SLA - Apostila Fenomenos Do Transporte
SLA - Apostila Fenomenos Do Transporte
SLA - Apostila Fenomenos Do Transporte
TRANSPORTE
APRESENTAÇÃO
Fenômenos de transportes é a área de conhecimento onde são estudados os fenômenos físicos rela-
cionados à transferência de calor e à mecânica dos fluidos (gases e líquidos). Nas Figuras 1 e 2 te-
mos os mapas conceituais das diversas interfaces e aplicações da mecânica dos fluidos e da transfe-
rência de calor:
Como se pode ver, os campos de conhecimento são bastante abrangentes, sendo que os con-
ceitos apresentados às vezes são tratados em componentes curriculares independentes. Este texto
tem como objetivo resumir alguns conceitos básicos dessas duas áreas. O texto será dividido em
duas partes, iniciando pela Transferência de Calor e concluindo com a Mecânica dos Fluidos. Na
parte de Transferência de Calor será dada ênfase aos três processos de transferência de calor existen-
tes, apresentando de forma simplificada como é possível estimá-los e os principais parâmetros que
os influenciam. Já na parte de Mecânica dos Fluídos, serão relembrados alguns conceitos fundamen-
tais da hidrostática e em seguida concentraremos o foco nas equações de conservação da massa, da
quantidade de movimento e da energia simplificadas, como é o caso da Equação de Bernoulli, para
aplicações práticas de hidrodinâmica.
Não é a pretensão desse texto cobrir em detalhes todos os aspectos dos Fenômenos de Trans-
porte. Trata-se de um texto orientativo para ser usado nas aulas dos cursos de engenharia do IFSC,
que optaram por uma componente curricular de 36 horas (2 horas semanais), que está ainda em fase
de aprimoramento. Aproveitamos a oportunidade também para deixar claro, que o conteúdo aqui
apresentado foi inspirado em diversos livros e apostilas, em particular os trabalhos dos professores
Carlos Boabaid Neto (IFSC) e Eduardo Emery Cunha Quites (Universidade Santa Cecília).
4
1. Transferência de Calor
mportamento térmico das substâncias e dos fenômenos da transferência de
O conhecimento do comportamento
calor são fundamentais para diversas aplicações na engenharia. Na Figura 1.1 ilustra-se o processo
de troca térmica entre um corpo de maior temperatura para outro de menor temperatura. A esse
processo, dá-se
se o nome de calor.
1.1. CONCEITOS
ONCEITOS FUNDAMENTAIS
A Termodinâmica pode ser definida como a área do conhecimento que estuda as relações
entre calor e trabalho e suas aplicações
aplicações no desenvolvimento das máquinas térmicas. Já a
Transferência de Calor estuda os diferentes mecanismos de troca de calor. Foi através destes
conhecimentos que se fundamentaram a invenção da máquina a vapor, dos motores automotivos e
das máquinas de refrigeração. Um exemplo simples da relação entre calor e trabalho pode ser
observado na eolípia. A eolípia, desenvolvida por Heron, na Grécia Antiga, foi a primeira máquina
térmica da qual se tem conhecimento, conforme ilustrado na Figura 1.2:
.2:
Eventualmente, poderemos nos deparar com unidades do sistema inglês. Como exemplo, a
carga térmica (termo muito utilizado em climatização), muitas vezes, é calculada em Btu/h (12.000
Btu/h correspondem a 3.517 W). Os catálogos dos fabricantes de condicionamento de ar trazem esta
unidade na determinação da capacidade de seus equipamentos. Por isso, a tabela 1.2 de conversão de
fatores é bastante útil.
1.1.2- Energia
Entende-se energia como um elemento capaz de causar transformações na natureza. Estas
transformações podem ocorrer de diversas formas. Em sua expressão mais simples, energia é a
6
capacidade de realizar trabalho. Ela pode existir sob diversas formas como energia térmica (calor),
energia mecânica, energia química, energia elétrica etc., e pode ser modificada de uma destas formas
para outra. Por exemplo, a energia química de uma bateria de acumuladores transforma-se em
energia elétrica que passa em um circuito e acende uma lâmpada (energia luminosa ou energia
térmica) ou aciona um motor (energia mecânica). Embora a energia possa ser transformada de uma
forma para outra, num sistema fechado, ela não pode ser criada ou destruída. É o famoso princípio
da conservação da energia.
É importante notar que energia pode ser acumulada num sistema e que também pode ser
transferida de um sistema para outro (na forma de calor, por exemplo). Embora seja possível
transformar a energia de uma forma para outra e transferi-la de um sistema para outro, é impossível
criá-la ou destruí-la em um sistema fechado. É o princípio da conservação de energia.
Outras unidades:
caloria – cal
unidade térmica do sistema inglês (british thermal unit) - btu
watt-hora (muito usado no setor elétrico) – Wh
1.1.3 – Calor
Calor é uma forma de energia transferida de um corpo a outro devido às diferenças de
temperatura. O calor é definido como sendo a forma de transferência de energia através da fronteira
de um sistema, numa dada temperatura, a outro sistema (ou meio), que apresenta uma temperatura
inferior, em virtude da diferença entre as temperaturas dos dois sistemas.
Calor é positivo => se calor é transferido para uma sistema
Calor é negativo => se calor é transferido de um sistema.
No processo de aquecimento, temos a energia térmica sendo transferida da chama (que tem
elevada temperatura) para o corpo (que tem baixa temperatura), conforme mostrado na figura 1.3.
Nesse caso, o calor recebido pelo corpo pode ser calculado por meio de equações que levam em
consideração a massa do corpo sendo aquecido, suas características individuais definidas através da
propriedade calor específico e a diferença de temperatura sofrida durante o processo.
7
Figura 1.3
1 – Calor trocado entre uma chama e um corpo
Os processos que não apresentam transferência de calor (Q=0) são denominados
adiabáticos.
1.1.4 – Trabalho
Trabalho é uma forma de energia mecânica capaz provocar movimentação de um corpo
(peso).. Em refrigeração, tem
tem-se
se o processo de compressão como exemplo mais simples de aplicação
do conceito de trabalho (Figura 1.4).
.4). Dentro do compressor, há um pistão realizando trabalho sobre
um determinado volume de fluido refrigerante que é comprimido. O pistão se movimenta porque
recebe energia mecânica do eixo do compressor, alimentado pela rede elétrica. Em uma bomba de
água ocorre um processo semelhante, o rotor da bomba realiza um trabalho sobre a massa de água
que é deslocada por ele na forma de uma vazão e/ou elevação de nível.
1.1.5 – Potência
Potência é a quantidade de energia transferida por unidade de tempo. Uma dada quantidade
de energia pode ser disponibilizada em um tempo maior ou menor. De acordo com o tempo que se
pode disponibilizar a energia, tem
tem-se mais ou menos potência. No Sistema Internacional de
Unidades, a unidade característica de potência é o Watt (Joule/segundo). Também é comum
encontrar a potência expressa em Btu/h, CV, HP, kcal/h e toneladas de refrigeração (1TR=12.000
Btu/h).
Na figura 1.5,
.5, é possível visualizar uma aplicação prática da definição de potência. James
Watt mostrou que um cavalo forte era capaz de elevar uma carga de 75kg até a altura de um metro
em um segundo. A essa potência chamou
chamou-se de cavalo-vapor (devido à comparação com a máquina
a vapor) com abreviação de “CV”.
É importante lembrar que calor e trabalho são também formas de transferência de energia e
portanto podem ser expressos por unidade de tempo na forma de uma potência (taxa de transferência)
como segue.
W ; Q
9
(a) Condução
É a transferência de calor que ocorre em um meio material estacionário, que pode ser um sólido
ou um fluido, em virtude de um gradiente de temperatura. A Figura 1.6 mostra a transferência de
calor por condução através de uma parede sólida submetida à uma diferença de temperatura entre
suas faces
(b) Convecção
É a transferência de calor que ocorre entre uma superfície e um fluido em movimento em virtude
da diferença de temperatura entre eles. A convecção ocorre apenas em uma região adjacente à
superfície de troca de calor, a essa região damos o nome de “camada limite térmica”. A Figura 1.7
mostra a transferência de calor por convecção entre uma superfície plana horizontal e um
escoamento de um determinado fluido sobre a mesma.
(c) Radiação
Mesmo na ausência de um meio interveniente, existe uma troca líquida de calor (emitida na
10
1.2. CONDUÇÃO
Considere a situação apresentada na Figura 1.9 onde uma barra de um determinado material
de seção transversal constante é isolada nas laterais e submetida nos extremos a duas temperaturas
diferentes.
11
∆
comprimento (∆x) como segue.
.
∆
. .
O sinal negativo na expressão anterior significa que a taxa de transferência de calor ocorre da
temperatura mais alta para a mais baixa (sentido do ∆T negativo).
Os valores da condutividade térmica - k variam de material para material. Valores altos
representam materiais condutores, enquanto que valores baixos são materiais isolantes. A Tabela 1.3
apresenta alguns valores típicos de “k”
Considerando que a área A da parede seja suficientemente grande em relação à sua espessura
∆x, pode-se considerar o problema unidimensional e todo a transferência de calor ocorre na direção
“x”. Aplicando-se a Lei de Fourier para esse caso temos:
. .
. . .
Logo:
. . .( )
Ou:
.
( )
Exemplo:
Um condicionador de ar deve manter a 22°C uma sala com as seguintes dimensões: comprimento:
15 m; largura: 6 m; e altura: 3 m. Considerando que:
- parede da sala tem 25 cm de espessura e é feita de tijolos com condutividade térmica de 0,16
W/(m.K);
- área total das janelas e porta pode ser considerada desprezível;
- não há troca de calor pelo piso e teto;
- a temperatura externa das paredes é 35°C.
Determine a taxa de transferência de calor a ser extraída pelo condicionador de ar em btu/h (1 kW=
3.413 btu/h).
Analogia entre resistência térmica e resistência elétrica para condução em paredes planas
Sistemas análogos são aqueles que se comportam matematicamente de forma similar, ou
seja, os fenômenos físicos podem ser representados por equações semelhantes. Por exemplo, pode-
se reescrever a equação da taxa de transferência de calor em uma parede plana da seguinte forma:
( )
" ∆
Por analogia, se a equação anterior for comparada com a 1ª. Lei de Ohm tem-se:
! →
# #
Onde # . [K/W] é a resistência térmica equivalente.
É comum também usar uma simbologia semelhante à de circuitos elétricos como mostra a
Figura 1.11.
14
Exemplo:
Sabendo que a taxa de transferência de calor que sai através da parede de um determinado
equipamento é 6 kW, e que essa parede é de aço (k = 59 W/(m.K)) e tem uma temperatura externa
de 25°C; determine: a) Temperatura interna da parede. b) O que aconteceria se diminuíssemos a taxa
de transferência de calor através da parede?
Dados: altura = 20 cm; largura = 30 cm; espessura = 1 cm.
Nesse caso, a taxa de transferência de calor que atravessará todas as paredes é constante, ou
seja:
15
( ') . (# ( # ( #& )
∆
ou seja:
Note que nesse caso as taxas que atravessam as áreas A1 e A2 são diferentes e o total que
atravessa a parede composta é dado pela somar das taxas e .
( )
( )
+ 1 1 /
* ( ..( )
. .
) -
Fazendo a analogia com circuitos elétricos, para uma associação em paralelo temos:
1 1 1
0 ( 1
# # #
Exemplo
Uma camada de material refratário (k = 1,7 W/(m.K)) de 50 mm de espessura está localizada entre
duas chapas de aço (k = 53 W/(m.K)) de 6,3 mm de espessura. As faces da camada refratária
adjacentes às placas são rugosas de modo que apenas 30% da área total estão em contato com o aço.
Os espaços vazios são ocupados por ar (k = 0,015 W/(m.K)) e a espessura média da rugosidade é de
0,8 mm. Considerando que as temperaturas das superfícies externas da placa de aço são 430°C e
90°C respectivamente, calcule a taxa de transferência de calor na parede composta. Obs.: Na
rugosidade o ar está parado (considerar apenas condução).
17
. .
2
. 2. 4. 2. .
2
2 . 2. 4. .
2
∆
#
2
ln 2
#
2. 4. .
Exemplo
Um tubo de aço (k = 53 W/(m.K)) tem diâmetro externo de 80 mm e espessura de 5 mm, 15 m de
comprimento e transporta amônia a -20°C (considere a temperatura interna igual a temperatura da
amônia). Para isolamento do tubo, existem duas opções: isolamento de borracha (k = 0,17 W/(m.K))
com 80 mm de espessura ou isopor (k = 0,033 W/(m.K)) com 50 mm de espessura. Por razões de
ordem técnica, a taxa de transferência de calor não pode ultrapassar 850 W. Sabendo que a
temperatura externa do isolamento é 40°C, determine:
a) Resistência térmica do tubo de aço e dos isolamentos;
b) Calcule a taxa de transferência de calor para cada opção de isolante e diga qual isolamento
deve ser usado;
c) Caso algum dos isolantes não possa ser usado, calcule qual seria a espessura mínima que ele
deveria ter para que isso fosse possível.
20
1.3. CONVECÇÃO
Pode-se concluir que nem todo o fluido “sente” a presença da superfície, ou seja, existe uma
região onde existe gradiente térmico e é nela que está ocorrendo a convecção. A esta região damos o
nome de “camada limite”.
Para que ocorra a transferência de calor é necessário que exista diferença de temperatura, ou
seja, a convecção ocorre na camada limite térmica. A convecção pode ser entendida com a ação
combinada entre a condução de calor na região de baixa velocidade e o movimento de mistura na
região de alta velocidade.
A Lei de Newton do resfriamento estabelece que a taxa de transferência de calor entre uma
superfície e um fluido é proporcional à diferença de temperatura e a área de contato entre eles. Essa
proporcionalidade transforma-se em uma igualdade definindo um “coeficiente de transferência de
calor por convecção” (coeficiente de película) – h como segue:
8. . ( 9 :)
PROCESSO h
[ W / m².K ]
CONVECÇÃO Ar 5 - 30
NATURAL Gases 4 - 25
Líquidos 120 - 1.200
Água, líquida 20 - 100
Água em ebulição 120 - 24.000
CONVECÇÃO Ar 30 - 300
FORÇADA Gases 12 - 120
Líquidos 60 - 25.000
Água, líquida 50 - 10.000
Água em ebulição 3.000 - 100.000
Água em condensação 5.000 - 100.000
Observando a tabela pode-se estabelecer algumas conclusões:
- líquidos são mais eficazes que gases, para transferência de calor por convecção;
23
Exemplo:
A superfície de uma placa de ferro de 2x2m é mantida a uma temperatura de 300°C por uma
corrente de ar insuflado (soprado) por um ventilador. O ar se encontra a uma temperatura de 20°C.
Calcular a taxa de transferência de calor trocado por convecção, entre a placa e o ar. Considere o que
o coeficiente de convecção apresenta um valor médio para essa situação.
24
É a transferência de calor que ocorre por intermédio de ondas eletromagnéticas. Logo, não há
a necessidade de um meio material para ocorre a transferência de calor por radiação. Todos os
corpos emitem radiação e quanto maior a temperatura de um corpo, maior será a radiação emitida
pelo mesmo. O processo de transferência de calor por radiação corresponde à troca líquida de calor
entre a superfície de dois corpos a temperaturas diferentes sem nenhum anteparo à propagação da
radiação entre eles. A figura 1.18 ilustra o processo de transferência de calor por radiação. , onde
uma superfície a uma determinada temperatura é submetida à passagem de um fluido a outra
temperatura.
Luz visível
vermelho
amarelo
violeta
verde
azul
Ultra
Raios X violeta Infravermelho
Raios Ondas de rádio
gama (microondas)
Radiação Térmica
10-5 10-4 10-3 10-2 10-1 100 101 102 103 104
Comprimento de onda, λ [µm]
3x1019 3x1018 3x1017 3x1016 3x1015 3x1014 3x1013 3x1012 3x1011 3x1010
Frequência, f [Hz]
radiação absorvida
radiação transmitida
;(<(= 1
>. '
Onde:
E - fluxo de energia térmica emitido [W/m2]
T – temperatura absoluta da superfície [K]
σ – constante de Stefan-Boltzman – σ = 5,67x10-8 W/(m2K4)
Para um corpo de área finita de superfície As, a uma temperatura uniforme Ts, a taxa de
transferência de calor total devido à radiação é dada por:
9 . >. 9
'
5?@,B?C
Essa é a taxa máxima, considerando que o corpo se comporta com um “corpo negro”. Isso
não ocorre na prática, pois nenhum material comporta-se exatamente dessa forma e por isso defini-
se uma nova propriedade do material chamada de emissividade – ε e a taxa emitida por um corpo
pode ser calculada como segue.
27
5?@ D. 9 . >. 9
'
Pela identidade de Kirchoff, a quantidade de energia absorvida por um corpo é igual a sua
emissividade, logo:
D <
Concluindo, um corpo bom emissor de radiação é também um bom absorvedor e
consequentemente um mau refletor. É importante porém salientar, que essas propriedades dependem
do comprimento de onda da radiação e portanto a absorção e emissão podem ocorrer em
comprimentos diferentes.
Figura 1.22. Transferência de calor por radiação entre dois corpos a temperaturas diferentes.
Considerando que os dois corpos estão a temperaturas diferentes, haverá uma troca líquida
de calor entre os dois corpos dada por:
A taxa de transferência de calor líquida dependerá das características de cada corpo, isto é, de
sua temperatura superficial, de sua área superficial (geometria do corpo), e da emissividade de sua
superfície. O estudo detalhado dos mecanismos de troca de calor por radiação é bastante complexo
(principalmente por causa da geometria do corpo) e foge do objetivo deste curso.
Vamos considerar, entretanto, o caso especial de um corpo qualquer, de área superficial As,
temperatura superficial Ts, e emissividade εs, interagindo com o meio ambiente que o circunda, e
que se encontra a uma temperatura T∞ como mostra a figura 1.23
28
T∞
AS , ε S
TS
Este "meio ambiente" inclui todas as superfícies sólidas que o circundam, bem como o ar
ambiente.Observe que, neste caso, a área superficial do corpo é muito pequena em relação à área de
emissão do "meio". Nesse caso, a taxa líquida de transferência de calor por radiação do corpo pode
ser dada por:
D9 . 9 . >. ( 9
'
:)
'
Exemplos:
1. A superfície de uma placa de aço polido, de 8 m² de superfície, é mantida a uma temperatura de
150 °C. A temperatura do ambiente que a cerca é de 25 °C. Calcular a taxa de transferência de
calor trocado por radiação entre a placa e o ar. Dado: εaço polido = 0,066.
R: 722,25 J
2. Um tubo que transporta vapor passa por um ambiente cuja temperatura média é de 24 °C. O
diâmetro externo do tubo é 70 mm e a temperatura de sua superfície alcança 200 °C. Se a
emissividade da superfície externa do tubo for ε = 0,8 e o coeficiente de transferência de calor
por radiação do tubo para o ambiente vale h = 10 W/(m2K), determine a transferência de calor
por radiação e por convecção para o ambiente em cada metro de tubo.
R: (2K ) 422 J; (MNOP) 387 J
(a) Placas planas paralelas infinitas com a mesma área (figura 1.24):
29
Qrad
A , ε1 A , ε2
Qrad
A1 , T1
A2 , T2
Figura 1.24. Radiação entre cilindros concêntricos.
Uma maneira de reduzir a transferência de calor por radiação entre uma superfície e um meio
é através da utilização sobre essa superfície de materiais com baixa emissividade (altamente
refletivos). Estas blindagens não fornecem nem removem calor do sistema, apenas introduzem uma
"barreira", uma "resistência" adicional à troca de calor entre a(s) superfície(s) e o meio.
30
Exemplo:
1. Em uma central nuclear, a água de refrigeração passa por uma tubulação que contém, no seu
interior, o tubo onde se encontra o combustível nuclear. Se a parede do cilindro interno (ε = 0,19)
se encontra a uma temperatura de 500 K, e a parede interna do cilindro externo (ε = 0,24) está a
uma temperatura de 350 K, determine a transferência de calor por radiação em um metro de
comprimento de tubo. O tubo interno têm um diâmetro de 7cm e o externo um diâmetro de 12cm.
Desconsidere a presença da água passando entre os tubos.
R: 82,63 J
2. O que aconteceria na situação do exercício anterior se fosse adicionada uma barreira radiante de
papel alumínio (ε = 0,04) sobre o cilindro interno?
R: 21,9 J
Como os problemas de transferência de calor por radiação muitas vezes estão associados à
troca de calor por convecção, é conveniente tratar os dois processos de forma semelhante. Para tanto
se define um coeficiente de transferência de calor por radiação com a seguinte forma:
85?@ . . ( 9 :)
D. >. . ( 9
'
:)
'
85?@ D. >. ( 9 ( : )( 9 ( :)
Analogia entre resistência térmica e resistência elétrica para transferência de calor por
radiação
Da mesma forma como feito para os outros processos de transferência de calor, também se
( )
pode determinar uma resistência térmica para a radiação como segue:
1
85?@ .
Logo:
∆
#
Onde # 1
85?@ . [K/W] é a resistência térmica equivalente por radiação.
Exemplo:
Um tubo longo, de 10 cm de diâmetro, que conduz vapor d'água, fica exposto em uma casa de
máquinas, onde a temperatura ambiente é 25 °C. A temperatura da parede externa do tubo é medida
em 120 °C. Calcule a taxa de transferência de calor total do tubo para o ambiente usando o método
das resistências térmicas equivalentes. O comprimento total de tubo que percorre a casa de máquinas
é de 6 m. A emissividade do tubo é 0,7, e o coeficiente de transferência de calor por convecção para
essa situação é de 8,5 W/(m²K).
R: 2.716,6J
32
Nos casos reais, os três processos de transferência de calor podem ocorrer de forma
combinada, portanto é importante ter mecanismos para calcular o fluxo de calor considerando todas
as formas possíveis. Por exemplo, em aplicações de trocadores de calor, um arranjo de tubos pode
ser empregado para a remoção de calor de um líquido quente. A transferência de calor do líquido
quente para o tubo é por convecção. O calor é transferido através da parede do material por
condução, e finalmente dissipado no ambiente por convecção e radiação.
Paredes planas
Considere a parede plana mostrada na Figura 1.25, exposta a um fluido quente em um dos
lados e ao ambiente externo a uma temperatura ambiente no outro lado.
T
Tint
h int T1 T2
h ext
T∞
L
x
Figura 1.25. Transferência de calor combinada através de uma parede plana.
Q& =
(Tint − Text )
Rconv,int + Rcond + Rconv + rad ,ext
Q& =
(Tint − T∞ )
1 L 1
+ +
hint . A k . A hconv,ext . A + hrad , ext . A
Q& = U . A.∆Ttotal
onde A é uma área de a transferência de calor. O coeficiente global de transferência de calor para o
problema de parede plana analisado é:
1
U=
1 L 1
+ +
hint k hconv, ext + hrad , ext
Exemplo:
Um ambiente a 24 °C recebe calor do ambiente externo, que está a 30 °C. Qual a quantidade
de calor recebido? Sabe-se que as paredes tem uma área total de 48 m². O coeficiente de
transferência de calor por convecção no lado interno é estimado em 8 W/m².K, e no lado
externo em 25 W/m².K. As paredes são feitas de concreto, e têm 15 cm de espessura.
Desconsidere a radiação.
R: -795,5 W
34
Sistemas Radiais
Considere o problema de transferência de calor para uma geometria de um cilindro oco (por
exemplo, um tubo ou tubulação) apresentada na figura 1.26. Para exemplificar, será
considerada apenas a convecção interna e externa, sendo desconsiderada a radiação.
rext T∞
Tint T1 T2
rint Q
hint
hext
Observe que neste caso a área para convecção não é a mesma para os dois fluidos. Estas
áreas dependem do diâmetro interno do tubo e da espessura da parede. Neste caso, a taxa de
transferência de calor total é dada por:
Q& =
(Tint − T∞ )
1 ln (rext / rint ) 1
+ +
hint . Aint 2.π .k .L hext . Aext
Nesse caso, o coeficiente global de transferência de calor pode ser baseado tanto na área
interna como na área externa:
1
Q& = U int . Aint .∆Ttotal U int =
1 A . ln (rext / rint ) Aint 1
+ int + .
hint 2.π .k .L Aext hext
35
1
Q& = U ext . Aext .∆Ttotal U ext =
Aext 1 A . ln (rext / rint ) 1
. + ext +
Aint hint 2.π .k .L hext
Exercício:
Desenvolva uma expressão para o coeficiente global de troca de calor U em um tubo de um
determinado material, que é envolto por um isolamento. Considere as convecções interna e externa e
desconsidere a radiação. A expressão para o cálculo deve ser desenvolvida de forma que a taxa de
transferência de calor possa ser calculada com a seguinte expressão: Q& = U int . Aint .∆Ttotal
Importância de U:
O conceito do coeficiente global de transferência de calor é aplicado em muitas situações
práticas. Por exemplo, a transferência de calor através de paredes é o principal item no cálculo de
cargas térmicas de refrigeração e ar condicionado. Por esta razão, muitas situações encontradas na
prática já têm tabelados os valores de coeficiente U, aplicáveis a cada caso. Da mesma maneira,
quando se trabalha com o projeto, seleção e dimensionamento de trocadores de calor, geralmente há
necessidade de se determinar o coeficiente global de transferência de calor, para um determinado
tipo de trocador de calor, operando com determinado fluido, etc. Neste caso, também existem
valores tabelados para situações encontradas na prática.
Exemplos: