Sistema Financeiro

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CAPÍTULO IV – O SECTOR FINANCEIRO DA ECONOMIA

1. CONCEITO
A componente financeira é extremamente importante numa economia, pois, é
com os fluxos financeiros que se viabiliza e dinamiza o sector real.
Um sistema financeiro é um conjunto de órgãos, instituições e mercados que
asseguram o fluxo de recursos financeiros numa economia, transferindo-os de uns
agentes económicos (com capacidade de financiamento) para outros (os necessitados
de financiamento) de uma maneira eficiente.
Daí a importância de um sistema financeiro: transferir os recursos em poder dos
poupadores (aforradores-investidores) para o sector produtivo ou de consumo, isto é,
transferir os recursos do sector monetário para o sector real da economia (da economia
monetária à economia real).

2. ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE UM SISTEMA FINANCEIRO (5)


• Moeda
• Instituições financeiras
• Instrumentos financeiros
• Mercados financeiros
• Autoridades de supervisão (bancos centrais e reguladores).

3. OPERAÇÕES FINANCEIRAS
• de forma geral: actividades e processos que envolvem a gestão dos recursos
financeiros de uma organização.
• de forma precisa: transferência de recursos financeiros entre agentes
económicos, constituindo activos e passivos.
• Activos vs passivos financeiros
• Activo financeiro: bem ou conjunto de direitos que uma possui e que
pode gerar rendimento (efectiva ou potencialmente).
• Passivo financeiro: recurso financeiro cuja posse gera um conjunto de
obrigações de pagar um rendimento ao seu dono.

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4. MOEDA

• O que é a moeda: um meio de troca, de aceitação geral, permitindo que os


intercâmbios de bens se realizem de forma mais fácil, rápida e segura.

• Funções da moeda
o meio de pagamentos (transacção): a moeda é intermediária das trocas,
superando as limitações evidenciadas pela permuta
o reserva/depósito de valor (função de especulação e função de precaução):
permite a transferência do poder de compra para uma ocasião futura
o padrão de medida (unidade de conta; medida de valor): a moeda funciona
como um denominador comum que estabelece o valor de todas as outras
mercadorias.

• Características essenciais da moeda


• Segurança: indestrutibilidade, inalterabilidade, dificuldade de falsificar
• Homogeneidade
• Aceitabilidade geral
• Divisibilidade
• Transferibilidade
• Facilidade de manuseio e transporte
• Oferta limitada
• Reduzida procura não monetária

• Preços
• Conceito: valor monetário expresso numericamente e associado a uma bem ou
serviço. É a quantidade de dinheiro equivalente a um bem ou serviço.

• Inflação/deflação
o Inflação geral e continuada (permanente) do nível geral de preços.
o Deflação: descida geral e continuada (permanente) do nível geral de
preços.

• Medição da inflação: Índice de Preços


o A medição das variações do nível geral de preços assenta na utilização
de um “índice de preços”; no caso angola, as contas sobre a inflação são
realizadas periodicamente pelo INE, que resultam na construção de
diversos índices: índice de preços no produtor (IPP), a nível das
províncias e a nível nacional, e índice de preços no consumidor (IPC), a
nível das províncias e a nível nacional.
o Para as taxas de inflação de referência nacional, toma-se o “índice de
preços no consumidor nacional” (IPCN), base Dezembro de 2020.
𝑰𝑷 − 𝑰𝑷
o Fórmula geral da taxa de inflação (π): π = 𝒕𝑰𝑷 𝒕−𝟏
𝒕−𝟏

• Tipos de inflação:
o Horizonte temporal: mensal; acumulada; anual; homóloga;
o Magnitude/velocidade: hiperinflação; moderada; galopante;

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• Principais efeitos da inflação
o Impacto redistributivo de activos e passivos: quando as pessoas devem
dinheiro, um aumento acentuado de preços é para elas um lucro caído
do céu (súbito)
o Destorce os preços relativos (o que custa um bem em termos de outros
bens)
o Diminui o poder de compra
o Desencorajamento da poupança (a longo prazo)
o Necessidade de ajustes nas taxas de juro reais, salários, pensões…
o Redução da competitividade internacional da economia

• Moeda local vs. Divisas


o Divisa: moeda estrangeira (não emitida pelo Banco Central do país em
que está a ser utilizada).

o Taxa de câmbio: é o preço de uma moeda em termos de outra moeda


(preço do dinheiro).

o Regimes cambiais: fixo, semi-fixo e flutuante.


• Regime fixo (câmbios fixos): a taxa de câmbios entre duas
moedas está determinada pelo Banco Central e não varia; este
restabelece equilíbrios injectando ou comprando moeda própria
ou divisas para compensar excessos ou défices; ou então
desvalorizando ou (re)valorizando a moeda nacional.

• Regime semi-fixo: o Banco Central define um intervalo ou banda


(com uma taxa de câmbios mínima e máxima) dentro do qual se
devem realizar os câmbios. É uma forma de mitigar o regime de
câmbios fixo, já que é muito difícil mantê-lo.

• Regime flutuante ou flexível (câmbios flexíveis ou flutuantes): a


paridade cambial varia permanentemente, sendo determinada
não pelos Bancos Centrais, mas pelo mercado cambial (procura
e oferta de divisas), que fixa livremente os preços. Neste caso, já
não se tornam necessárias a desvalorizações ou (re)valorizações
da moeda nacional, uma vez que a apreciação e depreciação
monetárias se produzem de forma permanente. No entanto, os
Bancos Centrais poderaão intervir (de distintas maneiras) se se
produzem desequilíbrios cambiais graves.

o Risco cambial: é a possibilidade de um activo ser negativamente afectado


por uma depreciação cambial.

o Cotação da moeda local vs. Divisas:


▪ Directa: moeda local por unidade de divisa: 786kz=1usd
▪ Indirecta; divisa por unidade de moeda local: 0,003usd=1kz

o Apreciação/depreciação vs Valorização/desvalorização da moeda


• Apreciação / valorização
• Depreciação / desvalorização

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5. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Conceito
Instituição financeira é uma organização vocacionada a optimizar a alocação de
recursos financeiros próprios e/ou de terceiros, avaliando a correlação de risco, custo e
prazo das suas operações.
A actividade típica das instituições financeiras é a intermediação financeira.

Regime jurídico em Angola: Lei nº 14/21 de 19 de Maio (Lei de Bases das Instituições
financeiras).

Tipos de instituições financeiras (art. 7)


• Instituições financeiras bancárias
• Instituições financeiras não bancárias
• Outras que sejam como tais qualificadas pela lei

Instituições financeiras bancárias: aquelas cuja actividade principal consiste em


receber do público depósitos ou outros fundos reembolsáveis, a fim de os aplicar por
conta própria, mediante a concessão de crédito.

Instituições financeiras não bancárias: aquelas cuja actividade principal não


contempla as funções tipicamente bancárias como captar depósitos em forma de contas
bancárias

Exemplos de Instituições financeiras bancárias (art. 7, §2)


▪ Bancos comerciais
▪ Bancos de Investimentos
▪ Bancos de Desenvolvimento
▪ Caixas de Crédito Agrícola Mútuo
▪ (…)

Classificação das Instituições financeiras não bancárias


• Não bancárias ligadas à moeda e ao crédito
• Não bancárias ligadas ao Mercado de Valores Mobiliários
• Não bancárias ligadas à actividade seguradora e previdência social

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Exemplos de Instituições financeiras não bancárias ligadas à moeda e ao crédito
(art. 7, §3)
• Casas de Câmbio
• Instituições de Moeda Electrónica
• Instituições Financeiras de Microfinanças
• Sociedades Cooperativas de Crédito
• Sociedades de Cessão Financeiras
• Sociedades de Garantias de Crédito
• Sociedades de Locação Financeira
• Sociedades de Microcrédito
• (…)

Exemplos de Instituições financeiras não bancárias ligadas ao Mercado de


Valores Mobiliários (art. 7, §4)
• Sociedades Correctoras de Valores Mobiliários
• Sociedades de Investimento
• Sociedades Distribuidoras de Valores Mobiliários
• Sociedades Gestoras de Organismos de Investimento Colectivo
• Sociedades Gestoras de Património
• (…)

Exemplos de Instituições financeiras não bancárias ligadas à actividade


seguradora e previdência social (art. 7, §5)
• Sociedades Seguradoras e Reasseguradoras
• Fundos de Pensões e suas Sociedades Gestoras
• (…)

6. AUTORIDADES FINANCEIRAS (Autoridades monetárias)

• O que são: Conjunto de instituições e organizações que estabelecem normas e


as executam no sentido de controlar o volume de moeda em circulação, de meios
de pagamento e as condições de crédito e de financiamento na economia.

▪ As principais Autoridades supervisoras de instituições financeiras


angolanas
o Banco Central (para todas as instituições financeiras bancárias e as não
bancárias ligadas à moeda e ao crédito)

o Organismo de Supervisão do Mercado de Valores Mobiliários (para


as instituições financeiras não bancárias ligadas ao Mercado de Valores
Mobiliários)

o Organismo de Supervisão da Actividade Seguradora (para as


instituições financeiras não bancárias ligadas à actividade seguradora e
previdência social)

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• O Banco Central
o Os Bancos Centrais são a principal autoridade monetária no sistema
financeiro de um país. No caso angolano, o Banco Central é o BNA.

o Natureza: O Banco dos Bancos

o Funções de um Banco Central


• Gestor da política monetária
• Gestor de reservas oficiais de ouro e de divisas
• Emissor da moeda nacional
• Regulador e supervisor das instituições financeiras bancárias e
as não bancárias com actividade ligada à moeda

• Angola: Lei n.º 24/21, de 18 de Outubro (Lei do Banco Nacional de


Angola): lei que define a natureza, atribuições e estrutura do BNA.

• Natureza do BNA (art. 1): pessoa colectiva de direito público, dotada de


autonomia administrativa, financeira e patrimonial.

• Principais atribuições do BNA


o assegurar a preservação do valor da moeda nacional; participar
na definição das políticas monetária, financeira e cambial;
executar, acompanhar e controlar as políticas monetárias,
cambial e de crédito definidas; gerir o sistema de pagamentos;
administrar o meio circulante no âmbito da política económica do
país (art. 3)
o Emitir a moeda nacional (Banco emissor): art. 6
o Actuar como banqueiro único do Estado; garantir e assegurar um
sistema de informação, compilação e tratamento das estatísticas
monetárias, financeiras e cambiais e demais documentação;
elaborar e manter actualizado o registo completo da dívida
externa do País, assim como efectuar a sua gestão; elaborar a
Balança de Pagamentos externos do país. (art. 18)
o Supervisionar as instituições financeiras (art. 21)
o Emitir títulos (de dívida) em nome do Estado (art. 22)

• Comité de Política Monetária (CPM) do BNA: O Comité de Política


Monetária do Banco Nacional de Angola (BNA), abreviadamente
designado por CPM, é uma entidade de coordenação em matéria de
Política Monetária, a quem compete estabelecer directrizes de política
monetária, analisar e decidir sobre matérias com ela relacionadas, decidir
sobre as taxas de juro directoras, onde se inclui a Taxa BNA e os
coeficientes de reservas obrigatórias, visando permitir ao Conselho de
Administração do Banco o cumprimento das suas atribuições. (art. 1 do
Regulamento do Comité de Política Monetária).

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7. MERCADOS FINANCEIROS

• Mercado financeiro: ambiente de negociação da compra e venda de dinheiro ou


outros activos financeiros como títulos, acções, derivados, etc.

• Algumas tipologias de mercados financeiros

• Mercados primários: de emissão (negociação directa entre emissores e


investidores)
o De acções: implicam, da parte do investidor, entrada no capital social
(accionista), direito de receber dividendo e, em certos casos, direito de
participar na gestão da sociedade e direito de voto.
o De Obrigações: não implicam entrada do investidor no capital social da
sociedade.

• Mercados secundários: de negociação (os investidores realizam compras e


vendas de activos já emitidos por empresas); é o caso das Bolsas (mercado de
capitais).

• Mercado (monetário) interbancário:


▪ O que é: mercado no qual os bancos emprestam fundos uns aos outros
por um prazo especificado (normalmente muito curto prazo como uma
semana ou mesmo um dia – overnight). São empréstimos para resolver
pontuais problemas de tesouraria (excessos ou défices).

▪ Principal função: financiamento entre bancos para satisfazer as suas


permanentes necessidades de liquidez, compensando quotidianamente
os seus excedentes e défices em massa monetária (tesouraria).

• Mercados cambiais: conjunto de regras, instituições e mecanismos e


operações de conversão de moeda nacional em moeda estrangeira e vice-
versa. Portanto, o específico deste mercado é o facto de as moedas serem
trocadas entre si e não por títulos.

o Mercado de capitais: sistema de distribuição de valores mobiliários que


proporciona liquidez aos títulos de emissão de empresas e viabiliza o processo
de capitalização. É constituído pelas Bolsas de Valores, Sociedades
Correctoras e outras instituições financeiras autorizadas (por exemplo as
instituições financeiras de liquidação das transacções realizadas em bolsa).

o As Bolsas de Valores: são mercados em que se transaccionam acções de


empresas de capital aberto ou outros valores mobiliários. Engloba todos os
mercados onde são transaccionados valores mobiliários, ou seja, títulos de
longo prazo, acções, obrigações e produtos semelhantes negociáveis.

• A BODIVA (Bolsa de Dívida e Valores de Angola)


o é a Bolsa de Valores de Angola, lançada oficialmente a 10 de Julho de
2014
o Mais sobre a BODIVA: https://www.bodiva.ao/

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8. INSTRUMENTOS FINANCEIROS

• Instrumentos financeiros: são títulos representativos de contratos financeiros,


gerando um activo financeiro para uma parte e um passivo financeiro para a
outra e que se materializam em documentos. Esses títulos financeiros podem
ser de dívida ou de propriedade.

• Títulos de dívida (Obrigações):


o São títulos de de curto e médio prazos
o Geram dívida para o emitente e direito a cobrar (crédito) para o investidor
o São emitíveis quer pelo Estado, quer pelas empresas);
o normalmente são de rendimento fixo (independente dos resultados do
emitente).

• Títulos de propriedade (Acções):


o São títulos de longo prazo
o Implicam uma participação no capital social da empresa (representam
um direito de propriedade)
o emitíveis apenas por empresas, não pelo Estado);
o são de rendimento variável (depende dos resultados da empresa).
o são uma participação no capital social de uma empresa

o o valor da acção: nominal vs de mercado


▪ valor nominal: definido para cada fracção do capital no momento
da constituição da sociedade;
▪ valor de mercado: definido pela procura e pela oferta

o direitos conferidos pelas acções aos seus detentores (accionistas):


▪ direito de voto: participação na gestão da empresa através das
assembleias gerias e exercício de voto
▪ direito pecuniário (aos dividendos): participação nos lucros na
proporção do número de acções
▪ direito ao reembolso: se a sociedade é dissolvida, o accionista
com títulos em sua posse recebe, como último recurso, após o
pagamento obrigatório do activo e do passivo, e
proporcionalmente aos títulos que possui, o dinheiro ainda
disponível.

• Principais títulos da dívida pública em Angola


o Bilhetes do Tesouro (BT): de curto prazo (até 12 meses); sem cupão
de juros; na data de vencimento o investidor recebe um único cupão de
capital e juros.
o Obrigações do Tesouro (OT): de médio e longo prazos (a partir de 2 ou
três anos); o investidor recebe pagamentos de juros de cupão mensal e
na data de vencimento o capital investido.
o Eurobonds: títulos de dívida público emitidos em moeda estrangeira
(dirigidos a investidores estrangeiros, fora do país).

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• Taxas de juro:
• O que são: custo, medido em percentagem, decorrente do empréstimo
de determinado montante capital (empréstimo ou depósito). É o preço do
dinheiro.

• Taxa de juros de depósitos vs taxa de juros de crédito


o De depósitos: taxa a que as instituições financeiras retribuem os
aforradores/depositantes
o De crédito: taxa a que as instituições de crédito emprestam o
dinheiro.

• Taxa de juros fixa vs. taxa de juros variável


o Fixa: inalterada durante o prazo que tiver sido acordado com a
instituição de crédito.
o Variável: pode alternar-se, dependendo da evolução do
parâmetro de referência (indexante ou taxa de referência).

• Taxa de juro nominal vs taxa de juro real


o nominal: taxa aparente; serve apenas para calcular o cupão no
período de referência;
o real: taxa de juro líquida, após a dedução da inflação da taxa de
juro nominal.

• Taxa de juros simples vs taxa de juros composta


o simples: juros vencidos não geram juros: C.i.T (C: Capital; i: taxa
de juro; T: vencimento/tempo)
o composta: juros vencidos geram juros: C(1 + i)T

• Spread (prémio do risco): diferencial da taxa de juro que um investidor


paga por um título de dívida emitido por um Estado ou Empresa e o outro
título do mesmo valor emitido por outro Estado ou empresa.

• Agências de Rating (Agências de Notação Financeira)


• Instituições financeiras que têm por objecto atribuir, de modo demonstrável
e comparável, notações de risco de crédito a emissões de dívida bem
identificadas; avaliam o risco de um país, empresa, ou até de um produto
financeiro, conferindo-lhe uma “notação”.

• As mais famosas Agências de Rating mundiais: Fitch; Standard & Poor’s;


Moody’s.

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