Publicacao Preliminar TD Custo Bem Estar Social

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Publicação

Preliminar

CUSTO DE BEM-ESTAR SOCIAL DOS HOMICÍDIOS RELACIONADOS


AO PROIBICIONISMO DAS DROGAS NO BRASIL

Autores(as): Daniel Ricardo de Castro Cerqueira


Produto editorial: Texto para Discussão - TD
Cidade: Brasília
Editora: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
Ano: 2023
Edição 1ª

O Ipea informa que este texto não foi objeto de padronização, revisão textual ou diagramação pelo
Editorial e será substituído pela sua versão final uma vez que o processo de editoração seja concluído.

As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não
exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou do
Ministério do Planejamento e Orçamento.
Texto para Discussão
Custo de Bem-Estar Social dos Homicídios Relacionados ao
Proibicionismo das Drogas no Brasil 1 0F

Daniel Cerqueira 2 1F

Resumo

A proibição de certas drogas psicoativas e a consequente repressão policial


resultam em milhares de mortes por ações violentas no Brasil, a cada ano. Neste
trabalho, quantificamos a magnitude desse problema com base em alguns
indicadores econômicos e de saúde pública. Tomando como referência o ano de
2017, estimamos que os homicídios relacionados ao proibicionismo das drogas
leve a uma redução de expectativa de vida ao nascer dos brasileiros de 4,2 meses,
ou a uma perda de 1,148 milhão de anos potenciais de vida perdidos. Seguindo
a metodologia adotada por Cerqueira e Soares (2016), estimamos ainda o custo
de bem-estar dessa tragédia para o país, que correspondente a cerca de R$ 50
bilhões anuais, ou 0,77% do PIB.
Palavras-Chave: Proibicionismo de drogas; custo de bem-estar; anos potenciais
de vida perdidos; expectativa de vida; homicídios.
JEL: I18; I30; K42.

Abstract
The prohibition of certain psychoactive drugs and the consequent police
repression result in thousands of deaths from violent actions in Brazil each year.
In this work, we quantify the magnitude of this problem based on some economic
and public health indicators. Taking 2017 as a reference, we estimate that
homicides related to drug prohibition lead to a reduction in life expectancy at
birth for Brazilians of 4.2 months, or a loss of 1.148 million years of potential life
lost. Following the methodology adopted by Cerqueira and Soares (2016), we also
estimate the welfare cost of this tragedy for the country, which corresponds to
approximately R$ 50 billion annually, or 0.77% of GDP.

Key words: Drug prohibitionism; welfare cost; potential years of life lost; Life
expectancy; homicides.

1
Agradeço à Julita Lemgruber, pela motivação, apoio e troca de ideias, sem o qual esse trabalho não teria sido feito.
Agradeço também a vários colegas do Ipea pelos comentários e, em particular, ao Bernardo Medeiros e à Milena
Soares, pelas ótimas sugestões.
2
TPP Diest/IPEA
JEL: I18; I30; K42.

Índice

1. Introdução
2. A Relação entre o mercado ilícito de drogas e violência
2.1. Teoria econômica dos mercados ilegais
3. Homicídios atribuídos ao proibicionismo das drogas no Brasil
4. Perda de expectativa de vida ao nascer e anos potenciais de vida perdidos
devido aos homicídios relacionados ao Proibicionismo das drogas no
Brasil
5. Custo de bem-estar dos homicídios relacionados ao Proibicionismo das
drogas no Brasil
6. Conclusões e discussão de políticas públicas
7. Referências
8. Apêndices e Anexos
1. Introdução

A proibição de determinadas drogas psicoativas e a subsequente repressão


pelo poder público redunda em milhares de mortes por ações violentas no Brasil
a cada ano.
No Rio de Janeiro e em muitas Unidades Federativas, grupos de
narcotraficantes fortemente armados dominam territórios e utilizam a violência
como mecanismo para manter o funcionamento do negócio, seja nas disputas
por mercados, para dissuadir devedores duvidosos, para manter a disciplina
entre os trabalhadores do narco negócio, ou para eliminar alcaguetes.
Adicionalmente, esses grupos regulam despoticamente o comportamento dos
moradores das comunidades, impondo punições até capitais para quem ousar
infringir o código de conduta local. Soma-se ao problema, a repressão ao varejo
das drogas nos morros, levada a cabo pelas polícias em seus confrontos.
Inúmeras pessoas morrem a cada ano nesse enredo trágico e anódino. Além
dos indivíduos envolvidos com o tráfico, morrem policiais, morrem inocentes e
toda a sociedade fica aterrorizada, temerosa de ter sua vida prematuramente
perdida em meio a esses confrontos.
O nosso objetivo com esse trabalho é estimar o custo aproximado das mortes
ocasionadas pelo proibicionismo de drogas no Brasil, no campo da saúde e
economicamente. Os cálculos aqui efetuados devem ser lidos como uma ordem
de grande do problema e menos como estimativas acuradas, em face da
inexistência de melhores dados no país acerca dos incidentes motivados pelas
guerras envolvendo drogas, a menos de alguns territórios como os analisados.
Após essa introdução faremos uma discussão, com base na literatura, dos
canais que associam o mercado ilícito de drogas à prevalência de violência.
Em seguida, analisaremos o número de Homicídios Atribuídos ao
Proibicionismo das Drogas (HAPD) no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte
e Maceió, com base nos trabalhos de Dirk e Moura (2017) e Sapori (2018) e em
informações da Secretaria de Segurança Pública e da Ouvidoria de Polícias do
Estado de São Paulo.
A partir das estimativas de homicídios apontadas na terceira seção,
estimaremos os anos potenciais de vida perdidos e a perda de expectativa de vida
ao nascer devido aos HAPD. A nossa análise se baseará no ano de 2017 e
compreenderá três estimativas distintas, para os estados do Rio de Janeiro e de
São Paulo e para o Brasil 3. 2F

Na quinta seção, faremos uma estimação aproximada do custo de bem-estar


devido aos HAPD, seguindo uma abordagem estrutural desenvolvida primeiro por
Rosen (1988) e aplicada por Murphy e Topel (2003), Soares (2006) e Cerqueira e
Soares (2016).
A ideia geral é que quando há a prevalência de homicídios, muitas pessoas
deixam de consumir, de produzir e de gerar renda. O risco de morte prematura
afeta ainda toda a sociedade e não apenas às vítimas diretas. Qual é o custo
econômico (intangível) dessas mortes? O modelo aqui adotado procura fazer
essas estimativas a partir de uma abordagem econômica, em que as pessoas
decidem quanto consumir ao longo do seu ciclo de vida, levando em conta não
apenas a renda esperada, mas as chances de sobrevivência. Para empreender
tais cálculos utilizamos informações demográficas e estimativas de rendimento
ao longo do ciclo de vida, além de dados sobre mortalidade.
Na sexta seção trazemos as nossas conclusões e uma breve discussão de
políticas públicas.

3
O cálculo para o Brasil é uma aproximação obtida, considerando a média da participação de MVIAPD, em relação
ao total de MVI para os casos estudados.
2. A Relação entre o mercado ilícito de drogas e violência

Conforme apontado por Goldstein (1985) as drogas se relacionam com os crimes


violentos, e em particular aos homicídios, potencialmente, como consequência
de seus efeitos psicofarmacológicos; de compulsão econômica; e sistêmicos.
Enquanto nas duas primeiras categorias a violência é perpetrada pelo próprio
usuário de drogas, no último caso essa é associada ao proibicionismo e suas
consequências diretas, entre as quais: a coerção do Estado na chamada “guerra
as drogas”; as disputas pelo controle do mercado de drogas ilícitas; e como
mecanismo para garantir a executabilidade de contratos no mercado de drogas,
uma vez que as contendas nos mercados ilícitos não podem ser resolvidas na
Justiça. Abaixo fazemos uma breve discussão desses canais que associam as
drogas ilícitas à prevalência de violência.
• Violência associada aos efeitos psicofarmacológicos

Refere-se à violência que ocorre como resultado dos efeitos do uso de drogas, seja
porque o usuário assume comportamentos violentos, ou ainda pelo fato do
mesmo facilitar a as chances de sofrer vitimização.
Goldstein (1985, p. 495), apontou que “os primeiros estudos que atribuíam
comportamentos violentos a usuários de opiácios e maconha foram largamente
desacreditados”. Uma exceção diz respeito às evidências que apontam que a
irritabilidade associada a síndrome de abstinência de opiácios pode levar a
violência, conforme levantado por Goldestein (1979).
Analisando as motivações dos homicídios ocorridos em Nova Iorque na década
de 80, Goldstein (1987) considerou que 2,5% dos incidentes em sua amostra
eram devidos a efeitos psicofarmacológicos do uso de drogas ilícitas e 5% devido
ao uso de álcool. Por outro lado, o próprio autor chamou a atenção das limitações
de seus achados, tendo em vista a presença de variáveis omitidas, como o
comportamento desviante do indivíduo, que pode estar associado ao impulso em
consumir drogas e praticar crimes, simultaneamente.
De fato, enquanto a correlação entre o uso de drogas e violência é bem
estabelecida, a influência causal dos efeitos psicofarmacológicos como
propulsores da violência é mais controversa.
Por exemplo Duke et al. (2018) numa meta-análise sobre álcool, drogas e
violência concluem por um efeito médio robusto entre diferentes populações,
substâncias e tipos de violência.
Boles e Miotto (2003) em uma revisão da literatura também apontam que a
psicofarmacodinâmica de estimulantes, como anfetaminas e cocaína, pode
contribuir para o comportamento violento. Porém, essas autoras advertem que
essa relação é extremamente complexa e moderada por uma série de fatores no
indivíduo e no ambiente. Segundo elas: “além dos efeitos psicofarmacológicos, o
uso de substâncias pode levar à violência por meio de processos sociais, como
sistemas de distribuição de drogas (violência sistêmica) e violência usada para
obter drogas ou dinheiro para drogas (violência por compulsão econômica)”.
Kuhns e Clodfelter (2009) também fizeram uma extensa revisão da literatura e
encontraram que link causal entre os efeitos psicofarmacológicos da droga e a
violência é bastante frágil, uma vez que os estudos são limitados e inconclusivos.
Segundo esses autores, a relação verificada em alguns estudos, entre o uso de
drogas ilícitas e violência, se dá em determinadas circunstâncias que podem
estar correlacionadas com outros fatores confundidores e não controlados na
maioria dos trabalhos analisados, como influências hormonais, fatores genéticos
e fatores econômicos e sistêmicos.
• Violência associada à compulsão econômica

Os crimes violentos associados à compulsão econômica derivam da necessidade


dos usuários obterem os recursos necessários para manter o consumo, na
ausência ou esgotamento de suas posses legítimas.
Aqui, mais uma vez, a literatura empírica sugere que os efeitos desse canal são
de segunda ordem. De fato, as evidências disponíveis sugerem que os crimes com
motivação econômica levados a cabo pelos usuários de drogas são não violentos.
Goldstein (1987) indicou em sua pesquisa que os crimes perpetrados por
usuários de drogas, na busca por recursos para manter o consumo geralmente
são pequenos furtos em lojas, furto de drogas e prostituição.
Kaplan (1983), por outro lado, questionou a relação entre o uso de drogas e a
participação dos indivíduos em atividades criminais. Segundo o autor, os crimes
ocasionados pela compulsão econômica estão associados não ao uso de drogas
em si, mas ao fato das mesmas serem ilegais, o que faz com que: i) o preço das
drogas aumente, requerendo uma gama maior de recursos do usuário; ii) haja
uma maior dificuldade para o usuário encontrar emprego, em face do tempo
necessário alocado para procurar fontes seguras de drogas, e em face de
eventuais aprisionamentos e perseguições policiais; e iii) o usuário se aproxime
de uma subcultura criminal, ao impor a necessidade do usuário lidar com os
traficantes.

• Violência associada aos fatores sistêmicos

Os fatores sistêmicos dizem respeito aos elementos ocasionados pela interação


entre o proibicionismo e a coerção do Estado para suprimir o mercado de drogas.
A renda econômica gerada nos negócios ilícitos das drogas constitui o incentivo
para que firmas ilícitas (facções) e traficantes rivais disputem o mercado,
utilizando como instrumento a violência. Além dos homicídios que podem
resultar das guerras entre as gangues e grupos rivais, a ausência de contratos
executáveis em corte faz com que a violência e o medo funcionem como único
instrumento para granjear reputação, retaliar e disciplinar comportamentos
desviantes e tentativas de fraudes levadas a cabo dentro da “firma”, ou pelos
próprios participantes de um mesmo grupo de narcotraficantes.
Por outro lado, há também a violência levada a cabo pelo próprio Estado, que
pode fazer vítimas que participam ou não do mercado ilegal, como os inúmeros
casos de crianças inocentes mortas pela polícia nas favelas cariocas, ante os
incentivos simbólicos de uma política de segurança pública muitas vezes
exorbitantemente violenta, patrocinada pelo governo do estado.
Por fim, há efeitos indiretos sistêmicos que contribuem para o aumento da
violência. Benson e Rasmussen (1991) arguem que a alocação de recursos
policiais para coibir as atividades do tráfico de drogas fazem com que menos
recursos sejam orientados para prevenir e controlar outros tipos de crime,
fazendo diminuir a probabilidade de aprisionamento e prevenção para outros
tipos de crime.
No caso do Brasil, esses efeitos indiretos podem ser ainda mais fortes por dois
motivos. Conforme notou Luiz Eduardo Soares (2002), a rentabilidade no tráfico
de drogas e a necessidade das firmas incumbentes de defenderem
ostensivamente seus territórios, termina por financiar um volumoso tráfico de
armas, que muitas vezes são utilizadas pelos próprios participantes dos grupos,
ou alugadas (quando ociosas) para terceiros, para cometerem vários outros tipos
de crime.
Por outro lado, para que o negócio de drogas ilícitas continue operando, muitas
vezes, a renda aí gerada é compartilhada com agentes do próprio sistema de
justiça criminal, na conhecida atividade de pagamento de propinas e corrupção.
Com a corrupção dominando segmentos policiais, a produtividade do trabalho de
polícia fica comprometida, fazendo com que as taxas de aprisionamento dos
criminosos mais perigosos diminuam, junto com a elucidação de crimes, o que
estimula os demais segmentos criminais.
Goldstein (1985, p. 497) sintetiza a canal da violência sistêmica por meio de
alguns exemplos:
“1. disputes over territory between rival drug dealers; 2. assaults and
homicides committed within dealing hierarchies as a means of
enforcing normative codes; 3. robberies of drug dealers and the usually
violent retaliation by the dealer or hislher bosses; 4. elimination of
informers; 5. punishment for selling adulterated or phony drugs; 6.
punishment for failing to pay one's debts; 7. disputes over drugs or
drug paraphernalia; 8. robbery violence related to the social ecology of
copping areas.”
Goldstein (1987) encontrou que dentre todos os homicídios relacionados a
drogas, 74% eram devidos a fatores sistêmicos. Benson et al. (1992) encontram
evidência que o aumento do crime contra a propriedade na Flórida era
parcialmente resultante do redirecionamento de recursos para a política
antidrogas.
Resignato (2000), usando dados de 24 regiões metropolitanas nos Estados
Unidos encontram uma fraca correlação entre crimes violentos e efeitos
psicofarmacológicos e compulsão econômica dos usuários de drogas, mas acham
alguma evidência daqueles crimes violentos com os efeitos sistêmicos associados
à proibição e combate às drogas.

2.1. Teoria econômica dos mercados ilegais

Em um artigo seminal (The Economic Theory of Illegal Goods: The Case of Drugs),
Becker, Murphy e Grossman (2006) analisaram os efeitos positivos e normativos
do proibicionismo das drogas, sob o ponto de vista econômico.
Os autores analisaram teoricamente em que condições o proibicionismo de
drogas ou a legalização e taxação dos mercados levariam a uma maior efetividade
em termos da diminuição do consumo e maximização do bem-estar social.
Dois elementos principais condicionam os resultados das análises, que se
referem à questão da elasticidade 4 preço da demanda por drogas e ao custo que
3F

4
A elasticidade preço da demanda é uma medida comumente utilizada por economistas que
quantifica a resposta dos consumidores em termos de variação percentual do consumo, em razão
de uma variação percentual no preço do produto. No caso das drogas, ainda que não existam
dados disponíveis de preço e quantidade do mercado, de modo a estimar tal elasticidade, do ponto
de vista teórico, tenda em vista o fenômeno da adicção, é razoável supor que os consumidores
as externalidades 5 com o consumo geram para a sociedade.
4F

A ideia geral por traz do modelo é que o enforcement ocasionado pelo


proibicionismo gera um aumento de custo para o traficante de drogas. No caso
de os consumidores serem inelásticos, o aumento do custo é repassado para os
consumidores. E pelo fato dos mesmos responderem proporcionalmente menos
à quantidade adquirida do que ao aumento do preço, paradoxalmente, a receita
obtida pelos traficantes e, portanto, os seus gastos para fazerem o negócio
funcionar, aumentarão à medida que aumentar a severidade do proibicionismo.
Os autores concluíram que em sendo a demanda é inelástica, não vale a pena
aplicar qualquer proibição, a menos que o valor social seja negativo 6. 5F

Becker e parceiros ainda compararam a quantidade consumida e preços de


equilíbrio numa situação em que o bem é legalizado e tributado, em relação ao
caso do proibicionismo. Eles mostraram que um imposto monetário sobre um
bem legal poderia causar uma redução maior na produção e aumento no preço
do que o proibicionismo (ainda que houvesse uma alocação ótima de recursos
para o enforcement), mesmo reconhecendo que os produtores podem querer
entrar na clandestinidade para tentar evitar um imposto monetário. Isso significa
que a legalização do uso de drogas e sua tributação no consumo seria mais eficaz
do que apostar no proibicionismo e guerra à oferta de drogas.
No entanto, ainda que os autores tenham analisado de forma profunda e original
os efeitos positivos e normativos dos mercados ilegais de drogas, os mesmos
abstraíram dois aspectos centrais, cujas consequências poderiam amplificar
ainda mais os resultados negativos do proibicionismo. Becker e companheiros
tomaram como hipóteses mercados competitivos e ignoraram o uso da violência
pelas “firmas”, para manter contratos e dominar mercados.
Se, como ocorre em muitos locais, os mercados de drogas não forem competitivos,

sejam inelásticos, ou que a diminuição do consumo de drogas se dará em menor magnitude


percentual do que um potencial aumento do preço, em termos percentuais.
5
Externalidade são efeitos colaterais das ações de um agente que afetam (melhorando ou piorando)
a situação de outro(s) agentes. No caso do consumo de drogas, as externalidades se referem aos
possíveis custos arcados pela sociedade em termos, por exemplo, de tratamentos hospitalares no
sistema público de saúde devido ao tratamento ao envenenamento ou à dependência das drogas.
6
Ou seja, que o custo gerado pelas externalidades supere o valor privado pelo consumo.
mas dominados por um monopólio ou oligopólio, aparentemente, os efeitos do
enforcement sobre diminuição do consumo e aumento de preços seriam ainda
menores, uma vez que, como no caso do monopólio, a firma igualará receita
marginal a custo marginal.
Por outro lado, quando levado em consideração o uso da violência pelos
narcotraficantes, o custo com as externalidades do proibicionismo superariam
significativamente as externalidades pelo consumo de drogas. Sobre esse
aspecto, um artigo muito interessante foi produzido por Castillo, Mejía e Restropo
(2018), que desenvolveram um modelo teórico para examinar os possíveis efeitos
da escassez de drogas sobre o aumento da violência empregada nos mercados.
Os autores ainda analisaram empiricamente o caso do mercado mexicano, em
face da escassez de drogas ocasionada pelas maiores apreensões de cocaína na
Colômbia 7, o principal fornecedor da droga para o México. Castillo e parceiros
6F

mostraram que houve aumento da violência devido à escassez de drogas no


México; e que os efeitos foram maiores em municípios próximos à fronteira com
os Estados Unidos, onde existem vários cartéis. Os autores concluíram que a
forte queda na oferta de cocaína da Colômbia pode responder por 10%-14% do
aumento da violência no México e 25% do diferencial aumento da violência no
norte do México em relação ao resto do país.
Finalmente, Becker et al. (2006) discutiram porque se investe em políticas que
apostam no proibicionismo em detrimento da legalização e tributação. Os autores
trazem argumentos de economia e poder político desigual na sociedade, que
explicaria a escolha social por tornar determinados produtos ilícitos. Esse tema
também foi abordado por Mark Thornton (1991) no interessante livro The
Economics of Prohibition, em que o autor faz um retrospecto histórico das origens
do proibicionismo de drogas e analisa suas possíveis consequências.

7
Ver Plano Colômbia: https://latinoamericana.wiki.br/verbetes/p/plano-colombia.
3. Homicídios atribuídos ao proibicionismo das drogas no Brasil

Um primeiro grande desafio neste trabalho se refere ao cálculo do número de


homicídios no Rio de Janeiro, São Paulo e no Brasil que poderia ser atribuído ao
proibicionismo de drogas, ou mais especificamente às mortes relacionadas ao
canal sistêmico, discutido anteriormente.

A fim de estimarmos uma ordem de grandeza do número homicídios relacionados


à questão das drogas, nos basearemos nos trabalhos de Dirk e Moura (2017) e
Sapori (2018), além de informações obtidas junto à Secretaria de Segurança e
Ouvidoria de Polícias do Estado de São Paulo.

Basicamente, em ambos os trabalhos supramencionados os autores, com base


nos inquéritos policiais, procuraram estabelecer as motivações das mortes
violentas intencionais, a partir de uma tipologia proposta por cada um deles.
Ainda que existam diferenças classificatórias nas duas pesquisas, conforme
apontaremos a seguir, os autores se preocuparam em separar uma categoria que
se refere à questão das mortes violentas intencionais 8 motivadas por tráfico de
7F

drogas ilícitas, que serviu de base para o nosso cálculo.

• Região Metropolitana do Rio de Janeiro

Dirk e Moura (2017, p. 4), com base no total de registro de ocorrências de


letalidade violenta, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, fizeram um sorteio
por uma amostra aleatória simples, que resultou na análise das motivações
envolvendo 400 registros de ocorrência, onde houve 447 vítimas. Os autores
analisaram os inquéritos a fim de estabelecer uma classificação sobre “a
circunstância ou motivação principal do crime, levantando-se também as razões

88
Neste trabalho utilizaremos a tipologia de homicídio, adotada no Atlas da Violência e pelo Protocolo de Bogotá,
que não corresponde ao tipo penal, mas à ideia de mortes violentas intencionais perpetradas por terceiros.
secundárias de cada delito”.

Os autores classificaram as motivações da letalidade em nove categorias,


conforme apontado na tabela abaixo. Note que em 31,7% do total de mortes não
se conseguiu obter informação. Adotando-se a hipótese de que o total de casos
sem classificação seja distribuído proporcionalmente entre as nove categorias,
tem-se que o percentual de mortes atribuídas ao tráfico passa para 31%.

Dentre as intervenções legais, os autores investigaram as motivações


secundárias. Os mesmos concluíram que 59,4% das mortes (ou 73%
desconsiderando os casos ignorados) se deram em situações de confronto com o
tráfico, o que implica que 15,3% do total de Mortes Violentas Intencionais (MVI) 9 8F

na região Metropolitana do Rio de Janeiro ocorrem por ação das polícias em


situações de (supostos) confrontos associados ao tráfico de drogas. Com isso,
concluímos que 46,6% do total de MVI na Região Metropolitana do Rio de Janeiro
são atribuídas (ou possuem relação) com o tráfico de drogas ilícitas.

Tabela 3.1 – Motivações para a Letalidade na Região Metropolitana do RJ


Motivações da letalidade % % reponderado
Tráfico 21.4 31%
Intervenção legal 14.3 21%
Fútil 12.3 18%
milícia ou extermínio 8.3 12%
Latrocínio 5.6 8%
Legítima defesa 2.5 4%
Passional 1.8 3%
Bala perdida 1.1 2%
outros 1.1 2%
sem informação 31.7 0%
Fonte: Elaboração própria com base em Dirk e Moura (2017)

9
Nos registros policiais corresponde à soma dos homicídios, lesões corporais dolosas seguida de morte, latrocínios
e mortes por intervenção policial.
• Belo Horizonte

Sapori (2018, p. 9) analisou os inquéritos policiais de letalidade violenta


intencional, ocorridos entre 2012 e 2013: “foram consultados 194 relatórios
finais de inquéritos de homicídios em Belo Horizonte e 301 relatórios finais de
inquéritos de homicídios em Maceió”

O autor considerou em sua tipologia sete categorias, conforme disposto na Tabela


3.2. reponderando, de forma proporcional, o total de casos sem informação
suficiente para essas sete categorias, as mortes atribuídas ao comércio de drogas
ilícitas responderam por 30,8% das mortes. Adotando-se a hipótese de que a
proporção de mortes por ação policial relacionadas ao tráfico de drogas é a
mesma do Rio de Janeiro (73%) – conforme trabalho de Dirk e Moura (2017) –
tem-se que as mortes por policiais em questões que envolvem o tráfico
representam 1,6% do total de MVI nessa capital. Com isso, concluímos que
32,4% das MVI em Belo horizonte são atribuídas à questão do proibicionismo de
drogas.

Tabela 3.2 – Motivações para a Letalidade em Belo horizonte


Motivações da letalidade % % reponderado
Comércio de drogas ilícitas 29.4 30.8%
Rivalidade 27.8 29.1%
Passional 12.9 13.5%
Desentendimento 10.3 10.8%
Vingança 6.2 6.5%
Ação policial 2.1 2.2%
Outros motivos 6.7 7.0%
Indefinida 4.6 0.0%
Fonte: Elaboração própria com base em Sapori (2018)

• Maceió

Neste mesmo trabalho, Sapori (2018) analisou as mortes violentas em Maceió.


Reponderando proporcionalmente o percentual de informações desconhecidas
entre as sete categorias usadas e considerando a mesma proporção das mortes
envolvendo tráfico, no total de mortes pela polícia, como as verificadas no Rio de
Janeiro, temos que o percentual de MVI associadas ao comércio de drogas ilícitas
(29%) e às mortes pela polícia, que envolveria tráfico (1,1%), o que faz com que o
total as mortes atribuídas ao proibicionismo das drogas em Maceió seja de
30,4%, um índice muito próximo do verificado em Belo Horizonte.

Tabela 3.3 – Motivações para a Letalidade em Maceió


Motivações da letalidade % % reponderado
Comércio de drogas ilícitas 24.9 29%
Rivalidade 23.3 27%
Desentendimento 13.6 16%
Passional 8.6 10%
Vingança 7 8%
Ação da Polícia 1.3 1.53%
Outros 6.3 7%
Indefinido 15
Fonte: Elaboração própria com base em Sapori (2018)

• Estado de São Paulo 10 9F

Não encontramos nenhum estudo como os de Dirk e Moura (2017) e Sapori


(2018) para entender a motivação dos homicídios em São Paulo. Contudo, a
Secretaria de Segurança Pública produz estatísticas mensais e anuais do perfil
dos homicídios no estado, que leva em conta o sexo, cor/raça da vítima, idade,
local da ocorrência e os possíveis contextos da motivação para os homicídios 11. 10 F

10
Indícios de execução: casos em que a narrativa apresentada no boletim de ocorrência permite identificar
indícios de ação planejada para executar determinada pessoa ou grupo de pessoas, ocorrendo geralmente em
locais públicos, envolvendo um ou mais agentes e muitos disparos por arma de fogo. Conflito relacionado a uso
ou tráfico de entorpecentes: casos em que houver indícios de que o conflito que levou à morte estava relacionado
ao uso ou tráfico de entorpecentes, tais como cobrança de dívida, acertos, disputa de pontos de venda. Foram
considerados apenas os casos em que foi possível identificar que o motivo do conflito que provocou o homicídio
estava relacionado ao uso ou tráfico de entorpecentes.
11
Veja a tabela completa extraída do site da SSP-SP no anexo.
A Secretaria contemplou 15 categorias diferentes para as motivações. Dentre
essas, duas categorias não informativas foram os casos “sem classificação prévia”
e “encontro de cadáver”, que juntas somavam 3,1% das mortes, em 2017.

Dentre as categorias listadas, duas têm relação com a questão das drogas:
“Conflito relacionado a uso ou tráfico de entorpecentes” (2,7%) e “Indícios de
execução” (23,2%). Ainda que grande parte dessa última categoria tenha a ver
com a questão do tráfico de drogas, é possível que parcela tenha a ver com outras
dinâmicas criminais, o que ficamos impossibilitados de saber.

No que diz respeito às mortes por policiais, a tabela disposta pela SSP-SP mostra
que 1,3% das mortes foram derivadas de “Reação vítima não policial”, ao passo
que 1,8% dos casos referem-se a “Morte provocada por agentes estatais ligados
a segurança pública”. Somando essas duas rubricas, se teria que as mortes por
intervenção policial no estado de SP em 2017, representaria 3,1% das mortes
violentas intencionais, uma parcela bem inferior ao que a própria SSP-SP
informou ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontado no 12º Anuário
Brasileiro de Segurança Pública, em que 7,3% das MVI no estado de São Paulo,
em 2017, foram ocasionadas por intervenção legal.

Por sua vez, a Ouvidoria de polícia do Estado de São Paulo, informou,


adicionalmente, que do total de mortes por intervenção legal, 9% estavam
relacionadas ao tráfico e apreensão de entorpecentes 12. Dessas duas últimas 11F

informações depreende-se que do total de MVI no estado de São Paulo, em 2017,


0,64% (= 0,09*0,073) referem-se às intervenções legais relacionadas ao combate
ao tráfico de drogas.

Atribuindo, de modo ad hoc, que todas as mortes por execução no estado

12
Note que este percentual é muito inferior ao encontrado no Rio de Janeiro, em que 73% das mortes por intervenção
legal possuíam uma motivação secundária associada ao tráfico de drogas.
possuem relação com o tráfico de drogas, teríamos que de 27,7% do total das
MVI no estado de São Paulo teriam ligação com a questão das drogas ilícitas.
Note que, em face das hipóteses levantadas por nós, trata-se de uma estimativa
frágil que serve apenas para pontuar a ordem de grandeza do problema das
mortes relacionadas ao tráfico de drogas naquele estado que, conforme esperado
situa-se num patamar bastante inferior aos casos do Rio de Janeiro, Belo
horizonte e Maceió, conforme apontamos acima.

Tabela 3.4 – Motivações para a Letalidade no estado de São Paulo


Motivações da letalidade %
Intervenção 0.64%
mortes trafico+ execução 27.10%
total 27.74%
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da SSP-SP, Ouvidoria de Polícia de estado de São
Paulo e 12º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

A tabela abaixo resumo os cálculos que fizemos nessa seção, em que atribuímos
um percentual de mortes, em relação ao total das MVI, à questão do
proibicionismo das drogas.

Tabela 3.5 – Percentual de MVI atribuídas ao proibicionismo das drogas em


locais selecionados
Percentual de Mortes Violentas Intencionais
atribuída a questões envolvendo drogas ilícitas
Rio de Janeiro 46.6%
Belo Horizonte 32.4%
Maceió 30.4%
São Paulo 27.7%
Média 34.3%
Fonte: Elaboração própria

3.1 Homicídios atribuídos ao proibicionismo das drogas segundo a


idade da vítima
No presente trabalho, precisaremos do número de homicídios atribuído ao
proibicionismo das drogas para cada idade. Isso é crucial para que possamos
calcular o impacto do proibicionismo das drogas sobre a perda de expectativa de
vida ao nascer, sobre os anos potenciais perdidos de vida, e sobre o custo de
bem-estar em termos das vidas perdidas prematuramente.

No âmbito nacional, a única base que disponibiliza a idade das vítimas é a do


Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, que
serve de base para o Atlas da Violência do Ipea e FBSP. Nessa publicação, os
autores usam o conceito de homicídio preconizado pelo Protocolo de Bogotá, que
correspondem às agressões letais mais as mortes por intervenção legal. É
interessante notar que em 2017 a diferença entre as MVI e os homicídios segundo
o Atlas da Violência 2019 foi de apenas 2,6%, o que implica dizer que esses dois
fenômenos tratam, basicamente, dos mesmos eventos, ainda que por tipologias
e lógicas diferentes.

Em recente trabalho do Ipea, Medeiros, Soares et al. (2023), investigaram o perfil


do processado e produção de provas nas ações criminais por tráfico de drogas. A
pesquisa produzida em âmbito nacional com a análise de 48.532 processos
mostrou que 86% dos réus são homens e 90% tem até 40 anos de idade.

Como não sabemos a distribuição das mortes atribuídas às drogas segundo a


idade, no âmbito nacional, nos amparamos na pesquisa de Medeiros, Soares et
al. (2023), para utilizar a hipótese que tais homicídios acometem indivíduos
de 15 a 40 anos, em que o total de mortes atribuído às drogas é distribuído
de maneira proporcional em relação a participação do número de homicídios
para cada idade, conforme o SIM/MS.

Ainda que os dados de Mortes Violentas Intencionais discriminadas por idade


não existam no âmbito nacional, tais informações existem para o estado de São
Paulo. A partir de informações fornecidas pela SSP-SP, construímos o gráfico
abaixo para verificar a plausibilidade da hipótese, onde indicamos o total de MVI
e o total de mortes nas duas categorias que atribuímos à questão das drogas 13, 12F

que são “conflito relacionado a uso ou tráfico de entorpecentes” e “indícios de


execução”. Como se pode visualizar, não apenas a massa de mortes atribuídas a
drogas se concentra na faixa etária de 15 a 40 anos, como as duas curvas
possuem alta correlação, indicando que a hipótese de proporcionalidade também
seja razoável.

Gráfico 3.1

MVI e Mortes atribuídas às drogas em SP, por idade, 2017


160

140

120
Número de mortes

100

80

60

40

20

0
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 70
Idade

Mortes atribuídas as drogas MVI

Fonte: Elaboração própria, com base em informações da SSP-SP.

Adotando-se a hipótese etária e de proporcionalidade, indicada acima, temos as


distribuições de homicídios no total e a distribuição das taxas de homicídio

13
Note que não incluímos aí as mortes por intervenção legal, uma vez que, como vimos, em São Paulo apenas 9%
se referiam a mortes associadas a confrontos com o tráfico de drogas.
atribuídas às drogas no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Brasil 14, descritas no 13F

Gráfico 3.2.

Os pares de curvas de cada cor indicam a taxa total de homicídio e a taxa de


homicídio atribuída às drogas em cada localidade, isso é, em São Paulo, no Rio
de Janeiro e no Brasil.

Gráfico 3.2

Taxa de homicídio total e devido ao proibicionismo das drogas*


no Brasil, RJ e SP por idade, 2017

160

140

120

100
Taxa de Homicídio

80

60

40

20

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
Idade

Brasil (Drogas) RJ(Drogas) SP(Drogas) Brasil(Total) RJ(Total) SP(Total)

Fonte: Elaboração própria.

14
Assumimos que o percentual de homicídios atribuídos às drogas no Brasil é igual à média das quatro localidades
listadas, que foi de 34,3%, conforme disposto na Tabela 3.5.
4. Perda de expectativa de vida ao nascer e anos potenciais de vida
perdidos devido aos homicídios relacionados ao Proibicionismo das
drogas no Brasil

Para além da tragédia humana, os homicídios representam um alto custo


econômico e social. Em particular, o elevado número de mortes relacionadas à
questão do proibicionismo das drogas afeta a expectativa de vida dos cidadãos,
que é em si um indicador de desenvolvimento humano. Adicionalmente ao
número de incidentes letais, uma medida que não leva em conta o momento da
morte prematura dentro do ciclo de vida, um indicador muito utilizado,
principalmente na literatura de saúde coletiva, diz respeito aos anos potenciais
de vida perdida.

Nessa seção calcularemos esses dois indicadores: a perda de expectativa de vida


perdida ao nascer e os anos potenciais de vida perdidos devido ao proibicionismo
das drogas. Naturalmente, devemos olhar os resultados com a devida
cautela, interpretando-os mais como uma ordem de grandeza do problema,
tendo em vista as hipóteses e incertezas atinentes aos cálculos dos
homicídios que atribuímos ao proibicionismo das drogas, descritos na
terceira seção 15. 14F

• Resultados

A fim de efetuar os cálculos acima, nós consideramos o número de homicídios


para cada idade atribuído à questão das drogas, conforme discutido na seção 3.
Adicionalmente, levamos em conta o número total de mortes para cada idade, a

15
Note que como os nossos cálculos foram baseadas em poucos estudos sobre a motivação das Mortes Violentas
Intencionais, não há dados suficientes que permitam definir o grau de incerteza, com o cálculo de intervalos de
confianças dos percentuais de HAPD. O leitor deve estar atento ainda ao fato de que, como assinalamos
anteriormente, os cálculos para ao Brasil, apesar de utilizarem informações de homicídio, populacionais e
socioeconômicos do país como um todo, se baseiam na média da proporção de HAPD calculada com base nas poucas
localidades estudas, que resultou em 34,5%, o que parece uma proporção até conservadora, levando em conta os
discursos de muitos secretários estaduais de segurança pública, para quem a guerra do tráfico de drogas responderia
pela maioria das mortes nos seus estados.
partir dos microdados do SIM/MS, e os dados populacionais do IBGE por idade
simples.
Além dos cálculos para o Rio de Janeiro, fizemos as estimativas para o Brasil,
considerando que a proporção de homicídios atribuído ao proibicionismo das
drogas fosse igual à média dos casos considerados para as quatro localidades
sublinhadas, que foi igual a 34,3%, conforme indicado na Tabela 3.5.
No Apêndice A1, os cálculos subjacentes aos dois indicadores podem ser vistos.
O gráfico 4.1 ilustra o total de anos potenciais de vida perdidos devido aos
homicídios atribuídos ao proibicionismo de drogas.
No Brasil, apenas em 2017, um milhão cento e quarenta e oito mil anos
potenciais de vida foram perdidos. Neste gráfico é interessante observar a grande
diferença nas perdas potenciais de anos de vida no estado de São Paulo e,
particularmente, no Rio de Janeiro, onde a política de guerra às drogas tomou
cores insanas de uma política genocida.
Gráfico 4.1

Anos Potenciais de Vidas Perdidas Devido aos Homicídios


Atribuídos ao Proibicionismo das Drogas (em 1.000)

SP
64

RJ
153

BR
1,148

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200

Fonte: Elaboração própria.

Além desse indicador supramencionado, a Tabela 4.1 traz também a perda de


expectativa de vida ao nascer devida ao proibicionismo das drogas. Enquanto
em São Paulo cada indivíduo ao nascer perde alguns dias de expectativa de
vida 16, no Rio de Janeiro, cada pessoa vive em média 7,4 meses (ou 0,62 ano) a
15F

menos devido à guerra as drogas. No Brasil, a perda de expectativa de vida ao


nascer é de 4,2 meses (ou 0,35 ano).
Note, contudo, que os nossos cálculos levaram em conta a população total. Se
fizéssemos esses cálculos levando em conta o sexo da vítima e da população ou
números seriam muito mais trágicos para a população masculina, uma vez que
cerca de 92% dos homicídios do Brasil acometem homens, devendo essa
proporção ser ainda maior no que se refere às mortes que envolvem a questão
das drogas.

16
Perda de 0,09 ano, ou 0,1 mês.
5. Custo de bem-estar dos homicídios relacionados ao Proibicionismo
das drogas no Brasil

Nesta seção, estimaremos o custo de bem-estar dos homicídios atribuídos ao


proibicionismo das drogas. Para tanto, seguiremos uma abordagem econômica
estrutural 17 desenvolvida primeiro por Rosen (1988) e aplicada por Murphy e
16F

Topel (2003), Soares (2006) e Cerqueira e Soares (2014).


O modelo baseia-se na ideia geral que a prevalência de homicídios afeta o
consumo e a geração de renda não apenas das vítimas, mas de toda a sociedade,
uma vez que essas vítimas indiretas verão suas chances de sobrevivência
mudarem. O modelo formal é descrito resumidamente no apêndice A2, mas pode
ser analisado com mais detalhes em Cerqueira e Soares (2016).
Entre as hipóteses do modelo, assume-se que o indivíduo é racional e procura
suavizar consumo ao longo do seu ciclo de vida. Assim, os HAPD não apenas
geram a perda de vida humana e, consequentemente, de renda e consumo, mas
o risco de morte prematura devido aos homicídios altera a decisão de consumo
ótima dos indivíduos, o que gera uma perda de bem-estar para os mesmos, que
corresponde ao valor que os indivíduos estariam dispostos a pagar para evitar o
risco da morte prematura (MWP).
Para efetuar esse cálculo (da MWP), leva-se em conta o impacto que os homicídios
causam sobre as chances de sobrevivência ao longo do ciclo de vida. Por outro
lado, considera-se a estimativa da renda ao longo do ciclo de vida, bem como a
taxa intertemporal de desconto e um parâmetro que reflete a decisão entre o risco
de morte e compensação financiera, que foi obtido com base nos estudos que
mediram o diferencial compensatório para que o indivíduo aceitasse uma
ocupação com maior risco de vitimização 18. 17F

O Gráfico 6.1 ilustra as curvas de renda média estimada para cada idade no

17
A abordagem econômica se refere ao fato do modelo pressupor que os agentes são racionais e maximizam a sua
utilidade, ou bem-estar. O estrutural decorre de o fato das estimativas do custo de bem-estar serem derivadas
diretamente das condições de maximização.
18
Ver Soares (2006, p. 827), Murphy and Topel (2003), Becker et al. (2005)
Brasil, No Rio de Janeiro e em São Paulo, com base nas PNADs contínuas de
2016 a 2018, a preços constantes de 2017 (ver apêndice A3).

Gráfico 6.1

Renda Média* por idade no Brasil 2017


40000
10000 20000 30000
Renda Média
0

20 40 60 80 100
Idade

Brasil Rio de Janeiro


São Paulo

Fonte: Elaboração própria. Coma base nas PNADs contínuas de 2016 a 2017, para preços
constantes de 2017.

Efetuando os cálculos da disposição marginal a pagar para evitar os homicídios,


vemos que os valores variam ao longo do ciclo de vida e dependem, basicamente,
de duas circunstâncias, da renda do indivíduo ao longo do tempo e do momento
em que são maiores as chances de vitimização. A partir dos estágios iniciais da
vida do indivíduo, como as chances de vitimização violenta aumentam ao mesmo
tempo que aumenta a renda esperada do indivíduo, a MWP aumenta. A partir de
alguma idade na fase adulta as chances de vitimização começam a diminuir, bem
como a renda do indivíduo. Essas duas circunstâncias fazem com que a MWP
comece a diminuir a partir de certa idade. Assim o formato da curva da WMP ao
longo do ciclo de vida terá um formato de U invertido. O Gráfico 6.2 ilustra as
curvas das MWP calculadas para o caso do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo.
Gráfico 6.2

Disposição Marginal a Pagar (MWP) por Idade


no Brasil, RJ e SP - 2017
20000
5000 10000 15000
MWP em R$

0 10 20 30 40 50 60 70
Idade

MWP_Brasil MWP_RJ
MWP_SP

Fonte: Elaboração própria. Coma base nas PNADs contínuas de 2016 a 2017, para preços
constantes de 2017; nas estimativas populacionais do IBGE e nos microdados de mortalidade
do SIM/MS.
Nota-se que a curva da MWP referente ao Rio de Janeiro é bem superior à de São
Paulo e do Brasil. Essa diferença é explicada pela situação mais aguçada da
guerra engendrada pelo proibicionismo das drogas no estado, bem como maior
renda no Rio de Janeiro, em relação à média brasileira. Apesar da renda média
em São Paulo ser bastante superior à do Brasil, o índice de mortes atribuídas ao
proibicionismo de drogas no estado é tão menor, que faz com que a MWP seja
muito próxima da média brasileira.
O custo de bem-estar social corresponde à agregação das disposições marginais
para cada idade multiplicado pelo tamanho da coorte populacional para cada
idade. Além do custo de bem-estar dos homicídios para a geração corrente, a
persistência da letalidade afetará o custo de bem-estar das gerações futuras que
devem ser levadas em conta. Para o cálculo desse custo de bem-estar dos
homicídios com as gerações futuras utilizamos as projeções de nascidos vivos do
IBGE até o ano de 2060, em que esses custos foram descontados a uma taxa de
desconto intertemporal de 3%.
A soma do custo de bem-estar corrente e futuro dos homicídios, corresponde a
um montante que possui a natureza de um estoque. Ou seja, se refere ao valor
atual da violência letal, considerando que ela se perpetuasse indefinidamente. A
fim de termos um valor que corresponda ao fluxo anual, de modo a se comparar
com o PIB e permitir obtermos uma medida anual dos custos, descontaremos
esse estoque à mesma taxa de desconto intertemporal utilizada no modelo, de
3%.
O modelo econômico e as equações subjacentes estão descritas no apêndice A2.
A Tabela 6.1 resume os principais achados desse trabalho. Nas terceiras e
quartas colunas expressamos as taxas de homicídios e taxas de homicídios
atribuídas ao proibicionismo das drogas, respectivamente, que refletem os
cálculos apontados na seção 3.
Estimamos que os homicídios atribuídos ao proibicionismo das drogas no Brasil
geram um custo de bem estar anual da ordem de R$ 50 bilhões, ao passo as
perdas no Rio de Janeiro equivalem a mais do que o dobro das estimadas em São
Paulo.
Pode se pensar que tais mortes representariam um custo intangível médio anual
para cada cidadão fluminense de R$ 456,80, sendo esse indicador de R$ 269,51
para o Brasil e de R$ 72,86 se levássemos em conta apenas os cidadãos paulistas.
O custo de bem-estar anual dos homicídios atribuídos ao proibicionismo
representam um custo para o Brasil, para o Rio de Janeiro e para São Paulo,
respectivamente de 0,77%, 1,14% e 0,15% dos PIBs dessas localidades

A Tabela 6.1
Custo de bem-estar
PIBpc Taxa de homicídio Taxa de homicídio Custo anual
Cálculo (ano = 2017) anual dos homicídios AD % PIB Anual*
(R$ de 2017) total AD per-capita
(em Milhões RS)
Brasil 34,797.78 31.6 10.8 50,989 269.51 0.77%
Rio de Janeiro 40,163.06 38.4 17.9 7,636 456.80 1.14%
São Paulo 47,008.77 10.2 2.8 3,286 72.86 0.15%
Fonte: Elaboração própria. Coma base nas PNADs contínuas de 2016 a 2017, para preços constantes de 2017; nas estimativas populacionais
do IBGE e nos microdados de mortalidade do SIM/MS. * refere-se, respectivamente, ao PIB do Brasil, do RJ e de SP.
6. Conclusões e discussão de políticas públicas

O proibicionismo e, em particular, a guerra às drogas é a forma mais eficiente de


desperdiçar recursos públicos e sociais. De fato, a estratégia de reprimir a oferta
de drogas pelo caminho da repressão já nasce fadada ao fracasso.
Para entender o ponto, assuma como hipótese que as forças repressivas do
Estado conseguissem temporariamente diminuir a oferta de drogas ilícitas.
Tendo em vista que esses produtos são pouco sensíveis ao preço 19, a menor oferta 18F

iria ocasionar, num primeiro momento, pouca diminuição na quantidade


negociada do produto, mas aumento no seu preço mais do que proporcional. Esse
crescimento do preço iria estimular narcotraficantes a correrem riscos adicionais
no futuro, pois a lucratividade seria ainda mais atrativa. Nesse ínterim, o valor
destinado ao mercado de propinas seria também majorado, tendo em vista que a
lucratividade para cada quantidade negociada seria maior; e ainda por conta da
necessidade de o traficante mitigar riscos. O resultado é que em pouco tempo a
oferta de drogas voltaria a crescer, isto sem falar no incentivo ao desenvolvimento
e exploração de produtos substitutos como as drogas sintéticas, entre outras.
Com efeito, em quarenta anos de guerra às drogas, os EUA despenderam mais
de um trilhão de dólares e, no entanto, o preço da cocaína do varejo no mercado
americano diminuiu, a prevalência aumentou, bem como as mortes por overdose
de metanfetamina e heroína, revelando o fracasso da política 20. 19F

Por outro lado, há evidências de que a política de Guerra às Drogas inaugurada


em 17 de junho de 1971 por Richard Nixon, que definiu a droga como “o inimigo
público número 1” (e que varreu o mundo nos anos posteriores) tinha menos a

19
Os economistas classificam como bens inelásticos. No caso em pauta, para cada 1% de aumento no preço da
cocaína e da heroína, a demanda por esses produtos diminuiria 0,5% e 0,3%, respectivamente, segundo a
Organization of American States, "The Drug Problem in the Americas: Studies: Chapter 4: The Economics of Drug
Trafficking," 2013, pp. 12-13.
20
Ver, por exemplo: https://www.foxnews.com/world/ap-impact-after-40-years-1-trillion-us-war-on-drugs-has-
failed-to-meet-any-of-its-goals.
ver com o enfrentamento aos efeitos maléficos da droga na sociedade; e mais a
ver com a política e a estigmatização de grupos sociais tidos como indesejáveis.
De fato, em 1994, o ex-conselheiro de Nixon, John Ehrlichman, declararia: “A
campanha Nixon em 1968, e depois a administração Nixon na Casa Branca,
tinham dois inimigos: a esquerda antiguerra e a população negra. Compreende?
Sabíamos que não podíamos ilegalizar os que eram contra a guerra ou os negros,
mas ao associarmos os hippies com a marijuana e os negros com a heroína,
criminalizando-os duramente em seguida, poderíamos desfazer essas
comunidades. Podíamos prender os seus líderes, fazer buscas às suas casas,
interromper as suas reuniões e difamá-los todas as noites nos noticiários. Se
sabíamos que estávamos a mentir sobre as drogas? Claro que sabíamos", afirmou
o conselheiro para os Assuntos Internos do presidente norte-americano Richard
Nixon.” 2120F

No Brasil, pelo que conhecemos, talvez em função de tabus ou da falta de dados


minimamente qualificados e disponíveis, havia essa grande lacuna em torno de
pesquisas que procurassem dimensionar o grande desperdício nacional
relacionado ao proibicionismo e a guerra às drogas. Com esse fito, Lembrguber
et al. (2021) divulgaram um primeiro estudo denominado “Um Tiro no Pé:
Impactos da proibição das drogas no orçamento do sistema de justiça criminal
do Rio de Janeiro e São Paulo”. Nesse artigo a(o)s autor(a)es detalharam, os
custos do proibicionismo das drogas arcados pelas instituições de justiça
criminal das duas Unidades Federativas ao longo de 2017. A pesquisa revelou
que R$ 5,2 bilhões de reais foram drenados a essa atividade improdutiva nesses
dois estados, naquele ano.
O presente artigo se inclui no mesmo escopo de pesquisa, onde calculamos agora
as perdas ocasionadas pelas mortes associadas ao proibicionismo das drogas.
Estimamos o impacto o dessas mortes violentas em termos da perda de
expectativa de vida ao nascer, bem como em termos dos anos potenciais de vidas

21
Ver https://edition.cnn.com/2016/03/23/politics/john-ehrlichman-richard-nixon-drug-war-blacks-
hippie/index.html.
perdidos. Finalmente, estimamos a perda de bem-estar econômico, uma vez que
a morte prematura devido a tais violências gera não apenas diminuição de renda
e de consumo, mas ainda risco de vida, cujo valor intangível pode ser monetizado.
Segundo nossos cálculos, do total de mortes violentas intencionais 22, a parcela 21F

de óbitos que estava associada ao proibicionismo das drogas nos estados do Rio
de Janeiro, São Paulo e no Brasil 23, em 2017, eram, respectivamente, de 46,0%,
2 2F

27,7% e 34,3%.
Esses incidentes letais contribuíram para que a expectativa de vida ao nascer do
fluminense, paulista e brasileiro fossem reduzidas, respectivamente, de 7,4
meses, alguns dias e 4,2 meses.
Ao considerarmos à expectativa de vida condicional, em relação ao momento em
que a morte prematura se deu, estimamos os anos de vida potenciais perdidos
devido à morte por violência intencional atribuída à questão das drogas. Ao fazer
o cálculo agregado para o RJ, SP e Brasil, vimos que, em 2017, os fluminenses
perderam 153.000 anos de vida potenciais, enquanto os paulistas perderam
64.000 e os brasileiros perderam 1.148.000 anos de vida potenciais.
A perda de bem-estar econômica devido à mortalidade associada à violência nas
dinâmicas que envolvem drogas ilícitas, em valores de 2017, no Rio de Janeiro,
São Paulo e Brasil foi, respectivamente de R$ 7,6 bilhões, R$ 3,3 bilhões e R$
50,9 bilhões. Tais valores equivaleriam a um imposto intangível que cada
fluminense, paulista e brasileiro pagaria anualmente de R$ 457, R$ 73 e R$
269,5.
Somando as despesas financeiras arcadas pelos estados do Rio de Janeiro e São
Paulo, alocadas para a repressão e para a persecução e execução criminal
relacionadas às drogas – que, segundo Lembrguber et al. (2021), somariam um
montante de R$ 5,2 bilhões em 2017 – com as perdas intangíveis associadas as
mortes devido ao proibicionismo de drogas, redundaria num custo social de R$

22
Corresponde à soma de homicídios, lesões corporais seguida de morte, latrocínio e mortes por intervenção
policial.
23
Como notamos o cálculo para o Brasil tem fortes limitações, pois se baseia numa média das estimativas para RJ,
SP, e Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte e de Maceió. Trata-se, portanto, de um cálculo aproximado para
estimar a ordem de grandeza do problema no país.
16,1 bilhões por ano, apenas nessas duas Unidades Federativas.
Tal montante corresponde a um verdadeiro desperdício de recursos econômicos,
sem que se veja nenhum benefício em vista, levando em conta a fracassada
estratégia de proibicionismo e de guerra à oferta de drogas, conforme debatido
nesse artigo.
Já passa do momento de a sociedade, policy makers e academia deixarem de lado
as visões preconcebidas e tabus e passarem a debater seriamente alternativas ao
problema das drogas, como outros países, inclusive os Estados Unidos, vêm
fazendo, em que a violência é abandonada e substituída por ações mais
inteligentes de natureza educacional, por políticas de redução de danos e por
regulação e legalização dos mercados.
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Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), em Curitiba (PR),
no período de 31 de julho a 03 de agosto de 2018.
SOARES, L. E. (2002). Meu Casaco de General. Quinhentos Dias no Front da
Segurança Pública do Rio de Janeiro. Cia. Das Letras.
SOARES, Rodrigo R. (2006) The Welfare Cost of Violence Across Counties. The
Journal of Health Economics. 25, pp821-846.
THORNTON, Mark. (1991). The economics of prohibition. University of Utah
Press.

Apêndices

• Apêndice A1
Para efetuarmos os cálculos das perdas de expectativa de vida ao nascer e dos
anos potenciais de vida perdidos, precisamos, em primeiro lugar, definir a
probabilidade sobreviver entre o período t e t+1, que é calculado segundo a
expressão abaixo.

𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀(𝑡𝑡 + 1, 𝑡𝑡)
(1) 𝑆𝑆(𝑡𝑡 + 1, 𝑡𝑡) = 1 −
𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃çã𝑜𝑜(𝑡𝑡 + 1, 𝑡𝑡)

Similarmente, a probabilidade contrafactual de o indivíduo sobreviver entre t e


t+1, na ausência dos homicídios pode ser descrita por:

𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀(𝑡𝑡 + 1, 𝑡𝑡) − ℎ𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜(𝑡𝑡 + 1, 𝑡𝑡)


(2) 𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆(𝑡𝑡 + 1, 𝑡𝑡) = 1 −
𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃çã𝑜𝑜(𝑡𝑡 + 1, 𝑡𝑡)

A partir das definições (1) e (2) acima podemos calcular as probabilidades de


sobrevivência cumulativas ao longo da vida, para cada indivíduo que possui
idade igual a “a” para viver t anos, tendo em vista a situação observada nos dados
e a situação contrafactual, em que não existissem os homicídios, que são dadas
respectivamente por:

(3) 𝑆𝑆(𝑎𝑎 + 𝑡𝑡, 𝑎𝑎) = ∏𝑡𝑡−1


𝑖𝑖=𝑎𝑎 𝑆𝑆(𝑖𝑖 + 1, 𝑖𝑖) 𝑒𝑒 𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆(𝑎𝑎 + 𝑡𝑡, 𝑎𝑎) = ∏𝑡𝑡−1
𝑖𝑖=𝑎𝑎 𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆(𝑖𝑖 + 1, 𝑖𝑖)

Com as expressões descritas em (3), podemos calcular a expectativa de vida ao


nascer, a expectativa de vida ao nascer para a situação contrafactual de não
haver homicídio e a perda de expectativa de vida ao nascer, descritas pelas
expressões (4), (5) e (6).

(4) 𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣 𝑎𝑎𝑎𝑎 𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 = � 𝑆𝑆(𝑡𝑡, 0)


𝑡𝑡=1

(4) 𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣 𝑎𝑎𝑎𝑎 𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 = � 𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆(𝑡𝑡, 0)


𝑡𝑡=1
∞ ∞

(5) 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒. 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 = � 𝑆𝑆(𝑡𝑡, 0) − � 𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆(𝑡𝑡, 0)


𝑡𝑡=1 𝑡𝑡=1

O cálculo dos anos potenciais de vida perdidos devido aos homicídios (APVP) pode
ser feito pela expressão (10), onde o termo dentro do parêntesis refere-se às
expectativas de ano de vida para o indivíduo que possui idade = a, caso não
houvesse os homicídios. Nesta expressão, o índice v refere-se à vítima de
homicídio que possuía idade igual a “a” quando veio a óbito.

𝐻𝐻 ∞

(10) 𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴 = � � � 𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆(𝑡𝑡, 𝑎𝑎)�


𝑖𝑖=1 𝑡𝑡=𝑎𝑎+1 𝑣𝑣
• Apêndice A2

1. Metodologia

2.1 Modelagem Econômica


Assumimos que a utilidade no ciclo de vida do indivíduo, é um valor
descontado da utilidade do consumo em cada período (𝑢𝑢(𝑐𝑐𝑡𝑡 )), conforme descrito
na equação (1), abaixo. Note que neste modelo, a utilidade do consumo é
descontada não apenas por conta da taxa de desconto intertemporal do indivíduo
(𝛽𝛽), mas ainda pela probabilidade de sobrevivência em cada momento, expressa
pela função de sobrevivência 24. 23F


(1) U (a) = ∑ β (t −a ) S (t / a, v).u (ct )
t =a

É assumida ainda a existência de um mercado de crédito completo, em que a


restrição orçamentária do indivíduo é dada pela equação (2), onde r é a taxa de
juros, 𝐴𝐴𝑎𝑎 é a riqueza do indivíduo acumulada até a idade “a” e y(.) é a renda do
indivíduo.
(t − a )
 1 

(2) Aa + ∑   S (t / a, v). y (t / a ) =
t =a  1 + r 
(t − a )

 1 
∑  
t =a  1 + r 
S (t / a, v).ct

A otimização do consumidor implica numa condição de primeira ordem


descrita em (3) abaixo 25, onde 𝜆𝜆𝑎𝑎 é o multiplicador lagrangeano para o indivíduo
24F

com idade “a”.


(t −a )
 1 
(3) β (t −a )
u ' (ct ) = λ a . 
1+ r 
Usando o teorema do envelope, tem-se que a disposição marginal a pagar pela

24
O modelo assume, implicitamente, que a utilidade no estado de “morte” é normalizado a zero. Conforme discutido
por Rosen (1988).
25
A solução do programa deve deixar claro que a modelagem ora proposta toma como dado o nível de violência, não
considerando efeitos de equilíbrio geral ou outros custos de bem-estar associados a mudança do padrão de consumo
e alocação ineficiente de recursos para a prevenção a violência.
alteração na função de sobrevivência devido à diminuição da violência é dada
por:
∂V (a ) ∂S 1
MWPa =
∂S ∂v λ a

∑β (t − a )
u (ct ).S (t / a, v)
MWPa = t =a
+
λa
(t − a )

 1 
∑  
t =a  1 + r 
[ y (t / a) − ct ].Sv (t / a, v)

Considerando 𝜀𝜀(𝑐𝑐𝑡𝑡 ) como a elasticidade da função utilidade instantânea ao


consumo e utilizando a condição de primeira ordem, tem-se que:
(t − a )

 1   ct 
(4) MWPa , g , s ,UF = ∑    + y (.) − c t .S v (t / a, v)
t =a  1 + r   ε (c t ) 

Note que a MWP será tanto maior quanto mais perto estiver o indivíduo do
momento em que a mortalidade se reduz, isto porque o futuro é descontado a
uma taxa r > 0. Por outro lado, note que quanto maior é o consumo e quanto
maior é a poupança no momento em que a redução da mortalidade ocorre, maior
será essa MWP.
A partir da equação (4) calcularemos a disposição marginal a pagar pela
sociedade para diminuir a violência (SMWP). Para tanto consideraremos a
estrutura demográfica das gerações atuais, bem como das gerações futuras,
conforme equação (5), abaixo:
τ

 1  ∞
(5) SMWP = ∑ MWPa .p (a,0) + ∑ MWP0 .  p (0,τ )
a =0 r =0 1+ r 

Onde p(a,0) corresponde à população com idade “a”, no momento atual, isto
é t=0.
Para o cálculo acima, estimaremos, com base na PNAD de 2017, a curva de
renda média por idade no RJ, bem como a população residente por idade. Os
parâmetros serão calibrados, conforme Cerqueira e Soares (2014).
• Sobre a Função Sobrevivência
A função de sobrevivência Sv mede o aumento na probabilidade de
sobrevivência, para um indivíduo com idade a viver até a idade t, que se daria
devido à extinção das mortes violentas. Essa pode ser expressa, portanto,
conforme descrito na equação (6), pela diferença da probabilidade de um a função
sobrevivência contrafactual, onde não existisse mortes violentas, em relação a
função de sobrevivência para dada taxa de vitimização observada, conforme
apontado no Apêndice A1.
( 6) Sv (t / a, v) = SNV (t / a, v = 0) − S (t / a, v)
• Apêndice A3

A estimativa de renda média para cada idade foi feita a partir das bases de dados
da PNAD Contínua para os anos de 2016, 2017 e 2018. Foram importados a
partir dos microdados de divulgação anual (1º e 5ª visita) disponíveis no site do
IBGE para o Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro.

Neste processo, as seguintes variáveis foram importadas:

• V1008 "Número de seleção de domicílio"


• V1030 "Projeção da população"
• V1031 "Peso do domicílio e das pessoas correção de não entrevista sem
pós estratificação pela projeção da população"
• V1032 "Peso do domicílio e das pessoas correção de não entrevista com
nós estratificação pela projeção da população"
• V2008 "Dia de nascimento"
• V20081 "Mês de nascimento"
• V20082 "Ano de nascimento"
• V2009 "Idade do morador na data de referência"
• V403312 "Rendimento bruto/retirada mensal que recebia/fazia
normalmente neste trabalho (valor em dinheiro)"
• V403322 "Rendimento bruto/retirada mensal que recebia/fazia
normalmente neste trabalho (valor estimado dos produtos ou
mercadorias)"
• V403412 "Rendimento bruto/retirada mensal que recebeu/fez neste
trabalho no mês de referência (valor em dinheiro)"
• V403422 "Rendimento bruto/retirada mensal que recebeu/fez neste
trabalho no mês de referência (valor estimado dos produtos ou
mercadorias)"
• V405012 "Valor em dinheiro do rendimento mensal que recebia
normalmente nesse trabalho secundário"
• V405022 "Valor estimado dos produtos e mercadorias que recebia
normalmente nesse trabalho secundário"
• V405112 "Valor em dinheiro do rendimento mensal que recebia nesse
trabalho secundário no mês de referência"
• V405122 "Valor estimado dos produtos e mercadorias do rendimento
mensal que recebia normalmente nesse trabalho secundário"
• V405812 "Valor em dinheiro do rendimento mensal que recebia
normalmente nesses outros trabalhos"
• V405822 "Valor estimado dos produtos e mercadorias do rendimento
mensal que recebia normalmente nesses outros trabalhos"
• V405912 "Valor em dinheiro do rendimento mensal que recebeu nesses
outros trabalhos no mês de referência"
• V405922 "Valor estimado dos produtos e mercadorias que recebeu
normalmente nesses outros trabalhos no mês de referência"
• V5001A2 "Valor efetivamente recebido (BPC_LOAS)"
• V5002A2 "Valor efetivamente recebido (Bolsa família)"
• V5003A2 "Valor efetivamente recebido (outras fontes do governo)"
• V5004A2 "Valor efetivamente recebido (INSS, Pensão...)"
• V5006A2 "Valor efetivamente recebido (Pensão alimentícia)"
• V5007A2 "Valor efetivamente recebido (Aluguel)"
• VD4016 "Rendimento mensal habitual do trabalho principal"
• VD4017 "Rendimento mensal efetivo do trabalho principal"
• VD4019 "Rendimento mensal habitual de todos os trabalhos"
• VD4020 "Rendimento mensal efetivo de todos os trabalhos"
• VD4022 "Rendimento efetivo de todas as fontes"
• VD4047 "Rendimento efetivo recebido de programas sociais"
• VD4048 "Rendimento efetivo recebido de outras fontes".
- PESO
Para todas as análises utilizamos o Peso do Domicílio e das Pessoas (correção de
não entrevista com pós estratificação pela projeção da população). Após aplicação
do peso fizemos um teste para verificar se as estimativas produzidas a partir do
cálculo com o banco de dados eram as mesmas que as divulgadas pelo IBGE.

- CÁLCULO DA VARIÁVEL RENDA


Para o cálculo da renda, construímos a variável Renda, a partir da soma das
seguintes variáveis:V403312, V403322, V405012, V405022, V405812, V405822,
V5001A2, V5002A2, V5003A2, V5004A2, V5006A2, V5007A2, que leva em conta
o(s) rendimento(s) normalmente/efetivamente recebido no trabalho principal,
secundário e outras fontes. Neste processo consideramos as visitas 1 e 5 de cada
ano. Tal procedimento se fez necessário em função da ausência da variável
VD4022 (Rendimento mensal efetivo de todas as fontes) para o ano de 2018.

- CÁLCULO DA ESTIMATIVA DA POPULAÇÃO


Para a estimativa da população utilizamos as bases de dados referente à primeira
vista de cada ano. É preciso ressaltar que as estimativas populacionais na PNAD
de cada ano batem com o ano anterior da estimativa disponibilizada pelo IBGE.
Ou seja, a população total encontrada para 2016 pela PNAD é parecida com a
estimativa populacional do IBGE para 2015.

- CÁLCULO POR IDADE


Foram calculadas as estimativas da população e renda de todas as fontes para
todas idade de 14 a 100 anos para os anos de 2016, 2017 e 2018. O passo
seguinte foi o cálculo da média da renda para cada idade nos três anos. Em
seguida, tendo as rendas médias e a população por idade para 2016, 2017 e
2018, calculamos a média para os três anos. Assim, foi criada o banco de dados
“PNADc_2016-2018_LONG.sav”.
Anexo 1
Distribuição dos crimes segundo a motivação estabelecida pela SSP-SP para
2017.

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