3ºalmas Afins (Edgard Armond)

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Copyright © 1951 Todos os direitos reservados à Editora Aliança.

Título
Almas Afins

Autor
Edgard Armond

Revisão
Maria Aparecida Amaral

Diagramação
Marina Quicussi

Capa
Antônio Carlos Ventura

Ficha Catalográfica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


— Câmara Brasileira do Livro | SP | Brasil —

Almas Afins / Edgard Armond.


São Paulo: Editora Aliança, 2010.

ISBN: 978-85-8364-065-3

1. Escritos espíritas 2. Espiritismo


I. Título.

10-10195 CDD-133.93

Índice para catálogo sistemático:

1. Escritos psicografados: Espiritismo 133.93

Editora Aliança
Rua Major Diogo, 511 - Bela Vista - São Paulo - SP
CEP 01324-001 | Tel.:(11) 2105-2600
www.editoraalianca.com.br | [email protected]

Sumário
Advertência
Preâmbulo
1. Reencontro
2. Muito Longe, na Lemúria
3. Na Atlântida
4. No Templo de Imatan
5. Inquietadora Revelação
6. As Origens do Templo
7. Astro em Desagregação
8. No Antigo Egito
9. Mumificação
10. Amon Contra Aton
11. Tempestuosa Conversa
12. Hostilidades Recíprocas
13. Poderes Psíquicos
14. Auxílio Espiritual
15. Almas Afins
16. Sucessão Real
17. Poder Militar e Religioso
18. Momentos Finais
19. O Desenlace
20. Epílogo
Advertência

Os dados desta história foram fornecidos por um cooperador do


Movimento Espírita Nacional, interessado na divulgação de coisas do
passado, para enriquecimento dos conhecimentos ligados à Lei da
Reencarnação; esses dados foram obtidos mediante métodos avançados de
mediunismo.
As referências feitas em caráter pessoal é a ele que se dirigem, como
co-participante dos fatos narrados no livro.

São os mesmos Espíritos:

na Atlântida no Egito no presente


Marani..................... Nut..............Anath
Zaltan.......................Hrihor.........Paulo
Jovem Auxiliar........Harneth......Arturo
Actaor......... Chefe índio
Aquenaton..Incógnito

Ficam assim bem definidos e caracterizados os personagens desta


narrativa.

O Autor
Preâmbulo

Utilizando convenientemente a mediunidade, estabelecemos contato


com entidades de origem remota, que desempenharam papel destacado na
vida social, religiosa e política de vários países, e reconstituímos suas vidas
em determinados períodos ou épocas, conforme este livro o demonstra.
Ao empreender esta narração temos em vista, além do conhecimento da
pré-história, documentar um dos mais fascinantes aspectos da Lei da
Reencarnação, nos seus entrosamentos com o Carma, que é o nome oriental
pelo qual é conhecida a Lei de Causas e Efeitos.
Os nomes atribuídos aos agentes dos fatos aqui narrados nem sempre
são apócrifos: quando apontam personagens históricas, são verdadeiros e,
somente quando se referem a Espíritos conhecidos, com atividades definidas
em nosso País, nestes nossos dias difíceis, são supostos e fictícios.
Do ponto de vista histórico-doutrinário, cabe-nos também focalizar o
fato inegável de que=, por mais poderosos que sejam os homens, jamais
conseguem impor às massas populares cultos estranhos ou contrários à sua
própria mentalidade ou sentimentos.
Em nossos próprios dias não vemos isto? Nos países comunistas, por
exemplo, onde governos totalitários proíbem ou substituem cultos populares
antigos por outros, oficializados, não são estes recusados pelo povo, que se
conserva fiel aos do passado, familiares e costumeiros, que permanecem em
seus corações e que ressurgem sempre, como rebentos em terra ressequida,
após as mais ligeiras chuvas?
◆◆◆

Neste livro, referimo-nos particularmente ao velho Egito da 18ª


Dinastia.
Um dos acontecimentos que mais profundamente influíram na política
interna desse país, com poderosos reflexos no seu prestígio no exterior,
como também na sua unidade nacional, foi aquele que ocorreu no ano de
1383 a.C. — nos quais se envolveram os Espíritos a que atrás nos referimos.
◆◆◆
O Egito era então um império poderoso, que estendera seu domínio
sobre todas as regiões vizinhas.
Havia uma tríade de deuses. Osíris, Ísis e Hórus, deuses regionais, e um
deus nacional, que era Amon. Este, com o tempo, absorveu o deus Ra, de
Heliópolis, formando a dupla Amon-Ra, culto solar primitivo, exercido por
uma poderosa classe sacerdotal, cujo chefe oficial era o faraó reinante,
conquanto o verdadeiro, realmente, fosse o sumo sacerdote, com assento no
Templo de Tebas.
No reinado de Amenhotes III — que antecede um pouco a nossa
história — este transportou para Tebas o culto solar de Aton, deus
considerado secundário, cultuado na tribo síria, à qual pertencia a rainha
Thiy, com quem o faraó se casara e, no décimo ano de seu reinado, instituiu
em Karnac uma festa ritual dedicada a esse deus intruso.
Com sua morte, seu filho Amenhotes IV subiu ao trono, com 17 anos
de idade, e levou ainda mais longe a iniciativa; para neutralizar hostilidades
sacerdotais do culto oficial de Amon, mandou construir no interior do país,
em Tel-Amarna, uma nova capital, mudou-se para ali com a corte, retirou de
Tebas o caráter de capital nacional que detinha há mais de 20 séculos e, na
nova capital, mandou entronizar Aton como deus nacional, fundando, na
mesma época, o templo de Abidos.[1]
Seu intuito era popularizar o culto ao deus Sol, democratizar a vida
social, extinguir o predomínio das classes ricas, sobretudo a sacerdotal, que
retinham em suas mãos quase um terço do território do país, e aniquilar o
politeísmo, criando assim o culto de um deus único.
Foi um governante de elevados conhecimentos espirituais. Tinha o
nome egípcio de Anek ao qual, ao oficializar o culto solar, incorporou o
sufixo Aton, passando a ser conhecido como Anek-Aton, transportado para
Aquenaton.
O culto que introduzira, na realidade, era o das tradições da antiga
sabedoria herdada da Atlântida, acumuladas em templos antigos e já adotado
anteriormente no próprio Egito, em Heliópolis.
Nesse culto o Sol era uma representação do Deus Supremo, conquanto
houvesse uma hierarquia de deuses populares formando autêntico
politeísmo, justamente aquele que Amenhotes IV visava eliminar e
estabelecer o culto verdadeiro.
Não tendo logrado êxito, foi envenenado por interessados poderosos.
Amenhotes era uma reencarnação de Misrain de Tanis, descendente de
um dos fundadores pré-históricos da nação egípcia, exilado da Atlântida por
ocasião da morte de Antúlio, pouco antes do grande afundamento.
Sua decisão, como era natural, desencadeou hostilidades terríveis, com
profunda repercussão na massa do povo, e rebelião de países vassalos que se
aproveitavam da confusão reinante para readquirir sua liberdade.
Na sua nova capital, semi-abandonado, Amenhotes IV reinou 12 anos e
ali, em completo ostracismo, morreu com 29 anos de idade, sendo
substituído por seu filho Tut, imberbe, que governou pouco tempo, sendo
substituído a seu turno, pelo general Horemhet, que logo consolidou o culto
anterior de Amon, restaurou o prestígio nacional abalado e o imenso poder
do Império no Exterior.
◆◆◆

As tradições religiosas, herdadas da Lemúria e da Atlântida, foram


perpetuadas na pré-história pela fraternidade Kobda e concorreram a
produzir as civilizações formadas pelos povos: sumérios, acádios, egípcios,
sardos, samoíedos, dáctilos e outros que habitaram o sul da Europa, norte da
África, Ásia Menor e toda a bacia da Mesopotâmia.
O culto popularizado dessas tradições era o Sol, que representava o
Deus supremo e único — Aton — palavra da língua tolsteca que se pode
traduzir por “altura”.
O faraó Amenhotes IV foi no seu tempo o último defensor desse culto
que, enquanto viveu, permaneceu e floresceu no Egito.
Este livro narra acontecimentos sucedidos primeiramente nos
continentes afundados da Lemúria e Atlântida[2], aos quais são feitas
somente ligeiras referências porque o que se tem em vista, realmente, é
focalizar a reencarnação dos mesmos personagens através do tempo, no
Egito, e que hoje sob a bandeira do cristianismo puro, realizam preciosa
colaboração evangélica.
O Autor
1. Reencontro

Naquela noite quente de fim de verão, devidamente aprazados,


buscamos local propício para o início de um trabalho singular de estudo e
rememoração do passado, não por mera curiosidade, mas para estreitamento
de laços de amor entre Espíritos afins e demonstração objetiva da Lei de
Reencarnação através da pré-história.
Luzes de diversas cores, refletidas nas cortinas azuis e vermelhas,
davam ao local tonalidades singulares, irisadas e envolventes.
Iniciamos as ligações espirituais e, desde logo, verificamos a presença
de quatro entidades: um chefe de legião índia que impedia interferências, um
guia oriental, um Espírito feminino de hierarquia elevada que habita mundos
superiores e descera ao nosso orbe em tarefas de altruísmo — que
chamaremos Anath — e uma entidade envolta em roupagens brancas,
coberta por um capuz da mesma cor, e possuidora de uma poderosa vibração
magnética a qual, desde logo, definiu sua posição dizendo:
— Somente me descobrirei quando o desenvolvimento deste trabalho
fizer soar para nós ambos (dirigia-se a mim, Paulo) a hora emocional das
identificações; assim que os quadros de nossas vidas em comum se fizerem
presentes, exigindo minha interferência direta e pessoal.
Em seguida falou o guia oriental:
— Para realizarmos os objetivos que nos reúnem, utilizaremos todas as
formas de mediunidade: incorporação, vidência, audição, telepatia e
desdobramento.
E dirigindo-se pessoalmente a Arturo, o médium disse:
— Quando puderes abandonar o corpo, como um pássaro que abandona
a gaiola que o aprisiona, grandes vôos poderás empreender no mundo
espiritual.
E dirigindo-se literalmente a mim, seu irmão e amigo:
— Para os relatos que nos interessam dos fatos do passado, estão
reunidos aqui aqueles que deles participaram. O tempo nos é escasso, e o
tiramos dos poucos momentos de lazer a nosso dispor nos intervalos dos
nossos incessantes labores espirituais. Louvado seja o Cristo, que nos
concede a permuta enobrecedora de vibrações amoráveis, nas quais se urde a
maravilhosa trama da vida espiritual planetária.
E Anath falou por fim:
— O que vai ser dito e mostrado exige discrição e alto senso de
julgamento. E nem tudo poderá ser revelado. Os fatos mais delicados e que
infringem as leis humanas e a justiça divina nem sempre serão mostrados,
mesmo quando necessários para a compreensão do sentido; assim também,
nomes de certos lugares e pessoas, porque muitas delas figuram na História
do mundo de forma diferente e, por isso, estes relatos não serão acreditados
se divulgados na versão que lhes damos. Outros Espíritos de maior
hierarquia nos apoiam e secundam esta nossa tentativa. Somos, por agora,
quatro, mas formamos um grupo cujas ligações se perdem na noite dos
tempos.
E prosseguiu, dirigindo-se a mim:
— Desde já quero referir-me a uma velha arca que tu conheces: aquela
que costumamos abrir quando queremos consultar documentos de nossa vida
comum. Estás lembrado? Ela não existe de forma concreta aos teus olhos,
mas sim aos nossos. Contém doze pergaminhos de couro de cabra, enrolados
e amarrados com cordéis finos e puderam ser conservados, justamente
porque são produtos de nossa mente imortal e criadora. Conservam-se no
grande templo de Rawalpindi, e nos montes Athos, onde missionários da
Lemúria e da Atlântida levaram seus passos. Todos deverão ser abertos e
revelados neste nosso trabalho de agora. O primeiro deles se refere à
Lemúria.
Ali nos iniciamos naquela época, desejosos de adotar o signo branco
daqueles que eram poeticamente denominados Flâmines, e nos entregamos
ao trabalho de dissipação das trevas que envolviam, temerosamente, aquele
povo primitivo ainda não bem consolidado na contextura física.
Desejávamos servir ao Grande Átman e nos devotarmos a trabalhos
exaustivos no campo do psiquismo primário e das práticas sacrificiais,
herdadas mais tarde pelos hindus da Quinta Raça com relação ao corpo
humano e que eram impostas a iniciantes como nós.
Os Flâmines da Lemúria, reencarnados nos Profetas Brancos e mais
tarde nos membros da Fraternidade Kobda, prosseguem nos dias atuais nos
mesmos esforços junto aos agrupamentos humanos mais evoluídos,
devotados à causa da fraternidade universal.
E muitos deles — rematou ela, risonha e irônica — somos alguns de
nós.
◆◆◆

A partir desse dia as quatro entidades citadas compareceram com


absoluta pontualidade, e uma a uma foi sendo levantada as cortinas do
tempo, desvendando fatos relacionados com as suas vidas em comum, no
passado.
2. Muito Longe, na Lemúria

No segundo dia, assim que nos reunimos, aproximou-se aquele que


passamos a chamar de Incógnito e disse:
— Nos mares imensos da Terra, navegadores singram rotas diferentes,
para atingir portos diferentes. O mesmo se dá conosco: atingir determinado
porto em determinado tempo. Para isso, agiremos até mesmo sobre as
células de vossos corpos físicos, quando necessário, e eles serão preparados,
iluminados, harmonizados, para se adaptarem às necessidades do trabalho.
Dirigindo-se a mim, disse:
— Sou aquele que não se identifica e falo contigo de igual para igual,
sem formalidades, porque não levamos em conta as diferenças do passado,
no jogo terrível dos débitos e dos créditos; aqui há somente amigos que a
consciência do amor universal em Deus esclarece e nivela.
O pensamento — continuou — é a força mental que une, a força
criativa que permite a manifestação livre do homem racional. Seremos aqui
somente almas que se buscam para reviver as lembranças inumeráveis de um
passado já bem remoto. Quanto a mim, como já disse, deixarei cair o capuz
misterioso quando tratarmos das coisas que entre nós se passaram no antigo
Egito.
— Já é alguma coisa saber que nosso ponto de contato é o Egito —
repliquei.
— Para satisfazer em parte a tua curiosidade natural e desculpável, direi
que estivemos juntos também na Grécia e na Europa, na Idade Média. Mas o
que nos aproxima agora — repito — são os fatos do antigo Egito, em Tebas.
Desligou-se então, deixando uma vibração poderosa; Arturo, por
exemplo, sentiu uma espécie de alongamento do corpo físico na direção do
desligamento, isso, por outro lado, provou o fortíssimo entrosamento que
havia entre nós e o Incógnito.
◆◆◆

Surge então Anath, que diz com álacre graciosidade, como a querer
quebrar a austeridade que ficara no ambiente:
— Observem minhas vestes! Como as vêem? Esta vantagem também a
temos e, ainda mais, fabricamos a indumentária que desejamos, na forma e
na ocasião desejada. Identifiquem-me por esta de hoje: é a que vou usar
como coordenadora deste programa. Não é assim que dizem aí na Terra, nas
atividades da televisão?
◆◆◆
Tinha cabelo castanho escuro, penteado para trás, enrolado na nuca e
preso por uma cercadura de pérolas miúdas. No pescoço alvo, um colar de
pedras coloridas como águas marinhas, verdes e vermelhas, aumentando de
tamanho à medida que desciam para o colo, onde formavam uma pequena
cruz. O corpete justo, modelando o busto desde a cintura esbelta, terminava
no pescoço por uma gola rendada vinda detrás e fechando-se à frente, ao
nível da cintura, por botões grandes, redondos, de ouro reluzente. O vestido
era justo, alargando-se embaixo em ondulações, com desenhos de filigranas
de ouro. O rosto, oval e suave, levemente amorenado, olhos escuros,
profundos, doces e cheios de enlevo, nariz reto, pequeno, e também a boca,
de lábios finos e delicados; as orelhas eram miúdas, sem qualquer
ornamento, aos pés, sandálias com fivelas largas, brilhantes, de cor verde, as
mãos, pequenas, muito vivas, de dedos roliços.
Trazia na mão esquerda uma tela enrolada, uma prancheta e pincéis.
— Vamos trabalhar. Todos prontos?
E prosseguiu: — Não há, como vão ver, muitas diferenças paisagísticas
entre a Lemúria e a Atlântida, salvo os corpos físicos dos homens e dos
animais que variam bastante. Não se esqueçam de que, entre estas duas
civilizações, há milênios. Utilizaremos as gravações etéreas[3] e as
projetaremos na tela que trago, com os comentários necessários, que iremos
fazendo passo a passo.
◆◆◆

Surge na tela uma névoa esbranquiçada, que se vai descerrando aos


poucos, deixando ver uma região agreste, montanhosa, de coloração
cinzenta; sentia-se tristeza em olhar aquilo.
Num vale encostado a um contraforte da montanha, e que se vem
aproximando da boca da tela, vai tomando forma uma construção rude,
imprecisa, que se confunde com a própria montanha.
— É um templo lemuriano — diz Anath — dos poucos que havia
naquela região.
Tem uma forma singular, misto de chinês, hindu e árabe. O telhado é
como um V invertido, encostado ao flanco da montanha, em cuja parte
inferior se via uma porta enorme, da mesma forma simplesmente saliente da
montanha, como um ornato.
Enquanto a tela mostra os quadros, Anath vai esclarecendo.
— Aqui se cultivou a essência espiritual da vida, na sua expressão mais
profunda e rude. Ela era ainda muito instintiva, mas a sua beleza natural
estava sempre presente, atraindo a criatura, ajudando-a, visto que a mente
humana era ainda muito primitiva. Entretanto, a percepção da origem
espiritual era muito mais viva do que hoje, naquelas almas infantis, que eram
conduzidas pelas mãos como crianças, se assim podemos dizer, pelos guias
espirituais. Aqui é que se deu ao homem encarnado na Terra o conhecimento
do fogo, do qual fez ele logo um culto arraigado, não só pelos efeitos
observados na preservação da vida física e no seu conforto, mas
principalmente como um exemplo vivo, crepitante, da presença de um deus
invisível. Era na chama do lenho que esses homens antigos buscavam a
divindade e acreditavam nela. O fogo era para eles o que é para nós o
espírito: labareda viva que tudo ilumina e purifica.
Na tela, a visão ganhou aspecto mais vivo e movimento. O templo, na
realidade, não era monumental como parecia; grande era somente o pórtico,
do qual se caminhava por uma alameda arborizada, até a verdadeira entrada
interna, cavada na rocha mais ao fundo como tudo o mais que dentro dele
havia. Dessa entrada partia uma espécie de túnel que recebia a luz de
aberturas espaçadas. Levava a uma grande caverna. Pedras laterais
esculpidas revelavam a existência de verdadeiros artistas e inspirados
operários.
— Os lemurianos — esclarece Anath, apontando a paisagem exposta na
tela — eram realmente notáveis operários da pedra, porque as agruras da
vida nas partes baixas os levaram a refugiar-se nas montanhas, onde
construíam suas habitações dentro das rochas.
Surge então na tela uma entidade feminina de pele escura, aspecto rude,
severo, seminua, que tomou a palavra dizendo:
— Neste templo procuramos, naquela época, valorizar o que fala ao
espírito, e não a beleza da pedra bruta. Sei que estou numa extremidade e
vós, na outra, da evolução terrestre, mas o nosso, naquele tempo, era o
mesmo vosso de hoje, quando buscais, na revivescência das coisas do
passado, novos rumos e mais elevados horizontes da própria ascensão. O
lado verdadeiro das coisas, o positivo, o essencial, era para nós, que
ajudávamos a guiar aquele povo primitivo, o lado espiritual que tem legítimo
valor iniciático. Deste ponto, afastados da curva evolutiva planetária, nós
vos saudamos e de vós nos lembramos como companheiros amados de tantas
lutas difíceis, mas vitoriosas.
Falou e foi-se apagando aos poucos, desaparecendo numa névoa
cinzenta.
Vivamente impressionados, fizemos uma prece, envolvendo de intenso
amor aquele Espírito irmão que, para se identificar, se apresentara
exatamente na forma como vivera no rude ambiente primitivo daqueles
recuados tempos.
◆◆◆

Prosseguindo, a tela mostra grande salão circular, maravilhosamente


esculpido de símbolos nas paredes, vendo-se guerreiros, caçadas de animais
e imagens do Sol. À direita e à esquerda havia aberturas nas paredes,
formando nichos; ao centro, uma espécie de altar, encimado por uma ampla
chama crepitando dentro de uma concha de pedra rodeada de outras três
menores e ardiam resinas em outros pontos, em outras conchas, iluminando
a sala enorme.
Dentro dos nichos, talhados na parte superior das paredes, em forma de
abóbadas, havia corpos mumificados, enrugados, escuros e uma luz vinha do
Alto, focalizando uma por uma essas múmias humanas.
Na tela vê-se uma porta que se abre ao lado direito da sala e outra do
lado oposto, tendo o altar de permeio, ambas fechadas.
— São portas que levam às câmaras dos sacerdotes e das sacerdotisas
do Templo — explica Anath. Neste templo se preparavam sacerdotes
dotados de fortes poderes ocultos, aptos ao trato de coisas referentes ao
mediunismo primitivo, que, portanto, era recurso de intercâmbio já utilizado
naquele tempo e valeu desde o início aos guias do mundo, como forte auxílio
de trabalho e de realizações espirituais.
— Não é preciso lembrar — diz ela — que esse grande continente
desapareceu nas águas do oceano há muitos milênios. Para nós, no momento,
ele é somente um ponto de partida para esta narrativa.
Ali nasceram os homens da 3ª Raça-Mãe, de formação física ainda não
bem definida.
Na costa ocidental o continente era habitado por homens de tamanho
avantajado que tinham por moradia inúmeras grutas existentes nas
montanhas.
O mundo físico naqueles dias ainda estava submetido a constantes
alterações estruturais e climáticas, que tornavam a vida muito difícil e cheia
de perigos sobretudo nos baixios.
3. Na Atlântida

Vê-se um templo extraordinariamente semelhante ao anterior e como


aquele, também construído na rocha, em um flanco da montanha.
Uma chama arde na pedra, na parte superior do altar e sobre este acha-
se um grande livro, em que as páginas são lâminas finas de ouro, tão puro
como as que formam o teto do templo; o que se pode ler no livro está escrito
em caracteres semelhantes aos cuneiformes adotados mais tarde pelos
assírios e caldeus.
Há uma penumbra suave no recinto amplo que torna imprecisos os
detalhes mais recuados; para fora vê-se um pátio circular e, a intervalos
regulares, conchas de pedra cheias de óleo embutidas nas paredes que ardem
iluminando em volta; anteparos de metal amarelo protegem as chamas contra
o vento para que não se apaguem, e o chão rústico, de lajes polidas, reflete
essa iluminação exterior, formando ilhas de sombra aqui e acolá.
Junto à tela, surge Anath, que explica:
— Transmitiremos imagens telepáticas e sonoras que vão ao cérebro e
ali cada coisa toma seu destino certo; as primeiras já chegam traduzidas, e as
segundas reboam na parte perispiritual. No cérebro, estas ondas mentais ou
sonoras somente vêm para as complementações no campo físico e por isso é
que projeto os quadros na tela para as devidas confrontações. Este quadro —
continua ela — se desenrola no átrio do templo, onde se reúnem os iniciantes
ao sacerdócio. Este é o templo de Imatan.
Abre-se uma porta do átrio e surge um sacerdote de altura média,
magro, cabeça alongada e rosto ovalado, os olhos fundos e os zigomas
salientes dão-lhe um aspecto de rudeza, confirmado pela cor bronzeada e a
forte compleição física, usa sandálias de couro cru, presas às pernas com
tiras trançadas, traz uma túnica ampla de azul forte e sobre os ombros uma
pequena capa aberta na frente.
Ele se ajoelha, concentra-se ali mesmo sob a luz, e seu Espírito em
breve se desprende parcialmente na prece ardente que faz ao Deus Supremo.
É um sacerdote menor da classe daqueles que jamais abandonam o templo e
cuidam dele. Depois de certo tempo levanta-se, e ao virar-se para se retirar,
Anath projeta sobre ele um jato de luz forte e rósea de seu próprio tórax, que
ele recebe no mesmo instante e, voltando-se, sorrindo, saúda a ela dirigindo-
se a mim:
— Ele e tu são o mesmo Espírito.
Logo depois abrem-se as portas fronteiras e saem sacerdotisas e
sacerdotes em fila; elas, com longas túnicas esvoaçantes muito alvas, a que
vai na frente levando na mão uma pequena tocha acesa, e os iniciantes
precedidos por sacerdotes instrutores. Avançam até o meio do átrio e
sentam-se em cepos de madeira, formando círculos concêntricos, sendo o do
exterior o dos iniciantes, o segundo, o dos sacerdotes instrutores e o mais
interno o das sacerdotisas, por último, ainda, no centro de todos os grupos,
coloca-se a sacerdotisa que vinha em primeiro lugar e trazia um facho.
Pudemos então verificar que a sacerdotisa e Anath eram a mesma entidade
espiritual porque, no quadro, as imagens se sobrepuseram uma à outra,
rapidamente, para que isto se visse.
O nosso atual companheiro, o Incógnito, estava também sentado entre
os iniciantes. Num cepo mais alto, como um trono, fora dos círculos e junto
ao altar, sentou-se um ancião de longas barbas em ponta, olhar bondoso,
fronte alta e elevada estatura.
Todos os que ali estão têm cor acobreada, mais ou menos escuros,
porém as fisionomias eram espiritualizadas.
Eram doze iniciantes, doze sacerdotes e doze sacerdotisas, além da que
se sentara ao centro e do sacerdote maior sentado junto ao altar.
Diz Anath:
— Ela vai ser sagrada sacerdotisa maior agora. Observem.
Ouve-se um canto harmonioso, suave, que vem do interior do templo; é
uma canção dolente, monocórdia, acompanhada de instrumentos de corda
que não se deixam ver; vem do coro de sacerdotisas iniciantes, as quais se
acham no aposento contíguo, fora dos círculos.
Reina ali uma atmosfera de misticismo puro e forte, que se afirma e se
demora, um arroubo de almas para o Criador Supremo, dentro do qual todos
vão aos poucos caindo em transe, que se acentua à medida que o canto se
eleva mais forte e mais firme para o Alto e os Espíritos vão se desprendendo
e volitam pelo ambiente esfumaçado ou se colocam em determinados
lugares, enquanto inúmeros outros também se agrupam aqui e ali para
assistir à cerimônia.
Cessada a música, o Venerável se levanta, toma de um incensório posto
a seus pés, verte sobre as brasas um pó branco e arenoso tirado de uma
caixinha de metal dourado, e uma chama azulada se levanta, crepitando,
deitando fumaça esbranquiçada; o perfume que se evola, doce e forte,
aumenta o desprendimento dos que estão em transe e é aspirado com prazer
evidente pelos desencarnados assistentes da cerimônia.
O Venerável estende o braço direito para a chama que está sobre o altar
e que agora tem a forma de uma língua de fogo, e então ela crepita mais
forte, balança-se, cresce de tamanho, “levanta-se para cima”, e por fim, lança
uma fulguração rápida que clareia todo o átrio e se condensa sobre a
sacerdotisa no centro dos círculos. Junto ao Venerável, forma-se uma figura
materializada que volteia para o centro e se posta junto à sacerdotisa em
transe profundo. Estende os braços na direção dela até que pouco depois ela
se contorce, espuma ligeiramente pela boca, geme, e por fim se levanta,
completamente envolvida e firme, saúda a todos e profere uma longa prece
de louvor ao Grande Espírito.
O Venerável, levantando-se, pronuncia agora as palavras rituais da
consagração:
— O grande templo do Senhor, em Imatan, recebe a sacerdotisa
Marani. Foi provada e triunfou. Sob a evocação do Grande Espírito nós te
consagramos para o culto sagrado como porta-voz e como olheiro que tudo
vê. Que as glórias e as penas do serviço diário deste Templo sejam
suportadas por ti enquanto viveres.
Estávamos atentos e estranháramos as dificuldades reveladas pela
sacerdotisa no transe, mormente em se tratando de uma sagração de
sacerdotisa maior.
Lendo nosso pensamento, Anath falou, explicando:
— Foi a cortina vibratória que se rompeu; a sensibilidade mediúnica
não existe somente para fluidos pesados que tanto maltratam os servidores;
os Espíritos de hierarquia superior necessitam também de sensibilidade
maior e mais perfeitas condições mediúnicas; o mal-estar demonstrado por
Marani foi provocado justamente pelo rompimento da barreira vibratória de
acesso a faixas espirituais mais elevadas, mas agora poderá ela ser flexível a
manifestações de qualquer espécie e qualquer grau vibratório, tornando-se
assim uma intermediária perfeita para o intercâmbio espiritual.
Por isso é que o Venerável disse na sagração “foi provada e triunfou”.
4. No Templo de Imatan

Via-se uma ala do templo onde existiam jardins bem cuidados,


bosquetes de arvoredo baixo e arredondado. Junto a uma espécie de
caramanchão, formado por belíssima trepadeira azul, viam-se três pessoas:
aproximando-se mais a tela, vimos que eram Zaltan, o sacerdote menor,
Marani e mais um jovem de uns vinte anos, de cabeça grande e fronte
elevada. Vestiam uma túnica curta, que lhe ia até o meio das coxas, deixando
os joelhos a descoberto. Todos surgiram na tela como uma pintura mas, a
dado momento, começaram a mover-se, ganhando vida.
Marani adiantou-se à frente deles, entrou pela alameda lateral florida,
que corria para fora, paralela ao átrio, e aproximou-se de uma cavidade na
rocha onde se dissimulava uma porta com um reposteiro à frente, vermelho
vivo, que afastou ao entrar. Era o seu aposento íntimo: uma cama rústica
formada por um estrado de tiras de couro trançadas, enxergão de palha
macia, coberta por uma colcha alva. Em um nicho na parede, um pequeno
armário e, junto à porta, um outro menor, com uma ânfora de água e objetos
de uso.
Ela usava sandálias de pontas curvas e uma túnica branca bem curta
sobre o busto. Colocou aos ombros um manto de cor azul, preso ao pescoço
por dois cordões coloridos. De sobre um tamborete, apanhou um instrumento
de cordas, igual aos que eram usados no Templo pelas sacerdotisas menores
e saiu de novo, reunindo-se aos companheiros que haviam ficado à espera.
Seguiram pela alameda florida, atravessaram um pátio coberto de
cascalho e passando por uma pequena porta na muralha exterior do templo,
acharam-se enfim fora dele, em plena montanha.
Seguiram por uma viela ao lado do Templo, subindo sempre, até o cimo
da colina rochosa ao pé da qual estava a construção e pisavam cuidadosos
sobre as pedras escuras e lisas do calçamento esverdeado pelo limo das
intempéries e da sombra espessa das árvores marginais. A certa altura,
desviaram-se para um cruzamento, desceram alguns degraus lavrados na
rocha e, ao fim de uma pequena trilha, chegaram à margem de um lago de
águas mansas e claras, que vinham cascateando de cima, no leito empedrado
e de forte desnível.
O auxiliar trazia um maço de pergaminhos, um boiãozinho contendo
tinta escura e um fino pincel; as folhas de pergaminho eram presas umas às
outras por furos feitos ao lado esquerdo e pelos quais passava um fio de
couro fino.
Sentaram-se à beira do lago com a água quase a lamber-lhes os pés e,
após um pequeno repouso, Marani se levantou, dizendo:
— Liguemo-nos agora ao Grande Espírito; estou inquieta e
emocionada, não sei porquê.
Tomou o instrumento, tangeu as cordas e começou a cantar uma canção
mística, suave e lânguida que os companheiros acompanhavam
ritmadamente com as mãos em concha.
Após o canto levantaram os braços, formando em cima, com as mãos
unidas, um triângulo, e assim ficaram, de olhos fechados, fortemente
concentrados até que, dentro em pouco, desceu sobre eles um facho brilhante
e forte, de luz amarelada.
Terminada a prece, sentaram-se de novo, menos Zaltan, cujo semblante
se achava demudado e pálido, e o corpo enrijecido. Forte luminosidade o
envolvia e viram logo que estava em transe. Auxiliada pelo companheiro,
Marani fê-lo sentar-se numa pedra em separado e colocaram-lhe sobre os
joelhos o caderno de pergaminhos e na mão direita o auxiliar fixou-lhe o
pincel já molhado na tinta e enquanto aguardavam seus movimentos,
formaram uma corrente de apoio: o auxiliar, com as mãos sobre seus pés e
Marani, sobre sua cabeça. Daí a momentos ele começou a escrever
desembaraçadamente, enquanto o auxiliar ia virando as páginas, sempre
atento aos movimentos de sua mão.
Ao terminar, pousou o pincel e acordou do transe, dentro do silêncio
comovido e respeitoso que se estabelecera, somente quebrado pelo rumorejar
da água que descia sempre pelo seu leito de pedras, engolfando-se no lago.
— Vamos agradecer — disse Marani — a comunhão estabelecida com
os poderes divinos.
Após isso, mudam de lugar e iniciam um curioso exercício de
transmissões telepáticas, projetando entre si pensamentos e imagens e
recolhendo-as uns dos outros. Era um exercício obrigatório a que se
submetiam todos os iniciantes e que gostavam de fazer ali junto ao lago por
crerem que as forças livres da Natureza lhes seriam mais propícias que o
silêncio rígido e místico do recinto sombrio do Templo. Criam-se, ali, mais
perto de Deus, eis tudo, e sua fé, pura e simples, agia como incentivadora de
um trabalho que sempre resultava benéfico e construtivo.
Outras mensagens vieram e, por fim, uma última que os deixou
realmente impressionados dizia: “Voltai aqui logo pela manhã, pois há
instruções urgentes a vos transmitir. Paz convosco”.
— Quem ditou esta mensagem — disse Marani — foi uma entidade
moça, de porte altivo, que se achava junto a uma venerável criatura, já vista
várias vezes por mim no Templo.
— Sei a quem te referes, Marani — acrescentou Zaltan — já vi também
esse Espírito. Voltaremos, pois, amanhã. Desçamos agora, que se aproxima a
hora da prece vespertina.
E quem por ali passasse logo veria, no jardim aberto do pátio interno, o
grupo de iniciantes encaminhando-se para o interior do Templo onde o
gongo do salão central desferia suas notas imperiosas de chamada; à frente
deles seguia Zaltan, que aparentava uns 30 anos, e junto dele Marani, um
pouco mais jovem.
◆◆◆

Na tela apagaram-se as imagens e ouvimos a voz de Anath dizendo:


— Os fatos que estamos reproduzindo se deram no período que dista
uns sessenta mil anos a contar de hoje para o passado, na velha Atlântida,
antes do primeiro grande afundamento.[4]
5. Inquietadora Revelação

Anath entrega, de início, uma flor a cada um de nós.


— Nossa narrativa — diz ela — visa somente os fatos de maior
importância, e o fazemos em relatos curtos, sem detalhes, personalizando o
menos possível.
Desenrolou a tela e mostrou os quadros.
Junto a uma rocha, perto do lago já conhecido, acendeu-se no chão uma
fogueira em homenagem ao Deus da Luz e sobre ela, momentos depois, veio
do Alto um forte clarão; em volta vemos novamente os três protagonistas.
Estão concentrados fortemente, e de Marani flui intensa onda de ectoplasma
que aos poucos se vai condensando a alguns passos do grupo. Por fim toma
corpo uma entidade: é um velho, com a indumentária de sacerdote maior,
semelhante àquele que vimos sentado em um mocho, fora dos círculos
rituais, na cerimônia da sagração de Marani.
Este possui barbas amplas e brancas esparramadas sobre o peito e
cabelos bastos e descuidados caindo nos ombros; orelhas grandes, nariz
achatado e queixo saliente, tudo porém formando um conjunto harmonioso,
com transparente bondade a bailar-lhe nos olhos escuros e forte
luminosidade a envolvê-lo.
A materialização não passou de luminosa, porém cerrada, e quando foi
suficientemente nítida, ele levantou os braços e abençoou o grupo; o quadro
se imobilizou por uns momentos, mas fez-se ouvir distintamente o diálogo
que se travou entre eles:
— Que desejais de nós, venerável Espírito? — perguntou Zaltan. —
Aqui estamos, obedecendo ao teu chamado.
— Meus filhos: Ireis ouvir uma inquietadora revelação. Buscai asilo o
quanto antes, em outras terras. Retirai-vos daqui o mais depressa possível,
porque uma grande desgraça sobrevirá a este país, atingindo a todos aqueles
que aqui vivem ou aqui permanecerem. Todos. Ninguém escapará. Ide em
busca de outras terras e o Supremo Espírito velará por vós.
— Mas, por que isso tão de repente? E por que, venerável benfeitor,
fomos nós escolhidos para receber esta terrível notícia e não outros mais
autorizados?
— Não me haveis, porventura, convocado ontem? Não acendestes o
fogo em homenagem ao Grande Espírito? Compareço para atender o
chamado em nome dele. Mas saibam que, quando os servidores do Templo
se reunirem para os rituais sagrados ao cair da noite, estaremos também com
eles e lhes daremos aviso semelhante. Todos aqueles que devem ser salvos
serão avisados. Apressai-vos, pois tendes apenas quatro luas para acolher-
vos a outros lugares mais seguros.[5]
◆◆◆

A forma luminosa desfez-se, enquanto os três sensitivos, voltando à


realidade ambiente, olhavam-se apreensivos e surpresos. Nos trabalhos do
Templo eram comuns as materializações, porém o privilégio que julgavam
ter, de serem procurados em primeiro lugar por entidade tão venerável,
deixava-os estonteados, não sabendo como agir.
Desceram rapidamente a colina, e no caminho encontraram um
companheiro do Templo, também iniciante, que, percebendo-lhes a
preocupação, os interrogou a respeito.
— Tivemos uma visão diferente, nada mais — responderam.
Nesse instante, parados, estavam perante um maravilhoso panorama: à
distância de alguns quilômetros, lá para baixo, no planalto verdejante, vê-se
o casario branco de uma cidade, cujos telhados dourados refulgem ao sol da
manhã. No centro destaca-se um grupo de torreões arredondados,
intercalados de terraços, de um dos quais sobe uma fumaça branca com
chamas vermelhas fulgurando por baixo.
Olhando aquele espetáculo, esqueceram-se das preocupações, tão belo
era, com o disco solar subindo por detrás das montanhas, rodeado de
fulgurações douradas.
— Nossos irmãos do Templo de Isloan — diz Marani — estão atentos.
E com um tom cerimonioso na voz:
— A chama viva, que é uma homenagem ao Grande Espírito, encobre
todavia maldades humanas que não se apagam nunca.
— Sim — retrucou Zaltan —, mas talvez em breve se apaguem. Tão
depressa assim se te varreu da memória o que acabamos de ouvir na colina?
Quais serão os preferidos para a salvação?
A esta severa advertência, Marani silenciou, e todos se apressaram em
regressar ao Templo, onde penetraram apreensivos e silenciosos.
6. As Origens do Templo

Desta vez, em primeiro lugar, veio o Incógnito, que disse:


— A rememoração que estamos fazendo representa, como já sabem,
compromissos do passado. É uma revivescência de coisas passadas dentro de
seitas e ordens religiosas onde penetraram para a realização de ideias
próprias, de caráter universalizante. Por isso vos digo: apegai-vos a estas
lembranças, a fim de que o presente seja melhor aproveitado. Tudo o que
fazemos fica registrado na Luz Etérea e é com o auxílio desses registros que
esse passado pode ser atualizado. Os quadros exibidos representam as
facetas mais expressivas da Verdade que podia ser dada aos homens
daquelas épocas remotas e bárbaras mas que, nos templos, se cultivava de
forma talvez mais objetiva e sincera do que hoje nos vossos, quando a vida
material absorve a melhor parte de vossas possibilidades espirituais.
Em seguida, veio Anath dizendo que, além do que já se fazia no sentido
da segurança e do controle mediúnico, ainda mais se iria fazer, porque além
da projeção telepática no cérebro e da vidência no quadro, ainda haveria a
escritura do assunto logo abaixo na tela.
◆◆◆

Anath abriu um painel em branco, bem maior que o anterior, e nele logo
se viu a entrada lateral do Templo. A inscrição abaixo dizia: Porta Leste —
no vale do Imatan. Com um compasso, traçou um círculo em torno do
Templo, fechando dentro dele uma região formada de maciços e morros,
vistos de cima para baixo. Quase não se via o Templo, confundido como
estava com a montanha, assim como um de seus flancos, com entrada por
um vale agreste.
— Como o da Lemúria — disse ela — que já conhecemos, este Templo
de Imatan quase não é visível; é todo construído na rocha e somente afloram
algumas saliências e paredes laterais que parecem contornos da própria
montanha. Naquele tempo, muito mais que agora, as tentativas de
aprimoramento moral, intelectual e psíquico eram mal vistas, sofriam
perseguições atrozes da parte dos poderes dominantes; imperava a mais
terrível intolerância religiosa, como se viu também mais tarde em outras
épocas, inclusive na vossa Idade Média entre católicos, protestantes,
muçulmanos e outros credos; os dominadores daqueles tempos, como hienas
cruéis e famintas, lançavam-se contra todos os que não seguiam as regras, os
costumes e as leis da comunidade social primitiva e bárbara. Este Templo de
Imatan era dedicado exclusivamente ao Bem e fora edificado pelos Profetas
Brancos de Anfion em épocas anteriores. Por isso era subterrâneo e escondia
o culto, que ficava assim indevassável, e protegia seus adeptos das garras
dos opressores profitentes dos cultos oficiais nessa data já em franca
degeneração psíquica. Tem ele uma história que convém contar:
“Esta região serviu, outrora, de palco de combates e extermínios, rivais
cruentos, entre as tribos locais. Os vivos se haviam esquecido do passado,
mas os desencarnados, não: apegaram-se ao solo e de tal zelo se animavam e
tal era o desconhecimento que tinham em relação à vida após o túmulo, que
se organizaram em comunidade e passaram a perseguir e afugentar todos os
que por ali transitavam. O vale tornou-se uma região amaldiçoada, cujo
nome se traduzia por O vale das fúrias, e tais foram os feitos desses
Espíritos que a grandes distâncias os viajantes se desviavam de suas rotas
para passarem ao largo, evitando esses ataques invisíveis dos quais não era
possível se defenderem. Assim, aproveitando-se dessa situação, foi que os
fundadores escolheram tal lugar para edificar seu Templo. De início houve
hostilidades e violências por parte dos Espíritos que não concordavam com a
invasão de seus domínios mas, mesmo assim, os sacerdotes penetraram no
vale, escavaram as rochas e efetivaram a construção. E, com o decorrer do
tempo, doutrinaram e esclareceram aqueles seres ignorantes que, então, aos
poucos foram passando para o lado deles, frequentando o Templo nas suas
reuniões benéficas, auxiliando nos seus trabalhos mas, ainda assim,
prosseguindo na vigilância rigorosa do vale, para evitar hostilizações vindas
de fora. Por isso o Templo sobreviveu, apesar de muitas vezes atacado por
forças poderosas que, todavia, não resistiam às legiões desencarnadas da
vigilância, que furiosamente o defendiam.”[6]
◆◆◆

Agora vemos a cidade da planície. Já se haviam passado vários dias.


Em uma das casas, logo à entrada, vivia um pastor com seu rebanho. Seu
nome era Tamor. Sua função principal, todavia, não era cuidar do rebanho,
mas servir de olheiro do Templo, transmitindo aos sacerdotes as notícias que
lhes pudessem ser de utilidade.
E, nesse dia, logo de manhã, ei-lo de caminho, apressurado, com a
notícia: a cidade estava inquietas, reinava confusão e descontentamento. O
povo se amotinara e marchara para a sede do governo, havendo combates e
mortes nas ruas. A razão disso era que a região, anteriormente pródiga de
fontes de água e bebedouros, se via repentinamente ante poços secos e fontes
estanques e, como nenhuma providência ou explicação fora dada, surgiu a
revolta e depois o pânico.
Recebida a notícia, o sumo sacerdote reuniu os mais categorizados
sensitivos, inclusive Marani, e veio a saber que se aproximava da órbita da
Terra um astro em desagregação, e que este, ao entrar em contato com a
atmosfera terrestre, estava provocando fenômenos terríveis em muitas partes
do globo, sobretudo chuvas torrenciais e quedas de meteoritos. Para aquela
região, o primeiro sinal daquela visita insólita estava sendo a secagem das
fontes e dos rios, mas haveria coisas mais graves a suceder.
Esta revelação fora dada pela entidade que já havia avisado aos três
iniciantes dias atrás, e que somente agora achara oportuno esclarecer à
direção do Templo.
◆◆◆

Naqueles tempos recuados, a Natureza era por demais agreste e


violenta, ocorrendo continuamente fenômenos como terremotos, erupções
vulcânicas, inundações, etc.
A secagem das fontes desorientou a multidão porque não havia
correntes de água doce naquela região, num raio de centenas de quilômetros;
era uma região estéril e arenosa, o povo se aglomerava nos vales, onde havia
água em lençóis subterrâneos, e sua vida em grande parte dependia disso.
Quando as fontes inesperadamente secaram e o povo não encontrou
explicação ou auxílio por parte dos homens dominantes, alarmou-se e
preparou-se logo para emigrar, mas essa providência também lhe foi negada,
porque emissários enviados às regiões mais próximas voltaram com a notícia
de que o mesmo fenômeno se verificava por toda parte, não havendo lugar
algum de refúgio e segurança. Mas, mesmo assim, a emigração começou
através de uma região deserta, pedregosa, sem uma gota d’água, perecendo a
quase totalidade dos que a empreenderam.[7]
7. Astro em Desagregação

Na reunião daquela noite, o sumo sacerdote expôs a situação e


esclareceu que aqueles acontecimentos marcavam o início de uma fase
verdadeiramente caótica para o país, estando anunciadas coisas muito piores.
As populações das tribos e das províncias, como lobos vorazes, se
entrechocavam e se devoravam, aliando-se e obedecendo cegamente a
agentes das forças das Trevas.
— Devemos, pois, aguardar dias terríveis — disse ele — e a nossa
permanência neste Templo fica dependendo da vontade do Grande Espírito,
a quem servimos e obedecemos. Acondicionem alimentos e vigiem os
lençóis subterrâneos que passam ao fundo da cripta inferior, porque disso,
também para nós, vai depender qualquer decisão vital a tomar amanhã.
Via-se na tela a linha sinuosa formada pelos retirantes que
abandonavam a cidade, caminhando penosamente na direção do poente, para
o lado do mar como também, noutro ângulo, a multidão revoltada e
enlouquecida de terror, aglomerada nas praças e ruas da cidade, sem saber o
que fazer. Foi quando uma voz roufenha gritou dentro da turba:
— E no Templo de Imatan, será que também lá não há água? Por que
não vamos ver?
E logo se destacaram muitos e foram seguindo apressados na frente,
com mortal decisão estampada nas fisionomias convulsas mas, não tão
depressa como o olheiro do Templo, que, por veredas somente dele
conhecidas, chegou primeiro e deu o alarme atemorizador:
— A multidão vem vindo aí para atacar o Templo em busca de água.
Num momento o gongo soou imperioso; as portas exteriores se
fecharam e foram escoradas por dentro, e o sumo sacerdote, após dar as
providências indispensáveis e já previstas para a defesa interna, reuniu-se no
salão central, junto à cripta inferior, para implorar a proteção do céu.
Mal compareciam os primeiros convocados e já Marani caía em transe
profundo e permanecia inerte no chão; Zaltan postou-se ao seu lado e tomou-
lhe as mãos nas suas para somar suas forças às dela. E logo Marani começou
a falar, em voz rouca e autoritária:
— Nada temais, eu comando as legiões da defesa, estaremos a postos e
ninguém penetrará no Templo. Mas quero que estejais reunidos, dando-vos
as mãos, para formar uma corrente poderosa na qual refaremos, quando
necessário, nossas energias porventura desfalecidas.
E, pouco depois, houve estrondos nas montanhas, blocos enormes de
pedra rolando sobre os caminhos, e gritos e blasfêmias de assaltantes feridos
e aterrorizados.
E, ainda desta vez, os Espíritos donos do vale defenderam
valorosamente seu lendário patrimônio.
◆◆◆

O tempo escoou rápido e chegou logo o dia das calamidades maiores.


Vê-se agora o astro em desagregação que se aproxima; já havia
penetrado bem na atmosfera da Terra e parecia um fogo de artifício, com
explosões e relâmpagos de instante a instante. Em poucos dias tomara
grande parte do céu, no nascente, iluminando as noites com uma luz enorme,
avermelhada e sangrenta. Nos litorais, via-se na tela como as águas do mar
submetidas a fortíssimas atrações da parte da massa do astro tão próximo se
deslocavam de seus leitos abismais e se projetavam sobre as terras,
submergindo-as, enquanto a desagregação contínua fazia chover sobre a
Terra blocos de matéria sólida que, ao contato com a atmosfera se
incendiavam, projetando-se ao solo, abrindo crateras e produzindo abalos e
incêndios terríveis.
Vê-se em dado momento um grande bloco desprender-se, fender o
espaço e projetar-se no mar, submergindo em fortes escachôos; logo depois
outro, menor, com um imenso clarão, cair sobre a cidade vizinha,
esmagando-a e incendiando-a em poucos minutos.
Por todos os lados viam-se falanges numerosas de Espíritos
desencarnados envergando túnicas brancas, recolhendo no Plano Espiritual
inumeráveis vítimas da hecatombe. Em torno à cidade flagelada, formou-se
um vaivém incessante de assistentes espirituais, que subiam e desciam numa
faixa de luz branca, conduzindo almas nos transes aflitivos da morte.
◆◆◆

Nos seus redutos subterrâneos, os sacerdotes iniciavam a fuga, após


haverem lutado bravamente para subsistir em meio àquelas calamidades; na
manhã tenebrosa, com a região toda envolta num halo de luz arroxeada,
tomaram apressadamente as veredas ínvias que atravessavam o deserto na
parte menos árida, na direção do Oriente, pois esta fora a ordem que haviam
recebido dos Guias Espirituais do Templo.
— Fuja depressa na direção do Oriente até encontrardes o mar.
Onde deteriam seus passos? Não o sabiam. Em todo o continente
flagelado, quem poderia saber alguma coisa com segurança?
◆◆◆

Os quadros se sucediam agora na tela mais rapidamente: mostravam


como somente poucos iniciantes e sacerdotes conseguiram suportar as
agruras da marcha e abandonar o país antes que os momentos finais
chegassem; os dias sombrios em que os cataclismos estavam em plena fúria
no céu, na terra, no mar, destruindo tudo, antes que o continente todo
afundasse nas águas, deixando as montanhas mais altas aflorando; alguns
barcos, que lutavam no oceano encapelado, apinhados de fugitivos e, entre
eles, um que uma faixa de luz amarela focalizava mais detidamente sobre o
qual uma figura luminosa pairava como proteção e, por fim, o oceano
acalmado, sob a luz de um sol brilhante e claro, e uma nave que vai por ele
singrando, ao longe, bem na fímbria do horizonte azulado.
◆◆◆

O painel ficou limpo, as imagens se apagaram e ouvimos, por fim, a


voz comovida de Anath, dizendo:
— Este é o fim da nossa participação humana como componentes da 4.ª
Raça na Atlântida. Nosso futuro, agora, está no Oriente.
8. No Antigo Egito

No oceano muito calmo o disco do Sol parecia submerso pela metade e,


partindo dele, foi surgindo e chegando para nós, na tela, a velha arca já
conhecida, com os pergaminhos amarelados depositados no fundo. Como se
tirado por mão invisível, um deles saltou para fora, desenrolou-se, deixando
ver escrito no bordo inferior o seguinte: “Tebas. Reinado de Amenhotes IV
— 1383 a.C.”. Da mesma forma reenrolou-se, voltou para dentro da arca e
esta, a seu turno, também se fechou, deixando cair a tampa com forte batida,
e desapareceu.
◆◆◆

O grande rei Amenhotes III, além de muitas conquistas e vitórias sobre


os sírios e outros povos que avassalou, construiu monumentos, entre os quais
o templo de Luxor, a leste de Tebas, e uma grande avenida com colunatas de
65 pés de altura.[8]
A linhagem real era feminina, e o rei era considerado “irmão celeste”
da rainha, porém, como rei, representava Amon — o senhor dos deuses —
sendo, como tal, o chefe religioso da nação, e seus filhos considerados
“filhos de Deus”.
O Templo estava ligado ao de Karnac por uma avenida de 122 esfinges
talhadas em pedra arenosa; possuíam corpo de leão e cabeça de homem, tal
como a Grande Esfinge edificada junto às pirâmides, não se sabendo até
hoje, por quem.[9]
Esse soberano construiu também um grande lago artificial em quinze
dias, movimentando oitenta mil trabalhadores escravos, que cavavam a terra
enquanto outros duzentos e cinquenta mil a removiam em cestos, formando
taludes.
Como ainda acontece hoje, os Templos exigiam doações consideráveis,
pois mantinham vultoso corpo de sacerdotes que viviam quase na
ociosidade. Os sumo sacerdotes de Amon eram as pessoas mais ricas do
Egito, cujas terras, em grande parte, pertenciam ao Templo e recebiam, além
de tudo, imensas doações dos saques provenientes das guerras de conquistas
nos países vizinhos. Imenso, pois, era o seu poder em todo o vale do Nilo.
O grande Templo de Tebas, com as suas escadarias monumentais e
caprichosas colunatas era construído de puro granito, sendo as colunas de
granito cinzento, e as escadarias, de granito rosa. O contraste de cores, sob a
luz intensa do Sol, era impressionante. As pedras foram trazidas de vários
lugares das proximidades, e de distâncias consideráveis, que consumiram
esforços tremendos para serem deslocadas; somente o poder absoluto dos
faraós e o regime da mão-de-obra escrava poderiam possibilitar tal
empreendimento.
Conquanto monumental, esse Templo ficou longe da grandiosidade dos
monumentos da pré-história como, por exemplo, as pirâmides e a esfinge
construídos pelos exilados atlantes, fundadores da raça como Hilcar, Hermes
e seu irmão Asclepius, Betemis e seu filho Misraim que, para alguns autores
foi o verdadeiro fundador da raça egípcia, com Hermes como sacerdote
maior.
◆◆◆

Estamos agora frente ao Templo. Observa-se enorme movimento e o


vaivém do povo que entrava e saía, subindo e descendo a escadaria
monumental. À esquerda, do lado de fora, vêem-se dois sacerdotes vestindo
túnicas largas e soltas, de tecido amarelo desmaiado, tendo atravessadas
sobre o peito peles amarronzadas de leopardos. Ambos têm as cabeças
rapadas.
Subindo as escadarias, penetra-se no átrio rodeado de altas colunas. De
cima, olhando-se para baixo, enxerga-se bem em frente a parte baixa da
cidade e a região do porto, com o seu casario humilde à beira do rio e, à
esquerda, um pouco mais ao longe, a Casa Dourada, residência oficial do
faraó.
Atravessando o átrio, penetramos no verdadeiro recinto do Templo
onde as colunatas laterais formam três naves paralelas e separadas. Pelas
paredes, e tomando grande parte delas, predominam os motivos que têm o
disco solar como centro ou base. Ao fundo vê-se uma pequena escada que
leva a uma espécie de altar, colocada em nível mais elevado.
Ao centro, frente à portada principal que liga ao átrio, um grupo de três
estátuas: a do centro, somente em meio-busto, assentada sobre um pedestal,
é Hórus; a da direita, de pé, em corpo inteiro, é Ísis; e a da esquerda, de igual
forma, Osíris: é a Tríade egípcia. Por outros lugares do Templo, acham-se os
demais deuses secundários, a saber: Hactor, que governa os nascimentos e o
destino; Konsu, deus do tempo e da Ciência; Aaj, deusa da Lua; Anúbis, o
guia da morte; Basté, deusa das paixões animais e da caça; Nepher-Atmu,
deus do crescimento e da vegetação; Ptah, deus criador e artífice; e outros,
do panteão popular.
No grupo da Tríade, Ísis tem na mão uma argola com uma ponta
parecida com uma chave: é o Aerus, símbolo do poder real e, do outro lado
do grupo, o deus tem cara de falcão.
Os faraós das antigas dinastias recebiam iniciação religiosa nos
templos, reunindo assim todos os poderes, porém, na parte religiosa
atinham-se ao grau iniciático que atingiam na iniciação.
Eram chamados “Filhos de Osíris”, mas a verdadeira força iniciática no
sentido feminino estava com Ísis — a deusa do silêncio — representada
sempre com um dedo sobre os lábios. Também era de praxe que a rainha, ou
quem suas vezes fizesse, fosse sagrada sacerdotisa de Ísis.
No centro do vasto recinto, sobre um suporte de granito, há uma
pequena concha de pedra escura, acima da qual, bem no alto do teto, vê-se
um olho aberto projetando sobre a água da concha uma faixa da luz dourada
do Sol que brilha lá fora, quase a pino; na faixa de luz bailam insetos
minúsculos e miríades de grânulos de pó.
Lateralmente, vêem-se várias portas e, por uma delas, ao lado direito,
passa-se para um terraço aberto onde há um grande disco de bronze
reluzente, com asas que o cobrem na parte de cima: é um gongo; pelas
paredes laterais correm canteiros floridos, onde predominam várias espécies
de arvoredo baixo, em tufos de verde vivo.
Dispostos em simetria ao longo das paredes vêem-se bancos rústicos de
pedras rosadas, onde se acham sentados vários moços, vestindo túnicas
pardas e curtas, que não descem além do meio das coxas e cujas cabeças são
rapadas; tranças de couro cingem as túnicas à cintura. Alguns deles
desenham caracteres de escrita sobre papiros outros gravam letras ou
símbolos diversos em tábuas de argila e um outro, mais em evidência e
isolado, desenha um falcão; a luz, incidindo sobre ele, mostra o jovem
auxiliar do Templo da Atlântida sobrepondo-se ao atual para provar a
identidade. Um instrutor passeia entre eles.
Anath informa:
— São aprendizes do Templo, nos termos da iniciação sacerdotal que
ali se adota com desmedido rigor.
Por sua vez, a luz incide sobre o instrutor, e vemos que é o mesmo
iniciante que se juntara ao grupo que descera a colina do templo atlante, após
a aparição do sacerdote, no remoto passado. Seu nome atual é Harneth,
auxiliar de confiança do sumo sacerdote do Templo.
Vemos agora um tabuleiro de xadrez, cujas peças são movidas com
rapidez por mãos misteriosas e por fios luminosos que se ligam para trás, na
Atlântida, e de outro lado, aos dias atuais, sobre o coronário de
companheiros conhecidos.
Anath explica:
— Laços de simpatia ou de ódio se ligam na eternidade do tempo e se
alimentam de amor, de sacrifícios ou, contrariamente, de sentimentos
inferiores, até que se diluam nos sofrimentos e amadureçam na
compreensão.
Segundo Hilarion de Monte Nebo, Fraternidade Essênia, nas ruínas do
Templo de Om, em Mênfis, construído na antiguidade, no reinado de
Amenes — o primeiro[10] faraó e em cujo recinto mais tarde Moisés foi
iniciado — havia na cripta um mural, mandado gravar pelo construtor,
mostrando a alma de um faraó morto, sobrepondo-se sucessivamente a um
camponês, um médico, um guerreiro e um navegante, o que prova que na
Atlântida, donde ele provinha, a doutrina da reencarnação já era de
conhecimento pacífico.
◆◆◆

Um facho de luz incide sobre outra porta à esquerda, deixando ver


outro terraço semelhante ao primeiro, onde se vêem as sacerdotisas
iniciantes. A figura central e mais categorizada não está presente, mas vemo-
la de pé, frente à estátua de Ísis, no recinto central do Templo; braços
levantados para o alto em profunda prece e envolvida quase pela fumaça
alva do incensório que queima ininterruptamente ao pé da estátua.
Quando a luz incide sobre ela, vê-se-lhe por trás, esfumado, o busto da
vestal da Atlântida. Aqui ela é mais alta e sua cor de pele mate é mais suave.
Sua concentração é profunda e ela pede forças à deusa para o êxito de
seu trabalho como sacerdotisa de Amon. Um sacerdote penetra no recinto e
aproxima-se, mas vendo-a em prece, detém-se e aguarda; é robusto, trazendo
uma túnica amarelo-limão, com uma pele de leopardo no ombro esquerdo.
Por detrás da estátua da deusa abre-se uma câmara onde se nota,
reclinado sobre um divã largo, uma figura majestosa; está ditando algo a
alguns escribas sentados no chão, curvados sobre seus papiros: é o sumo
sacerdote do grande Templo de Amon, o chefe da comunidade sacerdotal do
Império. Suas vestes amarelo-dourado fulgem na claridade baça do ambiente
isolado em que se acha. Um claft dourado cai-lhe aos lados e sobre a nuca, e
preciosos colares, ligados por uma enorme esmeralda ovalada, fecham-lhe a
indumentária no peito largo. Diferentemente de todos os sacerdotes,
conserva seus cabelos naturais. É de mediana estatura e em suas mãos finas
veias salientes deixam ver o giro do sangue sob a pele clara; o olhar,
inquiridor e profundo, ilumina o rosto já em parte alterado por uma teia de
rugas e vincos.
Deve andar pelos sessenta anos de idade, possuindo, porém, fortíssima
vitalidade, o que demonstra em seus gestos imperiosos e rápidos. Quando a
luz incide sobre ele, deixa ver claramente o sacerdote menor do Templo
atlante, aquele que se vinculara pelo coração e pelas ideias à vestal Marani.
Por fim, todos se reúnem bem visíveis à nossa frente, e Anath coloca
sobre a mesa no seu plano, uma margarida branca, de cuja corola sai uma
chave que fica no ar, flutuando.
E eu pensei comigo: “Para abrir a tampa da velha arca”. E ela, que lera
o meu pensamento, respondeu sorrindo:
— E nós a estamos abrindo com a chave do amor.
9. Mumificação

A tela mostra novamente o Templo.


Um sacerdote de elevada estatura sobe a escada que leva a uma câmara
interior, onde é aguardado pelo sumo sacerdote, inclina-se para receber
ordens que lhe são dadas em voz baixa. Levanta-se, chama dois auxiliares e
tomando archotes, seguem à frente para iluminar o caminho.
Dirigem-se para uma passagem nos fundos do Templo, descem vários
degraus de uma escada cavada na rocha e penetram num salão subterrâneo,
onde há uma ampla mesa de pedra tendo em volta vários recipientes de
cobre, de forma afunilada.
A sala é de granito lavrado e em volta da mesa existem outros vasos de
diferentes tamanhos, alguns tão pequenos como uma xícara de chá. Junto à
mesa um tripé de pedra e, sobre este, um tabuleiro de madeira com alguns
instrumentos cortantes de bronze.
Frente à mesa e escavada na rocha vê-se uma prateleira onde existem
frascos de vários tamanhos e formatos de cerâmica vidrada e cobre e,
finalmente, em um dos cantos, tiras de linho enroladas, de largura variada.
O sumo sacerdote era ali aguardado por um jovem alto, de porte
altaneiro, com vestes e insígnias militares de alto posto, cuja espada tilintava
na bainha ao menor movimento e à sua retaguarda estavam quatro guerreiros
imóveis.
Ao entrar, o sumo sacerdote o saudou e, ao mesmo tempo, recebeu sua
respeitosa reverência. Junto à cabeceira da mesa permaneciam imóveis,
braços cruzados, dois sacerdotes menores e sobre a mesa, estendido, um
corpo humano coberto por uma mortalha vermelho-vivo, cujas pontas caíam
para os lados; a conformação do corpo denotava tratar-se de uma mulher.
Ao longo das paredes da câmara, em prateleiras, viam-se alinhados
vasos e ânforas contendo líquidos, resinas, óleos de palmeira e essências
diversas.
A um gesto do sumo sacerdote os guerreiros foram afastados e um dos
sacerdotes da cabeceira removeu a mortalha, surgindo o corpo rígido de uma
moça de rara beleza, a cuja vista o militar teve um movimento brusco,
perturbando-se visivelmente, enquanto os presentes trocavam entre si
olhares de evidente surpresa.
O corpo estava ricamente ataviado, coberto de jóias de grande valor e
tinha na fronte a serpente de ouro — o Aerus — que denotava sua posição
de pessoa real.
Neste ponto, Anath interrompeu para explicar:
— A morta era achegada ao faraó reinante e, como este dispunha da
vida e do futuro dos seus súditos, por conveniência política havia
determinado o casamento dela com um alto dignitário da corte. A morta,
porém, prevendo isto, contraíra matrimônio secretamente com o jovem
militar ali presente e ao qual unicamente amava. Sabendo disso, por vias
secretas, o faraó decidiu castigá-la. Porém, o sumo sacerdote, a pedido do
jovem militar, seu protegido, intercedeu de forma indireta sem jogar o seu
prestígio, visto que as hostilidades já existentes entre a classe sacerdotal e o
faraó reinante estavam em franco início. Por seu lado, o faraó,
compreendendo em tempo que o militar, apoiado em seus companheiros de
armas poderia agravar as hostilidades já existentes contra seu governo,
recuou habilmente, deixando passar alguns dias, enquanto a moça, vendo seu
futuro desfeito, fez-se picar por uma víbora.
Fixamos novamente a tela: o jovem militar que fora convocado pelo
sumo sacerdote, à vista da esposa morta, descontrolou-se e prorrompeu em
ameaças, jurando vingança, enquanto o sumo sacerdote, aproveitando os
recursos psíquicos negativos ali acumulados, movimentou-os todos, à
distância, contra o faraó, como início de uma campanha de aniquilamento
que, deveria ser iniciada sem perda de tempo nos quadros políticos na nação,
visando seu afastamento, mormente por saber que sua saúde física já era
grandemente precária.[11]
Mas, naquela sala em que somente se escutavam lamentações do esposo
ferido no seu coração, iniciava-se o processo demorado e complexo da
mumificação do cadáver, cujo primeiro ato, de caráter mais que tudo
religioso, era justamente aquele para o qual havia sido convocado o jovem
guerreiro.
Aqui Anath passa a explicar novamente:
— Terminada aquela cerimônia religiosa, o cadáver seria entregue aos
embalsamadores reais, na Casa da Morte, em cujas mãos permaneceria por
mais trinta dias. O processo começava pelo esvaziamento das cavidades
naturais do corpo, a retirada das vísceras do tórax, do ventre e do cérebro,
este último comumente feito pelo nariz, salvo quando tivesse havido
trepanação prévia (como era costume) antes da morte.[12] Após isso, o corpo
era imerso em tanques de salmoura, onde permanecia várias semanas;
depois, defumado, enchidas as cavidades com essências e resinas; em
seguida entregue aos pintores, preparadores do rosto, experimentadores de
máscaras e outros arranjos que formavam a toalete do cadáver e que exigiam
longo tempo; outros especialistas preparavam o sarcófago e o pintavam e
bruniam e, por fim, expunha-se a múmia sobre um suporte no lugar
apropriado, nas residências ou na própria repartição do embalsamamento; no
caso de que estamos tratando a múmia foi exposta em recinto reservado no
próprio Templo para as cerimônias da encantação, que cabia
exclusivamente aos sacerdotes; consistia em imantar à múmia entidades
espirituais desencarnadas, de baixa condição, ou produtos mentais
poderosamente concentrados como, por exemplo, pensamentos-formas
animados de grande potencial energético, recursos estes destinados à defesa
da múmia no seu túmulo por tempo indeterminado. Em caso de profanação
do túmulo, esses agentes psicomecânicos e entidades irresponsáveis
desencarnadas entravam automaticamente em atividade, projetando-se
contra os profanadores.[13]
Terminada a cerimônia, horas depois, vê-se na tela o sumo sacerdote
penetrando na câmara da sacerdotisa maior, levando-lhe suas consolações
pessoais pelos tristes acontecimentos. Era uma jovem de verdes anos e sua
fisionomia era parecida com a da morta, pois era sua irmã materna.
Via-se logo a profunda afinidade existente entre ambos e o grau de
intimidade que já existia pois se tratavam com cordialidade e ternura. O
sacerdote demonstra, com palavras enérgicas, sua indignação pelo ocorrido
e, novamente, vibrações de repulsa e animosidade partem contra o faraó
reinante. Além da parte política, este foi o acontecimento que precipitou as
hostilidades que se iniciavam entre o faraó e a classe sacerdotal.
◆◆◆

Abandonando a câmara, o sumo sacerdote dá instruções a seus


auxiliares, convocando para o mesmo dia, ao pôr-do-sol, os sacerdotes e
servidores em geral de grau maior, para uma reunião urgente.
Horas mais tarde, todos reunidos no salão interior do Templo,
transmitiu-lhes suas ordens e esclarecimentos:
— Meus filhos, o culto sagrado de Amon está ameaçado pelo desvario
do faraó. Estou informado de que vai declarar publicamente, na Casa
Dourada, nos próximos dias, a oficialização do culto segregado de Aton,
segundo a conceituação e rituais assírios, no qual foi criado por sua mãe
Thiy, a intrusa. Ameaçados também neste caso estarão todo o patrimônio
material de nossa classe, a supressão dos benefícios territoriais, as doações
de guerra, as subvenções do governo e os emolumentos dos templos em toda
a nação. Ou aderimos ao novo culto ou seremos postos de lado, perseguidos
e mortos. Que dizeis a isto?
Um murmúrio de espanto e de revolta explodiu expandindo-se como
uma chama pela assistência submissa, e Harneth, o olheiro e auxiliar de
confiança do sumo sacerdote tomou a palavra e disse:
— Não escondemos o nosso espanto ao ver que os rumores correntes
não são meros falatórios e, se não ouvíssemos de tua boca o que acabamos
de ouvir, nisso não acreditaríamos. Estamos prontos, Pai venerável, a
cumprir as tuas ordens e sair a campo imediatamente para evitar semelhante
calamidade. Usa dos teus vastos poderes, dá-nos instruções e obedeceremos
fielmente, cegamente.
E toda a assembleia, levantada, secundou as palavras de Harneth — Dá-
nos tuas ordens.
— Ouçam-me, pois, meus filhos. Dirijam-se primeiramente aos
dignitários das armas e discretamente espalhem pelo povo a notícia do que
vai acontecer e levantem o povo contra o faraó, pedindo aos guerreiros que
se movam para impedi-lo. Quanto a mim, convocarei hoje mesmo a
Horemhet[14] que acaba de chegar vitorioso da Síria e obterei o seu apoio,
favorecendo sua desmedida ambição de poder e de riquezas. E projetem
recursos mentais noite e dia sobre o faraó, impedindo-o de realizar tal
loucura. Joguem contra ele as forças mortais de Anúbis e não repousem
enquanto o deus intruso permanecer no Egito. E procedam desta maneira,
enquanto tal situação não mudar, leve o tempo que levar, sejamos vitoriosos
ou não nos primeiros embates, porque, lembrai-vos disso: a vitória final será
irremediavelmente do divino deus que servimos. Podeis ir agora e que Amon
vos proteja e vos ilumine os passos.
Ao se retirarem, os sacerdotes estavam convictos de que pelo menos
esta última ordem valia como uma sentença de morte contra o jovem e
insensato faraó reinante.[15]
10. Amon Contra Aton

Como fora previsto, o faraó determinou, oficialmente, a destituição do


deus Amon.
Passaram-se vários anos e vemos agora na tela a grande praça fronteira
ao Templo, lotada de uma multidão furiosa; pelos gestos e o alarido que
fazia e pelas expressões fisionômicas, percebe-se tratar-se de uma rebelião
popular. Mãos de punhos cerrados levantam-se para o ar ameaçadoramente
e, dum ponto elevado, no patamar superior da grande escadaria, o sumo
sacerdote, rodeado de auxiliares, prepara-se para falar ao povo. Seu discurso
é hábil.
Fala sobre a cessação do culto de Amon, o deus da nação e o único
verdadeiro, substituído agora por Aton, o falso deus importado de um país
subjugado e de civilização inferior; o deus legítimo, desprezado pelo
governo, na certa que reagiria imediatamente, e sua cólera iria recair,
infelizmente, sobre o povo; os campos ficariam improdutivos, as secas
sobreviriam em breve, e o rio sagrado, alimentador da vida diminuiria de
volume, extinguindo as colheitas e matando o gado. Mas, acrescentava ele,
apesar de ter sido Aton declarado deus nacional, as portas do Templo de
Amon continuariam abertas e acolhedoras para proteger o povo, apaziguar as
iras celestes, reduzir as desgraças que em breve cairiam sobre todos. Que
todos fizessem preces ao deus benigno e poderoso, apesar da odiosa
proibição.
Suas palavras provocaram ainda maior irritação popular, sendo
necessário que ele mesmo pedisse calma e paciência para evitar mortandades
inúteis, pois já via que mercenários das tropas reais estavam penetrando na
praça e tomando posição em vários pontos.
◆◆◆

Em seguida o sumo sacerdote retira-se para uma pequena sala de


paredes de pedra, junto à cripta do Templo, em cujo centro está uma estátua
da deusa Ísis. Acha-se rodeado de outros servidores. Sobre uma pequena
mesa está aberto um papiro e ao lado um feixe deles — o Livro dos Mortos
— e, juntando-se a esta assembleia, vê-se outra muito mais numerosa de
desencarnados.
Acendem-se os incensórios dos cantos da câmara e ali se aliviam alguns
archotes para aumentar a penumbra do ambiente. A concentração mental
produzida pelos presentes forma como que uma abóbada esbranquiçada um
pouco acima de suas cabeças, e o ambiente começa a mudar de coloração,
com fulgurações rápidas em alguns pontos.
O sumo sacerdote, de pé ao centro, ilumina-se de uma luz alaranjada,
com revérberos dourados, o que durou alguns segundos, apagando-se em
seguida.
Dos presentes, os mais sensitivos começam a ser influenciados por
essas energias coloridas e tremem de emoção incontida, até que uma das
sacerdotisas, em transe, fala com voz autoritária:
— Servos fiéis de Amon: Eis que a luta mal começa e já movimenta
forças terríveis de destruição, vosso chefe disse bem: os campos ficarão
improdutivos e abandonados e as árvores não darão mais frutos, a terra
ficará seca e o Nilo diminuirá de volume, trazendo fome e inquietação, a
cidade ficará órfã e povos vassalos quebrarão o jugo e invadirão vossas
terras. Mas, estai também certos de que os altares de Amon ficarão
incólumes e seu culto não morrerá no coração do povo. Tende bom ânimo e
mantende acesos os fogos sagrados do culto verdadeiro.
Quando a voz calou-se um suspiro de alívio foi exalado de todos os
peitos.
Aquelas palavras aquietaram os corações e serviram de poderoso
estímulo; cada um, em si mesmo, se fortificou na fé que tinha e na esperança
já perdida, e assumiu o compromisso de manter a luta até o fim, fosse qual
fosse o resultado.
11. Tempestuosa Conversa

O sumo sacerdote pouco se locomovia pelas ruas da cidade; somente o


fazia em solenidades oficiais quando ia ao Palácio do faraó — a Casa
Dourada — sua residência doméstica, ou quando visitava determinados
membros da nobreza, de seu conhecimento particular. Fora disso todo o seu
tempo era empregado no próprio Templo, nas suas inúmeras atividades de
administração religiosa da nação e na iniciação de jovens, que a buscavam
insistentemente, vindos até de nações estrangeiras.
A sacerdotisa identificada como a própria Anath era, na realidade, sua
filha, pela qual tinha verdadeira adoração e encobria sua paternidade por
conveniências políticas e de disciplina interna do Templo.
◆◆◆

Muitos dias se passaram depois da reunião de servidores do Templo.


A tela mostra agora o sumo sacerdote em sua câmara de trabalho,
rodeado de servidores. Ao lado direito da mesa está Harneth, seu olheiro de
confiança.
Um sacerdote menor, que guarda a porta, penetra na câmara, saúda e
anuncia a presença de um emissário do faraó. Com um gesto o sumo
sacerdote manda que seja introduzido ali mesmo.
O emissário entra, inclina-se respeitosamente. É Nefrut, o camareiro
real.
— Venerável Hrihor, meu senhor, o faraó, manda que vás à sua
presença. Quer falar contigo, e vim para acompanhar-te.
O sumo sacerdote guardou silêncio durante longo tempo e depois
ordenou:
— Aguarda-me à saída no Templo, junto à porta lateral da escadaria;
acompanhar-te-ei.
Quando desceu, estava acompanhado de Harneth e mais dois sacerdotes
de confiança. O camareiro, na frente, fazia-se preceder por um robusto
escravo negro, armado de uma vara que abria caminho entre a multidão, ao
passar.
Seguiram diretamente para a Casa Dourada, não muito distante,
descendo para a margem do rio, a montante dos desembarcadouros do porto,
e a multidão, quando reconhecia o sumo sacerdote, abria passagem
respeitosamente.
O encontro se deu na câmara de repouso do faraó. Ele se achava deitado
em um catre forrado de peles, recostava-se em almofadas macias e seu
semblante era fechado e inescrutável.
Hrihor avançou até junto ao leito, saudou e aguardou em silêncio,
enquanto o faraó fazendo um gesto mandou que trouxessem um mocho no
qual o sumo sacerdote sentou-se.
Depois a câmara esvaziou-se e ficaram a sós.
— Hrihor, em primeiro lugar, declaro que não me esqueço do quanto a
ti devo antes que fosse o que sou. Também declaro que sei o quanto vales
como homem de ação e quais os limites dos poderes que tens como sumo
sacerdote de Tebas. Mas também não te esqueças que eu sou o senhor, e que
tua vida, como qualquer outra, nas terras do Egito, me pertence.
— Faraó Amenhotes, eu sou o sacerdote de Amon e somente a ele me
rendo como servo.
— Desafiais-me, porventura?
— Não, simplesmente me liberto do teu jugo como chefe que és de um
culto falso.
— Por acaso, como sacerdote de Amon não adoras também o deus Sol?
Como, pois, dizes um culto falso?
— Como sacerdote de Amon adoramos a Luz como expressão
simbólica do deus, enquanto tu, com Aton, adoras o disco como o próprio
deus. Esta é a diferença que nos separa.
— Quem pode garantir que estás com a verdade? Qual o culto
verdadeiro?
— Eu defendo a verdade que 2.000 anos de fé corporificaram.
— E eu, Hrihor, defendo aquela que recebi de meus pais.
— Não de teu pai, mas de tua mãe, que era estrangeira no Egito.
— Mas, eu sou o teu senhor, o faraó, e minha vontade é a lei.
— Enganas-te, faraó Amenhotes. Eu tenho o povo comigo e já és, em
toda a nação, designado como o falso faraó: és, portanto, a falsa lei.
lnterrompendo este diálogo incisivo, no qual cada palavra era uma
punhalada, o faraó silenciou, recostou-se nas almofadas e ficou imóvel, seu
rosto ganhou uma expressão de perplexidade e seus olhos, muito abertos,
olhavam sem ver. Assim permaneceu um longo tempo, até que despertando,
voltou a falar:
— Mandei chamar-te, sumo sacerdote de Amon, para obter tua
colaboração nas modificações sociais e políticas que tenho em vista fazer.
Transformaremos o Egito numa grande nação fraterna, protetora de povos
onde as diferenças sociais não queiram significar miséria, escravidão. Sob a
luz de Aton — prosseguiu, animando-se e erguendo-se do leito — todos os
homens serão iguais, pois que a sua luz vem sobre todos, sem
diferenciações. Isto não é porventura um fundamento da verdade?
— Faraó Amenhotes — replicou Hrihor — depois que penetrastes neste
caminho, oficializando o culto de Aton, a vida do povo está se
desequilibrando; por toda parte os laços da ordem e da lei se rompem; os
limites que separam as classes são desprezados e os roubos, os assaltos e os
crimes se multiplicam, um pouco mais e a vida social será impossível,
porque não haverá mais garantias para ninguém. Nenhuma pessoa mais viaja
pelas estradas da nação sem forte escolta, e nas ruas desta própria cidade
ninguém sai à noite sem arriscar a vida. Estes são os primeiros resultados da
tua política de ilusão e de loucura. E me pedes para colaborar nisto? Não
sabes o que me pedes, mas eu sei porque o nego.
— Não queres, pois, esperar para ver o fim de tudo?
— Não, sei que será o caos social e não quero colaborar na destruição
de minha pátria. Seguirei o meu próprio caminho, e tu, faraó Amenhotes IV,
seguirás o teu. Pessoalmente, nada tenho contra ti, a não ser saber que segues
para a perdição. Por isso, não posso ajudar-te. Que a luz de Amon te ilumine
nas trevas que te rodeiam. Adeus.
E levantou-se bruscamente e, sem saudar, retirou-se da câmara real.
◆◆◆

Regressando ao templo, após a sua tempestuosa conversa com o faraó,


Hrihor atravessou o terraço dos aprendizes agora vazio, saiu para o pátio
interno rodeado de arvoredo e penetrou em um corredor no qual, de lado a
lado, vêem-se aberturas que levam, cada uma, a câmaras de iniciação; cada
uma delas está impregnada de vibração determinada e é pintada na cor
correspondente a essas vibrações, no ao fim do corredor um amplo salão
circular, com colunatas laterais, formando suportes ornamentais para o teto.
Vemos ali um grupo de aprendizes sentados em bancos de madeira;
prestam atenção a um instrutor que manuseia diversos manuscritos em
pergaminho ou em papiros, alguns em escrita hieroglífica, outros em
hierática.[16] São trechos do Livro dos Mortos; os jovens estão se iniciando
nos mistérios sagrados e devem conhecer os objetivos da vida e da morte e o
que será reservado às almas após o desenlace físico.
A chegada do sumo sacerdote provocou um súbito alvoroço, logo
seguido de profundo silêncio; todos se levantaram e se curvaram baixando as
cabeças e espalmando as mãos sobre os joelhos na saudação real; vê-se que
de todas as mentes partem pensamentos de respeito e veneração para com
ele.
Seu olhar pousa tranquilo e firme sobre os jovens, a fina flor da
juventude egípcia e logo lhes fala, colocando-os a par dos acontecimentos
ultimamente surgidos, envolvendo o poder religioso por ele representado e o
governo absoluto do faraó.
Em palavras claras e breves, disse que o culto apregoado pelo faraó
estava menos próximo da verdade do que o apregoado ao povo pelos
sacerdotes do Templo porém, eles, os iniciantes, sabiam de antemão que
aquelas duas formas de culto exterior deixavam muito a desejar quando
comparadas com o que estavam vendo e aprendendo no Templo.
— O culto exterior — esclareceu ele — dado ao povo ignaro, servia de
anteparo ao culto verdadeiro e mais profundo, que era dado no Templo aos
sacerdotes de Amon. O ato do faraó mudando o culto oficial para o de Aton
visava aniquilar não só o culto exterior, popular, como o iniciático, privilégio
do Templo.
Era preciso, pois, afastar o faraó, de sua insensata decisão, e para isso
deveriam ser tomadas quaisquer medidas, por mais violentas que fossem.
Nesse ponto de seu discurso, o grupo de aprendizes já se achava
possuído de profunda revolta, e os jovens se levantavam e invectivavam o
faraó, pedindo a sua morte.
Ao retirar-se dali, Hrihor pensava, no seu íntimo, que suas palavras
levantavam os ânimos de todos, promovendo a largos passos a vitória futura
de Amon.
— Cumpro, assim, o meu dever, pensava ele.
12. Hostilidades Recíprocas

Passaram-se dois anos de hostilizações surdas e tumultos populares


açulados pelos sacerdotes. O faraó, para fugir à luta religiosa que lhe criava
um ambiente incompatível com a dignidade de seu cargo e condição,
mandou construir, com toda a urgência, uma outra capital no interior do país
e para lá se mudara com toda a sua corte havia poucos dias. Tebas sossegara
e estava como que deserta.
◆◆◆

Estamos novamente na sala de trabalho de Hrihor, no Templo. E, numa


câmara anexa, ao redor de uma mesa de bronze lavrado trabalham seus
auxiliares mais diretos. Harneth veste uma túnica de linho muito alva, e
sobre os ombros uma estola dourada, com a túnica cingida à cintura por um
grosso cordão trançado. Os cordões das sandálias sobem até um pouco
abaixo dos joelhos.
Nota-se que as sandálias do sumo sacerdote não são trançadas como as
demais; nas pernas usa uma espécie de polainas, com um trançado de couro
nas partes laterais. Veste túnica também branca e um manto dourado curto,
com abertura para saída dos braços nus e, no pulso esquerdo, vê-se uma
serpente de ouro, os dedos indicador e anular ostentam anéis simbólicos.
À sua direita, por cima da mesa, está um claft ornado de pedras
preciosas. A parte superior do manto acha-se presa ao pescoço por um
grande broche de ouro, com uma pedra verde ao centro e, nos braços,
braçadeiras largas do mesmo metal.
Os auxiliares trabalham em silêncio; o mais jovem tem uma pequena
tábua de argila à sua frente e, com um estilete de osso, grava caracteres
hieroglíficos que Harneth vai ditando.
Anunciam-lhe uma visitante familiar.
Ao fundo abre-se em silêncio uma porta de cobre com batentes que
reluzem e entra uma dama imponente e um nobre idoso e curvado. Penetram
na câmara do sumo sacerdote que se levanta para recebê-los. Ela inclina-se e
lhe fala qualquer coisa ao ouvido. Não deve ser boa a notícia porque ele o
demonstra em sua fisionomia, que visivelmente se altera, refaz-se, porém,
logo, e volta à sua impassibilidade habitual, enquanto os visitantes se
retiram.
Permaneceu longo tempo imóvel, em meditação, até que se reanimou e
fez soar o gongo chamando os auxiliares, aos quais determinou:
— Deixemos o trabalho para depois, vinde comigo.
— Devemos levar alguma coisa? — perguntou Harneth.
— Não. Vamos atravessar o rio.
Saem todos e, em breve, tomam o barco de uso do Templo, que está
sempre pronto, com remadores a postos. Com remadas firmes e poderosas
afastam-se para o largo, enquanto se resguardam do sol causticante na
cobertura central, formada por colgaduras de alto preço.
Atravessado o rio, o barco encosta a uma amurada rústica de pranchas
de madeira no jardim de uma casa de campo, de maravilhoso aspecto,
situada no alto do barranco, pertencente ao sumo sacerdote, e onde ele se
refugia para repouso e meditação nas horas graves e pesadas de sua
trabalhosa função sacerdotal.
Atravessam o jardim gramado e florido e penetram numa sala baixa e
sombreada, onde diversos divãs confortáveis convidam ao descanso.
— Regressaremos dentro de uma hora — disse Hrihor — e podeis,
enquanto isso, dispor de vosso tempo à vontade.
O auxiliar jovem abre um armário embutido na parede e coloca sobre a
mesa um relógio de água[17], retirando-se em seguida, com os demais.
Hrihor penetra numa câmara sombria, alivia-se das vestes rituais e
estende-se no leito macio ali existente. Por sua mente começam então a
perpassar os acontecimentos dos últimos tempos: a morte de Amenhotes III
— o faraó anterior — sua designação para o cargo de sumo sacerdote e as
palavras do faraó na hora derradeira: “Reconheço que o culto de Aton será
nefasto ao Egito mantém-te, pois, no teu cargo, mas tem paciência com o
meu herdeiro e leva em conta duas coisas, a saber: sua pouca idade e a
influência que sobre ele exerce a rainha. Confio na tua benevolência e no teu
espírito de justa medida”.
Depois, a regência da rainha, sua rebeldia, sua intransigência em aceitar
seus conselhos sensatos e justos, a importação que ela fez de sacerdotes de
cultos negros africanos, com os quais nunca mais deixou de conviver; a
sagração de Amenhotes IV, seu filho, sua passividade e misticismo e a
decisão herética de entronizar Aton na posição milenar de Amon; a
entrevista última que com ele mantivera na Casa Dourada e o rompimento
formal e definitivo; as providências que tomou para neutralizar seus atos
perniciosos lançando mão até mesmo de recursos psíquicos secretos; a
decisão última do faraó reinante em construir a sua nova capital —
Aquenatonoum — na região de Tel-Amarna e o abandono de Tebas, com
toda a corte, como represália à sua negativa de colaborar com ele na
oficialização do culto espúrio.
E agora aquela notícia: as forças espirituais desencadeadas fazem o seu
trabalho, e o faraó penetra, indefeso, no desfiladeiro da morte.
Concentra-se mais e pede a inspiração necessária para prosseguir na
tarefa terrível; em silêncio, vigiando a mente, aguarda a resposta; esta vem
logo, na forma de uma intensa euforia, de um ímpeto selvagem de não
recuar, de intensificar ainda mais os golpes já desferidos, de afastar
definitivamente o faraó do governo do país enquanto é tempo e antes que
este seja aniquilado pelos invasores estrangeiros. Numa visão transparente
vê os hititas[18] descendo do Norte, atravessando a península do Sinai,
invadindo o Delta e esparramando-se pelo Egito como gafanhotos.
Salta do leito e vai para fora; o relógio de água marcava exatamente
uma hora de tempo e acenando para os auxiliares que o aguardavam no
jardim, desce à praia, retoma o bote e ruma rapidamente para a cidade.
Entrando em seu gabinete de trabalho no Templo, faz soar o gongo
imperiosamente e dá ordens para que todos os servidores, de todos os graus,
se reúnam dentro de uma hora na nave central do Templo.
Meia hora depois a nave está repleta e há uma grande expectativa, bem
visível, nos olhos de todos. Uma convocação assim repentina, com a
urgência com que foi feita, bem demonstra que é importante o motivo que a
determinara.
Hrihor entra, acompanhado de seus auxiliares imediatos. Caminha
firmemente para o estrado existente no centro da nave e ali permanece de pé,
olhando a assistência. Por fim, toma a palavra:
— Meus filhos: fome e tumulto prevalecem em Tebas com a vinda de
Aton sobre a Terra e a fuga da corte para Tel-Amarna. O delírio empolgou o
espírito do povo, que vive bêbado sem beber. Não há mais diferença entre os
que usam o emblema da cruz de Aton e os que o repudiam.[19] Conforme foi
predito, a cólera de Amon faz com que os campos se despovoem, as fontes
sequem, as colheitas morram, as águas se retirem; sobrevirá a seca mortal. E
nas ruas, quando caminha um homem e vê outro levando um pão, agride-o e
toma-lhe o alimento, dizendo: “Dá-me este pão, pois não somos irmãos aos
olhos de Aton?” E se encontram um homem vestido de linho fino e outro em
farrapos imundos, este logo se faz agressor do outro e diz: “Dá-me essa
roupa, não somos irmãos aos olhos de Aton?[20] Assim, pois, a sociedade em
nossa Terra se desfaz como nuvem carregada pelo vento, por causa de Aton.
E o povo, quieto e paciente, agora diz: “Estamos fartos de Aton, que saqueia
o nosso país e o esfomeia; desejamos a volta da antiga ordem, com Amon. A
rainha Thiy morreu e o jovem faraó age ao sabor de seus próprios e absurdos
caprichos. E agora recebo a notícia de que ele está gravemente enfermo. Por
isso vos reuni, para vos dizer que na luta travada entre nós e o faraó reinante,
os primeiros resultados já se fazem visíveis. Ao saber da revolta da Síria e
do povo de Cathi, caiu em declínio, o que quer dizer que cessou a ascensão
de seu prestígio pessoal; seus métodos de governo fracassaram e entra agora
na descensão.
◆◆◆

Mal terminara, dirige-se a ele o auxiliar imediato Harneth e, em voz


alta, para que todos ouvissem, diz:
— Venerável pai, acaba de chegar um mensageiro da esposa Nefertiti,
pedindo o auxílio do Templo para a doença do faraó. Aguarda resposta
imediata.
— A crise atual não é a primeira — responde Hrihor — e a todas ele
tem sobrevivido, mas como pedem auxílio de Amon, sendo inimigos de
Amon? Que diz o mensageiro sobre isto?
— Foi perguntado e respondido assim: a rainha espera que as entidades
livres, mensageiras da deusa Ísis, da qual ela é sacerdotisa, intervenham
dando ajuda, pois a crise atual é mais grave que todas as anteriores, e que o
faraó está enfermo da mente e tem visões nas quais vê sempre o sumo
sacerdote de Amon em atitude ameaçadora.
Sob os olhares significativos dos presentes, que compreenderam muito
bem o que Nefertiti queria dizer com a sua mensagem, o sumo sacerdote
respondeu categórica e sibilinamente:
— O faraó é sacerdote de Aton, a rainha é sacerdotisa de Ísis, e nós
somos sacerdotes de Amon. Esta é a resposta.
Hrihor — o grão sacerdote de Tebas, ao tempo de Aquenaton — era
iniciado de grau maior e, como tal, deveria considerar que este era também
um iniciado que se esforçava para criar no senso popular a crença de um
deus único, devendo, portanto, dar-lhe apoio ou pelo menos, manter-se
neutro quando, ao invés disso, o abandonou à própria sorte, hostilizando-o
abertamente e deixou-o morrer abandonado em Tel-Amarna como, ainda,
fechando os olhos à matança de seus partidários que se seguiu à sua morte.
Sua responsabilidade espiritual é portanto indeclinável, mesmo escudando-se
em sutilezas de interpretação doutrinária, tradições religiosas, ou
conveniências político-nacionais.
◆◆◆

Soam agora as palavras de Anath, para esclarecimento de certos


detalhes não revelados neste capítulo.
— Apesar das hostilidades recíprocas, o apelo foi feito pela esposa, em
beneficio do faraó, confiando na intervenção dos protetores espirituais, mas
esta foi negada. O levante do povo, insuflado pelos sacerdotes, prosseguiu
no seu ritmo crescente, contando sempre com a inação das tropas de guerra,
por força do acordo feito pelo seu chefe Horemhet que desejava desposar
Baquetamon, irmã mais velha do faraó; entraria assim no rol das pessoas
sagradas, condição importante para ascender mais tarde ao trono real, com a
morte de Aquenaton. Tendo sido repudiado por ela, voltou-se contra o faraó,
deixando que o povo se levantasse. Mais tarde foi elevado ao trono, após
prestar valiosos serviços defendendo o Império contra invasões inimigas,
tendo-se casado, finalmente, com ela, logo após a morte do faraó que
substituiu Aquenaton. Estes acontecimentos foram por nós narrados —
acrescenta ela — porque geraram dúvidas terríveis para todos nós, influindo
fortemente em nossa vida comum, sobretudo na tua, ó poderoso sumo
sacerdote do Templo de Tebas, porque está escrito: Na balança da justiça
divina pesam mais as culpas dos algozes que as das vítimas.
◆◆◆

Mais dois anos se passaram.


Estamos na casa de repouso de Hrihor, com o Nilo correndo
serenamente ao lado, embaixo, junto ao paredão do jardim. Reclinado em
um divã, o sumo sacerdote interpreta os hieróglifos desenhados num papiro.
Lá fora, à beira de um pequeno lago existente no gramado fronteiro ao
jardim, está Nut, a sacerdotisa filha de Hrihor; impele com uma vareta um
pequenino barco de madeira, cheio de florzinhas vermelhas que colhera no
talude da praia e segue o barco com os olhos, acompanhando a ondulação
que ele produz na superfície lisa das águas.
— Para o meu amor eterno — ela diz.
Pelo que se vê, contrasta fortemente com a figura atual de Anath na
estatura, que é bem menor; na compleição física, na languidez dos gestos e
dos movimentos, porém, muito se assemelha na cor da pele morena, nos
cabelos castanhos e lisos, untados de óleo, formando auréola em torno da
cabeça, nos olhos pretos amendoados na forma egípcia, isto é, repuxados
para cima nos cantos exteriores, e nos cílios longos, encerados e negros.
Do lugar onde se acha, Nut observa atentamente um barco que vem
vindo ao norte e se aproxima com rapidez ao impulso dos remos manejado
por um negro hercúleo. Bem antes que chegue, ela reconhece o imediato de
seu pai, Harneth; está sentado no meio do barco, na parte coberta, com o
corpo inclinado para a frente, demonstrando evidente ansiedade.
Ela avisa ao pai e volta para o jardim, cruzando em caminho com
Harneth, que vem subindo a rampa e cuja fisionomia fechada trai forte
emoção; precipita-se para dentro da sala e mal pode pronunciar as palavras
rituais de saudação.
— Acalma-te e fala, não te apresses — diz Hrihor.
— O faraó entrou na eternidade. Recebemos a notícia agora mesmo, na
cidade. O povo já está se precipitando para as ruas. Vim avisar-te.
Hrihor empalidece e recosta-se mais ao fundo do divã. O momento há
tanto tempo esperado chegara enfim. Que acontecerá agora? — pensou. Que
forças desencadeadas se precipitarão na arena, lutando pelo poder? Eie, o
sacerdote, pai de Nefertiti, gerente do Império em Tebas? Horemhet, o
guerreiro sempre vitorioso, ou o filho imberbe do morto, com a irmã
ambiciosa por trás?
◆◆◆

Nesse instante, fora da tela, o Incógnito, que desde o princípio desta


narrativa coopera em nossos trabalhos, retirou da cabeça o capuz e viu-se
então um homem magro, de estatura mediana, envolto na túnica real, com a
dupla coroa[21] sobre a cabeça e sandálias douradas.
Seu rosto é macilento, o nariz adunco, a pele mate e os olhos verdes e
penetrantes.
— Eis Amenhotes IV, também chamado Aquenaton, o faraó do velho
Egito, hoje combatente valioso das hostes do Cristo — diz Anath,
estendendo para ele os dois braços acolhedoramente.
— Sim — diz Aquenaton —, tudo agora está definido e por isso
cumpro minha promessa, identificando-me. Pelos ínvios caminhos da
eternidade, nossos passos de novo se aproximaram e já agora não há mais
ódios nem amarguras, mas somente espírito fraternal de cooperação em
nome d’Aquele cujo amor nos une. Sou feliz em rememorar todos estes
acontecimentos em que estivemos envolvidos, de forma tão apaixonada e
mesmo violenta, e não encontrar em meu coração o menor resquício de
ressentimentos. Se a vida para mim foi dolorosa e a morte sem glória, os
sofrimentos dos reencarnes me levaram para mais perto da Verdade; o
triunfo demorou mas veio, afinal, e isto me é bastante.
◆◆◆

Novamente vemos na tela Hrihor, que se levanta com a fisionomia mais


desassombrada, despede-se de Nut, desce à praia e o barco voa sobre as
águas do rio e sem demora encosta no cais particular do Templo. A passos
rápidos, acompanhado de seus auxiliares, sobe ao torreão central e dali
contempla a cidade, embaixo: as ruas já se encontram cheias de gente e há
um forte alarido; guerreiros armados estão saindo dos quartéis, tomando
posição nos pontos mais convenientes para contenção do povo, que aflui de
todos os lados para a grande praça fronteira.
Abandonando seu posto de observação, Hrihor desce para a nave
central, parando junto à figura escultural de Amon, deus supremo da nação.
Prostra-se, inclinando-se para a frente até tocar a cabeça no chão e, atrás
dele, vão se postando da mesma forma os sacerdotes maiores e menores, os
aprendizes, os instrutores e as sacerdotisas, todos se prosternando perante o
grande deus, porque já sabiam que o dia da vitória tinha finalmente chegado.
O sumo sacerdote levanta os braços e dirige-se a Amon, pedindo, em
voz altissonante, que proteja o país da ação nefasta dos seus inimigos, que o
livre de tumultos, desordens e novas guerras.
Penetra, em seguida, num aposento anexo, de onde logo regressa,
ostentando trajes diferentes, já agora cinza-claros, dos rituais da Primavera;
na mão, um bastão curto, espécie de cetro, distintivo de sua dignidade
sacerdotal nas cerimônias graves.
Quando se volta para sair, todos formam alas laterais e as grandes
portas se abrem para fora, onde enorme multidão se encontra aglomerada,
em desusada excitação. Avança até o topo da escadaria fronteira, ergue o
braço pedindo silêncio e, quando este se faz, toma a palavra em altos brados
para que todos ouçam, acalmando o povo, dizendo que o prazo concedido
pelo deus Amon ao faraó reinante havia findado e que este voltara ao seio do
Absoluto, na eternidade. Prosseguiu dizendo que o faraó morto, conquanto
tivesse atentado contra a glória do deus, tivera poder para realizar sua
vontade pessoal até o momento em que a estabilidade da nação e a felicidade
do povo humilde não foram aniquiladas pelos seus atos condenáveis e
sacrílegos, que exigiram sua vida como penhor de segurança.
O povo, pois, que conservasse sua confiança no verdadeiro deus, que
era Amon, e nos sacerdotes que mantinham seu culto, segundo as milenárias
tradições religiosas do país; que permanecesse tranquilo e orasse pela alma
do faraó morto.
Suas palavras dominaram o tumulto, e o povo foi, aos poucos, se
dispersando.
◆◆◆

Passaram-se quarenta dias e, nesse período, aumentou o refluxo de


nobres e artífices que vinham fugindo de Tel-Amarna.
Era de manhã e via-se agora na tela desusado movimento junto à Casa
Dourada, para onde havia sido transportada a múmia de Aquenaton.
Quando se deu a morte, Tel-Amarna temendo represálias, despovoou-se
rapidamente e o corpo ficara quase abandonado no Palácio Real. À
fidelidade da rainha se deveu o exato cumprimento dos ritos usuais, com a
dignidade compatível com a grandeza do Império. Seu corpo foi entregue
aos embalsamadores reais e, terminados esses trabalhos preparatórios, seu
sarcófago foi transportado para Tebas e entregue à família, na Casa Dourada.
Nessa manhã estava de lá saindo, num cortejo sem nenhuma
grandiosidade, rumo ao Vale dos Reis, onde dormiria o sono eterno junto aos
seus antepassados reais.
Via-se, à frente do cortejo, um militar armado com as suas armas
hierárquicas, uma figura robusta e imponente, muito rude, mas já bastante
popular; é o general Horemhet — o Filho do Falcão. Sua aura vibratória é
pesada, apresentando fulgurações avermelhadas e roxas e seus pensamentos
estão nitidamente concentrados em suas ambições sobre o trono vago.
Saem agora grupos de crianças vestidas de branco e rosa, com cestinhas
de flores nos braços, que vão espalhando pelo chão; em seguida vêm
guerreiros armados, da guarda pessoal do faraó; mais atrás, rodeada de
outras mulheres da nobreza, vem Baquetamon, a irmã mais velha que logo
após se casaria com o general Horemhet, por conveniências pessoais; em
seguida, sobre os ombros dos sacerdotes menores do Templo, vem o corpo
do faraó, sobre andas luxuosas; depois, novamente, guerreiros de Horemhet
e membros do governo findante, rodeando o sacerdote Eie, pai de Nefertiti,
administrador do Império em Tebas, e finalmente o povo.
O cortejo segue para o Templo de Amon, não para o de Aton, como
seria lógico; ali deve ser purificado antes de penetrar no seu túmulo, no Vale
dos Reis.
Ao entrar na praça, todos vêem que as portas do Templo estão fechadas,
o que obrigou o cortejo a parar em frente à escadaria. Os carregadores
descansam o sarcófago sobre um tapete, e um deles sobe lentamente até o
átrio e bate na grande porta de bronze, com os punhos fechados; não
havendo resposta, brada em altas vozes:
— Está presente o corpo do faraó Amenhotes IV, para que seja
purificado — e repetiu o brado três vezes consecutivas, antes que a grande
porta se abrisse e por ela saísse o sumo sacerdote acompanhado de seus
auxiliares, sacerdotes e sacerdotisas que, todavia, não transpuseram a soleira.
Hrihor avança até o topo da escadaria e brada para o povo que estava
embaixo:
— Apesar dos atos que promulgou contra a dignidade deste Templo, a
glória de Amon e de seu culto, o corpo será purificado para que não seja
perturbado nos seus túmulos o repouso de seus gloriosos antepassados.
Os carregadores levantam de novo o sarcófago, sobem lentamente a
escadaria e penetram na grande nave solenemente e ali, respeitados os ritos
reais, é o corpo purificado pelo sumo sacerdote, enquanto o coro das virgens
iniciantes entoava o cântico sagrado da exaltação do Deus Supremo, findo o
que o cortejo prossegue para a lacração do túmulo, no Vale dos Reis.
◆◆◆

Horas depois, Tut, seu filho mais velho, com apenas nove anos e com o
nome de Tutancâmon, foi ali mesmo sagrado faraó, com o apoio das tropas
de Horemhet, que assim impedia o acesso do sacerdote Eie, forte
pretendente ao trono.
◆◆◆

— Com este ato — diz Anath retirando a tela — encerra-se o episódio


histórico da luta religiosa entre o faraó Aquenaton e o sumo sacerdote do
Templo de Tebas, do qual a cada um restaram e permanecem os resíduos
cármicos que as sucessivas reencarnações ainda não eliminaram de todo. A
partir de agora — acrescentou — vamos dedicar-nos mais à narração, nos
seus aspectos íntimos e afetivos, muito mais agradáveis aos nossos corações
e que, muito mais que quaisquer outros, nos ajudarão a prosseguir em nossos
esforços de purificação espiritual.
13. Poderes Psíquicos

De início, Anath explica:


— Apesar das intensas e complexas relações públicas que seu cargo
exigia, o sumo sacerdote não se descuidava da parte iniciática, promovendo,
para aqueles que se devotavam ao serviço do Templo, os ensinamentos
necessários.
Vamos encontrá-lo dias depois, em um salão do subsolo, onde se vêem
divisões com tabiques em vários pontos, contendo material e indumentária
apropriados à cura de moléstias; quatro grandes vasos contendo água, e
bancos encostados às paredes laterais, onde se encontram vários doentes
pobres, à espera de serem atendidos.
A tela mostra o sumo sacerdote acompanhado de auxiliares atendendo
os doentes. Utiliza a água, ao mesmo tempo que faz sobre eles aplicações de
fluidos curativos. Possui grande capacidade curativa, e de suas mãos fluem
poderosas correntes de fluidos e de ectoplasma. Enquanto faz as aplicações,
seu corpo vai se iluminando interiormente, de tal forma que o fenômeno
impressiona fortemente aqueles que o presenciam.
Após terminar, dirige-se aos iniciantes, dizendo:
— Quanto mais nos dedicarmos a estas práticas, utilizando agentes
naturais e energias próprias, melhor poderemos dominar as forças vivas da
Natureza desde, bem entendido, que o nosso intuito seja simplesmente a
prática do bem. Para se chegar neste campo a realizações positivas, são
necessários esforços continuados, duradouros e bem dirigidos. À medida que
vos elevardes nesta iniciação, ireis sendo provados pelos agentes invisíveis
noutros setores, para que possam ser aquilatadas vossas verdadeiras
capacidades de ação. A mente — prosseguiu —, convenientemente
esclarecida através deste esforço, dominará as forças da Natureza, porém
aqueles que desejam conquistar poderes com vista a maus fins, estes
sucumbirão e, se lograrem bons resultados práticos, serão eles efêmeros
porque as próprias forças que desencadearem se voltarão contra eles.
◆◆◆

Num estrado central ele supervisiona as aplicações magnéticas feitas


por seus auxiliares sobre doentes, como exercitamento para os iniciantes;
atrás do estrado, sobre um tripé, vê-se uma bacia de pedra contendo água
límpida para a qual incidem, do Alto, luzes e raios coloridos destinados à sua
vitalização.
Findos os atendimentos, inicia-se uma parte mais secreta, destinada ao
desenvolvimento de poderes psíquicos, com práticas que correspondiam ao
primeiro grau de iniciação sacerdotal. A essas iniciações compareciam,
algumas vezes, personagens importantes, devidamente credenciadas, vindas
de países estrangeiros e que desejavam instruir-se a respeito, por ser o Egito
uma nação onde tais conhecimentos tinham avançado desenvolvimento.[22]
Nesse dia, após a prática, o sumo sacerdote reuniu todos os auxiliares
em uma mesma corrente, exigindo concentração profunda. A iluminação
local, que vinha de vasos de argila vidrada, contendo óleo ou resinas
aromáticas foi diminuindo de intensidade, enquanto a sacerdotisa Nut vai
sendo sacudida por ligeiros tremores; vê-se claramente, quando dela se
aproxima uma entidade espiritual cujo rosto é circundado de luz amarela e, à
medida que isto ocorre, o corpo de Nut vai desaparecendo, encoberto pela
forma luminosa que a entidade irradia fortemente.
Quando o envolvimento é completo, a sobreposição é tão intensa que,
mesmo à vista normal, a entidade visível não é mais a sacerdotisa, mas o
Espírito desencarnado, o qual, dirigindo-se ao sumo sacerdote, fala-lhe com
voz autoritária:
— Venerável sumo sacerdote: a luta que sustentaste contra o faraó, que
há poucos dias se desligou do mundo terrestre, foi travada no campo da fé,
nos limites da tua própria concepção mística. Conquanto não corresponda a
verdades espirituais em toda a sua plenitude, isto te será levado em conta, e
teus atos, pesados e medidos, em consonância com os teus sentimentos mais
íntimos, merecerão a magnanimidade do Senhor dos Mundos. “Sossega
agora o teu coração e dedica-te à propagação da fé e ao esclarecimento das
consciências no seio do povo humilde. O que hoje fizeste, atendendo
humanitariamente aos miseráveis das ruas da cidade baixa, é uma simples
preparação para o muito que terás de fazer em dias vindouros, em terras
estranhas ao Egito, no Oriente e no Ocidente, num grau de compreensão
muito mais perfeito e elevado, a serviço do Príncipe da Paz, que é o Senhor
da Misericórdia Divina. Em seu nome, deixo-te a tua preciosa bênção.”
O sumo sacerdote permaneceu em silêncio, com a cabeça entre as
mãos; era visível a emoção que o dominava. Fez sinal para que os auxiliares
se retirassem, mas continuou ali, no mesmo local, imerso em profunda
meditação. Pela sua retina mental começaram a desfilar cenas
impressionantes de sofrimentos físicos, sacrifícios e devotamentos de toda
sorte que se dariam no futuro, iluminados por fulgurações intensas, de cores
vivíssimas, que incidiam sobre uma cruz de madeira muito rústica, que se
via bem nítida, deitada na linha do horizonte.
Despertou estonteado e atemorizado; a imagem da cruz que vira seria
uma alusão direta à Cruz da Vida, símbolo do culto de Aton, adotado pelo
faraó morto e que se esforçara por destruir? Teria ele porventura cometido
tamanho erro?
Como resposta, na escuridão que já se fazia em torno, viu um sarcófago
que se aproximava, e cuja tampa se abriu, mostrando dentro a figura franzina
de Aquenaton, cujos olhos se abriram, e de cuja boca ele ouviu distintamente
as seguintes palavras:
— Hrihor, meu irmão, o erro é relativo ao conhecimento, e o dia de
amanhã acrescenta sabedoria ao dia de hoje. Tranquiliza-te, pois, e
prossegue no cumprimento dos teus deveres neste Templo.
Esvaindo-se a visão, ainda ouviu a saudação fraterna que vinha, já da
sombra escura:
— O Senhor contigo e a tua divina misericórdia para sempre.
Extremamente emocionado, Hrihor abandonou o local e recolheu-se a
sua câmara, a fim de orar ao deus Amon e pedir inspiração.
14. Auxílio Espiritual

A tela, a partir desse instante, vai focalizar acontecimentos sucedidos


no reinado tão fugaz de Tut, o filho mais velho de Aquenaton e que reinou,
como já dissemos, com o nome tão conhecido de Tutancâmon.[23]
Numa câmara interna dos fundos do Templo, com janelas abrindo para
um florido jardim, encontram-se Nut, a sacerdotisa maior e Hrihor, seu pai.
Ela se encontra sentada em um tamborete baixo e, de pé, à sua frente, ele a
contempla com extrema ternura e visível apreensão.
Ela tem nos lábios um sorriso doce e calmo a espelhar a serenidade de
sua alma; e sua languidez anterior bem parecia ter aumentado naqueles
últimos dias.
Laços profundos de um verdadeiro amor espiritual os une e extravasa
de seus olhos. Profunda mágoa envolvia o coração de Hrihor porque via o
quanto progredia, naquele organismo combalido, o processo da
desvitalização.
Os últimos anos por ela vividos no Templo tinham sido bastante férteis
no campo do conhecimento, porque ele lhe franqueara tanto quanto possível
sua biblioteca secreta, onde se encontravam arquivados documentos de
grande valor iniciático e que, dada a época incerta e tumultuosa em que
viviam, convinha que fossem sonegados, o mais possível, ao conhecimento
de estranhos.[24]
Os estudos que empreendiam juntos tomavam horas de amorável
convívio, e ambos muito bem compreendiam, na intuição mais profunda de
seus Espíritos, que ali estavam juntos, como sempre haviam estado em
épocas anteriores, em outros diferentes locais e condições, vivendo seus
últimos dias naquela presente encarnação.
Os conhecimentos que ela já possuía equivaliam aos da iniciação maior
sacerdotal e lhe conferiam, por isso, notável autoridade no julgamento dos
fatos de sentido geral ou secreto.
◆◆◆

A tela mostra agora o Nilo, muito calmo, espelhando em suas águas


barrentas o céu azul recamado de nuvens brancas, e uma embarcação
confortável, impelida por dois remadores robustos, que vai subindo a suave
corrente.
Na parte coberta, situada à ré, sob um dossel vermelho de seda grossa,
vemo-los juntos de novo. Ela demonstra evidente abatimento físico e ele
segura-lhe a mão, tentando reanimá-la, doando-lhe energias fluídicas. Nessa
conversação tranquila e íntima, encaravam calmamente ações futuras,
regulavam suas vidas nos limites de um mesmo ideal de ação para o Bem,
tanto no mundo das almas, como no dos corpos.
Ele lhe contara a visão que tivera da cruz, julgando fosse a de Aton, o
intruso, mas ela lhe dizia que a cruz era o símbolo de sacrifício e de fé num
ideal elevado, num futuro a viver em outro país para o qual ele deveria,
desde logo, preparar-se.
O barco singra as águas e em breve encosta no ancoradouro, já
conhecido, da casa de repouso de Hrihor. Desembarcam na praia de areia
escura e seguem na direção de dunas que se vêem mais ao longe, à direita.
Ela caminha com dificuldade e ele a ampara carinhosamente, até que se
aproximam os auxiliares mais chegados que ali se encontravam, à espera,
conforme instruções recebidas antes.
Caminham todos agora mais devagar, respeitando a fraqueza da moça,
até que atingem o cômoro visado, junto ao qual o auxiliar mais jovem os
aguardava com um pequeno carro onde a colocam, e seguem na direção de
ruínas que se vêem à distância; ao se aproximarem, vê-se que era um antigo
templo, já em pleno desuso.
Há uma entrada lateral disfarçada por arbustos agrestes e fechada por
uma pedra ovalada, que os auxiliares deslocam; descem uma escada de pedra
e atingem um salão inferior em cujo centro se encontra um divã bastante
amplo, no qual a jovem é deitada e que fora para ali mandado previamente
pelo pai.
Ao longo das paredes, uns ao lado dos outros, vêem-se seis sarcófagos
fechados, com sinais e emblemas de cores vivas nas tampas. Três deles estão
vazios. Naquela câmara abandonada, todavia, tudo está bem cuidado e
limpo, mostrando que havia sido preparada antes, para aquele ato.
Sob a direção de Hrihor todos se concentram logo e ele faz a evocação
dos Espíritos daquelas múmias que ali se encontram, e cujos nomes se
acham escritos nas tampas. Após uma longa espera, eis que por fim eles se
apresentam, notando-se pelas vestes, porém especialmente pelas caixas de
madeira que trazem, contendo instrumentos cirúrgicos, que são médicos.
Hrihor explica que já os conhecera antes, quando visitara em outras épocas
aquele Templo e, consultando seus arquivos no Templo, veio a saber que se
tratava de cirurgiões de muito prestígio em épocas anteriores, sobretudo um
deles, de nome Naradim, que fora um célebre trepanador real.
Desejava, pois, que eles examinassem a filha — dizia ele, dirigindo-se
diretamente aos Espíritos médicos presentes. Eles tomam posição, abrem
suas caixas, examinam a doente, trocam ideias entre si e depois de algum
tempo um deles fala diretamente a Hrihor:
— Julgamos efêmera a reencarnação desta alma tão afim com a tua, nos
dias presentes; seu organismo não tem mais condições de resistência às
grosseiras necessidades da vida física neste orbe. Em breve estará de volta
ao reino de Osíris.
— Rogo-vos, veneráveis sacerdotes das ciências, que apliqueis, mesmo
assim, em favor de minha filha, os recursos de vossa sabedoria, enquanto
daremos nós, que aqui estamos, os auxílios magnéticos que estiverem ao
nosso alcance.
Eles concordaram, e vê-se agora na tela o intenso tratamento feito no
corpo enfraquecido de Nut, visando sobretudo os pulmões; sua respiração
era arquejante pelo esforço da caminhada, e as veias do pescoço se
arqueavam sob a pele, em consequência da dificuldade de respirar.
Quando tudo terminou, a doente adormeceu tranquila, respirando
normalmente, deixando a todos a impressão de um restabelecimento seguro
que, entretanto, Hrihor sabia ser impossível.
— O ser humano — diz ele — não pode contrariar a execução fiel e
rigorosa das leis divinas. Aguardemos pois o desenlace, confortando nossa
bem-amada filha...
15. Almas Afins

Ao fim de curto tempo, a doente levantou-se em grande parte refeita,


caminhou sem mais precisar de ajuda. A flor sagrada do grande Templo de
Tebas, aquela que o sumo sacerdote amava com o seu robusto coração de
lutador vitorioso; Nut, a sacerdotisa, que desde a Atlântida o ajuda
poderosamente na sua evolução espiritual, encarnando junto a ele todas as
vezes que descia à arena pesada deste mundo de sofrimentos e de trevas,
para o desempenho de tarefas graves e penosas; Nut, que agora, desta vez, é
sua filha sem mãe, ressurgiu como de uma morte real.
Abandonam a câmara de pedra e caminham até a margem do rio para
retomar o barco que os espera, e cujos remos os robustos remadores núbios
manejam com mãos de ferro.
O sol já vai se pondo no horizonte rubro como o foco de um grande
incêndio, e o barco singra o rio todo envolto em luzes arroxeadas, mas não
segue para a cidade, vai direto para o ancoradouro da casa de repouso, onde
todos se abrigam, para alimentação e descanso. Enquanto os auxiliares
providenciam o necessário, Hrihor e Nut se recostam na amurada rústica da
barranca do rio e ali permanecem algum tempo, voltados para o sol que
mergulha, por fim, no horizonte incendiado, envolto num maravilhoso
resplendor de luzes multicores.
Ele passa o braço pelos ombros dela e, num impulso carinhoso de
abandono e ternura, ela se achega e repousa em seu largo peito a pequenina
cabeça. Agora, os últimos resplendores do sol se projetam verticalmente para
o alto do céu, ao longe, e a escuridão vem chegando apressada. Tocado de
tanta emoção, Hrihor levanta os braços e clama como que num desabafo:
— Oh! Grande Espírito! Foco de luz eterna! Propicia-nos nesta hora
forças para suportarmos nossos sofrimentos e desilusões e engrandece-nos,
Senhor, na dor que nos aflige, para que sejamos fiéis e resolutos nos
caminhos que nos traçaste.
Às últimas palavras da prece, forte onda de fluidos os envolveu como
uma resposta e, de certa forma, lhes deu o necessário alívio.
Recolheram-se à casa e foram para uma pequena biblioteca com nichos
embutidos nas paredes. Enquanto ela se reclina sobre um divã, ele a
contempla de pé, ainda apreensivo.
— Filha, se os poderes divinos permitirem que algum dia eu possa estar
novamente junto de ti, sentir-me-ei regiamente compensado pelo que sofro
agora, nesse temor de perder-te, sem poder salvar-te.
— Pai querido, não te aflijas. Sabemos ambos que vou realmente partir,
tenho visto com os meus próprios olhos os novos caminhos que me esperam,
porém sabes que em todos eles tu estás, como agora, amparando-me com o
teu amor.
— Alegra-me ouvir-te falar assim e isto me será de grande auxílio
quando ficar só.
— Nunca mais o ficarás, querido Pai, pois estarei sempre ao teu lado,
como agora. Somos almas afins que, através da morte, se integram na
eternidade da vida. Estaremos sempre unidos como uma só alma e um só
coração; tu verás.
Ela toma de um instrumento que se acha num banco próximo, e dedilha
nas cordas com suavidade uma melodia dolente e triste, enquanto ele, com
os olhos lacrimosos, diz ainda, dentro da frase anterior:
— Sem dúvida que o Senhor Supremo há de permitir que prossigamos
juntos, oh! minha adorada Nut. Tenho a mesma esperança de que nunca mais
nos separaremos, nem que seja somente na lembrança de nossa vida
presente.
◆◆◆

Entra o jovem auxiliar trazendo refrescos e, dentro dos copos, frutinhas


vermelhas como amoras silvestres; eles sorvem a bebida lentamente, como
que procurando prolongar aquela intimidade cariciosa, sempre na
expectativa de uma próxima separação.
Mas, logo depois Nut se levanta opressa e sai para o jardim, presa de
sufocação e de tosse violenta, que lhe desfigura o rosto. Ele toma-a nos
braços e leva-a para uma câmara interna depositando-a sobre um leito largo
e baixo. Em seguida, chamando os auxiliares, aplica-lhe poderosos passes
longitudinais com evocações contínuas ao Senhor.
Quando por fim ela adormece, ele se retira para um cômodo anexo onde
há um altar diminuto encimado por um disco luminoso, que é o Sol, e ali se
concentra e entra em prece.
◆◆◆

Neste ponto, Anath intervém, como costumava fazer, dizendo:


— Parece um contra-senso, mas nem tu, meu amigo (dirigindo-se a
mim), poderás reprová-lo, pois sabes que todos os iniciados da antiguidade
davam grande valor ao culto solar. Veja o que se passou com Aquenaton.
Ademais, o culto de Amon era também o culto solar de Heliópolis,
polarizado no deus Ra (como explicado no princípio deste livro). Voltemos à
tela.
O sumo sacerdote, prostrado perante o pequeno altar, sente-se cansado,
entristecido e percebe que naquele momento crucial suas faculdades
psíquicas não estão ajudando. Mas vê-se como repentinamente se revigora:
Nut, adormecida e desdobrada, vai para junto dele e o conforta, e o puxa
para fora do corpo físico exausto; ele sai do corpo e surge no etéreo como
um belo e robusto rapaz egípcio, ricamente vestido e denotando elevada
estirpe e quando se defrontam, ele surpreso e ela sorridente, lançam-se
ambos nos braços um do outro, com indizível alegria.
Novamente soa aos nossos ouvidos a palavra de Anath, dizendo:
— Assim são os caminhos da vida e da morte; nada há de definitivo,
tudo é mudança, tudo se modifica, menos o amor, quando verdadeiro, esse,
sim, constrói sempre para a eternidade.
16. Sucessão Real

Agora é um novo dia e na casa se fazem os preparativos para o


regresso; Hrihor, parado na amurada do jardim, vê um barco singrando o rio
com velocidade; os contornos da cidade são vistos ao longe, e o barco deve
trazer notícias urgentes e novas tribulações para o seu coração, já tão
alanceado de apreensões por causa de Nut.
Pela porta aberta da sala de entrada, dois auxiliares trazem-na deitada
sobre umas andas; passou mal a noite e está novamente debilitada; seus
olhos brilhantes voltam-se para o pai:
— Parece, pai, que é a última vez que aqui venho, deixa-me
permanecer no jardim por mais um pouco, quero despedir-me de minhas
flores amadas, que eu mesma plantei.
A um sinal de Hrihor, os auxiliares a ajudam a levantar-se e caminhar
até um montículo de pedras onde se senta, ao mesmo tempo em que Harneth,
tendo encostado o barco, sobe a rampa e pára ante o quadro familiar,
respeitoso. Depois saúda e diz:
— Trago notícias graves: os mercenários de Horemhet tomaram conta
da cidade e fustigam o povo, havendo já muitos feridos e mortos. Ele
mandou um emissário dizendo que irá ao Templo amanhã cedo, pois quer
falar contigo.
— Qual o motivo dos tumultos?
— Matrah, que está sempre bem informado de tudo, disse-me que o
jovem faraó morreu e que estão encobrindo sua morte até que Horemhet
assuma o poder. Matrah diz que Tut morreu porque tomou bebida errada.
Hrihor percebeu logo o que estava acontecendo: a ambição terrível de
Horemhet desencadeia-se porque ele não tem mais paciência de esperar. Usa
da força que tem e provoca os tumultos para poder intervir com suas tropas.
— Regressaremos então, agora mesmo. Levem Nut para o barco.
Enquanto a removiam, teve a intuição segura de que ela não resistiria
mais que uns poucos dias, e isso o desesperava, porque não poderia viver
sem ela mas, descendo a rampa, sentiu que suas mãos estavam se carregando
de uma carga tão forte de fluidos, que sentia correrem estremecimentos e
repuxamentos pelos braços. Preocupado com as notícias não percebera que
Naradin estava presente, ajudando-o nas dificuldades do momento, conforme
prometera nas ruínas do velho Templo, na véspera, e que envolve-lhe os
braços em uma camada espessa de fluidos esverdeados e segue junto dele
para auxiliar no atendimento da filha.
Penetra no barco e vai para junto dela, que já se encontra sob a
cobertura central. Trabalhando agora plenamente consciente do auxílio de
Naradin, aplica-lhe poderosos recursos de que dispõe em suas mãos e vê que
ela vai aos poucos se reanimando, aconchegando-se por fim ao seu peito, e
adormecendo.
Ouve agora Naradin dizer-lhe:
— Tua doente viverá ainda algum tempo, enquanto que tu também te
refarás dos últimos esforços feitos e que te esgotaram. Rende graças ao
Senhor, que assim estende sobre ti sua mão poderosa e justa. Chama-me
quando quiseres, que ouvirei tua voz e virei ajudar-te, como agora.
— Oh! Amigo, exclama Hrihor comovido; que Amon te cubra de
bênçãos pelo bem que me fazes.
◆◆◆

O barco encostou no ancoradouro do Templo e Hrihor retomou suas


atividades sem perda de tempo, mais tranquilo agora, pelas palavras de
Naradin. As notícias chegavam umas atrás das outras, trazidas pelos olheiros
do Templo que operavam nas ruas e, em sua câmara de trabalho, passou o
resto do dia premido pela urgência de decisões adequadas e sábias.
De certa forma — considerava ele — tinha havido alguma penetração
do culto renegado de Aton em determinadas camadas sociais ligadas ao
governo anterior e, com a morte do faraó, esses núcleos, sentindo-se
ameaçados nos seus interesses, reuniram-se e passaram a hostilizar
Tutancâmon, que estava tentando restabelecer o culto verdadeiro com apoio
do Templo. Esses interessados contavam com o apoio de Horemhet, que
conseguira casar-se com a irmã de Aquenaton e assim se aproximara do
trono, que agora lhe estava bem perto. Hrihor tinha conhecimento de que ele
fizera um acordo secreto com Eie, o sacerdote pai de Nefertiti, antes mesmo
da morte de Aquenaton segundo o qual, com a morte deste, Eie subiria ao
trono, passando-o depois de dois anos ao próprio Horemhet. A sagração de
Tut, feita por ele, Hrihor, de certa forma inutilizara o acordo, e agora o
ambicioso guerreiro, já dentro do aprisco real, não queria mais
contemporizar.
Estava tudo muito claro e, enquanto via os mercenários nas ruas
massacrando o povo inerme, Hrihor compreendia facilmente que na
entrevista do dia seguinte não lhe restaria alternativa: deveria aceitar as
imposições do guerreiro e sagrá-lo faraó, para evitar que a guerra civil
tomasse conta do país.
Quanto a Nut, refletiu maduramente: era preciso que somente seus
auxiliares mais chegados soubessem que sua morte estava próxima; naquele
clima violento, a destruição dos pulmões seria rápida. Com isso, poderiam
surgir aborrecimentos sérios, envolvendo o prestígio da classe sacerdotal e
do próprio Templo, considerando que os sacerdotes eram os detentores quase
que exclusivos dos conhecimentos médicos daqueles tempos, além do poder
religioso que lhes dava o deus e, em se tratando de uma doença daquelas,
que atacava a própria sacerdotisa maior, tal fato seria encarado pelo povo
ignorante como decréscimo de autoridade espiritual por parte de quem,
como ele, o sumo sacerdote, governava a vida religiosa do país e do Império.
E por que suceder isto, justamente agora — pensava ele — quando,
com a morte do falso faraó, a autoridade espiritual de Amon voltava a se
consolidar rapidamente por toda parte?
Era, pois, necessário esconder a situação, não deixar que fosse
conhecida, nem mesmo entre os iniciantes.
Fechando-se em sua câmara, posternou-se e aguardou a inspiração que
nunca lhe faltava nos momentos graves.
Com a morte do faraó e a sagração precipitada de Tutancâmon, o clero
reconquistou sua soberania.
O grão sacerdote colaborou, levando em conta, sem embargo da
imaturidade do jovem príncipe, os desmandos, as vinganças, perseguições
religiosas e matanças que se seguiriam à morte de Aquenaton e que
explodiriam por toda parte, no país e nos territórios conquistados, e, muito
mais as arremetidas dos guerreiros de Horemhet, sempre interessado em
massacres, pilhagens e violências que, seu ato, pelo menos em parte, poderia
reduzir.
◆◆◆

Um pouco mais tarde, saindo incognitamente pelos fundos do Templo,


dirigiu-se a uma viela próxima e bateu a uma porta humilde onde residia
uma mulher do povo, viúva de um ex-auxiliar do Templo e a quem prestara
favores e proteção em várias ocasiões. Esta fora a inspiração que recebera:
sem revelar os laços que o ligavam à jovem, pediu-lhe que a recebesse em
sua casa, tratasse dela até o seu desenlace, recebendo régio salário pelo
serviço.
Como aquele pedido, vindo dele, era uma ordem irrecusável, na mesma
noite, secretamente envolto em largo manto e apoiando a filha também
envolta em véus, transferiu-a para esse refúgio, onde todas as noites poderia
visitá-la, até os últimos momentos de sua vida.
Instalou-a o melhor que pôde e prometeu sua assistência imediata ao
menor aviso; ia retirar-se, quando forte alarido chegou até eles, vindo dos
arredores. Ao transpor a porta de saída, acalmou a anciã assustada, que com
o olhar ansioso o interrogava.
— Veneranda amiga, o que se passa é a luta terrível das ambições pela
conquista do trono real. Não te preocupes, porque até amanhã a esta hora
tudo estará terminado; cuida da doente, é só o que no momento desejo que
faças com todo o desvelo.
Voltando ao Templo, recolheu-se à sua câmara de repouso, ouvindo
ainda por várias horas os gritos e os bramidos que vinham das ruas, até que o
sol, raiando na manhã seguinte, iluminou o triste espetáculo dos
trucidamentos e dos incêndios.
17. Poder Militar e Religioso

O sol já ia alto quando as trompas de guerra, soando altivas na praça


fronteira, anunciaram a chegada de Horemhet. Hrihor o recebeu sem aparato
algum na sua câmara de trabalho. Começou Horemhet a falar, enquanto
passeava de um lado para outro, batendo nas pernas, como que nervoso, com
um bastão fino que trazia na mão direita. Falava como se estivesse
monologando:
— Pus remate à guerra da Síria; deixei que os hititas ficassem em
Kadesh, mas depois voltarei para expulsá-los dali, porque o governo fraco de
uma criança (referia-se a Tutancâmon) não me forneceu os recursos
necessários para fazê-lo já; fechei as portas do templo de Sekhmet[25] para
provar ao povo que não desejo guerras e sou amante da paz. Agora estou
senhor de minha vontade porque restabeleci o poder no Egito e nenhum
perigo ameaça mais a nação. Quero construir um poderoso império onde
haverá azeite e trigo para todos; farei funcionar novamente as pedreiras e as
minas abandonadas e não haverá mais mendigos nem aleijados pelas ruas,
como agora, porque expelirei delas todo o sangue doentio; e por fim deixarei
a meu filho Ramsés (que talvez saibas que já nasceu) o trabalho de
consolidar esta minha obra.[26]
Parou de andar e falar e Hrihor então perguntou:
— E por que me dizes todas estas coisas?
— Porque preciso de ti para realizá-las.
— Mas ninguém se opõe agora ao teu poder militar...
— Sim, mas tu és o poder religioso que move o povo e sem ti nada
posso fazer, a não ser continuar com a guerra, o que francamente não desejo.
Estou farto e quero agora uma vida mais pacífica.
— Que desejas de mim, então, Horemhet?
— Quero que me consagres como faraó, amanhã, no trono vago.
— E não foste tu que o fizeste vagar? Sê franco e dize-me...
— Sim, fui eu. Mandei envenenar Tutancâmon. Não podemos esperar
que uma criança cresça para se fazer homem, praticando erros e afundando o
país na miséria e na anarquia.
— Mas tu ajudaste o faraó anterior a introduzir o culto falso de Aton,
enquanto Tutancâmon estava tentando restabelecer o culto verdadeiro,
antigo. Qual será, pois, a tua futura atitude religiosa? Percebes muito bem
que depende disto a minha resposta ao teu pedido.
— Sou-te franco, Hrihor: como faraó, não desejo compartilhar meu
poder com os deuses, porque não acredito muito neles, mas dou-te a minha
palavra que respeitarei, prestigiarei e não interferirei na tua função de sumo
sacerdote, e restabelecerei todo o prestígio que lhe foi tirado. Concordas?
— Concordo — respondeu Hrihor — porém, antes disso, vem comigo.
Levou-o aos fundos da nave central e fê-lo penetrar sozinho numa
câmara sombria, onde havia um estreito divã de madeira.
— Vou deixar-te aqui por uma hora, depois iremos juntos à frente de
Amon.
Saiu e fechou a porta, trancando-a por fora. Voltou à sua câmara de
trabalho, ajustou pessoalmente o relógio de água e chamou seus auxiliares
para transmitir-lhes ordens urgentes.
Decorrido o tempo, retirou Horemhet da câmara e levou-o à nave,
postou-se com ele à frente da estátua de Amon e lhe disse:
— Uma decisão assim tão importante não pode ser tomada unicamente
por nós. Cumprimos as regras e agora vamos selar aqui, perante o deus
nacional, o acordo feito.
E guardaram silêncio; ambos estavam inclinados, contritos. O primeiro
que viu a luz foi Horemhet: ela descia num facho estreito sobre o deus,
iluminando a estátua, da cabeça aos pés. Tocando no ombro de Hrihor,
Horemhet perguntou:
— Que significa isto? — enquanto apontava a luz com a mão.
Hrihor respondeu:
— Significa que o nosso acordo foi aprovado por Amon. Seremos agora
amigos e aliados na árdua tarefa de reconstruir nossa pátria.
Acompanhou o guerreiro até o átrio exterior, que ele transpôs, tendo
nos olhos uma intensa chama de alegria e de triunfo.
18. Momentos Finais

Passaram-se seis meses. Horemhet era o novo faraó e a calma e a


confiança voltaram a imperar na cidade e no país. Nut continuava refugiada
na casa humilde da viela, nos fundos do Templo.
Naquela manhã tranquila e cheia de sol, vamos encontrá-la reclinada
em um divã, no pequeno pátio interno da casa. Os enfeites de ouro de sua
túnica branca eram símbolos místicos, e as tarjas transversais coloridas eram
próprias dos costumes assírios e indicavam que algo de bom e venturoso
havia acontecido, conquanto o semblante pálido e descarnado, bem como os
olhos animados por luzes febris não dessem margem a esperança: a moléstia
insidiosa ia devastando impiedosamente o frágil organismo gracioso.
Preparara-se assim para esperar o pai, e este chegou, acompanhado de
três dos auxiliares mais íntimos. Não se tratava de uma simples visita, mas
de um trabalho a realizar, ela percebera logo isto. Os constantes
padecimentos provocados pela moléstia aprimoraram automaticamente seus
poderes psíquicos, de forma até então jamais verificada e, numa das reuniões
dos trabalhos anteriores, em que tomara parte ali mesmo naquela casa, ela
revelara mediunicamente os laços profundos de união entre aqueles
servidores e seu pai, e ainda os projetou do longínquo passado para os
séculos vindouros; com extraordinárias minúcias descreveu paisagens e
acontecimentos que ainda seriam vividos por eles naquela mesma
encarnação e em outras que viriam depois.
Agora referia-se sempre a uma filosofia de amor universal, redentor de
todos os povos, grandes e pequenos, fortes e fracos, e uma nova lei de moral
e de justiça[27], que prepararia o mundo para receber um Enviado Divino,
que viria a nascer na terra dos hebreus, não em Goshen, mas em Jerusalém.
[28]
Entre outros detalhes de profecias ela descrevia como sobre o
ensolarado deserto, erguendo-se com o sol, lado a lado, esse Enviado
dominaria, pela ideia e pelo sacrifício pessoal, o coração daquele que no
momento era o sumo sacerdote representante de Amon. Uma religião de
amor e de bondade dominaria o mundo, e não as que existiam no momento,
inclusive no Egito, com base nas paixões e nos interesses de fundo
meramente humano.
Estas revelações da quase moribunda pitonisa impressionaram
profundamente a todos, e voltavam agora para ouvir novos ensinamentos e
instruções que lhes servissem de orientação religiosa.
Aqui interpôs-se novamente a voz de Anath, dizendo:
— Os três auxiliares que acompanharam o sumo sacerdote aquela noite
e se encontravam em torno de Nut, eram Ameth, cujos elos de coração
remontam, como já foi revelado, ao passado remoto e junto a ti novamente
está, porque nas tarefas espirituais não se enquadram improvisações ou
imprevistos; Actaor, o teu braço direito. Lembras-te? Ele era para ti cajado e
sustentação. Hoje é o legionário índio cristão. O terceiro é Arturo, cujas
características de amor e de submissão tanto de ti mereceram. E há um
quarto... vê se descobres…
◆◆◆

Voltamos novamente a fixar a tela.


Hrihor estava tentando, naquela última oportunidade, prolongar por
mais algum tempo a vida expirante de Nut, cujos dias já eram horas.
Explicar com palavras as vibrações sonoras e coloridas que envolviam
aquele pequeno grupo é tarefa difícil, mesmo para nós, Espíritos; o amor que
havia entre Nut e Hrihor era tão profundo e elevado, que ultrapassava o
sentimento comum das coisas, e o ambiente estava saturado de luz,
parecendo iluminado por uma lua plena.
Nut estava sentada, ou melhor, reclinada ao centro de um pequeno
grupo, sem forças nem para falar; todos fortemente concentrados e, sobre
eles, uma cúpula fluídica semelhante a uma campânula de cristal translúcido.
Num dado momento, Nut como que desmaiou, na realidade, entrou em
transe para logo surgir numa brilhante materialização luminosa, na figura de
uma matrona egípcia, em trajes usados pelos hiksos, os antigos reis pastores
da nação. Levitada, dirigiu a palavra a Hrihor, dizendo:
— Meu filho, meu tesouro, os deuses te conduzam o cérebro, o coração
e as mãos pelos caminhos do Bem; neste instante recordo que a presente
vida está por extinguir-se em mim, terminou a jornada, porém, como
sandálias macias presas aos teus pés, estarei sempre junto de ti, protegendo-
te os passos. Caminharei contigo por onde quer que vás e iluminarei com
meus olhos teus passos nas horas de escuridão. Confia e crê no meu amor,
pois muito tens de sofrer ainda aqui, e duros encargos te embranquecerão
depressa os cabelos, mas alenta-te o Espírito o saber que não estarás só,
jamais farás um apelo em vão, porque estaremos sempre unidos, eternamente
unidos, meu terno amor, enquanto com o Senhor da vida estivermos.
Compreenderam todos que era a mesma Nut que se lhes apresentava,
transfigurada na matrona egípcia, mãe de Hrihor em encarnação anterior.
Quando ela voltou, perceberam também que seus momentos finais
estavam próximos, e passaram então a se revezar na vigilância para que
Hrihor estivesse presente na ocasião e pudesse confortá-la naquele momento
emocionante.
19. O Desenlace

Vê-se na tela Hrihor sentado à sua mesa de trabalho no Templo, ditando


hieróglifos a Ameth, o jovem auxiliar, cuja espátula, com extrema rapidez e
fidelidade, desenhava os sinais no papiro.
O quadro se abre e mostra a linha de um horizonte distante, do qual saía
e vinha para o nosso lado, junto à tela, a velha arca, que nada mais é que o
símbolo de nossas vidas passadas. Sua tampa se abre mostrando o vazio, mas
de seu fundo emerge um último pergaminho, que sobe e cai sobre Anath.
Uma voz diferente avisa, dizendo que Aquenaton está encarregado de
proceder à leitura desse último documento.
Ele lê então o que se segue:
Relação das almas no corpo e fora dele
O número de vezes bastante grande que desde o início proporcionou
encontros encarnativos entre o sumo sacerdote e a sacerdotisa do Templo de
Tebas tornou-os cada vez mais íntimos e daí os fatos aqui narrados, que
também servem para demonstrar o intercâmbio das almas afins.
Apesar dos conhecimentos já adquiridos nos livros, a sacerdotisa
maravilhou-se com o que o Pai lhe ia revelando sobre a vida e a morte: os
Espíritos agrupando-se por afinidades, trabalhando com esforço e dedicação
na causa comum do Bem, caso em que estariam sempre debaixo da proteção
do Senhor da Vida.
Mostrou-lhe como as almas se reencontram, buscando em seguida a
expansão imperativa nos grupos afins. Explicou-lhe que os corpos de carne
são roupagens grosseiras, porém dentro deles havia outros, mais puros e
perfeitos, invisíveis aos olhares humanos. Prosseguindo na iniciação dela,
explicou-lhe que as almas, ao transitarem, deixando as vestes grosseiras,
passavam para o Plano Espiritual, servindo-se como veículo de suas
manifestações de um daqueles corpos intermediários, que por sua vez,
conforme a capacidade de espiritualização demonstrada, iam-se tornando
mais ou menos luminosos e perfeitos.
Neste ponto, Aquenaton enrolou de novo o papiro e afastou-se, sendo
substituído por Anath, que disse:
— Esses ensinamentos que hoje estão melhorados e até mesmo em
alguns pontos, suplantados, naquela época eram, entretanto, privilégio de
sacerdotes de graus maiores. Não admira, pois, que constem de um papiro à
parte, em hieróglifo. Explica as afinidades tão estreitas existentes entre os
diferentes personagens dos acontecimentos aqui narrados e que asseguram a
continuidade deles na vida eterna. Sua leitura foi feita para mostrar que os
compromissos do passado foram resgatados nessa encarnação no Egito e a
arca fora esvaziada.
— Àquele que erra, sempre se dá — diz ela — oportunidades novas de
melhoria e redenção, e a bondade infinita do Senhor ainda lhe põe no
caminho as criaturas que foram objeto de seus erros para que, no campo do
amor, sejam estes apagados para sempre.
◆◆◆

Voltamos a ver a tela.


Uma sala no interior do Templo. O sumo sacerdote toma sua capa e
dirige-se para os portões dos fundos. Vai visitar Nut no seu refúgio. Mal
atinge a porta da casa humilde, Ameth vem ao seu encontro emocionado e
lhe diz que Nut está agonizando e que o chama insistentemente.
Penetrando em sua câmara, Hrihor precipita-se para ela, fazendo um
grande esforço consegue ainda abrir os olhos e sorrir-lhe. Ele se ajoelha
junto do leito baixo para fitá-la bem junto de seu rosto branco; toma-lhe as
mãos e procura infundir-lhe forças, enquanto ela sacode a cabeça de um lado
para outro, de leve, como a dizer que nada mais adianta. Sua respiração vai-
se reduzindo e é agora um sopro ligeiro, e com os olhos sempre muito
abertos fixos nos dele, como a querer gravar na retina espiritual sua imagem
para sempre, ela se vai, quase que imperceptivelmente.
Vemos como seu corpo espiritual flutuou horizontalmente sobre o corpo
físico e o fio fluídico de ligação rompeu-se e enrolou-se para cima, juntando-
se com o da cabeça, ao mesmo tempo que ela levitava, lenta e
graciosamente, até desaparecer numa névoa dourada.
◆◆◆

O disco do sol afundava num horizonte de fogo e a cidade inteira


achava-se mergulhada naquele esplendor. Foi assim que morreu Nut, a flor
sagrada do Templo de Tebas, rodeada da luz que naquele instante descia do
céu sobre ela, como uma glória.
20. Epílogo

Hrihor viveu ainda mais dez anos depois da morte da filha; exerceu
suas árduas funções de forma eficiente e generosa, contribuindo
grandemente para a prosperidade e a harmonia interna de seu nobre país. Isto
lhe foi creditado como mérito pelos homens e pelo Alto.
Quando também chegou sua hora de partir, a luz radiosa que fora Nut
fechou-lhe os olhos para o mundo da matéria e os abriu para os esplendores
do mundo espiritual.
Por muitas vezes, esses dois Espíritos afins encarnaram e desencarnaram
em muitas partes diferentes e em diferentes épocas, mas sempre realizando
juntos tarefas benéficas no sentido do Bem e ainda hoje, quando escrevo este
livro, nestes dias agitados, às vésperas de uma transição cíclica de grande
significação cósmica, continuam juntos, e o seu amor cresce sempre, de
forma incrível, como um sentimento que não é próprio deste mundo.

[1] Destruído após sua morte e reconstruído por Seti I.


[2] Para mais detalhes, consultar a obra Na Cortina do Tempo, do mesmo autor, Editora
Aliança.
[3] Todos os fatos da vida universal, individuais ou coletivos, gravam-se indelevelmente na luz
etérea, e por essas gravações tais fatos podem ser reproduzidos em qualquer tempo.
[4] Ocorreram dois afundamentos no continente atlante. Vide Os Exilados da Capela e Na
Cortina do Tempo, do mesmo autor, Editora Aliança.
[5] Idêntico aviso foi dado em outros templos no país.
[6] Fenômeno semelhante a História registra como tendo ocorrido no Templo de Delfos, na
Grécia, na primeira invasão persa.
[7] O mesmo fenômeno se deu em outras regiões do continente, em outras épocas. Veja Na
Cortina do Tempo, já citado.
[8] 19,8 m.
[9] A tradição informa que essas construções foram erguidas por descendentes de exilados da
Capela encarnados na Atlântida.
[10] Amenes, ou Menés, unificou o Alto e o Baixo Egito, em 3100 a.C.
[11] O ato que ali se praticou, com a presença do esposo enlouquecido, foi terrível: projetou-se
sobre o faraó uma carga poderosa de fluidos mortais, a primeira de uma série ininterrupta que
o levaria à morte em pouco tempo e em plena mocidade.
[12] A trepanação era um recurso médico rotineiro em casos de perturbações mentais,
congestões, derrames, etc. Era esse o procedimento comum, havendo a categoria mais
prestigiada dos “trepanadores reais”.
[13] Os antropólogos ingleses que descobriram o túmulo de Tutancâmon sofreram terríveis
consequências dessa profanação.
[14] O chefe militar de maior prestígio no país, amigo do faraó, o mesmo também conhecido
como Harmhabi, como consta da Histoire Ancienne des Peuples de l’Orient, de Maspero, 12ª
edição, Hachette, Paris.
[15] A iniciação sacerdotal naqueles tempos incluía conhecimentos científicos gerais e a
utilização de poderes psíquicos se situavam nesse mesmo setor.
[16] A escrita egípcia tinha três divisões: demótica, para o povo; hieroglífica, para as classes
cultas; e hierática, para os sacerdotes.
[17] Marcador de tempo que difere da ampulheta no sentido de que, em vez de areia, utiliza
água, cujas gotas vão pingando em um recipiente inferior, também conhecido como clepsidra.
[18] Povo guerreiro, habitante da região ao norte da Síria.
[19] Aquenaton criou a cruz egípcia como emblema do novo culto.
[20] O Egípcio, de Mika Waltari.
[21] As do Baixo e Alto Egito.
[22] Sólon, legislador grego; Platão, filósofo e discípulo de Sócrates; Pitágoras, criador da
Escola de Crotona, e outros, tiveram acesso a essa iniciação nos graus primários.
[23] Para alguns autores Tut não era filho, mas genro do Faraó, o que não tem fundamento.
[24] Esses arquivos continham cópias das tradições espirituais vindas da Atlântida e que
Moisés, mais tarde, reuniu nos Templos de Sais, Abidos e Luxor, e que à sua morte confiou a
seu filho Essen, fundador da Fraternidade Essênia.
[25] Templo votivo, que permanecia fechado nos tempos de paz.
[26] O Egípcio — Ibd.
[27] A Lei do Sinai — o Decálogo.
[28] O Messias Nazareno.

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