Aula 9

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DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA E SAÚDE PÚBLICA

CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM GERAL

DISCIPLINA: ENFERMAGEM PEDIATRICA NA ADOLESCENCIA E INFANCIA

ANO LECTIVO 2024.

PERÍODO LABORAL

DOCENTE: dr. Madalena Ripinga

PLANO DE AULA

TOPICO: Vacinação

Conteúdos: Programa Alargado de Vacinação (PAV): 1ª Parte

Calendário Vacinal:
Até ao fim da aula os estudantes devem ser capazes de:

Sobre o conteúdo “Programa Alargado de Vacinação - PAV”:

 Definir os termos: PAV, cobertura vacinal, cadeia do frio, vacina, sistema imunológico, imunidade,
anticorpos, vacina, vacina viva, atenuada, recombinada, eficácia da vacina e sua importância
clínica.
 Descrever a importância das vacinas na prevenção de doenças nas pessoas vacinadas e na
população em geral.
 Descrever o desenvolvimento do sistema imunológico nas crianças.
 Identificar a importância da monitorização e avaliação no âmbito do programa
 Identificar os indicadores usados para monitorização/avaliação neste programa e conhecer as
fichas
 Descrever como a cobertura vacinal é controlada em Moçambique e porque é importante
 Definir cobertura vacinal de DPT3 e de sarampo

O sistema imunológico em crianças

O sistema imunológico, através da imunidade, tem a função de proteger o nosso organismo das
agressões exteriores (como tóxicos e microrganismos) e internas (ex células tumorais do próprio
organismo, mas que escapam do seu controlo e se tornam agressivas) perigosas para nossa saúde.

O sistema imunológico ao nascimento ainda é imaturo e necessita de estímulos externos para sua
maturação, que acontece ao longo dos primeiros 11 anos de vida.

A imunidade está organizada em duas linhas de defesa:

 A imunidade específica ou adquirida: os linfócitos T e B se activam só após o contacto com uma


substância específica, o antígeno, provocando uma resposta dirigida ao antígeno identificado.
 A imunidade não-específica ou inata: os granulócitos juntamente com os mediadores químicos,
neutralizam os elementos estranhos através do processo da inflamação.

Define-se antígeno, qualquer substância, capaz de gerar uma resposta imune específica.
Normalmente os antígenos são componentes (proteínas, polissacarídios ou lípidos) da membrana de
microrganismos como bactérias, vírus, fungos, mas podem também ser moléculas livres como
substância tóxica, medicamentos.

Os anticorpos ou imunoglobulinas (IgG, IgM, IgA, IgE e IgD), são glicoproteínas específicas
produzidas pelos linfócitos B em resposta a um antígeno.

A resposta do sistema imunitário adquirida ou específica inicia com o reconhecimento do antígeno


pelos linfócitos T e activação dos linfócitos B, que formam os anticorpos que se ligam ao antígeno para
formar um “complexo” antígeno-anticorpo, capaz de desencadear os mecanismos da imunidade
conducentes à sua destruição e eliminação.

A imunidade específica pode ser espontânea, após um processo infeccioso, ou induzida de maneira
activa ou passiva:
 Activa: uso de microorganismos vivos atenuados, mortos e componentes inactivados de
microorganismos (vacinas ponto 2.2)
 Passiva: administração de anticorpos previamente formados (imunoglobulinas) ou soros
hiperimunes

Este tipo de imunidade é muito eficaz na defesa contra agressões específicas; supõe uma resposta
mais demorada pois é preciso reconhecer o antígeno e produzir os anticorpos (resposta imunitária
primária). Tem uma memória imunológica ou seja após ter enfrentado o antígeno estranho e repelida a
agressão, algumas células persistem activadas contra esse antígeno particular, de modo que numa
futura agressão pelo mesmo antígeno, essas células irão desencadear uma resposta imune mais
imediata e amplificada (resposta imunitária secundária).

A imunidade adquirida ou específica funciona mediante dois mecanismos diferentes mais interligados,
que participam em todas as reacções imunitárias:

 Imunidade humoral (ou mediada por anticorpos), os linfócitos B identificam os antígenos


estranhos e produzem anticorpos específicos para se ligarem aos antígenos; este tipo de
imunidade é responsável pela defesa perante tóxicos e microrganismos extracelulares.
 Imunidade celular (ou mediada por células), os linfócitos T e outras células imunitárias,
participam com mínima presença de anticorpos. A imunidade celular combate os patógenos
intracelulares, e é responsável pela destruição de células próprias infectadas por
microrganismos e de células cancerosas.

Durante a sua vida a criança continua a ser exposta ao ambiente exterior e desenvolve outros tipos de
imunidade:

Imunidade activa natural, resultante da exposição natural a um antígeno: como por exemplo a exposição a
um vírus durante uma gripe

 Imunidade activa artificial, resultante de uma exposição ao antígeno provocada e controlada:


como no caso das vacinações (ver ponto 2.2)
 Existem também soros com anticorpos antígeno-específicos que podem ser injectados em
determinados casos particulares de exposição a um agente infeccioso e quando há
necessidade de se obter uma resposta rápida contra o antígeno: como por exemplo as Ig
contra o tétano ou contra o Vírus da HepB.

Vacinação

A vacinação é a introdução no nosso corpo de substâncias estranhas (antígeno) com o fim de


activar o sistema imunológico específico a produzir anticorpos contra aquele antígeno,
neutralizá-lo e criar uma memória imunológica de forma que o sistema imunitário possa
reconhecer e responder rapidamente a uma eventual reexposição ao mesmo antígeno.

Através da vacinação pretende-se desencadear no organismo o processo de imunização passivo


cujo objectivo é de conferir ao organismo um estado de resistência, ou seja, de imunidade, contra
determinadas enfermidades infecciosas.

As vacinas são constituídas por partículas de microrganismos patógenos, ou por microrganismos


inteiros ou por uma combinação de diferentes partículas nesta ordem, as vacinas podem ser
diferenciadas

Vacina viva atenuada: é constituída por um vírus ou bactéria inteiro vivo mas sem as
características que determinam a doença: são mantidas somente as características capazes de
desencadear a resposta imunológica, por exemplo, a vacina contra a Poliomielite;

 Vacina inactivada: é constituída por um vírus ou bactéria morto que mantém as


características capazes de desencadear a resposta imunológica; exemplo a vacina
contra a tosse convulsa;
 Vacina recombinada: é uma vacina criada artificialmente em laboratório que contém
somente as características capazes de desencadear a resposta imunológica; exemplo a
vacina contra a HepB;
 Partículas de microrganismo: são partículas ou toxinas do microrganismo que
desencadeiam a resposta imunológica sem causar a doença; exemplo o Toxóide do
Tétano (TT).
As vacinas devem ter pelo menos duas características que são a segurança de não causar a
doença e de ter mínimos efeitos colaterais e a capacidade de induzir uma resposta imunológica e
criar uma memória imunológica a longo prazo ou permanente.

A vacina ideal é aquela que impede o desenvolvimento de uma doença após a infecção, mas
existem vacinas que protegem o organismo fazendo com que, em caso de infecção, a doença não
seja tão grave, por exemplo o BCG em criança protege do desenvolvimento da tuberculose miliar
e meníngea.

Tipos de vacinas

Existem vacinas contra várias doenças e cada vacina tem um tempo de vida útil para ser
administrada (ver bloco 3). Em geral a maior parte das vacinas da infância são administradas
dentro do primeiro ano de vida, mesmo porque estas doenças são mais perigosas nos primeiros 5
anos de vida, nos quais as crianças são mais vulneráveis e ainda não têm a capacidade natural de
combater os microrganismos patogénicos porque o sistema imunológico ainda é imaturo.

A tabela a seguir descreve o tipo de vacina e a doença alvo usadas no calendário vacinal de
Moçambique

Vacina Doenças alvo Tipo de vacina


BCG Tuberculose Bactéria viva atenuada
Anti-pólio Poliomielite Bactéria viva atenuada
DPT-HepB-Hib (quadrivalente ou Difteria (D), Tosse convulsa (P), HBV recombinado
seja que contém 4 vacinas) Tétano (T), Hepatite B (HepB), Hib conjugado
Meningite e infecções D toxóide
respiratórias causada por T toxóide
Hemophilus influenzae tipo b P vírus inactivado (morto)
(Hib)
Anti-Sarampo Sarampo Vírus vivo atenuado
Anti-Tétano Tétano Toxóide do tétano
Vacina Efeitos colaterais Conduta a ter
BCG
 Dor e inchaço no lugar da  Aplicar compressas mornas
injecção no local da injecção.
 Úlcera, abcesso no lugar da  Voltar ao centro de saúde
injecção, aumento dos gânglios
axilares do mesmo lado em
casos de imunodepressão

Anti-pólio
 Poliomielite paralítica (rara-  Voltar ao centro de saúde em
mente) caso de sinais de alterada
movimentação dos membros
inferiores

DPT-HepB-Hib
 Dor e inchaço no lugar da  Aplicar compressas mornas
injecção (frequente) nos no local da injecção 3 vezes/dia
primeiros 3 dias após a  Dar paracetamol
injecção (10-20mg/Kg/dose)
 Febre (menos frequente), nas  Resolução espontânea
primeiras 24h para 2-3 dias  Voltar ao centro de saúde e
 Falta de apetite, vómito (rara) referir ao nível superior
(nos primeiros 3 dias após inj)
 Convulsões, problemas
neurológicos (muito raro) por
DPT dentro de 7 dias após a
injecção

Anti-Sarampo
 Febre entre 6-12 dias após  Dar paracetamol
injecção (10-20mg/Kg/dose)
 Erupção da pele que  Resolução espontânea
parecida com a do sarampo
mas que não é contagiosa

Regras de conservação e administração das vacinas


Cada vacina tem suas regras de conservação e administração que devem ser seguidas para que seja
eficaz no momento da administração.

Por exemplo a vacina é sensível a temperatura exterior, em caso de alterações da temperatura pode
tornar-se ineficaz e não servir para desenvolver a imunidade específica.

Algumas vacinas são mais susceptíveis ao calor do que as outras e ficam inactivadas em caso de altas
temperaturas. Por isso, deve ser respeitada a cadeia do frio, ou seja o sistema de conservação e
transporte da vacina a baixas temperaturas a partir do momento que é empacotada até o momento da
utilização.

RESUMO

 O antígeno é qualquer substância que pode ser componentes de bactérias, vírus, fungos ou outras
substâncias tóxicas, capaz de gerar uma resposta imunológica.
 . Os anticorpos são imunoglobulinas produzidas pelos linfócitos B contra um antígeno que permite
sua destruição e protecção a longo prazo do organismo contra aquele antígeno específico.
 A vacinação é a introdução no nosso corpo de partículas que agem como antígenos activando o
sistema imunológico a produzir anticorpos contra aquele antígeno, neutralizá-lo e criar linfócitos B
capazes de reconhecer a longo prazo e responder rapidamente a uma eventual reexposição ao
mesmo antígeno.
 A vacina protege a criança das doenças e das manifestações mais graves desta em caso de
infecção e até da morte, protege também a população susceptível reduzindo a circulação do
agente causal até poder determinar a erradicação da própria doença.
 Existem diferentes tipos de vacinas: a viva atenuada, constituída por um vírus ou bactéria inteira
viva; a inactivada, constituída por um vírus ou bactéria morta; a recombinada, que é uma vacina
criada artificialmente em laboratório que contém somente as características capazes de
desencadear a resposta imunológica; toxinas do microrganismo que desencadeiam a resposta
imunológica sem causar a doença
 . O Programa Alargado de Vacinações é um programa do MISAU que tem como objectivos a
redução da morbilidade, mortalidade e disabilidade infantil provocadas por doenças preveníveis
por vacina tais como tuberculose, difteria, tétano, tosse convulsa, hepatite B, infecções por
Hemophilus Iinfluenza tipo b, poliomielite, sarampo.
 . As crianças infectadas pelo HIV podem receber todas as vacinas segundo o calendário vacinal
com a excepção do BCG em caso de infecção comprovada e estadio III ou IV da OMS
 Cada vacina tem um tempo de vida óptimo para ser administrada; o calendário vacinal pode ser
resumido com a figura seguinte:

O cartão da saúde da criança e o calendário vacinal

O cartão de saúde é um dos instrumentos mais eficazes para o controle do estado vacinal da criança.

É aconselhável, antes de vacinar uma criança, conferir no cartão de saúde o seu estado vacinal. O cartão
deve ser conferido em todos os contactos que a criança tiver com o pessoal de saúde, durante a consulta
da criança sadia, da crianca em risco e no caso de internamento: deve-se controlar se as vacinas foram
administradas segundo o calendário ou se a criança precisa de ser vacinada.

RESUMO

 O cartão de saúde da criança deve sempre ser consultado a cada contacto da criança com o
profissional de saúde, para conferir seu estado vacinal e se a criança precisa de ser vacinada.
 O calendário vacinal do MISAU descreve os períodos ideais e os intervalos entre doses
sucessivas de vacina ideais, mas podem acontecer situações em que não é possível seguí-lo à
risca como nos casos em que há de falta de vacina, vacina expirada, a criança não aparece a
consulta, a criança está muito doente e não pode receber a vacina, a mãe perde o cartão.
 Nos casos em que se ultrapassa a data prevista para a vacinação, a dose seguinte deve ser dada
o mais rápido possível, não sendo necessário recomeçar o esquema da vacinação.
 A vacina anti-sarampo não deve ser aplicada a criança antes dos 8 meses e meio de idade.
 As vacinas contra a Pólio, e as DTP-HepB-Hib, devem ser dadas num intervalo mínimo de 4
semanas (1 mês) entre as doses.
 Caso o estado vacinal seja desconhecido é necessário recomeçar o ciclo inteiro, se a criança
perdeu o cartão ou se não estiver registada no livro de registo do PAV da unidade sanitária; ou
repetir a dose que não foi registada se falta o registo de uma dose só.
 A cobertura vacinal indica a proporção de crianças que foi vacinada com uma determinada vacina
sobre o número total de criança alvo por tal vacina, num determinado período de tempo, que
geralmente é de um ano, num determinado lugar.

Bibliografia

 MISAU. Normas de atendimento à criança sadia e à criança em risco. 2011


 MISAU. Cartão de saúde da criança. Guião de utilização para o pessoal de saúde. 2009
 MISAU. Caderno de mapas de AIDI para a Atenção Integrada a Criança de 1 semana aos 2 meses
e dos 2 meses aos 5 anos. 2009.
 http://www.who.int/countries/eth/areas/immunization/en/.
 MISAU-OMS-UNICEF. Programa Ampliado de Imunização-abrangente. Plano de Ano 2009-2013.

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