Memorial - A Outra Face Da Guerra Por Nádia Conceição

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 55

A OUTRA FACE DA GUERRA

Fotografias e textos de Nádia Conceição

2
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
COMUNICAÇÃO - JORNALISMO

NÁDIA DOS SANTOS DA CONCEIÇÃO

A OUTRA FACE DA GUERRA

SALVADOR - BAHIA
2009

3
NÁDIA DOS SANTOS DA CONCEIÇÃO

A OUTRA FACE DA GUERRA

Memória do trabalho de conclusão de curso de graduação em


comunicação – habilitação em jornalismo, Faculdade de
Comunicação, Universidade Federal da Bahia como requisito
parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Comunicação
Social, Habilitação em Jornalismo.

Orientação: Prof. José Mamede

SALVADOR – BAHIA
2009

4
Dedicatória

Oferto esta obra a todos aqueles que a tornou crível em suas variadas etapas.

De modo especial, dedico a minha mãe, Joana, aos meus familiares, pelo apoio incondicional
que sempre deram aos meus projetos, em especial, minha irmã, Nilzete, que atuou como
minha produtora em todo o processo de realização das fotos. Aos meus irmãos, Cosme e
Paulo e à minha irmã, Ediléia. À minha avó, Tereza Nascimento, ao meu padrasto, Banedito
Chaves e aos meus sobrinhos, Tainá, David e Mayele.

Aos espadeiros do município de Cruz das Almas, Juvanildo de Santana, Adilson da Silva,
Rosival Rodrigues, Alessandro dos Santos, Marcelo Cerqueira, Nival e Quinho, que
proporcionam o espetáculo cultural e, particularmente, ao senhor Edmilson Cerqueira
(Missinho) por ter compartilhado suas experiências e conhecimentos comigo acerca do tema.
E a Maurício Cruz.

Ao professor e fotógrafo Paulo Munhoz, pela pré-seleção das imagens, ao estagiário em


fotografia da Ascom da Secretaria de Comunicação da prefeitura municipal de Salvador
(Secom), Wendell Wagner, que me auxiliou na edição das fotos que compõem este livro. A
Candido Vinicius, que teve calma com minha correria no processo de diagramação e
finalização. A Casa da Cultura Galeno D' Avelírio, que enriquecem a publicação com a
doação dos textos de seus poetas.

Em especial aos queridos amigos, Jane Evangelista, Aldalice Cruz, Neusa Martins, Inês
Costal, Rebeca Bastos, Carina Gazar, Juliana Montanha, Juliana Souza, Renata Freitas, Jorge
Gauthier, Robson Carneiro, Éric Luiz, Thiago Pereira, Taciana Gacelin, Matheus Feitosa,
Alan Botelho, Anderson Sotéro, Ugo Melo e Vinicius Carvalho.

Este trabalho também é dedicado aos professores que acompanharam a minha trajetória
estudantil, que contribuíram, direta e indiretamente, pela escolha do tema e pela definição
deste formato como produto final. Aos meus amigos de Cruz das Almas que me
acompanharam durante estes quatro anos e meio e, de maneira particular, aos professores
Thiago Prado, por revisar os textos e a José Mamede, que com seu apoio e orientação, tornou-
o realidade.

5
Sumário

Apresentação 08

Introdução 09

Justificativa 11

Espadas: patrimônio popular 13

A cultura e o popular 18

A imagem capturada 21

Relato do processo de registro 25

Elaboração do livro fotográfico 27

Cronograma de execução 31

Orçamento 32

Conclusão 33

Bibliografias 34

Apêndice A - A produção das espadas

Apêndice B - A pirotecnia

Apêndice C- Entrevista com o prefeito de Cruz das Almas

Anexo 1 - Decreto 6465/97 | Decreto Nº 6.465 de 09 de junho de 1997 da


Bahia

Anexo 2 – Norma Técnica Nº 08/2002 – Fogos de artifícios - Corpo de


Bombeiros Militar do Distrito Federal

6
Índice de imagens
Figura 1: show pirotécnico nas ruas da cidade 14
Figuras 15
2: show pirotécnico nas ruas da cidade
3: espada pronta para ser tocada
Figura 4: espadeiros preparados para a guerra de espadas 16
Figura 5: capa do livro 30
Figuras 38
6: encerando o cordão
7: processo de enrolar o bambu
Figuras 39
8: pilando a pólvora
9: fabricação de espadas
10: fabricação de espadas
11: fabricação de espadas
Figuras 40
12: brocação das espadas
13: espada brocada
14: marcação para efetuar a brocação das espadas
Figuras 41
15: enfeitação das espadas
16: enfeitação das espadas

7
Apresentação

Este trabalho é o memorial descritivo da documentação fotográfica A outra face da guerra,


que mostra os processos de produção artesanal de espadas no município de Cruz das Almas,
na Bahia. Essa documentação mostra a produção descrita, por seus realizadores, como um
reforço da tradição cultural da cidade e busca fazer um recorte diferente dos que têm sido
feitos dessa tradição. Essa abordagem trata a produção como geradora de renda e como um
local de reafirmação cultural da cidade - o que vai de encontro ao recorte hostil das mídias,
que, frequentemente, apresentam as espadas como instrumento de violência e de assassinato
cultural. Este memorial vai descrever as três etapas que originaram um livro fotojornalístico, a
saber:

1) Dados históricos do município de Cruz das Almas, onde será possível que o leitor se
situe nas condições sociais e históricas que sugerem o aparecimento e a permanência
da tradição do fabrico das espadas na cidade, somados ao detalhamento do processo de
produção das mesmas.

2) O registro através da fotografia. Serão explanados os motivos quanto à escolha da


documentação do processo de produção, além de um breve histórico da fotografia
fojornalística – documental.

3) O processo de produção das fotos, as dificuldades e todo um passeio através das


escolhas dos ângulos, dos destaques de cada processo de produção das espadas, os
equipamentos utilizados e todo processo de composição do livro.

8
Introdução

A união entre relevância sociocultural do tema e a sua perpetuação, através de imagens,


fizeram-me concluir que o fotodocumentário seria a melhor maneira de captura do modus
operandi desta manifestação cultural, de modo que fugisse do tradicionalismo factual das
páginas dos jornais e das telas de tevê sem, contudo, fugir do objetivo de vincular o
jornalismo à cultura popular.

Pensado com a intenção de ser um registro fiel e com um mínimo de interferência no


desenvolvimento da ação, visto que a minha presença no local já é, em si, uma interferência.
Esta documentação pretende suscitar, através do registro fotográfico – fotodocumental, uma
reflexão sobre a importância da cultura do Recôncavo da Bahia.

Este trabalho compõe um registro histórico-cultural da tradição do município, através da


confecção de um livro fotodocumental para difundir e detalhar os processos de produção de
espada de Cruz das Almas e mostrá-los como uma manifestação cultural enfatizando aspectos
que não são comumente retratados nessa tradição – o que possibilita valorizar a população
enquanto produtora de cultura.

Quando ficou definida a minha escolha pelo registro da produção das espadas em Cruz das
Almas, comecei a pesquisa sobre o tema. A falta de informações concretas mostrou-se um
fator deveras problemático. A dificuldade estava exatamente na inexistência de trabalhos
escritos que revelassem detalhes sobre a tradição da cidade, que retratassem os primeiros
registros da manifestação local. Primeiramente, tentei buscar as fontes oficiais, mas como não
obtive retorno, imediato, resolvi ir diretamente aos produtores, os espadeiros. Para facilitar a
minha pesquisa, eu segui o espadeiro Edmilson Cerqueira (conhecido como Missinho), que
produz espadas há 15 anos. Acompanhei-o, nos fins de semana durante dois meses na
produção das espadadas, que vai desde a preparação do bambu para receber as misturas de
pólvoras e barros até a queima do artifício junino. As ações iniciais de colheita e de cozimento
do bambu bem como a extração do barro não foram possíveis registrar devido ao difícil e
perigoso acesso ao local de extração, até mesmo para os trabalhadores locais.

9
Para documentar estes processos, viajei todos os fins de semana dos meses de maio e junho.
Os primeiros encontros eram para estabelecer contatos com o espadeiro, Edmilson Cerqueira,
que se mostrou atencioso e receptivo. Feito o primeiro contato, fui para a captura das
imagens, pois restava-me pouco tempo e os processos não se repetiam.

10
Justificativa

A pedra fundamental definidora do meu tema foi baseada em dois fatores - o primeiro diz
respeito ao objetivo de sempre fazer algo com relevância sociocultural, permeada pelo ideal
romântico de mudar o mundo, que me trouxe à faculdade, segundo pela satisfação pessoal de
ter um trabalho que seja importante para minha iniciação profissional.

A certeza por este tema – a produção das espadas em Cruz das Almas – consolidou-se com o
interesse em tornar protagonista a cultura popular de minha cidade natal, Cruz das Almas. Em
meio a pesquisas sobre as manifestações culturais da cidade, resolvi retratar, por um viéis
diferente dos já abordados anteriormente, uma tradição maltratada pelos meios de
comunicação – com matérias que só mostram seus saldos negativos - e por alguns moradores
da cidade: as espadas.

A partir desses dois critérios, defini o tema central, a cultura, especificamente, a cultura da
produção de espadas no município baiano de Cruz das Almas, pois considero-o como uma das
formas autênticas de representação da comunidade cruzalmense. Além disso, a não existência
de uma publicação que utilize o tema em registro fotográfico, estimulou-me por um trabalho
pioneiro.

A captura do tema através das imagens vem da minha fascinação pela fotografia. Esse
fascínio acompanha-me desde 2003, quando fiz um curso por correspondência e, na
faculdade, até o segundo semestre quando não havia tido nenhuma outra disciplina que me
tivesse causado excitação como a Oficina de Audiovisual, especialmente, o módulo de
fotografia. Gostei tanto dessa prática que dei continuidade no 6º semestre, na Faculdade de
Belas Artes da UFBA, com a disciplina Fotografia IA. Partindo daí, achei mais interessante
produzir um livro de fotografia baseado na estrutura fotodocumental - o que contribui bastante
para solidificar a cultura, além de promover o acesso aos bens culturais inacessíveis,
desconhecidos ou que estejam fadados ao esquecimento ou ao desaparecimento.

Apresentadas como violentas e tida como uma tradição assassina pelas grandes mídias, as
espadas, todos os anos, são alvos de matérias que só contam suas vítimas e seus estragos
estruturais. O que quero destacar neste trabalho também é que a produção das espadas pode

11
ser um gerador de renda para muitas famílias do município na época junina. Esse modo de
cultura é defendido por Stuart Hall, pois considera-o como uma reprodução da “cultura
popular”, a cultura produzida pelo povo e é: “(...) num sentido “puro”, nem as tradições
populares de resistência a esse processo, nem as formas que as sobrepõem. É o terreno sobre o
qual as transformações são operadas” (HALL, 2006, p. 232).

Havia, em verdade, registros em TV e vídeos, sempre dando ênfase à Guerra das Espadas. Foi
então que pensei em documentar todo o processo de produção, enfatizando os meios de
produção e não o fim (produto final). A partir daí, ao juntar meu fascínio pela fotografia com
o prazer de produzir algo que respaldasse a cultura da minha cidade escolhi compor um livro
fotográfico que guardasse, de maneira documental, esta cultura de modo que, de certa forma,
fosse um registro palpável dessa manifestação que hoje está ameaçada de extinção.

12
Espadas: patrimônio popular

A cidade

Com população de 60 mil habitantes, Cruz das almas é a terceira maior população do
Recôncavo, e sua história é atrelada à cultura fumageira. A origem de seu nome tem duas
versões: a primeira refere-se à existência de um cruzeiro na antiga estrada de tropas, assim
denominada, pois servia de passagem aos tropeiros, a seus gados e aos mantimentos para a
região. A cidade era ponto de encontro para que as pessoas rezassem novenas, invocassem os
santos e orassem pelas almas, expressão esta muito comum na Bahia e fortemente
influenciada pela religião católica. A outra é mais de caráter sentimental e de saudosismo
pátrio. Alguns fundadores da vila, portugueses, teriam batizado a nova povoação com o nome
de sua terra de origem, a Cruz das Almas lusitana, uma homenagem aos portugueses que ali
se instalaram.

Enigmática até no significado de seu nome, Cruz das Almas vem aparecendo ao longo dos
últimos anos por causa de seu grande potencial cultural e pelo destaque dado à chamada
cultura popular. Com uma área territorial de 144km², a cidade localiza-se no Recôncavo Sul
da Bahia e dista 146 km de Salvador. Uma das suas potencialidades são os minifúndios com
destaques para a plantação de fumo, laranja e mandioca, empregando, com isso, 22% da
população, sendo que deste total, 85% são mulheres.

A festa Junina

Com os festejos do São João, a cidade recebe, segundo dados da prefeitura, aproximadamente,
500 pessoas, nos cincos dias da festa, a economia do município gera algo em torno de 1500
empregos e, conforme números da Secretaria da Fazenda, R$ 10 a R$ 12 milhões circulam no
comércio local. Pode-se dizer que, atualmente, a festa articula-se em torno de três rotas
básicas de divertimento: O “Arraiá da Cultura Popular”, o “Forró do Bosque” e a “Guerra de
Espadas”.

13
As espadas

Artefato bastante antigo, com pelo menos seis ou sete séculos de existência, as espadas são
fogos de artifícios originados dos antigos busca-pés1. As espadas são confeccionadas e
tocadas na época dos festejos juninos da cidade de Cruz das Almas e vêm passando por várias
transformações em suas funções ao longo do tempo.

Os pesquisadores ainda não chegaram a uma conclusão quanto à origem das espadas, se de
Portugal ou da Itália; contudo, com relação a seu nome, segundo uma lenda contada pelos
moradores, vem de um antigo acontecimento: guerreiros eram destinados a proteger dos maus
espíritos, a cidade, e de ladrões e mercenários, as plantações. Para terem força, pediam
proteção a São João. O santo equipava-os com espadas e tornava-os guerreiros de São João.
Por isso, atualmente, as espadas antigas são associadas às espadas de bambus e à crença de
que espantam os maus espíritos da cidade.

Figura 1: show pirotécnico nas ruas da cidade (São João de 2009)


Foto: Nádia Conceição

Tipo especial de foguetes, as espadas são feitas de bambus com aproximadamente 30 cm de


comprimentos e peso de cerca de 600 gramas. Normalmente, começam a ser fabricadas no
período posterior à Semana Santa para ser queimadas em junho.

Durante a queima, um misto de temor, admiração e fascínio envolve moradores e turistas que
assistem à tradicional Guerra de Espadas. O evento acontece precisamente no dia 24 de junho

1
- Busca-pés era o nome dado aos fogos de artifícios feitos com bambus pequenos, menores que as espadas. Eles eram explosivos e
causavam muitos acidentes e mortes.

14
desde a década de 30. No século XVIII, chamados de “bichas de rabear”, para conter os
excessos de seu uso, sem regras ou lei, os busca-pés foram limitados e, muitas vezes,
proibidos de ser fabricados, sendo os espadeiros perseguidos por patrulhas policiais.

Figura 2: show pirotécnico nas ruas da cidade (São João de 2009)


Foto: Nádia Conceição

Segundo o pesquisador e sociólogo Moacir Carvalho, a prática de tocar espadas não era só
realizada em Cruz das Almas. No século XVIII, outras cidades como Sapeaçu, Muritiba,
Cachoeira, Governador Mangabeira, São Felix e Senhor do Bonfim já praticavam a
brincadeira; contudo, somente em Cruz das Almas, as espadas ganharam o caráter de tradição,
permanecendo vivas até hoje. Conforme Moacir Carvalho, “é hoje, provavelmente, a cidade
baiana que a brincadeira mais se disseminou e é conformada numa mimética da guerra, sendo
que se identifica e é identificada por ela”.

Figura 3: espada pronta para ser tocada


Foto: Nádia Conceição

A produção de espadas, apesar de decadente nos últimos anos por causa do aumento dos
preços da matéria-prima, envolve grande parcela dos moradores da cidade que, na maioria,
são homens a partir de 15 anos. Estima-se que duzentas mil espadas são produzidas em Cruz
por ano, com a existência de mais de 100 oficinas, autorizadas ou não.

15
A guerra

A brincadeira com as espadas - muito criticada – tem toda uma magia envolvida em sua
queima. Durante os festejos juninos, em Cruz das Almas, o exercício de queimar as espadas é
feito em acordo com os dirigentes da cidade, ou seja, são estipulados locais nos quais as
espadas poderão ser queimadas sem arriscar ou amedrontar quem não aprecia a brincadeira.

O grande show pirotécnico ocorre na Praça Municipal da cidade no dia 24 de julho, das 15h
às 23hs. Os guerreiros vestem-se a caráter - calça e jaqueta jeans, tênis, luvas – e alguns usam
máscaras ou capacetes para proteger a cabeça de pancadas violentas, com o intuito de “pular”2
espadas. Porém existem os mais inflamados que brincam sem proteção e, por vez, acabam
machucando-se.

Figura 4: espadeiros preparados para a guerra de espadas


Foto: Nádia Conceição

A cidade é separada entre quem é a favor dessa tradição e quem é contra. A inexistência de
conciliação tem provocado instabilidade nos organizadores do São João. Eles se veem
acuados com relação à problemática de acabar ou não com as espadas na cidade. Existem
várias sugestões envolvendo o tema, inclusive a possibilidade de se criar um dia e um único
espaço para realizar a Guerra de Espadas. De acordo com os espadeiros3, segundo o grupo que
tive contato na visita de campo, eles já enviaram à prefeitura um projeto de criação de uma
cooperativa de produção de espadas. A iniciativa teve o apoio de outras cidades da região, que
também produzem o folguedo, mas esse pedido foi negado. A materialização desse projeto
iria possibilitar uma produção padronizada e com maior responsabilidade dos fabricantes, pois

2
- O termo pular é usado como referência ao ato de brincar semelhante a uma dança em que o participante é envolvido, com o
brinquedo, nesse caso as espadas.

3
- São as pessoas que fazem a brincadeira acontecer, são os guerreiros que, segundo a lenda, protegem a cidade. Eles participam da
fabricação até a brincadeira em si, sendo que alguns participam apenas da brincadeira.

16
seriam eles mesmo que dirigiriam os espaços, evitando, com isso, a produção irresponsável
das espadas, conforme os espadeiros autores do projeto. Segundo a prefeitura, nenhum projeto
chegou ao conhecimento do prefeito Orlando Peixoto.

A produção de espadas

O processo de produção das espadas é dividido em nove etapas, de fundamental importância


na sua concepção, a saber: a escolha do bambu; a escolha do barro; enceração do
barbante; enrolar a espada; preparação da pólvora; a fabricação; a preparação da
espada para ser brocada; a brocação; acabamento. (Veja esse processo mais
detalhadamente no APÊNDICE A)

17
A cultura e o popular

O “debate cultural” teve maior importância com os Estudos Culturais a partir da década de 60.
Os culturalistas estavam preocupados com a ruptura das tradições culturais, na qual a cultura
era vista como algo separado da sociedade, intocável e altamente excludente. A partir desses
argumentos, a sociedade (sociedade operária) também seria considerada produtora de cultura.
Williams sustenta que “a cultura é um processo que se modifica e se produz nas relações com
a sociedade” (WILLIAMS, 1969, apud HALL, 2006), ou seja, a cultura é tida como modo
integral de vida.

Tendo como base este debate iniciado pelos culturalistas, pode-se inferir que a cultura deixa
de ser estritamente burguesa e passa a ser popular, pois tem como principal ator a
comunidade, e que, muitas vezes, é associada à tradição, pois esta era um local de resistência
às mudanças que, por ventura, viessem a ocorrer. Essas resistências tinham como objetivo
manter uma originalidade em suas práticas culturais e econômicas, o que, de acordo com
Canclini funciona como uma assimilação dos hábitos por uma determinada sociedade e de
acordo com ele, no livro As culturas populares no capitalismo:

As culturas populares (termo que achamos mais adequado que cultura


popular) se constituem por um processo de apropriação desigual dos bens
econômicos e culturais de uma nação ou etnia por parte dos seus setores
subalternos, e pela compreensão, reprodução e transformação, real e
simbólica, das condições gerais e especificas do trabalho e da vida.
(CANCLINI, 1982, p.42)

Segundo os Estudos Culturais, mesmo que uma cultura esteja inserida no âmbito da classe
popular, ainda assim não podemos esquecer as relações de poder que a circulam e a moldam
conforme os interesses dos envolvidos. Por isso, é preciso atentar para o que sustenta Stuart
Hall: “(...) não existe uma “cultura popular” autêntica e autônoma, situada fora do campo de
força das relações de poder e de dominação culturais” (HALL, 2006, p. 238). Ou seja, em
toda cultura, independente da classe social, haverá hierarquias.

Influenciadas pelo mundo moderno, as identidades culturais têm sido modificadas e


deslocadas dentro do cenário mundial. Isto é provocado pelo advento da globalização, pois
tem permitido uma hibridização nos modos de se produzir cultura em cada nação. Isso é
reforçado por Hall, quando ele afirma que:

18
(...) as identidades nacionais não são coisas com as quais nascemos, mas são
formadas e transformadas no interior da representação. Nós só sabemos o
que significa ser “inglês” devido ao modo como a “inglesidade”
(Englisheness) veio a ser representada - como um conjunto de significados -
pela cultura nacional inglesa. (HALL, 2005, p.48)

Podemos identificar que as identidades culturais aproximam-se cada vez mais da cultura
popular, pois têm incorporado elementos de outras culturas sem, contudo, perder suas
particularidades. Essa aproximação é comprovada nas relações sociais estabelecidas com as
trocas culturais existentes nas sociedades pós-modernas, denominadas de culturas híbridas, e
fundamentaliza alguns ideais culturais defendidos pelos culturalistas. De acordo com Hall, nas
identidades pós–modernas, “As culturas híbridas constituem um dos diversos tipos de
identidades distintivamente novos produzidos na era da modernidade tardia (...)” (HALL,
2005, p. 89). Por isso, tanto as identidades quanto as culturas podem ser representadas de
maneira a se constituírem realidade dentro de uma dada sociedade, portanto:

Representación significa usar el lenguaje para decir algo con sentido sobre, o
para representar de manera significativa el mundo a otras personas. (...).
Representación es una parte esencial del proceso mediante el cual se produce
el sentido y se intercambia entre los miembros de una cultura. Pero implica
el uso del lenguaje, de los signos y las imágenes que están por, o representan
cosas. (HALL, 2002, p. 02)

Pressupondo que as culturas são as representações de cada sociedade, a forma de


demonstração de seu modo de ser e de viver dentro de uma determinada nação é sua
simbologia. Pensando no modo de representar a cultura acredita-se que, através da imagem,
pode-se representar muito bem a cultura desde que retratada como realmente é. Partindo do
conceito de representação de Hall, o fabrico de Espadas na cidade de Cruz das Almas tem
contribuído para moldar as formas e os modos de viver do povo cruzalmense (mesmo que de
um período curto, mas muito significativo), constituindo, com isso, uma documentação da
realidade do local e dos moradores cidade. Por isso, esse registro será através de fotografias
documentais.

É importante, ainda, lembrar que de acordo com Canclini o uso de qualquer fenômeno é o que
deve estabelecer o seu caráter popular e deve ser baseado no fator social em si. Segundo
Cirese “É a relação histórica, de diferença ou de contraste, diante de outros fatos culturais”
(CIRESE, APUD CANCLINI, 1982, p.48).

19
A imagem capturada

A fotografia, inicialmente, tinha a função de registrar os fatos, ações cotidianas sem levar em
consideração seu caráter jornalístico. Ao percebê-la como uma maneira de noticiar ou
denunciar fatos, passou-se a explorar, mais ainda, seu potencial; daí em diante, a fotografia
passou a ser contemplada pelo seu caráter utilitário para o jornalismo – o que se convencionou
a chamar de Fotojornalismo que, segundo SOUSA (2002), abrange não só as fotografias de
notícias, mas também os projetos documentais. É, precisamente, esse caráter documental que
nos interessa neste trabalho, fortalecendo, com isso, o aspecto jornalístico da imagem que, de
acordo com Munhoz:

A fotografia começa a ser vista, cada vez mais, como uma força atuante
capaz de persuadir devido ao seu “realismo” e mostra que tem autonomia
própria, revelando-se eficaz como uma nova linguagem informativa,
disputando com o texto um lugar de destaque na transmissão de notícias.
(MUNHOZ, 2005, p. 31)

A ideia principal desse projeto é retratar a preparação das espadas, reforçando assim a cultura
própria do município. Para tanto, o fotojornalismo faz-se importante no registro dessa cultura
como uma representação da vida e do cotidiano da cidade. Isto é possível porque:

Para o fotojornalismo a conquista do movimento revelou-se de importância


vital, uma vez que permitiu "congelar" a acção, impressioná-la numa
imagem quase em tempo real, capturar o imprevisto, chegar ao instantâneo e,
com ele, acenar com a ideia de verdade: o que é assim capturado seria
verdadeiro; a imagem não mentiria (note-se, todavia, que apesar de o
instantâneo permitir representações fotográficas mais "sinceras" e
espontâneas, as fotografias não deixam de ser representações). (SOUSA,
1998, p. 14)

Atualmente, o fotojornalismo é utilizado como fonte de informação, que preza pelo factual,
imediato e que não pode ser manipulado, ou seja, a continuidade do que os primeiros
fotógrafos faziam diante de um acontecimento: revelar os acontecimentos através das imagens
– o que, de acordo com Sousa: “(...) tem em vista fazer chegar essa imagem a um público,
com intenção testemunhal. Também seria uma questão de tornar a espécie humana mais
visível a ela própria (26)” (SOUSA, 1998, p. 11).

No fotojornalismo, a imagem é uma representação da cultura local – o que, realmente,


acontece como sendo a prática cultural do local estudado. Seu estopim deu-se com coberturas

20
de guerras, como a Guerra da Criméia em 1855 e a Guerra de Secessão nos EUA em 1861-
1865. Atualmente, segundo Munhoz, existem alguns princípios que norteiam a cobertura dos
jornais quando se referem às rotinas de produção do fotojornalismo, como, por exemplo: o
leitor que aparece como observador visual (a fotografia surge como um elemento persuasivo
na notícia); o poder de dramaticidade que a fotografia possui (a persistência em estar sempre
ao lado dos fatos).

A fotografia documental ou fotodocumentarismo tem, da mesma forma que o fotojornalismo,


como suporte a imprensa e como intenção “documentar a realidade, informar, usando
fotografias”. Sabe-se que o texto é uma parte fundamental no fotojornalismo, pois ajuda a dar
um significado constitutivo ao que é mostrado na imagem. Entende-se, dessa forma, esse
significado como uma forma complementar da informação chamando à atenção do leitor.

No final do século XIX, tivemos o marco do fotodocumentarismo com a obra de John


Thompson, Street Life in London, publicada em 1862. Inicialmente, ela tinha um caráter de
denúncia social, de mostrar os problemas relacionados às mazelas da sociedade que, até então
eram desconhecidas ou deixadas em segundo plano. Buscava levar a sociedade a uma reflexão
que, futuramente, poderia implicar numa solução dessas mazelas.

Atualmente, o fotodocumentarismo tem despontado no mundo da fotografia, pois tem


permitido aos fotógrafos de notícias a possibilidade de documentar fatos que vão além do
factual, da notícia quente, da hora – isso por que:

Geralmente, um fotojornalista fotografa assuntos de importância


momentânea, assuntos da atualidade ”quente”. Já os temas
fotodocumentalísticos são tendencialmente intemporais, abordando todos os
assuntos que estejam relacionados com a vida à superfície da Terra e tenham
significado para o Homem. Esta noção ampliou o leque de temas
fotografáveis no campo do fotodocumentalismo, já que, nos tempos em que
a atividade dava os primeiros passos, a ambição fotodocumental se
direcionava unicamente para os temas estritamente humanos. (SOUSA,
2002, p. 09)

A base real do fotodocumentarismo é representar a realidade imageticamente, mas tentar


manter-se distante do objeto de pesquisa para não interferir na realidade documentada. Esses
fatos não alterados geralmente servem como um referencial histórico da época documentada,
um momento histórico que pode servir de parâmetro a outras épocas. Baseado no conceito de

21
documentação, este trabalho contribuirá para registrar a cultura, tendo como seu referencial a
produção das espadas na cidade de Cruz das Almas. É evidente que a fotografia documental
permite ao fotógrafo maior tempo de produção, proporciona a ele entregar um trabalho mais
elaborado com uma pesquisa profunda do assunto fotografado (para a composição dos textos)
– possibilitando a obtenção de um trabalho de melhor qualidade. Isso atribui ao
fotodocumentário, segundo Paulo Cesar Boni, a inerente característica de:

Oferecer um produto mais elaborado. Formado por um conjunto de


fotografias, acompanhado ou não de textos explicativos, o
fotodocumentarismo demanda esforços de planejamento e produção, que
podem delongar anos para a sua conclusão. (BONI, 2008, p. 01)

Seguindo a linha dos primeiros fotodocumentaristas, documentaremos este tema como um


indício que force uma reflexão para a criação e o desenvolvimento das práticas culturais nas
pequenas cidades. Teremos a possibilidade de perpetuar visualmente as práticas culturais
realizadas por Cruz das Almas, que permitirão que sua cultura não corra o risco de
desaparecer ante ao desconhecimento dessas práticas ou ao seu não registro para as gerações
futuras.

Podemos considerar, na atualidade, Sebastião Salgado como um dos referenciais na prática do


fotodocumentarismo moderno, pois traz em seus trabalhos um legado importante para a
continuação desse modo de se documentar fatos, notícias e histórias através das imagens, ou
seja, ele retoma a fotografia como meio de objetivar a interferência social. De acordo com
SOUSA (1998), a intenção maior de Salgado e de outros fotodocumentaristas é fazer com que
quem não presenciou a cena saiba o que é e veja como realmente aconteceu por intermédio
das imagens e passe a ser testemunha do fato acontecido – não uma testemunha real, mas, sem
dúvida, visual do acontecimento. Sousa afirma que, no fotodocumentarismo:

Por vezes, exploram um determinado frame, isto é, um enquadramento


contextualizador no processo de produção de sentidos, como é notório nos
fotógrafos do "compromisso social", que tinham uma intenção denunciante e
reformadora, que as fotos deviam consubstanciar, atingindo mesmo os que
não queriam ou não sabiam ver. (SOUSA, 1998, p. 29)

Compreender como se registra traços de uma cultura, de um momento histórico ou até mesmo
de um evento que se considere importante a posteriori é um traço marcante da fotografia
documental ou “fotografia humanística”, como muitos a denominam. Esse gênero fotográfico
que é possível colocar em prática o desejo de ter conhecimento de como o outro pensa, vive e

22
o que prioriza em seu dia a dia (SOUSA, 1998, p. 09). Esses desejos passarão a ser as
demandas da sociedade do século XX no qual o ver e o testemunhar serão fundamentais e as
fotografias estarão muito além de serem meras ilustrações para os textos; muitas vezes, elas
são os textos propriamente – elas falam, noticiam por si só.

Sendo assim, temos a fotografia como um instrumento forte, capaz de criar e induzir novos
pensamentos e comportamentos, além de trazer uma carga de informações do fotógrafo como
seus valores sociais, culturais e sua intenção de conduzir a opinião alheia. Por conta desta
influência, SOUZA (2006) adverte quanto à necessidade de se observarem todos os aspectos
ofertados em uma fotografia:

É preciso, portanto, olhar para a imagem fotográfica com olhos mais críticos
e investigativos, analisar a mensagem fotográfica além da comunicação
visual pura e simples, procurando absorver dela toda uma leitura de contexto
e intenções... (SOUZA, 2006, p.04)

Partindo desses pressupostos, escolhemos utilizar o Fotodocumentarismo, pois desejamos


informar para fazer a sociedade a discutir e, a partir daí, poder responder a questionamentos
acerca dessa prática cultural, a produção das espadas, levando em conta, principalmente, as
condições socioeconômicas e físicas da cidade bem como a sua relação com a comunidade.

23
Relato do processo de registro

Os primeiros dias de ações fotográficas foram os dias 09 e 10 de maio. Foram os registros em


que pude fotografar os atos de enrolamento das espadas e ouvir as histórias de espadeiro do
senhor Edmilson Cerqueira. Eu o acompanhei e a seu ajudante, Juvenildo Santana durante
dois turnos. A produção realizada por eles acontece paralelamente em dois locais distintos.

O espaço de produção das espadas fica no fundo da casa, é pequeno e tem pouca iluminação.
No local, eram armazenados as pólvoras e todos os materiais que seriam utilizados para a
fabricação do artefato. É também realizado lá o processo de unificação dos ingredientes das
espadas – a esse processo os espadeiros denominam de “bater espadas”, que é feito em uma
travessa, também estreita e com pouca iluminação. De acordo com Edmilson, ele sempre
realizou este processo naquele local e nunca teve problemas; contudo, neste ano, ele está
utilizando também uma casa, mais ampla e iluminada, que é de seu irmão também espadeiro.

Todas essas limitações descritas acima fizeram com que o trabalho de fotografa fosse
restringido quanto ao uso dos equipamentos. Nas vezes em que fotografei em lugares
apertados e escuros, precisei usar, com mais freqüência, a lente grande angular 24 mm, pois
proporcionava grande profundidade de campo permitindo registrar também, e com mais
propriedade, o ambiente de trabalho dos espadeiros. O uso da lente 24 mm permitiu também a
abertura do obturador garantindo mais entrada de luz. Esta limitação também foi decisiva para
explorar bastante o flash, para que a fotografia não tivesse sombras e mantivesse as cores do
assunto fotografado.

Contudo fazendo uso do flash, também pude utilizar as lentes teleobjetivas: 60 mm, 105 mm e
70-200 mm, porém, particularmente, prefiro a 60 mm, pois tenho mais facilidades de
manuseio e mais possibilidades de registro do objeto. Com elas, tive a possibilidade de
capturar mais detalhes e pude fotografar os momentos que envolviam movimentos e maiores
riquezas dos detalhes e que exigiram visibilidade para o assunto. Por exemplo, na captura do
momento de “enfeitação” das espadas, precisei de muita aproximação para registrar a ação,
mas sem atrapalhar seu andamento, por isso utilizei a lente 105 mm.

24
Na outra casa, que também acontecia a produção das espadas, o ambiente era mais claro e
permitia o uso mais livre das lentes. Ela era maior e comportava um número maior de
funcionários, 5, desempenhando atividades distintas entre si e que não seria possível fazer na
outra casa devido ao espaço reduzido do lugar. Essa “liberdade” proporcionou-me fotografar
alguns processos em conjunto, utilizando, com isso, a lente 24 mm, mas com o objetivo de
visualizar como eles ocorrem.

25
Elaboração do livro fotográfico

A execução desse trabalho envolveu diversos profissionais e atores diferentes em nove meses
de pesquisas e foi desenvolvida em três etapas.

1ª ETAPA – Estudo e levantamento do tema

Essa foi a mais complicada, pois tive dificuldades em conseguir dados para consolidar a
pesquisa e escrever os textos. Essa dificuldade deu-se por haver poucos registros históricos
acerca do tema e por ser de fontes orais a maioria das informações. Contudo considero que,
mesmo com esse impasse, o levantamento foi positivo para a realização do trabalho.

Essa etapa aconteceu na cidade de Cruz das Almas com a realização de entrevistas com
espadeiros, população e órgãos responsáveis pela organização da festa junina no município.

2ª ETAPA – Registro fotográfico

Foram sete viagens em sete fins de semanas – ao todo 20 dias de registros fotográficos nos
meses de maio e junho de 2009 e mais a semana da festa. Eles foram realizados na cidade de
Cruz das Almas e durante o dia, exceto no dia da batalha de espadas, que oscilou entre dia e
noite. A maioria das imagens teve como principal ator a fábrica de produção de espadas do
senhor Edmilson Cerqueira localizada no centro da cidade. Foram visitadas outras oficinas da
cidade e, em algumas delas, também houve o registro de imagens e pesquisas.

Não houve problemas com o que registrar, pois as etapas são produzidas de maneiras pontuais
e paralelas. A maior preocupação foi não pular nenhum processo, pois poderia influenciar no
produto final e na valorização das etapas de produção.

Outra preocupação, ao registrar as imagens, foi em fotografar ângulos diferentes dos que já
tivessem sido feitos, mas isso foi favorecido pelo recorte dado à abordagem do tema,
invertendo o assunto principal e dando a eles uma importância diferenciada a que geralmente
é dada e conhecida pelas pessoas.

26
Para efetivar o registro, o equipamento fotográfico utilizado foi uma câmera Nikon D70, com
cartão de memória de 1GB, lentes Nikkor 24 mm, 60 mm, 105 mm e 70 – 200 mm, flash
SB80 e Tripé.

3ª ETAPA – Concepção e elaboração do livro fotográfico

Nessa etapa, obtive a colaboração do estudante do curso de Produção Cultural-UFBA e


estagiário em fotografia na Ascom da Secretaria de Comunicação da prefeitura municipal de
Salvador (Secom), Wendell Wagner, na edição das imagens. Pré-selecionamos 169 de um
total de 1.517 fotos. Dessas escolhemos 83 para o livro fotográfico, porém compõem o livro
70 imagens.

Critérios de seleção – Como o objetivo desse trabalho é contar como se desenvolve o processo
de fabricação das espadas, o critério principal utilizado na seleção das imagens foi apresentar
uma narrativa coesa desse processo mostrando-a compreensivamente para os leitores. O outro
critério foi o de qualidade das imagens. Escolhemos as imagens que narrassem o processo e
com um teor qualitativo elevado.

Na revisão dos textos contei com a colaboração do professor Thiago Prado. Tive também o
apoio fundamental de Cândido Vinicius no tratamento das imagens e na diagramação do livro.
O processo de tratamento das imagens foi feito com muita cautela, pois o intuito era, apenas,
dar unidade às cores das imagens, sem muitos ajustes.

Por se tratar de uma narrativa corrida decidimos dividir o livro em capítulos, abordando os
temas. A ordem das fotos foi definida pela ordem cronológica de acontecimento da narrativa:
a produção de espadas. A quantidade das fotos não foi limitada, pois se levou em
consideração a importância de fabricação, em todos os seus aspectos, e nos diferentes ângulos
a serem abordados para detalhamento do tema.

27
Os capítulos divididos foram:

a) A cidade

Um breve histórico de Cruz das Almas tem o intuito de situar o leitor onde e em que
condições socioculturais a manifestação cultural acontece.

b) Patrimônio popular

É o relato das condições que proporcionaram o desenvolvimento da tradição e as condições


que a consolidam até os dias atuais, com o detalhamento dessa tradição.

c) O processo

É o processo de fabricação, na maioria artesanal, do elemento fundamental para que a tradição


ainda exista na cidade. Este processo é desmembrado em outros itens, tais como:

- A escolha do bambu
- Encerando o barbante
- Enrolando as espadas
- A escolha do barro
- A preparação da pólvora
- A fabricação
- A brocação
- Fazendo a marcação
- O acabamento

d) A Guerra

Onde se percebe a interação das pessoas com as espadas e o show pirotécnico visto como uma
forma de consolidação da tradição e da cultura cruzalmense.

O título do livro - A outra face da guerra – foi definido desde o início do levantamento dos
dados, pois tinha como objetivo mostrar o outro lado da tradição e não o que comumente é
enfatizado. A outra face é justamente o processo de materialização das espadas e tem a mão

28
dos “artesãos” como o principal instrumento de criação. Por isso a escolha da foto abaixo para
a capa do livro a qual simboliza o processo de concepção das espadas, além de mostrar toda a
dinâmica proporcionada pelo cenário de fabricação deste artifício.

Figura 5: capa do livro


Fotos: Nádia Conceição

Enquanto que a guerra é o recorte mais conhecido dessa tradição, que é o show pirotécnico
que invade a praça da cidade de Cruz das Almas na noite de São João.

O processo de criação e confecção do livro concretizou-se em nove dias, no período de quatro


a 12 de outubro. Foi utilizado o software BookSmart oferecido do site Blurb.com para efetivar
a diagramação do livro, além do programa de edição de imagens Adobe Photoshop com o
objetivo que melhorar algumas imagens. A impressão também foi realizada pelo próprio site.

29
Cronograma de execução

Atividade agosto setembro outubro novembro dezembro

X X X
Elaboração do
memorial
X
Pré-seleção
das fotos
X X
Seleção final
das fotos e
tratamento
X X
Composição
dos textos
X
Diagramação
do livro
X
Revisão do
livro
X
Envio do
Layout do
livro para
impressão

X
Entrega do livro
ao colegiado

Defesa X

30
Orçamentos

Orçamento do projeto A outra face da guerra


Item Descrição Quantidade Unidade de Número Valor Total
Despesa Unitário
Mapeamento e Reconhecimento do Objeto/ visitas
1 Transporte – Cruz 15 Trajeto 2 18,00 540,00
das Almas
2 Alimentação 1 Diárias 6 6,00 36,00

Subtotal 1 576,00

Livro Fotográfico
3 Designer Gráfico e 1 Serviço 1 400,00 400,00
Tratamento de
imagens
4 Impressão do livro 1 Unidade 5 78,54 392,70
(site blurb)
Formato 25x20 cm,
50 páginas, papel
Premium
5 Frete 1 Serviço 1 144,48 142,48

Subtotal: 2 935,18

Valor total do projeto R$1.511,18

31
Conclusão

Há anos a tradição da Guerra de Espadas é realizada, na cidade de Cruz das Almas, contudo a
maneira como as espadas são produzidas ainda é pouco conhecida pelas pessoas. A outra
face da guerra trilhou o caminho inverso ao que muitos meios de comunicação têm realizado
(espetacularizar e polemizar a guerra) e buscou desvendar o processo de produção dessa
tradicional prática cultural contribuindo também para o seu reavivamento, através do seu
registro fotodocumental.

É importante também frisar a seriedade da apresentação deste tema e do recorte a ele dado,
pois é um trabalho pioneiro, dentro do campo fotográfico, pois contemplou os processos, de
produção das espadas em sua forma artesanal, contrariando toda evolução tecnológica do ato
de produzir, consolidando-o como de fato cultura popular. É relevante também para Cruz das
Almas e para os produtores de espadas, pois tem a intenção de servir como um material de
consulta, o que contribuirá para o não esquecimento dessa cultura, que faz parte da história da
cidade.

Foram encontradas muitas dificuldades no decorrer do trabalho, mas todas elas contribuíram
para que eu pudesse desenvolver a capacidade de encontrar soluções nos momentos difíceis,
escolher e tomar decisões rápidas. A elaboração do livro contribuiu também para o exercício
da paciência jornalística, diante da elaboração de uma reportagem investigativa, que
requesesse levantamento de dados. A experiência desenvolveu também meu perfil de
produtora - o que foi bastante exigido neste trabalho.

O objetivo foi alcançado. O produto pode ser considerado pelo seu caráter documental
pioneiro, o que contribuiu para o formato final idealizado. E pode ser aperfeiçoado, no caso
de uma retomada do tema.

Este trabalho pode ser visto ainda como um produto que compila as técnicas comunicacionais
estudadas ao longo do curso de Comunicação – Jornalismo, sobretudo visual, e a inserção de
técnicas de produção que se fizeram necessário aplicar a ele.

32
A pesquisa A outra face da guerra é importante para minha formação, pois permitiu o
aprofundamento de técnicas do jornalismo investigativo cultural, que contribuiu, em última
instância, para a visibilidade cultural do recôncavo baiano, sobretudo do município de Cruz
das Almas.

33
Bibliografia

BOOTH, W.C.; COLOMB, G.G. & WILLIAMS, J.M. A arte da pesquisa. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.

BARBALHO, Alexandre. Estado, mídia e identidade: políticas culturais no nordeste


contemporâneo in SAMPAIO, Adriano; COELHO, Lilian Reichert e SILVA, Sivaldo Pereira
da (Orgs). Temas em comunicação e cultura contemporâneas IV. Salvador, p. 186 – 201.
Póscom, 2003.

BARTHES, Roland. A retórica da imagem. In Óbvio e obtuso. Rio: Nova fronteira, 1990.

____. A mensagem fotográfica. In: LIMA, Luis Costa (org), Teoria da cultura de massa Rio:
Paz e Terra, 1982.

BECKER, Howard S. Backup of Visual Sociology, Documentary, and Photojournalism:


It’s (Almost) All a Matter of Context. Publicada no site
http://home.earthlink.net/~hsbecker/

BONI, Paulo César. O nascimento do fotodocumentarismo de denúncia social e seu uso


como “meio” para transformações na sociedade. Apresentado no Intercom – Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXI Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação – Natal, RN – 2 a 6 de setembro de 2008. Universidade Estadual de
Londrina, Londrina (PR).

CANCLINI, Néstor García. As culturas populares no capitalismo. Tradução Cláudio


Novaes Pinto Coelho. Editora brasiliense s.a, São Paulo, 1982.

CARVALHO, Moacir. Brincando com fogo: as transformações da guerra de espadas em


Cruz das Almas. Artigo apresentado no Intercon Nordeste 2008.

CESNIK, Fábio de Sá e BELTRAME, Priscila Akemi. Globalização da cultura. Barueri, SP:


Manole, 2005.

34
FELZ, Jorge Carlos. Fotografia de imprensa – o papel dos editores das revistas alemãs da
Republica de Weimar para a consolidação do fotojornalismo moderno. Apresentado no
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXI
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Natal, RN – 2 a 6 de setembro de 2008.

GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar. 6ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

HALL, Stuart. Notas sobre a desconstrução do “popular” [1973] in SOVIK, Liv (Org.) Da
diáspora: identidades e mediações culturais, p. 231 - 247, Belo Horizonte, Editora UFMG,
Brasília, Representação da Unesco no Brasil, 2006.

____. A identidade na pós-modernidade. 10 ª edição. Rio de Janeiro: editora DP&A 2005.


Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro.

____. El trabajo de la representación. IEP - Instituto de Estudios Peruanos Taller


Interactivo: Prácticas y Representaciones de la Nación, Estado y Ciudadanía en el Peru, 2002.

Ilo GONÇALES, Elisa Pereira. Iniciação à pesquisa cientifica. 3ed. Campinas/SP: Alínea,
2003.

LIMA, Ivan. A fotografia é a sua linguagem. Rio de Janeiro: editora Espaço e tempo, 1988.
Coleção Antes, aqui e além.

MUNHOZ, Paulo César Vialle. Fotojornalismo, internet e participação: os usos da


fotografia em weblogs e veículos de pauta aberta. Dissertação de mestrado apresentada à
Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia em 2005.

PICADO, Benjamim. Olhar testemunhal e representação da ação na fotografia. Publicada


na Revista na Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação –
Compós, 2005.

SOUSA, Jorge Pedro. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Universidade


Fernando Pessoa. Porto, 1998.

35
____. Fotojornalismo: Uma introdução à história, às técnicas e à linguagem da
fotografia na imprensa. Universidade Fernando Pessoa. Porto, 2002.

SOUZA, Fernando Galha. Histórias, imagens e narrativas. Nº 2, ano 1, abril/2006-ISSN


1808-9895. Augusto Malta e o olhar oficial – Fotografia, cotidiano e memória no Rio de
Janeiro - 1903/1936. Retirado do site
http://www.historiaimagem.com.br/edicao2abril2006/maltafotografia.pdf

Bibliografia complementar

ASSOBRAPI - Associação Brasileira de Pirotecnia – Entidade Representativa da Indústria


e Comercio de Fogos de Artifício – http://www.assobrapi.com.br/legislação.htm

Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal - Norma Técnica Nº 08/2002 –


Fogos de Artifício. Retirada do site:
http://www.resil.com.br/site/datafiles/uploads/df_nt008_2002_fogos_de_artificio.pdf

36
APÊNDICE A

A produção das espadas

A produção de espadas, que pode, facilmente, ser descrita com um ritual, devido a sua forma
artesanal de ser concebida, dá-se através de processos que podem ocorrer paralelamente, a
saber:

A escolha do bambu – O bambu é peça fundamental para a confecção de uma boa espada.
Ele deve ser tirado em dias de lua nova ou lua escura, pois, segundo os espadeiros, ele não
apodrece. Para a obtenção de uma boa espada, o bambu extraído deve ser comprido e o corte
deve ser feito nos gomos. Após a extração, o bambu é cozido e posto para secar, durante
quatro dias. Só depois, ele estará pronto para ser enrolado e, mais a frente, receber a pólvora e
o barro. No mercado, o custo do bambu varia de R$ 2,00 a R$ 2,50 a dúzia, isto ele ainda cru,
cozido ele passa a custar entre R$ 4,00 a R$ 4,50.

A escolha do barro – O barro é como os outros produtos, importante para a composição da


espada. É necessário cautela para sua escolha e para os perigos do momento de sua captura,
pois os locais são suscetíveis a deslizamentos de terra. Após ser escolhido, ele deve ser
peneirado e colocado para secar durante dois dias, só depois estará pronto para ser usado na
produção das espadas. O barro peneirado é utilizado na primeira camada da espada e barro
mais grosso, sem peneirar, na última. Na primeira, ele é utilizado como base para receber a
pólvora; na segunda, para manter as camadas unidas, regulando a potência da espada.

Encerando o barbante e enrolando as espadas – o barbante é um cordão de cisal utilizado


para enrolar as espadas. Antes de enrolar, o cordão passa pelo processo de enceração com
cerol (uma cera caseira feita da mistura de parafina, breu e óleo de soja). Ele é passado no
cordão para enrolar as espadas (2 kg de cordão enrola cerca de três dúzias de espadas). A
função do cordão é reforçar o bambu para receber os componentes das espadas.

37
Figura 6: Alessandro, 22, encerando cordão
Foto: Nádia Conceição

O processo de enrolar as espadas, na maioria das vezes, é feito artesanalmente, tem baixo
rendimento e o custo é de R$1,00 a R$ 2,00 por espadas. Outra forma é utilizando o método
maquinal, que chega a enrolar cerca de 30 dúzias de espadas por dia, enquanto que a manual
enrola oito dúzias por dia.

Figura 7: Juvenildo C. Santana, 25, no processo de enrolar o bambu


Foto: Nádia Conceição

A preparação da pólvora – Feita também artesanalmente, a pólvora é originada da mistura


do carvão, do enxofre e do nitrato de potássio (salitre). O carvão é obtido com a queima das
madeiras umbaúba (mais pesada) e da quarana (a melhor por ser mais leve, porém rara). Para
cada quilo de salitre, são utilizados 250 g de carvão e 250g de enxofre. Depois de misturados
esses ingredientes devem ser pilados durante 1 hora, até a dissolvição completa do enxofre, e
peneirados. Dessa forma, está pronta a pólvora. Ela deve ser usada na proporção de 5 dedos
ou 10 cm para cada espada. Estima-se que 50 toneladas de pólvoras são fabricadas em Cruz
das Almas por ano. Ela é vendida por saco e, em geral, custa R$ 50,00.

A limalha – Ela é utilizada para proporcionar mais brilho e claridade às espadas. Ela é feita a
partir do derretimento do aço que, em seguida, é posto para secar transformando-se num
composto em pó pronto para ser misturado à pólvora (cada 100g de limalha utiliza-se 1 kg de
pólvora).

38
Figura 8: Rosival R. dos Santos, 18, pilando a pólvora
Foto: Nádia Conceição

A fabricação - Também conhecido como "bater espadas", é o processo onde os componentes


são misturados. Com um macete (martelo feito de madeira especialmente para bater espadas)
e uma barra de ferro, os componentes são inseridos no bambu e "socados" até que as camadas
estejam bem unidas. Essa etapa é a que mais se associa a um ritual e exige, dos espadeiros,
paciência e muita força física.

Figuras: 9, 10 e 11: Fabricação de espadas


Fotos: Nádia Conceição

Passo a passo da concepção das espadas

- Após o bambu enrolado, coloca-se a primeira camada de barro peneirado, que em seguida é
“socado”, em média, 30 vezes sem intervalo.

- O segundo passo é a adição da camada de pólvora e mais 15 “socadas”. Cada espada


contém cinco dedos de pólvora.

- Por último, acrescenta-se a segunda camada de barro, não peneirado, que é “socado” por
mais 30 vezes. Esta camada serve para unir as outras.

39
Agora a espada está pronta para ser marcada e “brocada”.

Brocação4– “Brocar” as espadas é uma das partes mais complexas, pois exige atenção e
responsabilidade. Trata-se do furo por onde a espada será acesa, além de ser um dos
marcadores de potência da espada. Para tanto, é necessário utilizar “brocas” 5 apropriadas da
pirotecnia – em que o produtor pode usar os equipamentos, que variam a depender do
diâmetro das mesmas.

Figura 12: brocação das espadas Figura 13: espada já brocada


Foto: Nádia Conceição Foto: Nádia Conceição

Fazendo a marcação – A marcação é feita com um compasso. Consiste em marcar no


papel as medidas opostas dos pontos opostos do diâmetro encontrado. Mede-se a distância
entre os dois pontos opostos do papel com a broca que mais perto chegar de dividir a distância
em 5 partes.

Figura 14: marcação para efetuar a Brocação das espadas.


Foto: Nádia Conceição

4
- Ato de furar uma das extremidades das espadas, feito com equipamentos apropriados da pirotecnia. Uma brocação mal feita
pode definir o insucesso de uma espada.
5
- Equipamento usado para fazer o furo na extremidade da espada. As brocas variam de forma e de tamanhos, sua escolha irá
depender do diâmetro da espada.

40
Acabamento – último passo da produção.

Um dos componentes usados é uma massa branca composta de clorato, estrôncio e nitrato: a
“boca de cor”6. Esse composto é responsável pelo colorido presente nas espadas quando são
queimadas. As cores, que variam de acordo com a anilina usada na mistura, podem ser
amarela, vermelha, azul, verde e lilás.

O “assovio”7 também é um recurso bastante usado pelos espadeiros para dar um toque
especial às suas espadas. Ele é originado da ebulição de três compostos químicos, uma
perigosa mistura de ácido fítrico, nitrato de potássio e sulfato de magnésio. Após a
precipitação, a mistura deverá ser coada e colocada para secar. Essa mistura não é autorizada
por nenhum órgão de fiscalização da produção de espadas, pois é muito perigosa, e pode
causar acidentes graves se usada por quem não sabe manusear os compostos químicos.

O último passo a ser utilizado nas espadas é o seu acabamento final. Trata-se da “enfeitação”8
das espadas, etapa em que se fecham as extremidades das espadas com o papel laminado9.

Esta etapa também é feita artesanalmente. A remuneração é de R$ 15,00 por dúzias de


espadas enfeitadas.

Figuras 15 e 16: processo de “enfeitação” das espadas


Fotos: Nádia Conceição

6
- “Boca de cor” é a denominação utilizada pelos espadeiros para designar o composto usado para dar cor à espada e torná-la mais bela e
colorida, sendo a primeira parte a ser queimada.
7
- Muitos espadeiros usam este composto químico como um diferencial em suas espadas. Costuma-se dizer que é o “grito” da espada no meio
da folia.
8
- Torna as espadas coloridas, além de permitir que os últimos componentes não sejam perdidos.

9
- Papel com superfície de aparência metálica, por ser recoberto de fina camada de estanho, alumínio ou de outro material, adquirindo assim
o aspecto de folha de metal. Geralmente usado para embalagem.

41
APÊNDICE B

A Pirotecnia

Com nome de origem grega, pur tekné, que significa a arte de dominar o fogo, a pirotecnia
teve início na China com a criação da pólvora. No princípio, por volta do século XIII, o seu
uso era apenas de cunho festivo. Com o passar dos tempos, descobriu-se seu grande poder
bélico - o que proporcionou o aperfeiçoamento de armas de combates em guerra.

O Brasil, em 1800, já possuía fábricas de fogos de artifícios e, em 1970, contava com uma
forte estrutura de regulamentação das fábricas, com sindicatos bem organizados, atualmente,
o país é o segundo maior produtor mundial de fogos de artifícios.

As normas que regulamentam a fabricação e o manuseio de fogos de artifícios no país estão a


cargo da segurança pública, do Exército, do Corpo de Bombeiros e ou dos órgãos municipais.
O objetivo da legislação é combater acidentes e padronizar os estabelecimentos de fabrico.

No Brasil, os fogos de artifício são identificados por classe confira no quadro abaixo:
Classe Descrição Limite de pólvora Restrições Exemplos
Podem ser utilizadas por
crianças acima dos 12
Fogos de vista com ausência de Até 20 centigramas de anos, desde que Balões pirotécnicos,
Classe A
estampido pólvora acompanhadas pela bombinhas, etc.
supervisão de um
adulto.

"Pots-a-feu",
Fogos de artifício com Entre 21 e 25 "morteirinhos de jardim",
Classe B
estampido centigramas de pólvora "serpentes voadoras" e
equivalentes.

De acordo com a
definição do
Regulamento R-105,
não podem ser
comprados por menores
Foguetes com ou sem
Fogos de artifício com Entre 25 centigramas e de 18 anos e sua queima
Classe C flecha, rojões com ou
estampido 2,5 gramas de pólvora depende de licença da
sem vara, etc.
autoridade competente,
com hora e local
previamente
designados, nos casos
de festa pública, em

42
qualquer local, ou
dentro do perímetro
urbano.
Acima de 2,5 gramas de
Classe D Fogos com estampido Baterias, morteiros etc.
pólvora

Tradição versus Legislação

A tradição de fabricar e “tocar” espadas em Cruz das Almas tem envolvido várias discussões
que implicam, diretamente, as normas de seguranças do manuseio dos produtos e da
população.

A produção de espadas em Cruz das Almas pode ser encaixada na classe B, porém as fábricas
existentes na cidade estão completamente aquém das normas de segurança exigidas pela
legislação. De acordo com a legislação, os locais de fabricação e vendas devem ser ventilados,
estar a 200 metros de escolas, postos de gasolina, hospitais, entre outros. Contudo, em Cruz
das Almas, estão totalmente fora do padrão.

Na época de intensa fabricação de espadas – o São João - as oficinas são montadas em locais
mais adversos possíveis, por exemplo: em locais urbanos, nos fundo das casas em locais sem
ventilação e pior, os componentes de fabricação são armazenados juntos, sem o menor
cuidado para evitar acidentes.

O ofício de se fabricar espadas é passado de geração a geração, o que conservou o caráter


artesanal de produção. Alguns estudiosos acreditam que esse caráter pode ter contribuído com
permanência da marginalização das oficinas e influenciando na clandestinidade das mesmas.
Em Cruz das Almas, o número de oficinas não autorizadas ainda é superior ao de legalizadas.
Atualmente é a prefeitura da cidade que regula as normas de fabricação e fiscaliza as oficinas,
mas a prática ainda não está enquadrada nas normas nacional da pirotecnia.

De acordo com o prefeito da cidade, Orlando Peixoto, a prefeitura tem realizado campanhas
em prol da conscientização dos espadeiros. “O objetivo é mediar os conflitos gerados entre a
manutenção de uma tradição raiz, popular e os riscos indesejáveis de acidentes”, enfatiza o

43
prefeito10. Trata-se de campanhas educativas e que têm provocado conseqüências positivas na
redução efetiva do número de acidentados a cada ano. O resultado dessas campanhas pode ser
perceptível na redução dos números de feridos ano a ano com a brincadeira (confira no quadro
abaixo). Porém ainda é necessário que as fábricas de produção dessa tradição sejam inseridas
nas normas de legalização pirotécnica.

Quadro de redução de acidentes


ANO QUANTIDADE DE FERIDOS
2004 471 feridos
2005 283 feridos
2006 318 feridos (anos de Copa do Mundo aumenta os acidentes)

2007 241 feridos


2008 235 feridos
2009 220 feridos
*Dados fornecidos pela Santa Casa de Misericórdia de Cruz das Almas

10
Entrevista concedida à autora em 08 de outubro de 2009, através de e-mail.

44
APÊNDICE C

Entrevista realizada com o prefeito da cidade de Cruz das Almas, Orlando


Peixoto Pereira Filho, no dia 08 de outubro de 2009, por e-mail.
* Apoio: Assessor de comunicação da prefeitura de Cruz das Almas, Maurício Medeiros.

1 – A tradicional Guerra de Espadas, que ocorre no dia 24 de junho, é permitida pela


Prefeitura Municipal de Cruz das Almas?

Orlando – A Prefeitura de Cruz das Almas respeita uma tradição de raiz secular. A Guerra de
Espadas é compreendida como uma grande manifestação popular, que faz parte dos festejos
juninos.

2 – Há quanto tempo essa tradição é realizada em Cruz das Almas?

Orlando – Embora não exista precisão temporal, comenta-se que essa tradição permeia toda a
história do município.

3 – O que significa a Guerra de Espadas para o município na visão dos governantes e


realizadores da festa?

Orlando – Uma tradição de raiz, uma grande manifestação popular.

4 – Qual a contribuição da Prefeitura para a continuação dessa tradição?

Orlando – A Prefeitura de Cruz das Almas tem tentado mediar o conflito entre uma tradição
de raiz, popular, secular, e os riscos indesejáveis de acidentes. Essa mediação, com
campanhas educativas como a Espadeiro Consciente Respeita a Vida, tem tido conseqüências
positivas no respeito ao direito de ir e vir e na redução efetiva do número de acidentados a
cada ano.

2004 – 471 feridos


2005 – 283 feridos
2006 – 318 feridos (anos de Copa do Mundo aumenta os acidentes)
2007 – 241 feridos
2008 – 235 feridos
2009 – 220 feridos

Dados fornecidos pela Santa Casa de Misericórdia de Cruz das Almas

5 – Em conversas com alguns espadeiros, tive o conhecimento de que a Prefeitura


barrou a criação de uma cooperativa de espadeiros. Segundo eles, a cooperativa teria a
parceria de outros fabricantes de espadas da cidade de Santo Antônio de Jesus. Isto
procede? E esta iniciativa não pode aumentar o número de feridos?

Orlando – Não! Nunca! Em nenhum momento houve qualquer impedimento por parte da
Prefeitura de Cruz das Almas contrário à organização dos espadeiros. Pelo contrário, foi a
prefeitura que dialogou, desde 2005, com reuniões e audiências públicas com o intuito de
organizar a queima de espadas e diminuir os riscos de acidentes.

45
6 – Com relação à criação de um espaço isolado para a guerra, existe alguma negociação
com os produtores/tocadores de espadas para que isso ocorra? Isto não pode aumentar o
número de feridos?

Orlando – A idéia de um espaço fechado sempre é ventilada por alguns segmentos, no


entanto, não existe nenhum projeto formado neste sentido, nem tão pouco nenhum estudo que
comprove o aumento ou diminuição dos riscos.

7 – Devido o crescimento da visibilidade negativa das espadas – na mídia – qual a


atuação da prefeitura para conscientizar os espadeiros quanto a fabricação e queima
responsável das espadas? Ou qual é o papel dos governantes do município com relação a
esta mudança de visibilidade?

Orlando – A mídia estadual, sempre, em todos os anos, trata a queima de espadas de forma
negativa, desconsiderando a tradição de raiz e popular. A Prefeitura tem se empenhado para
diminuir os riscos e o impacto negativo com ações como:

- reunião com espadeiros;


- estabelecendo um roteiro onde não é permitida a queima de espadas;
- campanha Espadeiro Consciente Respeita a Vida com distribuição de panfletos, folders e
anúncios de rádio.

8 – Considerando a renda gerada, direta ou indiretamente, com a produção e a toca das


espadas na cidade, existe possibilidade de erradicação desta brincadeira?

Orlando – Não existe arrecadação direta da produção, fabrico e queima de espadas. A


interrupção ou não da tradição nunca esteve associada à renda gerada para a atividade. Até
mesmo porque, tradição é tradição. A continuidade ou erradicação de uma tradição não
depende de um decreto do Poder Executivo. Mas sim da organização e mobilização de
diversos setores sociais e poderes constituídos.

9 – Quanto o município lucrou com a produção e venda das espadas neste são João?

Orlando – Como a atividade não é regulamentada oficialmente pelo município, ou seja, é


muito mais uma manifestação espontânea, não há relação econômica tributada pela Prefeitura.
A renda ou geração de emprego existe, é salutar e informal. Porém, nunca foi mensurada.

10 – Em relação ao Arraiá da cultura Popular, qual é o número de visitantes na cidade?


Orlando – Considerando a proximidade de Salvador quando comparado com outros
municípios que realizam a festa, Cruz das almas recebe, em média, cerca de 100 visitantes
durantes os cinco dias de festa.

11 – Quais os lucros no comércio da cidade com os festejos juninos deste ano (2009)?

Orlando – Durante os festejos juninos a economia do município gera algo em torno de 1500
empregos e, conforme números da Secretaria da Fazenda, R$ 10 a R$ 12 milhões rodam no
comércio local.

46
ANEXO 1

DECRETO 6465/97 | DECRETO Nº 6.465 DE 09 DE JUNHO DE 1997 DA


BAHIA

47
Decreto 6465/97 | Decreto Nº 6.465 de 09 de junho de 1997 da Bahia

Aprova o Regulamento do Fabrico, Comércio e Uso de Fogos de Artifício e de Estampido no


Estado da Bahia.

Links patrocinados

O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, no uso de suas atribuições, considerando a


necessidade de regulamentar adequadamente a fabricação, comércio e uso de fogos de
artifício e de estampido, pelo perigo ou dano que podem causar à coletividade;
considerando, ainda, o resguardo do sossego público a que todos têm direito, sobretudo nos
populosos centros urbanos; considerando, por fim, o disposto nos arts. 10 e 11, do Decreto-lei
Federal nº 4.238/42 e no art. 31, letra g, do Regulamento 105/63, do Ministério da Guerra,
aprovado pelo Decreto Federal nº 55.649/65, D E C R E T A

Art. 1º - Fica aprovado o Regulamento do Fabrico, Comércio e Uso de Fogos de Artifício e de


Estampido, que com este se publica.

Art. 2º - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação.

Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário, especialmente o Decreto nº 29.632, de 31


de maio de 1983. PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em 09 de junho de
1997.

PAULO SOUTO
Governador

Francisco de Souza Andrade Netto


Secretário da Segurança Pública REGULAMENTO DO FABRICO, COMÉRCIO E USO DE
FOGOS DE ARTIFÍCIO E DE ESTAMPIDO

CAPÍTULO I

DAS FÁBRICAS

Art. 1º - As fábricas de fogos de artifício e de estampido só poderão funcionar mediante


expressa autorização policial anual, após atendimento das seguintes condições:

I - apresentação de Título de Registro, expedido pelo Ministério do Exército;


II - vistoria técnico-policial, realizada pelo Instituto de Criminalística ?Afrânio Peixoto? -
ICAP, do Departamento de Polícia Técnica, da Secretaria da Segurança Pública;
III - assistência de um químico ou técnico responsável.

Art. 2º - A critério dos órgãos de fiscalização do Ministério do Exército, poderão funcionar,


independentemente da autorização policial, as fábricas, tipo artesanato, de reduzido capital de
instalação e giro, situadas em pequenas cidades, às quais será exigido certificado de Registro,
após atendimento dos seguintes requisitos:
I - apresentação de Atestado de Blaster, fornecido pelo órgão policial sobre a capacidade
técnica do responsável;

48
II - preenchimento, pelo órgão policial, do questionário enviado pelo órgão de fiscalização do
Ministério do Exército.

Art. 3º - As fábricas de fogos de artifício e de estampido são permitidas somente nas zonas
rurais, ficando suas instalações sujeitas à legislação em vigor.

Art. 4º - É proibida a fabricação de fogos de artifício e estampido em locais não autorizados.

Art. 5º - São as seguintes as distâncias mínimas de instalações das fábricas de fogos de


artifício e de estampido:

I - 200 (duzentos) metros de qualquer via ou logradouro público;


II - 50 (cinqüenta) metros de residências.

Art. 6º - Os projetos de instalações das fábricas de fogos de artifício e de estampido dependem


de aprovação de autoridade competente.

Art. 7º - É proibida a venda de fogos a varejo nas instalações das respectivas fábricas.

Art. 8º - Os fabricantes de fogos são obrigados a manter um livro de escrituração de estoque


de produtos químicos básicos, onde lançarão, diariamente, as compras e o consumo de
material, enviando ao Ministério do Exército, ou a seus órgãos, mapas bimestrais resumidos,
constando as entradas com nomes dos fornecedores, as saídas e saldos existentes.

Art. 9º - Estão sujeitos à fiscalização, desde a fase de fabricação:

I - as chamadas ?espoletas de riscar?;


II - os estopins para uso pirotécnico;
III - os canudos de papelão, taquara ou metal, carregados com pólvora;
IV - qualquer produto químico controlado, destinado à fabricação de fogos de um modo geral.

CAPÍTULO II

DA CLASSIFICAÇÃO

Art. 10 - Os fogos de artifício e de estampido, considerados permitidos, classificam-se de


acordo com as modalidades e espécies exemplificativas constantes do ANEXO

ÚNICO, que integra este Regulamento.

CAPÍTULO III

DAS PROIBIÇÕES

Art. 11 - Ficam proibidos o comércio, no atacado ou no varejo, o depósito, trânsito e uso, no


território do Estado, dos seguintes fogos:

I - foguetinhos infantis, com ou sem bomba (buscapé);

49
II - diabinho maluco (buscapé sem vareta) e similares;
III - assobio pirotécnico para queima no chão;
IV - as pipocas, os espanta-coiós, arrastapés e outros, por conterem massas tóxica e venenosa
(fósforo branco);
V - bombas de parede e bombas acondicionadas com material plástico;
VI - balões em geral, excetuando-se as lanternas japonesas com mechas de peso não superior
a 02 (dois) gramas;
VII - trepa-moleques com ou sem bombas;
VIII - os fogos contendo nitroglicerina, sob qualquer forma, inclusive dinamite, ou qualquer
material explosivo ou inflamável, capaz de por si ou combinado com outros elementos,
provocar incêndio ou causar acidentes pessoais ou danos materiais;
XVII - bombas com mais de 08 (oito) gramas de pólvora ou material explosivo;
XIX - fogos importados.

Parágrafo único - Fica também proibido:

I - fazer ou alimentar fogueira nas ruas ou logradouros públicos;


II - colocar bomba nas vias públicas, nas passagens de veículos de carga ou de passageiros;
III - atirar bombas de veículos para via pública;
IV - atirar fogos de estampido próximo a hospitais, delegacias, quartéis e postos de
combustíveis.

CAPÍTULO IV

DO COMÉRCIO

Art. 12 - Nenhuma casa comercial ou particular poderá vender, expor à venda a varejo, ou por
atacado, os fogos considerados proibidos, sem autorização prévia de órgão policial
competente.

§ 1º - Não será concedida autorização para instalações de barracas destinadas ao comércio de


fogos de artifício e de estampido em vias ou logradouros públicos, quando julgado
inconveniente, após prévia vistoria técnico-policial, tendo em vista as seguintes condições:

I - segurança das instalações das barracas ou estabelecimentos apropriados;


II - afixação de advertência da proibição de fumar, no recinto do estabelecimento ou barraca;
III - instalação elétrica blindada, de acordo com as normas técnicas vigentes;
IV - estoque bem acondicionado e em local visível e de fácil acesso;
V - área de circulação e evacuação do público, em qualquer situação de emergência.

§ 2º - Será revogada a autorização concedida aos comerciantes estabelecidos para venda de


fogos de artifício e de estampido que não tiverem, nos estabelecimentos, um extintor de
incêndio de água pressurizada com capacidade de 10 (dez) litros para cada 12 m2 de área e
um extintor de incêndio de pó químico com capacidade para 8 kg.

§ 3º - Somente serão permitidas instalações para venda de fogos de artifício e de estampido se


observados os seguintes aspectos:

I - para pontos de venda isolados:

50
a) poderão ser utilizadas lojas térreas, sem pavimento superior e lojas com pavimento superior
não ocupado, construída em alvenarias de elevação de blocos cerâmicos, de concreto, tijolos
ou similares e cobertura de laje, telhas cerâmicas ou cobertura metálica;
b) deverão obedecer a uma distância mínima de 10 (dez) metros de qualquer outra edificação
e de 500 (quinhentos) metros de outro estabelecimento que comercialize mercadoria similiar e
em qualquer direção (frente, fundos e laterais);
c) deverá ser respeitado o estoque máximo de 5.000 (cinco mil) quilos de produtos
pirotécnicos compreendidos nas classes A e B.

II - para conjunto de pontos de venda:

a) será obrigatório mínimo de 50 (cinqüenta) metros de qualquer edificação permanente;


b) em caso de hospitais, postos de saúde, igrejas, escolas, prédios tombados, depósitos de
inflamáveis, instalações policiais, quartéis, depósitos e áreas de armazenamento, estações,
subestações e torres de eletricidade, estações de rádio e televisão, feiras livres, paradas de
coletivos, casas de diversões públicas, clubes sociais e esportivos, hotéis, pousadas ou
pensões, postos e bombas de combustíveis em geral, locais onde haja aglomeração popular e
edificação pública de qualquer natureza, cujo afastamento não será menor que 200 (duzentos)
metros.
c) será observado ainda o limite máximo de 25.000 (vinte e cinco mil) quilos de produtos
pirotécnicos acondicionados em embalagem para o conjunto de pontos de venda destes
produtos e instalados em um mesmo local.

III - das condições de segurança:

a) qualquer imóvel que for destinado ao comércio dos produtos em questão, além dos
equipamentos de segurança, prevenção e combate a incêndio, deverão possuir saídas laterais
de emergência com largura mínima de 1 (um) metro, sendo que a fachada do mesmo deve
possuir portas em toda a sua extensão com distância máxima de 30 (trinta) centímetros entre
as mesmas, que permanecerão abertas durante seu funcionamento;
b) nas cidades que não dispuserem de unidades do Corpo de Bombeiros ou brigadas de
incêndio, as distâncias acima deverão ser majoradas para o dobro das estipuladas.

IV - da aprovação e fiscalização:

a) o cumprimento do que é previsto nos itens anteriores está sujeito à aprovação e fiscalização
do Instituto de Criminalística do Departamento de Polícia Técnica do Estado a Bahia;
b) Os pontos de venda deverão ser licenciados pela prefeitura do município, que emitirá o
respectivo alvará de funcionamento.

Art. 13 - Os fogos de qualquer classe, quando expostos a venda, deverão ser devidamente
acondicionados, trazendo impresso, bem claro no rótulo, os necessários esclarecimentos sobre
o manejo, efeito, denominação, classe (A, B, C, D) , procedência e, bem visível, o nome da
fábrica ou fabricante.

Parágrafo único - Em caso de duvida sobre a veracidade do impresso no rótulo, serão


apreendidos exemplares para exame.

Art. 14 - Dentro da distância mínima de 200 (duzentos) metros em que funcione a fábrica de
fogos ou dependência, não será permitida a sua venda a varejo.

51
Art. 15 - Os fogos da classe ?A? podem ser vendidos a qualquer pessoa.

Art. 16 - Os fogos da classe ?B? não podem ser vendidos a menores de 16 anos, e os das
classes ?C? e ?D?, a menores de 18 anos.

Parágrafo único - A venda a varejo dos fogos de artifício e de estampido das classes A, B, C e
D depende de autorização da Polícia.

Art. 17 - E proibida a venda de produtos químicos controlados para fins pirotécnicos a quem
não tenha licença do Ministério do Exército para fabricação ou comércio de matéria-prima,
devendo as notas fiscais emitidas conter, obrigatoriamente, o número de registro do
comprador ou a data do título expedido pelo Ministério do Exército.

Art. 18 - As pessoas físicas ou jurídicas somente poderão exercer o comércio de produtos


controlados para fins pirotécnicos, depois de devidamente registradas no Ministério do
Exército.

CAPÍTULO V

DO TRANSPORTE

Art. 19 - O transporte de fogos de artifício e de estampido depende de autorização policial,


cuja autoridade expedirá guia de tráfego.

Parágrafo único - Fica proibido o transporte de fogos de artifício e de estampido por via
marítima, em embarcação destinada a passageiros.

Art. 20 - Ainda que para fins de espetáculo pirotécnico, o transporte de fogos e componentes
diversos, compreendidos na classe ?D?, também depende de autorização policial, na forma do
artigo anterior.

CAPÍTULO VI

DA QUEIMA E USO

Art. 21 - Os fogos da classe ?A? poderão ser queimados livremente, exceto nas portas, janelas
ou terraços que dêem para via pública.

Art. 22 - Os fogos da classe ?B? não podem ser queimados nas portas, janelas ou terraços que
dêem para via pública e a menos de 300 (trezentos) metros de hospitais, casas de saúde,
estabelecimentos de ensino, repartição pública, casas que comerciem no ramo de fogos e
postos de combustíveis.

Art. 23 - A queima de fogos da classe ?C? depende de autorização da autoridade competente,


com local e hora previamente designados, nos seguintes casos:

I - para festa pública, seja qual for o local;


II - dentro do perímetro urbano, seja qual for o objetivo.

52
Art. 24 - A queima de fogos da classe ?D? e os espetáculos pirotécnicos, em qualquer
hipótese, dependem de autorização policial, com hora e local previamente designados.

Art. 25 - É proibida a queima de fogos em lugares de trânsito, de aglomeração ou qualquer


outro onde a queima se torne inconveniente.

Art. 26 - A queima de fogos de estampido ruidoso pode ser feita, mediante autorização da
Polícia, das 06 às 22 horas.

Parágrafo único - Nos dias e vésperas das tradicionais festas de Santo Antonio, São João e
São Pedro, a queima poderá se prolongar até às 24 horas.

CAPÍTULO VII

DAS PENALIDADES

Art. 27 - Os fogos de artifício que forem encontrados nas casas comerciais em desacordo com
as disposições do presente Regulamento serão apreendidos e recolhidos:

I - na Região Metropolitana de Salvador - RMS, pela Divisão de Produtos Controlados - DPC,


do Departamento Especializado de Investigações Criminais - DEIC;
II - no Interior do Estado, pela respectiva Divisão Regional de Polícia do Interior ou pela
Delegacia de Polícia Municipal, do Departamento de Polícia do Interior - DEPIN.

Art. 28 - A inobservância de qualquer dispositivo do presente Regulamento será punida com


aplicação das multas previstas no Decreto-lei Federal no 4.238, de 08.04.42, fixando-se os
seus valores de 50 (cinqüenta) a 500 (quinhentas) UFIR, e a suspensão da licença para venda.

Parágrafo único - Após o pagamento da multa arbitrada, os fogos proibidos serão inutilizados,
com as formalidades legais, e os permitidos, regularizada a situação do infrator, poderão ser
restituídos.

CAPÍTULO VIII

DA DESTRUIÇÃO

Art. 29 - A destruição deverá ser feita por pessoal hábil, em locais limpos, distantes de
habitações, ferrovias e depósitos, dependendo, ainda, da autorização do órgão Militar
competente.

Parágrafo único - A forma de destruição recomendada é a de combustão ou queima.

CAPÍTULO IX

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 30 - Compete à Polícia Civil da Bahia, através da Divisão de Produtos Controlados -


DPC, do seu Departamento Especializado de Investigação Criminal - DEIC, a fiscalização,
compreendendo vigilância observadora e inspeção, e autorização, para os fins indicados neste
Regulamento.

53
Art. 31 - Para o cumprimento de suas específicas atribuições, ora regulamentadas, a Divisão
de Produtos Controlados - DPC, do DEIC, será auxiliada, na RMS, pelas Divisões Regionais
de Polícia Metropolitana e suas Delegacias Circunscricionais, do Departamento de Polícia
Metropolitana - DEPOM, e no interior do Estado, pelas Divisões Regionais de Polícia e suas
Delegacias de Polícia do Município, do DEPIN, da estrutura da Polícia Civil.

ANEXOÚNICO

CLASSIFICAÇÃO DOS FOGOS

1 - Classe A - Compreendendo:

a) fogos de salão ou de vista, sem estampido, tais como: fósforo de cor, vela, chuva, pistola
em cores, bastão e similares;
b) fogos de pequeno estampido (artigos de chão) tais como: estalo de bebê (traque), estalo de
salão e similares, desde que a carga explosiva não ultrapasse o limite de 0,2g;
c) lanternas japonesas ou voador, com mechas de peso não superior a 2,0g.

2 - Classe B - compreendendo:

a) os fogos sem flecha (canudo de papelão), de assobio ou lágrima e os de um a três tiros,


desde que cada bomba não contenha mais de 0,2g de pólvora;
b) os fogos com flechas (foguete ou rojão) com vara, de cores, sem estampido;
c) os espirais (autogiro, helicóptero, aeroplano, girândola, disco voador), morteiro sem
estampido (carioca, repuxo, chinês, luxo) e a serpente voadora ou similar, todos de efeito
colorido, sem estampido.

3 - Classe C - compreendendo:

a) fogos sem flecha (artigo de ar com canudo de papelão) ou com flechas (foguete ou rojão de
vara), desde que cada bomba não contenha mais de 6,0g de pólvora, podendo ser de
estampido ou estampido e cores;
b) os morteiros de qualquer calibre, até 3 polegadas, sem estampido, com tubo de papelão ou
metal, de cores ou fantasia, sem massa explosiva;
c) os morteiros de até 3 polegadas de estampido, desde que as bombas não contenham mais de
6,0g de pólvora;
d) as girândolas (artigo de chão) de estampido ou de estampido e cores, cujas bombas não
contenham mais de 6,0g de pólvora;
e) fogos de estampido, tendo mais de 0,25g de pólvora.

4 - Classe D - Compreendendo:

a) os fogos, com ou sem flecha (artigo de ar), cujas bombas não contenham mais de 8,0g de
pólvora;
b) morteiro de estampido de qualquer calibre fixado ao solo, desde que projetado por meio de
tubo metálico ou de papelão, cuja bomba contenha mais de 8,0g de pólvora;
c) salvas de tiro, usadas em festividades, desde que cada bomba contenha mais de 8,0g de
pólvora;
d) peças girotécnicas, presas em armações especiais usadas em espetáculos pirotécnicos;

54
e) fogos de estampido (artigos de chão), bombinha de riscar, que contenham mais de 2,50g de
pólvora.

55
ANEXO 2

NORMA TÉCNICA Nº 08/2002 – FOGOS DE ARTIFÍCIO - CORPO DE


BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL

56

Você também pode gostar