Ali Mentos

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A pintura na indústria de alimentos

Autores: Celso Gnecco - Gerente de Treinamento Técnico


Roberto Mariano - Gerente de Serviços a Clientes
da Sherwin-Williams/Divisão Sumaré
Rev.: 22/01/99

A pintura de alto desempenho na indústria de alimentos está apoiada em três pontos


fundamentais: proteção, higiene e segurança.
PROTEÇÃO
A corrosão do aço carbono, um dos materiais mais usados na construção das
estruturas de fábricas e equipamentos, é favorecida pelas condições do ambiente em
uma indústria de alimentos. Vejamos o porquê:
Em ambiente úmido o tipo de corrosão mais importante é o provocado por processos
eletroquímicos.
Corrosão eletroquímica
Quando dois metais diferentes são colocados em contato entre sí e em um líquido
condutor de eletricidade chamado de eletrólito, os elétrons fluem de um para o outro. O
que tem mais elétrons (eletronegativo) cede os elétrons para o que tem menos
(eletropositivo). A cessão é espontânea e ocorre as custas da liberação de íons para o
eletrólito. A conversão do metal a íons, faz com que ele se desmanche (há sacrifício do
metal). Já o que está recebendo os elétrons fica intacto.
O metal mais eletronegativo(menos nobre) é o ANODO - o que se corrói.
O mais eletropositivo é o CATODO - o que permanece intacto.
Este é o princípio das pilhas galvânicas: o eletrólito fecha o circuito e a lâmpada se
acende pois os elétrons fluem do anodo para o catodo, (vide desenho abaixo). No
eletrólito, o transporte de cargas elétricas se realiza por meio de íons.
Para que a corrosão eletroquímica ocorra, é necessário que existam as três condições:
A - dois metais diferentes; B - presença do eletrólito e C - contato elétrico entre os pares
de metais. Se uma das três condições não existe, não há corrosão eletroquímica.
ELEMENTOS POTENCIAL
fluxo de elétrons METÁLICOS mais
e
eletronegativo
- NOBRE
e
corrosão ANÓDICO
Magnésio - 2,38

!
catodo anodo Alumínio - 1,66
Fe Zn Zinco - 0,76
2e -
Zn++ 2 e- Cromo - 0,74
2 e- Zn++ 2 e- Ferro - 0,44
2 e- Zn++ 2 e-
Níquel - 0,23
Hidrogênio 0,00

"
2 e- Zn++ 2 e-
Cobre + 0,34
eletrólito Prata + 0,80
Ouro + 1,50
Célula de corrosão mais CATÓDICO
eletroquímica eletropositivo + NOBRE
No caso do par ferro/cobre, o anodo é o ferro, mais eletronegativo do que o cobre e no
caso de ferro/zinco, o zinco é o anodo. O aço carbono comum tem teores maiores do
que 97,6 % de Ferro. Por isso quando se diz ferro, entenda-se aço e vice-versa. Na
indústria há muitas peças fabricadas com metais diferentes.
O aço tem na sua composição, minúsculas áreas anódicas e catódicas devido aos
elementos de liga, que na maioria das vezes são outros metais como alguns da tabela
acima. É por isso que, mesmo sem ter contato com outros metais, o aço sofre corrosão
em ambientes úmidos. Cada par metálico presente no aço forma uma micro-pilha
galvânica.
O eletrólito pode ser a chuva ácida produzida pela reação de SO2 com água. O SO2 é
produzido na queima de combustíveis contendo enxofre, como o óleo usado nas
caldeiras e é um gás típico de ambientes industriais. As soluções ácidas ou
salgadas são outros exemplos.
Como na indústria alimentícia é difícil eliminar o eletrólito e o contato de metais
diferentes, a melhor maneira de proteger o aço carbono e evitar a corrosão
eletroquímica que destroi peças, é isolar o eletrólito por meio de pinturas. Para isso, as
tintas anticorrosivas modernas são formuladas com resinas de alta impermeabilidade e
possuem pigmentos que modificam o eletrólito eventualmente permeado, minimizando
assim a corrosão metálica.
O vapor de água e os gases corrosivos, quando permeiam estes pigmentos, são
modificados e têm sua agressividade atenuada. Como os gases do meio industrial, na
sua maioria, são ácidos, alguns pigmentos anticorrosivos promovem uma
neutralização e em alguns casos chegam até a alcalinizá-los. Em meio neutro a
corrosão é mais difícil de ocorrer e em meio alcalino o aço é apassivado, isto é,
praticamente não há corrosão. Outros pigmentos se dissolvem ( se hidrolisam) e
formam uma camada protetora que isola o substrato metálico do meio agressivo que
permeou. Os pigmentos anticorrosivos para superfície de aço carbono mais usados
são:
Cromato de zinco, Zarcão, Fosfato de zinco e Zinco metálico.
Os dois primeiros são tóxicos por conterem Cromo e Chumbo (metais pesados)
Apesar de serem de bom desempenho na proteção anticorrosiva, não devem ser
utilizados na indústria alimentícia, de maneira alguma.
Os pigmentos de fosfato de zinco e zinco metálico são excelentes e não são tóxicos.
Novos pigmentos anticorrosivos têm sido desenvolvidos e estão em uso por fabricantes
de tintas que não os divulgam por serem segredos industriais bem guardados. Um
deles é a base de sílica, funciona muito bem e não contém metais pesados.
Formação de bolhas por osmose
Qualquer tinta , por mais moderna e de melhor desempenho que possa ter, nunca deve
ser aplicada sobre superfícies contaminadas com compostos solúveis, pois há um
grande risco de se formarem bolhas.
As bolhas se formam por causa da “OSMOSE”, que é a passagem de água através da
película de tinta, do lado que tem menor concentração de sal para o lado de maior
concentração de sal.
Geralmente as bolhas ocorrem em locais úmidos ou em condições de imersão.
Dependendo dos locais, os produtos de corrosão, podem conter os seguintes
compostos solúveis: cloretos, nitratos, sulfatos e outros, dependendo do tipo de
indústria e do produtos que ela processa.
Por este motivo, a preparação de superfície para pintura na indústria alimentícia deve
ser muito bem feita, de preferência sendo precedida de lavagem com água e detergente
seguida de enxague com água limpa e secagem. Os compostos solúveis devem ser
totalmente removidos. Pode parecer uma bobagem, mas a maioria dos casos de
fracasso da pintura deve-se ao preparo de superfície insuficiente.
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Processo de formação de bolhas por osmose
HIGIENE
As superfícies de aço carbono, concreto e alvenaria podem ser contaminadas pelo
contato direto dos produtos que são elaborados dentro destas indústrias ou
indiretamente, pelos vapores emanados dos processos de coccão e fritura ou pelo
manuseio de farináceos que produzem poeiras.
A contaminação pode ser proveniente da corrosão do aço ou da degradação do
concreto e da alvenaria ou simplesmente da deposição e aderência de material
particulado sobre as máquinas, paredes e tetos.
O material aderido serve de alimento para o mofo, ou bolor, uma classe de fungo que é
percebido quando manchas escuras começam a crescer nas paredes tetos e
equipamentos.
A pintura com cores claras e brilhantes facilita a visualização e a remoção destas
manchas. Por apresentarem superfície lisa, a aderência de qualquer material é mais
difícil e por simples lavagem a limpeza e a desinfecção são favorecidas.
Os tetos e paredes costumam ser pintados com tintas de PVA que possuem na sua
própria composição materiais que servem de alimentos para os fungos. São os aditivos
espessantes a base de compostos celulósicos. Para inibir o desenvolvimento dos
fungos nestas tintas, são adicionados outros aditivos, os mercuriais, que são perigosos
para a saúde e poderiam contaminar os alimentos. As novas tintas acrílicas ou
epoxídicas, a base de água evoluiram e não contém compostos mercuriais. As tintas
modernas contém biocidas de nova geração que inibem a formação de fungos e algas.
Outro ponto a ser abordado é o rejunte de azulejos, que com o tempo sofrem
fissuramento e desgaste. Apesar de lisos e duros, os azulejos depois de algum tempo e
sob lavagens diárias, deixam de formar uma superfície monolítica, ou seja sem
emendas, como é necessário em uma indústria alimentícia. As trincas, permitem a
penetração de microorganismos que acabam se alojando atrás das peças cerâmicas. A
solução é a substituição total dos azulejos ou a pintura destes com tintas especialmente
desenvolvidas para esta finalidade, que têm perfeita aderência sobre as peças vítreas e
elasticidade suficiente para acompanhar os movimentos de dilatação e contração
devido a variações de temperatura entre os dias e as noites. Estas tintas são as
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epoxídicas que juntamente com massas epoxídicas cobrem as trincas e resistem a
lavagens e desinfecções diárias.
SEGURANÇA
Nos últimos anos muitos empresários tem visto na cor das pinturas motivos para tornar
o ambiente industrial mais seguro e produtivo. As cores podem ser usadas na
segurança, em sinalização:
O vermelho indica e destaca equipamentos para incêndio, como hidrantes, extintores,
faixas em paredes ou pisos de localização destes equipamentos.
O amarelo adverte e indica atenção, assinalando partes baixas de escadas portáteis ,
corrimãos, parapeitos, pisos, partes inferiores de escadas, pontes rolantes, limites de
plataformas sem proteção, etc.
O laranja sinaliza partes móveis e perigosas de máquinas.
As cores identificam o conteúdo de tubulações e tanques:
Vermelho: incêndio; Amarelo: gás; Verde: água; Azul: ar comprimido;
Cinza escuro: Eletrodutos e conduítes; Cinza claro: vácuo; Laranja: produtos
químicos; Branco: vapor; Preto: Óleo combustível.
Como as cores podem contribuir para a segurança? Por exemplo, se um operário
conhece o significado das cores padronizadas pela empresa, seguindo as normas
ABNT, ele sabe que no tubo amarelo há gás e não irá serrar ou desatarrachá-lo se não
tiver certeza de que o conteúdo foi totalmente esgotado. Caso contrário poderia
provocar um incêndio ou até mesmo sofrer um sufocamento se o ambiente fosse
confinado.
Como as cores podem influir na produtividade? Já que os empregados passam a maior
parte do dia útil dentro das empresas, estas devem ter suas instalações e
equipamentos bem pintados e com cores adequadas. As cores influem no estado de
espírito do pessoal. Portanto em ambientes sinalizados, limpos e agradáveis, as
pessoas produzem mais, com segurança, assepsia, qualidade e conforto.
A qualidade dos produtos está diretamente relacionada com a qualidade das
instalações, dos equipamentos e principalmente das pessoas que os produzem. O que
esperar de uma empresa onde os funcionários são felizes ?
Ainda falando em segurança, antigamente para se produzir um piso antiderrapante,
aplicava-se uma tinta e em seguida jogava-se areia sobre ela antes da sua secagem.
No dia seguinte, o excesso de areia era varrido com vassouras de pêlos e soprava-se
ar comprimido para eliminar o pó. Hoje existem tintas modernas para pisos,
antiderrapantes, que evitam acidentes e permitem a limpeza. São tintas epoxídicas que
podem ser aplicadas à rolo de pele de carneiro, sem necessidade da areia. A textura da
superfície é obtida com o rolo de pêlos mais curtos ou mais longos, conforme a
conveniência.

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