que
poderia se aproximar dele. — Quando foi a ú ltima vez que você se
alimentou?
Nikola se recompô s e encarou o membro do seu clã , uma impressionante
mulher de ascendência africana. Embora a maior parte da companhia de
Sangue que ele mantinha o considerasse extraoficialmente parte do clã
de Morrigan, a verdade é que ele ainda era um Filho da Lua. E ao
contrá rio da hierarquia de luta pelo poder entre os Seguidores de
Sangue, os clã s da Lua eram tipicamente menores e mais íntimos. Os
covens lunares eram famílias escolhidas, e nã o fileiras que se esperava
que se alinhassem.
Veronica, tã o parecida com uma irmã mais nova de Nikola, jogou os
braços em volta dos ombros dele. Um instante se passou antes que ele
retribuísse o abraço – os Seguidores de Sangue nã o estavam
familiarizados com o toque casual. A floresta de seus cachos crespos
derramou-se em seu rosto, fazendo có cegas em seu nariz. Ela cheirava a
perfume caro e irradiava uma alegria desenfreada.
— Como foi Nova York? — Nikola perguntou, nã o querendo continuar o
assunto sobre sua alimentaçã o negligente. Ele tinha se visto no espelho
retrovisor mais cedo, entã o já estava ciente dos fios grisalhos crescendo
na linha do cabelo e nas sobrancelhas. Uma das diferenças notá veis entre
as Crianças da Lua e os Seguidores de Sangue era como seus corpos
reagiam à falta de nutriçã o: as Crianças da Lua começaram a envelhecer,
o que era uma troca melhor para a decomposiçã o lenta, o destino dos
Seguidores de Sangue famintos.
Seus dentes afiados e olhos prateados brilhavam enquanto ela sorria. Seu
vestido fofo, feito de babados vermelhos e um espartilho preto rendado,
zombava da corte vitoriana. Embora ela pró pria tenha nascido no início
dos anos 90, Veronica era conhecida por se vestir de todas as outras
épocas além da sua - embora suas tatuagens de espinhos de hera
envolvessem seu braço esquerdo e a imagem de uma mariposa com uma
caveira olhando maliciosamente por entre as asas no a direita
normalmente prejudicava o efeito.
— Foi maravilhoso. Nã o acredito que fiquei tanto tempo sem visitar a
cidade.
— Espere até ver o resto do mundo, — disse Nikola, sorrindo
suavemente.
Veronica bateu palmas, seu vestido esvoaçante farfalhando enquanto ela
pulava animadamente de um pé para o outro.
— Esse é o plano!
Nikola ouviu movimento na esquina, as chaves do carro tilintando.
— Se ao menos ela pudesse parar de se envolver em brigas de rua,—
Francis disse, seu rosto moreno sério, mas seu tom leve. Ele estava
vestido com um terno risca de giz e gravata impecá vel, combinando com
a paleta de cores vermelha e preta de sua esposa. Ele era mais alto que
Nikola, mas nã o tã o volumoso, com dreadlocks orgulhosos caindo sobre
seus ombros largos.
— Saudaçõ es, irmã o,— disse Nikola, quase formalmente, baixando a
cabeça. Alguns hábitos nunca morrerão completamente. — O que você
quer dizer com brigas de rua? É por isso que você chegou em casa mais
cedo?
Veronica pisou forte, cruzando os braços, e imediatamente saltou em sua
pró pria defesa.
— Ele teve o que mereceu! O bastardo... espere. — Ela parou no meio da
frase, estreitando os olhos. — Você tem regado minhas plantas?
— Uh... principalmente, — Nikola murmurou, lançando um olhar de
pâ nico para Francis, que permaneceu impassível. Veronica gritou e
desapareceu escada acima, seus passos de repente bastante altos para
um vampiro.
— Tivemos que sair um dia mais cedo porque ela atraiu a atençã o de um
recém-nascido Seguidor de Sangue. Eu consegui convence-lo a sair, mas
ela insistiu em persegui-lo e praticamente deu de cara com seu pai.
Francis fez uma pausa. — À s vezes me pergunto se a Deusa realmente a
reivindicou ou se é o Chifrudo disfarçado.
Nikola riu.
— Na semana da lua nova, nunca deixa de fazer o mundo ficar infestado
de vermes. Além disso, como foi sua visita a Nova York?
— Lotado, desagradá vel, fedorento como sempre, mas meu amor teve
uma primeira vez deliciosa na cidade, entã o suponho que nã o posso
reclamar. — Francis lançou um olhar para cima, seu olhar endurecido
suavizando-se com afeto. Nikola fez o possível para ignorar a pontada de
solidã o. Nã o era como se Nikola estivesse em condiçõ es de adquirir uma
companheira. A maioria das outras Crianças da Lua nã o podiam confiar
nele, por razõ es pelas quais ele nã o podia culpá -las.
Ele ficou aliviado por Francis e Veronica estarem em casa novamente. Os
três, seu passado e seu presente, estavam muito intrinsecamente ligados
à s disputas territoriais dos Sangue para que encontrassem algo além de
parentesco um no outro.
— Você está exausto, — Francis sentiu, franzindo a testa para seu velho
amigo. Nikola se virou, olhando para a pintura sem realmente vê-la. —
Ouvi rumores sobre a tensã o entre Morrigan e Malkolm aumentando.
Nã o é tarde demais para você sair.
Você sabe que não é tão simples. O que isso faria de Nikola, fugindo de seu
pai vampiro novamente, especialmente durante um momento de crise?
Ele nã o conseguiu formular as palavras certas, entã o sorriu
educadamente. Ele deu um aperto amigá vel nos ombros de Francis e
roçou-o, num pedido tá cito para ir para a cama.
A vida de Nikola era uma teia de aranha de lealdade complicada, e
quanto mais ele lutava, mais enredado ficava.

À primeira vista, a sede de Morrigan parecia uma agência de negó cios.


Seria de esperar que vendedores de terno completo entrassem e saíssem
pelas portas da frente. Com cinco andares de altura, o estabelecimento
imaculado nã o trazia nenhum logotipo ou sinalizaçã o. As janelas, escuras
com cortinas opacas, refletiam o brilho da cidade circundante. As cercas
de arame farpado que circundavam o quartel-general davam a Nikola
uma sutil impressã o de prisã o. A ú nica quebra na esterilidade era a parte
final da propriedade, réplicas de está tuas gregas e roseiras florescendo
entre os viveiros de carpas.
Nikola aproximou-se silenciosamente da recepçã o. Sofá s e vasos de
plantas falsos decoravam o lobby, como se o estabelecimento fosse um
escritó rio de advocacia e nã o a sede de um dos dois principais clã s de
mortos-vivos em disputa.
— Ah, Nikola,— a recepcionista cumprimentou, seus cachos de fogo tã o
brilhantes quanto seus olhos vermelhos. Batom roxo lascava seus
caninos pontiagudos. — Lady Morrigan me deixou uma mensagem para
você.
O coraçã o de Nikola teria saltado de ansiedade se ele tivesse tido tempo
para se alimentar, mas por assim dizer, o ó rgã o estava frio e imó vel. Ele
nã o permitiu que a emoçã o penetrasse em sua expressã o impassível.
— Ela fez isso agora? — ele rugiu.
— Ela está esperando por você na Sala de Conferências Dois B com
Mestre Corvellious. — A recepcionista riu. — Que emocionante para
você, Filho da Lua.
Essa é certamente uma maneira de colocar as coisas. Nikola agradeceu à
mulher e foi até o elevador. Ao ser carregado até o segundo andar, ele
refletiu sobre quã o pouco se correspondia diretamente com Lady
Morrigan. Na maior parte, ele se reportava ao Mestre Corvellious. Nã o
querendo se atrapalhar, ele forçou sua mente em branco e foi em direçã o
à sala de conferências. Ele acenou com a cabeça cerimoniosamente para
cada Seguidor de Sangue por quem passou, a maioria dos quais o
ignorou.
Nikola afastou a sensaçã o sempre presente de isolamento e entrou na
sala designada. Ele ficou surpreso ao encontrar apenas dois vampiros
presentes – Lady Morrigan e seu segundo em comando, Mestre
Corvellious.
A senhora ficou de frente para a janela, as persianas abertas. Como todos
os Seguidores de Sangue, ela nã o refletia. Seu cabelo escuro, com mechas
prateadas devido à idade, fluía como cachoeiras escorregadias pelas
costas. Ao redor dos lá bios pintados de vermelho havia leves linhas de
riso, correspondentes rugas nos cantos dos olhos. Um idoso Seguidor de
Sangue, uma visã o lendá ria.
A visã o dela causou um ataque de flashbacks que Nikola passou a maior
parte do tempo reagindo. Um flash de olhos vermelhos em triunfo, o grito
de uma jovem. Foi como sufocar o vô mito, contendo as lembranças antes
que elas pudessem dominá -lo. Essa era, na verdade, uma das razõ es
pelas quais ele se alimentava apenas com o mínimo necessá rio – havia
algo nas propriedades do sangue fresco que aguçava memó rias distantes.
Mestre Corvellious já estava sentado, os braços cruzados sobre o peito
só lido. Ele ficou bonito por causa de um queixo esculpido e uma trança
branca de fios sedosos, uma carranca perpétua e cansada em seu rosto
solene. O resultado final foi o retrato de um homem cansado, nascido nas
encostas inglesas. O pró prio Nikola era considerado velho entre a
maioria dos vampiros, mas tanto Morrigan quanto Corvellious
carregaram séculos que nem ele conseguia compreender.
Nikola caiu de joelhos diante de seus superiores, com o queixo abaixado.
Corvellious olhou para seu filho vampiro, sua expressã o ilegível – e suas
paredes altas. Pelo que Nikola pô de ler sobre ele, era como se seu criador
vivesse em constante estado de fú ria entorpecida.
Morrigan finalmente se afastou dos painéis da janela, suas belas feiçõ es
contraídas em contemplaçã o. A raiva e a incerteza pulsavam nela em
ondas, aprofundando a apreensã o de Nikola.
— Venha, Nikola, — ela falou com um sotaque inclinado, mantendo
traços de suas antigas origens gregas. Ela apontou para a mesa de
conferência. Nikola se perguntou por que eles nã o se conheceram no
escritó rio principal de Morrigan e adivinhou que ela nã o queria rumores
e fofocas correndo soltas. — Sente-se conosco.
Nikola levantou e sentou na ponta da mesa, sabendo que nã o deveria
sentar muito perto de seus superiores. Morrigan sentou-se no assento da
cabeceira, Corvellious diretamente à sua direita. Nikola manteve o olhar
baixo, atento para nã o fazer contato visual.
Houve um tempo em que deitei minha cabeça no peito de Corvellious – olhe
para nós agora. Nikola enterrou sua dor.
— Recebi um convite de Lord Malkolm,— começou a senhora. — Em
relaçã o a você.
Eu? As sobrancelhas de Nikola franziram. Ele olhou para Mestre
Corvellious, mas sua expressã o vazia nã o revelava nada. Nikola repassou
as ú ltimas noites em sua cabeça, sabendo que nã o havia cruzado a
fronteira. Poderia ter sido por causa do grunhido de Sangue que ele
jogou? Eu ainda preciso relatar isso.
Corvellious falou, seu sotaque melodioso era o de uma língua extinta de
seu país natal.
— Nã o sabemos o motivo, mas o Rei Supremo decretou que você deveria
ter rédea solta em toda Grander. Foi argumentado que, uma vez que as
leis de fronteira entre os Seguidores de Sangue nã o se aplicam aos Filhos
da Lua, também nã o deveriam se aplicar a você.
Ele espalhou uma carta escrita com a caligrafia florida de Lorde Malkolm,
carimbada com um lobo uivando em tinta preta. Os olhos de Nikola se
arregalaram – moro aqui há três décadas e só agora isso foi questionado?
Morrigan leu a suspeita dançando em seu olhar e assentiu solenemente.
— Há um motivo oculto aqui – mas de quem nã o posso dizer. O Rei
Supremo está fazendo um movimento para reconfigurar o layout de
Grander ou isso é a pedido de Malkolm? O que seu clã ganharia com você,
um dos meus pró prios soldados, vagando livremente por seu territó rio?
— Uma armadilha, talvez, — Nikola falou pela primeira vez, sabendo que
ela esperava uma resposta. — Ou para me incapacitar ou para me matar.
Morrigan inclinou a cabeça para o lado, fechando os olhos.
— Essa seria a resposta mais ó bvia. Mas convidá -lo para sua pró pria
mansã o é uma maneira bastante indireta de fazer isso.
Nikola estremeceu.
— Perdoe-me, minha senhora, mas você disse...?
Corvelious assentiu. Nikola sentiu uma suave onda de emoçã o nele –
preocupaçã o. Nikola sabia que nã o deveria pensar que isso era uma
preocupaçã o com o bem-estar de Nikola, pelo menos nã o a nível pessoal.
Morrigan e Corvellious o jogariam de lado se ele nã o fosse mais ú til para
eles, mas do jeito que estava, ele era atualmente o lutador mais forte
deles.
— Também é possível que esta seja a primeira peça de xadrez movida
em direçã o a um tratado renovado, você é o símbolo disso. Nã o sabemos
exatamente o que o Rei Supremo quer, mas sabemos que está chegando a
hora de ele escolher um novo sucessor.
Nikola nã o tinha nada a acrescentar a isso.
— Quando devo... aceitar... este convite?
— Esta noite, — disse Morrigan. Ela se levantou, cruzando as mã os atrá s
das costas. Nikola se recusou a reagir. — Ignorar o convite seria ignorar
o decreto do Rei Supremo.— Ela suspirou profundamente. — Mestre
Corvellious irá levá -lo até a fronteira. Malkolm pediu que você esperasse
no hospital abandonado a leste do parque, para onde enviará uma
escolta. No má ximo, esta poderia ser uma oportunidade para aprender
melhor o funcionamento do nosso adversá rio.
E na pior das hipóteses, você receberá minha própria cabeça em uma
bandeja. Nikola baixou o queixo, os punhos cerrados no colo.
— Sim minha senhora.— Ele se levantou para ir embora, esperando
Mestre Corvellious.
— Ah, e Nikola? — Ela olhou para ele. — Volte vivo. Você é muito mais
ú til para mim dessa forma.
Ele deu um sorriso tenso e irô nico.
— Farei o meu melhor, minha senhora.

— Cabeça erguida, Nikola, — disse Corvellious na despedida. Nikola


tinha acabado de ultrapassar a fronteira invisível, deixando seu criador
do outro lado, e estava prestes a seguir em direçã o ao esqueleto
abandonado de um hospital que nunca receberia pacientes. — Você
estará cercado por aqueles que encontrou apenas em combate, e há uma
grande chance de que nem todos os Malkolm conheçam seu... asilo.
— Sim, Mestre, — disse Nikola.
Sem se despedir, Corvellious se virou e foi embora. Nikola podia sentir os
vá rios Seguidores de Sangue de Morrigan à espreita nas sombras dos
edifícios e construçõ es pró ximas, mas eles nã o seriam de muita ajuda do
outro lado da linha – a menos que quisessem iniciar uma guerra total.
Talvez seja isso que Malkolm queira, e eu sou apenas a semente.
Nikola nã o estava lá para questionar suas ordens, apenas para
acompanhá -los.
Ordem número um. Aguarde a escolta.
Ordem número dois. Veja o convite de Malkolm.
Ordem número três. Sobreviver.
Nikola passou pela porta inacabada, o chã o ainda com terra sob os pés.
Ele olhou ao redor. A geada estava começando a se instalar na estrutura
de metal, e havia latas de cerveja e lixo espalhados entre as ervas
daninhas que começavam a crescer. Nikola se perguntou quantas dessas
festas noturnas acabaram se tornando sustento para vampiros.
Atrá s dele, ouviu passos pesados de alguém que nã o se importava se
fosse ouvido. Nikola encarou a pessoa e ficou surpreso com quem viu.
O Seguidor de Sangue era um homem mais jovem, com pele de cor creme
impecá vel. Isso foi, além da cicatriz cruel que corria de um canto ao outro
do rosto. Ele era quase todo pernas, mú sculos rijos definidos em jeans
justos. Ele usava uma jaqueta de couro, acentuando seus cachos
desgrenhados emoldurando suas feiçõ es marcantes.
Nikola nunca conheceu pessoalmente o vampiro mais jovem, mas ainda
assim o reconheceu. Mestre Asher Black, segundo em comando do clã de
Malkolm. Ninguém sabia realmente de onde ele vinha, aparecendo nas
ruas há cerca de nove anos e subindo na hierarquia a uma velocidade
impossível.
E ele era talvez o vampiro mais perigoso que andava pelas ruas de
Grander. Ou assim foi contada por aqueles que testemunharam
encontros. Nikola estava inclinado a acreditar, olhando para a centelha
selvagem que girava em seus olhos redondos.
— Nikki Kingston! — Mestre Asher gritou, sua voz mais alta do que
Nikola esperava. Ele abriu os braços, seu sorriso desequilibrado. Nikola
avaliou o ambiente e nã o conseguiu captar som ou emoçã o de nenhum
outro lugar – o vampiro maníaco veio sozinho. — Você nã o tem ideia de
quanto tempo eu queria conhecer você. Sou um grande fã , grande fã .
Nikola nã o sabia o que pensar disso. Sem tirar os olhos dele, ele baixou a
cabeça e disse: — Saudaçõ es, Mestre Asher.
— Oh, por favor. Você também está nessa merda formal? — O
aborrecimento que se espalhava por seu lindo rosto cheio de cicatrizes
deixou Nikola nervoso. Eu seria um tolo se subestimasse a mão direita de
Malkolm.
— Er...— Se eles tivessem se conhecido em qualquer outra circunstâ ncia,
haveria uma briga. Certamente isso nã o era uma armadilha, nã o se Asher
nã o trouxesse reforços.
Asher ergueu uma sobrancelha, virando a cabeça para o lado – avaliando
Nikola.
— Você parece tenso. Nã o estou aqui para te matar. Meu chefe nã o iria
querer isso. Mas, — a alegria nã o diluída voltou à s suas feiçõ es,
confundindo Nikola, — ele nã o disse merda nenhuma sobre agredir você
um pouco.
Imagens de Nikola sendo atacado e nocauteado, apenas para acordar
preso por correntes, dispararam em sua cabeça.
— Pretendo ir pacificamente, — disse Nikola em tom suave,
estabelecendo sua postura de qualquer maneira. — Nã o há nenhuma
razã o real para me conter.
— Conter você! — Asher inclinou a cabeça para trá s e soltou uma risada.
O som ecoou pelo espaço vazio. — Eu nã o quero restringir você. Eu só
quero me divertir um pouco.
O que? Nikola, apesar de tudo, nã o conseguiu evitar a pró pria careta.
— Com licença?
— Você gosta de lutar, nã o é?
Não particularmente. Nikola apenas piscou para o jovem vampiro. Asher
zombou e revirou os olhos.
— Claro que sim, — Asher respondeu por ele. — Ou você nã o seria tã o
bom nisso. Eu só quero ver isso em açã o.
Isso foi... uma sessão de treinamento para ele? Nikola o observou como
um falcã o enquanto Asher começou a andar. A constituiçã o do jovem
vampiro era á gil, mas ele já tinha ouvido descriçõ es suficientes da
agilidade incompará vel do homem. Ele era construído como o fio de uma
navalha, e Nikola se viu se preparando para o corte da lâ mina.
— Gostou do que você viu, Nikki? — Asher inclinou o rosto. Nikola
examinou a cicatriz cruel, a curiosidade tomando conta dele. Foi de uma
faca serrilhada ou das garras estendidas de um Seguidor de Sangue? Um
encontro aleató rio ou a ira pessoal de Malkolm?
Asher pegou Nikola olhando, e todo o humor desapareceu de seu rosto.
Então, ele está falando sério sobre uma briga. A mudança de humor o
envelheceu alguns anos, como abrir a cortina para revelar a verdadeira
natureza do notó rio vampiro. Asher expô s seus caninos polidos –
brancos e imaculados, sinais de sua relativa juventude.
A voz de Asher caiu algumas oitavas abaixo, um rosnado rouco.
— Nã o faça rodeios agora, Nikki.
Nikola nã o disse nada, antecipando a investida de Asher.
Apesar de suas longas pernas, Asher manteve-se irritantemente perto do
chã o – uma aranha caçadora alcançando sua presa. Mas não sou uma
presa, Nikola pensou desafiadoramente, e sentiu o calor do combate
queimar suas veias. Ele evitou o joelho ascendente de Asher antes que
ele pudesse acertar.
Nikola deu um soco, mas Asher foi rápido, esquivando-se habilmente
para passar por baixo dele.
— Niki! Nikki! — Asher cantou, levantando-se e dando um chute no peito
de Nikola.
Pernas. Todas as pernas. Nikola caiu de costas no chã o, o impacto
reverberando em seu nú cleo. Antes que ele pudesse se recuperar, Asher
estava em cima dele, montando-o pela cintura.
As unhas de Asher, curvando-se em pontas terríveis, cortaram seu
pescoço, as pontas mordendo sem romper a pele. Se ele pretendesse me
matar, ele teria feito isso. Os olhos escarlates brilharam de vitó ria,
acendendo a raiva dentro de Nikola.
— Ah, isso é tudo? — ele arrulhou.
Com um rugido, Nikola virou Asher para baixo dele, pressionando as
pernas do vampiro mais jovem para baixo com os joelhos. Asher soltou
uma lufada de ar com um “Oof”. Nikola acertou um soco em sua
mandíbula, sentindo a parte de trá s do crâ nio de Asher saltar contra a
terra compactada.
Ele puxou o punho para trá s enquanto agarrava a garganta esbelta do
jovem vampiro, sentindo o sangue pulsando nas artérias recentemente
alimentadas de Asher. Estou tão desnutrido, Nikola pensou consternado,
com sede o suficiente para querer cravar suas presas doloridas na pele
lisa do Seguidor de Sangue.
Nikola vacilou.
Asher sorriu, a expressã o dividindo seu rosto. O sangue escorria de sua
testa, o corte a um quarto de polegada de distâ ncia da cicatriz. Suas
palavras chiaram nos dedos de Nikola quando ele disse: — Vamos, Nikki.
Bata em mim como se você quisesse fazer isso.
Nikola, normalmente adepto de bloquear emoçõ es durante uma briga,
registrou o pulso aquecido vibrando por Asher. O bastardo estava... se
divertindo com isso? O corpo de Nikola reagiu com empatia, de repente
muito consciente da proximidade de suas posiçõ es.
— Isto é um jogo para você, — Nikola rosnou, empurrando o outro
vampiro antes que sua anatomia pudesse traí-lo. Isso é novo. Nikola
afastou o momento de sua mente.
Asher gargalhou, levantando os joelhos e ficando de pé.
— Você está certo, Nikki! O quê, você vai viver para sempre e nã o vai se
divertir com isso?
Nikola fez uma careta silenciosamente. O que essa criança sabia sobre
viver para sempre? Asher inclinou a cabeça para o lado e estalou a língua
no céu da boca.
Asher deu um passo mais perto. Nikola ficou tenso, pronto para outro
ataque. Ele observou que as garras do Seguidor de Sangue estavam
retraídas.
— Nã o finja que você nã o estava se divertindo também, Nikki.
Não como você, masoquista. Se nã o fosse pela excitaçã o indisfarçada que
irradiava do jovem vampiro, Nikola teria descartado o tom sugestivo.
Quem diabos é esse homem? Nikola se recusou a examinar os detalhes de
sua forma magra, mantendo sua atençã o fixa nos olhos escarlates.
Normalmente não sou tão suscetível às emoções dos outros. Talvez seja
porque esse homem fala muito alto. Ele balançou a cabeça, clareando-a.
Asher recuou um passo, enfiando os polegares nos bolsos da jaqueta.
— De qualquer forma! É melhor ir andando. Lorde Malkolm nã o gosta de
ficar esperando.
— Com licença?
A gargalhada de Asher foi selvagem.
— O quê, você ainda nã o descobriu? Eu sou seu acompanhante, Nikki!
CAPÍTULO QUATRO

ASHER

Ele poderia dizer que Nikola nã o estava com o coraçã o em sua pequena
briga lá atrá s – mas ele ainda foi capaz de sentir a força bruta do Filho da
Lua. O que eu preciso fazer para realmente te animar, Nikki ? As chances
eram de que ele teria que convencer Nikola de que estava lutando por
sua vida, mas Asher nã o achava que deveria ir tã o longe na primeira
noite.
O jovem vampiro chupou os dentes da frente. Malkolm disse para trazê-
lo ao Deus do Sangue, não transformá -lo em algum tipo de brinquedo.
Asher entendeu que se ele pressionasse demais, isso provavelmente
afastaria o Filho da Lua, e isso nã o funcionaria.
Acho que vou tornar divertido me odiar. Asher zombou de um bocejo e
entrelaçou os dedos atrá s da cabeça, cantarolando enquanto caminhava.
Ele saltou ao ritmo de sua mú sica inventada, feliz por nã o estar lidando
com recém-nascidos ansiosos demais.
Asher nã o era estú pido – ele estava ciente da capacidade do Filho da Lua
de ler emoçõ es. Mas Asher nã o se importou o suficiente para se
preocupar em esconder a sua. Ele sabia que Nikola havia sentido o peso
de sua excitaçã o antes.
O cara não poderia pensar que fez um bom trabalho fingindo que não
estava se divertindo também. Asher riu para si mesmo.
Nikola lançou um olhar e disse: — Perdi alguma coisa?
Ah, emocionante – a maioria dos outros estava com muito medo de Asher
para questioná -lo daquele jeito. Cada vez que Nikki falava, Asher queria
rir de seu sotaque britâ nico abafado.
— Ah, nada importante,— ele respondeu com indiferença e continuou
seu pequeno passeio vertiginoso. Ele gostou da maneira como Nikola
olhou para ele, com as sobrancelhas franzidas em perplexidade.
E ele era um cara tã o grande também, corpulento e mal-humorado. Asher
o imaginou como um Seguidor de Sangue, normalmente mais forte que
os Filhos da Lua. Por um instante, ele começou a se preocupar com a
possibilidade de um monstro como Nikola Kingston superá -lo, mas
imediatamente descartou.
Não há um maldito vampiro nesta cidade que lute como eu.
Ele nã o percebeu que tinha parado de cantarolar até que Nikola lhe
lançou um olhar penetrante e desconfiado. Asher apenas sorriu.
— Aqui estamos! — ele anunciou, saltando na frente de Nikola,
gesticulando com grandes arcos diante do portã o da mansã o de Malkolm.
— Lar Doce Lar!
Asher nã o tinha a capacidade do Filho da Lua de ler emoçõ es, mas até ele
podia ver a apreensã o dançando nos olhos metá licos de Nikola.
O refeitó rio era, ironicamente, o cô modo mais sombrio da mansã o. Bem...
talvez a ironia dependesse de você ser humano ou nã o. As paredes eram
pretas, as pinturas do Deus do Sangue o retratavam em vá rias poses,
geralmente envolvendo um cadá ver ou alguns.
Os pisos de madeira estavam profundamente manchados. Jarras cheias
de sangue e á lcool cobriam a mesa de mogno com travessas ocasionais
de carne cozida.
Alguns Seguidores de Sangue optaram por consumir carne humana, o
ú nico tipo de alimento que conseguiam digerir. Asher achou o ato de
comer uma reminiscência da mortalidade. Havia algo enganosamente
gracioso no ato de beber sangue e apenas sangue. Eu não sou nenhum
maldito zumbi.
Em homenagem ao convidado, guardas encapuzados ficavam nos cantos.
Asher admirou a maneira como Nikola, com o rosto uma má scara estoica,
examinou cada fenda da sala.
Lorde Malkolm levantou-se. Asher fez uma reverência. Para sua total
surpresa, Nikola fez o mesmo. Riccardo já estava presente, sentado à
esquerda de Malkolm.
— Nikola Kingston, bem-vindo, — disse Lord Malkolm em seu tom mais
complacente. Ele até vestiu um terno índigo para a ocasiã o. Asher
reprimiu uma risada. — Por favor junte-se a nó s.
Asher tomou seu lugar à direita de Malkolm. Nikola parou, olhando entre
os outros doze assentos até que um dos garçons de smoking puxou uma
cadeira bem na frente de Malkolm. A extremidade oposta da mesa.
Nikola baixou a cabeça para o Seguidor de Sangue e sentou-se.
Asher inclinou a cabeça para trá s e cruzou os braços, já começando a
ficar entediado. Ele fechou os olhos por um momento.
— Bem, Nikola de Lady Morrigan, você deve ter perguntas, — começou
Malkolm.
— Sim, seu senhor,— Nikki retumbou. Seu senhor. Nã o meu senhor.
Asher sorriu.
— Admito, suspeito que compartilho muitos deles,— prosseguiu
Malkolm. — Mas o Rei Supremo pode ficar... hm, distraído, por assim
dizer. Tenho certeza de que você entende a ansiedade de incontá veis
séculos, de perder anos quando parecia que apenas algumas estaçõ es se
passaram. O Rei Supremo recentemente perguntou sobre você – e ele
nã o está satisfeito com o tratamento que você está tendo como um
Seguidor de Sangue.
Asher ouviu o clique de Nikola engolindo.
— Você sabia,— continuou Malkolm, — que foram os Filhos da Lua que
lideraram as expediçõ es vampíricas da Europa ao Novo Mundo durante a
Terceira Purificaçã o de nossa espécie coletiva? As dezoito centenas, se
bem me lembro. O Rei Supremo foi um dos primeiros e tem
supervisionado o crescimento de Grander desde entã o – ele nã o
esqueceu as dívidas que o Chifrudo tem para com os Filhos da Lua.
— Sim, eu me lembro, — disse Nikola. — Moro na América desde a sua
fundaçã o, mas só me mudei para Grander em meados do século passado.
Lorde Malkolm fez uma pausa por uma fraçã o de segundo. Asher se
perguntou o que Nikki estava descobrindo sobre ele.
— Ah, interessante. Suponho que seja fá cil esquecer que Grander nã o é o
centro do universo vampírico. Diga-me, onde mais na América você ficou
à espreita?
Nikola nã o disse nada. Asher abriu um olho para vê-lo carrancudo. Se
olhares pudessem matar... Malkolm, que normalmente decapitaria
qualquer outra pessoa tã o abertamente hostil, apenas riu.
— Me perdoe. Nó s, homens de antigamente, tendemos a manter nosso
passado perto de nossos coraçõ es.
— Posso perguntar qual é exatamente o objetivo desta... desta reunião?
Nikola perguntou, em tom cortado.
O canto do lá bio de Malkolm se contraiu. Asher e Riccardo trocaram
olhares. Seu senhor entrelaçou os dedos diante de seu sorriso de lá bios
apertados.
— O Rei Supremo me pediu para convidá -lo civilmente para atravessar a
fronteira. Qual a melhor maneira de enviar a mensagem a todas as
minhas fileiras do que anunciar publicamente que você está livres para
explorar pacificamente meu territó rio?
— Por que o Rei Supremo contou a você e nã o disse uma palavra à minha
senhora? — Nikola perguntou.
Os olhos de Malkolm brilharam. Asher realmente esperava nã o ter que
matar Nikki tã o cedo. — Essa informaçã o, — o senhor falou claramente,
— está bem acima da sua posiçã o.
Nikola hesitou, estreitando os olhos. Ele cedeu com uma profunda
reverência do queixo.
— Eu nã o quis desrespeitar, seu senhor.
Malkolm ignorou isso com um movimento do pulso.
— Nã o importa. Tenho certeza de que as coisas funcionam de maneira
diferente com Morrigan. — Nikola franziu a boca, resistindo ao impulso
de defender sua senhora desafiando o senhor diante dele. — Agora, meu
Deus, este é um jantar para honrar um tratado! Vamos jantar.— Malkolm
bateu palmas, colocando os servidores em açã o.
Eles avançaram, erguendo as garrafas individuais para despejar o sangue
vermelho brilhante e os tô nicos de vinho nos copos. Asher estava
hesitante em acenar, nã o tendo atualmente o desejo por sangue que nã o
fosse diretamente da fonte. Mas isso corria o risco de ofender Lorde
Malkolm. No mínimo, era universalmente conhecido que Asher nã o
comia carne pessoalmente. Ele nem tinha um prato na frente dele.
As feiçõ es de Nikola se contorceram de desgosto. Asher fingiu tomar um
gole de vinho, confuso.
— Aconteceu alguma coisa, Nikola Kingston?
Todo o respeito que Nikola estava fingindo saiu do prédio. Cheio de
sarcasmo e nojo, ele brincou secamente: — É seguro presumir que
aqueles que forneceram esta refeiçã o nã o andam mais entre nó s.
Malkolm deu uma risada á spera.
— Você está se perguntando se o sangue e a carne humana diante de
você sã o de origem ética? — O homem às vezes faz piadas. Asher nã o
pô de deixar de rir. — Será que importa tanto de onde vem o sangue para
a Deusa, desde que você mesmo nã o tenha cometido o assassinato?
— Considere isso uma moral pessoal,— sibilou Nikola. Há aquele ódio de
novo, fervendo, sexy. Asher bebeu.
— Nã o posso enganar um homem quanto ao seu có digo de conduta. Mas
nã o posso deixar de notar o paradoxo do seu có digo e da empresa que
você mantém.
Nikola congelou com as palavras, sem dizer nada. Malkolm continuou.
— Devo perguntar, Nikola. Por que você mesmo nã o se submete ao Deus
do Sangue? Imagine o poder que você poderia exercer!
A preocupaçã o de Asher de antes voltou.
Nikola respondeu calmamente: — Ah, mas se eu fizesse isso, perderia o
acesso a metade inteira do Grander. — O Filho da Lua, sem ser
dispensado, levantou-se, causando uma vibraçã o de movimento. Asher e
Riccardo saltaram, os guardas ao redor deles se aproximaram. Malkolm
ergueu a mã o, impedindo que todos atacassem o Filho da Lua.
Nikola curvou-se pela cintura, sem se incomodar com o quã o perto
esteve de ser atacado.
— Agradeço por esta noite, Lorde Malkolm, e acredito que cumpriu o
propó sito de honrar os desejos do Rei Supremo. Entendo que, embora
tenha permissã o para entrar em seu territó rio, ainda sou considerado
um dos filhos de Morrigan — e um Filho da Lua. Que muitos dos Sangue
consideram presas. Só porque posso cruzar a fronteira nã o me torna
invencível. — Os olhos prateados de Nikola se ergueram, ousando
encontrar os de Malkolm. — E é meu direito me defender
independentemente da disputa entre a senhora e o senhor.
O sorriso de Malkolm era só dentes. Ele gesticulou em direçã o a Riccardo
e ordenou: — Por favor, leve nosso convidado para fora... com segurança.
Ele nã o deve ser prejudicado nas dependências da mansã o. O resto de
vocês está dispensado. Mestre Asher, você fica.
Asher concedeu com um ú nico aceno de cabeça. Ele observou todos
saírem, a maior parte de sua atençã o voltada para Nikola. O Filho da Lua
olhou para trá s e Asher deu um extravagante aceno de despedida com os
dedos.
Um pouco depois, Asher e Malkolm estavam sozinhos.
Malkolm estava em Asher antes do pró ximo. Asher recuou
instintivamente, mas a mã o de Malkolm agarrou sua nuca, mantendo-o
no lugar. Os dentes de Malkolm roçaram a pele abaixo da orelha de
Asher, provocando um turbilhã o de memó rias e sensaçõ es confusas.
— Você é meu, você me entende? — Malkolm sibilou.
— Sim, meu senhor, — Asher respirou. Ele nã o tinha permissã o para
dizer mais nada.
Malkolm afundou suas presas na artéria que pulsava na garganta de
Asher. A dor explodiu em todo o sistema nervoso de Asher, trazendo
consigo uma pontada de prazer aguçado. Ele sentiu cada gota de sangue
enquanto Malkolm bebia dele.
As pá lpebras de Asher tremeram, nã o vendo mais o espaço entre os
instantâ neos de memó rias.
Asher, acorrentado à parede, ouvindo os uivos do Deus do Sangue em
seu crâ nio. Asher, de joelhos diante do chicote de Malkolm, sempre ali
com garras e dentes. Aquela cela gelada e perpetuamente ú mida, sua
casa durante as primeiras semanas como recém-nascido.
O corte de uma adaga dentada quando ele nã o conseguiu matar aquela
primeira oferenda humana...
— Você é meu,— cantava Malkolm. — Se você nã o pode ser minha arma
mais mortal, vou me livrar de você.
— Sim, meu senhor, — Asher repetiu, tanto na memó ria quanto no
presente.
A mã o de Malkolm deslizou por baixo das calças de Asher, pegando o
membro rígido de Asher. Foi a voz do Deus do Sangue que guiou Asher a
traduzir a dor em prazer... e foi Malkolm quem testou os limites desse
mesmo mecanismo de enfrentamento sempre que treinou Asher
cruelmente e o torturou por todo e qualquer motivo. Falhas.
A queimadura dos dentes de Malkolm e o golpe de suas mã os começaram
a dominar Asher. Ele nã o recebeu permissã o para gozar. A permissã o era
obrigató ria . Ele agarrou a borda da mesa para se apoiar.
— Meu senhor,— Asher choramingou em advertência.
Malkolm se afastou, deixando Asher meio drenado, a maior parte do
sangue restante latejando em seu pênis insatisfeito. Asher sabia que nã o
deveria implorar por mais.
O senhor usou um lenço para limpar o vermelho que pintava seu queixo.
Sua expressã o era neutra e indiferente quando ele ordenou: — Vá .
Acompanhe Nikola Kingston. Provavelmente, ele examinará nosso
territó rio. Lembre-o de seu lugar.
Asher fez uma reverência e saiu do refeitó rio, agindo como se nada
tivesse acontecido, se convencendo do mesmo.
CAPÍTULO CINCO

NIKOLA

Depois de memorizar o layout das terras de Malkolm ao redor de sua


mansã o, Nikola vagou pelo Grander Park. Duas coisas estavam bastante
claras para ele: havia muito mais entradas para o sistema de catacumbas
subterrâ neas – na forma de escotilhas de porã o, alçapõ es e bueiros – no
lado senhorial da cidade. Muitas das entradas semelhantes dentro do
territó rio de Morrigan foram preenchidas, trancadas ou desabadas. A
senhora nã o só os considerou um sinal de um passado obsoleto, mas
também uma violaçã o de segurança.
A segunda coisa aparente para Nikola foi o nú mero de Seguidores de
Sangue mais jovens perambulando pelas ruas. Nã o tã o recém-nascidos
para serem selvagens e fora de controle, mas jovens o suficiente para que
Nikola pudesse ver isso em seus olhos selvagens e maneirismos
inquietos.
O Rei Supremo permitiu que Malkolm se reproduzisse de forma
constante, apesar dos decretos anteriores para controlar as populaçõ es?
Ou Malkolm estava trabalhando debaixo do nariz de Sua Majestade? Isso
levou à mesma pergunta: O que Malkolm está planejando? Obviamente, o
aumento do clã de Malkolm e a abertura de suas fronteiras para Nikola
estavam relacionados; eles tinham que ser, mas como?
Nã o havia nenhum distrito partidá rio que Nikola pudesse encontrar no
territó rio de Malkolm. Os bares e clubes que ele encontrou eram
principalmente para Crianças da Lua, sendo a maioria dos
estabelecimentos iniciantes. Nikola ainda nã o tinha certeza do que fazer
com isso, entã o, em vez disso, aventurou-se pela faixa de ciclovias e
bosques que cercavam um lago com patos. Um toque de natureza em um
inferno urbano vampírico.
Mas mesmo no parque, Nikola ocasionalmente via pessoas com olhos
vermelhos. Provavelmente devido ao fato de Nikola estar desnutrido,
eles quase nã o lhe prestaram atençã o.
Eu realmente preciso me alimentar. Ele nã o tinha certeza se beber de um
humano nas terras de Malkolm violava algum tipo de regra, mas nã o
queria voltar para a casa de Morrigan caso houvesse problemas para
atravessar novamente.
Ele ainda queria verificar mais algumas coisas. Mas ele realmente nã o
deveria estar em territó rio inimigo tã o faminto.
Nikola avistou alguém curvado, enrolado em um casaco, em um banco do
parque. Humano. Morador de rua? Ou apenas alguém tolo o suficiente
para estar aqui sozinho?
Felizmente para ele, fui eu quem o encontrou primeiro.
Nikola sentou na beira do banco, com espaço suficiente entre eles para
nã o deixar as coisas desconfortá veis. A humana espiou por baixo do
capuz forrado de pele. Nikola, vendo as lá grimas escorrendo por seu
rosto moreno, identificou o desespero que a rodeava.
— Você está bem? — Nikola perguntou suavemente, suavizando suas
pró prias feiçõ es. Ele estava ciente de quã o intenso seu olhar em repouso
poderia ser. Ele derramou charme em seu tom e comportamento,
deixando o poder gentil brilhar em suas íris.
A jovem apertou mais o casaco, sem saber se deveria responder. Nikola
poderia ter levado mais longe sua seduçã o, mas tal manipulaçã o parecia
errada. Se ela decidisse que estava realmente com medo dele, ele a
deixaria ir.
— Eu estarei, — ela respondeu humildemente.
— Quer me contar sobre isso?
Ela bufou uma risada seca, seu sorriso tímido. Ela abaixou o capuz,
revelando uma linda morena. Nikola sentiu sua solidã o com uma pontada
de simpatia.
— Nã o há muito o que falar, na verdade. Voei para ver um velho amigo e
brigamos por causa de política. Nã o quero desperdiçar o dinheiro que
gastei em passagens de aviã o, entã o resolvi explorar a cidade.
Um estranho. A resoluçã o de Nikola mudou ligeiramente.
— Lamento dizer isso, mas Grander nã o está seguro à noite. Você está
hospedada em algum lugar pró ximo?
A jovem piscou surpresa. Ela olhou ao redor das sombras espessas do
bosque do parque, como se monstros estivessem à espreita. Ela não está
muito longe.
— Eu... estou hospedada em um motel a um ou dois quarteirõ es de
distâ ncia. Perigoso como? Tipo, taxa de criminalidade?
Nikola suspirou, aproximando-se. Ela enrijeceu, mas, cortejada pela
gentileza em seu olhar prateado, estava mais curiosa do que com medo.
— Você acredita em monstros? Ghouls e fantasmas... vampiros?
— Eu... eu nã o sei, — ela gaguejou. Ela não. Pelo menos, nã o até aquele
momento. Sua respiraçã o, aumentando, saiu em baforadas geladas.
— Você?
— Receio nã o ter escolha a esse respeito.
Nikola atacou. A jovem engasgou, mas antes que pudesse lutar contra ele,
ela sucumbiu à multidã o de calor e êxtase das presas de um Filho da Lua
perfurando a carne macia.
Nikola estava com a gola do casaco puxada para o lado, bebendo com
fervor. O fluxo de sangue quente trouxe gemidos abafados aos seus
lá bios. Depois de ser cercado por – e entã o negar – sangue engarrafado, o
alívio sufocante foi quase doloroso. O rio da vida fluiu do hospedeiro
para o vampiro, rejuvenescendo os mú sculos de Nikola e sua psique. Seu
coraçã o começou a bater novamente, aquecendo o superfície de sua pele.
Um homem moribundo trazido de volta à vida. Nikola estava meio
apaixonado pela mulher em sua gratidã o.
Mas todas as coisas boas chegaram ao fim e as Crianças da Lua nã o
mataram. Tirar uma vida era perder a graça da Deusa – e ganhar a
maldiçã o do Deus Sangue.
Mordendo a ponta até que o sangue escorresse, Nikola passou a língua
pelas feridas, curando-as de forma eficaz e rá pida. A jovem gemeu, com
uma expressã o distante e meio bêbada. Ela nã o se lembraria do
encontro. Eles nunca fizeram isso.
Nikola estendeu a mã o e ela a pegou sem pensar. Uma criança perdida.
— Venha agora, — ele disse, sua voz tênue. — Leve-me ao seu motel e
garantirei que você chegue lá em segurança.

Depois de se despedir da mulher, ele decidiu parar em uma das boates


pró ximas. O Club Frost nã o era tã o barulhento quanto o bar gay do outro
lado da cidade, mas estava decentemente cheio de clientes – a maioria
Crianças da Lua. Eles conversavam baixinho entre si, mú sica rock
genérica tocando no alto para acompanhar o barulho das bolas de sinuca.
Era o tipo de lugar cheio de fumaça de cigarro há vinte, trinta anos.
Nikola sentou no bar e modestamente pediu um gim-tô nica ao barman
desgrenhado. Ele refletiu sobre o que observou e deduziu sobre o
territó rio de Malkolm, tendo mais perguntas do que respostas.
Nem mesmo na metade de sua bebida, um silêncio tomou conta da cena.
Nikola notou o barman fazer uma pausa, toalha e copo molhado na mã o.
O medo em seus olhos era desanimador, mas nã o necessariamente
surpreso. Interessante.
O cheiro de cobre e colô nia barata representava ele – Asher Black. Nikola
ouviu o clique de suas botas com bico de aço. No refletido no espelho
atrá s da vitrine de bebidas alcoó licas, ele observou a multidã o se separar
e se encolher. Embora Asher como Seguidor de Sangue nã o tivesse
reflexã o, Nikola podia imaginar sua arrogâ ncia petulante.
— Ei! O que é isso? — Asher chorou. Nikola olhou por cima do ombro.
Asher estava com os braços abertos, dirigindo-se à multidã o. — Só estou
aqui para beber com um amigo... ajam como se eu nem estivesse aqui!
Como se estivessem sob seu feitiço, os clientes voltaram a conversar, mas
estavam tensos, com um fio de medo no ar. Asher bufou e se jogou no
banco ao lado de Nikola. Nikola manteve os mú sculos relaxados, pronto
para retaliar qualquer movimento repentino.
— Você acredita nesses caras, Nikki? O que um homem precisa fazer
para conseguir uma bebida por aqui?
Nikola nã o disse nada, enquanto bebia seu gim. Os Seguidores de Sangue
nã o podiam beber nada que já nã o estivesse diluído com sangue, o que a
maioria dos pubs da Lua nã o fornecia. Por que fariam isso se isso
significasse atrair tais demô nios?
— Mestre Asher, nã o é? — o barman dirigiu-se ao novo cliente. Ele olhou
incerto para suas garrafas de bebida e as cervejas de pressã o. — Eu... er.
O que eu posso fazer por você? Receio nã o ter... bem, os coletores já
passaram ontem à noite...
— Só um pouco de rum, puro, — Asher interrompeu. O barman franziu a
testa, mas nã o se atreveu a discutir, servindo rapidamente a bebida.
Nikola continuou a meditar silenciosamente. Ele nã o pô de evitar franzir
as sobrancelhas enquanto observava Asher, ao receber sua bebida
escura, usar um canino afiado para abrir um ferimento na palma da mã o,
sangrando na bebida.
O termo cobra que se alimenta de si mesma veio à mente. Ouroboros.
— Você encontrou o que estava procurando, Nikki? — Asher disse
enquanto bebia sua mistura monstruosa.
Asher tinha me seguido e eu nunca percebi isso?
— Percebi que os bares e clubes que atendem as Crianças da Lua sã o
todos mais novos.— A voz de Nikola era rouca, baixa apesar do zumbido
do bar ficando mais alto conforme todos se acostumavam com a
presença do Seguidor de Sangue. — Os negó cios lunares nã o duram
muito aqui, hein?
Asher encolheu os ombros. Ele sinalizou pedindo uma nova dose, e o
barman se aproximou sem questionar. Nikola desviou o olhar enquanto
enfeitava o copo cheio com sangue fresco.
— Eles nã o podem pagar, sã o expulsos. — Perseguido... ou massacrado.
— Morrigan nã o é tolerante com dívidas e taxas de proteçã o, ouvi dizer.
Nikola instintivamente quis saltar em defesa de sua senhora, mas se
conteve. Era como se tudo que Asher fizesse fosse irritar Nikola.
— E você cuida pessoalmente dessas... excursõ es? — ele perguntou em
vez disso.
Asher riu, jogando de volta sua bebida como um tiro. O barman estava
pronto para reabastecê-lo e ofereceu a Nikola uma segunda rodada.
Nikola acenou para ele educadamente enquanto Asher explicava: — Eu?
Nã o. Merda é chato. Lorde Malkolm gosta de mim em patrulhas de
fronteira, disciplina de novato... esse tipo de merda.
— Ah sim, recém-nascidos. Já vi alguns deles por aí, principalmente de
Sangue. Quando Lorde Malkolm recebeu essa aprovaçã o?
Nikola permitiu que sua empatia fluísse, desligando o barulho do bar
para se concentrar em Asher – apenas para descobrir que Asher estava
tonto de excitaçã o infantil. Nikola levantou suas defesas antes que a
densidade dos clientes pudesse alcançá -lo.
— O que posso dizer? — Asher disse. O sorriso de Asher era predató rio,
seus olhos enrugados nas bordas. Foi só entã o que Nikola notou uma
cicatriz em forma de crescente desbotada sob seu olho, difícil de detectar
se alguém estava muito distraído com o corte maior em todo o seu
retrato. — Nã o damos segundas chances... e temos que substituir os
exemplos que damos.
Você está mentindo. Nem Lorde Malkolm nem Mestre Asher admitiriam
ter posiçõ es indisciplinadas. O que diabos está acontecendo aqui? Asher
pegou Nikola estreitando os olhos e ergueu uma sobrancelha.
— Entã o, Nikki, você gostou do seu pequeno passeio mais cedo?
Nikola sabia que ele nã o escaparia negando. O que havia para realmente
negar? Ele recebeu a liberdade de vagar, nã o foi?
— Você está me perseguindo, Mestre Asher.
O vampiro mais jovem jogou a cabeça para trá s e gargalhou. Alguns
clientes pró ximos pularam, e um Filho da Lua derramou seu coquetel. —
Claro que estou, Nikki! E você faria o mesmo se os papéis fossem
invertidos.
Nikola admitiu isso com seu silêncio. Asher fez sinal para o barman e
Nikola sentiu-se tentado a pedir desculpas pela grosseria do jovem
vampiro. Como se eu fosse responsável por ele.
— Outro para o meu garoto aqui. — Asher deu um tapinha no ombro de
Nikola. O vampiro mais velho cerrou os dentes, tentando e falhando em
ignorar a onda de alegria que percorria Asher. Nã o admira que o homem
seja uma força impará vel – era como se ele estivesse constantemente
cheio de adrenalina. Nã o havia como remover a mã o sem ofender o
Seguidor de Sangue, entã o ele decidiu aceitar a explosã o de energia.
— Obrigado,— Nikola disse rispidamente. O barman deu um sorriso
agradecido.
— E vá em frente e coloque todas as bebidas na minha conta,— disse
Asher. Que bebida o vampiro mais jovem estava tomando agora? Três?
Quatro?
— Isso nã o é necessá rio, Mestre Asher.
— O que eu disse sobre essa merda formal? — Asher revirou os olhos. —
Ah, foda-se. Deve ser alguma coisa antiquada.
Os lá bios de Nikola se curvaram, surpreso ao descobrir que estava se
divertindo. Certamente Malkolm, o senhor notoriamente implacá vel, nã o
tolerava desrespeito – ou Asher dava um show quando deixado por conta
pró pria, ou Malkolm simplesmente tolerava seu sentinela mais forte.
— Quantos anos você tem, afinal? É como se toda vez que você fosse
educado alguém tivesse que mencionar que você é velho demais.
— Quase setecentos anos, mais ou menos,— Nikola ofereceu secamente.
Asher visivelmente se impediu de cuspir. Ele engoliu a bebida
pesadamente.
— Você está fodendo comigo. Eu sabia que você sobreviveu a algumas
daquelas cruzadas de caçadores de vampiros, mas... sete séculos?
Nikola sorriu, feliz por pegar o vampiro excêntrico desprevenido pela
primeira vez. Ele admitiu a contragosto para si mesmo que, quando o
vampiro nã o estava tentando nocauteá -lo, era divertido conversar com
Asher. Morrigan certamente gostaria que eu soubesse mais sobre o
segundo em comando de seu adversário, Nikola racionalizou para si
mesmo. Uma maneira de fazer com que outra pessoa se abrisse era falar
de si mesmo.
— Velha Inglaterra, — ele começou. — Para ser franco, minhas origens
nã o sã o nada inspiradas. Servidã o geracional. Até a Peste atacar, é claro.
As lembranças de seus pais e irmã os mais velhos nã o o machucavam
mais. Mas como todos eles sofreram em seus alojamentos no final, Nikola
frequentemente se lembrava com tristeza. O cheiro da doença, da morte,
foi pontuado pelos gemidos e oraçõ es desesperadas dos moribundos.
Nikola afugentou as visõ es com os ú ltimos goles de sua bebida.
Os olhos de Asher estavam arregalados, estranhamente moderados. Ah,
então ele tem boas maneiras em relação ao assunto delicado da vida
mortal de um vampiro...
— Por que nã o estou surpreso que um vampiro britâ nico arrogante
tenha morrido da Peste Negra? — Asher disse com uma bufada.
Deixa para lá.
— Acho que Corvellious mudou você antes que você pudesse chutar o
balde, — deduziu Asher. Nikola nã o confirmou nem negou, uma
confirmaçã o por si só . — Nã o resistiu ao forte garoto da fazenda, né?
Nikola apenas sorriu. Ele esperou pela pergunta ó bvia: como um Seguidor
de Sangue deu origem a você, um Filho da Lua? Mas Asher nã o perguntou.
Talvez ele suspeitasse que a verdade nã o era bem tã o simples. Ou talvez
ele estivesse apenas entediado com o assunto. Nikola lembrou o quã o
desinteressado o jovem vampiro esteve naquele jantar horrível.
Nikola discutiria livremente seus dias humanos de servidã o. Mas seus
primeiros anos de imortalidade — isso foi uma questã o diferente. Mestre
Corvellious proibiu-o de falar sobre o assunto. Fá cil porque Nikola nã o
gostava de discutir o assunto sozinho. Especialmente enquanto bebe com
o inimigo.
Céus, como isso aconteceu?
— E você? — Nikola se atreveu a perguntar, desviando o foco dele. —
Qual é a sua verdadeira idade, Mestre Asher?
Seu sorriso era quase um rosnado, as presas à mostra.
— Acho que tenho tecnicamente vinte e oito anos. Mudei, merda, há dez
anos, quando eu tinha dezoito anos. Com cara nova e recém-saído do
ensino médio. Com que idade paro de contar?
Tão jovem. Mais do que Nikola esperava. Entã o, é por isso que Asher
Black apareceu tã o de repente – porque ele recentemente foi
Transformado. Talvez nã o fosse muito incomum hoje em dia, refletiu
Nikola, encontrar um vampiro cuja verdadeira idade combinasse com
seu rosto. Ainda assim, ele ficou surpreso ao ver que o segundo em
comando de todo um clã de Sangue era tã o jovem.
— Vá rios anos de diferença, mas você me supera, Mestre Asher,— Nikola
sentiu-se inclinado a comentar.
— Malkolm nã o dá a mínima para experiência, na verdade nã o.— As
palavras de Asher estavam começando a escorregar levemente, com uma
sugestã o de sotaque. Sul, talvez? Interessante, aqui no norte do estado de
Nova York. Asher empurrou uma pilha de notas sob o copo vazio –
incluindo uma boa gorjeta. Nikola ficou surpreso mais uma vez.
— Ele só precisa que seus homens sejam fortes. Imagine o que você
poderia fazer, Nikki, se abraçasse seu verdadeiro potencial.
— Eu nã o me importo com poder, Mestre Asher. Eu simplesmente sirvo
ao meu criador e à sua senhora.
O escá rnio de Asher era zombeteiro.
— Como um bom servo, hein?
— Cuidado agora,— Nikola retumbou.
Asher riu, inclinando-se e colocou os dedos na parte externa da coxa de
Nikola. Através do tecido das calças, o contato queimava. Os nervos
traiçoeiros de Nikola hiperfixados no toque. Estava começando a ficar
confuso, a empatia de Nikola e a atraçã o desenfreada de Asher.
— Ou o quê, Nikki? — Asher provocou, sua voz baixa e ofegante.
Nikola se afastou do bar, com medo da proximidade íntima de Asher,
ciente do que o jovem vampiro realmente queria. Asher choramingou,
mas Nikola continuou andando em direçã o à saída – ele o seguirá.
Aparentemente, era nisso que Asher era melhor.
Com certeza, ele fez.
Se fizermos isso, não será no bar de algum espectador inocente.
CAPÍTULO SEIS

ASHER

— Como você chama esse jogo, Mestre Asher? — Nikola interrogou com
uma voz frustrantemente calma. Ele os levou até a rua vizinha ao Club
Frost, repleta de mercados e cafés de esquina. Asher nã o pô de deixar de
notar como Nikola era lindo. Ele obviamente se alimentou nas ú ltimas
horas, Asher estava vendo pelo rubor em suas bochechas, a luz renovada
em seus olhos.
O ar fresco das ruas abertas fez maravilhas para acalmar o cérebro
embriagado de Asher – e acender fogo em seus vasos sanguíneos.
— Você também está jogando, hein, Nikki?
Nikola manteve suas feiçõ es suaves. Ele era bom nisso. Asher quase
invejou a cara de pô quer.
— Eu estaria mais inclinado a concordar se soubesse o que você está
fazendo, Mestre Asher.
— O nome do jogo, Nikki, é você e eu.
Os olhos de Nikola se arregalaram, as perguntas dançando claramente
através deles. Asher entrou correndo. Seja para beijar ou para morder,
ele nã o tinha certeza – ele descobriria quando chegasse lá . Mas Nikola
parou o ataque ambíguo, pegando Asher pelos braços e torcendo-os nas
costas.
Asher gritou, meio de dor, meio exuberâ ncia, e chutou para cima, virando
para frente e por cima do ombro de Nikola. Nikola, sem esperar, o soltou.
Asher pousou atrá s de Nikola. O vampiro mais velho se virou, apenas
para acertar o joelho de Asher em seu estô mago.
A violência cantava nas veias vazias de Asher, trazendo-o à vida. Este foi
o hino dos homens, da longevidade. A luta. A luta pelo poder. E ele
sempre sairia por cima.
Os dois vampiros encontraram olhos brilhantes, e Asher ficou
emocionado ao ver que Nikola correspondia à paixã o de Asher.
— Já está se divertindo, Nikki? — Ele pulou para trá s, deixando Nikola se
recuperar do golpe.
— O que diabos você está fazendo? — Nikola rosnou. Asher sentiu-se
atraído pela raiva do homem. Isso mesmo, Nikki. Pegue a isca.
Asher queria segurar essa raiva em suas mã os, moldá -la no guerreiro
enterrado sob olhos prateados e moral equivocada.
Asher riu. Para sua alegria, Nikola avançou, rosnando, com os punhos
voando. Asher jogou na ofensiva, deslizando e esquivando-se habilmente.
As feiçõ es de Nikola se distorceram. Asher riu enquanto dançava ao
redor do Filho da Lua.
— Este é o lendá rio Nikola Kingston? — Asher zombou, saltando para
trá s no momento em que um golpe roçou o ar ao longo de sua bochecha.
Os olhos de Nikola estavam selvagens. Uma bela aparência nele. — Cara,
você nã o é...
A provocaçã o de Asher falhou quando Nikola pegou a frente de sua
jaqueta de couro e o acertou na porta de um caminhã o estacionado.
Asher sentiu o metal deformar-se sob a fissura de sua coluna, sua visã o
turvando.
As mã os de Nikola estavam pressionadas contra o peito de Asher,
fechadas. Asher ouviu suas respiraçõ es irregulares – respiraçã o e vida,
sinais de que estavam bem alimentados. Ele podia sentir o cheiro de cada
aspecto da alma de Nikola naquele mesmo segundo – sua raiva, sua
adrenalina. Asher estava sedento por isso.
Provavelmente não deveria drenar o próximo brinquedo de Malkolm.
Asher piscou até que sua visã o se acalmou, um sorriso estú pido no rosto.
Os dedos de Nikki se curvaram com mais força na frente de sua camisa.
— O que é tã o engraçado? — o Filho da Lua rosnou.
Asher bufou, aproximando seu rosto do de Nikola.
— Nã o é sempre que um homem me pega desprevenido, Nikki.
— Qual é o seu plano aqui? O que você quer?
Merda, isso foi um interrogató rio? Isso não é divertido. Mas seria menos
divertido contar toda a verdade a Nikki. Nã o, isso teve que esperar. Nã o
até que nã o houvesse como voltar atrá s. Asher zombou.
— Meu motivo aqui, Nikki, é me divertir com você. Fazer de você o
melhor vampiro que você pode ser. Me deixa mais forte também,
entendeu?
Nikola piscou, um pouco da tensã o deixando seus ombros. Ele recuou...
não era a reação que eu queria.
— Eu sou seu inimigo. Eu nã o entendo.
— Ah, Nikki. Poderíamos ser amigos, certo? Eu odeio matar esse
potencial desperdiçado.— Asher se inclinou mais perto, seus lá bios
quase tocando a orelha de Nikola. O cheiro de cobre pulsante sob a pele
quente fez o Seguidor de Sangue balançar no local. O Filho da Lua
estremeceu – excitado ou muito consciente de quã o perto as presas
famintas de Asher estavam de seu pescoço? — Imagine sua força se você
se dedicar ao Deus do Sangue.
Asher queria uma reaçã o, mas nã o esperava ser levantado pelos ombros
e jogado no concreto. Estrelas dançavam atrá s de seus olhos, mas ele nã o
era o segundo em comando de um clã inteiro à toa. Ele girou no chã o,
equilibrando-se no có ccix, usando as pernas para afastar os tornozelos
de Nikola.
Asher rolou para trá s e Nikola se segurou antes que pudesse cair. Os dois
se enfrentaram agachados. Como uma arma disparando, eles se
empurraram um contra o outro, colidindo com as mã os, empurrando um
contra o outro em uma partida de força. Asher cravou os calcanhares e se
viu grunhindo.
— Onde diabos estava esse fogo antes?
Nikola mostrou os dentes, rosnando: — Você me pegou logo depois de
uma alimentaçã o.
Asher o imaginou curvado sobre sua presa, o sangue escorrendo pelo
queixo. Momento ruim porque as imagens causaram êxtase e uma sede
dolorosa que enfraqueceu seus joelhos, dando a Nikola a vantagem.
Ele deu um chute no peito de Asher, nã o o suficiente para esmagar os
ossos, mas o suficiente para empurrá -lo para trá s. Ofegante, Asher
devolveu o golpe com os nó s dos dedos na mandíbula de Nikola. Quase
parecia errado, ele pensou, acertar um rosto tão bonito.
— Mestre!
O que?
Nikola caiu para trá s, respirando pesadamente. Ele e Asher se viraram
para outro vampiro, um recruta mais jovem ajoelhado na beira do
telhado acima.
Não se atreva.
Asher sibilou um aviso, mas o idiota nã o deu atençã o. Ele se jogou em
Nikola, com as presas abertas, suas feiçõ es torcidas em um grito
selvagem – o grito para matar. Nikola se preparou, mas Asher estava
mais perto. Ele se observou se mover sem realmente pensar nisso.
Asher abordou o recém-nascido irado, agarrando-o no concreto. Ele
reconheceu vagamente o cabelo loiro platinado do recruta – ele havia
sido Transformado recentemente, algumas semanas atrá s.
— Você nã o toca nele! — Asher rosnou, pegando-o pelos fios brilhantes e
batendo repetidamente o nariz no asfalto.
O recém-nascido deve ter se alimentado recentemente; uma fraca poça
de sangue começou a espirrar onde Asher estava quebrando o nariz. O
cheiro de metal, os soluços suplicantes, alimentaram Asher.
— Existem ordens: ninguém mata Nikola, — Asher ferveu, batendo com
mais força.
Se for para matar, serei eu.
— Mestre Asher de Lord Malkolm,— Nikola disse formalmente,
colocando a mã o nos ombros de Asher. Asher congelou, um gato
frenético pronto para atacar. — É o bastante.
Certo, talvez matar um cara na frente do Filho da Lua nã o ajudasse a
ganhar seu favor. Só para garantir, Asher quebrou o rosto do recém-
nascido pela ú ltima vez.
Asher estava perto do vampiro. O garoto estava tremendo, cruzando os
braços sobre a cabeça. Asher sentiu as pontas dos dedos tremendo com
agressividade mal contida e apertou-as para esconder isso. Estava
começando a ficar um pouco difícil nã o pegar o Seguidor de Sangue e
bebê-lo até deixá -lo seco.
Preciso me alimentar antes de perdê-lo.
— Mestre Asher,— Nikola disse, interpretando mal os punhos cerrados.
Ele falou... suavemente. A ideia do cara tentando confortar Asher era
hilá ria o suficiente para reprimir um pouco de sua raiva. — Acredito que
você tenha defendido seu ponto de vista.
— O que eu disse sobre essa merda formal, cara? — Asher se virou, já
esquecendo o vampiro insolente. O garoto sabia o suficiente para pelo
menos ficar abaixado – ou talvez estivesse fodido demais para se
levantar.
Asher estremeceu quando o aroma deliciosamente sedutor que irradiava
da pele de Nikki o atingiu. Ele inclinou o rosto para o céu, aproveitando a
brisa fresca. O inverno está chegando... nada como sentir a neve cair na
pele e nã o sentir frio. O frio escaldante chegou cedo por aqui e as
nevascas caíram com força. Ele estava ansioso por isso e pelos invernos
infinitos que viriam.
— O que você acha da imortalidade, Nikki?
Nikola nã o respondeu imediatamente.
— Está vamos apenas brigando e agora você quer bater um papo? — Ele
olhou incisivamente para o vampiro caído.
— Bem, claro. Se conversá ssemos a noite toda, nã o teríamos tido chance
de jogar.
— Receio nã o conseguir entendê-lo, Mestre Asher.— É assim que eu
gosto. Entã o, Nikola disse: — É uma maldiçã o.
Asher queria lhe pedir que explicasse, mas o vermelho estava começando
a turvar sua visã o. Uma maldição, assim como esta sede inabalável. Ele
estava pensando em arrastar o vampiro mais jovem para fora de vista,
mas sabia que era melhor nã o abater inutilmente os recrutas de
Malkolm.
E se eu atacasse Nikola para me alimentar? Seria esse o empurrão que
Nikola precisa para matar?
Muito tentador. Asher balançou a cabeça e olhou para Nikola, toda
brincadeira abandonando seu comportamento. Ele nã o perdeu o modo
como Nikola enrijeceu, constantemente pronto para outro ataque. O
Filho da Lua encontrou o olhar de aço de Asher, sem se deixar intimidar
pelo peso do poder por trá s dele. Na verdade, Asher sentiu a pressã o dos
anos do outro vampiro, a confiança de um velho homem de fé. Ele nã o
pô de evitar um sorriso teimoso. Quem é você, Filho da Lua entre a maré
de Sangue?
Ele sabia que Nikola podia sentir a fome arranhando o estô mago de
Asher, arranhando o interior de sua garganta como uma lixa. Asher
suspirou melancolicamente e desceu a rua. Seu olhar percorreu o toldo
listrado de um café da manhã . Às vezes sinto falta de panquecas... Ele só
pensava em suas comidas favoritas do passado em momentos de sede de
sangue.
— Bem, isso foi divertido, Nikki, — disse Asher. Antes que Nikola
pudesse responder, Asher saltou, subindo no toldo frá gil. Ele olhou para
Nikola, que parecia adoravelmente confuso. Ele gritou: — Acho que nã o
preciso realmente me preocupar com a possibilidade de você morrer,
mas saiba que as patrulhas de Malkolm matam primeiro e fazem
perguntas depois. — Asher inclinou a cabeça com um sorriso, de modo
que as luzes da rua iluminaram seus dentes no â ngulo certo. — Eu sou os
olhos e os ouvidos deste lado da cidade, Nikki. Nã o se esqueça disso.
Asher escalou a parede até os telhados, deixando Nikola para trá s.

Ele correu pelas aberturas estreitas dos telhados densamente lotados de


Grander - ele nã o achava que algum dia se cansaria de sua resistência
sobrenatural e nã o poderia, por nada que fosse, pensar no poder como
uma maldição.
Seus instintos queriam que ele rastreasse usando seu olfato, mas isso
ameaçava arrastá -lo de volta para Nikola. Em vez disso, Asher ouviu
atentamente o que estava ao seu redor. Depois de colocar uma distâ ncia
segura entre ele e Nikki, ele diminuiu a velocidade e começou a
caminhar. Ele havia se dirigido propositalmente em direçã o ao extremo
leste da fronteira – talvez a parte mais difícil de Grander, dominada
principalmente por humanos.
A á rea estava repleta de crimes, abuso de drogas e pobreza. Era a
esquina mais frequentemente atribuída à taxa de homicídios de Grander
por relató rios externos - rumores alimentados em grande parte pelo
senhor, pela senhora e pela burocracia local que pagaram para ignorar o
noturno.
Era também o local de caça favorito de Asher. Nã o porque ele preferisse
se alimentar dos pobres ou menos afortunados – vamos lá , ele era um
monstro, mas nã o era tão monstro - mas porque abrigava humanos
violentos e os mais fracos dos Seguidores de Sangue.
Coincidentemente, foi onde Asher cresceu depois que seus pais o
expulsaram do Alabama.
Ele parou assim que ouviu um grito agudo. De uma criança. Ele caiu nas
calçadas rachadas e seguiu na direçã o dos gritos. Isso o levou à quadra
de basquete cercada.
Ele caminhou até os elos da corrente, observando a cena que se
desenrolava no meio do asfalto. Lembro-me de jogar aqui no colégio antes
de ser descoberto.
Uma Seguidora de Sangue riu enquanto se aproximava de um
adolescente encapuzado, deitado de bunda no chã o. Seu amigo estava
caído ali perto – morto. Asher provou seu desgosto na língua. O garoto
vivo soluçou incoerentemente. Uma bola de basquete estava esquecida
ao lado da trave enferrujada.
A mulher, uma loira pequena com corte curto, estava coberta com o
sangue do garoto morto. Asher ouviu um gemido – não, não morto. Ele
notou também que o pescoço do garoto que chorava estava cheio de
marcas de dentes superficiais e sangrentos. Ela estava brincando com
eles, um gato com ratos.
Asher escalou a cerca e esperou que o Seguidor de Sangue o
reconhecesse. O nome dela era Anna, ele lembrou. A voz dela sempre o
irritou.
— Oh, Mestre Asher! — ela cumprimentou, alarmada. Seus olhos
brilhantes piscaram entre o humano petrificado e seu amigo ferido. — V-
você chegou bem na hora! Há o suficiente para nó s dois. — Sua risada
estranha foi interrompida quando o terror percorreu seu rosto
manchado de sangue. Ela deu um passo para trá s quando Asher se
aproximou dela. — M-Mestre Asher?
Ele a segurou pela garganta antes que ela pudesse tentar fugir. Ele a
levantou, apertando suas traqueias. Seus chutes eram fracos, suas
sú plicas eram sufocadas e ofegantes.
— Nó s nã o caçamos crianças, — ele a lembrou com uma voz fria.
— Por favor, — ela ofegou, agarrando a mã o dele. Claro, nenhuma das
crianças estava morta ainda, entã o talvez ele pudesse poupá -la, mas ela
foi pega no pior momento possível.
Os tambores do Deus do Sangue batiam dentro do crâ nio de Asher. O
mundo foi afogado atrá s de uma película vermelha.
Seu pescoço quebrou facilmente. Ela nã o estava morta, apenas
inconsciente – ele precisaria arrancar seu coraçã o, mutilar sua garganta
para evitar o rejuvenescimento através da alimentaçã o ou decapitá -la
para terminar o feito. Ele jogou o corpo inerte dela por cima do ombro e
olhou para as crianças. Ambos os coraçõ es ainda batiam, um deles mal. O
O garoto de moletom estava com o rosto verde, prestes a desmaiar. Ele
estremeceu quando Asher lhe disse: — Chame uma ambulâ ncia para seu
amigo aqui. E pare de brincar lá fora depois de escurecer.
Asher, nã o vendo motivo para traumatizar ainda mais a criança, carregou
Anna para longe da quadra de basquete e de volta para os telhados.
O sangue dela, roubado de uma fonte proibida, cantava para ele
enquanto ele se alimentava. Como todos os vampiros mortos, uma
previsã o do Deus e da Deusa para proteger seus cadá veres do escrutínio
humano, seu corpo se transformou em cinzas diante dos olhos de Asher.
Ele chutou as roupas para fora do telhado, a cidade já estava melhor sem
ela dentro.
CAPÍTULO SETE

NIKOLA

Os sonhos de Nikola estavam cheios de confusã o. Asher me protegeu –


por quê? Malkolm quer me manter por perto — por quê? A Deusa da Lua
ainda me presenteia – por quê? Ele ficou grato quando seus olhos se
abriram ao pô r do sol, acolhendo o silêncio de seu quarto escuro.
Antes de ir para casa na noite anterior, ele havia deixado um relató rio
manuscrito na mesa da recepcionista do escritó rio de Morrigan. Ele
esperava receber uma resposta de Corvellious nas duas noites seguintes.
O fato de ele ter voltado vivo significava uma coisa: Morrigan pretendia
usá -lo como um espiã o, um infiltrado — e isso certamente poderia levá -
lo à morte.
Para que estou vivendo? A mesma pergunta girava em seu cérebro
enquanto ele estava sob o vapor de um banho quente. Para a Deusa da
Lua? Para Corvelious? Para a senhora? Ele deu um soco nos ladrilhos de
linó leo da parede do banheiro. Ele nã o foi apenas apanhado pelas
gavinhas do Durante as disputas territoriais dos Sangue, ele estava sendo
arrastado cada vez mais fundo nas á guas por tentá culos predató rios.
A á gua caindo em cascata pelas suas costas lhe lembrava as chuvas de
verã o. Seu cabelo, encharcado, grudava nos ombros e na metade das
costas.
Seus pensamentos voltaram para tempos mais simples – tempos mais
felizes. Quando ele e Corvellious moravam nas casas da á rvore com o
resto do clã da Lua, nas profundezas de uma floresta inglesa. O coraçã o
de Nikola doeu de nostalgia ao recordar as danças da fogueira à meia-
noite, o hidromel e a cerveja que eles fermentavam independentemente,
as nevascas passadas pintando e recitando poemas.
Corvellious criou e chefiou o clã das copas das á rvores, grande o
suficiente para ser considerado uma pequena vila – incomum para as
Crianças da Lua.
Entã o, novamente, Corvellious nã o era o típico Filho da Lua.
Nikola lembrou dos habitantes da cidade no sopé das montanhas. Os
humanos ouviram contos populares sobre as “fadas” que viviam nas
florestas. Por mais encantador que fosse... até que sussurros de “fadas” se
transformaram em pesadelos sobre “demô nios” bem a tempo para a
segunda purgaçã o vampírica europeia conhecida.
Eles queimaram totalmente a nossa aldeia.
Nikola estremeceu, lembrando da chama dos olhos de Corvellious
através da fumaça – prata escurecendo para preto, depois dando lugar ao
escarlate. Corvellious conseguiu sua vingança. Ele jurou isso aos
habitantes humanos da cidade, começando pelos autoproclamados
caçadores que ele havia massacrado antes que pudessem alcançar Nikola
ou John, os ú nicos sobreviventes.
A imagem de seu pai vampiro convertido diante de cadá veres amassados
ficou impressa para sempre em suas pá lpebras.
“Não posso seguir você por este caminho”, Nikola engasgou com as cinzas.
Nikola contou uma mentira terrível, na qual acreditou durante séculos,
até que ele e Corvellous se encontraram novamente na América.
Quando Corvellious salvou sua vida pela segunda vez.
A á gua do chuveiro começou a esfriar, tirando-o de suas lembranças
perturbadoras. Malditos cachimbos velhos, Nikola resmungou, seu humor
especialmente ruim para aquela hora da manhã . Ele desligou a á gua
antes que pudesse se tornar desconfortá vel – estranho pensar, o ar
invernal nã o retardava um vampiro, mas a á gua gelada poderia – e se
encolheu em uma toalha.
Seus rituais matinais de puxar o cabelo para trá s e raspar os brotos da
barba nã o vinham com reflexã o. Movimentos estú pidos eram apenas
mais um sintoma de estar vivo há muito tempo.
“O que você acha da imortalidade?” Essa nã o era uma pergunta que
Nikola esperaria de Asher. Talvez houvesse mais no jovem Seguidor de
Sangue do que a fachada que ele vestia. Nikola rangeu os dentes
enquanto se vestia, tirando a ideia da cabeça. Nã o importava quem era
Asher – o que importava era manter suas presas fora da garganta de
Nikola.
Ainda assim, o fato de ele ter protegido Nikola...
Nikola balançou a cabeça enquanto descia as escadas. Claramente, tinha
algo a ver com qualquer plano nefasto que Malkolm estava montando.
— Nikola! — Ele foi interceptado por Veronica. Suas tranças de contas
estavam presas em um laço no topo de sua cabeça, e ela estava usando
um vestido vermelho brilhante. Ah, o show é hoje à noite.
— Você disse que viria conosco para o bar clandestino! — Ela bateu o
calcanhar, seus lá bios brilhantes curvando-se em um beicinho.
— Vee...— Ele nã o se preocupou em contar a ela ou a Francis sobre a
atençã o recente que supostamente recebeu do Rei Supremo, nem sobre
os preparativos de seu obscuro asilo.
— Estamos nos apresentando! Você tem que vir! Você prometeu!
Na verdade, ele nã o sabia disso, ele só sabia disso porque Nikola desistiu
de fazer declaraçõ es tã o poderosas como “Eu prometo”. Eles eram
facilmente quebrados. Esta noite foi a prova disso. Mas Veronica é o tipo
que considera um cuidadoso “Teremos que ver” como um sonoro “Sim!”
Veronica era jovem comparada a alguns vampiros, tendo sido
transformada apenas três décadas atrá s, nos anos noventa. Seus
pensamentos voltaram para Asher. Será que Nikola era tã o jovem e cheio
de vigor quando vivia entre as á rvores?
Francis dobrou uma esquina, com o estojo do saxofone nos ombros. Se
ele nã o tivesse sido mudado à força em Chicago na década de 1920,
Nikola acreditava que ele teria se tornado uma lenda do jazz de hoje. No
mínimo, ele era localmente famoso entre as Crianças da Lua, que cresceu
e ainda viveu nos loucos anos 20 - ou, como os vampiros se lembravam,
“The American Moon Child Boom”.
Nikola ficou genuinamente desapontado por nã o poder ir ao bar
clandestino do porã o para vê-lo tocar e Veronica cantar. Embora ele
estivesse reconhecidamente aliviado, ele nã o teria que suportar as
carrancas desconfiadas de seus companheiros Filhos da Lua.
— Normalmente você consegue reservar uma hora ou mais antes que
Corvellious cuide de você, — Francis disse suavemente. Nikola tentou
reprimir a pontada de ansiedade em seu peito – Nikola poderia lidar com
os vexames de Corvellious, mas nã o se atreveu a tentar Morrigan. O
outro vampiro estreitou os olhos. Veronica olhou entre a troca.
— Algo está acontecendo entre Morrigan e Malkolm.
— Sempre há algo com esses dois, — Veronica choramingou.
Nikola sabia que seria egoísta esconder deles as mudanças nos assuntos.
E se o escrutínio do Rei Supremo se voltasse contra Veronica e Francis? E
se um dos subordinados de Malkolm o seguisse de volta para casa
qualquer dia em que ele atravessasse a fronteira?
— Você está certo, — ele cedeu. — O Rei Supremo ordenou que Lorde
Malkolm me permitisse entrar em toda a cidade – recentemente ele
descobriu sobre minha lealdade, mas considerou isso uma violaçã o do
Tratado da Lua e do Sangue. Como você pode imaginar,— acrescentou
secamente, — Morrigan deseja usar esses novos desenvolvimentos a seu
favor.
— O que! — Veronica gritou. — Você é Insano! Ela é louca! Isso vai te
matar, entrando naquele ninho de vespas. Algo está acontecendo.
— De fato, alguma coisa está , — disse Nikola. — Morrigan deseja
descobrir isso também.
Veronica rosnou.
— Você realmente vai continuar com isso? Você pode abandonar o navio,
Nikola! Você pode ser apenas um Filho da Lua normal.
— Receio que isso tenha deixado de ser uma opçã o há muito tempo,—
murmurou ele.

— Você mencionou as tendências masoquistas de Asher,— disse


Corvellious. Nikola sentou em frente à sua mesa, sem piscar enquanto
seu criador folheava suas cartas manuscritas. — Você acha que poderia
usar isso em seu benefício?
Nikola franziu a testa.
— Nã o estou entendendo.
Corvellious pousou a mã o gentilmente na débil pilha de papéis.
— O vampiro é jovem e instá vel. Ele claramente tem ordens contra matar
você, mas também está se divertindo com você. Você acha que poderia
ganhar a confiança dele?
— Eu nem tenho certeza se ele pode sentir coisas como “confiança”,—
disse Nikola com tristeza. Havia uma implicaçã o tá cita na voz de Nikola
que acusava o mesmo de todos os Seguidores de Sangue.
— Mas ele pode sentir alegria, rir, sentir sede e adrenalina.— Corvellious
inclinou a cabeça para o lado, calculando. Nikola engoliu em seco, nã o
gostando do rumo que a conversa estava tomando. — Todas as coisas
que deixam a língua solta, o coraçã o vulnerá vel. Além disso, você é um
Filho da Lua. Até as emoçõ es calejadas do Sangue se curvam à sua
vontade.
Nikola enrijeceu. Ele nunca foi convidado a manipular os outros antes.
Seu ú nico conjunto de habilidades que Morrigan usou foi sua força física.
— Isso foi ideia da senhora ou sua?
Corvelious fez uma careta.
— Isso importa? É de minha pró pria autoria.
— Suponho, — Nikola soltou, — sendo sua ideia faria mais sentido. — Os
lá bios de Corvellious franziram, seus olhos se estreitaram enquanto sua
mandíbula pulsava. Nikola desviou os olhos. Corvellious proibiu Nikola
de discutir seus dias lunares, mesmo em particular, mas aqui estava ele
dançando nessa linha.
Correndo o risco de sofrer repercussõ es por protestar, Nikola disse: —
Admito que a ideia me deixa desconfortá vel, Mestre Corvellious. Quase
parece que eu estaria coagindo alguém contra sua vontade. Certamente
nã o é para isso que a Deusa da Lua gostaria que eu usasse seus dons.
À mençã o da Deusa, as narinas de Corvellious dilataram-se.
— Nã o estou pedindo que você se case com Mestre Asher, mas
simplesmente faça com que ele fique de boca aberta. Alimente-o com
segredos falsos sobre Morrigan. Deixe-o bêbado. Deixe-o acreditar que
você está considerando o Deus do Sangue. Qualquer coisa que ele nos
conte sobre Malkolm tem valor para nó s.
— Que informaçõ es estamos procurando aqui, exatamente? — Nikola
perguntou sem concordar com a tarefa.
Corvellious recostou-se, batendo compulsivamente uma caneta no braço
da cadeira. Ele espiou as areias caindo de uma ampulheta em miniatura.
— Ou Malkolm está mentindo sobre suas interaçõ es com o Rei Supremo,
ou pior, nã o está . Lady Morrigan nã o tem notícias de Sua Majestade há
anos, entã o o fato de ele estar conspirando com Malkolm significa que ele
está considerando o senhor para o Alto Trono. Precisamos saber mais
sobre essas conversas, se elas existirem. Asher provavelmente teria a
informaçã o.
Nikola percebeu a ló gica – mas pela extensã o do que estava sendo pedido
a ele, ele poderia realmente fazer isso? Ele sentiu que preferiria acabar
com uma adaga no peito do que ganhar a amizade de Asher. A ideia de
controlar o coraçã o de alguém revirou seu estô mago de uma forma
familiarizado com seu desgosto de tirar uma vida. Será que a Deusa
perdoaria tal coisa? Mas ir contra estas novas ordens significava trair o
seu criador.
Ele respirou fundo, sem dizer nada.
Corvellious nã o lhe deu espaço para discutir ou recusar, passando para o
pró ximo ponto.
— Você terá muitas chances, meu filho. Morrigan lhe deu ordens para ir
ao territó rio de Malkolm esta noite e documentar as entradas das
catacumbas de maior trá fego.
Isso foi, pelo menos, algo mais prá tico.

Nikola nã o se considerava um espiã o. Seus métodos eram mais... diretos.


Mas lá estava ele, andando na ponta dos pés pelo territó rio inimigo,
mantendo-se perto das sombras com a cabeça baixa. Até agora, ele havia
localizado algumas entradas de catacumbas, muitas delas aparentemente
abandonadas, como as pedras desabadas que margeavam uma igreja em
ruínas ou o bueiro lacrado no meio de um bairro comercial. Nikola
refletiu que aqueles ao ar livre, onde qualquer humano poderia
encontrar um Seguidor de Sangue, nã o estavam mais em uso. Mas um
nú mero notá vel de vampiros emergiu de escotilhas de quintal e de
edifícios claramente abandonados e vazios. Nikola sabia que precisaria
descobrir exatamente quais porõ es levavam à s catacumbas.
Ele se apoiou no vidro frio de uma cabine telefô nica — só uma cidade
assombrada por homens de antigamente ainda encontraria uso de
cabines telefô nicas — e olhou para a antiga igreja. Um letreiro de néon
revelou que o lugar sagrado havia sido reaproveitado para uma tabacaria
humana.
Há quanto tempo a igreja estava aqui, ele se perguntou. Grander foi
fundada por vampiros, incluindo o Rei Supremo, e a maior parte foi
estabelecida no subsolo. Vampiros da Lua e do Sangue cavaram o sistema
de tú neis, um lugar para se esconder dos humanos, caso a Terceira
Purificaçã o se espalhe para o Novo Mundo.
Isso foi até que as Crianças da Lua, cansadas de viver em condiçõ es tã o
apertadas com aqueles conhecidos por atacá -las, começaram a construir
acima do solo no início de 1800 – e entã o os humanos, atraídos pelo lago
pró ximo, se mudaram. o pâ nico havia passado e os responsá veis que
sobreviveram aos expurgos ficaram de olho na reputaçã o e no
comportamento.
Se alguma vez houvesse outra Purificaçã o vampírica, Nikola pensou,
Grander seria o primeiro alvo. E neste século militarizado, Nikola
suspeitava que poucos vampiros sobreviveriam.
Nikola se perguntou se seu asilo incluía as catacumbas, de repente
curioso sobre a rede subterrâ nea que ele nunca tinha visto. Ele descartou
o pensamento tolo. Os Filhos da Lua e os humanos sabiam que nã o
deveriam explorar os tú neis, embora estes ú ltimos associassem o perigo
à integridade estrutural instá vel e aos invasores violentos.
Nikola ponderou sobre uma tendência recente entre os adolescentes
humanos de procurar vampiros na tentativa de se transformar. Ele
esperava que seus pais nã o fossem a centelha para a pró xima (e final?)
Purgaçã o. Na era das reportagens ao vivo e das mensagens instantâ neas,
era muito mais difícil negar a existência de demô nios de olhos vermelhos
e seus parentes de olhos prateados.
— Ah, Nikki.
Ah, pelo amor de Deus...
— O que você está fazendo aqui, Nikki? — Nikola virou-se para o notó rio
segundo em comando, que se aproximava dele na rua escura. Ele olhou
ao redor, nã o vendo mais ninguém. Só ele e Asher, o clique-clique-clique
de seus dedos de aço como uma mú sica tema. Nikola observou que Asher
havia se alimentado, o brilho em suas íris era como rubis refletindo a luz
das estrelas. Suas maçã s do rosto acentuadas estavam coradas, lá bios
carnudos.
— Acredito que sou permitido pelo Rei Supremo, — Nikola disse em uma
voz monó tona.
Asher parou a alguns passos de distâ ncia.
— Sim, sim, mas eu sei que você nã o está aqui para se divertir.
Nikola inclinou a cabeça em direçã o à igreja.
— Passeios turísticos, suponho. Grander é a ú nica cidade vampírica que
posso citar em um mapa americano, e mudou muito nas ú ltimas décadas.
Há muito para ver.
Asher bufou, dando mais um passo mais perto. Nikola se endireitou na
cabine telefô nica.
— O que diabos há de tã o fascinante em uma loja de vapor?
— Era uma vez uma igreja, — disse Nikola, — e as igrejas estã o repletas
de histó ria.
Asher revirou os olhos. Nikola olhou para ele mais de perto, lembrando
da ordem mais recente de Corvellious. O manipule. Ele aproveitou a
emoçã o que irradiava de Asher, surpreso ao perceber um lampejo de
aborrecimento.
— Sim, histó ria, a maior parte dela matança de gays e mulheres. Você era
um garoto da igreja, Nikki?
— Suponho que sim, embora, como a maioria de nossa espécie, conhecer
a Deusa da Lua me forçou a reavaliar meu lugar no universo. — Nikola
nã o acrescentou que ele pessoalmente ainda acreditava em um Criador
ú ltimo, superando até mesmo a Deusa e o Deus. Ele entendia que muitos
vampiros mais jovens consideravam a crença uma blasfêmia, mas Nikola
foi criado com a ideia de um Deus monoteísta e nã o conseguia se livrar
totalmente de suas raízes.
— Você nã o pensava que a Terra era plana ou algo assim? — Asher bateu
um papo, sua centelha de aborrecimento se extinguindo. Ele riu da careta
de Nikola. — Ah Merda. Você fez! Ha-ha! Espere, você ainda? Eu conheci
um Terraplanista uma vez.
— Nã o era um pensamento que eu teria conscientemente, — Nikola se
defendeu. — Aquele que nã o conhece melhor vê um horizonte plano e
você baseia sua percepçã o apenas nisso.
Asher estalou a língua e encolheu os ombros.
— Entã o, você está parado olhando para prédios de merda, hein? Por que
nã o acredito em você?
O Seguidor de Sangue estava se preparando para uma luta, claramente.
Nikola respirou a energia que vibrava sob a pele de Asher. Transmissível.
Ele aproveitou essa agressã o, incitando-a à brincadeira, algo mais fá cil de
trabalhar. Ele estremeceu quando encontrou um fio de luxú ria pulsando
em todo o nú cleo de Asher.
Eu realmente tenho condições de tirar vantagem disso?
— Hã , Nikki? — Asher repetiu, perto o suficiente agora para Nikola
estender a mã o e agarrá -lo. Ele sentiu o lembrete perturbador de que
controlar as emoçõ es era muito mais fá cil com o contato pele a pele.
— Você vai falar ou ficar olhando para mim como um idiota? Ou terei que
arrancar isso de você?
Eu tenho minhas ordens.
Nikola saiu do meio-fio e colocou os pés em uma postura mais robusta. O
sorriso de Asher refletiu a onda de adrenalina. Nikola agarrou a
excitaçã o de Asher, deixando-a escorrer em suas pró prias veias. As
emoçõ es do jovem eram bastante simples, mas tã o... cruas. Nikola teria
que ter cuidado para nã o se perder neles.
— Você certamente pode tentar, — ele antagonizou.
Com uma gargalhada estridente, Asher entrou correndo.
CAPÍTULO OITO

ASHER

Ele quis pular de alegria quando recebeu a mensagem de uma de suas


patrulhas informando que haviam avistado Nikki - e o fato de Nikki
finalmente estar começando a ver a diversã o em lutar? Agora estamos a
falar. Ele estará sob a influência do Deus do Sangue em pouco tempo neste
ritmo.
Nikola interrompeu o ataque ambíguo de Asher; ele estava
reconhecidamente desajeitado em sua excitaçã o. Ele pegou Asher pelo
braço, seus olhos prateados brilhando como o luar, e torceu-o nas costas.
Nikola empurrou Asher contra a parede de vidro da cabine telefô nica de
cara.
— Nikki,— Asher ofegou em voz alta sem querer. A pressã o de seu corpo
estava certa ali, mú sculos enormes por toda parte. Asher se viu
empurrando a bunda para trá s contra o peso. Ele ouviu cada respiraçã o
entre os dentes cerrados de Nikola. O prazer percorreu Asher, passando
pela dor enquanto os dedos de Nikola cavavam mais fundo em sua pele.
Asher nã o sabia o que aconteceria a seguir – ele nã o tinha exatamente
vantagem nesta posiçã o. O que, Nikki iria transar com ele contra esta
parede? Ou ceder ao que Malkolm queria e tentar matá -lo? Asher tremeu
de antecipaçã o.
Nikola, o bastardo, soltou Asher e saiu cambaleando. A pior de todas as
opçõ es.
— Você sempre é tã o provocador? — Asher rosnou, girando. Ele estava
pensando em quebrar o nariz do cara.
O terror legítimo espalhando-se pelo rosto de Nikola fez Asher parar.
Eles se encararam, sem dizer nada, esperando que o outro se movesse.
De jeito nenhum Nikki tem medo de mim, Asher pensou. Talvez Nikola
tenha ficado assustado com o que poderia ter acontecido. Asher sentiu
uma pontada de culpa.
Asher enterrou sua decepçã o e disse: — Você está esquecendo de quem
está aqui, Nikki?
O vampiro mais velho virou-se e saiu correndo, fundindo-se nas
sombras. Ele estava voltando para a fronteira. E as coisas também
começaram tã o bem.
O que diabos aconteceu?

Asher estava meditando no topo de um trepa-trepa enferrujado. Ele


decidiu que Nikola devia ser tã o antiquado que nã o conseguiria lidar com
sua atraçã o por outro homem.
Talvez o cara odeie gays tanto quanto meus pais, pensou ele com um
sorriso sombrio.
Nã o pela primeira vez, Asher brincou com a ideia de visitar os queridos
mamã e e papai. Dar um belo susto, nada mais, mas ele pensou melhor.
Ele disse a si mesmo que eles nã o eram valeu a pena, mas ele sabia que
realmente nã o queria se sentir como o patético personagem do ensino
médio novamente.
Asher traçou o contorno da cicatriz cortante. Todos estavam tã o focados
nisso que nem notaram a lua crescente sob seu olho direito. Mas nã o era
como se uma garrafa de cerveja esmagada contra seu rosto humano
pudesse causar muito dano a ele agora.
Talvez um dia eu apareça e diga “Oi”.
Nã o matar, nã o. Asher nã o achava que conseguiria matar idosos
indefesos, mesmo que esses mesmos idosos tivessem espancado ele em
nome do senhor cristã o.
Ele sabia que Nikola aprovaria o autocontrole.
Por que eu deveria me importar? Ele sacudiu o pensamento aleató rio.
— Cara, foda-se. — Asher saltou das barras cruzadas e atravessou o
parque. Havia um vago toque de cheiro rosado e prateado no ar, alguns
Filhos da Lua na direçã o do vento. Nenhum deles era Nikki, entã o Asher
nã o prestou atençã o neles, seu cérebro ficou entorpecido com o som dos
balanços rangendo.
Lembra quando você jogou aqui, a memó ria impulsiva dele foi imposta a
ele.
Lembra do seu primeiro beijo aqui.
Lembra de como ele cresceu jogando calúnias em você nos corredores, mas
ficou com você no banheiro.
Lembra quando aquele mesmo garoto se juntou aos outros jogadores de
basquete que se juntaram contra você no vestiário.
Lembra quando a Sra. Rittenhouse contou aos seus pais.
Lembra, lembra, lembra.
Asher agarrou seu crâ nio e gritou na névoa que se aproximava. Como
pá ssaros assustados, ele percebeu o farfalhar e os suspiros dos Filhos da
Lua pró ximas fugindo.
O predador dentro do estô mago de Asher queria persegui-lo, inundar
seus flashbacks sob sangue. Mas ele nã o conseguia pensar em uma razã o
boa o suficiente para fazer isso. Foi assim quando surgiu para os Filhos
da Lua. Ao contrá rio dos Seguidores de Sangue indisciplinados, ou de
algum homem perseguindo uma mulher desconhecida, Asher nã o estava
motivado em matar inocentes. Ele atribuiu isso à sua habilidade natural
de comandar grupos e dar exemplos.
Mas por que as malditas lembranças de repente? Asher normalmente os
mantinha trancados. O humano Asher estava morto. Sua vida mortal nã o
importava mais. Talvez tenha sido por causa de Nikola tagarelar
descuidadamente sobre sua pró pria vida mortal – sete séculos como um
Filho da Lua criada por um Seguidor de Sangue.
A menos que Corvellious nã o tenha sido o verdadeiro criador de Nikola.
Mas por que mentir sobre algo assim? Para ganhar o favor de Morrigan?
Asher nem conseguia lembrar quem o criou além de alguma criança
vampira selvagem. Ele nã o conseguia se lembrar do rosto dela, apenas
das risadas, da agonia.
Ela foi aparentemente executada por Malkolm simplesmente por existir.
Assim como a lei de Asher contra a morte de crianças humanas, o Rei
Supremo aplicou estritamente a lei contra a transformaçã o de uma
criança humana. Eram demasiado imprudentes, impossíveis de controlar
– e havia também a questã o da moralidade.
Asher bateu na lateral do crâ nio algumas vezes, tentando acordar. Ele
deveria estar em uma missã o, pelo amor de Deus. Atraia Nikola para o
lado de Sangue.
Aparentemente, tentar – e falhar – seduzi-lo em uma rua escura nã o era a
melhor maneira de fazer isso. Nã o era como se ele tivesse planejado
fazer isso. Cara, qual deles Asher queria mais? Derrubar Nikola ou
transar com ele?
Acho que terei que contatá-lo logo e descobrir.
O som de passos á geis e da respiraçã o sob uma má scara o arrastou de
suas fantasias.
— E aí, Riccardo? — Asher disse, voltando-se para seu subordinado.
— Ouvi relatos de que você foi flagrado com Nikola, — disse Riccardo. —
Eu rastreei você para garantir que você estava seguro, mas posso ver que
o Filhoda Lua nã o está por perto.
Essa era uma atitude que Riccardo estava adotando?
— Eu o empurrei um pouco demais e ele fugiu para a fronteira. Nã o é
como se eu tivesse asilo. E nã o é como se eu precisasse de ajuda.
Riccardo ergueu o queixo.
— Ouvi dizer que ele conseguiu imobilizar você.
O olhar furioso de Asher foi um aviso. Merda, os Seguidores de Sangue
estavam fofocando sobre o desastre quase pú blico dele e de Nikola? Ele
teria que acabar com isso em breve. Lhe ocorreu que nã o tinha certeza
de como Malkolm reagiria se ouvisse que Asher estava atacando o
inimigo.
— O que? Como se você nã o fosse se divertir com um cara gostoso em
cima de você?
Riccardo recuou. Asher nã o precisava do poder de ler emoçõ es para
sentir a repulsa saindo dele. Vivendo no século XXI, mas ainda preso na
Idade Média, não é?
— Digo isso com todo o respeito, Mestre Asher, mas Lorde Malkolm nã o
vai gostar se ouvir que você está apenas confraternizando.
— Isso é uma ameaça? — A voz de Asher esfriou, sua língua passando
por suas presas.
— Nã o, Mestre Asher. É um aviso amigá vel. — Riccardo se virou, mas nã o
conseguiu escapar tã o facilmente. Asher veio por trá s dele e agarrou seu
ombro, jogando Riccardo contra um carvalho. O Vampiro Mascarado
caiu, mas nã o fez nenhum movimento para devolver o ataque.
Asher deu um soco na casca ao lado de seu rosto. Ele teve a intençã o de
arrancar a má scara, só para foder com ele.
— Eu sei o quã o chateado você está por eu ter assumido o cargo de
segundo em comando, — Asher rosnou, encontrando o olhar odioso do
Vampiro Mascarado. — E seria muito descuidado da sua parte se você
acha que pode voltar ao topo. — Asher aproximou o rosto, sentindo o
há lito rançoso de Riccardo. Notas de decadência depositadas em sua pele
pá lida. — Se você quiser tentar resolver isso, venha até mim como um
maldito homem. Mas talvez alimente-se primeiro. Faça com que seja uma
luta justa.
Riccardo disse: — Nã o preciso fazer nenhum tipo de movimento contra
você, Mestre Asher. Embora possa haver um método para sua loucura, Eu
só preciso esperar você sair. Você nã o é o primeiro cã o de guarda de
Malkolm – e estou ao lado dele desde a fundaçã o da Grander.— Riccardo
parou por um momento para reajustar a má scara. — Mas antes que você
inevitavelmente faça algo estú pido o suficiente para se matar,
precisamos nos concentrar na tarefa que temos em mã os. Assim que
tivermos Nikola ao nosso lado - ou totalmente fora de cena, se for o caso -
podemos começar a agir em Morrigan. Assim que Malkolm for o ú ltimo
sobrevivente, o Rei Supremo entregará o trono.
Asher se afastou. A batida do Deus do Sangue batia levemente atrá s de
seus tímpanos, sua visã o tingida com uma névoa sangrenta. Ele adoraria
assassinar Riccardo agora mesmo. Mas ele estava certo. Ele era o mais
velho do clã de Malkolm, exceto o pró prio senhor, o ú nico vampiro que
Malkolm criou desde a fundaçã o de Grander. Ou antes? Merda, como se
isso importasse. Matá -lo nã o faria nenhum favor a Asher.
— Eu sei o que fazer. Mas nã o preciso de você respirando no meu
pescoço enquanto estou tentando fazer minhas malditas coisas.
Asher passou por Riccardo antes que ele pudesse agir com sua raiva.
Quem diabos ele pensava que era? Ele achava que porque a merda iria
mudar em breve entre os clã s, ele teria uma chance de ultrapassar
Asher? O Vampiro Mascarado tem outra coisa chegando.
CAPÍTULO NOVE

NIKOLA

O desconforto penetrou profundamente nos ossos de Nikola. Ele


cambaleou e parou assim que cruzou a fronteira, nã o muito longe do
canteiro de obras abandonado. Ele simplesmente nã o conseguia usar
seus dons da Lua para tirar vantagem de outra pessoa. Ele teria que
encontrar outra maneira de arrancar informaçõ es de Asher.
Corvellious nã o era mais um Filho da Lua, mas ele se lembrava disso o
suficiente, em vez disso pensava em suas antigas habilidades através das
lentes de um Seguidor de Sangue. O que seria de Nikola se ele brincasse
de fantoche?
Nikola nã o usaria o sexo para conseguir o que precisava. Ele jurou isso
na hora. Talvez ele pudesse usar raiva, medo. Mas nã o luxú ria, nã o
amizade. Asher é o inimigo. Vou tratá-lo como um. Talvez ele pudesse
manter as coisas simples e usar os punhos. A razã o pela qual Morrigan o
controlou por meio de Corvellious foi porque ele era fisicamente
incompará vel - um Filho da Lua com a força de um Seguidor de Sangue.
Entã o, era isso que ele usaria. Ele nã o poderia manipular sem sentir ele
mesmo os sintomas. O que meu criador me pede pode acabar me
destruindo... é isso que ele quer?
A voz de Malkolm no jantar perfurou os pensamentos de Nikola.
“Por que você mesmo não se submete ao Deus do Sangue? Imagine o poder
que você poderia exercer!”
Nikola balançou a cabeça, pensando em Francis, Veronica, John. Seu clã
caído. Dela. Ele nã o poderia viver para matar. No entanto... as palavras
zombeteiras de Malkolm voltaram à sua mente. Foi o fato de ele ter
participado da disputa territorial dos Sangue o motivo pelo qual a Deusa
da Lua ficou tã o silenciosa desde a noite em que Corvellious salvou sua
vida pela segunda vez, três décadas depois?
Nikola pensou no frenesi nos olhos de Asher quando ele defendeu Nikola
daquele Seguidor de Sangue. Ele teria matado aquele Seguidor de Sangue
se Nikola nã o estivesse lá . Se esta foi a companhia que Nikola manteve
deliberadamente, nã o admira que a Deusa nã o tenha falado com ele.
Sua cabeça estava girando. Ele precisava ir. Há quanto tempo? Um par de
horas? Talvez Veronica e Francis ainda estivessem no bar clandestino.
Talvez ele devesse simplesmente ir para casa.
Mas se uma das patrulhas de Corvellious me avistar, eu certamente seria
denunciado e questionado por que ainda não estava estudando o layout de
Malkolm. Nikola lançou um olhar sombrio através da fronteira. Asher
claramente tinha ordens para perseguir Nikola e ficar de olho nele. Como
diabos ele conseguiu fazer alguma coisa, me seguindo o tempo todo?
Ele retirou o celular, um aparelho que raramente usava – para grande
consternaçã o de Veronica. Quantas vezes ela teve que mostrar a ele
como bloquear nú meros de telefone de spam? Ele acompanhava os
avanços tecnoló gicos do passado, mas nã o conseguia acompanhar a
velocidade vertiginosa do desenvolvimento desde a virada do século XX.
Nikola estava feliz porque Corvellious ainda preferia a palavra escrita,
embora ele já tivesse murmurado sobre “esculpir pedra” uma vez.
Nikola passou um tempo embaraçoso enviando uma mensagem para
Veronica:

Vocês dois ainda estão na Blue Tavern?

Talvez se eu viajar de carro, eu possa ficar escondido no bar clandestino


até perto do nascer do sol. Seria menos prová vel que Morrigan ouvisse
sobre sua socializaçã o se ele permanecesse entre os Filhos da Lua.
Mas a resposta de Veronica nã o continha tais promessas. Como ela enviou
uma mensagem tão rapidamente?

Na verdade, estou no estúdio da Kat. Você está por perto?

Nikola fez uma pausa, os polegares pairando sobre o teclado do telefone.


Katsuki . Aquele era um vampiro que ele nã o via há algum tempo, em
grande parte devido ao fato de Katsuki trabalhar e viver no territó rio de
Malkolm. Mas Nikola tendia a evitar o antigo vampiro japonês, de
qualquer maneira.
Katsuki, até o momento, tinha a capacidade de empatia mais potente que
Nikola já havia encontrado. Seu ú nico concorrente poderia ter sido
Corvellious séculos antes, mas os Seguidores de Sangue nã o tinham essa
habilidade. Era como se Katsuki pudesse ler a mente de qualquer pessoa
que eles olhassem, mas Nikola sabia muito pouco sobre o pró prio
Katsuki. Seu telefone tocou com outra mensagem de Veronica

Está tudo bem? Você deveria parar e dizer oi (ou seja, tirar

você dessas malditas ruas!)

Nikola decidiu que deveria perguntar a Katsuki qualquer coisa que eles
pudessem ter notado sobre os Seguidores de Sangue locais. Eles
certamente já estavam em Grander há tempo suficiente. Tempo
suficiente para que a maioria dos Seguidores de Sangue entendesse
deixar Katsuki em paz. Mas será que a imunidade deles sobreviveria se
Malkolm descobrisse que Katsuki estava fornecendo informaçõ es a
Nikola?
Estava ficando muito perigoso para seu clã e amigos se afiliarem a ele?
Ele estremeceu diante da solidã o iminente. Já sobrevivi a isso antes,
poderia novamente. Mas o pensamento lhe causou uma forte sensaçã o de
cansaço. Poderia Aguento mais uma rodada de isolamento?
— Deusa me ajude, — ele respirou em direçã o ao céu nublado. As
nuvens, pesadas pela chuva fria, nã o responderam.
Nikola imaginou que Katsuki iria adivinhar por que ele estava visitando o
estú dio e, se eles decidissem que nã o queriam participar dos jogos entre
senhor e senhora, o rejeitaria. Mesmo assim, ele nã o conseguiu se livrar
totalmente do desconforto ao pedir o endereço.
Só espero poder evitar Asher Black desta vez.

A placa de “ABERTO” zumbiu alto na janela do porã o, perfurando o


silêncio da rua escura com seu anú ncio “TATUAGEM”. A ú nica outra placa
indicando a localizaçã o era o minimalista Bird of Paradise, característico
de Katsuki. Nikola nã o sabia muito sobre Katsuki, e o pouco que sabia
envolvia o crescimento de Katsuki no domínio da tatuagem no Japã o,
quando tais coisas eram indescritivelmente tabu.
O quarteirã o inteiro tinha apenas um poste de luz funcionando, piscando
loucamente. O cená rio parecia incompleto sem assaltos ou tiros. Nikola
se perguntou se ele estava cometendo um erro. O cheiro de cobre e pinho
estava no ar. Velho, claro, mas o fato de haver trá fego suficiente de
Seguidores de Sangue para deixar tal rastro era alarmante.
Desceu os degraus esculpidos em pedra e bateu na porta do estú dio no
subsolo. A porta se abriu, revelando um Filho da Lua musculoso e
tatuado da cabeça aos pés. Os ló bulos das orelhas eram esticados com
tú neis largos, e o nariz e os lá bios brilhavam com vá rios piercings e
anéis. Sua cabeça careca tinha um cérebro tatuado, como se quisesse
sugerir que seu crâ nio havia sido aberto. Nikola tentou nã o olhar, exceto,
espere, ele queria que Nikola reconhecesse uma arte corporal tã o
intensa? Ou ele se ofenderia com isso e reagir mal? Nikola nã o duvidava
de sua capacidade de derrotar o gigante tatuado em uma luta, mas nã o
seria sem esforço.
— E aí, cara? — o cara perguntou.
O que estou fazendo, imaginando uma briga entre mim e outro Filho da
Lua?
— Nikola Kingston de... Nikola,— ele tropeçou nas palavras, evitando por
pouco seu título formal. Deusa, quanto tempo se passou desde que eu
realmente socializei fora dos meus colegas de casa e Seguidores de
Sangue? Ele forçou as costas retas, recuperando o perturbador
sentimento de orgulho que ele reconhecidamente sentia como Nikola
Kingston de Lady Morrigan, mú sculos de um clã de Sangue. Mesmo que
ele nã o tivesse nada, ele sempre teria força, o suficiente para que até
mesmo seu distante pai vampiro encontrasse utilidade para ele.
— Veronica ainda está aqui?
— Ve! — o vampiro iminente gritou por cima do ombro. — Seu colega de
quarto está aqui!
— Obrigada, Diesel,— cantou Veronica, aparecendo como se viesse do
nada atrá s dele. Ela passou o braço pelo de Nikola e praticamente o
arrastou para dentro. Eles imediatamente viraram à direita em um porã o
mal iluminado.
Luzes de fadas iluminavam o espaço quadrado. Tapetes violetas de
penugem cobriam o chã o de concreto, emoldurando gravuras de vá rios
desenhos ao longo dos anos decorando as paredes de tijolos.
Apesar da claustrofobia que se apoderava de Nikola, ele observou que o
espaço confinado estava notavelmente limpo, sem nenhuma partícula de
poeira à vista, e cheirava esmagadoramente a anti-séptico e tinta. Havia
duas mesas de trabalho em frente aos assentos, ambas abarrotadas de
utensílios de arte e esboços pregados nas paredes, cada uma com sua
pró pria caixa de ferramentas. Nikola adivinhou que o rosa brilhante era
de Veronica. As mesas exibiam fileiras de frascos de tinta de tatuagem de
cores vivas.
Uma coleçã o de Filhos da Lua parou de conversar assim que avistou
Nikola. O ú nico vampiro que nã o ergueu os olhos foi o andró gino dono do
estú dio. Eles estavam curvados sobre um jovem deitado de bruços sobre
uma mesa acolchoada, tatuando o ombro. O zumbido da má quina de
tatuagem preencheu o ambiente silencioso.
Katsuki ainda nã o havia abandonado o estilo nu-metal que adotaram no
início dos anos 2000, com a cabeça meio raspada e pontos tatuados no
lugar das sobrancelhas. Vá rias bolas e anéis de metal foram perfurados
em seus narizes, lá bios e orelhas, cada superfície perceptível de seus
braços exibindo tatuagens tradicionais de estilo japonês, estrelando um
koi saltando de um rio no braço esquerdo e um dragã o solar voando
através das nuvens no braço direito.
As modificaçõ es corporais só serviram para desviar a atençã o do fato de
que Katsuki parecia pouco mais velho do que um jovem adolescente,
visto que eles foram transformados em tenra idade. Mas isso era tudo
que Nikola realmente sabia sobre a histó ria do antigo vampiro.
— Droga, é mesmo ele, — disse uma mulher com cabelo azul framboesa
e batom preto. — É verdade o que eles dizem? Que você bebe dos
Seguidores de Sangue?
— Uh, nã o,— Nikola brincou. Isso é um boato real? — Nã o é.
— Vou te dizer uma coisa, eu adoraria fazer o que quero com esses
malucos algum dia,— Diesel retumbou, fazendo Nikola pensar em trens
de carga passando ao longe. Ele franziu a testa, olhando para os
mú sculos do homem, a maioria deles decorados com chamas.
— Nã o! Absolutamente nã o! — Veronica disse, aproveitando a breve
consideraçã o de Nikola. Diesel deu uma gargalhada e sentou entre os
irmã os mais novos que Nikola reconheceu vagamente, um irmã o e uma
irmã com cabelos ruivos curtos e sardas. Veronica se virou para Nikola,
seus olhos brilhantes e ferozes. — Nã o dê ideias a ele!
— Estou parado aqui,— disse Nikola. O cara tatuado bufou.
Veronica fez um movimento amplo, convidando Nikola a se sentar. Ele
manteve bastante espaço entre ele e a mulher de cabelo azul. Ele nã o
gostou dos olhos de coruja dela olhando para ele como se ele era um
animal selvagem em uma gaiola.
— Vejo que você está inteiro—, Veronica disse secamente. — Pensei que
você tinha planos com seus amigos de Sangue. Você os abandonou?
Nikola repetiu: — Amigos? — Quando ela nã o deu mais detalhes, ele
disse: — Encontrei Asher Black. Bem, eu continuo encontrando Asher
Black. Nã o tenho certeza de seus métodos, mas ele parece estar
brincando comigo. Nã o consigo entendê-lo.
Veronica franziu a testa, mas antes que pudesse fazer perguntas, Katsuki
falou. A voz deles era suave como a seda de uma aranha, mas com a
eloqü ência de um monarca.
— Se você pudesse entender Asher Black, você seria o primeiro.—
Katsuki fez uma pausa, a caneta parando. Seus olhos, mais cinza-
acinzentados do que prateados brilhantes, olharam para Nikola. Ele
sentiu como se toda a sua alma estivesse aberta naquele segundo. —
Nem eu conheço muito sobre Asher Black, embora eu tenha tendência a
evitá -lo.
Katsuki já tinha adivinhado as intençõ es de Nikola aqui?
— Um sociopata, suponho,— Nikola murmurou. — Embora eu diria que
a maioria dos Seguidores de Sangue sã o.
A caneta de Katsuki começou a zumbir novamente, mas eles continuaram
conversando.
— Descobri que nã o é esse o caso. Seguidores de Sangue, seu desejo por
sangue e violência, seu amor com a morte, nã o vem da falta de coraçã o,
mas de alguém que arde em traiçã o, ó dio, tristeza e até amor.
Nikola ouviu as palavras, mas nã o se permitiu pensar muito nelas. Isso só
o faria refletir sobre a alma de Corvellious, seu amor ou falta dele por
Nikola, e isso nã o era algo que ele tivesse a capacidade de apodrecer.
— E quanto a Asher?
— Essa é a questã o, nã o é?
Foi um claro indicador de que haviam chegado ao fim da conversa.
Katsuki limpou a tinta solta e o sangue da tatuagem e depois lavou-a com
sabonete anti-séptico. O homem vampiro sibilou de dor, mas
permaneceu admiravelmente imó vel. Katsuki usou o celular deles para
tirar uma foto da peça mais nova.
— Deseja que eu lhe envie uma foto? — eles perguntaram ao cliente.
— Sim, cara, — ele disse. Ele se levantou e conferiu a nova ombreira no
espelho. Um pavã o, sua cauda psicodélica totalmente aberta. Nikola ficou
maravilhado com os redemoinhos de cores brilhantes. Katsuki parecia
ter feito a transiçã o do tradicional para o experimental.
Katsuki e o cliente discutiram os procedimentos de limpeza e concluíram
a transaçã o em dinheiro antes de Katsuki embrulhar a peça com plá stico.
Nikola nã o perdeu a maneira como o jovem o olhou de soslaio com
cautela enquanto ele saía, como alguém cauteloso com um cachorro
estranho. Nikola reprimiu um suspiro.
Estar sozinho entre os Seguidores de Sangue era uma coisa. Ele nã o
queria a companhia deles mais do que eles queriam a dele. Mas a solidã o
que ele sentia perto de seus companheiros Filhos da Lua era outra
questã o. Se os filhos dela o impediram, por que nã o a pró pria mã e?
— Cara, acho que nã o conseguiria uma peça para as costas, — disse a
mulher de cabelo azul melancolicamente. — Estou muito cheia de mim
mesma e gostaria de ficar olhando para isso o tempo todo.
— Por esse motivo, os Seguidores de Sangue normalmente nã o fazem
tatuagens nas costas,— Katsuki disse com um sorriso. Eles foram até a
mesa de trabalho enquanto falavam, examinando os esboços em
exibiçã o. — Sem reflexo, eles nã o podem vê-lo nem na imagem nem no
espelho. Só conheci um que queria tal peça, alegando que nã o precisava
vê-la pessoalmente. Que era para outra pessoa. Katsuki passou os dedos
sobre um desenho em preto e branco da torre sinuosa de Babel em
chamas, as nuvens de fumaça se acumulando no topo para dar a
impressã o de um rosto gritando de raiva ou tristeza.
Katsuki tatuou Seguidores de Sangue? Talvez eles realmente tivessem
informaçõ es valiosas.
Eles voltaram seu olhar para Nikola.
— Eu preciso visitar sua casa novamente se algum dia chegar adiantado.
Faz um bom tempo que nã o vejo Francis. — Francis nã o poderia visitar
com segurança o territó rio de Malkolm. Nã o sem arriscar que alguém o
reconhecesse como o vampiro que ele já foi e agisse de acordo. Katsuki
olhou para Veronica. — Como está seu marido atualmente?
— Frankie está ficando nervoso, — Veronica respondeu claramente. —
Sobre, e cito, “Mudanças no ar”. Eu realmente espero que ele nã o planeje
fugir da cidade comigo ou algo assim.
Nikola foi o primeiro a sentir o cheiro, o primeiro a se levantar. Um toque
de pinho fresco e cobre ú mido. Katsuki inclinou a cabeça. Ele ouviu o
barulho metá lico da caixa de correio, fechada com tanto barulho que só
podia ser deliberada. Através das paredes veio uma risada maníaca.
— O que eles dizem sobre o Diabo? — Katsuki disse, aparentemente nã o
se incomodando com a ameaça imediata.
Mas quando Nikola correu para fora, Asher nã o estava em lugar nenhum.
Ele detectou o rá pido ruído de passos que se afastavam, uma leve risada
no vento. O cadeado da caixa de correio foi quebrado. Procurando
descaradamente a correspondência de outra pessoa, Nikola levantou a
tampa e pescou a ú nica coisa que havia ali: um pedaço dobrado de
pergaminho grosso. Nele escrito:
Querido Nikki:
Liga para mim. ;)
Seguido por um nú mero de telefone.
Ele passou o papel entre o dedo indicador e o médio, procurando por
algo mais. Era apenas o nú mero de telefone e o emoticon rabiscado.
Veronica, vindo da porta, arrancou-o da mã o dele e resmungou: — Oh,
isso é daquele psicó tico Seguidor de Sangue? Ele tem uma queda por
você? — Ela lançou um olhar penetrante quando ele roubou o papel de
volta. — Você tem uma queda?
Nikola revirou os olhos, nã o confiando em si mesmo para comentar. Ele
certamente achou o vampiro com cicatrizes atraente. Bem, isso foi, ele
nã o conseguia diferenciar facilmente entre sua empatia e suas pró prias
emoçõ es pessoais. Mais uma razão para não concordar com o esquema de
Corvellious. Eu poderia me tornar um passivo.
Veronica, percebendo a dú vida dele, mas interpretando mal, bateu o pé e
exclamou: — Nã o enlouqueça por seu pau!
— Vejo que Francis nã o segue seu conselho,— disse Katsuki, juntando-se
a eles na entrada. Veronica os xingou, escandalizou-se e bateu
repetidamente em seus ombros com a mã o aberta. Nikola riu,
aproveitando a oportunidade para colocar o nú mero no bolso,
perguntando-se como diabos ele poderia usá -lo.
Talvez ele pudesse tentar se encontrar com Mestre Asher, jogar seus
jogos, oferecer bebidas – mas nada sexual. Quando Katsuki lhe lançou um
olhar, ele vislumbrou um sorriso conhecedor. Nikola disse com os dentes
cerrados: — Acredito que irei embora. Você vem junto, Veronica?
— Ugh, eu realmente deveria. Francis sempre fica impaciente quando
fico aqui até tarde demais.
Como se eu pudesse culpá-lo.
Ele se recusou a pegar o telefone no tá xi - ou Uber, aparentemente é
chamado agora? Ele nã o conseguia acompanhar, para que Veronica nã o
adivinhasse que ele estava, de fato, entrando em contato com Asher
Black. Nã o era exatamente algo que ele pudesse explicar para ela, nã o de
uma maneira que ela entendesse. Ele simplesmente nã o estava com
disposiçã o para outra palestra“Você é melhor que isso!” sobre a
companhia que Nikola mantinha.
Uma vez sozinho na segurança do seu pró prio quarto, ele considerou o
nú mero. Ele decidiu mantê-lo simples e direto.

Encontre-me no estacionamento B, Northern Lights Plaza. A

á rea nã o seria fá cil de armar qualquer tipo de emboscada, poucos


lugares para se esconder e ecoar por toda parte, e estava no limite do
Territó rio de Malkolm, o suficiente para dar a ilusã o de privacidade.
Havia um bar pró ximo também, na mesma rua do shopping adjacente,
caso fosse para lá que a noite terminasse.
E uma arena conveniente se em vez disso se tratasse de um confronto
direto. Dado o histó rico até agora, provavelmente sim.
Ele se permitiu ansiar por isso. Só um pouco.
Nikola recebeu uma resposta em segundos.

He. He. Quando?

Nikola ponderou sobre isso. Por alguma razã o distorcida, ele queria
contar a Asher amanhã . Como se ele estivesse muito entusiasmado com a
perspectiva e mal pudesse esperar. Descartando essa ideia ridícula, ele
imaginou que reservar algum tempo seria do seu interesse — tempo
para reportar aos seus superiores, tempo para se preparar para
quaisquer possíveis mudanças nos planos.

Ele enviou: 3 dias. Meia-noite.

Asher: É um encontro. ;)

Nikola olhou para as mensagens bizarras por um minuto inteiro antes de


excluir totalmente a conversa.
CAPÍTULO DEZ

ASHER

A vertigem de Asher com as mensagens de Nikola durou pouco. Malkolm


estava esperando por ele no salã o de baile – e o senhor estava chateado.
Riccardo. Asher iria dar uma surra nele. Ou talvez mande alguns
capangas em sua direçã o e mantenha as mã os limpas.
Ele tinha que lidar primeiro com Malkolm. Ele abaixou a cabeça e
começou a dizer: — E aí, meu senhor...
As costas da mã o de Malkolm bateram no rosto de Asher, estremecendo
sua mandíbula com força suficiente para derrubá -lo de lado. Ele teve
uma breve chance de rolar com segurança e ficar de pé, mas entendeu
que resistir o levaria a uma merda ainda maior e nã o aproveitou. Ficando
onde estava, levou um chute descalço no estô mago.
— Disseram-me que você está perdendo tempo, — disse Malkolm
friamente. — Eu disse para quebrar Nikola, nã o flertar com ele.
Asher ergueu ligeiramente a cabeça. Estupidamente, ele pensou que
poderia brincar para escapar disso.
— Quebre o coraçã o de um homem e ele fará apenas sobre qualquer
coisa. Resposta errada. O punho de Malkolm desceu, quebrando a
cartilagem do nariz de Asher. Ele sentiu o gosto de sangue explodindo
em sua garganta, uma dor branca cegando sua visã o. Este nã o era um
tipo de dor divertido, nã o o tipo que nasce da agitaçã o de uma briga, dos
sinais de que apesar de ser um morto-vivo, ele ainda estava vivo. Isso foi
direto ao ser espancado até a submissã o.
Malkolm puxou Asher pela frente da camisa, lambendo o fio de sangue
que escorria por sua boca. Asher ficou completamente imó vel. As
palavras seguintes de Malkolm foram cortantes e baixas.
— Você é meu. Nikola será meu. Vocês não podem ser um do outro. Você
me entende? Você tem uma missã o e pode manter seu pau fora dela.
Asher respirou fundo estremecendo.
— Sim, meu senhor.
Ele pensou que seria o fim de tudo, mas estava errado. Ele nã o era
punido há muito tempo, estava ficando descuidado. Ele deveria saber
que brincar com Nikola iria despertar a raiva do senhor, mas nã o era
como se ele tivesse muita experiência para basear isso. Nikola foi o
primeiro vampiro por quem Asher se sentiu atraído em muito tempo.
Inferno, talvez ele tenha sido o primeiro homem a chamar sua atençã o
desde que foi Transformado.
O domínio que Malkolm tinha sobre Asher nã o era uma atraçã o. Ele nã o
tinha certeza do que era. Ele nem tinha certeza se odiava.
— Acho que você precisa de um lembrete,— disse Malkolm friamente,
arrastando Asher até uma posiçã o, — de onde você vem.
A cela. Ok, Asher tinha certeza de que odiava a maldita cela.
Havia uma seçã o das catacumbas sobre a qual nem mesmo os Seguidores
de Sangue de Malkolm gostavam de falar. As células da masmorra.
Malkolm compreendeu a guerra psicoló gica que envolvia espaços
rastejantes, terra ú mida e grossas paredes de terra abafando seus gritos.
Malkolm puxou Asher para dentro. Asher tropeçou nos pró prios pés,
caindo de joelhos. Realmente nã o havia sentido em se levantar, nã o
quando ele seria derrubado novamente. Embora houvesse um pequeno
problema com ratos nos níveis superiores das catacumbas, naquela
profundidade nã o havia nada além de um silêncio assustador. Os ú nicos
companheiros de quarto de Asher eram os insetos que ele ouvia
arranhando o solo e via rastejando entre seus dedos enrolados na terra.
Malkolm empurrou Asher para frente com o pé, forçando o vampiro mais
jovem de bruços. Ele pressionou a sola no meio das costas de Asher,
mantendo-o no lugar. Ele nã o disse nada porque nã o era necessá rio.
Asher prendeu a respiraçã o, esperando.
Malkolm se agachou e passou a unha pelo meio da camiseta, ao longo da
coluna. Asher reprimiu um arrepio. Malkolm atacou tã o repentinamente
que só quando ouviu o tecido rasgar é que Asher percebeu o que estava
fazendo.
— É realmente uma pena deixar cicatrizes em um pequeno desenho
criativo, — zombou Malkolm, passando o dedo pelas bordas da tinta
escura. Asher seguiu a sensaçã o, imaginando a Torre de Babel – a
tatuagem agora marcada por marcas de chicote – em sua mente.
Talvez eu devesse ter conseguido Em vez disso, Sodoma e Gomorra, a
história favorita da mamãe e do papai para dormir.
Malkolm colocou a palma da mã o aberta sobre as nuvens de fumaça,
enrolando-se para criar a imagem assustadora de um rosto uivando em
agonia. Se Sodoma e Gomorra fossem reais e foram destruídas pela mã o
de Deus por causa da homossexualidade, entã o esse nã o é um Deus para
o qual Asher gostaria de orar.
Asher sabia — melhor do que ninguém, talvez — que Malkolm, um ex-
soldado cristã o romano, lutava com sua compreensã o de Deus, seu lugar
no universo. Asher fez a tatuagem, especificamente em um lugar que ele
nã o conseguia ver completamente, nã o apenas por causa de seu pró prio
trauma religioso, mas também para atormentar Malkolm sempre que o
via.
Ele ficou ali, esperando que Malkolm atacasse, mas o senhor, em vez
disso, levantou-se. Ele estalou a língua e disse: — Vou deixar você aqui
por três amanheceres. Você pode passar o tempo... lembrando.
Lembrando o tempo que passamos aqui. E você saberá o que acontecerá
se chegar muito perto de Nikola Kingston.
Como você espera que eu o converta sem chegar perto dele, hein? Asher
queria revidar. Mas ele nã o queria uma segunda cicatriz no rosto, um X
na frente e no centro. Ele poderia traduzir o que Malkolm realmente
queria dizer: eu possuo você, em mente e em corpo. Então, não foda mais
ninguém.
— Sim, meu senhor,— Asher disse com dificuldade.
Malkolm partiu. Ele fechou a porta, o metal antigo gritando. Asher tinha
certeza de que poderia simplesmente chutar o dispositivo antigo sem
problemas, mas nã o valeria a pena a fú ria de Malkolm. Para deixar claro
esse ponto, Malkolm trancou-a com um tilintar de chaves. Seus passos
ecoaram pelo corredor até que a terra os engoliu.
Com um suspiro dramá tico, Asher rolou de costas e entrelaçou os dedos
atrá s da cabeça, cruzando o tornozelo sobre o joelho. Três dias. Isso não é
nada. Além disso, ele nã o teria que remarcar as coisas com Nikki.
Apesar da atitude indiferente, os olhos de Asher percorreram o espaço
familiar. Nã o estava completamente escuro lá embaixo, o mínimo sinal
de luz oferecido pelas tochas na escada em espiral no final do corredor,
mas ainda estava quase todo escuro. Asher conseguia distinguir os tons
de cinza e as curvaturas das paredes irregulares de tijolos. Era a mesma
cela que Malkolm manteve Asher durante os primeiros seis meses de sua
Transformaçã o, quase uma década atrá s.
Lembre-se do tempo que passamos aqui. Asher se rebelou contra a ordem.
Nã o era como se Malkolm pudesse ler o interior de seu crâ nio. Ele fechou
os olhos e se concentrou em... pensamentos mais felizes. Como o que ele
faria com Riccardo quando colocasse as mã os nele.
Ou o que ele faria com Nikki quando colocasse as mã os nele.
O sorriso de Asher vacilou na escuridã o. Seus dedos voaram até o rosto,
sentindo a pele levantada. Ele nã o achou que valeria a pena desobedecer
Malkolm tã o descaradamente.
A quietude imó vel da cela penetrou na pele de Asher, fazendo-o tremer
apesar de sua incapacidade de sentir frio. Ele se pegou imaginando se o
sangue que antes encharcava a sujeira debaixo dele ainda estava lá , uma
mancha eterna.
Memó rias vieram correndo.

Dez anos atrás


Malkolm estava sobre Asher, ajoelhado diante dele, as correntes
enroladas em suas pernas dobradas. Seus tornozelos e pulsos estavam
sangrando e com bolhas sob as algemas devido à s crises de
espancamento e gritos. No momento, Asher estava subjugado, exausto e
pouco lú cido. O interior de sua garganta também parecia estar em carne
viva.
A cela escura foi onde Asher acordou uma noite atrá s e teve seus sonhos
com o Deus do Sangue explicados a ele.
— Você sabia que a ú nica coisa que pode assustar um vampiro é a á gua
salgada? — Malkolm perguntou tã o calmamente.
Asher nã o gostou de como isso parecia soar como “Á gua Benta”. Nã o era
como se os vampiros queimassem ao toque do sal, ou mesmo da á gua
salgada, mas quando era aplicado em suas feridas, explicou Malkolm,
interrompia o processo de cura. Asher tentou e nã o conseguiu se lembrar
das aulas de química da escola. Talvez desde que o sal desacelerou os
está gios de decomposiçã o, ele interrompeu o processo de cura do
vampiro, corroendo a pele sensível e de crescimento rá pido ou algo
assim.
— Você deveria ter pensado melhor antes de andar sozinho,— Malkolm
repreendeu Asher, seu tom quase... paternal. — Coisas ruins acontecem
com quem anda pelas ruas de Grander à noite.
Claro, Asher sabia que nã o deveria sair à noite – ele morava em Grander
desde os dez anos; ele conhecia a porra dos rumores.
Foi por isso que ele saiu escondido no meio da noite. Ele planejava ser
morto por um monstro criptídeo ou pelos notó rios — mas nã o
identificados — assassinos de Grander. Suicídio pelas ruas de Grander.
O que ele nã o esperava que acontecesse era... o que realmente aconteceu.
Uma criança vampírica selvagem , tipo uma criança de seis anos sedenta
de sangue. Asher tentou se lembrar se mais alguém estava por perto, mas
tudo ficou confuso quando aquele pirralho estava deitado de costas,
enterrando presas descuidadas em seu pescoço.
Ele realmente nã o conseguia evocar lembranças do ataque. Flashes do
vestido azul de verã o da menina, encharcado de á gua da chuva,
manchado de vermelho. Uma cabeça morena com ondas perfeitamente
cuidadas - mas a pró pria garota tinha cachos vermelhos rebeldes.
Alguém mais estava com ela? Tinha que ter havido. Nã o havia nenhuma
maneira de uma criança raivosa ser capaz de mudar alguém assim
sozinha. Alguém deve ter segurado o pulso aberto na garganta do
cadá ver, alimentando-o com o mesmo sangue que acabara de ser tirado
dele, revitalizado por veias vampíricas.
Naquelas primeiras semanas nas masmorras das catacumbas, Asher
realmente nã o teve a oportunidade de fazer perguntas. Malkolm passou
as semanas da transformaçã o inicial de Asher, os dias recém-nascidos de
sede insaciá vel e ira insaciá vel, preparando-o.
— Deixe a raiva consumir você,— Malkolm ordenou enquanto o
torturava até ficar em forma. — Deixe a dor te batizar.— Quebrando os
dedos das mã os e dos pés, estalando um chicote nas omoplatas,
brincando com fogo, lâ minas e sal ...
Mas sempre que Asher perguntava mais tarde a Malkolm o que
aconteceu com a criaçã o proibida que o mudou, o senhor disse a criança
havia sido “exterminada”, mas nã o mencionou nada sobre outra mulher.
Entã o chegou a noite em que Asher finalmente provou sangue fresco pela
primeira vez.
Malkolm ficou de lado enquanto um Seguidor de Sangue arrastava um
garoto amarrado e amordaçado para dentro da cela. O humano nã o
poderia ter mais de dezoito ou dezenove anos. Asher sentiu uma
infinidade de coisas ao mesmo tempo – o desejo incessante de devorar o
humano, o cheiro da pele perfumada por sangue fresco e o fato de Asher
poder se lembrar vagamente desse garoto da aula de biologia do último
ano do ensino médio.
Asher se agarrou à parede, gritando para Malkolm tirar o humano de lá ,
suas pró prias pontas dos dedos rasgando enquanto ele as torcia no tijolo
e na pedra. As camadas de sua pele estavam morrendo, descamando e
descascando. Seu corpo apodreceu enquanto sua mente permanecia
alerta, o mundo nadando em uma película vermelha.
— Mate-o, Asher Black. Ou eu mato você.
As palavras de Malkolm levaram Asher a agir, mas nã o era exatamente o
que Malkolm tinha em mente. Em vez do humano que lutava, Asher
atacou o Seguidor de Sangue, como se quisesse salvar o humano.
E não numa tentativa primitiva de roubar minha presa, certo?
Foi quase orgá stico. O êxtase de beber sangue, de sentir o corpo voltar à
vida, de saciar o impulso de dominar e devorar. A batida, a batida, a
batida do coraçã o deles desaparecendo enquanto o seu continuava de
onde o deles parou, seguindo a batida dos tambores trovejantes do Deus
do Sangue.
O silêncio resultante deveria ser a melhor parte. Nã o há mais gritos. Nã o
há mais dificuldades. Paz . Plenitude. Cordialidade. Mas a primeira
alimentaçã o de Asher foi interrompida pelos gritos finais do humano
quando Malkolm o atacou violentamente, devorando carne e sangue –
comido vivo enquanto ele sangrava.
Asher desmaiou em uma poça de seu pró prio vô mito escarlate e acordou
acorrentado à parede, uma lâ mina irregular pressionada logo acima de
sua sobrancelha.
— Você matou um Seguidor de Sangue sênior tã o rapidamente, tã o
facilmente, ao mesmo tempo mostrando autocontrole ao resistir ao
humano,— Malkolm murmurou, parecendo entediado. — Você será um
soldado encantador, jovem Asher. No entanto, — ele empurrou a faca
com mais força,— você matou um dos meus homens favoritos... e
desobedeceu a uma ordem direta.
— Por que eu? — Asher resmungou depois que Malkolm terminou de
transformá -lo em um bloco ambulante. Todo o seu rosto queimou e ele
teve sorte de ainda ter os dois olhos. Havia cortes mais profundos em seu
peito.
O sorriso de Malkolm foi suave e chocante. Ele inclinou o rosto de Asher
para cima, examinando o sangue seco endurecido em um de seus olhos.
Molhando o polegar com a língua, Malkolm limpou o sangue, tomando
cuidado para evitar o ferimento que acabara de abrir. A açã o foi... terna.
— Você é o primeiro Seguidor de Sangue a ser criado a partir de uma
criaçã o maldita como a de uma criança vampírica. Espero coisas notá veis
de você, jovem.
O novo apelido foi pronunciado como um suspiro de amante. Asher
congelou ao ouvir o som, nã o confiando nele, precisando dele.
— Você nã o acha que já passou tempo suficiente neste buraco? —
Malcolm perguntou.
Asher segurou a língua, temendo que fosse uma pergunta capciosa.
Malkolm agarrou seu queixo, os dedos firmes, mas nã o tã o á speros
quanto Asher estava acostumado. Sua risada era baixa, rolante – um som
estranho porque ele nunca riu, nem mesmo uma vez por maldade
enquanto torturava Asher ao longo das semanas.
— Nã o há problema em dizer sim.
— Sim,— Asher cedeu. Movendo os lá bios para falar irritado onde a
barra diagonal cruzou. Os dedos de Malkolm se apertaram, agora uma
ameaça. — Sim, meu senhor,— Asher tentou novamente.
— Ah bom. A lua está cheia esta noite. Talvez eu deixe você sair quando
for novo e o mundo ficar mais sombrio.— De alguma forma, a
provocaçã o da liberdade agonizou Asher mais do que os cortes frescos.
Malkolm se afastou e saiu da cela, ignorando os gritos enfurecidos e
incoerentes de Asher. Com os tornozelos e pulsos algemados, correntes
penduradas na parede, Malkolm nã o se preocupou em trancar a cela.
Asher sentiu dentro dele algo ganhando vida naquela noite. Apesar de
todo o sangue que perdeu sob a faca de Malkolm, ele ainda sentia muita
coisa correndo em suas veias. O poder zumbia sob sua carne e ele podia
ouvir a risada do Deus do Sangue.
Ele enrolou os primeiros centímetros das correntes que se conectavam
aos anéis de ferro em volta de seus pulsos. Ele correu para frente,
sentindo seus mú sculos cantarem, e soltou um grito de guerra ao
antecipar o trauma contundente de arrancar correntes de metal de uma
parede de tijolos.
Ele registrou a dor, mas ela foi abafada pela alegria bêbada do sucesso.
Ele conseguiu separar o metal das algemas o suficiente para se livrar do
peso e as deixou cair no chã o.
Asher considerou simplesmente ir embora, mas nã o tinha ideia do que o
esperava. Ele era do Chifrudo agora, com as mã os manchadas de sangue
– literal e figurativamente. Isso fez de Malkolm seu senhor. E se o cara
quisesse dançar, Asher daria uma maldita dança para ele.
Ele sentou de pernas cruzadas onde as correntes estavam espalhadas e
riu enquanto imaginava o rosto de Malkolm quando encontrasse Asher.

Dias de hoje
Asher, perdido em suas memó rias, virou a cabeça em direçã o à s mesmas
correntes empilhadas no canto, esquecido.
Não me arrependo da minha decisão de não ter matado o humano que ele
estava me oferecendo. Mas valeria a pena desobedecê-lo quando se
tratasse de Nikola Kingston?
O sono pesava sobre seus olhos. Deve ser o nascer do sol. Faltam mais
dois.
CAPÍTULO ONZE

NIKOLA

Os sonhos de Nikola eram atormentados por lembranças tã o doces que


chegavam a ser dolorosas. Como açú car refinado corroendo o esmalte do
dente humano, deixando para trá s uma cavidade aberta e raízes
expostas.
Nikola nã o gostou de desenterrar suas raízes. Mas parecia que as
promessas de mudança traziam consigo sussurros do passado. Ele nã o
poderia fugir de sua histó ria, nã o importava a distâ ncia, nã o importava
os anos passados.
Os raios da lua entre as á rvores floridas cantavam para ele.

Inglaterra dos anos 1300


Quando seus olhos se abriram, o teto de pau a pique da cabana de Nikola
desapareceu. Uma mulher com pele negra fosca e tatuagens prateadas
em espiral estava diante de Nikola, suas íris eram discos de luz prateada.
Cabelos brancos flutuavam sobre seus ombros, como se estivessem
submersos na á gua. A Deusa da Lua. Assim como um recém-nascido bebê
sabia desde o ventre amamentar sem precisar ser ensinado, ele a
reconheceu sem nunca tê-la conhecido. Ela nã o usava roupas, mas Nikola
nã o sentiu nem excitaçã o nem vergonha diante de sua nudez.
Tã o cativado pela beleza etérea da mulher que nã o percebeu
imediatamente o reino em que se encontravam. Por quilô metros
imensurá veis ao redor deles, espalhavam-se planícies salgadas escuras,
refletindo os céus acima. Constelaçõ es e explosõ es estelares brilhavam
em abundâ ncia impossível, retratando um universo lotado. Nikola ainda
nã o conhecia o termo para eles, mas as agitadas faixas do arco-íris da
aurora boreal pareciam portõ es para o Paraíso. Nikola, que nunca tinha
visto muito além das terras inglesas das propriedades de seu senhor, nã o
conseguia encontrar palavras para falar.
Nikola estava completamente nu, mas mal reconheceu o fato. Nã o houve
calafrio, nem sensaçã o de constrangimento. Ele realmente nã o conseguia
sentir nada, exceto o beijo do luar cantante.
Nikola presumiu que ele havia morrido e estava encontrando um
discípulo de Deus. Mas ele nã o estava no céu.
A mulher falou. Nikola podia ver as pontas finas de seus caninos e
percebeu os seus pró prios. Estava tã o desapegado de seu pró prio corpo
que mal percebeu a mudança. “Nikola Kingston”, disse ela, com a voz
como um coro de anjos noturnos. Os joelhos de Nikola tremeram com a
vontade de se curvar diante dela. A á gua ondulou em torno de seus
tornozelos. “Você viverá para o amor e para a vida?”
Nikola nã o precisou falar em voz alta para ela ver a total devoçã o em seu
rosto impressionado. Para você, minha Deusa, qualquer coisa. Ela sorriu
e, naquele momento, Nikola, que sempre aderiu à s leis da igreja,
finalmente conheceu a religiã o.
Ela acariciou seu rosto com um toque delicado. Os olhos de Nikola
rolaram para trá s, sua visã o piscando. Não, eu não quero ir embora!
“Viva pelo meu amor, meu filho, e viva por quem te dá a vida.”
Nikola acordou, o sonho ressoando por todo o seu nú cleo. Foi por causa
da febre? A Deusa da Lua. Ele teria ficado ali por horas relembrando as
imagens que sua mente adormecida conjurou se nã o fosse pelo fato de
estar em um lugar completamente desconhecido.
A estrutura feita pelo homem ao seu redor era modesta e em forma de
cú pula, mobiliada com um tapete de lã , um guarda-roupa e o colchã o de
palha sobre o qual ele se deitava.
Sua mente parecia feita de lama tã o espessa quanto lama de inverno.
Onde estou? Para onde foram as feridas sangrentas que dominavam meu
corpo atormentado? Na verdade, ele se sentiu melhor, nã o mais delirando
com febre e mal-estar, mas tudo estava errado. Alto demais, as cores
estranhas na escuridã o, como se iluminadas por uma luz eterna. Até o ar
estava impregnado do cheiro forte de pinheiro e chuva.
Para onde minha mãe foi? Ela cuidava de Nikola assim como cuidava de
seus irmã os e de seu pai antes de caírem, como se a doença a estivesse
evitando.
— Você está acordado,— uma voz de homem interrompeu a confusã o de
Nikola, sentado ao lado da cama. Ele era um homem bonito, com ombros
fortes, um queixo pronunciado coberto por uma camada de barba loira e
uma trança de fios sedosos. O mais impressionante eram os olhos
prateados e brilhantes, nada que Nikola já tivesse encontrado. Como
escamas de peixe refletindo a luz do sol deslizando sob á gua corrente.
Em suas mã os robustas havia uma taça decorada com strass verdes.
Estou na presença de um príncipe?
— Aqui, isso vai ajudar.
Ele ofereceu a Nikola. O líquido dentro era vermelho escuro e tinha um
cheiro estranhamente agridoce, lembrando a Nikola cobre e cerveja.
Seria tão rude recusar. Quando ele tomou um gole, a energia dançou em
sua pele e ele pensou que estava bebendo o melhor hidromel do mundo.
— Onde estou? — ele finalmente perguntou.
O homem real sorriu.
— Na minha cabana na á rvore. Eu trouxe você aqui quando a doença o
acometeu durante a noite. — Ele esperou enquanto o choque se
espalhava pelas feiçõ es de Nikola. — Parecia injusto permitir que um
jovem morresse de algo que nã o pode afetar o meu povo.
— Eu nã o entendi. Você salvou minha vida?
— Ah, por assim dizer. Diga-me, o que você lembra dos seus sonhos?
Uma deusa feita de luar?
Nikola continuou bebendo da taça, apesar de nã o ter ideia do seu
conteú do.
— Sim! Como você sabia?
— Pois temos visõ es semelhantes quando passamos pela Mudança.— Ele
gesticulou ao redor. — Vivemos nas á rvores, meu povo e eu, longe da
maior parte da civilizaçã o. Nó s nã o somos humanos e você também nã o.
Caminhantes noturnos, você poderia nos chamar de trapaceiros da
morte. Sinto que você nã o acredita em mim. Isso é esperado. Eu também
nã o acreditei no começo.
— Embora você tenha minha gratidã o por curar minha doença, devo
dizer que você parece um tanto louco.— Ele olhou para a taça, agora
quase vazia. — Nã o quero ser rude de propó sito, mas você fala de
monstros e da noite, mas me sinto tã o humano quanto antes da doença
me atingir.
— Você? — perguntou o homem, claramente divertido com a conversa.
Diga, ele está brincando comigo? — Diga-me, como é a sensaçã o de
“humano”?
— Eu… — Isso era um jogo de filó sofo? Nikola permitiu que o
aborrecimento transparecesse, entregando ao homem o copo gasto. —
Minha mã e deve estar preocupada comigo. Eu sou a ú nica família dela.
Devo voltar para ela.
A felicidade calorosa se instalou no rosto do homem.
— Ah, jovem. Existem muitos preços para a imortalidade. Receio que
você nã o possa voltar à vida dos vivos. Ela tem uma irmã e um cunhado
na terra, nã o é? Ela estará em boas mã os.
— Como você sabe essas coisas? — Nikola retrucou, com acusaçã o em
seu tom.
— Devo admitir que observei você de longe assim que a doença chegou
ao seu nú cleo familiar, desejando mudá -lo na hora certa, da maneira
correta. Ou seja, aclimatar você ao nosso mundo e deixar a decisã o para
você. Mas entã o você mesmo adoeceu. Você preferiria que eu deixasse
você morrer como um humano?
A pergunta nã o parecia combativa ou retó rica, entã o Nikola a
considerou.
— Eu, bem, suponho que nã o. Mas como você me curou se devo acreditar
em suas palavras? E que loucura é essa de nã o ser humano?
O homem foi até a janela e puxou as cortinas de lã . Ele gesticulou para
Nikola se juntar a ele. Nã o tendo saído da cama há dias, ele se levantou
esperando que seus mú sculos esgotados resistissem. Mas ao se
aproximar do homem, ele se viu cheio de energia.
Uma aldeia nas copas das árvores! Nos troncos foram construídas
pequenas cabanas, interligadas por pontes de corda. Vá rias pessoas se
reuniram nas tá buas e varandas, conversando, rindo, cantando, bebendo
em canecas. Embora fosse madrugada e a lua fosse apenas uma fresta no
céu, Nikola podia ver muito bem, o mundo banhado em roxos, azuis e
cinzas. Nã o havia crianças ou idosos por perto, apenas jovens adultos, e
todos compartilhavam uma semelhança impressionante: olhos prateados
e brilhantes.
— Siga-me, — disse o homem. Ele passou pela porta de sua cabana.
Nikola rapidamente deixou de lado a caneca vazia e correu atrá s do
estranho. Ele parou em uma ponte suspensa de corda, espiando pela
borda. A altura em que estavam era suficiente para deixar Nikola
ansioso. O menor lapso na construçã o certamente faria com que todos
mergulhassem para a morte.
— Qual é mesmo o seu nome? — Nikola perguntou.
— Corvellious, — ele respondeu, certamente um nome que Nikola nunca
tinha ouvido antes. Nikola começou a perceber o estranho tom de seu
sotaque, embora o disfarçasse com um sotaque inglês artificial. Talvez
ele fosse de terras estrangeiras? — E eu sei que você é Nikola. Posso ver
que você nã o acreditará apenas em palavras. Entã o, permita-me
demonstrar.
O louco saltou da lateral da ponte. Ele balançou descontroladamente
apó s o pontapé inicial, e Nikola agarrou as cordas e gritou. Outras
pessoas na aldeia das á rvores olharam em sua direçã o e riram. Riram!
Nikola procurou freneticamente o chã o da floresta enquanto a ponte
começava a se estabilizar, procurando pelos restos quebrados de
Corvellious.
— Ele pulou! — Nikola gritou, a histeria tomando conta dele. — Aquele
homem, aquele homem suicida, ele pulou para a morte!
Mas onde ele estava? Nikola ouviu o impacto do impacto, mas nã o havia
ninguém espalhado no chã o da floresta.
— Está tudo bem, novato! — uma mulher com uma tú nica branca
chamou. — Corvellious é simplesmente dramá tico! — E sua amiga
continuou a rir e rir. Se Nikola nã o estivesse perdendo a cabeça em
pâ nico, ele poderia ter ficado envergonhado.
— Aí, Nikola, você vê? A morte nã o pode nos tocar facilmente!
O homem estava parado na porta com os braços abertos. Nikola
exclamou, perdendo o equilíbrio enquanto cambaleava para trá s. Seu
peso o derrubou e o mundo virou e girou.
— Uau, agora! — Corvellious apareceu de repente, segurando seus
ombros. Ele estava a léguas de distâ ncia de Nikola, entã o como...? Como!
Corvellious gargalhou enquanto ajudava Nikola a recuperar o equilíbrio.
— Nã o se preocupe, você terá sua chance.
— Que truques você faz? — Nikola rosnou, as palavras muito mais
á speras do que pretendia, mas sua confusã o estava alimentando a
frustraçã o.
Corvellious suspirou, baixando a cabeça.
— Tudo bem, um teimoso, — ele murmurou. Entã o ele deu a Nikola um
sorriso exibindo caninos anormalmente afiados. Os pensamentos
frenéticos de Nikola remontavam à Deusa da Lua. A ponta da língua
explorou as bordas dos dentes afiados. — Aguente firme.
Com uma força inacreditá vel, manipulando Nikola como se ele fosse uma
criança pequena e nã o um homem totalmente realizado, ele o pegou e
deu mais um salto. Perdendo todo o senso de dignidade, Nikola agarrou-
se ao pescoço dele, gritando, esperando que a Terra os engolisse inteiros.
Seus pulmõ es saltaram para o peito, o vento enchendo seus ouvidos.
Entã o tudo parou de repente, quase lhe causando uma chicotada. As
pessoas festejando pareciam mais distantes, mais altas. Um casal até
gritou para eles. Corvellious riu perto do ouvido de Nikola e disse: —
Você vê? Estamos bem.
Nikola conseguiu relaxar os braços e compreender a verdade. Eles
estavam no chã o, Corvellious caiu de pé. Corujas piavam nas
proximidades, sem serem perturbadas pelo flagrante lapso em todas as
coisas naturais.
— O que você está ? — Nikola gritou, saindo de seus braços para ficar de
pé. Corvellious manteve seu comportamento aberto e convidativo,
sinalizando para Nikola que ele nã o era uma ameaça. Ele nã o tinha
certeza se acreditava na linguagem corporal.
— O mesmo que você, — ele respondeu. — Diga-me, jovem. Quantos
anos você acha que eu tenho?
— Eu o quê? Você nã o parece nem um dia mais velho que eu. O que isso
tem a ver com alguma coisa?
— Minha casa existia no sudeste da Inglaterra décadas antes da invasã o
romana, muito antes de a terra ser conhecida como Grã -Bretanha – há
mais de mil anos, embora o tempo esteja se tornando difícil de rastrear
com precisã o. Eu sou um verdadeiro nativo desta terra antiga. — Ele
permitiu a Nikola um momento para processar a informaçã o impossível.
— Assim como fiz com você, meu criador me notou de longe e decidiu me
convidar para o mundo dos imortais noturnos.
— Loucura, — Nikola respirou.
Os uivos dos lobos ecoavam de forma alarmante. Corvellious arqueou
uma sobrancelha e inclinou a cabeça na direçã o geral.
— Você deseja continuar esta conversa no territó rio de feras famintas?
Eu poderia combatê-los, mas nã o quero aborrecê-la.
Nikola engoliu em seco, nã o tendo muitas opçõ es. O que ele poderia
fazer? Fugir noite adentro, uma refeiçã o grá tis para lobos e ursos? Ele
olhou em volta em busca de algum tipo de escada, mas nã o encontrou
nada.
Corvellious caminhou até a á rvore à qual sua casa estava presa e agarrou
o galho mais pró ximo. — Venha, — ele ordenou, com tanta diplomacia
que Nikola se sentiu inclinado a obedecer. Ele esperava que ele subisse?
— Nã o se preocupe, vou devagar pela primeira vez.
Como se tivesse sido feito para as á rvores, Corvellious escalava de galho
em galho com a facilidade de serpentear pelos prados. Ele estava alguns
espaços acima de Nikola antes de gritar: — Você vai continuar me
olhando boquiaberto ou subir aqui? O amanhecer está cada vez mais
pró ximo!
Ele pode ter me salvado da doença, mas certamente morrerei esta noite.
Mas quando Nikola começou a subir, ele experimentou uma sensaçã o de
leveza. Sua respiraçã o ficou presa, seguida por uma risada. Ele chutou
cada galho de á rvore para o pró ximo, praticamente subindo pela lateral
do tronco. Nenhum membro estava muito fora de alcance, mesmo que
ele tivesse que pular para se segurar e se levantar. Seus mú sculos nunca
se tensionavam e seu coraçã o nunca disparava. Verdadeiramente tã o
fá cil quanto um passeio por um campo aberto.
Corvellious, inclinando-se para fora da janela, ofereceu a mã o a Nikola,
içando-o para dentro de sua cabana. Ele ficou no quarto em que acordou,
perguntando-se se tudo nã o passava de um sonho febril.
— O que você fez comigo? — O tom de Nikola mudou de desconfiança
para euforia.
— Eu trouxe você de volta dos mortos.
— Como?
— O processo é bastante simples, na verdade. Eu drenei seu sangue,
deixei que ele filtrasse por todo o meu corpo e o devolvi de volta para
você.— Suas estranhas palavras confundiram Nikola tanto quanto o
horrorizaram.
— D-drenado?— Mas nã o havia nenhum ferimento em seu corpo, pelo
menos até onde ele sabia. — O que você diz?
— Ah, Nikola. O que você acha que havia naquele copo?
Ele congelou.
— Existem duas maldiçõ es para a nossa imortalidade,— explicou
Corvellious gravemente. — Nunca mais poderemos aproveitar a luz do
sol. Devemos existir apenas à noite. E para existir, devemos consumir
sangue humano.
Se Nikola pudesse pular e escalar com tanta proficiência, talvez ele
também pudesse fugir dos monstros. Ele já havia provado sangue antes,
principalmente de feridas na boca, e a delicadeza da taça certamente nã o
era sangue. Essas pessoas estranhas eram pagã os assassinos? Serei eu a
próxima vítima?
Corvellious observou o modo como Nikola examinou a janela aberta, a
motivaçã o da fuga evidente em cada centímetro dele.
— Por favor, entenda que nã o fazemos mal! Nó s nã o matamos! Somos
curadores, amantes. Somos filhos da lua, nã o escravos do sangue.
E a partir daí, Corvellious explicou pacientemente seu mundo, como
existiam seus irmã os monstruosos que realmente se alimentavam para
matar, mas que Corvellious e seu povo estavam acima de tal ilegalidade.
Foi ele quem introduziu o conceito do Deus do Sangue, e Nikola reagiu
com medo. Devido à sua formaçã o monoteísta, ele naturalmente
comparou o adversá rio da Deusa da Lua a Sataná s. Embora Corvellious
continuasse a argumentar que os dois seres traziam equilíbrio um ao
outro, assim como os imortais uniam a vida e a morte, Nikola nã o
conseguia se livrar da impressã o. Ele nunca seria capaz.
Sua espécie, afirmou Corvellious, poderia beber de uma pessoa viva sem
matá -la, curando-a enquanto dormia com as memó rias.
— Eu nã o quero beber sangue de jeito nenhum! — Nikola exclamou.
— Bem, suponho que você nã o precisará fazer isso se nã o quiser.— Pela
maneira como ele disse isso, parecia que ele estava entretendo as
fantasias selvagens de uma criança. Nikola sentiu uma estranha vontade
de rosnar sua raiva para ele, mas a enterrou. — Você gostaria de passar a
noite pelo menos? Você nã o pode correr o risco de sair de madrugada, e
nossos telhados e paredes sã o reforçados com mú ltiplas camadas e
inspeçõ es noturnas. Teremos uma celebraçã o maravilhosa amanhã à
noite para o equinó cio de outono, e se isso nã o conquistar você, suponho
que nada o fará !
Nã o desejando desafiar as palavras ainda mais estranhas do estranho,
Nikola concordou com seu convite.
O equinó cio de outono, o ponto médio entre a luz do verã o e a escuridã o
do inverno. Uma época de colheita, embora a família de Nikola nã o
tivesse nenhuma colheita digna de nota, pois eles haviam caído, um por
um, devido à doença. E essas pessoas nã o tinham recompensas, exceto a
cevada e o trigo que cultivavam para obter cerveja e hidromel.
Mesmo assim, eles celebraram a noite seguinte, dançando e cantando ao
redor da fogueira crepitante. Estava mais fora da tradiçã o do que
qualquer coisa, herdado por Corvellious. Esta pequena vila arborizada
com cerca de uma dú zia de vampiros adorava homenagear seus feriados,
pelo menos para festejar.
Corvellious nã o estava em lugar nenhum, embora tenha deixado Nikola
com outra taça de líquido morno. A insinuaçã o de que se tratava de fato
de sangue sugado deveria tê-lo enojado, mas sua sede era grande demais
para resistir. Parecia ter uma secura que só o deixava com mais sede,
mas ele nã o queria pedir mais como um bêbado. Nã o tinha cheiro nem
gosto de sangue como Nikola se lembrava, entã o foi fá cil dizer a si
mesmo que era tudo menos isso.
De acordo com Corvellious, Nikola ficou fora por vinte e quatro horas
durante sua... transformaçã o. Ele nã o podia se lembrar da ú ltima vez que
comeu, mas nã o sentiu fome. Apenas sede persistente.
O ar estava fresco, o vento levantava brasas no céu como duendes
brilhantes, mas o frio da noite nã o o alcançava. Nã o no sentido de
desconforto, pelo menos. Ele podia detectar a intensidade do vento, a
maneira como ele deslizava por sua pele, mas nã o estremeceu. Talvez ele
estivesse muito distraído com sua sede inflamada.
Foi entã o que ele percebeu o que mais lhe faltava: um batimento
cardíaco. Ele pressionou os dedos na garganta e nos pulsos, procurando
algum sinal de vida, mas ele nã o existia. Ele deveria ter ficado
perturbado, mas lá estava ele. Na verdade, se nã o se controlasse, até se
esqueceria de respirar e, quando isso nã o trouxesse alívio, ele parou
completamente de se preocupar com a açã o.
É isso que significa ser morto-vivo?
— Um novo rosto? — Um jovem inglês com um rabo de cavalo fino e
ruivo se aproximou de Nikola. — Suponho que deveria estar grato por
nã o ser mais o mais jovem por aqui. Eu sou John, do norte. Aconteceu há
uma lua atrá s.
Nikola ficou aliviado ao ouvir um modo de falar familiar ao seu.
—Nikola,— disse ele. Depois disso, ele ficou sem conversa. O que mais os
dois tinham em comum além da idade e da nacionalidade?
— Eles me disseram que você era um fazendeiro que adoeceu, — John
preencheu o silêncio constrangedor. — O mesmo pode ser dito de mim
mesmo. Alguns desses idosos aqui se sentem mal por nó s, crianças, que
morremos muito jovens.
— Como me disseram.
John gesticulou ao redor da fogueira cercada pelos imortais brincando e
cantando.
— Você se acostuma com isso, com essa urgência de comemorar. Para as
pessoas que nã o podem morrer de velhice, elas certamente vivem todos
os dias desfrutando plenamente dos prazeres da vida.
Havia grupos de casais se abraçando, sem se intimidar com suas
demonstraçõ es pú blicas de afeto. Eles eram igualmente despreocupado
com a afeiçã o pelo mesmo sexo, e isso despertou dentro de Nikola algo
parecido com um horror fascinado. Mas Nikola nã o ousou falar contra
isso, pois se sentia um invasor.
Será que realmente importava quem transava com quem quando, para
começar, nã o havia reproduçã o natural? O conceito de casamento existia
para essas pessoas?
— Você é um homem de Deus, Nikola? — John perguntou, como se
Nikola tivesse falado seus pensamentos em voz alta. Nikola já havia
notado que era como se todos ao seu redor pudessem ler sua mente, e
quando ele comentou sobre isso com Corvellious mais cedo naquela
noite, o líder do coven riu e disse: — Ah, espere algumas semanas, e você
você mesmo começará a ver o mundo através de uma nova lente.
— Como qualquer outro homem humilde,— Nikola respondeu a John
automaticamente. O rosto da Deusa da Lua preencheu seus pensamentos
e John observou sua expressã o vacilar.
— Eu a conheço agora tã o fortemente quanto O conheci em minha vida—
John falou, olhando para o fogo crepitante. Alguns mortos-vivos estavam
jogando gravetos no coraçã o, estimulando brasas e vivas. — Somos
criaturas do purgató rio ou, porque nã o somos mais homens, somos
criaturas de um deus diferente? Muitas vezes me pergunto o que
acontecerá com nossos corpos quando o Filho retornar, e onde a Dama
da Lua estará aos olhos do Senhor.
Perguntas intrigantes, bastante esmagadoras para alguém que já está se
adaptando a um novo corpo e a uma sede agonizante. Ele estava prestes
a engolir seu orgulho e implorar por outra taça de hidromel quando
Corvellious saiu das sombras. Ele usava um manto prateado brilhante e
uma coroa de galhos de ferro sustentando opalas e pedras da lua.
Nikola ficou impressionado com a beleza do homem, o amor pela Deusa
era uma auréola que o envolvia. Corvellious abriu os braços, sorrindo, e
os outros imortais se acomodaram.
O cheiro que emanava dele lembrou Nikola do conteú do da taça – só que
muito mais potente.
A xícara caiu das mã os de Nikola.
Corvellious começou a falar, mas Nikola nã o ouviu as palavras. Seu corpo
se moveu por vontade pró pria, atravessando a clareira e surpreendendo
os demais membros do clã . Sua língua encontrou as bordas afiadas de
seus caninos, pontos que doíam ao sentir pressã o e umidade.
Nikola ouviu uma exclamaçã o enquanto atacava o sacerdote do clã ,
arranhando suas vestes e atingindo seu pescoço. Ele nã o sabia o que
estava fazendo, apenas que parecia certo. Suas presas penetraram na
carne macia de Corvellious, sangue quente explodindo em sua boca. Os
gemidos se transformaram em rosnados enquanto ele bebia, sua sede
finalmente cedendo. O conteú do das canecas estava, na melhor das
hipó teses, morno. O calor derretido do sangue diretamente da fonte era
incompará vel.
Em vez de revidar, Corvellious abraçou a forma de Nikola, rindo com
carinho e ordenando aos outros que ficassem para trá s.
Muito em breve, nã o havia mais nada para beber. Mesmo assim, Nikola
nã o se sentia inchado ou saciado. Na verdade, sua sede persistiu, embora
em um nível mais tolerá vel, permitindo-lhe pensar mais como um
homem e nã o como a fera que o consumiu temporariamente.
O tempo o alcançou. Ele sentou ao lado do pai, sentindo o sangue esfriar
em seu queixo. Corvellious estava com mais frio agora, mas ainda sorria,
praticamente ileso, exceto pelos dentes machucados em sua garganta. Ele
limpou um pouco do sangue dos lá bios de Nikola, repreendendo de
brincadeira: — Oh, meu Deus. Vou precisar te ensinar etiqueta.
O silêncio da reuniã o enunciava o horror crescente de Nikola. Seu
coraçã o começou a bater forte quando a luta ou fuga começou, a sú bita
onda de sinais de vida foi estonteante. O sorriso de Corvellious
desapareceu quando ele viu Nikola se levantar e recuar, um pedido de
desculpas inú til preso em sua garganta.
O que aconteceria se eu fizesse isso com um humano?
Corvellious levantou-se, despreocupado com a sujeira e o sangue que
arruinavam suas lindas vestes. Nikola começou a correr, mas Corvellious
foi mais rá pido, pegando-o pela cintura.
— Ah, Nikola! Está tudo bem. — Ele apontou ao redor da fogueira, o
crepitar das chamas e a agitaçã o das criaturas da floresta eram os ú nicos
sons. Ele nã o suportava olhar ninguém nos olhos, muito menos John.
— Esqueci de alimentá -lo adequadamente; Eu estava tã o envolvido nesta
noite. Perdoe-me, jovem.
— Eu... o que aconteceu?
O sorriso de Corvellious exibiu suas presas brancas e alcançou seus olhos
brilhantes. Nikola esqueceu todos os seus problemas por alguns
segundos.
— O que todos os calouros precisam fazer, jovem. Nã o fique
envergonhado. Você nã o se sente melhor?
Finalmente, olhando para o pú blico, Nikola encontrou, na pior das
hipó teses, diversã o e, na melhor das hipó teses, simpatia e compreensã o.
John observou-o com curiosidade, mas apesar de ser um homem da
mesma sociedade, nã o parecia nem um pouco perturbado. Nikola
assentiu lentamente.
— Excelente! Perdoem-me, irmã os e irmã s, — anunciou Corvellious,
passando um braço em volta dos ombros de Nikola. O impulso de se
apoiar em sua constituiçã o robusta pegou Nikola desprevenido. — Nã o
negligencie suas responsabilidades como criador pelo bem de seus filhos.
Vá até nossa cabana, querido Nikola, e limpe-se, e quando você voltar,
dançaremos e cantaremos a noite toda!
O clã saltou de alegria, girando uns com os outros, completamente
imperturbá veis pela exibiçã o horrível de Nikola. Suas vozes o seguiram,
algumas das quais ele ainda nã o havia conhecido formalmente gritando:
— Volto logo, Nick! — Ao subir na á rvore, notando seu vigor cada vez
maior, ele experimentou uma sensaçã o de calor e amor. De pertencer.
Lar.
Isso trouxe de volta os sonhos que ele teve com a Deusa da Lua, e ele
ficou animado para se alegrar com essas estranhas criaturas.
Mas todas as coisas boas devem chegar a um fim.

Dias de hoje
Nikola acordou assustado, com um suspiro nos lá bios e um arranhã o na
porta. Ele ficou lá por alguns segundos, o braço jogado sobre os olhos
enquanto recuperava o fô lego. Ele desprezava um aspecto da mente do
vampiro da Lua, e essa era a natureza do sonho – era um rolo das
memó rias mais nítidas. Nikola favorecia a natureza absurda dos sonhos
humanos.
Ele se perguntou o que os Seguidores de Sangue sonhavam e bufou com a
ideia de perguntar a Corvellious. Ele decidiu que seria melhor nã o saber
o que se passava na mente de seu criador.
Nikola pegou o celular na mesa com abajur, acendendo a luz para afastar
a escuridã o total de seu quarto minimalista. Tudo o que realmente
definia o espaço eram cadernos amarelados e tomos empoeirados – um
tema comum de muitos vampiros idosos em geral.
Antes que ele pudesse acordar completamente e parar, Nikola observou
seus polegares digitarem uma mensagem para enviar a Asher:

Com o que sonham os Seguidores de Sangue?


Assim que ele enviou, ele se repreendeu. Por que diabos ele fez isso?
Mandando mensagens de texto para o inimigo como se fossem velhos
amigos. Nikola tentou cancelar o envio, mas ao clicar em Delete, recebeu
um aviso avisando que o receptor ainda teria acesso à conversa.
Ele supô s que nã o estava muito longe dos tempos antigos, quando a carta
nã o estava mais sob seu controle, uma vez que estava na mochila do
transportador. Ele revirou os olhos para si mesmo e saiu da cama.
No chã o, perto da fresta sob a porta, havia um envelope. Franzindo a
testa, ele pegou. O papel era laranja brilhante e, no lugar do carimbo de
cera, havia um adesivo brilhante. pressionado sobre o selo. Do outro lado
da aba NIKOLA :) estava escrito em fonte bolha. Veronica.
Ele o abriu e leu o convite informal para ir ao apartamento de Katsuki,
acima do estú dio, para uma festa à fantasia de Halloween. Daqui a cerca
de duas semanas. Katsuki e Veronica discutiam todos os anos sobre
quem seria o anfitriã o do Halloween. Até Francis iria à casa de Katsuki,
mas apenas porque ele poderia usar seu disfarce como fantasia.
Claro, esta seria a primeira vez que Nikola poderia comparecer à
apresentaçã o de Katsuki. Ele estava apenas um pouco nervoso com a
ideia de uma congregaçã o lunar bêbada em um territó rio notoriamente
hostil, mas ainda nã o tinha ouvido uma histó ria de terror até agora. Sua
presença mudaria isso?
Nikola circulou Talvez com pena e tinta em sua mesa e empurrou-o de
volta para baixo da porta. Ele ouviu a risada exultante de Veronica e o
movimento do papel quando ela o pegou.
Se fosse um ano normal, Nikola antecipava a noite livre de assuntos de
Sangue. Os vampiros de Malkolm supostamente tinham baixa atividade
nas noites de doces ou travessuras, como se a ninhada tivesse pavor de
crianças. Morrigan desaprovava caçar menores devido à atençã o
indesejada que isso traria do resto do país, mas Nikola teve dificuldade
em entender Malkolm para impor aquela aparência de misericó rdia.
Independentemente disso, relativamente falando, Grander era um lugar
ironicamente seguro na noite de Halloween.
Nikola olhou para seu telefone, procurando, mas nã o encontrando uma
resposta de Asher. Por que isso importava? Foi uma mensagem estú pida
de se enviar. Balançando a cabeça, ele colocou a tela do dispositivo em
sua cama e foi até o chuveiro, forçando o jovem vampiro a sair de sua
mente.
CAPÍTULO DOZE

ASHER

Em algum momento da noite seguinte, o corpo de Asher acordou de


repente, mas demorou alguns segundos a mais para que seus olhos se
ajustassem ao seu ritmo circadiano confuso. Essa era uma das piores
partes de estar preso no subsolo – o preço que isso causava no ciclo de
sono de um vampiro. Ele nã o tinha nenhuma indicaçã o real se o sol já
havia se posto ou nã o. Os imortais foram feitos para dançar sob a luz das
estrelas, e nã o rastejar como um bando de malditas toupeiras.
O cheiro de ferrugem e terra e as dimensõ es das sombras puxaram Asher
de volta, confundindo o mundo desperto e seu subconsciente.
“Lembre-se”, sussurrou a voz de Malkolm.

Dez anos atrás


— Você merece coisa melhor do que isso,— a voz do senhor ecoou nas
paredes da catacumba. Asher tropeçou ao lado de Malkolm, nã o
confiando o braço em volta dos ombros. Quando Malkolm encontrou
Asher solto, mas sentado obedientemente no meio da cela, ele riu e
ofereceu a mã o, a pele quente das mamadas recentes.
Asher passou dias se preparando mentalmente para mais puniçõ es pelas
correntes quebradas, mas em vez disso recebeu um indício de bondade, e
isso foi chocante o suficiente para ser seu pró prio tipo especial de
tortura.
O senhor nã o disse mais nada enquanto os conduzia pelo subsolo,
navegando com confiança pelo labirinto tortuoso e pelos degraus
sinuosos. Fazia sentido dado o fato de que ele ajudou a construir aquele
maldito lugar. Asher tentou e nã o conseguiu memorizar o layout, muito
distraído pelo calor que latejava sob a pele de Malkolm.
Eles finalmente chegaram a uma porta embelezada com revestimento de
cobre e esculturas douradas de lobos uivantes. Depois de semanas em
um buraco ú mido, aquilo era a coisa mais linda aos olhos de Asher.
— Fora? — ele resmungou, mal se ouvindo.
Malkolm riu, achando cô mico o desespero de Asher.
— Nã o. Ainda nã o. Estes sã o os meus aposentos. Você ficará aqui por
algumas noites enquanto recupera suas forças.
Seus... aposentos? O quê, aquela conversa dos velhos tempos para um
quarto? Enervante.
Malkolm abriu a porta e puxou Asher para dentro. Ele piscou contra a luz
das lanternas a ó leo, mais brilhantes que as lâ mpadas apagadas dos
tú neis. E o que ele viu comparado à s masmorras foi luxuoso. O ar, embora
viciado, era pontuado pelo cheiro de sangue, que emanava dos lençó is de
seda da cama oval e da maciez dos tapetes grossos. Garrafas de sangue e
vinho cobriam as prateleiras, as paredes decoradas com bandeiras de
lobos uivantes.
A alegria infantil de Asher durou pouco. Cara, vai ser uma merda quando
eu estiver preso dormindo no chão de novo.
Malkolm colocou a mã o na nuca de Asher.
— Você é tã o frio e translú cido, jovem. Fique muito mais tempo sem
sangue e você começará a mumificar novamente. Você gostaria de se
alimentar?
Asher voltou um olhar cauteloso para o senhor. Isso foi uma pergunta
capciosa? Se ele jogasse outro humano aos pés de Asher, ele nã o achava
que conseguiria resistir desta vez, nã o importa quem fosse.
— Você gostaria de se alimentar de mim?
Asher deu um passo para trá s, examinando o rosto de Malkolm. Isso
tinha que ser algum teste fodido. Malkolm estalou a língua, suas feiçõ es
suavizando-se em direçã o à simpatia.
— Eu nã o teria trazido você para meu espaço privado se tivesse a
intençã o de machucá -lo, jovem. Aqui, permita-me convencê-lo.
Com a unha, Malkolm abriu uma fenda rasa na lateral do pescoço. A visã o
de Asher nadou em um oceano escarlate. Suas açõ es nã o eram suas
quando ele avançou, apoiando-se desajeitadamente no peito de Malkolm.
Ele afundou suas presas na jugular da garganta de seu senhor. O sangue
jorrou desordenadamente pela boca ressecada de Asher, rosnados
retorcidos saindo dos pulmõ es de Asher.
Uma parte dele entendia que nã o poderia matar Malkolm. Até os
tambores do Deus do Sangue estavam silenciosos, os ú nicos sons eram os
gemidos frenéticos de Malkolm, os rosnados de Asher e os respingos de
sangue no tapete. O Deus do Sangue nã o queria que Asher atacasse o
senhor, ou o instinto estava lá lembrando Asher de que ele nã o poderia
vencer aquela luta?
Ele continuou a beber mais fundo. E mais profundo. Grande parte do
sangue se perdeu na bagunça de suas roupas ou foi derramado no chã o.
Logo, muito cedo, nã o sobrou uma gota.
A exaustã o atingiu Asher como a porra de um caminhã o. Malkolm puxou
o jovem vampiro para trá s, segurando-o com o braço estendido. Asher,
oprimido por uma sensaçã o sonhadora de plenitude e calor, viu o enjoo
branco nas maçã s do rosto de Malkolm e sentiu o frio se instalando nas
pontas dos dedos do senhor.
Se isso fosse um teste, eu definitivamente falhei. Mas em vez de arrastar
Asher de volta ao Inferno, Malkolm sorriu para ele com ternura.
Os joelhos de Asher dobraram sob ele. Malkolm o pegou antes que ele
pudesse cair no chã o.
— Como uma criança bêbada com leite,— brincou Malkolm suavemente.
Quem era esse homem? Qual seria o custo de sua bondade? — Quando
um Seguidor de Sangue bebe sem matar, ele nã o deve beber muito para
nã o sobrecarregar seu sistema. Sustentamos a vida através do sangue,
mas obtemos a nossa energia através da emoçã o da matança, você
precisa entender.
Anotado, Asher pensou enquanto sua visã o ficava turva nas bordas.
Malkolm levantou Asher do chã o, embalando-o.
Pela primeira vez, ele se permitiu desfrutar do conforto físico. Ele se
preocuparia com as consequências mais tarde. Malkolm acompanhou
Asher até a cama circular, deitando-o nos cobertores macios. A
suavidade depois de tantas noites num chã o brutal era quase nauseante.
As palavras: “Estarei aqui quando você acordar”, seguiram Asher em um
sono sem sonhos.
Algumas horas depois, Asher acordou com as pontas dos dedos
acariciando sua testa. Seu primeiro instinto foi dar um tapa para afastar
as có cegas, mas ele se lembrou de onde estava bem a tempo. Malkolm
estava deitado de lado ao lado de Asher, vestido com uma tú nica
vermelha e claramente tendo reabastecido o sangue perdido. O cheiro
nã o atraiu Asher de forma tã o dramá tica desta vez.
Ainda assim, seu corpo respondeu à proximidade do homem de outras
maneiras. Malkolm, quando alimentado e sem humor psicó tico, era
bonito de uma forma covarde. O vilã o proibido. No entanto, aqui estou eu
em sua cama.
Asher sacudiu os pensamentos sonolentos, dizendo a si mesmo que só
precisava transar.
— Suas roupas estã o cobertas de sangue, — disse Malkolm, meio
repreendendo. Vou levar uma surra por sujar seus lençóis? Você me
colocou aqui! Mas os lá bios de Malkolm se curvaram com humor. — Deve
ser desconfortá vel. Você gostaria de roupas mais frescas?
Asher começou a se sentar, mas Malkolm o empurrou de volta, com as
palmas das mã os contra o peito. O sorriso do senhor era travesso,
enviando uma onda de medo pela espinha de Asher.
— Permita-me, jovem, — ele ronronou.
Que porra está acontecendo?
Malkolm tirou a camiseta preta de Asher, dura de sujeira e sangue seco.
Sua garganta ficou seca, mas nã o de sede. Na verdade, ele estava um
pouco consciente demais do sangue correndo em suas veias,
acumulando-se em direçã o ao sul. Asher percebeu que estava morrendo
de fome de uma forma nã o relacionada à alimentaçã o.
Malkolm jogou a camisa de lado, olhando para o peito nu de Asher com
cílios tremulantes.
— Você realmente é uma criatura linda, — ele murmurou, arrastando
uma unha até o esbelto naval de Asher. Asher estremeceu violentamente.
Posso aproveitar isso? De repente, ele ficou constrangido com a cicatriz
vermelha cortada em seu rosto – uma cicatriz causada por esse homem,
Asher lembrou a si mesmo com amargura. Isso fez pouco para murchar
sua tesã o traiçoeira.
O que nã o passou despercebido pelo radar do senhor.
Malkolm espetou o botã o e o zíper da calça jeans de Asher, descascando
com sangue derramado ao acaso.
— Diga-me, jovem. Você já esteve com um homem antes?
O ar saiu correndo dele.
— Sim, meu senhor,— ele respondeu sem fô lego.
— E você ainda pensa nesses homens?
— Na verdade nã o.
As respostas corretas, pelo brilho de triunfo nos olhos de Malkolm. Suas
mã os dançaram pelos quadris de Asher, puxando suas calças
desabotoadas. Malkolm beijou o pescoço de Asher. Ele esperava dentes,
mas quando sentiu apenas lá bios macios, relaxou um pouco.
— Posso Tê-lo esta noite, jovem Asher?
— Eu tenho escolha? — Asher se atreveu a questionar Malkolm, apenas
para poupar qualquer resquício de dignidade que lhe restasse. — E se eu
disser “nã o”?
Malkolm parou e levantou a cabeça. Sua voz era ilegível.
— Entã o passaremos para a pró xima fase de treinamento. Eu superei dez
vezes um monstro, Asher, mas nã o ganho nada com o estupro.
Huh .
— E se eu disser “sim”? — Asher disse, meio desafio – você não terá todo
o poder aqui.
Os lá bios de Malkolm percorreram o peito de Asher, sua língua deixando
um rastro ardente enquanto ele o saboreava.
— Entã o você é meu,— Malkolm respirou nos poros de Asher, puxando
as calças do jovem vampiro. Asher cedeu, a cabeça fervilhando de luxú ria
e necessidade, sem entender completamente o contrato nã o escrito, mas
assinando-o com sangue de qualquer maneira. Tudo o que ele entendeu
foi que um homem poderoso tanto na mente quanto no corpo estava em
cima dele, tirando um manto solitá rio de uma forma perfeitamente
esculpida. Asher se contorceu, gritou, rezou para cada Deus em que ele já
acreditou enquanto Malkolm o servia com língua, pau e mã os, sem
esperar nada em troca.
O preço viria mais tarde.
Por duas noites, Malkolm retornaria aos seus aposentos cheio de sangue,
permitindo que Asher se alimentasse dele antes de foder o jovem
vampiro até deixá -lo sem sentidos. Para Asher, era sua ideia distorcida
do céu, embora mesmo naquele momento ele soubesse que tudo era
temporá rio.
Bebendo uma garrafa de vinho com infusã o de sangue, Malkolm falou
brevemente sobre si mesmo, contando sobre seus dias como soldado
cristã o romano defendendo seu império em declínio contra os invasores
godos. Foi no campo de batalha que Lord Malkolm foi transformado, e foi
no campo de batalha que ele permaneceu depois. Ele estaria perdido na
histó ria humana, mas os vampiros antigos de hoje se lembravam de
como Malkolm empalava corpos drenados como um aviso à s forças que
avançavam. Se nã o de vitó ria, entã o de vingança cruel.
Segurando Asher como se fossem verdadeiros amantes, Malkolm disse:
— Mas nã o consegui salvar meu império. Maior será o meu império... e
nos expandiremos por todo o continente.
Asher, intoxicado por sangue e orgasmo, nã o pô de deixar de se sentir
animado por seu senhor. Nada para você.
É claro que todas as coisas boas têm um fim. Asher aprendeu isso em
vida e foi lembrado na morte.
— Levante-se, Asher,— Malkolm comandou na terceira noite, seu tom
endureceu para a frieza familiar.
As férias acabaram.
A introduçã o de Asher no salã o de baile foi definida pelo sangue. Todas
as cadeiras e mesas foram retiradas, Riccardo – um estranho nã o
identificado para Asher na época – sozinho no chã o. O vampiro fez uma
reverência quando Malkolm apresentou os dois, as luzes do candelabro
brilhando contra o branco puro de sua má scara. Os dedos de Asher se
contraíram enquanto ele resistia à vontade de sentir sua cicatriz recente.
Ele decidiu nã o encobri-lo, mas sim usá -lo com orgulho, um testemunho
das provaçõ es que enfrentou e que suportará . Teria Malkolm
desfigurado esse vampiro também?
Realmente nã o havia tempo para bater papo.
Do alto da escadaria, Malkolm orquestrou as sessõ es de treinamento.
Esperava-se que Asher defendesse e retaliasse os ataques de Riccardo. A
primeira sessã o foi intransponível. Riccardo estava por toda parte, todo
dentes e lâ mina implacá vel, despedaçando Asher. Malkolm, depois de
arrastá -lo de volta para as masmorras, explicou a Asher tudo o que ele
havia feito de errado entre cada chicotada.
A segunda noite nã o foi muito melhor, mas pelo menos Malkolm
começou a dar dicas em tempo real. Golpeie aqui. Acima de TI. Vá para a
garganta . Use o sentido da audição e do olfato, não confie na sua visão. A
duraçã o das chicotadas seguintes nã o foi tã o longa quanto a primeira.
Na terceira sessã o, Riccardo quase nã o tocou em Asher, mas o mesmo
poderia ser dito ao contrá rio. — Covarde,— Malkolm cuspiu na cela da
masmorra. — Você nã o corre. Nunca. — Por essa queixa, Asher recebeu
mais cicatrizes em suas omoplatas.
Uma semana se passou antes que Asher conseguisse colocar Riccardo no
chã o, mesmo que apenas por alguns segundos. Asher foi recompensado
com seu próprio quarto. — Acima do solo,— dissera Malkolm. — Eu sei
como você despreza as catacumbas.
Por causa de você.
Apesar do ó dio visceral de Asher por Malkolm e suas tá ticas, ele
continuou a cobiçá -lo fisicamente, desejando o sangue sob sua pele que o
senhor gentilmente ofereceria - mas apenas sempre que Asher provasse
seu valor.
Seis meses se passaram de mú sica e dança carnal. Centímetro por
centímetro, dentes na carne, nó s dos dedos em ossos quebrados, Asher
foi transformado no guerreiro mais intenso de Malkolm. À medida que o
campo de jogo entre Asher e Riccardo se igualava, ele aprendeu algo
crucial sobre ser um vampiro. Quando você nã o pode morrer, e quando a
maioria das feridas cicatriza, bater um no outro até virar polpa era
emocionante.
Foi na ú ltima noite que Asher sentiu pela primeira vez o cansaço
crescente de Riccardo. O primeiro sinal de que o vampiro nã o estava
mais se contendo. Asher, abraçando sua identidade florescente como um
predador, uma criatura de caça, viu o vermelho. O Deus do Sangue pairou
fora de vista acima do ombro de Asher, cantando: — Matar. Dominar.
Destruir.
Com os dentes rangendo, Riccardo preso embaixo dele, Asher foi para o
golpe final.
Malkolm interceptou, pegando Asher pela cintura. Riccardo,
ensanguentado e caído no chã o, olhou para Asher com medo genuíno. As
imagens se solidificaram na mente de Asher, criando raízes. Mas assim
como sempre que Asher bebia de Malkolm, as batidas dos tambores do
Deus do Sangue cessaram. As fibras inatas que levaram Asher a matar
nã o conseguiram alcançar Lorde Malkolm. Talvez tenha sido um aspecto
que estabeleceu a hierarquia dos Seguidores de Sangue.
— Meu doce filho,— Malkolm ronronou, um tom amoroso que Asher nã o
ouvia há meses. Ele se odiava por sentir falta disso. — Eu acredito que
você está pronto para sua primeira patrulha. E sua primeira caçada. Vou
até deixar você escolher seu pró prio humano.
Seu primeiro humano foi um homem que estava espancando outro
homem na mesma rua do bar que Asher sabia que seu pai frequentava.
Finalmente reintroduzido no mundo exterior, Asher considerou escapar
de Grander por completo, mas nunca considerou seriamente a ideia.
Talvez fosse tã o simples quanto o medo de Malkolm rastreá -lo ou o
medo de deixar a segurança de uma cidade vampírica. Mas Asher se
conhecia melhor do que isso. Havia rancor ali, claro, e apego. Mas acima
de tudo, ele queria ver até onde esse show de merda poderia ir, até onde
ele poderia ir.
A pressa de vencer Riccardo estava permanentemente incorporada nele.
Acontece que Asher era muito bom em comandar essa merda sob o
comando de Lord Malkolm. E ele gostava de jogar jogos que sabia que
poderia vencer.
Nã o havia amor por Lord Malkolm, mas em troca de uma segunda vida
como um dos mais fortes Seguidores de Sangue, havia um fio de lealdade.
CAPÍTULO TREZE

NIKOLA

— Você nã o viu nem ouviu nada de Asher Black nas ú ltimas duas noites?
Lady Morrigan perguntou. Ela chamou Corvellious e Nikola para a
mesma sala de conferências de antes.
Nikola confirmou com um movimento do queixo.
— Sim minha senhora. — Embora nã o sem esforço, ele admitiu para si
mesmo. Ele havia passado as ú ltimas noites memorizando o layout do
territó rio de Malkolm – isto é, mentalmente, sem câ mera nem caneta a
tiracolo. Ele tinha sido capaz de sentir as patrulhas de Malkolm
espreitando e vigiando. Eles certamente atacariam se o vissem fazendo
mais do que um passeio.
Cada momento que Nikola passava em territó rio inimigo ele estaria de
olho no segundo em comando de Malkolm. Mas Asher aparentemente
desapareceu da face da Terra, nã o deixando nenhuma pista ou sinal de
que ele estava por perto.
E ele não respondeu.
Certamente nada poderia ter superado Asher Black. Isso seria um fim
anticlimá tico para o que representava uma fascinante rivalidade. Céus,
estou começando a soar como ele. Nikola baniu o rastro do pensamento,
prestando mais atençã o à sua senhora e criadora.
— Você nã o deve estar procurando o suficiente,— Corvellious começou a
rosnar.
Morrigan o silenciou com a mã o levantada.
— Das informaçõ es limitadas que tenho sobre o segundo em comando de
Malkolm, Asher nã o é do tipo que... fica quieto. Se ele nã o está nas ruas,
deve ser porque Malkolm o mantém cativo em algum lugar, ou de outra
forma contido. Mas por que? — Nikola sentiu uma pontada de pena de
Asher, pensando naquela cicatriz cruel. Embora seus companheiros de
Sangue considerassem isso uma fraqueza, ele nã o rejeitou a simpatia –
parecia uma â ncora de sua pró pria humanidade.
Morrigan suspirou, a frustraçã o endurecendo sua voz.
— Malkolm calcula cada movimento seu, jogando a cidade como se fosse
um jogo de xadrez em que só ele tem acesso a metade do tabuleiro. Algo
mais deve estar acontecendo aqui.
Quando ela nã o disse mais nada, imersa em contemplaçã o, Corvellious
falou com Nikola.
— Grandes mudanças estã o se espalhando pelas entranhas de Grander,
aproximando-se cada vez mais a cada noite. Se Asher se provar inú til
para nó s, entã o ele será apenas uma ameaça que é melhor eliminar mais
cedo ou mais tarde. — Corvellious recostou-se, olhando maliciosamente
para seu filho vampiro. Nikola nã o pô de deixar de compará -lo com o
Filho da Lua da floresta dos seus sonhos de memó ria.
O conheço melhor do que ninguém, Mestre Corvellious. No entanto, você
continua sendo um estranho para mim.
— Espera-se que você atenda ao chamado para matar Asher Black e
outros subordinados a Malkolm. Precisaremos da sua força guiada pela
brutalidade do Chifrudo.
O rosto de Nikola permaneceu impassível, sem revelar nada. Ele, embora
extremamente leal, manteve uma aparência de rebeliã o reservada quase
exclusivamente em homenagem à sua Deusa. Farei tudo ao meu alcance
para servir Corvellous sem tomar um vida. A dú vida brilhou na resoluçã o
como as sombras escuras de uma fogueira. Que mudanças seus
superiores esperavam se esperassem que ele se juntasse a eles sob o
comando do Deus do Sangue, sacrificando assim sua imunidade
provisó ria? O chã o balançou sob seus pés. Eles estavam planejando uma
invasã o, um assassinato? Devo avisar meus companheiros Filhos da Lua
para escaparem?
Se eu não agir a tempo, precisarei matar para salvar suas vidas? Eu
abandonaria a Deusa da Lua se isso significasse proteger Corvellious? Ou
meu clã?
— A discussã o sobre se Nikola se juntará à s minhas fileiras apenas para
outro dia. — Morrigan levantou os olhos, olhando para sua alma. —
Tente descobrir o paradeiro de Asher, Nikola. Mesmo que você nã o o
encontre novamente, ainda desejo saber o que ele tem feito. Vocês,
Crianças da Lua, adoram fofocar, entã o certamente há pelo menos um
boato. Ficamos inquietos quando o inimigo desaparece de vista.

Apesar das suposiçõ es de Morrigan sobre a rede fictícia de amigos


lunares de Nikola, ele só conseguiu nomear um que vivia no territó rio de
Malkolm. Claro, Veronica flutuava por aí e poderia ter aprendido algumas
coisas, mas ele estaria condenado se recebesse outro sermã o sobre ficar
“estranhamente apegado a um psicopata literal” – como quando ela o
pegou verificando ansiosamente seu telefone.
— Só seguindo ordens,— Nikola murmurou para si mesmo enquanto
batia na porta do porã o de Katsuki. O sinal “ABERTO” estava apagado,
entã o Nikola esperava que talvez Katsuki nã o estivesse em casa e Nikola
pudesse apenas...
A porta se abriu.
— Ah, Kingston,— Katsuki cumprimentou. O vampiro tatuado estava
vestido com calça de moletom e sem blusa. Nikola examinou brevemente
o vinhas de madressilva tatuadas em flor circulando cicatrizes
horizontais logo abaixo de seus peitorais planos. Eles sorriram.
— Você deve estar aqui a negó cios.
Nikola limpou a garganta. É inú til fingir que foi apenas uma visita
amigá vel.
— Perdoe minha intrusã o.
— Nã o importa. Eu estava simplesmente elaborando uma folha flash.
Você gostaria de vê-lo?
Nikola piscou, agradavelmente surpreso por ter sido convidado a entrar.
Ele meio que esperava ser rejeitado na porta.
— Ah, hum, certamente.
Katsuki desapareceu lá dentro. Nikola hesitou por um momento antes de
segui-lo. Um silêncio tranquilo permeava o estú dio, Nikola pairando
desajeitadamente no canto. As ú nicas luzes eram os cordõ es de Natal
pendurados nas paredes e uma luminá ria voltada para um pergaminho
enrolado na mesa de trabalho. Katsuki, com sua graça incompará vel,
flutuou em direçã o ao pergaminho meio cheio de esboços. Nikola
admirou o orgulho brilhando nos olhos prateados de Katsuki. Afinal, um
artista que vivesse para gravar permanentemente seu trabalho na pele
de outras pessoas nã o lidaria bem com a insegurança.
Nikola se aproximou e examinou a folha flash. Foi só por causa de
conversas passageiras com Veronica que ele soube o que era uma folha
flash. Veronica também havia mencionado antes que Katsuki era o tipo
de tatuador que nunca repetia o mesmo desenho em clientes diferentes.
Havia uma caveira de gato com uma cobra enrolada nas ó rbitas oculares,
uma mã o segurando a carta de tarô Nove de Espadas, um santuá rio
xintoísta e dois peixes koi circulando um ao outro. A curiosidade levou a
melhor sobre ele, Nikola disse: — Devo perguntar, o que o trouxe ao
mundo da arte?
Katsuki inclinou a cabeça para o lado, fechando os olhos.
— Sempre tive afinidade com as artes, mesmo na minha época humana.
Na minha aldeia, muitas vezes moldá vamos potes de barro e descobri
grande alegria em incisar padrõ es em suas superfícies. Você já encontrou
seu pró prio trabalho atrá s de uma exposiçã o de vidro, Kingston? É
realmente fascinante que eu tenha participado da histó ria resiliente
examinada pelos humanos de hoje.
Assim como você imortaliza seu trabalho em uma pele imortal, refletiu
Nikola. Antes que ele pudesse falar em voz alta, Katsuki começou a falar
novamente.
— Você sabia que antes de o continente começar a escrever sobre meu
país, nó s adotá vamos os Filhos da Lua como protetores divinos? Nã o
pensá vamos nos bebedores de sangue imortais como demô nios e nã o
tínhamos uma palavra para vampiro. Os Filhos da Lua eram consideradas
espíritos da floresta, espíritos aos quais frequentemente oferecíamos as
crianças da nossa aldeia.
Nikola pensou em um folclore europeu semelhante.
— Corvellious é da antiga Grã -Bretanha e raramente se referia aos Filhos
da Lua como Fadas.
— Eu realmente acredito que nossa espécie prospera como espíritos
afins da natureza,— disse Katsuki, com uma nota triste em sua voz. —
Mas os humanos tornam isso difícil. — Seus olhos se abriram, aguçados
de raiva. — Foram, na verdade, navios humanos do continente que
trouxeram Seguidores de Sangue para o meu país. Já vivi muito tempo,
Kingston, e alguns afirmam que sou o Filho da Lua mais velho
sobrevivente. Tanta discussã o gira em torno dos Grandes Expurgos de
vampiros ocidentais que esquecemos as razõ es pelas quais tã o poucos de
nó s existem em outras partes do mundo. Mas encontrei os meios para
sobreviver.
Nikola, curioso, acenou com a cabeça para Katsuki continuar, mas eles já
estavam continuando.
— Eu nunca ficaria no mesmo lugar por mais de uma década depois que
as grandes caçadas começassem, mas encontrei relativa segurança entre
aqueles que a sociedade considerava criminosos. Trabalhadoras do sexo
em distritos de prazer, membros de gangues pagavam pela sua proteçã o.
Eles também fugiram e se esconderam daqueles que procuravam
destruí-los. Encontrei dinheiro e santuá rio por meio de minhas
habilidades de maquiagem aprendidas com artistas e acompanhantes,
que usei para criar disfarces para mim e para os outros. É muito fá cil
parecer mais velho, mais jovem, de outro sexo ou de outra família.
Eventualmente, descobri a arte da pele que nã o podia ser removida com
á gua.
— Os tatuadores de antigamente ignoraram meus olhos prateados e
minha aversã o à luz solar devido à minha mã o habilidosa, e eu passaria,
por décadas, por ciclos de me passar por aprendiz antes de finalmente
pegar o meu.— Katsuki franziu a testa, piscando rapidamente como se
tivesse acabado de acordar. — Quase perdi o fio da sua pergunta aí. Mas
essa é a resposta.
Nikola sorriu educadamente. Katsuki tinha o há bito bem conhecido de
seguir por tangentes prolixas, e Nikola nã o queria correr o risco de
esquecer por que ele veio aqui em primeiro lugar.
— Tive a impressã o de que você era um Filho da Lua de Grander original.
Estou enganado?
— Você está . Eu nã o imigrei para os Estados Unidos antes da Segunda
Guerra Mundial. Qualquer Filho da Lua que ajudou a construir Grander
foi massacrado ou seguiu em frente. Apesar de todos os Reis Supremos,—
Katsuki disse o título com tanto veneno, que soava antinatural em seu
tom suave, — falando de respeito por nó s, ele nã o se incomoda em
acordar com frequência suficiente para garantir essa proteçã o. Você e eu
recebemos alguma segurança devido à nossa idade, mas se uma guerra
genuína estourasse, duvido que até mesmo isso nos protegeria.
— Você quer dizer que o Rei Supremo dorme por longos períodos de
tempo? Quanto tempo? — Nikola nã o sabia por que estava tã o surpreso.
Ele nunca havia pensado muito sobre o que o Rei Supremo fazia com seu
tempo livre escondido do resto do mundo.
Katsuki lançou um olhar sombrio na direçã o de Nikola. A discussã o dos
assuntos atuais foi um lembrete do motivo da visita de Nikola.
— Durante anos seguidos. O Rei Supremo é antigo. Pré-histó rico. A lenda
afirma que ele cruzou as pontes terrestres da Idade do Gelo. Os vampiros
sã o funcionalmente imortais, mas você já viu isso ser levado ao limite? O
Grande Rei de Grander é pouco mais que um mú mia assombrando sua
pró pria cripta. Mas isso nã o quer dizer que seu poder deva ser minado se
Morrigan e Malkolm continuarem a responder a ele.
Nikola, nã o pela primeira vez, se perguntou onde exatamente o Rei
Supremo ficaria. Abaixo de seus pés, isso era certo. Foi por isso que o Rei
Supremo teve conversas recentes com Malkolm e nã o com Morrigan?
Porque Morrigan se afastou das catacumbas? Nikola nã o era ingênuo o
suficiente para acreditar que lhe contaram tudo. Na verdade, ele
entendeu que quase nada lhe foi dito.
— Mas você nã o está aqui para discutir os vampiros de antigamente,—
Katsuki afirmou com naturalidade. Nikola estremeceu e desviou o olhar.
— Nã o me confunda com um leitor de mentes, pois eles nã o existem.
Também senti a ausência de Asher Black nas ú ltimas noites. Mas eu nã o
poderia lhe contar sobre o paradeiro dele.
Então, onde ele está? Katsuki registrou instantaneamente a ansiedade de
Nikola com uma carranca. Eles ergueram a representaçã o fixada da
Torre de Babel em chamas e comentaram: — Quando Asher Black veio
até mim para encomendar esta tatuagem,— os olhos de Nikola se
arregalaram, — foi um desafio contra seu pró prio senhor. Dos detalhes,
nã o perguntei. Mas saiba disso, Kingston. Se – ou talvez quando? – Asher
decidir escapar de Malkolm, ele poderá . Somente Asher pode se rebelar
contra Malkolm, embora seu sucesso possa ser outra histó ria. — O olhar
solene de Katsuki, que carregava quase dois milênios, caiu sobre Nikola.
— Se Asher algum dia se voltasse contra seu pró prio senhor, ele poderia
ser a chave para Morrigan assumir o trono – ou, pelo contrá rio, ele
poderia se revelar um inimigo ainda mais perigoso. Pelo bem de Grander,
rezo pelo primeiro.
CAPÍTULO CATORZE

ASHER

O clique da abertura da fechadura arrancou Asher de suas dissociaçõ es.


O cheiro suave de Riccardo foi suficiente para trazer Asher de volta à
Terra, nos dias atuais.
— Fui encarregado de sua libertaçã o, Mestre Asher,— relatou o Vampiro
Mascarado.
Asher se esticou, gemendo como se estivesse apenas acordando de um
cochilo.
— Merda, já dessa vez? — Ele bocejou. Foi apenas para teatro, já que seu
corpo drenado, à beira da decadência ativa, nã o precisava absorver
oxigênio naquele segundo. Ele se sentou e ficou de pé. — Por que ele
mandou você me buscar?
— Seu palpite é tã o bom quanto o meu, Mestre Asher.
Não, eu tenho um decente. Asher tirou as torçõ es do pescoço e eliminou
as dores em seus mú sculos carentes. Malkolm teria apreciado a delaçã o
de Riccardo à sua maneira, mas ele nã o gostaria que Asher deixasse a
insubordinaçã o passar.
— Acho que Chefe queria que passá ssemos algum tempo a só s.
— Oh?
Asher atravessou o curto espaço antes que Riccardo pudesse respirar
novamente, batendo-o contra as barras da cela. O metal envelhecido
dobrou-se com o impacto. Asher segurou a mandíbula de Riccardo, o
polegar pressionado contra a borda da má scara. Uma ameaça tá cita.
— Querido, continuamos nos encontrando assim,— Asher zombou
rispidamente. — Só mal podia esperar para fofocar, hein?
Riccardo nã o conseguiu esconder o tremor de raiva em suas sílabas.
Mú sica para os ouvidos de Asher.
— Malkolm perguntou a muitos de nó s sobre a natureza do seu conflito
com Kingston. Você pretende me ordenar que minta para nosso senhor,
Mestre Asher?
— É melhor você cuidar da sua pró pria vida,— Asher rosnou, nã o
acreditando em sua explicaçã o meia-boca.
— Lorde Malkolm e nosso clã sã o da minha conta, Mestre Asher.— Os
olhos de Riccardo brilharam com rebeliã o. O temperamento de Asher
aumentou. É por você que estou aqui, revirando flashbacks. — Era do
nosso interesse lembrá -lo de sua lealdade.
Que merda esse cara está alimentando com Malkolm? A ú ltima coisa com
que alguém deveria se preocupar era com a lealdade de Asher.
— É do seu interesse lembrar-se da porra do seu lugar.
Asher estava decidido a arrancar a má scara, tirar a dignidade do homem
e ensinar-lhe uma liçã o que ele nunca esqueceria. Mas Asher nã o era
Lorde Malkolm. Se ele quisesse descer a esse nível, o momento tinha que
ser crucial, e eles ainda nã o haviam chegado lá .
Em vez disso, forçou a cabeça de Riccardo para o lado e atacou como uma
víbora instigada.
Ricardo nã o lutou. Na verdade, ele quase nã o se mexeu. Isso tornou mais
fá cil ignorar o chamado do Deus do Sangue pela morte. Asher tinha mais
autocontrole do que as pessoas acreditavam. Mais autocontrole do que a
maioria dos Seguidores de Sangue, na verdade. Ser privado durante os
dias de maior fome quando era recém-nascido fazia isso com um cara.
Se eles estão tão preocupados com minha lealdade, vou provar isso a eles.
Esta noite deveria ser o encontro deles. Se Nikola planejava brincar, entã o
Nikola iria descobrir.
Nenhum negócio engraçado. Asher se afastou de Riccardo, aproveitando a
saciedade. A energia zumbia em seu sistema circulató rio, Riccardo
inclinando submissamente a cabeça, como a cereja do bolo. O Vampiro
Mascarado ficou para trá s enquanto Asher descia pelos tú neis. Ele sabia
como voltar ao topo atualmente.
Vamos ver do que Nikki é capaz quando está realmente lutando por sua
vida.
Asher, aproveitando o ar fresco beijando seu rosto, continuou olhando
para o celular. Ele finalmente conseguiu carregar a bateria. Este tipo está
a falar a sério? O que os seguidores de sangue sonham? Talvez tenha sido
apenas o momento de merda, mas deixou Asher com um humor ainda
pior. Parecia muito pró ximo da zombaria para ser confortá vel.
Ele guardou o telefone no bolso e examinou o estacionamento vazio. O
lugar estava praticamente abandonado desde que o shopping pró ximo
começou a morrer na era da Amazon e das compras online. Muito pouco
trá fego humano, além de estar na periferia de Grander, significava ainda
menos vampiros.
— Asher Black.— A saudaçã o ecoou pelo concreto desolado. Ele se
concentrou no vampiro robusto que se aproximava pela rampa de
entrada oposta. Nikola parou a três metros de distâ ncia, as sobrancelhas
franzidas e os olhos metá licos intensos. Asher enfrentou isso com igual
tenacidade. — Eu temia que você talvez nã o estivesse aqui.
— Por que? Porque eu nã o respondi à sua mensagem estranha? — Asher
estalou a língua, suas mã os caindo para os lados. Nikola se encolheu, a
surpresa brilhando em seu olhar. — O que você espera ganhar desta
noite, hein, Nikki?
Nikola estreitou os olhos diante da fria indiferença de Asher. Suas feiçõ es
endureceram, um pulso aparecendo em sua mandíbula. Asher sentiu um
arrepio de satisfaçã o. Seu primeiro erro foi me levar muito levianamente.
Nikola examinou o cená rio, seu peito largo inchando com a respiraçã o.
Só agora devem estar percebendo o peso de sua relativa privacidade.
Qualquer coisa serve.
Os jogos eram divertidos, mas aquilo era uma guerra – Nikola Kingston
era o inimigo.
Asher tirou o casaco de couro e jogou-o de lado. Ele libertou duas adagas
gêmeas, de dois gumes, de bainhas escondidas sob o cinto de suas calças.
Eles brilhavam prateados enquanto ele os girava. Nikola mostrou os
dentes cerrados.
— Ah, você veio malvestido? — Asher zombou, um pé na frente do outro.
— Vamos dançar, Nikki.
Ele avançou, liderando com as pontas de suas lâ minas. Nikola respirou
fundo, evitando o ataque. Asher virou as facas e girou com um golpe para
baixo, mirando no pescoço de Nikola. Nikola Kingston saltou para trá s.
— Nã o torne isso chato, Nikki,— Asher choramingou, jogando uma de
suas lâ minas no chã o entre eles. Nikola observou o barulho no asfalto
rachado. — Ou o hipó crita Nikola Kingston é bom demais para uma
pequena açã o de faca contra faca?
Asher soltou um grito feroz e correu para frente, fingindo um ataque
selvagem contra o pulmã o esquerdo de Nikola. Quando Nikola se moveu
para se esquivar, Asher chutou alto, batendo a ponta da bota direita na
têmpora do outro vampiro.
Nikola cambaleou para o lado e mal conseguiu pegar o antebraço de
Asher quando ele esfaqueou o peito do inglês. Nikola rosnou e puxou
Asher para mais perto, encontrando sua testa com o nariz de Asher.
A raiva irrompeu com a explosã o de estrelas na visã o de Asher, sangue
jorrando de ossos e cartilagens quebrados. Asher, seu visã o emoldurada
em escarlate, rangeu os dentes para o rosto de Nikola, conseguindo
arrancar um pedaço de pele de sua mandíbula.
Nikola soltou o braço de Asher, exclamando alarmado. O sangue escorreu
da ferida rasgada e escorreu pelo queixo. O peito de Asher borbulhou
com grunhidos enquanto ele saboreava o choque de queixo caído no
rosto do homem mais velho.
— Recomponha-se! — Asher gritou, jogando a faca em Nikola. Nikola
amaldiçoou, cambaleando para trá s enquanto conseguia pegar o projétil
mal direcionado. Asher, caído no chã o, atacou Nikola, pegando a outra
adaga descartada ao longo do caminho. Ele subiu com um movimento
selvagem de corte em direçã o ao rosto de Nikola, a direçã o espelhando a
cicatriz de Asher.
Nikola bloqueou a lâ mina com a outra. Eles se empurraram, mas Asher
nã o estava com vontade de brincar, entã o cuspiu no olho de Nikola.
Nikola estremeceu, sua força diminuindo por uma margem de segundo,
dando a Asher a chance de afastar a mã o de Nikola e plantar sua pró pria
lâ mina em seu ombro.
Nikola rugiu e empurrou Asher para longe. Um líquido vermelho jorrou
da ferida quando a lâ mina foi arrancada, acendendo a sede de sangue de
Asher. Asher sorriu, pressionando o metal molhado nos lá bios e sentindo
o gosto doce de cobre. Foi apenas uma pequena amostra, mas foi o
suficiente para fazer as papilas gustativas de Asher vibrarem
deliciosamente, dando vida aos desejos.
— É isso, entã o? — Nikola rugiu, sua voz rouca de dor. — Malkolm
ordenou que você me matasse finalmente?
— Quer descobrir?
As batidas do Deus do Sangue começaram, soando ao longe, como se
estivessem tocando em outro andar da garagem. Nikola, embora nã o
pudesse ouvir, devia estar captando a energia assassina. Ele endireitou a
coluna, segurando a pró pria faca com mais força, e girou o ombro
enquanto o corte se fechava.
Nikola correu para frente. Asher dançou ao redor dele, abaixando-se e
ziguezagueando enquanto o Filho da Lua balançava e chutava. Enquanto
Nikola era a força bruta, Asher era a velocidade, movendo-se como um
borrã o. Nikola rosnou de frustraçã o, cada golpe tendo força suficiente
para quebrar o concreto, mas errando Asher por um fio.
Asher pousou agachado atrá s de Nikola, bem dentro de seu ponto cego, e
saltou antes que o Filho da Lua pudesse se virar. Asher agarrou-se à s
costas de Nikola, a faca caindo de sua mã o enquanto ele se pendurava
nos ombros de Nikola. Com um silvo fatalista, Asher perfurou a garganta
de Nikola com todos os dentes.
Nikola gritou em agonia. Asher, as batidas dos tambores ficando mais
altas enquanto ele saboreava o afrodisíaco sangue da Lua, doce como
mel, registrou tarde demais que Nikola estava caindo para trá s com todo
o seu peso. Asher soltou sua mordida quando foi esmagado entre a
massa do corpo de Nikola e o chã o só lido, seu suspiro abafado em seu
peito preso.
Nikola bateu com o cotovelo na boca de Asher, soltando alguns dentes –
eles crescerão novamente. O vampiro inglês se virou, com o punho
puxado para trá s, mas vacilou.
Asher, sangrando e machucado, coberto tanto com seu pró prio sangue
quanto com o rio que jorrava dos dentes, feridas na garganta de Nikola,
alcançou a lâ mina a apenas alguns centímetros de distâ ncia. Nikola
pegou-o primeiro e pressionou-o contra o pomo de Adã o de Asher.
— Chega, — Nikola respirou, seus ombros arfando com o esforço. Seu
rabo de cavalo estava solto, os fios caindo livremente sobre seus ombros.
As batidas dos tambores começaram a desaparecer.
Asher cuspiu um dente e sorriu com sangue entre os demais.
— Por que você nã o faz isso? — ele disse com uma voz á spera. — Aqui
está sua chance de dar vantagem à sua senhora.
— Eu nã o sou um Seguidor de Sangue. — A respiraçã o de Nikola parou. O
conflito passou por sua expressã o. Asher se agarrou a isso, seu sorriso
maníaco se transformando em um meio sorriso indiferente. — O que? O
que é engraçado, Mestre Asher?
— Por que nã o? Nã o aja como se você nunca quisesse.
— Quisesse o quê?
— Tch. Pare de agir tã o alto e poderoso. Pare de fingir que nã o há pelo
menos uma pessoa neste planeta que você acha que estaria melhor
morta. Você nã o mataria um serial killer? Hitler? E Malcolm? Nem
mesmo ele? — Nikola rosnou, pressionando a lâ mina com mais força.
Asher riu e empurrou o pescoço para cima para enfrentar a pressã o.
— Quanto a mim?
— Você é apenas uma criança presa na teia de aranha, — disse Nikola.
Asher levantou uma sobrancelha.
— Que porra isso significa, Nikki? Você é pretensioso também? E se eu
tivesse seu precioso pequeno clã ? E se eu tivesse uma arma apontada
para a cabeça de Corvellious? E então, Nikola?
— Silêncio, — Nikola sibilou, segurando a lâ mina com ainda mais força.
Asher sentiu a pele romper, uma gota de sangue escorrendo pelo seu
pescoço. Ele estremeceu e estendeu a mã o para entrelaçar os dedos no
pulso de Nikola. Nã o para afastar, mas para aprofundar.
— Faça isso, Nikki.
Nikola vibrou com rosnados. Para criaturas que afirmam ser tã o
passivas, elas certamente tentam parecer assustadoras.
— Fazer o que? — ele cuspiu.
— O que você está querendo fazer.
Nikola congelou, seus olhos pastando em Asher esparramado embaixo
dele. Asher ficou completamente imó vel enquanto Nikola deslizava
lentamente a ponta da lâ mina pelo pescoço de Asher, tirando mais
sangue.
— Você quer saber?
Bem, agora estou curioso. Asher riu, desafiando Nikola com um sorriso
malicioso.
Nikola atacou. Os caninos penetraram nas feridas abertas, rompendo
artérias enfraquecidas. Asher esperou pelo ataque de agonia e nã o estava
preparado para o êxtase que caía em cascata. Porra.
— Sangue por sangue, — Nikola respirou através da pele de Asher. — É
justo.
O que é isso? O que é isso? A faca sumiu, substituída inteiramente pelos
dentes de Nikola. Asher arqueou-se sob o peso do outro vampiro, suas
terminaçõ es nervosas zumbindo de prazer tecidas com luz dourada. Ele
registrou vagamente as mã os de Nikola enganchando-se sob os joelhos
de Asher, abrindo as pernas enquanto ele se curvava na forma de Asher.
— O beijo, — Nikola respirou, sua língua passando pelas marcas de
dentes chorosos, — da Deusa. — Ele roçou o outro lado do pescoço de
Asher com as pontas dos caninos, uma promessa abrasadora. Asher,
perdendo-se, gemeu incoerentemente. O Filho da Lua nã o estava se
alimentando completamente, mas simplesmente provando, provocando.
— Existem muitas maneiras diferentes de derrotar um oponente, Mestre
Asher.
Asher pegou a mã o de Nikola e a guiou entre suas coxas ardentes,
percorrendo o contorno de sua excitaçã o. Ele esperava que Nikola se
afastasse, aterrorizado com o ato homoeró tico, mas Nikola o
surpreendeu ao segurar a ereçã o.
— Os Filhos da Lua superam seus oponentes transando com eles?
Um arrepio percorreu a forma de Nikola. Asher estava muito consciente
do comprimento duro de Nikola pressionado contra o interior da perna
de Asher.
— Talvez. Mas como eu saberia que você nã o iria enfiar uma faca nas
minhas costas no meio do ato?
Asher gargalhou com as imagens.
— Oh, Nikki, isso nã o seria metade da diversã o?
Nikola recuou. Asher estava pronto para aceitar que esse era o fim do
flerte, mas Nikola nã o parecia desanimado ou desconfortá vel. Em vez
disso, ele estava estudando Asher, como se Asher fosse um experimento
curioso. Seus olhos prateados agitavam-se como mercú rio derretido;
suas bochechas estavam vermelhas de calor, apesar da perda de sangue
devido à s lesõ es abertas.
O toque de passos, vários deles, interrompeu a dança sensual. Asher
reconheceu o cheiro e percebeu o erro que estava cometendo.
Riccardo estava aqui.
— Fora,— Asher cuspiu, se debatendo, lembrando-se de um gato
selvagem sendo pego por algum garoto estú pido. — Fora! — Nikola
saltou para trá s, levantando os punhos e sibilando entre os dentes. Asher
ficou de pé. Riccardo encontrou os dois vampiros se enfrentando, ambos
rosnando.
— Oh, por favor,— anunciou Riccardo. — Nã o me deixe interromper.
Nikola olhou entre os dois Seguidores de Sangue. Asher tremeu de raiva
– de si mesmo por sucumbir tã o rapidamente ao toque de um Filho da
Lua, pela entrada de Riccardo, de Nikola por existir. Ele podia ver os
olhos de Riccardo correndo por trá s da má scara, examinando os dois. Ele
lançou um olhar de soslaio para Nikola e comentou: — Você
normalmente nã o vê um Filho da Lua coberta de tanto sangue. Pelo
menos nenhum ainda está de pé.
Seguidores de Sangue emergiram das sombras dos pilares de concreto,
seus olhos escarlates redondos e cautelosos enquanto os alcançavam,
alinhando-se atrá s de Riccardo. Nikola olhou ao redor, com os lá bios
puxados para trá s.
— Isso é uma emboscada? — ele rosnou, lançando um olhar acusató rio
para Asher. Ele zombou do Filho da Lua. Como se ele fosse pedir reforços.
A risada de Riccardo foi entrecortada.
— Nã o,— o Vampiro Mascarado respondeu secamente. — É apenas uma
sessã o de treinamento para nossos recrutas mais novos.
— Nó s nã o usamos esse espaço antes, — Asher entrou na conversa. Esse
filho da puta realmente está me perseguindo, hein? Asher engoliu em seco,
aliviado por ninguém ter encontrado ele sendo apalpado e mordido por
outra pessoa, muito menos pela porra de um Filho da Lua. Certo?
Ninguém tinha visto nada, certo?
Riccardo gesticulou ao redor.
— Nossos nú meros estã o crescendo, Mestre Asher. Um estacionamento
vazio é o playground perfeito para juventude inquieta.— Ele inclinou a
cabeça significativamente para Nikola, sua voz cheia de ousado
sarcasmo. — Posso ver que você concorda pelo menos parcialmente.
Com o temperamento de Asher descontrolado, ele acertou um soco para
cima no estô mago de Riccardo. O Vampiro Mascarado se dobrou, mas
nã o emitiu nenhum som.
— Cuidado com o tom, Riccardo, — disse ele.
Os novos recrutas de Malkolm sussurravam entre si, olhando
nervosamente para Asher. Ele nã o reconheceu a maioria deles, mas
estava claro que nã o eram recém-nascidos, embora muitos estivessem se
contorcendo e olhando para Nikola com fome.
— Vou deixar vocês com isso, entã o, — disse Asher. Ele pegou suas
adagas e, esquecendo-se de limpar o sangue seco, embainhou-as. —
Terminamos aqui, — ele disse a Nikola sem olhar para ele.
CAPÍTULO QUINZE

NIKOLA

Quando Asher passou por um Seguidor de Sangue aleató rio, ele a


agarrou pelo braço e a pegou pela garganta com os dentes. Seus gritos
ecoaram nas paredes e Nikola fez uma careta de simpatia. Ele tinha
acabado de experimentar o fogo líquido que era a mordida de um
Seguidor de Sangue, as feridas em seu pescoço ainda queimavam de dor.
Felizmente para a jovem, Asher nã o bebeu muito antes de empurrá -lo.
Outro Seguidor de Sangue a pegou enquanto ela segurava o pescoço
sangrando, com a respiraçã o ofegante.
Asher franziu a testa.
— Você estudou na Grander Community High School?
— O-o quê? — ela engasgou, piscando para seu superior. Ela nã o pareceu
registrar a pergunta, ainda se recuperando.
Asher grunhiu: — Deixa pra lá — e saiu do prédio. Nikola ficou onde
estava, pasmo com tudo o que aconteceu na ú ltima hora. Asher tinha
sido, conforme a tradiçã o, uma tempestade de emoçõ es severas, mas
Nikola acreditava que esta era a primeira vez que via o vampiro com
cicatrizes tã o melancó lico. E as reaçõ es que ele teve em relaçã o a
Riccardo... estava claro que ele estava desesperado para nã o ser pego na
posiçã o em que estavam. Seria por causa da natureza sexual? Ou por
orgulho?
Nã o, houve muito medo envolvido. Nikola teve alguma coisa a ver com o
motivo do desaparecimento de Asher nas ú ltimas noites? Ele ainda nã o
havia descoberto nenhuma informaçã o. Verdade seja dita, ele quase
esqueceu suas ordens enquanto tinha Asher preso embaixo dele.
Nikola nunca tinha se alimentado de um Seguidor de Sangue antes, ele
percebeu com um sobressalto. Ele nunca teria acreditado que eles
poderiam ser tã o... deliciosos. Se alguém tivesse perguntado a ele de
antemã o qual era o gosto de um Seguidor de Sangue, ele teria adivinhado
a morte e a decadência, mas Asher tinha gosto de fruta madura com um
toque que lembrou Nikola do cheiro de canela.
Os sons que Asher Black fez...
Nikola nã o deveria ficar por aqui. Talvez ele devesse seguir Asher, onde
quer que fosse. Ele viu a jaqueta de couro de Asher amarrotada por perto
e decidiu que essa era a desculpa perfeita. Ou, bem, foi o ú nico. Ele
começou a se despedir, mas ao sair Riccardo o agarrou pelo ombro.
— Nã o cometa esse erro na frente de seus discípulos, — Nikola rosnou,
encontrando descaradamente o olhar de Riccardo. Ele nunca conheceu
Riccardo antes, embora soubesse que o Vampiro Mascarado estava
agindo como um Mestre antes de Asher. Apesar do fato de Nikola estar
em grande desvantagem numérica, ele nã o teria nenhum problema em
rebater os destreinados Seguidores de Sangue. Mas por que Malkolm
precisava de tantos? Ele fez uma rá pida contagem de funcioná rios para
reportar a Morrigan mais tarde.
— Só tenho uma proposta,— respondeu Riccardo calmamente. — Entã o
você pode seguir seu caminho. Afinal, temos nossas ordens de nã o
machucar você.
Nikola grunhiu. Riccardo tirou a mã o e disse: — Nã o sabemos o que liga
você a Lady Morrigan, mas poderíamos oferecer-lhe algo maior se você
desejar servir sob o comando de Lorde Malkolm. — Foi como se uma
lâ mpada acendesse no crâ nio de Nikola. Isso é o que está acontecendo.
Malkolm me procura. Toda a atençã o especial dos principais jogadores
dos Seguidores de Sangue fez com que o estô mago de Nikola se revirasse
desconfortavelmente.
— Ele está sempre livre para negociaçõ es futuras. Você nã o precisa
tomar nenhuma decisã o agora. Pense nisso.
Isso foi uma ordem, nã o um pedido. Com a mandíbula cerrada, Nikola
assentiu uma vez. Os jovens Seguidores de Sangue se separaram para
deixá -lo passar, alguns deles pulando para trá s como se ele fosse um
animal perigoso. Ele se ajoelhou e pegou o casaco de Asher, jogando-o
sobre o ombro, e seguiu o rastro de cheiro que o vampiro mais jovem
havia deixado para trá s.
Nikola conseguia se lembrar de dias passados, quando o shopping de
Grander fervilhava de vida, restaurantes e vendedores. Agora, o prédio
de três andares estava totalmente abandonado, e as lojas vazias
pareciam cavidades escuras nas paredes grafitadas. As fontes estavam
secas, suas bicas quebradas pelo tempo e pelo vandalismo, e as escadas
rolantes mortas eram escadas funcionalmente decrépitas. Nikola se
perguntou vagamente se viveria para ver o dia, daqui a séculos, em que
nada restasse do edifício, seja recuperado pela natureza ou substituído
por alguma nova estrutura vá rias vezes.
Já vi isso acontecer em cidades inteiras.
Nikola parou no meio do que antes era a praça de alimentaçã o no centro
do shopping e fechou os olhos, espalhando seus sentidos pelo prédio. Foi
imediato para ele que nã o havia outras criaturas vivas além do barulho
de roedores e pá ssaros no teto. Ele detectou um emaranhado de angú stia
e raiva desenfreada em algum lugar do segundo andar e ouviu vidros
quebrando.
Oh, eu me pergunto quem poderia ser. Nikola seguiu o farol, subindo a
escada rolante quebrada e seguindo pelos corredores escuros.
Antigamente, as luzes do arco-íris brilhavam nos tetos arqueados, dando
a impressã o de um tú nel psicodélico, mas agora parecia pouco mais do
que uma caverna cheia de lixo.
No meio do fantasma de uma rua de compras, Asher estava em um
banco, ajoelhando-se para pegar seixos de um vaso de planta morta e
atirá -los nas vitrines de vidro das possíveis lojas. Nikola podia ouvir o
zumbido da velocidade atrá s de cada pedra, o vidro explodindo com o
impacto. O chã o brilhava com cacos e poeira branca.
Nikola parou e abriu a boca para manifestar sua presença. Asher se
virou, jogando uma pedra diretamente na cabeça de Nikola. O Filho da
Lua deu um pulo para o lado, sentindo o vento da pedra beijar sua
bochecha. Ela bateu na parede atrá s dele, ecoando como o disparo de
uma espingarda.
— O que? — Asher cuspiu.
Nikola dobrou a jaqueta e a colocou em um banco a um metro de
distâ ncia de onde Asher estava. Ele recuou, com as mã os levantadas.
— Você deixou isso para trá s, e eu nã o queria sair com um exército de
calouros sedentos.
Asher piscou, olhando para si mesmo como se percebesse que havia
deixado para trá s um pedaço de seu olhar característico. Ele desceu do
banco e pegou a jaqueta, com passos silenciosos.
— Uh, obrigado, — ele murmurou timidamente.
E ele voltou a atirar pedras em janelas indefesas. Nikola teve a impressã o
de ser uma criança fazendo birra e sentiu que o segundo em comando do
clã de Lorde Malkolm era maior do que isso. Contra seu melhor
julgamento, ele se aproximou e pegou o braço de Asher enquanto o
puxava para trá s.
— Que porra você está fazendo? — Asher sibilou, assassinato em seus
olhos. Bem, mais assassinatos do que o normal.
— Você vai ficar sem vidro para quebrar nesse ritmo, — Nikola disse
suavemente. — Acredito que nã o conseguimos terminar o que
começamos antes.
A respiraçã o de Asher falhou, um rubor rosado percorreu suas
bochechas. Nikola ergueu uma sobrancelha.
— De que parte você está falando? — Asher disse rispidamente. Nikola
se inclinou mais perto, examinando incisivamente o comprimento do
pescoço de Asher. As marcas de mordida já haviam fechado, mas ainda
havia uma camada de sangue seco em sua pele pá lida.
Nikola nã o precisava pressionar nenhum tipo de prazer ou atraçã o em
Asher. Tudo o que Asher sentiu antes era inteiramente dele, e isso tornou
mais fá cil para Nikola abraçar sua pró pria excitaçã o, por mais
imprudente que pudesse ter sido fazê-lo. Se for mútuo, é realmente
errado aproximar-se dele? Agora que ele tinha experimentado o jovem
vampiro, ele nã o conseguia tirar isso da cabeça.
— A mordida de cada Filho da Lua é assim? — Asher perguntou, com um
tremor em sua voz enquanto tentava mantê-la calma. Como se ele fosse
indiferente. Nikola viu através disso.
— Assim como? — Nikola disse, inclinando-se mais perto. Ele ainda
segurava o pulso de Asher e puxou-o para baixo, usando-o como
alavanca.
O pomo de adã o de Asher balançou enquanto ele engolia.
— Orgá smico, — ele respirou.
Os lá bios de Nikola se contraíram em um sorriso enquanto ele os traçava
ao longo do pescoço de Asher. Asher inclinou a cabeça para trá s de forma
convidativa.
— Quando escolhermos, — ele respondeu, sua boca logo abaixo da
orelha de Asher. — Posso?
Asher respirou fundo.
— Nã o pense que sou vulnerá vel só porque seus dentes estã o no meu
pescoço.
Nikola pressionou a boca contra o pulso acelerado da jugular de Asher.
Ele soltou o pulso de Asher e segurou suas costas, puxando-o para mais
perto.
— Eu nã o acreditaria que fosse tã o fá cil derrotar você, Mestre Asher.
Ele cravou os dentes na carne á gil, a parede da artéria se abrindo como
uma represa rompida, o sangue inundando seu corpo. Sua boca. Asher
gemeu, entrelaçando os dedos sob a base do rabo de cavalo de Nikola.
Nikola rugiu com fervor, bebendo avidamente. Nã o era sempre que ele
conseguia beber dos mortos-vivos e havia esquecido a liberdade de
poder se alimentar sem ter que se preocupar em matar. Se ele bebesse
Asher até secar, o Seguidor de Sangue sobreviveria.
Os dois presos no abraço vampírico era um circuito vivo de luxú ria e
prazer. Nikola estremeceu violentamente ao registrar as reaçõ es físicas
que Asher estava tendo em resposta à s presas de Nikola. O prazer
crepitava entre os nervos, a pressã o aumentando em seu estô mago.
Nikola estava familiarizado com a natureza sexual da alimentaçã o, mas o
corpo de Asher estava queimando com fogo desenfreado.
— Nikki,— Asher choramingou, se contorcendo nos braços do Filho da
Lua. Nikola continuou bebendo, além do ponto de saciedade e agora por
causa da gula. — Nikola.
Nikola sentiu os ecos de prazer ricocheteando em todo o nú cleo de
Asher, o vampiro mais jovem desmoronando com um grito sufocado.
Arrepios percorreram Nikola. Muito pouco sangue fluía de suas veias
abertas, mas Nikola manteve a boca pressionada contra a pele de Asher,
plantando beijos lentos enquanto o vampiro de Sangue gemia através
dos tremores de seu orgasmo.
— Você nem...—Asher ofegou, ajustando desajeitadamente as calças que
ele tinha acabado de usar. — Como se eu fosse um maldito pré-
adolescente.
Nikola riu e começou a recuar, antecipando o inevitá vel
constrangimento. Mas havia um brilho nos olhos de Asher que ele nunca
tinha testemunhado antes, feroz e determinado. Ele fez uma pausa, meio
que esperando receber um soco no queixo. Em vez disso, Asher estava
caindo de joelhos, paralisando os pensamentos de Nikola.
O Filho da Lua continuou a ficar boquiaberto enquanto Asher
rapidamente desabotoava a fivela e o zíper de Nikola, o ar frio contra seu
eixo enquanto Asher o libertava. Um ronronar saiu de Asher, seus dedos
envolvendo todo o comprimento, sua língua passando pela cabeça.
— Mestre Asher, — Nikola engasgou, estrangulado.
Asher sibilou baixinho e murmurou: — Nada dessa merda formal com
seu pau na minha boca. — Ele conduziu o membro de Nikola entre os
lá bios ú midos, seus dedos cravando nas coxas de Nikola.
Esquecidas foram as linhas entre Malkolm e Morrigan, Sangue e Lua,
apagadas pelo impulso primordial de foder e gozar. Nikola segurou a
nuca de Asher, empurrando mais fundo em sua garganta. O gemido de
Asher foi abafado, encorajador, sua mandíbula se abriu para facilitar o
acesso enquanto Nikola deslizava para dentro e para fora de sua boca.
Asher balançou com o impulso, os ú nicos sons eram os grunhidos
á speros de Nikola e o tapa molhado de pele contra pele. Os olhos de
Nikola rolaram para a parte de trá s do crâ nio, a pressã o aumentando.
Seu clímax avançou, pegando-o desprevenido. Ele o perseguiu e
empurrou mais rá pido. Ele imaginou que se estivesse sendo muito duro
com Asher, o Seguidor de Sangue divulgaria isso.
— Mestre Asher, — Nikola sibilou, um aviso ofegante. — Asher...
Segundos antes, a boca quente de Asher desapareceu, seu crâ nio
escorregou dos dedos de Nikola. O orgasmo foi arrancado de Nikola,
decepçã o e irritaçã o ricocheteando por todo o seu ser. Nikola rosnou em
confusã o, olhando através dos olhos semicerrados para encontrar Asher
se levantando, espasmos de pâ nico em seu lindo rosto.
— Huh? — Nikola murmurou estupidamente, enfiando o pacote de volta
nas calças.
Asher passou por Nikola e gritou: — Que porra você está fazendo aqui?
Havia outro Seguidor de Sangue presente. Ela era de menor estatura,
agachada no final da rua de compras. Seu cabelo era loiro e Nikola a
achou alarmantemente familiar. Ela choramingou, os ombros tremendo.
— Ela é uma de suas,— Asher rosnou, suas mã os caindo para onde ele
tinha suas adagas escondidas. — Você sabe o que acontece com os
invasores, certo?
— Espere! — Nikola agarrou os ombros de Asher. Sua ereçã o estava
completamente murcha agora. — Espere.— Asher vibrou com rosnados,
mas graças a Deus, ele obedeceu. — Eu cuidarei dela. Por favor.
— Você...— Asher balançou a cabeça. — Tudo bem, mas vou levá -lo até a
fronteira. Nã o vamos dizer uma maldita palavra no caminho até lá .
— Só estou querendo sair de Grander,— sussurrou a jovem, com
lá grimas nos olhos. — Eu odeio esta guerra.
— Por que nã o me deixa matá -la? — Asher disse casualmente, como se
fosse a coisa mais razoá vel do mundo. — Morrigan faria isso de qualquer
maneira, mas pelo menos eu faria isso rá pido.— Nikola fez uma careta
para ele. Asher zombou com desgosto. — Oh, por favor. Qual é a porra da
diferença entre matá -la você mesmo e acompanhá -la até um carrasco
diferente? A Deusa dividiu os cabelos assim?
Ela faz? Nikola nã o se lembrava de ter estado em outra posiçã o como
esta antes.
— Posso levá -la para fora dos limites da cidade de Grander,— Nikola
ofereceu, com seus pensamentos girando. — Entã o ela nã o será mais
nosso problema.
O olhar de Asher se nivelou, suas emoçõ es estagnaram. Nikola olhou
para ele, esperando por algum tipo de reaçã o, de um extremo ou de
outro, mas ela nunca aconteceu. Asher piscou uma, duas vezes e virou o
rabo para fugir. Nikola assistiu impotente. Ele iria pegar reforços ou
denunciar a invasã o do vampiro novato? Nikola esperava mais briga, mas
nã o iria desperdiçar a janela que lhe foi dada para levar a garota para um
lugar seguro.
— Venha,— Nikola latiu, pegando seu braço para puxá -la junto. Ela
gritou, mas nã o resistiu. — Posso levar você até os limites da cidade, mas
depois disso, você estará por sua conta.
— Por que você está me ajudando?
Nikola lançou um olhar preocupado.
— Nã o tenho certeza se estou ajudando você ou se sou apenas um
covarde que foge de sua pró pria responsabilidade.
— Por que Mestre Asher nã o tentou me matar?
Porque eu estava aqui para detê-lo. Nikola nã o respondeu. Eles cortaram
os restos do esqueleto do que já foi uma grande loja de roupas.
Manequins desperdiçados caídos em pedaços no chã o rachado, seus
olhos vazios seguindo-os enquanto eles corriam. Ele conduziu a garota
até a saída de incêndio nos fundos do andar térreo.
A porta pendia das dobradiças. Nikola chutou o resto do caminho. O
jovem vampiro se encolheu quando o estrondo dele batendo contra o
estacionamento coberto de mato reverberou durante a noite. Nikola
ficou perplexo, mas nã o pretendia atacar com tanta força. Estou tenso ou
isso é efeito de me alimentar de um Seguidor de Sangue?
A floresta se estendia além do shopping abandonado, estendendo-se de
Grander até os subú rbios vizinhos, com á rvores aumentando a cada
quilô metro. Serviria de cobertura. Esperançosamente.
— Corra comigo,— disse Nikola. — E nã o fique para trá s.

A dupla chegou ao viaduto do rio. A jovem cambaleou para frente, com os


membros tremendo devido ao esforço excessivo. Ela caiu de quatro, com
os cabelos curtos em cortinas de cada lado do rosto. Nikola olhou na
direçã o de Grander, a cidade limitava um brilho no horizonte.
Amanhecerá em breve.
Nikola se ajoelhou e colocou a mulher de pé.
— Agora nã o é hora de parar. Ambos os vampiros do senhor e da
senhora podem sair de Grander se retornarem ao nascer do sol.
— Até onde devo ir? — ela perguntou em voz baixa.
Nikola ignorou sua crescente pena. Ela era uma Seguidora de Sangue,
uma criatura predató ria de sobrevivência. O Chifrudo nã o se deixou
sucumbir tã o facilmente.
— Se eu fosse você, iria em direçã o à fronteira canadense. Há uma
populaçã o vampírica relativamente baixa, entã o você estaria protegido
pelo anonimato. Além disso, como você deseja passar uma vida imortal
fora de um clã é sua escolha. — Ele parou por um momento, virando o
rosto para o céu negro. Estava nublado, mas seu corpo cansado alertava
para o sol que se aproximava. — Há uma fazenda a alguns quilô metros a
sudoeste daqui. Corra rá pido e você poderá se abrigar com segurança no
local até amanhã à noite. Caso contrá rio, esconda-se em uma lixeira ou
na garagem de alguém e espere pelo melhor.
Nikola nã o tinha certeza se o vampiro histérico ouviu seu conselho.
— Eu nã o quero ser imortal. Eu nunca quis isso.
— Muito poucos de nó s escolhemos isso.
Ela deixou cair o rosto nas mã os, suas palavras carregadas de tristeza.
— Eu... eu só queria ver meus pais novamente. Mas eles viviam no
territó rio de Malkolm. Eles... Mestre Corvellious devia saber. É por isso
que ele os matou.— A jovem levantou a cabeça, o ó dio queimando por
trá s das lá grimas. As veias de Nikola, apesar de correrem com excesso de
sangue, gelaram. — Por que você o serve?
Porque eu sou a companhia que mantenho. Nikola deu um passo para trá s.
— Você está ficando sem tempo. Vá!
Ela olhou para o céu, seu remorso e luto tã o grandes que Nikola sentiu
toda a sua contemplaçã o suicida. É preciso apenas se destacar à luz do sol
. Mas o desejo de morte passou, a determinaçã o férrea do Deus do
Sangue se reafirmou.
— Obrigada, — ela murmurou.
— VÁ !— Nikola rugiu. Ela gritou, disparando pela ponte para a noite. Por
um breve segundo, Nikola pensou ter visto um brilho prateado
penetrando no vermelho de suas íris. Talvez fosse apenas um reflexo da
minha luz.
Nikola, nã o tendo tempo para pensar nas ú ltimas horas, pegou seu
telefone e foi até o contato de Veronica. Ela atendeu no segundo toque.
— Nikola Kingston, onde diabos você está ? O nascer do sol é daqui a uma
hora.
— Ah sim. Sobre isso... você poderia me dar uma carona? — Ele se
examinou com uma careta. — E, er, vou limpar o sangue do seu assento
amanhã à noite.
Ele foi recebido com gritos de raiva e perguntas de pâ nico em meio ao
barulho das chaves do carro ao fundo.
CAPÍTULO DEZESSEIS

ASHER

Asher Black estava andando de um lado para o outro em seu quarto na


mansã o. Porque ele convenientemente e avidamente se deparou com
algum bêbado inú til perseguindo alguém de volta ao seu apartamento,
Asher chegou tarde o suficiente para se esquivar de Riccardo e Malkolm.
O gosto do pau de Nikola ainda estava em sua língua. Por que diabos eu
fiz isso? Se aquele Seguidor de Sangue fosse um dos Malkolm... Asher
sabia que enfrentaria muito pior do que a cela e por muito mais tempo.
E sempre havia a chance de Nikola estar amarrado bem ao lado dele.
Asher parou e olhou para as roupas sujas que ele jogou a esmo no canto.
Deus, ele realmente gozou de cueca daquele jeito? Asher esfregou o
pedaço de pele onde Nikola se alimentou, tremendo da lembrança.
Se ele fosse honesto consigo mesmo, ele estava um pouco chateado
porque a garota Seguidora de Sangue nã o tinha esperado mais alguns
segundos.
O cérebro de Asher era uma tempestade torrencial de arrependimento,
mas arrependimento sobre qual parte exatamente ele nã o conseguia
descobrir. Arrependimento de ter deixado as coisas ficarem tã o físicas
como antes, apesar do lembrete muito claro de Malkolm de por que ele
nã o deveria fazer isso? Chupar e foder um dos vampiros de Morrigan era
uma traiçã o genuína ou apenas outra parte do jogo? Asher se arrependeu
de nã o ter levado as coisas ainda mais longe ?
Cara, ele nã o sabia o que queria mais. Lutar com ele ou transar com ele?
Talvez haja uma opção que combine os dois, Asher considerou sem
entusiasmo.
Ele sabia muito bem que livrar Nikola Kingston nã o era a chave para
convertê-lo ao Deus do Sangue. Asher zombou ao pensar na insistência
de Nikola em proteger aquele Seguidor de Sangue aleató rio. Ele não só
está deixando bem claro que nunca terá coragem de tirar uma vida, como
também está me fazendo sentir culpado por isso.
A ansiedade se enrolou dentro de seu peito. Se ele nã o conseguisse
converter Nikola logo, entã o ele seria transferido para uma tarefa
diferente: matá -lo. Que maldito desperdício isso seria.
Uma batida em sua porta o arrancou de seu pensamento obsessivo. Quem
diabos está acordado a esta hora além de mim? Cautelosamente, ele abriu
a porta para algum criado envolto em uma mortalha. Ele falou com uma
voz arejada. — Tenho uma mensagem de Lorde Malkolm.
Asher engoliu em seco. Era um bom sinal que o chefe nã o tivesse
aparecido pessoalmente.
— Cuspa.
— Houve notícias de Nikola Kingston visitando um Filho da Lua em
nosso territó rio. O dono da Birds of Paradise Tattoos, chamado
Watanabe Katsuki. Lorde Malkolm solicitou que você fizesse uma visita a
Watanabe uma hora apó s o pô r do sol.
Asher soltou um suspiro, como se estivesse entediado.
— Tudo bem,— ele admitiu, como se tivesse escolha. Ele pensou na tinta
decorando suas costas. Merda, talvez eu pudesse fazer um retoque. — Eu
posso fazer isso.

O jovem Seguidor de Sangue relembrou a ú ltima vez que esteve no


estú dio de Katsuki. Foi divertido colocar seu nú mero de telefone na caixa
de correio, embora na época ele nã o esperasse que Nikola respondesse a
mensagem. Ele só queria foder com a cabeça do cara. Ele nem tinha
certeza se o velho inglês sabia mexer no celular.
Cheio de surpresas, esse cara.
Ele apurou os ouvidos para ouvir que Katsuki tinha companhia. Quatro
ou cinco Filhos da Lua, exalando o perfume floral irresistível. Ah, tanto
faz. Eu não estou aqui por causa deles. Asher sacudiu os braços, estalou o
pescoço e bateu na porta. A pessoa que respondeu nã o foi Katsuki nem o
musculoso que fazia o papel de guarda-costas.
Em vez disso, uma linda mulher estava ali, toda vestida de couro, com a
maquiagem prateada para combinar com os olhos, incluindo o batom.
Criou um contraste vívido contra sua pele escura. Ela era inteiramente
Filha da Lua, mas a raiva agitada em seu olhar penetrante dizia algo
muito mais violento.
— Você.
Asher franziu a testa. Ele a conhecia? Ele normalmente ficava longe dos
Filhos da Lua – que nã o eram comparsas de Morrigan.
— Ah, eu? — ele repetiu suavemente. — Katsuki está aqui? Eu tenho
uma... consulta.
A mulher mostrou seus pequenos dentes de lua.
— Nã o, você nã o tem. Você está aqui por causa de Nikola.
Asher nã o lhe deu a satisfaçã o de uma reaçã o. Ele tinha ouvido rumores
de que alguns seguidores da Deusa podiam ler mentes, mas nã o poderia
ser tã o simples assim. A mulher tinha que conhecer o Filho da Lua
favorita de todos. — Hm, nã o está tocando nenhum sino. Posso passar?
Eu tenho um compromisso.
— Besteira.
Asher nã o esperava que ela se jogasse nele, chicoteando suas unhas de
acrílico afiadas e gritando palavrõ es como “Foda-se!” e “Fique longe de
nó s!” Ela conseguiu cortar sua bochecha. Asher evitou seus outros
ataques, subindo os degraus e saindo para as ruas para evitar que
pedaços inteiros fossem arrancados dele. Cristo, o que eles estão
alimentando os Filhos da Lua atualmente?
— VERONICA! — Katsuki apareceu na calçada, seus olhos metá licos
como faró is de luz no escuro. — Se acalme! Agora.
Veronica sibilou para Katsuki, sua mandíbula praticamente
desequilibrada. No entanto, ela cedeu ao controle emocional do antigo
vampiro, afastando-se de Asher. Asher nã o sabia o que dizer ou fazer e
apenas riu. Veronica atirou punhais nele com os olhos, pairando no topo
da escada. Embora controlado pelo mais poderoso Filho da Lua, era
obviamente por um fio.
Katsuki lançou uma carranca de advertência e se dirigiu a Asher parado
no centro da rua.
— O que quer que você queira saber sobre Nikola Kingston, nã o posso
ajudá -lo. Ele é de Lady Morrigan, e eu fico fora dos assuntos dos
Seguidores de Sangue.
Asher imaginou que seria assim.
— Oh vamos lá . Um cara nã o pode entrar?
Eles deram um olhar cético.
— Minhas reservas estã o encerradas. Você tem meu e-mail se desejar ser
colocado em uma lista de espera. Veronica aqui é minha aprendiz e fará
visitas, no entanto. — Veronica rosnou em sua garganta. Asher começou
a gostar do mal-humorado Filho da Lua.
Asher inclinou a cabeça para o lado com um sorriso.
— Achei isso adorá vel.
— Só farei isso se tiver permissã o para escolher a peça,— Veronica
retrucou, com desafio em seu olhar. O dono do estú dio empalideceu.
Asher admirou a mulher por conseguir surpreender Katsuki entre todas
as pessoas.
— Oh cara.— Asher riu. Ele espiou as tatuagens da mulher, uma
mariposa caveira e uma videira curvando-se por todo o seu braço
esquerdo. — Você está ligado.
Ele tinha um pressentimento de que terminaria a noite com um pau
gigante grudado em sua pessoa ou com um trabalho malfeito
propositalmente. Pelo menos terei uma história para contar.

Você provavelmente está se perguntando como cheguei aqui, Asher narrou


para si mesmo enquanto se sentava em uma cadeira reclinada de couro,
seu antebraço direito sendo bicado pela má quina de tatuagem de
Veronica. Ele nã o conseguia parar de sorrir para ela e, embora nã o
tivesse o poder de ler as emoçõ es, sabia que ela estava desconcertada
com o resultado da noite.
Ela estava livre, aparentemente, e ele nã o olhou muito de perto. As
surpresas tornaram a vida mais divertida.
— Você conhece Nikola,— ele começou casualmente.
Ela ergueu a má quina vibrante e limpou o sangue e o excesso de tinta da
tatuagem inacabada. Ela olhou para ele por baixo das sobrancelhas.
— Nã o é da sua conta.
— Bem, você realmente nã o escondeu o fato,— Asher brincou. Ela
retomou a tatuagem, fazendo questã o de começar pelo cotovelo, na curva
mais sensível. Ele deu uma gargalhada estridente quando a dor derretida
penetrou entre suas camadas de pele.
— Ele voltou para casa coberto de sangue,— disse Veronica, mal
reagindo à s risadas. — O que você sabe sobre isso?
Casa? Oh. Eles compartilhavam um coven. Asher estava curioso sobre os
outros membros. Todo o bando era tã o temível e corajoso quanto Nikola
e Veronica? Asher agiu como se nã o tivesse percebido o deslize de
informaçã o. Katsuki, no entanto, ergueu os olhos do bloco de desenho.
— Sim, isso,— disse Asher. — Você deveria ter visto o outro cara.
Veronica parecia pronta para enfiar a agulha diretamente em seu olho.
Felizmente, ela nã o fez isso. Asher descansou no encosto de cabeça e
fechou as pá lpebras. Ele achou engraçado que as dois Filhos da Lua
ruivas estivessem petrificadas e em silêncio no sofá . Asher nem
conseguia se lembrar de uma ocasiã o em que realmente machucou um
Filho da Lua, mas as reputaçõ es nem sempre pintavam o quadro
completo.
— Você nã o tinha um aprendiz da ú ltima vez que estive aqui, — Asher
bateu um papo, relaxando ao som do zumbido.
Ele ouviu a pausa do estêncil de Katsuki.
— Veronica me deu o esboço de uma rosa para as férias e decidi colocá -
la sob minha proteçã o.
— A ú ltima vez que você esteve aqui? — Veronica repetiu. Ele a sentiu
examinando seus braços nus.
— Parte traseira,— ele respondeu suavemente. Ela congelou e ele abriu
um olho para avaliar sua reaçã o.
— Oh, você conseguiu a Torre de Babel,— disse ela. Ele apenas sorriu. —
Você já viu isso em seu corpo, sem reflexo e tudo mais?
— Nã o é para mim,— disse Asher em tom baixo, encerrando a conversa e
fechando os olhos novamente. Veronica bufou, mas nã o pressionou mais.
Estou começando a gostar muito dessa Filha da Lua.
— Tudo bem,— disse Veronica alguns minutos de silêncio depois,
encerrando a sessã o improvisada. Ela limpou o excesso de sangue e tinta
da peça. — Tenho que perguntar, — ela disse enquanto lavava as linhas
novas com espuma anti-séptica. Ele impediu-se de estremecer,
identificando imediatamente a fonte da sensaçã o de ardor: á gua salgada
misturada com o sabonete. Ah, então foi assim que os tatuadores de
vampiros fizeram. — Você ainda sente dor?
— Claro que sim. Você acreditaria que eu era uma vadia quando se
tratava de dor como humano?
Veronica bufou.
— Para começar, dificilmente acredito que você tenha sido humano.
Ai. Isso doeu mais do que o processo de tatuagem. Asher revirou os olhos
e finalmente examinou a tatuagem misteriosa gravada permanentemente
em sua pele por alguém que odiava sua existência.
As fases da lua, realisticamente detalhadas, corriam verticalmente ao
longo de seu antebraço. Pó sombreado entre cada lua, representando a
Via Lá ctea. Os lá bios de Asher se separaram, aliviado por nã o ser
genitá lia, mas mesmo assim confuso. Veronica sorriu presunçosamente
diante da admiraçã o indisfarçada do Seguidor de Sangue.
— Eu estava esperando algo fodido, — ele admitiu.
Veronica zombou.
— Quero dizer, eu pensei sobre isso, mas Kat me mataria se eu fizesse
isso na loja dele. Eu sou uma profissional e você é um cliente.— Ela
pegou seu pulso e ajustou seu braço, examinando a tatuagem sob uma
iluminaçã o diferente. Asher percebeu que ela nã o se esquivou nem uma
vez de tocar sua pele, enquanto a maioria dos Filhos da Lua mantinham
distâ ncia se ele cruzasse seu caminho. — O ciclo da lua. Para a Deusa da
Lua.
Asher inclinou a cabeça para trá s e gargalhou, fazendo com que os
tímidos Filhos da Lua do sofá se assustassem. Ele bateu palmas uma vez,
rindo tanto que lá grimas se formaram em seus olhos.
— Você,— ele disse, apontando para Veronica com um sorriso selvagem.
— Gosto de você.
— Pare de se debater,— ela retrucou, agarrando seu braço novamente.
— Eu ainda preciso embrulhar.
Quando ela começou a embrulhar o braço em plá stico, Asher disse: —
Quanto eu te devo, afinal?
— Imagino que pedir para você deixar Nikola em paz seria um preço
muito alto para uma ú nica tatuagem,— disse ela, seu olhar prateado
subindo para o rosto dele.
— Ah, eu gosto demais de Nikki para isso,— disse Asher com uma voz
dramatizada e sonhadora. Ela franziu a testa para ele, provavelmente
confusa com a falta de ó dio ou seja lá o que ela achava que ele sentia pelo
cara. — É apenas um assunto de Sangue, querida. Eu nã o pretendo
realmente machucar o cara.
A menos que as ordens mudem.
A raiva ondulou em seu rosto. Ela enfiou o polegar no centro da lua cheia
através do plá stico, fazendo Asher gritar, mais de surpresa do que de dor,
embora doesse como uma cadela.
— Achei que você tivesse dito que é uma profissional! — ele
choramingou.
— Nã o me chame de “querida”,— ela disse suavemente. — Foi uma
sessã o de uma hora, entã o é cento e cinquenta. Eu sei que você tem isso
em dinheiro de extorsã o nos bolsos.
— Oh, por favor.— Asher se levantou da cadeira e pegou sua jaqueta de
couro pendurada nas costas, tirando a carteira dos bolsos. — Eu nã o faço
mais aquela cena de extorsã o. Está abaixo de mim.— E realmente chato
pra caralho.
Veronica revirou os olhos, sem dizer nada enquanto pegava o maço de
dinheiro. Ela arqueou uma sobrancelha quando contou os vinte.
— Ah, você tem certeza? Isso é literalmente o dobro do que acabei de
citar.
Asher acenou, vestindo o casaco novamente.
— Você nã o deveria dar uma gorjeta ao seu tatuador ou algo assim?
— Mas...
— De qualquer forma, Katsuki,— ele interrompeu, virando as costas para
ela. Ela resmungou incoerentemente enquanto começava a limpar e
reorganizar seu espaço de trabalho. — Nã o vou agir como se tivesse
vindo aqui só para fazer a tatuagem. Isso seria um insulto, na verdade.
Mas também nã o vou fazer nenhuma merda de interrogató rio policial.
Malkolm está de olho neste lugar porque Nikki está indo e vindo. Só
preciso de uma boa desculpa para dar a ele, para que ele nã o mande
Riccardo, que faria algo estú pido como destruir o lugar.
— O Vampiro Mascarado,— Katsuki murmurou. — Isso seria um
incô modo.— Katsuki olhou para Veronica, com questionamento em seus
olhos.
Veronica suspirou e disse: — Sou membro do clã de Nikola e Katsuki é
um amigo em comum. Nada mais nada menos.
— Nikki está perguntando por Malkolm aqui? — Asher disse.
Katsuki encolheu os ombros.
— Ele perguntou sobre a á rea devido ao fato de eu morar aqui, mas tento
evitar pessoas da sua espécie. Nã o é como se eu fosse muita ajuda,
mesmo que eu quisesse. Vivo neste planeta para criar arte, nã o para me
intrometer em assuntos de animais e assassinos.
Droga, me diga como você realmente se sente.
— Tudo bem, isso é bom o suficiente para mim.— Asher cambaleou em
direçã o à porta da frente, acenando com a mã o sem olhar para trá s. —
Vejo você por aí. — Só por diversã o, ele lançou um sorriso com presas
para os dois quietos Filhos da Lua no sofá . A dupla evitou seus olhos
completamente.
CAPÍTULO DEZESSETE

NIKOLA

Nikola relatou ao Mestre Corvellious em seu escritó rio. Ele tinha acabado
de explicar seu recente fogo cruzado com Asher Black, omitindo alguns...
detalhes desnecessá rios. Ele ainda podia praticamente sentir o
desconforto de seu orgasmo sendo arrancado dele. Eu realmente fodi o
rosto de Asher? Nas ú ltimas horas, Nikola esteve em constante batalha
consigo mesmo, enfrentando fantasias e desejos proibidos. Não posso
deixar isso ir tão longe de novo.
Mas se eu deixasse isso florescer, isso abriria Asher Black para mim?
Nikola se sentiu mal só de pensar em usar a atraçã o de Asher por ele
dessa maneira.
E o que dizer do meu próprio coração?
— Entã o, Riccardo convidou você para a corte de Malkolm,— Corvellious
pensou em voz alta. Seus olhos se iluminaram, um sorriso raro tocando
seus lá bios. — Nikola, meu filho, você entende o que isso significa?
Oh não.
— Você deseja que eu finja interesse,— deduziu Nikola, sua alma
esfriando. — Um agente duplo.
— Precisamente. — Corvelious levantou-se. — Vá . Morrigan
normalmente nã o desculpa ser interrompida, mas ela ficaria ainda mais
irritada se nã o lhe contá ssemos esse novo acontecimento
imediatamente.
Nikola nã o estava em posiçã o de discutir, seguindo Corvellious e
tentando nã o pensar nos dias em que ele era considerado o príncipe de
seu criador.

Nikola tinha sido autorizado a entrar no escritó rio de Morrigan apenas


uma vez antes – quando Corvellious o trouxe até ela para solicitar a
servidã o de Nikola. Já se passaram três décadas e pouco mudou no
escritó rio desde entã o. O espaço era um tesouro de histó ria exibido atrá s
de um vidro: estatuetas antigas de deuses e deusas, pinturas de valor
inestimá vel, armas de fogo obsoletas e peças de armadura de diversas
idades e culturas. Nenhum deles estivera em sua posse antes de Grander
— pois nã o havia espaço nas primeiras velas para tais tesouros — mas
foram comprados ou recebidos como presentes ao longo do ú ltimo
século.
Nikola e seu criador curvaram-se enquanto Morrigan tamborilava as
unhas irritada. Mestre Corvellious foi direto ao assunto, detalhando a
oferta de Riccardo e como Corvellious desejava tirar vantagem dela.
— Nikola nã o precisa ficar restrito à s ruas de Malkolm, mas também ter
permissã o para entrar em sua corte.
Nikola nã o disse nada. Embora fosse mais jovem que os outros dois
vampiros, ele se sentia como apenas mais uma exposiçã o do museu
pessoal de Morrigan.
A senhora piscou lentamente, sem se impressionar, sem compartilhar a
excitaçã o de seu segundo em comando. O sorriso de Corvellious vacilou.
— É prová vel, — começou a senhora, — que eles antecipem o seu plano.
Esclareça-me, Mestre Corvellious. Se Nikola aceitasse a proposta de
Riccardo, você acredita que Malkolm o deixaria ir embora? Por favor,
diga, se enviarmos Kingston como espiã o ou plantar ele como uma
espécie de bomba-reló gio, como nos comunicaríamos com ele? O pró prio
Malkolm pode ser um idiota com tecnologia, mas Riccardo monitora a
atividade online de seu clã .
Isso é verdade? Asher sabia disso? Como se tivesse sido estimulado pela
conversa, seu celular vibrou no bolso de trá s. Agora nã o era hora de
verificar, mas parecia um peso que ele nã o podia ignorar completamente.
Apenas uma em cada três pessoas estaria enviando mensagens de texto
para ele.
Os punhos de Corvellious se apertaram ao lado do corpo. Nikola podia
ouvir o tremor nas palavras do Mestre enquanto tentava falar com calma.
— Mas nã o devemos deixar escapar esta oportunidade, minha senhora.
Quem sabe quando algo assim poderá surgir novamente?
Morrigan beliscou a ponta do nariz. Corvellious, sobre gelo fino, baixou o
queixo.
— Sua excitaçã o é prematura. A oportunidade acabará se você se
apressar. Nikola, lembre-se de que minha palavra é final, nã o a do seu
criador.— Nikola a reconheceu com uma breve reverência. Os nó s dos
dedos cerrados de Corvellious ficaram ainda mais brancos. —Precisamos
saber mais antes de abordarmos a oferta de Riccardo, devemos esperar
para ouvi-la oficialmente por Lorde Malkolm, antes de mais nada.
— Minha senhora, se me permite, existe uma coisa de ser
excessivamente cauteloso...
Lady Morrigan se levantou, sua raiva era uma chama escura enchendo a
sala. De repente, o espaço parecia muito mais confinado, a pró pria
Morrigan parecia mais alta, seu antigo poder formando um arco como as
penas de uma coruja desafiada. Corvellious caiu de joelhos, abaixando a
testa no chã o. Em um segundo, Morrigan cresceu com a autoridade
esmagadora de uma mulher que já havia comandado frotas de navios
gregos.
— A ousadia destró i exércitos e marinhas inteiras. Nikola Kingston é o
nosso activo mais valioso na fase actual e nã o vamos deitá -lo fora de
forma tã o descuidada. Se suas ideias frá geis sobre um agente duplo
mostrarem algum mérito no futuro, talvez eu as considere, mas agora
elas estã o pouco mais do que a fantasia de um homem que nunca liderou
nem um país nem um exército. — Morrigan voltou sua atençã o para
Nikola. De repente, sentindo-se encurralado, ele se arrependeu de nã o
ter se ajoelhado ao lado de Corvellious. — Nikola, você está dispensado.
Mestre Corvellous, levante-se. Temos outros assuntos para discutir.
Nikola ficou mais do que feliz em deixar a toca da víbora provocada. Foi
só quando ele estava no corredor, com a porta trancada atrá s dele, que o
alívio se instalou. Afinal, ele nã o seria forçado a ficar sob a mã o de Lorde
Malkolm – pelo menos nã o por enquanto. As circunstâ ncias pareciam
evoluir a cada noite.
Por enquanto, tudo o que ele podia fazer era verificar o telefone. Ele
quase esperava que fosse algum e-mail de spam que precisasse da ajuda
de Veronica para silenciar... de novo. Mas era o nome de Asher brilhando
na tela.
North
Encontre-me na quadra de basquete na 7th . Meia-noite.

Nikola pensou em ligar para ele e avisá -lo sobre a suposta espionagem
de Riccardo, mas nã o sabia o suficiente sobre tecnologia para ter certeza
de que as chamadas telefô nicas também nã o seriam grampeadas.
Certamente nã o, talvez apenas o histó rico de chamadas, mas Nikola nã o
queria arriscar. Ele concordava com Morrigan sobre ousadia e exércitos,
embora nã o se considerasse um soldado.
Embora eu suponha que dançar com o inimigo como se fôssemos amigos
seja muito ousado.
O pênis de Nikola se contraiu e suas presas latejaram em antecipaçã o. Ele
temia estar começando a perder de vista o que diabos deveria estar
fazendo em primeiro lugar.
CAPÍTULO DEZOITO

ASHER

Eu estarei lá.

Asher apareceu alguns minutos atrasado porque imaginou que Nikola


chegaria ainda mais tarde.
Ele trouxe uma bola de basquete, arremessou cestas de três pontos e
acertou a maioria delas. Ele foi o melhor lançador do ensino médio. O
treinador ficou muito chateado quando ele saiu - mas ser despido e
espancado pelos outros companheiros normalmente prejudicava o
desempenho de qualquer maneira.
O humor de Asher despencou.
Seu pró ximo tiro ricocheteou no aro. Ele observou a bola rolar até o meio
da quadra, perguntando-se onde estavam seus antigos companheiros de
equipe agora, se valeria a pena caçá -los. Se ele quisesse vingança contra
aqueles que o machucaram durante sua vida humana, começaria por
eles. Mas ele nã o gostava de pensar em seus dias mortais. Além disso,
outras pessoas fizeram coisas piores com ele como vampiro. E ele serviu
um daqueles filhos da puta.
Quando Asher se abaixou para pegar a bola, ele ouviu passos atingirem o
asfalto, acompanhados de um perfume rosado captado pela brisa gelada.
Cara, timing de merda.
— Mestre Asher, você me convocou?
Rangendo os dentes, Asher deu um tapa na bola e girou nos calcanhares,
jogando a esfera laranja na cabeça de Nikola. Ele assobiou no ar, fazendo
um som como o de uma mola liberada quando Nikola o pegou
habilmente. Ele examinou a superfície texturizada com uma expressã o
perplexa, como se nunca tivesse visto uma maldita bola de basquete
antes. Merda, talvez ele nã o tivesse. Isso foi engraçado o suficiente para
derreter a angú stia gelada de Asher.
— Pare com essa merda de “Mestre”. Você literalmente colocou seu pau
na minha boca ontem à noite.
As bochechas de Nikola coraram. Asher olhou para a cor com interesse,
tentado a perguntar quando seria sua vez de se alimentar de Nikola.
Nikki olhou em volta nervosamente. O quê, ele temia que alguém ouvisse
a conversa gay? Bem, na verdade, talvez eu devesse estar mais preocupado
com isso.
— Você sabe onde Riccardo está ?— Nikola perguntou.
— O que? O que diabos ele tem a ver com alguma coisa?
Nikola passou a bola com um salto. Asher driblou, de frente para o gol
enquanto Nikola se juntava a ele no meio da quadra.
— Ouvi rumores de que Riccardo mantém um registro dos textos e
mensagens enviadas pelos subordinados de Malkolm. Nã o estaria muito
longe da lei de Morrigan que proíbe o uso das redes sociais. Achei que se
você nã o soubesse, você iria querer.
Merda, isso foi real? Como Nikola, entre todas as pessoas, saberia disso,
mas nã o Asher? Nã o era como se ele tivesse enviado algo criminalizando,
mas se fosse verdade, certas coisas se somavam. Asher foi chutado pela
dura realidade. Embora tivesse conquistado o segundo comando, isso
nã o significava que Malkolm confiasse mais nele. Riccardo estava lá
desde o início de Grander – e antes, provavelmente.
Malkolm era de Roma e Riccardo do início da Itá lia. Malkolm nã o foi o
criador de Riccardo? Asher foi açoitado por um ciú me indesejá vel. Essa
era uma dinâ mica que Asher nem sonhava em superar. Por que me
importo tanto?
— Nã o vejo como isso é da sua conta, — Asher murmurou, colocando
uma má scara. Cristo, isso significava muito perto de um maldito Filho da
Lua. Ele chutou, a bola passando suavemente pelas cordas esfarrapadas
do gol.
O movimento chamou a atençã o de Nikola para a nova tatuagem de
Asher.
— Isso nã o estava lá antes,— observou Nikola.
Asher queria dizer: Tem certeza? Você estava focado na minha boca mais
do que no resto de mim da última vez que me viu. Mas havia um â ngulo
melhor em que ele queria jogar.
— Sim,— ele disse em vez disso. — Sua garota, Veronica, faz um trabalho
matador.— Ele correu para recuperar a bola e, quando se virou, viu uma
raiva incrédula curvando os lá bios de Nikola. Não estava esperando por
isso.
— O que você está fazendo perto de Veronica? — Nikola rugiu, fervendo
e sexy. Asher arqueou uma sobrancelha, mais excitado por seu
temperamento do que intimidado.
— Ela estava chateada por você também. Vocês sã o alguma coisa ou algo
assim? — Asher nã o deu muito mérito à ideia, caso ele ficasse com
ciú mes de novo ou alguma merda estú pida como essa. Ele se concentrou
em chutar da linha de falta, mas quando levantou a bola logo abaixo do
nível dos olhos, ela foi arrancada de seu controle. — Ei!
Nikola o segurou pela frente da camisa, com os dentes à mostra.
— Responda minha pergunta, Mestre Asher.
Eu bati em algo aqui. Até onde posso empurrá-lo?
— Eu tinha minhas ordens, cara. Você sabe como é.
As íris de Nikola se agitaram como fortes nuvens de tempestade. Ele
empurrou Asher de volta para o gol de basquete. O impacto vibrou
através do poste de metal.
— Fique bem longe desse estú dio. Você me entende?
— Nã o é crime fazer uma tatuagem, Nikki.
— Juro por Lua e Sangue, se você os machucar...— Ele parou no meio da
frase, o alarme apagando suas feiçõ es.
Asher inclinou o rosto com um sorriso.
— Você vai o quê, Nikki?
O peito de Nikola subia e descia com respiraçõ es pesadas, os mú sculos
de seu pescoço saltando. Asher lambeu seus caninos enquanto observava
a ferocidade dar vida ao Filho da Lua. Ele podia sentir o cheiro da
agressã o saindo dos poros de Nikola. Ele sentiu a força dos punhos de
Nikola pressionando seu peito, uma quantidade profana para um Filho
da Lua. Essas mã os poderiam quebrar ossos sob o Chifrudo.
— Pense em como Grander e todos os seus amiguinhos estariam muito
mais seguros se você me matasse, Nikki.— Asher nã o estava tentando
parecer suicida. Acho que já tive prática.
As sobrancelhas de Nikola se franziram.
— Nã o,— ele rosnou, o soltando e recuando. Uma sombra indiscernível
caiu sobre suas feiçõ es. Droga, estávamos chegando a algum lugar! — É aí
que você está errado.
— O que? — O que isso quer dizer?
— Um Seguidor de Sangue morto... seria apenas uma gota no balde.
Ninguém está seguro em Grander.
Droga, mantenha-me humilde.
— Falei com Veronica mais cedo,— disse Nikola, com sua chama
apagada. Preciso apontar uma arma para a cabeça de um amigo para
levá-lo ao limite? — Ela nã o mencionou você, mas sei que você nã o a
machucou. Por que você me convidou aqui? Para ameaçar meus entes
queridos por sua diversã o?
— Nã o, na verdade, mas agradeço como você me faz ser um vilã o dos
quadrinhos.— Asher sorriu com todos os dentes. — Eu queria... fazer um
tour. Estamos acompanhando onde você esteve e sei que você nã o
conhece o lado da cidade de onde eu venho.
Asher podia ver o conflito tã o claro como o dia em seu rosto enquanto
considerava a oferta.
— E por que você faria isso? Para me deixar sozinho e me matar?
O vampiro mais jovem bufou.
— Nã o, se eu tiver que te matar, eu quero uma audiência. Se eu
planejasse ficar sozinho com você, seria para te foder.
Nikola ficou vermelho. Deus, ele usava aquela cor tã o bem.
— Nã o consigo descobrir qual opçã o você deseja mais, Mestre Asher.
Isso lhe rendeu uma risada, mas nã o uma resposta. Asher avançou,
abandonando sua bola de basquete. Ele estava confiante de que a
curiosidade de Nikola o venceria. Nada como uma caixa de bolas azuis
para amarrar um homem.
Se eu continuar provocando-o e irritando-o, ele se tornará o Deus do
Sangue em pouco tempo.
CAPÍTULO DEZENOVE

NIKOLA

Como diabos Nikola Kingston acabou agachado atrá s de veículos


estacionados paralelamente com Asher Black? Ele ainda estava furioso
com o fato de Asher ter visitado o estú dio de tatuagem de Katsuki, mas
foi reprimido depois de enviar uma mensagem de texto para Veronica

sobre isso e receber um indiferente: Sim, fiz uma tatuagem para o

cara estranho. Ele é meio engraçado.

Engraçado. Certo. É por isso que eles estavam perseguindo outro


Seguidor de Sangue. Porque foi engraçado. O homem atarracado na mira
de Asher era mais alto que Nikola por uma cabeça com um corte de
cabelo curto. Ele usava camuflagem de caça apesar de estarem no meio
de uma cidade.
— Ele é o cara que eu estava procurando,— Asher murmurou, seus olhos
traçando cada passo do cara enquanto ele andava para cima e para baixo
na calçada. Ele estava esperando por alguém?
— Por que?— Nikola perguntou.
— Porque eu tenho algumas regras, Nikki, acredite ou nã o. Para começar,
se você nã o está se alimentando, nã o quero que mate por esporte. Isso é
apenas um desperdício. Má reputaçã o, tudo isso. Menores também estã o
estritamente fora dos limites. Que porra você ganha matando uma
criança? Isso é uma merda covarde.
Nikola ponderou sobre Asher. Morrigan tinha leis semelhantes, mas nem
sempre aplicadas com rigor. Ele ficou surpreso que Malkolm nã o tenha
vetado as regras de Asher, alegando fraqueza, mas provavelmente
Malkolm nã o se importava de uma forma ou de outra, desde que suas
unidades permanecessem nutridas.
— A terceira regra nos leva ao nosso amigo aqui. Nã o estupre pessoas,
especialmente aquelas de quem você se alimenta. Os Seguidores de
Sangue obtêm vida do sangue e poder da vida em que foram tirados.
Estupro nã o faz nada para nó s.
Nikola olhou para o Seguidor de Sangue que andava, refletindo o ó dio
refletido no rosto de Asher.
— Por favor, diga-me, como você aplica tais leis entre as fileiras
implacá veis de Malkolm?
— Oh, eu os mato.
Antes que a resposta de Asher pudesse ser absorvida, o jovem Seguidor
de Sangue disparou de trá s do carro, uma bala silenciada voando pelo
outro lado da rua. O primeiro instinto de Nikola foi intervir, mas a ironia
o impediu. Por que diabos ele tentaria impedir Asher quando ele ignorou
as açõ es dos Seguidores de Sangue dentro do pró prio clã de seu criador?
Porque ele achava que Asher era melhor que eles? Tolice.
Mesmo assim, ele nã o queria assistir.
Nã o foi tã o fá cil desviar o olhar. Asher se movia com delicadeza que
Nikola nã o tinha visto antes – nã o teve a chance porque Asher nunca teve
a intençã o de matar Nikola. Mas cada grama de brincadeira estava
ausente do jovem Seguidor de Sangue, seus movimentos eram precisos e
seus olhos queimavam pontos de luz vermelha, seus pró prios portõ es do
Inferno.
— Olá , Michael,— Asher sibilou, agarrando o ombro do homem. Com
uma força que Nikola nã o esperava, Asher jogou Michael no meio da
estrada. Michael correu de costas pelo chã o, o terror estampado em seu
rosto quadrado. Nikola nã o conseguiu levantar as paredes a tempo antes
de sentir o peso do medo do homem, medo de Asher Black, um medo
nascido da percepçã o de que Asher Black iria matá -lo.
Um medo que eu deveria sentir?
— Michael, Michael, Michael, — Asher disse em tom de repreensã o, no
ritmo de seus passos que se aproximavam. O Seguidor de Sangue tentou
se levantar, mas Asher o atingiu no crâ nio com a ponta de suas botas de
bico de aço, deixando para trá s uma fenda sangrenta. — Você sabe do
que se trata, nã o é?
— De que diabos você está falando? — Michael disse, pressionando a
mã o no corte raso. Sua voz estava vá rias oitavas mais alta do que Nikola
poderia imaginar. Nikola considerou fugir completamente da cena, mas
isso pareceu mais covarde do que se manter firme.
— Você acha que as Seguidoras de Sangue vã o ficar quietos quando
pegarem você estuprando outras mulheres? Por que diabos alguém iria
encobrir isso?
— Elas estã o mentindo! — Michael gritou, as palavras cantando com
lá grimas. Nã o havia um pingo de pena no olhar de Asher. Apenas o
dilacerante motivo assassino.
— Que merda estranha para mentir.— Asher pisou com força no joelho
esquerdo de Michael. Nikola se encolheu diante do grito de gelar o
sangue. — Nã o é como se eu nã o soubesse sobre seu histó rico criminal
quando Riccardo te denunciou há alguns meses. Você era um canalha
antes mesmo de mudar.
— Eu… eu… Mestre...
— Mestre, Mestre,— Asher provocou antes de se abaixar e pegar um dos
braços de Michael com as duas mã os, quebrando o osso como um galho
de á rvore. O estô mago de Nikola revirou com a rachadura molhada e os
gritos seguintes. Ele resolveu que, mesmo que nã o fosse seu direito
impedir Asher de disciplinar seu pró prio subordinado, ele nã o poderia
vê-lo torturar o homem à vista do pú blico.
Nikola saiu para a rua e colocou a mã o no ombro de Asher. Ele sentiu um
arrepio percorrer sua espinha quando Asher virou o brilho sanguiná rio
para ele. Sou um tolo por não temê-lo mais?
— Isso é o suficiente, Mestre Asher. Se você vai matá -lo, entã o mate-o.
Asher fez uma pausa, a confusã o brilhando em suas feiçõ es. Entã o,
bufando e com o fantasma de um sorriso, ele inclinou a cabeça para o
lado. Algo estava realmente errado com o segundo em comando de
Malkolm. O que ele estava vendo nã o poderia ser apenas uma encenaçã o
do jovem. Havia uma identidade entrelaçada com a má scara que Asher
Black usava.
— Aqui.— A mã o de Asher caiu para sua cintura. Nikola estremeceu para
trá s instintivamente, antecipando um ataque cortante, mas Asher estava
empurrando o cabo para ele. — Vamos, você sabe que quer.
Nikola deu um passo para trá s, olhando para a faca como se ela fosse
radioativa.
— Asher...
— Ele é um maldito estuprador, cara. Você nã o consegue nem matar um
deles? Se você deixar um serial killer viver e ele matar mais dez homens,
quanto desse sangue estará em suas mã os?
Nikola engoliu em seco. As palavras de Asher ecoaram a mesma voz
interior que assombrava Nikola há séculos. Sou igualmente responsável
pelas vidas que Corvellious ceifou ao longo dos anos? A garota Blood que
ele guiou para fora de Grander, Brie, veio à mente. Seu pró prio criador
massacrou a família dela apenas para provar algo. Nikola era um
monstro por procuraçã o. Ele nã o conseguia entender por que seus olhos
ainda brilhavam prateados.
Foi inevitá vel?
Ele olhou para o Seguidor de Sangue choramingando e sangrando no
concreto. Um maldito estuprador, isso é o que ele era. Se o caminho de
Nikola em direçã o ao Deus do Sangue era inevitá vel, que melhor presa
para começar? Ele finalmente teria forças para virar a maré da guerra a
favor de Morrigan.
Os dedos de Nikola se contraíram.
O sorriso de Asher se espalhou por todo o seu rosto.
Não, aqui não. Agora não.
— Mesmo se eu quisesse, — Nikola retumbou, desviando o olhar da faca
e de volta para o amassado Seguidor de Sangue, — eu ainda estou no
territó rio de Malkolm. Isso significaria retaliaçã o, considerando todas as
coisas, e entã o possivelmente guerra.
Asher resmungou.
— Estou lhe dando permissã o aqui. — Ele chegou mais perto com a faca.
— Você disse uma vez que eram os olhos e os ouvidos desta cidade. Eu
acredito em você, nã o me entenda mal. Mas nã o é só você quem vigia,
Mestre Asher. Você nã o consegue sentir os outros observando nas
sombras?
Sua antecipaçã o e seus olhares eram um miasma denso que cercava
Nikola. Asher suspirou pesadamente, cedendo, e deixou cair a faca de
volta ao seu lado.
— Você pode ser um verdadeiro assassino, você sabe.— Sem outra
palavra, ele se virou e enfiou a lâ mina na garganta do Seguidor de
Sangue.
CAPÍTULO VINTE

ASHER

— Encontre-me no shopping abandonado amanhã à noite, — Asher


sussurrou enquanto passava por cima do Seguidor de Sangue morto. Ele
nã o se incomodou em olhar para trá s para avaliar a reaçã o de Nikola ou
para obter uma confirmaçã o. Nikola estaria lá , ele sabia disso.
Asher escalou uma escada de incêndio até os prédios unidos de Grander.
Aquela merda sobre Riccardo — ou qualquer um, na verdade — rastrear
suas mensagens era chocante o suficiente para fazê-lo agir com
segurança. Er, seguro. Quanto ao que Asher havia planejado para o
shopping abandonado, ele ainda nã o tinha certeza. Tinha que ser algo
drá stico. Ele tinha chegado tã o perto. O que ele teria que fazer? Talvez ele
pudesse colocar as mã os em algum humano idiota, usá -las para tentar
algum Seguidor de Sangue novato na frente de Nikola. Nã o, isso parecia
muito pró ximo do que Malkolm tinha feito com Asher. Asher teria que
usar a serra de vaivém no filho da puta?
Ele saltou de um telhado para outro antes de receber uma visita, aquela
pela qual estava esperando.
— O que exatamente foi isso, Mestre Asher? — Riccardo perguntou atrá s
dele.
— Disciplina,— Asher disse, suas lâ minas pesadas e quentes em seus
quadris. Vou fazer de você um exemplo a seguir. Ele se livrou da vontade
de falar a ameaça, sabendo que se continuasse dizendo merdas assim,
eventualmente teria que confessar isso. E ele ainda nã o tinha certeza se
Malkolm iria matá -lo por causa de Riccardo ou nã o.
— E daí? Quem disse que você poderia me questionar?
— Você ofereceu a Nikola Kingston a lâ mina para matar um dos servos
de Malkolm. Pelo que entendi, Lorde Malkolm espera que Nikola se
converta através de um humano, e nã o de um dos nossos.
— Ele realmente nã o especificou, nã o é? — Riccardo olhou carrancudo,
mas nã o discutiu mais. Asher resistiu a revirar os olhos, esperando
receber um esclarecimento doloroso mais tarde. Maldito narcotraficante.
— Independentemente disso, ele nã o mordeu a isca.— Riccardo olhou
para a rua onde Asher matou Michael. Nikola já havia partido e o cadá ver
de Michael também havia desaparecido - reduzido a cinzas, levado pelo
vento. — Lorde Malkolm está perdendo a paciência, Mestre Asher.
— Sim, sim, estou trabalhando nisso. Seria muito mais fá cil sem idiotas
respirando no meu pescoço. Se Chefe tiver algum problema, ele me
contará pessoalmente.
— Na verdade, é por isso que estou aqui,— cortou Riccardo. Asher
engoliu em seco contra o frio em seu estô mago. — Lorde Malkolm
convoca você aos seus aposentos o mais rá pido possível.
Cristo em uma bicicleta.
Asher prendeu a respiraçã o ao passar pela porta da câ mara de Lorde
Malkolm. A ú ltima vez que ele esteve aqui... bem, nã o valia a pena olhar
para trá s. Histó ria antiga, férias cruéis de realidade. Asher desejou que
estivesse vazio, entã o seu coraçã o acelerado nã o tinha nada para
alimentá -lo.
Lorde Malkolm estava sentado à sua escrivaninha, velas acesas e uma
caneta dourada rabiscando papel pergaminho grosso. Asher podia ver
apenas um pequeno canto, mas era obviamente uma língua que ele nã o
conseguia ler – possivelmente uma que estava oficialmente extinta. Huh,
me pergunto se viverei o suficiente para ver o inglês moderno sair de moda.
Afastando pensamentos perturbadores, Asher caiu de joelhos.
Considerando algumas das merdas que ele tinha feito com Nikola, ele
imaginou que seria uma boa ideia beijar um pouco o traseiro. Ou, diabos,
talvez isso só me faça parecer mais culpado.
— Você estava me esperando, meu senhor,— disse Asher. Ele sabia
muito bem que quando Malkolm estava no meio de suas recontagens
históricas, era praticamente necessá rio sacudi-lo para chamar sua
atençã o.
—Jovem, saudaçõ es.— O apelido carinhoso foi como um tapa na cara. O
senhor deixou de lado a caneta esferográ fica — uma invençã o
relativamente moderna para as mã os de Malkolm. — Dê-me uma
atualizaçã o sobre Nikola Kingston.
É melhor você não estar me testando agora.
—Indo devagar, eu admito. Mas acho que estou progredindo. O cara tem
muita raiva queimando dentro dele, isso é certo. Ainda estou tentando
descobrir como aproveitar isso.
— Hum. Você está jogando muito bem. — Ele se levantou da cadeira e
encarou Asher. Ele traçou uma longa unha na borda da mandíbula de
Asher, provocando um arrepio involuntá rio no jovem Seguidor de
Sangue. Ele inclinou o rosto de Asher por baixo do queixo. — Você é mais
inteligente do que isso. O Filho da Lua nã o desistirá com um simples jogo
de gato e rato. Foi necessá rio o massacre de todo o clã do Mestre
Corvellious para convertê-lo.
Duas coisas impressionaram Asher ao mesmo tempo com as novas
informaçõ es. Primeiro, resolveu a questã o de como diabos um Seguidor
de Sangue criou um Filho da Lua tã o teimoso... porque isso tecnicamente
nã o tinha acontecido. Em segundo lugar, Asher sabia exatamente onde
Lord Malkolm queria chegar com isso.
— Aqui estã o alguns conselhos, jovem. Para levar um vampiro, qualquer
vampiro, ao seu limite, drene-o. Quando você forçar Nikola a escolher
entre a Deusa ou o Deus, certifique-se de que nenhuma gota corra em
suas veias.— Como se fosse uma demonstraçã o, Malkolm beliscou o
rosto de Asher e puxou sua cabeça para o lado, atingindo a jugular de
Asher. Asher sentiu seus mú sculos saltarem, mas por outro lado ele nã o
emitiu nenhum som, nã o tentou fugir, mesmo que as fibras de seu ser
queimassem de agonia, mesmo quando sua força e força vital foram
roubadas à força.
Sua mente voltou para a alimentaçã o de Nikola. A pressã o angelical de
seus lá bios, o prazer líquido banhando sua pele. Já se passaram alguns
dias, mas Malkolm consegue sentir o cheiro de Nikola em mim?
O sangue restante jorrou da artéria moribunda, acumulando-se nas
cavidades da clavícula de Asher. A sala girou nauseantemente,
balançando até virar. Com os lá bios manchados de vermelho, Malkolm
sussurrou no ouvido de Asher: — Você tem até o Halloween para
converter Nikola Kingston. Drene-o e use seu clã contra ele. Caso
contrá rio, ele simplesmente ficará no nosso caminho e você terá a tarefa
de matá -lo. E isso seria marcado como fracasso. Você deseja falhar
comigo, jovem?
— Nã o, meu senhor,— Asher respirou, seu vigor tã o morto quanto um
atropelamento.
— Bom, bom. Eu sei que você nã o vai, jovem. Agora, venha para a cama.
Huh? Asher saiu do chã o – merda, quando eu caí? – e fez o que lhe foi dito,
cambaleando em direçã o ao colchã o circular. Malkolm o queria agora? O
vampiro mais velho nunca tinha deixado Asher retribuir quaisquer
favores sexuais antes, o senhor sempre no controle total de seus
pró prios orgasmos, e Asher, sem sangue, era efetivamente inú til no
departamento de ereçã o. Malkolm viu a confusã o no rosto cansado de
Asher e riu, acariciando a maçã do rosto de Asher com as costas da mã o.
— Apenas durma, jovem. Estarei aqui quando você acordar.
O que mais Asher poderia fazer? Nã o era como se ele pudesse dizer nã o
ao lorde vampiro. Tremendo de fome e desconforto, ele se arrastou para
os lençó is, acolhendo a contragosto seu calor, e mergulhou em sonhos
conflitantes envolvendo Malkolm com olhos prateados e Nikola com um
olhar vermelho.
Ele foi acordado pela carícia suave de unhas afiadas. Em sua confusã o e
tristeza, ele esqueceu em que ano está vamos, acreditando que era nove
anos antes. O sangue de Malkolm escorria em seus lá bios e ele procurou
a ferida aberta entre os lençó is, seus dentes encontrando um pulso
cortado.
A natureza do corte o estimulou de volta ao presente. Malkolm nunca o
havia alimentado com nada além da garganta antes. Isto nã o era para ser
tã o íntimo como nos tempos anteriores. Mesmo assim, Asher aceitou
graciosamente, rosnando de satisfaçã o enquanto seus vasos sanguíneos
vazios eram reabastecidos.
Ele reprimiu um gemido quando Malkolm se afastou, sua natureza
incitando-o a pegar mais até que nã o houvesse mais nada para pegar,
mas sem o tambor do Deus do Sangue, ele nã o agiu por impulso.
— Venha, jovem,— disse Lorde Malkolm, levantando-se da cama. Ele
usava um terno roxo, como um excêntrico chefe da má fia. Ele só estava
sentindo falta do charuto. Asher ainda estava usando as roupas de
ontem, salpicadas de sangue. Acho que está de acordo com o curso.
Mesmo assim, ele planejava tomar banho sempre que tivesse
oportunidade.
Asher saiu das cobertas e silenciosamente se escondeu atrá s de Lorde
Malkolm, ainda sedento e perplexo. Que porra estava acontecendo aqui?
Asher se viu preferindo a brutalidade de Malkolm mais do que o afeto
repentino. A brutalidade moldou Asher em quem ele era hoje, era algo
que ele entendia como a palma da sua mã o. Mas o afeto era perigoso.
Malkolm só dava quando queria algo em troca, e Asher era burro o
suficiente para desejar isso.
Os dois serpentearam pelos tortuosos corredores subterrâ neos. Foi só
quando chegaram ao topo da escada que levava à mansã o que Malkolm
explicou: — Quero que você conheça alguém. Ela é uma recruta mais
recente, mas suas circunstâ ncias sã o... incomuns. Ela veio até nó s ontem
à noite depois que você adormeceu.
Veio até nós? Espere, nós não a mudamos?
— Ela está esperando por nó s no salã o de baile.
Asher abriu a porta para Malkolm e seguiu atrá s dele. Quando Malkolm
se afastou, revelando seu mais novo recruta na parte inferior da escada,
Asher sentiu o mundo girar sob seus pés.
Ela é a garota que pegou Nikola e eu no shopping.
Ela sorriu para ele, suas presas eram menores que as da maioria dos
Seguidores de Sangue. Ela se curvou em uma reverência, sua voz nã o
revelando nenhum sinal de reconhecimento.
— Mestre Asher, é um prazer conhecê-lo e atendê-lo.
Ela está fingindo que não me conhece. Ou ela simplesmente nã o se
lembrava dele? Asher nã o tinha certeza. Ele podia sentir a incerteza
penetrando em seus ossos, ameaçando infectá -lo com paranoia e pâ nico.
Apenas jogue junto.
— E aí? — ele disse casualmente, enfiando os polegares nos bolsos da
calça jeans rasgada. — O que traz você à cidade?
Malkolm começou a descer as escadas. Asher o seguiu logo atrá s, de olho
no recém-chegado. O senhor parou a alguns passos da mulher. Como era
de costume, Asher seguiu em frente, colocando-se entre o possível perigo
e seu senhor.
— Esta é a jovem Brie, um ex-membro de Lady Morrigan.— Asher
estreitou o olhar, fingindo que esta era uma informaçã o nova. — Ela me
pediu para me juntar à s minhas fileiras e eu permiti.
— Você o que? — Asher gaguejou, voltando-se para seu pró prio senhor.
Malkolm ergueu uma sobrancelha bem cuidada, um aviso sutil. O coraçã o
de Asher, embora batendo fracamente devido ao suprimento limitado de
sangue, tremeu de nervosismo. — Tem certeza de que ela nã o é uma
espiã ? — Ambas as sobrancelhas afiadas de Malkolm se ergueram. Se
Asher nã o recuasse logo, ele iria levar uma surra nele, mas nã o conseguia
se controlar. — Por que diabos um membro da Morrigan iria querer se
juntar a nó s?
Enquanto Asher zombava, ele fez questã o de olhar para Brie, como se
estivesse falando com ela, mas ela havia sumido. Ele se encolheu,
examinando o salã o de baile, mas ela nã o estava em lugar nenhum.
— Que porra? Estou vendo fantasmas ou algo assim?
— Mestre Asher, garanto a você, depois que Corvellious massacrou
minha família humana na minha frente, nã o quero nada além de
vingança contra todo aquele clã .
Asher gritou, virando-se para encontrar Brie sorrindo atrá s dele.
A risada de Malkolm foi alegre.
— O que você acabou de testemunhar é exatamente o motivo pelo qual
eu a recrutei. Na verdade, foi por isso que Riccardo a procurou quando a
encontrou se aproximando de nossa mansã o. Ele nã o conseguia encostar
a mã o nela, e uma vez que ela se fundiu nas sombras, ele a perdeu
completamente de vista. Além disso, qualquer ex-membro do clã de
Morrigan possui informaçõ es valiosas. Nã o é essa uma das razõ es pelas
quais procuramos Nikola? Ao ouvir o nome, os olhos de Brie se voltaram
para Asher. Ele se recusou a olhar para ela, mas estaria imaginando a
acusaçã o por trá s dos discos vermelhos? Malkolm avançou e colocou a
mã o firme no ombro de Brie.— Nã o se preocupe, Mestre Asher. Ela
estará sob a supervisã o de Riccardo.
Riccardo. Certo. Ótimo. Era bastante ó bvio que Asher nã o teria nenhuma
palavra a dizer sobre o assunto. Ok, tanto faz, Brie era rá pida e quieta,
mas isso nã o significava que ela era pá reo para Asher. Ele prometeu
pegá -la e fazê-la pagar se ela decidisse deixar escapar o pequeno...
encontro de Asher e Nikola na outra noite. Ele olhou para ela com a
tenacidade de mil só is, esperando que o a mensagem nã o dita era alta e
clara. Mas nã o era como se ela tivesse um motivo para dizer alguma
coisa.
Certo?

Riccardo foi convocado para mostrar o territó rio a Brie e treiná -la com
os outros recrutas em torno de sua idade vampírica. Por mais que Asher
quisesse ficar por perto como uma mosca na parede para ter certeza de
que Brie nã o diria merda nenhuma, ele nã o tinha uma desculpa boa o
suficiente para fazê-lo. Embora ele odiasse admitir, a situaçã o estava fora
de seu controle. Ele descobriria rapidamente se Brie, por qualquer
motivo, decidisse gritar.
Já era hora de tomar aquele banho. Ele tinha seu pró prio banheiro, mas
queria sair da mansã o e ficar longe de olhares indiscretos, entã o
atravessou a cidade até a parada de caminhõ es local perto da rodovia.
O frentista mal o reconheceu quando Asher apareceu com algum
dinheiro e o pedido da chave. Mas quando ela deslizou a chave, ela
finalmente olhou para cima e engasgou. A princípio, ele pensou que ela
havia sido pega de surpresa pela cicatriz.
— Jesus! Sã o lentes de contatos?
— Uh, sim,— Asher disse secamente. Seu olhar penetrante percorreu
seus dentes, e ele estava pensando em mordê-los para assustá -la um
pouco. Em vez disso, ele foi embora. Em sua visã o periférica, ele a
observou tirar uma foto dele com o telefone, franzindo as sobrancelhas
quando viu que nã o conseguiu capturar a imagem dele.
Ela nã o era de meia-idade, talvez tivesse vinte e tantos anos, no má ximo.
Foi a geraçã o de Asher e abaixo que percebeu as travessuras vampíricas
mais rá pido do que seus pais e avó s. Afinal de contas, Grander era uma
anomalia, e os humanos nã o gostavam de admitir que havia perigo em
andamento. Era mais fá cil acreditar que os vampiros eram tã o raros
como sempre foram desde a ú ltima Purificaçã o, praticamente à beira da
extinçã o. O resto do mundo. A América especialmente nã o queria aceitar
que abrigasse mortos-vivos. Mas as geraçõ es mais jovens poderiam
agora partilhar histó rias online, comparar coisas que testemunharam,
ouviram falar ou viram nas notícias. Foi assim que Asher soube que ele
poderia cometer suicídio por vampiro andando na parte certa/errada da
cidade.
Nem mesmo Morrigan ou Malkolm conseguiram acompanhar a era do
computador, por mais que tentassem. Quem diabos sabia o que
pressagiava o futuro de Grander e as unidades de emergência valeram a
pena para ignorar os assassinatos vampíricos?
Sob o fluxo pressurizado de á gua escaldante, Asher considerou a relaçã o
entre as populaçõ es humanas e vampíricas de Grander. De vez em
quando, ele pegava um jornal e lia os artigos detalhando os casos de
corpos drenados, como eles vinham acontecendo com mais frequência
ultimamente. Isso aumentou, é claro, considerando o aumento de
recrutas de Malkolm. Inferno, recentemente, ele tinha visto uma
manchete em um painel de debate de notícias perguntando CORPOS SEM
SANGUE – CRISE DE VAMPIROS OU SUPOSTOS COPIADORES DE
ASSASSINOS EM SÉRIE? Alguns Filhos da Lua estavam preocupados com
uma Purificaçã o iminente, a primeira da América do Norte já registrada,
mas nã o era funçã o de Asher se preocupar com assuntos humanos, entã o
ele geralmente nã o prestava atençã o.
Refrescado e com cheiro de sabonete genérico, Asher jogou as chaves no
balcã o. A atendente se encostou nos cigarros e nos bilhetes de loteria,
observando Asher como se ele fosse um cachorro raivoso. Se ele
estivesse com um humor melhor, ele iria sibilar para ela, mas apenas
revirou os olhos e saiu do posto de gasolina. Observe o senhor e a senhora
tentando nos fazer começar a usar óculos escuros ou algo assim.
Ele nã o foi direto para o shopping abandonado. Ele se certificou de que
ninguém o estava seguindo, rosnando para qualquer Seguidor de Sangue
aleató rio que encontrasse até que eles corressem na outra direçã o. Ele
até fez questã o de parar no canteiro de obras de uma futura Target, a
poucos quarteirõ es da mansã o de Malkolm.
Ele se agachou na beira de um arranha-céu, observando a reuniã o de
recrutas em treinamento brigando sob o olhar atento de Riccardo. Ele
avistou Brie por perto, que ficou paralisado pela intensidade dos cortes,
mordidas e chutes. Jovens vampiros perdendo um braço ou cabeça sob o
regime de vitó ria sobre a honra de Malkolm nã o eram inéditos, embora
Asher tentasse contornar os danos causados aos futuros soldados.
Satisfeito por nã o haver ninguém para persegui-lo esta noite, ele foi
embora. O que ele tinha em mente, tanto para sua pró pria satisfaçã o
quanto para se aproximar de Nikola, ele nã o queria que ninguém
estivesse por perto para testemunhar e relatar.
CAPÍTULO VINTE E UM

NIKOLA

A noite foi mais quente que a média, o vento carregava nuvens de


tempestade que trariam chuva pela manhã . Por enquanto, porém,
permaneceu calmo; o ú nico barulho no shopping era o assobio da brisa
forte através das cavidades do teto.
O shopping tinha alguns andares de altura, já foi o monó lito da cidade
antes da era da internet. Nikola nã o tinha certeza de onde Asher desejava
encontrá -lo, mas imaginou que o Seguidor de Sangue iria rastreá -lo.
Nikola manteve seu radar emocional voltado para o cená rio de entropia.
Quanto menos mentes houvesse, mais longe ele poderia lançar a linha.
No momento, era só ele, sentado em frente ao bebedouro decadente.
Algas e sujeira cresceram na superfície da poça de á gua da chuva
estagnada. Ele observou as nuvens escuras passarem pelo buraco do
telhado acima de sua cabeça.
Um segundo depois, ele sentiu uma pulsaçã o de energia se contorcendo
com violência. Nikola estava de pé, instantaneamente alerta. Ele nã o
tinha certeza de que rosto de Asher encontraria esta noite, tã o
imprevisível quanto ele era. O clique do aço em suas botas ecoou nas
paredes enquanto ele se aproximava pela entrada principal.
— Niki! — ele chamou, seu tom alegre colidindo com seu humor
agressivo. — Você realmente veio. Pensei que poderia ter assustado você
ontem à noite.
— Nã o se esqueça, Mestre Asher, que eu “corro com” Seguidores de
Sangue quase todas as noites, — Nikola brincou. — Seria preciso muito
para me assustar.
Asher bufou, inclinando a cabeça para o lado e se aproximando.
— Engraçado, você é bom com a coisa do Sangue, mas você fugiu naquela
noite do lado de fora daquela velha igreja como se eu tivesse te
assustado. O que foi isso?
Nikola recuou. Ele deveria confessar a ordem de Corvellious, revelando
por sua vez que estava jogando os jogos de Asher apenas para tentar
ajudar a senhora? Ele dificilmente concordou com isso, e certamente nã o
concordou, especialmente porque sua atraçã o estava confusa na mistura.
Talvez apenas metade da verdade esteja em ordem?
— Manipular o corpo em uma briga é uma maneira pela qual os Filho da
Lua podem derrotar seu oponente,— disse ele, evitando os olhos
selvagens de Asher. — Nã o tento fazer isso com frequência porque
parece... coercitivo.
— Coercitivo,— Asher ecoou, o humor iluminando seu rosto. Ele jogou a
cabeça para trá s e riu, á spero e zombeteiro. — Você pensou que eu
estava com tesã o por você por causa da sua merda estranha da Lua? Dê a
si mesmo um pouco de crédito.
Nikola balançou a cabeça. Ele nã o achava que Asher entendeu muito bem
o que ele quis dizer. Como ele poderia, sem o quadro completo? Nikola
respirou fundo para mudar de assunto, mas perdeu as palavras quando
percebeu que Asher estava abruptamente a alguns centímetros de
distâ ncia dele. Nikola ficou parado, com as mã os soltas, os pés prontos, e
observou Asher examiná -lo, calculando. Calculando o que exatamente?
Nikola, nã o pela primeira vez em sua longa vida, desejou
desesperadamente que os rumores de que os Filhos da Lua tinham a
habilidade de ler mentes fossem verdadeiros.
— Oh, Nikki, — Asher respirou. — Eu mexeria um pouco com você, mas
temo que estou ficando vazio.— Ele descansou a mã o no peito de Nikola.
Tã o perto de á reas vitais, facilmente transferido para um ataque. Nikola
observou a garganta de Asher em busca de qualquer sinal de movimento.
O Seguidor de Sangue riu e levantou os dedos para segurar o queixo de
Nikola. — Nã o posso provar um pouco?
Nikola pegou o pulso de Asher e o empurrou para o lado.
— O pulso de luz sob sua pele diz o contrá rio, Mestre Asher.
— Ficará em silêncio antes que a noite acabe.— Asher riu do fundo de
sua garganta. — Nã o o suficiente para dificultar as coisas para você.
Um arrepio passou por Nikola contra sua vontade. Foi isso que o vampiro
planejou para esta noite? Os olhos de Asher brilharam como rubis
sinistros.
— Sangue é o que você quer,— disse Nikola em tom grave. Asher
levantou uma sobrancelha curiosa. — Eu nã o acho que estou tã o
disposto a suportar a dor das presas de um Seguidor de Sangue.
— Ah, Nikki, terei cuidado.
As sobrancelhas de Nikola franziram. Cuidado nã o era um termo que ele
acreditava estar no vocabulá rio de Asher Black.
— Se você quiser meu sangue, entã o você terá que tomá -lo.
— Isso é um desafio? — Asher sibilou, os cantos de seus lá bios se
curvando em um sorriso. Mas, para surpresa de Nikola, Asher hesitou,
com contemplaçã o em seu olhar. — Eu nã o sei, você pode estar em
vantagem. Talvez eu pudesse convencê-lo de outra maneira? — Seus
dedos subiram pela parte externa da calça de Nikola, ao longo do zíper
onde uma protuberâ ncia traía sua excitaçã o. Ele sentiu Asher apertar o
botã o, desfazendo-o e retirando o eixo meio ereto de Nikola. E Nikola
deixou isso acontecer. — Nã o temos assuntos inacabados?
Nikola dobrou seus dedos sobre o envoltó rio de Asher em torno da
cintura. Nikola controlou o ritmo e a pressã o dos golpes, confiante de que
poderia parar Asher na hora certa se tentasse algo superficial. E pensar
que eu tinha meu pau entre os dentes outra noite. Mas ele tinha acabado
de testemunhar Asher matar um homem como se ele fosse um peso
morto, entã o sua cautela foi renovada.
Nikola abriu os lá bios, empurrando suavemente com o impulso. O prazer
zumbiu com o toque de Asher.
— Isso é tudo que você quer? — Asher provocou. — Eu tenho uma boca,
você sabe. Eu poderia ser muito mais caloroso também, se você me desse
um pouco com que trabalhar. Nã o vou tirar nem muito para você nã o
perder seu...
Nikola pressionou sua boca contra a de Asher, apenas para fazê-lo parar
de implorar por algo que nã o estava conseguindo. Asher estava imó vel
como uma está tua de má rmore e quase igualmente frio, mas antes que
Nikola pudesse recuar, seus lá bios se moveram para retribuir o beijo.
A ló gica saiu pela janela, substituída pela insistente necessidade de
liberaçã o, de intimidade. Ele era um Filho da Lua, uma criatura
româ ntica por padrã o, e já fazia tanto, tanto tempo. Ele soltou o aperto
de Asher e pressionou uma mã o contra a parte inferior de suas costas, os
dedos da outra mã o emaranhados em seu cabelo. Ele puxou a cabeça do
Seguidor de Sangue para trá s, aprofundando o beijo e recebendo o
gemido de Asher. O som atingiu o nú cleo de Nikola na nota certa. Asher
largou o eixo de Nikola para envolver seus braços em torno de Nikola.
Ele rompeu a boca de Asher com a língua, serpenteando sobre a do outro.
A respiraçã o de Asher ficou superficial, suas unhas afiadas cravando-se
nos mú sculos das costas de Nikola. A imagem dele derrubando as garras
com Nikola em cima dele roubou outros pensamentos do Filho da Lua.
Asher cortou a ponta da língua de Nikola com uma presa. Nikola sibilou,
a sensaçã o de ardor espalhando-se pelas gengivas, a á gua para as
chamas. Asher fez beicinho quando Nikola se encolheu.
— Você realmente nã o consegue lidar com a dor, né? Nã o dó i tanto se eu
te abrir de outra maneira. Eu nã o preciso furar você com presas.
Nikola nã o ficou nada confortado com as palavras.
— Asher Black, você sentiu a mordida da sua pró pria espécie?
Era para ser retó rico, já que Nikola presumiu que nenhum vampiro
conseguiu enfiar os dentes em Asher, mas a escuridã o nublou as feiçõ es
de Asher, seus olhos ficando vazios. Coisa errada a dizer.
— Eu tenho, na verdade,— ele disse em voz baixa. — Talvez eu esteja
apenas insensível.
Nikola podia sentir-se suavizando a cada segundo que passava. Ele se
reajustou, enfiando sua ereçã o debilitada de volta nas calças e fechando-
as novamente. Asher disse “Tch” e cruzou as mã os atrá s da cabeça,
balançando para trá s. Nikola ficou um pouco ofendido por Asher se
sentir tã o à vontade perto dele, mas duvidava que a guarda do Seguidor
de Sangue estivesse totalmente baixa.
— Tudo bem, entendi. Você nã o vai desistir do seu sangue, entã o da
pró xima vez que nos encontrarmos, com certeza me alimentarei antes.
Droga, e eu pensei que a preparaçã o pré-encontro como humano era
exaustiva.
— Da pró xima vez, — Nikola repetiu. Estamos tornando isso um hábito?
— Oh, querido, sim, da pró xima vez. Nã o aja como se pudesse tirar as
mã os de mim. Eu só deveria ficar de olho em você, mas vou me divertir
enquanto faço isso. Muita diversã o.— A expressã o de Asher mudou de
mal-humorada para exultante, girando como um interruptor de luz. Ele
sorriu maliciosamente para Nikola e cutucou-o no peito. — Parece que
nã o consegui convencer você a me dar um pouco de sangue. Talvez
façamos do seu jeito.
— O meu jeito?
— Você disse que eu teria que tomá -lo! — O grito estridente foi o ú nico
aviso antes de Asher entrar correndo. Nikola se esquivou, sendo atingido
por unhas cortantes na bochecha direita. Asher riu loucamente. — Um
pouco mais fundo e seríamos quase gêmeos! — As palavras estridentes
ricochetearam nas paredes.
Nikola o acertou na mandíbula, segurando apenas o suficiente para nã o
quebrar o osso. Asher amaldiçoou, o impacto jogando-o em direçã o à
borda da fonte. Nikola, vendo o â ngulo onde seu pescoço estava prestes a
cair, pegou-o pelo braço e jogou-o na direçã o oposta.
Asher riu, segurando o rosto machucado, alheio ao resgate. Ele deu um
chute alto na têmpora de Nikola. Quando Nikola pegou o tornozelo na
ponta de sua longa perna, Asher saltou para outro chute. Os dois chutes
tiveram menos de um momento de diferença, o segundo atingiu Nikola
na lateral da cabeça com força suficiente para quebrar o crâ nio de um
humano.
As estrelas dançaram em sua visã o. Nikola foi forçado a soltar a perna de
Asher, o shopping abandonado girando em torno dele. Ele mal conseguia
registrar o som do corpo do Seguidor de Sangue caindo no chã o. Uma
fraçã o de segundo depois, os pés de Nikola foram varridos debaixo dele.
A visã o de Nikola se estabilizou quando Asher apareceu em cima dele,
montado em seu peito.
— Ah, Nikki. Você está se segurando de novo.— Ele passou um prego na
lateral do pescoço de Nikola, um aviso cortês. Nikola, num turbilhã o de
pâ nico, puxou Asher para baixo e beijou-o ferozmente. Usando o dom da
Deusa, ele nã o derramou emoçõ es enganosas no jovem, mas sim
torrentes de êxtase nã o filtrado. Ele quer isso tanto quanto eu.
— Oh, porra,— Asher ofegou contra os lá bios de Nikola. — Isso é o que
você quis dizer?
— Hum, tipo isso — Asher estremeceu, deslizando para baixo para
pressionar a curva de sua forma na de Nikola. Nã o é exatamente uma
posiçã o vantajosa para ele. Nikola passou os braços em volta de Asher,
seus lá bios descendo por seu pescoço. Ele podia sentir o prazer de
segunda mã o atormentando o ser de Asher, mas nã o havia tesã o para
demonstrá -lo, o que deixou Nikola desapontado. Devo dar a ele um pouco
do meu sangue?
Mas antes que pudesse fazer uma oferta, Asher gemeu: — Beba o que
resta em mim. Por favor.
Nikola mal pô de resistir a morder a pele já contra os dentes. Seus
membros vibraram com energia com a primeira gota de sangue do
Seguidor, seus quadris rangendo enquanto ele também experimentava o
prazer que estava dando a Asher. Ele nã o detectou um pingo de
hostilidade dentro do jovem vampiro, apenas uma necessidade
desesperada. Ele sentiu Asher mudar para o lado de Nikola, forçando o
Filho da Lua a ajustar seu â ngulo e inclinar-se na garganta de Asher. A
mã o de Asher desceu e, pela segunda vez naquela noite, libertou o pau
duro como aço de Nikola.
Asher bombeou Nikola, urgente e exigente. O gemido de Nikola foi
abafado por dentes enterrados na carne. Havia apenas alguns bocados de
sangue dentro de Asher, mas a curta duraçã o da alimentaçã o, juntamente
com o toque etéreo e sensual de um Filho da Lua, foi suficiente para levar
Asher ao orgasmo. Seu grito ricocheteou nas paredes abandonadas, todo
o seu corpo travando contra a forma de Nikola.
Nikola caiu para trá s e cerrou os dentes, respirando com dificuldade
entre eles enquanto Asher continuava a acariciar seu comprimento.
Asher, movendo-se tã o abruptamente que Nikola estremeceu, montou
nele e puxou a camisa de Nikola sobre os ombros.
— Sua vez, Nikki,— Asher respirou. Suas unhas fizeram có cegas na
navalha de Nikola enquanto contornavam onde o cabelo loiro de Nikola
crescia mais espesso. O prazer ferveu dentro dele, segundos antes de
transbordar. Nikola arqueou-se sob o peso de Asher, segurando suas
coxas entre uma camada de jeans. Se Asher Black estivesse nu e
posicionado apenas alguns centímetros mais alto, Nikola poderia estar
empurrando dentro dele, usando seu corpo para...
O clímax o atingiu de repente, sementes explodindo em seu estô mago em
explosõ es derretidas. O gemido de Nikola foi quebrado, a euforia
nublando sua mente como opiá ceos.
Nikola, totalmente derrotado, ficou ali ofegante. Asher riu, enfiando de
brincadeira o pacote de Nikola de volta nas calças para ele. Ele fez isso de
maneira descuidada, fazendo com que o jeans apertasse o eixo murcho
de Nikola em uma curva brusca. Ele grunhiu, dando um tapa nas mã os de
Asher e se arrumando. O lampejo de dor lembrou a Nikola que Asher
ainda era um inimigo perigoso e imprevisível.
Senhor, Asher Black acabou de me masturbar.
Enrolando a camisa de Nikola, Asher jogou-a nele antes de pular para
ficar de pé. O Seguidor de Sangue limpou a poeira e a sujeira de suas
roupas.
— Cara, essa é a segunda vez que você me faz estragar uma roupa íntima
perfeitamente limpa. Nã o é justo. — Nikola franziu a testa. Era ó bvio que
ele fez Asher chegar ao clímax, mas ele também ejaculou? Se os
Seguidores de Sangue fossem como os Filhos da Lua, se eles usassem o
sangue de seus corpos em uma taxa natural, nã o sobraria nenhum sêmen
nos testículos. Entã o isso significava que o sangue de Asher tinha sido
bebido, a maior parte de uma vez. Pensando bem, ele estava
prosperando ontem à noite. Os Seguidores de Sangue normalmente se
alimentam completamente por pelo menos três dias.
Entã o, quem diabos se atreveu a beber de Asher Black? Havia apenas um
vampiro acima dele em classificaçã o. Malkolm se alimentaria de seu
pró prio clã , e muito menos de seu segundo em comando? Nikola nã o
conseguia imaginar Morrigan se alimentando de Corvellious, mas o que
Nikola sabia sobre o funcionamento da hierarquia de Lorde Malkolm?
Ele estava cauteloso com o ciú me subjacente que sentia por quem devia
estar bebendo de Asher Black, como se tivesse algum tipo de direito
possessivo sobre ele.
O que estamos fazendo?
— Você vai desmaiar aí ou o quê? — Asher repreendeu, estendendo a
mã o. Nikola examinou-o brevemente em busca de qualquer nota de
agressã o, mas encontrou apenas diversã o. Cautelosamente, Nikola
pegou-o e ficou de pé. Asher agarrou o antebraço de Nikola e se inclinou,
seu rosto pá lido pró ximo ao de Nikola. — Há uma seçã o das catacumbas
para onde quero levar você, toda minha. Acho que ninguém mais sabe
disso, ou simplesmente nã o dá a mínima. Encontre-me naquela velha loja
de vapores que virou igreja amanhã à noite, ok? Mesmo tempo.
— Tudo bem,— disse Nikola antes que pudesse realmente pensar sobre
isso. — Espere. As catacumbas. Você poderia tornar uma emboscada
mais ó bvia?
Ele meio que esperava uma negaçã o furiosa, mas o vampiro aberrante
apenas soltou uma gargalhada.
— Como eu disse antes, nã o preciso de outros vampiros para chutar a
sua bunda.
— Você também disse que iria querer uma audiência quando o fizesse,—
Nikola disse secamente.
— Ei, isso é uma confusã o. Nã o, este lugar é privado. Lembra do que eu
disse sobre o que faríamos em particular? — Asher observou a expressã o
de Nikola mudar com um sorriso satisfeito. — Você estará lá . De
qualquer forma, mais tarde!
Nikola estendeu a mã o para ele, mas Asher já havia se virado, dando
longos passos em direçã o à entrada principal do shopping. Soltando um
suspiro, ele deixou cair o braço e observou o Seguidor de Sangue partir
sem olhar para trá s. Ele examinou seu abdô men sujo com uma careta. Há
uma parada de caminhões aqui perto, talvez eu possa me lavar lá.
As catacumbas. Céus acima. A simples ideia de viajar pelo sistema
subterrâ neo formava pingentes de gelo em seu sangue. Mas uma suposta
seçã o que apenas Asher Black conhecia... parecia exatamente o tipo de
informaçã o que Morrigan esperava dele.
Mas por que me mostrar? Foi tã o simples quanto sexo para Asher? Havia
uma grande chance de Asher nã o pretender deixar Nikola partir com seu
segredo. Talvez fosse definitivamente uma armadilha e Nikola estivesse
sendo ousado o suficiente para ser morto. Meu Deus, se Asher pretendia
matá -lo, ele estava apenas esperando até que eles fizessem sexo? O
cérebro de Nikola conjurou a imagem de uma viú va negra, tã o
apropriada para Asher que parecia um pressá gio.
"Você estará lá." Droga, Asher estava certo. Nikola racionalizou para si
mesmo que precisava pelo menos verificar o local antes de relatá -lo aos
seus superiores. Nã o fazia sentido levantar bandeiras se nã o fosse nada.
Mas, conhecendo Asher Black, tinha que ser alguma coisa.
— O que diabos estou fazendo? — Nikola perguntou em voz alta.
No limite de sua mente, ele sentiu o roçar de outra pessoa contra ela,
acompanhando-o com um arrastar de pés no chã o acima. Nikola inclinou
a cabeça em direçã o à fonte, mas nã o detectou mais nada. À s vezes,
quando ele estava especialmente sensível ou completamente sozinho, ele
conseguia sentir as reaçõ es bá sicas de outros mamíferos. Provavelmente
era apenas um roedor.
Fosse o que fosse, ele nã o conseguia sentir agora. Desconsiderando isso
completamente, ele debateu sobre como exatamente planejava passar
furtivamente por Veronica.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

ASHER

— Birds of Paradise Tatuagens e Piercings. Como posso ajudá -lo?


Asher falou no bocal de seu celular.
— Ei, Kat, sua garota tem alguma vaga hoje? Ela faz visitas, certo?
Uma longa pausa.
— Ela está terminando um compromisso – o que é recomendado,
lembre-se – mas ela tem duas horas até o pró ximo. Quer que eu passe o
telefone?
— Nã o, tudo bem. Eu estou do lado de fora. Um segundo.— Katsuki
começou a dizer mais alguma coisa, mas Asher já estava desligando o
telefone. Ele bateu na porta como se fosse o FBI prestes a derrubá -la.
Um Filho da Lua careca e fortemente tatuado – construído como um
caminhã o e cravada de incontá veis piercings – respondeu. Seus olhos
prateados se arregalaram em choque antes de se estreitarem com
hostilidade.
— Que porra você quer? Nã o devemos fazer outras coletas.
Asher bufou. Ele entendeu que o esquema de coleta de dinheiro para
proteçã o dos Filhos da Lua de Malkolm era a principal maneira pela qual
o clã mantinha um fluxo de dinheiro, mas Asher desejou poder iniciar
algo menos irritante, como drogas ou algo assim. O que Morrigan fez
exatamente? Dada a ordem do Rei Supremo para proteger os Filhos da
Lua, provavelmente um negó cio semelhante.
— Estou em um estú dio de tatuagem pela mesma razã o pela qual a
maioria das pessoas vai a um estú dio de tatuagem,— Asher brincou.
— Deixe-o entrar, Diesel! — Asher ouviu Veronica ligar dos fundos. Huh,
nome adequado.
Diesel franziu a testa, seus olhos mudando de suspeita. Ele gritou de
volta: — É uma das aberraçõ es de Malkolm, Asher Black.
Se Diesel pretendia insultar Asher, ele falhou. Asher riu – ele gostava dos
Filhos da Lua corajosos.
— Nó s sabemos! — Katsuki gritou. Diesel hesitou por um segundo,
olhando para Asher como se estivesse debatendo as repercussõ es se ele
batesse a porta na cara de Asher. Asher forçaria sua entrada? Seria
normal, mas isso prejudicaria suas chances de se aproximar de Veronica?
Ele nã o precisou tomar essa decisã o porque Diesel se afastou para deixá -
lo passar. — Nã o é nada engraçado, — rosnou Diesel. Asher riu
novamente.
Asher encontrou Veronica tatuando o braço de um jovem humano, com
idade nã o superior à faculdade. Ele era desengonçado, seus cachos
castanhos oleosos e cheirando levemente a maconha. Ele usava jeans
esfarrapados e uma camisa de Bob Marley. Asher estava feliz por ter se
alimentado do lado de fora de algum motel desprezível, ou entã o o cheiro
de tinta misturada com sangue humano fresco tornaria sua espera
desconfortá vel.
O jovem estava com o braço apoiado no braço da cadeira, recebendo a
impressã o negra de um morcego. Ele olhou para Asher e respirou fundo,
afastando-se como se fosse fugir. Veronica recuou habilmente antes que
o cara pudesse arruinar seu trabalho.
— Você... você é um deles, — disse o garoto. Veronica bufou e esperou
que essa merda estranha passasse.
Asher arqueou uma sobrancelha indiferente e se jogou no sofá vazio,
colocando os dois braços nas costas e abrindo as pernas, ocupando o
má ximo de espaço possível.
— Um de quê? Um cliente? Com certeza sou. — Ele acenou com a mã o.
Hesitantemente, o humano devolveu o braço a Veronica. O zumbido da
má quina continuou. Asher estudou o humano, enquanto o humano nã o
parava de olhar para Asher. Cada vez que eles encontravam os olhos, o
humano estremecia. Asher era todo sorrisos.
Alguns humanos estavam mais conscientes do que os rodeava do que
outros. Asher presumiu que esse garoto já existia se soubesse o
suficiente para diferenciar entre Sangue e Lua. Ou talvez ele nã o
soubesse que a equipe de tatuagem também era composta de vampiros,
apenas de uma raça diferente.
Katsuki nã o estava em lugar nenhum, mas Asher podia ouvir passos
acima de sua cabeça. Entediado com o humano meticuloso, Asher sentiu
outro par de olhos sobre ele e virou a cabeça para descobrir Diesel
olhando carrancudo para ele.
— Você também é aprendiz?
Diesel ergueu as sobrancelhas. Veronica respondeu por ele, a ú nica
pessoa perplexa com a presença de Asher.
— Ele é nosso perfurador de meio período. E guarda.
— Ah, emocionante. Você faz piercings nos mamilos? Eu estive pensando
sobre isso.
Diesel rosnou. Huh, talvez não seja uma boa ideia chegar perto do cara
enquanto ele segura agulhas pontiagudas. O rosto do humano girava
entre eles como um cachorro observando uma bola de tênis.
— Estou aqui apenas para cuidar de Veronica. Você realmente
concordou em tatuar esse filho da puta, V?
— Na verdade nã o,— ela murmurou, mas quando ela olhou para Asher,
houve uma sugestã o de um sorriso. — Mas prá tica é prá tica, certo? — Ela
deixou de lado sua má quina de tatuagem e limpou o sangue do taco.
Depois de higienizar, embrulhar e explicar os protocolos bá sicos de
limpeza específicos para corpos mortais (como o uso de protetor solar),
o humano pagou à s pressas com um maço de dinheiro e praticamente
saiu correndo do porã o. Veronica o observou ir com um suspiro
enquanto descartava as agulhas usadas. — Tanto para um novo cliente
que retorna.
— Como ele sabia sobre este lugar? — Asher perguntou.
— À s vezes, os jovens Filhos da Lua nã o conseguem ficar longe de velhos
amigos. Um de seus amigos do ensino médio é meu frequentador
assíduo. Metade de seus amigos pensam que ele faz parte de alguma
seita, mas alguns outros sã o mais espertos do que isso. — Os lá bios de
Veronica se curvaram para o lado, um tique nervoso. Asher sabia uma ou
duas coisas sobre os jovens Filhos da Lua, como muitos deles viviam
vidas relativamente normais, evitando a luz solar e esperando até que
tivessem que esconder o fato de que nã o estavam mais envelhecendo.
Grander era um lugar especial para os vampiros, mas mesmo no refú gio
corrupto, havia policiais humanos que adoravam caçar mortos-vivos.— É
meio estranho hoje em dia como algumas dessas crianças sã o mais
rá pidas em aceitar vampiros do que seus pais.
— Eu estava pensando em algo semelhante antes,— admitiu Asher.
Veronica balançou a cabeça com uma expressã o preocupada.
— De qualquer forma, você está aqui agora. O que você queria?
— Nã o tenho a menor ideia.
Veronica piscou para ele. Ela se levantou, foi até sua mesa de trabalho e
tirou um fichá rio da coleçã o de livros e pastas que estavam na prateleira
de cima. Virando para o meio, ela entregou a Asher.
— Aqui está . Esta é a temporada.
Era uma coleçã o de tatuagens com tema de Halloween. Asher bufou com
o conceito. Os vampiros já eram encarnaçõ es literais do feriado. Ele
realmente precisava de uma lá pide, ou de uma lanterna de abó bora, ou
de uma faca ensanguentada para deixar claro o fato?
Asher bateu com o dedo na borda do caderno, considerando as opçõ es.
Ele pegou seu telefone e enviou uma mensagem rá pida e inofensiva para

Nikola: Arma apontada para sua cabeça, o que você associa a

mim?

O Seguidor de Sangue folheou as outras pá ginas, fazendo Veronica bufar,


mas ela nã o tentou impedi-lo. Ele estava olhando para uma caveira
coberta de hera quando finalmente recebeu uma mensagem de volta.

Uma viúva negra.

Asher deu uma gargalhada e respondeu: Que diabos? Você explicará

isso mais tarde.

Ele guardou o celular e voltou para a divulgaçã o do Halloween. Ele se


inclinou para frente e apontou para a visã o de uma aranha.
— Algo assim, mas seja uma viú va negra, uma ampulheta vermelha e
tudo mais. No meu braço oposto à s luas.
Veronica inclinou a cabeça para o lado. Ele podia vê-la retrabalhando
internamente a aranha esbelta. Ela abriu o navegador do telefone para
uma referência mais precisa.
— Eu posso fazer isso, sem problemas. Por que aquela aranha, posso
perguntar?
Asher encolheu os ombros.
— Nenhuma ideia. Mas acho que as viú vas negras lembram Nikola de
mim.
Houve um lampejo de alarme no rosto de Veronica assim que ela ouviu o
nome de Nikki. Asher tinha a sensaçã o de que ela nã o aprovava o
encontro dos dois. O quanto ela sabia, ele nã o sabia dizer. Ele nã o
conseguia imaginar Nikola desabafando sobre seus encontros sexuais
com seu colega de quarto, muito menos com alguém que odiava os
Seguidores de Sangue tanto quanto a Filha da Lua pró xima.
— Você é um homem estranho, Asher. Deixe-me fazer o estêncil e
começaremos a trabalhar.

Dinheiro trocado, Asher flexionou o braço, testando o envoltó rio e


admirando a aranha negra brilhante, sua ampulheta e oito olhos tã o
vermelhos quanto o olhar de um Seguidor de Sangue. Veronica recostou-
se na cadeira e observou-o com curiosidade.
— Já estive perto de muitos Seguidores de Sangue, entã o sei que vocês
têm uma alta tolerâ ncia à dor, mas agem como se nem sentissem isso.
— Muito, né? Clientes ou alguns amigos de Nikki? Ele os convidou para
jogar pô quer ou algo assim?
Veronica estalou a língua no topo da boca.
— Nã o.— Asher fez uma careta para o tapete. Morrigan tinha mais de um
Filho da Lua trabalhando para ela? Veronica estava em conluio com ela
como Nikki?
— Algum amigo meu? — Asher desafiou.
Ele foi recebido com um sorriso de lá bios apertados, a maneira dela de
encerrar o assunto. Ocorreu a Asher que ele nã o tinha certeza de quantos
anos Veronica realmente tinha. Ela parecia estar no auge, mas que
vampiro nã o estava? Pelo que ele sabia, ela poderia ter mil anos de idade,
tempo suficiente para conhecer “muitos” Seguidores de Sangue.
Asher pretendia perguntar sua verdadeira idade, mas Katsuki falou do pé
da escada.
— Tudo terminado? Posso dar uma olhada? — Asher obedeceu,
estendendo o pedaço novo. Katsuki se inclinou para examiná -lo,
cantarolando pensativo. Eles olharam para Veronica e comentaram: —
Excelente coloraçã o. A linha ainda está um pouco instá vel, mas o
sombreamento em preto e branco melhorou. — Veronica sorriu com
orgulho. Asher desejou poder aceitar as críticas com tanta facilidade.
Katsuki endireitou a coluna e tentou olhar nos olhos de Asher. O vampiro
mais jovem descobriu que nã o conseguia olhar diretamente para o rosto
de Katsuki por muito tempo, nervoso com a sensaçã o arrepiante de seus
pensamentos sendo lidos. Veronica saltou.
— É verdade sobre suas costas, Asher? Aquele que Kat fez apenas com
uma agulha? Tebori, acho que foi assim que o chamaram. — As íris
prateadas de Veronica brilharam como diamantes em meio à sua
excitaçã o. Era infantil, mas contagiante. Asher se esforçou para imaginá -
la saindo com os Seguidores de Sangue por escolha pró pria. — Posso
ver?
Diesel ainda estava no seu canto, olhando para Veronica como se ela
tivesse enlouquecido. Asher soltou uma risada e se levantou da cadeira.
Ao se virar, ele disse: — Tem certeza que seu garoto Nikki nã o vai ficar
com ciú mes por eu ter tirado a roupa na sua frente?
Veronica bufou. — Eu sou casada, seu idiota, e nã o com Nikola. — Os
pensamentos de Asher paralisaram. Vampiros... casados? Tanto quanto
ele entendia, o governo humano reconhecia os Mudados como sendo
legalmente incapacitados – dentro do reino da morte cerebral. A bala na
cabeça de um policial era um tipo especial de versã o de “desligar a
tomada”. Entã o, naturalmente, o governo humano nã o reconheceu o
casamento legalmente vinculativo entre os “mortos”. Existe algum
matrimônio sagrado com a Deusa da Lua? O casamento nã o foi realmente
discutido entre os Blood. Quem sabe, Veronica parecia alguém que
mudaria seu pró prio marido humano de sua vida mortal.
Asher levantou a camisa e ouviu o suspiro de Veronica. O couro do sofá
reclamou quando Diesel se inclinou.
— Você fez isso só com uma agulha? — Veronica bajulou. — As linhas
sã o mais retas do que as que acabei de fazer. E o gradiente das chamas!
Você disse que isso já tem alguns anos?
— Droga, você está quase me fazendo arrepender de ter conseguido
onde nã o consigo ver, — disse Asher. Nã o era possível espiar exatamente
no espelho.
Veronica meio que gritou: — Está resolvido! Vou pintar exatamente
como está ! Cor e tudo! — Asher puxou a camisa para baixo e se virou
para franzir a testa para ela. Na verdade, todos estavam olhando para ela,
como se esperassem que ela dissesse: “Brincadeira!” Mas ela franziu o
rosto, ofendida.
— O que? Estou falando sério! Passe por aqui algum dia e eu prepararei
tudo em algumas horas. Qual é seu nú mero? Espere, nã o importa. Vou
pegar com Nikki.
A risada de Asher quebrou em descrença. Quem era essa mulher
querendo pintar com um Seguidor de Sangue como um casal de amigos
artísticos da faculdade? — Nã o pense que ele desistirá tã o facilmente.
Separar sua vida profissional de sua vida pessoal ou algo assim.
Veronica deu uma risadinha.
— Aquele velho ainda nã o descobriu como bloquear o telefone. Vou
pegar e mandar uma mensagem para você.
— Sabe, eu nunca concordei com isso.
Ela revirou os olhos.
— Posso dizer que você gostou da ideia. Você terá notícias minhas em
breve – e talvez comece a agendar compromissos.
— Sem promessas.— Merda, foi tã o fá cil se aproximar dos entes
queridos de Nikola? A onda de triunfo foi imediatamente pulverizada por
uma onda de culpa, que se instalou como uma pedra pesada em suas
entranhas. Até que ponto ele estava disposto a levar isso, usando
Veronica ou qualquer membro do clã de Nikola como isca? Asher nã o
apenas a achou pessoalmente cativante, mas ela era uma espectadora,
uma inocente Filho da Lua. Merda, vou acabar comprometendo minha
moral sob o comando de Malkolm? A vergonha dilacerou Asher de dentro
para fora. Como se eu realmente tivesse algum poder real aqui.
Katsuki olhou para Asher, seu olhar duro como ferro – lendo cada
emoçã o complicada que assolava o peito de Asher. Filhos da Lua. Nã o era
exatamente a multidã o com a qual Asher estava acostumado a lidar.
Limpando a garganta, Asher se concentrou no pensamento de seu
senhor, a resoluçã o endurecendo em torno de seu coraçã o como uma
placa de concreto, eliminando suas dú vidas e bloqueios. Uma má scara
interna tã o notó ria quanto a física que Riccardo usava.
Ordens são ordens.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

NIKOLA

Nã o se consegue passar sete séculos sem aceitar uma das muitas


verdades universais: o medo nem sempre é um vício. O medo significava
sobrevivência. O medo era inevitá vel. O medo nã o refletia o cará ter, mas
apenas a resposta da pessoa a ele. E enquanto Nikola estava diante da
histó rica igreja que virou loja de vapor, ele teve muito medo das
catacumbas serpenteando sob seus pés. As catacumbas nã o eram apenas
criptas dos Seguidores de Sangue, mas o tú mulo final de todos os outros
estú pidos o suficiente para irem até lá .
Mas se ele foi estú pido o suficiente para ir para a clandestinidade, é
melhor estar preparado. Quantos canais havia? Quã o profundo foi? Ele se
repreendeu por nã o ter feito mais perguntas sobre os tú neis ao longo dos
anos, mas fazê-lo agora só levantaria suspeitas. Ele nã o queria que
ninguém soubesse para onde ele estava indo. Por vergonha ou estupidez,
ele nã o sabia dizer exatamente.
Respirando fundo, Nikola foi até o pá tio da igreja, examinando os
arredores para garantir que ninguém estava prestes a pular nele. Ele
encontrou um pedaço de terra estéril ao longo da porta do porã o, onde o
concreto cedeu e nunca foi consertado. A natureza recuperando seus
invasores. Ele se ajoelhou e fechou os olhos, colocando a palma da mã o
aberta no solo. Estava fresco ao toque, gelado pela noite de outono.
Abrindo os portõ es de sua empatia por apenas uma fresta, desligando
qualquer outra coisa que nã o estivesse sob suas solas de pés, ele abriu
seu coraçã o para a alma subterrâ nea de Grander.
Ao ler emoçõ es em uma escala tã o grande e abafadas pelo chã o e pelas
paredes, Nikola nã o conseguia identificar indivíduos. Em vez disso, ele
teve uma noção geral do primeiro nível, níveis das mentes mais
barulhentas. Ele nã o ficou nem um pouco surpreso quando um arrepio
mó rbido de destruiçã o iminente percorreu sua espinha – de humanos
enfrentando a morte ou de vampiros sendo punidos por superiores, era
difícil de decifrar – mas ele nã o estava esperando o... vazio geral. Quando
Nikola imaginou as cavernas, ele imaginou enxames de Seguidores de
Sangue famintos lutando entre si por um pedaço de carne. Mas saindo da
atmosfera sonolenta com apenas vestígios de medo e sede, talvez Lady
Morrigan estivesse certa sobre as catacumbas serem relíquias obsoletas
de um passado sombrio. Ou entã o esse foi apenas o caso da seçã o abaixo
de Nikola.
Entã o, uma pontada de algo mais poderoso. Nikola se inclinou sobre ele,
recorrendo a sua pró pria energia para procurá -lo e localizá -lo, ou talvez
até mesmo identificar quem era. Ó dio furioso, impaciência crescente,
vingança podre. Um vampiro que planejava matar cruelmente, e muito
em breve, e nã o para se alimentar. Mas quem quer que fosse, estava fora
de alcance. Um momento depois, as sensaçõ es de ebuliçã o passaram,
como se o vampiro conspirador tivesse se aventurado mais
profundamente nas catacumbas.
— Que porra você está fazendo?
A voz de Asher tirou Nikola de sua aná lise. Completamente pego de
surpresa, ele nã o ouviu o outro vampiro se aproximar. Nikola nã o
saberia que estava sendo esfaqueado até que a faca já estivesse em suas
costas. Havia uma multidã o de razõ es pelas quais Nikola evitou sua
empatia sobrenatural. Este foi um excelente exemplo.
Ele nã o iria revelar isso, no entanto. Ele se levantou do chã o e limpou a
terra do joelho, fingindo que nã o estava nem um pouco surpreso com a
apariçã o repentina de Asher.
— Como você diria isso, Mestre Asher? — ele brincou.— “Filho da Lua de
merda?”
A risada de Asher foi curta e estridente. O sorriso de Nikola vacilou,
questionando se eles estavam rindo. Normalmente o humor de Asher era
despertado pelo sadismo e pelas ameaças de morte. Seja lá o que for, o
momento chegou e passou.
— Entã o, onde você planejou me levar para nã o me matar em uma
armadilha nã o ó bvia?
Asher jogou a cabeça para trá s, gargalhando.
— Você está cheio de piadas esta noite, nã o é, Nikki?
— Eu nã o estava totalmente brincando.
— Hum. Bem, se você terminou com o que quer que seja, vamos indo.—
Ele passou por Nikola, dando-lhe um espaço respeitá vel, e se ajoelhou
para abrir a porta de madeira.
Uma cor desconhecida chamou a atençã o de Nikola. Uma nova tatuagem.
— Isso é... uma viú va negra? — Ele realmente conseguiu algo tã o
permanente apenas por causa de uma mensagem fugaz?
— Foi uma boa escolha.— Asher deu um largo sorriso antes de descer
para o porã o.
— Loucura,— Nikola resmungou para si mesmo, seus pés o carregando
para o ninho de vespas. A adega em si foi claramente esquecida pelos
proprietá rios da igreja reformada, com barris podres e caixotes cobertos
de poeira lotando o chã o sujo.
Asher empurrou para o lado uma das caixas e passou por uma porta com
metade de sua altura. Ignorando os gritantes instintos de sobrevivência,
Nikola o seguiu até as catacumbas.
Nikola já sentia falta do beijo do luar e do ar fresco. Nenhuma pessoa, seja
vampiro ou humano de qualquer tipo, vive feliz como uma toupeira. Mas
Asher agiu perfeitamente em casa, cantarolando desafinado enquanto ele
passou as pontas dos dedos pelas tá buas de madeira das paredes
esculpidas.
Nikola inicialmente ficou surpreso ao ver que as lâ mpadas elétricas
laranja zumbiam com luz artificial, mas considerando a repulsa natural
do vampiro de Sangue ao fogo, ele supô s que fazia sentido que elas
tivessem substituído tochas e lanternas a ó leo.
O corpo de Asher balançou, quase bêbado, enquanto ele navegava
habilmente pelos tú neis sinuosos e ramificados. Nikola atendeu aos
avisos, mas nã o entendeu verdadeiramente a escala do labirinto. Eles
passaram por alguns becos sem saída destruídos. Nikola presumiu que à
medida que mais e mais Seguidores de Sangue viviam exclusivamente na
superfície, as catacumbas nã o seriam mantidas. Se todo o sistema
entrasse em colapso, Grander seria derrubado junto?
— Eu posso sentir o cheiro do seu medo, — a voz de Asher quebrou no ar
viciado. Ele lançou um sorriso com presas, provocador e sedutor. Asher
Black, embora se misturasse, era a ú nica coisa tentadora no lugar.
— Relaxe antes de que você atraia um Seguidor de Sangue.
— Como você?
— Oh, Nikki, você já está preso na minha teia de aranha.
As palavras eram um ronronar. Nikola estava igualmente desanimado e
excitado. Ele olhou para trá s, para o caminho por onde tinham vindo. Ele
tinha certeza de que seria capaz de seguir o cheiro de Asher se precisasse
escapar. Mas ele nã o queria. Ele já havia explorado mais catacumbas do
que qualquer outro Filho da Lua que conhecia pessoalmente, entã o ele
tinha que ir até o fim. Disse a si mesmo que estava ali com um propó sito,
para o benefício de Morrigan, mas podia sentir o gosto da mentira em
suas pró prias racionalizaçõ es. Ele estava aqui por causa do vampiro
sorrateiro na frente dele. Onde isso vai acabar? No sangue ou no sexo?
Ambos?
Asher os fez parar repentinamente. O beco sem saída diante deles nã o
era de um desmoronamento, mas parecia deliberadamente esculpido
fora, um pequeno enclave separado dos tú neis sinuosos. Foi isso? Nikola
ficou para trá s, mantendo a curva da esquina que levava ao resto das
catacumbas em sua periferia. Certamente uma armadilha de Asher Black
não seria tão óbvia.
O Seguidor de Sangue se agachou e pegou um anel enferrujado, abrindo
um alçapã o que estava camuflado pela sujeira. Um brilho suave e azul
emitido pelo buraco no chã o. Asher riu e saltou, com os pés primeiro.
Nikola hesitou. Bem, cheguei até aqui ... Ele nã o pulou, mas usou a escada
para se juntar a Asher em seu covil.
Foi... nã o o que ele esperava. Nã o havia caveiras, nem potes de sangue,
nem listas de nomes com metade deles riscados. Em vez disso, luzes de
fadas iluminavam a sala decorada com tapeçarias psicodélicas e pô steres
de filmes de terror. Havia uma mesa cheia de papéis espalhados,
cobertos com a caligrafia errá tica de Asher, a maioria das notas eram
lembretes pessoais ou nomes de recrutas e descriçõ es físicas. Nikola
examinou alguns deles, como Brice, loiro twink, meio inútil, coloque-o com
Riccardo nas patrulhas ao anoitecer.
— Desculpe, você nã o encontrará nada ú til,— Asher brincou, inclinando
o quadril contra a borda da mesa. Tã o perto, perto o suficiente para
estender a mã o e tocar. — Eu nã o sou tã o estú pido.
Nikola presumiu que Asher passava muito tempo por aqui; seu cheiro se
infiltrou em tudo. Talvez isso realmente fosse tã o simples quanto Asher
mostrar a Nikola um pedaço dele, um lugar privado para eles... o que
quer que estivesse acontecendo aqui.
— Você mora aqui? Eu pensaria que o segundo em comando tinha seu
pró prio quarto na mansã o do senhor.
Asher encolheu os ombros.
— Sim, em teoria. Mas aqui é muito mais privado. Você nã o concorda?
Sua voz caiu baixa, quase um sussurro. Nikola se lembrou da ú ltima coisa
que Asher disse sobre privacidade versus pú blico.
Asher rolou a cabeça para trá s, suas presas brilhando no brilho das luzes
enquanto ele sorria conscientemente. A extensã o de suas pernas, o brilho
feroz em seus olhos escarlates, Asher personificava o pecado, o fruto
proibido que prometia a morte se comido. O peso dolorido nas calças de
Nikola nã o se importava com os perigos.
Ele nã o estava disposto a morder a fruta ainda. Ao lado do futon havia
uma estante cheia de livros e histó rias em quadrinhos. A curiosidade
tomou conta dele e ele se dirigiu para lá . Ele começou a puxar um título
com uma fonte parecida com sangue respingado, mas Asher de repente
estava lá , agarrando seu pulso, puxando-o para trá s.
Nikola reagiu instintivamente, seus mú sculos movendo-se sem comando.
Ele empurrou Asher contra a parede, prendendo seus braços, um silvo
preso entre os dentes. Os olhos de Asher eram de coruja, ausentes de
raiva ou agressã o. Nikola vacilou.
— Nã o toque em nada,— disse Asher. — Por favor.
Asher parecia quase assustado. Nã o pela ira de Nikola, isso era certo, mas
por Nikola sujar o santuá rio de Asher. A culpa revirou o estô mago de
Nikola e ele se afastou.
— Eu... eu pensei... minhas desculpas, Mestre Asher. Eu nã o vou.
Nikola deu um passo para trá s, dando espaço a Asher para sair do canto,
mas o Seguidor de Sangue saltou para frente. Nikola quase o jogou no
chã o, mas se conteve quando lá bios exigentes colidiram com os dele.
— Nã o estamos aqui para conversa fiada, Nikki,— Asher rosnou, a marca
registrada da mania brilhando em seus olhos mais uma vez. — E nada
daquela merda formal aqui.
A excitaçã o de Asher colidiu com a sua. As suspeitas de Nikola sobre uma
armadilha se dissiparam. Ele quer isso tanto quanto eu. Talvez se ele
tivesse recebido um aviso, ele teria sido capaz de resistir. Ou talvez nã o.
Talvez Asher estivesse certo e ele realmente estivesse preso na teia de
aranha.
Nikola encostou Asher na parede entre a mesa e o futon, seus beijos mais
uma batalha do que qualquer coisa, caninos se chocando entre
respiraçõ es pesadas. As mã os de Nikola procuraram pele, seus dedos
deslizando sob a camisa de Asher para sentir a parte inferior de suas
costas quente e corada.
Asher se contorceu nos braços de Nikola, libertando-se para rasgar
completamente a camisa. Nikola mexeu no cinto de Asher, desesperado
para tirar tudo. A risada de Asher foi baixa e cortante, suas mã os
desfazendo rapidamente seu jeans skinny antes de tirá -lo
completamente.
Espere, ele esteve descalço esse tempo todo?
Asher ficou nu diante de Nikola, a ponta de sua ereçã o brilhando com
pré-gozo. Nikola absorveu a visã o perfeita, memorizando cada rebite de
mú sculos magros e cicatrizes caó ticas. Deixado para trá s de propó sito,
claro, mas por quem? E porque? Malkolm foi a resposta mais ó bvia.
Nikola sentiu uma onda confusa de proteçã o. Por que estragar algo tã o
bonito?
— Você vai apenas ficar olhando? — Asher provocou, as palavras sem
fô lego. — Ou vai ser homem o suficiente para me foder, Nikki?
Se seu objetivo era atrair Nikola, estava funcionando. Com um grunhido
curto, ele prendeu Asher de volta com uma mã o em volta de sua
garganta, a outra acariciando o comprimento do pênis de Asher. O
Seguidor de Sangue gemeu, com a respiraçã o ligeiramente ofegante, mas
Nikola nã o estava aplicando nenhuma pressã o verdadeira – o
estrangulamento era mais um aviso, uma coleira. Nikola tomou a boca de
Asher, a língua entre os lá bios, enquanto Asher empurrava seus quadris
no ritmo dos movimentos fluidos de Nikola.
— Onde está o lubrificante? — Nikola grunhiu, seus lá bios roçando a
mandíbula de Asher.
Asher zombou.
— Nã o preciso disso.— Nikola nã o iria jogar esse tipo de jogo
masoquista. Ele pegou uma mecha do cabelo de Asher e puxou sua
cabeça para trá s, um grunhido vibrando no peito de Nikola. Os olhos de
Asher nadaram de prazer, um sorriso bêbado brincando em sua boca.
— Nã o me faça perguntar de novo, Mestre Asher.
— Porra, — ele ofegou, piscando rapidamente como se quisesse se
recompor. — Mesa. Perto de você.
Enquanto Nikola vasculhava a gaveta da mesa, Asher beijou o pescoço de
Nikola. Ele sentiu o toque suave de pontas afiadas, um pergunta nã o dita.
Nikola respondeu sem palavras com a mã o caindo de volta no pescoço de
Asher, empurrando-o para longe. A risada de Asher rolou sobre ele, seu
lá bio inferior franzido em um beicinho brincalhã o. Enquanto os dedos de
Nikola envolveram um tubo de plá stico, ele beijou Asher, chupando
aquele lá bio.
— Oh meu Deus, — Asher gemeu, observando através dos olhos
semicerrados enquanto Nikola destampava o lubrificante e o colocava na
palma da mã o, deslizando os dedos. A mã o de Nikola deslizou entre as
coxas de Asher, abrindo-as, seus dedos encontrando e provocando o
buraco de Asher. Asher resistiu ao toque frio, amaldiçoando, e apoiou-se
contra a parede.
— Eu nã o sou virgem, — Asher cuspiu. — Foda-me. — As palavras se
transformaram em um gemido quando Nikola liberou calor derretido.
Dentro do Mestre Asher Black, devo estar realmente louco. Mesmo assim,
ele nã o conseguiu detectar nenhuma ameaça do Seguidor de Sangue –
apenas uma luxú ria avassaladora e abrasadora.
Nikola desatou o cinto com um ú nico movimento, liberando sua pró pria
ereçã o. Ele se deu prazer enquanto continuava a foder Asher com os
dedos, perdendo-se com a visã o do vampiro mais jovem se contorcendo
e gemendo.
— Coloque seu pau dentro de mim, — Asher meio implorou, meio
comandou. Nikola teria reprimido sua impaciência, provocando-o por
despeito, mas o Filho da Lua nã o tinha autocontrole agora. Com as
pernas fracas de excitaçã o, ele arrastou Asher para seu futon e o
empurrou para baixo.
Nikola parou, distraído pela imagem de Asher, totalmente nu,
esparramado diante dele.
— Lindo, — ele respirou antes de perceber que estava falando em voz
alta.
Aborrecimento brilhou no rosto de Asher.
— Mantenha essa merda cafona fora daqui, — ele resmungou. Ele abriu
os joelhos, curvando o dedo em sua direçã o. — Foda-me, Nikola
Kingston.
Nikola rastejou sobre os cobertores, quase inteiramente vestido, as
calças puxadas para baixo, logo abaixo do pênis ereto. Asher estendeu a
mã o e soltou o rabo de cavalo de Nikola até que seu cabelo claro fluísse
livremente pelos ombros. Asher piscou os olhos com a visã o.
Nikola espalhou lubrificante em seu comprimento, desajeitado em sua
pressa, e jogou a garrafa de lado. Ele alinhou a cabeça com a entrada de
Asher, olhos vermelhos ardentes encontrando a prata gelada enquanto
Nikola o preenchia até a base. As mã os deslizando por baixo da camisa
de botã o, as unhas de Asher se enrolaram nas costas de Nikola,
rompendo a pele. A dor dos cortes e a pressa de montar no Seguidor de
Sangue com o qual ele nã o conseguia parar de fantasiar esvaziaram seu
crâ nio de raciocínio. Havia apenas calor corporal e êxtase.
Nikola se soltou e fodeu Asher Black sem qualquer preocupaçã o com
consequências ou controle. Asher arranhou suas costas, rosnando e se
contorcendo. O sangue escorreu pelos braços de Nikola, infiltrando-se no
tecido de suas roupas. O som ú mido de pele contra pele testemunhou o
quã o forte Nikola estava batendo. Se fosse qualquer outra pessoa, Nikola
estaria muito preocupado em machucá -los por ir tã o longe. Mas era
Asher Black. Ele poderia aguentar. Na verdade, o Seguidor de Sangue
queria a dor.
— Mais,— Asher choramingou, com os olhos atordoados, os lá bios
entreabertos. — Mais, mais.
Nikola agarrou os pulsos de Asher, prendendo-os no colchã o do futon,
sabendo que eles machucariam sob seu peso. Gritando de forma
ininteligível, Asher arqueou-se, exibindo a pele pá lida de sua garganta
que exibia artérias inchadas.
Nikola atacou antes que ele pudesse decidir contra isso. Sangue com
gosto de metal e poder desceu em cascata por sua garganta, seu nú cleo
se apertando de prazer. A euforia indireta irradiava de Asher, as pernas
serpenteando ao redor dos quadris de Nikola. Nikola bebeu e fodeu,
intoxicado por sexo e sangue.
Asher deu um suspiro de advertência, mas já era tarde demais, seu pênis
saltando com o orgasmo e pintando seu abdô men musculoso com jatos
de esperma. Nikola sentiu todo o impacto do Seguidor de Sangue clímax.
A combinaçã o de sensaçõ es foi explosiva, o ritmo já era demais para
acompanhar. Nikola rosnou quando gozou de repente, enchendo o
interior de Asher com sua semente. Ele conseguiu recuar antes que
pudesse beber o Seguidor de Sangue até secar, por mais dolorosa que
fosse a separaçã o, dividindo o pró prio lá bio para ajudar a curar as
marcas de mordida antes que sangrassem.
Nikola desabou em cima de Asher, sem se importar com a bagunça entre
eles ou com o suor cobrindo sua pele. Eles respiravam pesadamente, a
névoa pó s-orgá stica os unia. Apesar da neblina feliz, Nikola podia sentir a
energia do sangue do Chifrudo zumbindo em suas veias, uma onda
revigorante de invencibilidade.
Nikola se atreveu a beijar a clavícula de Asher enquanto ela subia e
descia com respiraçõ es constantes.
— Você é perfeito, Mestre Asher, — ele respirou em seus poros, uma
onda de afeto nublando seu julgamento. — Quando posso te ver
novamente?
— Eu, ah...
— Há uma festa de Halloween no estú dio de tatuagem.— O que eu estou
fazendo? — Pergunte a Veronica sobre isso. Ela pode convidar você.
Nikola sentiu a bala de terror cortando o coraçã o de Asher antes que o
Seguidor de Sangue reagisse a isso. Asher se debateu, com a respiraçã o
presa, punhos e chutes voando.
— Fora! Saia! — Nikola saltou para trá s antes que pudesse ser atingido,
quase tropeçando com as calças afrouxadas. — Saia! — Asher gritou,
agarrando seu crâ nio, enrolando-se em si mesmo.
Enquanto Nikola ajustava suas roupas, sua primeira resposta foi
aproximar-se de Asher, tentar confortá -lo, mas Asher atacou com garras.
O medo distorceu suas feiçõ es, lá grimas escorrendo por seu rosto.
Nikola evitou o ataque indiferente. Ele não tem medo de mim. Ele está com
medo de seu próprio coração. A dúvida cortou a observação. Ou ele está
apenas com medo do que acontecerá com ele se Malkolm nos descobrir.
— Fora! — Asher gritou novamente. Nikola nã o teve muita escolha. Ele
obedeceu, confusã o e rejeiçã o circulando em sua cabeça. Foi bastante
fá cil seguir o cheiro de Asher fora das catacumbas, muito familiarizado
com o cheiro.
Vou dar espaço a ele. Ele entrará em contato comigo se me quiser por
perto.
Nikola tentou nã o se demorar na dor. Ele tinha metade da intençã o de
interromper Asher completamente pelo bem de ambos e outra metade
de retornar ao seu esconderijo, segurá -lo até que ele contasse a Nikola
exatamente o que estava acontecendo. Mas a presença de outra pessoa o
impediu. Foi logo nos arredores das seçõ es das catacumbas que ele
manobrou, uma excitaçã o momentâ nea de um jovem Seguidor de
Sangue, mas foi o suficiente para empurrá -lo para frente e de volta à
superfície.
Abraçando os pró prios ombros, ele respirou fundo.
— O que diabos aconteceu? — ele perguntou ao céu noturno sem
nuvens. Nã o deu resposta.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

ASHER

Asher Black andava de um lado para o outro no quarto de sua mansã o,


puxando o cabelo e murmurando baixinho. Se alguém entrasse, pensaria
que ele estava oficialmente louco – o que quer que isso significasse para
alguém como Asher. Mas ninguém iria entrar porque a porta estava
trancada, bloqueando tudo, o mundo todo.
“Você é perfeito, Mestre Asher.”
Porra. Ele deu um chute no baú na beira da cama, estilhaçando a madeira
e derrubando-a, espalhando roupas soltas pelo chã o. Ele caiu de joelhos
entre as roupas, socando o chã o enquanto xingava loucamente.
Ok, definitivamente perdendo o controle.
Asher estava muito envolvido. Muito profundo. Ele nã o tinha planejado
fazer... nã o, ele nã o ia chamar assim ... ele nã o tinha planejado ser fodido
pelo cara. Ele só queria se alimentar dele, ganhar sua confiança para que
Asher pudesse drená -lo quando fosse necessá rio. E Asher nem conseguiu
fazer isso. Na verdade, aconteceu exatamente o oposto.
Essas malditas mãos. O corpo de Asher, dissociando-se de seus
pensamentos em espiral, ansiava pelas mã os de Nikola Kingston. O
mundo se reduziu à sensaçã o do toque de Nikola. Asher olhou para seus
dedos, dificilmente reconhecendo-os como os mesmos que haviam
cravado tã o desesperadamente nas costas de Nikola . Não poderia ter
sido eu. Não fui eu.
Deve ter sido alguma merda do Filho da Lua, certo? Asher Black nã o
captou sentimentos. Nã o para ninguém. Nem para Malkolm, nem para
Nikola Kingston. O encontro era apenas mais um meio de se aproximar
do cara, tinha que ser.
Ganhe a confiança dele, destrua-o. Transforme-o.
Mas quando o peso de Nikola estava caindo sobre ele, as pernas de Asher
enroladas em seu tronco, tentando chegar tã o perto do homem quanto
era fisicamente possível, ele nã o estava pensando em tronos ou
fronteiras. Havia apenas Nikki. Nikki delicioso, viciante e cabeça-dura.
— PORRA! — Asher gritou, dobrando-se até que sua testa tocasse o chã o.
Isso nã o poderia estar acontecendo. Isso nã o poderia continuar
acontecendo. Muito duro, muito rá pido.
Ele nã o se permitiria apaixonar-se por Nikola Kingston. Ele era o maldito
inimigo, para nã o mencionar a Lua, o adversá rio de seu pró prio Deus.
Mais de um tipo de fronteira separava Nikola e Asher. Nikola acabaria
abandonando Asher ou se voltando totalmente contra ele – eles sempre
fazem isso. Todos... exceto Malkolm.
Uma culpa doentia se acumulou nas entranhas de Asher quando ele
percebeu que havia traído inadvertidamente seu... amante? O mestre
dele? O homem que ainda esperava que Asher convertesse Nikki e o
trouxesse para o clã de Malkolm. Se Malkolm descobrisse o que está
acontecendo, ele massacraria os dois. Asher tinha certeza disso. Acabou
agora. Neste maldito segundo.
Asher respirou fundo, sentando de joelhos. Ele enxugou as lá grimas
quentes do rosto, chateado consigo mesmo. Patético. Seguindo em frente,
Asher prometeu nã o ter contato com Nikola Kingston, a menos que o
dever o chamasse. Estritamente negó cios.
O telefone de Asher tocou na cama. Ele tinha a sensaçã o de que sabia
quem estava mandando mensagens para ele. Ele examinou sua nova
tatuagem à luz. Sim, boa escolha, Nikki.
Ele se levantou para confirmar sua suspeita. Um nú mero desconhecido

havia enviado: Então, sobre aquele esboço, Mestre Asher…

Um sorriso cruel apareceu em seus lá bios, lá bios traiçoeiros que ainda


ansiavam pela pressã o esmagadora de outro. Ele manteria distâ ncia de
Nikola Kingston, tempo suficiente para esquecer seu apego florescente.
Asher imaginou “conexõ es” entre pessoas como cabos de borracha –
durá veis, mas sujeitos a alteraçõ es. Mas os cordõ es que o ligavam aos
outros eram feitos de vidro, resistentes mas quebradiços. Ele iria atacar
com uma marreta o elo que se formava entre ele e Nikola Kingston.
Por enquanto, concentre-se no clã do Filho da Lua. Falo com você de novo
no Halloween, Nikki.
Três dias depois, Asher se viu na cozinha do andar de cima, acima do
estú dio de tatuagem no porã o de Katsuki. Os balcõ es, a ilha e a mesa
redonda de vidro estavam cheios até a borda com tintas, pincéis, jornais
e diversos outros materiais e mídias de arte. O chã o, e até mesmo parte
do papel de parede, estavam cobertos de respingos coloridos. As pias
abrigavam baldes vazios e latas de tinta spray. O lugar cheirava a
produtos químicos e acrílicos. Além do frigobar com vinhos e bourbons,
nã o havia outro sinal de que a cozinha foi projetada como um espaço
para os humanos cozinharem ou comerem.
Honestamente, Asher achou o “estú dio de arte”... aconchegante. Caseiro.
Fazia sentido. Parecia ser habitada, amada. Só de estar ali, ele se sentiu
como um intruso.
Veronica olhou para ele conscientemente.
— Eu convidaria você para minha casa, mas...
Mas fronteiras. Mesmo que isso nã o existisse, Asher nã o teria
concordado em se encontrar na casa compartilhada de Nikola. Asher
tinha, até agora, evitado o Filho da Lua, apesar de cada célula de seu
corpo desejar estar perto dele. Claro, ele continuou a persegui-lo – de
longe. Mas o cara meio que vagava de bar em bar, nunca tomando sua
pró pria bebida enquanto interrogava outros Filhos da Lua sobre a
atividade local do Sangue. Ele sempre olhava ao redor como se esperasse
que Asher saísse das sombras. Claro, Asher ficava tentado, especialmente
porque o trabalho era terrivelmente chato, mas ele se manteve firme.
Pelo menos Malkolm estava fora de controle desde que relatou: — O
plano está em açã o. Dê-me duas semanas.
Só tenho que esperar.
Paciência nã o era exatamente o ponto forte de Asher, mas ele tinha que
fazer essa merda valer a pena.
— Agache-se! — Veronica cantou, saltando para frente e dando um
tapinha em uma poltrona na mesa bagunçada. Cada vez que ela piscava,
sua sombra dourada brilhava dramaticamente. Ela estava usando um
espartilho marrom e preto com uma saia que lembrava vagamente Asher
de piratas. Embora nã o se sentisse atraído por mulheres, ele apreciava o
apelo sexual.
Ele pendurou a jaqueta de couro nas costas da cadeira e tirou a camisa.
Ele tentou nã o pensar muito sobre a ú ltima vez que descobriu o peito na
frente de outra pessoa. Ele sentou de costas na cadeira, as pernas
enroladas sob os braços.
— Merda, deixei meus lá pis no carro. Um segundo! — Com a graça de
uma bailarina, mesmo com saltos de quinze centímetros, Veronica saiu
correndo da sala. Asher tentou imaginar sua energia ilimitada com o
poder do Deus do Sangue. Por toda a sua vida, ele nã o conseguia
imaginá -la com olhos escarlates. Mas foi muito mais fá cil com Nikola.
Pare de pensar nele.
Asher examinou a sala, perguntando-se se deveria bisbilhotar e, em caso
afirmativo, por onde começar. Mas ele foi interrompido por passos lentos
e constantes vindos do porã o. Nã o o clique das silhuetas de Veronica,
mas os passos de um anciã o arrastado por milhares de anos de
memó rias.
Katsuki entrou na cozinha, suas feiçõ es difíceis de interpretar. Nã o pela
primeira vez, Asher desejou ter a capacidade da Lua de ler emoçõ es. O
olhar de Katsuki percorreu Asher, perscrutando sua alma. Katsuki
circulou Asher enquanto eles o examinavam, e Asher nã o pô de deixar de
se sentir como um coelho encurralado. Nã o é algo natural para um
Seguidor de Sangue a sensaçã o de ser uma presa.
— E aí? — Asher jogou fora.
Katsuki parou na frente dele, curvando-se até o nível dos olhos de Asher
com as mã os nas ró tulas. Suas sobrancelhas pontilhadas se contraíram
levemente.
— A culpa e a vergonha fluem de você como um rio inundado. Que
negó cios você tem aqui?
Asher manteve seu temperamento sob controle, nã o querendo parecer
defensivo.
— Este lugar está aberto para visitantes, nã o é? Você já está cansado de
mim?
— Mas você nã o está aqui para fazer uma tatuagem. Você está aqui como
um favor para Veronica, mas você, Asher Black, nã o age por gentileza.
Asher recuou, puxando o lá bio superior para trá s. Katsuki inclinou a
cabeça para o lado, a boca formando uma linha fina.
— Você tem vergonha de se apegar aos Filhos da Lua? Nã o, nã o é tã o
simples. Que esquemas você está planejando, Asher Black? Isso tem a ver
com Nikola Kingston?
Asher nã o pretendia recuar com a mudança repentina do nome, mas ele
nã o esperava por isso. Os olhos de Katsuki se arregalaram, lendo o
desejo e a repulsa que estremeciam as costas de Asher, como se cada
pensamento que ele nã o deveria estar tendo fosse trazido de volta. pela
presença de um leitor de mentes. Asher zombou e disse com desdém: —
Você nã o consegue ser tã o velho quanto você sem ser paranoico, hein?
Katsuki deu um meio sorriso, criando a imagem de um diabinho
desonesto. Talvez em uma vida diferente, os dois pudessem ter sido
amigos.
— Você nã o quer machucar Nikola ou Veronica, Asher Black.
Parecia uma observaçã o, mas era uma ameaça, se é que Asher alguma
vez ouviu uma.
O toque de salto alto fez Katsuki se endireitar e recuar. Veronica lançou
um olhar interrogativo quando passaram por ela na saída. Caso
contrá rio, ela nã o comentou. Asher enterrou suas emoçõ es agitadas. Se
Katsuki sentiu a culpa, é por causa da minha recente deslealdade ao meu
próprio clã, e nada mais.
Veronica contornou Asher e sentou no banco atrá s dele. Ele ficou tenso
com a perspectiva de alguém rondando fora de sua linha de visã o. Ele
olhou por cima do ombro e a viu abrir um bloco de desenho e alinhar
seus utensílios no balcã o ao lado dela. Ela ergueu os olhos com uma
sobrancelha arqueada.
— Nã o há necessidade de ficar tã o nervoso, amigo. Eu nã o mato por
diversã o nem nada.
Isso lhe rendeu um bufo.
— Nem eu,— ele admitiu.
— Sim, ouvi rumores de que Asher Black gosta de fingir que é o Batman
de Grander.
— Com licença? Quem está dizendo merdas bregas como essa? Vou
matá -los.
Veronica apenas riu e começou a trabalhar. Sua língua ficou entre os
dentes em sua concentraçã o. Cativante. Relaxando um pouco, Asher se
virou.
— Sabe, nã o sei por que você está fazendo isso,— disse ele. — Já vi a
obra de arte antes.
— É diferente ver no corpo, acredite, principalmente em cores. Além
disso, se eu quiser ser um artista tã o lendá rio quanto Katsuki algum dia,
devo usar alguns de seus trabalhos como referência.
Asher grunhiu. Ele apoiou o queixo nos braços cruzados sobre o encosto,
apreciando o ambiente do carvã o e das canetas arranhando. Nenhum dos
dois falou muito durante a hora em que ela trabalhava. Asher achou...
legal, apenas sair sem ter que se preocupar com o cara ao lado dele
ficando selvagem ou apunhalando-o pelas costas.
É comigo que ela deveria se preocupar.
A vergonha o percorreu. O que ele estava fazendo aqui? Veronica era
inocente, confiando tã o tolamente nele entre todas as pessoas. E para
quê? A mú sica e a dança de Malkolm? Nã o era como se ele tivesse que
machucá -la ou nada, certo? Basta fazer um ato convincente para
empurrar Nikola para o fundo do poço.
— E feito! — Veronica jogou de lado suas canetas coloridas e ficou de pé.
Ela circulou ao redor de Asher e estendeu seu caderno de desenho, seus
olhos redondos lembrando Asher de um estudante do jardim de infâ ncia
querendo que seu desenho fosse exibido na geladeira.
Mas definitivamente nã o era um rabisco de criança. A respiraçã o de
Asher ficou presa quando ele pegou delicadamente a peça nova, a tinta
ainda brilhando. Era quase fotorrealista, a ú nica revelaçã o eram as
bordas borradas do chã o e das paredes ao fundo. O epicentro foi a
tatuagem em si, as cores muito mais intensas do que Asher esperava,
especialmente depois de todo esse tempo. Ele traçou os gritos
angustiados das figuras sombrias sem tocar diretamente no papel. Ele
admirou os mú sculos tonificados, sem ter percebido o quã o em forma ele
havia ficado nos ú ltimos anos. Ela até capturou cada rebite e borda
irregular das vá rias cicatrizes tentando destruir a representaçã o da
queda de Babel, mas apenas aumentando a destruiçã o criada. Cada
aspecto das costas de Asher foi moldado por Malkolm. A força, o dano, a
inspiraçã o para a tatuagem em si.
Ele esperava que ela levantasse a parte de trá s de sua cabeça,
reconhecidamente curiosa para saber como era seu cabelo visto de trá s.
Mas, em vez disso, ela o desenhou olhando para ela por cima do ombro
esquerdo, com o olho escarlate penetrante, a um centímetro de distâ ncia
do pico daquela maldita cicatriz facial. Ele sabia que a cicatriz era cruel
apenas pelo toque, mas pelo pouco que conseguia distinguir, ele a
imaginou como realmente era.
— Se você gostar, — disse Veronica timidamente, — posso fazer outro
pedaço do seu busto. — Ela fez um gesto amplo em torno dos ombros e
do rosto. — Deus sabe que eu odiaria se nã o tivesse um reflexo.
— Eu adorei,— Asher respirou, falando sério. — Mas nã o. Eu nã o preciso
disso. Isto é suficiente. Obrigado.
Os olhos de Veronica percorreram toda aquela maldita cicatriz e ela
abriu a boca. Mas o que quer que ela fosse perguntar, ela mudou de ideia.
A onda de gratidã o de Asher foi perfurada por uma agulha de vergonha.
Limpando a garganta para cobrir o turbilhã o de emoçõ es, ele tossiu: —
Uh, certamente você quer dinheiro para isso? Artista morto de fome ou
algo assim?
Ela riu, os olhos prateados brilhando.
— Foi ideia minha, bobo. Além disso, nã o posso estar morrendo de fome.
Eu bebo sangue da mesma forma que você.
Sim, não tenho certeza sobre isso.
Asher queria pegar o desenho e fugir, deixar a noite como estava –
apenas uma lembrança agradá vel. Mas isso nã o era uma opçã o. Ele já
tinha fodido tudo na outra noite por nã o ter conseguido. Ele estava aqui
por um motivo.
— Nikola mencionou alguma festa de Halloween.
Veronica deu um sorriso malicioso, como se estivesse contando alguma
piada interna. Asher se absteve de fazer caretas.
— Com certeza existe. Está interessado?
Asher fez um zumbido evasivo, nã o muito preocupado com um convite
oficial. Ele simplesmente invadiria a festa se fosse necessá rio, mas ser
convidado para entrar tornaria as coisas mais fá ceis.
— Eu posso passar por aqui.
— Ah, que bom. Apenas, uh...— Veronica se encolheu, roendo as unhas.
— Só nã o convide ninguém, hm, nã o sei se os outros convidados ficariam
muito confortá veis com mais de um... você sabe.
Asher sorriu.
— Sim, entendi.
— E falando em Nikola, o que diabos aconteceu algumas noites atrá s?
Num piscar de olhos, o caderno de desenho sumiu de suas mã os e
Veronica estava cutucando-o no peito. Asher piscou. Ele estava muito
acostumado com companhias que evitavam sua linha de visã o, mas aqui
estava ela, tocando-o casualmente.
— Ele chegou em casa atordoado e tropeçando. Eu presumi que ele
estava bêbado ou bateu a cabeça. Ele cheirava tanto a Seguidor de
Sangue que quase pensei que tínhamos um intruso.
Asher nã o disse nada, muito ocupado discutindo sua rede de emoçõ es.
Entã o, Nikki nã o estava tagarelando sobre seus... encontros com seus
colegas de quarto? Por desgraça? A mesma desgraça se contorcendo
entre as camadas da pele de Asher como vermes?
Veronica suspirou com um encolher de ombros.
— Bem, nã o é da minha conta. A menos que você quebre o coraçã o dele.
Então eu sou seu problema.
Quebre seu coração. A mente de Asher vacilou. Certamente Nikola nã o
estava se apegando tanto. O cara estava faminto por pau. Asher rejeitou
as palavras de Veronica. Ela era apenas um Filho da Lua fazendo o que os
Filhos da Lua faziam de melhor – sendo irremediavelmente româ ntica.
— Certo,— disse ele com ar de humor, divertido com a ideia da bomba
de purpurina de um metro e meio de altura desafiando-o. De novo. —
Vou manter isso em mente.
Veronica bufou e se virou. Soltando cuidadosamente o desenho das
costuras, ela o colocou em uma capa de plá stico. Asher aceitou com um
movimento de cabeça.
— Se algum de seus amigos quiser uma comissã o, envie-o para mim,—
disse ela. — Talvez eu possa começar uma agitaçã o lateral mostrando
aos Seguidores de Sangue como eles sã o.
Amigos. Certo.
— Anotado. — Ele se virou para sair com um suave — Obrigado
novamente.
Veronica, rindo, disse: — Ah, e fantasias sã o obrigatórias.— Asher
acenou por cima do ombro enquanto avançava. Talvez eu me vista como o
palhaço que sou.
No caminho de volta à s catacumbas, ele manteve o precioso desenho
debaixo do braço para o caso de chuva. Talvez ele enquadrasse isso. Ou
talvez, depois de tudo dito ou feito, ele o queimasse.

Asher estava sentado em sua mesa no subsolo. Ele nã o estava em seu


esconderijo há algumas noites e se recusou a olhar para o futon caso
começasse a fantasiar sobre aquela noite com Nikola. Mas ele nã o queria
trazer o desenho de Veronica para o de Malkolm.
O retrato estava ao lado de uma folha detalhando os planos para a noite
de Halloween. Asher bateu compulsivamente a caneta na borda da mesa.
Sua garganta doía de sede, seca e dolorida. Ele precisaria se alimentar
logo antes que a decomposiçã o começasse a mostrar sua face horrível.
Ele entendeu que Nikola tinha que realmente matar para renunciar à Lua
e abraçar Sangue. Asher nã o poderia ser o ú nico a ameaçar Veronica
fisicamente, nã o poderia ser o ú nico com a mã o em volta de sua garganta.
Nã o, a menos que ele fosse suicida. O que ele nã o era. Foda-se essa merda.
Nunca mais. Mas isso significava que Asher precisaria envolver outro
vampiro. Alguém que ele nã o se importava em sacrificar, alguém que
merecia morrer. Alguém em quem ele pudesse confiar para nã o perder a
cabeça e matar Veronica. Cristo, que enigma. Quem? Ele considerava
Riccardo o maldito nojento, mas o homem tecnicamente seguia as regras
de Asher.
Asher estava jogando muito seguro? Ele apenas teve que aceitar os
riscos? Foi esta a draga de sua deslealdade?
Uma batida acima dele interrompeu seus pensamentos confusos. Por um
doloroso segundo, ele esperou que Nikola tivesse retornado, a ú nica
outra pessoa que deveria saber sobre o esconderijo. Mas mesmo que o
Filho da Lua conhecesse o labirinto, o cheiro que flutuava pelo alçapã o
era inconfundivelmente de Sangue.
Asher permaneceu imó vel como um cadá ver, aliviado por seus pulmõ es e
coraçã o estarem em silêncio. A batida veio novamente, deliberada
demais para ser apenas alguém passando.
— Mestre Asher? Você em casa?
Maldita Brie. Asher forçou a audiçã o e o olfato, mas nã o conseguiu
detectar mais ninguém com ela. Seus olhos se voltaram para as adagas
em cima da mesa, mas resistiram à tentaçã o. Nã o há razã o para matá -la
sem pensar aqui. Embora matá -la resolveria outros problemas.
Aguente.
Ele a ouviu exalar com exasperaçã o. Ele nã o poderia permitir que ela
escapasse e contasse a alguém sobre seu esconderijo se ela já nã o o
tivesse feito. Ele folheou o desenho de Veronica. Ele subiu a escada em
dois passos, abrindo o alçapã o. Brie amaldiçoou, quase balançando para
trá s, mas Asher a pegou pela camisa e a arrastou para o subsolo. Ele a
jogou no chã o e bateu a porta – e certificou-se de que estava trancada.
Ela gritou quando ele saltou sobre ela, uma mã o em volta de sua
garganta e a outra puxada para trá s, com as garras estendidas.
— Espere. Espere! — ela chorou. Ela lutou embaixo dele, mas embora
fosse á gil, nã o era pá reo para Asher.
— Por quê você está aqui? — Asher zombou. — Como você sabe sobre
este lugar?
— Eu... eu segui você. Eu nã o sabia que era, tipo, privado! Desculpe!—
Sua voz era aguda, bastante crível. Me seguiu. Maldita seja sua furtividade.
Asher nã o tinha a menor ideia.
Um pensamento muito mais assustador veio à mente.
— Quando você me seguiu?
— Agora mesmo. Jesus, cara, me desculpe! Nã o vou contar a ninguém.
Por favor, nã o me mate! — As ú ltimas palavras se transformaram em
soluços. Asher rosnou, abaixando a mã o, mas nã o a deixando levantar.
— Eu nã o vou matar você.— Ele falou mais baixo, mas as palavras eram
tã o frá geis quanto gelo. — Você nã o deveria estar na bunda de Riccardo?
— Eu estava, mas ele me dispensou algumas noites atrá s. Tenho feito
patrulhas regulares. Eu, uh, eu vi você passar por baixo da igreja e nunca
tinha visto ninguém usar aquela entrada antes. Entã o, eu... sinto muito.
Sua voz estremeceu.
A raiva de Asher diminuiu ligeiramente sem desaparecer
completamente. Ela era apenas uma criança se metendo em uma merda
na qual nã o tinha nada a ver. Se ela vai ser uma merda sorrateira, é
melhor colocar isso em uso. — Você sabe que eu supero Riccardo, certo?
Depois de Malkolm, minha palavra é lei.
Brie respirou fundo estremecendo, estreitando os olhos com suspeita.
— Eu entendo como funciona o segundo em comando.
— E você entende minhas leis, certo? Em relaçã o a crianças, estupro,
esse tipo de coisa?
Ela assentiu, franzindo as sobrancelhas em perplexidade.
— Ouvi falar disso até do outro lado da fronteira. Por que?
Ele reprimiu o rosnado: — Você não me questiona.— Em vez disso, ele se
afastou dela e ofereceu a mã o. Hesitando por uma fraçã o de segundo, ela
aceitou a ajuda para se levantar. Ela limpou a sujeira de seu jeans escuro,
observando Asher como se ele fosse uma cobra com o capuz aberto.
— Eu preciso que você faça algo por mim. Fique de olho nos outros
Seguidores de Sangue durante as patrulhas. Relate para mim qualquer
merda superficial, você me entende? — Ela assentiu, sua expressã o era
uma má scara ilegível. — Mas aqui está o chute. Riccardo nã o pode saber
o que está acontecendo. Não me questione, — ele latiu quando ela abriu
a boca. Ela fechou-o. — Ele também nunca descobrirá sobre meu
esconderijo. Estamos entendidos?
— Certo, sim. Seus segredos estã o seguros comigo. — Asher se impediu
de reagir. Se ela o tivesse reconhecido daquela noite no shopping, ela já
teria revelado, certo? — Espionar os outros. Vou lhe dizer se eles estã o
sendo idiotas assustadores. Fá cil
Asher deu um passo para o lado, apontando o queixo em direçã o à
escada. — Saia.
Brie abaixou o queixo e correu na frente, dizendo: — Obrigada, Asher
enquanto começava a subir.
— Mestre Asher, — ele retrucou. Ela fez uma pausa, estremecendo, e saiu
correndo de seu esconderijo. O silêncio se instalou. O olhar encapuzado
de Asher deslizou pelo esconderijo. Entre a intrusã o de Brie e o fiasco
com Nikola, todo o espaço parecia... invadido. A raiva tomou conta dele,
um pano encharcado de gasolina lambido pelo fogo.
Com um uivo, ele tirou romances e quadrinhos das prateleiras,
despedaçando-os. Ele rasgou os cobertores e o tecido do futon, rasgando
os papéis que enterravam a mesa. A pró pria mesa, ele bateu contra o
chã o, quebrando-a. Ele arrancou cartazes e luzes de corda, envolvendo-o
na escuridã o.
As ú nicas coisas que sobreviveram ao ataque de Asher foram suas
adagas, uma pasta com planos para a noite de Halloween e o desenho de
Veronica escondido embaixo. Todo o resto ele deixou para trá s.
Esperançosamente, o tú nel desabaria algum dia.
Toda essa besteira acabará em breve.
CAPÍTULO VINTE E CINCO

NIKOLA

Halloween estava em Nikola antes que ele pudesse processar. Ele


brincou com a ideia de simplesmente nã o comparecer à festa. Os eventos
sociais de Veronica resumiam tudo o que Nikola nã o era. Má scaras
brilhantes, enérgicas e cintilantes dos Filhos da Lua que compreenderam
seu lugar no mundo. Mesmo nos anos em que Veronica hospedou-se em
sua casa compartilhada, Nikola normalmente encontrava alguma
desculpa para nã o estar em casa, ou entã o se escondia atrá s da porta
trancada de seu quarto.
Havia apenas uma razã o pela qual ele planejava aparecer este ano. Mas
essa razã o nã o apareceu desde a visita de Nikola à s catacumbas, nem
nenhum texto foi enviado ou mensagem deixada. Era um absurdo
acreditar que Asher Black estaria ali depois de tantas noites de silêncio.
Ainda assim, Nikola nã o conseguia afastar a esperança, especialmente
porque sabia que Asher se mantinha por perto, seu cheiro era um
suspiro no vento, seus olhos escarlates eram um breve flash nas sombras
ao redor.
Nikola nã o tinha certeza se estava ameaçado pela presença oculta de
Asher ou se achava isso reconfortante. Seria possível ser ambos?
O confuso emaranhado de emoçõ es que Asher obteve de Nikola foi
motivo suficiente para evitar a festa de Halloween por completo - e o
pró prio Asher indefinidamente. Se ele alegasse que o segundo em
comando de Malkolm estava evitando Nikola, entã o talvez seus
superiores abandonassem a ideia de que as mã os de Nikola desferissem
o golpe final. Se ao menos fosse assim tã o fá cil. Vou tirar Veronica e
Francis daqui antes que a situação piore a ponto de eu matar.
Nikola estremeceu ao lembrar dos gritos de Asher Black nas catacumbas.
Ninguém se torna um Seguidor de Sangue sem sofrer grande dor, na vida
e na ressurreiçã o. Nikola sabia que nã o seria capaz de matar Asher, mas
também nã o poderia ser outra ferida no coraçã o de Asher. Nikola
vislumbrou ternura e humanidade nos olhos de Asher, mesmo que
apenas por breves momentos. Sempre que o fogo maníaco se extinguia,
Nikola via um piadista solitá rio, tímido à sua maneira e, apesar disso,
ferozmente apaixonado.
Asher foi pego na teia de aranha de Grander assim como Nikola. E por
mais que rezasse pelo contrá rio, Nikola nã o poderia ser o ú nico a cortar
os fios, nã o quando ele pró prio estava preso entre dois mundos.
Além disso, nã o parecia que Asher desejasse ser livre. Alguns dos fios da
teia eram produzidos pelo pró prio Asher. Mas aquelas cicatrizes... seu
esconderijo longe de seus pró prios parentes... algo nã o estava certo aqui.
Mesmo para os padrõ es dos Seguidores de Sangue.
Se eu o vir esta noite, terei que cortar nossos laços… pelo bem de nós dois.
Ele lidaria com as repercussõ es de seus superiores mais tarde. Embora
sua determinaçã o fosse forte, sua fé em si mesmo nã o era. Ele queria
adiar o inevitá vel de interromper Asher Black. Era exatamente por isso
que ele precisava fazer isso.
Uma batida na porta do quarto o tirou de seus pensamentos. Ele estava
olhando para o espelho do banheiro, dissociando-se em um reflexã o.
Linhas sutis traçadas ao redor de seus olhos e listras grisalhas tecidas em
seu rabo de cavalo trançado. Ele precisaria se alimentar em breve. Ele só
teve algumas vezes nas ú ltimas semanas, apenas para evitar rugas e
atrofia muscular. Nada faz jus ao sangue do Seguidor de um Chifrudo.
Nikola saiu do santuá rio de seu banheiro para cumprimentar quem
estava na porta.
— Niki! — Veronica cantou. Nikola sufocou uma careta. Quando diabos
ela escolheu esse apelido? Asher ainda estava andando pela sala?
Veronica o mencionou pela ú ltima vez quando ele perguntou sobre a
festa de Halloween – a ú nica razã o pela qual Nikola suspeitava que ele
ainda planejava comparecer. — Você está pronto? Bem, claramente NÃ O!
Onde está sua fantasia? — Veronica cruzou os braços.
Nikola observou sua roupa. Ela estava com um vestido justo que se
espalhava pelo chã o em volta dos tornozelos, largo como as asas de um
morcego e tã o preto quanto a noite. Suas unhas, também pretas, estavam
bem cuidadas em pontas perigosas, e seu cabelo estava alisado e
enrolado em ondas fluidas. Como ela chamava sua fantasia em conversas
passageiras? Mortícia Addams, foi isso.
Nikola olhou para seu típico traje casual de negó cios.
— Você estava falando sério sobre isso?
Veronica deu um tapa na testa com um grunhido exasperado. Os lá bios
de Nikola se contraíram de diversã o. Talvez esta seja a minha chave para
sair do evento.
— Ela sempre fala sério quando se trata de festas,— uma voz suave
surgiu na esquina. Assim que Francis apareceu, Nikola precisou de tudo
para tentar nã o se dobrar de tanto rir.
Ele falhou. — Irmã o! O que está em seu rosto?
O olhar furioso de Francis poderia ter incendiado os mó veis, mas foi
apagado por sua fantasia. Havia um bigode falso muito fino colado no
lá bio superior, o resto da nuca bem raspado. Seus dreadlocks estavam
amarrados o mais firmemente possível, a pele seu rosto tenso. Ele usava
um terno preto e branco de três peças com gravata, como se estivesse
pronto para um baile de formatura americano. Suas sobrancelhas,
naturalmente grossas, estavam artisticamente escondidas sob a
maquiagem mesclada, com linhas finas desenhadas a lá pis em seu lugar.
A impressã o deixou uma testa enorme e uma carranca cô mica. Veronica
conseguiu até escurecer as pá lpebras dele com sombra.
Nikola relembrou histó rias passadas de Francis como um lutador
respeitá vel, uma força a ser reconhecida. Se alguém dissesse a Nikola que
um dia o mesmo soldado estaria diante dele como uma paró dia de
Gomez Addams, Nikola os teria acusado de zombaria.
Embora, nesse sentido, ele tivesse que dar crédito a Veronica. Entre a
maquiagem espessa e o bigode ridículo, o pró prio Francis ficaria
irreconhecível no territó rio de Malkolm. Nikola se perguntou se ele
pró prio deveria ter considerado um disfarce em vez de uma fantasia.
Veronica agarrou Nikola pelas duas mã os e puxou-o para os corredores,
com risadas esticando seus lá bios pintados de vermelho.
— Para sua sorte, tive um palpite de que você esqueceria, entã o preparei
uma fantasia para garantir.
Sorte minha?

— Nã o posso acreditar que você achou que Van Helsing era uma escolha
apropriada,— Nikola lamentou pela décima vez. Ele estava sentado no
banco de trá s do Lexus de Veronica, Francis aceitando seu destino
silenciosamente no banco do passageiro.
— Você prometeu,— Veronica melodizou, batendo os polegares no
volante no ritmo da mú sica eletrô nica que saía do aparelho de som. Ela
era uma bomba-reló gio de energia, pronta para explodir no auge da festa
desta noite. A coceira era contagiosa, Nikola podia admitir.
Ele bufou, sem se preocupar em discutir. Ele se examinou mais uma vez,
incapaz de aceitar o quã o ridículo parecia. Veronica o vestiu com uma
jaqueta de couro marrom que ia até os joelhos, calças escuras e um colete
de couro com botõ es prateados combinando. Ela até comprou para ele
um par de botas de caça, perfeitamente ajustadas. Ele já havia dado a ela
o tamanho do seu sapato antes?
Ele convenientemente esqueceria a besta de plá stico no carro e largaria o
chapéu de cowboy de abas largas em algum lugar, uma vez lá dentro.
Pelo menos não preciso sofrer com pelos faciais falsos. Cada vez que
Francis coçava o lá bio superior, Nikola reprimia uma risadinha.
A sorte de rodar com um dos anfitriõ es é que eles chegaram cedo o
suficiente para evitar serem recebidos por qualquer tipo de multidã o.
Como o estú dio estava trancado durante a noite, eles passaram pela
porta da frente do apartamento para um refú gio para o Halloween.
A TV de tela plana da sala foi conectada a vá rios consoles de videogame
ao longo das décadas e, ao lado dela, uma má quina de fliperama
apitando. Balõ es laranja e pretos agrupados no alto, teias de aranha
falsas se estendendo de canto a canto. Havia lençó is brancos espalhados
pelo trio de sofá s, salpicados de tinta vermelha para imitar sangue.
A cozinha estava limpa e arrumada, com caveiras e cabeças do monstro
de Frankenstein penduradas no teto. A peça central da mesa de jantar
era uma tigela de doces cheia de atiradores. Vá rias garrafas de bebidas
alcoó licas lotavam a ilha. Luzes elétricas piscavam em todas as
superfícies e pequenos adesivos de Halloween, nomeadamente gatos
pretos e fantasmas, estavam colados nas paredes.
Já havia alguns vampiros presentes, a maioria do clã de Katsuki – Diesel,
ostentando uma aparência zumbificada, os gêmeos ruivos vestidos como
fadas rosa, e outro casal com vestes de bruxa e bruxo clá ssicos, nenhum
dos quais Nikola reconheceu. Diesel vestiu roupas esfarrapadas
manchadas de vermelho e sua maquiagem de palco criou feridas
purulentas realistas em seu corpo.
— Olha quem está aqui! A Família Addams! E seja lá o que diabos Nick
deveria ser. Indiana Jones?
— Van Helsing, — Nikola respondeu secamente.
Diesel gargalhou, batendo no joelho.
— Caramba, como isso é adequado! Ideia da Veronica, certo? O caçador
dos ratos da peste de Malkolm.
Nikola fingiu nã o notar a forma como as outros Filhos da Lua o olhavam
de soslaio, desconfiança e cautela pinicando em sua pele como rebentos
de cactos. Ele tinha certeza de que estava revestido pelo cheiro de
Sangue. Nikola se concentrou em admirar o quã o bem a tatuagem
exposta do cérebro de Diesel combinava com seu traje.
— Amigos. Bem-vindo! — Katsuki apareceu de outra sala. Eles flutuaram
em direçã o a Nikola e seu clã de braços abertos. O antigo vampiro usava
um colete prateado sem mangas com botõ es em forma de meia-lua, seus
jeans skinny com brilho metá lico. A cauda de uma raposa branca estava
presa na alça de um cinto, sua voz abafada por trá s de uma má scara de
raposa pá lida com marcas vermelhas ornamentadas. Uma kitsune, Nikola
identificou.
Katsuki abraçou Francis em um abraço. Embora a má scara escondesse o
sorriso, nã o havia como esconder o riso brilhando em seus olhos.
— Francis, faça-me a gentileza, quem você é?
Veronica gritou de prazer.
— Ele nã o é o Gomez mais bonito de todos os tempos? — Francis gemeu
fingindo dor, e a risada de Katsuki era como sinos de vento captados em
uma suave noite de primavera. Talvez esta noite não seja tão ruim.

Meia hora se passou antes que o apartamento estivesse lotado de


vampiros bebendo, gritando e se reunindo. A mú sica pulsava em
aparelhos de som montados nas paredes da sala, e alguém vestido como
um cawboy ocidental dedilhava mal um violã o em um canto. Outra
pessoa acabou confiscando o instrumento.
Nikola apostaria que a maioria dos Filhos da Lua no lado da fronteira de
Malkolm estavam presentes. Embora o porã o estivesse trancado para
segurança, pares de Filhos da Lua confraternizavam nas escadas que
desciam, tateando, beijando, alguns até se alimentando. Nikola evitou
aquela parte do apartamento.
Ele se manteve pró ximo de Veronica e Francis, lutando para acompanhar
suas conversas e piadas internas. Muitos Filhos da Lua os reconheceram
do bar clandestino, e Nikola se repreendeu por nunca ter feito um
esforço melhor para vê-los se apresentar. Ele teve chances de fazer isso
nas ú ltimas semanas, mas o que ele escolheu fazer em vez disso?
Perambular pelo territó rio de Malkolm fingindo investigar vagamente,
esperando em particular que um Seguidor de Sangue específico
aparecesse.
Mesmo agora, a atençã o de Nikola se voltava para a porta da frente
sempre que a maçaneta balançava, a decepçã o cinzelando seu nú cleo
quando ele via olhos prateados e nã o vermelhos. Ele percebeu com um
arrepio gelado que tinha mais em comum com Asher Black do que com
qualquer um dos Filhos da Lua bêbadas e risonhas que ziguezagueavam
ao seu redor. Ele bebeu sua xícara sozinho em um esforço para se
aquecer. Quando foi a ú ltima vez que ele esteve devidamente bêbado?
Nikola inclinou a cabeça para trá s, fechando os olhos e se perdendo no
fluxo e refluxo das conversas ao redor.
— Você tem acompanhado as novidades? Existem grupos de humanos
Grandes denunciando um surto vampírico. On-line e tal. Eu lhe digo,
tenho um mau pressentimento sobre isso.
— É porque Malkolm está deixando sua horda enlouquecida. Eu digo,
criar muitos vampiros que você nã o pode controlar é uma coisa, mas
esses recém-nascidos ainda têm amigos e familiares – humanos, quero
dizer. É mais difícil se esconder nas sombras quando essas crianças
procuram rostos familiares e os matam acidentalmente no processo.
Onde estã o os executores do Rei Supremo?
Pelo que Nikola entendia, a maioria dos Filhos da Lua de Grander nã o
eram nativos, tinham em média um ou dois séculos de idade e raramente
se reproduziam. A dupla que discutia os eventos atuais provavelmente
era muito jovem para se lembrar das ú ltimas expurgaçõ es vampíricas. O
que diabos Malkolm estava pensando, deixando seu clã mudar os
humanos sem regulamentaçã o? Os humanos sempre contra-atacaram
contra as ondas de Sangue, mas quando as ondas da cruzada atingiram a
costa, foram tanto Sangue quanto Lua que se afogaram.
— Diga,— outro vampiro entrou na conversa com um leve sotaque
gaélico. — Você ouviu falar desses humanos defendendo alguma cura? É
se tivermos algum tipo de vírus!
— Tá . Se ao menos o pú blico usasse a cabeça e visse que nã o somos
Sangue. Imagine esse mundo, hein?
— Até parece! O homem que me criou, que a paz esteja com ele,
costumava sempre dizer que o medo humano de nó s é o que os impede
de nos prender e nos cultivar para a imortalidade. Ele pensou que a
Deusa deu à nossa mordida o dom da amnésia exatamente por esse
motivo.
— Certo, bem, talvez ela devesse ter tirado nosso reflexo como o
Chifrudo fez com seus seguidores...
— Pelo menos nã o podemos aparecer na câ mera...
— Veja, é nisso que estou chegando! Você viu aquele vídeo que um
garoto fez de um de nó s passando pela vitrine de uma loja? Você nã o
podia vê-lo, mas seu reflexo estava claro como o dia! O talento americano
para negar a existência de algo só pode nos levar até certo ponto...
Nikola estava pensando demais para se preocupar com assuntos atuais e
fofocas. Era hora de outra bebida. Vou esperar mais uma hora e partirei
mais cedo. Ele chamaria um tá xi se precisasse — ou, er, pediria um Uber.
Assim que ele se levantou, houve uma comoçã o na cozinha. Um grito, o
barulho de garrafas de vidro e uma gargalhada aguda muito
reconhecível.
— Ajuda! Seguidor de Sangue! — uma voz em pâ nico chamou. Veronica
acordou num piscar de olhos. Nikola espremido pelos ombros dos Filhos
da Lua, abrindo caminho para ela. Francis estava em seus calcanhares.
— Ah, vamos! Eu fui convidado!
Nikola parou de repente.
Asher estava agachado no balcã o da cozinha, as cortinas da janela aberta
tremulando atrá s dele. Os gritos exultantes de crianças pedindo doces ou
travessuras nas ruas surgiram, estranhamente adequados ao sorriso com
presas de Asher. A metade superior de seu rosto estava escondida atrá s
de uma má scara. Era pintado de preto, com renda roxa costurada de
maneira complexa, com uma elegante pena de pavã o enrolada no lado
esquerdo. Os buracos dos olhos eram revestidos com strass vermelhos –
rubis reais ou imitaçõ es?
Ele tinha as mã os levantadas em sinal de rendiçã o, mas ignorou
completamente o pirata Filho da Lua brandindo um canivete aberto. O
olhar abrasador de Asher foi direcionado para Nikola, que pairava
estupidamente na entrada.
Palavras de semanas anteriores vieram à mente de Nikola... se eu tivesse
que te matar, eu iria querer uma audiência. Calafrios percorreram sua
espinha, seus mú sculos e mandíbula travaram.
— Tudo bem, isso é o suficiente! — Veronica disse, dando um passo à
frente e tocando o braço estendido do pirata. Ele olhou para Veronica
como se ela fosse louca. — Está tudo bem,— disse ela, endireitando o
chapéu torto do pirata. — Guarde isso. — Relutantemente, o pirata
baixou a guarda. Ele cambaleou para trá s quando Asher pulou do balcã o.
Veronica abraçou Asher em volta de seu tronco. A disparidade de altura
teria feito Nikola rir se o abraço em si nã o o chocasse tanto. Houve
respiraçõ es dos coletores que observavam. Asher visivelmente enrijeceu
por um piscar de olhos, sua surpresa mais alta do que a de qualquer
outra pessoa na sala.
Quando retribuiu o abraço, Francis rosnou baixinho – nã o por ciú me
mesquinho, mas por uma ameaça inú til. Asher examinou o marido de
Veronica por cima da cabeça, um sorriso malicioso aparecendo em seus
lá bios.
Veronica o soltou e recuou.
— Tudo bem, o show acabou. Vã o em frente, voltem para o que diabos
vocês estavam fazendo antes! — Ela enxotou o pú blico, a maior parte da
multidã o se separando. Alguns momentos depois, a mú sica recomeçou,
mas a atmosfera da festa ficou tensa, todos falando em vozes baixas e
entusiasmadas.
Nã o importava para onde Nikola olhasse, havia alguém olhando
carrancudo para Asher, que nã o parecia se importar nem um pouco.
Veronica se virou para Asher, com os punhos cerrados ao lado do corpo.
— Cara, você poderia pelo menos ter me mandado uma mensagem. Você
sabe que temos uma porta, certo? Por que a janela?
— Porque isso me fez rir.
Nikola suspeitava que esse fosse o motivador de muitas das decisõ es de
Asher.
Veronica bufou, revirando os olhos, mas Nikola percebeu que ela estava
lutando contra um sorriso. Ela colocou a mã o no ombro de Asher e o
acompanhou até Nikola e Francis. Asher se encolheu toda vez que ela o
tocou, mas ele nã o resistiu – não estava acostumado com mãos amigáveis.
O pâ nico tomou conta do coraçã o de Nikola. Asher limpou tudo... muito
bem. Ele conseguiu esquecer sua fantasia ridícula ao longo da noite, mas
de repente se lembrou de quã o mortificante ele parecia. Pelo menos ele
se livrou do chapéu. A última vez que estive perto deste homem, eu tinha
acabado de gozar dentro dele.
Nikola estava muito envolvido em sua pró pria cabeça para conseguir
uma leitura precisa do sorriso permanente de Asher. Seus olhos
escarlates percorreram o traje de Nikola.
— Bela fantasia, — disse Asher, exalando sarcasmo.
Veronica salvou Nikola de precisar de uma resposta.
— Eu acho que você é o Fantasma da Ó pera, mas a má scara dele nã o é
branca?
O sorriso de Asher se alargou.
— Sim, mas eu nã o queria que ninguém pensasse que eu estava fazendo
cosplay de Riccardo, entã o roubei a má scara de Carnaval de alguém.
Acho que nunca nos conhecemos,— dirigiu-se a Francis. — Quem é você?
O velho da Veronica?
— Nã o tenho nada a ver com você, — ele respondeu friamente.
Veronica olhou para Francis. Asher assobiou e disse: — Tudo bem, você
acertou, Gomez. E você é o quê, Nikki? Um invasor de tumbas?
Veronica fez um som sufocado de exasperaçã o.
— Por que todo mundo continua dizendo isso? Ele é Van Helsing!
Asher bufou.
— Sim? Irô nico.— Nikola estava curioso sobre esse comentá rio. Asher
fingiu um bocejo e se espreguiçou, alcançando as pontas dos dedos em
direçã o ao teto. Ele examinou preguiçosamente os arredores, os olhos
saltando de um Filho da Lua para a pró xima. Nikola sabia que ele estava
apenas fingindo, encobrindo sua pró pria hipervigilâ ncia. Ele está
procurando por alguém.
— O que há para fazer por aqui? Como exatamente é uma festa dos
Filhos da Lua?
A frustraçã o corroeu Nikola. Ele decidiu que nã o iria ficar ali parado
como um idiota. Ele passou pelo Seguidor de Sangue e pegou uma nova
xícara solo, derramando gim puro até a linha central. Ele engoliu o
líquido em um ú nico gole.
Assim como acontecia com os humanos que bebiam com o estô mago
vazio, o fato de Nikola estar com pouco sangue significava que sua
tolerâ ncia estava explicitamente reduzida. Ele já sentia o á lcool suavizar
seus pensamentos. No entanto, também diminuiu seu tempo de reaçã o.
Ele estremeceu quando percebeu que Asher o seguiu até a ilha.
— Eu nem recebo um alô , Nikki? Você é formal ou nã o?
Isso vai ser um drink duplo trabalho. Ele derramou mais gim em sua
xícara e bebeu de volta. Asher estalou a língua e disse: — Neste ponto,
você também pode beber direto da garrafa.
— Mestre Asher, — Nikola começou lentamente, tomando cuidado para
nã o tropeçar em suas palavras, — você nã o se lembra das circunstâ ncias
da ú ltima vez que... conversamos?
A contraçã o no canto do olho direito foi a ú nica informaçã o que Asher
deu. Ele encolheu os ombros.
— Sim, o que posso dizer? Sou um homem complicado.
— A-Asher Black? — Nikola se virou para encontrar uma Filho da Lua
andando timidamente, mexendo nas unhas, com o esmalte azul lascado.
Ela estava vestida como Tinker Bell, com um coque loiro combinando.
— Eu... eu vi você salvar aquelas crianças. Você sabe, no parque há
algumas semanas, eu acho... Uh, obrigada. Eu... eu queria ajudar. Mas...
— Er, uh, sim, — Asher gaguejou, de repente tímido. Ele continuou
olhando para Nikola, sua atençã o dançando em todos os lugares, menos
diretamente nos olhos da Filho da Lua. — Qualquer que seja.
A Filho da Lua pigarreou e balançou nos calcanhares antes de sair
correndo, sua pequena estatura perdida na multidã o na sala de estar.
— Complicado, de fato, — Nikola concordou com um olhar aguçado.
Nikola estava muito ciente das regras menos convencionais e da
aplicaçã o brutal de Asher, mas nã o conseguia imaginar o Seguidor de
Sangue atacando como um vigia de bairro.
Asher zombou e revirou os olhos dramaticamente.
— Tanto faz, merda de trabalho. Estou aqui para festejar. — Sua mã o se
abaixou para agarrar o gargalo de uma garrafa de vodca, mas Nikola
agarrou seu pulso. Asher congelou, desafio feroz em seu olhar furioso.
Perto o suficiente para ser tentado pelo aroma energizante de Asher,
Nikola sentiu os olhares dos outros convidados. Eles poderiam sentir a
tensã o sexual ou a hostilidade a dominou?
— Você e eu precisamos conversar, — Nikola retumbou, nã o deixando
espaço para discussã o.
A risada de Asher falhou no final, revelando seu nervosismo.
— Aqui nã o.
— Mm.
Nikola bebeu outro gole de gim – desta vez direto da garrafa – e arrastou
Asher junto, conduzindo os dois para o outro lado da cozinha. Os Filhos
da Lua saíram do caminho de Nikola. Ele mal registrou seus sussurros.
“Ele convidou o Seguidor de Sangue? Eles trabalham juntos? Deixe eles
fofocarem. Ele descobriu que nã o se importava mais. A apatia era devida
ao á lcool ou era a energia maníaca que escoava dos poros de Asher para
os seus?
Ele puxou Asher pela porta do banheiro, trancando-a atrá s deles. Nã o era
exatamente espaçoso, com uma pia modesta e chuveiro de pé, mas era o
mais pró ximo de privacidade que podiam ter. Com a mú sica abafada por
uma porta fechada, Nikola já conseguia pensar com um pouco mais de
clareza.
— Você sabe, se ficarmos aqui por muito tempo, seus amiguinhos da Lua
podem espalhar alguns rumores, — Asher disse casualmente, sorrindo
novamente, mas um fio de preocupaçã o traiu seus verdadeiros
sentimentos sobre o assunto. Nikola descobriu ao longo dos anos que as
fofocas dos Filhos da Lua se espalhavam como incêndios florestais
incontrolá veis.
Eles nã o demorariam muito.
Eu tenho que fazer isso.
Nikola respirou fundo. Um erro da parte dele, pois encheu seus pulmõ es
com o perfume vibrante de Asher. Ele aceitou o que precisava fazer, mas
seu corpo, faminto de sangue, aquecido pela bebida, sedento pelo sabor
de Asher, tanto de pênis quanto de carne.
Exatamente por isso que tudo o que há entre nós precisa acabar.
— Mestre Asher,— ele forçou. — Nã o sei o que aconteceu entre nó s há
duas semanas, mas nã o é... seguro. — Nikola percebeu como exatamente
as coisas aconteceriam entre eles no futuro. Se nã o fossem amantes,
certamente nã o poderiam ser amigos. Isso deixou apenas uma opçã o:
oponentes em lados diferentes de uma guerra vampírica iminente.
— Ah, Nikki, você está terminando comigo? — Asher zombou. Ele
revirou os olhos, brincando, mas Nikola podia ver o fogo acendendo
atrá s deles. A raiva se manifestou no grunhido de suas palavras. Nikola
nã o queria machucá -lo – inferno, ele dificilmente acreditava que tinha o
poder para fazer isso – e queria sacudi-lo, dizer, eu também não quero
isso, mas estou tentando proteger nós dois. mas isso certamente nã o seria
um bom pressá gio.
Em vez disso, ele disse: — Chame como quiser, mas o que temos feito
nã o é... bem, Corvellious quebraria minha cabeça se descobrisse — sobre
meu apego emocional a você, — e eu sou levado acreditar que Malkolm
seria ainda mais severo.
Asher estremeceu. Nikola acertou em cheio. A raiva que vinha do
Seguidor de Sangue lembrou a Nikola que ele estava trancado em um
canto apertado com um vampiro poderoso. Quando ele começou a baixar
a guarda?
— O que, seus chefes estã o felizes por você estar deixando o cara que
você deveria estar vigiando ir embora? — Nikola congelou, a negaçã o
morrendo em sua língua. Foi esse o motivo do silêncio de Asher desde a
ú ltima vez que se encontraram? Asher riu amargamente. — Cara, eu nã o
sou estú pido. Isso era ó bvio desde o início. Entã o, qual é o motivo aqui,
hein? Tem novas ordens para mim e você está tentando facilitar as coisas
para si mesmo?
Nikola cambaleou. Asher realmente acreditava que ele era capaz de tal
atrocidade? Nikola nã o suportava deixá -lo pensar isso, ou que Nikola era
a companhia habitual que o vampiro mais jovem mantinha.
— Porque eu nã o quero ser a razã o de você se machucar, Asher,— Nikola
deixou escapar. Ele continuou falando. Ele nã o tinha certeza do porquê.
Talvez porque ele nã o pudesse saber se esta seria a ú ltima conversa
deles em terreno neutro. Talvez ele nã o devesse ter tomado aquela
ú ltima dose de gim. — Porque eu me importo com você. Demais. Estou
protegendo nã o apenas meu pró prio coraçã o, mas também sua
reputaçã o entre seu clã violento.
O sorriso zombeteiro e predató rio de Asher se estilhaçou, desaparecendo
quando sua hostilidade derreteu. Seus lá bios se separaram, os olhos
arregalados e vulnerá veis por trá s da má scara mascarada.
— Você...— Uma risada quebrada. — Você se importa comigo? Você é de
verdade?
— O que eu ganho mentindo sobre uma coisa dessas, Mestre Asher?
— Seu idiota.
Nikola nã o conseguiu evocar um argumento.
— Seu idiota,— Asher cuspiu novamente, com veneno nas palavras. Ele
avançou, fechando o pouco espaço que havia entre eles. Nikola tropecei
de volta para a porta do chuveiro, esperando presas ou punhos. Seus
pensamentos pararam quando, em vez disso, lá bios bateram nos dele.
— Seu idiota absoluto, — Asher rosnou contra eles.
— Asher, — Nikola engasgou. Os beijos de Asher foram desesperados,
machucados, as bordas da má scara cortando a pele de Nikola. Asher
chupou a língua de Nikola em sua boca, arrancando gemidos do peito de
Nikola. — Asher,— Nikola tentou novamente, separando-se apesar de
cada terminaçã o nervosa latejando de necessidade. — Nã o deveríamos.
— Cale-se. Apenas cale a boca. — Asher puxou Nikola de volta. Nikola
tirou a má scara do caminho, empurrando Asher para dentro da pia e
levantando-o até a borda. Nikola, sem sangue em seu sistema, nã o
conseguiu ficar duro, mas o contorno da excitaçã o de Asher era evidente
em suas calças. Nikola o rastreou e, ao fazê-lo, sentiu uma onda de medo
em Asher.
Nikola pegou o queixo de Asher e gentilmente sustentou seu olhar.
— Nã o fuja de novo.
Asher zombou. — Eu nã o fujo. —Ele começou a desfazer seu pró prio
botã o e zíper. Nikola pegou seus dedos e o forçou a manter os olhos fixos.
— Nã o me afaste também.
Asher respondeu retirando seu comprimento e guiando a mã o de Nikola
até ele. Nikola o acariciou, beijando-o profundamente, desejando o pulso
derretido sob a pele superaquecida. Asher tremeu e respirou fundo
enquanto Nikola gradualmente aumentava o ritmo, aumentando seu
aperto. Asher empurrou levemente os quadris, gotas claras escorrendo
de sua ponta.
— Nikki, porra, você vai me fazer gozar, — Asher ofegou, com a cabeça
inclinada para trá s, as pá lpebras tremendo.
Nikola se inclinou, seus lá bios roçando o pescoço de Asher.
— Eu peguei você,— ele respirou logo abaixo da orelha de Asher. — Eu
peguei você, Asher. Goze para mim. — Asher estremeceu, seus membros
se contraíram. Nikola registrou o afeto florescendo no peito de Asher, a
sensaçã o de segurança envolvendo-o como um cobertor diante de uma
lareira acesa. Somos idiotas, Nikola pensou, mas nã o conseguiu se
incomodar. Nada nunca pareceu tã o certo como ver Asher se desfazendo
na mã o de Nikola, seus lá bios ofegando o apelido carinhoso que ele deu a
Nikola.
O sêmen derramou na palma da mã o de Nikola. O peito de Asher se
ergueu com respiraçõ es pesadas, sua cabeça pendendo para trá s contra o
espelho. Nikola encontrou o olhar intenso de seu pró prio reflexo
solitá rio, fazendo uma careta sobre o vazio profundo e as linhas
cansadas.
— Cristo, Nikki, o que estamos fazendo? — A voz de Asher era um
coaxar.
— Eu... eu nã o sei.— Nikola arrancou uma toalha de papel e limpou
rapidamente a mã o. Ele hesitou, querendo nada mais do que envolver
Asher em seus braços. Mas e entã o? E depois? Eles nã o poderiam ser um
item. Mesmo que nã o estivessem associados a clã s rivais, a Deusa
aprovaria tal uniã o?
Ela já está tão silenciosa há tanto tempo.
Asher Black iria querer esse tipo de coisa?
Ele teve que perguntar. O que nós somos? Mas quando ele começou,
— Mestre Asher...— o Seguidor de Sangue pressionou um dedo contra
seus lá bios, silenciando-o.
— Eu sei que isso vai acabar em chamas, — disse Asher. As sobrancelhas
de Nikola franziram. Era necessá rio? — Mas nã o esta noite. Isso é uma
festa, lembra? Entã o, vamos festejar. Deixaremos essa merda para
amanhã , quando nossas patrulhas estiverem de volta à s ruas.
Asher deslizou da pia e se ajoelhou para pegar a má scara descartada.
Nikola estendeu a mã o para ajudar a amarrar as fitas pretas – e Asher
deixou isso acontecer. Ele teve o cuidado de nã o percorrer a cicatriz
facial nem olhar para ela. Os olhos de Asher se desviaram timidamente.
Havia um jovem perdido por trá s da má scara monstruosa que Malkolm
lhe impusera.
— Mas tenho que me afastar um pouco da festa. Eu nã o estou fugindo. Eu
volto já .— Ele atraiu Nikola para um beijo, terno, tã o diferente da
personalidade á spera que Asher Black havia criado. — Eu prometo que
voltarei.
Nikola, vendo-o partir, acreditou nele.
CAPÍTULO VINTE E SEIS

ASHER

"Eu me importo com você."


O interior do crâ nio de Asher era uma chuva torrencial e estridente. Ele
considerou seriamente desistir, esquecer a festa, esquecer Nikki. Mas
nã o seria tã o fá cil, nã o é?
“Porque eu não quero ser a razão de você se machucar, Asher.”
Asher bateu contra seu crâ nio com os punhos fechados. Por que eu, por
que eu, por que eu? Por que alguém se importaria comigo? Asher foi
apenas a primeira transa do cara depois de um longo período de seca?
Nikola realmente se importava ou Asher era apenas ú til para ele? Ú til
como? Asher choramingou ao perceber que se tivesse que escolher entre
quem o usava – Malkolm ou Nikola – ele preferia o Filho da Lua. Nã o foi?
Pelo menos ele sabia exatamente o que Malkolm queria dele.
Ele tentou me cortar. Asher entrou em pânico. Estúpido estúpido estúpido.
“Nós vamos resolver essa merda amanhã.”
Asher respirou fundo para tentar acalmar seu coraçã o acelerado.
Ele nã o conseguiu. Ele nã o poderia se comprometer a trair Nikola – ou
colocar Veronica em perigo. Ela o abraçou. Na frente de todos.
Asher Black estava muito envolvido.
Ele prefere sofrer os golpes de Malkolm do que causar danos reais a
Nikola Kingston. Se tivermos que resolver isso no campo de batalha, que
assim seja. Essa era uma língua que ele sabia falar. Nada dessa merda
sorrateira. Eles se enfrentariam como homens em pé de igualdade
quando fosse necessá rio.
Não posso trair o cara. Estou começando a duvidar se posso matá-lo
também. Porra, onde isso me deixa?
Asher estava no telhado, a dois passos do apartamento de Katsuki,
esperando Brie e um idiota chamado Lawrence. Ela tinha ouvido falar do
cara que estava na videira e posteriormente o espionou, descobrindo que
ele adorava perseguir e atacar crianças que voltavam para casa depois de
programas extracurriculares e eventos esportivos. O cara perfeito para
sacrificar durante um ritual improvisado de Conversã o de Seguidores de
Sangue. Mas Asher nã o conseguia ver até o fim.
Se Nikki é o idiota, eu sou o covarde.
Asher ouviu apenas os passos de Lawrence subindo pela escada de
incêndio, mas tanto a cabeça dele quanto a de Brie apareceram na borda
do telhado. Seus passos eram realmente leves como uma maldita pena.
— Ei, recebi sua mensagem, — disse ela enquanto o outro Seguidor de

Sangue se juntava a ele. Ele havia enviado: Traga Lawrence.

Mudança de planos.

Nã o que isso significasse muito para Brie, considerando que ela


Nã o que isso significasse muito para Brie, considerando que ela
precisava saber. O que, em outras palavras, significava que ela nã o sabia
praticamente nada.
Asher grunhiu. Ele avaliou Lawrence, que olhava ao redor ansiosamente.
Consciência culpada, porra. Seu cabelo claro estava cortado despenteado,
cheio de sardas, um idiota. Apenas mais um grunhido de baixo nível que
usou seus poderes para alimentar suas fantasias pervertidas. Asher de
repente se sentiu muito, muito cansado desses malditos vampiros
aparecendo em suas unidades.
— Sim, a merda mudou,— disse ele, mantendo os olhos fixos em
Lawrence. — Volte para a mansã o, Brie. E nã o conte a Riccardo – ou a
qualquer pessoa, merda, isso nã o é da conta deles – sobre esta noite.
Estou com uma agenda apertada aqui e nã o tenho tempo para perguntas
intrometidas.
— Certo, porque você o supera.— Asher olhou de soslaio para ela e para
o estranho tom de voz. Ela se curvou, evitando a carranca. — Sim, Mestre
Asher.
Ele sacudiu a mã o em demissã o, mas quando Lawrence também se virou,
Asher agarrou seu ombro.
— Nã o, espere. Você e eu vamos conversar um pouco.
Pelo menos ele tinha algo para desabafar. Ele foi rá pido, para que
nenhum grito perturbasse os convidados pró ximos.
Asher Black cumpriu sua promessa. Ele até usou a porta da frente. Nikola
estava lá , esperando, aparecendo como um segurança. Ele havia largado
o blazer no encosto do sofá .
Nikola mal conseguiu reprimir o sorriso. Sua alegria o tornou jovem. Ele
está tão... feliz em me ver. A vergonha caiu sobre Asher, azedando o
momento. Se ele conhecesse os planos originais de Asher, Nikola se
voltaria contra ele. Nã o seria para melhor? Acelerando um resultado
inevitá vel.
Asher estremeceu quando Nikola passou o braço pelo dele.
— Eu abraçaria você, mas...— Ele encolheu os ombros, inclinando a
cabeça em direçã o aos tagarelas Filhos da Lua. A festa havia aumentado,
com copos vazios e amassados no chã o e bêbados de rosto vermelho
caindo uns sobre os outros.
A reaçã o instintiva de Asher foi que Nikola estava envergonhado dele,
mas se fosse para acreditar na conversa anterior, Nikola estava
protegendo Asher das fofocas que chegariam aos ouvidos de Malkolm.
Era possível que fosse tarde demais para essa cautela.
— Isso quase me lembra dos velhos tempos, — Nikola pensou em voz
alta em um murmú rio. — Homens escondendo seu afeto um pelo outro.
Velhos tempos? Merda, tente há uma década, se tanto.
— Você voltou! — Veronica se lançou em Asher. Ele amaldiçoou,
estendeu as garras antes que pudesse comandá -los, mas conseguiu se
impedir de chutá -la para o outro lado da sala. Ela está me abraçando... de
novo. Nikola olhou alarmado e Asher sentiu o olhar abrasador de
“Gomez”. Exalando lentamente, ele deu um tapinha nas costas de
Veronica. Ela saltou para longe, rindo, com a bebida na mã o
milagrosamente despreocupada. Asher rangeu os dentes a cada
movimento abrupto.
— Preciso de uma bebida, — disse Asher, forçando um sorriso.
Veronica sorriu e empurrou Nikola para mais perto dele.
— Vá buscar uma para ele! — ela pediu. Alguém no fundo do
apartamento chamou o nome dela, nã o uma voz que Asher reconheceu.
— Encontrarei vocês mais tarde! — E ela saiu, praticamente correndo no
meio da multidã o.
Nikola estalou a língua e balançou a cabeça com uma expressã o de
adoraçã o. — Venha,— disse ele, guiando-os através do mar de Filhos da
Lua. Asher levantou uma sobrancelha para cada um ousado o suficiente
para encontrar seu olhar. Ele se absteve de olhar para trá s ou mostrar
seus caninos. Ele nã o estava em um dos bailes de Malkolm. Ele era
apenas mais um convidado aqui. Ele nã o precisava desempenhar o papel
de segundo em comando.
— Bebida de sua escolha? — Nikola perguntou, apontando para o
exército desorganizado de garrafas de bebidas alcoó licas. Parecia que
todos eles haviam sido abertos. Nem uma gota de sangue à vista.
Asher estudou os Filhos da Lua bêbadas ao seu redor, dançando e
gritando de tanto rir. Foi apenas uma festa à fantasia normal. Se nã o
fosse pelas presas e olhos prateados, Asher teria dificuldade em
diferenciar entre vampiros com aroma de rosas e humanos. Quanto à s
“festas” de Sangue, os convidados estariam pisando sobre cadá veres e
vigiando o pró ximo atentado contra suas gargantas.
Sim, ele precisava daquela bebida. Nã o avistando imediatamente a pilha
de copos de plá stico, ele pegou um já em uso de alguém vestido como um
hippie dos anos 1960. O filho da Lua ficou boquiaberta para ele. Asher
esperou pelo confronto, só para animar um pouco as coisas, mas o Filho
da Lua fechou a boca antes de prosseguir.
— Você poderia simplesmente ter me pedido para pegar outro pacote
nos armá rios, — Nikola comentou secamente.
— Onde está a diversã o nisso? — Asher cheirou o conteú do do copo,
descobrindo tequila e algumas besteiras açucaradas. Ele pegou a garrafa
mais pró xima dele – mais tequila – e encheu-a até a metade. Ele o
colocou na ilha e pressionou as garras direitas na palma da mã o
esquerda.
— Espere.— Asher observou Nikola abrir a palma de sua mã o com um
dente afiado, gotas vermelhas escorrendo. Ele pairou sobre a fenda
sangrenta acima da xícara de Asher, seu sangue lunar brilhando na luz
enquanto completava a bebida. Ah, ele se alimentou.
Apó s uma inspeçã o mais detalhada, Asher notou a pele mais lisa e o
cabelo mais grosso de Nikola, nenhum fio grisalho à vista. Asher refletiu
que tinha visto Nikola de meia-idade com mais frequência do que Nikola
de rosto jovem. Claro, o cara envelheceu como um bom vinho, mas por
que ele seguiu a linha da desnutriçã o com tanta frequência? Asher nã o
conseguia se imaginar jogando esse jogo, dado seu papel como
comandante e executor – ele sempre tinha que estar no auge de sua
força. Ele nã o pô de deixar de se perguntar o quã o impará vel Nikola seria
se ele nã o passasse fome constantemente.
O pensamento parecia muito próximo da questão candente: “Que tipo de
monstro Nikola seria se seguisse o Deus do Sangue?”
— Você se alimentou desde que saí,— comentou Asher.
— Ah, de fato. Um conhecido insistiu.— Espere, quem? Asher se irritou
com uma possessividade mal contida. Seus olhos percorreram a multidã o
como se ele pudesse identificar o Filho da Lua específico. Nikola
percebeu a reaçã o com uma risada profunda. — Ah, vamos lá . Ele se foi. E
se servir de consolo...— Ele se inclinou mais perto, colocando o copo nas
mã os de Asher. Asher foi banhado por seu aroma floral fresco. Claro, o
lugar estava repleto do cheiro de um jardim muito doce, mas havia um
toque refrescante no perfume natural de Nikola, um toque de almíscar.
— Nada supera o sabor do Seguidor de Sangue.
Asher reprimiu um arrepio, odiando Nikola por fazê-lo se sentir como
uma criança tonta, admirando-o mesmo assim. Ao virar a bebida, ele
sustentou o olhar de Nikola por cima da borda, notando o desafio ali.
Ele ouviu descriçõ es do gosto do sangue da Lua e obteve sua pró pria
amostra dos pedaços que arrancou de Nikki durante as lutas. Mas ele
ainda nã o esperava a escala de engoli-lo na boca cheia. Ambrósia. Doce,
como sobremesa, ou vinho tinto bougie. Se ao menos nã o estivesse
contaminado por bebidas baratas e misturadores. Se ao menos ele
pudesse obtê-lo diretamente da fonte.
Nikola leu o desejo latente escrito no rosto de Asher com uma risada
gutural. — Se eu puder abrir minhas pró prias veias e se nos for dado o
luxo da privacidade, talvez eu lhe ofereça mais.
Tanto o coraçã o quanto o pênis de Asher saltaram com a perspectiva.
Pego de surpresa, Asher inalou uma gota de líquido e teve que tossir na
dobra do cotovelo. Nikola bufou e passou o polegar no queixo de Asher,
pegando uma bebida tingida de escarlate.
Nikola tinha acabado de se oferecer livremente a Asher. Quanto ele
estava disposto a dar, Asher nã o sabia dizer, mas a ironia da
oportunidade estar perfeitamente alinhada com os planos abandonados
nã o passou despercebida.
— Me siga.— Os olhos prateados de Nikola brilharam com malícia,
ofuscando os discos metá licos de todos os outros convidados aqui.
Diamantes brutos. Nikki geralmente era muito nervoso e ansioso. O que
trouxe a nova energia? Pode ser á lcool. Pode ser porque era Halloween
quando a ameaça de perigo nã o estava acontecendo. Asher desejou
poder ver esse lado de Nikola com mais frequência. Esta noite pode ser
minha única chance. As consequências teriam que esperar até amanhã à
noite. — E traga a garrafa.
A obediência de Asher nã o foi dada tã o facilmente, mas, no momento, ele
a deu a Nikola Kingston. O Filho da Lua os conduziu para os corredores
que conectavam os outros apartamentos – ele nã o tinha ouvido falar que
Katsuki era o dono do prédio, entã o apenas seu clã e respectivos aliados
moravam aqui? – e os levou para as escadas ascendentes. Seus passos
ecoavam nos degraus de aço, deixando para trá s a confusã o dos festeiros.
Os dois passaram pela porta dos telhados.
Havia um frio refrescante no ar, o vento baixando a temperatura na
ú ltima meia hora. Asher respirou fundo, saboreando o oxigênio que
acendeu a chama em seu peito. Alguns dos bastardos mais velhos sob o
comando de Malkolm acreditavam genuinamente que sua espécie estava
destinada à escuridã o do subsolo. Parado sob o luar fresco, com a bebida
na mã o, Asher pensou que aqueles velhos vampiros estavam cheios de
merda e em negaçã o. Ele desejou que aqueles desenhos animados sobre
se transformar em morcegos fossem verdadeiros, apenas para que ele
pudesse voar no vento.
Liberdade.
Crescendo como humano, ele sempre sentiu que a cidade de Grander era
uma armadilha. Quando Malkolm o transformou em Mestre Asher, ele
pensou que tinha recebido a chave: sua liberdade estava em seu poder.
Mas ali parado olhando para a cidade escura, as fronteiras que ele
poderia cruzar diminuíram desde sua vida mortal, parecia uma prisã o.
Pontas de dedos pousaram na parte inferior de suas costas, empurrando
Asher para a Terra. Ele reprimiu o impulso de jogar o agressor nas ruas
abaixo. Um toque ao longo da coluna, algo tã o frá gil comparado ao resto
do esqueleto, causou arrepios. Claro, sim nã o era possível paralisar um
vampiro quebrando-o, mas era possível derrubá -lo por tempo suficiente
para terminar o trabalho.
Nã o houve qualquer ameaça no gesto de Nikola. Foi uma mensagem
simples: estou aqui ao seu lado. Irradiava segurança.
— Permita-me, — disse Nikola. Ele mordeu o pulso, um leve estalo entre
os dentes. Ele estendeu a outra mã o para a garrafa de bebida. Asher,
observando o escarlate brilhante escorrer livremente, de repente nã o se
importou com o á lcool.
— Por favor,— Asher sussurrou em voz alta antes que pudesse impedi-
lo. A garrafa escorregou de seus dedos, o vidro balançando contra o
concreto sem quebrar.
A incerteza brilhou no olhar de Nikola. Quem poderia culpá -lo? Um
monstro estava implorando para beber de suas veias. A indecisã o deu
lugar a um sorriso cheio de luxú ria. Ele confia em mim.
Nikola puxou-o para mais perto e inclinou a cabeça de Asher para trá s,
um â ngulo onde a gravidade faria o trabalho, para que Asher nã o
precisasse aprofundar a incisã o. Nikola pressionou a ferida nos lá bios de
Asher, e Asher se perdeu na delicadeza.
Aquecia a alma como lembranças de chocolate derretido, com sabor
igualmente decadente. Nã o foi a explosã o de energia que veio de um
Seguidor ou de um humano moribundo. Na verdade, era o oposto: Asher
nã o queria nada mais do que se aconchegar com Nikola em lençó is
limpos, cuidando das artérias abertas até adormecer.
Ele ouviu um gemido, adivinhando que era o seu. Ele bebeu avidamente,
como se estivesse morrendo de fome, como se nã o tivesse se alimentado
recentemente.
Foi porque ele se alimentou que ele foi capaz de parar quando ouviu o
silvo de dor de Nikola. Ele nã o sentiu nenhum prazer ou emoçã o em ferir
aquele que cuidava dele com tanto carinho. Houve a ausência
ensurdecedora dos tambores do Deus do Sangue. Asher se jogou para
trá s, com medo de que eles começassem a bater a qualquer momento.
Cheio demais, Asher sentiu-se lento e desajeitado, tropeçando neles em
um estupor de embriaguez. Um sintoma de gula. Nikola se lançou e o
pegou antes que ele pudesse cair de bunda. O Filho da Lua brilhou de
tanto rir.
— Tudo bem, Mestre Asher?
Ele é lindo. Asher deixou a cabeça cair para trá s, os pensamentos
flutuando agradavelmente. Melhor do que uma dose de tequila, isso é
certo.
— Começo a entender por que alguns caras preferem o sangue da Lua.
— Você fala como se nunca... tivesse se entregado.
Asher bufou com a pergunta nã o formulada.
— Onde está a diversã o em caçar um bando de pessimistas como você?
Seu sangue tem um gosto tã o puro quanto o coraçã o de vocês.
— Nem todos nó s,— sugeriu Nikola.
— Oh, por favor. Especialmente você.
Asher se endireitou, envolto nos braços de Nikola. Qualquer Seguidor de
Sangue que passasse os pegaria assim, mas ele nã o conseguia se separar.
Na verdade, ele se viu enterrar o rosto na nuca de Nikola, respirando seu
calor perfumado. Ele esperava que Nikola se encolhesse, muito perto de
sua garganta para se sentir confortá vel, mas apertou Asher com mais
força.
— Fique comigo,— Nikola respirou. — Junte-se a mim nas fileiras de
Morrigan.
— Espere, o quê? Volte.
— Corvellious estaria acima de você, mas dê tempo e você igualará o
respeito dele. O mais prová vel é que você fique sob meus cuidados até
conquistar a confiança de Morrigan.
Asher levantou a cabeça, procurando por engano no rosto de Nikola. Ele
é de verdade. A descrença era evidente na língua de Asher. O que ele
estava perguntando era tã o parecido com o jogo que Asher vinha
jogando no ú ltimo mês.
— Você quer que eu... deixe Malkolm e sirva Lady Morrigan em vez
disso?
Nikola fez uma careta.
— Foi apenas um pensamento passageiro. Desculpe. Um homem do seu
calibre, nã o posso pedir que você traia o seu.
Exceto que Asher se viu considerando isso. Eu sou tão desleal? Riccardo
pode estar certo; Eu sou um passivo. Digamos ele trocou Malkolm por
Morrigan, e ela nã o jogou imediatamente o cadá ver dele em um buraco.
Nikola eventualmente se cansaria dele, sua natureza de Sangue provando
ser demais. Nikola iria embora. E onde isso colocaria Asher? Um alvo
apenas com inimigos no meio do campo de batalha?
— Corvelly... qual seria o sentido de atravessar? Estaríamos na mesma
posiçã o em que estamos agora. Boquetes furtivos, só que desta vez do
outro lado da cidade.
Nikola estremeceu com as palavras grosseiras.
— É aí que reside o meu ponto. Corvellious e Morrigan nã o se importam
com o que ou com quem eu faço em particular, e se você fosse do clã da
senhora, menos ainda.
A resposta de Asher ficou presa na garganta. Nikola estava apresentando
uma escolha impossível diante dele. A raiva passou por ele, mas se
extinguiu instantaneamente, deixando para trá s uma mancha negra de
desespero. As coisas eram mais simples antes de Nikola Kingston chamar
a atençã o de Malkolm. Ele considerou fazer a pergunta a Nikola: Por que
você não faz as malas e se muda para a mansão? Mas ele já sabia a
resposta. Os métodos de Malkolm eram brutais demais para um Filho da
Lua, mesmo um tã o insensível como Nikola. Será que Morrigan nã o foi
forte o suficiente para Asher?
Nikola pegou a bochecha de Asher em uma carícia, um polegar gentil
deslizando sobre seus lá bios.
— É uma situaçã o injusta que eu coloquei sobre você, e se você nã o
consegue se sacrificar tanto por um homem tolo, eu nã o teria má vontade
em relaçã o a você. Mas...— Ele engoliu em seco, encostando sua testa na
de Asher. Ele suspirou profundamente. — Mas eles também estã o me
forçando a uma posiçã o injusta. Você estava certo ao dizer que Morrigan
me pediu para espionar você, mas agora eles discutem comigo sobre eu
ter que matar você. E, Asher Black, mesmo que eu sacrificasse minha
pró pria moral e abandonasse minha Deusa, ainda assim nunca
conseguiria matar você. Eu estaria matando uma parte de mim com você.
Se você se juntasse a mim sob o comando de Morrigan, poderíamos ficar
juntos como estamos, Lua e Sangue, e talvez, apenas talvez, possamos
fazer nossa parte para salvar Grander.
Asher nã o conseguiu processar a maior parte do que Nikola estava
dizendo. Ele estava revelando muitos dos planos de sua senhora ao
inimigo. Se Nikola se recusasse a obedecer a uma ordem tã o firme, sua
puniçã o seria a morte. Nem mesmo Morrigan seria tã o misericordiosa.
Inferno, lhe ocorreu que Nikki estava arriscando seu pescoço apenas lhe
contando essa merda, sem mencionar a probabilidade de Morrigan nã o
aceitar o convite de Nikola. Todos esses riscos estúpidos para mim? Asher
nã o conseguia entender isso. Mas uma parte do discurso de Nikola ficou
clara como o dia.
— Salvar Grander? Que porra isso significa?
As feiçõ es de Nikola, suaves de afeto, escureceram.
— As marés estã o mudando. Os humanos estã o cada vez mais
conscientes de nó s, e aqueles que ocupam os tronos estã o demasiado
preocupados com uma luta pelo poder para tomarem nota. Ou talvez
estejam correndo contra o reló gio sinistro, daí a tensã o crescente e as
mudanças abruptas.— Nikola pegou as mã os de Asher nas suas. Asher,
congelado no lugar, queria gritar sua confusã o para a lua. — Uma parte
de mim espera poder convencer Morrigan antes que seja tarde demais,
mas temo que em breve terei que pegar os outros e fugir de Grander. E se
chegar a esse ponto, quero você ao meu lado.
— Para fugir com você? — Ele cuspiu as palavras como uma maldiçã o. Eu
não fujo.
— Se você me tivesse. Veronica já te adora e o marido dela aceita tudo o
que ela ama.
A respiraçã o de Asher começou a sair em rajadas curtas. Demais. Foi
demais. Pensei que não íamos falar sobre esta merda esta noite. Os lá bios
de Nikola se curvaram em preocupaçã o.
— Eu sou Sangue, — disse Asher. — Eu sempre serei Sangue.
A bochecha de Nikola se contraiu de diversã o ou de nervosismo. Asher
nã o sabia dizer.
— Sim você é. No entanto, estou ao lado de outros da sua espécie. Eu me
apaixonei por você como você é e estou pedindo sua mã o como você é.
— Você nã o estaria dizendo isso se soubesse por que vim à festa em
primeiro lugar. — Lá estava ele, ao ar livre. Simplesmente admitir os
planos dele e de Malkolm era uma traiçã o por si só , mas se conseguisse
fazer Nikola ver a luz, que assim fosse. O Filho da Lua já estava certo
antes – era muito perigoso para os dois continuarem jogando esses jogos.
Assim que Nikola descobrisse a verdade, ele odiaria Asher, o que era
inevitá vel de qualquer maneira. Eles poderiam voltar a ser como as
coisas costumavam ser quando o coraçã o de Asher nã o corria o risco de
quebrar.
— Asher, o que você quer dizer?— Os olhos de Nikola piscaram, imersos
em pensamentos, possivelmente quando Asher saiu brevemente antes —
O que você ia fazer?
Vou quebrar meu próprio coração. E eu mesmo juntarei as peças.
Mas antes que Asher pudesse confessar, um grito perfurou o ar,
carregando consigo o cheiro de metal e agulhas de pinheiro. Asher e
Nikola trocaram olhares de pâ nico. Uma rá pida varredura abaixo revelou
formas em movimento rá pido cacarejando como hienas, jogando de lado
e cortando qualquer um que os impedisse de forçar a entrada no
complexo de apartamentos de Katsuki.
— Nã o,— Asher respirou. — Porque eles estã o aqui?
— Eu estava prestes a te perguntar a mesma coisa.
Asher balançou a cabeça. Quem quer que estivesse atacando, ele faria
deles um maldito exemplo pú blico. Foi o Halloween. As ordens para
permanecer discreto foram concisas e secas. Nikola, cheio de medo, e
Asher, cheio de fú ria que o consumia, correram de volta pelo caminho
por onde vieram. Asher soltou o grito ensurdecedor de um Sangue em
caça.
— Movam-se! — Nikola gritou, passando pelo fluxo de Filhos da Lua em
fuga nos corredores.
Os efeitos letá rgicos do sangue lunar foram esquecidos. O coraçã o de
Asher rugiu em seus ouvidos, seus sentidos se aguçaram em resposta à
adrenalina pulsante. A reaçã o foi semelhante a sempre ele encontrou um
invasor da Morrigan. Estes são meus Filhos da Lua. Obtenha o seu próprio.
Os tambores do Deus do Sangue batiam ao ritmo da cançã o do caçador.
Asher se esquivou e passou pela multidã o em retirada como um peixe em
á guas abertas.
— Veronica! Francis! — Nikola gritou, o pâ nico desesperado cortando
Asher. E pensar que eu tinha coragem de machucar seu clã. Os dois
invadiram o apartamento de Katsuki.
O minuto ou mais que eles levaram para descer do telhado foi tempo
suficiente para uma horda de Seguidores de Sangue causar sérios danos.
Asher vacilou diante da demonstraçã o de carnificina. Filhos da Lua
caídos. Poças de sangue escorrendo de gargantas cortadas. Uma forma
familiar se contorceu de forma nã o natural no encosto de um sofá .
Diesel. Veronica pairou sobre ele, uma mã o sobre a boca, a outra
flutuando centímetros acima de seu crâ nio tatuado. O marido de
Veronica a protegia de costas contra as dela, com sincera sede de sangue
em seus olhos prateados. Os gêmeos ruivos se abraçaram em um canto,
encolhidos e soluçando. Katsuki estava sobre eles, com a cimitarra curva
na mã o, um rosnado feroz transformando suas feiçõ es juvenis.
Riccardo assombrava a porta da cozinha, as mã os enluvadas cruzadas
atrá s das costas. Ao seu lado estava Brie, que observava a cena como se
estivesse entediada. Nenhum deles tinha uma gota de sangue, apesar dos
respingos manchando as paredes.
— Oh, aí está você, — disse o bastardo mascarado. O chamado do Deus
do Sangue vibrou tã o alto que Asher mal o ouviu, seu campo de visã o
sangrando em tons escarlates. — Confraternizando com o inimigo de
novo?
— Sua vadia insolente,— Asher rosnou para Brie. Ela sorriu. Ele iria
arrancar a expressã o do rosto dela. — Eu disse para você voltar para a
mansã o. Por que diabos você está caçando Luas, no Halloween de todas
as noites?
— Você disse para nã o dizer nada a Riccardo porque você é superior a
ele, — ela falou claramente. Nã o nã o nã o nã o. As peças caíram lugar,
derrubando o mundo de Asher debaixo dele. — Seguindo essa ló gica,
tenho me reportado a Lorde Malkolm, Mestre Asher. Você realmente
achou que eu nã o te reconheci naquela noite no shopping? É um cara
difícil de esquecer.
Malkolm ficou sabendo o tempo todo.
— Por que? — ele zombou. Ele mataria os dois. Ele poderia precisar
correr para Morrigan se quisesse sobreviver – ou deixar Grander
completamente. Como se Nikola fosse pedir sua mã o novamente depois
desta noite.
Brie encolheu os ombros.
— Bem, no começo eu estava espionando você e indo para Malkolm para
provar minha lealdade, mas depois de um tempo... isso se tornou pessoal.
Quero que Corvellous – e aqueles que o servem – paguem pelo que ele
fez à minha família. Como posso esperar que isso aconteça quando o
braço direito de Malkolm está brincando com o filho de Corvellious?
Riccardo ergueu a mã o, silenciando-a. Asher nã o conseguia olhar para
Nikola. Isso é tudo minha culpa.
— Sabíamos que você seria fraco demais para converter Nikola. Assim,
estamos seguindo novas ordens. Matá -lo... e capturar você.
Asher instintivamente ficou na frente de Nikola. Os olhos de Riccardo se
estreitaram por trá s da má scara e as feiçõ es de Brie se contraíram de
desgosto.
— E por que os outros? Eles,— Asher gesticulou ao redor da sala
encharcada de sangue, — nã o tiveram nada a ver com isso. Eles eram
inocentes!
Riccardo nã o se importou com a raiva de Asher.
— Recebemos a ordem de trazê-lo de volta vivo, mesmo que você
estivesse no nosso caminho. Esta noite foi seu teste final e você falhou. O
Inferno na Terra espera por você na mansã o.
O Vampiro Mascarado estalou os dedos e, um segundo depois, um
suspiro de passos flutuou na porta da frente. Asher e Nikola se viraram. A
risada de uma menina ecoou no crâ nio de Asher. Cachos de cabelo como
lambidas de fogo. A filha vampira dos pesadelos de Asher e a beleza
monstruosa que guiava seus dentinhos apareceram na entrada. Os
cabelos da mulher estavam ondas escuras, seu rosto em formato de
coraçã o em nítido contraste com a insanidade fria que dividia seu
sorriso.
Suas mã os repousaram sobre os ombros pequenos da menina. Ela usava
um vestido de verã o azul bebê encharcado de sangue, como uma boneca
das profundezas do Inferno.
Malkolm mentiu para mim. Isso por si só nã o foi surpreendente. Mas
sobre o criador de Asher ... A mentira de Malkolm foi devastadora.
— Marianna, — Nikola respirou, a voz embargada. — Mary. — A menina
inclinou a cabeça para o lado com a testa franzida, reconhecendo seu
pró prio nome, mas evidentemente nã o o homem que o pronunciou. Mas
Nikola reconheceu os dois.
— Querido marido,— a mulher, Marianna, cantarolou. A voz era tã o
chocante, a mesma voz das memó rias desconexas de Asher, que ele nã o
compreendeu imediatamente o peso do que dizia. — Você sentiu nossa
falta?
CAPÍTULO VINTE E SETE

NIKOLA

O Seguidor de Sangue diante dele nã o era a ex-esposa de Nikola


Kingston. Certamente era seu corpo, e ela carregava suas memó rias, mas
Mary Kingston havia morrido na noite em que assassinou John num
ataque de ciú mes e se converteu de Lua em Sangue.
Morrigan alegou tê-la executado pelo crime de transformar uma criança
humana, a mesma criança vibrando com rosnados na frente de Asher. Ela
tinha mostrado misericó rdia a elas e negligenciado informar Nikola... ou
alguém? Por que?
— Você,— Asher respirou. Seu olhar estava fixado na criança imortal.
Nikola preparou o ataque de memó rias dela como uma garota humana e
feliz. Antes de Marianna. — Você... me criou.
Nã o poderia ser. Simplesmente nã o poderia ser. Nikola balançou onde
estava. Em algum lugar no meio do choque, ele ouviu a gargalhada sá dica
de Marianna. Uma mã o pegou seu cotovelo. Veronica. Lá grimas
manchadas de maquiagem marcavam seu rosto com uma determinaçã o
inflexível.
— Eu peguei você, Nikki.
— Sim, sim, um reencontro muito comovente,— Riccardo disse. — Mate
os Filhos da Lua e incapacite Asher Black.
— Nã o! — Asher gritou. O mundo começou a se mover de uma só vez, e
Nikola, o velho tolo, estava muito ocupado sufocando sob o oceano de um
passado do qual nunca sairia nadando.
Marianna avançou, se lançando por cima da cabeça de Mary. Asher
cruzou, colidindo com ela e jogando-a contra a parede, o gesso rachando
em torno de sua forma. Asher lançou um frenesi de punhos fechados,
quebrando pele e dentes.
Mary soltou um grito ensurdecedor e atravessou a sala antes que Nikola
pudesse respirar novamente. Ela se agarrou à s costas de Asher,
arranhando seus olhos e rangendo a jugular de sua garganta. Seu sangue
inundou as tá buas do chã o, o mesmo sangue que ele acabara de beber de
Nikola. O grito de dor de Asher finalmente perfurou o estado congelado
de Nikola.
Veronica alcançou Asher primeiro. Ela agarrou Mary pelos cachos e
puxou-a de cima dele. Mú sculos e tendõ es se romperam entre as
mandíbulas da garota. Mary se debateu como um animal raivoso,
forçando Veronica a despistá -la. Seu pequeno corpo caiu sobre garrafas
de bebida em cima da mesa de jantar, quebrando-as. Mary sangrou em
uma cama de vidro.
O gorgolejo que surgiu entre as bolhas escarlates que saíam dos lá bios de
Asher ficou marcado na mente de Nikola para sempre.
Ele gritou o nome de Asher enquanto o Seguidor de Sangue caía no chã o.
Garras cravaram-se no ombro direito de Nikola. Nikola agiu por instinto.
Ele torceu o braço da pessoa que tentava detê-lo, dobrando-o até que ele
estalou de forma audível.
Brie gritou. Nikola a empurrou. Forte o suficiente para que ela quebrasse
o crâ nio no chã o. Ela nã o se levantou. Em algum lugar ao fundo, Riccardo
gritava: — Maldita seja, criança, ele deve ser trazido de volta vivo!
Mary estava chorando, com vidro incrustado em sua carne. Marianna,
com o rosto marcado por hematomas e cortes abertos, sibilou para
Riccardo. Nikola rosnou para ela e se ouviu declarando: — Se Asher
morrer, eu sacrificarei você ao seu amado Deus. — O brilho nos olhos de
sua ex-mulher falava claramente: ela acreditou nele.
Nikola sentiu Francis e Katsuki apoiando-o em seu flanco. Marianna
virou-se e pegou Mary, correndo para os corredores. Veronica foi
persegui-la, mas Francis agarrou seu braço.
— Droga! — Riccardo praguejou, correndo atrá s deles. Com os
Seguidores de Sangue fora de vista, a atençã o de Nikola se concentrou no
corpo de Asher, concentrando-se até que fosse a ú nica coisa que existia
no mundo. Ele caiu de joelhos ao lado dele, embalando sua cabeça. Tanto
sangue.
— Sinto muito, — Asher tentou ofegar, apertando o buraco retorcido em
sua garganta. As palavras eram dificilmente distinguíveis, uma lufada de
ar estrangulado, mas o remorso em seus olhos desbotados era traduçã o
suficiente.
— Eu entendi você. Eu prometo. — Nikola abriu o pulso, mas
imediatamente percebeu que o esô fago de Asher estava danificado
demais para beber. Um vampiro que nã o consegue beber sangue nã o
pode se recuperar de ataques fatais.
Salve-o.
A Deusa. A voz dela. Já fazia tanto tempo – décadas. Lá grimas brotaram
dos olhos de Nikola, rolando pelo seu rosto. Eles tinham gosto de
tristeza, de alívio, de desamparo. Como?
Crie-o de novo.
Ele confiava em sua Deusa, mas o que ela propô s significava abrir outra
ferida em Asher – ele poderia sobreviver a tal perda de sangue quando já
estava tã o destruído? Mas Nikola estava sem outras opçõ es. Ele nã o
estava disposto a desobedecer a sua Deusa, e com certeza nã o iria
assistir Asher morrer sem tentar alguma coisa.
Foi como se uma arma disparasse, colocando Nikola em açã o. Ele ergueu
a mã o de Asher, tã o fria e flá cida, até os lá bios.
— Eu peguei você, — ele respirou na pele antes de perfurá -la com os
dentes. O olhar de Asher estava atordoado, morrendo... sem ouvir. O
sangue que escorria pulsava fracamente, um batimento cardíaco cada
vez mais fraco. O coraçã o de Nikola virou pedra. Ele pressionou sua
ferida chorosa contra a de Asher, sangrando dentro dele.
Ele precisa de mais, a Deusa insistiu gentilmente. Parte dele queria girar
na direçã o da voz que vinha logo atrá s dele, mas ele se recusou a desviar
os olhos de Asher. Nikola abriu as artérias do outro pulso, sem saber o
que mais fazer, e pressionou o fluxo fresco na carnificina da garganta de
Asher.
Nikola manteve seus recipientes abertos firmes, o elixir da vida saindo
dele e entrando em Asher. Ele estava grato por Asher nã o ter bebido dele
mais do que durante aquele precá rio ritual de confiança. Asher provou
seu valor para Nikola, para os céus, e isso nã o apenas conquistou o
coraçã o de Nikola, mas também poderia salvar a vida de Asher.
Mas isso só aconteceria se funcionasse.
Ele sentiu alguém ajoelhado ao lado dele – Veronica. Emoçõ es poderosas
viajaram em faixas por ela, sendo as mais proeminentes a dor e a
simpatia. Ela já havia desistido de Asher. Nikola havia esquecido os
outros na sala, bem como os Seguidores de Sangue que poderiam
retornar a qualquer momento.
— Nikola,— ela murmurou.
— A Deusa guia minha mã o,— Nikola sibilou. Ele considerou pedir a
Veronica que poupasse seu pró prio sangue, mas a Deusa nã o o
aconselhou, e Nikola conhecia os perigos de mais de um vampiro tentar
Mudar a mesma pessoa, os riscos de sobrecarregar o sistema humano.
Mas isso nã o foi uma mudança e Asher nã o era humano. Nikola rezou
para que a Deusa o salvasse, mas temia estar convocando o patrono
errado.
— Esse demô nio é o motivo pelo qual eles atacaram esta noite,— Francis
rosnou ao fundo. — Por que desperdiçar sangue com ele?
Mesmo que isso fosse verdade, Nikola nã o deixaria Asher morrer, com ou
sem a voz da Deusa. Mesmo que o que Francis disse fosse verdade, Asher
Black se atirou à morte para salvar a vida de Nikola Kingston. E, além de
tudo, Nikola nã o deixou dívidas para serem pagas.
O corpo de Asher convulsionou.
Os pulmõ es de Nikola, sem sangue, nã o necessitavam de fô lego, mas ele
sentiu que estava segurando um de qualquer maneira. Ele soluçou
quando a pele de Asher começou a se costurar, tendõ es e tecidos
crescendo e se fundindo para torná -lo inteiro novamente. A cavidade de
sua garganta se fechou, deixando um buraco cô ncavo até que foi expelido
por um pulso pulsante e cartilagem e osso renovados.
Veronica engasgou enquanto Francis xingava baixinho. Nikola, apá tico ao
sangue seco nas roupas de Asher, apoiou seus ombros e o abraçou como
uma coisa preciosa.
— Asher,— Nikola murmurou em meio à s lá grimas. Ele beijou sua testa,
agora quente de vida. — Oh, graças ao Deus e à Deusa, meu Asher.
— Que porra, Nikki? — Asher resmungou, as palavras á speras saindo das
traquéias do recém-nascido. Suas pá lpebras tremeram. — Merda, ou eu
nã o estou morto ou você foi para o Inferno comigo.
A risada de Nikola morreu antes que pudesse ser ouvida, tomada pela
visã o diante dele.
O olho esquerdo de Asher, beijado por tecido cicatricial, brilhava
escarlate revitalizado, um rubi com sua pró pria luz eterna. Mas o olho
direito…
Um disco prateado, uma partícula de luar capturada.
Asher Black piscou os olhos heterocromá ticos para Nikola, sem saber
que ele agora carregava as marcas do Chifrudo e da Deusa da Lua.
— Nikola,— Katsuki disse, a espada deles caindo no chã o em meio ao
espanto deles. O aço ecoou no silêncio pesado do apartamento. — O que
é que você fez?

CONTINUA EM...

THE CRY OF THE NIGHT

(BLOOD AND MOON PARTE II)


Sobre o autor

Alex Vale é o pseudô nimo de um nova-iorquino do meio-oeste que virou


norte do estado. De alguma forma, ele conseguiu sobreviver ao Cinturã o
da Bíblia, crescendo como um jovem trans abertamente queer e continua
a derrubar barreiras de gênero até hoje. Quando nã o está colado a uma
tela ou livro, você pode encontrá -lo pairando nos cantos escuros dos
locais de metal DIY.

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