Evolução Sed Tec BC Metass RP - Síntese
Evolução Sed Tec BC Metass RP - Síntese
Evolução Sed Tec BC Metass RP - Síntese
Os sedimentos cenozóicos são representados pela Formação Bar- idade mínima de intrusão dos diques de diabásio sobre os quais está
reiras, composta por areias, argilas, e camadas e lentes de cascalho, depositada a bacia, Karmann (1987) determinou sua deposição entre
terraços formados por conglomerados inconsolidados (Formação Pau- l. 100 e 500Ma, o que estenderia a idade máxima dos sedimentos para
Brasil) e aluviões recentes, arenosos e argilosos. A coluna estrati- o período Esteniano (1200-1000Ma), no final do Mesoproterozóico.
gráfica da bacia é mostrada na figura 2. Mascarenhas & Garcia (1969) no Mapa Geocronológico da Bahia,
A interpretação dos ambientes deposicionais das rochas do Grupo colocaram o Grupo Rio Pardo entre 700 e 450Ma, principal período
Rio Pardo confirma as determinações de carbono e oxigénio efetuadas de sedimentação do Neoproterozóico. O principal evento tectono-
por Costa Pinto (1977), que indicaram ambiente marinho e parcial- magmático compressivo do Ciclo Brasiliano é datado em 600±100Ma
mente cçntinental para a Formação Camacã, marinho para as for- (Delgado et al 1994).
mações Água Preta e Serra do Paraíso e de água saloba para a Formação Desse modo, embora não exista consenso relativamente à idade
Salobro. Uma constatação interessante dessa autora é a similaridade máxima da sedimentação do Grupo Rio Pardo, os dados de Cordani &
(isotópica) entre as lentes de carbonato da Formação Água Preta e a lyer (l 976), Karmann (1987) e Mascarenhas & Garcia (1989), indicam
Formação Serra do Paraíso, confirmando a passagem lateral entre elas que a fase final da sua deposição seguramente se processou durante
determinada por Karmann (1987). esse evento compressivo.
Recentemente, foram analisados na Australian National University,
GEOCRONOLOGIA As primeiras determinações de idade do grãos de zircão em amostra do topo da Formação Salobro. As análises,
Grupo Rio Pardo foram feitas por Cordani (1973) pelos métodos Rb-Sr efetuadas pelo método SHRIMP, forneceram idades aparentes (207 Pb
e K-Ar em rocha total e K-Ar em flogopita de filitos, ardósias e / 206Pb) de 2.068 ±14 e 2.103 ±18 Ma (U. Cordani, com. escrita 1999),
mármores das formações Água Preta, Camacã e Serra do Paraíso, semelhantes às do embasamento cristalino a norte e sul da bacia.
derivados da faixa de dobramento (Tabela 1). A isócrona de referência
mencionada na tabela, com idade de 670Ma, é concordante com as TECTÔNICA Geofísica Objetivando relacionar os dados
datações K-Ar e corresponde à época de fechamento dos sistemas, em estruturais disponíveis para a Bacia Metassedimentar do Rio Pardo
relação à difusão de argônio e redistribuição de estrôncio (Cordani & com o seu ambiente tectônico, foi feito um modelamento gravimétrico
lyer 1976). Os mesmos autores consideram que a razão inicial de 0,724 da bacia e do seu embasamento. O modelamento foi feito pelo geofísico
representa um intervalo de tempo de 100 a 200 m. a. entre a deposição Raymundo A. Dias Gomes, do Serviço Geológico do Brasil, utilizando
dos sedimentos e o mencionado fechamento, que corresponderia ao o GRAVPOLY, software específico que emprega o algoritmo de
resfriamento regional da faixa dobrada. Neste caso, a deposição do Talwani (Talwani & Heirtzler 1964). Foi modelado um perfil entre a
Grupo Rio Pardo teria ocorrido no máximo há 670Ma, no período cidade de Santa Luzia e o rio Jequitinhonha a sudoeste de Ventania,
Criogeniano. aproximadamente paralelo à seção estrutural da figura l, com direção
Os mesmos dados foram tratados por Karmann (1987), que obteve azimutal 30°e extensão de 125km; parte do perfil é mostrada na figura
uma idade isocrônica de 541, 4±78, 3Ma. Adotando 1.100Ma como 3. Foram determinados os seguintes valores de densidade das rochas:
Figura l -A: Esboço geológico e seção estrutural esquemática da Bacia Metassedimentar do Rio Pardo (mapa geológico compilado de Pedreira
1996; seção baseada em Karmann 1987). B: Situação regional da Bacia Metassedimentar do Rio Pardo (modificada de Pedrosa-Soares 1996).
Legenda: BMRP- Bacia Metassedimentar do Rio Pardo; CSF- Cráton do São Francisco; CZ- Coberturas cenozóicas; FS- Formação Salinas;
GMI- Grupo Macaúbas Indiviso; ITB- Subgrupo Itaimbé; SAL-Formação Salobro; XI- Xistos de Itagimirim. Localidades: Ma-Maiquinique;
Sa-Salinas.
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Figura 2 - Coluna estratigráfica da Bacia Metassedimentar do Rio Pardo (escala vertical arbitrária). Legenda: l-Conglomerado; 2-Brecha;
3-Arenito; 4-Grauvaca; 5-Arcóseo; 6-Pelitos em geral; 7-Filito; 8-Carbonatos; 9-Estratificação cruzada acanalada; 10-Granocrescência;
11-Marcas onduladas; 12-Fendas de ressecamento;13-Marcas de sola;14-Estrat. convoluta; 15-Laminito algal; 16-Estromatólito colunar
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ESTRATIGRAFIA INTERPRETAÇÃO
Fig. 5 - Estratigrofia, sistemas deposicionais e tectônica proterozóicos, da Bacia Metassedimentar do Rio Pardo.
pressiva do evento Brasiliano (600±100Ma). O empilhamento de gráficas correlacionáveis com outras envolvidas na evolução da Faixa
escamas de empurrão aumentou a carga sobre a crosta, gerando por Araçuaí, constitui um terreno de alta relevância para o entendimento
subsidência flexural uma depressão na borda do cráton, a qual foi da evolução tectônica do Cráton do São Francisco e da Faixa Araçuaí.
preenchida pela Formação Salobro, composta por sedimentos proven-
ientes das formações componentes do Subgrupo Itaimbé. Tanto a Agradecimentos Este trabalho é uma contribuição ao Programa
presença da primeira fase de deformação como o preenchimento da de Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil - PLGB, executado
bacia por sedimentos sin-orogênicos, satisfazem a condição de sintec- pela CPRM -Serviço Geológico do Brasil. À Companhia Baiana de
tonismo (Graham et al. 1986) para bacias de antepaís. Pesquisa Mineral - CBPM pelo apoio de campo e as análises petro-
A Bacia Metassedimentar do Rio Pardo, por; i) sua localização no gráficas executadas em seu laboratório, a dois revisores anónimos
limite entre o Cráton do São Francisco e a Faixa Araçuaí; ii) preservar cujas sugestões melhoraram consideravelmente a versão preliminar do
evidências de um Ciclo de Wilson; e, iii) possuir unidades litoestrati- trabalho e a A. C. Pedrosa Soares pelo estímulo para sua publicação.
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