Tony 2014

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

Revista Brasileira de
Geografia Física
ISSN:1984-2295
Homepage: www.ufpe.br/rbgfe

Mapeamento da desertificação da mesorregião Sul do Ceará com base na


cobertura vegetal e nas classes de solos
Iêdo Bezerra Sá 1, Tony Jarbas Ferreira Cunha 1, Tatiana Ayako Taura2, Marcos Antônio Drumond¹
1- Pesquisador da Embrapa Semiárido, Petrolina, Pernambuco, Brasil, {iedo.sa, tony.cunha, marcos.drumond}@embrapa.br;
2- Analista da Embrapa Semiárido, Petrolina, Pernambuco, Brasil, [email protected]. Autor para correspondência.

Artigo recebido em 05/09/2014 e aceite em 04/08/2014.


RESUMO
Na porção semiárida do sul do Estado do Ceará existe grande diversidade na paisagem natural, onde a vegetação, os
solos e o clima geram uma multiplicidade de situações que concorrem para formação de diferentes ecossistemas e
habitats com grande potencial ecológico e ambiental. Nesta região, a vegetação é caracterizada por diferentes
fisionomias, variando de áreas com formações arbustivas, com cobertura do solo muito escassa e quase ausente, a
formações arbóreas com niveis de cobertura bastante densas. De modo análogo, nesta região ocorre uma grande
variedade de solos, que por suas características, manejo e situação no relevo podem potencializar os processos erosivos,
determinantes no desencadeamento da desertificação. Considerando as interrelações destas duas variáveis ambientais,
este trabalho tem o objetivo de realizar um diagnóstico das áreas susceptíveis à desertificação da Mesorregião Sul
Cearense, tendo como base o cruzamento das informações da cobertura vegetal natural e das classes de solos. Para
tanto, foram utilizados o mapeamento da cobertura vegetal e uso do solo e o mapeamento de solos da mesorregião sul
do Estado do Ceará. Foram estabelecidos critérios para susceptibilidade da cobertura vegetal, assim como para as
classes de solos presentes na área. Executou-se a intersecção destas duas bases de informação para o perfil da
sensibilidade à desertificação. Os resultados mostram que a região sul cearense tem os seguintes valores das áreas em
processos de desertificação: 1,46% na classe ausente, 15,16% na classe fraca; 18,86% na classe moderada; 52,81% na
classe acentuada e 11,71% na classe severa. Deste modo, observa-se que aproximadamente 65% da porção sul do
Estado do Ceará encontram-se na situação de sensibilidade à desertificação em que predominam as classes de
Acentuada e Severa.

Palavras-chave: desertificação, semiárido, Ceará.

Map of desertification of south of Ceará state mesoregion based on vegetation


cover and the soil classes

ABSTRACT
In Southern State of Ceará, Brazil, semiarid region, there is a great diversity of natural landscape, where the vegetation,
soils and climate produced several conditions which contribute to the formation of different ecosystems and habitats
with high ecological and environmental potential. In this region the vegetation is characterized by different types,
ranging from areas with shrub formations with very sparse ground cover and almost absence of trees to areas with very
dense levels of soil coverage. Similarly, in this region there is a wide type of soils, which in their characteristics,
management and landscape position may enhance the erosive process and then the desertification. Considering the
interrelation of these two environmental variables this article deals with the realization of a diagnosis of environmental
sensitivity to the desertification processes. Thus, the land cover and use map and soil type map of this semiarid region
in the southern of State of Ceará were used. There were established criteria for susceptibility of vegetation cover, as
well as to the soil classes in the area. The intersection of these two information bases was performed to identify the
classes of desertification sensitivity. The results show that this region has the following percentages within the classes:
1.46% on absence class, 15.16% on weak class, 18.86% in the moderate class, 52.81% in the sharp class and 11.17% in
the severe class. Thus, it is observed that approximately 65% of the southern portion of the State of Ceará are sensitive
to desertification process with the predominance of strong and severe classes.

Keywords: desertification, semi-arid, Ceará state.


Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 572
Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

Introdução adubação e calagem. Por outro lado, segundo


A Mesorregião Sul do Estado do estes autores, os solos que apresentam
Ceará ocupa uma área equivalente a 14.489 maiores limitações são os Neossolos
Km², correspondendo a 10% do território Litólicos, Luvissolos, Planossolos.
estadual, onde estão inseridos os municípios A desertificação, segundo a
de Abaiara, Altaneira, Araripe, Assaré, Convenção das Nações Unidas, é a
Aurora, Barbalha, Barro, Brejo Santo, degradação de terras nas zonas áridas,
Campos Sales, Caririaçu, Crato, Farias Brito, semiáridas e subúmidas secas do planeta.
Jardim, Jati, Juazeiro do Norte, Mauriti, Significa a destruição da base de recursos
Milagres, Missão Velha, Nova Olinda, naturais, como resultado da ação do homem
Penaforte, Porteiras, Potengi, Salitre e sobre o meio ambiente, e de fenômenos
Santana do Cariri, que abriga um contingente naturais, como a variabilidade climática
demográfico de 892.976 habitantes (IBGE, (Ministério do Meio Ambiente, 2004).
2010). Esta zona, segundo Cavalcanti (2009), Segundo Sá et al. (2009), no Nordeste
representa um dos mais importantes setores brasileiro, uma área maior do que o Estado do
do contexto geográfico, socioeconômico, Ceará já foi atingida pela desertificação de
paleontológico e cultural do estado do Ceará, forma grave ou muito grave. São 200 mil
principalmente por ser uma região nuclear do quilômetros quadrados de terras degradadas e,
Semiárido brasileiro. em muitos locais, imprestáveis para a
Do ponto de vista das unidades de paisagem agricultura. Somando-se à área onde a
esta região é formada pela Chapada do desertificação ocorre ainda de forma
Araripe e Patamares de Entorno, Superfícies moderada, a área total atingida pelo fenômeno
Tabulares com Coberturas Detríticas, Vales sobe para, aproximadamente, 600.000 km²,
Úmidos, Vales Secos, Maciços e Cristas cerca de 1/3 de todo o território nordestino.
Residuais e Sertões da Depressão Periférica Ceará e Pernambuco são os Estados que
Meridional (Cavalcanti, 2009). apresentam maior área em processo de
De acordo com Carvalho et al. (2007), degradação, embora, proporcionalmente, a
a vegetação desta área encontra-se bastante Paraíba seja o Estado com maior extensão de
alterada em vista da ação antrópica e, em área comprometida.
certas áreas, já não se encontram vestígios A cobertura vegetal é, talvez, o mais
importantes da mata primitiva, a não ser importante dos fatores de controle do
remanescentes esparsos e muito reduzidos, fenômeno da desertificação no espaço
que evidenciam um verdadeiro desequilíbrio semiárido. Mesmo decídua, a caatinga não
ecológico, acelerando a erosão dos solos e o deixa de desempenhar o papel de protetor do
assoreamento de rios e reservatórios de água. solo contra as intempéries, diminuindo a sua
Os solos, por sua vez, apresentam uma degradação. Esta constatação afirma,
grande diversidade de associações no entorno categoricamente, que a principal causa da
sertanejo da depressão periférica meridional, erosão nessa região é, sem dúvida, a
enquanto que na chapada, em razão de uma devastação desenfreada da vegetação com os
maior homogeneidade dos processos e fatores objetivos do atendimento de necessidades
pedogenéticos, combinados com uma energéticas e do fornecimento de madeira
condição climática mais úmida, ocorre uma para cercas e outros fins. Quando o
menor variabilidade. desmatamento se faz a corte raso, com vista
Ainda segundo Carvalho et al. (2007), ao aproveitamento agropecuário, a terra tende
a maior potencialidade agrícola é observada a permanecer desprotegida por longos
nos Latossolos, Argissolos, Nitossolos e períodos de tempo, em decorrência da
Neossolos Flúvicos. Tais solos apresentam itinerância das explorações e, principalmente,
bons atributos físicos e as suas limitações são da baixa capacidade de regeneração da
quase sempre de fertilidade natural e acidez vegetação nativa em determinados locais.
(exceto os Neossolos Flúvicos), que podem Entretanto, Mendes (1994) enfatiza que tanto
ser facilmente solucionadas com o uso de o desmatamento com finalidade agrícola,
Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 573
Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

localizado e perfeitamente individualizado, locais da área de estudo, a permanência do


contribui para a degradação do meio, como solo desnudo por longos períodos favorece a
também, aquele determinado pelo erosão e o assoreamento dos cursos d´água.
extrativismo seletivo e irracional, que leva à Algumas medidas de prevenção ao
perda da biodiversidade. Este tipo de desencadeamento dos processos de
exploração, por não ocorrer em áreas desertificação vêm sendo executadas, como:
contíguas e sim de modo seletivo, explorando manejo correto do solo, manejo florestal da
os indivíduos mais nobres, vem, Caatinga, integração lavoura-pecuária-floresta
imperceptivelmente, comprometendo e uma fiscalização mais eficiente quanto à
gradativa e continuadamente o efeito protetor repressão ao desmatamento (Angelotti et al.,
da cobertura vegetal. 2011). Estas ações, embora incipientes, já
Ainda, segundo Mendes (1994), o promovem certa conscientização das
desmatamento é a principal causa tanto da populações locais.
desertificação como da diminuição da Para Sá et al. (2011), a utilização da
biodiversidade. A retirada da cobertura Caatinga na região do Araripe ainda se
vegetal elimina quase que totalmente, a fundamenta em processos meramente
diversidade vegetal e reduz a animal pela extrativistas para a obtenção de produtos de
alteração do habitat, além de desproteger o origem pastoril, agrícola e madeireiro. Desta
solo dos agentes erosivos (ventos e chuvas) e forma, a atuação sobre a cobertura vegetal,
aumentar o albedo da área e a temperatura do observada por imagens de satélite e índices de
solo, o que propicia a oxidação da sua matéria vegetação, produz efeitos nos solos e causa o
orgânica. O solo nu e desprotegido fica desequilíbrio no meio natural.
exposto às erosões eólica e hídrica, e arrastam Estudos recentes efetuados por
as pequenas partículas (argila, silte e grânulos Fernandes et al. (2013), dão conta que os
orgânicos), tornando-o menos fértil e com municípios da região sul cearense são alvos
menor capacidade de armazenamento de de constantes ameaças por práticas abusivas
água. Qualquer que seja a situação, não se da ação humana, necessitando de políticas de
pode tratar os problemas do desgaste do solo sustentabilidade para que os níveis mais
independentemente da sua vinculação com a baixos de degradação não evoluam, o que
cobertura vegetal. pode colocar em risco essas áreas tão
A paisagem da Mesorregião Sul desejadas pelos pecuaristas e pelo setor
cearense, segundo Cunha et al. (2011), tem, imobiliário. Na Floresta Nacional da Chapada
ao longo dos anos, passado por constantes do Araripe (FLONA), por ser área protegida
alterações devido às atividades antrópicas, por lei, a densidade populacional é
onde a vegetação original da Caatinga foi inexistente, entretanto, no seu entorno a
gradativamente eliminada pelo processo ocupação imobiliária tem gerado vários
extrativista e parte convertida ao processo de problemas de ordem ambiental.
uso agrícola. Dessa maneira, muitas áreas sem A FLONA tem uma importância
aptidão ou de aptidão restrita para o uso relevante na manutenção do equilíbrio
agrícola são cultivadas, resultando em grande hidrológico, climático, ecológico e edáfico do
risco de degradação pelo efeito da erosão. Complexo Sedimentar do Araripe. Para
Ainda segundo Cunha et al. (2011), Accioly et al. (2002), é uma área que
outro aspecto relevante é a exploração representa um dos poucos fragmentos da
econômica da terra, que, embora necessária, vegetação que originalmente dominaram a
pode exercer pressão prejudicial e paisagem. Entretanto, esta floresta encontra-
degenerativa sobre o ambiente, restringindo se em constante risco por falta de recursos
as possibilidades de utilizações futuras dos humanos e equipamentos de vigilância, pela
recursos naturais. A degradação do recurso pressão antrópica, pelos incêndios, pelas
solo, na maioria das vezes, tem sido rodovias que a cortam, e pelas condições
provocada por ações humanas inadequadas socioeconômicas de seu entorno,
sobre a base de recursos naturais. Em diversos caracterizado pela pobreza.

Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 574


Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

Diante do exposto, este artigo tem A área de estudo, com extensão de


como objetivo realizar o mapeamento de 14.800 km², limita-se ao sul com o Estado de
áreas susceptíveis à desertificação da Pernambuco, ao oeste com o Piauí e ao leste
Mesorregião Sul Cearense, tendo como base o com a Paraíba (Figura 1). Trata-se de uma
cruzamento das informações sobre a cobertura parte do estado do Ceará que abrange parcela
vegetal natural existente e as classes de solos. muito significativa da bacia sedimentar do
Araripe, circundada parcialmente por terrenos
paleozóicos e na quase totalidade por terrenos
Material e Métodos Pré-cambrianos do embasamento cristalino.

Figura 1. Localização da área de estudo ao sul do estado do Ceará.

Na área da bacia do Araripe os níveis submetidas a condições climáticas subúmidas


altimétricos situam-se entre 800 e 900m e têm e com totais pluviométricos superiores a 900
os arenitos Cretáceos da Formação Exu como mm, grande parte da Mesorregião tem clima
mantenedora do relevo. A Chapada é divisora semiárido quente. As altitudes predominantes
de águas das bacias hidrográficas dos rios são as da superfície do cume da chapada do
Jaguaribe, São Francisco e Parnaíba. Possui Araripe (800 – 900 m) e a da depressão
extensão leste – oeste com cerca de 180 km e periférica sertaneja (350 – 450m).
largura em torno de 50 – 70 km em sentido Os recursos hídricos da Mesorregião
sul – norte. Ao longo da sua borda norte- dependem de modo significativo das
oriental, desenvolve-se a região do Cariri influências morfoestruturais e climáticas. Nos
cearense que se apresenta como um brejo de sertões da depressão periférica meridional
encosta e de vales espraiados, decorrentes de semiárida a rede de drenagem é muito
uma ramificação generalizada da drenagem. ramificada, subdendrítica e alguns rios
Nos rebordos da Chapada, originam-se mais possuem controle estrutural.
de duas centenas de fontes perenes ou Na chapada do Araripe, a alta
sazonais que drenam na direção do vale do permeabilidade das rochas sedimentares
Cariri e contribuem para o enriquecimento limita o escoamento superficial e favorece a
dos recursos hídricos regionais (Souza, 2000). elevada percolação de água para alimentar os
Excluindo a área da Chapada do aquíferos. Desse modo, a escassez ou
Araripe e do seu entorno imediato, ausência de rios é compensada pelo maior
Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 575
Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

potencial de águas subterrâneas que conjunto que integre em sua devida medida a
ressurgem nas bordas norte – orientais da todos os elementos componentes. Tendo em
Chapada. vista a impossibilidade de análise exaustiva
De acordo com Carvalho et al. (2007), de todas as variáveis consideradas, foi
os solos exibem maior diversidade de necessário selecionar um conjunto de
associações no entorno sertanejo da depressão variáveis que, por sua importância ou por
periférica meridional. A complexidade do serem indicadores que integrem a uma cadeia
mosaico de solos decorre dos mais de processos, agreguem o máximo de
diferenciados tipos de combinações entre os informação no momento de compreender
fatores e processos pedogenéticos. Na tanto o estado como as tendências do processo
chapada, as condições ambientais mais de desertificação. (Sá et al., 2013).
homogêneas encerram menor variedade de Assim, utilizaram-se no presente
tipos e de associações de solos, onde há estudo duas variáveis que pudessem explicar
significativa preponderância de Latossolos e a natureza do fenômeno. A primeira foi o
Neossolos Quartzarênicos. Nos sertões há mapeamento da cobertura vegetal da
maior ocorrência de solos rasos ou mais Mesorregião Sul cearense, realizado com o
fortemente erodidos das classes de Neossolos uso de imagens do sensor ETM+ da série
Litólicos, Luvissolos, Planossolos, Landsat 5 e 7 dos anos 2002 e 2003. Tal
Vertissolos e Afloramentos rochosos. Nos mapeamento foi procedido utilizando-se o
maciços residuais, as classes de Neossolos Manual Técnico da Vegetação Brasileira
Litólicos, Argissolos e Afloramentos (IBGE, 1992) como referência para o
rochosos. Nas planícies fluviais sertanejas há estabelecimento da legenda final
evidente primazia de Neossolos Flúvicos, (MMA/PROBIO, 2007).
muitas vezes associados a Planossolos e De acordo com este manual os tipos de
Vertissolos. vegetação ou classes de vegetação
Com relação à vegetação, Carvalho et predominantes na Mesorregião são a Savana
al. (2007), observa que onde há maior Estépica, que comporta dois subgrupos de
escassez de umidade e maiores taxas de formações: Savana Estépica Florestada (Td) e
evaporação, há uma predominância de Savana Estépica Arborizada (Ta), além das
vegetação de caatingas com variados padrões formações citadas, a região apresenta também
fisionômicos e florísticos. As matas ciliares a classe de Vegetação Contato Savana
que recobriam primariamente as planícies Estépica/Floresta Estacional – ecótono (TN),
aluviais estão fortemente descaracterizadas Contato Savana/Savana Estépica ecótono
pelos desmatamentos desordenados. No (ST), Contato Savana/Floresta Estacional
acesso ao nível de cimeira da chapada do ecótono (SN), Floresta Estacional
Araripe, os patamares se revestem de matas Semidecidual Submontana (Fs), Floresta
secas ou de faixas de transição com as matas Estacional Semidecidual de Terras Baixas
de encostas e com os cerrados, cerradões e (Fb), Vegetação Secundária (Vs), áreas
carrascos do altiplano sedimentar. ocupadas com atividades de
A desertificação é um fenômeno de agricultura/pecuária (Ag) e Formações
extraordinária complexidade ambiental e Pioneiras com influência fluvial (Pa) (Figura
social. O número de indicadores e variáveis 2).
que intervém dificultam uma visão de

Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 576


Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

Figura 2. Mapa da cobertura vegetal da Mesorregião Sul cearense.


Fonte: MMA/PROBIO, (2007).

A segunda variável foi o mapeamento De acordo com este sistema as classes


das classes de solos presentes na Mesorregião e ou associações de solos presentes na
Sul cearense, tomando-se como base de Mesorregião são: Latossolo Amarelo,
referência o Sistema Brasileiro de Latossolo Vermelho-Amarelo, Nitossolo
Classificação de Solos da Embrapa Vermelho Argissolo Amarelo, Argissolo
(EMBRAPA, 2006). Este mapeamento foi Vermelho, Argissolo Vermelho-Amarelo,
gentilmente cedido para o presente estudo Neossolo Litólico, Neossolo Quartizarênico,
pela Fundação Cearense de Meteorologia e Neossolo Regolítico, Neossolo Flúvico,
Recursos Hídricos (FUNCEME), no formato Planossolo Nátrico, Planossolo Háplico,
shapefile, cujas classes são apresentadas na Luvissolo Crômico e Vertissolo Háplico.
Figura 3.

Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 577


Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

Figura 3. Mapa de solos da Mesorregião Sul cearense

Foram estabelecidos critérios com Sensibilidade à desertificação para a classe de


relação à cobertura vegetal numa escala de solos.
severidade da desertificação que vai desde as Com base nesses dois mapeamentos,
áreas com ausência do problema, onde há realizou-se a integração espacial com a
vegetação bastante protetora dos solos, operação de intersecção por meio do software
passando pelos níveis fraco, moderado, ArcGis versão 10.2. As feições de ambas as
acentuado e severo, onde a cobertura é muito informações se sobrepuseram, ocorrendo o
escassa ou mesmo ausente, totalizando cinco cruzamento dos polígonos, gerando novas
níveis de severidade (Tabela 1). A partir do feições e os atributos de ambas as
mapeamento da Cobertura Vegetal e dos informações foram mantidas. Por fim,
índices de sensibilidade à desertificação realizou-se a análise das duas variáveis
adotada para estas classes de cobertura, foi utilizadas em relação à desertificação, e o
gerado o Mapa de Sensibilidade à resultado desta operação resultou no mapa
desertificação para esta variável. final de susceptibilidade.
Quanto às classes de solos, foram
utilizados os critérios de susceptibilidade à Resultados e Discussão
erosão descritos por Lima et al. (2002), A partir do mapeamento da Cobertura
totalizando quatro situações de Vegetal (Figura 2) e dos índices de
susceptibilidade à degradação. Quanto menor sensibilidade à desertificação adotada para
o nível atribuído menor é a erodibilidade estas classes de cobertura (Tabela 1), foi
daquela classe de solo, como observado na gerado o Mapa de Sensibilidade à
Tabela 1. desertificação para esta variável (Figura 4).
Para a variável Classe de Solos, Para a variável Classe de Solos, tomando-se
tomando-se como base o mapa de Classes de como base o mapa de Classes de Solos
Solos e os critérios de Sensibilidade à (Figura 3) e os critérios de Sensibilidade à
desertificação, foi gerado o mapa de desertificação (Tabela 1), foi gerado o mapa

Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 578


Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

de Sensibilidade á desertificação para a classe


de solos (Figura 5).

Tabela 1. Escala de susceptibilidade à desertificação para a cobertura vegetal e classes de solos.

SUSCEPTIBILIDADE À DESERTIFICAÇÃO
Cobertura vegetal Classes de Solos
Classes Nível Classes Nível
Td Ausente Latossolo Vermelho-Amarelo Fraco
Fs Ausente Latossolo Amarelo Fraco
Fb Ausente Vertissolo Fraco
TN Fraco Nitossolo Fraco
ST Fraco Nitossolo Vermelho Moderado
SN Fraco Neossolo Quartzarênico Moderado
Ta Moderado Neossolo Regolítico Moderado
Pa Acentuado Argissolo Amarelo Acentuado
Vs Acentuado Argissolo Vermelho Acentuado
Ag Severo Argissolo Vermelho-Amarelo Acentuado
Neossolo Litólico Acentuado
Neossolo Flúvico Acentuado
Planossolo Nátrico Severo
Planossolo Háplico Severo
Luvissolo Crômico Severo

Figura 4. Mapa de sensibilidade à desertificação em função da cobertura vegetal para a Mesorregião


Sul cearense.

Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 579


Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

Figura 5. Mapa de sensibilidade à desertificação em função das classes de solos para Mesorregião
Sul cearense.

A integração espacial dos mapas de nestes dois mapeamento foi elaborado o


sensibilidade à desertificação em função da Quadro 1, de dupla entrada, em que se pode
cobertura vegetal e das classes de solos verificar a severidade da desertificação para
(Figuras 4 e 5) gerou o mapa final que reflete cada tipo de cobertura vegetal em função de
a extensão do fenômeno (Figura 6). Com base cada classe de solo e vice versa.

Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 580


Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

Figura 6. Mapa da Sensibilidade à desertificação com base no cruzamento das bases da Cobertura
Vegetal e das Classes de Solos da Mesorregião Sul cearense.

Quadro 1. Classificação da sensibilidade à desertificação com base no cruzamento das informações


sobre a cobertura vegetal e classes de solos da Mesorregião Sul cearense.

Cobertura Vegetal
Td TN/ST/SN Ta Pa/Vs Ag
Classes de Solos
Latossolo Vermelho-Amarelo
Latossolo Amarelo
Vertissolo
Nitossolo
Neossolo Quartzarênico
Neossolo Regolítico
Argissolo Vermelho
Argissolo Amarelo
Argissolo Vermelho- Amarelo
Neossolo Flúvico
Neossolos Litólicos
Planossolo Nátrico
Planossolo Háplico
Luvissolo Crômico

Legenda: Azul: Ausente; Verde: Fraco; Amarelo: Moderado; Laranja: Acentuado e Vermelho: Severo.

Na Tabela 2 é apresentado o praticada, deixando o solo exposto boa parte


quantitativo das áreas conforme o nível de do tempo durante o ano.
susceptibilidade à desertificação. Observa-se
que a variável cobertura vegetal contribui Com relação aos solos, o nível
significativamente para valores na categoria Acentuado é marcado por 57,64% da área.
Severo, por apresentar 52,9% da área total Neste nível de sensibilidade à desertificação
com baixos níveis de proteção do solo, onde as classes de solos Argissolo Amarelo,
predominam as áreas ocupadas por Argissolo Vermelho, Argissolo Vermelho-
agricultura. Esta classe de cobertura vegetal é Amarelo, Neossolo Litólico e Neossolo
bastante vulnerável aos processos de Flúvico concorrem de forma determinante
desertificação dado a sazonalidade com que é para o agravamento dos processos erosivos.

Tabela 2. Quantificação das áreas, em Km², susceptíveis à desertificação com base no cruzamento
das informações sobre a cobertura vegetal e classes de solos da Mesorregião Sul cearense.
Nível de Análise
Vegetação (%) Solos (%) (%)
Susceptibilidade conjunta
Ausente 580,90 4,01 171,62 1,19 211,93 1,46
Fraco 3.241,17 22,37 4.754,09 32,95 2.196,85 15,16
Moderado 2.965,71 20,47 592,83 4,11 2.731,91 18,86
Acentuado 31,87 0,22 8.377,24 57,64 7.651,82 52,81
Severo 7.668,96 52,93 592,83 4,11 1.696,10 11,71
Total 14.488,61 100,00
Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 581
Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

Considerações Finais Angelotti, F., Fernandes Júnior, P. I., Sá, I. B.


A Mesorregião Sul cearense 2011. Mudanças Climáticas no Semiárido
apresenta uma grande diversidade tanto da Brasileiro: Medidas de Mitigação e
cobertura vegetal quanto das classes de solos. Adaptação. Revista Brasileira de Geografia
Física, Vol. 06, pp.1097-1111.
Do ponto de vista da cobertura vegetal,
observa-se que a classe de sensibilidade à Ministério do Meio Ambiente. 2004.
desertificação Severa tem maior expressão em Programa de ação nacional de combate à
desertificação e mitigação dos efeitos da seca:
área que as demais coberturas. No que diz
PAN-BRASIL. Brasília, DF, 213 p.
respeito aos solos, observa-se que a classe
Acentuada tem maior expressão em área Carvalho, M. B. de S.; Souza, M J. N. de.;
Santos, M. dos.; Almeida, M. A. G. de.;
relacionada como sendo de sensibilidade à
Freitas Filho, M. R. de. 2007.
desertificação. Compartimentação geoambiental da
mesorregião do sul cearense, Anais XIII
Da análise conjunta das duas
Simpósio Brasileiro de Sensoriamento
variáveis, verifica-se que aproximadamente Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril
65% da porção sul do Estado do Ceará 2007, INPE, p. 3797-3803.
encontram-se na situação de sensibilidade à
Cavalcanti, A. C.; Araújo Filho, J. C. de.;
desertificação em que predominam as classes Silva, F. H. B. B. da.; Oliveira, S. B. P. de.;
de Acentuada e Severa. Estes níveis de Tavares, S. C. C. de H.; Carvalho, M. S. B. de
sensibilidade estão diretamente relacionados à S.;Silva, D. F. da.;Silveira, H. L. F. da.;
falta de uma boa cobertura vegetal dos solos, Barreto, R. N. da C.. 2009. Potencial de terras
ocasionadas, muitas vezes, pelo para irrigação da mesorregião do sul cearense:
desmatamento para implantação de campos para compatibilizar com a disponibilidade dos
recursos hídricos. Embrapa Solos, Recife.
agrícolas, assim como pelo manejo
inapropriado dos solos. Cunha, T. J. F.; Sá, I. B.; Oliveira Neto, M. B
de.; Taura, T. A.; Araújo Filho, J. C.; Giongo,
V.; Silva, M. S. L. da.; Drumond, M. A.
Agradecimentos 2011. Uso Atual e Quantificação de Áreas
Os autores agradecem a Fundação Degradadas na Margem Direita do Rio São
Cearense de Meteorologia e Recursos Francisco no Município de Curaçá-BA.
Revista Brasileira de Geografia Física. Vol.
Hídricos (FUNCEME) na pessoa da Dra.
06, p.1197-1212.
Sônia Barreto Perdigão de Oliveira, pela
cessão da base de dados dos solos da EMBRAPA. 2006. Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos. 2ª ed. Embrapa Solos,
Mesorregião Sul cearense. Base esta de
Rio de Janeiro.
fundamental importância para a elaboração do
presente artigo e das atividades de pesquisa na Fernandes, F.; Barbosa, M. P.; Moraes Neto,
J. M. de. 2013. Caracterização do Uso das
região.
Terras e das Áreas em Riscos de
Desertificação em Parte da Floresta Nacional
Referências do Araripe (FLONA): Municípios de
Accioly, L. J.; Pachêco. A.; Costa, T. C. C. Barbalha e do Crato, Estado do Ceará. Revista
da.; Lopes, O. F.; Oliveira, M. A. J. de. 2002. Brasileira de Geografia Física, Vol. 06, nº 5,
Relações empíricas entre a estrutura da p.1476-1498.
vegetação e dados do sensor TM/LANDSAT, IBGE. 1992. Manual Técnico da Vegetação
Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Brasileira. Séries Manuais Técnicos em
Ambiental, Vol.6, n.3, pp. 492-498. Geociências, IBGE, Rio de Janeiro.

Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 582


Revista Brasileira de Geografia Fisica, v.07 , n.03 (2014), 572-583..

IBGE. 2010. Censo Demográfico de 2010. Sá, I. I. S.; Galvíncio, J. D.; Moura, S. B. de.;
IBGE, Rio de Janeiro. Sá, I. B. 2011. Avaliação da degradação
ambiental na região do Araripe pernambucano
Lima, A. A. C.; Oliveira, F. N. S.; Aquino, A.
utilizando técnicas de sensoriamento remoto.
R. L. de. 2002. Limitações do uso dos solos
Revista Brasileira de Geografia Física, Vol.
do Estado do Ceará por suscetibilidade à
04, Nº 6, p.1215-1226.
erosão. Séries Documentos, Vol 54. Embrapa
Agroindústria Tropical, Fortaleza. 19p. Sá, I. B.; Cunha, T. F. da.; Taura, T. A.;
Drumond, M. A. 2013. Mapeamento da
Mendes. B. V. 1994. Uso e conservação da
desertificação do semiárido paraibano com
biodiversidade no semiárido. GT1 Recursos
base na sua cobertura vegetal e classes de
naturais e meio ambiente. Projeto Áridas,
solos, Anais do XVI Simpósio Brasileiro de
Uma Estratégia de Desenvolvimento
Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do
Sustentável para o Nordeste, Fortaleza,
Iguaçu, Brasil, 13-18 abril 2013, INPE, pp.
Presidência da Republica.
3112-3118.
MMA/PROBIO. 2007. Levantamento da
Souza, M. J. N. 2000. Bases Naturais e
cobertura vegetal e do uso do solo do Bioma
Esboço do Zoneamento Geoambiental do
Caatinga. Brasília – DF.
Estado do Ceará. In: Compartimentação
Sá, I. B.; Angelotti, F. 2009. Degradação territorial e gestão regional do Ceará, parte I.
ambiental e desertificação no Semi-Árido Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará –
brasileiro. In: ANGELOTTI, F.; SÁ, I. B.; UECE.
MENEZES, E. A.; PELLEGRINO, G. Q.
(Ed.). Mudanças climáticas e desertificação
no Semi-Árido brasileiro. Petrolina: Embrapa
Semi-Árido; Campinas: Embrapa Informática
Agropecuária, 2009. cap. 4, p. 53-76.

Sá, I.B.; Cunha, T.J.F.; Taura, T.A.;Drumond, M.A. 583

Você também pode gostar