Limites Da Educação Ambiental E de Oficinas de Reciclagem Frente Ao Descarte Inadequado Do Óleo de Cozinha em Centros Urbanos
Limites Da Educação Ambiental E de Oficinas de Reciclagem Frente Ao Descarte Inadequado Do Óleo de Cozinha em Centros Urbanos
Limites Da Educação Ambiental E de Oficinas de Reciclagem Frente Ao Descarte Inadequado Do Óleo de Cozinha em Centros Urbanos
2019)
ISSN: 2318-3233
Editora Científica: Marcus Vinicius Moreira Zittei
Avaliação: Melhores práticas editoriais da ANPAD
Endereço: revistaseletronicas.fmu.br/index.php/rms
Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU
RESUMO
Este artigo destaca o descarte inadequado de óleo de cozinha como uma das práticas causadoras de
contaminação da água, inclusive em centros urbanos, agravando a escassez hídrica e dificultando
seu acesso à população. Tem por objetivo promover reflexões sobre limites da educação ambiental, a
partir de estudo realizado junto à estudantes de Curso de Pedagogia. Foram aplicados questionários
para investigar locais de descarte e, após análise destas informações, foi elaborada e desenvolvida
uma capacitação, incluindo oficina para produção de sabão. Entretanto, resultados mostraram a
não adesão dos participantes ao produto final. Conclui-se que, oficinas dessa natureza, embora pro-
ponham a prática pela experiência, devem ir além da exposição de conteúdos, seguidos por vivên-
cias sensibilizadoras. A gravidade dos problemas socioambientais da atualidade, especialmente no
contexto urbano, demandam espaços de aprendizagem social contextualizados e dialógicos, que es-
timulem a busca de soluções compartilhadas, caminhando-se em direção à sustentabilidade.
Palavras-chave: contaminação da água; óleo vegetal; educação ambiental; aprendizagem social.
ABSTRACT
This article highlights the inadequate disposal of cooking oil as one of the practices that cau-
se water contamination, including in urban centers, aggravating water scarcity and making it
difficult to access the population. It aims to promote reflections on the limits of environmen-
tal education, based on a study carried out with the students of the Pedagogy Course. Ques-
tionnaires were applied to investigate disposal sites and, after analyzing this information, a
training was elaborated and developed, including a soap production workshop. However, re-
sults showed the non-adherence of the participants to the final product. It is concluded that
such workshops, although they propose to practice from experience, must go beyond content
exposition, followed by sensitizing experiences. The seriousness of today’s socio-environmental
problems, especially in the urban context, requires contextualized and dialogical social lear-
ning spaces that stimulate the search for shared solutions, moving towards sustainability.
Keywords: water contamination; vegetable oil; environmental education; social learning.
RESUMEN
Este artículo destaca el descarte inadecuado de aceite de cocina como una de las prácticas
causantes de contaminación del agua, incluso en centros urbanos, agravando la escasez hídrica
y dificultando su acceso a la población. Tiene por objetivos promover reflexiones sobre límites
de la educación ambiental, a partir de estudio realizado junto a los estudiantes de Curso de
Pedagogía. Se aplicaron cuestionarios para investigar lugares de descarte y, después de análisis
de estas informaciones, se elaboró y desarrolló una capacitación, incluyendo taller para pro-
ducción de jabón. Sin embargo, los resultados mostraron la no adhesión de los participantes al
producto final. Se concluye que, talleres de esa naturaleza, aunque proponen la práctica por
la experiencia, deben ir más allá de la exposición de contenidos, seguidos por vivencias sen-
sibilizadoras. La gravedad de los problemas socioambientales de la actualidad, especialmente
en el contexto urbano, demandan espacios de aprendizaje social contextualizados y dialógicos,
que estimulen la búsqueda de soluciones compartidas, caminando hacia la sustentabilidad.
Palabras clave: contaminación del agua; aceite vegetal; educación ambiental; aprendizaje social.
INTRODUÇÃO
Dentre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS, propostos pela Organização das Nações
Unidas – ONU, no Programa Agenda 2030, está assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da
água e saneamento para todos (https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/). Atualmente,
mais de 1 bilhão de pessoas no mundo não tem acesso adequado à água, e a escassez hídrica tende
a crescer devido, principalmente, ao crescimento populacional em grandes centros urbanos, asso-
ciado à uma também crescente demanda por alimentos e energia, e aos impactos das mudanças
climáticas (Jacobi, Empinotti & Schmidt, 2016; United Nations Educational, Scientific and Cultural
Organization [UNESCO], 2019).
A contaminação de cursos d’água contribui para agravar esta problemática, encarecendo o tra-
tamento deste recurso e dificultando cada vez mais o acesso à água potável e de qualidade à po-
pulação (UNESCO, 2019). Diversas são as práticas causadoras desses processos de contaminação,
dentre elas, este artigo destaca o descarte inadequado de óleo de cozinha utilizado, especial-
mente, em residências e estabelecimentos comerciais. Nestes locais, muitas vezes, este resíduo
acaba sendo despejado diretamente na pia ou vaso sanitário, comprometendo a rede de esgoto
(Castellanelli, Mello, Ruppenthal & Hoffmann, 2007). E, quando despejado diretamente no solo,
pode provocar sua impermeabilização, dificultar o acesso à nutrientes pela fauna e flora, e até
atingir o lençol freático (Wildner & Hillig, 2012; Zucatto,Welle & Silva, 2013).
Assim, estes e outros impactos decorrentes da constante degradação ambiental evidenciam a ne-
cessidade de ações voltadas à reversão desse cenário, especialmente aquelas focadas em educa-
ção ambiental. Tais propostas podem promover reflexões e atuar como fontes de aprendizagens,
unindo teoria e prática, para que todos os envolvidos, ao incorporarem novos conhecimentos,
valores e habilidades, possam fazer uso deles na maneira como se relacionam com o meio am-
biente e a sociedade (Mello & Trajber, 2007). Para Wals (2015), essa perspectiva de aprendizagem
demanda avaliação constante sobre o processo vivenciado e as lições apreendidas, para que, efe-
tivamente, se transformem em práticas.
Em concordância, Jacobi (2003) lembra que as práticas sociais são muitas vezes marcadas pela
degradação do meio ambiente, porém, se faz necessário ampliar os sentidos atribuídos à educa-
ção ambiental, evitando visões reducionistas de preservação da natureza. Para o autor, a educa-
ção ambiental diz respeito a um conjunto de pessoas no universo educativo, envolvendo diversos
sistemas de conhecimento e possibilitando a capacitação de indivíduos e grupos sociais numa
perspectiva interdisciplinar. Assim, um dos desafios é promover uma educação ambiental que seja
crítica e inovadora nos níveis formais e não formais e, acima de tudo, um ato político voltado à
transformação social.
Um dos primeiros passos para esta transformação é, entretanto, a mobilização social e a partici-
pação direta dos envolvidos, a partir do reconhecimento e respeito ao pluralismo e à diversidade
de valores, ideologias e conhecimentos prévios dos participantes desse processo (Toledo, Giatti &
Pelicioni, 2012). Isso porque, conforme Chauí (2008) toda cultura e cada sociedade institui uma
moral, ou seja, valores que concernem ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, mas, tais
regras de conduta são válidas apenas para os membros daquela sociedade.
Nesse sentido, programas educacionais que preconizam ações de educação moral e ética impos-
tas, arbitrárias ou de doutrinação, tendem ao fracasso. Ao contrário, diferentes formas de refletir
sobre cada contexto e realidade devem ser estimuladas a fim de facilitar a construção de novos
valores (Menin, 2002). Isso porque, soluções para os problemas ambientais, em direção à susten-
tabilidade, só poderão ser alcançados se fizerem sentido culturalmente e reconhecerem a diver-
sidade de contextos socioambientais (Markham, Larmer & Ravitz, 2008; Escobar, 2017).
Assim, apesar de avanços teóricos, práticos, legais e institucionais observa-se ainda a ênfase dada
por muitos programas de educação ambiental na mudança de comportamento, o que contribui
para fragilizar as discussões sobre as verdadeiras causas de problemas socioambientais, associa-
das em grande parte ao modelo de consumo e às relações sociais e de poder conflituosas vigentes
(Pelicioni & Philippi, 2014).
Educar implica, portanto, em adesão voluntária, a partir de situações e experiências que estimu-
lem as potencialidades humanas e a consciência crítica e reflexiva, para que, assim, motivados
por este processo os sujeitos possam incorporar conhecimentos construídos em sua prática co-
tidiana e caminhar em direção à almejada sustentabilidade e à transformação social (Pelicioni,
Diante deste contexto, este artigo tem por objetivo promover reflexões sobre limites da educação
ambiental, a partir de resultados de um estudo sobre o descarte de óleo de cozinha, seguido de
oficina de produção de sabão caseiro.
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