25-TremdaVida ConsoliJr

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 368

O Trem da Vida

e Muitas Outras
Poesias
Leonardo Consoli Júnior

2021
AMAR A POESIA, DIGITALMENTE
_______________________

A poesia em formato digital terá o mesmo


sabor, o mesmo odor?
Seremos capazes de encontrar o prazer da
leitura num ecrã de computador?
Editamos poesia desde 1996 e queremos,
agora, dar o passo para além dos limites do
papel.
E cada leitor poderá, em sua casa, imprimir e
construir o seu livro. Também ele cúmplice
desta batalha pela poesia que não pode ter
fronteiras, nem barreiras.

Elefante Editores

_______________________
|2
Dedicatória
_______________________

Um grande ser uma vez disse que: Nos


números, nas cores e nos sons está encerrado
todo o mistério da vida, por isso, dedico este
primeiro livro da minha vida, somente agora aos
53 anos de idade aos meus filhos, que me
fizeram pai a partir dos meus 30 anos, quando
a música que tocava em meus ouvidos mudou
totalmente e principalmente à minha esposa
que torna minha vida colorida com matizes
indizíveis e perenes desde os meus 23 anos.
Obrigado sempre!

_______________________
|3
Agradecimentos
_____________________

Tenho muito a agradecer a muita gente.


Talvez nem caiba nesta página. Contudo, alguns
eu gostaria de nominar.
Obrigado à Amazon, que através de seu
programa KDP, me permitiu realizar, não só um
sonho, mas aquilo que eu preciso fazer nesta
vida.
Obrigado à minha mãe e meu pai, que me
incentivaram à escrever.
Obrigado ao Rodrigo e ao Arthur, meus
filhos que me apoiam sempre.
Obrigado à Elizabeth, minha esposa que
me ajuda em tudo, me apoia em tudo, me ama
do jeito que eu a amo e ainda por cima tem
talento para fazer a capa deste livro.
Obrigado ao meu irmão Roger, que me
suporta de tantas maneiras que não consigo
contar. Sou afortunado por tê-lo tão próximo no
meu dia-a-dia. Sigamos sempre assim.
Obrigado ao João Paulo, o Jota Pê, pelo
incentivo, troca de ideias tão fundamental no
processo de escrever e pela sua amizade que é
recíproca e tão benéfica mutuamente. Ser
prefaciado por você muito me honra.
Obrigado à minha querida e saudosa Profa.
Maria Aparecida, que me descobriu.
Obrigado póstumo ao Alexandre, meu
amigo e irmão lúdico. Ainda me faz falta, mas a
gente se vê por aí!

_______________________
|4
Prefácio
_____________________

“Minha vida está nos meus poemas, meus


poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma
vírgula que não fosse uma confissão. ”
Mário Quintana
Se for verdade que a vida é um mergulho
no mar infinito de experiências, também é
verdade que esse mergulho, apesar de coletivo,
não é supervisionado. A cada ciclo as
experiências se renovam, as sensações se
ampliam... reponto antes da próxima onda, que
nos leva a nós mesmos, ao que somos, ao que
descobrimos que somos.
Descobrimos e esquecemos em sobrevires
incontáveis, raros apesar de comuns.
Já foi dito que não somos somente o que
sabemos, somos também o que não sabemos
que somos, e fica na poesia registrada essa
raridade; através do poeta, que registra mais
do que sabe, que registra o que sente, nos
vemos e ficamos mais nós mesmos. Como é
possível que eu seja, esteja e fique nas
experiências dos outros?
Raridade. Espírito de poeta, palavras
sobrevindas.
Em o TREM DA VIDA, Leo Consoli Jr, nos
desfila e expõe os momentos raros em que
podemos apreender essa riqueza do novo-velho
e do velho-novo, com uma poesia da amizade,
do amor, da vida, do amadurecimento, do
conhecimento e reconhecimento.
O Trem leva às estações...”Anonimato”,
“Amigos”, “Ampulheta”...e continua...
O movimento da cabeça nos dá uma
sobrevida daquele momento que já está ficando
para trás... o trem não anda de marcha-a-

_______________________
|5
ré...em cada parte da viagem conhecidos e
desconhecidos sentimentos e pessoas que
sobem e descem em cada estação...poucos
estarão na estação final...”Vento”, “Vendaval”,
“Vida”, “Você”, “Você é”...
Nesse livro essa viagem é possível mais de
uma vez!

Obrigado amigo pela carona em parte da


viagem. João Paulo Ferraz.

_______________________
|6
Abre as portas do conhecimento
_____________________

Abre as portas do conhecimento


Um paraíso na imensidão
Fluem nas veias
Arrebatando,
Chorando,
Gritando,
Amando!

Abre as portas do conhecimento


O desconhecido e doce mistério
Que descobri em seu rosto

Sorrindo,
Brincando,
Pensando,
Amando!

Abre as portas do conhecimento


Descobrindo curvas de espetáculo
Vi-me só, com a sua imensidão
Olhando,
Descobrindo!
Fazendo-me só para admirar você.

_______________________
|7
Aconteceu
_____________________

Aconteceu
O seu amor me envolveu
E as forças você acolheu
Que por anos o tempo escondeu

Aconteceu
Como disse, há muito, Prometeu
O céu de fúria se encheu
Unindo forças de um Zeus

Aconteceu
Sonhei que o meu amor era seu
Esperei que o mundo fosse meu
Pensei ter ouvido o canto seu

Aconteceu
Depois de anos, arrefeceu
Tudo que eu tinha se perdeu
E o seu amor já não é meu...

_______________________
|8
Acredita em mim!
_____________________

Acredita em mim!
Quando eu falei que tudo ia acabar,
O leite,
A carne,
O pão...
E os cruzeiros, réis, cruzados.
E os moribundos.

Acredita em mim!
Quando eu disse que o mal enraizaria,
Cresceria o instante
A ansiedade e escaparia
O céu, de fumaça se encobriria
E a luz se apagaria.
Lentamente eu morreria.
Acredita em mim!
Quando eu deitei sobre seu corpo,
Você se remexeu
E eu deleitei
Eu a espreitei
E penetrei seus sentidos
Sangrei lhe e foi lindo.

Acredita em mim!
Quando eu digo que não há mais vida,
E o sol se acabou
O mundo se fechou
Se contraiu
E se destruiu... e ao homem.

Acredita!

_______________________
|9
Além do horizonte
_____________________

Eu quero um mundo diferente


Sem brigas, nem lutas, nem guerras
Quero a paz em todas as terras
Para melhor utilizar a mente

Um grande potencial
Irá prevalecer
Sem se prover
De algo muito especial

Uma nova raça inteligente


Que não rouba e nem mente
Tudo que seja a perfeição

Será um reflexo da menção


Que não seja preciso a lei
Ah... quando virá um mundo assim?
Sinceramente... eu não sei!

_______________________
| 10
Alerta
_____________________

Algo me queima
É o meu remorso
Ele bem que teima
Mas eu me esforço

Uma sensação
Não sei dizer
É uma tentação
Para eu morrer

Talvez fosse
Mas sei que não
Acho que trouxe
Tenho aqui na mão

Me sai em tudo
Dominando a mim
É o nosso mundo
Que está no fim

_______________________
| 11
Algumas palavras
_____________________

Amor,
Algo infinito
Como o Universo
O sol e a terra
O corpo aberto
A alma limpa e o...
... coração

Amor,
Sentimento nobre
E tão profundo
As estrelas e a alua
Se misturam no mundo
Penetrando na mente...
... como uma canção

Amor,
Afável, fiel e
Que dói, machuca
Surpreende o manto
E fere profundamente
E queima ardentemente
E me faz...
... chorar

Amor,
Não existe solidão
Não existe o inverso
Do verso
Universo
Olha aí...
... o resto.

_______________________
| 12
Aliança da eternidade
_____________________

Enfim te descobri
Conheci teu âmago
E quis tê-la por inteiro!

Minha eloquência é tão vã


Quanto o mais lindo dos desejos
E minha carência lhe quer!

Tudo o que eu senti em você


E aprendi numa noite
Quero que você me sinta
E quero te ver mais e mais
Sonhos de brandura
Cânticos e alma pura
Love of my life!

Tudo o que eu quero é uma chance


Para poder mostrar o quanto é sério
Tudo o que eu tenho prá te dar!

Quero viver a sua vida


Respirar o seu ar
Sentir o seu perfume junto ao meu
Quero ver o seu olhar
Quero uma chance
Prá poder provar
Pelo menos experimentar
Quero seus sonhos
Quero ser seu
Quero você minha
Quero nós dois fundidos em uma só aliança
A Aliança da Eternidade!

_______________________
| 13
Alma concebida
_____________________

Ao mundo veio mais outro


Que aos poucos crescerá
Neste mundo violento e afoito
Gritará e pensando, viverá.

Nove meses enfurnado


Sairá das alegrias
Irá cair como se soldado
Fosse ser o seu destino

Mais uma vez eu suplico


Que esta vida não abandone
O mundo que foi concebido

Mesmo que não funcione


Toda essa orgia maluca
Não acabe desistindo da luta

_______________________
| 14
Amar foi a minha ruína
_____________________
Tudo começou assim por começar
Numa triste noite, infeliz luar
Tranquilo, mergulhado em pensamentos
Surgiu um poema lá de dentro

Transportei tudo para o papel


Depois escrevi à granel
Cada vez sofrendo mais e mais
Com as esperanças de um rapaz

Eu sei que amar foi a minha ruína


Fo o que se deu nesta triste sina
Sei também que tudo não combina

Em lágrimas de dor e amargura


Senti já como a vida é dura
Agora ando vagando na rua

_______________________
| 15
Amargas lembraças
_____________________

Amargas lembranças de um passado cruel.


Lembranças tristes de um amor que não
aconteceu.
São tristezas que fazem um pequeno anel
Que aos poucos se antecipa surgindo o filho
seu.

Ladainha conhecida, choro e gritaria.


Tristeza profunda, afunda no coração.
Amarga derrota, bem-vinda na harmonia
Compartilho desta desgraça, sem razão.

Mas não é só isso. Tem os por quês a isto.


O amargo sabor no meu ser. Então vem ver
O infalível amor que se findou até em Cristo.
Culpado desgosto, muita dor. O amor me viu
nascer.

Tristeza me verá morrer e nunca voltar.


Alegria parou de fluir, parou de cumprir
A sua missão... missão tal para eu não chorar.
Enfim eu continuo vagando, sem nunca sorrir.

_______________________
| 16
Amiga
_____________________

Amiga,
Se meu desejo fosse vivo
Seu presente seria o céu
De mil estrelas cadentes
De mil sóis ardentes
De uma noite como um véu

Amiga,
Se meu desejo fosse vivo
Seu presente seriam as aves
De mil plumas multicores
De mil cânticos de amores
De uma revoada de passarinho

Amiga,
Se meu desejo fosse vivo
Seu presente seria o mar
De mil peixes providos de asas
De mil ondas, de mil vagas
De um reflexo do luar

Amiga,
Se meu desejo fosse vivo
Sua vida seria um campo
De mil flores perfumadas
De mil folhas orvalhadas
De um buquê colhido num canto

Amiga,
Se meu desejo fosse vivo
Sua vida seria a felicidade
De mil sorrisos de alegria
De mil sussurros e euforia
De uma eterna mocidade

_______________________
| 17
Amigos
_____________________

Do dia em que te conheci


Tu não me saíste da lembrança
Voltando aos meus tempos de criança
Percebia o quanto gostava de ti

Soltando meu sonhos e ilusão


Imaginei o quanto seria feliz contigo
Mas hoje vejo que para ti, não passo de amigo
Ouvindo apenas a tua voz sem o coração

Cruel é meu destino


Que me deixa separado
Meu coração desamparado
Precisando do teu carinho

Qual é a força que não nos liga


E me deixa sem alma nem coração?
Tu te recusas a estender-me a mão
E continuas sendo só uma amiga

_______________________
| 18
Ampulheta
_____________________

Um sonho...
Como tantos outros que tive.
Um ideal,
Talvez...
Mera casualidade,
Porque a esperança inda queima
Porque o amor inda queima
E vai queimar
Até o dia em que eu morrer!

Amo...
Não vou negar,
E eu sei esperar,
Eu posso esperar
E eu quero.

Uma vida...
Quem sabe se ela não quebrou?
A minha é toda sua.
O único amor
O verdadeiro...

Te amo,
Te quero,
Te espero...
Não vai embora,
Dá uma risada...
Meu tudo!
Meu todo!

_______________________
| 19
Anaguerra
_____________________

Essa mulata
Esse mistério
De alma verde
E de negra intensidade.

Essa chama que aviva


al ilha perdida
Vai ter com os deuses
No alto do Olimpo

Sonho de eterna hora


Vem de Hades, outra aurora
Quebra e estoura

Nasce do coração
Da misteriosa África
O desejo, o encanto, a emoção!

_______________________
| 20
Anel de prata, o
_____________________

O anel de prata
Que seu dedo porta
Reluz sua beleza
Mas me corta!

O anel de prata
Que foi de amor dado
Diz-me de sua tristeza
Faz-me de um rato!

O anel de prata
Que sua mão adorna
Reflete sua miudeza!

O anel de prata
Que a torna imponente
Como na realeza
Deixa-me descontente...

_______________________
| 21
Anonimato
_____________________

Quem sou eu afinal?


Um pobre diabo...
Um reles mendigo...
Um ser macabro...
Um ente perdido...

Sou a sombra que me persegue


Pelos quatro cantos do vento
Pois desse susto vem o evento
Da interrogação que se ergue

Da dúvida emerge a resposta


Que me é imposta
Sobre minhas costas

Como
Bebo
Vivo
Respiro
Envelheço
Morro
Reencarno

A confusão é alarmante
Do tamanho do elefante
Não consigo deslindar
Portanto, assim há de ficar

Eu me procuro
Mas não me acho

Onde estou, afinal?

_______________________
| 22
Ao meu amigo
_____________________

Que esse fio de luz que constituiu essa nossa


amizade
Penetre no prisma da eternidade
E perpetue todas as cores pelo tempo infinito
E que cada raio colorido sirva para indicar um
caminho
Caminho esse de amor
Caminho esse de fé
Caminho esse de esperança
Caminho esse de aliança
Caminho esse da razão
Caminho esse da justiça
Caminho esse da sinceridade
Pois essas são as cores do nosso mundo
melhor!

_______________________
| 23
Árvore
_____________________
Árvore,
Que amiga tu és!
Que utilidade tu tens!
Que hostilidade para contigo!

Árvore,
Que dá o ar que respiramos,
Que dá a sombra na qual descansamos,
Que dá o fruto com o qual nos alimentamos

Árvore,
Onde está indo?
Cadê o poleiro das aves?
Diga-me onde foi parar?
A humanidade que a destrói!
Que poda tua vida.

Árvore,
Tuas folhas estão caindo
Tuas entranhas corroendo
Tuas raízes estão morrendo

Árvore,
Procura a tua vida
Que jaz contorcida
Na beira de um penhasco
Abandonada... cercada pelo mato

Árvore,
Não te desesperes
Apesar da situação
Ainda encontro salvação
No teu, no meu, no nosso
Em todo coração

_______________________
| 24
Árvore,
É só cativar
Que o mal há de cessar

Árvore,
Não morra,
Pois tua vida é a minha vida
E é de todas as vidas.

_______________________
| 25
Astro-Rei
_____________________

Seu corpo aquecido


Moreno, enaltecido
Jamais esquecido
Pelo lobo apetecido

O sol que ilumina seus olhos


Que faíscam como um raio solar

É o astro-rei que ordena


Para que você me ame intensamente
E no intenso calor da gente
Seja seu corpo mais atraente

Sou seu rei e você é minha rainha!


Profira seu desejo e arda de paixão
No mais latente ato de amor
Fora eu o Romeu mais apaixonado

O sol é a vida, porque ela depende dele


A vida contida no sol é a chama do coração

_______________________
| 26
Avó querida
_____________________

Um carinho, um afago, um cafuné


Lembrando os tempos da chaminé
Sentado em seu colo aconchegante
Contando histórias incessantes

São velha maneiras de dizer


Que tempos bons hão de se ver
Maneiras que ainda permanecem
Vivas... elas jamais arrefecem

Cuidando carinhosamente de mim


Gosto de lembrar... bem assim
Sei que nada vale. Palavras vão ficar
Retorne no tempo. Vamos reavivar

Memórias, memórias... conte-me uma história


Não se aborreça com minhas artimanhas
Que o afeto maior me sai pelas entranhas
Digo-lhe parabéns por mais um ano de vitória

_______________________
| 27
Balão de ar
_____________________

Não sei o que sou


Nem sei quem sou
Não sei onde moro
Nem sei porque moro

A agonia que me toma de assalto


Em um amplo e vertiginoso salto
Parece mais uma profunda carência
Em um afeto que se esconde da vivência

A violência
A morte
A sorte
A vida... que vida?

Acho que não há saída


Há apenas uma corrida
Que desprende a fantasia
Deste pobre idiota

Um boêmio,
Um palhaço,
Um banido no espaço
Um poeta escrachado

Nada a dizer
A não ser morrer
Viver para ver
A morte chegar e escrever...!

_______________________
| 28
Barba ruiva
_____________________

Já estamos cá reunidos
Onde a alegria predomina
Ansiosamente aguardando
O momento que não termina

Gozando de um bom papo


Os convivas vão chegando
Nesse dia tão significativo
Sempre com um sorriso
Alimentando as esperanças
Lado à lado com a confiança
Estando com o peito cheio
Só esperando o seu recreio

Lembrando os seus momentos


Os quais jamais serão esquecidos
Pleiteando qualquer presente
Encarando os fatos de frente
Sem temer um só instante

Jovial face de cor rubra


Unindo o útil ao agradável
Nesta data tão querida
Incrivelmente tão favorável
Onipotente primo João
Receba um Feliz Aniversário.

_______________________
| 29
Barraco de pau
_____________________

Que barriga é essa?


É a porcaria que se come
É o ar que se engole
É o lixo... é a fome!

Que olheira é essa?


É a hora extra do trabalho
É o jogo a dinheiro de baralho
É o fumo, a bebida o bafo de alho!

Que roupas são essas?


São as mesmas de outros dias
São as imagens de guerrilha
São as fugas. São as trilhas!

Que atos são esses?


São os filhos em inanição
São os empregos e a emancipação
É o desespero, o ódio e a implosão!

_______________________
| 30
Belacap
_____________________

Como em um conto de fadas


O sonho do santo indicado
Tornou-se realidade...!

Sonhara, então, com uma ilha


De onde jorraria leite e mel
E a luta fez-se presente
O berimbau retiniu alegremente
E a realidade tomou forma!

O rico escolhido se fez carente


Despiu-se do ouro e vestiu madeira
Para ficar junto ao que era sonho.

E o concreto tomou forma


Do papel do incompreendido
Que não foi corrupto, nem bandido
Mas a gente do seu sangue o condenou
Então o mestre arquiteto de refugiou!

Da forma, o concreto criou vida.


Deu-se a bela aurora do futuro
Nascendo um berço esplêndido de ouro!

_______________________
| 31
Bom pastor, o
_____________________

Entro nos caminhos da vida


Abro as portas do destino
Penetro nos místicos conhecimentos
Sou tudo e não sou nada

Sei dos homens que matam


Sei das mulheres que pecam
Sei das crianças
Sei dos velhos

Tenho os céus e as terras


Sou de tudo e de todos

Não tenho olhos,


Mas vejo tudo.
Não tenho tato,
Mas sinto tudo.
Não tenho olfato,
Mas respiro a poluição
Não tenho matéria,
Mas tenho coração.

Dos homens que me viram


Nunca mais hão de esquecerem-se
Do dia mais glorioso
Que do dom milagroso receberam.

Sou o Eu
Sou o Universo
Abro caminhos para a vida
Entro nas portas do destino

Sou você,
Sou ele,
Sou vós...

_______________________
| 32
Caminho livre no Shangri La
De mil maravilhas
E esplendores
Assim como tu!
Desejo companhia...
Ande comigo
Seja meu amigo...
Eu sou você e ele é o fim,
Mas o fim também sou Eu.

_______________________
| 33
Bordas e beiras
_____________________

Na espera do sonho criar vida


Fico na beira do abismo
Na beira da besteira
Na beira da loucura
Na beira da esteira
Na borda da pintura
Na borda do copo d’água
Na borda da piscina

Na esteira da vida do sonho


Fico no cantinho isolado
No mundo me ponho
Um pouco acanhado

Na vida do sonho de uma vida


Espero o pior para mim
Reservo a triste mortalha
Que a gente não quer, mas agasalha
Sei que o refrão não existe
Nem o céu, nem a terra
Mas o pó que dele nasci
Empenou a casta mais louca
Que o coração guarda e encerra!

_______________________
| 34
Brilho de cristal
_____________________

As estrelas fazem parte


De um mundo que se deu
Todo meu
Todo seu
Todo nosso... o restou é deles

As estrelas são a arte


De uma tela que surgiu
Colorida
Enfeitada
Destilada... que implodiu

As estrelas são os corações


De um amor degenerado
Rejeitado
Apinhado
Acanhado... sem emoções

As estrelas são o que são


De um monte de escuridão
Um passo no coração
Um passo na imensidão
Um passo mais largo... ao outro mundo

_______________________
| 35
Brincadeiras
_____________________

Sonhar,
É formar as bases da nossa existência
É civilizar nossa civilização incivilizada
É remontar todo um passado de sangue...

Sonhar,
É querer demais dos homens
É estremecer diante dos gigantes
É remodelar a natureza...

Sonhar,
É crescer e progredir
Pisoteando à quem sonha.
Matar os alicerces
Derrubar os caminhos
E viver de brisa...

Sonhar,
É não poder ser livre no pensamento
É ser da raça humana, o excremento
É vingar...
Demasiado sonhos de nós
Que por nós sonhamos acordados...

Sonhar,
É ter a sabedoria para falar
Esquecer o que viu,
Não amar, nem chorar...

Sonhar,
É sonhar... e nada mais!

_______________________
| 36
Brindemos
_____________________

Um brinde à nossa existência


Que não existe,
Apenas subsiste
E tenta coexistir.

Um brinde à nós
Que sujamos a face da Terra
Pobre mulher que berra
Pobre criança que chora
E diz que vai embora

_______________________
| 37
Busca inútil
_____________________

Já sei quem é você


És o pranto que me corre
É o gemido de um bebê
É o meu escarro e meu porre

Perseguição assim nunca vi


Pareces até um fantasma
Que saiu de uma revista em si
Para seguir como um ectoplasma

Chega de tanta bagunça


De olhares tão atravessados
Cansei de ser caçado
Como se fosse uma presa fácil

Mas a perseguição continua


Implacável e incansável
E depois que você ficar nua
Dar-te-ei uma lição memorável

_______________________
| 38
Calabouço
_____________________

Essas paredes,
Todas elas...
Se fecham e recaem sobre mim!
É como a câmara subterrânea
Das antigas pirâmides,
Em um minuto estão abertas,
No outro... tudo fechado!

Enfadonho...
A chuva que cai
O silêncio, o jogo.
As paredes não se afastam,
E nem se alargam.
Os horizontes não se ampliam
Oh! Amor!
Longe, distante.
Inexistente de sua parte!

Eu vou encontrar a porta,


E vou abri-la. Oxalá!

_______________________
| 39
Caldo
_____________________

Escondo a tristeza que abala


Chora e depois manda bala
Silencia... não mais fala
Estoura a vontade que rala

Jogo sujo e espero ver


O resultado do manancial
Vejo que inda posso crer
Clareio a mente... o potencial

Brigo, luto e jorro sangue


Sorrio antes que eu me zangue
Corro na vida que ocorre
Subo e desço, fico de porre

Olho... pego... enlaço


Seguro-a nos meus braços
Me molho e escorrego
Cerro os braços e me nego!

_______________________
| 40
Campo grande
_____________________

Foi-se o tempo,
Passou... Não volta mais!
O momento,
Rasgou a minha emoção

Sonho, ilusão
Beleza ferina,
Minha alegria no chão.
O sol queimou
Ardeu e passou,
Sumiu e apagou!

Palavras sem sentido e sem nexo


Teu corpo e teu sexo
Fortes contra mim, tão impotente!

Eu, meu ego, tão carente!


Minha vida feita toda de gosto e ilusão!
Meu disfarce,
Minha outra face
Meu amor
Meu coração.

Vida, som, luz!


Teus hábitos,
Minhas fantasias
E o meu poema no fundo do rio.
O mar e suas ondas
O delírio em que me encontras,
Não é nada, senão...
Puro amor...!

_______________________
| 41
Campu vitalle
_____________________

Eu sou um campo neutro


Difuso na confusão
Estático ou elástico
Bolinha de feltro
Bolinha de papelão!

Eu sou um campo unificado


Distraído e arrasado
Sou humano
Sou marcado
Sou feito de vidro e de pano!

Eu sou um campo vital


De onde fluem energias
Até gastar as baterias
Em destaque especial
Sou um homem de sal!

_______________________
| 42
Cantigas
_____________________

Eu quis tentar fugir aos espasmos


Não quero enganar-me,
Alimentar meu sonho, minha ilusão
De ter no seu desejo,
O encontro do meu coração.

Eu pude ficar sem o teu brilho


Que apaga as estrelas,
Ofusca a escuridão e dá vida.

Minha mente turva


E descreve tua beleza
Nua e pura...

Canto então esta cantiga


De amor, de amiga.
Que me canta, meu seduz
Embala meu sono e dá luz
Brilha quão possa teu esplendor
Musa bela, coração, amor!

_______________________
| 43
Calmaria, a semente de marte
_____________________

Me afogava no seu âmbar


Me julgava todo seu
O amor e o orgasmo
O seu corpo junto ao meu!

O prazer chegou ao fim


Escapou-me as energias
Acabei-me na escuridão.

Me afogava no esgoto
Eu entrava na orgia
Minha turva e louca
O unguento me ardia!

Me afogava no teu asco


O ódio me invadia
O estrago do desprezo
A faca que retinia!

Sua vida tão vermelha


Esvaindo-se as entranhas
Estendera a mão de sangue.

Me afogava no meu medo


O crime inconsciente
A cuia e o cabresto
O fruto daquele ventre!

Fui banido do meu povo


Amarrado à correntes
Incandescentes e incoerentes

O estrume da sociedade
O rasgo...
A desumanidade!

_______________________
| 44
Carta de amor
_____________________

Desculpe,
Por tudo o que eu fiz e tenho feito
Sou uma pessoa com mil defeitos,
Sei que tudo isso não é direito,
Mas o que importa é que te amo...

Desculpe,
Pelas mentiras que contei...
E pelas horas que passei.
Por que eu não me atirei?
Acho que é porque eu te amo...

Desculpe,
Tenho tido mil dissabores,
Passei por muitos horrores,
E nem tive muitos amores...
Porque sei que eu te amo...

Desculpe,
Prometo me consertar. Quer me ajudar?
Para que vou me matar se eu posso amar?
Pensei que um dia eu pudesse te odiar,
Eu só não consegui porque eu te amo... muito!

_______________________
| 45
Castigo
_____________________

Caminhar estrelas
Descobrir caminhos
... Espinhos, ... Aldeias
... Carinhos, ... Sereias!

Toda a eternidade se abala


Com o veludo da tua fala!
Quando o sol se esconde
Tu te encolhes e te cala...!

És a trilha do mar
De mil maravilhar para amar,
Sois a pétala de rosa mais cheirosa
E a leve pluma da ave mais pomposa!

Lua, lua, lua... vem me ver agora


Onde eu estiver escondido, de bandido
Lua, sou estrela matutina, lamparina e amora
Vou embora, sem amigo, para o meu castigo.

_______________________
| 46
Cavaleiro em jogo
_____________________

E o amor explodiu em prantos,


No canto da primavera.
Quisera ser o rei dos quebrantos,
Cobrindo o riso com uma quimera.

E o afago mais ardoroso,


Belo e corajoso.
Ama com mesura,
Toda a fina pele escura,
Transparecendo sua figura
Em bela e meiga brandura.

Tortura mais estranha,


Que me corrói as entranhas.

E o cavaleiro pega sua dama


Vê o coração brilhando,
Com emoção... palpitando
Ansiando em vê-la na cama.

Entra em delírio total,


Julga ser espacial,
Esquece de toda a menção honrosa
Do dia que lhe entregara uma rosa.

Espera agora que o rei dê o xeque-mate,


Venha por cima e me degole,
Viva por viver, de gole em gole
E morro como herói em um vão debate.

_______________________
| 47
Cenas de uma tarde de verão
_____________________

Is this the end?


A música me invadiu
E os sonhos
O vento levou...
O canto, cântico negro
De coloridas formas
O estranho formato
De me ver só!

A vida dividiu-se para mim


E tudo me pareceu tão vago,
Tão vazio...
Tão nada...!

E aí, meu chapa?


Levanta, dá uma tapinha na bunda
Tira o pó
E manda ver...
Mete a cara no mundo
Que ele ainda não acabou!

O futuro
Esse ainda está por vir
E o que ele me reserva
Só Deus sabe!
...será?
Ha, ha, ha!
Chega de onomatopeia
Pisa firme: Esse é o meu começo!

_______________________
| 48
Cobiça
_____________________

Ouvindo o gotejar da chuva


Fecho os olhos e sonho

Eu te cobiço...
Cada pedaço de você,
Cada gota de suor,
Cada lágrima!

Eu te cobiço...
No toque dos dedos,
No olhar tão carente,
No toque dos lábios!

Que boba é essa dúvida


Que noite, que esteio,
Eu como o pão de centeio,
Choro...
É a ansiedade!

Que loucura,
Que prazer...!

Te amo...

A cada instante... submissa!


Nasce devagar,
Mais um ponto de cobiça...!

_______________________
| 49
Comparação
_____________________

Como a luz do sol que brilha


Que ofusca os olhos mais claros
Que queima os cabelos dourados
Que bronzeia a pele mais lava
Sou eu que desponta no poente
Vivendo infeliz, descontente
Procurando um novo amor ausente
Que me faça carícia e me sustente

Como a chuva que cai fina


Que nunca desafina sua voz
Que é como o canto do rouxinol
Que é molhada como seus lábios
Espero na triste agonia de viver
Querendo imensamente lhe chover
Ficando na esperança de morrer
Para, mais tarde, não mais sofrer

Como a praia que quebra distante


Nas pedras rebatem as fortes marolas
A areia fina e branca alvejada
Ensolarada pelos raios do seu corpo
Que rola e enrola uma paixão
Esperando que a onda quebre no chão
Vagando nos meus tristes pensamentos
Que voam leves como plumas aos ventos

Como a neve infinita no horizonte


Que forma uma aurora boreal
Que brilha em um tom de cor especial
Que cobre montanhas como um tapete
Você corre por entre os flocos
Que determinam suas linhas corporais
Que me ensina o caminho que se faz
Que extermina com a tristeza desse poeta.

_______________________
| 50
Conclusão
_____________________

Como o vento que sopra


O sol que ilumina
A semente que brota
A chama que arde

Nasceu um amor
Que do nada surgiu
Semeando a dor
E a agonia fechada

Expandindo cada vez


Que pensava em você
Esperara minha vida
Por um momento que não fora

E assim sucedeu-se a calmaria


Veio a noite fria, fria, fria
Murcharam-se os campos
Carbonizou-se a chama

Foi o amor que fundiu


Terminou na escuridão
Na terrível ilusão
De um dia renascer

_______________________
| 51
Confidência
_____________________

É a nata
Mas que nata
Essa nata
Pura nata.
É a nata
Da malandragem
Da sujeira
E da sacanagem!

É a nata
Da sociedade
Da riqueza, do poder
Da qualidade!

É a nata
Da corruptela
Da desgraça, da arruela
E da esparrela!

É a nata
Do leite
Que eu mamo do litro
É a nata
Do diabólico rito!

É a nata dos que são ricos


A nata dos que não dão nada
Essa nata é uma parada
Mas que nada
Que não dá nada
Que danada!

É a nata
Que nos sufoca
É a nata

_______________________
| 52
Do dólar e da coca!

Essa nata
Que me mata
Eu quero fazer parte dela
Eu sou a nata
Eu gosto tanto
Dessa nata
Mas a nata
Que se atropela
Não é a nata do leite
Não é a nata do nada.
Não é a corruptela,
Nem a minha nata,
Nem a sua e nem a dela
Não é a nata da Portela
É a nata que deixei nela!

_______________________
| 53
Confidências (Parte I)
_____________________

Quando eu me lembro
Das armadilhas do destino
Das artimanhas ladinas,
Do quanto eu sofri...
Eu até acho graça!

Quando eu me lembro
Do quanto eu chorei
De todas as humilhações,
Do meu desespero...
Eu nem ligo mais!

Quando eu me lembro
De toda a falsidade,
De tanto desprezo,
De quanto eu clamei...
Eu prefiro esquecer!

Quando eu lembro
Dos meus sonhos e fantasias,
Dos amigos que não tinha,
Dos amores inexistentes...
Eu sinto pena... e só!

_______________________
| 54
Confidências (Parte II)
_____________________

Vinte anos,
Longos, vividos na pele, sofridos...
Todos eles deixaram sua marca
Alguns me derrubaram,
Outros me revigoraram
Mas todos me deram coragem para seguir!

Agora, neste exato momento,


Eu me entrego à você
De corpo e alma.
Você me aconteceu
E eu estou vivendo.
... feliz como nunca!

Eu te amo,
Você faz parte de mim,
É um pedaço do meu Eu.

Tenho medo de te perder,


De te magoar,
De te ofender.

Isso é o começo de algo grande


E que vai durar pela vida toda.
Confesso que...
Eu te amo!

_______________________
| 55
Conflito de gerações
_____________________

Na sua geração
Na rua, o lampião
No lar, o respeito
Na educação, o direito

Tudo tão tranquilamente


Passados mui serenamente
Presente tão presentemente
Futuro, algo inexistente

O tempo correu
O mundo virou
O mundo mudou
O tempo morreu

Na nova geração
Na rua, o ladrão
No lar, desrespeito
Na educação, não tem jeito

Tudo tão perigosamente


Passados mui impunemente
Presente tão violentamente
Futuro, algo se pressente

O tempo matou
O mundo sou eu
O mundo é o breu
O tempo escoou

Não há mais gerações,


Nem tempo, nem corações!
Existe apenas a verdade
De um louco vidente,
Que previu a maldade

_______________________
| 56
De corpo presente!

_______________________
| 57
Conversas
_____________________

Quem quer saber de mim mesmo a não ser


eu?
Acho que eu não sei ser franco. Não encaro a
realidade...
Por isso me escondo
Na minha fantasia de ser feliz!
Que droga!
Será que eu sou feliz só em sonho?
Ou há algo dentro de mim, escuro e intocável?
A minha parte virgem! Que tombo!
Tudo bem, mais um, menos um...
Não faz diferença, depois de tantos!
Sei lá o que falta em mim...
Acho que falta minha metade.
A minha metade que me ame.
É isso!
Eureca!
Não vai dar pé...
Eu não presto para nada
Eu sou um nada
É...
Sou um oco
Que droga!
Acho bom morrer!
Desculpa aí, cara...
Mas não dá.
Tô na pior!
Truncado.
Morto...!

_______________________
| 58
Coquetel
_____________________

Qual fora o reinado?


Dado tal, esse recado
De festa em pluma, o reisado
De patrão à empregado

Quem teme a morte à cavalo


O desgosto do que falo
O grito, o medo... eu me calo
O estrondo, a dança, esse embalo.

Para tal hora, pula o muro.


Fica no céu e fica no escuro.
Abre a mão e deixa de ser pão-duro.

Vira as páginas do livro aberto


Me mato de rir em um passo incerto
Escolho o caminho do deserto.

_______________________
| 59
Coração de vidro de fumê
_____________________

Aguardo minha retalha


Seguro minha mortalha
O medo que se espalha
É mania de batalha

Recordo sua ingratidão


Minhas lutas como um cão
A lâmina do meu facão
É fria como seu coração

Sinto a sua dor


Despertando a flor
O ódio sem rancor
É a ilíada do amor

_______________________
| 60
Corredeiras
_____________________

Nasce outra vez


A ponta de amor...
Esse amor criança
Que vem como um só res
Caminhando em rebanho
O pasto que eu amo
Me gabo e tomo banho
Me entro e me ganho!

Da vida que se conta


Recolhe a dor que apronta
E joga...
Me pisa, me pega,
Que droga!

Tô louco... que diacho


Olha a nascente do riacho...

Aos amigos que me têm


Que me sentem e que me sabem
São o pão e a água
Do meu espírito indolente...

Que canalha...
Sinto frio dessa navalha
Me retalhando e me tolhendo!

As lavas que cobrem o passado


Fazer o agora em pedra fumegante
O sangue do homem, pisado
Lavra essa terra louca e meliante...!

_______________________
| 61
Corvos e abutres
_____________________

Minha carne está fedendo


Tenho vermes no meu corpo
As larvas brancas me devoram
O esqueleto está cedendo
Esse corvo, esse corvo
Negro e agourento
Que me persegue e me afugenta
Me cala, me mata, me isenta!

Essa mulher que me odeia,


Não me olha, não me vê.

Minha alma está escura


Minha mente está turva e obscura
Deixa-me inseguro... Loucura!
Incessante repugnância
Insistente mirabolância
Infinita indiferença.
Me acabo. Me mato...

Se não morro é fato


Me viro de novo em um rato!

_______________________
| 62
Cristais (Parte I): Eu, prisioneiro
_____________________

Se meus sonhos fossem realidade


Minha vida seria uma eterna fantasia
Quando os povos percorrerem os mesmos
caminhos
Então não haverá a paz, porque não existirá a
guerra.

Ficar à toa...
Olhando o mar, sentir a grandeza do Universo
Dissimular os grãos desejos. Para quê?
Pergunto eu,
Venerar-te como uma deusa? Ser-te fiel como
um escravo?
Acalentar-te como uma criança? Amar-te como
uma mulher?

O poder a fascinava. A insígnia do heroico


conquistar.
As doces e insalubres palavras que velam por
tua candura,
Meiga e gentil amada.

Cantos que te quero para cantar,


Sonhos que te quero para sonhar,
Deuses que vos quero para orar,
Ana que te quero para amar...

Fostes insegura e me humilhastes à brandos


olhos,
Nesta escura visão de pura sorte, fostes como
um furacão: devastador!
O silêncio deu lugar aos prantos e aos
espasmos...
Fostes dura, rígida e insípida. Não vistes as
consequências

_______________________
| 63
E me magoastes. (e foi assim...)

Estrela de primeira grandeza, com brilho


intenso e forte.
Pulsa a vida e a incoerência. Brinca com o
sentimento e a sorte.
Recusa-te a aceitar os fatos. Esconde-te e não
enfrenta.
Quão vaga é nossa atitude perante a vida que
nos torna vulneráveis
Quão bárbaros e civilizados fomos nós por
inibir-nos
E cobrir, por fim, nossas esperanças, nossos
sonhos, nosso amor
Com o pó virgem e casto da falsa razão, do
medo e da incerteza
Gerados pelas regras impostas.
Pobres de nós que somos prisioneiros de nós
mesmos.

_______________________
| 64
Cristais (Parte II): Cristaliza-me
_____________________

Brilha e reverbera
O frágil cristal
Que nos energiza
E encerra dentro de nós o brilho
Que nos acende e ilumina os passos.

Brilha esse meu caráter


Translucidamente feito aguardente
Brilha em todo o esplendor
Os reflexos das paixões
Dos sonhos e dimensões
Dos flagelos e dos canhões.

Cristaliza os meus desejos


Minhas querências,
Fixa a imagem, o som e a potência
Dissonância jamais,
Apenas coerência.

Cristaliza tudo o que tem direito


Os sonhos de enriquecer
Desejos de lhe querer,
Cristalizando também a indecência,
O mundo pós-inocência.

Eu quero todo o brilho


Do cristal que existe em mim
E os reflexos que dele emanarem
Cristalizem-se na forma de sabedoria...

Cristaliza, meu cristal,


Cristaliza...!

_______________________
| 65
Dançar
_____________________

Dança, louca e tolamente


Amar é o dom da vida
O sol que habita a gente
Atormenta a despedida

Todo o brilho, brilha


Toda a reza, clama
Toda a agonia, filha
Toda a heresia, gama

E as ondas que quebram


Me derrubam...
Me machucam...

O pensamento que cria


Escurece o dia
Apaga o resto da trilha!

_______________________
| 66
Dê, de destino
_____________________

Que encanto doce e suave


Estar vivendo esse louco mistério
De sentir, a cada instante o desejo
E a vontade aflora pela pele

Quem sois vós (ou nós)


Galhardia e rebeldia...

Penso em você a cada momento


E refuto em perdê-la... temo!
Quão viva está minha chama (que te chama)
E quão odara fosse minha linda odalisca
Não precisaria ser nada mais do que já é

Quem somos nós (ou vós)


Grito e silêncio...

Olhava o céu avermelhado sobre a cidade


E via no topo de sua amplidão
Sonhos e ansiedades, quereres e saudade

Quem sois vós (ou nós)


Olhos e bocas...

Naquele silêncio eu aprendi muito


E calado fiquei só, meditando...
Vi em você a primavera que meu inverno
escondera
E despontei os primeiros raios do sol

Quem somos nós (ou vós)


Fogo e paixão...

_______________________
| 67
Descendo
_____________________

Todos os sabores,
Os restos
As cores...
O indigente, ali caído
Nossa gente,
O governo discutido.

Os esportes, a corrida
A polícia
Violência descabida.

Todos os sonhos,
Os desejos
Os ócios, as vontades
E essas verdades
Nunca serão ditas
A garra
A rota tão maldita.

Todos os odores,
O podre dos esgotos
Os corpos putrefeitos
Desenganos
Entre acordos
Os acordes desses ratos.

Todas as cidades,
Esses redutos de infâmia
Causadores
Predadores
Reluto na minha gana.

Todas as vidas,
Esparramadas
Desfeitas em camadas

_______________________
| 68
Gritos demais
Nossas escaladas
Tudo enfim...

O sonho, a brisa secou


Veneno, o homem tomou
A vida...
O vento levou...!

_______________________
| 69
Deserto
_____________________

Caminho entre as dunas do deserto,


Respiro o ar quente de tais noites,
Repasso a trilha do destino incerto,
No tempo das batalhas e dos açoites!

O vento que maltrata meu rosto


Levanta a areia ainda quente,
Penetrando em minhas narinas à gosto,
Sentindo o cheiro do seu corpo ardente!

Ergue-se mais alto a lua ao céu,


Reavivando a noite erma e árida.
A escuridão envolve tudo com um véu,
Enegrecendo a fina areia pálida...

O deserto é o vazio perdido na imensidão,


Em um sonho de areias e de sóis...
Em imagens nuas e cruas de vastidão,
Pelas miragens envoltas em lençóis...!

_______________________
| 70
Despedida
_____________________

O que é isso que a gente procura


Nas manhãs mais frias e nas noites escuras
Na maior agonia e nas doces alegrias
Evitando perder para não mais procurar
Querendo cada vez mais procurar cativar
Ajuda oral, apoio moral
Companhia para momentos mais insólitos
Nas festas de Réveillon, locais bucólicos
Uma mão amiga, uma triste despedida
Quem sabe um dia nos veremos novamente
E juntos conversar em aberta mente
Muita falta nos faz
Quando um bom dia fica para trás
Momentos intermináveis de bom papo e
risadas
Infelizmente chegou ao ponto final de chegada
Tudo acabou. Ruiu. Desmoronou.
Mas a alegria de ser lembrado
Continuará para sempre ao meu lado
Nas vitoriosas conquistas
Nas dolorosas conquistas
Aquilo que a gente nunca mais esquece e
esquecerá
Com o passar do tempo consolida e mais
consolidará
Esse é o meu adeus mirabolante
Nunca chore diante desse instante
Porque em qualquer lugar
A qualquer hora... devagar
Passando em lentidão quase incomum
Rapidamente corre o ponteiro... um a um
Faço um pedido agora
Não me esqueça... embora
Tudo tem seu tempo
Os melhores momentos

_______________________
| 71
Passaram e passarão
As piores tristezas ainda virão
Resistam à tudo que está por chegar
Sempre pensando na justiça que abrangerá
Qualquer dia, amanhã ou depois, você verá
Que em mim você encontrará
Sempre... um amigo...

_______________________
| 72
Deusa do amor
_____________________

Quando ela caminha pela areia branca da praia


O mar provoca enormes ondas que se
reverenciam
No campo as flores murchas desabrocham,
acariciam
Apenas com a sua presença faz-se milagres de
araucária

Seus cabelos ao vento são como penas em um


sopro divino
Esvoaçam livremente, provocando algo
estranho dentro
Em mim é como uma bomba que explode bem
no centro
E deixa-me leve como uma pluma. Assim é
meu destino

Seu nome é doce e deixa as bocas adocicadas


de mel
Ao ser pronunciado com tamanho esplendor,
pomposo
Como uma grande corte real, tudo em você
faz-me amoroso
E seu coração é doce que acolhe qualquer um,
como no céu

Sua pele rosada, bronzeada pelo sol forte


Transformando-se em deusa... deusa da
beleza
Da sabedoria... contudo, então eu caio na
tristeza
Por não te conhecer melhor, mas creio que tu
acordes
Um dia... qualquer dia... Tenho plena certeza

_______________________
| 73
Dias
_____________________

Há dias em que sou um


E depois fico um outro
Os dias que se vão aos poucos
Me deixam ficar apenas um.

Raros são os dias em que me alegro


Pois tudo acontece no decorrer
Quando um dia morre, eu me entrego
Aos pensamentos que se põem a correr

Nem quero pensar em dias atrás


Que ruína em mim quase causaram
Foram tristes dias que o dia faz
E que por ela, por dias, me mataram

Hoje é um dia novo, enfim


É como um vaso hindu de marfim
Um dia ele fica velho e rachado
Entretanto, perdi mais um dia procurado

_______________________
| 74
Diluência
_____________________

Em uma fala franca


De igual para igual
Onde reinam os dois....
O bem e o mal!
Eu queria ser você
Para me olhar e dizer
Que eu te amo.

Vivo fechado
Amargurado com os meus planos
Fico sentado
Abobalhado, até cair o pano.

Numa ampla conversa


De irmão para irmão
Sou bandido e filósofo
Sou amigo... sou paixão

Tomando parte da sua vida


Ando esquecendo de fazer-lhe bem
Você é o amigo
Sem castigo, confidente...
Fica comigo, sou um rico diluente!

_______________________
| 75
Dissidente sim. Decadente não!
_____________________

Os escombros,
Anunciando a vinda das trevas
Perecem sob a tensão dos deuses
Irados e divinizados.
Um erro. Um pobre engano...
E pensar que vesti um dia a coroa
Que você me deu,
E hoje fico na sarjeta...

Os castelos,
Não. Eu não os construirei
E nem me deixarei levar em vão
Tenho que ter os pés no chão
E a vida aberta à ocasião.

As distâncias,
Meras casualidades,
Tolas menções divinas
Pois divinos somos todos nós
Por cometermos tolices
Que solidificam-se e intensificam-se
Através dos sonhos que construímos.

As forças
Ah, essas eu juntei
E coloquei-as em mim
Pois do fraco e fino cristal que era
Fiz-me do rijo aço e do fogo
Que arde e aquece
Mas queima e derrete.

_______________________
| 76
Distância de um amor
_____________________

Em terras tão distantes


Do seu doce coração
Minha mente sempre amante
Minha alma e minha paixão

No minuto que corre


Penso sempre em você
Alguém sempre morre
Mas isso você não vê

Na distância que nos separa


Um dor terrível me aperta
Entre mil belezas raras
Você é, para mim, a mais certa

Na garganta, o nó do pranto
No coração, a dor do amor
Na minha mente, o desencanto
Nos meus olhos, a lágrima da dor

_______________________
| 77
Domingueira
_____________________

Luzes,
Músicas,
Brilhos... minha decepção.
Cheio de amor,
Meus olhos,
Dor...
As cores disfarçavam
A carne doía,
E o coração...
Quase parou.
Louca,
Irreverente,
Irresponsável e pobre.
Espírito magro,
Quero-lhe bem!
Mas me queira bem!
Conquiste,
Não destrua,
O que pode ser
Um grande amor.

_______________________
| 78
Donzela
_____________________

Doce e gentil donzela


Que me olhas a todo instante
Da sacada de tua janela
Que de mim está distante

Desças ao teu jardim


Para sentires o ar límpido
Sentirás o aroma de jasmim
Em um arroubo, um ímpeto

Doce senhorita cá estou


A espera de uma companhia
Que me ame por onde vou

Que me acompanhe o dia inteiro


Que me de muita felicidade
Para mim, tê-la será muito lisonjeiro

_______________________
| 79
Duas palavras
_____________________

Meu amor
Saiba você
Do encanto
Que lançaste
Do manto
Que rasgaste
Do canto
Que cantaste
Tudo passou
Vaga lembrança
Da infância
Que ficou
Te amo
De coração
Aberto, infinito
Quente paixão
Não esqueça
Um coração
Palpitando amor
Esquecendo dor
Apenas ficou
Meu amor

_______________________
| 80
Dupla personalidade
_____________________

Doença fatal, que nos faz sofrer


Desgraça maior, que nos faz morrer
Qualificada maldição, ruindade
Consagrada peste, com muita idade

Por outro lado, é bom, divino


Suave e belo como um hino
Maravilhoso sentimento. É genial
Grande como Deus, algo muito especial

É também causador de traições


Que por anos e anos partiu corações
Mistério tenebroso. Ardiloso fim
À morte, a quem o sente assim

Na final permuta, então escuta


Sentimento poderoso, asqueroso
Há dois lados, resta então, a luta
Amor, algo belo... e doloroso

_______________________
| 81
É já e agora!
_____________________

Volto a amar
Como antes no meu coração
Um amor que é como um tufão
A rugir!
Tento, então, me fingir
Esquecendo a canção que cantei
Em um dilema que queimava em mim
E apagou.
E agora, onde eu vou?
Sonhar tua rebeldia,
Amar tua letargia...
Ia, via, mais
Louco por quem não dera
O beijo que me espera, nega a paz!

_______________________
| 82
Eclipse total da lua
_____________________

Ao soar dos clarinetes


E o relógio dizer oito horas,
O vento vai bater
E vai remexer meus cabelos
Como só você mexia,
E vai acariciar minha face
Como só você sabia!

Você foi saindo de mim


E hoje não tem mais volta!
Hoje é o agora e sempre!

Que você seja feliz


Como eu sempre quis que fosse.
E o mesmo amor dedicado à mim,
Dedique à ele e os filhos teus!

Foi bom...
... e um dia será de novo...

_______________________
| 83
Ela é in
_____________________

Ser criança é tudo o que se quer


Ser feliz
Ora menina, ora mulher!

Esses olhos azuis, duas turquesas


Brilhantes, espelhos de sua esperteza
Sonhar é esperança,
É ser adulo e ser criança!

Nunca na Terra da Poesia


Vai existir alguém tão “in”
Como Ana Maria!

_______________________
| 84
Elas
_____________________

Duas irmãs
Tão lindas, tão loiras,
Tão sol, tão Brasil.

Duas meninas
Que deitam, que rolam,
Que brincam, que choram.

Olhando no palco
Um show de formosura
Doce tentação,
Amor,
Pulsa mais a emoção,
Loucas, impuras,
A luz atrapalha
Apaga o brilho,
O viço, o cheiro
Que espalha, estraçalha
O coração!

Duas meninas
Que amam, que dão
Que recebem, que vão.

Duas irmãs
Tão minhas, tão suas
Tão nossas, tão nuas.

_______________________
| 85
Escárnio
_____________________

Veja você, caro amigo


Como é dura esta vida
Sofrendo por amor
Passando por perigo

Ora, não penso o mesmo


Sabe que a vida é uma brincadeira
E que conversamos a noite inteira
Comendo gostosos torresmos

Está errado o que você diz


Precisa levar a vida a sério
Saber dos problemas pela raiz
Senão irá parar no cemitério

Tenho plena consciência


De que nada me afligirá
Veja só a minha aparência
De boa para ótima, até voltar

Voltar de onde, meu colega


De uma terra de sonhos?
Cheio de bares e discotecas
De doces e de belos pomos

Aí é que você se engana


Todo mundo só quer fama
Procuram dinheiro nosso
O cruzeiro que nunca é vosso

Ora vamos, convenhamos


Deixemos de lado o escárnio
Viva a realidade que estamos
E vamos ver quem ganha o páreo

_______________________
| 86
É possível que tenha razão
Muito embora eu ache que não
Mas nunca é tarde para compreender
Nossos erros, para melhor viver.

_______________________
| 87
Enluarar
_____________________

A lua que banha seu corpo


Como se fosse um fino cristal
Um floco de neve... e cousa e tal
Era nada mais que um morto

Seus cabelos brilhavam sob o luar


Chegavam a cintilar de rara beleza
Era, para mim, a fantástica natureza
De tão natural eu a quis para amar

Fora verdade o que a lua contou


Mil destinos fundiram-se em um
E esse um nunca fora nenhum
Dos segredos que você não armou

Em um rastro de reflexos prateados de amor


Sua vida despertou para amar
E a lua, refletida nas ondas do mar
Viraram-se e bradaram seus gritos de dor

_______________________
| 88
Ensaio
_____________________

Não há mais amor.


O tempo se encarregou de consumi-lo.
O fogo que ardia, apagou.
Dele restaram as cinzas desse amor...
As coisas bonitas,
Todas ditas ao léu
As barreiras,
Impedindo-me de respirar!

Não há mais amor.


Você destruiu as moléculas
Desfê-las em pó
E para o pó ele voltou...
Sepulto e inócuo!

Não há mais amor


Há, sim, o desespero.

Quem ri, na verdade chora


Por não ter mais amor para te dar.

_______________________
| 89
Entranhas
_____________________

Você é o meu caminho


Minha alegria
Meu amor, minha dor
Minha paixão, minha cor
Minha tez, meu sabor!
Você é o meu canto
Meu refúgio
Meu esconderijo, minha fuga
Meu colo, minha luta
Minha esquina, minha sorte!

Você é minha visão


Minha metade
Minha letargia, minha bondade
Meu pedaço, minha saudade
Meu todo, meu tudo!

Você é minha verdade


Meu ego
Meu centro, meu sexto sentido
Meu espírito, meu corpo
Meu dentro, meu ser!

Você é minha escora


Meu vínculo
Minha fala, meu doce
Meu fel, minha guarita
Minha sela, minha santa!

Você é minha pureza


Minha nudez
Minha liberdade, minha expressão
Meu sorriso, minha voz
Minha palavra, meu encanto!

_______________________
| 90
Você é o meu eu...!

_______________________
| 91
Epopéia
_____________________

Despertar
O ser agiganta-se
E levanta-se
Só para amar

Quem dera houvesse amor


E não ódio, desilusão e dor
Abomináveis sentimentos
Emanando em pensamentos
Triste fora o sonho de uma eterna vida

Choro agora
A existência inodora
De um carrasco
Pois suprema é sua glória
Que antevia sua vitória

Amor,
Saiba que dos limites
Que você me impôs
Não restaram barreiras
Somente bobagens, besteiras

Sou um poeta inacabado


De mim resta somente o ser
De um poeta apaixonado
Que não quer mais viver

_______________________
| 92
Era final
_____________________

O sol raiou
E com ele a primavera voltou
Com todas as flores
O perfume silvestre
O aroma agreste
O mato crescendo
Verdejante e vigoroso
E a relva estendo
Seus domínios em um mundo de esplendor

Explode o amor
Sacode o coração que salta
E agarra-se a outro
Junta-lhe as forças
Faltam-lhe as forças
É com a estação das alegrias
Que retorna toda a euforia
De saber viver
De querer viver... e é só viver!

As folhas vão caindo


O vento frio soprando
É o inverno chegando
Vai-se embora o amor
E com ele todo o máximo esplendor
Os corações unidos
Unem-se ainda mais
Até que a morte que virá... muito em breve...
Até o fim...!

_______________________
| 93
Essa nova (nossa) história
de amor
_____________________

Eu amo você
Pura e simplesmente.
Não é daquela paixão inocente
Nem aquele fogo ardente.
O meu é um amor coerente.

Eu amo você,
Não amo o teu sorriso
Ou a maneira de falar,
Eu amo do modo certo
Que a gente tem que amar.

Eu amo você,
Amo um amor adulto
Mais que fogo de palha
Um amor que ninguém avacalha
Uma gota de excitação
Um instante de hesitação.

Eu amo você,
E não é só emoção... eu amo mesmo
Indecorosamente, impiedosamente
Amo pornograficamente,
Mas amo.

Não fico falando bobagens


Nem pisando os astros distraído
Não vivo pensando em você
Mas penso em você comigo
Quando estamos em um abrigo
Em perigo!

Eu amo o amor sincero


Sim, sério!

_______________________
| 94
Nada é segredo e tudo é mistério.
Gosto do amor compacto
De impacto e complacente
Não sou benevolente, nem sou como antes,
Sou valente, sou ardente.
Amo o amor amante.

Não penso em suplício de saudade


Não suplico o amor de minha amada
Não ergo nenhuma espada
E nem faço caridade.
Amo o que amo... e a quem quero amar.

_______________________
| 95
Esse extenso rio do amor
_____________________

No devaneio dessa hora


Que vai-se logo embora
Como o majestoso rio
Desembocando no oceano
Espreguiçando-se horas à fio
Falando alto: Eu te amo!

Serpenteando pelo bosque sombrio


Sigo o caminho com frio
Sou apenas mais outro vadio
À procura da nascente do rio...

Olho em volta, nada vejo


Não me solta. Eu desejo
Todo amor que me conceder
Sem temor de se viver

Em busca dessa nascente


Sigo a lua quarto-crescente
As estrelas pinceladas
Ouço o sussurro da trilha
Marcado... vou em frente
Atrás da serpente
Que é o nosso rio de amor!
Essa louca fantasia
No país de mil paixões
Despertando emoções
Vivo à beira dessa via.

Buscando sempre alcançar


Seu doce coração
Atravesso o extenso mar
Pelo sim e pelo não
Faço a minha extensão
Até a desembocadura

_______________________
| 96
Desse amor que nunca vai acabar...!

_______________________
| 97
Espelhança
_____________________

Olho nos espelhos


As imagens invertidas
Como os anos da minha vida,
Mudam de cor
Vai e vem de amor!
Vejo os arrebóis
Na linha entre o céu e o mar,
Os sonhos que eu tenho prá sonhar
São devaneios
Como as imagens invertidas nos espelhos!

_______________________
| 98
Espelhos dos anos
_____________________
Olho no espelho e então me vejo...
Como cresci, desde os tempos que ansiei
Como estou moço
E a mocidade me trouxe tudo: felicidade e
responsabilidade!

Olho no espelho e então me vejo...


Como sou bonito. Nenhum príncipe encantado!
Mas sim um jovem realizado, que ainda espera
poder
Ter a força que foi dividida!

Olho no espelho e então me vejo...


Média altura, brasileiro, solteiro, feliz!
Sim... eu sou gente, como você, como todos
Sigo, perene, a minha trilha!

Olho no espelho e então me vejo...


Como sou diferente daquilo que fui anos
passados!
Andando perdido, de canto em canto, isolado.
Hoje eu sou eu. E vivo mais!

Olho no espelho e então me vejo...


Cercado de amigos. E no centro à quem mais
devo!
Um casal de simples aparência que sofreram a
minha dor
E sorriram a minha alegria!

Olho no espelho e então me vejo...


Com lágrima nos olhos, não de tristeza, mas
de emoção
Ao sentir o forte abraço dos que comigo
seguiram e seguirão
Na luta da vida pelos tropeços do destino
_______________________
| 99
Olho no espelho e então me vejo...
Acolhido por aqueles que não se vê, apenas se
sente!
E isso é bom! Saber que há amigos, pais, tios,
parentes... e um irmão!

Olho no espelho e então me vejo...


Nu e cru. Assim como sou: brigador!
Inexperiente em termos de amor.
Volúvel, fragilizado e convencido!

Olho no espelho e então me vejo...


Em reflexos suaves, que os dezoito anos me
deixaram!
Vejo os presentes recebidos.
Sinto o carinho deixado.

Amo à todos os amigos!


Olho no espelho e então nos vemos um ao
outro, você e eu...!

_______________________
| 100
Esperança
_____________________

Esperança é a mágoa guardada


Sentimento agonizante, com hora marcada
Para nos fazer felizes... ou infelizes
E quase sempre nos decepciona pelas raízes

De alma, apertando o coração


Até estourar e daí choramos de paixão
Desabafamos, e lágrimas rolam
Gota à gota desesperada, gritam

Esperança é o amor dado


É o beijo recebido em um momento
De raro prazer entre apaixonados

Serenamente nós sofremos


Alegremente nós morrermos
Tristemente nós vivemos

_______________________
| 101
Estrada vital
_____________________

O tempo voa
A terra é boa
O relógio marca
A hora da fuzarca

O amor venceu
A dor perdeu
Inteligente é a mula
Mas a guerra perdura

Desgraça é normal
Inflação é atual
E o ódio espalha
A paz é que falha

De tempos em tempos
Tornamo-nos isentos
Nesta luta sem trégua
Caminho outra légua

_______________________
| 102
Eu próprio: história, luta e
sentimento (Parte II)
_____________________

O céu,
A noite,
O calor,
Você!
Tudo era sonhos
Mas que não passava de pura fantasia.
A noite terminou
O céu se avermelhou
Anunciando o novo dia
E eu,
Nunca mais esquecerei
De suas palavras,
De seus ideais,
De seu filho, criado
De ventre e de amor.
Na eterna cidade de pedra e concreto...
Só os prédios e a vida,
Pois a minha ilusão é farsa!
Trama que deturpa a mente,
Crime que insufla a sociedade,
Vontade e delírio do meu eu carente!

_______________________
| 103
Eu só!
_____________________

Via a bruma do mar


Olhava-a atentamente
Vi o tempo passar
Voando em minha mente

No silêncio do meu coração!


As lágrimas que eu chorei!
Foram todas elas em vão,
Quebrando-se na areia...

Sentia-me vazio, triste!


Ninguém para me acudir.
Onde estaria todo mundo?

Do mar emanava a sensação,


A sensação que não senti
Apenas o silêncio eu ouvi!

Onde estão os amigos?


Onde está a união?
Não sei,
Mas sei que estou só...

_______________________
| 104
Exemplo
_____________________

Instinto suicida
Salto para a morte
Uma louca saída
Para quem não tem sorte

Na ponte da Sé
Alguém pulou
Caiu sem fé
Sem direito se matou

Estatelado no chão
Que o sangue fresco lavava
A avenida São João
Enquanto a polícia anotava

Curiosos se ajuntavam
Para ter mais um tormento
Aos poucos se dissipavam
Tinham agora um exemplo

_______________________
| 105
Falatório
_____________________

Se eu choro
Me tomam por coitado.
Se eu rio
Me tomam por louco.
Se loucuras eu faço
Me tomam por bêbado.
Se eu bebo
Me tomam por vazio.
Se eu penso
Me tomam por amigo.
Se eu gosto
Me tomam por bobo.

Se um dia
Chorar
Rir
Fazer loucura
Beber
Pensar
Gostar
Terão de me tomar por mim
Porque serei eu mesmo
Cheio de vida e amor

_______________________
| 106
Confidências (Parte II)
_____________________

Meu companheiro e amigo


Sê a semente, sê meu trigo
Escolha a lua para pousar
Trilha seus caminhos
Saia à buscar.

Sua aura azul, tão pura


O seu karma louco e pesado
Esse fardo todo é necessário
Para alcançar a plenitude!

Que loucura. Que minério


Essa cabeça é um mistério
Que eu já desvendei
E adorei... e adorei...

E concordei em esconder
Parte louca e negativa
Dessa farsa intuitiva
Da sua vida... do seu ser.

_______________________
| 107
Feliz aniversário
_____________________

Para dizer a verdade


Não sei como começar
Falando de aniversariar
Mas sem falar da idade

Sempre me foi complicado


Escrever um poema assim
Pois não olho para o lado
Vendo o que cabe em mim

Pessoas tão especiais


Não pensam que são as tais
Nem tampouco gigantes

Nem hoje e nem antes


Falam de nós agora
Por esse mundo afora

Chegou a hora:

Parabéns à vocês, nesta data querida


Muitas felicidades, muitos anos de vida

_______________________
| 108
Feliz natal
_____________________

Dentre tantas épocas existentes


A que mais se realça é só uma
Dentre tantas linhas de minha mente
A única frase que se mostrou em suma
Ele está chegando

Por mais que eu tente decifrar


Todos os mistérios pairam em cima
Seja qual for a solução no ar
Ela estará... assim Cristo afirma
Ele está chegando

Por mais que deixemos de saber


Fica sempre mais fácil entender
Neste mundo do conhecer
Ele está chegando

Riso à toa é distribuído


Contagiante e alegre é embebido
Neste doce e original fluído
Ele está chegando

É a alegria do Natal
Época muito especial
Comemoração sem igual
Desejo-lhes, portanto, um Feliz Natal

_______________________
| 109
Festa junina
_____________________

Em uma mesa: churrasco e vinho do bom


Em volta dela: pessoas prá lá de Bagdá.
Alegria incontida no peito. Viva Alá!
Cantorias, muitas danças e um cesto de pão

Piadas picantes. Todos para o banheiro,


Pimenta ardida. Vinho que subiu prá cabeça
Fogos estourando. Por favor, mamãe, me
esqueça!
Fogueira tinindo, vergonha caindo. Já para o
chuveiro!

Meia-noite. Não começou nada... você verão


Já é domingo... que lindo o sol queimando
Amanheceu? Não é o fogo crepitando
Eu mando. Eu digo. E lá vem um bofetão

Acabou tudo? Não é possível, pessoal da rua.


A noite é uma criança. Guarda na poupança.
Fim da festa amigos. Limpeza geral cansa.
Boa noite para todos, pois agora eu vou para a
lua.

_______________________
| 110
Filho ladrão, a carta de um
desesperado suicida
_____________________

Na minha solidão de poeta


Sentado na relva à meditar
Ouço o silêncio da vida
No meu coração, brotar

Triste sou, encarcerado


Na minha cruel prisão
Vivo apenas por viver
Em um beco vazio do coração

Sem amigos, sem nada que faça valer a pena


Trazida de outra vida
Vida, esta, tão sofrida quanto agora
Pois lágrimas rolam de hora em hora

Faço um apelo ao mais amigo


Que me dê a mão neste momento
Ao infinito eu me revelo no cataclismo
Como chuva de ouro em rebento

_______________________
| 111
Fim da terra
_____________________

Sem continuação
Tudo fica sem razão
Parece algo sem nexo
A poesia e o sexo

Quando a vida para


Nós nos imobilizamos
Olhamo-nos cara a cara
Notando a existência dos anos

Pensei que era impossível


Viver em um mundo de guerra
Quando o mundo fica impassível
É que está chegando ao fim da Terra

Um dia tudo acaba


Como se não tivesse nada
E também nada mudou
A continuação começou

_______________________
| 112
Fim da rua, no
_____________________

Ei,
Acorda!
Teu sonho terminou...
Vem viver a realidade,
Sem meras insinuações.
Vem descobrir a verdade,
No mundo dos corações.

Ei,
Levanta!
Tua hora já bateu...
Vem sentar na tua mesa,
Vem saber o que aconteceu.
Vem ouvir toda a fofoca,
Do final de semana que morreu.

Ei,
Mexa-te!
Tua vida já não anda...
Vem sair dessa inércia,
Vem chorar, vem sorrir.
Vem saber comigo o que é sentir,
Nesse contínuo vaivém.

Ei,
Não pare!
Teu corpo está enorme...
Vem fazer exercício,
Vem comigo emagrecer.
Vem do Inferno ao Paraíso,
Que todo mundo merece ter.

_______________________
| 113
Fim dos tempos
_____________________

Meu Deus, por que há tanta briga?


Por que existem tantas guerras?
Que percorre todas as terras
Que aos poucos tornam-se inimigas

A Terra é como uma bomba ligada


Tem até a sua derradeira hora marcada
Continua a luta sem ter parada
E os homens todos, dela serão arrancados
Como se fosse um objeto qualquer
Não sobrará nenhuma mulher
Rirão os maus até os céus desabarem
Lágrimas rolaram. O sofrimento será infinito?

Que no finito do Fim dos Tempos


Haverá desgraça maior depois
Reis e ditadores morrerão lentos
Esturricados pelo calor do sol
Um pequeno grupo escolhido
Deverá reinicializar a civilização
Anos seguidos, multiplicar-se-ão
Sem ensinamento mau-dirigidos

A hora é chegada. Preparai-vos


Na véspera do século de poder
O sol cobrirá a lua de vez
E esta, por duas vezes a estrela maior
De aviso virá percorrendo o mundo
Que ficará imóvel na sua fé vã.

Os puros de alma limpa, profundos


Que rezam por Deus... estes sobreviverão
E os séculos de vãs conquistas
Ruirão sob o poder do mal
O sol arderá nas vistas

_______________________
| 114
Cobertas pela água de sal.

_______________________
| 115
Folias e foliões
_____________________

Tira sua fantasia


O carnaval já acabou
Bate o confete do corpo suado
O rosto molhado
Cheirando de amor...

Enrola sua bandeira


O jogo terminou
Você perdeu o campeonato
Brigou e se embriagou
De nada adiantou...

Levanta sua cabeça


Vê que o mundo está aí
Inteiro, rodando e vivendo
A vida continua,
Para que jogar as cantilenas
Não chora,
Que não vale a pena...

O carnaval deixou marcas de angústia


As dores nefastas
Arrastando-se pelos meios da turba
Uma dança sagaz.

O jogo acabou, mas vão haver outros


Que virão sem bandeiras
E você vai ganhar e vai vibrar.

A vida ainda lhe pertence


Toda nua e crua para curtir,
Aproveitar os momentos
Para amar e refletir...!

_______________________
| 116
Fora do alcance
_____________________

Eu me entrego,
Me pego, me nego
E me jogo na rua
Na lama, no prego
Essa lua, essa lua!

Eu me esfrego,
Me toco, me sinto
E me pinto
De verde e amarelo
Esse fogo, esse fogo!

Eu me acabo,
Me rasgo, me mato
E me encolho no canto
No frio, como um rato
Esse pranto, esse pranto!

Eu me engasgo,
Me estouro, me faço
E me enlaço
No chão, no seu braço
Esse escracho, esse escracho!

Eu me vingo,
Me tolho, me extingo
Me carrego, me encalho
Pelo amor que queima
Essa musa, essa musa!

_______________________
| 117
Forças
_____________________

Dá-me forças
Ó, Força Suprema
Para suportar o fardo que me é dado.

Dá-me forças
Para aturar meu passado
O poder viver o meu presente.

Dá-me forças
Pois delas preciso
Para ressarcir minha dúvida.

Eis-me aqui,
Em prantos e desesperado,
Em algum canto
Jogado...
Querendo viver,
Embora eu não mereça
Eu quero sentir!

Eis-me aqui,
À toa... implorado ajuda.

Eis-me aqui
Envolto em ávidas derrotas
Avaras passagens
Malditos sejam elas
Que me derrubaram

Pois agora preciso de forças


Para levantar-me
E tentar continuar,
E tudo isso
Só porque eu sinto
Eu amo

_______________________
| 118
E não quero odiar!

_______________________
| 119
Forças poderosas
_____________________

Seria eu o servo do diabo


Ou seria o criado de Deus
Essa é a terrível dúvida da qual falo
Tão grande é o poderoso Zeus

Que motivos tenho eu


Para brincar com coisa séria
Para estragar o que é meu
Até eu sair por aí de férias

Que forças poderosas me dominam


Para que eu tenha agido assim
Será que não há raios que me iluminam
Para que a minha vida não chegue ao fim?

Quanto mais eu penso


Mais eu labuto na memória
Percebo que fico tenso
Só em pensar que tudo vira estória

_______________________
| 120
Formas da vida
_____________________

Meu céu ainda vai rugir, eu juro!


Fizeram-me feito escravo
Sem algemas, mas um prisioneiro.
Dei-lhe o meu... e todas as coisas,
E você me negou. E mais do que isso
Pisou em meu coração,
Magoou meu eu,
Transformando-me em resto.
Jogou no lixo o mel que ofertei.
Chega! O trovão vai roncar.
Eu não sou feito de aço.
Sou humano.

Ora, diabos! Como me odeia!


Por quê?
Agora, tudo vai voltar ao nada
Minha niquice vai revelar-se
Minha decepção virá à tona
Meu desejo virou ócio!

_______________________
| 121
Fraseado
_____________________

Frases todas feitas na medida prá você


Frases tão bem-feitas que nem dá prá dizer
Versos dissonantes que ecoam só prá mim
Olhos que me dizem que o sonho vai voltar.

Eu sei que tudo o que o vento levou


A enxurrada vai trazer de volta
E o passado que foi bom
Foi passado, foi um dom.

Brilha ao sol nossos lábios brilhantes do amor


Seu perfume melhor que o da flor
Sua tez, seu sabor,
O aroma da sua cor...

Quero você do jeito que der


Eu quero a menina
Eu quero a mulher
E quero um beijo, um queijo
E quero o mel
Lambuza minha boca
Me larga no céu
Me conta uma estória
Um bolo me faz
Me dá um sorriso
De frente para trás.

_______________________
| 122
Fuga
_____________________

Chega de chorar
De me humilhar
E de aguentar teus desaforos.
Tua descrença me confunde
Já chorei...
Não posso mais.
Já te amei...
Não quero mais.

A inconstância me derrota
Há um quê de temor...
E o fantasma dele,
Sempre a me perturbar...

Não..., não sei mais nada


As honrarias da virada...

Quero dormir profundamente


Para não mais acordar,
E esquecer, impunemente
O pesadelo que eu não quero sonhar!

_______________________
| 123
Fugitivo
_____________________

Numa louca disparada


Contra o mundo-bomba
Grito, luto e até choro
Na batalha da paz
Vejo a vida massacrada
Pelos homens de alto posto
Predisposto,
Indisposto...
Reposto tudo que disse
O mundo vira covardia
Alegria
Euforia
Razão... de ser o que é
De querer uma mulher
Pois então ouça agora:
Vou embora
Fugir à explosão
Não ver a morte dos meus...
E dos teus a destruição
Então eu vou...!
Para sempre,
Adeus...!

_______________________
| 124
Gira-gira
_____________________

Quem é o louco
Na louca história
Da loucura da vitória
De um louco

Louco é aquele que ama,


Que odeia ou que chama
E clama por aquela dama
Que diz que se inflama!

Mas o louco não sabe


Antes que a sanidade desabe
Sobre o mundo dos loucos
Que ama aos poucos

Loucura é ser feliz?


Matar e morrer,
Para poder viver
Na loucura desse país!

Ou louco é aquele
Que se diz um gênio
Que se chama Eugênio
E nem sabe quem é ele.

Vivam os loucos
Os poucos, os louros
Da derrota. Do fracasso
Desse amor humilhante...

_______________________
| 125
Graves erros
_____________________

De repente eu comecei a pensar


Parei um pouco no tempo
Para refletir, meditar e estudar
E percebi, ao sabor do vento
Que leva a folha em um momento
A pensar em alguma coisa útil e bela
Esqueci-me das alegrias no soneto
Fui levando a minha vida na tela

São graves erros imperdoáveis


Que por toda a minha vida tive
Irremediáveis foram eles em toda a extensão
Nunca me esquecerei dos amáveis
Aqueles que são todos os meus crimes
Pecado mortal dos erros, para cair na razão

_______________________
| 126
Heróis-Vampiros
_____________________

Herói!
Como ser herói
De um povo já heroico
Que sobrevive de teimoso
Que caiu nas garras do governo
E se aperta e se vira como pode!

Herói!
Isso não existe e não é válido
Para um povo cada vez mais esquálido
Esse povo que nunca tem vez
Porque o rico é sempre mais rico
E o pobre continua defecando no penico
Heróis somos todos nós
Que causamos as circunstâncias
E guardamos as inconstâncias!

Viva, então os heróis e teimosos


Que sugam do suor e sangue
O alimento e o sapato
O herói cada vez mais fraco!

_______________________
| 127
Hoje e agora
_____________________

A noite está quente


O ventilador está ventilando
E eu estou com sono.

O calor está pasmacento


A aula está chata
Eu estou com saudade da Márcia
Não estou com fome
Estou com meus amigos.
No banco tá que tá fervendo
E eu estou de bem comigo mesmo
Que bom!

_______________________
| 128
Homenagem
_____________________

Nove anos de existência


Dois anos de moralidade
Idade de capacidade
De ter uma longa vivência

Estes são versos pelo qual me expresso


Em uma maneira única e retumbante
Tendo a certeza de um futuro brilhante
Que, do presente e do passado é reflexo

Em um ato de amizade
Demonstro meu afeto
Em versos, onde sempre acerto
Algo que o deixa em prioridade

Pela homenagem que lhe presto agora


Pensando na emoção que senti a anos
Tudo não existe mais, coberto que foi com
panos
Vivemos, apenas, a presente hora...

_______________________
| 129
Ídolo quebrado
_____________________

Perdi um ídolo,
Perdi meu modelo de vida,
Perdi e não quero encontra-lo mais!
E agora, Mané?
Tô aí, jogado na rua...
Quem tá perdido sou eu
E não consigo me encontrar!

Perdi um herói,
Perdi minha formação,
Perdi a mim e ao meu ego!
E agora meu irmão?
Estou desmotivado,
Perdi minha vivacidade,
Minha realidade se perdeu!

Perdi um pedaço do meu out


Perdi um pedaço do meu in!

Agora fico a me esconder nos escombros,


Na escuridão dos meus sonhos.
No reflexo (inverso) do espelho,
No paralelo mais sórdido.
Me escondo na minha propriedade de não me
ser
E não me mexo,
Fico escondido até o dia escurecer!
Me procuro,
Me envolvo
E me escondo no alvorecer!

_______________________
| 130
If and it, sonhar você
_____________________

Se eu sonhasse
Com um castelo encantado
E o amor brotasse
Feito feijão embolado
Meu coração ficaria feliz
Mas quem é que diz...

Se eu desejasse
Toda a riqueza do mundo
E a estrela brilhasse
Você me entraria fundo
Meu coração iria palpitar
E eu iria só te amar

Se eu gritasse
Pelo teu nome tão lindo
E eu embarcasse
No vento que vai subindo
Meu coração viajaria
E no céu te encontraria!

_______________________
| 131
Incoerência da inocência, a
_____________________

Se você se sente presa


Feito fera indomável
Não se deixe envolver
Nem descarta o carteado
Quer cometer o mais doce dos pecados?
Mas teme a força que está do seu lado
Se preocupe, não,
Prá tudo dá-se um jeito...

Você é como pimenta


Verde por fora e ardente por dentro,
Pois então solta essa agonia
Grita, pô! Vê se chia
Não existe nada de magia,
É apenas nostalgia
De uma chama ardente
Quente, quente
Que pulsa no coração da gente

_______________________
| 132
Inexistente nostalgia
_____________________

Problemas agravados na mente


Quase sem nenhuma resolução
Tristeza que dói profundamente
A alegria que desaba no chão

Estou farto dessa vida desgostosa


Não sei mais o que fazer agora
Perdido no choro, no verso e na prosa
Talvez eu venha a ir embora

Desabafando com alguém do céu


Parece-me ouvir, mas nem responde
Pode ser Deus ou até Papai Noel
Desânimo. Eu procuro sua fonte

Talvez seja até besteira


Pode ser um pouco de covardia
Lembro-me por inteira
De minha inexistente nostalgia

_______________________
| 133
Instantaneamente, um instante
_____________________

Foi em um instante de magia


Que uni a sua à minha alegria,
Em uma fração de segundo
Que o azul mesclou o mel
E nossos olhos embriagados
Dançaram juntos
Em um único instante adocicado
O raio de pensamento
Confundiu a razão e o prazer
Invadiu-nos
Em um só instante.

Nos instantes que seguiram


Os sonhos me elevaram
E eu fui... subi...
Naquele instante de leveza
Em que me criei
Em um instante sóbrio fiz-me homem
E senti que podia superar as pedras
Que rolaram contra mim
E eu as quebrei e venci
Naquele instante.

_______________________
| 134
Instantes
_____________________

O dia raiou
Acorda, vem ver!
O que sobrou?
O que há para fazer?

Acorda! O que houve?


Por que essa cara?
Se mexe, me ouve
Corta essa amarra!

Você não está preso!


Será que está doente?
Ei, você não está ileso!
Murchou de repente!

Abre os olhos, meu!


Me escuta... você não liga
Que transe. Que breu!
Fala, diz, acontece, briga!

Não pode? E o coração?


Tum... tum... tum...
Silêncio...
Parou!
O frio da mão!
Morreu!
Silêncio...

Que droga, que loucura,


Fico nessa louca parada
O silêncio me deprime, me pendura.
Agora eu entendi a jogada!

Te entendo,
Desculpe!

_______________________
| 135
João-ninguém pode ser
alguém, um?
_____________________

Queria ser alguém


E ao mesmo tempo ninguém
Por que ser ninguém?
E ser alguém também?

É uma vontade estranha


Quando se quer ser alguém
Não é difícil ser ninguém
Pois eu não consigo ser alguém

Quem pode, pode, no entanto


Eu não posso ser um alguém
Pois eu não tenho ninguém
Que me faça ser alguém

Ninguém quer ser ninguém


Mas eu quero ser alguém
Pois ser ninguém já estou cheio
Então eu rezo para alguém

Para tentar me tornar alguém


É preciso passar por ninguém
No fim alguém e ninguém vai para o além
Por isso eu rezo. Amém.

_______________________
| 136
KKKKKKK
_____________________

Ela sempre foi bela


de azul, verde ou vermelho
Parava na frente do espelho
Sorria seu sorriso acolhedor
Encantando o mais encantador

E não era um sorriso qualquer


Era um daqueles diferentes
Que quem sabe dar é mulher
Um sorriso puro e inocente
Cheio de magia e amor

Eu sei que no fundo, no fundo


Ela sorria assim prá todo mundo
No telefone ou no torpedo
Não importava se eram amigos
Não importava se eram amásios
Ela sempre sorria igual
Ela sempre sorria potássios.

_______________________
| 137
Lágrima de saudade
_____________________

Saudade é aquilo que te aperta


É uma coisa que te desperta
É uma dor que machuca o coração
É uma estranha doença da paixão

Saudade é aquilo que se sente


Num momento mais deprimente
Entrementes é a grande pausa
Em uma menopausa à quem causa

Saudade é eu cá e você acolá


É querer partir para lá
É também querer chorar

Saudade é a ascensão de dor


É o maior momento do amor
É uma gota de lágrima rolar

_______________________
| 138
Lastro
_____________________

Aqui estou eu,


Só...
Em meio à uma multidão vazia.
Estou à vaguear meus pensamentos,
A desejar o fim do meu tormento
E a buscar aventuras de guerra
Que povoam minha sobriedade.

Aqui estou eu,


Anímico...
Mergulhando nos meus dizeres
Busco o meu Eu,
Minha superioridade deteriorada
Pelas batalhas perdidas.

Aqui estou eu,


Entrópico...
Sentindo o âmago das questões,
Entrando em pânico
Amando um nada simbiótico
Arcando com tudo...
A luz que ilumina você.

Aqui estou eu,


Mais sábio...
A observar os erros e consequências
Obcecado pela tua natureza.
Viajo léguas sem fim
Para te buscar no mundo dos sonhos
Pois é só neste mundo
Que tu pertences à mim.
É relevante te dizer assim,
Que desejos, anseios e vontades
São os lastros de mim
Que nos permitiu um ao outro

_______________________
| 139
Num torpor doce e delicado.
Esse mesmo lastro
Que me derrubou, me humilhou
Esse peso inerte que agita tudo,
Pois se não são os sonhos parte da vida?

_______________________
| 140
Lembranças
_____________________

Há vários momentos na vida


Momentos de amor e solidão
Ás vezes eu acho uma saída
Para me levantar do chão

É triste pensar e descobrir


A média das tristes agonias
Mas também sobre tempo para sorrir
E pensar nas doces alegrias

Lembranças de um passado ruim


Com bastante variedade, enfim
Tudo é vida e vida é luta

E isso basta apenas para mim


Tristezas em meu peito labuta
Mas a saudade é que permuta.

_______________________
| 141
Feliz natal
_____________________

Dentre tantas épocas existentes


A que mais se realça é só uma
Dentre tantas linhas de minha mente
A única frase que se mostrou em suma
Ele está chegando

Por mais que eu tente decifrar


Todos os mistérios pairam em cima
Seja qual for a solução no ar
Ela estará... assim Cristo afirma
Ele está chegando

Por mais que deixemos de saber


Fica sempre mais fácil entender
Neste mundo do conhecer
Ele está chegando

Riso à toa é distribuído


Contagiante e alegre é embebido
Neste doce e original fluído
Ele está chegando

É a alegria do Natal
Época muito especial
Comemoração sem igual
Desejo-lhes, portanto, um Feliz Natal

_______________________
| 142
Liberdade
_____________________

Olho ao redor
Ouço os pássaros
Vejo a luz
Maravilhado

Seu esplendor
Ofusca-me os olhos

Amo o irreal
Na realidade do amor
Que encobre a tristeza
Do meu coração

Eu choro
Por não ter o seu amor

Renasço, enfim
Para si e para mim
Não há como fugir
Da realidade
Que o coração escreveu
Amor!

_______________________
| 143
Libertar-me
_____________________

Finalmente aconteceu
O impossível sucedeu
Das garras me livrei
Agora livre caminharei

Foram tempos de sofrimento


Que foram dissolvidos agora
Estou livre de ti, isento
Farei o que quiser, a qualquer hora

Parece até um sonho


Mas percebo que é verdade
Coincidência, eu suponho
Não. É a liberdade.

Chega de libertinagem
Parece até que foi uma pajem
A sensação de flutuar me chega já
É estranha, contudo ela se acaba

Com você fora do meu caminho


Tudo fica elas por elas
Agora vou caminhar sozinho
Para pensar que se apagou a vela.

_______________________
| 144
Linha da vida
_____________________

Cá estamos reunidos
Para a comemoração
Todos são bem-vindos
Dentro do seu coração

Salve dia tão importante


Nessa vida tão alegre
Outro ano leva avante
Acontecendo como Deus escreve

Passam épocas de amor


Várias são suas amigas
Na sua vida não há dor
Nem tampouco intrigas

No meio dessa existência


Nesse louco vai e vem
Com toda abstinência
Eu dou-lhe meus parabéns.

_______________________
| 145
Loucos dante… Elefante!
_____________________

Sou o que sou


Um louco... um tolo...
Mas sou aquilo de bom,
Daquilo de mau tom...

Nesta louca sociedade


Mais louco é o ser
Sem ser o que é que deseja ser
Ânsia por ganância
Na boa fé da caridade

A fantasia social
Dura mais... mata mais
Mas, faz e jaz
A fantasia sexual
Altera... tempera
O Homem já era!

Vivo eu, então, aí no meio...!


Ou eu que sou o meio vivo,
Vivendo para atrair a atenção
Vivo tonto... louco e bom...

Ideologia institucional
Sociedade que esmaga o homem
Eu sou ou não sou?
Foi-se a questão
Da sociedade privada...
Da alta sociedade
Então destilada... ou esmagada!

Ser o desejo de uma mulher


Desejar ser todo o desejo
E do desejo vem a ansiedade
Da cidade que cria a perniciosidade

_______________________
| 146
Sou eu um monstro?
Um homem ou um rato?
Que esperneio e me debato
Somente por ela, somente por gosto

Que Divina Comédia a do Dante


Sendo o que é... o elegante
Entranhado na memória do elefante...!

_______________________
| 147
Loucos reinarão
_____________________

Que negócio é esse


Tudo se vira à orgia
Ele é um desses
Que tudo se faria

Chega de conversa
Meu negócio é outro
São palavras dispersas
De um pobre louco

Pare um pouco
Para pensar
Deseja troco...
...para matar?

Que loucura é essa


Parece brincadeira
Não me interessa
Essa face tão faceira

Chega de besteira
Mudemos de assunto
Descer a ribeira
Comer mais presunto

Deixemos de lado
Toda essa loucura
Escute esse fado
E saia às ruas

Um mundo novo
Todo diferente
Isso é o povo
Estou doente?

_______________________
| 148
Loucura ou razão… (Nada.
É só paixão)
_____________________

Amanhã eu vou...
Dito isso fiquei mudo.
Pensei, pensei, meditei...
Sou uma antimatéria
Uma semântica,
Sendo que as estrelas brilham
E fazem pingos no céu.
Os romances...
As nuances...
Quanta besteira!

Amanhã eu vou...
Não! Não fiquei louco.
Dizem que é paixão. Ser?!
Pode ser até o verão
Que vem aquecer o inverno
Do meu coração (frase boba)
Qual será a verdade?

Amanhã eu vou...
E volto logo,
O medo me toma de assalto
E eu não quero lhe perder.
Não me deixe esperar,
Vamos misturar nossas ideias
E fortalecer-nos em vão,
Porque eu acho que estou doente,
Com a epidemia da paixão!

_______________________
| 149
Lua, lua, lua
_____________________

Lua, lua, lua!


Aparece...
Na janela do meu quarto
Quero ter todo seu brilho
Quero ser seu estribilho
Quero ser mais do que fato!

Lua, lua, lua!


Vem me ver...
Quero te ver, quero te olhar
E nos teus raios me banhar
De amor...!

Lua, lua, lua!


Eu te espero...
Eu não quero que vá embora
Quero ser uma cratera
Como se fosse sua
Quero viver para te amar
Quero ser parte da lua
Lua... luar...!

_______________________
| 150
Luarais
_____________________

Quem me dera estar agora longe daqui,


Onde não haja barulho e nem silêncio
Onde existia apenas o doce mistério de viver
E eu me recolheria, me abraçaria
E me daria todinho prá mim!

_______________________
| 151
Magneto
_____________________

Ei,
Olha prá mim
Me escuta. Me persegue
Me ama. Me alucina
Eu quero só um olhar

Psiu,
Tô te chamando
Você nem dá bola
Mas rebola
E me embola
Nessa roda de amor

Ah,
Você passou direto
E nem ao menos me viu
Eu fui até indiscreto
E você passou reto
Não vá embora
Pelo menos não agora
Quero te conhecer
Quero te saber

Tchau,
Até um dia quem sabe
Nos esbarremos novamente
Daí você vai me olhar...
E vai me amar, amar e amar...

_______________________
| 152
Mal
_____________________

Quando o sol raiar


E caiar a terra
O calor do seu corpo
Vai me aquecer
E na plenitude
Na beira do açude
Em mil fantasias
Vou me recolher
E me fazer

O teu olhar me fascina


A brisa... a lua...
Você me ilumina
Esteja nua
Esteja crua
Vou deitar na areia
E a água vai percorrer
O seu sangue
O seu amor...!

Foi em um tempo louco


E passado
Que eu vi
O destino traçado
Em louca disparada
Explodi
De amor... sem razão...!

_______________________
| 153
Maldição
_____________________

Pensando em você escrevo este poema


Pois cabe a mim, somente a mim, entende-la
Minha inspiração total foi-lhe dedicada
Para alguém com você, tão delicada

Minha mente gira, mas não a esqueço


Acho que eu não faço muito, mas mereço
Mas uma consideração será excelente
Vou dar-lhe um prêmio excedente

Porque ficar desesperando-se todo


Esperemos que o circo pegue fogo
Parece que tudo é uma grande palhaçada
Então vamos defender-nos com a paliçada

Cheguei ao fim da minha total dedicação


Parece que sim, mas é verdade sobre a
maldição
Uma maldição que mete medo.... É horrorosa
Viver confinado na tristeza impiedosa.

_______________________
| 154
Manas
_____________________

Eu,
Em mim mesmo sou eu
E me fortaleço assim.

Eu, em minhas forças expansivas


Acordo e olho o céu
Vejo o sol da manhã.

Eu,
Sorrio e cantarolo.

Eu,
Que em mim guardo poderes
Faço, do meu corpo, um recanto
E da minha alma, um acalanto
Eu,
Vivendo e aprendendo

Eu,
E meus sonhos impossíveis
Somos hoje realidade
E fazemos por conquistá-la
Já que o futuro
Nós e quem faremos,
Pois o presente é agora
E isso é bom.

Eu,
Meus pensamentos
Que voaram longe
Buscam a única verdade razoável
A luz de que tanto anseio
E a mim me entrego
Para assim evoluir
E viver melhor.

_______________________
| 155
Eu,
Sou amor e sou força.

Eu,
Sou feliz e sou gigante.

_______________________
| 156
Manhã de sol
_____________________

Em brancas nuvens
A caminhar sobre o azul do céu
Que salpicaste de dourado
O doce amor à respaldar

Olho e forço a visão


E no horizonte vejo tudo
Mares, montanhas e além
Vejo o sol...
Em todo o seu esplendor
Fulgor e formosura
O canto que me havia
Hoje revoa em sua lisura.

“Corre nas nossas veias o sangue etéreo, e nós


amamos o longe e a miragem,
Nós somos tentação e pudor, doce deleite do
amor...”

Ouve, então, o canto da cotovia,


Que anuncia o novo dia...
Ouve o guincho do azulão,
Faz de mim um estopim...
Ouve o pio da coruja... esse sim
Nos dá a noite e exila o não!

_______________________
| 157
Mar
_____________________

Ouvindo o som do mar


Sentado na areia branca
Sinto algo no ar
É o amor que ainda me ama

Leve é a brisa fresca


Ventando nos meus pensamentos
Uma paisagem pitoresca
Imaginando grandes momentos

As ondas quebrando nas pedras


Transmitem-me inspiração
O amor, que em pedaços se quebra
Vem seguido da triste solidão

Perdi minha vontade de viver


A praia me revigorou inteiramente
Agora não quero mais morrer
Achei uma razão para viver novamente

_______________________
| 158
Marcha
_____________________

Vou por ali. Vou por aqui.


Que caminho seguir? Como continuar minha
jornada?

O tédio. Esse me transtorna. Faz-me buscar


algo forte.
Alguma coisa em mim. Pulsando... vivendo...
crescendo cada vez mais.

Se eu olhar o céu as estrelas vão parecer


brilhantes.
É a lua, uma grande solitária.
Se eu olhar o mar as ondas seriam minha
sorte
E tudo o que elas contivessem... meu prazer.
Se eu te olhasse eu veria o céu e o mar
Veria ainda minha vida renascer
Seria um mundo novo.
Você é como um poema.
Lindo, perfeito... imortal.
E aos meus olhos só perecerias como uma
deusa
Que curaria meu coração com o âmbar que
carregas nos lábios.

Não é Iracema, mas és minha virgem, minha


predileta
Única... e que vive para aquecer-me.

O sol que bronzeia seu corpo e dá-lhe a vida


Faz-lhe, então, mais linda.
Seus cabelos são como o fundo da Lagoa de
Abaeté
Negros de dia
Cintilantes de noite

_______________________
| 159
Sua alma... segredo de mil sacerdotisas
Encerrado em mil pirâmides
Nada me revela, nunca se abre... assim como
seu coração.

Sofro por não tê-la. Mas vivo...


Luto contra tudo para possuir seu amor
Tão vital para mim!

Um dia vou beber do seu néctar


E fartar-me de sua ambrosia.
E neste dia serei um mortal
Resguardado pelo amor de uma deusa,
E será preciso mais que a morte
Para nos separar...!

_______________________
| 160
Maria
_____________________

A tarde estava fria,


E Maria estava morta!

Maria estava fria,


E a tarde estava morta.

Foi o frio que matou Maria


E matou o João e o José!
Foi o vento que açoitou-os
Até a fria morte chegar!

O velório estava frio,


Tão frio quão José e Maria.
E o filho João, sorria...
Sorriso amarelecido e frio,
Esse mesmo frio que matou Maria!

O frio que veio passo a passo


Troncou-lhes a vida inerte,
Fechou-lhes como um cadafalso
Tão gelado como seus corpos...

E Maria? Que fria, Maria!


E João? E José?
Todo mundo frio. O olhar. O sorriso!

Tão fria estava Maria


Que nem seu cheiro se sentia
Maria virou notícia
Na página de um jornal
A folha estava tão fria
Quanto estava a pobre Maria...!

Só naquele dia
Ouviu-se falar em Maria...

_______________________
| 161
Quando raiou o novo dia
Maria estava fria
Ninguém de nada sabia
Virou-se a página fria.
E Maria?
Ainda está fria!

_______________________
| 162
Mata virgem
_____________________

Sou mata virgem,


Indócil, voraz...
Mato que mete medo
Serra que nos atrai!

Sou mata virgem,


Desprotegido, selvagem...
Verde cheiro de amor
Caldo do rio que corre!

Sou mata virgem,


Impenetrável, misterioso...
Oriental aroma forte
Rastejante animal venenoso!

Sou mata virgem,


Quente, louco...
Estranho prazer de amar
Sem alguém replantar!

_______________________
| 163
Menção à amizade
(aos meus amigos)
_____________________

Que amigos somos nós?


Que nos batemos por motivos tão fúteis
E fazemos polêmica com as coisas mais
simples!

Que espécie de gente somos nós?


Que não temos nada e não tentamos ter,
Não cremos em nada e não queremos crer!
Por que somos tão frios e duros?
Tão simples e confusos...
Tão complexos e calculistas?!

Que raça somos nós?


Que deixamos a inveja queimar
E queremos o poder de possuir...
A estranheza de estilizar
Quando ficamos à quatro paredes
E não fazemos nada para nos libertar.
Que é isso?
Nós nos destruímos ao invés de ajudar,
Nós nos deglutimos e sentimos muito!

Que turma somos nós?


Que não nos defendemos e só nos atacamos.
Onde existem conflitos
Deve existir amizade e união
Porque assim é que tem que ser!
Se estamos com problemas
Dentro ou fora de casa
Isso é a nossa vida e nosso karma
E devemos contornar à tudo
Com lógica e com calma.
Porque é isso que nos fortalece
E nos deixa abertos à conversação.

_______________________
| 164
Que pessoas somos nós?
Que caminhamos aleatoriamente
Em busca de alguma verdade
Que só encontraremos
Dentro de nossas razões e emoções
E pela convivência em sociedade
Que somos nós!

_______________________
| 165
Mensagens
_____________________

A vida é uma poesia romântica


Começa cheia de amor e ternura
E termina sempre em tragédia.

Viver é uma arte


Permitida aos artistas
E todo mundo tem uma pontinha
De artista dentro de si.

Amor é qualquer coisa


É o céu, o sol, a chuva.
É só saber enxergá-lo

Amor é poesia...
... por isso sou poeta

Poesia é um monte de areia...


A menor brisa
Todos os versos se dispersam
Em grãos de amor e de realidade
De ódio e de tristeza
De loucura... e de beleza...!

_______________________
| 166
Mentiras
_____________________

As mentiras,
As calúnias erguem-se na voz dos infortunados
E nós que fizemo-nos por nós mesmos
Perecemos indefesos
No veneno das línguas malfadas

As mentiras,
Nunca serão ditas em contrário, nunca
construirão
Apenas dissolverão
As bases de uma anti-sociedade
Que luta por ser justa e honesta
E acabam por matar
Afogando-nos e sufocando-nos
Perante todos...!

As mentiras,
São mentiras
E eu sou mais forte do que elas!

_______________________
| 167
Mesa de bar
_____________________

Ah, essa mesa de bar...


Já viu os amores desfeitos,
Os casais imperfeitos,
Relembrou o passado
Que nem viu passar!

Aqui nesta mesa de bar


Bebia-se bem devagar
E sonhava-se a imensidão...
E nesta mesma mesa
Sorrimos, cantamos,
Revelamos segredos
E também choramos
As mágoas que temos
Falamos das Anas
E dos extraterrenos
Que estão sempre em nós!

Na mesa de bar
Vivemos os devaneios
Lembramos de amores, músicas,
Festas, casos, dores, tempos
Que já foram
E não voltam mais.

_______________________
| 168
Messias
_____________________

Por nove meses enfurnado


Concebido em dia festivo
Nasceu já a tempos amado
Sendo sempre o mais querido

Alegrias nos rostos estampadas


Veio ao mundo com muito amor
Despertando de um sono indolor
Abençoado por imagens aladas

Linda criança que feliz será


Com cuidados e carinhos viverá
Por pais e mestres ele aprenderá

Felizes aqueles que o tem


Nunca na vida serão ninguém
Terão ao seu lado um alguém

De nome tão curto hão de chamá-lo


Atentem todos para esta profecia
Por anos todos irão adorá-lo
Clamando então pelo novo Messias

_______________________
| 169
Mesuras: Teu ego, minha paixão
_____________________

Nasce um novo dia


E com ele novas esperanças.
Foi assim...
Você é uma estrela
Que nasceu no meu eterno céu de amor
E que vai brilhar
Incessantemente!

Através de mil palavras


Fui te conhecendo.
Mas eu quero mais que isso,
Quero conquistar seu amor,
Sua confiança,
Seu ser...
Quero alcançar-lhe onde estiver
Satisfazer os desígnios do seu ser
E dar todo o meu amor
Que vai emanar de mim como um vulcão!

É estranho...
Talvez seja até ilógico,
Mas o amor não tem lógica
É irracional e passível de modificações.

Sei que por trás dessas formalidades


Existe alguém capaz de me amar. Não é
insensatez.
É real, vivo e forte... E ainda pulsa com todo o
ardor!

_______________________
| 170
Metáforas
_____________________

A vida é repleta de metáforas...


Ela é uma eterna metáfora...

Eu sou uma única metáfora


Aquela que Deus pronunciou
E o demônio renegou

Eu sou uma metáfora.

_______________________
| 171
Minutos de uma vida,
minutos de vocês
_____________________

Dos tempos que se seguiram


Das horas que se passaram
Os minutos eram dedicados à você
Pensamentos da minha mente esvaíram
Minha alma e meu corpo se elevaram

Dos instantes que correram


Dos momentos que ficaram
Os minutos eram dedicados a você
Paixões e amores se dissolveram
Invejando aqueles que se amaram

Da eternidade total e infinita


Do infinito sobreveio o nada
Os minutos eram dedicados a você
Sonhando com olhos azuis e uma fita
Imaginando os traços da princesa encantada

Dos dias que hoje é passado


Das épocas sem chegada
Os minutos eram dedicados a você
Falo com o coração, na agonia de um
inanimado
Esqueço que entre nós nunca houve nada

_______________________
| 172
Momento de glória
_____________________

Sob o forte vento vindo do Norte


Suas palavras foram sendo apagadas
A erosão foi corroendo o seu nome
Até ficarem completamente camufladas

Lembro-me de quando o sol doirava seu corpo


E a lua nos fazia sentir mais desesperados
Hoje você não existe mais, perdeu o jogo
Que me trouxe a sede de vingança dos
amados

As montanhas curvaram-se diante de você


Reis e rainhas ficavam agonizados em sua
presença

Seguiram-se festas pela grande vitória


Três dias de euforia inevitável
Adeus, maldade, agora é um momento de
glória

_______________________
| 173
Momento mágico
_____________________

É em um só momento que eu me esqueço


E não dou conta de mim...
Não sei se me mereço ou deixo tudo ficar
assim!

É nesse momento... único e infinito


Que me esbarro entre o céu e o abismo
Sem pudores, nem vacilo...

É só então que flutuo, imagino vastidões,


Sonhos e fantasias não se compararam
Ao momento sóbrio e embriagante!

Ah, esse momento é tudo, é onde me devoro


E me deparo com loucuras inimagináveis
Ouço sinos e canções, mil vozes em coro...

Nesse momento fantástico de transições


É que eu sinto você mais forte... E mais desejo
Que permaneça para sempre
O momento mágico do seu beijo!

_______________________
| 174
Momentos de amor
_____________________

O amor é uma semente de flor


Que brota em todo o seu esplendor
É como uma linda estrela reluzente
Que aos poucos torna-se mais ardente

Em uma fruta, em um animal, em todo lugar


Ele está presente, sob o sol ou sob o luar
Semente cultivada com carinho gigante
Planta retirada... então vamos avante

Luar refletindo nas ondas do mar


Momento único para se beijar
Paixão infinita nas areias da praia
Declaração antes que o amor caia

Lindos sonhos com cor de mel


Nuvens brancas como folha de papel
Corações flechados. É a intimidade
Flechando à todos com a maior vontade.

_______________________
| 175
Moradia
_____________________

Eu vou morar
Em uma casinha à beira-mar
Ao despertar, ver o sol brilhar
Ouvir o canto do galo
As ondas quebrando nas rochas!

Eu vou morar
Em uma cabana de pau-a-pique
Na beira do lago azul
Como azuis são seus olhos
Lindo como linda é você!

Eu vou morar
Em uma caverna natural
No meio da mata cerrada
Doce matagal
E vou te amar
Envolto em verde
Coberto de fruta e de sal!

Eu vou morar
Dentro do teu coração
No paraíso eu voou viver
Para sempre vou sentir
O seu contato
Esse tato, essa vida
Energia viva,
Tanto amor...!

_______________________
| 176
Morrer ou viver
_____________________

Todo dia, toda hora, eu calo


Todo dia, toda hora, eu falo
Quero morrer para tudo esquecer
Quero viver para uma chance ter

Morrer para nada mais ver


Ir embora, agora... e perder
O resto da minha preciosa vida
É água passada, é página lida

Viver para tudo recomeçar


Passar por tudo, amar e depois chorar
Prefiro morrer e nunca aparecer
E só depois de anos renascer

Enfim, de nada me serve agora


O jeito é recomeçar, ir embora
Ou ficar e enfrentar a tudo, sem recuar
Será que poderei, novamente, amar?

_______________________
| 177
Movimento em falso
_____________________

Existe algo que se possa dizer


Sem que não se possa sofrer?
Quando do segmento
Se vive o momento
Transborda o excremento

Vive da vida o poder de ver


O brilho das águas derreter
Vívido amor
Polvilhado de dor
Coalhado de horror

Sai das garras da solidão


Respira a pureza da emoção
Correu contra o vento
Matou meu intento
Em tons de tormento...!

_______________________
| 178
Murchou a margarida
_____________________

Acabou...
O sonho de amor,
Minha vida.
Quanta dor...!

Ah, eu que pensei...


Errado... é claro!
Morri...
... e foi de amor.

Droga,
Por que eu acordei?
Eu despertei
Para as trevas!

Causa mortis:
Amor!
Pena! Tão jovem!
Jovem até demais.

Escolhi um caminho
Caminhei... até o fim
E que triste fim,
Será este o meu destino?

Chega de farsa.
Lua, minha lua,
Que louco eclipse,
Volta... amor!

Foi a vida, foi a hora


Murchou a margarida
O que fazer agora?
Nada... só esperar!

_______________________
| 179
Mundo diferente
_____________________

Vamos embora, ora deixe estar


Venha comigo, vamos cavalgar
Por essas matas verdes e cheirosas
Vem. Suba no seu cavalo cor de rosa.

Monte-o e feche os olhos para o mundo


Deixe sua mente penetrar bem no fundo
De seu pequeno coração de ouro e amor
Deslize sua imaginação no mundo da cor

Agora comece a sonhar. Juntos vamos


conseguir
Poderemos nos amar... basta você se esvair
Veja o arco-íris, que belo é o pôr-do-sol

Acorde lentamente... bem devagar


Que agora vivamos a realidade
Mas se você quiser vamos tentar

_______________________
| 180
No muro das lamentações
_____________________

No Muro das Lamentações


Encosto... esmurro...
Me bato todo
Me mato e até falo com burro
Caio, levanto e me esmurro!

No Muro das Lamentações


Escrevo um par de orações
E vejo a união dos corações.
Que falsidade, que desamor
Isso não vale. Isso é dor!

No Muro das Lamentações


A guerra mata,
A fome, a peste, as corrupções
Esse muro tão mudo, imundo
Real!

No Muro das Lamentações


Eu faço as promessas
Me descuido, me ressarço
Bebo a água do ribeirão
De sangue... assim não!

No Muro das Lamentações


Os amigos se dispersam
E vão sumindo devagar
Não me olham, não me ouvem
Não sou capaz de amar!

_______________________
| 181
Musa, inspiração dos poetas
_____________________

Tanto tempo sem escrever, tanto tempo sem


inspiração...
Por que faz isso comigo, ó Musa inspiradora...?
Ajuda-me. Venha acudir-me. Eu imploro, de
coração
Só consigo terei ideias novas e duradouras...

Tendo algum tempo para escrever, tenho todo


o tempo para te ver
Gastando o meu tempo noutras coisas, deixo
de pensar em ti...
Onde estiver, ouça meu apelo para que venha
iluminar o meu ser
Pois estarei preparado, apenas te esperando,
Musa, para te apanhar

Você é o caminho dos poetas jovens e


velhos... e até das crianças!
Você é a saudade dos saudosos; o amor dos
namorados. A paixão do meu ser
Espero com ansiedade, sinto então a sua
presença no ar... Alcanças
Então a mim, ou eu a você, mas ainda não
consigo ver... ou escrever...

Quando você chegou eu senti um grande alívio


e uma pureza interna
E agora vivo eu cá, sempre triste, em enorme
opulência
Finalmente aparece a luz, colorida,
maravilhosa, externa
Agora sim, chegou a hora. Estou inspirado.
Obrigado, Excelência!

_______________________
| 182
Musa, minha musa
_____________________

Seus olhos mareados


Brilhavam para a lua
Olhavam para o lado
Ou para o meio da rua

Sua boca umedecida


Murmurava anseios
Falava distraída
De um novo esteio

Seus cabelos morenos


Esvoaçavam sem ordem
Molhados pelo sereno
Ou soltos em desordem

_______________________
| 183
Na sacada (olha a faca!)
_____________________

Dom, dom, dom


O sino bate e anuncia
Qualquer coisa de estranho
As coisas que eu digo
E quero dizer,
As coisas que eu faço
E quero fazer,
Nada me traz sensação,
Nada me leva a crer
Que eu amo eu sou amado!

Todas as vezes que eu penso em você


Olho no espelho da vida
Reflito, então, meus sonhos
Meras casualidades,
Tantas insinuações
Quis envolvê-la, mas não pude!

E os dias que eu choro


As noites que eu passo em claro
Os verdes vales,
Os mares, os altares.
Todas as horas me dizem,
Sussurram baixinho
O canto do passarinho
Me dá um nó na garganta
E canta...
Você vai ser minha
E um dia vou ser seu
E nós dois, homogêneos
Gigantes como Deus!

_______________________
| 184
Nativo
_____________________

Me tenho um tanto cruel


Tenho estado meio ao léu
Escrevi isso em um papel
Estou no céu... vejo o véu!

Meu estado de sítio é supremo


Meu pensamento é um veneno
Já estive no extremo
Apanhei o sereno... e agora tremo!

Eu estalo e meu recorde é batido


Eu me calo e nem sei o que digo
Não sou louco e nem sou bandido
Não sou asco, fiasco ou inimigo
Sou nativo!

_______________________
| 185
Natureza: A vida de uma mãe
_____________________

Flores do campo, amoras silvestres, isso tudo


é a Mãe Natureza
Animais livres, correndo pelas matas e matas
virgens sempre crescendo
Isso é a Mãe Natureza, que sabe lidar com
tudo, com certeza...
Não deixa desamparado, um pobre animal
morrendo ou plantas sofrendo

Mas não é só isso que essa Mãe da Vida faz,


pois ela é em si a vida
Vivida ou não ela represente a luta pelo poder
e gosto de viver
Sem preconceitos ela aceita brancos e negros,
nas eras nunca idas
Mas quando ela quer, ela consegue, pois ela
não deixa perecer

Mesmo o limo de uma pedra submersa, nas


águas da praia ou do mar
É ela quem garante que não aconteça nada
antes que um raio
De sol ou gota de chuva caia, pois sem ela a
vida não é nada. É ar...
Existente e perceptível, incolor e inaudível.
Então eu saio

Isso é apenas um exemplo do que é a Mãe


Natureza, a Senhora das Vidas
Questão de segundo a morte vem, a madame
das mortes socorridas
Nunca foi indiferente para com este ou aquele,
sempre foi justa
Pois com justiça se consegue justeza e isso
prova o que a vida custa

_______________________
| 186
Mas no final, a Mãe Natureza sempre vence.
Imortal e sofrida
Por experiência própria ela sabe que temos a
vida para prezar
Mas porque tanto desgosto... e o mês de
agosto, época doída
A Mãe Natureza implorou e nada conseguiu.
Quando aprenderão a amar?

_______________________
| 187
Naufrágio
_____________________

Bagulho é o que maltrata


E se trata,
Retrata
A arte abstrata.

Bagulho é a onda
Que nos ronda,
Hedionda
A tela da Gioconda.

Bagulho é a mudança
Da nossa dança,
Festança
Contar vantagem de poupança.

Bagulho é a tristeza
Do rei e da realeza,
Nobreza
É sentir essa pobreza.

_______________________
| 188
Nem tudo que reluz é ouro
_____________________

Quero morrer...
Bem longe de tudo e de todos
Que um dia eu convivi!
Quero morrer...
De repente,
Para nunca mais ouvirem meu nome
E o segredo morrer comigo
Quero morrer...
Ficar congelado
Morrer esmagado em um acidente
De trem ou de explosão
Então, a angústia que me tortura
Sorrindo com ligeira mesura
Iria embora.
Quero morrer...
A grosso modo!
Derreter
E me submeter aos adventos
Donde eu for parar...
Seja em qualquer lugar
Quero morrer...
Mas sou egoísta,
Não vou deixar pista
Porque vou sentir dó
O amigo mais amigo
Aberto ao esconderijo
Fechará todos os tampões!
A loira vai me olhar...
Que indiferença, doce Poodle!
Mas sempre foi assim
E nunca vai mudar.
E minhas poesias...
Irão se concretizar!

_______________________
| 189
New year, new life
_____________________

Onde está aquela magia do começo...


Tudo era tão bonito, tão vivo e real...

New year,
New life!

Tudo muda:
Nós, eu e você!
A situação.
Mas minha força...
Ah, essa é única.
É imutável,
Acesa...
... será?

New year,
New life!

Pé esquerdo...
Onde estão os louros da vitória
Que tanto me devolveram à vida
Onde está a alegria, pô?!
Desculpe... mas eu te amo!

_______________________
| 190
Nó na garganta
_____________________

A lágrima que eu prendo


A humilhação e a loucura
E a tristeza de um pagão
Louco e fanfarrão,
Que por trás de sua vida
Esconde-se uma cova
Que cheira a enxofre...

Sou a manteiga derretida,


Sou o canto triste de inverno,
Sou o malandro e o interno,
Quero chorar e não posso...
Posso morrer, mas não quero!

E essa prisão me põe maluco...


Me xinga e me bate,
Me odeia à quatro paredes
E maltrata todo o lucro
E dancei conforme a música!

Chora, desgraçado...
Arruína a vida do mundo...
Do tolo e do vagabundo,
Do rico e do moribundo
E pesa a consciência amargurada
Que vive uma vida desgraçada
E vê que já está cansada
Dessa maldita vida desregrada...!

E depois do amor, vem o suspiro


Depois da tempestade, tem a bonança
Após do azar, vem a sorte
Depois da vida... vem a morte...!
Adeus!

_______________________
| 191
Nos becos, nas noites paulistas
_____________________

Na união de duas bocas


Se comendo de amor
Corroendo-se de dor
Como se fossem loucas

A cama toda molhada


Me enchia de tristeza
De saber que sua beleza
Escondia-se em um canalha

Minha amiga, inimiga


Da dor, fizeste saudade
Da confiança, fidelidade
Do meu corpo, sua guarita

Em terrível atrocidade
Com malícia e maldade
Via tudo se acabando
Era a quebra do encanto

Escondi toda a verdade


Do mundo que a pedia
Suplicava a piedade
Para quem a possuía

Agora jaz no túmulo


Fazendo-se de cúmulo
Aquela que fora de todos
E para todos se entregara

_______________________
| 192
Nova geração
_____________________

Sangue da minha gente


Água de coco
Anel da semente
Âmbar tão puro
Que semeia os olhos
Da nossa gente

Rio que passa


Rio que repele
O choque contundente
Da terra da minha gente
Do pelo e da pele!

Povo da minha terra...


Que se encerra,
Cerrada no coração
Toca essa corneta
Anunciando a revolução

Brava gente do meu sangue


Que colhe, encolhe, acolhe
O traidor... e o seu amor
Pela pátria viva
Em verso e prosa

Sinto o palpitar do verão


Pulsando na veia do irmão
As brigas são todas em vão
Da gente que decide
Do meu povo que incide!

_______________________
| 193
Novamente
_____________________

Toda vez que eu penso em você


Me faz vir a lembrança
Da esperança
De um novo amor
Mas dessa vez não adianta
Me tirar o peso da dor
Passeis dias agonizantes
Cheios de amargura
O coração emanava loucura
Por você e só por você

Sou capaz de matar


Ou de morrer ou de fugir
Para viver e sofrer
Mas não há como retirar
Esse sentimento
Todo ruim em seu tormento
Como salvar esse momento
Estou onde sempre estive
Desabafando com a poesia
Criticando essa ironia
Eu estou farto de viver
Assim já é demais
Tornei-me um moribundo
Um displicente
Prefiro morrer
Do que amar novamente...

_______________________
| 194
Objeto feliz
_____________________

Felicidade
Que invade meu peito com coragem
Penetra e vai em frente nessa viagem
Rumando sempre na mesma direção
Tomando o caminho direto do coração

Felicidade
É isso que criou mofo e apodreceu
Sufocada pela tristeza que cresceu
Hoje já me sinto outro... diferente
Finalmente estou muito contente

Felicidade
Deve ser esse sorriso largo e natural
Que a gente dá somente no Natal
Falseando a bela franqueza decidida
Para ficar dando pulos na avenida

Felicidade
É o que estou sentindo abertamente
Querendo gritar e ser indiferente
Ser discreto, mas não ficar quieto
Amar e saber a pureza deste objeto

_______________________
| 195
Ócio
_____________________

Tudo acabou
Foi você quem me falou,
Já terminou,
O jogo você ganhou
A minha vida
Não é mais aquela uma
Meu coração já se despedaçou
O meu rei não passa de um plebeu.
E eu, ô meu?
E eu?
Como fiquei...?

Tudo acabou
O céu da gente desabou
O raio da chuva iluminou
O caminho
Qual rastilho de pólvora
Arrastou,
O fogo queimou
Derreteu
Você e eu,
Nosso amor nem foi amor
Foi só uma dor
Que passou...!

_______________________
| 196
Olímpia
_____________________

Grito de vitória,
Grito guerreiro,
Coração à mil...
De próprio pulso escrevo
Sua beleza, seu senso
E me acabo em você!

Extrai de mim
Toda a emoção
A visão que unifica
E concorda em amar.

Distração
Pura besteira,
Deito e rolo na esteira,
Sou eu,
Sou você.

Grito de índio,
Grito forte,
Explode seu sentimento...
Essa luz de um momento
Prima por querer o sol
Buscar o talvez recôndito
Em sua palavra

Canto alto, canto mais,


Me esvaio em alegria,
Essa pura hegemonia
Esse dom de se bastar.

Olímpia, terra e pó
Você... o amor e o sol!

_______________________
| 197
Olhos
_____________________

Seus olhos são azuis,


Dourados sonhos de amor
Iluminados, contém luz,
São dois brilhantes...
Nós somos dois amantes!

Um par de olhos que me negam,


Mas não escondem
Toda a farsa que renegam...
E disfarçam e me pegam
A olhar o espaço!

No fundo desses olhos estão


Mil horrores, mil amores
Todo o afã da escuridão
Da ilusão...
Dos seus temores!

Nesses seus olhos existe brilho


Nesse índigo há pureza,
Há toda essa beleza
De uma deusa enluarada...
Enfeitiçada de prazer!

Os seus olhos grandes


Contém a vida guardada,
Retida pela saga...
De lutar e conquistar
O ideal de um dia me amar!

Seus olhos são


O amor constante,
O momento implicante
O veneno no pão...
... e o seu ser navegante...!

_______________________
| 198
Opala
_____________________

Opala,
Pedra preciosa,
Decora sua vida decorosa
Distrai o teu olhar
Brota do ser o luar
O corpo mais bandido
Seu rosto mais bonito!

Opala,
Amor intenso,
Navega o rio mais denso
Estoura a guerra
Boicota,
O coração beija o céu
O sonho louco!

Opala,
Pura beleza,
Encara a vida com tristeza.
Revolta os mares
Lugares,
Vazios de fantasia
Mata... e extasia!

_______________________
| 199
Oração
_____________________

Oro,
Pela paz do mundo
Que anda abalada
Pela fé em Deus
Que nos foi ensinada

Oro,
Pelo fim de tudo
Que é imundo
Pelo fim da violência
Que integra uma existência

Oro,
Pelos que não estão
E pelos que virão
Pelos que chegaram
E pelos que irão

Oro,
Pela suprema presença
Do mais amado e querido
Que amou aos bandidos
E resistiu à existência

Oro,
Por Jesus, Nosso Senhor
Que nos ensinou à fundo
Tudo sobre o amor
No novo fim do mundo

_______________________
| 200
Ou será que não?
_____________________

A falsidade do mundo,
De todos,
Me engana...
E a meus sentimentos.

Meus sonhos diluíram-se


Ou será que não?
Quando se quer ser alguém
A dúvida da minha fantástica vida!

Minha tristeza...
Você me rejeitou
Ou será que não?
As fantasias me doeram
E eu fui vencido
Aturdido...
Te adoro...
De corpo e alma.

Sou diferente.
Sou feliz... ou será que não?

_______________________
| 201
Ouro
_____________________

Afinal ele veio,


Joaquim Cruz, o herói
Trouxe-nos não uma medalha
Mas sim uma esperança!
O sonho se concretizou
A garra vale ouro
E o amor e a dedicação
Venceram novamente.

Esse ouro maravilhoso


Que não é só medalha,
É mais...
É a própria vida
É a luta pela sobrevivência
É o sonho do brasileiro vencer!

Sobe ao pódio, Joaquim


Lágrimas nos olhos
Muito amor no coração
Toca o hino... a música...,
Toca a emoção lá no fundo
Porque você merece... (nós merecemos)
Esse ouro que além de tudo é prova
De amor, de raça, de dedicação!
É a prova de um povo,
De um sonho...
De muita emoção!

_______________________
| 202
Pai, mãe e filhos
_____________________

Sapeca... alegre... feliz...

Será verdade tudo o que se diz?


Então por que eles fingem alegria?
Se estão dentro do poço da agonia?

Sabida... ingênua... calada...

Por que amar sem ser amada?


Não entendo o porquê a expressão?
De desgosto ou agonia do coração?

Pensativa... triste... sozinha...

Por que crer nessa minha rainha?


Sabe-se lá de que cor a pintam?
Preto ou branco, nem sei o que sintam?

Amargura... retraída... traumatizada...

Desligamo-nos de vocês. Estamos realizados?


O que é que o prendem nesse momento?
Nada... Era inevitável o acontecimento?

Torturada... pisoteada... coitada...

Vivo feliz ou infeliz? Alucinada?


Agora jazem cada qual em um canto, não é?
Por que essa surra? Nem mais tenho fé?

Confusa... jogada... ignorada...

O que será a juventude transviada?


Reflexo de uma época de desengano?

_______________________
| 203
Ou simplesmente a lembrança do passar do
ano?

“Perdão, filha...”
Esse mesmo lastro
Que me derrubou, me humilhou
Esse peso inerte que agita tudo,
Pois se não são os sonhos parte da vida?

_______________________
| 204
Para sonhar no fogo eterno
_____________________

E pensar que um dia fui rei


Mandei em tudo e em todos
E não me reparei.
Bem sei que massacrei meu povo
E matei as aves.
Fui avaro e destemido
Hoje fui tolhido por uma revolução
E eu tombei...

E pensar que um dia fui tirano


Fui o mestre, fui o sábio
Fui soldado e suserano
E criei o fogo,
A revolta e o ódio
Era um cachorro louco
Uma criança mimada, chorando
Era a lei. Era a música no piano
Até que um dia caiu o pano...

E pensar que fui bandido


Que me autodestruía
A cada alma que partia
Por cada cabeça que rolava
Quando chegou o frio do inverno
Não vivi e nem me matei
Adormeci e não acordei
Para sonhar no fogo eterno...!

_______________________
| 205
Paralelismo
_____________________

Ouça isto...
O que será?
É um trovão?
Ou o prenúncio da chuva?
Não!
É um barulho ensurdecedor,
É um canhão! Cuspindo tiros,
Espalhando o horror,
Na forma de morte e temor.

Escuto lânguidas toadas,


Ou serão trovoadas?
Nem um e nem o outro...
São apenas acordes
Da lira de um louco
Que toca e sorri
Ante o desespero e o choro
Do Homem que implode.

Desabam-se as utopias
Vestindo-se de plumas e fantasias
Encerra no oco da Terra
O estame de uma Era
Que viveu selvagemente
Em todo o canto da Terra
Nas dimensões da coexistência
De uma gente próspera e opima...

_______________________
| 206
Passa rio
_____________________

Passa rio,
Passa e corre lento
Na direção do vento
Lerdo, solto, sonolento!

Passa rio,
Corcoveia nas alcovas
Serpenteia nas encostas
Incendeia as amostras!

Passa rio,
Sobe suas águas e escoa
Transborda essa vida boa
E cai. E vira. E voa!

Passa rio,
Brilha o seu azul olhado
Explode o estuário inacabado
E roda. A queda. O peixe marcado!

Passa rio,
Vê o verde pestilento
Vê o pobre lá no templo
Segue o seu bom exemplo!

Passa rio,
Vazante, destruidor
Que água a terra e a flor
E faz crescer o meu amor!

_______________________
| 207
Pátria amada, Brasil...
_____________________

Eu não sei o que é mundo,


Nem sei o que é farsa,
Mas sei que o mundo
E os que nele vivem
São todas partes de uma farsa.

Eu não sei o que é sujeira,


Não sei o que é corrupção,
Mas o mundo falso que nos prometem
Giram em torno do lixo
Da mais alta corrupção.

Não! Não sou um agitador


E nem sou contra o governo!
Apenas tenho os olhos abertos
E condeno aos cães os que governam
Deixando morrer à mingua
O povo que eles “querem bem”!

Brasil, terra de impunes,


Lugar fétido e desolado.
Ó Brasil, pobre de ti
Que estás a morrer aos poucos
Com o câncer incurável da ambição.
Tu que és feito de incoerências
E de mentiras, sarcasmos e podridão!

Deus! A Ti jogo meu destino


Que será deste país divino
Se todos querem a fatia maior do bolo? (Que
rolo!)
O que será feito do amanhã?
Se hoje já é uma incerteza...!

_______________________
| 208
Pedaço de gente
_____________________

Tudo acabou
A festa terminou
E eu para variar
Fiquei sozinho.

Os sonhos de te ver
Os desejos de te possuir
Tudo não passou de um pesadelo
Que ontem terminou
Com final infeliz
Triste para mim.
Porque Deus é tão cruel assim
Porque minha vida...
Que vida?
Eu não tenho mais coragem.
Como é que fica
Meu coração à mil...
Parou.
E eu...
Chorei por te perder.
Não me amou
E eu...? E eu...?

_______________________
| 209
Pedido
_____________________

Múltiplas vezes eu tentei


Sem obter tal resultado
Quando um dia eu chorei
Por não me sentir amado

Eu vou fazer-lhe um pedido


Que venha até o meu coração
Pois agora eu estou perdido
Passando as tristezas em vão

Mas o tempo passa correndo


E sem perceber estou morrendo
De saudade de um amor

Estou farto dessa dor


Eu só quero é amar
Em uma praia
Sob a luz do luar

_______________________
| 210
Pensamento
_____________________

Caiu a última gota de esperança,


Aquela que nunca morre.
Um dia tem que se acabar...
Após tanta insistência.
Tanta persistência
Tem que morrer assim...
É como o vento que leva a vida
A morte: sorte de quem não tem
E toma de assalto
Aquela que não é ninguém...
A vida de algum alguém
De carne apodrecida
A Nossa Aparecida, reza, reza, reza...
Que jaz no além!

_______________________
| 211
Pensamento vadio
_____________________

Para longe de mim, o meu pensamento foge


voando.
Caminha muitas jornadas numa busca em vão,
Passeia por lugares lindos, chorando e amando
Lindos luares, um belo ocaso no sertão

Que razão teria ele para descobrir algum


caminho?
Se nem ao menos um triste amor existe
Qual o motivo de tanta agonia? Sozinho
Eu e ele discutimos... porque ele insiste

Em continuar o passeio sem motivo,


Acabe com isso agora, meu pensamento
Volte para mim. Sou um vulcão ativo
Tenho a fúria de mil vulcões por dentro

Retorne de novo para iniciar novamente


Sua longa jornada triste e agonizante
Que por sua vez torna-se alegre, felizmente
E continue assim, pensamento ambulante...

_______________________
| 212
Pequena poodle
_____________________

Tu me vieste de manso
Chegou de tão distante
Do encanto de mil noites
Olho-te seguido e não me canso
Sinto-me como um gigante
Sou a dor de teu açoite

Deito-me em teu regaço


Recito versos, embriagado
Tu és toda fascinante
Flutuo, então, pelo espaço
Vejo teu corpo enluarado
À beira de um riacho borbulhante

Caio a teus pés... submisso


Aceito-a de corpo e alma. Santa
Que meu amor nunca condena
Sou eu o príncipe omisso
Que hoje e sempre se levanta
Para colher-te um buquê d’alfazema

Amo-te mais que a própria vida


Quero tê-la sempre comigo
Desejo seu amor sempre ardente
Tu não sabes o que sinto, querida
Sei que sou um tolo, um banido
Que te ama e sabe o que sente.

_______________________
| 213
Perseguição
_____________________

Entre lugares mais distantes


Fugindo com afinco das perseguições
Fui seguido a todo instante
Por muitas léguas, por várias regiões

Entristecido pelo amor


Enraivecido pela dor
Procuro a vingança
Quando a ira alcança

Não tem sentido viver


Se não há quem amar
Ter preferência por morrer
Ter a tristeza para chorar

Chega de tanta tristeza


Meu coração entra em profundeza
Na melancolia deste triste viver
A única coisa que quero é morrer

_______________________
| 214
Pesadelo
_____________________

Dormir é como morrer


Mas acorde para viver
Viver para, então, sofrer
Prefiro morrer, para tudo esquecer

O amor aperta o coração


Faz-me sofrer, ter ilusão
Sentimentos horríveis que se vão
Sem fazer barulho, voltam. Maldição!

Estatizado, parado, sem ninguém


Sofro a dor da vida, com alguém
O mais doído sofrimento do além
Rogo à Deus: Vem para mim, amém
Lutando, sem parar de batalhar
Solidão. Procuro me desvencilhar
Não consigo. Será que vale a pena lutar?
Respondo: Vivo a minha vida toda a sonhar.

_______________________
| 215
Pique
_____________________

Na inconstância do tempo
Que passa livre e solto
Grito um berro louco
E fico, em vão, atento

No compasso dessa dança


Briga corpo e alma
Luta com paz e com calma.
Caminha altivo não se cansa.

Desenfreado, leio o seu ser


Olho dentro do seu olhar
Vejo dentro do seu viver!

Caminho nas veias da sua vida


Sinto que não tenho prazer
Para continuar essa corrida!

_______________________
| 216
Pode ser
_____________________

Pode ser sonho e fantasia


Ou desejo e ansiedade,
Pode ser um pedaço do céu
Ou orgulho... ou vaidade
Pode ser gosto de menta,
De cereja ou de pecado
Pode ser um pesadelo,
Um suspense ou desenho animado!

Pode ser tanta coisa


Entre divino e terreno!

Pode ser paixão ou fúria,


Lógica ou imprecisão,
Pode ser um grande amor
Pode ser volúpia. Pode ser decepção.
Pode ser uma estrela
Ou até o cometa fujão.
Pode ser que eu te ame
Mas também pode ser que não!

Pode ser que esse amor nos devore,


Nos esqueça, mas não se acabe,
Pode ser que o sonho ainda se faça realidade!

Pode ser a maior estória de amor


Com pedras pelo caminho, brigas e
indecisões...
E um final feliz!

Pode ser...

_______________________
| 217
Ponto do horizonte
_____________________

Ao poente do sol
Atrás das montanhas
Fica um horizonte
De alegrias e tristeza
De sorrisos e lágrimas...
Lá é o inferno!
Lá é o paraíso!

_______________________
| 218
Poesia
_____________________

Uma linda canção de amor


Afeto que nos deixa no ar
Sentimento único de dor
Na beira da praia com luar

Rima com rima, embelezando


Poesia, caio em pranto
Versos lindos, lágrima morta
Em um chalé, de porta em porta

Perdão em choro, um namoro


Tendo um choque de repente
Escuto o barulho da serpente

Fico contente com a morte


Dor terrível que sufoca o coração
Uma criança e seu cãozinho no chão...

_______________________
| 219
Promiscuidade
_____________________

Ao romper da claridade
O som pesado do trovão
Interrompe um relâmpago
Que reluz como aviso
Serei eu um bandido?
Ou um desterrado banido...?

A confusão me envolve
A cada minuto que passa
O odor do ódio dissipa
O mau cheiro da caça
Abatida, sem alma e sem vida

Soou a hora profana


O mundo todo inflama
E grita... e proclama
Chora, berra e reclama
As horas que não insanas
O poeta declama
O homem exclama
A aranha na lama
O queijo e a ratazana
O mundo...
Envolto em chamas...!

_______________________
| 220
Protesto à minha moda
_____________________

Abre o olho, cara.


Que é que tá havendo?
Pô, meu...
Você nunca agiu assim...

Que é isso, cara.


Tão pisando em você,
Você não tá sentindo nada?
Ei, e o teu coração...

Desliga, meu.
Tu não pode (sic) ser assim.
Volta a ser você mesmo.
Não marca bobeira!

Vai de cara no point.


Agita uma onda
Cai na real. Vive!

Sai dessa merda!


Não vale a pena,
Você merece mais...

Sem essa de ser capacho.


O lance é de escracho.

Você é único, cara!

_______________________
| 221
Quarta parte
_____________________

Luzes, imagens
Planetas
Viagens...

Os sonhos guardados nas pedras do rio


Segredos maldados
Caminhos
Desvios!

Estranhas paragens
Os cortes vazios
As espumas e o sangue
Os olhos vadios...

Qualquer coisa vou imaginar


Os sussurros que vou escutar
Os toques da vida
O pique...

Toda inconstância, velha tolerância


Todas as belezas,
Inconscientes
Incandescentes primaveras.

Sempre,
O gato mata o rato,
Morre de sede a semente
Que semeia meu sorriso
Minha vera parte, louca
Indecente
Mistérios, enchentes
Via láctea,
Sonhos azuis,
Céus,
Estrelas...

_______________________
| 222
Tudo que supus!

Eu, no meu deserto


Meu destino incerto
Tenho o meu viver secreto.

Tudo é arte
Viva Marte!
Estoura a vida.
Nasce a minha quarta parte...!

_______________________
| 223
Quatro versos
_____________________

Por que choro nessa hora ingrata?


Por que magoo o meu coração?
Por que lamento essa solidão?
Por que não escolhi outra saga?

_______________________
| 224
Que dor
_____________________

Que loucura
Essa vida tão dura
Vivendo na pendura
Cercando a sorte
Não deixando escapar
A caveira da morte
Para quem quer se matar!

Que tristeza
O que falta é beleza
Uma pitada de destreza
A dádiva da natureza
O corpo nu e cru
Mostrando o gosto forte
A cor do céu azul
O sangue que sai do corte!

Que migalha
Esse amor encalha
Esse coração espalha
O sabor do amor
Que dor... que dor!

_______________________
| 225
Quem
_____________________

Quem chorou
Quem sorriu
Quem amou
Quem fugiu

Quem sofreu
Quem se doeu
A vida viveu
E por ela morreu

É a grande verdade
Salve a liberdade
Deixa disso amor
Pare de sofrer essa dor

Terrível é aquele ser


Que não viveu
Que não sofreu
E não pode morrer

_______________________
| 226
Quero
_____________________

Quero ser o príncipe encantado


Quero dar o meu amor cantado
Quero ter o seu amor ardente
Quero ter o beijo da serpente
Quero abraçar-te com minha corrente
Quero ser o vulto muito mais coerente
Quero ser herói e também vilão
Quero um pedaço gordo desse pão
Quero seu coração carente
Quero ser o seu homem pela frente
Quero sua vida junto da minha vida
Quero estar amando junto ao riacho

_______________________
| 227
Questão de amor
_____________________

É um olhar apaixonado!
É um abraço mais afetuoso!
É um beijo extraviado!
É um assopro carinhoso!

O que é o amor?

É um sentimento especial
É tudo aquilo sem palavras
É uma vida sem igual
É o início de uma estrada

O que é o amor?

É uma hora mais vivida,


É um beco sem saída.
É o momento que passa
É a minha desgraça...

_______________________
| 228
Rato
_____________________

Sou livre, sou humano


Vivo às tontas pelo mundo
Perdido em torrentes
Entro pelo cano...
Fico cego. Fico mudo
Me abraço às correntes

Maníaco, doente
Sou livre, sou decente
Em meio às mesas de bar
No cais do porto
Na terra, no ar, no mar

Vivo em meio a comunidade


Em todas as santas igrejas
Sinto o jogo que pega fogo
Que recolhe os irmãos carentes
Alvorada que desperta
Os bandeirantes, que covardes

Sou um ser, sou um fato


Sou um monstro, sou um rato!

_______________________
| 229
Razão da embriaguez
_____________________

Vou me embriagar
E caminhar por aí
Chutando as latas do chão
Chorando a mágoa
Da minha paixão

Vou me embriagar
E caminhar por aí
De cabeça baixa
Escondendo minhas lágrimas
Que rolam soltas como magma

Vou me embriagar
E caminhar por aí
Triste é a minha sina
Isso sempre me arruína

Vou me embriagar
E caminhar por aí
Tentando esquecer do amor
Que nos envolveu até chegar a dor

Vou me embriagar
E caminhar por aí
Andar até cair na calçada
E lá ficar por toda madrugada

_______________________
| 230
Razão do poeta
_____________________

Todo poeta tem sua razão!


Se o poeta quer viver
É porque há uma razão
Se não haveria confusão
Quando o poeta fosse querer...

Ás vezes o poeta perde a razão!


Fica omisso ao meio
E ao povo que o acolheu
Ouve o sino,
Sente o seio,
Sente a falta do amigo
Que há tempos já morreu...

O poeta tem razão


Em dizer que este mundo se perdeu
Pois se não há respeito
Nem para o supremo Deus
E Zeus...
E os seus e os meus
Não há quem de jeito
Em uma carne que já fedeu...

E fica no ar
Um cheiro estranho
O zunzum das vozes
A conversa de bar!
Entre lírios e rosas,
Ódio e paixão
O poeta sempre faz
O que lhe manda a razão

_______________________
| 231
Realejo
_____________________

Brilha o sol
O fio do punhal
Vem e fim
O socorro virginal

Sou ateu
Da religião
Dos mortos de Deus
Neste mundo cão

O som suave, puxa e tira a sorte


O homem mau, aponta e atira... corte

Vivo em desencontro
Alheio ao caos
O som metálico da lâmina
Cortando fundo a lânguida carne

Ouço o som da brincadeira


Ressoa no parque! Dia de sorte!

_______________________
| 232
Realidade
_____________________

Alguém pede
Algo fede
Abutre ronda
Homem sonda

Progresso chegando
Nos bancos de praça
Namorados amando
Distinção de raça

Máquinas iludindo
Toda boa vontade
O ódio se esvaindo
Sinônimo de maldade

Sem truque, nem mágica


Vou levando esta vida
Cada vez mais sem saída
É outra realidade trágica

_______________________
| 233
Recôndita personalidade
_____________________

Recôndita alma vivida


Que da vida ressurgiu
Fiz-me parar na saída
Que por milênios me abrangeu

Da morte veio a vida


Na vida, o pranto chegou
Mais para entrar nessa rima
Que o autor a invocou

O que será que esconde


Uma segunda vivência
Eu me pergunto: Onde?
No inferno, no céu, na falência

Ponderando tais fatos


Concluo a imortalidade
Que existem tais tratos
Para chegar à verdade

_______________________
| 234
Reflexão
_____________________

A pior traição romântica


É um amor inexistente

Que do semblante do fruto


Dá-se a existência da semente

No instante que nasceu


Já era o momento passado

A vida, em suma, é sofrer


É sentir-se sempre amargurado

Em dia de solidão sóbria e serena


A vaidade da sabedoria é maior

Na escuridão dos pensamentos


Vagando no vazio fica a pior

O dia que se é descoberto


O amor presente acaba

Em sua ausência dolorosa


Fervorosa fica a consciência pesada

_______________________
| 235
Rejeição
_____________________

Remoendo tristezas antigas


Aparece na garganta um nó
Vagarosamente vou ficando só
Mergulhado em lágrimas amigas

Que sentimento duro é o amor


Que nos traga e estraga o coração
Sobre o rosto eu junto minhas mãos
Para não demonstrar toda minha dor

Volta-me memórias infelizes


De um tempo que já se desgastou
Lembro-me das tristes raízes

Apinhado de problemas infindos


Articulando milhares de paixões
Rindo a cada instante nunca findo

Sentimentos agonizantes
A mais cruel das emoções

_______________________
| 236
Remanescências
_____________________

Sinto, ainda, o cheiro da sua boca


O gosto do seu beijo,
As formas pronunciadas do seu corpo.
A poesia de estarmos nos amando!

Sinto essa energia tão pura,


O amor pulsando em mim,
A cada olhar,
A cada toque!

_______________________
| 237
Remorso
_____________________

Remorso,
Sinto a dor fustigando
Vejo o pobre mastigando
Ouço seu coração palpitando...
... tão longe,
Como um lamurio
A perdurar na caminhada,
Triste reza salpicada
E as pétalas de rosa,
Mais alva que a neve,
Reluz orvalhada...
E eu sei que não contenho
O amor que abstenho
Da minha sina amaldiçoada!

Remorso,
Sinto a pele arrepiar
E uma lágrima rolar
Deste seu rosto de rainha...
Mas não passa de princesa,
Filha do amor e da beleza...
...Triste é a natureza,
Toca o lamentoso hino
Deste meu agonizante destino
E percorre as veias, buscando
O que nunca se perdeu
Mas também nunca começou
E tampouco terminou,
Mas... já morreu!

_______________________
| 238
Renascença
_____________________

Ah!
Um sol de ouro!
Oh!
Chuva de prata!

É... a vida é linda,


Com música,
Com muito amor...
... e cachaça!

Se o tempo voa
Vou junto dele
Se a hora é boa
O extremo bem da vida é o mar
E viver é só prá sonhar
E sorrir!

Mil flores vão nascer...


Na renascença desta nova alma
Sem diferença
Com calma
E com esperança
E com amor...!

_______________________
| 239
Renascimento
_____________________

Um choro de criança
É como uma gotícula
É o nascer da esperança
São laços se unindo em liga!

Os primeiros passos
Os carinhosos abraços
Um sorriso bonito
Uma palavra. Um grito.

Recordo-me muito bem


Do dia que o mundo o recebeu

Enquanto você chorava


Todo mundo ria
Em contagiante alegria

Hoje, o presente
De muita gente
É ver um sorriso seu
Do anjinho que renasceu

_______________________
| 240
Rendição
_____________________

Chega!
O meu coração já explodiu.
Não aguento essa dor
Chamada de amor!

Chega!
O delírio já passou,
E a febre cessou
De queimar minhas lágrimas!

Chega!
Estou sonhando amor
Vivendo e querendo morrer
Vou explodir de dor!

Chega!
Vale a pena viver...
Se não há mais amor?
Estou agonizando!

Chega!
Escrevo o outro lado
De um pobre coitado
Que rendeu seu coração...!

_______________________
| 241
A resposta é
_____________________

Toda hora, todo instante nos encontramos em


perigo
E nessa hora, nesses instantes precisamos de
um amigo
Toda hora, todo instante nos encontramos em
felicidade
E nessa hora, nesse instante para compartilhar
uma amizade

Seria possível, um amigo de verdade


Cair no ato de uma maldade
Deixar o próximo vagar ao longe, no além
Virar a mente, distorcer totalmente, porém

Um amor desiludido, uma vida agitada,


arrasada
Uma paixão resplandece, uma conversa... que
nada
Tudo na vida nós arrumamos, com o coração
na mão
Deixamos uma casa que levamos... uma vida?
Não.

Qual é a verdadeira sabedoria, que cria, que


ilumina
Qual é o caminho certo, não o incerto, que
está por cima
Qual é a origem do amor, terror, no grande
cerco
Qual é a origem do ódio, da raiva, nisso tudo
eu me perco

No fim a resposta é sempre a mesma. Não sei,


com certeza

_______________________
| 242
Ninguém consegue responder para ninguém,
porque incerteza?
Quando eu me pergunto, adjunto: Quando
será o fim?
O som ecoa na montanha e sonha, não é bem
assim...

Por fim tenho um objetivo, que alcançarei, isto


é certo
Mas não sei quantos anos ou décadas, a
resposta está perto
Afinal ela chega, toda imponente, contente. É
a realidade
E eu a vejo claramente na minha frente: A
bondade...

_______________________
| 243
Revoada
_____________________

Eu queria voar como as aves


Que me instigam a fazer este poema
Que me demonstram um problema
Este mistério que nos traz os males

Infinitos são os animais alados


Observando-os quieto, bem calado
Me estimulando a viver mais um pouco
Mesmo que nesta vida eu me torne um louco

É a revoada que nos faz sorrir


É esta vida amarga que me faz fugir
Toda essa passarada no céu
Faz-me sentir aprisionado no véu

Asas e penas é o passarinho, ave esta


Que nos mostra a vida que nos resta
Através da poesia, que me faz sonhar
Nos deixa em festa. Nos permite amar.

_______________________
| 244
Rodopio
_____________________

Vem,
Vamos sonhar!
Cantar uma canção antiga,
Uma antiga canção de ninar!

Vem,
Vamos ouvir!
O pio do passarinho
Construindo seu ninho prá morar!

Vem,
Vamos falar!
Gritar o seu e o meu nome ao vento
Eternizar-nos pelo tempo,
Deixar cair a noite ao relento e suspirar!

Vem,
Vamos amar!
Entregar-nos de corpo e alma
Sob o sol poente à bater palma,
Sob a lua branca, cálida
Tocar o agreste do seu corpo
A sua pele pálida.
Trocar um beijo, luzir um desejo,
Ao sentir um arrepio.

Banhar-nos de suor.
Eu te abraço. Você me abraça.
Mais e mais forte
Até não sentirmos mais frio
Até, então, entrarmos em rodopio!

_______________________
| 245
Romper da claridade
_____________________

Traição...
O mundo caminha e cambaleia
Conforme a louca tradição
De matar pelo prazer,
De amar sem amor...
Um dia o mundo arreia
Em meio a todo esse horror!

Fui traído... fomos traídos...


Somos todos traidores
Vivendo de luxúria
Vivendo de amores
Somos loucos e inocentes
De igual nocividade
Todos nós somos carentes
Presos pelo elo da corrente
Da maldade, da bondade
Porque o fim da mocidade
É a grande novidade
Pois hoje tudo é poesia,
Mas amanhã será realidade!

Enfrente todo desamor


A desconfiança da virtude
Porque seres tão rudes
Se não temos dor!

Então, o cerco romper-se-á


E a corrente vai quebrar
Sairá do interior da terra
O monarca da Nova Era
Que virá para reinar...!

_______________________
| 246
Roseiral do amor
_____________________

O amor é como uma linda roseira


Com botões bonitos atrás da porteira
Do coração, guardando segredos
Nunca antes vistos no enredo

Grande ironia nos espera ansiosamente


Para captar qualquer sinal que desmente
Os espinhos do ciúme e da desconfiança
São cortados pelo amor que até nos cansa

Lindas pétalas cobrem o botão de rosa


vermelha
Quando desabrocham com a vinda o orvalho
gelado
Passando noites e noites vendo as reluzentes
estrelas
Não dizendo nada, não pensando em tudo,
mas tendo falado

Para qualquer um sobre o amor inexistente


Que qualquer minuto nos diz o amor na mente
Alguém nos estende as suaves mãos
As folhas caem no chão dos corações

_______________________
| 247
Rotina
_____________________

Um café fumegante
Depois de um dia tardio
Um tanto esfuziante
Sendo este tão vazio

Sentei-me na poltrona
E fiquei a meditar
Acendi meu charuto
Ouvi o som da sanfona
Então comecei a lembrar
Do dia do seu luto

A fumaça malcheirosa
Se perdia pelo espaço
A lembrança indecorosa
Fez-me louco em teu regaço

Então chorei... então lembrei...


Em vão tentei sorrir
Tentei até me refugiar
Eu vi que não podia fugir
Nem tampouco deixar de te amar

Ah, a falta que você me faz


Me deixa angustiado
E me põe no meio dos extremos,
Entre o Senhor e entre o diabo.

As lágrimas me correm e eu tento,


Me arrebento e não consigo parar

O dia em que você partiu


Voltava alegre pelo aumento
Trazia-lhe muitas flores
Um bocado de cores

_______________________
| 248
E um sorriso...

Quando eu a vi deitada, ensanguentada


Tive a impressão de que iria explodir
E meu coração começou a morrer aos teus pés

No fim de uma triste lição


Que aprendi cheio de mágoa
Com os olhos rasos d’água
Pedi-lhe perdão...!

_______________________
| 249
Sanctu
_____________________

Fui conhecido nesse mundo


Como pobre indigente
Fui chamado de vagabundo
Inútil e indecente

Sem trabalho nem comida


Saí a caminhar
Afastando-se do meu meio
Que outrora vira-me brilhar

No berço em que nasci


Muita gente abençoou
Tive glórias e derrotas
Nesta vida que vivi

Hoje o mundo me aclama


Pede ajuda, pede amor
Revivo minhas batalhas
Esqueço minha dor

Caminhei por muitas estradas


Que a vida me levou
Escolhi o meu caminho
Que o destino reservou...

_______________________
| 250
Sangria
_____________________

Chega um dia na vida da gente


Que tudo o que o coração sente
Torna-se obsoleto
Um objeto de contrapeso
E um amor degenerado

Assim como conta o fado


Da triste terra do nosso lado
O amor é cego
Depois eu nego
Com as forças dos deuses

Foi dito por mais de mil vezes


Que do amor resta o vício
Que se entrega ao suplício
Na loucura de um estouro de reses

E então farfalha,
Brilha a navalha,
O navio encalha...
E começa a batalha!

_______________________
| 251
Satisfação
_____________________

Começou a nova década que brilha


É mais um ano que me humilha
São novos tempos seguindo a trilha
Amando a quem não lhe amará

Sonhando com quem nunca pensará


Vivendo com quem nunca viverá
Morrendo por alguém que não adiantará
Acabando triste e ir só, pelo mundo afora

Acho que é melhor eu ir embora


Assim não dá, creio que chegou a hora
Senão eu fico assim e justo agora
Uma nova vida resplandece

Algo por dentro me engrandece


Uma barreira fina me arrefece
Meu amor, ah, se você soubesse
Todos os sacrifícios feitos em vão

Será que servirão ou talvez não


Para eu tentar levar seu coração
Por isso você me estenda a mão
Para, então, satisfazer essa paixão

_______________________
| 252
Se a canoa virar
_____________________

Falo por mim


E a mim mesmo falo,
E se escuto
Então me calo...

Faço minhas artimanhas


E se as faço
Ninguém tomará por conta,
Só eu e ninguém mais...

Se tenho espírito rebelde


Sou criança e brinco
Ao menos tenho coragem
De olhar frente à frente
Quem ousar me encarar
Sem fazer rodeios...

Quem chora e pia sem dono


É dono de ninharias
E sementes mal plantadas...

Não!
Não condeno e nem desejo mal,
Apenas repudio e tenho dó
Pela pobreza e infelicidade
Abatidas e exoneradas
Na sede de quem fala por mim
Pois não sabe o que fala e não se conhece,
Somente contradiz
E cai de joelhos em desespero.

_______________________
| 253
Seis de agosto de 1945
_____________________

Ah!
Tormenta e dor, eu sei,
Escuto os gritos abafados e uníssonos,
O choro das crianças e todas as horas...
O instante que não acabava e nunca acabaria;
Eu ouvia os impiedosos, os beatos, os ricos e
os pobres
Gritando e morrendo seus gritos no silêncio
inócuo das trevas
E o cântico dos pássaros pararem e o sol
apagar, ah!
Eu vi o dia misturar com a noite e não vi o
homem...
Não há mais homem... o resto voltando à
terra!
E os deuses vivificados pela fé
Acabarem soterrados sem dó
Pelos sonhos da gente!
A chuva de fogo e ardor
A terra em pleno vigor
Não era nada agora!
Éramos vítimas...
Da ganância e da loucura
Do estúpido desejo de ter
De poder... e dói em mim
Ver que nada mais somos
A não ser... humanos!

_______________________
| 254
Seca in vino acre
_____________________

Todo esse amor,


Essa farsa maligna
Esse grupo, essa vida
Esse teatro de marionetes
O fumo, a bebida.

Todo esse ardor,


Esse programa de tevê
Esse drama, esse cinema
Essa história no clichê
O problema, meu poema.

Todo esse horror,


Esse leve torpor
Esse engano,
Esse falso pudor, esse temor
A iniquidade dos movimentos
Libertos pelos pensamentos
Estranha prisão da Ilíada, entrecortada
A voz meio apagada. A vida emaranhada!

Toda essa idolatria


A reportagem
Absorve minha imagem
E faz crer a simpatia
Que todo instante isola
Amola,
Me pisa,
Me bota na sola.

O vento dá-se ao talento


Os quatro cantos do templo
Morre no desalento
Sem sentir-se no relento
E a vida de quem sabe jogar com a sorte

_______________________
| 255
Acaba no fio dessa navalha,
O desprezo,
Tolhe e maltrata
O último canalha.

O pássaro lida com a solidão


Espanta essa sensação
Espalha o cheiro no ar,
A incessante nostalgia,
E a ilusão de querer te amar...!

_______________________
| 256
Semente do amor
_____________________

O amor é como uma semente. É como uma


planta que nasce e germina
Morrer, talvez não, mas sempre é possível. E
quando a semente vive,
Ela dá frutos. Os mais belos frutos que se
podem imaginar.
Uma pequena semente no coração germina e
vai crescendo lentamente.
Mas essa operação é incansável... a menos
que algo a interrompa.
Quando a semente do amor tiver folhas e
raízes ela está fixa...
Pelo menos pensamos que sim. Porém um
forte vento a derruba e ela morre.
Novamente a semente é plantada e o amor
mais forte faz com que ela,
Mesmo na geada do ciúme, na tempestade do
ódio, sobreviva, pois...
Aí está presente o mais belo sentimento: o
amor, brilhando...
As raízes vão se aprofundando até que a
grande árvore da paixão
Finalmente de fixe definitivamente no chão do
coração.
O tempo passa e desse amor surge um filho.
Dessa árvore surge o fruto
Momento sublime esse, que nem em palavras
se expressa, mas as vezes,
O solo se cansa e as folhas caem uma a uma e
as que restam secam.
Mas na primavera do amor volta tudo e
novamente vemos as folhas verdes
Demonstração essa que fiz para dizer que no
amor tudo é possível,

_______________________
| 257
Como também imprevisível. E em uma
plantação ocorre o mesmo...
Finalmente explode e vem à tona, todo o
amor, como em uma maratona.
Assim o mundo roda e gira... e vivemos assim
para morrer vivendo...

_______________________
| 258
Sentidos sentimentos
_____________________

Os olhos que veem minha vida


Não escolhe os caminhos a seguir
Mas há algo que me intriga
Em uma explosão que há de vir

Dentro da minha cabeça confusa


Reina um mal que me mata
Essa tristeza é uma intrusa
De dois gumes é essa faca...

Escuto as bocas me ridicularizarem


Por trás de minhas costas, o riso
Doendo, a amargura lateja forte

Meu coração diz para ficarem


Pois a solidão é meu único piso
Mas minha salvação é a morte!

_______________________
| 259
Sentimento maior
_____________________

Sob chamas ardentes de inveja e ódio


Está o mais belo dos sentimentos, sem dúvida
Sob ondas impetuosas de brigas, brilha algo
belo
Sob intenso furacão de lágrimas, há uma
suave brisa
Essa brisa que cada vez mais, cada dia mais
que passa
Um sentimento apenas fulmina os demais
horrores
Que Deus criou para que combatêssemos
incessantemente
Aquela irradiação de bondade. Corações
palpitando
E tudo em sua volta aquietando, lentamente
Ressalta novamente, depois de vários anos
calado,
Silencioso, o sentimento maior, aquele que...
Vence barreiras, combate o mal, destrói a
dúvida
Extermina a inveja, corrói as brigas... e muito
mais
Que sentimento tão sublime, que é o mestre
dos sentimentos
Em uma amorosidade, cheio de bondade...
compaixão, será?
Todos conhecem, mas muitos não o tem
dentro de si
Eu tenho em excesso e outros tem em
regresso
Pois eu repito novamente que esse sentimento
é tão sublime
Que não tenho coragem de pô-lo neste papel
Seu nome está na boca de todos e o seu
espírito caminha

_______________________
| 260
Silenciosamente por todos os recantos do
coração
O amor é o sentimento-mãe, o amor é a
palavra-chave
E com ele conseguimos de tudo... inclusive a
desilusão.

_______________________
| 261
Sentimento presente
_____________________

Sentimento tão sublime, que poucos o sente


E aqueles que sentiram sabem como é
Maravilhoso, como reforma e como semente

Em todo lugar está presente... em todo o


canto
Do mundo há sua marca, tão bem-vinda
Até mesmo Jesus Cristo e seu manto
Na calada profunda, digna. Ele é lindo

Pudesse alguém o sentir como eu


Chorar sorrindo e sorrir chorando
Houve quem o sentiu, mas ele já morreu
Com uma criança riu e ficou até falando

A amizade destrói barreiras, abre caminhos


No ímpeto do insucesso, o amigo vem
Para animar com palavras e carinhos
Determinar com emoção e lá se vai para o
além

_______________________
| 262
Sentir
_____________________

Sentir a carne
O gosto de amar
Não sabe se ama
Ou se queima
O fogo que arde
No céu da realidade

Sentir o cheiro
Em uma névoa insensível
De perfume invisível
Do divisível amor
Que corrói a alma
E aumenta a dor

Sentir o beijo
Que nunca foi dado
Mas que foi exterminado
Arrasado em um momento
Eterno é o tormento
Do meu coração judiado

Sentir o calor
Aquecendo minha alma
Esquecendo da dor
Ver estrelas nos seus olhos
Amar sem ser amado
Explodir a emoção

Sentir o lábio
Que não beija
Que não fala
Que não deixa
Mas que ri
E também se cala

_______________________
| 263
Sentir o sentimento
Em um sóbrio momento
Em um ágil movimento
Entremeado de desejo
Com a graça de uma bailarina
Intumescido pelo meu tormento.

_______________________
| 264
Sereia
_____________________

Seu corpo jovem e quente


Banhado pelo sol ardente
Reprime toda a emoção carente
Que existe no ser independente

Toda a poesia pousada


Na antiga pele rosada, ora queimada
Bronzeada de emoção
E calor, tende a advir
E sorrir...!
Você com seu forte desejo
De abraços e de beijos

Seus longos cabelos


Banhados pelo mar
Flutuam livremente
Como se fossem no ar

Toda vez que fito seus olhos


Que ficam me olhando
E grita... o meu coração palpita
Mais forte que a agonia
De ter mil quilômetros de saudade
E paixão... que nos separa
A espera d’outra ocasião...!

_______________________
| 265
Shangri La
_____________________

Na longínqua terra fria


De Shangri La
Vive-se em ouro e prata
Fruto do trabalho
Fruto do que se cria...

No lugar onde o sol


Não se esconde de repente
E o mel
E o céu
Tudo é luz
Não há fel
Só há amor
E paz...

Shangri La,
Há de me abençoar
Neste paraíso
De forte desejo.
Shangri La,’
Terra fértil
Povo alpino
Benze o cimo
Das montanhas...

E os monges
Perpetuam
Nas entranhas
Mais estranhas
De um poder desconhecido,
E peço ao Buda
Que me acuda
Não se zangue, nem fique aborrecida
Quero apenas
Ser amigo

_______________________
| 266
E amar...
E muitas vezes...
Sonhar...
E muitas vezes...
Amar...!

_______________________
| 267
Silêncio
_____________________

Silêncio...
Quebra o ódio da violência
Vazando o sangue que resta
O fogo consome a experiência
De tudo que inda presta

Silêncio...
Mancha teu nome por incumbência
de Deus Nosso Senhor e Salvador
Calais a boca na ocorrência
Por não saber o que é o amor

Silêncio...
O inferno clama tua presença
Grita, chama, berra e inflama
O monstro que veio da Renascença.
Batendo as asas da infâmia

Silêncio...
É a fala do velho vadio
Que pesca à beira do rio
São as rugas do rosto cansado
E o descanso do pobre diabo...!

_______________________
| 268
Sina
_____________________

O seu jeito de me olhar


O seu jeito de me falar
O seu jeito de me tocar
O seu jeito de me amar

O feitio de sua boca


O feitio do seu corpo

O brilho nos lábios


O perfume que embriaga

A sua boca murmurando


As palavras esparramando
No meu coração não há lugar
Para quem não queira amar.

Eu amo essa voz


Eu amos seus olhos
Que me olham
Atravessado

Eu amo essa boca


Eu amos seus lábios
Que me disseram:
Está terminado...

_______________________
| 269
Sinal vermelho
_____________________

Você que me viu chorar


Você que me viu sorrir
Você que me viu amar
Você que me viu fugir

Olhe para mim


Veja... eu existo!
Eu sou um misto
de amor e de esperança

Você que me ouviu falar


Você que me ouviu gritar
Você que me ouviu cantar
Você que me ouviu calar

Escute-me agora,
Ouça o meu coração
Palpitando uma canção
De sonhos... por você!

_______________________
| 270
Solidão
_____________________

Solidão, um vazio imenso, um espaço eterno


Solidão, uma dor no coração, um amigo
incerto
Por que andas acompanhada? Vá para o
inferno!
Tu matas pouco a pouco. Vadia é o termo
certo...

Oh, ingrata. Sentimento ou sofrimento?


Ninguém sabe ao certo, mas sabemos o
necessário
Acompanhas aqueles que pecam. Tu vens
como o vento
Tu matas muitos. Tu matas vários...

Por que vens me atormentar? Por que vens me


matar?
Fugir de nada adianta. O jeito é enfrentar
Para logo depois, mas tarde, me
desvencilhar...!

És a pior desgraça de qualquer ser vivo na


Terra.
Quando chegas tu vens quieta. Quando te
sentem todos berram
Não há meio de evitá-la. O jeito é esperá-la.

Quando chegas todos sofrem. Todos morrem.


Quando te aconchegas todos a conhecem bem.
Quando tu te vais, já e tarde... fomos para o
além...

_______________________
| 271
Somente para seus olhos
_____________________

Teus olhos
Levaram-me à um mundo fantástico,
Os sonhos me fizeram sorrir...
Era real,
Era vivo, sentimento único.
Viajava pelos teus olhos
Voando pelos mares de lágrimas.
Eles me mostraram maravilhas.

Eu vi pelos teus olhos,


Os seus amores, suas tristezas
Seus momentos mais doces.
Seu passado e seu presente.
O futuro só você guardou,
Escondeu dos teus olhos
E não me mostrou.

Mas teus olhos me dizem,


Contradizem...
E devem amar...!

_______________________
| 272
Soneto ao sonhador
_____________________

São tantas mágoas, tantas lembranças


São alegrias infindas, de amor
Para se sonhar, feche os olhos sem dor
Sinta-se nas nuvens, nuvens da esperança

Saiba como ver e como amar


Saiba sonhar, saiba sorrir
Imaginando um mundo feliz
Vendo aparecer um lindo luar

Sonhe mais um pouco, eleve-se


Sinta as maravilhas da natureza
Olhe em volta, todas as belezas

Siga em frente, o sonho descreve-se


Acorde lentamente, tudo se acaba
Veja bem, não resta mais nada

_______________________
| 273
Soneto da esperanças
_____________________

Paixões mais incríveis


Amores impossíveis
Tocando o coração
Com a triste canção

Agonia tão dolorosa


Diversão tão amorosa
Tão triste é a solidão
Um frio aperto de mão

Objeto insólito
Voando para escrever
É a alma do poeta
Pronto para morrer

Todo instante para sofrer


A dor constante do amor
Quem sabe se no alvorecer
Ressurja, à tempo, a flor

_______________________
| 274
Soneto da formosura
_____________________

Teu jeito encabulado


Mostrava mil encantos
Transparecendo um lado
E os sonhos e quebrantos

Teu coração dourado


Palpitava euforia
No seu rosto corado
Explodia a alegria

Teu ser maravilhoso


Irradiava emoção
Um algo a mais, formoso
Emanando do coração

_______________________
| 275
Soneto da lágrima
_____________________

Lágrima, gotícula que alivia


Toda mágoa em nosso peito.
Tira a dor mais dolorosa do momento
Em um grito desesperado, eu via

Quando estás triste em um canto


Jogado como um objeto, um rejeito
Digo agora o que foi feito
No auge do desespero, cai em pranto

E aplacando a raiva, destruindo o ódio


Leva, como água, toda a sua mágoa
Tira com força. Arranca do coração

Distorce da mente a imagem demente


Retira com calma ou com enorme fúria
Chora, e então, entra na agrura.

_______________________
| 276
Soneto da rivalidade
_____________________

Passada a existência de minha nefasta origem


Renasço novamente, para uma vida de amor
Em um simples parto mental, de um ventre
virgem
Transformo minha vida em retumbância
indolor

Abro, então, a minha mente aos céus e suplico


Uma benção divina para me auxiliar
Na minha vida cheia de ódio e perigo
E dirigir as palavras para bem amar

Para quem vivia em um reinado de agonia e


terror
Transportar-se para uma vida pura e
sentimental
É algo inexplicável, assim como o amor

Ante tal fragilidade e ironia do mal


Sinto que é para o meu bem mudar de espírito
Mas o amor sempre terá o ódio com rival

_______________________
| 277
Soneto da vida
_____________________

Será que existe vida depois da morte?


O existe morte depois da vida?
Pensando desse jeito, vou selando a minha
sorte
Numa grande benção obtida.

Tristeza de viver, ou vivência tristonha


Algo incomum acontece com o mundo
Reviravolta completa, surge a vergonha
Que cai bem lá dentro, no fundo

Do coração, o amor nasce e morre


Mas ele nunca se acaba e então corre
Do ciúme que o coração dilacera.

Inveja que o nosso peito trucida.


O gosto da ira é amargo. É ardida
É a vida que sem amor não se altera

_______________________
| 278
Soneto de um dia qualquer
_____________________

Espero algum dia alcançar,


Tudo o que o desejo desejar,
E tudo que o dinheiro comprar,
E tudo o que a ganância mandar.

Espero algum dia conquistar,


Tudo o que o coração mandar,
E tudo o que a vista alcançar,
E tudo o que o poder puder comprar.

Tenho fé que um dia ela virá,


Bordando as estrelas em fios de ouro...
Tirados dos raios do sol acará!

E então o moreno será loiro,


Ficará forte como um touro,
E depois de muita briga, explodira...!

_______________________
| 279
Sonho
_____________________

Foi naquele dia


Em que o vento uivava
E rebatia
A imagem criada
Só para te ver
E admirar...

Você não se lembra


De como eu chorava
Meus olhos ardiam em brasa
Que queimara
Naquele ávido instante
Minhas últimas
E derradeiras esperanças...

Aquela voz suave


E a pele macia
Eu nunca mais a veria
O tom acre e rouco
Da minha voz
Entrecortada e sem vida
Queriam dizer-lhe apenas
Que eu a amava...

Você estava impassível


Fria como gelo
Não era tão impulsiva
Como eu sempre desejara
Você era uma ilha
Cercada de carinhos
Mas não falava
E nem chorava...

Meu coração rompeu-se


E os meus tormentos transbordaram

_______________________
| 280
Pior de que amor perdido
É um amor frustrado
Precipitei-me à beira da loucura
E saltei deste penhasco
Que prendera minha vida vã
Mas cometi um engano
E morri... Mordi de sua maçã...!

_______________________
| 281
Sonhos
_____________________

Os sonhos voam ao vento


Em um lindo voo, bem lento
E passa dias na chuva e no relento
Da emoção destruiu-se o amor
Minha esperança desfez-se na dor.

Mas os sonhos continuam sua revoada


Tal qual a revoada feliz
Como se fosse uma nota entoada
Daquelas notas que nunca fiz

Os sonhos levam-nos ao encanto


Que aos poucos transformam-se em pranto
Dissolvendo-se na agonia maior
Misturando-se com o medo de sofrer
Causando a tristeza de morrer
Até um dia reviver no além

_______________________
| 282
Sopro de vida
_____________________

De uma união mais íntima


Vem ao mundo a nova geração
A longa espera em uma única ação
Torna-se uma poesia lírica

O poeta que é tão esquecido


Nunca esquece o seu poder
Escrevendo versos até morrer
Lembrando de como foi trazido

Ao mundo como em um sopro de vida


Rápido e maravilhoso mundo
Hostil e virgem, uma alma perdida

Para achar-se e desvendar-se o mistério


Vive-se uma vida inteira para viver bem
Mas o fim é sempre o mesmo: o cemitério.

_______________________
| 283
Tempo
_____________________

O tempo corre na ampulheta


E mostra nos rostos enrugados
Do que sua ação é capaz.
O tempo é a sabedoria. A paz e a conjetura da
guerra
Ele faz a justiça e cria a moda.
O tempo debilita a vista, mas estreita a visão.
O tempo isenta a razão
E por ela debate-se contra os sonhos.
O tempo e só ele é real
E é só com ele que enxergamos a verdade.
O tempo nos permite e nos tolhe
Nos culpa e nos perdoa.
O tempo é infinito, onipresente, onipotente.
Ele é a questão e a resposta,
A esperança, a história e a fantasia.
Temos de nos apressar, pois não há tempo,
Pois o tempo está acabando
E vamos sucumbir com ele.
E então só restará na face da Terra
Um vazio imenso... e todo o tempo do mundo!

_______________________
| 284
Tendências e nada mais
_____________________

Um dia virá a primavera


Pois o verão e o inverno
São filhos do outono.

Não!
Não me julguem culpado
Nem me julguem inocente!
Não quero piedade, nem comiseração!
Não sou um corcel negro
A correr pelos campos banhados de sol.
Tenho minha metade de vida,
Vivida e sentida.
Minha metade que um dia...
...irá se rebelar contra a outras
Que me causa tantos desejos
E me faz antônimo do que sou!

Nunca me condene por isto ou aquilo


Pois ninguém tem esse poder
Ou esse direito...
Deixe-me tentar ser eu de novo
Pois a cada passo dado
Caio em falso,
Rodopio sobre meu ego
E deixo minha vontade
Presa em um calabouço!

O calor e a alegria simples e comum


Hão de chegar e tomar conta de mim
Pois o inverno tem de acabar
E aí, só então, o corcel vai descansar!

_______________________
| 285
Tentativa
_____________________

Há de um dia,
Espalhar os risos e os prantos,
A Era da Não-Violência
A corrupção, a indecência.

Há vida nos arredores,


Os cânticos vazios,
Pobres doentes
Sem cor, sem nada.

A música não para


Os sonhos um dia virão despertos
Livrar o homem da terra, estourar a corrente
de ferro
Libertar a confusão e então alcançar o
hiperespaço
Viajar pelas estrelas, cantar as musas mortas
Cativar os viveiros inocentes, pássaros sem
asas,
Sereias, ratos e serpentes.

Os prédios que se erguem


Não passam de mórbidas criaturas
Prontas a nos destruir
As garras do demônio,
Guia fantástico, a ira do asco.

Os astros infames,
Redemoinham com sangue e suor
Espumas verdes e vermelhas,
Ódio de magmas incandescentes,
Esse ócio, a imagem da Via Láctea.

Enlouquecer as tristes dores do parto,


Saber-lhe os diversos segredos,

_______________________
| 286
Comprazei-me do seu sabor,
Amaina a sua ira e a minha ira
Escolha os lados e as faces.

Enristar-me na minha vã loucura,


Esquecer-me no meu são compasso
Acabar-me de desejos devassos
Abeberar-me de seus passos
Rasgar-lhe o ventre e deitar em seu regaço.

Matar... o desejo insano dos fracos


Tolerantes e minúsculos de cérebro
Seguem a trilha mais fácil e aberta
Vil, maldito seja o homem que jamais
desperta...

_______________________
| 287
Teu coração
_____________________

No coração pequenino
Um novo amor resplandece
O desconhecido
Reconhece

No coração pequenino
Que bate sem parar
Parou quando viu
O novo amor que surgiu

Sentimentos explodem
Até a última gota
Amam amores
Surgem rumores

O amor brotou do nada


E do nada ele cresceu
Cresceu, viveu e morreu
No instante em que nasceu.

_______________________
| 288
Traição à humanidade
_____________________

Tudo que é beleza


Amor
Tudo quanto é mulher
Tudo que o povo implora
Explora a alma
Que se quer
Sem se querer
Tudo que a gente sente
Reticente o amor

Tudo que a gente fala


Fala mais sobre o amor
E o bandido toca
A gaita, o baixo e o violão
E o mocinho esfola
E fica fora
Desse coração

Tudo que é atração


Tudo que é traição
O mundo vai parar
E vai sentir
Toda essa expulsão
De se ouvir
E chorar
E amar
A viola do aplauso
Da Divina Comédia
Maluca
Louco é o que dá ouvidos
À todos os bandidos
Que tocam nessa boiada
Para o brejo
Ficando a dominar
O ser inanimado

_______________________
| 289
Acabado, arrasado
Do homem atrasado
E estúpido luar
Mansamente
Eu sinto
Vou voar
E não vou voltar
Para não ver
E não assistir
O sistema implodir
Com a bomba na mão

_______________________
| 290
Traição, pimenta na boca
_____________________

Traição, pimenta na boca


Ódio que queima
Horror nos olhos
Sangue! Sangue!

Traição, pimenta na boca


Resposta no ato
Ardor na cabeça
Alma vazia!

Traição, pimenta na boca


Estupora a natureza
Arruína o pudor
Dane-se

Traição, pimenta na boca


Chega de conversa
Vomita tudo de você
Limpa sua ira!

Traição, pimenta na boca


É o fim
É um todo
É o nada!

_______________________
| 291
Transe
_____________________

Transe...
Maravilhar-se com tudo que há em volta
Sem ódio, nem revolta
Amar e sorrir
Entrar em transe...
E fugir!

Transe...
Escolher a alternativa correta
Trilhar o caminho
Destino...
Respiro a fumaça indiscreta
Do transe...
E do efeito do vinho!

Transe...
Saber-se o que quer
Ser homem ou mulher
Definir todo o enlace
Deste transe...
E me desembarace!

Transe...
Vazio de corpo e alma
Viver de paz, viver com calma
Amar o amor
Esperar a esperança
No transe...
De tal vingança!

_______________________
| 292
Trapos
_____________________

Acordar!
Encarar o mundo de frente.
Que peso.
Levantar dos meus sonhos
Sair das minhas ilusões
Cair no fundo do poço
Entrar de novo em depressão
Erguer a cabeça...
Não dá.
Chorar...!

Longo foram esses minutos


Esses trágicos instantes
Que me levaram à derrocada
O tombo na ribanceira
A noite é uma piada...
Ela se mantinha calada
E eu a ponto de romper as barreiras
Perder o medo
Sufocar!

A agonia...
Essa malvada,
Criança tola e indolente
A fantasia mais rebelde
O sorriso mais carente
O coração mais ardente
Eu..., feito de brisas,
De sentimentos, de carne
De amor e de ódio
De trancos e barrancos!
Eu, talvez insano...!

_______________________
| 293
O trem da vida
_____________________

O tempo passa, como passa o trem da vida,


Passa rápido, principalmente quando estamos
olhando na janelinha.

Engraçado como é o tempo...

Alguns dizem que é inimigo do homem,


É inexorável e é implacável,
Trazendo a velhice no bojo,
Mas o tempo também é o Senhor da Medicina,
Pois cura todas as feridas abertas pelo homem
Em sua jornada pelo tempo!

O tempo também é versátil,


Pois contamos o tempo para frente
E gostamos de ver o tempo regredir.

O tempo passa para todo mundo,


Embora quase ninguém tenha mais tempo
para nada.

E tem gente que faz um monte de coisa para


passar o tempo.
Pinta, tricota, lê, assiste televisão, passeia,
trabalha
Ou simplesmente fica sentado, olhando o
movimento da rua...

Para algumas pessoas o tempo já passou,


Para outras é tempo de fazer acontecer
E para outras, ainda o tempo não chegou,
Mas para essas últimas, basta esperar que o
tempo chega...
Ele sempre chega.

_______________________
| 294
Mas o melhor do tempo é quando ele deixa um
rastro na nossa vida.

Algumas vezes é um rastro de saudade, outras


de tristeza,
Outras de imensa felicidade...
Mas o que é indelével é o rastro de memórias,
As lembranças que ficam com a passagem do
tempo.

E o homem aprendeu, em sua jornada, a


capturar essas memórias
E a preservá-las através de pinturas, fotos e
vídeos...

O melhor do tempo são as lembranças boas do


que já passou,
Pois o tempo está passando, e logo seremos
lembranças
na memória dos que viveram esse tempo...

_______________________
| 295
Trevo
_____________________

Alguma coisa me diz


Que você não está feliz
Onde está a sua alegria?
Sua nobreza. Sua euforia

Alguma coisa se esconde


Por traz de um bonde
Bonde este que é você
Que anda como um bebê

Passos leves e suaves


Vou ficar em um entrave
Carinhosamente escrevo
A história em um trevo

O mar me faz lembrar


E a lua, recordar
De uma linda feição
E do seu doce coração

_______________________
| 296
Tristes sonhos de solidão
_____________________

Um grito no ar, acabando-se em pranto


Tristeza terrível, amor impossível
O mar quebra na praia, fico em um canto
A chorar em um choro quase inaudível

Por que tanta solidão? Fingir ignorância


Algum dia despertará o amor... quando será?
Agonia infinita. Ira maldita em abundância
Indago-me a vida toda: Quando tudo acabará?

Sozinho com meus pensamentos adoecidos


Sonho, penso, o riso aparece enfim...
Tudo não passa de sonhos entristecidos
Pela realidade morta dentro de mim

Não sei o que faço, mas sempre desfaço


Tudo o que penso... tudo é pura ilusão
Ilusão tristonha. Caio em mim e disfarço
Então não há saída... Só existe a triste solidão.

_______________________
| 297
Tristeza profunda
_____________________

Algo me alucina, caindo no chão


É, talvez, o amor dentro do coração
Uma ilusão desfeita, perdida
Um amor acabado, sem começo, sem saída

Tristeza gigantes invade o meu peito


Vazio sem fim na minha mente; Efeito
De uma desgraça, mas hei de conseguir
O amor de uma jovem morena ou loira, fugir

Para ser feliz o que é preciso?


Para sobreviver neste mundo bandido
O que eu faço agora? Choro, choro
Profunda agonia, eu quero ir embora

A solução que resta é a morte


Tenho medo e não tenho sorte
Sou forte, mas tenho sentimentos demais
Não vou poder morrer assim nunca. Jamais.

_______________________
| 298
Última poesia
_____________________

Será que estou perdendo


Todo o poder está morrendo
Pressinto que está poesia
Será a última que faria

A vida de uma tola existência


Levando na base da resistência
No entanto vivo a perguntar
Quando virá a memorizar

Em um ávido suspiro amargurado


Agarro minha Musa por um fio
Capaz que tudo me sais errado

Persisto em uma busca inútil


Olhando aquele animal no cio
Inspiração me chega fútil

_______________________
| 299
Um dia desses...
_____________________

Um despertar
É como os outros
É acordar
E ver o mundo avermelhar

Te ver correndo na praia


Salgar a tua boca
Com o mel
Adocicando o meu fel.

Tudo é fantasia
Quando o dia principia
Tudo é irreal
Quando o amor é o meu mal

Eu quis tê-la para mim


Mas o verão se desfez
No meu coração

_______________________
| 300
Um ponto no cabedal
_____________________

Silêncio...
Prossiga com calma a sua jornada,
Faça desse caminho a sua estrada.

Calma...
Coloque dentro de sua memória,
Não consideres isso como estória.

Relaxe...
Entenda a luz que seus olhos veem,
Como carisma divino e não do além.

Medite...
Seu coração possui a força de Deus,
Sagrada é sua mente que vela os seus.

Escuta...
A voz da sua bondade lhe chamando,
Tirando-o desta vida, o desumano.

Conclua...
Encare os campos floridos de amor
Como obstáculos de maldade e horror.

_______________________
| 301
Variáveis
_____________________

Eu queria entender o mundo


Saber das coisas à fundo
Descobrir novos horizontes
Ou encontrar novas fontes

Como posso saber se está mal


Ou se amanhã será leal
Porque existe essas mutações
Resultante de várias emoções

Há dias de altos e baixos


E existem outros cabisbaixos
Muita tristeza, solidão absoluta
Nesta nossa findável luta

Espero por um dia melhor


E que a alegria seja maior
Por que ficar nesse canto jogado?
Parece que não sou bem-amado.

_______________________
| 302
Vencer na vida
_____________________

Aos meus inimigos


Eu quero a morte
Para meus amigos
Eu quero a sorte

Eu hei de alcançar
Meu objetivo único
Vencer na vida. Ganhar.
Sempre sendo pudico.

Subindo os degraus
Sem pisar nos inimigos
Se elevando sem caos
Respeitando os amigos

Enfim, tudo na vida


É briga... é uma guerra
Para isso não há saída
O jeito é ficar na Terra.

_______________________
| 303
Vendaval
_____________________

Nem todos os oráculos


Ou sequer o sábio mais sábio
Poderá entender o que se passa na cabeça de
um jovem!
De repente meu mundo confundiu-se com o
seu
E o que era um, homogêneo
Poderá heterogenizar-se,
Solidificando os gases do amor que aflora aos
poros
E sobe a amplidão do céu escuro
Sem as estrelas que antes havia
E hoje vemos nuvem espessas e carregadas!
Nem todos os astros hoje e agora
Hão de me contradizer
Ou tentar mudar minha ideia
Do que poderá ser o nosso amor,
Mais puro que o cristal,
Mais forte que mil leões,
Mais brilhante que a Dalva...
Que desponta nos céus da minha mente
E ilumina os passos que terei de dar!
Que se conte o universo mil vezes
E não ficaria tão confuso!
Se sou o que sou, como sou e quem sou,
Goste de mim assim...
... sem tirar, nem por...!

_______________________
| 304
Vento
_____________________

O vento toca meu rosto


Suave e frio...
Fino... é o vento
Que toca meu rosto.

E desfaz meu cabelo


Mistura-os em desordem
É o sabor do vento
Que mexe meus cabelos.

Seca as minhas lágrimas


Tristes e amargas...
Sonhadoras... são as lágrimas
Que correm pelo meu rosto.

O vento me diz segredos


Me conta, me maltrata
O vento traz as canções
Extrapola as bases da alta
E estranha sociedade.

Reina o silêncio na praia,


Os sonhos, o vento levou,
O ócio, o vento marcou,
As tristezas, o vento deixou,
E me soltou, então só,
Ao sabor do vento!

_______________________
| 305
Verbo, amor inconsequente
_____________________

Vou subir,
Ver as estrelas,
Dormir ao som do vento
Acima das nuvens
Com os raios do sol me aquecendo
E ser despertado suavemente
Pelo cântico dos sabiás-laranjeiras.

Vou sentir,
Perscrutar e examinar,
Navegar pela imensidão azul
Polir as estrelas
Comer um pedaço da lua
E matar a sede na via Láctea
Até bordar meus sonhos dourados.

Vou amar,
Revelar minha identidade,
Correr pela areia fina e branca
Flutuar as ondas do mar
Sentir o sal em minha boca
E beijar seu corpo moreno
Deixando-me embriagar as fantasias.

_______________________
| 306
A vez da Maria
_____________________

O barraco pegou fogo


E Maria?
– Cadê Maria, grita João.
Maria ficou no barraco
Que em vermelho ardia
Pobre Maria. Pobre Maria.

Os negrinhos choravam
E gritavam em seus escombros,
Eles ficaram vermelhos
Em febre e fogo queimavam
Eras as crias de Maria
Que ria de desgosto
E chorava de loucura.
Coitada da Maria.

A Maria nunca teve vez


E acho que nunca teria.
Acabou-se o barraco
Acabou-se a Maria
Acabaram-se as crias
E também a poesia!

_______________________
| 307
Via da traição
_____________________

A traição
É o veneno da maldição
É o vinho e é o pão
É a dor do seu coração.

A traição
É o controle do poder
É o poder de matar
É fugir e se perder
É amar e odiar.

A traição
É a mais breve lição
É o odor da podridão
É o retoque na ilusão
É a dor no meu coração.

A traição
É o roubo e a extorsão
É a guerra da religião
É o sotaque de alemão
É o conselho do irmão
É o último voo do avião
É o ódio e a paixão
É um belo alazão

_______________________
| 308
Vida de uma vida
_____________________

Vem agora o sentimento


À tona do consentimento
Reflete beijos e abraços
Carinhos e palavras...
Suprimido na alcova
Cavando mais a sua cova
Elevando o seu ser
Mais alto, mais além
Quero ver você viver
Quer ter você...
Como um alguém,
Como alguém que nunca tive
Mas a vida ainda vive
Habita o coração mais atroz
Do animal mais feroz
Do guerreiro mais algoz,
Você que é minha lembrança
Faz-se de novo uma criança...
E venha ser minha esperança.

_______________________
| 309
Da vida do eremita
_____________________

Meu amor,
Assim é uma beleza
Eu queria viver como tu
Sem problema nem despesa
Na mais nobre da pobreza
Comer mato, comer grama
No almoço, urubu
Se der sorte, com certeza
Comer rato de sobremesa!

Meu amor,
Eu quero viver
Na mais dura das misérias
Ser um pobre, ser um cão
Revoltado, rejeitado,
Não fazer nenhuma pilhéria
Não caçar, nem ser caçado
Não quero ser rico, não!

Meu amor,
Quero ser simples
E ser puro como tu
Botar grama nessa mesa
E comer carniça de urubu
Ser feliz, não ser visado
Pelo visor da humanidade
Eremita apaixonado
Pelo amor, pelo xaxado
Viver só para viver
Não saber o que é cidade
Minha casa é uma caverna
O meu reino é o matagal
Quero viver essa vida
Sem pimenta e sem sal
Sendo o rei do meu quintal!

_______________________
| 310
Vida humana
_____________________

Eu nasci
Eu cresci
Eu vivi
Eu morri
Chorando
Brincando
Acabando
De derramar
O sangue
No mangue
Do sol até
A estrela brilhar
Riso estampado
Choro atrapalhado
Caio em mim
Não sei se vou
Aguentar até
O fim...

_______________________
| 311
Vítima
_____________________

Quantas vezes não fui vítima


De mentiras odiosas
Alvo de diversas críticas
Culpado de coisa medrosas

O perdão eu nunca tive


O pecado sempre é meu
A justiça não obtive
E a canseira me venceu

Julgamentos atrasados
A sentença divulgada
Toda ela foi errada
Novamente sou culpado

Advogados não adiantam


Se nem Deus me ajuda
Contra a opressão é uma luta
E os jurados se alevantam

Apontando para mim


Minha pessoa subjugada
Eu acordo de madrugada
E percebo só no fim

Tudo foi um sonho


Que quase virou pesadelo
Deus está onde suponho
Que prazer, comigo tê-lo.

_______________________
| 312
Viva a eternidade
_____________________

Tenho direito de viver


Mas não sei o que quero
Minha saúde é de ferro
Será que eu posso morrer?

Porque ficou nesta escravidão?


Quando posso desfrutar a vida?
Vejo todos os lados da mão
E percebo que não há saída.

Um desejo me domina
Estou louco de tristeza
Vou seguir a minha sina
Tendo certeza da presteza

Quero morrer agora


Fugir nesta mesma hora
Sair da agonia profunda
Ir embora da vida que afunda

Adeus. Sei que chegou o tempo


Devo morrer, sair de cena bem lento
Minha vida acaba-se em um minuto
Em um pulo à vida eterna. Luto.

_______________________
| 313
Viver eternamente
_____________________

Tenho medo de morrer


Mas um dia eu o quis
Gosto muito de viver
E nesse dia desejei partir

Tristeza profunda
Que cada vez mais me aperta
O coração em hora incerta
Nesta vida corcunda

Suicídio! Como eu sonhei


Por motivos nunca dantes
Desejados. Não quero ser outros infames

Cão de rua, vagabundo


Moribundo andarilho das noites
No bar, em meio aos açoites...

_______________________
| 314
Você
_____________________

Há coisas lindas na vida


Poesia...
Amor...
Você...
Poesia é linda porque é triste
Amor é lindo porque existe
Mas linda mesmo é você

Há coisas grandes na vida


Amor...
Perdão...
Você...
O amor é grande porque isola
O perdão é grande porque consola
Mas grande mesmo é o meu amor por você

Há coisas inexplicáveis na vida


Deus...
Saudade...
Você...
Deus se ama e não se explica
Saudade sempre se justifica
Mas como explicar você?

Há coisas boas na vida


Livros...
Carinhos...
Você...
Livros instruem a gente
Carinho... quem não os sente?
Mas bom para mim é você

Há coisas incompreensíveis na vida


Criança...
Sonhos...

_______________________
| 315
Você...
Criança não sei se entendo
Sonhos não os compreendo
Mas sei que amo você...

_______________________
| 316
Você é...
_____________________

É a dor, é o amor
É a farsa que disfarça
É a pétala da flor
É a pena da garça

Tudo é natureza
É tudo beleza
Nossa maravilha
Seguindo a trilha

É o sol, é a lua
É o bêbado na rua
É o tempo em veneno
Que espalha o sereno

É a chuva, é a bruma
Ao mar a terra ruma
É a brisa maus suave
É uma colorida ave

É você, é o nosso
É tudo que é vosso
É a minha paixão
É a composição
Deste meu refrão

Dedicado à você
É a pele do bebê
É o poema à ti
Estou aqui e ali

_______________________
| 317
Um vulto negro numa
noite escura
_____________________

Quem é esse vulto negro


Que caminha de cabeça baixa
Trilhando insólitas tristezas
Amargas lutas qual carrega?

Quem é esse vulto estranho


Que anda só em caminhos sombrios
Em busca de paz e de alívio
Portador da pobreza universal?

Quem é esse elemento


Que não se importa com o vento
Caminha a passos lépidos
Estreita em uma jornada de intrépidos
Acalma a ventania a facada
Traz consigo o umbral de uma sacada
Vela a mente insana e maldada!

Quem é esse vulto enorme


Que sai dentre as sombras
E penetra na ilusão
Escolhendo a próxima trilha
Aguardando sua fusão!

Quem é esse ser


Que anda em dura escala
A procura de quem mal fala
Com seus olhos de puro fogo
Chama que incendeia a teimosia!

Quem é? Pergunta o povo


Este Cavaleiro da Ironia
Que cavalga sob os pés seus
À procura de algo novo

_______________________
| 318
À espera de seu Deus?

Quem é esse vulto negro


Que caminha em uma noite escura?

_______________________
| 319
Wall
_____________________

Tem essa parede no meio do caminho


Vejo você do outro lado, olhando para a
parede
Tem essa parede que não é de tijolo
Essa parede é feita de espinho
E não consigo passar por essa parede
Para encontrar você do outro lado do caminho
Quero seguir esse caminho juntos
Você e eu, lado a lado... sem espinho.

_______________________
| 320
O xis da questão
_____________________

O sofrimento de cada um está na regra


universal
Sofre quem erra, sofre aquele que comete o
mal
Se sofremos de qualquer dor
Seja ela física ou dor de amor
É um problema da verdade
Que buscamos ou não buscamos
Se lamentamos ou se levantamos
Para conquistar a felicidade

A felicidade é inerente
De toda humanidade
Basta querer ir para frente
Basta agir de verdade

Para sermos felizes pouco basta


Precisamos conhecer aquele que no espelho
vemos
Saber o que sente, o que se passa
Com nossos pensamentos, ações e nossos
sentimentos
Perscrutar com profundidade
Com amor desprendido
Com total honestidade
O que fazer para melhorar a cada dia
Somente assim o nosso peito irradia
O poder latente que nos orbita
A luz do próprio Deus que nos habita

_______________________
| 321
Yin e yang
_____________________

O verso e o reverso.
A luz e o escuridão.
O vasto e negro céu,
pontilhado de estrelas.
O esverdeado de seus olhos,
minha vida, neles brilham.

Você tem um pouco de eu


E eu tenho um pouco de você
Somos iguais, mas diferentes
Parecidos e coerentes
Temos Léo dentro da Beth
E Beth dentro do Léo.

Somos dois, mas somos um.


Somos totais, somos completos.

_______________________
| 322
Zumbido
_____________________

Olhava aquela mosca


Que passava zumbindo no meu ouvido
E vez por outra parava em cima do prato

Queria ela comer minha comida,


Ou queria só me encher o saco?

Olhava aquela mosca


Que zumbia incessantemente
Tirando minha atenção
Desviando o foco da mente

Queria ela me atrapalhar a vida,


Ou queria só me ver descontente?

Olhava aquele inseto chato


Que voava em torno da minha cabeça
E descansava as asas nos meus cabelos

Queria ela uma cama capilar,


Ou queria só me ver gritar?

Olhava a mesma mosca de sempre


Que voava, parava, olhava e voava de novo
Repetindo tudo na sua vida, como fosse um
rito

Queria ela passar o tempo,


Ou queria só me atormentar com seu zumbido.

_______________________
| 323
Sangria
_____________________

Chega um dia na vida da gente


Que tudo o que o coração sente
Torna-se obsoleto
Um objeto de contrapeso
E um amor degenerado

Assim como conta o fado


Da triste terra do nosso lado
O amor é cego
Depois eu nego
Com as forças dos deuses

Foi dito por mais de mil vezes


Que do amor resta o vício
Que se entrega ao suplício
Na loucura de um estouro de reses

E então farfalha,
Brilha a navalha,
O navio encalha...
E começa a batalha!

_______________________
| 324
Satisfação
_____________________

Começou a nova década que brilha


É mais um ano que me humilha
São novos tempos seguindo a trilha
Amando a quem não lhe amará

Sonhando com quem nunca pensará


Vivendo com quem nunca viverá
Morrendo por alguém que não adiantará
Acabando triste e ir só, pelo mundo afora

Acho que é melhor eu ir embora


Assim não dá, creio que chegou a hora
Senão eu fico assim e justo agora
Uma nova vida resplandece

Algo por dentro me engrandece


Uma barreira fina me arrefece
Meu amor, ah, se você soubesse
Todos os sacrifícios feitos em vão

Será que servirão ou talvez não


Para eu tentar levar seu coração
Por isso você me estenda a mão
Para, então, satisfazer essa paixão

_______________________
| 325
Se a canoa virar
_____________________

Falo por mim


E a mim mesmo falo,
E se escuto
Então me calo...

Faço minhas artimanhas


E se as faço
Ninguém tomará por conta,
Só eu e ninguém mais...

Se tenho espírito rebelde


Sou criança e brinco
Ao menos tenho coragem
De olhar frente à frente
Quem ousar me encarar
Sem fazer rodeios...

Quem chora e pia sem dono


É dono de ninharias
E sementes mal plantadas...

Não!
Não condeno e nem desejo mal,
Apenas repudio e tenho dó
Pela pobreza e infelicidade
Abatidas e exoneradas
Na sede de quem fala por mim
Pois não sabe o que fala e não se conhece,
Somente contradiz
E cai de joelhos em desespero.

_______________________
| 326
Promiscuidade
_____________________

Ao romper da claridade
O som pesado do trovão
Interrompe um relâmpago
Que reluz como aviso
Serei eu um bandido?
Ou um desterrado banido...?

A confusão me envolve
A cada minuto que passa
O odor do ódio dissipa
O mau cheiro da caça
Abatida, sem alma e sem vida

Soou a hora profana


O mundo todo inflama
E grita... e proclama
Chora, berra e reclama
As horas que não insanas
O poeta declama
O homem exclama
A aranha na lama
O queijo e a ratazana
O mundo...
Envolto em chamas...!

_______________________
| 327
Protesto à minha moda
_____________________

Abre o olho, cara.


Que é que tá havendo?
Pô, meu...
Você nunca agiu assim...

Que é isso, cara.


Tão pisando em você,
Você não tá sentindo nada?
Ei, e o teu coração...

Desliga, meu.
Tu não pode (sic) ser assim.
Volta a ser você mesmo.
Não marca bobeira!

Vai de cara no point.


Agita uma onda
Cai na real. Vive!

Sai dessa merda!


Não vale a pena,
Você merece mais...

Sem essa de ser capacho.


O lance é de escracho.

Você é único, cara!

_______________________
| 328
Quarta parte
_____________________

Luzes, imagens
Planetas
Viagens...

Os sonhos guardados nas pedras do rio


Segredos maldados
Caminhos
Desvios!

Estranhas paragens
Os cortes vazios
As espumas e o sangue
Os olhos vadios...

Qualquer coisa vou imaginar


Os sussurros que vou escutar
Os toques da vida
O pique...

Toda inconstância, velha tolerância


Todas as belezas,
Inconscientes
Incandescentes primaveras.

Sempre,
O gato mata o rato,
Morre de sede a semente
Que semeia meu sorriso
Minha vera parte, louca
Indecente
Mistérios, enchentes
Via láctea,
Sonhos azuis,
Céus,
Estrelas...

_______________________
| 329
Tudo que supus!

Eu, no meu deserto


Meu destino incerto
Tenho o meu viver secreto.

Tudo é arte
Viva Marte!
Estoura a vida.
Nasce a minha quarta parte...!

_______________________
| 330
Quatro versos
_____________________

Por que choro nessa hora ingrata?


Por que magoo o meu coração?
Por que lamento essa solidão?
Por que não escolhi outra saga?

_______________________
| 331
Que dor
_____________________

Que loucura
Essa vida tão dura
Vivendo na pendura
Cercando a sorte
Não deixando escapar
A caveira da morte
Para quem quer se matar!

Que tristeza
O que falta é beleza
Uma pitada de destreza
A dádiva da natureza
O corpo nu e cru
Mostrando o gosto forte
A cor do céu azul
O sangue que sai do corte!

Que migalha
Esse amor encalha
Esse coração espalha
O sabor do amor
Que dor... que dor!

_______________________
| 332
Quem
_____________________

Quem chorou
Quem sorriu
Quem amou
Quem fugiu

Quem sofreu
Quem se doeu
A vida viveu
E por ela morreu

É a grande verdade
Salve a liberdade
Deixa disso amor
Pare de sofrer essa dor

Terrível é aquele ser


Que não viveu
Que não sofreu
E não pode morrer

_______________________
| 333
Quero
_____________________

Quero ser o príncipe encantado


Quero dar o meu amor cantado
Quero ter o seu amor ardente
Quero ter o beijo da serpente
Quero abraçar-te com minha corrente
Quero ser o vulto muito mais coerente
Quero ser herói e também vilão
Quero um pedaço gordo desse pão
Quero seu coração carente
Quero ser o seu homem pela frente
Quero sua vida junto da minha vida
Quero estar amando junto ao riacho

_______________________
| 334
Questão de amor
_____________________

É um olhar apaixonado!
É um abraço mais afetuoso!
É um beijo extraviado!
É um assopro carinhoso!

O que é o amor?

É um sentimento especial
É tudo aquilo sem palavras
É uma vida sem igual
É o início de uma estrada

O que é o amor?

É uma hora mais vivida,


É um beco sem saída.
É o momento que passa
É a minha desgraça...

_______________________
| 335
Rato
_____________________

Sou livre, sou humano


Vivo às tontas pelo mundo
Perdido em torrentes
Entro pelo cano...
Fico cego. Fico mudo
Me abraço às correntes

Maníaco, doente
Sou livre, sou decente
Em meio às mesas de bar
No cais do porto
Na terra, no ar, no mar

Vivo em meio a comunidade


Em todas as santas igrejas
Sinto o jogo que pega fogo
Que recolhe os irmãos carentes
Alvorada que desperta
Os bandeirantes, que covardes

Sou um ser, sou um fato


Sou um monstro, sou um rato!

_______________________
| 336
Razão da embriaguez
_____________________

Vou me embriagar
E caminhar por aí
Chutando as latas do chão
Chorando a mágoa
Da minha paixão

Vou me embriagar
E caminhar por aí
De cabeça baixa
Escondendo minhas lágrimas
Que rolam soltas como magma

Vou me embriagar
E caminhar por aí
Triste é a minha sina
Isso sempre me arruína

Vou me embriagar
E caminhar por aí
Tentando esquecer do amor
Que nos envolveu até chegar a dor

Vou me embriagar
E caminhar por aí
Andar até cair na calçada
E lá ficar por toda madrugada

_______________________
| 337
Razão do poeta
_____________________

Todo poeta tem sua razão!


Se o poeta quer viver
É porque há uma razão
Se não haveria confusão
Quando o poeta fosse querer...

Ás vezes o poeta perde a razão!


Fica omisso ao meio
E ao povo que o acolheu
Ouve o sino,
Sente o seio,
Sente a falta do amigo
Que há tempos já morreu...

O poeta tem razão


Em dizer que este mundo se perdeu
Pois se não há respeito
Nem para o supremo Deus
E Zeus...
E os seus e os meus
Não há quem de jeito
Em uma carne que já fedeu...

E fica no ar
Um cheiro estranho
O zunzum das vozes
A conversa de bar!
Entre lírios e rosas,
Ódio e paixão
O poeta sempre faz
O que lhe manda a razão

_______________________
| 338
Realejo
_____________________

Brilha o sol
O fio do punhal
Vem e fim
O socorro virginal

Sou ateu
Da religião
Dos mortos de Deus
Neste mundo cão

O som suave, puxa e tira a sorte


O homem mau, aponta e atira... corte

Vivo em desencontro
Alheio ao caos
O som metálico da lâmina
Cortando fundo a lânguida carne

Ouço o som da brincadeira


Ressoa no parque! Dia de sorte!

_______________________
| 339
Realidade
_____________________

Alguém pede
Algo fede
Abutre ronda
Homem sonda

Progresso chegando
Nos bancos de praça
Namorados amando
Distinção de raça

Máquinas iludindo
Toda boa vontade
O ódio se esvaindo
Sinônimo de maldade

Sem truque, nem mágica


Vou levando esta vida
Cada vez mais sem saída
É outra realidade trágica

_______________________
| 340
Recôndita personalidade
_____________________

Recôndita alma vivida


Que da vida ressurgiu
Fiz-me parar na saída
Que por milênios me abrangeu

Da morte veio a vida


Na vida, o pranto chegou
Mais para entrar nessa rima
Que o autor a invocou

O que será que esconde


Uma segunda vivência
Eu me pergunto: Onde?
No inferno, no céu, na falência

Ponderando tais fatos


Concluo a imortalidade
Que existem tais tratos
Para chegar à verdade

_______________________
| 341
Reflexão
_____________________

A pior traição romântica


É um amor inexistente

Que do semblante do fruto


Dá-se a existência da semente

No instante que nasceu


Já era o momento passado

A vida, em suma, é sofrer


É sentir-se sempre amargurado

Em dia de solidão sóbria e serena


A vaidade da sabedoria é maior

Na escuridão dos pensamentos


Vagando no vazio fica a pior

O dia que se é descoberto


O amor presente acaba

Em sua ausência dolorosa


Fervorosa fica a consciência pesada

_______________________
| 342
Rejeição
_____________________

Remoendo tristezas antigas


Aparece na garganta um nó
Vagarosamente vou ficando só
Mergulhado em lágrimas amigas

Que sentimento duro é o amor


Que nos traga e estraga o coração
Sobre o rosto eu junto minhas mãos
Para não demonstrar toda minha dor

Volta-me memórias infelizes


De um tempo que já se desgastou
Lembro-me das tristes raízes

Apinhado de problemas infindos


Articulando milhares de paixões
Rindo a cada instante nunca findo

Sentimentos agonizantes
A mais cruel das emoções

_______________________
| 343
Remanescências
_____________________

Sinto, ainda, o cheiro da sua boca


O gosto do seu beijo,
As formas pronunciadas do seu corpo.
A poesia de estarmos nos amando!

Sinto essa energia tão pura,


O amor pulsando em mim,
A cada olhar,
A cada toque!

_______________________
| 344
Remorso
_____________________

Remorso,
Sinto a dor fustigando
Vejo o pobre mastigando
Ouço seu coração palpitando...
... tão longe,
Como um lamurio
A perdurar na caminhada,
Triste reza salpicada
E as pétalas de rosa,
Mais alva que a neve,
Reluz orvalhada...
E eu sei que não contenho
O amor que abstenho
Da minha sina amaldiçoada!

Remorso,
Sinto a pele arrepiar
E uma lágrima rolar
Deste seu rosto de rainha...
Mas não passa de princesa,
Filha do amor e da beleza...
...Triste é a natureza,
Toca o lamentoso hino
Deste meu agonizante destino
E percorre as veias, buscando
O que nunca se perdeu
Mas também nunca começou
E tampouco terminou,
Mas... já morreu!

_______________________
| 345
Renascença
_____________________

Ah!
Um sol de ouro!
Oh!
Chuva de prata!

É... a vida é linda,


Com música,
Com muito amor...
... e cachaça!

Se o tempo voa
Vou junto dele
Se a hora é boa
O extremo bem da vida é o mar
E viver é só prá sonhar
E sorrir!

Mil flores vão nascer...


Na renascença desta nova alma
Sem diferença
Com calma
E com esperança
E com amor...!

_______________________
| 346
Renascimento
_____________________

Um choro de criança
É como uma gotícula
É o nascer da esperança
São laços se unindo em liga!

Os primeiros passos
Os carinhosos abraços
Um sorriso bonito
Uma palavra. Um grito.

Recordo-me muito bem


Do dia que o mundo o recebeu

Enquanto você chorava


Todo mundo ria
Em contagiante alegria

Hoje, o presente
De muita gente
É ver um sorriso seu
Do anjinho que renasceu

_______________________
| 347
Rendição
_____________________

Chega!
O meu coração já explodiu.
Não aguento essa dor
Chamada de amor!

Chega!
O delírio já passou,
E a febre cessou
De queimar minhas lágrimas!

Chega!
Estou sonhando amor
Vivendo e querendo morrer
Vou explodir de dor!

Chega!
Vale a pena viver...
Se não há mais amor?
Estou agonizando!

Chega!
Escrevo o outro lado
De um pobre coitado
Que rendeu seu coração...!

_______________________
| 348
A resposta é
_____________________

Toda hora, todo instante nos encontramos em


perigo
E nessa hora, nesses instantes precisamos de
um amigo
Toda hora, todo instante nos encontramos em
felicidade
E nessa hora, nesse instante para compartilhar
uma amizade

Seria possível, um amigo de verdade


Cair no ato de uma maldade
Deixar o próximo vagar ao longe, no além
Virar a mente, distorcer totalmente, porém

Um amor desiludido, uma vida agitada,


arrasada
Uma paixão resplandece, uma conversa... que
nada
Tudo na vida nós arrumamos, com o coração
na mão
Deixamos uma casa que levamos... uma vida?
Não.

Qual é a verdadeira sabedoria, que cria, que


ilumina
Qual é o caminho certo, não o incerto, que
está por cima
Qual é a origem do amor, terror, no grande
cerco
Qual é a origem do ódio, da raiva, nisso tudo
eu me perco

No fim a resposta é sempre a mesma. Não sei,


com certeza

_______________________
| 349
Ninguém consegue responder para ninguém,
porque incerteza?
Quando eu me pergunto, adjunto: Quando
será o fim?
O som ecoa na montanha e sonha, não é bem
assim...

Por fim tenho um objetivo, que alcançarei, isto


é certo
Mas não sei quantos anos ou décadas, a
resposta está perto
Afinal ela chega, toda imponente, contente. É
a realidade
E eu a vejo claramente na minha frente: A
bondade...

_______________________
| 350
Revoada
_____________________

Eu queria voar como as aves


Que me instigam a fazer este poema
Que me demonstram um problema
Este mistério que nos traz os males

Infinitos são os animais alados


Observando-os quieto, bem calado
Me estimulando a viver mais um pouco
Mesmo que nesta vida eu me torne um louco

É a revoada que nos faz sorrir


É esta vida amarga que me faz fugir
Toda essa passarada no céu
Faz-me sentir aprisionado no véu

Asas e penas é o passarinho, ave esta


Que nos mostra a vida que nos resta
Através da poesia, que me faz sonhar
Nos deixa em festa. Nos permite amar.

_______________________
| 351
Rodopio
_____________________

Vem,
Vamos sonhar!
Cantar uma canção antiga,
Uma antiga canção de ninar!

Vem,
Vamos ouvir!
O pio do passarinho
Construindo seu ninho prá morar!

Vem,
Vamos falar!
Gritar o seu e o meu nome ao vento
Eternizar-nos pelo tempo,
Deixar cair a noite ao relento e suspirar!

Vem,
Vamos amar!
Entregar-nos de corpo e alma
Sob o sol poente à bater palma,
Sob a lua branca, cálida
Tocar o agreste do seu corpo
A sua pele pálida.
Trocar um beijo, luzir um desejo,
Ao sentir um arrepio.

Banhar-nos de suor.
Eu te abraço. Você me abraça.
Mais e mais forte
Até não sentirmos mais frio
Até, então, entrarmos em rodopio!

_______________________
| 352
Romper da claridade
_____________________

Traição...
O mundo caminha e cambaleia
Conforme a louca tradição
De matar pelo prazer,
De amar sem amor...
Um dia o mundo arreia
Em meio a todo esse horror!

Fui traído... fomos traídos...


Somos todos traidores
Vivendo de luxúria
Vivendo de amores
Somos loucos e inocentes
De igual nocividade
Todos nós somos carentes
Presos pelo elo da corrente
Da maldade, da bondade
Porque o fim da mocidade
É a grande novidade
Pois hoje tudo é poesia,
Mas amanhã será realidade!

Enfrente todo desamor


A desconfiança da virtude
Porque seres tão rudes
Se não temos dor!

Então, o cerco romper-se-á


E a corrente vai quebrar
Sairá do interior da terra
O monarca da Nova Era
Que virá para reinar...!

_______________________
| 353
Roseiral do amor
_____________________

O amor é como uma linda roseira


Com botões bonitos atrás da porteira
Do coração, guardando segredos
Nunca antes vistos no enredo

Grande ironia nos espera ansiosamente


Para captar qualquer sinal que desmente
Os espinhos do ciúme e da desconfiança
São cortados pelo amor que até nos cansa

Lindas pétalas cobrem o botão de rosa


vermelha
Quando desabrocham com a vinda o orvalho
gelado
Passando noites e noites vendo as reluzentes
estrelas
Não dizendo nada, não pensando em tudo,
mas tendo falado

Para qualquer um sobre o amor inexistente


Que qualquer minuto nos diz o amor na mente
Alguém nos estende as suaves mãos
As folhas caem no chão dos corações

_______________________
| 354
Rotina
_____________________

Um café fumegante
Depois de um dia tardio
Um tanto esfuziante
Sendo este tão vazio

Sentei-me na poltrona
E fiquei a meditar
Acendi meu charuto
Ouvi o som da sanfona
Então comecei a lembrar
Do dia do seu luto

A fumaça malcheirosa
Se perdia pelo espaço
A lembrança indecorosa
Fez-me louco em teu regaço

Então chorei... então lembrei...


Em vão tentei sorrir
Tentei até me refugiar
Eu vi que não podia fugir
Nem tampouco deixar de te amar

Ah, a falta que você me faz


Me deixa angustiado
E me põe no meio dos extremos,
Entre o Senhor e entre o diabo.

As lágrimas me correm e eu tento,


Me arrebento e não consigo parar

O dia em que você partiu


Voltava alegre pelo aumento
Trazia-lhe muitas flores
Um bocado de cores

_______________________
| 355
E um sorriso...

Quando eu a vi deitada, ensanguentada


Tive a impressão de que iria explodir
E meu coração começou a morrer aos teus pés

No fim de uma triste lição


Que aprendi cheio de mágoa
Com os olhos rasos d’água
Pedi-lhe perdão...!

_______________________
| 356
Sanctu
_____________________

Fui conhecido nesse mundo


Como pobre indigente
Fui chamado de vagabundo
Inútil e indecente

Sem trabalho nem comida


Saí a caminhar
Afastando-se do meu meio
Que outrora vira-me brilhar

No berço em que nasci


Muita gente abençoou
Tive glórias e derrotas
Nesta vida que vivi

Hoje o mundo me aclama


Pede ajuda, pede amor
Revivo minhas batalhas
Esqueço minha dor

Caminhei por muitas estradas


Que a vida me levou
Escolhi o meu caminho
Que o destino reservou...

_______________________
| 357
Sangria
_____________________

Chega um dia na vida da gente


Que tudo o que o coração sente
Torna-se obsoleto
Um objeto de contrapeso
E um amor degenerado

Assim como conta o fado


Da triste terra do nosso lado
O amor é cego
Depois eu nego
Com as forças dos deuses

Foi dito por mais de mil vezes


Que do amor resta o vício
Que se entrega ao suplício
Na loucura de um estouro de reses

E então farfalha,
Brilha a navalha,
O navio encalha...
E começa a batalha!

_______________________
| 358
Satisfação
_____________________

Começou a nova década que brilha


É mais um ano que me humilha
São novos tempos seguindo a trilha
Amando a quem não lhe amará

Sonhando com quem nunca pensará


Vivendo com quem nunca viverá
Morrendo por alguém que não adiantará
Acabando triste e ir só, pelo mundo afora

Acho que é melhor eu ir embora


Assim não dá, creio que chegou a hora
Senão eu fico assim e justo agora
Uma nova vida resplandece

Algo por dentro me engrandece


Uma barreira fina me arrefece
Meu amor, ah, se você soubesse
Todos os sacrifícios feitos em vão

Será que servirão ou talvez não


Para eu tentar levar seu coração
Por isso você me estenda a mão
Para, então, satisfazer essa paixão

_______________________
| 359
Se a canoa virar
_____________________

Falo por mim


E a mim mesmo falo,
E se escuto
Então me calo...

Faço minhas artimanhas


E se as faço
Ninguém tomará por conta,
Só eu e ninguém mais...

Se tenho espírito rebelde


Sou criança e brinco
Ao menos tenho coragem
De olhar frente à frente
Quem ousar me encarar
Sem fazer rodeios...

Quem chora e pia sem dono


É dono de ninharias
E sementes mal plantadas...

Não!
Não condeno e nem desejo mal,
Apenas repudio e tenho dó
Pela pobreza e infelicidade
Abatidas e exoneradas
Na sede de quem fala por mim
Pois não sabe o que fala e não se conhece,
Somente contradiz
E cai de joelhos em desespero.

_______________________
| 360
ÍNDICE

Abre as portas do conhecimento


Aconteceu
Acredita em mim!
Alerta
Algumas palavras
Aliança da Eternidade
Alma concebida
Amar foi a minha ruína
Amargas lembranças
Amiga
Amigos
Anaguerra
Anel de prata, O
Anonimato
Ao meu amigo
Árvore
Astro-Rei
Avó querida
Balão de ar
Barba ruiva
Barraco de pau
Belacap
Bom pastor, O
Bordas e Beiras
Brilho de cristal
Brincadeiras
Brindemos
Busca inútil
Calabouço
Caldo
Campo Grande
Campu Vitalle
Cantigas
Calmaria, a semente de Marte
Carta de amor
Castigo
Cavaleiro em jogo
Cenas de uma tarde de verão
Cobiça
Comparação
Conclusão
Confidência

_______________________
| 361
Confidências (Parte Um)
Confidências (Parte Dois)
Conflito de gerações
Conversas
Coquetel
Coração de vidro fumê
Corredeiras
Corvos e abutres
Cristais (Parte Um: Eu, prisioneiro
Cristais (Parte Dois: Cristaliza-me
Dançar
Dê, de destino
Descendendo
Deserto
Despedida
Deusa do amor
Dias
Diluência
Dissidente sim, decadente não!
Distância de um amor
Domingueira
Donzela
Duas palavras
Dupla personalidade
É já e agora!
Eclipse total da lua
Ela é in
Elas
Escárnio
Enluarar
Ensaio
Entranhas
Epopéia
Era final
Essa nova (nossa) história de amor
Esse extenso rio do amor...
Espelhança
Espelhos dos anos
Esperança
Estrada vital
Eu próprio: História, luta e sentimento (Parte 2)
Eu só!
Exemplo
Falatório
Fardo
Feliz Aniversário

_______________________
| 362
Feliz Natal
Festa Junina
Filho ladrão, a carta de um desesperado suicida
Fim da Terra
Fim da rua, No
Fim dos tempos
Folias e foliões
Fora do alcance
Forças
Forças poderosas
Formas da vida
Fraseado
Fuga
Fugitivo
Gira-gira
Graves erros
Heróis-Vampiros
Hoje e agora
Homenagem
Ídolo quebrado
If & it, sonhar você
Incoerência da inocência, A
Inexistente nostalgia
Instantaneamente, um instante
Instantes
João-Ninguém poder ser alguém?, Um
Kkkkkkk
Lágrima de saudade
Lastro
Lembranças
Liberdade
Libertar-me
Libertas quæ sera tamen
Linha da vida
Llamado
Loucos Dante... Elefante!
Loucos reinarão, Os
Loucura ou razão... (Nada é só paixão)
Lua, Lua, Lua
Luarais
Magicland
Magneto
Mal
Maldição
Manas
Manhã de sol

_______________________
| 363
Mar
Marcha
Maria
Mata virgem
Menção à amizade (Aos meus amigos)
Mensagens
Mentiras, As
Mesa de bar
Messias
Mesuras: Teu ego, minha paixão
Metáforas
Minutos de uma vida, minutos de você
Momento de glória
Momento mágico, O
Momentos de amor
Moradia
Morrer ou viver
Movimento em falso
Murchou a margarida
Mundo diferente, Um
Muro das lamentações, No
Musa, inspiração dos poetas
Musa, minha musa
Na sacada (Olha a faca!)
Nativo
Natureza: a vida de uma mãe
Naufrágio
Nem tudo que reluz é ouro
New year, new life
Nó na garganta
Nos becos, nas noites paulistas
Nova geração
Novamente
Objeto feliz
Ócio
Olímpia
Olhos
Opala
Oração
Ou será que não?
Ouro
Pai, mãe e filhos
Para sonhar no fogo eterno
Paralelismo
Passa Rio
Pátria Amada, Brasil...

_______________________
| 364
Pedaço de gente
Pedido
Pensamento
Pensamento vadio
Pequena Poodle
Perseguição
Pesadelo
Pique
Pode ser
Poente do horizonte
Poesia
Promiscuidade
Protesto à minha moda
Quarta parte
Quatro versos
Que dor
Quem
Quero
Questão de amor
Rato
Razão da embriaguez
Razão do poeta
Realejo
Realidade
Recôndita personalidade
Reflexão
Rejeição
Remanescências
Remorso
Renascença
Renascimento
Rendição
Resposta é..., A
Revoada
Rodopio
Romper da claridade
Roseiral do amor, O
Rotina
Sanctu
Sangria
Satisfação
Se a canoa virar
Seca in vino acre
Seis de agosto de 1945
Semente do amor, A
Sentidos sentimentos

_______________________
| 365
Sentimento maior, O
Sentimento presente
Sentir
Sereia
Shangri La
Silêncio
Sina
Sinal vermelho
Solidão
Somente para seus olhos
Soneto ao sonhador
Soneto da esperança
Soneto da formosura
Soneto da lágrima
Soneto da rivalidade
Soneto da vida
Soneto de um dia qualquer
Sonho
Sonhos, Os
Sopro de vida
Tempo, O
Tendências e nada mais
Tentativa
Teu coração
Traição à Humanidade
Traição, pimenta na boca
Transe
Trapos
Trem da vida, O
Trevo
Tristes sonhos de solidão
Tristeza profunda
Última poesia
Um dia desses...
Um ponto no cabedal
Variáveis
Vencer na vida
Vendaval
Vento
Verbo, amor inconsequente
Vez da Maria, A
Via da traição
Vida de uma vida
Vida do eremita, Da
Vida humana
Vítima

_______________________
| 366
Viva a eternidade
Viver eternamente
Você
Você é
Vulto negro em uma noite escura, Um
Wall
Xis da questão, O
Yin e Yang
Zumbido

_______________________
| 367
Colecção

digit@lmente
Título: O TREM DA VIDA E OUTRAS POESIAS
Autor: LEONARDO CONSOLI JÚNIOR

A partir de 2022, a Colecção Digitalmente acolhe todas


as edições para uma melhor experiência de leitura
gratuita online.

Edição em Formato Digital: Fevereiro de 2022

© Autor e Elefante Editores


para esta edição digital

Contacto:
[email protected]

Ideias e Paixões que vamos descobrindo


em cada livro e em cada palavra

www.elefante-editores.net

Editores de Poesia desde 1997

_______________________
| 368

Você também pode gostar