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Escola de Economia de São Paulo - FGV

Graduação em Economia

Finanças Bancárias: Lista 1

Prof. André Nunes Maranhão

”Não vamos entrar em pânico! Vou vender


um de meus fı́gados, posso viver com
um só...” - Homer J. Simpson

Exercı́cios
1. (Perda Esperada e Seguros) Se a perda esperada for atuarialmente justa, um
banco neutro a risco é indiferente entre cobrar ou não a perda esperada de um
empréstimo? Descreva as situações com q ą π e q ă π com o banco (banqueiro1 )
tendo funções utilidades concâvas e convexas. Para trabalhar a questão considere:
π: Probabilidade de Default;

W0 : Recurso inicial para empréstimo;

D: Valor do empréstimo;

q: Custo de contratação do empréstimo ou juros em relação a D, ou ambos;

α: Valor cobrado de perda esperada ou mantido como provisão ou Capital Econômico


(CE), com D ě α.
1
Sempre que tratarmos de função utilidade do banco, estaremos nos referindo a função utilidade do
banqueiro.

1
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2. (Perda Esperada) A sua função de utilidade para um empréstimo é U pxq “ ln x.


Em um experimento de empréstimo, você empresta $ 10.000,00 com juros simples
de 5% e custo de contratação de $ 250,00 para uso da Perda Esperada (PE). Você
conhece a PD = 0,25 e a LGD = 0,4.

(a) A perda esperada que você cobrará é atuarialmente justa?


(b) Caso você cobrasse $ 500,00 antecipadamente no empréstimo (considerando o
atual custo de contratação), você estaria em shortfall ou excess?
(c) Caso você cobrasse o valor da perda esperada na forma de juros, qual seria a
nova taxa de juros e seu valor?
(d) Sua utilidade ao cobrar PE é menor do que não cobrá-lo? Faça a questão
considerando com e sem juros.
(e) Qual o custo máximo para utilização da PE? Faça o item com e sem juros. O
que acontece com esse custo com a cobrança de juros?

3. (Crédito e Expectativas) “Bancos te oferecem guarda-chuva em dias de sol, e o


pega de volta quando chove” - Mark Twain. Ao sair de casa pela manhã você tem
que decidir se leva consigo um guarda-chuva. Se chover você não tiver guarda-chuva
consigo, sua utilidade cai 3 unidades. Se chover e você tiver o guarda-chuva, sua
utilidade cai apenas 1 unidade. Se não chover, o esforço de carregar o guarda-chuva
reduz sua utilidade de 21 unidades.

(a) Independente da probabilidade de chuva, você nunca deve levar o guarda-


chuva?
(b) Se a probabilidade de chuva for maior que 20%, você deve levar guarda-chuva?
(c) Se a probabilidade de sol for maior que 50%, você não deve levar guarda-chuva?
(d) Se a probabilidade de chuva for menor que 20%, você deve levar guarda-chuva?
(e) Considerando o desenvolvimento dessa questão, o que você pode dizer sobre a
frase de Mark Twain?

4. (Crédito e Estados da Economia) Um banco tem a opção de empréstimo para


duas empresas do setor agropecuário, uma exportadora de seus bens finais e outra
importadora de insumos (fertilizantes). Se a taxa de câmbio subir, cada real de
empréstimo do exportador gerará o lucro de 200, e do importador de 100. Se a taxa
de câmbio cair, o lucro, no mesmo sentido, será de 120 para a exportadora, e de 200
para a importadora. A função utilidade do banco depende do estado da economia,
tal que:
y: Lucro dos empréstimos por cada real emprestado;

"
ey , se expansão do ciclo econômico
U pyq “
ln y, se contração do ciclo econômico

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Quanto dos empréstimos serão destinados ao importador e exportador em cada


estado do ciclo econômico? Considere igual a probabilidade de movimento da taxa
de câmbio.
5. (Jogo de renegociação) Considere o jogo entre o banco e um mutuário:

Banco
Renegocia Write-off
Mutuário Renegocia 2,2 0,-2
Default 1,2 -1,3

Caso existam, determine: Equilı́brio em Estratégia Dominante (EED); Equilı́brio


de Nash em Estratégias Puras (ENEP) em Estratégias Mistas (ENEM); Equilı́brio
em Estratégia Max-Min (EEMM). Coloque o jogo na forma sequencial e encontre,
caso exista, o Equilı́brio de Nash Perfeito em Sub-Jogos (ENPS) a partir da jogada
do mutuário. Considere que as condições tenham mudado gerando um novo jogo:

Banco
Renegocia Write-off Normalidade
Renegocia 6,6 1,10 0,0
Mutuário Default 10,0 -1,10 0,0
Pagamento 4,6 0,0 5,15

Caso existam, encontre os EED, ENEP, ENPS. Interprete todos os Equilı́brios en-
contrados em cada jogo.
6. (Modelo de Sinalização e Cs de Crédito) Considere um modelo de sinalização
do tipo de Spence no qual os tomadores de crédito escolhem um nı́vel de compro-
metimento no pagamento de empréstimos. Há uma grande quantidade de bancos e
de tomadores. Os bons pagadores têm função utilidade: Ub “ W ´ 38 C 2 e os maus
pagadores Um “ W ´ 12 C 2 , onde W representa o nı́vel de empréstimos e C o nı́vel
de comprometimento no pagamento dos empréstimos. Um bom pagador com Cb
gera lucro de 1, 5Cb para o banco, enquanto um mau pagador gera Cm . Em todos
os itens, explique e interprete detalhadamente sua solução. i) Encontre a solução
eficiente com informação completa; ii) O Equilı́brio Agregador é eficiente? iii) O
Equilı́brio Separador é eficiente? iv) Em algum Equilı́brio Ub pode ser menor que
1
2
? Encontre as restrições de compatibilidade de incentivos (RCI).
7. (Empréstimo como externalidade negativa) Uma economia constituida por
um tomador e um banco cujas utilidades são:

4?
Ui pE, M q “ E ` Mi
3

Ub pE, M q “ ln p1 ´ Eq ` Mb

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Em que E representa o empréstimo do indivı́dio (medido como um percentual da sua


renda entre (0,1]) e M representa os gastos com outros bens e serviços. Suponha que
o banco tenha um direito de exercı́cio de uma covenant, mas que possa negociar com
o mutuário a um preço unitário P com o tomador. Se no equilı́brio o tomador paga
G unidades monetárias ao banco para evitar o acionamento da covenant, encontre
36G explicando cada passo da solução.

8. (Crédito e Equilı́brio Geral) Considere o Modelo de Banking no contexto Arrow-


Debreu da seção 1.7 do livro Freixas e Rochet, contudo considere a função utilidade
do consumidor como:

U pC1 , C2 q “ C1α C2β

Mostre que se S “ I, então teremos:


„ ȷ
α f pIq
C1˚ “´ p1 ` rq 1
β f pIqq
„ ȷ
α f pIq
C2˚ “1` p1 ` rq 1
β f pIqq

9. (Matriz de Migração de Rating) Uma matriz é considerada uma matriz es-


tocástica se:

(a) Xij “ Pn pi, jq “ P pXn`1 “ j|Xn “ iq, com Pn pi, jq P r0, 1s;
(b) ni“1 Pn pi, jq “ 1.
ř

Um conceito importante em matrizes estocásticas é a probabilidade de passagem do


estado “i” para o “j” em “n” passos, definido como:
ÿ
fnij “ n´1
Pik fkj
k‰j

Com fij1 “ Pij .


Essas matrizes podem ser classificadas como:

(a) Se Pn pi, jq “ P pX1 “ j|X0 “ iq “ P pi, jq “ P ij, @n: matriz estocástiva


homogêne;
(b) Transiente: se entrando em um estado, esse estado será visitado um número
finito de vezes, com probabilidade positiva de não retornar a esse estado;
(c) Recorrente: o estado será visitado um número infinito de vezes em algum passo
n: fnij “ 1 o estado “i” será recorrente;
(d) Absorvente: entrando nesse estado, não sairá mais: Pij “ 1, o estado “i” será
absorvente;

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(e) Conjunto Fechado de Estados: um subconjunto de estados no qual atingido um


desses estados, o processo irá permanecer indefinidamente nesse subconjunto.

Os conceitos de matrizes estocásticas são essenciais para construção das matrizes de


migração de rating de crédito. Com base nesses definições verifique se as matrizes
a seguir são estocásticas, classifique seus estados. Na matriz b, encontre: f00 e
1 2 3 1 2 3
f11 e classifique. Na matriz c encontre f00 , f00 , f00 , bem como, f02 , f02 e f02 , sendo
o estado “0” o rating de menor probabilidade de inadimplência, interprete essas
probabilidades.
0 1 2 3 4
0 1/4 3/4 0 0 0
1 1/2 1/2 0 0 0
a) P = 2 0 0 1 0 0
3 0 0 1/3 2/3 0
4 1 0 0 0 0

0 1 2 ...
0 0.7 0.2 0.1 ...
1 0.3 0.5 0.2 ...
b) P =
2 0 0 0 ...
.. .. .. .. ..
. . . . .

0 1 2
0 2/3 1/3 1/3
c) P = 1 1/4 1/2 1/4
2 1/5 1/5 3/5

10. (Credit Swap Default) Quando consideramos um CDS de um paı́s em um perı́odo


único, ao final desse perı́odo dois cenários são possı́veis: Default com probabilidade
q e de sobrevivência p “ 1 ´ q. Para o vendedor da proteção, tem-se que:

Epganhoq “ p1 ´ qq ˆ s
Epperdaq “ q ˆ p1 ´ R ´ sq

Onde s representa o prêmio, como parcela do montante nominal, R representa o valor


recuperado em percentual. Considerando a hipótese de não-arbitragem teremos:
p1 ´ qq ˆ s “ q ˆ p1 ´ R ´ sq.
Considerando essas definições, analise:

(a) Assumindo que o CDS do paı́s ABC está sendo cotado a 50 bp, com uma
recovery R “ 40%, quais são as probabilidades de default e de sobrevivência?
(b) Assumindo que o paı́s ABC está com uma probabilidade de default estimada
em 2%, qual seria o spread justo?

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(c) De qual lado desse CDS você prefereriria está?

11. (PCLD, PE e Carteira de Crédito) Considere uma carteira de crédito:

Cliente Operação Atraso PD LGD EAD Condição


1 1 65 0,12 0,7 40.000 Renegociação
1 2 0 0,12 0,5 60.000 Normalidade
2 1 40 0,06 0,7 100.000 Atraso
3 1 5 0,02 0,7 10.000 Atraso
3 2 10 0,02 0,5 30.000 Renegociação
3 3 1 0,02 0,4 10.000 Atraso
4 1 20 0,01 0,7 25.000 RJ
4 2 10 0,01 0,5 25.000 RJ
5 1 0 0,01 0,7 50.000 Normalidade
Nota: Atraso está contado em dias de atraso.

Compare e classifique a PCLD e a PE de cada cliente e da carteira. Para cada


cliente/operação classifique seu estágio conforme o normativo 4.966, descreva cada
um dos motivos dessa classificação de estágios. Cálcule a provisão para PE segundo
o normativo 4.966.

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12. (Perda de Crédito Esperada) Com o objetivo de análise de cenários de crédito


para uma carteira PF, considere uma taxa efetiva de 12% a.a. com data média
de default de 55 dias com PE de $125.000, e uma LGD média de 40%. Considere
também uma carteira PJ com data média de default de 145 dias com PE de $ 45.000
e uma LGD de 60%. Encontre a perda de crédito esperada para essas carteiras,
considere ainda a projeção de cenários alternativos com uma P Df orward´looking com
aumento médio de 10% para a carteira PF e 5% para carteira PJ, nesse novo cenário,
qual seria a perda de crédito esperada? (Para os cálculos considere 365 dias)

13. (Regulação Bancária - Basiléia III) O Acordo Basiléia definiu Capital Econômico
Regulatório para diferentes tipos de riscos, sendo traduzido para cada paı́s conforme
seu regulador local, a Figura 1, apresentamos um resumo para o caso brasileiro:

Figure 1: Cálculo do PRE

Cada parcela de risco pode ser calculada/estimada com uma abordagem padrão ou
avançada. A PEP R que se refere a parcela de crédito, a abordagem padrão significa
simplesmente a aplicações de ponderações aos devidos valores contábeis conforme a
Figura 2:
As abordagens avançadas por sua vez consideram os modelos internos de PD, LGD
e EAD. Uma vez o banco tenha estimado tais valores a parcela de crédito (Risk
Weighted Assets - RWA) será calculada para cada tomador de crédito com as funções
de ponderação de Basiléia:

RW ApPEP R q “ K ˆ 12, 5 ˆ EAD (1)

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Figure 2: Abordagens Padrão de Risco de Crédito em Basiléia II

Onde K representa o capital requerido para risco de crédito (Também chamado K


de Basiléia). Esse capital requerido é obtido de acordo com tipos de exposição de
crédito: : (i) exposições corporativas, soberanas e bancárias; e (ii) exposições de
varejo.
Para as exposições (i):

« « d ff ff
Φ´1 pP Dq R p1 ` pM ´ 2, 5qbq
K “ LGD.Φ a ` .Φ´1 p0, 999q ´ P D.LGD .
p1 ´ Rq p1 ´ Rq p1 ` 1, 5bq

ˆ ˙
p1 ´ e´50.P D q p1 ´ e´50.P D q
R “ 0, 12. ` 0, 24. 1 ´
p1 ´ e´50 q p1 ´ e´50 q

b “ r0, 11852 ´ 0, 05478. ln P Ds2

Onde R representa a correlação entre os indivı́duos ajustada por Basiléia, e M


representa a efective maturity, que representa uma maturidade apropriada para o
conjunto de empréstimos do mutuário.
Para as exposições (ii)
« « d ff ff
´1
Φ pP Dq R
K “ LGD.Φ a ` .Φ´1 p0, 999q ´ P D.LGD .
p1 ´ Rq p1 ´ Rq

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ˆ ˙
p1 ´ e´35.P D q p1 ´ e´35.P D q
R “ 0, 03. ` 0, 16. 1 ´
p1 ´ e´35 q p1 ´ e´35 q

A partir dessas definições, considere o balanço do banco ABC apresentado na Figura


3:

Figure 3: Exemplo de Balanço Simplificado de um Banco

PR
Considerando o IBII “ P RE , e as definições de capital econômico regulatório, pede-
0,11
se: TIER I e II, ROE, ROA, PR, PRE e IBII nas abordagens padrão e avançada.
Explique a diferença entre os números obtidos das duas abordagens. Para fins
de cálculo considere uma PD média de 0,1 e uma LGD média de 0,6 e utilize a
abordagem avançada para exposições de varejo.

14. (Covenants) DÍVIDA LÍQUIDA / EBITDA é um dos covenants que mais causa
estresse entre investidores e tomadores de recursos, e já tem sido a causa do disparo
do “botão de pânico” para muitas Recuperações Judiciais ou, por mais paradoxal
que possa parecer, e na melhor das hipóteses, no aumento das taxas de juros da
operação.

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A aplicação dessa métrica, sem conhecimento de gestão e bases técnicas, pode re-
sultar no comprometimento do desempenho da operação da empresa, prejudicando
a própria geração de caixa, e mais ainda o Ebitda.
Vejamos: Uma empresa que fature R$ 500 milhões ao ano com um Ebitda de 15%,
e tenha um covenant limitador de 3 vezes para a relação Dı́vida Liquida/ Ebitda,
poderia se endividar até R$ 225 milhões (R$ 75 milhões x 3). Suponha que essa
empresa necessite de investir 3% do Ebitda anualmente para se manter no mercado.
Imagine que já no primeiro ano a empresa precise contratar um empréstimo com
juros de 15% ao ano, e 5 anos para amortização da dı́vida. Qual o resultado dessa
covenant em relação a sua necessidade de investimento anual? Elenque os resultados
práticos dessa covenant.

15. (Análise de Bancos) Considerando a Figura 20 e a Tabela 7 do matérial de es-


tudo, faça análise de resultados para o Banco do Brasil considerando as seguintes
informações adicionais2

2
Relatório disponı́vel em: https://ri.bb.com.br/informacoes-financeiras/central-de-resultados/

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