Filosofia

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Introdução

Neste presente trabalho iremos abordar assuntos relacionados com :

Relatividade dos valores e o direito crítica á teoria dos valores absolutos, os valores humanos e
o direito, Definições filosóficas o valor como fundamento a rejeição a teoria dos valores
relativos. Onde podemos encontrar o objetivismo axiológico -absolutismo dos valores; á teoria
histórica – cultural dos valores, a subjetividade dos valores e a mutabilidade dos direitos no
processo histórico.

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Relatividade dos valores e o Direito crítica á teoria dos valores absolutos

Defende á tese de que os valores humanos se modificam de acordo com o tempo e o


lugar e que , por consequência de valores absolutos, o direito é mutável.
Os valores humanos e o Direito
O ser humano carrega em si a característica da transcendência, de não bastar a si
próprio. Por isto, não se contenta com a mera satisfação de suas necessidades
fisiológicas e erige o mundo cultural. Na construção da cultura, o ser humano classifica
suas condutas de acordo com valores, conforme favoreçam positivamente ou
negativamente os fins que se pretende que sejam alcançados.
O homem contempla criticamente todas as coisas que existem, e nada lhe parece
indiferente. Apreciando o mundo á sua volta, o homem emite juízo de realidade e juízo
de valor. Em relação ao juízo de realidade, o sujeito conhece o objeto analisando suas
características, constatando a realidade tal como ela se mostra. O homem pondera
acerca das qualidades do objeto e , após conhece-lo , o comparar com as suas
necessidades e emite juízo de valor.
De acordo com Paulo Nader, não obstante nos seja familiar a noção de valor , a sua
teorização revela-se complicada, e esta complexidade inicia-se com o problema de sua
definição. Isto porque a ideia de valor é considerada conceito-limite , necessitando de
outros conceitos em que se possa fundar. Tanto o conceito de “Ser” quanto o conceito
de “Valor” mostram-o irredutíveis.
A distinção de entre ser e dever-ser é bastante e antiga na filosofia, e foi estabelecida
de maneira mais clara por Kant , em sua obra “Critica da razão pura”. A realidade
desdobra-se nos juízos de realidade e nos juízos de valor. O valor possui a
característica da bipolaridade, o que significa que a todo valor se contrapõe um
desvalor. Valores positivos e negativos se conflitam.
Como ensina Paulo Dourado de Gusmão , os valores são maneiras emocionais de
reconhecer na realidade aquilo que satisfaz o ser humano. São formas de qualificar a
vida, a sociedade, a família, o homem, enfim o mundo do homem, como a justiça,
beleza ou bem e seus contrários.

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Os valores não admitem ser quantificados . Sendo a quantificação estranha ao
elemento a xilológico porque existe uma impossibilidade de absoluta de mensuração,
segundo entende Miguel Reale.
As vezes nós o medimos , por processos indiretos, empíricos e pragmáticos, como
acontece, por exemplo, quando exprimimos em termos de preço a “ Utilidade” dos
bens económicos , mas . São meras referências para a vida prática, pois os valores
como tais são imensuráveis, insuscetíveis de serem comprados segundo uma unidade
ou denominador comum.
Embora não admitam ser quantificados, os valores são passíveis de hierarquia.
Defende Paulo Dourado de Gusmão que “a moral (…) é uma hierarquia de valores,
resultantes de preferências. Há valores que valem mais do que outros, que exigem
muitas vezes o sacrifício dos menos valiosos”.
O ato de viver implica no ato de valorar os objetos, na medida em que estes .
Satisfaçam ou não os interesses do ser humano. Buscando viabilizar sua existência de
forma plena , o homem procura separar aquilo que lhe parece bom daquilo que lhe
parece mal, sendo valioso aquilo que atende às suas necessidades. Embora nem
sempre obtenha êxito em sua busca , o empenho e no sentido de concretizar valores
positivos.
Sendo o direito o resultado da produção cultural do ser humano , possui o valor como
um de seus componentes.
Disciplinando o convívio social, o Direito sempre apresentar um juízo de valor. As
normas, ao reger condutas , emitem um juízo de aprovação ou desaprovação de um
determinado procedimento, sendo que o critério funda-se em uma base ética . A
formação de um ordenamento jurídico não se processa aleatoriamente, mas é
direcionada por postulados valorativos.
Os valores fazem parte da essencialidade do direito, e se fazem presentes nos sistemas
jurídicos através de normas. Ao seguir as normas jurídicas, os seus destinatários
realizam valores, que são os valores que o poder social reconhece como oportunos.
Mas os valores jurídicos não são totalmente dependentes das normas , manifestando-
se também na sociedade
A dinâmica do direito resulta da bipolaridade dos valores, por ser o direito a
concretização de elementos axiológicos. O direto tutelar determinados actos,
considerando-os conforme sejam positivos os negativos os valores que encerram .
A atitude do jurista implica uma tomada de posição perante os factos , relacionando-os
a valores. Deste preceito decorre a importância básica que o estudo da Axiologia tem
para a ciência do Direito.
Desta forma , é possível concluir que o Direito e os valores humanos estão
intrinsecamente interligados.

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Definições filosóficas do Direito o valor como fundamento
O filósofo do direito não se contenta com conhecer a realidade empírica do direito,
precisa investigar seu fundamento. E a justificação do direito implica que no .
Revolvimento de conceitos de valor e justiça. De acordo com Norberto Bobbio, o
direito deve ser considerado sob o ponto de vista de um valor determinado.
A filosofia do direito pode, consequente e , ser defenida como o estudo do direito do
ponto de vista de um determinado valor , com base no qual se julga o direito passado
e se procura influir no direito vigente.
Há definições de direito científicas e definições filosóficas. As definições científicas são
avalorativos, ontológicas:
Definem o direito tal como ela é. As definições filosóficas são valorativas , de
ontológicas: definem o direito como ele deve ser Para satisfazer um determinado
valor.
A lei está relacionada com a justiça, sem que se realize inequivocamente. Não é
possível negar-se o caráter de lei àquela lei que é injusta (...). Mas é igualmente
impossível identificar justiça com lei (...). Pelo contrário, a justiça só pode ser
entendida se a considerarmos como um estado em cujo sentido a lei se orienta, como
uma aproximação.9
Canaris10 também defende que o ordenamento jurídico possui natureza valorativa,
derivado da regra da justiça, concluindo que o sistema a ele pertencente só pode ser
um sistema teleológico.
Conclui-se, portanto, que o fundamento do direito é a busca pela concretização do
valor (justiça), ainda que não o tenha alcançado faticamente.
A rejeição á teoria dos valores relativos
No capítulo III de sua obra “Lições Propedêuticas de Filosofia do Direito11”Javier
Hervada critica a teoria dos valores relativos, que aponta ter sido gerada pela
“dissociação entre o mundo do espírito e o mundo da natureza”.
Segundo Hervada, de acordo com esta teoria, a moral humana distingue as condutas
como valiosas e as condutas que contém um desvalor; respectivamente as condutas
corretas e as condutas que são imorais, incorretas, e por isto, injustas. Os
comportamentos são considerados injustos por contrariar um valor humano, portanto.
Javier Hervada afirma que, na teoria dos valores relativos os valores são entendidos
subjetivamente. O valor é uma projeção do espírito sobre a conduta humana, não
pode ser entendido como dimensão objetiva da realidade captada pelo espírito. Os
valores seriam variáveis com o tempo, lugar e meio social, ou seja, as condutas são
incorretas ou corretas dependendo da avaliação valorativa do ser humano. Como os
valores são considerados relativos e subjetivos nesta teoria, o sistema social de valores

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é determinado pelos valores da maioria, adotando-se meios para não lesar os direitos
das minorias.
Javier Hervada recrimina a teoria dos valores relativos, dizendo que esta não poderia
ser considerada aceitável porque o espírito humano e a natureza são partes de um
mesmo todo, ou seja, não poderia haver uma cisão entre eles. Em outras palavras,
afirma que a relatividade de valores baseia-se na cisão entre o mundo do espírito e o
mundo da natureza, e por isto a teoria dos valores relativos não pode ser aceita visto
que esta cisão não corresponde à realidade humana.
Ele parte da premissa de que a pessoa humana, em si, contém valor, e por isto o valor
só pode ser considerado objetivamente, baseado na dignidade da pessoa. Desta
perspetiva, os valores são estimativas objetivas, e não subjetivas, pois não são criações
do espírito, e sim da realidade própria do ser humano. O valor objetivo do homem é o
bem. O valor e o ser são a mesma coisa. O valor é a estimativa do ser como bem, que
obedece a uma dimensão objetiva e real do ser.
Hervada afirma categoricamente que:
“os valores não são estimativas subjetivas, mas objetivas, pois não se trata de criações
de nosso espírito, e sim de realidades próprias do ser humano e da vida social. Os
valores humanos não são relativos, como não é relativo o ser da pessoa humana.”12
Javier Hervada acredita que o ser e o bem são a mesma coisa, que o homem tem
valores inerentes a si próprio.
Ele também defende que a pessoa se realiza nos valores, tem um ser orientado para os
valores, que indicam o limite entre o agir correto e o incorreto. Há um agir correto e
um agir incorreto porque o homem tem valores inerentes. Quando o homem se
orienta para os valores, torna-se virtuoso; do contrário, torna-se vicioso. A teoria dos
valores como teoria da realização do homem no âmbito do dever-ser deve ser
substituída pela teoria das virtudes, entendendo-se por virtude a atitude de abertura
do homem para os valores inerentes a seu ser.
Em decorrência, acredita que o objetivo do direito é alcançar o valor objetivo da
justiça, devendo o jurista distinguir entre o justo e o injusto.
A idéia de Hervada de que os valores não são relativos, e sim absolutos porque
decorrem da natureza do homem, é compartilhada por muitos doutrinadores, tendo
grande aceitação por parte dos jusnaturalistas. Contudo, esta teoria contém equívocos
evidentes, e é rejeitada por diversos outros pensadores da Filosofia do Direito.
O Objetivismo Axiológico – O Absolutismo dos Valores
A idéia de que os valores são absolutos, por decorrerem da própria natureza do ser
humano, é postulado defendido por muitos, dentre os quais se pode citar Javier
Hervada. O objetivismo axiológico, também conhecido como Ontologismo Axiológico,
julga que a existência dos valores independe do sujeito, pois prescindem de estimativa
ou de conhecimento. Afinal, para eles, os valores possuem existência em si e por si.

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Segundo esta teoria, os valores existem autonomamente e possuem o caráter de
princípios, não dependendo, por isto, de realização. Dois éticos contemporâneos, Max
Scheler e Nicolai Hartmann, são os principais defensores desta teoria, sendo o
primeiro deles o detentor da posição menos radical quanto à objetividade dos valores.
De acordo com Max Scheler, os valores independem da variedade de formas de
projeção e continuam existindo ainda que as coisas se modifiquem. Os valores
permanecem mesmo que sejam infringidos pelas pessoas.
Conforme defendem Scheler e Hartmann, os valores não resultam dos desejos do ser
humano, nem tampouco seriam a projeção de suas inclinações psíquicas ou do
desenvolvimento das relações sociais. Os valores seriam algo anterior ao
conhecimento e à conduta do homem, representam um ideal por sim mesmo,
possuem uma existência própria que independe da vontade do homem, de forma que
não seriam construídos pelo ser humano através da História, mas seriam apenas
descobertos através dos tempos.
Para ambos os citados doutrinadores, os valores formam uma ordenação hierárquica
absoluta e imutável, que pode ser intuída. Os valores podem ser captados unicamente
por um contado direto do espírito. A História marcaria uma tentativa incessante de
atingir o mundo transcendente através da intuição, que seria o único caminho até a
descoberta dos valores.
A intuição axiológica conduziria a resultados tão categóricos e claros quanto aos da
Lógica e da Matemática. Contudo, da mesma maneira que as expressões dessas
ciências de objetos ideais não são acessíveis à compreensão de todas as pessoas, há
aqueles que também não são capazes de atingir a intuição perfeita dos conteúdos
axiológicos.13
Hartmann aproxima-se das idéias platônicas em relação à objetividade dos valores, e
leva tão longe a separação entre o mundo dos valores e o universo histórico que chega
a dizer que só é possível captar os valores na sua singularidade, porque eles não se
comunicam uns com os outros.14
Ao rejeitar a teoria dos valores relativos, Javier Hervada automaticamente adere à
teoria do Absolutismo dos Valores, acreditando que estes decorrem da própria
natureza do ser humano.
A teoria do Absolutismo dos Valores encontra respaldo na teoria do Direito Natural,
para a qual o valor do justo é universal e imutável. Del Vecchio assim conceitua o
Direito Natural:
Direito Natural é, pois, o nome com que se designa (...) o critério absoluto do justo.
Com tal nome se pretende dizer que o referido critério assenta na própria constituição
das coisas e nunca no mero capricho do legislador momentâneo.15
Ocorre que não é possível aquiescer com tais idéias. Embora pareça claro que há
valores compartilhados por grande parte dos seres humanos em longos períodos da

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História, a investigação empírica revela que não existem valores absolutos, inatos nem
objetivos. Mesmo que a pessoa humana carregue um valor dentro de si, a proteção da
dignidade da pessoa tem se mostrado variável no tempo e no espaço.
A Teoria Histórico-Cultural dos Valores
As diversas doutrinas acerca de valores rotuladas como “histórico-culturais” possuem
como característica comum a impossibilidade de compreensão dos valores fora do
âmbito da História.
Um dos inspiradores da Escola Histórica do Direito foi Edmundo Burke, que, opondo-se
às teorias jusnaturalistas, sustenta o princípio da continuidade histórica. O fundador
autêntico da Escola Histórica foi Savigny, que defende ser o direito um produto da vida
prática do homem:

O direito, sustenta Savigny, vive na vida prática e nos costumes, como expressão direta
da consciência jurídica popular.16

A atividade inovadora do homem, capaz de instaurar novas formas de viver, modifica


continuamente a natureza e cria a cultura, compondo formas novas e estruturas
inéditas. O espírito humano se projeta sobre o mundo natural, conferindo-lhe valores.
O valor não é a projeção da consciência individual isolada, mas surge da união entre a
consciência da humanidade como um todo, ao longo da História, com sucessivas
superações.
O que movimenta o espírito universal do homem na realização histórica da construção
de valores é objeto de discussão doutrinária, havendo doutrinas divergentes:
Dirão uns que são as tendências profundamente éticas, outros que é o anseio de
liberdade, outros ainda que nos determinam necessidades econômicas inelutáveis no
sentido do progressivo domínio sobre a natureza.
Diferentes teorias surgem, desse modo, mas todas reconhecem existir a possibilidade
da transformação da natureza como natureza, em virtude, a nosso ver, de algo próprio
somente do homem (...)
É certo que os valores não possuem uma existência em si, mas se manifestam nas
coisas consideradas como valores. A valoração é algo que se revela na experiência
humana através da História. Os valores não podem ser considerados como uma
realidade ideal que o homem descobre como um modelo eterno e estável. Ao
contrário, os valores são uma coisa que o homem realiza em sua experiência e que,
através do tempo e nos diferentes espaços, assume expressões diversificadas.
Paulo Dourado de Gusmão17 acredita que os valores “variam com as pessoas, com o
tempo, as culturas e as sociedades” expondo que:
As civilizações, as culturas e as épocas têm suas hierarquias de valores, como, também,
as sociedades e os homens. Da hierarquia dos valores dependem as “concepções de

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mundo” e delas, a vivência, as aventuras do espírito, do poder, da história e, porque
não? da existência.
Portanto, tem-se que os valores são mutáveis em relação a cada grupo social, ao
tempo e ao espaço, segundo o curso da História.
A Subjetividade dos Valores e a Mutabilidade do Direito no Processo Histórico
Não se duvida da proposição de Javier Hervada de que o homem carrega em si um
valor fundamental, algo que possui valia em si mesmo, identificando-se o seu ser com
o seu valor. Contudo, embora se creia na tese de que a pessoa é o valor originário de
todos os valores, a própria pessoa é um ente histórico, ou seja, uma conquista da obra
civilizadora da própria espécie humana. O valor hoje atribuído à pessoa origina-se da
evolução histórica que causou a consciência social do valor da personalidade.
O Direito pertence ao mundo da cultura e é estruturado segundo julgamentos de
valor, sendo que os valores jurídicos existem dentro de uma hierarquia estabelecida
historicamente. A concretização do valor nas normas modifica-se com o tempo, sendo
inconteste que o Direito é mutável.
De fato, analisando a História, depara-se com a variabilidade dos valores e, sendo o
direito fundado em valores, é certo que também ele é mutável. A natureza do direito
de um grupo social depende da natureza da sociedade que reflete e rege este direito.
Do tipo de sociedade depende a sua ordem jurídica, destinada a satisfazer as suas
necessidades, dirimir possíveis conflitos de interesses, assegurar a sua continuidade,
atingir as suas metas e garantir a paz social18
O Direito também resulta da reflexão intelectual do jurista, gerada ou influenciada por
fatos sociais. A introdução de novos princípios e de normas na ordem jurídica, exigidos
pelas novas situações histórico-sociais ocorre de forma gradual e lenta. Isto porque a
natureza do Direito é de ser conservador. Por isto é freqüente ocorrer desajustamento
entre a ordem jurídica e a ordem social:
Em comparação com as demais formas de cultura, como a literatura, os costumes e a
moral, o Direito está sempre em atraso em relação às transformações da sociedade.
Muitas vezes, a interpretação do Direito feita pelos juristas reduz este atraso,
construindo o direito jurisprudencial e doutrinas que podem até mesmo se confrontar
com o direito codificado. Paulo Dourado de Gusmão oferece exemplos da
compensação feita pela jurisprudência para minorar o anacronismo do Direito em
relação a valores já ultrapassados:
A interpretação reduz, muitas vezes, esse atraso, construindo, quando judicial, o
direito jurisprudencial que pode conflitar com o codificado, ultrapassando, quantas
vezes, a lei, como, por exemplo, as sentenças que, antes da intervenção do legislador,
equiparou o concubinato à sociedade de fato para reconhecer o direito da concubina a
participar do patrimônio do companheiro quando desfeita essa união. Hoje, o
concubinato está legalizado (...) Por outro lado, a revolução sexual dos anos 60, a

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pílula, e com ela a libertação sexual da mulher criaram novos costumes, colocando,
praticamente, em desuso o crime de sedução (...) em virtude de a virgindade da
mulher estar desaparecendo como valor jurídico.19
O Direito não é produto da natureza, mas pertence ao mundo criado pelo homem.
Possui significação, destinação, finalidades, sendo prescrito tendo em vista fatos
sociais, segundo tradições e valores. Encontra-se na área cultural. Na qualidade de
objeto cultural, possui mais de um componente. Compõe-se de substrato e de sentido.
O sentido pode ser imutável, absoluto, como sustenta a Hervada, como pode ser
histórico, modificável com o tempo, relativo, portanto, estabelecido pela sociedade de
um dado lugar e momento.
O Direito, pertencendo ao império da cultura, acompanha o destino da cultura em que
se encontra agregado. A cultura não é eterna e estanque, nascendo, modificando-se,
entrando em crise, podendo depois desaparecer. O Direito também se desenvolve na
cultura que o criou e depois com ela pode desaparecer, como ocorreu com o direito
praticado no Egito antigo; ou manter-se vivo emigrando para outra cultura, como
ocorreu com o direito romano.
A maior característica do Direito é a coercibilidade, que consiste na possibilidade do
emprego da força física para fazê-lo ser observado, ou melhor, na possibilidade de se
recorrer ao Poder Judiciário para fazê-lo ser respeitado quando violado ou ameaçado.
Thomasius e Kant consideravam que realmente a coercibilidade é a característica que
confere especificidade ao Direito. Neste especto, Ihering chegou a definir o direito
como o conjunto de condições da vida social, asseguradas pelo poder do Estado,
mediante coerção externa20. Atualmente, esta posição persiste maciçamente na
doutrina, não sendo, contudo, pacífica, principalmente entre jusnaturalistas, que
admitem direitos desprovidos de coercibilidade que seriam tão válidos como o direito
posto pelo Estado: o direito natural.
Apesar da franca característica de coercibilidade do Direito, não se pode negar que a
sua finalidade é busca da concretização de valores positivos, o que pode ser chamado
de justiça. Ainda que o Direito positivo seja injusto, a sua função é a busca da justiça.
Afinal, “O direito (...) representa um ensaio de realizar, em um quadro social dado, a
justiça21.
O direito positivo resulta de ato de vontade, sendo imposto pelo Estado através da lei
ou imposto pela sociedade, através do costume, ou até mesmo pela comunidade
internacional através de tratados. Lado outro, o direito natural não depende de lei
alguma, sendo evidente, espontâneo. O direito natural tem as suas raízes na Moral,
sendo assim um ideal ou valor, sempre presente na História da Civilização.
Apesar de Paulo Dourado de Gusmão defender a posição historicista no que se refere
ao direito natural, ele está convencido de haver dois direitos naturais fundamentais,
superiores a qualquer legislação: o direito à vida e o direito à liberdade22. Contudo,
não é possível concordar com este posicionamento.

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Avaliando historicamente o Direito, é possível verificar empiricamente que mesmo o
valor protegido sob a forma do direito à vida tem sofrido gravíssimas limitações em
diferentes tempos e lugares. Quantas normas já não existiram no passado que
minimizavam o direito à vida em nome de direitos da sociedade como um todo?
Atualmente, quando se defende a eutanásia e o aborto, revela-se uma clara limitação
ao direito à vida, falando-se mesmo à defesa ao “direito de morrer”.
Da Teoria do Direito Natural evoluiu-se para a teoria dos direito humanos. Trata-se de
uma versão modernizada do jusnaturalismo, tendo a conveniência de não ficar no
plano das idéias, como é o caso do direito natural, tendo a seu favor a garantia de sua
positividade.
Norberto Bobbio, em sua obra A Era dos Direitos23, mostra não acreditar no
fundamento absoluto do Direito, mas apenas dos valores relativos que fundamentam
um determinado Direito.
Como foi dito, os jusnaturalistas acreditam que o fundamento absoluto do Direito é a
natureza humana, mas este é um fundamento frágil, pois, muitas vezes, atitudes
diversas se compatibilizam com a natureza humana, restando a dúvida sobre qual
optar como norma.
Há empecilhos que tornam infundada a busca do fundamento absoluto do Direito, dos
valores absolutos, e um deles consiste na variabilidade dos direitos ao longo do tempo,
que derivam da mudança das necessidades e interesses do homem e também dos
avanços técnicos. Muitos direitos protegidos no passado não valem mais hoje, e
direitos atuais não eram nem imaginados no passado. O que é fundamental num
determinado tempo e espaço não o é em outro local e época. Portanto, não há como
haver fundamento absoluto a direitos relativos historicamente. Outra dificuldade é a
heterogeneidade dos direitos do homem. Muitas pretensões de direitos mostram-se
bem diferentes e até incompatíveis, o que anula a sustentação da busca de um
fundamento absoluto, havendo, pois, mais de um fundamento.
Os direitos humanos, por exemplo, nasceram e ainda nascem de modo gradual, em
circunstâncias específicas, através de lutas populares em defesa de novas liberdades, o
que confirma seu caráter histórico. Novos direitos só podem surgir a partir das
mudanças da sociedade, com novas exigências sequer imaginadas anteriormente.
Ainda de acordo com Norberto Bobbio, há três modos de fundar valores. O primeiro é
deduzi-los de um dado objetivo constante, como os jusnaturalistas fizeram com a
natureza humana – idéia que é reproduzida em Hervada - mas que falhou no ponto em
que a natureza humana pode ser interpretada de modos diversos. O segundo trata-se
de considerá-los verdades evidentes, mas falha quando se verifica a mudança dos
valores no tempo e no espaço. O terceiro apoia-se no consenso. Se um valor é aceito,
ele está fundado. É um fundamento histórico e não absoluto, mas é o único que pode
ser comprovado24.

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Assim, se os valores apoiam-se no consenso, são mutáveis de acordo com o grupo
social, o tempo e o espaço, sendo, pois, relativos. E dessa relatividade de valores
constrói-se um Direito também relativo e mutável.
Quando Bobbio faz uma exceção para afirmar que toda a humanidade partilha alguns
valores que são comuns, defende a universalidade de determinados valores25.
Contudo, assim fazendo, mostra haver se esquecido dos costumes que vigoram entre
os muçulmanos, em que praticamente não existem direitos fundamentais,
principalmente no que diz respeito às mulheres, crianças e a severidade das punições.
Também parece ter se esquecido dos ordenamentos jurídicos antigos, nos quais o
valor da vida e da liberdade, tão preservados no mundo atual ocidental, eram
minimizados de acordo com interesses de uma minoria privilegiada. Ao que parece,
muitos valores consistem nas aspirações da maioria da humanidade, mas não se pode
afirmar a existência de valores universais.
Os direitos possuem caráter histórico e não são definitivos. Sofrem alterações
ocasionadas pela mudança na organização da vida humana e das relações sociais que
criam novas necessidades de liberdades e poderes. Olhando para o passado, constata-
se que o desenvolvimento dos direitos do homem passou por três fases.
Os direitos, segundo Bobbio, dividem-se em gerações, de acordo com a época em que
surgiram. Os direitos de primeira geração são os direitos civis, que são os responsáveis
pela inserção do indivíduo na sociedade; afirmaram-se os direitos de liberdade para
limitar o poder do Estado. Os direitos de segunda geração correspondem aos direitos
políticos, surgidos para possibilitar a participação dos indivíduos na deliberação das
normas, e também aos direitos sociais, que surgiram após as guerras com a aspiração
de instaurar o Estado de bem-estar social e tirar os indivíduos do campo da
necessidade para promover a igualdade social. Os direitos de terceira geração são os
direitos ecológicos, que constituem categoria heterogênea e vaga, reivindicando
principalmente o direito de se viver num ambiente não poluído. Os direitos de quarta
geração referem-se à biogenética, ciência que avança rapidamente que ainda é uma
realidade muito recente26. A gradatividade do surgimento dos direitos só pode ser
explicada em razão da mutabilidade dos valores humanos.
Constatado que o nascimento e o crescimento dos direitos liga-se à transformação da
sociedade, tem-se que, para a sobrevivência dos homens na sociedade atual, não
bastam os direitos fundamentais como a vida, liberdade e propriedade; apareceram
direitos que somente uma sociedade mais evoluída econômica e socialmente poderia
expressar, e esses novos direitos não foram colocados no estado de natureza porque
não emergiram da sociedade na época em que nasceram as doutrinas jusnaturalistas.
As exigências de direitos sociais aumentaram na proporção do aumento das mudanças
na sociedade, e as exigências só podem se concretizar através de uma intervenção
pública e de uma prestação de serviços por parte do Estado que podem ser realizadas
apenas num determinado nível de desenvolvimento econômico e tecnológico, o que
confirma a socialidade desses direitos, negando sua naturalidade.

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De fato, os direitos e os valores nascem da sociedade, e só nascem quando a sociedade
os permite e são motivados pelas necessidades que ela apresenta, por isso eles variam
conforme o tempo e o lugar onde são válidos.
Ainda, os direitos erroneamente tidos como universais, mas que na verdade só
abrangem o mundo ocidental atual - como a Declaração Universal dos Direitos do
Homem, surgiram da consciência da crescente integração que vem ocorrendo no
mundo, reforçada, atualmente, pelo rápido processo de globalização.
A teoria dos valores absolutos defendida por Javier Hervada não pode prevalecer
diante da constatação empírica de que os valores se modificam através do tempo. Daí
decorre que o Direito, como instrumento que visa garantir o valor positivo da justiça,
baseia-se em valores subjetivos, possuindo, também, a característica da mutabilidade.

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Conclusão
O ser humano considera o mundo através de análises valorativas. Toda a sua
construção cultural é permeada de valores. O Direito, como produto da cultura do
homem, é por consequência, intrinsecamente ligado a valores.
Javier Hervada defende que os valores humanos são dados objetivos, ou seja, que
possuem uma existência própria que independe da vontade humana.
Contudo, o seu posicionamento não é coerente com a realidade, pois não há dúvidas
de que os valores não possuem uma existência em si, porque a valoração é algo que se
revela na experiência humana através da História. Os valores não podem ser
considerados como algo ideal e estável, como defende Hervada. Ao contrário, os
valores são realizados na experiência humana e que, através do tempo e nos
diferentes espaços, assumem expressões diversificadas.
Aquilo que é um valor defendido em uma certa cultura é considerado um desvalor em
outra, sendo que não há e nem nunca houve unanimidade quanto ao conceito de
justiça. Ainda que haja valores amplamente defendidos, como o direito à vida, este
também é concretizado de formas diferentes, e sopesado ainda de maneiras distintas
pelas diversas sociedades.
Ademais, se parece haver uma certa convergência de valores no mundo ocidental, isto
ocorre não em razão de diferentes sociedades apresentarem concordância no conceito
de justiça. A aparente convergência de valores ocorre em virtude do fenômeno da
globalização e da cultura de massa. Ou seja, não se trata de analisar culturas distintas
existentes no ocidente, das quais emergiriam valores coincidentes: está sendo
analisada apenas a sociedade ocidental como bloco cultural único. E mesmo assim há
divergências insofismáveis acerca de valores, ainda que tomado um mesmo padrão de
cultura.
Justamente em virtude da relatividade dos valores e da sua mutabilidade no tempo e
no espaço é que o Direito tem este caráter de ser uma eterna construção do ser
humano, em conformidade com os valores que sejam vigentes em cada sociedade.

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