Não É Louvor Que Deus Quer

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Não é louvor que Deus quer

“Pois quando tirei vossos pais da terra do Egito, não lhes falei nem lhes ordenei coisa alguma
acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas ordenei-lhe isto: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o
vosso Deus, e vós sereis o meu povo; andai em todo o caminho que eu vos ordenar, para que
vos corra tudo bem” – Jeremias 7.22-23 (Almeida Século 21).
Temos uma enorme capacidade de adaptar a Palavra de Deus às nossas conveniências e
convicções culturais. Ao invés de nos regermos pela Palavra, com muita facilidade
subordinamos a Palavra a nós. Quem ouve (se consegue prestar atenção e consegue entender)
os sermõezinhos dos grupos de louvor, antes de cada corinho, pode pensar que o que Deus
mais espera de nós é que cantemos nos cultos.
O que Deus mais espera de nós não é culto, mas obediência. Isto fica bem claro no texto de
Jeremias 7.22-23. Os contemporâneos do profeta pensavam que culto era mais importante que
obediência a Deus. No versículo 24, Deus diz que pensando e agindo assim “andaram nos seus
próprios conselhos, no propósito do seu coração perverso. Andaram para trás, e não para
diante”. Ou seja, fizeram o que lhes agradava, que não era, necessariamente, o que agradava a
Deus.
Que obediência é mais importante que culto já fora dito em 1Samuel 15.22: “Samuel, porém,
disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se
obedeça à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, do que
a gordura de carneiros”.
A igreja contemporânea também dimensionou o que agrada a Deus como sendo o que agrada:
cantar, liberar emoções, buscar boas sensações. Não é que cultuar seja errado. Preciso afirmar
isto que porque os crentes têm uma facilidade enorme de colocar na boca dos outros palavras
que os outros não disseram. O que digo e repito é que obediência é mais importante que culto.
Reafirmo que se uma pessoa louva a Deus, entra em transe em louvor, faz ar de quem está
sentindo dor quando canta, seja o que for, mas não tem uma vida de obediência à Palavra de
Deus, seu louvor não tem valor. É catarse de suas emoções, mas nada significa para Deus. É
fingimento. O maior louvor é o da vida, e sem vida o louvor é ofensa a Deus porque zomba de
sua onisciência.
Assim como Iahweh, no Antigo Testamento, Jesus também expressou que segui-lo se manifesta
em obediência, não em louvor. Ele não disse: “Vós sois meus amigos se me louvarem”, mas
disse: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15.14). Não confundam as
coisas, nem se deturpe o que digo. A questão é esta: seu louvor pode fazer muito bem a você,
mas nada significar para Deus se você não encarna e assume a Bíblia no seu viver. Cumprir a
Bíblia pode lhe ser muito duro, mas é o que Deus espera de você.
Por faltar obediência à Palavra, a igreja contemporânea é forte em celebração e fraca em
santidade. Porque louvor não produz santidade, mas é a obediência à Palavra que produz:
“Escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti” (Sl 119.11) e “Santifica-os na
verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
Louvar a Deus é bom e nos faz bem. Mas o que ele mais espera de nós é obediência. Deus
habita no meio dos louvores. Mas se glorifica na nossa obediência. “Obedecer é melhor”.
O COMPROMISSO BÁSICO DA ADORAÇÃO
Deve ser um compromisso tríplice: (1) Com Deus; (2) Com a igreja; (3) Consigo mesmo.
Deve ser um compromisso com Deus porque deve promover sua santidade. Um Deus que não
seja absolutamente santo não merece culto. E Deus é Santo, não a fada madrinha que realiza
nossos sonhos. A consciência do adorador deve nutrir esta convicção: ele se chegou à presença
do Deus Santo. O uso de uma terminologia desrespeitosa e a visão meramente humana de um
“Deus camaradinha, nosso chapa”, é irreverência. O louvor deve ser sadio e a adoração deve
ser reverente e profundamente respeitosa, porque tributada a um Deus Santo. A santidade de
Deus demandará de nós uma busca de santidade, também. A adoração deveria nos levar a
sermos espiritualmente mais santos. Isto acontece?
Deve ser um compromisso com Deus por exaltar sua graça. É pela graça que um Deus santo se
comunica com pecadores. O mérito tem tomado o lugar da graça. Não são nossas virtudes, não
é nosso dinheiro e nem o nosso louvor que trarão Deus para o nosso lado e o levarão a fazer o
que queremos. A “meritocracia pelo louvor” deve ser repelida. É graça que faz Deus vir a nós.
Muito discurso sobre a fé acaba sendo um discurso sobre mérito. É bom ter fé, mas a graça
vem antes. Diz João 1.27: “Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma, se não
lhe for dada do céu”. É pela graça, e não pela fé que somos salvos: “Porque pela graça sois
salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que
ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). Muita gente nega a salvação pelas obras, mérito humano, e
afirma sua fé como mérito humano. A fé se apropria da graça, mas se não houvesse graça a fé
seria inútil. A adoração não é para produzir mérito, mas para reconhecer a graça de Deus.
Deve ser um compromisso com Deus reconhecendo que temos necessidade dele. Aqui entra a
fé. Cremos nele e dependemos dele. Cantamos a ele, oramos a ele, esperamos dele. Temos
necessidade existencial dele, como na célebre frase de Agostinho, de que fomos criados para
ele e só encontramos descanso quando descansamos nele. Temos necessidade dele para nos
orientar, nos dar oportunidades e cuidar de nós. Ele é nosso Pai. Podemos pedir e esperar. É Pai,
e não Papai Noel. Um pai nem sempre dá o que os filhos querem, mas o que ele sabe que os
filhos necessitam.
Deve ser um compromisso com a igreja porque foi a igreja que ele instituiu para comunicar sua
graça ao mundo. Paulo deixou claro, na carta aos coríntios que aquela igreja local era corpo de
Cristo. A igreja local é corpo de Cristo e o canal de ensino de Deus até mesmo para as
potestades espirituais. Há gente adorando anjos e potestades espirituais, mas eles aprendem
da igreja: “Para que agora seja manifestada, por meio da igreja, aos principados e potestades
nas regiões celestes” (Ef 3.10). Não são ministérios avulsos, mas a igreja local. Não são livres
atiradores, mas a igreja local. Nosso compromisso deve ser com a igreja local. E esta não pode
vir a reboque de ministérios de louvor. A igreja não vem a reboque de pessoas.
Temos um compromisso com a igreja local, de educá-la, de promover sua edificação, de amá-
la, de nos dedicarmos a ela. Não somos chamados para promover a recreação da igreja, mas
sua edificação, como lemos em Efésios 4. Por isso, líder de música ou de outro ministério, ame a
igreja. Seja sério. É diferente de ser sisudo. Ser sério significa fazer o melhor para a igreja de
Jesus. A leviandade é mortal. Num livro sobre pregação, Al Martin disse que “ninguém pode
ser, ao mesmo tempo, um palhaço e um profeta” [7]. Culto não é brincadeira e adoração não é
diversão. É entrar na presença de Deus e conduzir o povo de Deus num relacionamento com
ele.
Temos um compromisso conosco. Há muita gente em nossas igrejas amando-se mais a si
mesmo que a Deus, e pensando de si mais alto do que convém. Somos servos. Nossa
constituição espiritual foi modelada pelo Espírito Santo de tal maneira que só nos realizamos
como servos. As igrejas de hoje têm senhores demais e servos de menos. Por isso encontramos
em nosso meio tanta gente frustrada. Porque só nos realizamos espiritualmente quando somos
leais à nossa vocação, que é servir a Deus e aos outros. As pessoas mais realizadas na história
da igreja não foram os que se julgaram donos dela ou acionistas majoritários, mas os que se
viram como servos e desempenharam esta função. Pelo nosso bem estar, inclusive, precisamos
nos ver como servos de Deus e da igreja. Este espírito de servo nos vem pela convivência com
Deus, pelo cultivo de uma adoração autêntica, que marca nossa vida.

Jeremias 7.1-6: “Vai entrar para o culto?”.


A música no culto não é um adorno, um acessório, mas é parte integrante. Não é para variar o
culto ou para amolecer corações, mas tem função de proclamar e de ensinar. A música
evangélica tem função pedagógica e não recreativa. Não é para passar o tempo, mas para
ensinar as grandes verdades da fé cristã. É pregação e não entretenimento. Este ponto, óbvio,
parece olvidado em alguns cultos de que temos participado.
A música evangélica não tem por finalidade produzir emoções nas pessoas nem fazê-las sentir-
se bem. Isso pode suceder e é até bom que suceda, mas não me parece a finalidade principal
da música a ser cantada em nossas igrejas. Do ponto de vista vertical, a finalidade dos cânticos
é a glória de Deus. Do ponto de vista horizontal, é ensinar.
Culto é mais que cantar, orar e ouvir a Palavra. Além dos atos, é a expressão da razão de ser da
igreja. Amo evangelismo e missões, mas creio que a missão da igreja é a adoração. Ela existe
em função de Deus (adoração) e não em função dos homens (proclamação). No céu não
haverá perdidos a evangelizar, mas haverá igreja. Porque haverá Deus. Ele nos escolheu antes
da criação, para vivermos com ele: “Como também nos elegeu nele antes da fundação do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef 1.4). Ao cultuar, a igreja
mostra porque existe. Para adorar a Deus, para viver com ele, para ouvi-lo. Por isso, o louvor, a
oração e a Palavra.
Antes do “Ide” (Mc 16.15) houve um “vinde” (Mc 6.7). A igreja é chamada para estar com Jesus
e só deve ir ao mundo depois de viver com ele. Comovida por ele, ela evangeliza e faz missões.
Quem ama a Jesus compartilha Jesus. “O amor de Cristo nos constrange” (2Co 5.14).
O culto não é para nós. É para Deus. As pessoas avaliam o culto pelo que sentiram. É o culto
antropocêntrico. O culto deve ser avaliado de outra maneira: terá agradado a Deus? O
cultuador fez, pensou e disse o que Deus queria? Agradar a Deus é o alvo do culto. Este deve
ser teocêntrico.
Alguns pensam que quanto mais barulhento, mais espiritual o culto é. Há quem goste de agito,
sem reflexão. A questão é que não somos referenciais. Nem temos como saber o que Deus
achou do culto. Mas devemos lembrar que a dimensão humana do culto é o quanto ele nos
transforma. Muitos cultos não enfatizam a santidade de Deus e suas exigências, mas sim o que
os crentes vão receber. O foco é o homem, e não Deus. Será que é este o culto que Deus deseja,
à luz do ensino bíblico?
Se a dimensão humana do culto é nossa transformação, podemos firmar alguns princípios que
nos ajudam a ver o quanto o culto serviu à vontade de Deus para a igreja e para o mundo.
Houve mudança de vida ou apenas emoções? A cruz foi proclamada? Cristo foi anunciado?
Houve abandono de pecado? Houve consagração de vidas? Houve conversões? As pessoas
estão amadurecendo? Se isto não acontece, há apenas alarido.
Culto é mais que ajuntamento e mais que agitação. É ouvir Deus, falar com Deus e ser
transformado. Não é entretenimento. É algo sério: entrar em adoração ao Deus Santo! Quão
sério é o culto!

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