Medicina Legal Aula 7

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Faculdade de Direito da UFMG

Departamento de Direito e Processo Penal – DIN

MEDICINA LEGAL
PROFa. LUCIANA GAZZOLA
2024.1

Aula 7
TRAUMATOLOGIA FORENSE
ENERGIAS DE ORDEM FÍSICO-QUÍMICA  ASFIXIAS

Energias de ordem físico-química

 Sã o aquelas em que ocorre impedimento físico à passagem do ar pelas vias


aéreas, alterando a funçã o respirató ria, inibindo a hematose e alterando a
composiçã o química do sangue.

ASFIXIA

 “Síndrome caracterizada pelos efeitos da privaçã o, completa ou incompleta,


rá pida ou lenta, externa ou interna, do oxigênio.” (Genival V. França)
 “Estado de hipó xia e hipercapnia no sangue arterial” (Hygino C. Hércules)

Características gerais das asfixias

 Nã o há sinal constante ou patognomô nico!


 Sinais externos e internos sã o numerosos e muito variá veis:

“cianose” à manchas de hipostase precoces e de coloraçã o escura


congestã o da face e polivisceral
sangue escuro e de fluidez aumentada à “sangue asfíxico”
espuma nas vias aéreas
rigidez muscular à mais precoce e quase ao mesmo tempo nos diversos
segmentos do corpo
petéquias e equimoses  mais comuns nas conjuntivas oculares e serosas
(petéquias subepicá rdicas e subpleurais = manchas de Tardieu)
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ASFIXIAS POR SUFOCAÇÃO

- SUFOCAÇÃO DIRETA

Oclusã o das vias aéreas em qualquer lugar desde os orifícios naturais até os condutos
respirató rios inferiores (traqueia, brô nquios), com impedimento mecâ nico à passagem
do ar.

- SUFOCAÇÃO INDIRETA

Casos acidentais ou criminosos, em que há compressã o, em grau suficiente, do tó rax ou


do abdome, impedindo os movimentos respirató rios.

Sufocação direta por oclusão de boca e fossas nasais:

• Acidental:
Perda da consciência e queda sobre superfícies macias
“Brincadeiras” com sacos plá sticos

• Criminosa:
Desproporçã o de forças entre vítima e agente
Infanticídio
Violência sexual
Amordaçamento

Sufocação direta por oclusão das vias respiratórias:

• Acidental:
Corpos estranhos na via aérea
Aspiraçã o de vô mito em doentes mentais, embriagados
Cirurgia bucal ou otorrinolaringoló gica
Obstruçã o por pró tese dentá ria em idosos
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- SUFOCAÇÃO INDIRETA

 A compressã o impede a expansã o torá cica na inspiraçã o e a movimentaçã o


abdominal
 Exemplos: grandes multidõ es, “exortador”, desmoronamentos, recém-nascidos
que dormem com adultos no mesmo leito (sufocaçã o direta e indireta), ...

Obs.: má scara equimó tica da face ou sinal de Morestin

- SUFOCAÇÃO POSICIONAL

 Tipo de sufocaçã o indireta


 Posiçã o capaz de impedir ou dificultar seriamente a ventilaçã o pulmonar, apó s a
instalaçã o da fadiga e da falência muscular respirató ria
 Exemplos: crucificaçã o ou posicionamento prolongado de “cabeça para baixo”

ASFIXIAS POR CONSTRIÇÃO CERVICAL

Importantes e vitais estruturas anatô micas no pescoço

Obs.: mecanismo reflexo  hipotensã o e bradicardia reflexas: compressã o do seio


carotídeo
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TIPOS DE CONSTRIÇÃO CERVICAL:

 ENFORCAMENTO
 ESTRANGULAMENTO
 ESGANADURA

1) ENFORCAMENTO

 Conceito:
“Forma de asfixia mecâ nica produzida por constriçã o do pescoço por meio de um laço
acionado pelo peso da pró pria vítima”

 Suspensã o completa ou típica


 Suspensã o incompleta ou atípica: apoio pelos pés ou joelhos; nã o é tã o rara!

Sulco cervical: ú nico, bem marcado, alto no pescoço (acima do osso hió ide), descontínuo
e interrompido no nó , heterogêneo, direçã o oblíqua ascendente

Causa jurídica da morte

 Maioria: suicídios
 Restante: acidentes (crianças e parafilias)
 Homicídio: raríssimos (desproporçã o de forças ou uso de
depressores do SNC)

 Questõ es importantes:
suspensã o em vida? sinais de trauma (homicídio)? simulaçã o de suicídio?
exame toxicoló gico?
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2) ESTRANGULAMENTO

Conceito
Forma de asfixia em que a constriçã o cervical é feita por meio de uma laço acionado por
uma força DIVERSA do peso do corpo da vítima.

 Pode ser produzida pelos membros, com ou sem auxílio da roupa da vítima
 Os sinais gerais de asfixia sã o constantes
 Causas jurídicas: maioria homicídios; raramente acidentais (parafilias com sinais
de prá tica masturbató ria, ...)

Características gerais do sulco:

- Profundidade regular e uniforme, sem descontinuidade e menos acentuada que no


enforcamento suicida
- Direçã o diferente: sentido horizontal; pode ser ascendente ou descendente em
homicídios, em que o agente puxa o laço para cima e em sua direçã o
- Trespassamento de uma extremidade sobre a outra
- Estrias ungueais e escoriaçõ es nas proximidades do sulco sã o muito comuns

3) ESGANADURA

 Conceito: asfixia mecâ nica pela constriçã o do pescoço pelas mã os


 Forma menos comum de constriçã o cervical com êxito letal
 Pode vir associada aos estrangulamentos
 Condiçã o de êxito letal: superioridade de forças ou impedimento de reaçã o da
vítima (ex: depressores do SNC)
 De modo geral, é sempre homicida!
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ASFIXIAS POR MODIFICAÇÕES DO AMBIENTE

Confinamento

 Tipo de asfixia em que um ou mais indivíduos ficam presos em ambiente sem


renovaçã o adequada do ar.
 Nã o há necessidade de que o ambiente esteja hermeticamente vedado!!
 Ex: desabamentos, desmoronamentos, cavernas e tú neis subterrâ neos.

Soterramento

Por soterramento entendem-se todas as formas de morte em que o indivíduo fique


completamente coberto por escombros de um desmoronamento/desabamento ou por
terra ou substâ ncias só lidas pulverulentas (sepultamento).

Natureza acidental, na grande maioria dos casos.

Hygino: “em sentido amplo e em sentido estrito”

- Conceito (estrito) à asfixia mecâ nica por obstruçã o das vias aéreas por terra ou
substâ ncias pulverulentas.

- Amplo à 4 mecanismos!!!

 Diagnó stico:

- importante o estudo do local;


- presença de substâ ncias só lidas ou semissó lidas nas vias aéreas e digestivas = sinal de
ato vital de respiraçã o e deglutiçã o (sinal de Montalti)
- associaçã o de mecanismos: lesõ es traumá ticas contusas.
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Asfixia por monóxido de carbono

 Fixaçã o do CO na hemoglobina = asfixia tissular por carboxiemoglobina

 O2Hb + CO = COHB + O2

 Importantes!!
- Hipostases e sangue de cor carmim
- Putrefaçã o tardia

Afogamento

“Afogamento é um tipo de asfixia mecâ nica produzido pela penetraçã o de um meio


líquido ou semilíquido nas vias respirató rias, impedindo a passagem de ar até os
pulmõ es.” (França)

1) “Afogados” brancos de Parrot ou secos ou por inibiçã o

2) Afogados azuis, ú midos ou verdadeiros

Putrefação e flutuação:

 Imersã o: densidade do corpo;


 Flutuaçã o: gases da putrefaçã o com aumento volumétrico do corpo
de 24 horas a 5 dias;
 Segunda imersã o: rotura dos tecidos e extravasamento dos gases;
 Segunda flutuaçã o: adipocera (muito tardia).
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Afogamento – sinais externos:

- esfriamento precoce
- pele anserina
- maceraçã o com destacamento da epiderme em dedos de luva e “mã os de
lavadeira”
- lesõ es de arrasto (lesõ es de Simonin)
- mancha verde da putrefaçã o no esterno ou parte inferior do pescoço
- cogumelo de espuma (enfisema hidroaéreo)
- erosõ es nos dedos e corpos estranhos subungueais

Afogamento – sinais internos:

- Líquido e corpos estranhos nas vias respirató rias e digestivas superiores


- Lesõ es pulmonares: edema, enfisema aquoso, equimoses subpleurais, manchas
de Paltauf
- Congestã o polivisceral
- Presença de líquidos no ouvido médio
- Hemorragia temporal e etmoidal
- Hemodiluiçã o (á gua doce) e hemoconcentraçã o (á gua salgada), com
incoagulabilidade do sangue
- Crioscopia de Carrara

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