Técnicas de Poder e Controle Han Focault
Técnicas de Poder e Controle Han Focault
Técnicas de Poder e Controle Han Focault
Opinião
Filosófica
Fundação Fênix – www.fundarfenix.com.br
https://doi.org/10.36592/opiniaofilosofica.v13.1048
O filósofo francês Michel Foucault desenvolveu ao longo de sua obra uma genealogia
das técnicas de poder exercidas desde, pelo menos, o século XVIII, realizando uma
análise aprofundada do funcionamento, origem e consequências destas técnicas na
subjetividade dos sujeitos. Byung-Chul Han, por seu turno, imerso no presente, mas
amparado por autores que o precederam e, dentre eles, Foucault, realiza uma
análise das técnicas de poder características do capitalismo tardio do século XXI,
caracterizadas, especialmente, pelas novas tecnologias de vigilância e controle
social, como big data e algoritmos. Assim, o presente texto realiza uma análise
conjunta das obras de ambos os autores objetivando identificar a continuidade entre
as técnicas de poder e controle identificadas por Foucault e, posteriormente,
reimaginadas por Han, com a realização de uma interseção entre as obras destes
importantes autores para o pensamento das relações sociais e, assim, alcançando
uma compreensão mais apurada do fenômeno do controle biopolítico na
contemporaneidade. Através da presente pesquisa, pudemos concluir pela
existência de uma continuidade entre os fenômenos descritos por Foucault e
aqueles descritos por Han, sendo aqueles precedentes diretos destes. Para tanto, a
metodologia de pesquisa empregada foi a fenomenológico-hermenêutica e o
procedimento utilizado o bibliográfico.
Palavras-chave: Biopolítica. Controle. Poder. Psicopolítica.
Abstract
1 Mestrando em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul –
PUCRS.
E-mail: [email protected]; https://orcid.org/0000-0003-1910-8401
2 Mestrando em Filosofia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como bolsista
PRO-Stricto/PUCRS.
E-mail: [email protected]; https://orcid.org/0000-0002-3137-7412
3 Obra mais célebre do filósofo francês Michel Foucault, Vigiar e Punir é um estudo sobre a evolução
histórica dos dispositivos penais, processuais penais, métodos coercitivos e dispositivos de punição
adotados pelo poder público na repressão à criminalidade. Cf. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir:
Nascimento da Prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 42. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
4 Para Deleuze, a sociedade disciplinar foucaultina tinha como característica o deslocamento
contínuo do indivíduo de um espaço fechado para outro: da família para a escola, da escola para
fábrica, eventualmente para o hospital ou para a prisão. É a prisão, portanto, o símbolo analógico
dessa sociedade marcada pela disciplina e pela estruturação e disposição dos corpos em espaços
rigorosamente determinados. As sociedades disciplinares sucedem às sociedades de soberania, nas
quais o monarca soberano presava mais em açambarcar os súditos do que funcionar como gestor
deles, “decidir sobre a morte mais do que gerir a vida”. In: DELEUZE, Gilles. Conversações (1972-
1990). Tradução de Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 2013, p. 223.
1978). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2008b.
7 Edgardo Castro, filósofo argentino e estudioso da obra de Michel Foucault, adverte que na obra
foucaultiana as técnicas de poder não substituem umas às outras, mas se complementam, ainda que
o sejam sucessivas no tempo, não o são em relação ao seu exercício. Assim, afirma que o poder
disciplinar não fora solapado pelo biopoder, mas que estas diferentes técnicas de controle dos corpos
apenas somaram-se, ainda que a primeira tenha perdido importância em detrimento da segunda,
jamais desapareceu. Frisa, assim, que as técnicas de poder não são excludentes entre si, mas
complementares. In: CASTRO, Edgardo. Introdução a Foucault. Tradução de Beatriz de Almeida
Magalhães. 1. ed. 4. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2020, p. 110.
se que a estatística seria capaz de libertar o conhecimento do teor mitológico; por isso, a estatística
foi festeja com euforia pelo primeiro Iluminismo. À luz da estatística, Voltaire almejava uma história
que fosse separada da mitologia. De acordo com ele, a estatística seria «objeto de curiosidade para
quem quer ler a história como cidadão e como filósofo». [...] Os big data devem libertar o
conhecimento da arbitrariedade subjetiva. A intuição não representa nenhuma forma de
conhecimento superior: ela é algo meramente subjetivo, um recurso que compensa a falta de dados
objetivos. De acordo com esse argumento, em uma situação complexa, a intuição é cega. Até mesmo
a teoria cai sob suspeita de ser ideológica. Quando os dados suficientes estiverem disponíveis, a
teoria se torna dispensável.” In: HAN, Byung-Chul. Psicopolítica: O neoliberalismo e as novas
técnicas de poder. Tradução de Maurício Liesen. Belo Horizonte: Âynié, 2018b, pp.79-81.
10 O termo “população” adquire, em Foucault, especial relevância para designar a massa opaca de
indivíduos visualizável através da estatística, dos dados, cujo gerenciamento norteará as técnicas
governamentais. Cf. FOUCAULT, Michel. Segurança, População, Território: curso dado no Collège
de France (1977-1978). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2008b.
Portanto, na presente pesquisa, ao nos referirmos à “população”, o faremos de acordo com o conceito
foucaultiano do termo.
11 A biopolítica afirma-se como técnica de exercício de poder de maneira positiva sobre a vida dos
sujeitos (aqui pensados como indivíduos que compõe determinada população), poder este que
intenta administrar e aumentar as forças da população e do indivíduo, em nível geral e particular,
gerando mais valor e utilidade aos corpos, através de, v.g., técnicas e ciências medicinais, higienistas
e de controle da mortalidade infantil. Cf. Idem. História da Sexualidade 1: A Vontade de Saber.
Tradução de Maria Thereza de Costa Albuquerque e J.A. Guilhon Albuquerque. 9. ed. Rio de Janeiro,
RJ/São Paulo, SP: Paz e Terra, 2019, pp. 145-150.
12 “[A] governamentalidade se define pelo conjunto de instituições, cálculos e táticas que têm “como
objetivo principal o governo da população, como forma maior a economia política e como
instrumento técnico essencial os dispositivos de segurança” (FOUCAULT, 2004c, p. 111, p. 143).” In:
CASTRO, Edgardo. Introdução a Foucault. Tradução de Beatriz de Almeida Magalhães. 1. ed. 4.
reimp. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2020, p. 113.
13 Edgardo Castro aponta, com precisão, a insuficiência do conceito de poder disciplinar para
duração. Daí a importância que, no desenvolvimento desses dispositivos, teve o que no século XVIII
se denominava ciência da polícia, vale, a estatística. Então, na medida em que se trata de administrar
esse conjunto e seus efeitos, os dispositivos de segurança devem funcionar tendo em conta a
aleatoriedade dos acontecimentos futuros. À diferença de quanto sucede nas disciplinas, não se trata
de adaptar os acontecimentos a uma norma estabelecida com anterioridade, mas de seguir as
tendências gerais que elas descrevem. Desse modo, enquanto no caso da disciplina a norma é
anterior e externa, no dos dispositivos de segurança, em contrapartida, é intrínseca. Para distinguir
essas duas diferentes maneiras de relacionar-se com o normal, Foucault propõe reservar o termo
“normalização” para os dispositivos de segurança, e o termo “normação” para as disciplinas
(FOUCAULT, 2004c, p. 65; p. 83).” In: Ibidem, p. 111.
igual forma, não modificaram-se somente os objetos do poder, mas também os seus
métodos de atuação sobre indivíduos (ou para citar Deleuze novamente: os poderes
que os atravessam, passam entre os indivíduos), agora muito mais incisivos do que
aqueles diagnosticados por Foucault e que atuam não mais apenas sobre os corpos,
mas também sobre a psyche15.
Byung-Chul Han denomina esta nova forma de poder sobre a psyche de
psicopoder, em homenagem e referência ao termo foucaultiano biopoder. Para Han,
quem considera as noções de biopoder, biopolítica e controle biopolítico
insuficientes para descrever o exercício do poder de controle na sociedade
contemporâneaos, pois limitadas a “fatores externos como reprodução, taxa de
mortalidade ou estado de saúde”, o psicopoder detém o potencial de intervir nos
processos psicológico-subjetivos do indivíduo (HAN, 2018a, pp. 129-130). Para
Han, a insuficiência no conceito de biopolítica elaborado por Michel Foucault reside
no fato de o filósofo francês não ter antecipado que o neoliberalismo apropria-se
das “tecnologias do eu”, nem que a constante e incessante otimização de si seja uma
forma eficiente de dominação e exploração do indivíduo. Ainda, identifica que a
virada para o controle dos corpos para o controle da psyche está calcada em “uma
inter-relação com os modos imateriais e incorpóreos da produção de otimização
estética”, ou seja, o indivíduo na obsessiva busca pela otimização de si é,
simultaneamente, livre e explorado, estreitando os conceitos de liberdade e
exploração de si separados apenas por uma linha tênue (e muitas vezes inexistente).
Assim, não há mais resistências corporais a serem superadas em prol da
produtividade, mas processos psicológicos a serem otimizados pela e para a
produtividade (HABOWSKI, 2020, pp. 1-7).
Desta forma, os dispositivos externos16 de administração e gerenciamento da
população, como a punição dos desviantes e a vigilância no cumprimento das
funções (laborais, educacionais) deixam de ser necessárias como outrora foram na
sociedade disciplinar foucaultina, pois o indivíduo, imerso na lógica do
15 O termo psyche é utilizado por Byung-Chul Han na obra No Enxame: Perspectivas do Digital no
capítulo dedicado à psicopolítica. Psyche, para os gregos antigos, denominava a alma, cujo nome
fora extraído da deusa homônima. No contexto da obra de Han, infere-se que psyche conota a ideia
moderna de “mente”, pois, para o autor, a psicopolítica atua sobre a mente e a subjetividade dos
indivíduos. Cf. HAN, Byung-Chul. No Enxame: Perspectivas do Digital. Tradução de Lucas
Machado. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018a, pp. 129-134.
16 A distinção entre dispositivos externos e internos de coação é presença constante na obra de
Byung-Chul Han. Para o autor, a violência externa tradicional perde espaço em detrimento da
violência auto-infligida, interna. Cf. HAN, Byung-Chul. Topologia da Violência. Tradução de Enio
Paulo Gianchini. Petropólis, RJ: Vozes, 2017c.
17 Cf. Idem. Sociedade do Cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. 2. ed. ampl. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2017a.
18 No sentido de misturada.
19 Tradução livre e contextualizada de “[i]n order to grasp how globalization and global antagonism
works, we should distinguish carefully between domination and hegemony. One could say that
hegemony is the ultimate stage of domination and its terminal phase. Domination is characterized
by the master/slave relation, which is still a dual relation with potential alienation, a relationship
of force and conflicts. It has a violent history of oppression and liberation. There are the dominators
and the dominated—it remains a symbolic relationship. Everything changes with the emancipation
of the slave and the internalization of the master by the emancipated slave. Hegemony begins here
in the disappearance of the dual, personal, agonistic domination for the sake of integral reality—
the reality of networks, of the virtual and total exchange where there are no longer dominators or
dominated.” In: BAUDRILLARD, Jean. The Agony of Power. Introduction by Sylvere Lotringer.
Translated by Ames Hodges. Los Angeles, CA: Semiotext(e), 2007, p. 33.
20Tradução livre e contextualizada de “[t]al vez, pero en su estructura, esta sociedad no es diferente
del feudalismo medieval. Estamos en servidumbre. Señores feudales digitales como Facebook nos
dan tierra y dicen: aranla, y puedes tenerla gratis. Y lo aramos como locos, esta tierra. Al final, los
señores feudales vienen y toman la cosecha. Esta es una explotación de la comunicación. Nos
comunicamos unos con otros, y nos sentimos libres. Los señores feudales ganan dinero con esta
comunicación, y los servicios secretos la vigilan. Este sistema es extremadamente eficiente. No hay
protesta contra eso, porque estamos viviendo en un sistema que explota la libertad.” In: BYUNG-
CHUL Han: "Si un sistema ataca mi libertad, debo resistir". Entrevista a Byung-Chul Han,
publicada el 7 de septiembre del año 2014, realizada por la revista ZEIT Wissen. Bloghemia, 2020.
Disponível em: <https://www.bloghemia.com/2019/06/byung-chul-han-si-un-sistema-ataca-
mi.html?m=1>. Acesso em: 19 ago. 2020.
21Benjamin Loveluck, contudo, dirá que a internet e a cibernética foram utilizadas, especialmente
ao longo do século XX, muitas vezes em sentido ambivalente, para libertar ou para subjugar o
indivíduo, tanto em países capitalistas como em países comunistas, não havendo, portanto, para o
autor, este vínculo necessário do controle através da tecnologia para com o capitalismo. Cf.
LOVELUCK, Benjamin. Redes, Liberdades e Controle: Uma Genealogia Política da Internet.
Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018, p. 38.
além dos campos da economia, da política e do social, senão que repercute nas
dimensões estéticas e existenciais do ser humano (ARELLANO, 2016, pp. 179-191).
A positividade, como tendência sistêmica prevalente, é caracterizada por
uma ontologia que percebe todos os elementos da realidade como voltados para a
operatividade, o rendimento e maximização da produtividade econômica, impondo,
como consequência, o princípio positivo do “ótimo”. O princípio do “ótimo”
direciona os sujeitos, objetos, fenômenos, processos e relações a uma condição de
máxima funcionalidade. O imperativo da otimização não comporta a contingência,
o azar, o oculto ou o sofrimento, todos estes fenômenos negativos e, portanto,
obstáculos à maximização da produtividade econômica (ARELLANO, 2016, pp. 179-
191).
Conceitos como o de disciplina e biopolítica em Michel Foucault, o de Estado
de Exceção em Giorgio Agamben, o de Vida Activa em Hannah Arendt e de império
e multitude em Antônio Negri seriam, segundo Han, adequados apenas para pensar
a sociedade do século passado, caracterizada por instituições carcerárias,
psiquiátricas e de reclusão, porém não seriam suficientes para a compreensão da
sociedade contemporânea, marcada pela ausência de negatividade, e pelo
surgimento de uma positividade totalizante e inescapável22, suficiente a abarcar
toda a realidade social (ROSA, 2019, pp. 228-232).
A ode ao excesso, raiz da sociedade positiva, elimina toda e qualquer
ambivalência e alimenta tão somente uma obscenidade pornográfica que elimina
obstáculos e estimula um contato entre sujeito e objeto cada vez mais direto,
fazendo desaparecer qualquer possiblidade de nuances ou ambiguidades, levando o
sujeito a um estado de percepção planificada dos objetos ou os objetos à uma
exposição planificada ao sujeito. Assim como o dinheiro que, exceção às variações
entre o preço atribuído, submete tudo a seu jugo e a tudo precifica de acordo com a
sua unidade de valor, consubstanciada no preço e que “desfaz qualquer
22 Na entrevista à revista ZEIT Wissen, Han diz: “[m]e sinto incomodado quando não estou
conectado, por óbvio. Eu também sou uma vítima. Sem toda esta comunicação digital, não posso
fazer meu trabalho, como professor ou como escritor. Todos estão envolvidos, integrados.” Tradução
livre e contextualizada de “[c]omo todos los demás, me siento incómodo cuando no estoy conectado,
por supuesto. Yo también soy una víctima. Sin toda esta comunicación digital, no puedo hacer mi
trabajo, como profesor o como escritor. Todos están involucrados, integrados”, ou seja, o próprio
autor considera-se vítima desta racionalidade totalizante e, portanto, inescapável, que submete
todos a seu jugo. In: BYUNG-CHUL Han: "Si un sistema ataca mi libertad, debo resistir". Entrevista
a Byung-Chul Han, publicada el 7 de septiembre del año 2014, realizada por la revista ZEIT
Wissen. Bloghemia, 2020. Disponível em: <https://www.bloghemia.com/2019/06/byung-chul-
han-si-un-sistema-ataca-mi.html?m=1>. Acesso em: 19 ago. 2020.
Hoje, acreditamos que não somos sujeitos submissos, mas projetos livres,
que se esboçam e se reinventam incessantemente. A passagem do sujeito
ao projeto é acompanhada pelo sentimento de liberdade. E esse mesmo
projeto já não se mostra tanto como uma figura de coerção, mas sim como
Cf. SMITH, Adam. Teoria dos Sentimentos Morais. Tradução de Lya Luft. São Paulo, SP: WMF
23
24“Isso significa que a esfera de liberdade do indivíduo é ilimitada por princípio, enquanto os
poderes do Estado são limitados por princípio.” Tradução livre de “[t]hat means that the liberty
sphere of the individual is unlimited in principle, while the power of the state are limited in
principle.” In: SCHMITT, Carl. Constitutional Theory. Translated and edited by Jeffrey Seitzer.
Foreword by Ellen Kennedy. Durham/London: Duke University Press, 2008, pp. 197-198.
não ser que a coerção parta do próprio sujeito, não é possível que o controle adentre
e, nos termos usados por Deleuze e Guattari n’O Anti-Édipo, desterritorialize e
reterritorialize 25 a complexa estrutura psíquica do sujeito. Assim, o regime da
positividade atua diretamente na subjetividade do indivíduo, transformando-o no
opressor de si mesmo ou, no termo usado por Han, no empreendedor de si. O sujeito
como empreendedor de si é caracterizado pela obsessão com o desempenho, atitude
necessária para que possa competir contra os outros empreendedores de si,
competição essa fundada na lógica mercantil da (livre-)concorrência, e, por
paradoxal que pareça, acaba por explorar a si mesmo (HAN, 2018b, pp. 09-13) e
funcionar como uma peça eficiente na engrenagem (ou na máquina social) do
capital 26 , assim como descrito acima a partir da obra de Benjamin Loveluck.
Liberdade e coerção confundem-se e o sujeito obediente da sociedade disciplinar
agora transforma-se em explorador de si, assim “[o] sujeito de desempenho
distingue-se do sujeito de obediência pelo fato de ser soberano de si mesmo; de,
enquanto empreendedor de si, ser livre” (HAN, 2017c, p. 262).
Para desenvolver a transição da sociedade disciplinar foucaultiana para a
sociedade de controle (ou positiva, de desempenho e suas inúmeras variações de
nomenclatura), Han identifica nessa perseguição pelo desempenho aliada à oferta
sedutora de liberdade (de comunicação, locomoção, informação) como elementos
propiciadores do surgimento de novos dispositivos de controle e sua propagação em
níveis jamais vistos até então, como armazenamento de dados, coleta de
informações privadas, mapeamento de perfis psicológicos, que foram tornados
possíveis pelo desenvolvimento tecnológico experimentado nos últimos séculos
(NOYAMA, 2019, pp. 175-182).
A liberdade estimulada e caracterizada pelo excesso, materializada no
conceito do empreendedor de si e fundamentada na lógica mercantilista
identificada em sua gênese por Foucault e no seu excesso de positividade por Han,
máquinas) e os integra, interioriza-os num modelo institucional que abrange todos os níveis da ação,
da transmissão e da motricidade.” In: DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo. Tradução
de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo, SP: Editora 34, 2011, p. 187.
27 O termo libertário é utilizado pelo autor com a conotação que lhe é dada, principalmente, nos
Estados Unidos, que designa a teoria política segundo a qual a liberdade individual e a propriedade
privada são princípios absolutos e o Estado deve ser visto, sempre, com ceticismo e rigorosamente
delimitado à mínima ingerência possível na atividade econômica de particulares e empresas.
28 Cf. LOVELUCK, Benjamin. Redes, Liberdades e Controle: Uma Genealogia Política da Internet.
Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018, p. 80.
Referências
SMITH, Adam. Teoria dos Sentimentos Morais. Tradução de Lya Luft. São Paulo,
SP: WMF Martins Fontes, 2015.