SLA - Apostila Fenomenos Do Transporte

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APOSTILA DE FENÔMENOS DE

TRANSPORTE

Prof. Jesué Graciliano da Silva


Prof. Samuel Luna de Abreu
2

APRESENTAÇÃO
Fenômenos de transportes é a área de conhecimento onde são estudados os fenômenos físicos rela-
cionados à transferência de calor e à mecânica dos fluidos (gases e líquidos). Nas Figuras 1 e 2 te-
mos os mapas conceituais das diversas interfaces e aplicações da mecânica dos fluidos e da transfe-
rência de calor:

Figura 1. Mapa conceitual de transferência de calor (http://hyperphysics.phy-


astr.gsu.edu/hbase/hframe.html).

Figura 2. Mapa conceitual de Mecânica dos Fluidos (http://hyperphysics.phy-


astr.gsu.edu/hbase/hframe.html).
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Como se pode ver, os campos de conhecimento são bastante abrangentes, sendo que os con-
ceitos apresentados às vezes são tratados em componentes curriculares independentes. Este texto
tem como objetivo resumir alguns conceitos básicos dessas duas áreas. O texto será dividido em
duas partes, iniciando pela Transferência de Calor e concluindo com a Mecânica dos Fluidos. Na
parte de Transferência de Calor será dada ênfase aos três processos de transferência de calor existen-
tes, apresentando de forma simplificada como é possível estimá-los e os principais parâmetros que
os influenciam. Já na parte de Mecânica dos Fluídos, serão relembrados alguns conceitos fundamen-
tais da hidrostática e em seguida concentraremos o foco nas equações de conservação da massa, da
quantidade de movimento e da energia simplificadas, como é o caso da Equação de Bernoulli, para
aplicações práticas de hidrodinâmica.

Não é a pretensão desse texto cobrir em detalhes todos os aspectos dos Fenômenos de Trans-
porte. Trata-se de um texto orientativo para ser usado nas aulas dos cursos de engenharia do IFSC,
que optaram por uma componente curricular de 36 horas (2 horas semanais), que está ainda em fase
de aprimoramento. Aproveitamos a oportunidade também para deixar claro, que o conteúdo aqui
apresentado foi inspirado em diversos livros e apostilas, em particular os trabalhos dos professores
Carlos Boabaid Neto (IFSC) e Eduardo Emery Cunha Quites (Universidade Santa Cecília).
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1. Transferência de Calor
mportamento térmico das substâncias e dos fenômenos da transferência de
O conhecimento do comportamento
calor são fundamentais para diversas aplicações na engenharia. Na Figura 1.1 ilustra-se o processo
de troca térmica entre um corpo de maior temperatura para outro de menor temperatura. A esse
processo, dá-se
se o nome de calor.

.1- Calor trocado entre um corpo quente e um corpo frio


Figura 1.1

1.1. CONCEITOS
ONCEITOS FUNDAMENTAIS

A Termodinâmica pode ser definida como a área do conhecimento que estuda as relações
entre calor e trabalho e suas aplicações
aplicações no desenvolvimento das máquinas térmicas. Já a
Transferência de Calor estuda os diferentes mecanismos de troca de calor. Foi através destes
conhecimentos que se fundamentaram a invenção da máquina a vapor, dos motores automotivos e
das máquinas de refrigeração. Um exemplo simples da relação entre calor e trabalho pode ser
observado na eolípia. A eolípia, desenvolvida por Heron, na Grécia Antiga, foi a primeira máquina
térmica da qual se tem conhecimento, conforme ilustrado na Figura 1.2:
.2:

Figura 1.2- Eolípia desenvolvida por Heron, Grécia Antiga


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1.1.1- Sistemas de Unidades


O Sistema Internacional de Unidades (SI) define as unidades utilizadas legalmente no nosso
país. Isto é importante, pois o desenvolvimento da transferência de calor está totalmente baseado nas
quatro dimensões básicas do Sistema Internacional, que são comprimento (metro), massa
(quilograma), tempo (segundo) e temperatura (kelvin).
Apesar da unidade SI para temperatura ser o Kelvin (K), o uso da escala Celsius é ainda
bastante comum. O zero na escala Celsius (0°C) é equivalente a 273,15 K. Dessas unidades básicas
derivam todas as demais, como algumas grandezas típicas da área de Ciências Térmicas
apresentadas na tabela 1.1.

Tabela 1.1- Unidades derivadas do SI para algumas grandezas


Quantidad Nome e Unidade Expressão em
e símbolo unidade de base do
SI
Força newton (N) m.kg/s2 m.kg/s2
Pressão pascal (Pa) N/m2 kg/m.s²
Energia joule (J) N.m m².kg/s²
Potência watt (W) J/s m².kg/s³

Eventualmente, poderemos nos deparar com unidades do sistema inglês. Como exemplo, a
carga térmica (termo muito utilizado em climatização), muitas vezes, é calculada em Btu/h (12.000
Btu/h correspondem a 3.517 W). Os catálogos dos fabricantes de condicionamento de ar trazem esta
unidade na determinação da capacidade de seus equipamentos. Por isso, a tabela 1.2 de conversão de
fatores é bastante útil.

Tabela 1.2 - Fatores de conversão úteis


1 lbf = 4,448 N 1 btu = 1055 J
1 lbf/pol² (ou psi) = 6895 Pa 1 kcal = 4,1868 kJ
1 pol = 0,0254 m 1 kW = 3413 btu/h
1 hp. = 746 W = 2545 btu/h 1 litro (l) = 0,001 m³
1 kcal/h = 1,163 W 1 tr = 3517 W (tonelada de
refrigeração)
2
1 atm = 14,7 lbf/pol (ou psi) 12000 btu/h = 1 tr = 3,517kW

1.1.2- Energia
Entende-se energia como um elemento capaz de causar transformações na natureza. Estas
transformações podem ocorrer de diversas formas. Em sua expressão mais simples, energia é a
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capacidade de realizar trabalho. Ela pode existir sob diversas formas como energia térmica (calor),
energia mecânica, energia química, energia elétrica etc., e pode ser modificada de uma destas formas
para outra. Por exemplo, a energia química de uma bateria de acumuladores transforma-se em
energia elétrica que passa em um circuito e acende uma lâmpada (energia luminosa ou energia
térmica) ou aciona um motor (energia mecânica). Embora a energia possa ser transformada de uma
forma para outra, num sistema fechado, ela não pode ser criada ou destruída. É o famoso princípio
da conservação da energia.
É importante notar que energia pode ser acumulada num sistema e que também pode ser
transferida de um sistema para outro (na forma de calor, por exemplo). Embora seja possível
transformar a energia de uma forma para outra e transferi-la de um sistema para outro, é impossível
criá-la ou destruí-la em um sistema fechado. É o princípio da conservação de energia.

Unidade no sistema internacional:


joule - J

Outras unidades:
caloria – cal
unidade térmica do sistema inglês (british thermal unit) - btu
watt-hora (muito usado no setor elétrico) – Wh

1.1.3 – Calor
Calor é uma forma de energia transferida de um corpo a outro devido às diferenças de
temperatura. O calor é definido como sendo a forma de transferência de energia através da fronteira
de um sistema, numa dada temperatura, a outro sistema (ou meio), que apresenta uma temperatura
inferior, em virtude da diferença entre as temperaturas dos dois sistemas.
Calor é positivo => se calor é transferido para uma sistema
Calor é negativo => se calor é transferido de um sistema.

No processo de aquecimento, temos a energia térmica sendo transferida da chama (que tem
elevada temperatura) para o corpo (que tem baixa temperatura), conforme mostrado na figura 1.3.
Nesse caso, o calor recebido pelo corpo pode ser calculado por meio de equações que levam em
consideração a massa do corpo sendo aquecido, suas características individuais definidas através da
propriedade calor específico e a diferença de temperatura sofrida durante o processo.
7

Figura 1.3
1 – Calor trocado entre uma chama e um corpo
Os processos que não apresentam transferência de calor (Q=0) são denominados
adiabáticos.

1.1.4 – Trabalho
Trabalho é uma forma de energia mecânica capaz provocar movimentação de um corpo
(peso).. Em refrigeração, tem
tem-se
se o processo de compressão como exemplo mais simples de aplicação
do conceito de trabalho (Figura 1.4).
.4). Dentro do compressor, há um pistão realizando trabalho sobre
um determinado volume de fluido refrigerante que é comprimido. O pistão se movimenta porque
recebe energia mecânica do eixo do compressor, alimentado pela rede elétrica. Em uma bomba de
água ocorre um processo semelhante, o rotor da bomba realiza um trabalho sobre a massa de água
que é deslocada por ele na forma de uma vazão e/ou elevação de nível.

Figura 1.4- Ilustração da aplicação do trabalho para comprimir o fluido refrigerante


r
8

1.1.5 – Potência
Potência é a quantidade de energia transferida por unidade de tempo. Uma dada quantidade
de energia pode ser disponibilizada em um tempo maior ou menor. De acordo com o tempo que se
pode disponibilizar a energia, tem
tem-se mais ou menos potência. No Sistema Internacional de
Unidades, a unidade característica de potência é o Watt (Joule/segundo). Também é comum
encontrar a potência expressa em Btu/h, CV, HP, kcal/h e toneladas de refrigeração (1TR=12.000
Btu/h).

Na figura 1.5,
.5, é possível visualizar uma aplicação prática da definição de potência. James
Watt mostrou que um cavalo forte era capaz de elevar uma carga de 75kg até a altura de um metro
em um segundo. A essa potência chamou
chamou-se de cavalo-vapor (devido à comparação com a máquina
a vapor) com abreviação de “CV”.

Figura 1.5– Ilustração do experimento de James Watt.

É importante lembrar que calor e trabalho são também formas de transferência de energia e
portanto podem ser expressos por unidade de tempo na forma de uma potência (taxa de transferência)
como segue.

W ; Q
9

1.1.6 – Processos de Transferência de calor


Como já foi visto inicialmente, a transferência de calor é a energia térmica em movimento
devido à diferença de temperatura entre dois corpos (sistemas). Ela pode ocorrer de três formas
diferentes: condução, convecção e radiação. Iremos aprofundar o estudo em cada uma das formas de
transferência de calor, porém com o objetivo de dar uma ideia geral sobre a transferência de calor,
vamos dar uma breve definição sobre cada um desses processos.

(a) Condução
É a transferência de calor que ocorre em um meio material estacionário, que pode ser um sólido
ou um fluido, em virtude de um gradiente de temperatura. A Figura 1.6 mostra a transferência de
calor por condução através de uma parede sólida submetida à uma diferença de temperatura entre
suas faces

Figura 1.6. Condução de calor através de uma parede plana.

(b) Convecção
É a transferência de calor que ocorre entre uma superfície e um fluido em movimento em virtude
da diferença de temperatura entre eles. A convecção ocorre apenas em uma região adjacente à
superfície de troca de calor, a essa região damos o nome de “camada limite térmica”. A Figura 1.7
mostra a transferência de calor por convecção entre uma superfície plana horizontal e um
escoamento de um determinado fluido sobre a mesma.

Figura 1.7. Convecção entre uma superfície plana e um fluido em movimento.

(c) Radiação
Mesmo na ausência de um meio interveniente, existe uma troca líquida de calor (emitida na
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forma de ondas eletromagnéticas) entre duas superfícies que se “enxergam” a diferentes


temperaturas. A esse mecanismo de transferência de calor chamamos de radiação. A Figura 1.8
ilustra a transferência de calor por radiação entre duas superfícies a diferentes temperaturas.

Figura 1.8. Radiação entre duas superfícies.

Nos próximos itens estudaremos em detalhes cada um dos mecanismos de transferência de


calor de forma individual e combinada, aprendendo a quantificar a taxa de transferência de calor em
cada um deles.

1.2. CONDUÇÃO

Condução ou difusão de calor é o processo de transferência de energia térmica que acontece


entre átomos e/ou moléculas vizinhas de uma substância causado por um gradiente térmico
(diferença de temperatura). Para ocorrer condução de calor é necessário a existência de um meio
material (sólido, líquido ou gás).

1.2.1. Lei de Fourier

Considere a situação apresentada na Figura 1.9 onde uma barra de um determinado material
de seção transversal constante é isolada nas laterais e submetida nos extremos a duas temperaturas
diferentes.
11

Figura 1.9. Condução de calor através de uma barra.

Experimentalmente pode-se observar que a taxa de transferência de calor através da barra é


proporcionalmente relacionado com a área da seção transversal (A), diferença de temperatura (∆T) e


comprimento (∆x) como segue.

.

Essa proporção se transforma em uma igualdade usando um coeficiente de proporcionalidade


“k” ao qual damos o nome de condutividade térmica. Generalizando a expressão anterior, chega-se
à Lei de Fourier que pode ser expressa na seguinte forma:

. .

O sinal negativo na expressão anterior significa que a taxa de transferência de calor ocorre da
temperatura mais alta para a mais baixa (sentido do ∆T negativo).
Os valores da condutividade térmica - k variam de material para material. Valores altos
representam materiais condutores, enquanto que valores baixos são materiais isolantes. A Tabela 1.3
apresenta alguns valores típicos de “k”

Tabela 1.3- Valores típicos da condutividade térmica – k.


material k [W.m-1.K-1]
metais 80 (ferro) a 430 (prata)
12

líquidos 0,15 (gasolina) a 0,6 (água)


isolantes 0,03 (espuma de poliuretano) a 0,15 (madeiras)
gases 0,023 (ar)

1.2.2. Condução de calor em paredes planas

Considere uma parede plana submetida às condições apresentadas na Figura 1.10.

Figura 1.10. Condução de calor através de uma parede plana.

Considerando que a área A da parede seja suficientemente grande em relação à sua espessura
∆x, pode-se considerar o problema unidimensional e todo a transferência de calor ocorre na direção
“x”. Aplicando-se a Lei de Fourier para esse caso temos:

. .

Resolvendo por separação de variáveis:


. . .

Considerando ∆x=L (espessura da parede):


13

. . .

Logo:
. . .( )
Ou:
.
( )

Exemplo:
Um condicionador de ar deve manter a 22°C uma sala com as seguintes dimensões: comprimento:
15 m; largura: 6 m; e altura: 3 m. Considerando que:
- parede da sala tem 25 cm de espessura e é feita de tijolos com condutividade térmica de 0,16
W/(m.K);
- área total das janelas e porta pode ser considerada desprezível;
- não há troca de calor pelo piso e teto;
- a temperatura externa das paredes é 35°C.
Determine a taxa de transferência de calor a ser extraída pelo condicionador de ar em btu/h (1 kW=
3.413 btu/h).

Analogia entre resistência térmica e resistência elétrica para condução em paredes planas
Sistemas análogos são aqueles que se comportam matematicamente de forma similar, ou
seja, os fenômenos físicos podem ser representados por equações semelhantes. Por exemplo, pode-
se reescrever a equação da taxa de transferência de calor em uma parede plana da seguinte forma:
( )

" ∆
Por analogia, se a equação anterior for comparada com a 1ª. Lei de Ohm tem-se:

! →
# #
Onde # . [K/W] é a resistência térmica equivalente.
É comum também usar uma simbologia semelhante à de circuitos elétricos como mostra a
Figura 1.11.
14

Figura 1.11. Circuito elétrico equivalente para condução de calor.

Exemplo:
Sabendo que a taxa de transferência de calor que sai através da parede de um determinado
equipamento é 6 kW, e que essa parede é de aço (k = 59 W/(m.K)) e tem uma temperatura externa
de 25°C; determine: a) Temperatura interna da parede. b) O que aconteceria se diminuíssemos a taxa
de transferência de calor através da parede?
Dados: altura = 20 cm; largura = 30 cm; espessura = 1 cm.

Associação de Paredes Planas em Série


Em várias situações práticas, paredes de diferentes materiais são montadas juntas formando o que
costuma se chamar de “associação de paredes planas em série”. Por exemplo, essa é a situação da
parede de um forno onde se coloca parede interna, isolante térmico e parede externa. A Figura 1.12
exemplifica esse tipo de problema.

Figura 1.12. Associação de paredes em série.

Nesse caso, a taxa de transferência de calor que atravessará todas as paredes é constante, ou
seja:
15

( ) ( &) ( & ')


&
. . &.

Isolando o termo de ∆T e somando as três expressões resultantes tem-se:

( )(( &) (( ') .( . ) ( .( . ) ( .(


& )
&.
&

Agrupando os termos chega-se então a seguinte expressão:

( ') . (# ( # ( #& )


ou seja:

Associação de Paredes Planas em Paralelo


Em outras situações práticas, necessita-se determinar a taxa de transferência de calor quando há uma
combinação de paredes em paralelo. Nesse caso o problema tende a ser menos unidimensional,
porém caso a espessura da parede em paralelo seja muito pequena, ou haja uma repetição das
associações em paralelo, pode-se considerar o problema similar ao de paredes em série. A Figura
1.13 ilustra esse tipo de problema.

Figura 1.13. Associação de paredes em paralelo.


16

Note que nesse caso as taxas que atravessam as áreas A1 e A2 são diferentes e o total que
atravessa a parede composta é dado pela somar das taxas e .
( )

( )

Somando as duas expressões e isolando o termo de ∆T tem-se:

+ 1 1 /
* ( ..( )
. .
) -

Fazendo a analogia com circuitos elétricos, para uma associação em paralelo temos:

1 1 1
0 ( 1
# # #

Novamente pode-se representar a taxa de transferência de calor como:



#

Exemplo
Uma camada de material refratário (k = 1,7 W/(m.K)) de 50 mm de espessura está localizada entre
duas chapas de aço (k = 53 W/(m.K)) de 6,3 mm de espessura. As faces da camada refratária
adjacentes às placas são rugosas de modo que apenas 30% da área total estão em contato com o aço.
Os espaços vazios são ocupados por ar (k = 0,015 W/(m.K)) e a espessura média da rugosidade é de
0,8 mm. Considerando que as temperaturas das superfícies externas da placa de aço são 430°C e
90°C respectivamente, calcule a taxa de transferência de calor na parede composta. Obs.: Na
rugosidade o ar está parado (considerar apenas condução).
17

Circuito elétrico equivalente:

1.2.3. Condução de calor em geometrias cilíndricas


Considere o cilindro vazado da figura 1.14, submetido a uma diferença de temperatura entre as
superfícies interna e externa.
18

Figura 1.14. Condução de calor em cilindros.

Aplicando a Lei de Fourier para esse caso tem-se:

. .
2

Mas nesse caso:


2. 4. 2.
Logo:

. 2. 4. 2. .
2

Resolvendo por separação de variáveis:

2 . 2. 4. .
2

Considerando ∆x=L (espessura da parede):


5
1
. 2 . 2. 4.
5 2
Logo:
. (ln 2 ln 2 ) . 2. 4. . ( )
Ou:
2. 4. .
2 ( )
ln 2
19

Analogia entre resistência térmica e resistência elétrica para condução em cilindros:


#

2
ln 2
#
2. 4. .

Exemplo
Um tubo de aço (k = 53 W/(m.K)) tem diâmetro externo de 80 mm e espessura de 5 mm, 15 m de
comprimento e transporta amônia a -20°C (considere a temperatura interna igual a temperatura da
amônia). Para isolamento do tubo, existem duas opções: isolamento de borracha (k = 0,17 W/(m.K))
com 80 mm de espessura ou isopor (k = 0,033 W/(m.K)) com 50 mm de espessura. Por razões de
ordem técnica, a taxa de transferência de calor não pode ultrapassar 850 W. Sabendo que a
temperatura externa do isolamento é 40°C, determine:
a) Resistência térmica do tubo de aço e dos isolamentos;
b) Calcule a taxa de transferência de calor para cada opção de isolante e diga qual isolamento
deve ser usado;
c) Caso algum dos isolantes não possa ser usado, calcule qual seria a espessura mínima que ele
deveria ter para que isso fosse possível.
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1.3. CONVECÇÃO

A troca de calor entre uma superfície e um fluido a temperaturas diferentes é chamada de


convecção. O processo de transferência de calor por convecção pode ser exemplificado pela figura
1.15, onde uma superfície a uma determinada temperatura é submetida à passagem de um fluido a
outra temperatura.

Figura 1.15. Convecção sobre uma superfície horizontal.

Pode-se concluir que nem todo o fluido “sente” a presença da superfície, ou seja, existe uma
região onde existe gradiente térmico e é nela que está ocorrendo a convecção. A esta região damos o
nome de “camada limite”.

1.3.1. Camada limite


A camada limite ocorre em escoamentos sobre superfícies e pode ser hidrodinâmica ou
térmica.
Quando o fluido escoa sobre uma superfície, ele é desacelerado devido à existência de forças
viscosas entre o fluido e a superfície. À região de influência da superfície sobre a velocidade do
escoamento, dá-se o nome de camada limite hidrodinâmica (figura 1.16)

Figura 1.16. Camada limite hidrodinâmica.


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Considere agora o escoamento do fluido sobre uma superfície onde há diferença de


temperatura entre o fluido e a superfície como mostra a figura 1.17.

Figura 1.17. Camada limite térmica.

Para que ocorra a transferência de calor é necessário que exista diferença de temperatura, ou
seja, a convecção ocorre na camada limite térmica. A convecção pode ser entendida com a ação
combinada entre a condução de calor na região de baixa velocidade e o movimento de mistura na
região de alta velocidade.

1.3.2. Lei de Newton do resfriamento

A Lei de Newton do resfriamento estabelece que a taxa de transferência de calor entre uma
superfície e um fluido é proporcional à diferença de temperatura e a área de contato entre eles. Essa
proporcionalidade transforma-se em uma igualdade definindo um “coeficiente de transferência de
calor por convecção” (coeficiente de película) – h como segue:

8. . ( 9 :)

onde h é dado em [W/(m2K)]


O coeficiente de convecção depende das propriedades termofísicas do fluido e das condições
em que ocorre o escoamento. Por causa disso existem diversas correlações disponíveis na literatura
para situações específicas para o cálculo do coeficiente de convecção.

1.3.3. Convecção Forçada


É aquela em que o processo de convecção é dominado por uma fonte externa de
movimentação do fluido.
Ex.: ventilador, bomba de resfriamento.
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1.3.4. Convecção Natural


É aquela em que o processo de convecção ocorre devido à diferença de massa específica no
fluido causada pelos gradientes de temperatura.
Ex.: interior de um refrigerador; aquecimento do fluido no interior de uma panela.

1.3.5. Coeficiente de Transferência de Calor por Convecção - h


Como visto no item 1.2.2, o coeficiente de transferência de calor por convecção depende das
propriedades termofísicas do fluido e das condições do escoamento, logo, sua determinação pode ser
bastante complicada e usam-se equações específicas para cada situação.
Metodologias mais complexas para determinação de h utilizam “números adimensionais”
que caracterizam as condições do problema e a partir deles determinamos o valor de h da situação
estudada. Para calcular os números adimensionais é necessário conhecer os valores das propriedades
termofísicas do fluido nas condições do problema. No presente curso, propõe-se a solução de forma
simplificada, usando coeficientes de convecção médios que podem ser usados em certas situações.
dinâmicas. A tabela 1.4 apresenta alguns valores característicos de h.

Tabela 1.4 - Valores médios do Coeficiente de convecção "h"

PROCESSO h
[ W / m².K ]
CONVECÇÃO Ar 5 - 30
NATURAL Gases 4 - 25
Líquidos 120 - 1.200
Água, líquida 20 - 100
Água em ebulição 120 - 24.000
CONVECÇÃO Ar 30 - 300
FORÇADA Gases 12 - 120
Líquidos 60 - 25.000
Água, líquida 50 - 10.000
Água em ebulição 3.000 - 100.000
Água em condensação 5.000 - 100.000
Observando a tabela pode-se estabelecer algumas conclusões:
- líquidos são mais eficazes que gases, para transferência de calor por convecção;
23

- convecção forçada é mais eficaz que convecção natural;


- uma substância em mudança de fase possui uma grande capacidade de troca de calor por
convecção.
A tabela 1.5 fornece valores de coeficiente de transferência de calor h para situações de
convecção natural comuns quando se analisa problemas de transferência de calor em edificações.

Tabela 1.5 - Valores do coeficiente de convecção "h" para situações de


convecção natural em edifícios
SITUAÇÃO h
[ W/m².K ]
Ar, adjacente a paredes internas 8,0
Ar, adjacente a forros internos 6,0
Ar, adjacente a pisos internos 10,5
Ar, adjacente a paredes externas (sem vento) 25,0
Ar, adjacente a paredes horizontais externas 29,0
(sem vento)

Analogia entre resistência térmica e resistência elétrica para convecção


Também no caso da convecção é possível encontrar uma resistência térmica equivalente.
Reescrevendo a equação da taxa de transferência de calor obtida a partir da lei do resfriamento:
( )
1
8.
Logo:

#
Onde # 1
8. [K/W] é a resistência térmica equivalente por convecção.

Exemplo:
A superfície de uma placa de ferro de 2x2m é mantida a uma temperatura de 300°C por uma
corrente de ar insuflado (soprado) por um ventilador. O ar se encontra a uma temperatura de 20°C.
Calcular a taxa de transferência de calor trocado por convecção, entre a placa e o ar. Considere o que
o coeficiente de convecção apresenta um valor médio para essa situação.
24

1.4. RADIAÇÃO TÉRMICA

É a transferência de calor que ocorre por intermédio de ondas eletromagnéticas. Logo, não há
a necessidade de um meio material para ocorre a transferência de calor por radiação. Todos os
corpos emitem radiação e quanto maior a temperatura de um corpo, maior será a radiação emitida
pelo mesmo. O processo de transferência de calor por radiação corresponde à troca líquida de calor
entre a superfície de dois corpos a temperaturas diferentes sem nenhum anteparo à propagação da
radiação entre eles. A figura 1.18 ilustra o processo de transferência de calor por radiação. , onde
uma superfície a uma determinada temperatura é submetida à passagem de um fluido a outra
temperatura.

Figura 1.18. Radiação entre duas superfícies.

1.4.1. Espectro de radiação eletromagnética


É a distribuição da intensidade de radiação eletromagnética de acordo com seu comprimento
de onda. Corpo negro seria um corpo cuja superfície absorve toda a radiação incidente sobre ele,
não deixando nada ser transmito ou refletido. Um corpo negro também emite toda a radiação que
absorve e a distribuição espectral dessa radiação emitida pode ser descrita pela “Lei de Planck”.
A figura 1.19 mostra a distribuição espectral da radiação solar incidente e sua comparação
com a radiação de um corpo negro para uma temperatura semelhante. A figura 1.20 apresenta o
espectro de radiação eletromagnética.
25

Figura 1.19. Espectro de Irradiação Solar.

Luz visível
vermelho
amarelo
violeta

verde
azul

Ultra
Raios X violeta Infravermelho
Raios Ondas de rádio
gama (microondas)

Radiação Térmica

10-5 10-4 10-3 10-2 10-1 100 101 102 103 104
Comprimento de onda, λ [µm]

3x1019 3x1018 3x1017 3x1016 3x1015 3x1014 3x1013 3x1012 3x1011 3x1010
Frequência, f [Hz]

Figura 1.20. Espectro de radiação eletromagnética.

1.4.2. Propriedades dos materiais em relação à radiação


Quando uma energia radiante atinge a superfície de um corpo, parte da energia total é
refletida, parte é absorvida, e parte é transmitida através do corpo com mostra a figura 1.21.
radiação
incidente
radiação
refletida

radiação absorvida

radiação transmitida

Figura 1.21. Comportamento dos materiais em relação a radiação.


26

Define-se então três propriedades características dos materiais:


ρ - fração de energia refletida (refletividade)
α - fração de energia absorvida (absortividade)
τ - fração de energia transmitida através do corpo (transmissividade)

pode-se afirmar também que:

;(<(= 1

1.4.3. Cálculo da transferência de calor por radiação

Calor emitido por radiação térmica:


Como já foi citado, todos os corpos emitem radiação e a intensidade da mesma está
relacionada com sua temperatura. A quantidade máxima de energia térmica por unidade de área de
superfície emitida por um corpo é dada pela Lei de Stefan-Boltzmann:

>. '

Onde:
E - fluxo de energia térmica emitido [W/m2]
T – temperatura absoluta da superfície [K]
σ – constante de Stefan-Boltzman – σ = 5,67x10-8 W/(m2K4)

Para um corpo de área finita de superfície As, a uma temperatura uniforme Ts, a taxa de
transferência de calor total devido à radiação é dada por:

9 . >. 9
'
5?@,B?C

Essa é a taxa máxima, considerando que o corpo se comporta com um “corpo negro”. Isso
não ocorre na prática, pois nenhum material comporta-se exatamente dessa forma e por isso defini-
se uma nova propriedade do material chamada de emissividade – ε e a taxa emitida por um corpo
pode ser calculada como segue.
27

5?@ D. 9 . >. 9
'

Pela identidade de Kirchoff, a quantidade de energia absorvida por um corpo é igual a sua
emissividade, logo:
D <
Concluindo, um corpo bom emissor de radiação é também um bom absorvedor e
consequentemente um mau refletor. É importante porém salientar, que essas propriedades dependem
do comprimento de onda da radiação e portanto a absorção e emissão podem ocorrer em
comprimentos diferentes.

Transferência de calor líquida de calor por radiação:


Considere os dois corpos da figura 1.22. Todos os corpos emitem radiação, porém nem toda a
radiação emitida por um corpo irá atingir o outro.

Figura 1.22. Transferência de calor por radiação entre dois corpos a temperaturas diferentes.

Considerando que os dois corpos estão a temperaturas diferentes, haverá uma troca líquida
de calor entre os dois corpos dada por:

5?@ EFG GFE

A taxa de transferência de calor líquida dependerá das características de cada corpo, isto é, de
sua temperatura superficial, de sua área superficial (geometria do corpo), e da emissividade de sua
superfície. O estudo detalhado dos mecanismos de troca de calor por radiação é bastante complexo
(principalmente por causa da geometria do corpo) e foge do objetivo deste curso.
Vamos considerar, entretanto, o caso especial de um corpo qualquer, de área superficial As,
temperatura superficial Ts, e emissividade εs, interagindo com o meio ambiente que o circunda, e
que se encontra a uma temperatura T∞ como mostra a figura 1.23
28

T∞
AS , ε S

TS

Figura 1.23. Transferência de calor entre um corpo e o meio ambiente.

Este "meio ambiente" inclui todas as superfícies sólidas que o circundam, bem como o ar
ambiente.Observe que, neste caso, a área superficial do corpo é muito pequena em relação à área de
emissão do "meio". Nesse caso, a taxa líquida de transferência de calor por radiação do corpo pode
ser dada por:

D9 . 9 . >. ( 9
'
:)
'

Exemplos:
1. A superfície de uma placa de aço polido, de 8 m² de superfície, é mantida a uma temperatura de
150 °C. A temperatura do ambiente que a cerca é de 25 °C. Calcular a taxa de transferência de
calor trocado por radiação entre a placa e o ar. Dado: εaço polido = 0,066.
R: 722,25 J
2. Um tubo que transporta vapor passa por um ambiente cuja temperatura média é de 24 °C. O
diâmetro externo do tubo é 70 mm e a temperatura de sua superfície alcança 200 °C. Se a
emissividade da superfície externa do tubo for ε = 0,8 e o coeficiente de transferência de calor
por radiação do tubo para o ambiente vale h = 10 W/(m2K), determine a transferência de calor
por radiação e por convecção para o ambiente em cada metro de tubo.
R: (2K ) 422 J; (MNOP) 387 J

1.4.4. Cálculo da transferência de calor por radiação – outras geometrias

(a) Placas planas paralelas infinitas com a mesma área (figura 1.24):
29

Qrad

A , ε1 A , ε2

Figura 1.24. Radiação entre placas planas paralelas infinitas.

. >. ( ' '


)
1 1
D ( D 1

(b) Cilindros concêntricos (figura 1.25):

Qrad

A1 , T1
A2 , T2
Figura 1.24. Radiação entre cilindros concêntricos.

. >. ( ' '


)
1 (1 D
D ( 1)

1.4.5. Barreira radiante ou blindagem de radiação

Uma maneira de reduzir a transferência de calor por radiação entre uma superfície e um meio
é através da utilização sobre essa superfície de materiais com baixa emissividade (altamente
refletivos). Estas blindagens não fornecem nem removem calor do sistema, apenas introduzem uma
"barreira", uma "resistência" adicional à troca de calor entre a(s) superfície(s) e o meio.
30

Um exemplo disto são as folhas de alumínio ou películas de papel aluminizado. A aplicação


destes materiais à superfície de tubos, por exemplo, reduz consideravelmente a troca de calor por
radiação entre o tubo e o ambiente.

Exemplo:
1. Em uma central nuclear, a água de refrigeração passa por uma tubulação que contém, no seu
interior, o tubo onde se encontra o combustível nuclear. Se a parede do cilindro interno (ε = 0,19)
se encontra a uma temperatura de 500 K, e a parede interna do cilindro externo (ε = 0,24) está a
uma temperatura de 350 K, determine a transferência de calor por radiação em um metro de
comprimento de tubo. O tubo interno têm um diâmetro de 7cm e o externo um diâmetro de 12cm.
Desconsidere a presença da água passando entre os tubos.
R: 82,63 J

2. O que aconteceria na situação do exercício anterior se fosse adicionada uma barreira radiante de
papel alumínio (ε = 0,04) sobre o cilindro interno?
R: 21,9 J

1.4.6. Coeficiente de transferência de calor por radiação – hrad

Como os problemas de transferência de calor por radiação muitas vezes estão associados à
troca de calor por convecção, é conveniente tratar os dois processos de forma semelhante. Para tanto
se define um coeficiente de transferência de calor por radiação com a seguinte forma:

85?@ . . ( 9 :)

Considerando a situação em que o corpo troca calor com o ambiente:

D. >. . ( 9
'
:)
'

Comparando as duas equações anteriores, pode-se chegar à seguinte expressão para o


coeficiente de transferência de calor por radiação:
31

85?@ D. >. ( 9 ( : )( 9 ( :)

Analogia entre resistência térmica e resistência elétrica para transferência de calor por
radiação

Da mesma forma como feito para os outros processos de transferência de calor, também se

( )
pode determinar uma resistência térmica para a radiação como segue:

1
85?@ .
Logo:

#
Onde # 1
85?@ . [K/W] é a resistência térmica equivalente por radiação.

Exemplo:
Um tubo longo, de 10 cm de diâmetro, que conduz vapor d'água, fica exposto em uma casa de
máquinas, onde a temperatura ambiente é 25 °C. A temperatura da parede externa do tubo é medida
em 120 °C. Calcule a taxa de transferência de calor total do tubo para o ambiente usando o método
das resistências térmicas equivalentes. O comprimento total de tubo que percorre a casa de máquinas
é de 6 m. A emissividade do tubo é 0,7, e o coeficiente de transferência de calor por convecção para
essa situação é de 8,5 W/(m²K).
R: 2.716,6J
32

1.5. TRANSFERÊNCIA DE CALOR COMBINADO

Nos casos reais, os três processos de transferência de calor podem ocorrer de forma
combinada, portanto é importante ter mecanismos para calcular o fluxo de calor considerando todas
as formas possíveis. Por exemplo, em aplicações de trocadores de calor, um arranjo de tubos pode
ser empregado para a remoção de calor de um líquido quente. A transferência de calor do líquido
quente para o tubo é por convecção. O calor é transferido através da parede do material por
condução, e finalmente dissipado no ambiente por convecção e radiação.

1.5.1. Resistência térmica global

Paredes planas
Considere a parede plana mostrada na Figura 1.25, exposta a um fluido quente em um dos
lados e ao ambiente externo a uma temperatura ambiente no outro lado.

T
Tint

h int T1 T2
h ext

T∞
L

x
Figura 1.25. Transferência de calor combinada através de uma parede plana.

A taxa de transferência de calor através da parede, em regime permanente, é dada por:


33

Q& = hconv,int . A.(Tint − T1 ) = .(T1 − T2 ) = hconv + rad ,ext . A.(T2 − T∞ )


k.A
L
A taxa de transferência de calor total é calculada como a razão entre a diferença total de
temperatura e a soma das resistências térmicas:

Q& =
(Tint − Text )
Rconv,int + Rcond + Rconv + rad ,ext

Substituindo os valores das resistência térmicas:

Q& =
(Tint − T∞ )
1 L  1 

+ +
hint . A k . A  hconv,ext . A + hrad , ext . A 

O calor total transferido pelos mecanismos combinados de condução, convecção e radiação é


frequentemente expresso em termos de um coeficiente global de transferência de calor U, definido
pela relação:

Q& = U . A.∆Ttotal

onde A é uma área de a transferência de calor. O coeficiente global de transferência de calor para o
problema de parede plana analisado é:
1
U=
1 L  1 

+ +
hint k  hconv, ext + hrad , ext 

Exemplo:
Um ambiente a 24 °C recebe calor do ambiente externo, que está a 30 °C. Qual a quantidade
de calor recebido? Sabe-se que as paredes tem uma área total de 48 m². O coeficiente de
transferência de calor por convecção no lado interno é estimado em 8 W/m².K, e no lado
externo em 25 W/m².K. As paredes são feitas de concreto, e têm 15 cm de espessura.
Desconsidere a radiação.
R: -795,5 W
34

Sistemas Radiais
Considere o problema de transferência de calor para uma geometria de um cilindro oco (por
exemplo, um tubo ou tubulação) apresentada na figura 1.26. Para exemplificar, será
considerada apenas a convecção interna e externa, sendo desconsiderada a radiação.

rext T∞
Tint T1 T2
rint Q
hint

hext

Figura 1.26. Transferência de calor através de um cilindro oco (tubo).

Observe que neste caso a área para convecção não é a mesma para os dois fluidos. Estas
áreas dependem do diâmetro interno do tubo e da espessura da parede. Neste caso, a taxa de
transferência de calor total é dada por:

Q& =
(Tint − T∞ )
 1 ln (rext / rint ) 1 
 + + 
 hint . Aint 2.π .k .L hext . Aext 

Nesse caso, o coeficiente global de transferência de calor pode ser baseado tanto na área
interna como na área externa:

1
Q& = U int . Aint .∆Ttotal U int =
1 A . ln (rext / rint ) Aint 1
+ int + .
hint 2.π .k .L Aext hext
35

1
Q& = U ext . Aext .∆Ttotal U ext =
Aext 1 A . ln (rext / rint ) 1
. + ext +
Aint hint 2.π .k .L hext

Exercício:
Desenvolva uma expressão para o coeficiente global de troca de calor U em um tubo de um
determinado material, que é envolto por um isolamento. Considere as convecções interna e externa e
desconsidere a radiação. A expressão para o cálculo deve ser desenvolvida de forma que a taxa de
transferência de calor possa ser calculada com a seguinte expressão: Q& = U int . Aint .∆Ttotal

Importância de U:
O conceito do coeficiente global de transferência de calor é aplicado em muitas situações
práticas. Por exemplo, a transferência de calor através de paredes é o principal item no cálculo de
cargas térmicas de refrigeração e ar condicionado. Por esta razão, muitas situações encontradas na
prática já têm tabelados os valores de coeficiente U, aplicáveis a cada caso. Da mesma maneira,
quando se trabalha com o projeto, seleção e dimensionamento de trocadores de calor, geralmente há
necessidade de se determinar o coeficiente global de transferência de calor, para um determinado
tipo de trocador de calor, operando com determinado fluido, etc. Neste caso, também existem
valores tabelados para situações encontradas na prática.

Exemplos:

1. Um determinado fluido escoa através de um tubo de aço, de 20 cm de diâmetro externo e 3


cm de espessura. O fluido se encontra a uma temperatura de 50 °C. O tubo está exposto ao ar
ambiente, com temperatura de 20 °C. Considerando um coeficiente de transferência de calor
por convecção no lado interno de 2.000 W/m².K, e no lado externo de 20 W/m².K, calcule a
transferência de calor por metro de comprimento linear de tubo.
R: 260 W

2. Um fluido escoando através de um tubo de cobre, com 80 mm de diâmetro externo e 5 mm


de espessura, perde para o ambiente 1 kW de calor por metro de comprimento de tubo.
Sabendo-se que a temperatura ambiente é de 28 °C, e considerando um coeficiente de
36

transferência de calor por convecção externo de 30 W/m².K e interno de 3500 W/m².K,


estime a temperatura média do fluido.
R: 161,2°C

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