Autobiografia

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

Me chamo Tiffany de Souza Araújo, nasci no dia 22 de Maio do ano de 2005, na

maternidade Climério de Oliveira, em Nazaré, Salvador/Bahia. Vim ao mundo no seguinte


horário: 20:14. Meus pais se chamam Dayse Cristina de Souza e Cosme Fabrício Andrade
de Araújo, e meus avós maternos são: Valdete Ferrete de Jesus e Raimundo Ferreira de
Souza, meus avós paternos são: Cosme Tolentino de Araújo e Maria Neuza Andrade.
Passei a maior parte da minha infância no bairro da Liberdade. Tive uma infância um pouco
conturbada, mas que também vivi momentos agradáveis. Posso dizer que foi uma
pequenez agridoce. Eu sempre fui uma criança muito quieta e introvertida, com poucos
amigos. Adorava brincar com bonecas, assistir desenhos e ler. A leitura é um hábito que
iniciou na minha vida nessa tenra idade, e sobre ela que irei discorrer. Porque não tem
como falar de mim, sem falar sobre livros. Por volta dos meus 5 anos de idade, sofri de
pneumonia, e fiquei internada por um certo período de tempo que me impossibilitou de estar
presente no ambiente escolar. Logo, tive que permanecer isolada dos meus colegas e
professores. Ficava no meu quarto sozinha rodeada de livros. E o detalhe é que eu não
sabia ler, mas sempre ficava pegando as gramáticas da escola e tentando decifrar o que
estava escrito ali, juntando “b” com “a”, “ba". E fazendo isso eu consegui aprender a ler. Foi
bem engraçado o dia que minha mãe descobriu que eu sabia ler. Estávamos no super
mercado fazendo compras, passando pela seção das bebidas, e havia uma marca de sucos
chamada “Frisco”, e quando eu observei esse suco, li em voz alta o nome que estava na
embalagem. Foi quando minha mãe tomou um baita susto e ficou muito empolgada. A partir
da palavra “frisco”, nunca mais parei de ler, e minha vida tornou-se rodeada de palavras,
frases. Os livros sempre foram a minha companhia, meu consolo e minha força. Como uma
criança introvertida, nunca fui de conseguir verbalizar de modo muito claro como eu estava
me sentindo, era muito difícil de me sentir compreendida. Mas quando eu lia uma obra
literária e a personagem da história em questão conseguia expressar justamente o que eu
queria falar, me sentia totalmente interpretada. Os anos passaram, e hoje, com meus 18
anos, a sensação permanece a mesma. Os livros, a literatura, continuam sendo como um
porto seguro na minha vida, uma âncora que não me deixa afundar nas tristezas e aflições.
Lamentavelmente a minha infância não se resumiu a memórias doces com os livros. Meus
pais tinham um relacionamento muito conturbado e desrespeitoso, onde havia agressões
físicas e verbais. Presenciar essas situações tão nova deixou em mim marcas irreparáveis,
muito dolorosas que ainda doem até hoje. Traumas muito difíceis de superar. Falando mais
da fase infantil, quando eu tinha aproximadamente 6 anos, meus pais tiveram mais uma
filha, que é a minha irmã caçula. Eles fizeram isso com o objetivo de tentar reavivar o
relacionamento, unir mais os laços familiares. Gostaria muito de escrever que eles
acertaram muito, e que passamos a ser uma família feliz e saudável. Porém, não foi isso
que aconteceu. As brigas só aumentaram, juntamente com a violência. A cada dia que se
passava, parecia que meus pais se odiavam mais e se afastavam um do outro e
consequentemente de mim e da minha irmã. Com os dois pais totalmente desequilibrados,
quem teve de cuidar de uma bebezinha e de si mesma? Exatamente, eu. Aos 9 anos de
idade já tomava conta da minha irmã, cuidava de nós duas do jeito que dava, da forma que
uma criança de 9 anos saberia fazer. Quando completei 10 anos, meus pais finalmente
decidiram pedir o divórcio. Foi um alívio não ter mais que conviver com meu pai agredindo a
minha mãe, de ouvir gritos o dia todo e de ter que esconder facas para meus pais não
utilizarem um contra o outro. Contudo, depois do divórcio, minha mãe tornou-se uma mãe
solteira, e com isso, as minhas responsabilidades aumentaram. Não pude ter a
oportunidade de brincar e ser criança por muito tempo, porque tinha uma criança para
cuidar, a minha irmã, Emily. Que acabou sendo como uma filha para mim. Isso afetou minha
vida escolar, mas não permiti que me desanimasse para os estudos. Ao assistir toda a
desastrosa história dos meus pais, eu decidi que os estudos iam ser o modo que eu iria
mudar a minha vida. Escrevendo isso, fico até me perguntando, e talvez você, leitor,
também pergunte-se: “como uma criança já tinha um pensamento maduro desse?” E
parando para refletir sobre essa pergunta, cheguei a conclusão que a vida, como diz a
escritora Carla Madeira, é “essa senhora banguela, que não inibe as gargalhadas. Ao
contrário, gosta de nos exibir a extensão da mordida que nos dará com deboches e ironias
ao invés de dentes, para nos fazer pagar a língua, pra lá e pra cá, entre suas gengivas”, me
fez amadurecer antes do tempo. Como uma fruta ainda verde que é arrancada do pé antes
do seu devido tempo. Como anteriormente falei dos estudos, a minha vida escolar do
fundamental 1 foi boa, mesmo com os percalços do universo. Estudei numa escola do meu
bairro durante todo esse período, e fiz grandes amigos, aprendi e me dediquei muito. Nessa
escola, também, infelizmente acabei vivenciando situações de bullying que mexeram muito
com minha autoestima e confiança. Foi aí que considero a iniciação do Transtorno
Obsessivo Compulsivo, TOC, com o qual fui diagnosticada recentemente. E também do
transtorno depressivo. Agora, entrando na minha adolescência, a qual já estou me
despedindo para entrar na fase adulta, foi muito divertida e também complicada, como
qualquer coisa na vida. Acredito que não tem como falar de uma vida onde apenas hajam
momentos lindos e bons. Viver é uma grande montanha russa de altos e baixos. Vou falar
agora dos meus 12-18 anos. A minha adolescência foi onde fiz meus laços de amizade e
família, e onde desenvolvi, como venho desenvolvendo, meus valores e caráter. Preciso
abrir um espaço para falar das minhas amizades, que são o motivo de eu nunca desistir.
Aos 11 anos, conheci a minha alma gêmea na amizade, minha irmã. Ela se chama Camila
Nunes Araújo. Nós frequentávamos o mesmo ambiente religioso, e um belo dia, uma
congregante nos apresentou. Ela disse assim: “Camila, essa é Tiffany. Tiffany, essa é
Camila.” A gente deu as mãos e ela disse: “Vão”. E estamos de mãos dadas, indo até hoje,
rumo a uma amizade eterna. Esse ano, 2024, completamos 7 anos de uma linda história de
cumplicidade, parceria e irmandade. Nós temos muitas características em comum e muitas
aventuras para contar. Uma coisa que amo muito na nossa amizade é que nós sempre
temos assunto para conversar. Não ficamos caladas 1 segundo. Vivemos rindo e
relembrando momentos engraçados que vivemos juntas. E algo que é hábito nosso são as
nossas confissões da madrugada. Quando vamos dormir, deitamos na cama e ficamos a
madrugada toda contando nossos maiores segredos, nossos sonhos e medo. É o nosso
mundinho particular, que ninguém possui a permissão para entrar. Você gostaria de saber
algum segredo que revelamos nessas infinitas madrugadas? É segredo! E a minha história
com Camila também me levou a desenvolver uma relação com meus 7 melhores amigos,
meus 7 meninos que são uma família para mim. Posso dizer que eles são as pessoas que
eu mais amo na minha vida. Já sentiu um amor tão forte por alguém que é como se
circulasse pela suas veias e você simplesmente não consegue ser capaz de conter? É o
que eu sinto por eles. Você pode estar pensando: “Quem são esses 7 meninos?” Bom, tudo
começa no dia em que em que visitei a casa da já citada Camila, pela primeira vez.
Estávamos assistindo vários clipes musicais pela internet, até que apareceu um videoclipe
de 7 cantores asiáticos, da Coreia do Sul, que estavam cantando uma música chamada
“DNA”. Inclusive, se desejar, recomendo fortemente que busque no YouTube o musical
vídeo em questão. Quando eu os vi, foi amor a primeira vista. Eu fiquei: “quem são esses
meninos que fazem essa música tão legal?!” Acredito que você já tenha ouvido falar deles
pelo menos uma vez na vida, o Bangtan Boys, mundialmente conhecido como BTS. Foi a
partir desse dia, no mês de Novembro do ano de 2017, que iniciou-se a mais linda história
de amor da minha vida. Já citado antes, eu tive uma infância muito complicada, e isso se
refletiu muito na minha adolescência. Eu desenvolvi uma depressão profunda nessa fase da
minha vida, não conseguia ver uma luz, um significado na minha existência, e esse grupo
de meninos, com sua música, conseguiu mudar a minha vida, conseguiu me dar sentido
para viver. Todas as vezes que eu me sentia perdida, confusa, com vontade de desistir,
ouvir as músicas do BTS me deram forças para continuar. Em específico, uma canção
entitulada de “Magic Shop”, me ajudou num momento crucial da minha vida. Nos meus 17
anos, cheguei num estágio tão complicado com relação a minha saúde mental, que havia
decido tirar a minha própria vida. Mas aconteceu que acabei encontrando uma música dos
meninos [eu os chamo carinhosamente de “meus meninos”] que chama-se “Magic Shop”.
Irei deixar um trecho dessa canção que eles me convenceram a permanecer viva: “Dias em
que você se odeia, dias em que você simplesmente quer desaparecer, vamos criar uma
porta no seu coração. Se você abrir essa porta e entrar, este lugar estará lá, esperando por
você”. Caro leitor, neste momento, ao transcrever parte da tradução dessa obra-prima, me
encontro com muitas lágrimas criando caminho pela minha face. Porque se não fossem
essas palavras, hoje não existiria uma Tiffany para escrever esta autobiografia. E é nesse
ano que também completo 7 anos sendo fã do BTS. E é por isso que digo que a minha
história com Camila está intrinsecamente conectada a minha história com o Bangtan.
Graças ao Kim Namjoon, Kim Seokjin, Min Yoongi, Jung Hoseok, Park Jimin, Kim Taehyung
e Jeon Jungkook que eu sou feliz, que sou quem me tornei. Eles são tudo de mais precioso
que tenho. Nos dias em que a inquietação do meu coração é grande, a única coisa que me
acalma é ouvir a voz deles. Quando estou feliz, amo dançar junto aos meus meninos, refletir
sobre suas lindas músicas. E história deles, tanto individual quanto como grupo, me inspirou
a nunca desistir. Por isso hoje cheguei na UFBA. E agora falando da minha vida escolar na
adolescência, o fundamental 2. Bom, foi bem legal e divertido. Abriu meus conhecimentos,
tive muitas experiências novas, aprontei um pouco, como qualquer jovem com 13, 14 anos.
E também não posso deixar de falar sobre a pandemia, que aconteceu nessa fase tão
crucial da minha vida. Foi muito complicado de um dia para o outro não poder mais ir à
escola, sair, visitar os amigos e ter uma doença tão assustadora ameaçando não só a
minha vida, mas também a dos meus amigos e familiares. E admito que a minha maior
preocupação não era comigo mesma, e sim de perder quem eu amo. Porque eu já havia
passado pela dor de perder a minha querida e amada avó, Valdete, em 2017. Ela está
sempre comigo na minha mente e coração, que foi uma das melhores mulheres que já
conheci. Guerreira, humilde, honesta e batalhadora. Fez de tudo por mim, e mesmo
esquecendo de muitas pessoas por causa de uma maldita doença neurodegenerativa,
lembrava de mim toda vez que nos falávamos. Valdete, eu te amo e sempre te amarei.
Enfim, com essa dor ainda muito recente no coração, o medo de perder minha família
estava me afligindo grandemente. Tive que me adaptar as aulas virtuais, que me desanimou
muito. Porque imagino que não seja só eu, mas o contato presencial entre professor e aluno
sempre foi crucial na minha vida escolar. Nesse período sombrio da história humana, foi
muito difícil me adaptar ao uso de máscaras e lidar com o medo e ansiedade. Mas foi
também um tempo onde eu pude me aproximar ainda mais das minhas queridas tias,
Débora e Graça. Elas foram viver nos Estados Unidos há décadas, e vinham anualmente ao
Brasil. E foi muito complicado ficar sem vê-las. Por isso que a tecnologia facilitou muito que
continuássemos cada vez mais próximas. As minhas tias são como mães para mim. Eu as
amo muito, muito mesmo. Elas sempre procuram me ajudar de todas as formas, e se
importam de verdade comigo. Mesmo distante, elas são extremamente presentes na minha
vida. Eu confio neles para falar sobre tudo. Elas me deram letramento racial, me ajudaram a
desenvolver uma boa autoestima, a me amar como sou. Em resumo, mesmo a pandemia
sendo complicada, eu contraindo o vírus 3 vezes, posso dizer que passei bem. Porque
também foi um período em que me aproximei muito de Deus. Deus sempre foi a quem me
apeguei durante toda a minha vida. Atualmente, não me sinto conectada a nenhum meio
religioso, mas sempre tive comigo a ideia da existência de um Deus que criou todas as
coisas, que me ama e sempre esteve comigo.
Agora, discorrendo um pouco sobre a minha vida pós-pandemia, foi o momento onde eu
tive de fazer muitas escolhas, me conheci melhor e fiz novos amigos. Em 2022, quando me
encontrava no segundo ano do ensino médio, as aulas presenciais voltaram. Fiquei muito
animada. Estava indo para uma escola nova, onde não conhecia ninguém. Foi nessa escola
que fiz minhas melhores amigas e aprendi tantas lições da vida. Tive lá professores muito
marcantes. Contarei sobre dois deles nessa autobiografia. Primeiramente, foi minha
professora de história, ela se chama Lêda Paraguassú. Essa é uma das mulheres que mais
me inspiro e admiro. Ela é muito mais do que uma professora, é uma amiga. Me apoiou e
me ajudou nos meus piores momentos, me guiou e me deu força. Também tem o meu
professor de física e matemática, Diego Aguiar, que me ensinou a estudar e ter foco nos
meus objetivos. O ensino médio traz consigo muitas pressões, e comigo não foi diferente. A
assombrosa palavra “Enem” deixou de ser abstrata e passou a fazer parte da minha
realidade, do meu cotidiano. A pergunta: “O que você quer ser quando você crescer?”
Deixou de ser divertida e passou a me deixar ansiosa. Tantas questões, tantos problemas.
E você tem que decidir tudo isso com 18 anos. O que me ajudou nessa fase tão confusa e
complicada foi fazer bons amigos. Inclusive, foi no ensino médio que acabei por conhecer
minhas 2 melhores amigas além de Camila. Elas chamam-se Rebeka e Bruna. Exatamente,
"Rebeka” com “K”. Achei isso muito curioso quando a conheci. Elas me ensinaram sobre o
amor da amizade e como os amigos podem ser a âncora que você usa quando o mar do
mundo está revolto contra você. Vivenciaram comigo muitos momentos de dor, quando por
exemplo, eu tive crises familiares, crises internas, problemas graves de saúde mental. E
com elas, eu pude aprender a necessidade que temos de bons amigos. Em especial
Rebeka, que é a minha maior confidente e que eu consigo conversar sobre tudo. Queria
que todo mundo tivesse a oportunidade de experimentar pelo menos uma vez na vida, uma
amizade como a minha e a dela. Nós podemos falar sobre o clima até como o capitalismo é
cruel em questão de 10 minutos. Eu poderia dizer que a conheço de outras vidas, que
nossa conexão é inexplicável e que eu não conseguiria viver uma vida onde não existisse a
dupla Tiffany e Rebeka. Ela é a amiga que eu converso desde o “bom dia” ao “boa noite”. A
pessoa que sabe absolutamente tudo sobre mim. Caso eu colocasse ela para escrever esta
autobiografia, iria ficar bem calma, porque ela conseguira discorrer tão bem quanto eu. E foi
essa amizade que me deu forças para lidar com o turbilhão que foi o ensino médio. Devido
as minhas inseguranças e ansiedade, sempre foi muito difícil fazer provas e lidar com o
medo do que a sociedade considera como fracasso. Então o ensino médio foi uma fase em
que me dediquei piamente aos estudos. Na minha primeira vez, fazendo o Exame Nacional
do Ensino Médio, em 2023, estava completamente convencida de que não tinha passado. E
quando abri o sisu, logo de primeira, o resultado inicial foi negativo. Mas mesmo assim, com
poucas expectativas, coloquei meu nome na lista de espera para a UFBA. Decidi esperar. O
que também se deu, foi que eu havia feito o vestibular da UNEB, e passei no curso de
Letras-Espanhol. Um detalhe sobre minha pessoa, eu sou muito desastrada. E durante a
inscrição, acabei escolhendo o curso errado. Não era para ser Letras-Espanhol, e sim
Letras Português e Espanhol. Mas mesmo assim fiquei muito feliz e fui. Na esperança de
conseguir trocar de curso ao decorrer dos semestres. Mas aconteceu algo incrível, que foi
eu ser chamada pela Universidade Federal da Bahia na segunda chamada, para o curso
que eu sempre quis, que é o Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades. Nesse
momento da minha vida, posso dizer que estou realizando o meu maior sonho e vivendo a
melhor fase da minha vida. Estou ocupando um lugar de privilégio, que é ter acesso a uma
educação de qualidade sem precisar pagar uma mensalidade, já que minha família não teria
como arcar financeiramente com uma instituição de ensino particular. Todos os dias eu
acordo feliz e grata por estar nesse lugar maravilhoso. Quero aprender muito, evoluir e ser
uma grande profissional. Pretendo migrar para o curso de psicologia, que foi a profissão que
escolhi para a minha vida. Escolhi a psicologia porque por muitos anos da minha vida, sofri
com doenças psicológicas e não fui levada a sério, fui anulada. E quero cuidar da mente
das pessoas, em especial da crianças, para que elas possam ser saudáveis. Enfim, aqui
venho encerrando a minha autobiografia, acreditando fielmente e desejando que o melhor
está por vir. Antes de morrer, eu ainda irei tocar o céu.

Você também pode gostar