147-Texto Do Artigo-486-1-10-20200710
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Abstract: The goal of the mandatory property regime is to protect the betrothed in certain special
situations which might clashwirh community property regimes. Oddly, in the words of the Code Civil,
persons that marry under the separate property regime are entering the regime of partial communion
of assets in regards to deferred property.The publication of Súmula 377/STF goes against the legislators
wishes and can be neutralized by a prenuptial agreement therefore accomplishing what the law
demands.
Keywords: Separate Property Regime. Non-application of Súmula 377/STF. Possibility of prenuptial
agreement.
*
Doutor em Direito Privado pela Faculdade de Direito da Universidade de Paris (Nouvelle Sorbonne)
Paris, França; Pós-Doutor em Direito de Família pelo Centre du Droit de la Famille, da Universidade
Jean Moulin, de Lyon, França; Professor Titular na Faculdade de Direito da UFPR; Professor Titular de
Direito Civil da UEM/Paraná e Professor Adjunto de Direito Civil da UTP/PR. Advogado e Parecerista.
Revista do Ministério Público do RS Porto Alegre n. 83 maio 2017 – mar. 2018 p. 51-68
Eduardo de Oliveira Leite
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2
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Obra citada, p. 27.
3
GOMES, Orlando. Raízes históricas e sociológicas do Código Civil Brasileiro. p. 24.
4
PONTES DE MIRANDA, F. C. Tratado de Direito Civil, v. 8. p. 215.
5
PEREIRA, Lafaiete Rodrigues. Direitos de Família. p. 98.
6
BEVILAQUA, Clóvis. Direito de Família. p. 230.
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7
Consideramos um regime de bens como “misto” quando os contraentes não aderiram integralmente à
proposta de regime estampada no Código Civil, mas empregaram preceitos próprios a mais de um
regime de bens; de igual modo, consideramos um regime de bens “puro”, quando os contraentes esco-
lheram um regime de bens na sua integralidade, sem recorrer à hipótese prevista no art. 1.639 do CC.
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de regras (via pacto antenupcial) pertencentes a outro regime de bens. Por exem-
plo, é possível um dos contraentes optar pelo sistema da total comunicabilidade
com a exclusão de um ou alguns bens particulares (exclusão própria da comu-
nhão parcial, de acordo com o disposto no art. 1.659, I). Esta opção está criando
um regime misto, ou “híbrido”, plenamente aceito pela ordem jurídica nacional
em manifesta concordância com o art. 1.639.
Da mesma forma, no regime da separação total de bens, pode um dos con-
traentes sugerir que o bem imóvel adquirido após o casamento pertencerá a am-
bos os cônjuges.
Fizemos questão de nos referir aos dois regimes básicos para afastar qual-
quer exegese tendente a limitar a possibilidade de mixagem de regime de bens
apenas aos regimes de comunicabilidade. Não é essa a tendência do legislador
que, prevendo a hipótese de regimes mistos, nas Disposições Gerais (art. 1.639)
estendeu tal hipótese a todos os quatro tipos tipificados de regime de bens.
Outra não poderia ser a interpretação extensiva, vez que inaugurando a ma-
téria de direito patrimonial do regime de bens entre cônjuges, aquela prerrogativa
não está vinculada a este ou aquele regime de bens, mas a todos indistintamente.
Claro está que a liberdade de escolha de regime, a qual nos referimos, não é
tão ampla ou ilimitada como poder-se-ia imaginar mas encontra limites na ordem
civil em uma hipótese específica na qual a comunicabilidade cede espaço (por
meio de imposição legal) ao regime de separação.
Assim, temos a liberdade de escolha como princípio e a ausência de opção,
como exceção. Nesta segunda hipótese se situa o regime de separação obriga-
tória de bens (art. 1.641)8 que é uma espécie do gênero maior, regime de sepa-
ração de bens.
Com efeito, o legislador admitiu a separação convencional, decorrente de
acordo, ou composição, entre as partes, como dispõe o art. 1.687 do CC9 e o re-
gime de separação obrigatória de benso que nos leva a concluir que, no Brasil, a
separação é oriunda de imposição (art. 1.641) ou opção (art. 1.687). Indepen-
dente da origem – imposição ou opção – este regime se caracteriza pela ausên-
cia de patrimônio comum e, ao contrário do regime legal (comunhão parcial)
os cônjuges mantêm autonomia econômica distinta.
Enquanto a comunhão parcial forma três massas distintas (ou acervos) de
bens, os particulares do marido, os particulares da mulher, e os comuns (ou aques-
8
“Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I – das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casa-
mento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos;
III – de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.”
9
“Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de
cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.”
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10
BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. v. 1. p. 647.
11
Nesse sentido a doutrina de Caio Mário da Silva Pereira: “A nós nos parece que se o Código insti-
tuiu a comunicabilidade ‘no silêncio do contrato’, somente teve em vista a situação contratual, pois
se desejasse abranger, nomesmo efeito, a separação compulsória, aludiria à espécie, em termos am-
plos, e não restritivo ao caso, em que o contrato é admitido.” Instituições de Direito Civil: Direito
de Família. v. 5. p. 131.
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12
Assim doutrinava Silvio Rodrigues: “Tal regra, que surge como um alçapão posto na lei para ludi-
briar a boa-fé dos nubentes e conduzi-los a um regime de bens não desejado, só encontra explica-
ção na indisfarçável preferência do legislador de 1916 pelo regime da comunhão universal e na sua
desmedida tutela do interesse particular, injustificável em assunto que não diz respeito à ordem pú-
blica.” (Silvio Rodrigues. Direito Civil: Direito de Família. v. 6. p. 165-166).
13
RODRIGUES, Silvio. Obra citada, v. 6, p. 216.
14
RODRIGUES, Silvio. Obra citada, ibidem.
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15
SIMÃO, José Fernando. O regime da separação absoluta de bens (CC, art. 1.647): separação con-
vencional ou obrigatória? In: Meus artigos. Disponível em: http://professorsimao.com.br/artigos_
simao_regime_separação.html. Acesso em: 5 mar. 2018.
16
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família. v. VI. p. 327.
17
Se considerarmos que, segundo dados levantados por técnicos da ONU e pesquisadores brasileiros,
42 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza, é factível concluir que quase metade da
população brasileira não tem a menor ideia do que seja regime de bens e, muito menos, utilize o recurso
do pacto antenupcial face à ausência absoluta de patrimônio. De igual modo, a tabela do IBGE –
Classes de rendimento mensal, em salários mínimos comprova que aproximadamente 40% (quaren-
ta por cento) dos brasileiros não têm rendimento e, aproximadamente 10% (de por cento) ganha
um salário mínimo, ou seja, metade da população está excluída do acesso à legislação nacional em
geral e sobre regime de bens no casamento, especificamente. Em 2015, a saber, há três anos atrás, a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Síntese de Indicadores 2015, levada a efeito pelo
IBGE comprovou que “44,7% dos domicílios particulares brasileiros que declararam ter algum tipo
de rendimento contavam com apenas 1 salário mínimo por morador no domicílio. Dos 68,2 milhões
de domicílios que declararam possuir rendimento, 30,5 milhões receberam menos de 1 salário mínimo
de rendimento domiciliar per capita; 22,2 milhões (ou 32,5%) foram enquadrados nas faixas de ren-
dimento domiciliar per capita de 1 a menos de 2 salários mínimos; e 13,6 milhões (ou 19,9%) infor-
maram rendimento domiciliar per capita, de 2 ou mais salários mínimos” (Fonte: IBGE).
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NEVARES, Ana Luiza Maia. O regime de separação obrigatória de bens e o verbete 377 do Su-
premo Tribunal Federal. In: II a. 3. n. 1.2014 II 5. Disponível em: <civilistica.com>. Acesso em: 5
mar. 2018.
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A súmula, conforme se viu, tem sua base legal fixada no art. 259 do Có-
digo Civil de 1916. A ratio do citado artigo referia-se ao silêncio do contrato,
tendo naturalmente em vista o regime da separação contratual, isto é, a separa-
ção convencional. A contrario sensu, se no regime da separação legal, obriga-
tória, não há contrato, vez que a imposição decorre do texto legal, não há que
se falar na aplicação do citado dispositivo.
Esta sempre foi a posição dominante da doutrina brasileira19 que não va-
cilava em afirmar a inaplicabilidade da hipótese ao regime da separação obri-
gatória de bens.
Outro motivo a ensejar duras e pertinentes críticas da doutrina nacional
remontaria à confusão de regimes puros que a nossa lei civil nunca agasalhou.
Com efeito, a aplicação do art. 259 ao regime de separação legal de bens im-
plicaria, inevitavelmente, em convertê-lo em regime de comunhão parcial. Com
efeito, dizer comunicarem-se os aquestos no regime de separação legal equiva-
le a dizer que o regime passa a ser o da comunhão parcial. Certamente não foi
este o escopo perseguido pelo legislador, que visou a uma sanção aos cônjuges
(art. 1.641, incisos I a III) quando previu o regime de separação legal (especial-
mente a situação do setuagenário à época do casamento).20
Não bastassem os argumentos invocados, Inácio de Carvalho Neto se re-
fere a outro argumento que parece decisivo à elucidação do impasse criado.
Assim segundo o doutrinador, era intenção do legislador, com a redação do
art. 1.641 do novo Código Civil “deixar clara a revogação da Súmula 377 do
Supremo Tribunal Federal, dizendo não haver comunhão de aquestos no regi-
me de separação legal de bens.”21 Entretanto, “na última revisão redacional do
19
RODRIGUES, Silvio. “O que me parece de absoluta evidência é que a regra do art. 259 [...] se aplica
exclusivamente ao regime convencional da separação de bens.” Obra citada, p. 166. No mesmo
sentido a doutrina de Pontes de Miranda: “O art. 259 não incide se o regime da separação é o obri-
gatório. Então os bens são adquiridos pelos cônjuges separadamente e há dois patrimônios sem liga-
ção.” Tratado de Direito Privado. v. 8. p. 346. E, ainda, a doutrina de João Manuel de Carvalho San-
tos: “O legislador ao dispor pela forma que o fez, pressupôs a existência de um contrato antenupcial.
E somente quando o contrato silencia, manda que se aplique o dispositivo supra. Donde a conclu-
são de que, se se trata de regime obrigatório da separação de bens, em virtude do que estatui o art.
258, parágrafo único, não se aplica o dispositivo do art. 259. Permitir que se comunicassem os
bens adquiridos, no caso de ser obrigatório o regime de separação, seria tolerar que a lei fosse bur-
lada, seria, em suma, admitir que os cônjuges fugissem daquele regime que a lei lhes impôs, para
caírem no regime da comunhão de bens.” Código Brasileiro Interpretado. v.5. p. 55.
20
A partir da Lei nº 12.344, de 9 de dezembro de 2010, o art. 1.641 passou a viger da seguinte forma:
“II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos”.
21
CARVALHO NETO, Inácio. A Súmula 377 do Supremo Tribunal Federal e o novo Código Civil.
Disponível em: <http://www.professorchristiano.com.br/artigosleis/artigo_inacio_sumula.pdf>, p.
5. Acesso em: 6 mar. 2018.
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22
CARVALHO NETO, Inácio. Idem, ibidem.
23
CARVALHO NETO, Inácio. Idem, p. 6.
24
Ana Luiz Maia Nevares é mestre e doutora em Direito Civil pela UERJ e Professora de Direito
Civil da PUC-Rio. O artigo de sua lavra, aqui citado foi publicado em 21 de fevereiro de 2014 no
site <Civilistica.com>.
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25
O número deste processo não foi divulgado em razão de segredo judicial.
26
“Regime de separação convencional mantém bens do casal separados antes e durante o casamento.”
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próprios do regime de separação total convencional de bens (que diferem dos efeitos do casamento pelo
regime de separação obrigatória de bens), mas apenas de consignar que o regime de bens deve ser o da
mais absoluta separação de patrimônios, afastando a incidência do verbete 377 da Súmula do Supremo
Tribunal Federal.27
Como pode se perceber, os dois aspectos salientados no voto da Ministra
Nancy Andrighi retornam aqui com o devido realce. Primeiro, resgatando a
soberania da vontade em matéria de regime de bens (“... clara vontade de que
seu casamento seja regido da mais absoluta e total separação patrimonial”) e,
ato contínuo, o afastamento da incidência da Súmula 377 (“afastando a inci-
dência do verbete 377 da Súmula do Supremo Tribunal Federal”).
Mas a posição doutrinária de Nevares avança um pouco mais ao afirmar,
de modo claro e objetivo, que o pacto antenupcial – instrumento perfeitamente
disponível a quem pretende regular o seu regime de bens “como lhe aprouver”
– não tem o poder de atribuir ao casamento os efeitos do regime de separação
convencional de bens. A ressalva é importante, respeitando as características
desejadas pelo legislador no art. 1.687 (separação convencional de bens) po-
rém, reafirmando a vontade dos nubentes que, no regime de separação obrigatória
de bens, perseguem a mais absoluta separação de patrimônios. Ao pacto ante-
nupcial, como se percebe, é reconhecido efeito limitado, que não compromete
a dicção legal do art. 1.687 mas, ao mesmo tempo, tal exegese afasta a incoe-
rência até então criticada pela doutrina mais abalizada, de realização de um ca-
samento sob o regime de separação e que, ao final, se confunde com a comunhão
parcial de bens.
Dentro da rigorosa análise científica do problema, Nevares contrapõe os
dois argumentos que fragilizariam a utilização do pacto antenupcial na hipóte-
se sob comento. Seriam eles, primeiro, a não aceitação do pacto nos processos
de habilitação do casamento em decorrência do disposto no número 7 do art.
70 da Lei 6.015/7328 e, segundo, a arguição de cancelamento do pacto pelo
Ministério Público, sob alegação de nulidade.
Questionando a natureza do ato nulo e o alcance do pacto antenupcial, a
citada autora conclui que “na medida em que o pacto em comento prevê exata-
mente o regime de bens que a lei impõe, ou seja, o regime de separação patrimo-
nial, pode-se concluir que dito ajuste não contraria o comando legal, não sendo
27
NEVARES, Ana Luiza Maia. Obra citada, p. 7.
28
A Lei dos Registros Públicos assim dispõe no seu art. 70, nº 7:
“Do matrimônio, logo depois de celebrado, será lavrado assento, assinado pelo presidente do ato,
os cônjuges, as testemunhas e o oficial, sendo exarados:
7º) o regime de casamento, com declaração da data e do cartório em cujas notas foi tomada a es-
critura antenupcial, quando o regime não for o da comunhão ou o legal que, sendo conhecido, será
declarado expressamente.”
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nulo, portanto”29 e, ainda, “... não há motivos para negar que aqueles que de-
vem se submeter ao regime de separação obrigatória de bens afirmem em do-
cumento autêntico o seu desejo de realmente viverem uma separação total e
plena de patrimônios na esteira do comando legal.”30
Justificando a possibilidade do pacto antenupcial com vistas ao afastamento
da indesejada aplicação da Súmula 377/STF ainda afirma a civilista, sem va-
cilar, que “não há motivos para negar que aqueles que devem se submeter ao
regime de separação obrigatória de bens afirmem em documento autêntico o
seu desejo de realmente viverem uma separação total e plena de patrimônios,
na esteira do comando legal.”31
Vale frisar, que a doutrina exposta, além de fazer rigorosa interpretação do
texto legal, em prova de impecável lógica, prioriza a humanização do Direito de
Família não mais o submetendo à exegese restritiva, puramente calcada na inter-
pretação literal da lei, mas, em nítida tendência finalística, procurando eviden-
ciar a interpretação teleológica32 priorizando, sempre que possível, a dimensão
humana e o respeito à liberdade de optar.
É nesta dimensão e sob esta ótica que se alinha toda a doutrina atual so-
bre o conteúdo do art. 1.641 e a não aplicação da Súmula 377/STF.
Assim, para citar as posições mais atuais a respeito do questionamento
objeto do presente estudo, doutrina José Fernando Simão:
Com a vigência do novo Código Civil, o artigo foi revogado e não encontra correspondente legal. Assim, a
primeira conclusão que se chega e que após a vigência do Código Civil de 2002, a separação convencional
de bens é realmente absoluta, não havendo a comunhão dos aquestos.
Mais adiante, sobre o afastamento da Súmula 377/STF:
[...] Entendo estar revogada a disposição [...] isso porque a Súmula 377 não evita o enriquecimento
sem causa, mas contrariamente, gera o enriquecimento sem causa. Isso porque, em razão da Súmula, a
comunhão dos aquestos gera o enriquecimento se causa. Isso porque, em razão da Súmula a comunhão
dos aquestos é considerada automática, independentemente da prova do esforço comum33 [...] Em
29
NEVARES, Ana Luiza Maia. Idem, p. 9.
30
NEVARES, Ana Luiza Maia. Idem, ibidem.
31
NEVARES, Ana Luiza Maia. Idem, ibidem.
32
Aquela que busca entender a lei por seu sentido finalístico. Parafraseando a lição sempre atual de
Maria Helena Diniz: “O direito deve ser visto em sua dinâmica como uma realidade que está em
perpétuo movimento, acompanhando as relações humanas, modificando-se, adaptando-se às novas
exigências e necessidades da vida [...] A evolução da vida social traz em si novos fatos e conflitos
[...] juízes e tribunais constantemente estabelecem novos precedentes e os próprios valores sofrem
mutações, devido ao grande e peculiar dinamismo da vida.” As lacunas no Direito. p. 72.
33
O exemplo dado por Simão é elucidativo: “Se um senhor de 90 anos se casa com uma moça de 18
anos, pelo regime de separação obrigatória em razão da idade, e depois de casado adquire uma casa e
um carro, os bens são considerados aquestos em decorrência da súmula e a jovem nubente terá di-
reito automaticamente à meação. E por que? Porque a Súmula 377 não exige prova do esforço co-
mum.” Obra citada, p. 2.
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conclusão, a Súmula deve ser entendida como revogada [...] Afasta-se definitivamente a presunção
contida na Súmula 377 e a separação obrigatória passa a ser considerada realmente absoluta.34
No mesmo sentido a posição de Zeno Veloso em parecer solicitado por
casal que assim colocou o problema à apreciação do sensível civilista:
Querem lavrar uma escritura – pacto antenupcial, mencionando que vão casar-se, e o casamento seguirá
o regime obrigatória da separação de bens, por força do art. 1.641, inciso II, do Código Civil. Até ai, nada de
novo: só estão repetindo o que a lei já diz. Todavia, não querem, em nenhuma hipótese, haja comunicação
de bens, mantendo-se a separação de bens de forma absoluta, em todos e quaisquer casos, sem limitação
ou ressalva alguma, excluindo, portanto, expressamente a aplicação da Súmula 377 do STF.35
A posição de Zeno Veloso foi taxativa: “Já dei a minha opinião; não acho
que o enunciado da Súmula seja matéria de ordem pública, represente direito
indisponível, e tenha de ser seguida a qualquer custo, irremediavelmente.”36
No mesmo sentido se direciona a doutrina de Jones Figueirêdo Alves que
gerou Provimento da Corregedoria Geral da Justiça de Pernambuco37 O citado
Provimento dispôs sobre o afastamento da reportada Súmula 377 do STF, quando
determina:
a) no regime de separação legal ou obrigatória de bens, na hipótese do art. 1.641, inciso II, do Código Civil
deverá o oficial do registo civil cientificar os nubentes da possibilidade de afastamento da incidência da
Súmula 377 do STF, por meio de pacto antenupcial e, b) o oficial do registro esclarecerá sobre os exatos
limites dos efeitos do regime de separação obrigatória de bens, onde comunicam-se os bens adquiridos
onerosamente na constância do casamento (Artigo 1º).38
Merecem transcrição os argumentos expendidos pelo preclaro pensador:
É que, iniludivelmente, o regime patrimonial da separação obrigatória de bens imposto aos nubentes
de maior faixa etária, por expressa disposição do legislador, não inibe ou afasta o interesse dos consortes
pelos bens adquiridos onerosamente ao longo do casamento sob o regime de separação legal; razão
pela qual, obrigados a este regime, cumpre-lhes, assim querendo, certificar, por convenção de interesse
mútuo, sobre a hipótese de “separação absoluta” dos bens futuros, que se contém no regime de separação
convencional de bens.
34
SIMÃO, José Fernando. O regime da separação absoluta de bens (CC, art. 1.647): separação con-
vencional ou obrigatória? In: Meus artigos. Disponível em: <http://professorsimao.com.br/artigos
_simao_regime_separaçao.html>. Acesso em: 5 mar. 2018. Ainda, e no mesmo sentido, o artigo in-
titulado Separação obrigatória com pacto antenupcial? Sim, é possível. In: Consultor Jurídico. Dis-
ponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-fev-11/processo-familiar-sepraçao-obrigatoria-pacto-
antenupcial-sim-possivel?imprimir=1>. Acesso em: 5 mar. 2018.
35
VELOSO, Zeno. Casal quer afastar a Súmula 377. In: p. 2-3. Disponível em: <Jusbrasil.com.br>.
O artigo foi publicado no Jornal O Liberal, de Belém do Pará, em abril de 1916.
36
VELOSO, Zeno. Idem, p. 3.
37
Provimento nº 08/2016, de 30.05.2016 (Dje. de 01.06.2016, p. 68-69).
38
ALVES, Jones Figueirêdo. As uniões septuagenárias e a separação absoluta de bens por pacto
antenupcial com superação da Súmula 377 do STF. In: Poder Judicário. Tribunal de Justiça de Per-
nambuco. Disponível em: <http://www.tjpe.jus.br>. Acesso em: 5 mar. 2018.
Revista do Ministério Público do RS, Porto Alegre, n. 83, maio 2017 – mar. 2018 65
Eduardo de Oliveira Leite
Anote-se que, quando preferido este regime, através de pacto antenupcial, o casamento não reper-
cute na esfera patrimonial dos consortes, implicando dizer que os cônjuges preservam o domínio e a
administração dos seus bens presentes e futuros, como também, diferentemente do art. 276 do CC/1916,
“estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos
cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real” (art. 1.687 do Código Civil/2002).
Em tais latitudes, como se observa, o regime de separação convencional e voluntária, apresenta uma
separação absoluta ou total de bens, o que não é alcançada, expressamente, pelos que são submetidos
ao regime de separação legal ou obrigatória. No caso, estes últimos nubentes estariam desprovidos da
capacidade de convencionar pela separação plena e absoluta, aparentemente reservada aos nubentes com
idade inferior aos setenta anos.39
Invocando a prevalência da autonomia privada em matéria patrimonial
(mediante pacto antenupcial) sobre o poder vinculante das súmulas assim se
posicionou Mário Luiz Delgado:
[...] podem os nubentes, atingidos pelo art. 1.641, inciso II do Código Civil, afastar por escritura pública, a
incidência da Súmula 377 do STF, estipulando nesse ponto e na forma do que dispõe o art. 1.639, caput, do
Código Civil, quanto aos seus bens futuros o que melhor lhes aprouver.40
Corroborando a mesma orientação da doutrina citada assim se posicionou
Flávio Tartucce:
[...] Sem dúvida, a Súmula 377 do STF – do remoto ano de 1964–, traz como conteúdo matéria de ordem
privada, totalmente disponível e afastada por convenção das partes, não só no casamento, como na união
estável [...] A única restrição de relevo a essa regra diz respeito à disposições absolutas da lei, consideradas
regras cogentes, conforme consta do art. 1.655 da mesma codificação, o que conduziria à nulidade
absoluta da previsão [...] Todavia, não há qualquer problema em se afastar a súmula 377 pela vontade
das partes, o que, na verdade, ampliaria os efeitos do regime de separação obrigatória, passando esse a
ser uma verdadeira separação absoluta, em que nada se comunica [...] Acreditamos que tal afastamento
constitui um correto exercício da autonomia privada, admitido pelo nosso Direito, que conduz a um eficaz
mecanismo de planejamento familiar, perfeitamente exercitável por força de ato público, no caso de um
pacto antenupcial (art. 1.653 do CC/2002).41
Conforme se depreende da doutrina invocada é possível afirmar que a dou-
trina nacional evoluiu, resgatando a dimensão humana da vontade dos nubentes,
em detrimento dos meros aspectos patrimoniais, ao considerar que é possível
a convenção dos nubentes por pacto antenupcial formalizado em escritura pú-
blica afastando a incidência da Súmula 377/STF no regime obrigatória de se-
39
ALVES, Jones Figueirêdo. Obra citada, p. 2. Por questões de ordem especial deixamos de reprodu-
zir todo artigo que merece leitura a análise pela clareza e coerência dos argumentos invocados.
40
DELGADO, Mário Luiz. Apud Jones Figueirêdo Alves. Artigo citado, p. 2.
41
TARTUCE, Flávio. Da possibilidade de afastamento da súmula 377 do STF por pacto antenupcial.
(25 de maio de 2016). Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/FamiliaeSucessoes/104.MI23
9721,61044-Da+possibilidade+de+afastamento+da+sumula+377+do+STF+por+pacto+antenupci
al>. Acesso em: 5 mar. 2018.
66 Revista do Ministério Público do RS, Porto Alegre, n. 83, maio 2017 – mar. 2018
A “armadilha” do regime de separação de bens e a humanização...
6 Primeiras conclusões
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Segundo doutrina de Milton Paulo de Carvalho Filho: “O inciso II realça o caráter protetor do le-
gislador que pretende resguardar o nubente maior de 70 anos de união fugaz e exclusivamente in-
teresseira.” Código Civil Comentado. p. 1731.
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Eduardo de Oliveira Leite
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“Registro Civil de Pessoas Naturais – Casamento – Pacto antenupcial – Separação obrigatória
– Estipulação de afastamento da Súmula 377 do STF – possibilidade. Nas hipóteses em que se im-
põe o regime de separação obrigatória de bens (art. 1.641 do CC), é dado aos nubentes, por pacto an-
tenupcial, prever a incomunicabilidade absoluta dos aquestos, afastando a incidência da súmula 377
do Excelso Pretório, desde que mantidas todas a demais regras do regime de separação obrigatória. Si-
tuação que não se confunde com a pactuação para alteração do regime de separação obrigatória, para o
de separação convencional de bens, que se mostra inadmissível.”
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Apud, Portal do RI – Portal do Registo de Imóveis, p. 2. Disponível em: <http://www.portaldori.
com.br>. Acesso em: 5 mar. 2018.
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