Periodização Da História Humana

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EEEM Profª. Ernestina Pereira Maia frio, a defesa contra animais e o cozimento de alimentos.

O
Diretor: Genival Braz cozimento deixou os alimentos mais macios, o que tornou
Professores: Elanne Natividade, Elivan Miranda, desnecessária uma superfície tão grande dos dentes para
Elizângela Santos, Gilcimar C Santos mastigá-los. A diminuição da arcada dentária explicaria o
aumento da caixa craniana e do tamanho do cérebro. Os
Aluno(a):___________________________________
integrantes desses grupos puderam ampliar a dieta,
Série: 1º Ciclo melhorando a qualidade de vida, pois passaram a consumir
Componente Curricular: H I S T Ó R I A maior variedade de raízes e frutos mais duros, que não
podiam ser ingeridos crus.
Há cerca de 40 mil anos, início da última fase do
Periodização da história humana Paleolítico, ocorreram transformações importantes, como o
Convencionou-se chamar de Pré-história o período aperfeiçoamento dos artefatos e o uso de outros materiais
anterior à invenção da escrita. Contudo, sabemos que, se os para a fabricação de utensílios e armas. Anzóis, lanças,
sujeitos da história são todos os homens e as mulheres que arcos e flechas feitos de chifres e ossos de animais datam
com suas ideias e ações transformam a natureza para poder desse período. Além disso, alguns grupos humanos
sobreviver, a história existe desde o momento em que as tornaram-se sedentários, ou seja, fixaram-se em
primeiras espécies do gênero Homo surgiram no planeta, há determinadas regiões.
cerca de 2 milhões de anos. Também são desse período as primeiras pinturas
Assim, a história não se constitui nem pode ser rupestres, registros feitos em rochas ao ar livre e nas
compreendida apenas por meio de documentos escritos. paredes de cavernas. As pinturas rupestres podem ser
Todos os vestígios deixados pelos seres humanos são fontes figurativas – representações de animais, seres humanos e
que nos ajudam a conhecer o modo de vida das pessoas e plantas – ou não figurativas – grafismos e representações
dos grupos sociais em outros tempos. Por meio da análise geométricas. É provável que essas pinturas tenham sido
das ferramentas e dos esqueletos fósseis encontrados em utilizadas como um tipo de linguagem que auxiliava a
sítios arqueológicos do mundo inteiro foi possível criar uma comunicação entre os diferentes grupos humanos.
periodização da história humana, inclusive daquela anterior Entretanto, alguns estudiosos defendem a ideia de que os
à invenção da escrita, a qual é dividida nas seguintes fases: registros rupestres tinham caráter ritual, ou seja, os seres
Paleolítico, ou período da pedra lascada: teve início com o humanos pré-históricos acreditavam ser possível, por
surgimento do Homo habilis, há cerca de 2 milhões de anos, exemplo, retirar o espírito vital dos animais ao representá-
e se estendeu até aproximadamente 12 mil anos atrás. A los em pinturas ou gravuras nas paredes, garantindo uma
evolução do gênero Homo até o surgimento do Homo boa caçada.
sapiens, única espécie desse gênero que sobreviveu e à qual
todos nós pertencemos, ocorreu nesse período. Neolítico: a primeira Revolução Agrícola
• Neolítico, ou período da pedra polida: teve início por volta No início do Período Neolítico, por volta de 12 mil
de 12 mil anos atrás até por volta de 4000 a.C. anos atrás, os grupos de caçadores e de coletores já
• Idade dos Metais: teve início com o desenvolvimento da identificavam os animais que podiam ser caçados e as
metalurgia do cobre, por volta de 8000 a.C. plantas que eram comestíveis ou úteis no tratamento de
Essa periodização, contudo, assim como outras, doenças e feridas. Graças às necessidades e ao acúmulo
serve apenas como recurso didático. As transformações desse tipo de conhecimento, os seres humanos ampliaram
pelas quais passaram os grupos humanos não aconteceram sua intervenção na natureza. Além de caçar e de coletar
da mesma maneira nem ao mesmo tempo. Além disso, as frutos e sementes, começaram a cultivar plantas e a
inovações de determinada época conviveram com domesticar animais, obtendo, dessa forma, fontes regulares
tecnologias desenvolvidas em períodos anteriores. de alimento. Tais grupos humanos passaram a se fixar por
Instrumentos ou utensílios de pedra, por exemplo, mais tempo em áreas férteis, propícias à criação de animais
continuaram sendo utilizados pelos seres humanos que já e abundantes em material para a construção de casas de
produziam artefatos de cerâmica ou de metal. madeira, de pedra, de barro ou de adobe (tijolo de barro). O
sedentarismo, decorrido da prática da agricultura e da
Paleolítico: o início da longa marcha humana domesticação de animais, foi gradualmente se tornando o
Os humanos do Período Paleolítico viviam em modo de vida preponderante.
grupos e garantiam sua subsistência por meio da caça, da O processo de mudanças relacionado ao início da
pesca e da coleta de frutos e raízes. Na prática dessas prática da agricultura, conhecido como Revolução
atividades, eram utilizados objetos feitos com pedra Neolítica ou Revolução Agrícola, ampliou o domínio dos
lascada, madeira, ossos e dentes de animais. seres humanos sobre a natureza, resultando em maior
Esses grupos humanos de caçadores-coletores produção de alimentos e em consequente crescimento
mudavam constantemente de lugar em busca de abrigo e de populacional.
alimentos, levando à predominância, portanto, do A agricultura foi desenvolvida em maior ou menor
nomadismo, condição de sobrevivência naquele período. grau em períodos relativamente próximos e em diversas
O domínio e a produção do fogo transformaram a regiões (veja o mapa). Acredita-se que, num período
vida desses grupos. O fogo possibilitou a iluminação de próximo ao do desenvolvimento da agricultura, tenha sido
caminhos e das moradias à noite, o aquecimento durante o desenvolvida a técnica da cerâmica, que consiste em

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endurecer o barro no fogo. Os utensílios de cerâmica eram excedentes agrícolas por arados e outros objetos,
utilizados para preparar e armazenar alimentos e bebidas, o instaurando, assim, o comércio, inicialmente com base no
que possibilitou aos indivíduos produzir excedentes e escambo.
estocá-los. Além do caráter utilitário, as peças de cerâmica
tinham funções ritualísticas, pois serviam também como Idade dos Metais: o impacto das novas ferramentas
urnas funerárias. No último período da chamada Pré-história, os
Trocando ideias instrumentos de pedra foram substituídos aos poucos pelos
Apesar dos avanços e das conquistas tecnológicas que de metal: o cobre foi o primeiro a ser explorado (8000 a.C.),
possibilitaram a prática da agricultura intensiva da seguido do bronze, resultado da mistura do cobre com o
atualidade, a fome não foi eliminada do mundo. estanho (5000 a.C.), e mais tarde do ferro (1500 a.C.).
• Em sua opinião, essa situação se deve a fatores A princípio, o cobre, por ser muito maleável, era
econômicos, sociais ou naturais? Explique. moldado a frio e trabalhado a marteladas. Tempos depois,
passou a ser aquecido e, uma vez derretido, despejado em
moldes de cerâmica ou de pedra.
A formação de aldeias e as trocas comerciais Entre os metais, o ferro foi o mais difícil de
No Período Neolítico, as primeiras comunidades manusear, pois sua moldagem requeria enorme habilidade
eram constituídas de poucos grupos extensos, conhecidos e um forno de alta temperatura (1.100 °C). Em razão de sua
como clãs ou famílias clânicas. Diferentes clãs formavam durabilidade e flexibilidade, foi empregado na confecção de
uma tribo, que se distribuía por várias aldeias. ferramentas, armas, utensílios domésticos e outros artigos.
Nas aldeias, o indivíduo isolado ou em grupo No entanto, mesmo com a manipulação do ferro, os metais
familiar tinha mais autonomia e podia se separar do grupo utilizados até então continuaram a ser empregados para
para exercer atividade de lavrador ou de criador de animais. vários fins.
O poder político como conhecemos hoje ainda não existia.
Os indivíduos que tinham papel de liderança eram Os primeiros humanos americanos
escolhidos entre os chefes das famílias por suas habilidades Os estudos sobre a origem do ser humano americano
em administrar conflitos. Com o tempo, foi estabelecida a são marcados por debates acalorados entre membros da
figura do patriarca, escolhido entre os mais valentes e comunidade científica internacional. Inicialmente,
sábios chefes. Líder religioso e político, o patriarca tinha especulava-se que os primeiros americanos eram
como uma das principais tarefas proteger a comunidade de autóctones, ou seja, tinham surgido no próprio continente,
ataques dos grupos rivais, que investiam contra as aldeias tese que foi refutada porque até o momento não se
em busca de alimentos e de animais domesticados. encontrou na América nenhum fóssil do gênero Homo
A economia das comunidades neolíticas era de anterior ao Homo sapiens.
subsistência e gerava poucos excedentes. Além de praticar A partir de meados do século XX, foi difundida a
a agricultura, os integrantes dessas comunidades criavam teoria de Clóvis, baseada no estudo de artefatos
cabras, porcos e bois. O cão, já domesticado, era um valioso encontrados no sítio arqueológico de Clóvis, no estado do
auxiliar no pastoreio. Entre as plantas cultivadas estavam o Novo México, no sul dos Estados Unidos, com cerca de
trigo e a cevada, produtos essenciais para a alimentação 11.500 anos de idade. Segundo os defensores dessa teoria,
dos habitantes das aldeias. Além disso, os indivíduos do os artefatos de Clóvis seriam os vestígios mais antigos da
Neolítico utilizavam fibras vegetais (linho) e lã para fazer presença humana na América. Para esses estudiosos, no
vestimentas, reduzindo, assim, o uso de peles de animais. final da última glaciação, o baixo nível da água dos mares
Nas aldeias, o cultivo dos campos, o pastoreio e as e seu congelamento teriam formado uma passagem natural
atividades de tecelagem e de cerâmica eram exercidos por no Estreito de Bering, que liga a Ásia e a América. Grupos
todos os grupos familiares, que dividiam os frutos do humanos originários da Mongólia e da Sibéria, na Ásia,
trabalho. teriam cruzado o estreito e entrado na região do Alasca,
Observando a natureza, os aldeões aprenderam a iniciando o povoamento do continente americano.
desenvolver tecnologias para melhorar a produtividade Na década de 1990, com a análise de outros achados
agrícola. Após estudarem o regime das chuvas e das arqueológicos na América do Sul, a teoria de Clóvis passou
estiagens, por exemplo, os grupos humanos passaram a a ser questionada. Em Monte Verde, no sul do Chile, foram
drenar os pântanos para ampliar as áreas de cultivo, a encontrados vestígios de presença humana, que remontam
construir diques para conter as enchentes e a abrir canais de há pelo menos 12 mil anos.
irrigação. Com a invenção do arado, por volta de 5000 Em sítios arqueológicos no sul da Argentina, foram
a.C., foi possível agregar nutrientes naturais ao solo e torná- descobertos pinturas rupestres e instrumentos de caça com
lo mais produtivo. Com o tempo, as aldeias foram cercadas aproximadamente 13 mil anos. Mais recentemente, em
com muros de proteção e as técnicas de irrigação, inovações 2011, a descoberta de 16 mil artefatos no Texas, nos
no cultivo da terra e mudanças nos métodos Estados Unidos, revelou a presença humana
de trabalho possibilitaram um aumento considerável na na região há pelo menos 15.500 anos. É importante lembrar
produção de alimentos, ampliando o volume de excedentes. que as discussões sobre esse tema sofrem constantes
Com mais alimentos disponíveis, as condições de reviravoltas, uma vez que a descoberta de evidências
sobrevivência melhoraram, o que resultou em crescimento arqueológicas, associadas a estudos genéticos, acrescenta
populacional. Além disso, os camponeses puderam trocar

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dados importantes ao que se sabe sobre o povoamento da
América. Parque Nacional Serra da Capivara
O povoamento inicial do espaço natural brasileiro Localizado no estado do Piauí, o Parque Nacional
Entre 1834 e 1844, o naturalista dinamarquês Peter Serra da Capivara ocupa uma área de 130 mil hectares e
Lund descobriu na região de Lagoa Santa, em Minas abrange os municípios de Brejo do Piauí, Coronel José
Gerais, cerca de 12 mil peças fósseis e ossadas humanas. Dias, João Costa e São Raimundo Nonato. Fundado em
Datadas de cerca de 11 mil anos, as ossadas ficaram 1979 para proteger o patrimônio ambiental e arqueológico
conhecidas como esqueletos do homem de Lagoa Santa. da região, e declarado patrimônio mundial da humanidade
Em 1975, nessa mesma região, pesquisadores pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a
desenterraram restos de um esqueleto humano, Ciência e a Cultura (Unesco) em 1991, o parque abriga mais
posteriormente guardados no Museu Nacional, na cidade do de mil sítios arqueológicos contendo aproximadamente 30
Rio de Janeiro. Em 1999, o arqueólogo Walter Neves mil pinturas rupestres.
estudou o material e concluiu que o crânio, de Os registros mais antigos encontrados na área datam
aproximadamente 12 mil anos, era de uma mulher, que de 29 mil anos atrás. Nos paredões do parque estão
recebeu o nome de Luzia. registradas cenas de rituais, caça, sexo, dança, batalhas e
Estudos genéticos posteriores confirmaram que o outras atividades. As pinturas mais antigas são vermelhas e
povo de Lagoa Santa descende dos migrantes da cultura os desenhos mais recentes apresentam outras cores, como a
Clóvis, da América do Norte. O DNA fóssil coletado branca, a amarela e a cinza. Os pigmentos de pinturas
mostrou que o povo de Luzia tinha genética totalmente rupestres eram extraídos da natureza e misturados a outros
ameríndia, ou seja, descendia de populações que cruzaram materiais, sendo possível indicar o ingrediente
o Estreito de Bering, da Sibéria para o Alasca, para então predominante em cada cor, como argila rica em hematita
povoar a América, indicando que os integrantes daquela para o vermelho e caulinita para o branco ou carvão vegetal
corrente migratória tinham afinidade com os povos da para formar a cor preta.
Sibéria e do norte da China e, portanto, não apresentavam Parte dos registros originais se perdeu por causa da
DNA africano nem da Australásia. ação de animais e de pessoas que habitaram a região. Além
Os povos de Lagoa Santa andavam em grupos e eram disso, fenômenos naturais deformam os desenhos e
caçadores-coletores que moravam temporariamente em dificultam sua análise. O trabalho de conservação inclui a
cavernas e se deslocavam para caçar pequenos animais, retirada de camadas de materiais, como o líquen, que se
como lagartos, roedores, tatus, porcos selvagens e pequenos acumulam sobre as pinturas ao longo do tempo.
cervos, que eram carregados inteiros para as cavernas. Não A conservação desses registros também esbarra na
foram encontrados vestígios de cerâmica no local, embora escassez de recursos. O parque é administrado pela
eles controlassem o fogo e armazenassem madeira para Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham) em
alimentá-lo. No processo de análise dos dentes humanos cogestão com o Instituto Chico Mendes de Conservação da
encontrados, observou-se o alto índice de cáries, o que leva Biodiversidade (ICMBio). Em 2016, a Fumdham encerrou
a crer que a alimentação era baseada em plantas não suas atividades por falta de verbas, uma vez que a
domesticadas, como jatobá ou pequi, frutas comuns na instituição deixou de receber repasses do governo federal e
região. do governo estadual do Piauí e não conseguiu manter suas
Também na década de 1970, a arqueóloga Niède atividades apenas com recursos de parcerias privadas e
Guidon e sua equipe iniciaram suas pesquisas na região da doações. Reaberto pouco tempo depois, após o recebimento
Serra da Capivara, no município de São Raimundo de doações, o parque funciona parcialmente, operando com
Nonato, no Piauí. Lá, foram encontrados artefatos e restos poucas pessoas, o que compromete sua manutenção e a
de fogueiras que teriam mais de 33 mil anos. Com base na realização de pesquisas científicas no local.
análise dessas peças, a pesquisadora lançou a hipótese de
que o ser humano teria chegado à América há pelo menos Povos dos sambaquis
50 mil anos. No entanto, os principais críticos às ideias de Há cerca de 9 mil anos, com a elevação da
Guidon afirmam que os restos de fogueira podem ser temperatura e do nível dos oceanos, e também com o
consequência de fogo causado por fatores naturais, como declínio dos grandes animais de caça, os antigos habitantes
raios, e, portanto, podem não representar vestígios da ação da América mudaram-se para o litoral em busca de
humana. Entre os vestígios encontrados, há o de um alimentos. Eles mantiveram as atividades decaça e de coleta
esqueleto humano que pode ter mais de 20 mil anos. de frutos silvestres, raízes e sementes, mas passaram a
A Amazônia também é uma área muito rica em consumir especialmente moluscos e crustáceos. No Brasil,
vestígios arqueológicos. Na década de 1990, a arqueóloga esses grupos habitaram a região costeira até cerca de 2 mil
estadunidense Anna Roosevelt descobriu pinturas rupestres anos atrás, quando podem ter sido aculturados por grupos
na caverna da Pedra Pintada, no Pará, com mais de 11 mil Tupi. Um dos registros mais impressionantes da existência
anos, e sítios com peças de cerâmica que datam de desses povos são os sambaquis.
aproximadamente 9 mil anos. Em 2003, a arqueóloga Os sambaquis são grandes elevações arredondadas,
Edithe Pereira apresentou o resultado de um amplo formadas por conchas de mariscos e ossos de peixes que se
mapeamento da Região Amazônica, apontando a existência acumularam ao longo de várias gerações. Arqueólogos
de 111 sítios arqueológicos que abrigam um vasto conjunto encontraram importantes vestígios de presença humana nos
de pinturas rupestres. sambaquis, como esculturas de pedra, colares, indícios de

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fogueiras, restos de alimentos e recipientes de barro não mostram que as terras baixas [do Amazonas] tiveram
cozido, além de ossos e marcas de moradias e de prioridade cronológica sobre as áreas montanhosas no
sepultamentos. Existem sambaquis em uma longa faixa do desenvolvimento da cerâmica e das ocupações sedentárias.
litoral brasileiro, do Rio Grande do Sul até o Pará. Os [...]
maiores encontram-se no estado de Santa Catarina. O sambaqui [de Taperinha] é bastante extenso. [...]
“Calcula-se que um dos maiores [sambaquis] continha 120 O conjunto [de artefatos] encontrado no sítio também
mil metros cúbicos de conchas. A 50 mil conchas por metro contém machados, pedras de quebrar nozes, moedores,
cúbico, significaria uma ração diária para cem pessoas por alisadores e utensílios de ossos e chifres.
quinhentos anos. [...] O mais antigo sambaqui datado teve O sambaqui também apresentou rara cerâmica
início há cerca de 8 mil anos [...]. Os últimos foram avermelhada. [...] O uso culinário da cerâmica é
abandonados cerca de quatrocentos anos antes da chegada comprovado pelos resíduos de cinzas no exterior dos vasos.
dos europeus. Assim, a colheita de mariscos permaneceu [...] A idade deste sambaqui cerâmico foi estabelecida entre
viável por pelo menos 7 mil anos, um período 5000 e 4000 a.C., tendo sido baseada em doze datações
extraordinário de folga e abundância para culturas que radiocarbônicas realizadas em carvão, conchas e carbono
quase não deixaram sinal de uma tecnologia mais complexa proveniente da cerâmica [...]. Já os sedimentos lacustres
necessária para abrir uma ostra. [...]” associados ao sistema de terraço do rio no qual o sítio foi
DEAN, W. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata localizado provêm de entre 8000 e 6000 a.C.
Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, Meticulosamente datada, trata-se da mais antiga cerâmica
1996. p. 42-43. conhecida das Américas, achado este que não se coaduna
com as expectativas dos antropólogos ambientalistas que
Povos da Amazônia enfatizam a transitoriedade dos assentamentos indígenas e
O povoamento da Amazônia foi iniciado há pelo o retardamento cultural da região.”
menos 11 mil anos em uma longa e complexa sequência de
ocupações. Desde 7000 a.C., grupos humanos ROOSEVELT, A. C. Arqueologia amazônica. In: CUNHA,
caracterizados como sambaquieiros, coletores, pescadores M. C. (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo:
e ceramistas habitavam áreas do Baixo Amazonas e do Companhia das Letras; Secretaria Municipal da Cultura,
Xingu. A subsistência baseava-se principalmente em 1992. p. 54, 63 e 64.
recursos dos rios e mares e na coleta de frutos, sementes e
raízes. Embora o processo de domesticação de vegetais date Paleoíndio: termo usado em arqueologia americana para
de 5000 a.C., a agricultura só se tornou predominante por designar os primeiros habitantes do continente, desde as
volta de 1000 a.C. primeiras ocupações até o final do Pleistoceno, cerca de 10
O início da produção de cerâmica na região ocorreu mil a 12 mil anos atrás.
4.000 anos atrás, mas no sítio arqueológico de Taperinha,
no Pará, por exemplo, foram encontrados e analisados
vestígios de um vaso funerário que continha restos de ossos
e de dentes datados de aproximadamente 7000 a.C. Tal
achado indica, para alguns especialistas, que não há
intervalo temporal entre os sambaquis cerâmicos de outros
países da América do Sul e os encontrados no Baixo
Amazonas.
O modo de produção e organização dos paleoíndios
que habitaram a área do sítio arqueológico da Caverna da
Pedra Pintada, também no Pará, indica que eles
desenvolveram diferentes modos de uso e manejo dos
recursos naturais com sofisticada habilidade e tecnologia.
Para ocupar áreas densas da floresta tropical úmida e
usufruir delas, eram necessárias a transformação do
ambiente e a recriação contínua da floresta.
“As maiores inovações culturais pré-históricas na América
do Sul – agricultura, cerâmica e complexidade cultural –
eram consideradas como provenientes dos Andes, [...] e,
portanto, seu desenvolvimento na Amazônia foi geralmente
atribuído a influências externas. [...] O padrão de vida
característico da Amazônia indígena da atualidade –
pequenos grupos vivendo em bandos independentes e
igualitários e aldeias com modo de subsistência baseado em
agricultura itinerante, caça e pesca – foi projetado nos
tempos pré-históricos como produto da degeneração das
culturas andinas no pobre ambiente tropical úmido. [...]
Contudo, novos resultados de testes radiocarbônicos

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