Cartilha Solos Norte PR Versao Final

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 67

Diretor

Oromar João Bertol


Vice-Diretor
Alessandro Samuel Rosa
Segunda Vice-Diretora
Nerilde Favaretto
Secretário
André Carlos Auler
Segunda Secretária
Letícia de Pierri
Tesoureira
Carla Fernanda Ferreira
Vice-Tesoureiro
Edivan José Possamai
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
Núcleo Estadual do Paraná

CONHECENDO OS SOLOS DAS


MESORREGIÕES NORTE CENTRAL E
NORTE PIONEIRO DO PARANÁ

Abordagem para educadores do ensino


fundamental e médio

Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira


Francisco Carlos Mainardes da Silva
Pedro Rodolfo Siqueira Vendrame
Graziela Moraes de Cesare Barbosa
José Francirlei de Oliveira
Osvaldo Guedes Filho
Lygia de Oliveira Ribeiro
Ana Carolina da Silva
Alan Alves Alievi

Cornélio Procópio – PR
2024
Copyright© 2024 – Núcleo Estadual do Paraná da Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo
Os conceitos e opiniões emitidos pelos autores dos capítulos são de
responsabilidade deles. É permitida a reprodução parcial ou citação, desde que
citada a fonte. É proibida a reprodução total desta obra sem a autorização prévia, e por
escrito, dos respectivos autores.

Conselho Editorial do NEPAR/SBCS


Alessandro Samuel Rosa (Presidente)
Marcia Regina Calegari (Secretária)
Josiane Burkner dos Santos
Letícia de Pierri
Marcelo Ricardo de Lima.

ISBN: 978-85-69146-10-0
2024 - 1ª edição
Fotos da capa: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira
Capa: Alysson Oliveira de Carvalho
Editoração: Marcelo Ricardo de Lima
Revisão: Ana Carla da Silva Lima

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro , SP , Brasil)
Conhecendo os solos das mesorregiões Norte Central
e Norte Pioneiro do Paraná [livro eletrônico] :
Abordagem para educadores do ensino fundamental
e médio. - - 1. ed. - - Cornélio Procópio, PR :
NEPAR-SBCS, 2024.
PDF

Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-69146-10-0

1. Ambiente de sala de aula 2. Educação básica


3. Paraná (Estado) - Educação 4. Solos - Conservação
5. Solos - Formação 6. Solos – Manejo .

24-204463 CDD-370.113
Índices para catálogo sistemático:
1. Solos : Conservação : Educação 370.113
Aline Graziele Benitez – Bibliotecária – CRB-1/3129
ii
AUTORES
Alan Alves Alievi
Licenciado em Geografia, Doutor em Geografia.
Professor QPM em Geografia – SEED-PR, Professor CRES da Universidade Estadual
do Norte do Paraná - UENP, Campus Cornélio Procópio/PR - Curso de Geografia.
E-mail: [email protected]/[email protected]

Ana Carolina da Silva


Licenciada em Geografia, Mestranda em Geografia.
E-mail: [email protected]

Francisco Carlos Mainardes da Silva


Graduado em Agronomia, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas.
Professor de pedologia, química e física de solos no curso de Agronomia da
Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP, Campus Luiz Meneguel –
Bandeirantes/PR.
E-mail: [email protected]

Graziela Moraes de Cesare Barbosa


Graduada em Engenharia Agrícola, Doutora em Agronomia.
Pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-IAPAR-EMATER,
Professora da Universidade Estadual de Londrina no curso de pós-graduação em
Agronomia.
E-mail: [email protected]

José Francirlei de Oliveira


Graduado em Agronomia, Doutor em Agronomia.
Analista de Ciência e Tecnologia, Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná -
IAPAR - EMATER, Londrina/PR.
E-mail: [email protected]

Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira


Licenciada em Geografia, Pós-doutorado em Ciências do Solo.
Professora da Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP, Campus Cornélio
Procópio/PR - Curso de Geografia.
E-mail: [email protected]

iii
Lygia de Oliveira Ribeiro
Licenciada em Geografia, Doutoranda em Geografia.
Professora da Rede Municipal de Santo Antônio da Platina/PR.
E-mail: [email protected]

Osvaldo Guedes Filho


Graduado em Agronomia, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas
Professor da Universidade Federal do Paraná, Campus Jandaia do Sul, Jandaia do
Sul/PR - Curso de Engenharia Agrícola.
E-mail: [email protected]

Pedro Rodolfo Siqueira Vendrame


Graduado em Agronomia, Doutor em Agronomia.
Professor do Departamento de Geologia e Geomática, Universidade Estadual de
Londrina - UEL, Londrina/PR.
E-mail: [email protected]

iv
SUMÁRIO

1. OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS DO SOLO................ 01

2. CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA DAS


MESORREGIÕES NORTE CENTRAL E NORTE
PIONEIRO DO PARANÁ..................................................... 05

2.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA......................................................... 05


2.2 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA....................................... 07
2.3 CLIMA................................................................................................. 09
2.4 COBERTURA VEGETAL NATURAL...................................... 10

3. PRINCIPAIS CLASSES DE SOLOS DAS


MESORREGIÕES NORTE CENTRAL
E NORTE PIONEIRO DO PARANÁ.................................. 12

3.1 LATOSSOLOS.................................................................................. 18
3.2 NITOSSOLOS................................................................................... 22
3.3 ARGISSOLOS................................................................................... 26
3.4 NEOSSOLOS.................................................................................... 30

4. PROJETOS E ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO EM SOLOS


NAS MESORREGIÕES NORTE CENTRAL E NORTE
PIONEIRO DO PARANÁ...................................................... 32

4.1 PROJETO SOLO NA ESCOLA/UENP.................................... 32


4.2 PROJETO SOLO NA ESCOLA/UFPR JANDAIA................ 39
4.3 MUSEU DE GEOLOGIA E SOLOS DA UEL........................ 48

5. DOBRADURAS DOS PRINCIPAIS PERFIS DE SOLO


QUE OCORREM NAS MESORREGIÕES CENTRAL E
NORTE PIONEIRO DO ESTADO DO PARANÁ................. 52

6. REFERÊNCIAS......................................................................... 57

v
CONHECENDO OS SOLOS DAS
MESORREGIÕES NORTE
CENTRAL E NORTE PIONEIRO
DO PARANÁ
Abordagem para educadores do
ensino fundamental e médio
Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira
Francisco Carlos Mainardes da Silva
Pedro Rodolfo Siqueira Vendrame
Graziela Moraes de Cesare Barbosa
José Francirlei de Oliveira
Osvaldo Guedes Filho
Lygia de Oliveira Ribeiro
Ana Carolina da Silva
Alan Alves Alievi

1. CONCEITO E FUNÇÕES DOS SOLOS


O solo exerce papel fundamental para a manutenção e
construção da biodiversidade e presta diversos serviços
ecossistêmicos, sendo esses os benefícios fornecidos pelos
ecossistemas para os seres humanos, os quais abrangem serviços de
suporte, serviços de provisão, serviços de regulação e serviços
culturais.
Os serviços de suporte são aqueles necessários para a
produção dos ecossistemas e sustentam quase todos os outros
serviços. Os ecossistemas fornecem espaços para a vida de plantas e
animais, mantêm uma diversidade de tipos de plantas e animais e
estão relacionados com: a) a formação do solo, porque muitos
serviços dependem da fertilidade do solo, e a taxa de formação do
solo influencia o bem-estar humano em várias maneiras; b) a
fotossíntese, pois ela produz oxigênio necessário para a maioria

1
dos organismos vivos; c) a produção primária, a assimilação ou
acumulação de energia e nutrientes pelos organismos; d) a ciclagem de
nutrientes para aproximadamente 20 nutrientes essenciais para a vida,
incluindo nitrogênio e fósforo, que percorrem os ecossistemas e são
mantidos em diferentes concentrações; e) a ciclagem da água, que
percorre os ecossistemas e é essencial para os organismos vivos.
Já os serviços de provisão reportam ao abastecimento de
alimentos, fibras, madeira e água e fornecem os produtos obtidos dos
ecossistemas, incluindo: a) comida com uma vasta gama de alimentos; b)
produtos derivados de plantas, animais e micróbios; c) fibras como
madeira, juta, algodão, cânhamo, seda e lã; d) combustível, madeira,
esterco e outros materiais biológicos que servem como fontes de
energia; e) recursos genéticos que incluem os genes e informações
genéticas usadas para animais e melhoramento de plantas e
biotecnologia; f) produtos bioquímicos, remédios naturais e produtos
farmacêuticos, medicamentos, biocidas, aditivos alimentares como
alginatos e materiais biológicos derivados de ecossistemas; g) recursos
ornamentais, produtos animais e vegetais, como peles, conchas, plantas
e flores usadas como ornamentos e no paisagismo; h) água doce fresca
obtida de ecossistemas, portanto, o abastecimento de água pode ser
considerado um serviço de provisão. A água doce dos rios também é
uma fonte de energia, assim como a água é necessária para a existência
de outras formas de vida. No entanto, também pode ser considerada um
serviço de apoio.
Os serviços reguladores são aqueles que afetam o clima e as
enchentes, degradam resíduos, controlam doenças e mantêm ou
aumentam a qualidade da água. Os serviços de regulação incluem: a)
regulação da qualidade do ar, pois os ecossistemas contribuem na
extração de produtos químicos da atmosfera, influenciando muitos
aspectos da qualidade do ar; b) a regulação do clima, visto que os
ecossistemas influenciam o clima local e globalmente. Em escala local,
por exemplo, mudanças na cobertura da terra podem afetar a

2
temperatura e a precipitação. Na escala global, os ecossistemas
desempenham um papel importante no clima, sequestrando ou emitindo
gases de efeito estufa; c) a regulação da água, pois o momento e a
magnitude do escoamento, inundações e recarga de aquíferos podem ser
fortemente influenciados por mudanças na cobertura da terra, incluindo,
em particular, alterações que afetam o potencial de armazenamento de
água do sistema, como a conversão de zonas úmidas ou a substituição de
florestas por terras de cultivo ou terras de cultivo por áreas urbanas; d) a
regulação da erosão, pois a cobertura vegetativa desempenha um
importante papel na retenção do solo e na prevenção de deslizamentos
de terra; e) a purificação de água e o tratamento de resíduos, uma vez
que os ecossistemas podem ser uma fonte de impurezas, mas também
podem ajudar a filtrar, eliminar e decompor os resíduos orgânicos
introduzidos em águas interiores, costeiras e marinhas, podem, também,
assimilar e desintoxicar compostos através dos processos do solo e do
subsolo; f) a regulação de doenças, pois as mudanças nos ecossistemas
podem alterar diretamente a abundância de patógenos humanos, bem
como a abundância de vetores de doenças, como os mosquitos; g) a
regulação de pragas, visto que as mudanças no ecossistema afetam a
prevalência de pragas agrícolas e pecuárias e doenças; h) a polinização,
afetando a distribuição, abundância e eficácia de polinizadores; i) a
regulação do risco natural, pois a presença de ecossistemas costeiros,
como manguezais e recifes de corais podem reduzir os danos causados
por furacões ou grandes ondas.
Os serviços culturais são os benefícios imateriais que as
pessoas obtêm dos ecossistemas através do enriquecimento espiritual,
desenvolvimento cognitivo, reflexão, recreação e experiências estéticas,
incluindo: a) a diversidade cultural que é influenciada pela diversidade
dos ecossistemas; b) os valores espirituais e religiosos atribuídos aos
ecossistemas ou seus componentes, por parte das diferentes religiões; c)
os sistemas de conhecimento pois os ecossistemas influenciam os tipos
de conhecimento desenvolvidos por diferentes culturas; d) os valores

3
educacionais, considerando que os ecossistemas e seus componentes e
processos fornecem a base para a educação formal e informal em muitas
sociedades; e) a inspiração, já que os ecossistemas fornecem uma rica
fonte de inspiração para arte, folclore, símbolos nacionais, arquitetura e
publicidade; f) os valores estéticos, uma vez que parte das pessoas
encontram beleza ou valor estético em vários aspectos dos ecossistemas,
conforme refletido no apoio aos parques e a seleção de locais de
habitação; g) as relações sociais, pois os ecossistemas influenciam nos
seus diferentes tipos que se estabelecem em culturas particulares; h) o
sentido de lugar, porque muitas pessoas valorizam o “sentido do lugar”
que está associado às características reconhecidas de seu ambiente,
incluindo aspectos do ecossistema; i) os valores do patrimônio cultural,
pois muitas sociedades colocam alto valor na manutenção de paisagens
culturais historicamente importantes ou de espécies culturalmente
significativas; j) a recreação e o ecoturismo, uma vez que as pessoas
escolhem onde passar seu tempo de lazer com base, em parte, nas
características das paisagens naturais ou cultivadas em uma área
particular.
A dependência dos serviços ecossistêmicos com o solo está
relacionada às funções que ele executa, tais como: a) produção de
biomassa, incluindo agricultura e silvicultura; b) armazena, filtra e
transforma nutrientes, substâncias e água; c) pool de biodiversidade,
como habitats, espécies e genes; d) ambiente físico e cultural para
humanos e atividades humanas; e) fonte de matérias-primas; f) atua
como reservatório de carbono; e g) arquivo do patrimônio geológico e
arqueológico.
Dessa forma, é notável que os solos são fundamentais para a
vida na Terra, mas as pressões humanas sobre os recursos do solo estão
chegando a limites críticos. A maioria das pressões sobre a terra, solos e
recursos da água do mundo é gerada pela própria agricultura. O aumento
do uso de insumos químicos (inorgânicos), a adoção da mecanização da
agricultura e as repercussões gerais de maior intensidade da monocultura

4
e pastoreio estão concentrados em reservas cada vez menores de terras
agrícolas. Esses fatores produzem uma série de externalidades que
também afetam outros setores ao degradar a terra e poluir os recursos
hídricos superficiais e subterrâneos.
Antes do século XX, o solo era exaltado quase exclusivamente
no contexto da agricultura e alimentação. Conforme o impacto global da
humanidade sobre os recursos naturais aumentou nos últimos 150 anos,
começaram a ser feitas conexões entre o solo e as preocupações
ambientais mais amplas. O reconhecimento dessas conexões acelerou ao
longo do tempo, e inovadoras formas de relacionar os solos com as
pessoas começaram a emergir nas últimas duas décadas do século XXI.
As conexões entre os solos e as questões sociais, como
segurança alimentar, sustentabilidade, mudanças climáticas, sequestro de
carbono, emissões de gases de efeito estufa e degradação por erosão e
perda de matéria e nutrientes, são centrais para o conceito recentemente
desenvolvido de segurança do solo.

2. CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA
DAS MESOREGIÕES NORTE CENTRAL
E NORTE PIONEIRO DO PARANÁ

2.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA


As Mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do estado do
Paraná abrangem uma área de 4.025.922,1 hectares, correspondendo a
cerca de 19,9% do território estadual (Figura 1).
As Mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro são
constituídas por 125 municípios (Figura 2), destacando os municípios de
Cornélio Procópio, Santo Antônio da Platina, Jacarezinho, Maringá e
Londrina em suas dimensões populacionais e níveis de polarização.

5
Figura 1. Mapa das mesorregiões do estado do Paraná, com destaque para as
mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro. Fonte: Elaborado por Alan Alves Alievi
(2023).

Figura 2. Mapa dos municípios das mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do
estado do Paraná. Fonte: Elaborado por Alan Alves Alievi (2023).

6
As regiões fazem fronteira ao norte e leste com o estado de
São Paulo, a oeste com as mesorregiões Noroeste e Centro-Ocidental,
sendo o rio Ivaí a principal divisa; ao sul, com a mesorregiões Centro-
Sul, Sudeste e Centro-Oriental.

2.2 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA


A geomorfologia do Paraná pode ser dividida em 5
compartimentos: Litoral, Serra do Mar, Primeiro Planalto, Segundo
Planalto e Terceiro Planalto. As Mesorregiões Norte Central e Norte
Pioneiro do estado do Paraná encontram-se em parte no Segundo e em
parte no Terceiro Planalto Paranaense (Figura 3).

Figura 3. Mapa geomorfológico das mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do


estado do Paraná. Fonte: Elaborado por Alan Alves Alievi (2023).

O Segundo Planalto Paranaense, limitado a leste pela Escarpa


Devoniana, exibe uma paisagem suavemente ondulada, constituída por
sedimentos paleozoicos do devoniano, carbonífero e do permiano, e nas
extremidades da escarpa triássica-jurássica, aparecem mesetas isoladas e

7
cadeias de mesetas com restos de sedimentos triássicos, diques, sills e
capas de rochas eruptivas básicas do vulcanismo gondwânico, como
testemunhos da antiga extensão da capa de rochas mesozoicas mais para
leste (Figura 4).
Já o Terceiro Planalto Paranaense inicia-se a partir da Serra da
Boa Esperança a leste, ou chamada também de Escarpa Mesozoica e os
vales dos rios Tibagi, Ivaí, Piquiri e Iguaçu dividem o Terceiro Planalto
em quatro regiões geográficas naturais. O Terceiro Planalto é
caracterizado pela região dos grandes derrames de lava, predominando
os derrames de “trapp” - basalto. Já nas áreas do norte central da
mesorregião jazem vestígios do arenito vermelho do grupo São Bento
Superior “supratrapp” - acima do basalto ou arenito Caiuá (Figura 4).

Figura 4. Mapa geológico das mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do Estado
do Paraná. Fonte: Elaborado por Alan Alves Alievi (2023).

8
2.3 CLIMA
Na maior parte do território das mesorregiões Norte Central e
Norte Pioneiro do estado do Paraná, predomina o clima Cfa e na porção
mais setentrional, o clima Cfb (Figura 5).

Figura 5. Mapa de clima das mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do estado
do Paraná. Fonte: Elaborado por Alan Alves Alievi (2023).

O clima Subtropical Úmido Mesotérmico (Cfa) caracteriza-se


por verões quentes, geadas pouco frequentes e chuvas com tendência de
concentração nos meses de verão. Apresenta as seguintes médias anuais:
temperatura dos meses mais quentes superior a 22 °C, e dos meses mais
frios inferior a 18 °C; chuvas entre 1.300 e 1.700 mm; e umidade relativa
do ar de 75%, sem deficiência hídrica. O clima Cfa caracteriza as regiões
das matas tropicais e subtropicais, como sendo quentes-temperadas,
sempre úmidas.
O clima Subtropical Úmido Mesotérmico (Cfb) caracteriza-se
por verões frescos e geadas severas e frequentes, sem estação seca, cujas
principais médias anuais de temperatura dos meses mais quentes não
ultrapassam 22 °C, e dos meses mais frios são inferiores a 18 °C.

9
A temperatura média anual é de 19 °C, com chuvas entre 1.200 e
1.300 mm e umidade relativa do ar de 80%, sem deficiência
hídrica. A zona climática Cfb abrange os campos limpos com suas
ilhas de matas de araucárias, capões e matas ciliares de córregos e
rios, as matas de declive das escarpas e os matos secundários da
região das araucárias do Primeiro e Segundo Planalto.

2.4 COBERTURA VEGETAL NATURAL


O estado do Paraná caracteriza-se por uma diversidade
fitogeográfica notável, onde diferentes tipos de florestas estão
entremeadas por formações herbáceas e arbustivas, resultantes de
peculiaridades geomorfológicas, pedológicas e climáticas. A
intensificação das atividades humanas, a partir do final do século XIX,
determinou uma expressiva transformação de sua cobertura vegetal,
restando atualmente menos de 9% da situação original em bom estado
de conservação.
As mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do estado do
Paraná, encontram-se nos domínios fitogeográficos de três biomas
distintos: Floresta Estacional Semidecidual; Floresta Ombrófila Mista; e
em menores proporções, o Cerrado (Figura 6).
A Floresta Ombrófila Mista (FOM) é uma unidade
fitoecológica na qual se contempla a coexistência de representantes das
floras tropical e temperada, em marcada relevância fisionômica de
elementos Coniferales e Laurales, onde domina a Araucaria angustifolia,
espécie de alto valor econômico e paisagístico. A FOM compreende as
formações florestais típicas e exclusivas dos planaltos da região Sul do
Brasil, com disjunções na região Sudeste e em países vizinhos (Paraguai e
Argentina). Encontra-se predominantemente entre 800 e 1.200 m de
altitude, podendo eventualmente ocorrer acima desses limites.
A Floresta Estacional Semidecidual (FES) teêm como principal
característica fisionômica a semidecidualidade, na estação desfavorável.
Esse fenômeno é praticamente restrito aos estratos superiores e parece

10
ter correlação principalmente com os parâmetros climáticos, históricos
ou atuais. Esse tipo de floresta compreende as formações florestais das
regiões norte e oeste do estado do Paraná, entre 800 m e 200 m de
altitude, com florística diferenciada e mais empobrecida em relação às
formações ombrófilas.

Figura 6. Mapa de vegetação das mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do


estado do Paraná. Fonte: Elaborado por Alan Alves Alievi (2023).

O Cerrado, cuja origem remonta ao início do atual período


pós-glacial, como colonizadora da superfície estéril resultante do clima
anterior, é feito de pequenas manchas de Savana que ocorrem nas
regiões nordeste e centro-norte do estado, com fisionomia e florística
semelhantes àquelas dos planaltos do Brasil Central, sua principal área de
ocorrência. São encontradas diferentes faciações, desde campestres até
florestadas, todas dominantemente sobre Latossolos. Dentre as arbóreas
são típicas árvores com fustes tortuosos e cascas grossas e fissuradas, e
raramente ultrapassam 10 m de altura.

11
3. PRINCIPAIS CLASSES DE SOLOS DAS
MESOREGIÕES NORTE CENTRAL E
NORTE PIONEIRO DO PARANÁ

Nas áreas das mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do


estado do Paraná, ocorre uma grande variedade de tipos de solos:
Latossolos, Nitossolos, Argissolos, Neossolos, Cambissolos e outras
(correspondente a algumas das treze1 classes gerais de solos que
compõem o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – SiBCS), com
predomínio dos Latossolos e Nitossolos (Figura 7 e Quadros 1 e 2).

Figura 7. Mapa de solos das mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do estado do
Paraná.. Fonte: Elaborado por Alan Alves Alievi (2023).

1Latossolos, Argissolos, Cambissolos, Chernossolos, Espodossolos, Gleissolos,


Luvissolos, Neossolos, Nitossolos, Organossolos, Planossolos, Plintossolos e
Vertissolos.

12
Quadro 1. Distribuição das classes de solos nos municípios da Mesorregião Norte
Central do Paraná. Fonte: IBGE (2023).
Proporção (%) das classes de solo por município*
Município
Latossolo Nitossolo Argissolo Cambissolo Neossolo
Alvorada do Sul 23,99 55,61 1,04
Ângulo 75,94 24,07
Apucarana 23,90 43,16 27,47
Arapongas 49,45 42,95 1,38
Arapuã 52,94 4,10 42,77
Ariranha do Ivaí 28,88 38,57 31,88
Astorga 59,21 29,03 10,12
Atalaia 79,97 20,03
Bela Vista do Paraíso 17,39 74,24 8,38
Bom Sucesso 16,30 35,32 48,38
Borrazópolis 16,88 48,94 33,18
Cafeara 85,69 11,08
Califórnia 45,02 25,88 25,88
Cambé 28,33 67,31
Cambira 10,60 74,95 14,45
Cândido de Abreu 13,37 26,66 1,30 58,49
Centenário do Sul 75,12 22,20 1,48
Colorado 81,59 17,05
Cruzmaltina 49,25 14,80 3,27 32,29
Doutor Camargo 15,91 70,69 12,52
Faxinal 32,49 4,03 27,91 34,73
Floraí 54,97 35,93 9,10
Floresta 31,09 63,75 4,08
Florestópolis 47,91 40,12 10,73
Flórida 68,48 31,52
Godoy Moreira 6,20 29,66 63,79
Grandes Rios 21,79 2,09 21,17 54,19
Guaraci 77,46 22,51
Ibiporã 20,60 68,54 5,94
Iguaraçu 72,59 27,37
Itaguajé 63,63 7,96 20,83
Itambé 16,59 64,82 17,02
Ivaiporã 66,55 2,51 28,96
Ivatuba 33,77 61,15 3,31
Jaguapitã 67,58 32,31
Jandaia do Sul 1,15 49,24 46,54
Jardim Alegre 28,49 13,09 57,81
Kaloré 63,20 36,29
Lidianópolis 44,95 22,91 29,46
Lobato 95,70 4,30

13
Quadro 1. Distribuição das classes de solos nos municípios da Mesorregião Norte
Central do Paraná (continuação). Fonte: IBGE (2023)

Proporção (%) das classes de solo por município*


Município
Latossolo Nitossolo Argissolo Cambissolo Neossolo
Londrina 12,28 60,17 20,05
Lunardelli 18,77 45,40 35,01
Lupionópolis 77,80 17,09
Mandaguaçu 61,11 24,64 12,67
Manoel Ribas 58,52 10,75 30,15
Marialva 20,66 57,72 20,54
Marilândia do Sul 58,13 23,77 17,54
Maringá 37,41 41,60
Marumbi 7,81 48,52 43,67
Mauá da Serra 36,32 16,11 44,34
Miraselva 100,00
Munhoz de Mello 65,91 34,06
Nossa Senhora das Graças 52,29 47,68
Nova Esperança 55,63 5,99 36,93
Nova Tebas 26,14 73,71
Novo Itacolomi 58,38 41,62
Ourizona 48,45 51,38
Paiçandu 33,73 56,34 5,35
Pitangueiras 51,32 48,69
Porecatu 13,31 71,65 3,81
Prado Ferreira 43,81 56,19
Presidente Castelo Branco 82,39 4,30 13,31
Primeiro de Maio 7,37 64,10 6,38
Rio Bom 26,07 8,67 65,26
Rio Branco do Ivaí 22,18 47,31 30,15
Rolândia 33,72 63,11
Rosário do Ivaí 42,23 57,59
Sabáudia 50,10 28,49 21,42
Santa Fé 95,15 4,85
Santa Inês 57,62 38,32
Santo Inácio 39,15 5,94 51,12
São João do Ivaí 2,69 85,15 10,72
São Jorge do Ivaí 40,74 58,74
São Pedro do Ivaí 8,05 68,24 22,04
Sarandi 36,70 46,42
Sertanópolis 32,17 56,07 8,73
Tamarana 34,25 7,56 25,41 32,34
Uniflor 84,80 9,58 5,62
*As porcentagens de solos não contempladas neste quadro são de área urbana e de corpos d’água.

14
Quadro 2. Distribuição das classes de solos nos municípios da Mesorregião Norte
Pioneiro do Paraná. Fonte: IBGE (2023)

Proporção (%) das classes de solo por município*


Município
Latossolo Nitossolo Argissolo Cambissolo Neossolo
Abatiá 11,93 43,41 44,66
Andirá 43,32 54,46
Assaí 13,75 78,04 7,12
Bandeirantes 15,71 56,99 25,62
Barra do Jacaré 26,27 73,73
Cambará 34,16 61,08
Carlópolis 74,38 7,84
Congonhinhas 24,60 12,95 20,00 42,37
Conselheiro Mairinck 69,20 30,74
Cornélio Procópio 19,06 62,79 16,31
Curiúva 26,83 46,72 6,58 19,12
Figueira 92,31 4,02
Guapirama 70,32 29,65
Ibaiti 7,00 71,35 0,89 20,19
Itambaracá 30,32 64,05
Jaboti 99,38 0,62
Jacarezinho 27,44 10,92 41,50 27,88
Japira 83,49 16,45
Jataizinho 16,56 45,39 36,39
Joaquim Távora 29,90 66,05
Jundiaí do Sul 14,03 11,04 13,34 61,59
Leópolis 12,97 52,63 29,62
Nova América da Colina 31,45 50,72 17,80
Nova Fátima 22,17 51,44 5,38 20,81
Nova Santa Bárbara 26,14 73,74
Pinhalão 72,78 27,22
Quatiguá 1,14 42,53 25,57
Rancho Alegre 30,05 63,34
Ribeirão Claro 9,60 32,10 39,95
Ribeirão do Pinhal 28,93 24,86 6,25 39,97
Salto do Itararé 12,59 21,09 62,78
Santa Amélia 77,38 22,61
Santa Cecília do Pavão 19,81 80,19
Santa Mariana 40,73 58,39
Santana do Itararé 18,69 81,31
Santo Antônio da Platina 12,60 27,32 11,25 47,29
Santo Antônio do Paraíso 30,53 49,30 20,10
São Jerônimo da Serra 28,63 16,07 12,43 42,35
São José da Boa Vista 17,44 82,56

15
Quadro 2. Distribuição das classes de solos nos municípios da Mesorregião Norte
Pioneiro do Paraná. Fonte: IBGE (2023) (continuação).

Proporção (%) das classes de solo por município*


Município
Latossolo Nitossolo Argissolo Cambissolo Neossolo
São Sebastião da Amoreira 53,21 39,67 6,74
Sapopema 35,05 6,24 58,39
Sertaneja 36,97 43,89 0,82
Siqueira Campos 14,43 11,74 66,79 4,46
Tomazina 0,91 6,44 84,28 8,37
Uraí 27,43 48,80 23,78
Wenceslau Braz 24,13 69,90 4,63
*As porcentagens de solos não contempladas neste quadro são de área urbana e de corpos d’água.

A mesorregião Norte Pioneiro apresenta compartimentos


distintos quanto ao uso potencial do solo. O primeiro compartimento
ocorre onde se tem a presença de solos aptos ao uso agrossilvopastoril,
classificados como do tipo bom. Predomina o relevo plano a suavemente
ondulado, com declividades de 0 a 10% (até 6 graus de inclinação do
terreno), perfazendo 15% da área total da mesorregião. A associação de
solos do tipo bom e regular por problemas de erosão ocupa 25% da área
total da mesorregião, diferenciando-se principalmente pelo predomínio de
relevo suave ondulado com declividades de 10 a 20% (até 12 graus),
limitando o uso agrícola mecanizável. Este compartimento situa-se nos
municípios de Sertaneja, Rancho Alegre, Santa Mariana, Itambaracá,
Andirá, Cambará, Bandeirantes, Barra do Jacaré, Assaí, São Sebastião da
Amoreira, Santa Cecília do Pavão e Nova Santa Bárbara.
O compartimento central da mesorregião Norte Pioneiro, que
ocupa 30% de sua área total, está associado à faixa dos campos gerais do
Segundo Planalto Paranaense, com predominância de áreas inaptas e
restritas por problemas de erosão. Apresenta declividades de 0 a 20% (até
12 graus) e solos rasos, que são característicos desta paisagem natural.
Ocorre principalmente nos municípios de Ribeirão Claro, Santo Antônio
da Platina, Joaquim Távora, Jundiaí do Sul, Conselheiro Mairinck,
Congonhinhas, Ibaiti e Sapopema.

16
Já o compartimento a leste e sudeste perfaz 25% da área total,
predominando solos restritos por erosão e inaptos, com declividades de
10 a 20% (até 12 graus), onde são necessárias práticas de conservação.
Abrange os municípios de Carlópolis, Joaquim Távora, Guapirama,
Quatiguá, Siqueira Campos, Tomazina, Pinhalão, Jaboti, Salto do Itararé,
Santana do Itararé e São José da Boa Vista.
O relevo fortemente ondulado a montanhoso ocorre em 5%
da mesorregião norte pioneiro, relacionado à Escarpa Devoniana, nos
municípios de São Jerônimo da Serra, Sapopema, Wenceslau Braz e
Tomazina. São áreas inaptas para atividades agrícolas, onde predominam
declividades superiores a 20% e localmente maiores que 45% (acima de
25 graus), aptas somente ao manejo florestal.
Na mesorregião Norte Central do Paraná, predominam solos
férteis dos tipos bom e regular (65% da área total), em que a maior
problemática está no controle da erosão decorrente do uso inadequado
do solo e de eventos de alta pluviosidade. São áreas potencialmente aptas
para a produção agrícola, ocupadas atualmente por culturas cíclicas,
embora se deva destacar a ocorrência do arenito Caiuá na porção norte
da área, que possui restrições de uso devido à sua grande vulnerabilidade
erosiva. Na porção sul desta mesorregião, nos municípios de Cândido de
Abreu, Rosário do Ivaí, Faxinal e Mauá da Serra, predominam áreas
inaptas, condicionadas basicamente pela incidência de alta declividade,
que ocupam 15% do território regional, e em menor proporção áreas
restritas, principalmente por erosão, as quais ocupam 5% de sua área
total. Em quase toda a mesorregião norte central, ocorrem áreas –
relativamente dispersas – com aptidão regular e inaptas devido à erosão,
perfazendo 10% da área total. Finalmente, em 5% da mesorregião,
ocorrem áreas do tipo regular apresentando problemas de fertilidade.
A seguir, serão apresentadas as principais classes de solo que
ocorrem nas mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do estado do
Paraná, sendo elas: Latossolo, Nitossolo, Argissolo e Neossolo.

17
3.1 LATOSSOLOS
a) Conceito
Os Latossolos são solos muito intemperizados; apresentam
pouca diferenciação de horizontes e geralmente possuem poucos
nutrientes. São solos de constituição mineral originados a partir dos
mais diversos tipos de rochas e sedimentos sob condições de clima e
tipos de vegetação muito diversificados. São normalmente muito
profundos e fortemente a bem drenados, sem pedregosidade, com
sequência de horizontes pedogenéticos A, Bw, C, apresentando
pouca diferenciação de sub-horizontes e transições usualmente
difusas ou graduais.
O horizonte diagnóstico dos Latossolos é o horizonte B
latossólico (Bw), muito intemperizado, com acúmulo residual de
óxidos e com pouco ou nenhum aumento de argila em
profundidade; suas cores são vivas, geralmente avermelhadas ou
amareladas.
O horizonte Bw, de maior importância para a classificação
dos Latossolos, apresenta comumente estrutura ultrapequena
granular (Figura 8), com aspecto de maciça porosa “in situ”, podendo
apresentar-se também em blocos subangulares, pequenos e médios e
fracamente desenvolvidos; para os de textura média, a consistência a
seco varia de macio a ligeiramente duro, de muito friável a friável
quando úmido e de ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso a
plástico e pegajoso quando molhado; para os de textura argilosa,
varia de macio e ligeiramente duro quando seco, de friável a muito
friável quando úmido e quando molhado de pegajoso a muito
pegajoso, sendo normalmente plástico; para os de textura muito
argilosa, varia de macio quando seco, muito friável ou friável quando
úmido e plástico e pegajoso quando molhado.

18
Figura 8 . Estrutura granular tipo “pó de café” do horizonte Bw do Latossolo. Foto:
Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

Esses solos se encontram em avançado estádio pedogenético e,


em razão disso, são destituídos de minerais primários ou secundários
menos resistentes ao intemperismo. Dessa forma, predominam na
fração argila, na forma de argilominerais como a caulinita, sempre
associados aos óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio em maior ou
menor proporção dependendo, respectivamente, se o solo se
encontra em um estágio evolutivo maior ou menor.
Essa mineralogia o confere baixa capacidade de troca de
cátions (CTC) trazendo, por consequência, altas taxas de perdas de
nutrientes pelo processo de lixiviação, o que comumente acarreta
uma pobreza química em bases trocáveis (Ca2+, Mg2+, K+ e Na+) e
forte acidez (H+ e Al3+), razão pela qual geralmente se apresenta com
nível de fertilidade baixo a muito baixo, com elevado teor de
alumínio tóxico. Mas também pode ocorrer, embora com muito
menos frequência, Latossolo com saturação por bases média e até
mesmo alta, denominados de eutróficos, que possuem de bom a
ótimo nível de fertilidade.
Em distinção às cores mais escuras do horizonte A, o Bw tem
cores mais vivas e muito variadas, dependendo da natureza, forma e
quantidade dos constituintes minerais; enquanto o horizonte C é
comparativamente menos colorido, com expressão cromática bem
variável, mesmo heterogênea.

19
Os Latossolos possuem pequena diferenciação de horizontes,
cuja distinção é pouco nítida, devido não só à pequena variação dos
atributos morfológicos, como às transições amplas e tênues entre
eles.
b) Ocorrência
Os Latossolos são típicos das regiões equatoriais e tropicais,
ocorrendo também em zonas subtropicais, distribuídos, sobretudo,
por amplas e antigas superfícies de erosão, pedimentos ou terraços
fluviais antigos, normalmente ocupando os topos das paisagens, em
relevo plano (Figura 9) e suave ondulado, embora possam ocorrer em
áreas mais acidentadas, inclusive em relevo montanhoso.

Figura 9 . Paisagem de ocorrência do Latossolo Vermelho na mesorregião Norte


Pioneiro do Paraná, Bandeirantes/PR. Foto: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira
(2023).

Aqueles que por exceção à regra se apresentam com bom nível


de fertilidade, ou seja, que possuem saturação por bases média e até
mesmo alta (eutróficos), são encontrados geralmente em zonas que
apresentam estação seca pronunciada ou influência de rochas básicas
ou calcárias.
Os Latossolos são os solos de maior representação geográfica
no Brasil, constituindo, portanto, nesse aspecto, a ordem de solo
mais importante do país. Aliás, constitui um dos principais tipos de
solos que ocorre nas mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do

20
estado do Paraná. Nestas mesorregiões ocorre apenas uma das quatro
subordens em que se divide a ordem dos Latossolos, qual seja a dos
Latossolos Vermelhos.
Nas mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do estado
do Paraná, predominam os Latossolos Vermelhos com altos teores de
óxidos de ferro, formados sobre o basalto (Figura 10a). No entanto,
em alguns testemunhos de elevações sob influência de rochas
sedimentares e na porção mais a noroeste da região (Jaguapitã,
Mirasselva, Santa Fé, Centenário do Sul etc.), os Latossolos ocorrem
sobre os arenitos, com médios teores de óxidos de ferro. Nessas
regiões, o material de origem está, muitas vezes, mesclado com
materiais de rochas eruptivas básicas (basaltos), sendo o produto
dessa mescla definidor da textura média a argilosa desses Latossolos
(Figura 10b).

a b
Figura 1 0 . ( a ) Perfil de Latossolo Vermelho, Bandeirantes/PR. (b) Perfil de
Latossolo Vermelho, textura média, Bela Vista do Paraíso/PR. Fotos: (a) Jully
Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023); (b) Pedro Rodolfo Siqueira Vendrame (2018).

21
Cabe destacar ainda que no Segundo Planalto Paranaense são
desenvolvidos a partir de rochas sedimentares (sedimentos argilosos,
argilo-arenosos, arenosos, silticos ou mistura deles) e no Terceiro
Planalto, de rochas eruptivas básicas, ou seja, à partir de rochas ricas
em ferro ou quando o sedimento original já possui hematita.
c) Potencialidades e limitações
Quanto às suas potencialidades agrícolas, pode-se dizer que,
em função dos seus atributos, principalmente no que tange ao relevo
de ocorrência e ausência de pedregosidade, facilitam a mecanização,
sendo muito utilizados na produção agrosilvopastoril. Embora,
geralmente sejam de baixa fertilidade química, o que constitui a sua
principal limitação agrícola, as práticas de adubação e correção do
solo podem torná-los muito produtivos.
Ademais, levando-se em conta o relevo de ocorrência, aliado à
sua grande porosidade e ao fato do incremento de argila do A para o
B ser pouco expressivo ou inexistente, atributos que proporcionam
grande permeabilidade interna (variam de fortemente a bem
drenados), os Latossolos apresentam baixo risco de erosão e grande
capacidade para suportar estradas e construções urbanas e rurais. No
entanto, embora muito resistentes à erosão em condições naturais,
quando colocados sob cultivo, sua susceptibilidade ao fenômeno
aumenta ou diminui em função do declive, comprimento da
pendente, tipo de manejo, tempo de utilização e espécie de cultura.

3.2 NITOSSOLOS
a) Conceito
Os Nitossolos são solos mediamente profundos, bastante
pedogenizados, com pequena diferenciação de horizontes. Nesta classe,
estão compreendidos solos constituídos por material mineral, com
textura argilosa ou muito argilosa (teores de argila iguais ou maiores que
350 g. kg-1 de TFSA) desde a superfície do solo.
O horizonte diagnóstico dos Nitossolos é o horizonte B nítico
(Bni), sem aumento de argila em profundidade e com estrutura em

22
Figura 11. Estrutura de um Nitossolo com presença de cerosidade. Foto: Jully Gabriela Retzlaf
de Oliveira (2023).

blocos e com nítidas superfícies brilhantes. Este horizonte, por sua vez,
apresenta argila de atividade baixa ou caráter alítico; estrutura em blocos
subangulares ou angulares ou prismática, de grau moderado ou forte,
com cerosidade expressiva (Figura 11) e/ou superfícies de compressão
(foscas ou brilhantes).
b) Ocorrência
ocorrem em 15% do território paranaense. Na região do
Oeste do Paraná, ocorrem em áreas de relevo suave ondulado a
ondulado com dissecação média (8 a 20% de declividade) em vertentes
com rampas convexas (Figura 14).
Os solos pertencentes à ordem dos Nitossolos podem ser
encontrados em diversas regiões brasileiras, sendo que as maiores áreas
contínuas estão situadas nos estados sulinos. É comum a ocorrência
local, em pequena área, associada com diques de rochas máficas; nas
áreas declivosas associadas com rejuvenescimento pedogeomorfológico
de áreas de Latossolo Vermelho férrico e áreas com substrato calcário
(grupo Bambuí, por exemplo).
Os solos hoje pertencentes a ordem dos Nitossolos,
anteriormente ao advento da 1ª edição do Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (SiBCS) - publicado em 1999 - eram designados,
na maioria, como Terra Roxa Estruturada, Terra Bruna Estruturada
Similar e alguns Podzólicos Vermelhos-Escuros e Podzólicos
Vermelhos-Amarelos.
23
Os Nitossolos Vermelhos, conhecidos anteriormente como
Terras Roxas Estruturadas, desenvolvem-se mais em rochas básicas em
clima tropical úmido, sendo mais expressivos na bacia do rio Paraná,
principalmente nos estados do Paraná e São Paulo; os Nitossolos
Brunos encontram-se em condições de clima subtropical de altitude
(serras de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul) e os Nitossolos
Háplicos ocorrem em áreas intermediárias entre esses climas.
No Mapa de Solos do Estado do Paraná foi constatada a
ocorrência apenas das subordens Nitossolos Brunos e Nitossolos
Vermelhos. Contudo, nas mesorregiões do norte central e norte
pioneiro do Paraná são encontrados os Nitossolos Vermelhos
(anteriormente designados como Terras Roxas Estruturadas) (Figura
12).

Figura 12. Perfil de Nitossolo Vermelho, Bandeirantes/PR. Foto: Jully Gabriela Retzlaf de
Oliveira (2023).

Estes solos ocorrem em áreas de relevo ondulado (Figura 13),


com 8 a 20% de declividade ou em relevo forte ondulado, com 20 a 40%
de declive. Menos frequentemente, ocupam superfícies de declives
suaves ou, em casos extremos, em superfícies com mais de 40% de
declividade.
24
Figura 13. Paisagem de Ocorrência do Nitossolo Vermelho na mesorregião Norte Pioneiro do
Paraná, Bandeirantes (PR). Foto: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

Os Nitossolos Vermelhos desenvolvem-se a partir de rochas


do derrame basáltico, por conseguinte, apresentam uma ampla
distribuição geográfica, ocorrendo no norte, centro, oeste e sudoeste do
estado do Paraná. A vegetação natural relaciona-se com a floresta
tropical e subtropical e campo subtropical.
Ainda releva destacar que são características marcantes desses
solos a abundância de minerais pesados, muitos dos quais atraídos por
um imã comum; a efervescência com água oxigenada ao longo do perfil,
devido aos teores relativamente elevados de manganês; o alto grau de
floculação da argila no horizonte subsuperficial e a baixa relação
silte/argila no horizonte pedogenético Bt2 (entre 0,08 e 0,25). Além
disso, apresentam-se com cor bastante uniforme ao longo do perfil,
estando compreendida entre o vermelho-escuro-acinzentado e o bruno-
avermelhado-escuro na camada superficial e entre o bruno-
avermelhado-escuro e o vermelho-escuro nos horizontes inferiores.
c) Potencialidades e limitações
No Mapa de Solos do Estado do Paraná constata-se que
predominantemente há Nitossolos Vermelhos com boa fertilidade,
enquanto os Nitossolos Brunos são de baixa fertilidade, podendo,
inclusive, possuírem altos teores de alumínio tóxico.

25
Os Nitossolos são largamente utilizados na agricultura,
principalmente aqueles com maior saturação por bases. Ao lado dos
Latossolos Eutroférricos, com os quais costumam estar associados, os
Nitossolos com alta saturação por bases (alto nível de fertilidade) são
frequentemente referidos como um dos solos mais produtivos dos
trópicos úmidos. E por ocorrerem em relevo predominantemente
ondulado, podem ter considerável risco de erosão entre sulcos ou em
sulcos, quando manejados inadequadamente.
Essa ordem de solos pode apresentar baixa ou alta acidez e,
devido à mineralogia predominantemente caulinita-oxídica, possuem
argila de atividade baixa. Portanto, exigem maior ou menor necessidade
de manejo da fertilidade pelo uso de calagem e adubação, com
potencial para alta adsorção específica de fósforo.
Os Nitossolos são geralmente profundos e bem drenados e o
relevo provavelmente seja o fator mais limitante quanto à capacidade
de uso. Quando suavemente ondulado, é propício à mecanização, mais
acidentado, tem limitações à mecanização e requer práticas
conservacionistas para controle dos processos erosivos.

3.3 ARGISSOLOS
a) Conceito
Os Argissolos são solos moderadamente intemperizados, com
marcante diferenciação de horizontes e em geral são ácidos e pobre em
nutrientes. O horizonte diagnóstico dos Argissolos é o horizonte B
textural, caracterizado com acúmulo de argila iluvial (removida dos
horizontes A ou E). Além disso, o B textural (Bt) deve apresentar argila
de atividade baixa ou, excepcionalmente, alta se conjugada com
saturação por alumínio também alta.
A classe dos Argissolos também possui caraterísticas bastante
variáveis em relação a outros aspectos morfológicos e químicos. Nesse
sentido, observa-se que nesta classe os solos: a) são de profundidade
variável; b) possuem drenagem avaliada desde forte até imperfeita; c)
ostentam cores avermelhadas ou amareladas e mais raramente brunadas
ou acinzentadas; d) possuem textura variando desde arenosa até argilosa

26
no horizonte A e de média a muito argilosa no horizonte Bt, sempre
havendo aumento de argila daquele para este; e) são de forte a
moderadamente ácidos, com saturação por bases alta ou baixa; f) o
relevo pode ir do montanhoso ao suave ondulado (Figura 14), sendo
que, quando associados aos Latossolos, costumam situar-se em posições
do relevo mais declivosas que estes.

Figura 14. Paisagem de Ocorrência do Argissolo na mesorregião Norte Pioneiro do Paraná,


Ribeirão do Pinhal /PR. Foto: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

Os perfis de Argissolos considerados mais típicos apresentam


diferenciação moderada a marcante no perfil, com um horizonte E de
cor acinzentada e assente sobre um horizonte B com aumento de argila,
espessura mediana (0,5 a 1,5 m), cores vermelho-amareladas e
agregados em blocos subangulares moderada a fortemente
desenvolvidos. Apresentando também revestimento de argila
(cerosidade).
Essa classe, admite 5 (cinco) subordens: Argissolos Bruno-
Acinzentados; Argissolos Acinzentados, Argissolos Amarelos,
Argissolos Vermelhos e Argissolos Vermelho-Amarelos. Observa-se,
também, que nela estão incluídos os solos que foram classificados
anteriormente, na sua maioria, como Podzólicos Vermelho-Amarelos,
Podzólicos Bruno-Acinzentados, Podzólicos Vermelho-Escuros,
Podzólicos Amarelos, Podzólicos Acinzentados e mais recentemente
solos classificados como Alissolos com B textural.

27
b) Ocorrência
Os Argissolos se formam em diferentes condições climáticas e
de material de origem. Os Argissolos Bruno-Acinzentados e os
Acinzentados situam-se mais na região sul. Os amarelos encontram-se
principalmente na Amazônia e nos tabuleiros costeiros da região
Nordeste do Brasil. Os Vermelhos e os Vermelho-Amarelos encontram-
se sobretudo na região amazônica e em muitas das áreas antes ocupadas
pela mata atlântica.
Os Argissolos são predominantes em 15,3% das áreas das
unidades de mapeamento do estado do Paraná, ocorrendo também
como classe não predominante ou inclusão em outras unidades de
mapeamento. Contudo, são pouco frequentes nas regiões de rochas
basálticas do estado (Norte, Oeste e Sudoeste).
O Mapa de Solos do Estado do Paraná acusa a ocorrência
apenas das subordens dos Argissolos Vermelhos e dos Argissolos
Vermelhos-Amarelos, sendo que ambas estão presentes nas
mesorregiões do Norte Central e Norte Pioneiro do Paraná na porção
abrangida pelo Segundo Planalto paranaense (Figura 15).

Figura 15. Perfil de Argissolo Vermelho, Ribeirão do Pinhal (PR). Foto: Jully Gabriela
Retzlaf de Oliveira (2023).

28
c) Potencialidade e limitações
Uma boa parte dos Argissolos presta-se bem para a
agricultura, principalmente quando eutróficos (de alta fertilidade), mas
deve-se destacar que a maior parte deles é ácida e pobre em nutrientes,
necessitando, por isso, do uso adequado de corretivos e fertilizantes
quando usados para sistemas intensivos de agricultura. Ademais, seu uso
depende de não se situarem em relevos com encostas muito declivosas,
uma vez que nestas condições são muito susceptíveis à erosão hídrica.
É relevante ressaltar que o significativo aumento de argila dos
horizontes A ou E em relação ao B textural, à medida que atinge valores
mais elevados, indica solos cada vez mais erodíveis, mantidas as
condições de cobertura vegetal e declividade, sendo particularmente
suscetíveis à erosão os Argissolos que possuem textura dos horizontes
superficiais arenosa com mudança textural abrupta no horizonte B.
Observa-se, contudo, que o horizonte pedogenético Bt pode
encontrar-se a variadas profundidades, o que implica que entre solos de
uma mesma subordem e em mesmas condições de relevo e uso pode
haver comportamentos variados, dependendo da espessura do(s)
horizonte(s) suprajacente(s) ao horizonte Bt. São exemplos disso os
Argissolos em que o Bt está imediatamente subjacente a horizonte(s) de
textura arenosa e iniciando entre 50 e 100 cm (arênicos), bem como
iniciando a 100 cm de profundidade (espessarênicos).
Os Argissolos, mais que os Latossolos, tendem a ter menor
perda por lixiviação e a sofrer perdas por erosão mais drásticas com
pequeno aumento da declividade, sendo que particularmente o potássio
e o fósforo são perdidos em razão do reciclo desses elementos.
A maioria dos Argissolos Vermelho-Amarelos mapeados no
Paraná são de baixa fertilidade, ou seja, distróficos (V<50%), embora os
Argissolos Vermelhos possam ser tanto de alta fertilidade, ou seja,
eutróficos (V≥50%) quanto distróficos. O relevo mais comum de
ocorrência no estado é ondulado, embora tenha sido mapeado desde
plano até montanhoso.

29
3.4 NEOSSOLOS
a) Conceito
A palavra "Neossolo" tem origem no termo em latim neosolium,
cujo termo "neo" significa "novo", e o termo "solum", significa “solo” ou
“terreno”. Assim, unindo os dois termos pode se entender “Neossolo"
como um solo novo, recentemente formado ou pouco desenvolvido,
que passaram por processos de formação mais recentes que outros solos.
Os Neossolos são solos constituídos por material mineral ou
por material orgânico pouco espesso. Esses solos não apresentam
qualquer tipo de horizonte B diagnóstico. Sendo assim apresentam
horizonte A assentado diretamente sobre a rocha (sequência horizonte
A-R) ou sobre um horizonte C (sequência horizonte A-C).
b) Ocorrência
Os Neossolos são solos jovens e pouco desenvolvidos que se
formam em áreas de relevo acidentado (Figura 16), onde a ação da água,
da gravidade e do vento é intensa. Esses solos representam até 22% dos
solos paranaenses, ocorrendo em todas as regiões do estado, porém com
menor incidência na região noroeste.
Devido à sua formação recente e à posição na paisagem, os
Neossolos possuem algumas características marcantes. Sua camada de
solo é pouco desenvolvida, com aproximadamente 50 cm de
profundidade (Figura 17), e possui baixa capacidade de retenção e
armazenamento de água.
Essas características dificultam o desenvolvimento de uma
vegetação mais densa e com grandes árvores nessas áreas. Normalmente,
as espécies vegetais mais resistentes, como algumas gramíneas e
cactáceas, são capazes de se estabelecer e sobreviver nessas áreas,
adaptando-se às condições de pouca água. Essa vegetação desempenha
um papel fundamental na proteção e conservação dos Neossolos,
principalmente, porque as raízes das plantas ajudam a fixar o solo,
diminuindo o arraste para as regiões mais baixas.

30
Figura 16. Paisagem de ocorrência do Neossolo na mesorregião Norte Pioneiro do Paraná,
Leópolis/PR. Foto: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

Figura 17. Perfil de Neossolo no município de Leópolis/PR. Foto: Jully Gabriela Retzlaf
de Oliveira (2023).

c) Potencialidades e limitações
Os Neossolos, sobretudo aqueles em áreas mais planas,
podem ser utilizados para agricultura respeitando-se a capacidade de
uso. Esses solos podem apresentar alta fertilidade, porém o relevo
declivoso, a pedregosidade, a exposição da rocha, a pouca espessura
do horizonte A (<50 cm) e a baixa capacidade de armazenamento de
água, inclusive naqueles com maior proporção de areia, tornam esses
solos extremamente frágeis e susceptíveis à erosão, limitando e/ou
tornando extremamente complexo o seu uso para agricultura.

31
4. PROJETOS E ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO
EM SOLOS NAS MESORREGIÕES NORTE
CENTRAL E NORTE PIONEIRO DO PARANÁ

4.1 O PROJETO DE EXTENSÃO SOLO NA ESCOLA


UENP
O Projeto de Extensão “Solo na Escola UENP” foi criado no
dia 5 de dezembro de 2019, vinculado ao curso de Licenciatura em
Geografia da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP),
Campus Cornélio Procópio/PR, sob coordenação da Profª Drª Jully
Gabriela Retzlaf de Oliveira. O objetivo do projeto é promover a
Educação em Solos, visando ampliar a compreensão do solo como
componente essencial do meio ambiente, sensibilizar as pessoas para as
várias formas de degradação do solo, desenvolver a conscientização sobre
a importância da conservação do solo e popularizar o conhecimento
científico acerca dele.
O público-alvo são professores e estudantes da Educação Básica
e Ensino Superior e a comunidade em geral. A equipe do projeto é
composta por docentes da UENP e monitores voluntários vinculados ao
curso de Licenciatura em Geografia da UENP.
O projeto Solo na Escola UENP realiza diferentes ações de
extensão desde o ano de 2019, que se dividem em remotas e presenciais.
Em ambiente remoto, são realizados: grupos de estudo on-line (Figura
18); palestra on-line (Figura 19); curso on-line (Figura 20); minicurso e
oficina on-line (Figura 21); lives (Figura 21); concursos e mostra
pedagógica on-line (Figura 22); participação em eventos científicos;
divulgação on-line de publicações científicas, materiais didáticos e
paradidáticos (Figura 23); publicação de vídeos e postagens no Instagram
@solonaescolauenp (Figura 24); publicação de vídeos no canal do
YouTube Solo na Escola UENP (Figura 25) e publicação de conteúdos
no site do projeto https://solonaescolauenp.wixsite.com/home.

32
Figura 18. Grupo de Estudo on-line sobre a “A Salinização do Solo”. Foto: Jully Gabriela
Retzlaf de Oliveira (2023).

Figura 19. Palestra on-line “Abordagem do solo em tempos de pandemia - o Instagram como
meio de divulgação de conteúdos pedológicos”, com a Profª Drª Thaís Guarda Prado Avancini.
Foto: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

Figura 20. Folder do “I Curso Online de Solos para professores da Educação Básica”. Foto:
Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

33
Figura 21. Minicurso online “O Solo no contexto das religiões” com a Profª Drª Fabiane
Machado Vezzani (esquerda) e Live para os alunos da Educação Básica "Solo é Vida: Proteja o
solo“ (direita). Foto: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

Figura 22. Mostra virtual de desenhos para comemorar o dia mundial do solo”. Foto: Jully
Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

Figura 23. Publicação do E-book “Solo é Vida! Atividades para abordagem do solo nos anos
iniciais do Ensino Fundamental”. Foto: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

34
Figura 24. Publicação de vídeo no Instagram “Conhecendo os tipos de solos brasileiros:
Latossolo”. Foto: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

Figura 25. Publicação de vídeo no canal do YouTube “Maquete do Perfil "Gourmet" de Solo”..
Foto: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

As ações presenciais do projeto Solo na Escola UENP são


realizadas em espaços formais e não formais de ensino e incluem: 1)
contação de histórias; 2) palestras, atividades e oficinas; 3) visita às
escolas (Figura 26); 4) exposição de materiais e experimentos na
Universidade (Figura 27) e 5) participação em eventos científicos e
tecnológicos como Feira de Ciências e Tecnologia, Feira de
Profissões entre outras.

35
Figura 26. Oficina de Arte com Tinta de Solo, contação de histórias e visita às escolas realizada
pelo projeto Solo na Escola UENP. Fotos: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023)

36
Figura 27. Crianças em contato com solos de diferentes texturas em um colégio particular de
Cornélio Procópio (PR). Foto: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).

Figura 27. Visitantes na Exposição Didática de Solos do Projeto Solo na Escola UENP. Fotos:
Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023)

Na Universidade, há um espaço permanente do projeto que


abriga a Exposição Didática de Solos. No local são apresentados ao
público visitante materiais e experimentos tais como: 1) amostras de
rochas e minerais para exemplificar o material de origem do solo e a
parte sólida mineral do solo; 2) amostras de solos do Brasil para
exemplificar a variedade de solos presentes no território nacional; 3)
maquete de formação do solo para exemplificar a formação do solo em
diferentes estágios, desde o solo mais jovem até o solo mais maduro;

37
4) minimonólitos de solo para exemplificar perfis de solos que ocorrem
na região norte do estado do Paraná; 5) amostras de solos arenoso e
argiloso para exemplificar as diferentes texturas do solo; 6) amostras de
solo argiloso, arenoso e orgânico para exemplificar a densidade do solo;
7) amostras de solo com magnetismo e sem magnetismo para
exemplificar o magnetismo do solo; 8) exposição de livros do projeto
para estimular os visitantes a ler sobre o tema; 9) tintas de solo, giz de
solo e artes com solo para exemplificar as diferentes cores do solo e a
aplicabilidade do solo para além da agricultura e pecuária; 10)
experimento de erosão eólica para exemplificar a erosão em solo com
cobertura vegetal e sem cobertura vegetal; 11) experimento da infiltração
da água para exemplificar a infiltração e retenção de água no solo
arenoso e argiloso, e; 12) vermicompostagem para exemplificar a
decomposição de resíduos orgânicos pelas minhocas.
Desde o ano de 2021 o projeto Solo na Escola UENP tem
dedicado especial atenção à popularização da ciência do solo junto ao
público infantil com a elaboração e publicação de livros infantis que
abordam o solo, como pode ser observado no Quadro 3.
O projeto, por meio de várias ações desenvolvidas, promove a
mobilização e a sensibilização do público-alvo e da comunidade em geral
em relação às diversas temáticas ligadas ao solo. Destaca-se que o estudo
do solo por si só não impede a degradação deste recurso, sendo preciso
levar em conta aspectos socioeconômicos, políticos e culturais.
Quadro 3. Publicações de livros infantis do Projeto Solo na Escola UENP. Elaboração: Jully
Gabriela Retzlaf de Oliveira (2023).
Livro infantil Temática central

PEREIRA, C. S.; REZENDE, L. E. F.; RIBEIRO, L. O.; OLIVEIRA, J. G. R. A


Biodiversidade do solo
biodiversidade do solo: um mundo sob nossos pés. Pará de Minas: VituralBooks, 2021.

SILVA, A. C., OLIVEIRA, J. G. R. O aniversário do Vermelhito. Pará de Minas:


Funções do solo
VirtualBooks, 2021.
SILVA, A. C., OLIVEIRA, J. G. R. Para que o solo serve? Pará de Minas: VirtualBooks,
Funções do solo
2021.
OLIVEIRA, J. G. R; RIBEIRO, L. O.; PEREIRA, C. S; REZENDE, L. E. F. Cadê a água
Salinização do solo
que estava aqui? Pará de Minas: VirtualBooks, 2021.
SILVA, A. C., OLIVEIRA, J. G. R. O Torrãozito tá dodói. Pará de Minas: VirtualBooks, Degradação e conservação
2021. do solo
OLIVEIRA, J. G. R.; RIBEIRO, L. O. Um novo solo para a formiguinha Bete. Pará de
Impermeabilização do solo
Minas: VirtualBooks Editora, 2022.

38
4.2 O PROJETO DE EXTENSÃO SOLO NA
ESCOLA UFPR – CAMPUS JANDAIA DO
SUL/PR
O projeto de extensão “Solo na Escola UFPR”, Campus
Jandaia do Sul, foi criado com o objetivo de promover a
popularização do recurso solo, atuando principalmente, junto aos
alunos e professores dos diferentes níveis educacionais, da rede
pública e privada de ensino e a comunidade em geral que esteja
interessada na temática solos. Com a popularização do recurso solo,
chamamos a atenção para a necessidade de políticas públicas
necessárias à sua conservação. Assim, preparamos a nova geração
para que, conhecendo melhor o recurso solo, possa atuar em posições
de tomada de decisão de forma a protegê-lo e preservá-lo, tornando
todos responsáveis por ele. Dessa forma, o solo continuará a
desempenhar todas as suas funções ecossistêmicas, integralmente.
O projeto foi oficialmente inaugurado no dia 1º de
dezembro de 2018. Porém, o nascimento do projeto se deu no ano de
2009 quando o coordenador durante o seu doutoramento participou
como voluntário das atividades do Projeto Solo na Escola da
ESALQ/USP. Foi neste período que a semente da Educação em
Solos foi semeada, vindo a frutificar anos mais tarde,
coincidentemente, na UFPR, berço dos projetos “Solo na Escola”, no
entanto, no Campus Jandaia do Sul. Durante os anos de 2015 a 2018,
muitas atividades envolvendo a educação em solos já vinham sendo
desenvolvidas pela coordenação do projeto junto às disciplinas
ministradas na graduação e junto às escolas do município e região. No
ano de 2018, o coordenador participou do IX Simpósio Brasileiro de
Educação em Solos em Dois Vizinhos/PR, voltando de lá decidido a
ainda naquele ano iniciar oficialmente as atividades do projeto Solo na
Escola/UFPR Jandaia do Sul. As atividades, anteriormente
desenvolvidas, serviram de base para a proposição do projeto na
instituição. Com essa “existência prévia” pudemos criar a demanda de

39
um espaço físico para abrigar o projeto, que está instalado em uma
sala de aproximadamente 100 m2 (Figura 28).

Figura 28. Espaço físico do Projeto Solo na Escola UFPR, Campus Jandaia do Sul/PR. Foto:
Osvaldo Guedes Filho.

Destaca-se que a necessidade de espaço físico não impede a


existência de projetos como esse, mas é fundamental para o
desenvolvimento das atividades pelos alunos bolsistas e voluntários,
bem como o recebimento de visitantes. Assim, é recomendável que os
projetos dessa natureza possam contar com um espaço adequado
físico para o seu funcionamento.
Dentre as principais ações do projeto, destacam-se: a
exposição didática sobre solos, coleção de rochas e minerais,
confecção de monólitos de solos, visitas guiadas, curso de extensão
para professores da educação básica, oficina de tinta de solo,
participação em eventos, visitas às escolas e treinamento dos alunos
bolsistas e voluntários.
A exposição didática sobre solos se constitui na principal
atividade do projeto. Através dela, nosso projeto ganha uma
identidade junto aos visitantes e à própria instituição. A exposição
está montada permanentemente em uma sala, que é a sede do projeto
e onde também desenvolvemos a maior parte das atividades. Todos
os experimentos são criados, desenvolvidos, montados e testados

40
neste espaço. A exposição didática conta com dezenas de
experimentos abordando a origem e o funcionamento do solo. Por
meio deles, os visitantes podem entender a dinâmica de formação do
solo, desde o material de origem até a utilização do solo para a
produção de alimentos. Dentre os diversos experimentos, podemos
destacar: o vulcão, as camadas do planeta Terra (Figura 29), rochas e
minerais, formação dos horizontes do solo, cores do solo, densidade
do solo, frações granulométricas do solo, tamanho dos agregados do
solo, ar do solo, infiltração de água no solo, magnetismo do solo,
erosão do solo, cobertura do solo, impacto da gota da chuva,
compactação do solo, coleção de fertilizantes, maquete de aterro
sanitário, coleção de perfis didáticos de solo, capilaridade da água no
solo etc.

Figura 29. Maquete e experimento simulando o vulcanismo. Foto: Osvaldo Guedes Filho.

A visita guiada (Figura 30) é uma atividade que ocorre a


partir da exposição didática. Com a exposição didática montada
podemos receber a comunidade para uma visita guiada por todos os
experimentos. O público das nossas visitas é bastante variado, vão
desde as crianças dos CMEI’s, das escolas municipais, estaduais,

41
privadas até os estudantes de universidades. Vale destacar que
recebemos no projeto os alunos da APAE, idosos e qualquer outro
grupo e entidade que tenha interesse em conhecer mais sobre os
solos. A visita é guiada pelos alunos bolsistas/voluntários e/ou
coordenador do projeto. Ao longo de quatro anos de existência e,
considerando dois anos de pandemia, portanto, sem atividades
presenciais, tivemos mais de 2 mil visitantes na nossa exposição
didática dos materiais e experimentos.

Figura 30. Visita Guiada de alunos da Educação Básica no espaço físico do Projeto Solo na
Escola UFPR, Campus Jandaia do Sul/PR. Foto: Osvaldo Guedes Filho.

A coleção de rochas e minerais é outra atividade de


destaque no projeto. Os exemplares de rochas estão organizados por
tipo: ígneas, sedimentares e metamórficas. E dentro dos tipos, elas
estão organizadas por nome. São dezenas de exemplares dispostos em
um expositor com iluminação própria, dando mais visibilidade ao
material. Exemplares maiores de rochas estão também expostos por
todo o ambiente, desde prateleiras até mesmo no chão. A coleção de
minerais está disposta em algumas caixas e estruturas verticais.
Contamos também com dezenas de diferentes minerais: quartzo,
feldspatos, micas, turmalina, calcita, grafite, pirita, enxofre, halita,
jaspe, calcedônia, fuxita, hematita, amazonita etc. As coleções de
rochas e minerais, além de utilizadas nas visitas guiadas, são também
utilizadas para as aulas práticas da disciplina de Pedologia (JAG007A)
do curso de graduação em Engenharia Agrícola. Nas aulas práticas de

42
propriedades macroscópicas de rochas e minerais, os alunos têm
acesso ao acervo, podendo manuseá-lo e analisá-lo sob supervisão do
professor da disciplina. A coleção de rochas e minerais (Figura 31)
está também à disposição dos professores de Geografia das escolas do
município e região para utilização em aulas práticas com seus
estudantes.

Figura 31. Coleção de rochas e minerais presente no espaço físico do Projeto Solo na Escola
UFPR, Campus Jandaia do Sul/PR. Foto: Osvaldo Guedes Filho.

A confecção de monólitos é uma atividade que consiste na


coleta de uma amostra de perfil de solo em tamanho real, com auxílio
de uma estrutura metálica ou de madeira, para posteriormente expor
esse monólito em um ambiente fechado. A utilização de monólitos é
muito comum em museus de solos, pois facilita a análise de um
determinado tipo de solo e se caracteriza em uma forma de trazer o
solo até o interessado, em vez do interessado se deslocar até o perfil
de interesse. Até o momento, nosso projeto conta apenas com um
monólito de um Latossolo Vermelho coletado no município de
Jandaia do Sul/PR (Figura 32). No entanto, essa atividade necessita se
expandir, de forma a termos monólitos de outros solos que ocorrem
no estado do Paraná.

43
Figura 32. Coleta de um monólito de Latossolo Vermelho. Foto: Osvaldo Guedes Filho.

A oficina de tinta de solos (Figura 33) é uma atividade


realizada com maior sucesso geralmente com as crianças. Todavia, já
foi aplicada com público de todas as idades, inclusive os adultos. A
oficina é realizada quando os visitantes possuem tempo suficiente
para tal ou quando vamos nas escolas ou eventos.

Figura 33. Oficina de Tinta de Solos realizada pelo Projeto Solo na Escola UFPR, Campus de
Jandaia do Sul/PR. Foto: Osvaldo Guedes Filho.

44
O curso de solos para professores da Educação Básica
(Figura 34) foi ofertado nos anos de 2021 e 2022 de forma remota e
teve como objetivo capacitar professores da área de Geografia,
Ciências, Biologia e áreas afins, para que possam aperfeiçoar seus
conhecimentos em solos e, consequentemente, melhorar a relação
ensino/aprendizagem com seus alunos.

Figura 34. Cartaz do Curso de Solos ofertado pelo Projeto Solo na Escola UFPR, Campus
Jandaia do Sul/PR.

A participação em eventos externos e as visitas às escolas


(Figura 35) são atividades muito importantes para divulgação do
projeto. Por isso, sempre que há oportunidades, procuramos levar o
projeto para além dos muros do nosso Campus. Existe, obviamente,
uma limitação de distância, o que faz com que a participação em
eventos e as idas às escolas sejam de caráter regional. Dessa forma,
estivemos presentes em eventos como: Encontro de Ensino Médio
(Maringá/PR), Projeto Semeando o Futuro da Cooperval (Jandaia do
Sul/PR), Mostra Cultural (São Pedro do Ivaí/PR), Dia de Campo
Cocari (Mandaguari/PR), Mês do Meio Ambiente (São Pedro do
Ivaí), Expotécnica (Sabáudia/PR), Expoagri (Apucarana/PR),
Reunião Paranaense de Ciência do Solo (Ponta Grossa/PR). Algumas
escolas do município e da região foram também visitadas, de forma a

45
divulgar o projeto junto aos alunos. Os eventos internos também são
ótimas oportunidades de divulgação e o projeto tem marcado
presença nos seguintes eventos: SIEPE, Vale da Ciência, Semana do
Meio Ambiente e Feira de Profissões.

Figura 35. Visitas às escolas pelo Projeto Solo na Escola UFPR, Campus Jandaia do Sul/PR.
Fotos: Osvaldo Guedes Filho.

O treinamento dos bolsistas e voluntários consiste em


explanar tecnicamente sobre cada experimento, como forma de
balizar a fala dos voluntários quando do recebimento de visitas
guiadas. Além disso, são discutidas a abordagem e a linguagem
utilizadas, conforme a idade dos escolares atendidos. O treinamento

46
é uma atividade contínua do projeto, uma vez que há sempre novos
alunos começando no projeto.
Vale destacar que, no período da pandemia, as atividades
presenciais foram suspensas, impedindo a ocorrência do projeto na
íntegra. Dessa forma, em parceria com outras atividades que
ocorreram no nosso Campus, o projeto “Solo na Escola” iniciou a
produção de sabão solidário para doação às famílias carentes e
entidades filantrópicas. Embora não seja uma atividade prevista, foi a
forma que o projeto encontrou para continuar ativo e ajudar no
combate à pandemia da Covid-19, uma vez que muitas pessoas
perderam emprego, fonte de renda, sendo o sabão solidário um
componente das cestas básicas doadas por várias entidades na região.
Ao longo de oito meses, foram produzidas aproximadamente oito
toneladas de sabão solidário, que foram distribuídas em cerca de 20
municípios paranaenses (Figura 36).

Figura 36. Municípios paranaenses que receberam o sabão solidário. Fonte: UFPR - Campus
Jandaia do Sul/PR.

47
Acredita-se que o projeto de extensão “Solo na Escola
UFPR”, Campus Jandaia do Sul, tem uma importância acadêmica e
social muito relevante, uma vez que vem contribuindo para a
formação dos alunos de graduação em Engenharia Agrícola,
consistindo em um espaço de troca de conhecimentos e experiências,
tanto no sentido teórico, quanto no sentido de uma formação cidadã
para esses discentes. Do ponto de vista social, o projeto contribui
para a formação dos estudantes do ensino fundamental e médio, bem
como de seus professores, despertando o papel de cidadão que devem
desempenhar no sentido de defender e proteger o solo, por ser um
recurso fundamental à sobrevivência da sociedade. Com a
curricularização da extensão nos cursos de graduação da UFPR, o
projeto de extensão expandirá as suas ações e atividades, visto que
abrigará todas as atividades de extensão propostas nas disciplinas de
Pedologia, Física do Solo, Manejo e Conservação do Solo,
Fundamentos da Fertilidade do Solo. O projeto atua de maneira
estreita com o grupo de pesquisa Tecnologias e Produção Agrícola
(diretório CNPq), demonstrando sua indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão.

4.3 MUSEU DE GEOLOGIA E SOLOS DA


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
(UEL)
O Museu de Geologia e Solos da Universidade Estadual de
Londrina (UEL) foi inaugurado em 1993 e encontra-se instalado no
Departamento de Geologia e Geomática da UEL, Centro de Ciências
Exatas (CCE). O museu em questão tem como objetivo expor
materiais ligados ao solo, prover amostras para pesquisas acadêmicas,
atender visitantes de instituições formais e não formais de ensino e a
comunidade em geral de Londrina e região e fornecer informações
sobre assuntos geológicos e paleontológicos.

48
O acervo do museu é composto por macropedolitos de solos
coletados no Estado do Paraná, amostras de minerais e cristais,
amostras de rochas magmáticas, metamórficas e sedimentares,
artefatos e fósseis (Figura 37). O acervo é utilizado tanto como objeto
ou fonte de pesquisas da universidade em nível de graduação e pós-
graduação, como para fins educativos escolares, por exemplo.

Figura 37. Visão Panorâmica do Museu de Geologia e Solos da UEL. Foto: Ana Carolina da
Silva, 2023.

Na coleção de macropedolitos exposta no museu, é possível


a observação de algumas características morfológicas do solo como
cor, estrutura, textura, entre outras. Os macropedolitos expostos
foram coletados no ano de 1999, com a utilização de fórmicas de
metal com 15 cm de largura, 9 cm de profundidade e 2 m de altura.
Os perfis de macropedolitos encontram-se expostos lado a lado e são
organizados de acordo com o material de origem; a localização
geográfica e as características físicas e químicas. Ao todo, a coleção
possui 21 macropedolitos de solos do Paraná pertencentes às classes
do Argissolo, Latossolo, Neossolo, Cambissolo, Nitossolo,
Organossolo e Gleissolo. As especificações são caracterizadas pelos
seguintes itens: número do macropedolito (nº), classe de solo,
procedência, situação, localização, declividade, altitude, litologia e
formação geológica, material originário, relevo local e uso atual
(Quadro 4).

49
Quadro 4. Solos expostos em macropedolitos no Museu de Geologia e Solos da UEL Fonte:
Elaborado por Ana Carolina da Silva (2023).

Altitude Material de
Solo Procedência Declividade
(m) origem
Santo Antônio da Arenito
Argissolo Vermelho Eutrófico 12% 465
Platina/PR Botucatu
Arenito
Latossolo Vermelho Distrófico Mauá da Serra/PR 1% 1.125
Botucatu
Neossolo Regolítico Distrófico Londrina/PR 9% 470 Basalto
Cambissolo Háplico Distroférrico Londrina/PR 8% 490 Basalto
Nitossolo Vermelho Escuro
Londrina/PR 7% 596 Basalto
Eutroférrico

Rocha
Argissolo Vermelho Distrófico sedimentar na
Mirasselva/PR 10% 540
Latossólico Formação
Adamantina

Latossolo Vermelho Escuro


Londrina/PR 2,5% 580 Basalto
Eutroférrico
Argissolo Vermelho Amarelo Guarapuava/PR 6% 1.050 Andesino
Latossolo Vermelho Eutroférrico Medianeira/PR 8% 390 Basalto
Neossolo Regolítico Distrófico Guaraci/PR 9% 450 Arenito Caiuá

Material
Organossolo Háplico Sáprico Lerroville/PR 8% 710
alóctone
Latossolo Vermelho Acinzentado
Catanduvas/PR 3% 830 Basalto
Distrófico
Argissolo Vermelho Escuro
Guaraci/PR 10% 440 Arenito Caiuá
Eutrófico
Argissolo Vermelho Distrófico Terra Boa/PR 10% 560 Arenito Caiuá

Latossolo Vermelho Distrófico Iguaraçú/PR 4% 530 Arenito Caiuá

Neossolo Flúvico Distrófico: Cianorte/PR 11% 495 Arenito Caiuá

Arenito Santo
Argissolo Amarelo Distrófico Jaguapitã/PR 3% 650
Anastácio.

Arenito Santo
Argissolo Acinzentado Distrófico Jaguapitã/PR 15% 550
Anastácio

Arenito Santo
Gleissolo Háplico Eutrófico Jaguapitã/PR 2% 500
Anastácio

Arenito
Argissolo Amarelo Distrófico Mirasselva/PR 12% 475
Adamantina

Arenito
Latossolo Vermelho Distrófico Mirasselva/PR 3,5% 535
Adamantina

50
Desde o ano de 2000, o Museu de Geologia e Solos da UEL
recebe visitantes da comunidade interna (alunos de graduação e pós-
graduação), como também da comunidade externa de Londrina/PR e
região, com a presença de escolas municipais, estaduais e particulares
de diferentes idades e lugares.
Acredita-se que os macropedolitos expostos no Museu de
Geologia e Solos da UEL são ferramentas que podem auxiliar no
conhecimento dos solos no geral e especificamente dos solos que
ocorrem no estado do Paraná. Acrescenta-se a isso que exposição de
materiais em museus de solos pode contribuir para a popularização da
Ciência do Solo e a Educação em Solos.
O Museu de Geologia e Solos da UEL vem aprimorando
sua função de informar e popularizar a ciência do solo e seu
conhecimento, assim como problemáticas e potencialidades. Sendo
assim, conhecer sobre esse contexto, permite que a sociedade tenha
acesso a informações importantes para tomada de decisões
sustentáveis e responsáveis em relação ao uso e ocupação do solo.
A popularização da ciência do solo por meio de museus de
solos e das coleções de macropedolitos é uma forma importante de
promover o conhecimento sobre a importância do solo para a
sociedade. Além disso, incentiva o desenvolvimento de pesquisas,
projetos e ações que promovam a preservação, uso e ocupação do
solo de maneiras mais responsáveis e sustentáveis.
Com isso, destaca-se que os museus de solos são
instituições importantes para a preservação da diversidade de solos e a
popularização da ciência do solo para a sociedade em geral. As
principais funções e objetivos desses museus concernem à
preservação, exposição e comunicação da história e diversidade dos
solos de um determinado lugar, de regiões ou até mesmo do mundo
todo. Eles também promovem a educação e sensibilização do público
sobre a importância dos solos para a vida humana e a biodiversidade.

51
5. DOBRADURAS DOS PRINCIPAIS
PERFIS DE SOLO QUE OCORREM NAS
MESORREGIÕES NORTE CENTRAL E
NORTE PIONEIRO DO ESTADO DO
PARANÁ

Neste tópico, serão anexadas propostas de atividades


didáticas para abordar os principais tipos de solo que ocorrem nas
mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro do Estado do Paraná,
sendo elas: dobradura do perfil pedológico do Latossolo (Figura 38),
dobradura do perfil pedológico do Nitossolo (Figura 39), dobradura
do perfil pedológico do Argissolo (Figura 40) e dobradura do perfil
pedológico do Neossolo (Figura 41).
A dobradura do perfil pedológico, por ser usada como parte
de uma ação de Educação em Solos, pode ser aplicada em espaços
formais e não formais de ensino a um público com idade mínima de
sete anos.

52
Figura 38. Atividade prática – Dobradura do perfil de Latossolo. Fonte: Elaborado por Jully Gabriela
Retzlaf de Oliveira (2023).

53
Figura 39. Atividade prática – Dobradura do perfil de Nitossolo. Fonte: Elaborado por Jully Gabriela
Retzlaf de Oliveira (2023).

54
Figura 40. Atividade prática – Dobradura do perfil de Argissolo. Fonte: Elaborado por Jully Gabriela
Retzlaf de Oliveira (2023).

55
Figura 41. Atividade prática – Dobradura do perfil de Neossolo. Fonte: Elaborado por Jully Gabriela
Retzlaf de Oliveira (2023).

56
6. REFERÊNCIAS

BERTOL, O. J.; COLOZZI FILHO, A.; BARBOSA, G. M. de C.;


SANTOS, J. B.; GUIMARÃES, M. de F. (ed.). Manual de manejo e
conservação do solo e da água para o estado do Paraná. 1. ed.
Curitiba: Núcleo Estadual Paraná da Sociedade Brasileira de Ciência
do Solo, 2019. 325 p.
BRASIL. Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009. Institui o Estatuto
de Museus e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção
1, Brasília, DF, ano 146, n. 10, p. 1-4, 15 jan. 2009.
BRASIL. Lei nº 14.119, de 13 de janeiro de 2021. Institui a Política
Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, ano 159, n. 9, p. 7-9, 14 jan. 2021.
BHERING, S. B.; SANTOS, H. G. (ed.). Mapa de solos do estado
do Paraná: legenda atualizada. Rio de Janeiro: Embrapa Florestas,
Embrapa Solos, Instituto Agronômico do Paraná, 2008. 74 p.
BOGNOLA, I. A. et al. Levantamento semidetalhado de solos do
município de Londrina, PR. Londrina: IAPAR, 2011. 100 p.
CAVALCANTI, C. B.; PERSECHINI, P. M. Museus de ciência e a
popularização do conhecimento no Brasil. Field Actions Science
Reports, special issue 3, p. 1-11, 2011.
CHAGAS, M. Museus, memórias e movimentos sociais. Cadernos
de Sociomuseologia, n. 41, p. 5-12, 2011.
CURI, N. et al. Vocabulário de ciência do solo. Campinas:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1993.
FARIAS, G. S. et al. Levantamento semidetalhado de solos do
município de Cambé, PR. Londrina: IAPAR, 2011. 147 p.
IPARDES. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e
Social. Leituras regionais: Mesorregião Geográfica Norte Central
Paranaense. Curitiba: IPARDES, BRDE, 2004a.
IPARDES. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e
Social. Leituras regionais: Mesorregião Geográfica Norte Pioneiro
Paranaense. Curitiba: IPARDES, BRDE, 2004b.
57
MAACK, R. Geografia física do estado do Paraná. 2. ed. Rio de
Janeiro: José Olimpo, 1981.
FAO. Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación y la
Agricultura. Carta mundial de los suelos revisada. Rome, 2015.
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations.
Status of the World’s soil resources: main report. Rome, 2015b.
607 p.
FAO. Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación y la
Agricultura. El estado de los recursos de tierras y aguas del
mundo para la alimentación y la agricultura - Sistemas al limite:
Informe de sínteses 2021. Roma, 2021. 64 p.
GOMES, J. B. V. et al. Levantamento semidetalhado de solos do
município de Bela Vista do Paraíso, PR. Londrina: IAPAR, 2011.
68 p.
KER, J. C.; CURI, N.; SCHAEFER, C. E. G. R.; VIDAL-
TORRADO, P. (ed.). Pedologia: fundamentos. Viçosa: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo, 2012. 343 p.
KIEHL, E. J. Manual de edafologia. São Paulo: Agronômica Ceres,
1979.
LARACH, J. O. I. et al. Levantamento de reconhecimento dos
solos do estado do Paraná. Londrina: Embrapa-SNLCS,
SUDESUL, IAPAR, 1984. (Embrapa. Boletim de Pesquisa, 27).
LEPSCH, I. F. 19 Lições de pedologia. São Paulo: Oficina de
Textos, 2011.
MEA. MILLENIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT. Ecosystems
and human well-being: synthesis. Washington: Island Press, 2005.
137 p. Disponível em:
http://www.millenniumassessment.org/en/Synthesis.html
LIMA, M. R. Principais classes de solo do estado do Paraná. In:
PAULETTI, V.; MOTTA, A. C. V. (coord.). Manual de adubação
e calagem para o estado do Paraná. Curitiba: Sociedade Brasileira
de Ciência do Solo/Núcleo Estadual Paraná, 2017. p. 39-60.
OLIVEIRA, J. B. Pedologia aplicada. 2. ed. Piracicaba: FEALQ,
2005.
58
PEDRON, F. A.; MUGGLER, C. C.; TOMA, M. A.; DALMOLIN,
R. S. D.; SEQUINATTO, L. Museus e a educação em solos. In:
VEZZANI, F. M.; LIMA, M. R.; SILVA, V.; MUGGLER, C. C.
(org.). Educação em solos. Viçosa: SBCS, 2022. p. 112-136.
RESENDE, M.; CURI, N.; POGGERE, G. C.; BARBOSA, J. Z.;
POZZA, A. A. A.; TEIXEIRA, A. F. S. Pedologia, fertilidade,
água e planta: interrelações e aplicações. 2. ed. Lavras: Editora
UFLA, 2021.
RODERJAN, C. V.; GALVÃO, F.; KUNIYOSHI, Y. S.;
HATSCHBACH, G. G. As unidades fitogeográficas do estado do
Paraná. Ciência & Ambiente, n. 24, p. 75-92, 2002.
SANTOS, H. G.; JACOMINE, P. K. T.; ANJOS, L. H. C.;
OLIVEIRA, V. A.; LUMBRERAS, J. F.; COELHO, M.R.;
ALMEIDA, J.A.; ARAÚJO FILHO, J. C.; OLIVEIRA, J. B.;
CUNHA, T. J. F. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 5.
ed. rev. ampl. Brasília: Embrapa, 2018.
SANTOS, R. D. et al. Manual de descrição e coleta de solo no
campo. 6. ed. rev. ampl. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo, 2013. 100 p.
UEL. Universidade Estadual de Londrina. Acervo de fósseis: Museu
de Geologia da Universidade Estadual de Londrina. Disponível em:
https://www.uel.br/grupo-pesquisa/geologia/. Acesso em: 10 abr.
2023.
VEZZANI, F. M. Solos e os serviços ecossistêmicos. Revista
Brasileira de Geografia Física, v. 8, n. especial, p. 673-684, 2015.

59

Você também pode gostar