Aero Magazine Brasil #356 - Jan24

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BRASIL · ANO 30 · Nº 356 · R$ 25,00 · € 4.00
GUIA DE
COMPRAS
JATOS, TURBO-HÉLICES
E HELICÓPTEROS COM
PREÇOS ATUALIZADOS
ISSN 0104-6233
PERSPECTIVAS: OS RUMOS DA AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRA

AUTÔNOMOS : AVIÕES SEM PILOTO OU SUPERCOMPUTADORES COM ASAS?
SEGURANÇA: A RELAÇÃO ENTRE MANUTENÇÃO E ACIDENTES
NAVEGAÇÃO: COMO FUNCIONA O SISTEMA INERCIAL
STEALTH E UAV: TECNOLOGIAS QUE MUDARAM AS GUERRAS
HENRI BALLOT: O PILOTO DE COMBATE QUE VIROU FOTÓGRAFO
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E D ITO R I A L
UM MERCADO
DIFERENTE
AERO MAGAZINE
M
BRASIL · ANO 30 · Nº 356 · 2024
antendo a tradição, AERO publica em sua primeira edição do
ano o principal Guia de Compras do mercado brasileiro de DIREÇÃO
Publisher
aeronaves de negócios, atualizando os preços e os modelos Christian Burgos - [email protected]
certificados no país entre jatos, turbo-hélices e helicópteros. Em 2024, Diretora de Operações

Christiane Burgos - [email protected]
apesar do fim da pandemia, os desajustes provocados pela crise sanitária,
REDAÇÃO
sobretudo em relação à cadeia de suprimentos, continuam afetando os REVISTA
Editor-chefe
prazos de entrega dos principais fabricantes. Hoje em dia, o tempo de Giuliano Agmont - [email protected]
espera para receber um avião novo pode chegar a dois anos, o que vem DIGITAL
Editor
provocando uma valorização de modelos seminovos, ou seja, aqueles que Edmundo Ubiratan - [email protected]
saíram da linha de montagem há menos de cinco anos. Colaboradores

Alessandro Laender, Cássio Polli, David Clark,
Para quem pensa em trocar de aeronave ou adquirir uma nova, além Fernando Valduga, Francisco Costa, George Ferreira,
Hilton Rayol Filgueira, René Nardi e Teomar Ceretta
da atualização de preços, preparamos uma matéria especial com dicas (texto) e Guilherme Amancio e Luis Neves (fotos)
para os que ainda não escolheram o modelo que pretendem comprar. São ARTE
Diretor de Arte
orientações que diferenciam as principais categorias de aviões e explicam o Ricardo Torquetto - [email protected]
que cada uma delas oferece de melhor para seus operadores. PUBLICIDADE / ADVERTISING
Ainda nesta edição, apontamos as perspectivas da aviação civil [email protected]
+55 (11) 3876-8200 – ramal 11
brasileira, apresentando um retrato atual do mercado e as transformações Representante Comercial Brasil e América Latina
que estão em curso. Entre os temas em pauta destacamos preços das Teresa Rebelo – [email protected]
passagens aéreas, o custo em torno dos combustíveis de aviação e a MARKETING

[email protected]
hiperjudicialização do transporte aéreo, além da volatilidade internacional,
INTERNATIONAL SALES
com conflitos em diferentes regiões do mundo e a eleição presidencial nos Estados Unidos
Inner Publishing - [email protected]
Estados Unidos. Marketing - [email protected]
No âmbito tecnológico, temos três artigos provocadores sobre o futuro. FINANCEIRO

[email protected]
No primeiro, abordamos os veículos aéreos autônomo, deixando no ar
CIRCULAÇÃO
uma pergunta que nos convida a refletir sobre o assunto: serão aviões sem R.Scola Marketing Editorial
tripulantes ou supercomputadores com asas? Também publicamos uma ASSINATURAS

[email protected]
matéria robusta sobre os sistemas inerciais de navegação, que ganharam +55 (11) 3876-8200
relevância diante das notícias de perda de confiabilidade dos sinais via ASSESSORIA JURÍDICA
Machado Rodante Advocacia
satélite. Por fim, temos um artigo de nosso novo colaborador-parceiro, www.machadorodante.com.br
Fernando Valduga, que escreve sobre a evolução das aeronaves furtivas e FALE CONOSCO
[email protected] | + 55 (11) 3876-8200
não tripuladas e seu impacto nos combates aéreos.
IMPRESSÃO
Do futuro para o passado, contamos a história de Henri Ballot, um Grass Indústria Gráfica
piloto franco-brasileiro que ficou famoso como fotógrafo da revista AERO Magazine é uma publicação
mensal da INNER Editora Ltda.
O Cruzeiro depois de combater na Segunda Guerra Mundial. No meio
editorial, ele conheceu o jornalista Armando Nogueira, que o reconduziu www.aeromagazine.com.br
ao mundo da aviação, convencendo-o a comprar um ultraleve. A Inner Editora não se responsabiliza por opiniões,
ideias e conceitos emitidos nos textos publicados e
assinados na revista AERO Magazine, por serem de
inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).
Bom voo,
Giuliano Agmont e Christian Burgos

38
SUMÁRIO
25
14
14 GUIA DE COMPRAS 2014 38 PERSPECTIVAS
Um panorama do mercado de compra Os rumos da aviação civil brasileira

e venda de aeronaves depois da crise durante a pandemia
20 GUIA DE COMPRAS 2024 46 ARTIGO
Veja como escolher seu avião levando Veículos autônomos: aviões sem piloto
em conta os diferentes tipos ou supercomputadores com asas?
25 GUIA DE COMPRAS 2024 50 SEGURANÇA
Preços atualizados dos principais A relação entre a manutenção de uma

jatos, turbo-hélices e helicópteros aeronave e os acidentes
50
58 66
58 TECNOLOGIA
Sistema inercial representa um

procedimento confiável de navegação SEÇÕES
08 NA REDE
66 AVIAÇÃO MILITAR
Jatos furtivos e aeronaves não 82 AEROC LIC K
tripuladas mudaram combates aéreos
74 HISTÓRIA
A saga de um piloto da Segunda

Guerra que virou fotógrafo no Brasil
G550 PARA
AEROSHELL VIRA TITAN
NA REDE
PATRULHA
O AeroShell, tradicional time de MARÍTIMA
acrobacia aérea, famoso por suas
apresentações com os AT-6 Texan, A Fokker Sevices
mudou de nome após vinte anos, Group recebeu da
tornando-se o Titan Aerobatic Team. A agência europeia de
mudança ocorre após o encerramento segurança da aviação
do contrato de patrocínio com a (EASA, na sigla em
AeroShell, a divisão aeronáutica de inglês) o Certificado
combustíveis e lubrificantes da Shell Oil de Tipo Suplementar
Company. A empresa era o principal (STC) relacionado pela Gulfstream de sua planta
apoiador da equipe desde 2003. A a um projeto de missão especial industrial, em Savannah, nos Estados
equipe acrobática agora passa a ter o conduzido em parceria com a Unidos, sem o interior padrão
apoio da Titan Aviation Fuel, um dos Gulfstream Aerospace e a Marubeni executivo. A Fokker e seus parceiros
principais fornecedores de combustível Aerospace em um projeto conduzido foram responsáveis pela instalação
aeronáutico dos Estados Unidos. A pela Guarda Costeira do Japão. O dos sistemas e equipamentos de
mudança no patrocinador também certificado envolve a conversão total vigilância. A instalação do sistema
representa uma mudança no esquema de um Gulfstream G550 no padrão de de vigilância marítima envolveu um
visual dos AT-6, que vão ganhar as uma aeronave de vigilância marítima, complexo processo de modificação
cores azul, vermelho e branco, além que apoiará os esforços do Japão na e conversão da estrutura do G550,
das inscrições da Titan Aviation Fuel monitorização de riscos ambientais incluindo um radar ventral e consoles
na fuselagem. O time foi criado em e missões de busca e salvamento de internos. O avião agora passará
1984 como North American Aerobatic pessoas e embarcações desaparecidas. pela campanha de ensaios e testes
Team (NAAT), o nome oficial, embora O G550 foi entregue diretamente previstos antes da certificação.
não utilizado comercialmente, por
Alan Henley e Steve Gustafson. Um
dos principais destaques foi a escolha
dos T-6 Texan como avião acrobático, PROTEÇÃO CONTRA FALÊNCIA
que oferece excelentes características
do veterano treinador, conhecido nos Com problemas de fluxo de caixa, a Van’s Aircraft, tradicional fabricante
Estados Unidos como Pilot Maker de kits de aviões experimentais, entrou com um pedido de proteção contra
(criador de pilotos, na tradução literal). a falência sob o Capítulo 11 da lei norte-americana. A empresa há vários
A equipe se tornou notória por seus meses vem enfrentando uma série de problemas, a maioria decorrente
shows aéreos noturnos, os quatro AT-6 dos impasses na cadeia de suprimentos causados pela crise sanitária de
voam em formação cerrada e realizam 2020. Além disso, um lote de Primer (tinta de fundo) defeituoso gerou
diversas manobras, contanto ainda a corrosão não programada em kits em fabricação, assim como uma
com um esquema especial de luzes. A falha no corte de peças recortadas a laser comprometeu a própria linha
expectativa é que as apresentações sob de produção. A expectativa é que o fabricante apresente um plano de
o novo nome comecem em meados de reestruturação, que deverá ser analisado e então aprovado pela justiça
março de 2024, quando comemoram norte-americana. A proposta ainda apresenta detalhes sobre como a
os 40 anos de formação do time. Van’s Airctaft planeja lidar com clientes que tenham sido ou possam ser
No calendário, já estão confirmadas afetados pelo ingresso no Capítulo 11. Ainda que tenha entrado com
presenças em Sun ‘n Fun, que ocorre pedido de concordata, a Van’s Aicraft afirma que tem estoque para atender
nos arredores de Orlando, entre os os pedidos realizados por um período entre doze e dezoito meses. A
dias 9 e 14 de abril, assim como no Van’s planeja contactar os clientes que receberam kits com problemas
Airventure, que acontecerá entre os dias nos cortes das peças, avaliando o melhor caminho a ser adotado, o que
22 e 27 de julho, em Oshkosh. inclui a substituição dos componentes defeituosos. O próprio fabricante
estima que ao menos 1.800
consumidores foram afetados
pelos problemas de corte
das peças. A expectativa é
solucionar todos os casos até
o final de 2024. Já os clientes
com pedidos em aberto,
cujo contrato prevê eventual
atualização de preços, o que
deverá ocorre por força da alta
dos custos e inflação, também
devem receber o contato da
Van’s Aircraft.
8 | MAGAZINE 3 5 6
FALCON 6X EM OPERAÇÃO
O recém-certificado Dassault Falcon 6X entrou em operação. O
novo avião francês oferece alcance de até 5.500 milhas náuticas
(10.200 quilômetros), permitindo voar sem escalas entre São
Paulo e Toronto, por exemplo, agregando uma cabine com 2,58
metros de largura e 1,98 metro de altura, uma das mais amplas
da categoria. Com 12,30 metros de comprimento, é possível
instalar até três zonas de cabine.
AW139 COM SAF

A Leonardo e a Pratt & Whitney Canada anunciaram a
conclusão bem-sucedida do primeiro voo de um helicóptero
intermediário AW139 equipado com motores PT6C-67C,
utilizando 100% de combustível de aviação sustentável. O feito
foi realizado nas instalações do fabricante, na Itália. Foram
QUREROSENE CARO avaliados o desempenho do motor com múltiplas variações
de potência e outros sistemas, o que foi classificado como
A Associação do Transporte Aéreo Internacional (Iata,
excepcional e sem diferenças significativas em comparação com
na sigla inglês) solicitou junto ao governo brasileiro
o combustível Jet A1. Mais de 1.100 AW139 estão em serviço
ajustes na precificação do querosene de aviação (QAv),
em todo o mundo, com quase quatro milhões de horas de voo
um dos mais alto do mundo. A entidade questiona
registradas até o momento.
junto a autoridades federais, o monopólio e as despesas
adicionais cobradas pela Petrobras e a carga da estrutura
tributária do país, evidenciando um dos principais
desafios da indústria aérea brasileira. Os custos atrelados
ao QAv correspondem a cerca de 40% das despesas
das companhias aéreas brasileiras, 10% maior do que a
média mundial, e é um dos fatores preponderantes para
diminuir as tarifas e popularizar o acesso ao modal aéreo,
5 MILHÕES
segundo a Iata. A disparidade dos preços praticados
diminui a capacidade de investimento das empresas
aéreas, frente concorrentes estrangeiras e impede que o
setor seja mais agressivo nas tarifas. Além do combustível,
a desvalorização do real frente ao dólar é outro fator
determinante no preço final das passagens. Fundamental
para a integração do país, o setor movimentou US$ 27,5
bilhões e gerou 1,1 milhão de empregos, no ano passado.
Segundo dados da IATA, a média de voos per capita É o número de passageiros transportados
no Brasil é de 0,4 viagem por ano, ou seja, o brasileiro pela Omni Táxi Aéreo ao longo de 22
precisa de mais de dois anos para embarcar em um avião, anos de operação offshore no Brasil,
enquanto um norte-americano faz em média 2,6 viagens atendendo bases petroleiras
por ano. distantes do litoral do país.
MAGAZINE 3 5 6 | 9
NA REDE
FESTA EM GOIÁS
CEM AVIÕES CONGESTIONA
A Daher entregou o centésimo TBM abril de 2022, OS ARES
960, marca atingida pouco mais de a série 960 é a
um ano e maio após o lançamento da quinta evolução Uma festa promovida pelos
aeronave. O avião foi entregue nos da família donos da JBS congestionou
Estados Unidos para um operador da TBM 900, que os ares no entorno de uma
Califórnia, que substituiu um modelo a recebeu uma fazenda no munícipio de
pistão pelo turbo-hélice avançado e de série de melhorias, incluindo o motor Aruanã, no interior de Goiás,
alto desempenho. O centésimo TBM 960 turboélice PT6E-66XT, equipado com na região Centro-Oeste. Com
foi recebido por Kevin Kaseff, presidente hélices Raptor, de material composto, mais de mil convidados, a
do Titan Real Estate Investment Group, de cinco pás da Hartzell Propeller. intensa movimentação para
uma empresa privada de investimento Além disso, ainda conta com o sistema a propriedade localizada
imobiliário comercial. Os modelos batizado de e-copilot que oferece proteção a quinhentos quilômetros
monoturboélices são amplamente contra congelamento; monitoramento de Brasília provocou uma
utilizados por empresários e profissionais do envelope de voo através dos forte procura por voos
liberais nos Estados Unidos, que se sistemas Eletrônicos de Estabilidade privados, resultando na
beneficiam da velocidade e menor e Proteção (ESP) e de Sub-velocidade indisponibilidade de locação
tempo de deslocamento dos aviões, que (USP); função Modo de Descida de de aviões na capital federal,
oferecem custos operacionais compatíveis Emergência (EDM); e pouso autônomo um dia antes dos festejos.
com carros de luxo. Na configuração de emergência HomeSafe, baseado no Além dos voos particulares,
de velocidade de cruzeiro recomendada sistema da Garmin. O avião ainda recebeu foram fretados dois ATR 72-
pela Daher, de 308 nós, o consumo de melhorias nos sistemas de cabine, como 600 da Azul Linhas Aéreas,
combustível do TBM 960 é de apenas 215 iluminação ambiente de LED integrada transportando convidados
litros por hora. Voando com 290 nós, em e eletronicamente controlados, persianas com origem no aeroporto
uma hora é possível viajar por mais de de janelas reguláveis de forma remota, internacional de Guarulhos, na
530 quilômetros, com consumo próximo assentos ergonomicamente aprimorados, Grande São Paulo. A fazenda
de um SUV de grande porte. O TBM tomadas de alimentação USB-A e USB-C, Santa Luzia conta com uma
960 é a mais recente evolução da linha de além de porta-copos individuais e pista (18-36) com dois mil
produtos de turbo-hélices monomotores suportes para fones de ouvido para cada metros de comprimento por
da Daher. Lançado comercialmente em ocupante. trinta metros de largura,
podendo receber aeronaves
de diversas categorias, desde
pequenos monomotores a
pistão até modelos regionais,
GRAND CARAVAN como o caso do ATR, com as
REMOTORIZADO operações sendo permitidas
de forma visual (VFR diurno).
A empresa de serviços, O aeródromo conta também
manutenção e reparos com dois hangares. Para
TAM Aviação Executiva receber o grande volume de
anunciou que concluiu aeronaves, procedimentos
a primeira instalação do seguindo regras visuais para
novo motor que equipa o pouso em ambas as cabeceiras
Cessna 208 Grand Caravan. foram criados, incluindo uma
O turbo-hélice utilitário da frequência de coordenação do
Textron Aviation equipado tráfego.
originalmente com o motor
Pratt & Whitney PT6A-114 recebeu o novo PT6A-140, aumentando a capacidade e os
níveis de desempenho, mantendo a estrutura e as características operacionais do avião.
O conjunto de melhorias destinado ao Grand Caravan é desenvolvido pela norte-
americana Blackhawk Aerospace, e proporciona uma melhora de 37% na taxa de subida,
aumento da velocidade máxima de cruzeiro para 195 nós, ou 355 quilômetros por hora.
A modificação permite que o monomotor opere em mais aeródromos, com redução de
22% na distância necessária para decolagem. Mais eficiente, o novo motor designado
comercialmente como XP140 aumenta o tempo entre revisões (TBO, na sigla em inglês)
de 3.600 para 4.000 horas.
10 | MAGAZINE 3 5 6
REGRAS REFORMULADAS PARA SHOWS AÉREOS

A Agência Nacional de Aviação tem acesso à área operacional em complexidade, por possibilitarem
Civil (ANAC) reformulou a regra que o voo acontece, como a área de acesso do público à área operacional,
de autorização para a realização de movimento de um aeródromo, e devem contar ainda com um diretor
eventos aéreos com aeronaves de que tenha a participação de apenas de Infraestrutura na comissão
asa fixa ou rotativa. A atualização um piloto ou uma esquadrilha. Para organizadora. Esse profissional
consta na revisão C da Instrução esses casos, segundo a ANAC, o deverá planejar e controlar o acesso
Suplementar IS 91-008, que entrou requerente deve estabelecer uma das pessoas ao local, assim como
em vigor em 2024. Ela classifica os comissão organizadora composta garantir todo o apoio a emergências,
eventos em alta e baixa complexidade por um coordenador geral e um caso ocorram. A autarquia disse
e define procedimentos combinados diretor de Operações e Segurança ainda que a maior exposição ao risco
com o risco que a operação oferece. de Voo, responsáveis por zelar pelo também traz exigências adicionais aos
A maior mudança foi a definição do cumprimento das normas, pela responsáveis, que deverão garantir
evento aéreo de baixa complexidade, segurança do público e dos voos a maior segurança ao público presente
como aquele em que o público não serem realizados. Os eventos de alta durante todo o evento.
SEM PORTA
Um Boeing 737 MAX 9 da Alaska
Airlines sofreu uma descompressão
depois que uma das portas de
emergência se desprendeu da
aeronave ao decolar de Portland,
nos Estados Unidos. A aeronave
de matrícula N704AL, que estava
em operação havia pouco mais de
dois meses, seguiria para Ontário
(ONT), no estado da Califórnia,
com 177 pessoas a bordo. O
piloto conseguiu retornar em
segurança após a descompressão.
Alguns objetos, como telefones
celulares e roupas, segundo relatos
de passageiros, chegaram a ser
tragados para fora, mas não houve
feridos. A Boeing, o Conselho
Nacional de Segurança nos Transportes dos Estados Diretiva de Aeronavegabilidade de Emergência (EAD),
Unidos (NTSB) e o regulador da aviação do país (FAA) que afetará pelo menos 171 aviões no mundo, que cita uma
confirmaram que irão investigar o caso. A FAA ordenou “potencial perda durante o voo de um tampão da porta
uma suspensão temporária dos voos operados com o central da cabine, o que pode resultar em ferimentos aos
Boeing 737 MAX 9 no país e inspeções imediatas. Uma passageiros e tripulantes, e na perda de controle do avião”.
MAGAZINE 3 5 6 | 11
NA REDE
NOVA CARGUEIRA cargueiro em abril de

A Total Express, nova companhia 2019. A rota entre as
aérea cargueira brasileira, iniciou suas duas capitais é uma
operações comerciais. Em princípio, das mais lucrativas
será disponibilizada a rota ligando o na aviação de carga
aeroporto internacional de São Paulo brasileira. Ela está
(GRU) a Manaus (MAO), de quatro a em evidência nos
cinco frequências semanais, utilizando o últimos meses, por conta da seca nos rios
EPIC NO BRASIL Boeing 737-300F de matrícula PS-TOT, da Amazônia, causada pelo fenômeno
A Epic Aircraft anunciou que está em operação desde 1991, com El Niño, o que praticamente inviabiliza
que o turbo-hélice E1000 GX passagem no transporte de passageiros o transporte fluvial, uma alternativa ao
recebeu o certificado de tipo da pela Lufthansa, sendo convertido em modal aéreo.
Agência Nacional de Aviação
Civil (ANAC), possibilitando
as operações do monomotor
no mercado brasileiro. A
AVIÔNICA SUPERSÔNICA
autorização permite a Epic A Boom Supersonic, que trabalha no de tecnologia
iniciar as entregas do E1000 desenvolvimento do Overture, um para uso no
GX no país, incluindo as duas avião comercial supersônico para até simulador de
primeiras unidades dos 34 80 passageiros, segue buscando novas voo. Overture
aviões encomendados pela parcerias estratégicas. Recentemente, a obteve o
Avantto, empresa brasileira do empresa confirmou a escolha da suíte de compromisso
segmento de compartilhamento aviônicos Anthem, da Honeywell, que de compra
de aeronaves e voos executivos. agrega uma série de funções avançadas e da American
O certificado foi obtido pode ser amplamente personalizada para Airlines, United
após oito meses de trabalhos cada aplicação. Ainda que o Overture esteja Airlines e Japan
conjuntos entre a fabricante em fase avançada de desenvolvimento, as Airlines. O
e os reguladores brasileiros. imagens divulgadas de mock-up digitais, primeiro voo da
A adição do turbo-hélice exigem o cockpit com a suíte Anthem, suíte Anthem ocorreu em maio, quando foi
possibilitará a Avantto iniciar com três displays com interface sensível instalado em um turboélice Pilatus PC-12,
operações em diversas bases ao toque. Além disso, também deverá ser usado pela Honeywell como laboratório de
do interior do país, com instalado o Anthem Mission Manager, que ensaios em voo. A previsão é que o sistema
destaque para as regiões com gerencia todos os eventos previstos no voo esteja certificado nos próximos meses. Já o
forte presença do agronegócio, e o tempo restante para cada um deles. O Overture ainda depende de uma série de
como cidades localizadas no sistema permite coordenar de forma mais questões, como a validação do seu projeto
Mato Grosso, Goiás e Bahia. eficiente fases como voo de cruzeiro, descida, aerodinâmico, que promete reduzir o
Equipado com o motor Pratt aproximação, entre outros. O acordo firmado estrondo sônico, assim como a definição do
& Whitney PT6A-67A e uma entre a Boom e a Honeywell prevê, além da motor. A expectativa é que o primeiro voo
hélice composta por cinco suíte de aviônicos do avião, o fornecimento ocorra em meados de 2027.
pás da Hartzell, o E1000 GX
pode atingir velocidade de
333 nós, ou 617 km/h, com PILATUS EXPANDE NOS EUA
alcance máximo de 1.560 Unidos. Sob os termos da transação que será
milhas náuticas, o equivalente A Pilatus Aicraft assinou a aquisição das concluída em 2024, o Grupo Pilatus assumirá
a 2.890 quilômetros, com teto operações de vendas e manutenção do centro as operações de manutenção e reparos
de serviço de 34.000 pés, 10.363 de serviços da Aero Center Epps, no aeroporto (MRO), e as vendas de aviões para toda a costa
metros de altura, com seis DeKalb-Peachtree, em Atlanta, nos Estados Sudeste dos EUA. O negócio visa aprimorar
ocupantes a bordo. O conjunto a qualidade do suporte aos operadores do
de aviônicos Garmin G1000 monomotor turboélice PC-12 e do bimotor
NXi, conta com o sistema de PC-24 na região, incluindo o fornecimento
controle de voo automatizado de peças, componentes, aviônicos, além das
Garmin GFCTM 700, atividades de vendas. A Epps controlada pela
permitindo ao modelo voar em SAR Trilogy Management manterá a prestação
espaços aéreos com separação de serviços aeronáuticos como operador
vertical mínima reduzida fixo (FBO, na sigla em inglês), no aeroporto
(RVSM). executivo de Atlanta.
12 | MAGAZINE 3 5 6
A PRINCIPAL REVISTA DE AVIAÇÃO DO BRASIL

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aeromagazine Aero Magazine

G U I A D E COM PR A S 202 4
A BOLHA DAS
AERONAVES
SEMINOVAS
Um desequilíbrio entre oferta e procura tem
levado a filas de espera de dois anos ou mais
para se adquirir aviões ou helicópteros de
fábrica, valorizando modelos usados
P O R | CÁSSIO POLLI*, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
O
s mercados médio de 10% nas vendas, em disponível até o fechamento
globais seguem número de entregas de aero- desta edição).
se ajustando naves novas, nos três primei- Ainda assim, em uma
ao cenário ma- ros quartos do ano, segundo análise de movimentos, dados
croeconômico, a Associação dos Fabricantes financeiros e realidade dos
ainda impactados por confli- da Aviação Geral (GAMA, na principais fabricantes da
tos internacionais, juros altos, sigla em inglês), cujo relatório aviação de negócios, apura-se
inflação e, principalmente, anual completo, com números que a indústria apresenta um
problemas na cadeia de supri- de aeronaves vendidas por elevado “backlog” (pedidos re-
mentos. No entanto, mesmo fabricante, categoria, regiões, presados, pendentes), que es-
encontrando desafios, comuns unidades entregues e valores, é tão impactando nos prazos de
à maioria dos setores, a avia- publicado no mês de fevereiro entrega, em muitos casos, já
ção geral reagiu bem em 2023, (a edição 2023, incluindo o superiores a dois anos. Além
computando um aumento quarto trimestre, não estava desse descasamento entre ven-
16 | MAGAZINE 3 5 6
BRASIL REGISTROU O
MAIOR CRESCIMENTO DE
MILIONÁRIOS EM TODO
O MUNDO E FUNDOS DE
SUPER-RICOS DO PAÍS
TIVERAM AUMENTO
DE 20%
da TC/Economatica. Tais
números não apresentam
relação direta com a entrada,
o uso, a propriedade ou a ope-
ração de aeronaves privadas,
mas, quando associados aos
setores da economia que re-
presentam, ilustram o poten-
cial do Brasil no mercado da
aviação geral.
A América Latina apre-
sentou crescimento consecu-
tivo nos últimos três anos no
ranking de entregas de aero-
naves novas, totalizando perto
de 250 unidades em 2022. O
Brasil, por sua vez, teve 607
aeronaves matriculadas no Re-
gistro Aeronáutico Brasileira
(RAB/Anac) em 2022 e 671
matriculadas em 2023. Mesmo
que esse número englobe
das e entregas (“book-to-bill”), milhão de dólares) em todo novos e usados de todas as
tem-se constatado adiamentos o mundo, passando de 293 categorias, dá uma clara sina-
nas entregas atuais de aerona- mil em 2021 para 413 mil em lização do surgimento de uma
ves novas e em certos fabri- 2022, segundo o Relatório de onda ou bolha de pre-owned,
cantes, com atrasos superiores Riqueza Global 2023 (Global ou seja, do mercado de reven-
a seis meses. Wealth Report 2023) do da de aeronaves seminovas e
banco UBS – dados de 2023 usadas, para suprir a demanda
MAIS MILIONÁRIOS E permanecem indisponíveis. da pronta entrega.
SUPER-RICOS Paralelamente, o patrimônio
Embora não seja a realidade em fundos dos super-ricos A BOLHA DO PRE-OWNED
da maioria de seus habitantes, brasileiros (riqueza acima Essa tendência do setor
o Brasil teve o maior aumen- de 50 milhões de dólares) de aviação geral já havia
to de milionários (aqueles aumentou 20% nos últimos sido apontada em 2022 e
com riqueza acima de um cinco anos, conforme estudo evidenciada nesse mesmo perí-
MAGAZINE 3 5 6 | 17
odo de 2023. Alguns profissio- A DINÂMICA DO to, esse cenário mudou, devi-
nais do setor, entidades afins e MERCADO DE USADOS do ao backlog com previsões
mesmo clientes finais ventila- Sim, é verdade que novo de entrega chegando a 2026,
ram hipóteses de normalização é novo, mas aguardar por os usados se tornaram a bola...
desse cenário, relacionados ao uma posição zero de fábrica ou melhor, a aeronave da vez,
prazo de entrega dos novos, por um, dois ou mais anos, e os preços de aquisição dos
mas, com a demanda supe- tornou-se opção para quem usados se valorizaram.
rior à capacidade produtiva não tem uma necessidade Existe uma segmentação,
da indústria, o resultado se imediata de deslocamento classificada como de “semino-
acentuou na falta de inventário aéreo executivo, já tem uma vos”, que vai de zero a cinco
e ágio nos preços das aerona- aeronave ou está atendido por anos, principalmente se manti-
ves seminovas e usadas nesses fretamento ou propriedade ver uso exclusivamente execu-
últimos 24 meses. Na prática, compartilhada. Se o interessa- tivo com baixas quantidade de
o que se observa em uma do ou a atividade requerem as horas voadas. Nela a aeronave
amostragem de dez comprado- conveniências de uma aerona- ainda mantém garantias de
res potenciais é que oito deles ve de negócios e precisa dela a fábrica e despesas reduzidas
optaram por aguardar, adiando pronta entrega, a solução está com manutenção programada.
a compra, enquanto dois destes no mercado de usados. Do sexto ao décimo ano em
vieram para o jogo, negociar, Em outros momentos, diante, já entra efetivamente na
e um, efetivamente, comprou. principalmente anteriores à classificação de usados. Acima
Esse movimento repetido em pandemia, um dos apelos para dessa faixa, com aeronaves
escala mundial, deu início e compra de uma aeronave usa- realmente mais velhas, de 15,
está mantendo essa “bolha da era a possibilidade de se ter 20 ou mais anos, a atenção
do pre-owned”, que atende à um custo de aquisição mais deve ser redobrada, em vários
necessidade imediata de uma baixo, bem inferior ao de uma aspectos: físicos, documentais,
aeronave. aeronave nova. Hoje, entretan- procedência, operacionais
18 | MAGAZINE 3 5 6
(histórico de operação e itens a serem verificados e à pronta entrega, mostram

manutenção), se tem acidentes preferencialmente, ter um téc- um sinal de que o mercado
ou incidentes, corrosão etc. nico de confiança contratado, global de aeronaves usadas
acompanhando o processo. experimente um crescimen-
O BARATO QUE CUSTA CARO A exemplo de outros paí- to significativo entre 2024
Com esse incremento das ses, foi constituída no Brasil, e 2027/28 ou, ao menos,
atividades de revenda de aero- há cinco anos, a Associação não antes que a indústria
naves, tem surgido muitas “as- de Empresas Revendedoras solucione ou aproxime esses
sessorias de compra e venda” de Aeronaves (AERA), que dois indicadores da equação:
sem o devido preparo. Fique tem como objetivo zelar pelas pedidos/vendas versus prazo
atento. Existe uma série de boas práticas no “trade” de de entrega.
preocupações e proteções, que aeronaves, atribuindo segu-
vão desde as formalizações rança, ética e confiabilidade * Broker de aeronaves e ava-
iniciais, contrato de compra e nas operações. Nesse sentido, liador certificado pela ASA
venda, inspeção de pré-com- recomenda-se fortemente (American Society of Apprai-
pra, atualizações regulatórias, eleger um agente idôneo, para sers) e pela USPAP (the Uni-
traslado, seguro, validação de representar seus interesses form Standards of Professional
modificações em aeronaves nessa bolha de aquisições pre- Appraisal Practice - Normas
importadas, até a nacionaliza- -owned, a fim de evitar dor de de Padronização e Práticas de
ção e transferência do título. cabeça e prejuízos de tempo e Avaliação Profissional), Cássio
Os processos domésticos recursos. Polli dirige a Aerie Aviação
requerem a mesma atenção, Neste contexto da aviação Executiva e acumula 20 anos
para questões relacionadas de negócios, as longas filas de dedicados exclusivamente ao
principalmente à inspeção de espera por aeronaves novas, trade de aeronaves de negó-
pré-compra, desde a definição desalinhadas com a alta de- cios, compra, venda, importa-
e aprovação do escopo dos manda e a procura por opções ção e exportação.
MAGAZINE 3 5 6 | 19
G U I A D E COM PR A S 202 4
DICAS PARA
ADQUIRIR SUA
AERONAVE
Cada categoria oferece vantagens únicas e encontrar o
equilíbrio é a chave para tomar uma decisão alinhada às
suas necessidades entre as diferentes opções
POR | DAVID CLARK*, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
I
nvestir em uma aeronave rá informações sobre diferentes das. Os preços variam e estão
particular é uma decisão categorias de aeronaves priva- mudando agora que a apreen-
significativa que requer das, incluindo bimotores leves a são em torno da pandemia está
considerações cuidadosas pistão, turbo-hélices monomo- diminuindo. Portanto, certifi-
de vários fatores. Quer você tor, turbo-hélices multimotor, que-se de utilizar os serviços de
seja um entusiasta experiente jatos leves, médios, supermé- um profissional para ajudar a
da aviação ou um comprador dios e grandes\de ultralongo classificar suas escolhas e orien-
de primeira viagem, é crucial alcance. Considerações adicio- tá-lo durante o processo. Aqui
escolher a aeronave certa que nais em um país como o Brasil estão algumas opções para você
atenda a suas necessidades e são a disponibilidade de peças considerar ao planejar suas
preferências. Este guia abran- e serviços e a capacidade de necessidades de mobilidade em
gente de compradores fornece- operar em pistas não prepara- 2024 e além.
1
Bimotor a pistão leve
As aeronaves leves com dois motores a
pistão são populares entre os proprietá-
rios privados por sua versatilidade e economia.
Esses aviões normalmente acomodam de dois
a cinco passageiros e oferecem um alcance de
cerca de 600 a 1.500 quilômetros. Exemplos de
bimotores a pistão leves incluem o Beechcraft
Baron, Piper Seneca e Diamond DA62.
Considerações:
• Eficiência de combustível: baixos custos opera-
cionais devido ao baixo consumo de combus-
tível.
• Aviônica: os aviônicos modernos melhoram a
segurança e a navegação.
• Custos de manutenção: aeronaves usadas bem
conservadas oferecem custos de manutenção
mais baixos e aeronaves novas terão garantias
para cobrir reparos.
• Preço típico: US$ 400 mil a US$ 1,2 milhão.
2
Turbo-hélice monomotor
Aeronaves turbo-hélices monomotoras en-
contram um equilíbrio entre eficiência e de-
sempenho. Modelos como as séries Pilatus PC-12,
Piper Meridian e Daher TBM são conhecidos por
sua velocidade, alcance e capacidades de pouso em
pistas curtas. Como todos utilizam o motor da série
Pratt & Whitney PT6, suas peças e serviços estão
prontamente disponíveis no Brasil, onde milhares
desses motores operam todos os dias.
Considerações:
• Desempenho: velocidades de cruzeiro, alcance e
distâncias de decolagem/pouso são grandes pon-
tos positivos nesta categoria. Eles normalmente
se equiparam em velocidade e alcance com jatos
leves e bimotores a pistão.
• Conforto da cabine: O tamanho da cabine, a
capacidade de assentos e as comodidades são
melhores do que os bimotores a pistão. O Pilatus
PC12, por exemplo, oferece o mesmo assento
de um jato leve e possui amplo espaço de carga
traseiro.
• Custos operacionais: as despesas com eficiência
de combustível e manutenção são razoáveis
quando calculadas com base no custo por hora
ou no custo por quilômetro. Esta é talvez a
maior vantagem desta classe de aeronave (efi-
ciência).
• Preço típico: US$ 1,5 milhão a US$ 4,5 milhões.
MAGAZINE 3 5 6 | 21
4
Jatos leves vantagem do ponto de vista
Os jatos leves, incluindo de segurança e conforto.
a série Cessna Citation • Comodidades da cabine: o
CJ, Embraer Phenom 100 e conforto e as características
300 e HondaJet, são ideais do interior da cabine dos
para indivíduos ou pequenos passageiros em um jato leve
grupos que necessitam de e moderno rivalizam com
viagens eficientes em jatos. os de jatos maiores, com
Essas aeronaves geralmente banheiros pequenos, mas
acomodam de seis a oito pas- fechados, internet a bordo,
sageiros e oferecem autono- áreas de armazenamento de
mias de 1.500 a 2.500 quilô- refeições na cozinha e assen-
metros. Esta é geralmente a tos de couro reclináveis.
classe de jato adquirida por • Custos operacionais: a eficiên-
grupos que desejam iniciar cia de combustível continua a
sua primeira experiência com melhorar nesta classe de ae-
aviões a reação. A maioria ronave e oferece grande valor.
pode ser operada por um só Embora consumam mais do
piloto (single-pilot). que um turbo-hélice, os jatos
leves, por sua vez, passam
Considerações: menos tempo no ar, de modo
• Velocidade e alcance: as que a diferença não é tão
velocidades de cruzeiro das grande em viagens com mais
aeronaves estão geralmente de uma hora de duração.
na faixa de 700 a 800 quilô- • Manutenção: o desempenho
metros por hora, e as capaci- nesta categoria é normal-
dades de alcance são nor- mente coberto por um
3
Turbo-hélice multimotor
Aeronaves turbo-hélice multimotor, malmente de 1.500 a 3.000 programa de motor ou fuse-
como a série King Air, oferecem quilômetros. Essas aeronaves lagem, que funciona como
maior potência e capacidades aprimora- também são capazes de uma apólice de seguro contra
das em comparação com suas contrapar- superar as condições climá- custos inesperados.
tes monomotores. Essas aeronaves são ticas, voando a 41 mil pés, • Preço típico: US$ 1 milhão a
adequadas para viagens regionais e podem proporcionando uma grande US$ 5 milhões
acomodar de seis a nove passageiros.
Considerações:
• Desempenho: A combinação de velo-
cidade, alcance e capacidade de carga
dessas aeronaves é a razão pela qual são
best-sellers há décadas.
• Conjunto aviônico: os aviônicos modernos
melhoram a navegação e a comunicação
e, muitas vezes, excedem os equipamen-
tos encontrados nos aviões comerciais
modernos.
• Economia operacional: a eficiência de
combustível e os custos operacionais gerais
são difíceis de superar com esse tipo de ae-
ronave. Para distâncias de 1.000 a 1.800
quilômetros, a série King Air oferece ótima
combinação de eficiência, velocidade e
conforto. Em viagens curtas de uma hora
ou menos, o King Air é quase tão rápido
quanto um jato leve, com 60% do custo
operacional.
• Preço típico: US$ 1 milhão a US$ 5 mi-
lhões.
22 | MAGAZINE 3 5 6
5
Jatos de médio porte
Modelos como Lear 60,
Gulfstream G200 ou
Hawker 800XP proporcionam
maior desempenho com alcan-
ce, velocidade e capacidade de
passageiros. Com capacidade
para seis a oito passageiros, estes
jatos são adequados para viagens
regionais mais longas. Essas aero-
naves oferecem capacidade sem
escalas no Brasil e na maior parte
da América do Sul. Geralmente,
esses são o passo seguinte para
os operadores que saem dos jatos
leves e passam para o próximo
nível de alcance e conforto.
Considerações:
6
• Alcance e velocidade: o alcance Jatos supermédios titudes máximas podem atingir 43
ideal para aeronaves de médio Nesta categoria encontramos mil pés, o que está bem acima da
porte está na faixa de 2.000 a aeronaves como o Gulfs- maioria das condições climáticas e
3.800 quilômetros, com veloci- tream G280, Dassault Falcon 2000, do tráfego.
dades na faixa de 900 quilô- Bombardier Challenger 300\350 • Aviônica e conectividade: a aviôni-
metros por hora, rivalizando e Cessna Citation Latitude. Essas ca avançada inclui visão sintética,
com as velocidades dos aviões aeronaves oferecem alcance e de- Head Up Display (HUD), internet
comerciais. sempenho internacionais, tornan- via satélite e CPDLC (mensagens
• Configuração da cabine: o do-as adequadas para voos sobre a de texto entre controladores e pilo-
layout é de quatro assentos vol- água. Muitas operadoras brasileiras tos). Essas capacidades de última
tados para a frente, um de fren- utilizam esse tipo de aeronave para geração excedem a maioria dos
te para o outro (uma disposição chegar aos Estados Unidos ou à aviões comerciais do mundo hoje.
“clube”) e dois assentos voltados Europa com uma escala. Essas • Conforto e amenidades: os layouts
para a frente, na parte traseira. aeronaves normalmente acomodam incluem dois conjuntos de quatro
Muitas vezes o lavatório trade oito a dez passageiros. Quase assentos (clube duplo), ou clube
seiro possui assento com cinto todas as aeronaves dessa classe dianteiro com divã e dois assentos
para um passageiro adicional utilizam um programa de motor e traseiros. Essas cabines são nor-
em viagens curtas. Todas essas fuselagem para distribuir os custos malmente verticais – confortáveis
aeronaves e superiores reque- por hora e reduzir os riscos de um para qualquer pessoa com dois
rem dois pilotos. evento grande e inesperado que às metros de altura ou menos. Todos
• Eficiência operacional: embora vezes pode exceder um milhão de possuem piso plano nesta classe,
motores maiores queimem mais dólares, como revisões de motor ou tornando a movimentação pela ca-
combustível, eles são eficientes reparos de danos. bine muito confortável para todos.
pelo que oferecem ao transpor- A capacidade de bagagem vem em
tar de seis a oito pessoas com Considerações: compartimentos de bagagem exter-
conforto a 41 mil pés. • Capacidades transcontinentais: o nos ou acessíveis durante o voo.
• Preço típico: de US$ 2 a 6 alcance típico nesta categoria é de • Preço típico: de US$ 12 a 20 mi-
milhões. 3.500 a 4.800 quilômetros. As al- lhões.
MAGAZINE 3 5 6 | 23
7
Jatos grandes e tro zonas, bem como a série jato bimotor leve e versátil ou
de ultralongo alcance Global 5000-6000. Os novos um jato de ultralongo alcance
Grandes jatos, incluin- G700 e Global 7500 são com capacidades incompa-
do o Gulfstream 550-650, o aeronaves de quatro zonas, ráveis, isso requer pesquisa
Bombardier Challenger 605 e além de uma área dedicada completa e consulta com
as séries Global, bem como o de descanso da tripulação. especialistas em aviação para
Dassaul 6X, 7X, 8X e 900LX, • Opções de personalização: oferecer as melhores opções
são projetados para viagens a personalização existe de acordo com seus termos.
de longo alcance e podem nesta classe de aeronave Certifique-se de contratar um
acomodar grupos maiores como nenhuma outra. Não profissional experiente que
de passageiros, variando de existem duas aeronaves fa- também possa encaminhá-lo
12 a 19 passageiros. Estes são bricadas iguais – cada uma para especialistas técnicos,
os melhores dos melhores, com configurações, cores e advogados de aviação, opções
com verdadeira capacidade texturas exclusivas ao gosto de financiamento e seguros.
intercontinental sobre a água. do proprietário. O céu é o O consultor de aviação é a
limite – desde quartos pri- sua porta de entrada para
Considerações: vados a chuveiros e áreas de os melhores profissionais da
• Capacidades globais sobre a estar que imitam os espaços aviação, todos dedicados ao
água: estas aeronaves ligam de vida da família proprie- seu sucesso. Tenha em mente
as principais capitais mun- tária da aeronave. que cada categoria oferece
diais em 12 a 14 horas. Eles • Preço típico: de US$ 15 a vantagens únicas, e encontrar
voam rotineiramente de cinco 35,0 milhões. o equilíbrio perfeito é a chave
a nove mil quilômetros sem para tomar uma decisão bem
escalas. CONCLUSÃO informada e alinhada às suas
• Espaço e layout da cabine: são Selecionar a aeronave parti- necessidades de aviação pesso-
divididos em “zonas”, cada cular certa envolve conside- al ou executiva. Entre cerca de
uma deleas tendo uma fina- rar vários fatores, incluindo duzentas opções de aeronaves
lidade (estar, jantar, dormir). suas necessidades de viagem, existe a melhor para você.
Enquanto o Challenger 605 orçamento e preferências
possui duas zonas, a série pessoais de comodidades. * David Clark é diretor-geral
G550\650 oferece três e qua- Esteja você procurando um da consultoria Integris Aviation
24 | MAGAZINE 3 5 6
GUIA DE
COMPRAS 2024Preços atualizados de jatos, turbo-hélices e helicópteros
disponíveis no mercado brasileiro de aviação
DADOS GERAIS PERFORMANCE

PREÇOS DE TABELA: Os preços (FOB) das aeronaves são baseados no ALCANCE DOS JATOS E DOS TURBO-HÉLICES: O alcance máximo
valor básico divulgado pelos fabricantes e em referências de mercado. IFR, com todos os assentos ocupados.
ASSENTOS (PILOTO/PASSAGEIROS): O número “típico” especificado ALCANCE DO HELICÓPTERO: O alcance máximo VFR, com todos os
nas colunas varia de acordo com o tipo de operação da aeronave. assentos ocupados.
PESOS: O peso máximo de decolagem é especificado durante certificações ALCANCE ESPECÍFICO: Distância que uma aeronave pode voar com uma
da aeronave. A capacidade de combustível é medida em galões baseadosem determinada quantidade útil de combustível.
em uma quantia de 6.7 libras por galão. Carga paga com combustível cheio
é o combustível útil menos o usado. VELOCIDADE DE CRUZEIRO: É a velocidade necessária para atingir
alcance máximo de voo.
FABRICAÇÃO (INÍCIO/TÉRMINO): O ano da primeira entrega de uma
aeronave até o ano da última entrega. TETO OPERACIONAL: É a maior altitude que um avião pode atingir. Para
os helicópteros, é uma certificação máxima para operação.
Challenger 350
Challenger 650
JATOS
Assentos / Peso Veloci-
Preço (US$) Alcance Teto Fabricação
Aeronave Passageiros máximo dade
(nm) (ft)
novo usado ano típico máximo (lb) (kt) início término
BOMBARDIER
Challenger 300 15.0 2014 8 16 38.850 3.065 476 45.000 2004 2014
Challenger 350 26.6 18.0 2016 8 16 40.600 3.200 476 45.000 2014 Em fabricação
Challenger 604 8.1 2007 10 19 48.200 3.756 488 41.000 1996 2007
Challenger 605 17.0 2015 10 19 48.200 3.756 488 41.000 2007 Em fabricação
Challenger 650 32.4 21.5 2020 10 19 48.200 4.000 490 41.000 1996 Em fabricação
Challenger 850ER 12.0 2015 15 19 53.000 2.456 459 41.000 1996 2012
Global 5000 50.4 24.0 2015 13 19 92.500 5.200 511 51.000 2004 Em fabricação
Global Express 15.0 2005 13 10 95.000 5.940 505 51.000 1999 2005
Global XRS 19.5 2012 13 19 98.000 6.055 511 51.000 2005 2012
Learjet 31A 1.2 2003 6 10 17.200 1.211 462 51.000 1991 2003
Learjet 40 2.3 2007 6 7 20.350 1.573 465 51.000 2003 2009
Learjet 40XR 4.3 2012 6 7 21.000 1.778 465 51.000 2005 2012
Learjet 45 3.9 2007 8 9 20.500 1.423 465 51.000 1998 2007
Learjet 45XR 5.7 2012 8 9 21.500 1.685 465 51.000 1998 2012
Learjet 60 3.0 2005 7 10 23.500 2.186 465 51.000 1993 2007
Learjet 60XR 5.3 2013 7 10 23.500 2.044 465 51.000 2007 2013
Learjet 70 5.5 2014 7 10 21.500 2.060 465 51.000 2013 2018
Learjet 75 8.3 2018 8 10 21.500 2.040 465 51.000 2013 2018
Learjet 75 Liberty 9.5 2022 6 6 21.500 2.040 465 51.000 2019 2020
CIRRUS
Vision SF50 2.7 2.6 2019 7 7 6.000 600 300 28.000 2016 Em fabricação
DASSAULT FALCON
Falcon 2000 8.0 2007 8 19 35.800 2.841 475 47.000 1995 2007
Falcon 2000 DX 11.0 2010 8 19 41.000 3.378 482 47.000 2007 2011
Falcon 2000EX 13.5 2008 8 19 42.200 3.878 482 47.000 2004 2009
Falcon 2000LX 17.0 2012 8 19 42.800 3.817 482 47.000 2007 2014
Falcon 2000LXS 35.1 27.0 2018 8 19 42.200 3.817 482 47.000 2013 Em fabricação
Falcon 2000S 29.9 23.0 2018 8 N/A 41.000 3.613 482 47.000 2013 Em fabricação
Falcon 50EX 7.0 2007 9 19 39.700 3.223 480 49.000 1997 2007
Falcon 6X 52.7 12 19 77.460 5.500 580 51.000 2022 Em fabricação
Falcon 7X 53.8 35.0 2018 12 19 70.000 5.490 459 51.000 2007 Em fabricação
Falcon 8X 59.3 44.0 2018 12 19 73.000 6.450 460 51.000 2016 Em fabricação
26 | MAGAZINE 3 5 6
Falcon 6X
Learjet 75
Global 6500
Falcon 8X
MAGAZINE 3 5 6 | 27
Falcon 7X
Legacy 500
Legacy 650
Phenom 300 G600
28 | MAGAZINE 3 5 6
G550 G650

(nm) (ft)
Falcon 10X 75.0 12 19 115.000 7.500 516 51.000 Em projeto
Falcon 900B 6.5 2000 12 19 45.500 3.450 500 39.600 1986 2000
Falcon 900A 4.2 1991 12 19 45.500 3.450 466 51.000 1987 1999
Falcon 900DX 16.0 2010 12 19 46.700 4.100 482 51.000 2005 2011
Falcon 900EX 13.5 2003 12 19 48.300 4.500 420 51.000 1996 2003
Falcon 900LX 44.8 29.0 2018 12 19 49.000 4.800 482 51.000 2010 Em fabricação
EMBRAER
Legacy 450 16.6 15.5 2018 7 9 35.274 2.575 467 45.000 2015 Em fabricação
Legacy 500 20.0 17.5 2018 8 12 38.360 3.125 462 45.000 2014 Em fabricação
Legacy 600 15.4 2015 13 19 49.604 3.090 455 41.000 2006 2013
Legacy 650 12.9 2010 13 19 53.572 3.642 459 41.000 2010 2017
Legacy 650E 25.9 20.2 2018 13 19 53.572 3.900 459 41.000 2017 Em fabricação
Lineage 1000 22.0 2013 13 19 120.152 4.237 470 41.000 2008 Em fabricação
Lineage 1000E 49.0 36.0 2018 13 19 120.152 4.600 472 41.000 2008 Em fabricação
Phenom 100 2.7 2013 5 6 10.472 926 390 41.000 2008 Em fabricação
Phenom 100EV 4.5 4.4 2018 5 6 10.472 1.178 405 41.000 2013 Em fabricação
Phenom 300 9.8 2017 7 9 17.968 1.692 453 41.000 2009 Em fabricação
Phenom 300E 11.3 10.5 2018 7 9 17.968 1.971 453 45.000 2017 Em fabricação
Praetor 500 19.5 18.5 2019 7 9 36.949 3.250 462 45.000 2018 Em fabricação
GULFSTREAM
GIV-SP 6.5 2002 13 19 74.600 3.880 476 45.000 1992 2002
GV 11.5 2001 13 19 90.500 6.250 508 51.000 1995 2002
G100 2.4 2006 7 9 24.650 2.550 474 45.000 2001 2006
G150 9.0 2016 7 8 26.100 2.760 470 45.000 2005 2017
G200 7.8 2011 8 10 35.450 3.130 470 45.000 1999 2011
G280 24.5 18.5 2018 8 10 36.600 3.387 482 45.000 2012 Em fabricação
G300 6.5 2004 13 19 72.000 3.486 476 45.000 2003 2004
G350 13.0 2012 14 19 70.900 3.680 476 45.000 2005 2012
G400 9.0 2004 13 19 74.600 3.880 476 45.000 2003 2004
G450 20.0 2015 14 19 74.600 4.100 459 45.000 2005 2016
G500 54.5 38.0 2020 18 19 79.600 5.200 516 45.000 2019 Em fabricação
G550 61.5 33.0 2018 18 19 91.000 6.490 508 51.000 2003 Em fabricação
G600 57.0 18 19 94.600 6.500 516 51.000 2019 Em fabricação
MAGAZINE 3 5 6 | 29
HELICÓPTEROS

(nm) (ft)
G650 70.0 47.0 2018 18 19 99.600 7.000 516 51.000 2012 Em fabricação
G700 78.0 13 19 107.600 7.500 516 51.000 Em projeto
G800 79.0 13 19 105.600 8.000 516 51.000 Em projeto
G700 75.0 - 2022 13 19 107.600 7.500 516 51.000 2019 Em projeto
HONDAJET
HA-420 4.3 2018 5 6 10.600 1.223 420 43.000 2016 2018
HA-420 Elite 5.7 4.5 2019 5 6 10.700 1.223 422 43.000 2018 Em fabricação
HondaJet 2600
11.0 5 11 17.500 2.625 450 47.000 Em projeto
Concept
PILATUS
PC-24 8.9 10.5 2018 4 6 17.968 2.810 440 45.000 2017 Em fabricação
TEXTRON
Citation Bravo 3.0 2006 7 11 14.800 1.290 405 45.000 1997 2006
Citation CJ1 2.5 2005 5 6 10.600 775 381 41.000 2000 2005
Citation CJ1+ 2.6 2006 5 6 10.700 895 389 41.000 2005 2011
Citation CJ2 4.0 2007 6 8 12.375 1.075 413 45.000 2000 2005
Citation CJ2+ 5.6 2015 6 8 12.500 1.194 413 45.000 2005 2014
Citation CJ3 6.8 2015 6 8 13.870 1.374 417 45.000 2003 2014
Citation CJ3+ 8.3 8.0 2018 7 9 12.750 2.040 416 45.000 2014 Em fabricação
Citation CJ4 9.2 9.2 2018 7 9 17.110 1.667 454 45.000 2010 Em fabricação
Citation Encore 4.2 2006 7 11 16.630 1.410 430 45.000 2000 2006
Citation Encore+ 5.1 2009 7 11 16.830 1.494 430 45.000 2007 2009
Citation Excel 4.7 2004 7 12 20.000 1.449 433 45.000 1998 2004
Citation Latitude 16.5 16.5 2018 9 9 30.800 2.700 446 45.000 2015 Em fabricação
Citation Longitude 26.9 20 2019 9 12 39.500 3.500 476 45.000 2019 Em fabricação
Citation Jet 1.5 1999 5 6 10.400 750 377 41.000 1993 1999
Citation M2 4.7 4.3 2018 5 7 10.700 1.550 404 41.000 2013 Em fabricação
Citation Mustang 3.2 2017 4 5 8.645 718 340 41.000 2006 2017
Citation Sovereign 10.5 2013 9 12 30.300 2.620 459 43.000 2004 2013
Citation Sovereign+ 18.0 2021 9 12 30.755 3.000 459 45.000 2013 Em fabricação
Citation Ultra 1.8 1999 7 11 16.300 1.259 400 45.000 1994 1999
Citation VII 1.2 1995 7 13 23.000 1.693 452 43.000 1992 2000
Citation X 9.3 2012 8 12 36.100 2.890 525 51.000 1996 2012
Citation X+ 12.5 2017 8 12 36.600 3.229 527 51.000 2013 2018
Citation XLS 6.4 2008 8 12 20.200 1.539 433 45.000 2004 2008
Citation XLS+ 13.0 11.5 2018 8 12 20.200 1.528 440 45.000 2008 Em fabricação
Beechjet 400A 1.8 2003 7 9 16.100 1.180 458 45.000 1990 2003
Hawker 4000 5.2 2012 8 14 39.500 3.283 489 45.000 2008 2012
Hawker 400XP 2.5 2010 8 9 16.300 1.180 450 45.000 2004 2010
Hawker 400XPR n/d n/d 8 9 16.300 1.243 450 45.000 1994 2006
Hawker 750 4.5 2011 8 15 27.000 2.050 447 41.000 2008 2011
Hawker 800XP 3.1 2004 8 15 28.000 2.470 449 41.000 1995 2005
Hawker 800XPi 3.2 2005 8 15 28.000 2.470 449 41.000 2005 2006
Hawker 800XPR 3.2 2005 8 15 28.000 2.733 452 41.000 1995 2005
Hawker 850XP 4.3 2009 8 15 28.000 2.525 452 41.000 2006 2009
Hawker 900XP 6.5 2012 8 15 28.000 2.733 452 41.000 2007 2012
P REMIER I 1.9 2005 6 7 12.500 850 461 41.000 2001 2005
P REMIER IA 2.8 2012 6 7 12.500 850 461 41.000 2005 2012
30 | MAGAZINE 3 5 6
HondaJet
PC-24
Grand Caravan EX
Citation Longitude
MAGAZINE 3 5 6 | 31
TBM 910 e 940
TURBO-HÉLICES
Assentos / Peso
Preço (US$) Veloci- Fabricação
Passageiros máximo Alcance Teto
Aeronave dade
(motow) (nm) (ft)
novo usado ano típico máximo (kt) início término
(lb)
DAHER
TBM 700C2 1.7 2006 5 6 7.394 1.000 292 31.000 2003 2006
TBM 850 2.6 2013 5 6 7.394 1.102 320 31.000 2006 2014
TBM 900 3.2 2016 5 6 7.430 1.730 330 31.000 2014 2016
TBM 910 4.1 3.7 2019 5 6 7.394 1.730 330 31.000 2017 Em fabricação
TBM 930 3.9 2019 5 6 7.394 1.730 330 31.000 2016 2018
TBM 940 4.8 4.0 2019 5 6 7.394 1.730 330 31.000 2019 Em fabricação
Kodiak 100 2.6 1.9 2018 5 9 7.255 524 180 25.000 2008 Em fabricação
PIAGGIO
Avanti P180 1.7 2005 6 9 11.550 980 390 37.000 1990 2005
Avanti P180 II 7.9 6.0 2018 6 9 12.100 752 402 39.000 2006 Em fabricação
PILATUS
PC-12 4.0 2008 7 10 10.450 1.340 261 30.000 1995 2008
PC-12 NG 5.2 2018 7 10 10.450 1.309 280 30.000 2008 2020
PC-12 NGX 5.4 6.1 2020 7 10 10.450 1.765 290 30.000 2020 Em fabricação
PIPER
M600 3.3 2.4 2016 6 6 6.000 1.658 274 30.000 2016 Em fabricação
M500 2.4 2.0 2018 6 6 5092 1.000 260 30.000 2015 Em fabricação
Meridian PA-46TP 1.8 2015 5 5 5.092 489 267 30.000 1999 2014
TEXTRON
208 Caravan 2.0 1.9 2018 9 13 8.000 325 186 25.000 1985 Em fabricação
208B Grand Caravan 1.7 2008 9 13 8.217 529 184 25.000 1990 2013
208B Grand Caravan
2.5 2.2 2018 5 13 8.807 494 194 25.000 2013 Em fabricação
EX
Denali 4.8 4 11 0 1.600 285 31.000 2015 Em projeto
King Air 250 5.0 2018 6 9 12.500 1.259 292 35.000 2011 2020
King Air 260 7.0 6.5 2021 6 9 12.500 1.720 310 35.000 2020 Em fabricação
King Air 350 3.8 2009 8 15 15.000 1.440 320 35.000 1990 2013
King Air 360 8.8 7.0 2020 6 11 15.000 1.806 312 35.000 2019 Em fabricação
King Air 350ER 7.9 8 15 16.500 1.878 303 35.000 2005 2020
King Air 360ER 9.8 8 11 16.500 2.539 303 35.000 2019 Em fabricação
King Air 350i 5.8 2018 8 15 15.000 1.440 320 35.000 2009 Em fabricação
King Air 350iER 7.3 2020 8 15 16.500 2.271 303 33.000 2010 Em fabricação
King Air B200 3.1 2011 6 15 12.500 1755 260 35.000 1981 2007
King Air B200GT 3.6 2011 6 15 13.420 960 284 35.000 2008 2011
King Air C90B 2.0 2005 5 12 10.485 640 250 30.000 1992 2005
King Air C90GT 2.4 2007 5 12 10.100 981 270 30.000 2006 2007
King Air C90GTi 2.7 2009 5 15 10.485 1.321 240 30.000 2007 2010
King Air C90GTx 3.7 2018 5 12 10.485 903 240 30.000 2010 Em fabricação
32 | MAGAZINE 3 5 6
King Air
KingAir 360
PC-12
PC-12
Kodiak 100
MAGAZINE 3 5 6 | 33
H135
Bell 505 AW 109 Power
AW 139
34 | MAGAZINE 3 5 6
HELICÓPTEROS
Assentos / Peso
Preço Fabricação
Passageiros máximo Alcance Velocidade
Aeronave
(motow) (nm) (kt)
novo usado ano típico máximo início término
(lb)
AIRBUS HELICOPTERS
AS 332L1 Super Puma 21.7 2011 12 19 18.960 406 141 1986 2011
AS 332L1e Super Puma 26.4 12 19 18.960 406 141 2011 Em fabricação
AS 332L2 Super Puma 13.9 2007 9 19 20.502 392 150 1993 2007
AS 350B2 - Esquilo 1.5 2012 5 5 4.960 312 133 1990 Em fabricação
AS 350B3 (2B) - Esquilo 2.0 2011 5 5 4.960 300 137 1997 2008
AS 350B3 (2B1) - Esquilo 2.1 2012 5 5 5.225 300 137 2008 2011
AS 350B3e - Esquilo 2.4 2014 5 5 5.225 300 137 2011 Em fabricação
AS 365N2 Dauphin 2.3 2000 6 14 9.369 420 151 1990 2001
AS 365N3 Dauphin 2 4.8 2011 6 14 9.480 354 152 1998 2010
AS 365N3+ Dauphin 9.4 2016 6 14 9.480 341 149 2011 Em fabricação
H 120B 2.0 2017 4 4 3.780 240 125 1997 2017
H 130 B4 2.1 2015 6 6 5.351 280 135 2000 2012
H 130 T2 2.7 2017 6 6 5.512 268 130 2012 Em fabricação
H 135P1 1.9 2003 5 5 6.250 254 140 1997 2004
H 135P2 4.2 2015 5 5 6.250 254 140 2004 2006
H 135P2+ 4.6 2010 5 5 6.415 254 140 2006 2011
H 135P2E 6.0 5 5 6.504 278 137 2011 Em fabricação
H135 T1 1.9 2003 5 5 5.984 262 141 1997 2004
H 135 T2 3.6 2014 5 5 6.250 262 140 2004 2006
H 135 T2+ 4.5 2016 5 5 6.415 254 140 2006 2011
H 135 T2e 6.0 5 5 6.504 256 137 2011 Em fabricação
H 145 6.8 2016 8 9 7.904 274 133 2001 Em fabricação
EC 145 T2 5.0 2015 8 9 8.047 260 134 2013 Em fabricação
H 155 B1 13.7 2020 6 14 10.692 373 151 2003 Em fabricação
H160 22.0 10 12 13.338 475 140 2015 Em fabricação
H 175 10 2020 10 N/A 16.535 N/A N/A 2012 Em fabricação
H 225 9.0 2017 12 N/A 24.250 354 152 2005 Em fabricação
BELL
206B3 - Jet Ranger 1.5 2010 4 4 3.200 270 118 1977 2010
206L4 - Long Ranger 2.5 1.8 2015 6 6 4.450 353 110 1996 2017
505 1.8 3 3 3.680 242 130 2016 Em fabricação
407GXP 3.2 2.9 2015 6 6 5.250 N/A 128 1996 Em fabricação
429 7.5 5.7 2016 6 6 7.000 276 155 2009 Em fabricação
430 1.9 2008 6 8 9.300 N/A 140 1996 2008
LEONARDO
AW109 Grand 3.1 2011 6 7 7.000 360 155 2005 2011
AW109 GrandNew 8.9 6.5 2016 6 7 7.000 357 158 2010 Em fabricação
AW109 Power 4.5 2014 6 7 6.614 260 154 1997 Em fabricação
AW119 Koala 3.9 2006 6 7 5.997 N/A 140 2000 2006
AW119 KX 5.3 2021 6 7 6.283 380 140 2013 Em fabricação
AW139 13.5 8 15 14.110 460 165 2004 Em fabricação
ROBINSON
R22 Beta II 0.38 1 1 1.370 161 96 1997 Em fabricação
R44 Raven I 0.47 3 3 2.400 204 113 2003 Em fabricação
R44 Raven II 0.5 3 3 2.500 251 117 2003 Em fabricação
R66 Turbine 1.2 4 6 2.700 260 N/A 2010 Em fabricação
SIKORKSY
S-300C 0.4 2015 1 1 2.050 195 88 1970 Em fabricação
S-300CBi 0.4 1 1 1.750 215 85 2005 Em fabricação
S-76C++ 6.8 2012 6 13 11.700 335 155 2006 2013
S-76D 10 2019 6 13 11.700 329 160 2012 Em fabricação
S-92A 30.6 27.0 2019 10 24 26.500 439 155 2002 Em fabricação
MAGAZINE 3 5 6 | 35
PE R S PEC TI VA S
OS RUMOS DA
AVIAÇÃO CIVIL
BRASILEIRA
Do pouso forçado a uma nova proa, as
transformações do transporte aéreo
nacional previstas para 2024
PO R | POR GEORGES FERREIRA*, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
F OTO S | GUILHERME AMANCIO E LUIS ALBERTO NEVES
A
aviação é uma
atividade econô-
mica globaliza-
da, que vincula
em tempo real
pessoas, países e negócios,
operando sob regras e proce-
dimentos padronizados dita-
dos não apenas pela eficiência
econômica, mas, também, e
principalmente, pela prima-
zia da segurança. Por ser tão
conectado e dinâmico, é o
setor que primeiro sente os
efeitos de eventuais crises que
venham a afetar a economia,
como é o caso de guerras,
mudanças de governos, crises
sanitárias e assim por diante.
Só no Brasil, a aviação
impacta diretamente, segun-
do a Associação Brasileira
de Empresas Aéreas (Abear),
3,1% da produção econômica,
sendo relevante seu papel para
a integração do quinto maior
território entre os países do
mundo, além de contribuir
diretamente para o desenvol-
vimento de outras atividades
agregadas à indústria do
transporte aéreo, tudo com
grande enfoque tecnológico.
Nessa proa, em 2019, o
mercado brasileiro de aviação
civil mostrava claros indica-
dores de um pitch positivo,
momento em que, finalmente,
estava superando a recessão
econômica de 2015/2016.
Não obstante, o ano de 2020,
apesar de tão promissor em
seu início, marcaria o setor
aéreo pela ocorrência da
pandemia de covid-19, que,
literalmente, obrigou-o a um
pouso forçado, resultando na
queda de 53% de seu movi-
MAGAZINE 3 5 6 | 39
mento ao longo daquele ano, tariam fortemente nos custos com a perda de vendas de
bem como a paralisação e/ou das aéreas. passagens em 2020, primeiro
a devolução maciça de seus No Brasil, o governo ano da pandemia. Segundo
meios, a suspensão do contra- tomou uma série de medidas, a Confederação Nacional de
to de trabalho e/ou a demissão principalmente na área regu- Transportes (CNT), em 2019,
de milhares de trabalhadores latória, visando adequar as foram 104 milhões de pessoas
altamente qualificados. regras para aquele momento, embarcadas em voos nacio-
Considerando o ditado o que culminaria na edição de nais, contra o que seriam 47
segundo o qual “nenhum mal uma Medida Provisória (a MP milhões de brasileiros embar-
vem só”, a quebra na cadeia 1.089/21), dentro do chama- cados em 2020.
produtiva em todos as áreas do “Programa Voo Simples”,
da economia e, em especial, na que se converteria em lei (a RECEITAS E PREJUÍZOS
aviação (setor mais afetado) 14.368/22). Mesmo assim, não Segundo a Agência Nacional
resultaria em uma grande foram feitas subvenções e/ou de Aviação Civil (Anac), em
onda inflacionária, na valori- concedidos subsídios ao setor. 2023, pela primeira vez desde
zação da moeda norte-ame- Como resultado, entre os 2019, o volume de passagei-
ricana (o dólar), na disparada anos de 2014 e 2022, as em- ros superou o número de 100
do preço dos combustíveis, presas aéreas no Brasil acumu- milhões (janeiro-novembro),
na falta de materiais e peças lariam um prejuízo de quase com a movimentação de 83,5
para reposição e na adoção de 50 bilhões de reais, dos quais milhões no mercado domésti-
medidas sanitárias que impac- 21,4 bilhões de reais apenas co e 19,1 milhões internacio-
40 | MAGAZINE 3 5 6
no começo de 2023, precisa- em dezembro de 2022. Mas

ram assumir juros mais caros não apenas de combustível
para rolarem suas dívidas, depende a aviação.
o que resulta que o fluxo de Segundo o Anuário de
caixa, apesar das passagens Transporte Aéreo da Anac
mais caras e de mais assentos de 2022, o total de despesas
ocupados, tem sido o suficien- das aéreas nacionais com
te para pagar os juros e custear o combustível passou para
as operações. 41% (frente a 31% da média
O cenário de 2023, entre- mundial de 2023, dados da
tanto, espelhou a resiliência Associação do Transporte Aé-
das empresas aéreas, que reo Internacional – Iata). Os
demonstraram fôlego para demais gastos citados no estu-
operar e fazer novas contratado são: seguro e arrendamento
ções, com a expectativa que, das aeronaves (11%), pessoal
em 2024, comecem a levantar (12%), despesas operacionais
recursos para seguirem pagan- (11%) e outros custos (25%),
do as dívidas da pandemia. que devem cobrir impostos,
investimentos etc.
ENTÃO, É 2024
Após um ano arrumando a MUNDO INSTÁVEL
casa e mirando uma ampla Após a pandemia, o mundo
reforma no espectro tributário em 2022 parecia se estabili-
nacional, uma das principais zar, quando assistiu atônito
preocupações do atual gover- à invasão da Ucrânia pela
no tem sido com a alta dos Rússia, o que levou todos a
preços das passagens aéreas, o segurar a respiração, eis do
que contribuiu para a alta da certeiro impacto que aquele
nalmente, totalizando 102,6 inflação. conflito surtiria no mercado
milhões de pessoas transpor- Durante o ano de 2023, dos combustíveis, cujo efeito
tadas, o que representa 98% as passagens aéreas subiram foi prontamente sentido.
dos números registrados no 48,11% (índice IPCA-15), Um ano e meio após o
mesmo período de 2019. maior alta em 12 anos, segun- início da guerra na Ucrânia,
As empresas aéreas regu- do apurado pelo Instituto Bra- quando ficou claro que aquele
lares obtiveram um índice de sileiro de Geografia e Estatísti- conflito seria duradouro, o
ocupação acima dos 80% dos cas (IBGE). As empresas, além grupo terrorista Hamas atacou
assentos, com seus valores do pagamento dos juros para o Estado de Israel a partir da
em bolsa refletindo altas até rolagem das dívidas, apontam Faixa de Gaza, levantando o
acima do mercado de ações, como um dos principais fato- alerta máximo de conflito em
como foi a caso da Azul, cujas res para essa elevação, o alto toda a região, o que pronta-
ações valorizaram 47%, com valor do querosene de aviação, mente derramou para o Golfo
a Gol subindo 23% e a Latam que sofreu altas consecutivas de Áden, logo na entrada do
com 24%, apesar de, no caso desde a pandemia (40% em Mar Vermelho, bem no acesso
da Azul e da Gol, seus papéis 2020, 76% em 2021 e 58,8% sul ao Canal de Suez, com o
encerrarem 2023 a 28% e 26%, até novembro de 2022), encer- grupo armado Hutis (declara-
respectivamente, do valor rando a sequência apenas no dos terroristas pelos Estados
pré-pandemia. ano passado, com uma queda, Unidos), que luta pela tomada
Mesmo assim, as empresas, segundo a Petrobrás, de 19,6% do poder no Iêmen, come-
que já estavam endividadas em relação ao preço praticado çaram a atacar e a seques-
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trar navios que passam pela marcação de assento e

região, além do próprio estado bagagem despachada para
israelense. Neste ano, ainda compras realizadas de última
acontecerá a eleição para pre- hora;
sidente nos Estados Unidos.
Dessa forma, com um • Gol: a partir de 2024,
cenário externo extremamente disponibilizar 15 milhões de
volátil, o preço do barril par- assentos com preço de até
tindo da média de 25 dólares 699 reais; promoções espe-
americanos em abril de 2020, ciais e, com mais de 21 dias
batendo o pico de 122 dólares de antecedência, preços entre
em maio de 2022, ora estando 600 e 800 reais; tarifas de
na casa dos 80 dólares, cabe ao assistência emergencial (80%
governo de cada país esta- de desconto).
belecer qual política aplicará
ao setor aéreo, sendo que, no • Latam: oferta de 10 mil
Brasil, há a preocupação da assentos a mais por dia (mais
elevação dos custos da ativi- oferta, menor custo); toda
dade em si e de sua cadeia de semana, oferecer um destino
insumos. com tarifa abaixo de 199
reais; mudanças no pro-
ESTÁ CARO? grama de fidelidade – sem
Dessa forma, a Secretaria validade para utilização;
de Portos e Aeroportos, em manutenção do programa de
conjunto com a Secretaria desconto de 80% para tarifas
de Aviação Civil e a Agência de assistência emergencial. governo e tem por objetivo
Nacional de Aviação Civil, aumentar a concorrência e
chamou as empresas aéreas Como contraparte, o criar nichos de mercado;
para debater medidas visando governo se comprometeu a
segurar o valor do preço das lançar tratativas junto à Petro- • Programas de investimen-
passagens aéreas. brás e ao Ministério das Minas tos em aeroportos regionais
As companhias aéreas se e Energias para baratear o – investimentos da ordem
comprometeram a “praticar preço do QAV (a querosene de de 6,2 bilhões de reais em
valores mais acessíveis para aviação), além de: programas de concessão e
bilhetes comprados com até de cinco bilhões de reais de
14 dias de antecedência da • FNAC como garantia – a investimentos públicos e
data da viagem, inclusão de utilização do recurso do Fun- privados no plano de aviação
serviços de remarcação sem do Nacional de Aviação Civil regional.
cobrança de taxa adicional, como garantia em operações
oferta de tarifas mais acessí- de crédito para empresas • Medidas para combater
veis para compras realizadas nacionais afetadas pela pan- o excesso judicialização –
em determinados dias da demia. A proposta facilita o com custo de um bilhão de
semana; aumento no número acesso ao crédito e reduzir reais ao ano para as compa-
de oferta de voos e ampliação custos das companhias; nhias, o Ministério Público,
da frota aérea, ofertando: junto com o judiciário, busca
• Estímulo de novas compa- alternativas para reduzir o
• Azul: comercializar 10 nhias – a entrada de empre- alto índice de judicialização
milhões de assentos até 799 sas de baixo custo no Brasil no setor aéreo. Uma das pro-
reais a partir de 2024; (low cost) é uma proposta de postas é ampliar o acesso ao
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“consumidor.gov”, canal que setores específicos da socieda- ao regime especial de tribu-

permite a interlocução direta de poderão ser beneficiados tação”. Segundo a Abear, a
entre consumidores e empre- pela oferta de passagens aéreas exclusão da aviação comercial
sas para solução alternativa a preços acessíveis. do regime especial de tributa-
de conflitos de consumo pela ção pode gerar um aumento
internet. O OUTRO LADO de 270% na carga tributária do
A Associação Brasileira das setor, ou o equivalente a uma
O governo ainda prepara Empresas Aéreas vem man- despesa adicional de 11,1 bi-
outras medidas para o setor, tendo um constante conta- lhões por ano. A Abear alerta
que visam, entre outras, o to com as autoridades e o que a modificação feita pela
desenvolvimento da aviação parlamento e acompanhado os Câmara dos Deputados ao
regional, o que pode incluir desdobramentos da reforma retirar o “modal aéreo” repre-
a abertura de aproximada- tributária, que vem sendo senta uma alteração de mérito,
mente 120 novos aeroportos engendrada desde o início “gerando uma insegurança
até 2026, dentro do Programa do atual governo. A entida- jurídica para o texto que foi
de Universalização do Trans- de comemorou em maio de encaminhado à promulgação
porte Aéreo (Agência Brasil), 2023 a sanção presidencial da sem passar por um novo crivo
objetivando elevar o número medida provisória (MP 1147) do Senado Federal”.
de passageiros transportados que desonera PIS/COFINS de Segundo dados do Senado
para 150 milhões ao ano. Já o receitas aéreas. Federal de 2012, o setor aéreo
Programa “Voa Brasil” seria Contudo, lamentou “a ex- é mais onerado do que o setor
anunciado oficialmente na clusão do transporte aéreo re- rodoviário, apesar da dolari-
segunda quinzena de janeiro gular de passageiros da lista de zação de uma atividade que,
de 2024, informando quais atividades econômicas sujeitas atualmente, responde pelo
MAGAZINE 3 5 6 | 43
economia de escala, qualquer

oscilação envolve custos, que
precisam, obviamente, serem
repassados.
A indústria da judiciali-
zação em face das empresas
aéreas não dá sinais de que
irá arrefecer, ao contrário.
A situação se vincula a uma
legislação “consumerista” de
mais de trinta anos, que impu-
ta a responsabilidade objetiva
do transportador aéreo por
eventos que nem sequer estão
sob seu controle (como os
climatológicos, exemplo de
força maior), culminando, em
certos casos, em condenações
das companhas na justiça,
mesmo com a prestação de
assistência material integral,
prevista em nossas resoluções.
Essa situação tem afastado o
interesse de novos entrantes
no mercado e não resolve o
problema dos passageiros, que
seguirão sujeitos às condições
do tempo para viajar.
Ainda assim, ao longo de
2023, foi possível adquirir
passagens a preços razoáveis,
maior número de transportes se viram obrigados a procurar desde que adquiridas dentro
de passageiros para viagens outras atividades para sobrevi- de uma antecedência de pelo
maiores do que 500 quilô- ver, com alguns não retornando menos duas ou três semanas.
metros de distância, e que às antigas empresas. Houve um caso em que um
interliga de forma rápida e Em meio a tal panorama, passageiro conseguiu tirar um
eficiente todos os cantos do permeado de conflitos arma- bilhete no fim do mês de julho
país, cumprindo, assim, uma dos na esfera internacional de Congonhas (São Paulo, SP)
importante função social e de e de insegurança quanto ao para Confins (MG) para sair
segurança nacional. futuro tributário para o setor antes de meados de agosto
aéreo no Brasil, é também por 148 reais. Assim como
MEDIDAS URGENTES necessário considerar o bilhetes de Goiânia (GO) para
As empresas aéreas ainda estão impacto das alterações que o Santos Dumont (RJ), ida e
se recuperando do baque pro- foram impostas às rotas aéreas volta, com menos de um mês
vocado pela pandemia de 2020 nacionais, com a limitação de antecedência, chegaram a
e diversos ramos que lhes pres- do uso do aeroporto Santos ser vendidos por 650 reais.
tam serviços seguem se ressen- Dumont no Rio de Janeiro. Por fim, o preço do com-
tindo da brusca desmobilização Sendo a aviação uma ativi- bustível para aviação depende
de meios e profissionais, que dade movimentada por uma mais da política de precifica-
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Os melhores vinhos
ção praticada pela detentora por conta da pandemia de das melhores importadoras
do monopólio de sua dis- 2020 e que retornaram mais em um único clube
tribuição, a Petrobrás (cuja contundentes.
manobra de “internalização” Como resultado, os atores
resulta em 72% do preço final públicos e privados da aviação
ao consumidor – dados CIS- civil brasileira estão esticando Sempre vinhos pontuados por
TAC/CI/SENADO) do que ao limite um modelo de gestão
dos impostos (também altos), na qual as soluções alcançadas
Robert Parker, Wine Spectator,
propriamente ditos. Resta sa- são reativas e imediatistas, Descorchados ou ADEGA
ber quem assumirá os debates ignorando o fato de que não
sobre esse pertinente tema. podem contar meramente
Todas as situações ora com as condições econômicas
tratadas são urgentes e de de um determinado momento,
conhecimento do setor, do que podem mudar brusca-
governo e de seus órgãos mente por razões sanitárias,
reguladores e fiscalizadores, bélicas, mercadológicas,
há anos, sendo que já foram tributárias etc. Seria impor-
amplamente debatidas ainda tante, pelo lado estatal, que se
em 2009, quando foi editada a demostrasse a política pública
Política Nacional de Aviação que há para o setor.
Civil (PNAC). As soluções, O contínuo atraso da atua-
portanto, estão “a bordo” e a lização do marco regulatório
aeronave está no pátio. Talvez aeronáutico brasileiro, o Código
seja necessário melhorar a Brasileiro de Aeronáutica (Lei
fonia. 7565/86, conforme proposto
pelo PLS 258/2016), que insere
AVIAÇÃO GERAL em suas propostas, entre outras,
A aviação civil brasileira não os operadores como atores para
se restringe apenas ao seu a formulação dos atos regulató-
modal regular, sendo que sua rios para a atividade, mantém
indústria envolve as empresas a aviação brasileira presa a um
prestadoras de serviços aéreos modelo legal/econômico dos
públicos não regulares (táxis- anos 1980.
-aéreos), do transporte aéreo A atual administração
privado (particulares, corpo- federal tem o conhecimento
rativos, lazer etc.), serviços sobre tais fatos e possui os
aéreos especializados (agrí- meios para corrigir a proa se
colas, paraquedismo, ensino desejar, afinal, democratizar o
etc.), das empresas de servi- acesso do modal aéreo para o
ços auxiliares ao transporte máximo de brasileiros. Todos
aéreo (Esatas), aerodesporto, estamos no mesmo avião.
organizações de manutenção,
indústria aeronáutica, aero- * Georges de Moura Ferreira é
portos e sistemas aeroportuá- advogado, consultor e professor Faça parte:
rios, entre tantas. No entanto, de Direito Aeronáutico nacio-
os problemas que todos nal e internacional e mestran-
enfrentam são, de certa forma, do em Ciências Aeroespaciais
semelhantes e recorrentes, os pela Universidade da Força
quais apenas foram suspensos Aérea, Unifa.
www.ClubeAdega.com.br
AVIÃO SEM PILOTO

A R TI G O
OU SUPERCOMPUTADOR
COM ASAS?
Veículos autônomos estão tomando mares,
trilhos, estradas, ruas e agora também os céus
P OR | RENÉ NARDI*, ESPECIAL PA RA AERO MAGAZINE
46 | MAGAZINE 3 5 6
E
m novembro de de instruções pré-definidas,
2023, o Cessna Ca- utilizadas para alterar o
ravan da empresa posicionamento do avião,
Reliable Robotics, mudar a rota, subir, descer
com sede na Cali- e pousar. No que diz res-
fórnia, nos Estados Unidos, peito a comunicações com
completou um voo de apro- outras aeronaves, ou com
ximadamente 80 quilôme- os controladores de tráfego
tros sem ninguém a bordo. aéreo, o operador remoto
Desde 2019, a empresa vem responderá às chamadas de
desenvolvendo soluções na rádio seguindo as mesmas
modalidade de voo semiau- regras atualmente utilizadas
tônomo, em que a aeronave pelos pilotos embarcados.
é controlada remotamente. Em comparação rápida com
Neste momento, a Reliable o piloto automático tradi-
Robotics já está trabalhando cional, o sistema da Reliable
com a FAA, a Administração Robotics é capaz de realizar
Federal de Aviação norte- todas as fases do voo, desde
-americana, no processo de a saída do pátio de estacio-
certificação de sua tecnolo- namento, taxiar em direção
gia, para aplicações comer- à pista de decolagem, bem
ciais no transporte de cargas, como efetuar a decolagem e
esperando concluir as tarefas o pouso.
dentro de dois anos.
ELETRÔNICA EMBARCADA
OPERADOR REMOTO Com o passar dos anos,
Na configuração escolhi- está ficando claro que a
da pela Reliable Robotics, eletrônica sofisticada está
o piloto não fica a bordo embarcando com força total
da aeronave, mas existe na aviação geral. Aeronaves
um operador remoto. Em pioneiras, como os Bonanza
termos gerais, ele envia e Cessna 170, foram equi-
comandos para o avião por pados com sistemas rudi-
meio de uma interface que mentares de comunicação e
lembra a maneira como os navegação, quando compa-
controladores de tráfego aé- rados aos padrões atuais. As
reo interagem com os pilotos versões mais recentes dessas
de aeronaves convencionais. mesmas aeronaves ainda
A estação de trabalho não usam essencialmente os
tem joystick, e não existe a mesmos sistemas mecânicos
capacidade de pilotar o avião de 70 anos atrás para taxia-
manualmente utilizando mento, e para movimentar
canal de vídeo, algo similar a as superfícies de controle de
um videogame, que forneça voo primário (aileron, leme e
informação em tempo real. profundor), complementado
O operador remoto por hidráulica simples para
controla a aeronave por funções de acionamento dos
intermédio de um conjunto freios, ou atuadores eletro-
MAGAZINE 3 5 6 | 47
to mostram sistemas em que os

pilotos enviam instruções aos
computadores de bordo, que são
complementadas por dados co-
letados por sensores localizados
em pontos críticos da aeronave.
Esse conjunto de informações é
interpretado pelos respectivos
computadores de comando de
voo levando em conta a seguran-
ça e a confiabilidade, e só então a
ação é executada. Essas tecnolo-
gias foram inicialmente estudadas
dentro do setor automotivo, para
viabilizar o automóvel autônomo.
Portanto, aproveitar fortemen-
te pesquisas já em andamento
no setor automotivo criaria
grandes benefícios para o mundo
aeronáutico.
Empresas como Google, Tesla,
Ford e Toyota reuniram milhares
de engenheiros talentosos e gas-
taram quantias inimagináveis de
dólares desenvolvendo automó-
veis autônomos. Pelo menos parte
dessa tecnologia pode migrar
mecânicos para movimenta- relativamente baixas e condi- para o setor aeroespacial. Tería-
Ônibus autônomo, ção do trem de pouso retrátil ções climáticas adversas, o que mos, então, a geração de aerona-
Cessna Caravan sem e das superfícies de controle representa um grande desafio ves “by-wire” (leia mais no boxe)
ninguém a bordo e, secundário (flaps e compensa- para os pilotos. Então, se a com a substituição de sistemas
na página oposta, dores). operação é mais perigosa, a mecânicos de guiagem da aero-
sensoreamento
Em algum momento no automação pode ajudar muito nave no solo sendo substituídos
remoto ótico
futuro próximo, a indústria da a melhorar a segurança de por “steer-by-wire”, ou comandos
aviação geral vai testemunhar voo. Um sistema de controle de voo primários e secundários
a transição dos atuais sistemas computadorizado evitaria que utilizam atuadores eletrome-
mecânico/hidráulico/elétrico, tipos comuns de acidentes li- cânicos otimizados com sistemas
acionados e movimentados gados a falhas humanas, como “fly-by-wire”, enquanto os freios
pelo piloto, para sistemas de colisões com o solo em voo hidráulicos dariam lugar aos
acionamento eletromecâni- controlado (CFIT, na sigla em freios elétricos comandados via
co controlados por software, inglês) ou perda de controle “brake-by-wire”.
transformando o avião no que em voo, que respondem pela Novas funções de segurança
seria essencialmente um su- maioria dos acidentes fatais na possibilitadas com o uso de sen-
percomputador com asas, cuja aviação geral. soreamento remoto ótico LIDAR
missão será reduzir a carga de (Light Detection and Range),
trabalho do piloto, aumentar DOS CARROS câmeras de vídeo e mapas dos
a segurança de voo e otimizar PARA OS AVIÕES aeroportos gravados na memória
os custos operacionais. Itens identificados para estudos computadores devem per-
Como se sabe, aeronaves dos em algumas instituições mitir manobras automáticas no
pequenas voam em altitudes de pesquisa e desenvolvimen- solo, ou mesmo assistência ao es-
48 | MAGAZINE 3 5 6
tacionamento. A combinação vedores monitorem conti-

de todas essas novas tecnolo- nuamente o desempenho dos
gias poderá, eventualmente, sistemas aéreos, façam ajustes
nos levar até as aeronaves na trajetória de voo conforme
autônomas. necessário e, até mesmo, atua-
lizem o software sob demanda,
INTELIGÊNCIA “over-the-air”, por meio da
ARTIFICIAL E NUVEM internet de alta velocidade,
O nível de qualidade do voo além do 5G. A arquitetura do
seria incrementado signifi- sistema de controle eletrônico
cativamente em comparação pode incluir um controlador
com as possibilidades atuais centralizado, ligado por tecno-
quando a inteligência artifi- logia neural, usando software
cial (AI, na sigla em inglês) aberto para desenvolvimento
for empregada, moldando os contínuo do algorítmico, e
princípios de voo autônomo. escalável para várias cama-
O elemento-chave na definidas de complexidade do voo
ção dos papéis do gestor do autônomo. criando programas de aprendi-
sistema e dos limites da fun- zagem que exigiriam o mínimo
ção de inteligência artificial PERSPECTIVAS de influência de humanos.
está relacionado às respostas Os sistemas baseados em AI
a situações que mudam ao podem aprender a navegar * O engenheiro aeroespacial e
longo do tempo. A inteligência com base em uma combinação consultor René Nardi trabalha
artificial atual pode alcançar de sistemas de posicionamento na aplicação de técnicas de
alto desempenho em domí- global (GPS) apoiado por parâ- previsão de tecnologia ao setor
nios relativamente estreitos e metros de objetos fixos no solo, aeroespacial e outros sistemas
em condições favoráveis, mas que podem ser mapeados de complexos.
pode encontrar dificuldades forma relativamente simples. O
quando operada em ambien- aprendizado de máquina está
tes desafiadores e complexos, evoluindo rapidamente agora
como a interação do voo que os engenheiros têm os mi- NOVOS TERMOS
de múltiplas aeronaves em croprocessadores necessários PARA A AVIAÇÃO
espaço tridimensional. Por para criar sistemas que enten- Mudanças nos glossários com advento do voo autônomo
causa disso, os desenvolve- dam melhor as entradas de da-
dores de aviões autônomos dos de sensores como câmeras Piloto embarcado: este é o piloto para quem estamos
provavelmente começarão de vídeo e LIDAR. As novas acostumados a confiar a operação do avião durante
a empregá-lo em ambientes tecnologias de computação nas o voo.
razoavelmente controlados e, nuvens devem ser capazes de
Operador remoto: não fica dentro do avião, que
em seguida, expandirão para desenvolver estratégias para
deve se restringir aos transporte de cargas, não
outras áreas mais complexas. tratar situações em constante passageiros, pelo menos nos próximos anos.
O último elo nessa cadeia mudança, porque nenhum
de novidades necessárias ao programador pode escrever By-wire: descrição genérica para sistemas por meio
voo autômato baseado em todos os códigos necessários dos quais o piloto envia suas instruções para um
inteligência artificial seria a para identificar as múltiplas computador, que então executa as ordens do piloto,
computação remota, seguindo situações que as aeronaves embarcado ou não.
a tendência das aplicações autônomas precisam reagir. À
comerciais de processamen- medida que o sistema de inte- LIDAR: parente do radar, usa ondas de luz para medir
to usando computação em ligência artificial se desenvolve distância entre objetos.
nuvem. A conectividade em direção à autonomia, os de-
permitirá que os desenvol- senvolvedores de software estão
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S EG U R A N Ç A
ACIDENTES E
MANUTENÇÃO
A falta de cuidado com sua aeronave no solo
pode se tornar um fator contribuinte para
desfechos indesejados durante um voo
PO R | ALESSANDRO AZZI LAENDER E HILTON RAYOL FILGUEIRA*,
ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
A
manutenção de
aeronaves desem-
penha um papel
crítico na segu-
rança da aviação.
Quando a manutenção não é
realizada adequadamente, ou
quando há falhas nos pro-
cedimentos de manutenção,
isso pode contribuir signifi-
cativamente para acidentes e
incidentes aéreos.
A manutenção é um pro-
cesso contínuo e rigoroso que
objetiva garantir que uma ae-
ronave esteja sempre em uma
condição segura e operacio-
nal. Isso envolve uma série de
procedimentos e verificações
realizados regularmente para
detectar e corrigir problemas
potenciais. O objetivo final
da manutenção é garantir que
a aeronave esteja em confor-
midade com os padrões de
aeronavegabilidade e pronta
para operações seguras.
No processo de manuten-
ção, diversos fatores podem
contribuir para a ocorrên-
cia de problemas, falhas
ou acidentes se não forem
gerenciados adequadamente.
É crucial identificar e abordar
esses fatores contribuintes
para garantir a segurança e
o desempenho confiável das
aeronaves.
De acordo com o Manual
do Comando da Aeronáutica
(MCA 3-6), fator contribuinte
está relacionado à condição mento de suas consequências. técnica diferenciada com
(ato, fato, ou combinação Os fatores contribuintes se cursos próprios para atuação
deles) que, aliada a outras, em classificam de acordo com a na área. A indústria aeronáu-
sequência ou como conse- área de abordagem da segu- tica envolve uma complexa
quência, conduz à ocorrência rança operacional. organização de manutenção,
de um acidente aeronáutico, Em relação à manutenção cuja finalidade é deixar as ae-
um incidente aeronáutico ou aeronáutica deve-se ressaltar ronaves operacionais, ou seja,
uma ocorrência de solo, ou que é uma área específica para garantir a aeronavegabilidade.
que contribui para o agrava- a qual se exige qualificação Uma preocupação constante
52 | MAGAZINE 3 5 6
A manutenção
na área de manutenção aero- ter efeitos catastróficos para vas, executando manutenções deve manter a
náutica está relacionada com uma organização. periódicas, correções de falhas confiabilidade
os possíveis erros humanos, Assim, o principal objetivo reportadas e modificações e a segurança
que podem ocorrer a qualquer da manutenção de aeronaves do projeto (como diretrizes e da aeronave
momento durante o desenvol- é manter o estado de confia- boletins de serviço), deixando, estabelecidas no
projeto inicial do
vimento das atividades pelas bilidade e segurança estabe- assim, a aeronave operacional fabricante
equipes de manutenção. O lecidos no projeto inicial do seguindo os critérios estabe-
resultado desses erros a curto, fabricante, por meio de inter- lecidos para manutenção de
médio e longo prazos podem venções preventivas e correti- aeronaves conforme o Regu-
MAGAZINE 3 5 6 | 53
e/ou incidentes aeronáuticos

(ICAO, 2005).
A MANUTENÇÃO
DE AERONAVES
A manutenção aeronáutica
tem por objetivo conservar
e preservar a aeronave em
condições aeronavegáveis.
O trabalho de manutenção e
inspeção de aeronave é um
processo complexo que requer
diversas tarefas, conhecimen-
tos técnicos e procedimentos
específicos. Para Beard e Ahu-
mada (2003), o trabalho da
equipe de manutenção é uma
peça fundamental no sistema
da aviação, pois sua principal
responsabilidade é identificar
e reparar defeitos em diversos
sistemas da aeronave. Dessa
forma, pode-se afirmar que,
na sua essência, o trabalho
de manutenção de aeronaves
busca garantir as condições de
funcionamento e de segurança
necessárias para a preservação
da integridade das pessoas e
das aeronaves, estando dire-
tamente associado à garantia
da aeronavegabilidade, e aos
conceitos da segurança de voo.
Os profissionais responsá-
veis pela manutenção de aero-
naves podem atuar no setor de
fabricação de aeronaves e de
seus componentes, na manu-
tenção de linha de operadores
aéreos, em hangares especiali-
lamento Brasileiro de Homo- atividade não é bem gerida zados das companhias aéreas,
logação Aeronáutica (RBHA ou executada, cria-se um em oficinas dedicadas a recu-
43). Em outras palavras, é por ambiente propício para de- peração de componentes.
meio da manutenção que a senvolver condições latentes,
aeronavegabilidade é restaura- que podem enfraquecer as ERROS HUMANOS E
da quando ocorre uma pane, defesas inerentes da segu- FATORES CONTRIBUINTES
retornando a aeronave para a rança do sistema e desenca- O fator contribuinte na
condição segura para a qual dear falhas ativas, conduzin- manutenção de aeronaves é
foi certificada. Quando essa do a ocorrência de acidentes classificado de acordo com
54 | MAGAZINE 3 5 6
OS FATORES HUMANOS
REPRESENTAM ATÉ 70%
A 80% DOS FATORES
taxonomia de eventos encon-
trados na legislação vigente.
cias são adversas, podem
permanecer inativos em um CONTRIBUINTES
A taxonomia é uma técnica
de classificação dos tipos de
sistema por um longo tempo,
se tornam evidentes quan-
DE ACIDENTES
fatores contribuintes para aci- do combinados com outros AERONÁUTICOS
dentes e incidentes aeronáu- fatores para violar as defesas
ticos, descrita de acordo com do sistema onde estão impreg-
as características da operação nados (Chiu, 2016).
nacional aeroportuária (Brasil,
2017). Estudos mostram que, Para o processo de manuten-
em média, 80% dos erros de ção de aeronaves, a cada tarefa
manutenção envolvem fatores realizada pelos técnicos, surge enquanto em outros, a discre-
humanos (Graziano/2016 e uma nova oportunidade para o pância resultante da manuten-
França/2014). Apesar dessa erro humano ser introduzido. ção foi apenas um elemento
afirmação, discute-se ainda Os erros de manutenção de ae- participante na cadeia de
que a responsabilidade por ronaves podem ocorrer de duas eventos que resultaram no
uma ocorrência aeronáuti- formas específicas: acidente. Vale ressaltar que a
ca não pode ser imputada contribuição de fatores huma-
somente à pessoa, ou seja, - Um erro que resulta em nos em acidentes aeronáuticos
ao ser humano envolvido no um problema específico da chega a 70% a 80% dos ocor-
episódio. Um acidente ou inci- aeronave que não existia antes ridos na aviação civil e militar
dente aeronáutico, geralmente, da tarefa de manutenção ser (Wiegmann, D. A.; Shappell,
provém de diversos fatos que, iniciada; e S. A., 2001).
unidos, culminam nessa ocor- Importante ressaltar alguns
rência. Muitas vezes, a falha - Um erro que resulta em pontos pelas quais a manuten-
humana é gerada ou imposta uma condição indesejada ou ção de aeronaves pode ser um
pelo próprio ambiente em que insegura e permanece sem ser fator contribuinte para proble-
ocorre devido às suas carac- detectada, durante a execução mas na aviação, a saber:
terísticas e, principalmente, à de uma tarefa de manutenção
cultura. projetada para detectar pro- Manutenção preventiva não
Em geral, erros humanos blemas na aeronave, ou seja, realizada: a manutenção
que ocorrem nos sistemas de alguma coisa está faltando preventiva é essencial para
aviação podem ser divididos (CAA, 2002a). identificar e corrigir proble-
em dois tipos: mas antes que eles se tornem
De acordo com CAA sérios. A falta de manuten-
Erros ativos: são aqueles que (2002b), o estudo dos fatores ção preventiva pode levar ao
resultam diretamente em um humanos em ambiente de desgaste dos componentes da
acidente e suas consequências aviação geralmente é direcio- aeronave, tornando-a mais
são imediatas, sendo também nado à tripulação de voo e, em propensa a falhas.
registrados no relatório geral menor escala, aos controlado-
de acidentes. Geralmente, esse res de tráfego aéreo. Esse olhar Erro humano: técnicos de
tipo de erro está relacionado acaba por ser um sério descui- manutenção que cometem
ao desempenho dos operado, devido ao grande impacto erros durante a realização de
dores na ponta da linha do negativo que erros no processo tarefas de manutenção podem
sistema; de manutenção acarretam para introduzir problemas nas
a segurança de voo. aeronaves. Isso pode incluir
Erros latentes: são aqueles Em alguns casos, o erro erros de montagem, instalação
que causam acidentes indi- humano foi o principal fator incorreta de peças, falhas na
retamente e suas consequên- contribuinte do acidente, realização de verificações e
MAGAZINE 3 5 6 | 55
procedimentos de manuten- e supervisão regulatória Treinamento e qualifica-

ção inadequados. para garantir que cumpram ção de pessoal: a qualificação
os padrões de segurança. A e treinamento contínuo do
Treinamento inadequado: manutenção é uma parte vital pessoal de manutenção são
técnicos de manutenção e da segurança operacional, e os fundamentais. As autorida-
pessoal de manutenção devem esforços contínuos são feitos des reguladoras estabelecem
receber treinamento adequado para melhorar a qualidade e a requisitos específicos para
para realizar suas tarefas com eficácia da manutenção para garantir que os técnicos de
VHJXUDQoDHH¿FiFLD$IDOWD garantir que as aeronaves per- manutenção possuam as
de treinamento apropriado maneçam seguras em serviço. habilidades e o conhecimento
SRGHUHVXOWDUHPHUURV necessário.
A FISCALIZAÇÃO
Fadiga: a fadiga dos técni- NA MANUTENÇÃO A fiscalização na manuten-
cos de manutenção devido a A fiscalização na manuten- ção de aeronaves é essencial
longas horas de trabalho pode ção de aeronaves é uma parte para garantir a segurança dos
afetar negativamente o de- crucial da aviação, projetada passageiros, da tripulação e
sempenho e a atenção durante para garantir que as aeronaves da carga. O não cumprimen-
a manutenção. Vale ressaltar estejam em conformidade to dos padrões estabelecidos
que a palavra “fadiga” se refere com padrões rigorosos de pode resultar em penalidades,
ao cansaço físico, ao esgota- segurança e manutenção. Essa suspensão de certificações e
mento emocional, à degrada- fiscalização envolve várias outras medidas corretivas para
ção da habilidade que resulta entidades e procedimentos garantir a conformidade.
da realização de uma tarefa para garantir a integridade e o
mentalmente exigente ao lon- desempenho das aeronaves. CONSIDERAÇÕES FINAIS
go de um período prolongado, Alguns aspectos impor- Ao destacar a importância
fadiga crônica relacionada a tantes estão relacionados à da manutenção de aeronaves
semanas de trabalho sem um fiscalização na manutenção de como fator contribuinte, cabe
descanso adequado e, por fim, aeronaves: ressaltar que os itens que for-
necessidade não satisfeita de ma abordados na construção
dormir. Inspeções programadas e deste trabalho, principalmente
não programadas: as aerona- com relação a formação deste
Gerenciar esses fatores ves passam por inspeções pro- profissional com cursos espe-
contribuintes requer procedi- gramadas e não programadas cíficos para atuação na área.
mentos e protocolos rigoro- para garantir que estejam em O trabalho buscou apre-
sos, treinamento contínuo, condições seguras de opera- sentar sobre o objetivo da
supervisão eficaz e uma ção. As inspeções programa- manutenção de aeronaves,
cultura de segurança sólida das são rotineiras e baseadas que requer diversas tarefas,
nas operadoras e empresas de no número de horas de voo conhecimentos técnicos e
manutenção de aeronaves. A ou ciclos. As não programadas procedimentos específicos. A
segurança é a principal priori- podem ser realizadas e respos- manutenção de aeronaves é
dade na aviação, e a prevenção ta a eventos específicos. um pilar essencial para a segu-
de problemas relacionados à rança e a eficiência na avia-
manutenção é essencial para Investigação de incidentes e ção. A segurança que busca
garantir a integridade das acidentes: em casos de inci- explorar medidas para mitigar
aeronaves e a segurança das dentes ou acidentes, as inves- erros, além de adotar práticas
operações aéreas. tigações são conduzidas para com foco na prevenção de
As empresas de manu- determinar as causas subjacen- acidentes.
tenção de aeronaves também tes e avaliar se houve falhas no O ser humano tem as suas
são submetidas a auditorias processo de manutenção. limitações naturais, é o elo
56 | MAGAZINE 3 5 6
mais sensível no sistema, e requisitos necessários para Voo (CENIPA) e Sistema de

para que não seja induzido homologação são verificados Gerenciamento da Segurança
ao erro, se faz necessário na própria empresa durante Operacional (ANAC). Tam-
adotar medidas de prevenção, as ações de fiscalização. Dessa bém é autor do livro “Aspectos
utilizando ferramentas como forma, os fatores contribuintes Contemporâneos do Direito
o treinamento, que prepara o são descritos como condições Aeronáutico”.
profissional para que sejam que aumentam a probabilidade
utilizadas práticas de segu- de ocorrência de erros, sendo Alessandro Azzi Laender tem
rança. caracterizados como aspectos graduação em Direito e Admi-
A fadiga é um dos fatores que afetam negativamente a exe- nistração, pós-graduação em
contribuintes para muitos cução de tarefas por mecânicos Direito Aeronáutico e MBA em
erros de manutenção, resul- e inspetores aeronáuticos. Gestão Aeroportuária. É coor-
tando em acidentes. Cumpre denador e professor em Direito
ressaltar que os técnicos de * Hilton Rayol Filgueira é co- Aeronáutico na Faculdade
manutenção estejam cientes mandante de aeronave Airbus Cedim, ganhador da medalha
dos sintomas da fadiga e sejam A320, bacharel em Ciências de Honra ao Mérito 150 anos
incentivados a adotar hábitos Aeronáuticas (ICESP), com Santos Dumont agraciado pela
que a previnam, como o sono MBA em Gestão Aeroportuária Força Aérea Brasileira, mem-
regular, a prática de exercícios (ICESP) e pós-gradução em bro-fundador da Comissão de
físicos e o planejamento de ta- Segurança de Voo e Aeronave- Direito Aeronáutico da OAB
refas para que não se acumule gabilidade Continuada (ITA) e MG e autor dos livros “Direito
trabalho para curtos períodos. Gestão em Direito Aeronáutico Securitário na Aviação”, “Di-
As ações de fiscalização (UNISUL), além de capaci- reito Aeronáutico Volumes I, II,
nas empresas de manutenção tação profissional em Direito III”, “Direito Aeronáutico e o
são feitas sem monitoramento Aeronáutico, Perícia Judicial Táxi-Aéreo” e “Direito Aero-
prévio. Além disso, todos os Aeronáutica e Segurança de náutico para Tripulantes”.
MAGAZINE 3 5 6 | 57
T EC N O LO G I A
SISTEMA
INERCIAL
Casos de perda de confiabilidade do sinal
via satélite alertam para a importância de
procedimentos alternativos de navegação,
incluindo o IRS
PO R | FRANCISCO AUGUSTO COSTA*, ESPECIAL PARA AERO
58 | MAGAZINE 3 5 6
MAGAZINE 3 5 6 | 59
FAA Notam da FIR

Teerã (OPS GROUP)
H
á alguns meses, precisam conhecer a fundo os primeiros equipamentos foi
diversos operado- procedimentos alternativos o Delco Electronics Carousel
res reportaram a de navegação. À medida que IV, que equipou os Boeing 747
perda de confia- a navegação em rota baseada fabricados no final dos anos
bilidade no sinal em auxílios-rádio se torna 1970, servindo de base para
do sistema de posicionamento cada vez mais rara, sobretudo o advento dos giroscópios e
global (GPS) no espaço aéreo no Brasil, é necessário que as acelerômetros como as Inertial
limítrofe entre Irã e Iraque. tripulações conheçam bem Reference Units (IRU).
Logo em seguida, a agência o funcionamento de um dos Quanto à sua confiabilida-
norte-americana de aviação, mais tradicionais e confiáveis de, as unidades inerciais con-
a FAA, emitiu uma notifica- sistemas de navegação em- tam com a grande vantagem
ção internacional (NOTAM pregados nas grandes aerona- de serem self-contained (uma
A1000/23, que permanecia ves – o inercial. Neste artigo, vez inicializados devidamen-
ativa até o final de 2023) sobre AERO explora o uso destes te), ou seja, dispensam inputs
provável falha de GPS nes- equipamentos como sistemas externos para seu funciona-
ta área (FIR Teerã - OIIX). de referência (IRS) e seu uso mento (até um certo limite).
Outras entidades relaciona- contemporâneo, como sistema Na inicialização, que consiste
ram estes eventos ao GPS integrado de navegação. no alinhamento do giroscó-
spoofing, que se difere da falha pio e da inserção da posição
do equipamento por ser este TRADIÇÃO E da aeronave, a informação é
um evento proposital. Pouco CONFIABILIDADE dada em coordenadas geográ-
depois, alguns voos no Brasil O desenvolvimento dos ficas e estas coordenadas, em
também foram afetados pela giroscópios teve início na conjunto com a atuação do
perda de confiabilidade no primeira metade do século 19, giroscópio do acelerômetro e
sistema (AERO reportou esta e seu emprego na aviação, em de outros inputs, serão respon-
ocorrência). conjunto com os acelerôme- sáveis pela precisão da nave-
Obviamente, estes não tros (que terão seus princípios gação da aeronave em rota.
foram os primeiros registros de funcionamento explicados Nos equipamentos antigos, a
de spoofing ou falha sistêmica a seguir), data dos anos 1940. inserção da coordenada geo-
de curto prazo. A despeito Como muitas das inovações gráfica era feita manualmente
da altíssima confiabilidade e tecnológicas da indústria, suas pelos pilotos, usando como
da precisão dos sistemas de primeiras aplicações foram base, por exemplo, a coorde-
navegação por satélite, diante militares, notadamente como nada geográfica da posição de
de tais eventos, autoridades, um rudimentar sistema de estacionamento da aeronave
operadores de aeronaves, navegação do míssil balístico no aeroporto, conforme exi-
controladores de tráfego aéreo V-2 alemão. Como sistema de bida em carta aeronáutica ou
e, principalmente, pilotos navegação na aviação, um dos na sinalização aeroportuária.
MAGAZINE 3 5 6 | 61
Inercial Delco Carousel

IV (National Air and Nos sistemas de navegação cessão – estes últimos também massa quando é perturbada,
Space Museum) e contemporâneos, a coorde- chamados de horizontal e ou seja, quando sai do repou-
Painéis de Controle nada inicial é “encontrada” e vertical, respectivamente), que so (ou do movimento retilíneo
dos Sistemas Inerciais inserida no sistema inercial são perpendiculares entre si, uniforme). Como a massa é
(Honeywell)
pelo próprio GPS da aeronave. em torno do centro de gravi- conhecida, a força que esta
dade do rotor. Em sua iniciali- perturbação vai causar de-
O GIROSCÓPIO E O zação, ou seja, ao ser energiza- pende da aceleração da massa
ACELERÔMETRO do, o rotor começa a acelerar (baseado na segunda Lei de
A navegação inercial é defi- até estabelecer giro em altís- Newton, que postula que F =
nida pela determinação da sima rotação, ponto em que M * A). Essa força pode ser
posição, da trajetória e dos adquire duas propriedades medida eletricamente, com
movimentos da aeronave que são fundamentais para grande precisão, ou mecani-
com base na medida das suas seu funcionamento: a inércia camente (comprimindo molas
acelerações em direções espa- giroscópica (que mantém o de resistência conhecida e
ciais conhecidas, por meio de eixo do giroscópio em direção constantemente calibradas).
instrumentos que mecanizam constante, independente da Ao medir a velocidade
as leis newtonianas de movi- força que sofrer) e a preces- angular (giroscópios) e a ace-
mento. Compõem as Inertial são (que é o movimento feito leração linear (acelerômetros),
Reference Units (IRU) os giros- pelo conjunto quando uma o sistema é capaz de registrar a
cópios e os acelerômetros. Às força tende a alterar o eixo de posição da aeronave com base
IRU são somadas informações rotação do rotor, resultando em sua orientação e desloca-
oriundas do Air Data System, em um movimento do eixo mento em relação à posição
dos rádios de navegação e do em plano perpendicular à inicial (coordenada geográfica
GPS. direção da força). inserida no sistema). Antes
Um giroscópio é um rotor Os acelerômetros consis- do advento do GPS, a nave-
balanceado livre para girar tem em uma massa suspensa gação inercial tinha papel
em três eixos (eixo de rotação, em uma unidade capaz de fundamental na precisão da
eixo de torque e eixo de pre- medir o deslocamento dessa navegação de longas distân-
62 | MAGAZINE 3 5 6
cias, sobretudo em áreas sem

coberturas por auxílios rádio,
Giroscópio básico e uma de suas aplicações na aviação (DHN/MB e Boldmethod)
como regiões polares e traves-
sias oceânicas.
PERDA DE PRECISÃO
Se o emprego dos auxílios-
-rádio em rota como meio
primário de navegação tem
caído cada vez mais em desu-
so, o mesmo não pode ser dito
de sua aplicação para melho-
rar a precisão da navegação
inercial. Isso porque as Inertial
Reference Units atuais contam
com alguns recursos de refina-
mento da posição, que se ba-
seiam nestes antigos auxílios.
Acelerômetro básico (DHN/MB) A maior parte das IRU em uso
nas aeronaves contemporâne-
as funciona como equipamen-
to prioritário para conferência
e atualização da posição do
GPS. Todavia, em eventos
como os mencionados no co-
meço deste artigo (spoofing ou
MAGAZINE 3 5 6 | 63
ções de atualização, a unidade causado principalmente por

deixa de melhorar a posição imprecisões muito pequenas
com base nessas fontes e passa nas plataformas e nos sensores
a contar somente com a sua a elas associados. Além do
própria capacidade. drift do próprio equipamento,
Os inerciais são, portanto, fenômenos naturais associa-
equipamentos confiáveis e dos ao magnetismo terrestre
precisos. Contudo, acerca de (notadamente gravidade e
sua precisão, deve ser escla- cruzamento de meridianos) e
recido que se reduz à medida à rotação terrestre (Força de
que a aeronave voa, desde Coriólis) também exercem
O giroscópio a laser falha do equipamento GPS), o alinhamento inicial. Nos alguma influência na precisão
contemporâneo o piloto deve desselecionar o primeiros sistemas inerciais do equipamento.
(Créditos: Honeywell) GPS como fonte de posição e empregados em aeronaves, Nas aeronaves contem-
selecionar a IRU. Neste caso, a perda de precisão era em porâneas, já não se usa mais
há uma ordem de prioridade torno de duas milhas náuticas os giroscópios mecânicos
que, aí sim, fará emprego dos para cada hora voada. Já os equipados com spinning rotor:
auxílios-rádio de solo, que equipamentos contempo- na aviação, emprega-se atual-
geralmente será DME/DME, râneos perdem apenas 25% mente giroscópios óticos a la-
seguida de VOR/DME. Se disso, ou meia milha náu- ser que fazem uso do Efeito de
por algum motivo a unidade tica por hora voada. A essa Sagnac para perceber e medir
inercial não puder fazer uso perda de precisão se dá o mudanças de direção. Base de
de nenhuma destas três op- nome genérico de drift, que é experiências que refutariam
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GIROSCÓPIOS
A LASER
Eles equipam as aeronaves contemporâneas
por suas diversas vantagens, como
maior precisão e eliminação de peso, já
que dispensam o rotor e sua estrutura.
O Efeito de Sagnac é descrito como
a diferença de frequência (tempo de
chegada) entre dois fótons viajando, a
a Teoria da Relatividade de mos e até mesmo dos futuros mesma velocidade, em direções opostas
Einstein, o Efeito de Sagnac veículos de aeromobilidade entre pontos equidistantes. Se os pontos
postula que, quando a luz se urbana. São equipamentos são equidistantes e a velocidade dos
propaga em um circuito fecha- que podem sofrer com perda fótons é a mesma, a diferença de tempo
do, a distância que percorre de sinal de GPS dada a sua (ou de frequência) se deve à velocidade
dentro deste circuito se altera realidade operacional, que na angular a que é submetido o giroscópio em
quando sofre uma rotação ou maior parte das vezes se dá em determinado movimento da aeronave. Ao
mudança de orientação. verdadeiros “cânions urbanos”, girar no que o equipamento percebe ser
em meio a altas edificações um giro no sentido horário ou anti-horário,
o giroscópio a laser funciona efetivamente
PARA ALÉM DA AVIAÇÃO e relevo. Outras aplicações,
como um equipamento de medição
O advento e a praticidade como a estabilização de câ-
de velocidade angular. O princípio de
do uso do GPS fazem pare- meras, antenas e plataformas funcionamento desse tipo de giroscópio é
cer que os equipamentos de também têm se difundido nos baseado em uma cavidade ótica (um túnel
navegação inercial cairiam em últimos anos. Não deve tardar selado em que as paredes são espelhos
desuso, assim como ocorreu para que o cidadão comum, de que direcionam os raios), geralmente
com os auxílios-rádio. O que forma consciente ou não, faça preenchida por gás neon e que utiliza
se observa, contudo, é jus- uso desse engenhoso invento eletrodos para produzir os raios de luz. Na
tamente o contrário: diver- em seu cotidiano. ocorrência de uma rotação, o Efeito de
sas indústrias têm feito uso Sagnac dirá a que taxa essa rotação ocorre
intensivo dos inerciais, que *Francisco Augusto Costa é e, por meio de computadores, estes dados
acabam sendo, na verdade, a piloto de A320 e mestre em se transformam em informações úteis para
essência de alguns produtos, Transporte Aéreo e Aeroportos a aeronave.
como drones, veículos autôno- pelo ITA
MAGAZINE 3 5 6 | 65
AV I AÇ ÃO M I L ITA R
OS STEALTH
E OS UAV
Como a evolução de ambas as tecnologias se
tornaram peças-chaves das principais forças
aéreas do mundo nos últimos 50 anos
PO R | FERNANDO VALDUGA*, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
N
o domínio dinâ- o lançamento do Lockheed das, permitiu-lhe operar nas
mico da aviação F-117 Nighthawk, no início da profundezas do espaço aéreo
militar, as últimas década de 1980, um verda- fortemente defendido com um
cinco décadas deiro pioneiro no domínio nível de invencibilidade sem
marcaram trans- das aeronaves furtivas. O seu precedentes.
formações notáveis, impulsio- design facetado, reminiscente A evolução seguinte na
nadas por inovações tecnoló- de um polígono futurista, tecnologia stealth veio com
gicas, mudanças geopolíticas não foi apenas uma escolha o desenvolvimento de caças
e imperativos estratégicos. Do estética, mas um esforço avançados, como o F-22 Rap-
advento da tecnologia stealth calculado para reduzir a sua tor e o F-35 Lightning II. Estes
até o surgimento dos veículos secção transversal de radar, caças furtivos multifuncionais,
aéreos não tripulados (UAV), tornando-o excepcionalmente equipados com aviônicos de
o cenário da guerra aérea evasivo para os sistemas de última geração, sistemas de
passou por uma profunda radar inimigos. radar avançados e capacida-
remodelagem, com melhoria O sucesso do F-117 lançou de de manobra aprimorada,
das capacidades de ataque e as bases para uma maior exemplificam o contínuo refi-
defesa, alterando a natureza exploração e integração de namento e a expansão das ca-
dos conflitos. recursos furtivos em um es- pacidades furtivas. Represen-
pectro de aeronaves militares. tam um componente crucial
TECNOLOGIA FURTIVA No entanto, foi a introdução das forças aéreas modernas,
A tecnologia stealth, uma for- do bombardeiro stealth B-2 proporcionando superiori-
ça transformadora na aviação Spirit que realmente mostrou dade aérea incomparável em
militar nos últimos 50 anos, o potencial da tecnologia ambientes contestados.
representa um casamento stealth em maior escala. O A essência da tecnologia
intrigante entre engenharia design elegante de asa delta do stealth reside na sua capacida-
de ponta e engenhosidade B-2, combinado com mate- de de reduzir a detectabilidade
estratégica. A jornada da tec- riais absorventes de radar e de uma aeronave por sistemas
nologia furtiva começa com estruturas compostas avança- de radar inimigos, senso-
68 | MAGAZINE 3 5 6
de radar emergentes, e estão

sendo feitos esforços para apli-
car princípios furtivos a uma
gama mais ampla de platafor-
mas, incluindo veículos aéreos
não tripulados (UAV) e até
embarcações navais.
VEÍCULOS AÉREOS NÃO

TRIPULADOS (UAV)
Ao longo do último meio
século, o cenário da guerra
moderna foi remodelado
pela presença silenciosa, mas
formidável, dos Veículos
Aéreos Militares Não Tripula-
dos (UAV, na sigla em ingês).
Desde seu início humilde
como ferramentas experimen-
tais de reconhecimento até se
tornarem recursos indispen-
sáveis no campo de batalha
res infravermelhos e outros em tempo real e melhorando moderno, os UAV (ou Vant)
mecanismos de detecção de a consciência situacional – desempenharam um papel
ameaças. Isso é conseguido um aspecto crucial da guerra fundamental na revolução das
por meio de uma combina- moderna. operações militares.
ção de princípios de design, A mais nova evolução As raízes dos UAV mili-
revestimentos especializa- em aeronaves stealth foi o tares remontam à década de
dos e materiais inovadores bombardeiro B-21 Raider 1970, quando os primeiros
que absorvem, desviam ou da Norhtrop Grumman, que protótipos foram implantados
dispersam as ondas de radar trará novos recursos para o para fins de reconhecimen-
recebidas. Como resultado, teatro de operações de com- to. Inicialmente simples em
aeronaves furtivas podem se bate futuro pela Força Aérea design e com capacidades
aproximar de adversários com dos Estados Unidos. Ele foi limitadas, estes drones foram
probabilidade reduzida de projetado para minimizar sua usados para coletar informa-
serem detectadas, permitindo seção transversal de radar, que ções sem colocar os pilotos
surpresa estratégica e maior é uma medida de quão detec- humanos em risco. A década
sucesso da missão. tável um objeto é pelo radar. de 1980 viu a introdução de
Além disso, o desenvolvi- Os detalhes exatos das capaci- UAV de asa fixa, marcando
mento contínuo de aeronaves dades furtivas do B-21 Raider um avanço significativo em
stealth de quinta geração são segredos bem guardados termos de alcance e resistência
reflete o compromisso de para manter uma vantagem para missões de vigilância.
permanecer à frente das tecnológica sobre potenciais À medida que a tecnologia
ameaças em evolução. O F-35 adversários. avançava, os UAV militares
Lightning II, por exemplo, Olhando para o futuro, a passaram de ferramentas
integra não apenas recursos de evolução da tecnologia furtiva de reconhecimento para
evasão de radar, mas também continua progredindo. Estão participantes ativos em
capacidades avançadas de em curso pesquisas para me- operações de combate. Du-
fusão de sensores, permitindo lhorar a eficácia dos recursos rante a década de 1990 e o
o compartilhamento de dados furtivos contra tecnologias início dos anos 2000, o mundo
MAGAZINE 3 5 6 | 69
de sensores avançados,
tecnologias furtivas e
inteligência artificial deu
origem a uma nova geração
de sistemas não tripulados. O
desenvolvimento de drones
de alta velocidade, capazes de
rápida implantação e coleta de
informações, acrescenta uma
dimensão dinâmica às estraté-
gias militares.
No entanto, as capacidades
crescentes dos UAV militares
também levantam questões éti-
cas e legais, particularmente no
que diz respeito a questões de
soberania, vigilância e ao poten-
cial para ações letais autôno-
mas. Encontrar um equilíbrio
entre aproveitar as vantagens da
tecnologia UAV e abordar estas
preocupações será fundamental
para moldar o futuro das opera-
testemunhou a implantação inteligência artificial e no ções militares.
de drones armados, capazes aprendizado de máquina
de realizar ataques de precisão permitiram maior autono- FUTURO
com uma exatidão sem pre- mia na navegação, identifi- Ao refletirmos sobre os
cedentes. O icônico General cação de alvos e até mesmo últimos 50 anos de aviação
Atomics MQ-1 Predator e na tomada de decisões. As militar, torna-se evidente que
seu sucessor, o MQ-9 Reaper, capacidades furtivas foram o campo passou por uma
tornaram-se sinônimos da aprimoradas, tornando os jornada transformadora mar-
evolução das capacidades dos UAV mais evasivos e eficazes cada por saltos tecnológicos
UAV militares. em ambientes contestados. e adaptações estratégicas. Da
Estes drones armados Modelos especializados furtividade às capacidades não
desempenharam um papel fun- foram desenvolvidos para tripuladas, a evolução conti-
damental em vários conflitos, missões específicas, in- nua. Esses avanços sublinham
oferecendo vigilância persis- cluindo guerra eletrônica, o compromisso das nações em
tente e a capacidade de atacar reabastecimento de carga manter a superioridade aérea
alvos de alto valor com danos e reabastecimento aéreo. A e projetar poder num cenário
colaterais reduzidos. A integra- capacidade dos drones de global em constante mudan-
ção bem-sucedida dos UAV nas operar em enxames, coorde- ça. O futuro promete mais
estratégias militares se transfor- nando suas ações com pre- inovações, garantindo que a
mou em uma virada, provocan- cisão, apresentou um novo aviação militar permaneça
do um aumento do investimen- nível de versatilidade tática na vanguarda das proezas
to e do desenvolvimento em no campo de batalha. tecnológicas e da relevância
sistemas não tripulados. À medida que entramos estratégica.
A última década assistiu na década de 2020, os
a um aumento na autonomia UAV militares continuam * Fernando Valduga é editor-
e na sofisticação dos UAV a evoluir a um ritmo -chefe do Cavok Brasil: www.
militares. Os avanços na rápido. A integração cavok.com.br
70 | MAGAZINE 3 5 6
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H I S TÓ R I A
HENRI BALLOT,
MAIS QUE UM
PILOTO
Um aviador que lutou na Segunda Guerra
e ficou famoso como fotógrafo da revista
O Cruzeiro antes de ser influenciado pelo
jornalista Armando Nogueira a comprar
um ultraleve e voá-lo até o fim da vida
P O R | TEOMAR BENITO CERETTA*, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
H
enri Ballot foi um batismo do ar. Evidentemente, Assim, Jean Sicard inicia
cidadão franco- dessa experiência nasceu a seu relato: “No dia 14 no-
-brasileiro, filho paixão pelo voo. Com muito vembro de 1942, a França, até
de Gabriel Ballot, sacrifício, aos 16 anos, obteve então ocupada pelos alemães
um engenheiro seu brevê de piloto de avião, na parte norte, foi totalmente
francês, e de Marina Rios segundo informou Helena invadida pelas tropas nazistas.
de Oliveira, de nacionalida- Ballot, filha de Henri. Ballot e eu éramos chefes na
de brasileira, residentes na Quando a Segunda Guerra Compagnons de France (uma
cidade de Rio Grande (RS), Mundial começou, em 1939, organização da resistência
na segunda década do sécu- Henri Ballot se alistou na Es- francesa) e, naquele dia, em
lo 20. O engenheiro Gabriel cola Elementar de Pilotagem Albi, então desocupada, fica-
Ballot chegou à cidade de Rio nº 34, em Angoulême, como mos muito preocupados com
Grande para trabalhar como soldado de segunda classe. a chegada de soldados inimi-
técnico responsável na cons- Posteriormente, foi aceito na gos. Nós tínhamos participa-
trução dos molhes da barra Escola Militar de Pilotagem de dos da guerra com a idade de
do porto (obra de hidráulica La Rochelle, sendo nomeado 18 anos, enquanto perdurou
marítima para garantir entrada caporal, no dia 1º de abril de o conflito, ele como aviador
e saída de navios), que tiveram 1940. O jovem aviador Henri na Força Aérea, e eu como
início no ano de 1911. Com o Ballot ainda faria treinamen- cavalariano. Ficamos deso-
desencadeamento da Primeira tos na Escola de Pilotagem de lados com a debandada das
Guerra Mundial, em 1914, Angers, onde chegou em 26 nossas tropas, e o chamado do
Gabriel retornou à França para maio do mesmo ano de 1940. general De Gaulle permanecia
lutar pelo seu país. De posse Engajado como voluntário, em nossa memória. A visão
de um brevê de aviador, entrou entrou para guerra em 03 de das tropas alemãs foi o gatilho.
para a arma da aviação, onde junho de 1940, mas voou por Decidimos alcançar as Forças
integrou a famosa Escadrille pouco tempo, até o encerra- Francesas Livres na África do
Cigone (Esquadrilha Cego- mento dos combates com a Norte, via Gibraltar. Para isso,
nha). consequente queda da França, era necessário atravessar a Es-
Gabriel Ballot, portador conforme relatou a filha Vero- panha, aliada politicamente ao
do brevê nº 12, fez parte de nique Ballout. nosso adversário. Meu irmão,
um grupo de jovens pioneiros que eu deveria vê-lo antes
a obter o brevê de aviador ODISSEIA PARA de partir, por questões de
emitido pelo Aeroclube da SE JUNTAR A DE GAULLE assuntos familiares, vivia em
França. Com o fim do conflito, O relato a seguir tem como Foix [cidadela encravada em
em 1918, retornou ao Brasil base o documento, Vers De meio às montanhas dos Alpes
para retomar seu trabalho. Gaulle (Em Direção a De franceses, não muito distante
Três anos depois, no dia 08 Gaulle) enviado da França, da linha de fronteira com a
de fevereiro de 1921, nasceu no ano de 1991, por Jean Espanha]. Selecionamos o
em um hospital na cidade de Sicard, ao seu amigo Henri lugar mais seguro para passar
Pelotas (RS), Henri Ballot, o Ballot, na época, residente na a fronteira espanhola na lo-
segundo filho do casal. grande Florianópolis (SC). O calidade de La Tour de Carol,
Em 1923, Gabriel Ballot documento é um resumo que de onde poderíamos chegar
voltou à França com sua fa- relembra a aventura dos dois de trem ao nosso destino. Esta
mília, e fixou residência na re- jovens para fugir da França, localidade ficava próximo de
gião de Charente. Foi naquela com o intuito de alcançar as Puigcerda, onde uma linha
localidade que o pequeno Forças Francesas Livres na ferroviária nos permitia che-
Henri, então com dois anos Inglaterra para retomar a luta gar a Barcelona. No entanto,
de idade, cresceu. Em idade sob o comando do general De esse meio era arriscado em
precoce, aos 12 anos, fez seu Gaulle. razão dos frequentes controles
MAGAZINE 3 5 6 | 73
facilitar a passagem da próxima após Puygcerda.

fronteira nas proximi- Conforme Sicard, enfim, a
dades de La Tour de odisseia iria começar. Depois
Carol. Permaneceram de caminhar por trilhas e
em Foix, durante os dias campos, chegaram à rodovia
21 e 22, e aguardaram que os levariam até a estação
impacientes o momento ferroviária. Depois de uma
para iniciar a fuga. longa e cansativa marcha, ao
No dia 25 de no- longe avistaram uma grande
vembro de 1942, cedo construção isolada. Movi-
da manhã, partiram dos pela fome, após algumas
com destino à fronteira hesitações, bateram à porta do
espanhola. Para não casarão. Foram atendidos por
despertar suspeitas, uma jovem, a qual apresenta-
eles não portavam ram um bilhete em espanhol,
bagagens. Levavam onde pediam leite. Ela sorriu,
consigo algumas caixas e depois de acomodados a
de biscoitos, chocolate, uma grande mesa, saciaram
doces e vários maços de a fome com muito pão e leite
cigarros nos bolsos de quente.
nas grandes estações”. suas grandes jaquetas. Cada Antes de partirem, assusta-
Casa da infância de A partir do dia 15 de no- um deles também portava dos, perceberam a presença de
Henri Ballot, em Touzac, vembro, os dois companheiros um cantil de couro. Apesar de um carabineiro à retaguarda.
Charente, França dedicaram seu tempo para marchar através de caminhos Pensaram que naquele instan-
(Coleção: Helena Ballot) preparar a fuga. Na ausência complicados, pela topografia te seriam presos. Nervosos,
de um mapa da Espanha, acidentada, optaram em calçar saudaram-no, pensando terem
confiando apenas em uma sapatos sociais, o que lhes caído em uma cilada. Depois
carta Michelin com poucas dava um aspecto de citadi- de abastecer seus cantis, agra-
informações sobre o território nos, e não de viajantes. Eles deceram à jovem mulher pela
espanhol, tentariam chegar, sabiam que uma vez presos, refeição. Bondosamente, ela se
em uma primeira etapa, a seriam enviados aos alemães e recusou a qualquer pagamen-
Barcelona, por trem, depois de expedidos para um campo de to. Mais tarde, souberam que
cruzar a fronteira a pé atra- concentração. a presença daquele soldado,
vés do Pirineus. No íntimo, Ao chegarem à estação fer- na verdade, tratava-se de um
duvidavam se o consulado roviária de La Tour de Carol, funcionário da alfândega que
britânico facilitaria o fim da foram para um hotel luxuoso havia chegado para visitar sua
viagem. Ballot, chefe de uma com a intensão de tomar café. “bela”.
companhia, aguardava, além Mas, à vista de alguns capotes Depois de muitas peri-
de uma designação, também alemães pendurados, retorna- pécias em longas e penosas
um momento para solicitar ram ao caminho e foram para marchas, adormeceram ao
seu desligamento. Sicard, por a pequena aldeia, onde o in- relento escondidos em meio às
sua vez, chefe do campo de formante vivia. Após as devi- rochas. Restabelecidos do can-
Marsal, deveria prestar contas das identificações, foram bem saço, andaram até o vilarejo
à sua província de Toulouse. acolhidos. À noite, o infor- de La Pobla de Lillet, onde se
Segundo ele, todos foram mante os levou até a fronteira hospedaram por dois dias na
compreensíveis. Um de seus espanhola, de onde poderiam, Casa Chese com o intuito de
amigos forneceu o endereço após uma caminhada de 10 chegar à estação ferroviária de
de uma pessoa que poderia quilômetros, tomar um trem Guardiola, onde pretendiam
na estação de Queixans, a adquirir bilhetes com destino
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Parte do documento
à Barcelona. O castelhano de Durante os dias 28 e permaneceram isolados em original da épica fuga
Henri Ballot acabou sendo de- 29 de novembro de 1942, uma cela, foram transferidos de Henri Ballot e Jean
sastroso, obrigando-os a uma permaneceram presos em para a temida Cárcel Modelo Sicard com destino
à Espanha (Coleção:
fuga rápida. Partiram à noite, um hotel sob a vigilância de (Prisão Modelo), em Barcelo- Família Ballot)
e decidiram alcançar Barcelo- guardas civis. Acreditavam na. Segundo as informações,
na a pé, depois de seguir a via que no dia 30 seriam presos aquela prisão de alta seguran-
férrea. Mas, ao cabo de cem definitivamente, e levados ça comportava uma população
metros, em frente à estação de para Manresa, ou a Bar- de trinta mil detentos, onde
Guardiola, ouviram uma voz: celona, sendo que tinham inexistiam possibilidades de
“Documentación”. preferência por esta última fuga.
Os dois amigos foram pre- cidade em razão da presença O registro para dar entra-
sos e levados para um peque- do consulado britânico. da na temida penitenciária
no albergue situado em frente No dia 30, partiram cedo não foi tão simples assim para
à estação ferroviária. Eles de trem da estação de Guar- os dois fugitivos “canadenses”.
portavam documentos falsos diola, em um vagão glacial Quanto à Sicard, falso John
de nacionalidade canadense, de terceira classe, sem saber Wicard, o escrivão parou de
que segundo Sicard, um fran- aonde iriam. Depois de duas falar ao soletrar seu nome,
cês seria barrado na fronteira, horas de viagem, chegaram à John, o que era difícil para ele
o que não aconteceria com um estação de Manresa. Escolta- escrever e soletrar em espa-
norte-americano. Henri Ballot dos por uma dupla de guar- nhol, pelo canadense que ele
se chamava Henri Olivier, e das, chegaram a uma grande era. Quanto ao seu sobreno-
Jean Sicard portava o docu- construção. Uma porta se me Wicard, pela ausência da
mento com o nome de John abriu, e os guardas ordena- letra W no alfabeto espanhol,
Wicard. O destino declarado ram que os acompanhassem. desencadeou-se uma confu-
era parcialmente verdadeiro. Pela primeira vez, esta- são que traria prejuízos ao
Juntar-se às tropas britânicas vam de fato encarcerados. final do processo para a sua
via Gibraltar. Depois de quatro dias, onde libertação.
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trocado por um saco de fosfa- a partida de alguns compa-

to, ou de farinha. nheiros. Numerosas explica-
No dia 12 de abril de ções lhes eram dadas. Dossiê
1943, após o café da manhã, perdido. A letra W não existe
uma voz alta soou um “venga no alfabeto espanhol. A sala
con todos [venham todos]”. foi esvaziada, e “John Wicard”
Eles teriam, ao que parece, ir duvidava de sua liberdade
para outro lugar. Ladeados tão próxima, como imagi-
por guardas civis, um grupo nava. No entanto, no dia 10
de detentos deixou a Prisão de julho, um único nome foi
Modelo, para subir a colina chamado. Jean Sicard em-
de Monruich, onde chegaram barcou em uma viatura que
ao Palácio de Las Misiones. transportava delinquentes
Tratava-se de um prédio an- e prostitutas para o quartel
tigo, construído para abrigar da polícia, e ao fim de uma
a Exposição Universal de hora, após um estágio nas
Barcelona em 1929. delegacias da cidade, chega-
O grupo era formado por ram à via Layetana. Sicard
150 detentos. Dentre eles, pensava que seria libertado
nenhum de nacionalidade imediatamente. Mas, como
espanhola. De acordo com era sábado, permaneceu dois
Sicard, enquanto eles se orga- dias em uma célula naquela
nizavam durante uma manhã, delegacia, entre dois ladrões.
dois nomes foram chamados E ele se perguntava: “Afinal,
com um “venga” tradicional, sou canadense ou francês”?
e foram libertados. Os dois Em 12 de julho de 1943:
amigos pressentiram que apesar da burocracia, Sicard
também estavam próximos foi libertado como canadense.
O jovem aviador Despojados de seus da liberdade. Quase todos Durante quinze dias, Ballot
Henri Ballot pertences e de suas eco- os dias, vários nomes eram mostrou a cidade ao amigo,
(Coleção:
nomias financeiras, iriam anunciados. Eles também e o infeliz passado se dissi-
Helena Ballot)
começar uma longa e dura aguardavam impacientes a pou. O consulado britânico o
vida de prisioneiros. Durante sua vez. No dia 12 de maio enviou a Madrid, e os velhos
o período de observação, de 1943, pela manhã, foram amigos se separaram. Os
souberam que em torno de tomados por uma grande caminhos de Ballot e Sicard
cinquenta prisioneiros se alegria. Henrique Olivier foram diferentes. Depois de
encontravam nas mesmas foi chamado. Sicard sentiu ter restabelecido sua identida-
condições de fugitivos, como a falta do amigo. Confiante, de francesa, e ter se tornado
eles, quase todos canadenses. esperava a sua vez. Ballot foi o francês Léon Moure, Sicard
E que, ao fim de um certo libertado como francês, e não só pôde se reunir ao seu regi-
período, eles seriam transfe- como canadense. mento de Spahis, em Meknès,
ridos para um campo próxi- Jean Sicard (John Wicard), no Marrocos, na sexta-feira
mo de Miranda de Ebro. De ainda permaneceria preso do dia 1º de outubro de 1943.
vez em quando, um comboio até o dia 10 de julho de 1943. Por sorte, seu amigo
levava alguns deles para um Apesar das visitas que seu Ballot era piloto na base aérea
porto, onde velhos barcos amigo Ballot fazia ao Consu- daquela cidade, onde pude-
franceses os conduziam à lado Britânico, a sua liberda- ram se reencontrar por diver-
Casablanca. Corria a notícia de não chegava. Diariamente sas vezes. Depois, Sicard foi
de que cada prisioneiro era ele acompanhava com tristeza à Casablanca, onde, por uma
76 | MAGAZINE 3 5 6
sido transferidos para lá. Para aeronave em estado crítico.

grande surpresa, ele soube Levado em coma pelos
que seu amigo estava vivendo americanos, recobrou os senti-
muito bem, no Brasil. Foi, dos depois de quatro meses de
então, que eles passaram a se internação na cidade de Den-
corresponder com frequência, ver, no Colorado, nos EUA.
até 1997, quando Ballot, atin- No entanto, pela gravidade do
gido por uma doença incurá- seu problema de saúde, per-
vel, faleceu. De acordo com maneceu convalescente, tendo
Sicard, ele havia perdido seu de suportar uma internação
amigo pela segunda vez. por dois anos, até se recupe-
rar por completo. Foi nesse
HENRI BALLOT NA GUERRA período que sua vida tomou
Concluído o curso de nave- novos rumos. Um colega de
gação aérea, Henri Ballot foi quarto no hospital lhe ensinou
designado para voar em um os segredos da profissão de fo-
grupo de Aviação de Caça tógrafo, a qual iria se dedicar
das Forças Aéreas Francesas posteriormente.
Livres. Durante grande parte Depois de sua recuperação
da guerra, ele voou o famoso nos EUA, H. Ballot retornou
avião Hurricane. Quando à França, em 1946. A Europa
os ventos da vitória se apro- era o cenário do caos, um con-
ximavam, Ballot passou a tinente arrasado pela guerra.
Henri Ballot última vez, jantaram juntos, voar um avião bombardeiro, Como tantos jovens, também
no Hospital quando Ballot se despediu do comandando a famosa For- ele abandonaria sua vida de
em Denver, amigo, pois ele teria de ir aos taleza Voadora B-17. De suas aviador, e deixaria a França
Colorado, Estados Unidos frequentar missões de bombardeio sobre com destino ao Brasil, onde
EUA, em 1944 a Alemanha, a que mais lhe chegou em 1947, segundo
um curso de Navegação Aérea
(Coleção: Helena
Ballot) administrado pela United marcou foi um ataque à cidade relata sua filha Veronique.
States Air Force (USAF). de Dresden, cuja violência da Assim que chegou a São
A guerra os deteve, cada destruição atingiu profunda- Paulo, Henri Ballot foi morar
um do seu lado, e quando mente sua sensibilidade. juntamente com Victor, seu
tudo acabou, Sicard pergun- No final de 1944, seu avião irmão mais jovem, em uma
tou sobre seu amigo, junto aos foi atingido seriamente pela colônia de franceses. Não
pilotos, tanto em Casablanca artilharia antiaérea alemã, tardou muito para conseguir
como na França. As respostas quando cumpria uma missão um emprego como fotógrafo
eram idênticas: “Ballot foi de bombardeio sobre Colô- na revista O Cruzeiro, quando
morto em seu avião durante nia, na Alemanha, já ocupa- começou a viajar pelo país e
um combate”. da pelas tropas americanas. pelo mundo. Acompanhando
Por fim, Sicard, que in- Milagrosamente sobreviveu ao os indigenistas Irmãos Villas-
sistia na busca por vestígios ataque, sendo o único sobrevi- -Boas, fez importantes regis-
de seu amigo, escreveu ao vente dentre os tripulantes do tros dos povos indígenas no
prefeito de sua comuna, na B-17. Gravemente ferido, con- Xingu. Em 1958, integrando a
França. No entanto, aquela seguiu com muita dificuldade equipe de Armando Nogueira,
autoridade nunca respondeu levar o avião para as linhas participou da cobertura da
sua carta. Somente em 1991, aliadas, onde fez um pouso ca- Copa do Mundo na Suécia.
ele se dirigiu à aldeia para vi- tastrófico em um aeródromo H. Ballot também fez impor-
sitar o túmulo do amigo, caso controlado pelos americanos. tantes reportagens interna-
seus restos mortais tivessem Foi retirado dos destroços da cionais para a revista, como
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Centenas de o fim da guerra no Líbano, e fotográfico do jornal Última tiu no empreendimento de

aviadores a convalescença do papa Pio Hora, onde, permaneceu por um estaleiro para a cons-
franceses foram XII em Roma. Como repórter, dois anos. Curiosamente, foi trução de pequenos barcos.
designados para foi enviado para a Antártica, Henri Ballot quem começou a Em meados de 1980, perdeu
realizar um curso
de navegação
onde fez curiosos registros colocar créditos em fotografias todo o seu investimento por
aérea administrado fotográficos. No Chile, fez publicadas em jornais. Porém, causa da severidade das chu-
pela USAF nos importantes imagens foto- segundo Carmen, “o coração vas comuns naquele lugar.
EUA (Le Centre gráficas do maior terremoto do fotógrafo batia mais forte Enquanto os Ballot
de Formation du em magnitude que arrasou o nas alturas: até um mês antes moravam na Ilha Grande,
Personnel Navigant sul do território, no dia 22 de de sua morte, aos 76 anos, de acordo com Carmen,
en Amerique), em maio de 1960, como registra quando ainda pilotava seu foi ali que o piloto de avião
1943. Henri Ballot
é o último à direita sua esposa, Carmen Ballot. ultraleve. Ele era mais aviador adormecido despertou.
em pé Conforme Carmen que fotógrafo. Depois de ter Tudo aconteceu quando eles
Chateaubriand Ballot, sua feito a guerra como piloto de receberam a visita do amigo
esposa, em um depoimento caça, a paixão pelo voo volta- Armando Nogueira, que
ao Instituto Moreira Sales, em ria a ser retomada somente na chegou pilotando um hi-
2015, Henri Ballot se dedicou década de 1980”. Ballot tam- droavião ultraleve. Foi o que
ao fotojornalismo, de 1949 a bém era fascinado por barcos. bastou para Henri comprar
1968, período em que ficou Depois de encerrar sua carrei- o seu também.
conhecido por suas famo- ra de fotógrafo, nos primeiros Mais uma vez, Henri
sas imagens. Com o fim da anos de 1970, mudou-se com Ballot fez nova mudança. De-
revista O Cruzeiro, em 1968, sua família para Ilha Granded, pois de viver durante 19 anos
foi trabalhar no laboratório no Rio de Janeiro, onde inves- em Ilha Grande, agora ele
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se voltaria para o sul do Brasil.

H. Ballot comprou um sítio ao
lado do aeródromo de São José,
na grande Florianópolis, onde
criava cabras de ordenha para
fazer um famoso queijo.
Sem voar desde seu aciden-
te na guerra, ele desejou mais
uma vez voltar à pilotagem de
avião. Com suas habilitações
de voo vencidas havia mais
de 40 anos, foi procurar um
aeroclube onde poderia revali-
dar seu brevê de aviador. Essa
oportunidade ele encontrou
no aeroclube de Santa Cata-
rina, na cidade de São José.
Junto com a mudança, trouxe
seu ultraleve, o Natillus, como
o chamava carinhosamente,
que passaria a pilotar após ter
sido reabilitado legalmente
para o voo. Seu ultraleve, que
era equipado com um par de
flutuadores, sofreu mudanças
com a substituição por um
trem de pouso convencional
para operar em pista de solo.
Segundo Carmem, “Henri
voava todo o santo dia. E voou
até morrer”. Além das infor-
mações coletadas junto aos
familiares, dados sobre Henri
Ballot estão disponíveis na ma-
téria “Por Dentro Dos Acer- voos apenas com seu frágil Em outubro de 1988, chegou Henri Ballot
vos – Henri Ballot, aviador”, ultraleve. Certo dia, já em a Curitiba com seu Boeing consertando um barco
publicada por Mànya Millen idade avançada, ele impres- Stearman, que foi buscar nos em seu estaleiro, na
Ilha Grande (Coleção:
em outubro de 2018. sionaria seus amigos ao voar Estados Unidos. Quem ima- Helena Ballot) e com
Nos últimos anos, moran- um biplano acrobático. Para ginaria que um monomotor seu ultraleve (Nautillus)
do ao lado do Aeroclube de narrar essa façanha, antes é biplano, ano 1942, pudesse vir no Aeroclube de Santa
Santa Catarina, Henri Ballot necessário falar do avião. voando de tão longa distân- Catarina. A figura da
fez amigos e, com eles, voou. cia? O comandante Stocco Cegonha na fuselagem
Aproveitou ao máximo os BALLOT VOA não tinha dúvidas de que é uma homenagem à
momentos com seu ultraleve, UM STEARMAN 1942 traria seu biplano voando em Escadrille Cigogne, da
qual seu pai fez parte
fazendo voos rotineiros para O relato a seguir é resulta- um trajeto de mais de 12 mil durante a Primeira
satisfazer sua paixão reco- do de uma entrevista com o quilômetros. Guerra Mundial
brada depois de tantos anos, comandante de Linha Aérea, Stocco encontrou o (Coleção: Carmen
desde seus tempos de guerra. João Carlos Stocco, um afi- Boeing Stearman na cidade C. Ballot)
H. Ballot não restringia seus cionado pela acrobacia aérea. de Bullhead City, no Arizona,
MAGAZINE 3 5 6 | 79
e a procedência de H. Ballot,
Stocco sugeriu gentilmente
que ele ocupasse o assento do
comandante, ou seja, o banco
traseiro da aeronave. Com
muita discrição, Ballot agrade-
ceu a gentileza e foi se acomo-
dar no banco dianteiro.
Stocco fez a decolagem,
e lá nas alturas ofereceu os
comandos do Stearman ao
convidado, que aceitou pron-
tamente. Depois de voar por
alguns minutos, e sentir-se
à vontade com a aeronave,
Ballot pediu se poderia fazer
algumas manobras. Com isso,
quebrou-se todas as advertên-
cias e recomendações feitas
em solo. O que mais sur-
preendeu o Stocco foi ter de
acompanhar uma sequência
de looping, tonneaux e parafu-
sos, manobras feitas com uma
perfeição assombrosa de fazer
USA. Antes de iniciar a longa inveja aos mais experimenta-
Sítio da família
Ballot com seu jornada para trazer o avião ao SURPREENDENDO dos acrobatas. De acordo com
rebanho de cabras Brasil, voou 300 quilômetros SEUS AMIGOS Stocco, “manobras redondas”.
em São José, até Los Angeles, onde prepa- , -Em finais de 1988, o aeroclu- Evidentemente, Henri Ballot
SC (Coleção: rou sua navegação. Segundo be de Santa Catarina celebrou mostrou suas qualidades
Helena Ballot) e O seu depoimento, encarou os 50 anos de sua fundação do piloto de caça que havia
Boeing Stearman o longo translado apoiado com uma grande festa. O sido 45 anos antes, inclusive
(Foto - coleção surpreendendo seus amigos e
apenas na bússola magnéti- Boeing Stearman foi a vede-
comandante João
Carlos Stocco) ca, uma grande proeza, pois, te do evento, como uma das arrancando aplausos da plateia
na época, ainda não existia aeronaves mais admiradas pelo que acompanhava seu show.
o GPS. Sem dinheiro para público, principalmente pelos Por fim, Henri Ballot fechou
comprar equipamentos mais aviadores presentes. Amigos de seu ciclo de existência, quando
sofisticados, como um de- Henri Ballot o apresentaram faleceu aos 76 anos de idade,
tector automático de direção ao comandante Stocco, quando em 1997. A filha Helena guarda
(ADF, na sigla em inglês) ou lhe foi sugerido para fazer um as melhores recordações de seu
um radiofarol ominidirecio- voo com o biplano, que havia pai, quando fala das qualida-
nal em frequência muito alta chegado para abrilhantar os des de um “homem bondoso,
(VOR, na sigla em inglês), fez festejos fazia pouco tempo. discreto e bem-humorado”.
sua viagem auxiliado com um Evidentemente que a propos-
pequeno VHF portátil. Depois ta foi aceita. Mas, antes do * Texto originalmente publica-
de 13 dias, 93 horas de voo e embarque, amigos advertiram do pelo autor na revista Ideias
25 escalas, a grande proeza Stocco para poupar o francês, em Destaque n. 57 – Incaer,
terminou quando chegou ao pela sua idade avançada, e que sem o acréscimo do tópico
seu destino no aeroporto de ele fizesse apenas um voo sua- “Odisseia para se juntar a De
Bacacheri, em Curitiba. ve. Respeitando a senioridade Gaulle”.
80 | MAGAZINE 3 5 6
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