Artigo 195922 1 10 20220618
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O
Hip Hop é uma expressão cultural multifacetada, que tradicio-
nalmente pode ser decomposta em quatro elementos: o grafite,
enquanto vertente ligada às artes visuais; a dança de rua,
representada principalmente pelo break e por personagens como os b-boys
e b-girls; o Disc-Jockey (DJ), que comanda as pick-ups (toca-discos);
e o Mestre de Cerimônia (MC), que compõe rimas e poesias. Estes dois
últimos são os principais responsáveis pelo que é chamado de rap (rhythm
and poetry – ritmo e poesia). Diversos hip hoppers, sobretudo o influente DJ
Afrika Bambaataa, propuseram a existência do chamado “quinto elemento”,
que envolveria o reconhecimento da realidade histórica, cultural e social
dos grupos oprimidos.1 Desde sua origem, o rap funciona como uma
ferramenta para a expressão daquilo que os sujeitos periféricos veem,
sentem e sabem, refletindo sobre a realidade ao seu redor.2 Ao inserir-se na
realidade brasileira, o rap incorpora em seu discurso elementos singulares
dos processos raciais locais, marcados por um longo período escravocrata
20 Lorran Douglas Silva, “A política por trás do som: uma análise do rap como narrativa
política do movimento de resistência negro”, Revista do Instituto de Ciências
Humanas, v. 16, n. 25 (2020), pp. 37-64 .
21 Teperman, “O rap radical e a “nova classe média””.
22 Róbson Peres Rocha, “A Velha Escola de Rap e a Nova Escola de Rap: problemas
de método na análise de grupos culturais”, Revista Contraponto, v. 7, n. 2 (2020),
pp. 25-45 .
23 Almeida, O que é racismo estrutural.
24 Clóvis Moura, Escravismo, colonialismo, imperialismo e racismo, São Paulo: IBEA, 1983.
39 Rita Amaral e Vagner Gonçalves da Silva, “Foi conta para todo canto: as religiões
afro-brasileiras nas letras do repertório musical popular brasileiro”, Afro-Ásia, v. 34,
n. 34 (2006), pp. 189-235 ; Raquel Turetti Scotton e Sônia Regina Corrêa Lages,
“Ogum, a voz do gueto: o orixá do Rap e da rima nas letras de Criolo e Emicida”,
PLURA, v. 11, n. 1 (2020), pp. 169-186 .
40 Fernandes, “O rap nacional e o caso Djonga”.
41 Silva, “A política por trás do som”.
42 Joseli Aparecida Fernandes e Elaine de Souza Pinto Rodrigues, “Rap: instrumento de
libertação e reconhecimento da identidade negra”, Revista (Entre Parênteses), v. 1,
n. 7 (2018) ; Silva, “A política por trás do som”; Gabriel Delphino Fernandes de
Souza, Thiago Campos da Silva e Fernando Rodrigues da Silva, “Cultura popular
negra: decolonialidade no rap e em produções audiovisuais”, Tropos, v. 9, n. 2 (2020),
p. 1-24 ; Fernandes, “O rap nacional e o caso Djonga”.
43 Hall, Da diáspora; Castells, O poder da identidade.
Quadro 1
Músicas analisadas
Intérprete(s) Álbum Ano Música
A Fantástica Fábrica
Eduardo Taddeo 2014 Eu Acredito
de Cadáveres
A Fantástica Fábrica Aprendendo com os
Eduardo Taddeo 2014
de Cadáveres Corpos Desfigurados
Thiago Elniño Fundamento 2015 Amigo Branco
Sobre Crianças,
Emicida Quadris, Pesadelos e 2015 Boa Esperança
Lições de Casa
Sobre Crianças,
Emicida, Marcelino
Quadris, Pesadelos e 2015 Trabalhadores do Brasil
Juvêncio Freire
Lições de Casa
Emicida,
Sobre Crianças,
Drik Barbosa, Amiri,
Quadris, Pesadelos e 2015 Mandume
Rico Dalasam, Muzzik e
Lições de Casa
Raphão Alaafin
ADL, Sant,
Favela Vive (Cypher)44 2016 Favela Vive
Raillow e Froid
ADL, BK,
Favela Vive 2 (Cypher) 2016 Favela Vive 2
Funkero e MV Bill
Filhos De Um Deus
Thiago Elniño 2016 Diáspora
Que Dança
Yzalú Minha Bossa É Treta 2016 Mulheres Negras
Thiago Elniño, part. Sant
Rotina do Pombo 2017 Pegadoginga
e KMKZ
Djonga Olho de Tigre (Single) 2017 Olho de Tigre
Que Iansã nos faça gira da prosperidade / Pra cada moleque preto
nos canto dessa cidade / [….] / Certeiro como a flecha de Oxóssi,
eu vim pela posse / Do povo preto, de tudo aquilo que é seu / Sentiu
que o céu estremeceu / Trovão, machado de Xangô (a justiça chegou) /
E pra vocês, a lâmina de Ogum, e aos pretos, um por um / Conforto ao
colo de Oxum e respeito comum / E que busquemos a paz de Oxalá
pela rota de Iemanjá / Retorno ao que nos foi tomado / E que Nanã nos
receba de volta no solo sagrado.64
66 Djonga, “De Lá” in O Menino que Queria Ser Deus, São Paulo: Ceia Ent. 2018
67 Bastide, As religiões africanas no Brasil.
68 Scotton e Lages, “Ogum, a voz do gueto”.
69 Coruja Bc1; part. Diomedes Chinaski, “Ogum” in Coruja Bc1, Psicodelic, [s.l.]:
independente, 2019.
70 Emicida, Jé Santiago, Nave, Papillon; part. Dona Onete, Jé Santiago, Papillon,
“Eminência Parda” in Emicida, AmarELO.
71 Reginaldo Prandi, Mitologia dos orixás, São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 21.
72 Fernandes, Significado do protesto negro.
O mais próximo de casa que eu estive foi o mar / Boto os meus pés na
água e me lanço a pensar / Como é a vida aqui, como é a vida lá / Sinto
que eu não sou daqui, pra casa eu quero voltar / […] / Eu me sinto a um
oceano de casa / É como se faltasse um pedaço meu.73
106 Almeida, O que é racismo estrutural; Moura, Dialética radical do Brasil negro; Carlos
Hasenbalg, Discriminação e desigualdades no Brasil, 2ª ed., São Paulo: Humanitas, 2005.
107 Djonga, “Bença” in Ladrão, São Paulo: Ceia Ent. 2019.
108 Hasenbalg, Discriminação e desigualdades no Brasil.
109 Djonga, “Junho de 94” in O Menino Que Queria Ser Deus São Paulo.
110 Moura, Dialética radical do Brasil negro; Mário Theodoro, “A formação do mercado
de trabalho e a questão racial no Brasil” in As políticas públicas e a desigualdade
racial no Brasil: 120 anos após a abolição (Brasília: Ipea, 2008).
111 Djonga, “Voz” in Djonga, Chris MC, Coyote Beatz, Dougnow, Ladrão, São Paulo:
Ceia Ent. 2019
112 Fernandes, A integração do negro na sociedade de classes; Sérgio Adorno, “Exclusão
socioeconômica e violência urbana”, Sociologias, n. 8 (2002), pp. 84-135 ;
Nascimento, O genocídio do negro brasileiro; Moura, Escravismo, colonialismo,
imperialismo e racismo.
113 Raymundo Nina Rodrigues, Epidémie de folie religieuse au Brésil, Paris: L.
Maretheux, 1898.
114 DK, Lord, “Favela Vive” in ADL, Sant, Raillow e Froid, Favela Vive, Rio de Janeiro:
Esfinge Records, 2016.
80 tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo / Quem disparou
usava farda (mais uma vez) / Quem te acusou nem lá num tava
115 ADL, BK, Funkero, MV Bill, “Favela Vive 2” in Favela Vive 2, Rio de Janeiro:
Esfinge Records, 2016.
116 Camburão é um carro de polícia blindado, usado para transportar presos, que se tornou
um símbolo das incursões policiais violentas nas periferias.
117 Leandro Roque de Oliveira, Vinicius Leonard Moreira, “Boa Esperança” in Emicida,
Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa.
122 Achille Mbembe, “Necropolítica”, Arte & Ensaios, n. 32 (2016), pp. 123-151 .
123 Alexandre Magalhães, “A guerra como modo de governo em favelas do Rio de
Janeiro”, Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 36, n. 106 (2021), p. 8 .
124 ADL, BK, Funkero, MV Bill, “Favela Vive 2” in Favela Vive 2.
125 Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Anuário Brasileiro De Segurança Pública,
ano 14, 2020 .
Conclusão
doi: 10.9771/aa.v0i65.45173