Contratos Nas Minas Setecentistas: O Estudo de Um Caso - JOÃO DE SOUZA LISBOA (1745-1765)

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 29

CONTRATOS NAS MINAS SETECENTISTAS: O ESTUDO DE UM CASO –

JOÃO DE SOUZA LISBOA (1745-1765)

Luiz Antônio Silva Araujo

1. Introdução
A presente pesquisa tem pôr objetivo discutir a trajetória do comerciante e
contratador Cel. João de Souza Lisboa, em Vila Rica em meados do século XVIII, no
contexto de apogeu e declínio da atividade aurífera nas Minas Gerais. As datas
balizadoras da pesquisa abarcam um período de 20 anos, sendo a primeira, 1745, data
das primeiras anotações no Livro Conta Corrente de sua Casa Comercial, considerada
como marco das atividades estritamente comerciais de João de Souza Lisboa em Vila
Rica e, provavelmente, “porta de entrada” para o restrito universo dos contratadores de
tributos e rendas da Coroa lusitana. O ano de 1765, completa o balizamento
cronológico, na medida que é último ano de sua atuação como contratador através do
Contrato Dízimos (1762-1765) e das Passagens dos Rios Paraíba e Paraibuna (1763-
1765).
O século XVIII foi particularmente marcante para a vida colonial brasileira
e para sua metrópole em razão das transformações geradas pela descoberta do ouro das
Minas Gerais, de Goiás, Mato Grosso e Bahia e do diamante na região do Tejuco. Em
Portugal aprofundava-se a dependência lusitana em relação à economia inglesa, quando
da descoberta do ouro das “gerais”. O contexto de dificuldades econômicas e as
características da atividade mineradora, sujeita aos “descaminhos do ouro”, levaram a
implantação de um forte aparato fiscalista com a presença marcante de uma estrutura
estatal que foi sendo implantada à medida que ocorreu o desenvolvimento da colônia,
visando garantir os interesses metropolitanos tanto dos grupos mercantis, quanto os
interesses do erário real, estes através de tributos de diversos tipos.
Para a colônia o período dos setecentos, além da presença crescente do
aparelho estatal, foi marcado pelo acentuada interiorização, integração econômica das
diversas regiões e o deslocamento do centro político e econômico do norte para o sul
(Rio de Janeiro e Minas Gerais). A mineração levou a um intenso povoamento do
interior seja pela própria atividade extrativa do metal precioso, seja em razão da
formação de novas áreas de produção de gêneros de abastecimento que, juntamente com

X Seminário sobre a Economia Mineira 1


as áreas já constituídas anteriormente à mineração (São Paulo e Bahia, por exemplo),
vão ampliando o território de efetiva ocupação lusitana com atividades produtivas cada
vez mais diversificadas, se comparadas aos séculos XVI e XVII. Segundo Sérgio
Buarque de Holanda
“Aos poucos, os próprios paulistas, e não apenas emboabas do Rio, do Norte e do
Reino, deixavam-se contagiar pela sedução dos grandes cabedais que resultava do
comércio das Minas. (...) A sedução dos negócios altamente rendosos, incluídos
neles os de contrabando, serviu, provavelmente, para povoar aquele sertões, ainda
mais do que o das minas do ouro, que foram a causa indiretas deles.”i

A carestia de gêneros de várias espécies que marcou a região mineradora em


sua fase inicial, estimulou as atividades comerciais propiciando lucros avultados. O
interesse da administração portuguesa na mineração, permitia à atividade comercial
desenvolver-se com mais liberdade na colônia. Tal atividade se expandiu através de
uma vasta rede interligando as diversas regiões que abasteciam as áreas auríferas de
manufaturados, escravos, gêneros alimentícios, gado, etc. Os centros urbanos se
expandiram e “caminhos” se formaram possibilitando lucros para comerciantes
metropolitanos e residentes na colônia. Estes últimos de diversos tipos: Volantes
(Tropeiros, Comboieiros, Mascates, entre outros) e Fixos (Vendeiros e Lojistas).ii
Formaram-se uma séries de redes mercantis articulando diversas áreas
produtivas, dando à colônia a condição de uma sociedade que, sem negarmos as
relações de dependência e dominação com a metrópole determinantes na construção da
sociedade colonial, possuía suas particularidades e um determinado grau de autonomia
em relação à metrópole, isto é, não foi a colônia um simples reflexo do projeto
colonizador lusitano.
Minas Gerais, neste sentido, assumiu um papel de grande importância tanto
pela diversificação social e econômica que a caracterizou, quanto pelo estímulo a
formação de novas áreas de ocupação e crescimento das antigas. A especialização típica
da atividade mineradora, levava a importação de gêneros manufaturados e alimentícios,
inicialmente supridas as necessidades desses produtos através do mercado internacional
e intracolonial. Entretanto, o fato do ouro se constituir em moeda que poderia a qualquer
momento ser posta em circulação estimulou a formação de um setor agrário voltado
para o abastecimento dos gêneros com alta demanda nas áreas mineradoras.iii
A economia da região das Minas possuía também um caráter pré-capitalista
nas suas relações de produção, de base escravista. Bárbara Levy ao comentar a

X Seminário sobre a Economia Mineira 2


sociedade feudal, destaca:
“Os comerciantes, aumentado sua riqueza e seu poder, vinculavam-se como
parceiros e não como adversários à nobreza que lhes concedia monopólios e
privilégios, constituindo-se na principal clientela para suas mercadorias.”iv

Ainda segundo B. Levy, a acumulação se realiza sobre a diferença entre o


preço da compra e o preço de venda das mercadorias, não sendo o capital comercial
determinante do processo de produção. Assim o capital comercial, produtor de juros, é
acumulado desligado da produção, sendo o dinheiro, equivalente geral de trocav,
mercadoria transacionada. Numa economia mercantil, isto é, com dominância das
relações sociais de troca, a burguesia mercantil utiliza-se dessa dominância para a
acumulação de capital mas, também para a apropriação do sobre-trabalho graças ao
poder político-militar.
Tais características, economia mercantil e presença do capital mercantil
produtor de juros, típicas de sociedades pré-capitalistas como a mineira, levaram, em
primeiro lugar, à formação de um mercado altamente especulativo e de uma atividade
comercial com práticas usurárias acentuadas. Formou-se uma rede de comércio
envolvendo o abastecimento entre as regiões da própria capitania, o comércio da
capitania com demais regiões da colônia e aquele voltado para o mercado externo,
especificamente com a Europa e a África. Neste contexto podemos destacar os
comerciantes sediados em Portugalvi, os comerciantes das praças do Rio de Janeiro e
Bahia e os comerciantes locais da capitania (estes volantes ou fixos).
Em segundo lugar, o rápido crescimento e o caráter mercantil, contribuiram
para acentuar a atuação de comerciantes nos “negócios” da Coroa. Os contratadores,
atuavam na colônia a serviço da Coroa em diversos setores. Eram contratadores de
rendas e tributos reais que arrematavam em leilão o direito de cobrança de tributos ou
exclusividade sobre uma série de atividades econômicas. No Império português os
contratos envolviam a pesca do coral, pesca do Atum em Algarves, do marfim, dos
escravos, da malagueta, das especiarias, das alfândegas de Portugal, do pau-brasil, entre
outros.vii O Coronel João de Souza Lisboa foi, em relação aos contratos relativos à
Capitania de Minas Gerais, o maior contratador.
M. Ellis nos chamou a atenção para que o estudo acerca dos comerciantes
luso-brasileiros, atuantes nas praças litorâneas, no sertão, nas áreas da mineração, deve
considerar os vínculos entre os negócios na colônia e os comerciantes na metrópole,

X Seminário sobre a Economia Mineira 3


inclusive na arrematação de contratos tributários. Salientando a carência de estudos a
respeito dos contratos, coloca em evidência que se a mineração alargou o povoamento e
ampliou mercados e negócios, não foi menos significativa em matéria de tributos e
monopólios.viii
Tiveram os contratadores papel importante no processo de interiorização da
presença metropolitana na região mineradora, usufruindo de privilégios através da
concessão de títulos e direito de cobranças de tributos a serviço do erário real (pôr
exemplo, a arrematação do direito de cobrança de dízimos, entradas, direito de
passagem). Neste sentido, sem negarmos os conflitos entre as contratadores e
produtores na colônia e destes com as autoridades reais; sem negarmos as imposições de
uma sociedade do tipo Antigo Regime, onde ainda prevaleciam elementos de origem
feudal, o comerciante/contratador se constituía em parceiro do empreendimento colonial
na área da mineraçãoix, principalmente se considerarmos que diante da carência de
recursos do Estado metropolitano e o caráter mercantil e voltado para a produção de
mercadoria-dinheiro (ouro) da economia mineira, o comércio era importante caminho
da cobrança de tributos que beneficiavam o tesouro real. Em suma, era, de um lado,
fundamental na consolidação do empreendimento mineiro, principalmente no
abastecimento, por outro lado, também fundamental como meio de garantir os interesses
reais, sendo marcado pelo rigoroso controle estatal.
Em relação ao controle estatal, o fiscalismo e a tributação foram as grandes
marcas do Estado metropolitano na região das minas. Para os mercantilistas portugueses
a verdadeira riqueza não era formada pela produção em si e sim pela renda que mesma
proporcionava à Coroax articulada com a “burguesia mercantil”. Na colônia buscava-se
dificultar o contrabando e controlar a atividade comercial, neste caso tanto para impedir
o caráter especulativo que assumia (visando a garantir o abastecimento)xi como pôr ser o
comércio importante atividade na cobrança de tributos.
Na medida que o tema central deste trabalho é a atuação de contratadores de
tributos reais numa sociedade do Antigo Regime, é fundamental o estudo das relações
de poder que marcaram a atuação daqueles que controlaram o Estado português e a ele
estiveram vinculados no tocante ao objeto em estudo.
A compreensão das relações entre o centro e a periferia, metrópole e colônia
numa sociedade do tipo Antigo Regime, não deve se limitar a uma visão de “mão única”

X Seminário sobre a Economia Mineira 4


onde o poder é visto apenas na perspectiva do controle monárquico sobre uma
sociedade subserviente, ordenada e controlada sem interferência da mesma junto ao
Estado.xii Na busca de identificar relações de negociação centro/periferia, Fragoso em
trabalho recentexiii nos mostra que o Senado da Câmara do RJ, no século XVII,
interferia nos preços do açúcar e dos fretes e que proporcionava aos senhores de
engenho, controladores do Senado, interferir no mercado do açúcar, relativizando a
capacidade de controle metropolitano sobre a colônia, isto é, os preços poderiam ser
negociados. Outro exemplo de poder de negociação da Câmara, citado por Fragoso, está
obtenção do direito de moradores do RJ de enviar, a partir de 1669, dois navios
negreiros para Angola, cabendo aos coloniais a escolha dos mercadores que fariam tal
transação.
Ainda no âmbito das relações de poder e na sociabilidade no tipo Antigo
Regime lusitano, devemos considerar importante elemento de prestígio que é
nobilitação através de títulos e distinções. A sociedade portuguesa do século XVIII
viveu um processo de redefinições de privilégios envolvendo a condição de nobreza.
Segundo N. G. Monteiroxiv em Portugal a definição jurídica de nobreza em fins do
Antigo Regime era mais ampla que a de fidalguia (para esta existia uma lista nacional
constituindo um grupo reduzido em relação ao conjunto da população). Fortalece-se a
distinção entre nobreza civil (fruto de uma concessão real e vai se ampliando) e nobreza
natural (mais restrita, a fidalguia, sofre também alterações na ascensão aristocrática, em
especial após a Restauração – 1640 – quando da afirmação da Casa dos Bragança). A
partir do século XVIII consolida-se essa distinção e a efetiva “banalização” das
fronteiras da nobreza. Paralelamente houve uma tendência de redução dos privilégios da
fidalguia e de suas isenções tributárias.
O “viver nobremente” poderia advir pelo desempenho de funções
nobilitantes, como por exemplo, pertencer ao corpo de oficiais de ordenança (este foi o
caso de João de Souza Lisboa e alguns de seus sócios). O acesso às atividades de grosso
trato constituiria prova de nobreza. Bom exemplo de nobilitação dos comerciantes de
grosso são as habilitações da Ordem de Cristo que tendem à banalização (também aqui
se encaixa João de Souza Lisboa). Este processo consolidou-se com o pombalismo. Nas
palavras de Monteiro,
“O pombalismo (1750-1777) consagrou definitivamente a compatibilidade entre a
nobreza e o comércio por grosso, aliás nunca frontalmente questionada no direito

X Seminário sobre a Economia Mineira 5


tradicional português. Foi ainda o pombalismo que aboliu a distinção entre
cristãos-novos e cristãos-velhos, que poderá ter actuado como mecanismo de
substituição de regras estritas de admissão nobiliárquica.”xv

Uma última consideração acerca das relações políticas antes de adentrarmos


na trajetória de João de Souza Lisboa. Na sociedade do Antigo Regime não se fazia a
distinção entre Estado — poder de coerção/Sociedade Política — e Sociedade Civil ou
interesse público/interesse privado como realidades contraditórias, mas como interesses
de uma unidade mais vasta, o Bem Comum.xvi.

2. O Homem de Negócio
João de Souza Lisboa, Coronel de Ordenança, Cavaleiro da Ordem de
Cristo, comerciante/contratador nas Minas Gerais entre as décadas de 40 e 70 do século
XVIII, constituiu-se num dos maiores “dizimeiros” a serviço da coroa nas Minas
Setecentistas. A menção mais antiga sobre ele encontrada na documentação pesquisada
é relativa ao livro conta corrente com data de abertura em 20 de março de 1745,
relativo aos créditos por ele concedidos, com referências a venda de escravos, secos e
molhados e de práticas usurárias, somando, já no ano de 1745 créditos concedidos no
valor de 770$000xvii. No dia 19 de outubro de 1745 foi nomeado ao posto de Capitão de
uma das duas Compas da Ordenança de Pé da Vila de S. João del Reyxviii. Em
06.10.1749 arrematou três contratos de Passagens — do Rio das Mortes, do Rio Grande
e do Rio Verde.

CONTRATOS DE JOÃO DE SOUZA LISBOA


DAS PASSAGENS DO RIO DAS MORTES .........................1749
DAS PASSAGENS DO RIO GRANDE ................................. 1749
DAS PASSAGENS DO RIO VERDE .....................................1749
DOS DÍZIMOS ........................................................................ 1750-1753
DOS DÍZIMOS ........................................................................ 1753-1756
DOS RIOS DA COMARCA DE SABARÁ ........................... 1755
DOS DÍZIMOS ........................................................................ 1756-1759
DOS RIOS DA COMARCA DE SABARÁ ........................... 1761
DOS DÍZIMOS ........................................................................ 1762-1765
ENTRADAS ............................................................................1762-1764
DAS PASSAGENS DOS RIOS PARAÍBA E PARAIBUNA..1763-1765

X Seminário sobre a Economia Mineira 6


Livro Conta Corrente - Créditos Concedidos

50.000,000
45.000,000
40.000,000
35.000,000
30.000,000
Réis

25.000,000
20.000,000
15.000,000
10.000,000
5.000,000
-
9

9
74

75

75

76

76

77

77
-1

-1

-1

-1

-1

-1

-1
45

50

55

60

65

70

75
17

17

17

17

17

17

17
A década de 1750, parece ter sido especialmente promissora para o
negociante, tanto pelas atividades comerciais quanto pela arrematação dos contratos de
cobranças de tributos. Entre os anos de 1750 e 1759, foram arrematados três contratos
de cobrança dos Dízimos reais na Capitania das Minas Gerais pôr uma companhia,
tendo como cabeça João de Souza Lisboa. O primeiro contrato do dízimos (1750-1753),
em sociedade com o Capitão Pedro Teixeira de Carvalho e o Sargento-mor João de
Sequeira (este sócio em todos os contratos de dízimos e no de entradas) foi arrematado
por 271:488$000. O quarto contrato dos Dízimos (1762-1765), foi arrematado pela
importância de 226:560$000 para o triênioxix. Este último arrematado por uma
sociedade encabeçada por João de Souza Lisboa da qual faziam parte: Sargento-mor
João de Sequeira, Capitão José Caetano Rodrigues de Horta, Manoel Teixeira Sobreira ,
Manoel Machado e João da Costa Carneiro.xx A sociedade além do contrato dos
Dízimos, arrematou o das Entradas (1762/1764) por 734:040$000 e o das passagens dos
Rios Paraíba e Paraibuna (1763/1765) por 46:830$000. Os três últimos contratos,
arrematados à mesma época e pela mesma sociedade encabeçada pelo Coronel João de
Souza Lisboa (Entradas, Dízimos e Passagens) perfazem um total de 1.007:430$000.
A década de 1760 parecia indicar uma fase de crescimento significativo das
atividades de João de Souza Lisboa. O valor acima, mais de mil contos de réis, seria o
equivalente a 163 @ e 31 £ para o triênio ou 54 @ 20 £ por anoxxi. Vale lembrar que à
esta época prevalecia o mínimo de 100 arrobas/ano do quinto e que a maior arrecadação

X Seminário sobre a Economia Mineira 7


foi a de 1759 de 116 arrobas. Sem dúvida tais valores nos permite dimensionar a
importância destes tributos para o Estado lusitano e da atuação dos contratadores numa
estrutura fiscalista como a implantada em Minas Gerais.
O prestígio do contratador pode ser demostrado pela nomeação, em
dezembro de 1761, ao posto de Coronel do Regimento da Nobreza Privilegiada e
Reformados desta Villa, e seu termo, através de Carta Patente pôr ser
“(...) pessoa de Capacidade, préstimo, inteligência, e zelo, (...), abundante de bens,
e com bom tratamento, que em primeiro lugar me foi proposto na forma das
Ordens do dito Snr pelos oficiais da Câmara desta Vila, com assistência do
Capitão Mor dela Antônio Ramos dos Reis para exercer o dito posto (...)
condecoração que não vencer soldo algu, mas gozara de todas as honras,
privilégios, liberdade, isenções e franqueza que em razão dele lhe pertencerem.” Os
grifos são meus. (AHU - doc. 0398).

No mesmo ano, duas concessões de sesmariasxxii e, ao que tudo indica, não


eram apenas uma questão de prestígio mas também diversificação/necessidadexxiii dos
investimentos como indica a documentação no registro de Sete Lagoas de
responsabilidade de comerciante, pôr passarem cabeças de gado em sua conta. Para o
período relativo ao contrato de cobrança dos dízimos, encontrei um valor mínimo de
3:572$000 referente à passagem de gado na conta de João de Souza Lisboa no registro
de Sete Lagoasxxiv.
Entretanto, em 1764 é decretada a prisão e o confisco dos bens de João de
Souza Lisboa e seus sócios pelo não cumprimento das condições dos contratos. A
princípio a Guerra Ibérica (1762-63), inserida no contexto da Guerra dos Sete Anos e
envolvendo as disputas pelo controle da bacia da Prata, colocando Portugal e Espanha
em confronto com intensos combates no Sul da América portuguesa, teria sido o
principal motivo das dificuldades do comerciante. A principal alegação de João de
Souza Lisboa foi a demora de 15 meses da frota no Rio de Janeiro, comprometendo o
abastecimento de gêneros originários da Europa e da África (escravos) o que teria
resultado na diminuição da arrecadação no contrato das Entradas. Tal argumentação,
como consta do processo, foi aceita pela administração portuguesaxxv. Realmente, no
Caminho Novo, o de maior movimento, a arrecadação caiu de 419:100$046 (triênio
anterior) para 336:919:$616 no triênio de João de Souza Lisboa, perfazendo uma queda
de 82:180$430 no movimento do registro. Entretanto, por mais que a guerra tenha sido
um fator relevante para explicar eventuais prejuízos, devemos considerar também o

X Seminário sobre a Economia Mineira 8


conjunto dos contratos da Segunda metade do século XVIII para Minas Gerais.
Em carta de 06/02/1784, o governador Luis da Cunha Menezes, dirigida a
D. Maria I (AHU 0225), apresenta as dificuldades de recebimento das dívidas que os
contratadores de tributos tinham com a Coroa. Em 1786 chegavam a 2.460:987$813. O
governador apresenta sugestões para abrandar a forma de pagamento e com isso a Coroa
receber parte do débito. Na mesma documentação foram discriminadas as dívidas aqui
apresentadas nos quadros abaixo:
DÍVIDAS DOS CONTRATADORES
DÍZIMOS
REMATANTE PERÍODO DÉBITO
Manoel Ribeiro dos Santos 1748-1750 9:310$846
João de Souza Lisboa 1757-1759 18:903$802
João de Souza Lisboa 1763-1765 119:853$005
Thomas Ferreira de (...) Õ Dízimos do 1766-1768 11:434$749
Sertão
Real Fazenda 1765-1768 -------------
Ventura Fernades de Oliveira 1769-1771 11:768$219
Pedro Luis Pacheco da Cunha 1775-1777 87:964$327
xxvi 1781-1783 283:607$12
João Rodrigues de Macedo
Domingos de Abreu Vieira 1784-1786 194:699$302

ENTRADAS
REMATANTE PERÍODO DÉBITO
Francisco Ferreira de Sá 1725-1727 1:150$382
Jose Ferreira da Veiga 1752-1754 145:005$529
Jose Ferreira da Veiga 1755-1757 165:207$336
Domingos Ferreira da Veiga 1759-1761 85:402$592
João de Souza Lisboa 1761-1764 258:757$847
Fazenda Real 1765-1768 ---------------
João Rodrigues de Macedo 1776-1781 466:454$840
Joaquim Silverio dos Reis 1781-1784 220:423$149
Jose Pereira Marques 1784-1787 360:897$638

Os quadros acima permitem questionar a guerra como responsável maior


pelas dificuldades de pagamento à coroa do valor das arrematações na medida que não
foi exclusividade de João de Souza Lisboa estar em débito com a Coroa. Dois outros
fatores deverão ainda ser considerados: o crescimento dos valores dos débitos dos
arrematantes para com a Coroa, principalmente nos contratos de Dízimos e Entradas
(como demonstram os quadros) e a avaliação problemática dos resultados da
arrecadação dos contratos na medida que era prática dos negociantes a “ocultação dos
proventos”xxvii. O próprio João de Souza Lisboa era devedor em 18:903$802 relativos
ao contrato dos dízimos de 1757-1759 e, mesmo assim, arrematou contratos
posteriormente.

X Seminário sobre a Economia Mineira 9


Diversos aspectos chamam a atenção na trajetória do comerciante João de
Souza Lisboa. O estreito vínculo entre a atividade de comerciante e contratador, a
diversificação dos investimentos, a formação de sociedadesxxviii, a atuação como “braço”
do aparelho de Estado e, apesar das quebras de contrato acompanhadas de sequestro de
bens, a manutenção na condição de “abastados” por parte de muitos contratadores. Aqui
nos ocuparemos de dois aspectos: da condição de comerciante e da “falência” do
contratador.
Para a identificação das atividades comerciais de João de S. Lisboa,
tomaremos, em primeiro lugar, as informações do livro conta corrente, isto é, do livro
para a escrituração dos créditos concedidos com os respectivos correntistas. Na página
esquerda, numerados por ordem de lançamento, estão descriminados os correntistas com
as datas e valores dos créditos concedidos. Os valores eram lançados na sua quase
totalidade em réis e, muitas vezes, na parte destinada ao fator gerador do crédito
lançava-se os valores em oitavas de ouro. Quanto ao fator gerador, na grande maioria
dos casos, a escrituração é imprecisa, aparecendo com freqüência, a título de exemplo, a
seguinte forma “credo procedo do q do mmo consta, corre juros”. Há diversos
lançamentos de venda de mercadorias manufaturadas e escravos, de empréstimos, de
cobrança de juros e de dívidas de dízimos. Do lado direito fazia-se o lançamento da
quitação das dividas com as datas, valores e, por vezes, com o fator gerador e forma de
pagamento (dinheiro, ouro em pó, ouro quintado ou mercadorias).
O livro conta corrente contém lançamentos envolvendo atividades
comerciais, empréstimos (quando explicitadas, as taxas variam entre 5 e 6% a.a.),
créditos relativos aos contratos e aluguéis (casas em Vila Rica e de camarotes da Casa
da Ópera por ele construída em 1770).
Indicações das atividades comerciais foram identificados em documentos
dos registros da capitania ou relativos a eles. No registro de Sete Lagoas, entre 1762 e
1764, passou na conta de João de Souza Lisboa, 1.018 cabeças de gado e 35 potros que,
com o valor médio declarado de 1$500 réis, totalizaram 2:857$000 réisxxix. A média
anual foi de 952$500 réis. Ainda envolvendo o negócio do gado outra referência foi
encontrada de passagem, pelo mesmo registro, de gado na mesma conta, em 24.12.1768,
num total de 173 cabeçasxxx. Aqui uma questão importante. Poderíamos imaginar o
contratador atuando como criador de gado, isto é, tendo investido parte de seus capitais

X Seminário sobre a Economia Mineira 10


na diversificação de suas atividades econômicas, voltando-se para a pecuária.
Entretanto, sabemos que o pagamento dos dízimos relativos à atividade da pecuária era
realizado predominantemente com gado e não em dinheiro. Neste sentido a condição de
contratador de dízimos o levava a atuar na criação dos bezerros dados como pagamento
do dízimos e posteriormente na venda nas áreas urbanas do gadoxxxi. O fato das
passagens de gado na conta de João de Souza Lisboa continuaram mesmo após o fim
dos contratos, pode ser explicado em razão de parcela significativa dos dízimos ter sido
paga anos e até décadas depois da dívida contraída.
Um outro aspecto que chama a atenção do estudo acerca dos grandes
negociantes atuantes e sediados em Minas Gerais, é condição de capital produtor de
juros. É bem conhecida a atuação do contratador João Rodrigues de Macedo,
considerado como “o maior banqueiro” e contratador de Vila Rica no último quartel do
século XVIII.
Sob vários aspectos a trajetória de João Rodrigues de Macedo se assemelha
a de João de Souza Lisboa. Ambos foram grandes contratadores e deixaram enormes
dívidas com a Fazenda Real. Não apenas pela condição de contratadores ou pela dívidas
que deixam mas também pela condição de prestamistas. Observando o livro conta
corrente aqui analisado, é constante a menção à cobrança de juros nos créditos
concedidos seja a título de empréstimos, venda de mercadorias ou pagamento de
dízimos.
Um problema que aparece é a definição da taxa de juros que na quase
totalidade não é explicitada. Além de não ser comum no livro a menção às taxas de
juros, os correntistas inadplentes constituem-se em parte significativa dos lançamentos.
O fato de não se fazer referência intensa a juros ou haver uma inadiplência significativa,
poder ser mais indicativo do comerciantes ter como marca de sua atuação “esconder”
informações, ainda mais quando o privado e o público se misturam, isto é, a
contabilidade, pelo menos neste livro, da Casa Comercial se faz juntamente com aquela
relativa à arrecadação de tributos.
Em alguns poucos casos os juros podem ser identificados. Nos empréstimos
e nos créditos relativos a dízimos concedidos a Antônio Machado Fagundes entre 1756
e 1769, consta do livro conta corrente a cobrança de juros que variarão entre 5% e 6%
a.a. Entretanto, os juros praticados, pelo menos nos créditos concedidos aos mineiros,

X Seminário sobre a Economia Mineira 11


variavam entre 25 e 30% a.a.xxxii. Na condição de capital produtor de juros, estaria um
dos caminhos para a busca do lucro nos negócios.

3. O Sistema de Contratos
O sistema de contratos tem origem nos primórdios do Estado absolutista
lusitano constituindo-se numa forma de suprir a carência da coroa de recursos. Aqui,
entretanto, não buscaremos discorrer sobre as origens dos contratos de direitos e rendas
reais. Podemos defini-los, no geral, como acordos temporários da Coroa com
particulares onde os contratos tinha prazos determinados e eram precedidos por
arrematação e fixação do valor contratado. O Rei atuava com empresário e a Corte
como uma Casa de Negócioxxxiii, numa articulação que além de envolver a classe
mercantil da praça de Lisboa, envolviam também os negociantes estrangeiros das praças
de Florença, de Gênova ou de Flandres. Tais práticas partiam dos monopólios régios em
torno dos quais giravam arrendamentos e contratos de diversos tipos integrantes das
práticas mercantilistas típicas do Antigo Regime.
Em Portugal os contratos envolviam grande leque de atividades e entre elas
o comércio vinculado ao tráfico de escravos, o comércio de especiarias, a exploração do
óleo de baleiaxxxiv, a exploração de diamantes e a arrecadação de tributos como, por
exemplo, as Entradas nas áreas de extração aurífera no Brasil. Podemos atestar a
importância do sistema através, por exemplo, da receita em relação ao balanço lusitano
relativo ao Brasil no ano de 1617. De uma receita total de 306:467$000 réis, os
contratos (dízimos, pau-brasil, pesca da baleia e as) geravam 81:500$000 réis, isto é,
26,6%.xxxv
Considerados sócios temporários da coroa, os grandes negociantes atuavam
como “braços” do aparelho estatal. Nas áreas coloniais, em especial, as práticas
monopolísticas constituíam-se no principal mecanismo de transferência de capital da
colônia para a metrópole, sendo os contratos das principais formas de articulação
Estado/Grandes Negociantes no contexto das práticas fundadas no monopólio. Esta
articulação, Estado/Contratadores, pressupõe a prática do monopólio. Para M. Ellys,
“(...) Cabe lembrar que o monopólio do comércio das Colônias foi a essência do
sistema colonial e a sua preservação, o principal objetivo da política colonial. À
sombra do monopólio, e, apesar dele, é que as colônias se originaram e se
desenvolveram.”xxxvi

X Seminário sobre a Economia Mineira 12


Pedreiraxxxvii ao analisar os Homens de Negócio da Praça de Lisboa (1755-
1822), na sociedade lusitana altamente hierarquizada e com as posições sociais
identificadas por privilégios, a repartição dos contratos era decisiva na definição da
hierarquia interna no meio comercial. Até mesmo porque a arrematação de contratos
passava pelo jogo de influências nas instâncias de poder político em Portugal (neste
caso o Conselho Ultramarino era peça fundamental). Nas palavras do próprio autor
“A contratação de rendimentos e monopólios régios constituía, assim, um poderoso
instrumento de acumulação e de influência e, como tal, funcionava como um factor
de diferenciação ou discriminação no interior do corpo de comércio, propiciando a
formação de uma elite, (...).”xxxviii

Com o século XVIII, importantes transformações ocorreram na trajetória


econômica de Portugal e do Brasil. O ouro e o diamante, proporcionaram um fluxo
enorme de riquezas para Portugal. O Erário Régio, grandes negociantes em Portugal,
negociantes nas Minas, detentores de cargos em Portugal e nas Minas, entre outros
acumularam riquezas com o negócio da mineração. Ao mesmo tempo, o crescimento
populacional, o incremento das atividades comerciais e a necessidade de um maior
controle sobre a colônia em razão da necessidade de evitar o contrabando do ouro e do
diamante, levaram ao crescimento do aparato burocrático-militar lusitano na área
colonial. Minas Gerais transformou-se em lugar privilegiado para portugueses em busca
da ascensão social. Mineração, produção de gêneros alimentícios, comércio eram os
principais “caminhos” para a projeção social. Junto com tais atividades e com o
incremento da economia colonial e dos negócios lusitanos, cresceu também no Brasil e
em Lisboa a atuação dos contratadores, inclusive para aqueles que se voltam para a
arrematação de contratos envolvendo tributos.
Entre as condições favoráveis a expansão dos contratos durante o
setecentos, está a atividade de extração aurífera. Esta proporcionou um incremento das
atividades comerciais no geral e, inclusive, aquelas fruto de uma produção interna de
gêneros de abastecimento. Mesmo se levarmos em conta que grande parte do comércio
envolvendo Minas Gerais, tinha sua origem no porto do Rio de Janeiro, e portanto
gêneros importados, a parcela do comércio e produção envolvendo gêneros de
abastecimento interno da colônia era significativa, seja para o caso das Entradas
(comércio) ou Dízimos (produção). Para M. Ellis

X Seminário sobre a Economia Mineira 13


“Se no século XVIII a mineração no Brasil representa um alargamento no âmbito
do povoamento, da colonização, dos mercados e dos negócios, não é menos
significativa em matéria da tributação e dos monopólios.”xxxix

Neste contexto se enquadra o caso de João de Souza Lisboa que apesar dos
negócios estritamente comerciais, fez sua riqueza e prestígio como contratador. Na
relação de homens de negócio, mineiros e roceiros abastados enviada para a Secretária
de Estado em Lisboa pela Provedoria da Fazenda de Minas de 1756, João de S. Lisboa
aparece em destaque como contratador de dízimos.xl Entre os anos de 1745-49 lançou
no Livro Conta Corrente de sua casa comercial, créditos concedidos no valor de
1:812$867 rs. Seus primeiros contratos (de passagens) datam de 06 de outubro de 1749
e no qüinqüênio iniciado em 1750, já como contratador de dízimos, os créditos
concedidos alcançam 7:457$245 rs. e no qüinqüênio seguinte, 1755-1759, chegam a
20:725$245 rs. Claramente os negócios do capitão João de Souza Lisboa ganham vulto
a partir de seu ingresso no “mundo” restrito dos contratos régios.
Para que se tenha a importância dos contratos e do contratador aqui em
estudo, recorramos novamente a Pedreira. Segundo o autor, os contratos fizeram entrar
nos cofres do Erário mais de 1000 contos por ano, o equivalente a 17% das receitas do
período pombalino. João de Souza Lisboa arrematou no início da década de 1760
contratos (Entradas, Dízimos e Passagens) que totalizaram para um período de três anos
1:007.430$000xli, isto é, por ano, 335: 810$000 (335 contos e 810 mil réis). Este valor,
caso todo ele tivesse sido integralmente pago, corresponderia a 5,7% da receita anual
média do Erário para o período.
Em geral, o debate acerca do caráter fiscalista da presença lusitana em
Minas Gerais, gira em torno do aparelho burocrático, militar e jurídico implantado na
área da mineração. A atuação estatal através de particulares com os quais a Coroa
estabelece relações contratuais, foi prática importante nas monarquias ibéricas, caminho
de canalização de excedente colonial para a metrópole e de enriquecimento para homens
de negócio tanto em Portugal como no Brasil.

4. Contratos e Tributação
O ingresso nas atividades de grosso trato, em especial no mundo dos
contratadores, estava ao alcance de poucos. Grandes cabedais ou apoiado por uma casa

X Seminário sobre a Economia Mineira 14


comercial, ou ainda estar bem relacionado era condição para se manter no ofício de
negociante e ter acesso aos contratos principalmente a partir do período pombalino.
Ainda, segundo Pedreira, a definição da hierarquia interna do meio comercial era
definida de forma decisiva pelo acesso aos contratos envolvendo os rendimentos e
monopólios régios, funcionando como fator definidor na formação de uma elite entre os
negociantes.xlii João de Souza Lisboa, arrematante de 11 contratos e muitos envolvendo
somas significativas, possuía vínculos com os homens de negócio da praça de Lisboa.
Como exemplo podemos citar um dos seus procuradores em Lisboa quando da
assinatura dos contratos de maior vulto que foi o alferes José da Silva Ribeiro, listado
por Pedreira entre os grandes negociantes daquela praça.
Podemos identificar na fase inicial da ocupação da região das Minas uma
postura da Coroa (e do Conselho Ultramarino) que pode nos sinalizar uma relativa
disposição das autoridades lusitanas à “negociação”. Luciano Figueiredoxliii, em artigo
voltado para a fiscalidade e revoltas no Brasil colonial, nos chama a atenção que na fase
inicial da colonização a necessidade de facultar o povoamento, a postura lusitana é de
uma “Negligência Salutar”. Nesta fase as concessões e isenções tributárias fazem parte
dos estímulos ao povoamento. Cita como exemplo a isenção tributária envolvendo o
negócio açucareiro na fase inicial da colonização, com isenção por 10 anos para os
produtores em relação aos direitos alfandegários e, após este período pagariam meios-
direitos. Pela tributação existente deveriam pagar 10% sobre o açúcar ao sair do Brasil e
mais 20% ao entrar em Portugal.xliv
Assim teria sido em relação à região aurífera quando analisamos as questões
relativas à arrecadação do quinto do ouro. Na fase inicial da mineração, a inexistência
de um aparato administrativo capaz de garantir os tributos e direitos régios, a Coroa
permitia alguma negociação envolvendo a cobrança do quinto do ouro. Em 1713, as
Câmaras fizeram um acordo com o Governador, dom Braz Balthazar da Silveira, de
pagamento do quinto pela estimativa de 30 arrobas/ano. Justificando a arrecadação para
efetuar o pagamento do quinto, estabeleceram o direito de peagem que incidiam sobre
os escravos, mercadorias e gado que entrassem nas Minas. Foram estabelecidos os
primeiros registros com o intuito de cobrar o novo tributo que ficou conhecido como
Entradas. Buscando aumentar a arrecadação de ouro, a Coroa, com o novo Governador,
dom Pedro de Almeida, conde de Assumar, reduziu a estimativa do quinto (finta) de 30

X Seminário sobre a Economia Mineira 15


arrobas/ano para 25 arrobas/ano e passou, a partir de 13 de março de 1718, a Real
Fazenda a deter o direito das Entradas com fora criado sem a autorização régia, o que
era condição obrigatória para qualquer novo tributo. A Coroa abrira mão de 5
arrobas/ano na estimativa do quinto e ganhara com o novo tributo, já na primeira
arrematação, quase 27 arrobas/ano. No ano seguinte, o conde de Assumar anunciava o
estabelecimento das Casas de Fundição a partir de 1720, desencadeando os eventos que
resultaram na Revolta de 1720, sob a liderança de Filipe dos Santos. A fase das
concessões se encerrara. Já em 1722, a finta passou para 52 arrobas/ano e o direito das
Entradas já consolidado como tributo régio.
Para Luciano Fiqueiredo, superada a fase do “aprendizado da colonização”
(numa alusão a Luis Filipe Alencastro), a “lógica da conquista cede lugar à lógica
econômica”. A colônia vai deixando de integrar o rol das “despesas” metropolitanas e
vai se transformando numa das mais importantes fontes de receitasxlv. Em segundo
“momento”, à medida que um aparato administrativo vai sendo implantado, o Estado
português estende para as relações colônia-metrópole a fiscalidade praticada no reino.
Entretanto, os mesmos direitos reais e tributos destinam-se à transferência de riqueza
colonial.xlvi

5. Os Contratos (características gerais) xlvii

A arrematação era precedida de edital escolhendo-se o maior lance. O local


da arrematação poderia ser em Lisboa, Conselho Ultramarino, ou na Provedoria da
Capitania. Os contratos de passagens era, em sua maioria, arrematados na Provedoria da
Capitania. As entradas e dízimos, durante um bom período foram arrematados em
Minas Gerais. Entretanto, a partir do final da década de 1730 passam a ser arrematados
no Conselho Ultramarino, salvo quando não aparecessem interessados em Lisboa. Neste
Caso a arrematação ocorreria em Minas Gerais. A arrematação, quando realizada em
Lisboa, poderia o interessado, caso residisse fora da Corte, enviar procuradores para
representá-lo no leilão e na assinatura do contrato e, após confirmação deste, pagava-se
1% de obra pia, propinas e munições (gastos com fortalezas) habituais, principalmente
aquelas destinadas aos membros do Conselho Ultramarino.
Sob vários aspectos tinha o arrematante bastante liberdade na execução dos
contratos. Podia fechar e criar registros (entradas) os mudar postos (passagens). Nos três

X Seminário sobre a Economia Mineira 16


tipos podia o arrematante repassar os contratos ou dividi-los em ramos (dízimos) ou,
ainda, arrendar registros (entradas). Isto não lhe retirava a responsabilidade de
pagamento do valor contratado.
Entre os privilégios do contratador estavam o de terem como seus juízes
privativos, em causas cíveis e criminais, o Provedor da Fazenda Real, sendo a atuação
dele contratador, considerada como Fazenda Real. Sob este aspecto, a Coroa se
resguarda também. Em caso de falecimento do contratador, o inventário ficava a cargo
de quem o contratador ou seus procuradores tivessem nomeado e não o juiz dos
ausentes.
Os privilégios do contratador tinham como contrapartida, a total
responsabilidade deste no pagamento do valor da arrematação, respondendo como todos
os seus bens imóveis e de raiz, mesmo quando arrendasse o contrato no todo ou em
parte. Deveria responder por todos os custos do contrato e o valor da arrematação era
livre para a Coroa.
Enfim, fica patente que, por um lado, a Coroa transferia a particulares o
ônus da cobrança de tributos e, por outro lado, a atuação dos contratadores, pelos seus
privilégios e garantias, permite sua caracterização como “braços” dos Estado lusitano e,
como veremos à frente a partir do caso de João de Souza Lisboa, atrelados a rede de
relações não somente econômicas, mas também políticas na Capitania e em Portugal.

6. A Rentabilidade do Negócio
Além da atuação do contratador buscado o lucro na condição de
comerciante e de práticas de créditos a juros, como já vimos anteriormente, devemos
identificar os “caminhos” da busca da rentabilidade na arrematação dos contratos, em
especial de dízimos e entradas.
Se não bastassem as enormes dívidas dos contratadores para com a Coroa,
podemos apresentar ainda dois outros “problemas” envolvendo estes contratos. O
primeiro diz respeito aos resultados dos contratos. Vejamos os resultados do contrato de
entradas de João de S. Lisboa. Segundo os resultados apresentados pelo contratador as
perdas chegaram a 220:777$051 rs.xlviii e, em contrato anterior de dízimos já era devedor
à Coroa. Mesmo devedor, arrematara outros contratos.

X Seminário sobre a Economia Mineira 17


Contrato de Entradas de 1761-1764
BALANÇO DOS REGISTROS
RENDIMENTOS Despesas Líquido
Total 614:275$795 ¼ 88:796$446 ¾ 525:479$349 2/4

DESPESAS COM A ARREMATAÇÃO


Arrematações Obra Pia Propinas/Ordinárias/Munições Conselho Ultram°
Subtotal 734:040$000 7:340$400 3:277$000 1:599$000
Total 746:256$400

O segundo problema está na arrecadação da nos registros quando assumidos


pela Fazenda Real .Observando o Gráfico Arrecadação – Entradas, veremos que sob a
administração da Fazenda Real, a arrecadação foi, no primeiro caso inferior aos valores
das arrematações e, no segundo caso, próxima aos mesmo valores, se considerarmos as
arrematações dos triênios anterior e posterior.
Se considerarmos as dívidas dos contratadores de entradas e dízimos, e a
situação em particular de João de Souza Lisboa envolvendo os contratos arrematados
nos anos de 1761 e 1762, constatamos uma situação aparente de prejuízos avultados.
Vejamos o exemplo de outro contratador nas palavras de Carlos José da Silva Escrivão
e Deputado da Junta da Fazenda Real desta Capitania de Minas Geraes através de
despacho ao Rei:
“O Contracto das Entradas andou arrematado no ano de 1751, ou se arrematou
neste ano no Conselho Ultramarino a José Fra da Veiga, e seus sócios, do qual era
Caixa o Capam mor José Alz Maciel, morador em Va Rica, José Fra da Veiga era
homem de Negocio abonado, e da mesma sorte os seus sócios, como melhor se
pode saber no Concelho Ultramarino: José Alz Maciel não era de grande cabedal
naquele tempo; hoje porém se acha com bastante cabedal, ainda que em sequestro
pela Real Fazenda por dívidas do mesmo Contracto. (...) Neste ano entram outra
vez por Contratadores os mesmos Veigas, e por Caixa o mesmo Maciel, não
obstante acharem-se devedores de soma importante dos dois primeiros Contractos
(...)”xlix (o grifo é meu)

Exemplo como estes de contratadores endividados, com bens sequestrados e


mesmo assim continuando com “grandes cabedais”, tal o caso acima e o de João de
Souza Lisboa que após ter bens sequestrados, aparece em Vila Rica como rentista
(aluguéis), minerador e comerciante, continuando a conceder empréstimos como consta
do livro conta corrente.
Se considerarmos os valores apresentados pelo contratador na arrecadação,
os valores arrecadados pela Fazenda Real quando responsável pela cobrança do tributo
de entradas e as dívidas, estamos diante negociante que mal sabiam projetar as

X Seminário sobre a Economia Mineira 18


possibilidades de rentabilidade do negócio. M. de A. Madeira, num estudo que envolve
os contratadores de Minas Gerais, afirmava
“Como se vê, os contratadores em geral eram péssimos devedores da Coroa, que
tinha bastante paciência com esses sócios relapsos do dinheiro público. Poder-se-ia
alegar, por outro lado, que o lanço dos leilões dos contratos costumava ser
exagerado para a real capacidade contributiva dos vassalos. Ora, se os arrematantes
os aceitavam, é porque esperavam obter lucros com a manipulação financeira
daquele capital tributário. Talvez ambas as partes desse jogo privatizante da coisa
pública manobrassem de má-fé.” l

Arrecadação - Entradas

250

200
em contos de réis

150

Fazenda
Real
100

50

0
18

30

45

60

75
17

17

17

17

17

Os valores apresentados são relativos apenas às entradas da Capitania de Minas Gerais. (valores
apresentados em réis, sendo que até 1750 os contratos eram arrematados em arrobas. Estes valores foram
convertidos em moeda pela cotação da Coroa.
Fontes: OLIVEIRA, Tarquínio J.B. de. Análie e Organização do Erário Régio de S.M.F. de 1768.
Brasilía: ESAF, 1976; Carta de Luís da Cunha Menezes, Governador de Minas Gerais, ao Secretário de
Estado da Marinha e Ultramar, 1786 (AHU-Cx121-doc19)

Quais seriam os meios de acumulação de riquezas pelos contratadores. Em


primeiro lugar postergavam o pagamento à Coroa, muitas vezes negociando com o
perdão parcial das dívidas como foi o caso de João de Souza Lisboa. Nestas
negociações poderia se chegar a adiar o sequestro dos bens. João de S. Lisboa e seus
sócios tiveram suspenso o sequestro dos bens e lhes foi facultado o direito de buscar
arrecadar os valores devidos à Coroa através da cobrança dos devedores dos dízimos e

X Seminário sobre a Economia Mineira 19


entradas nos respectivos contratos. Seus bens somente foram efetivamente sequestrados
e sua Casa Comercial colocada sob intervenção após a sua morte, em 1778. Não
somente permanece com seus bens como executa a cobrança dos devedores dos tributos.
Em documento citado anteriormente, do Deputado da Junta da Fazenda
Real da Capitania de Minas Geraes, este destacava o fato dos contratadores ocultarem as
importancias devidas e o sequestro dos bens se realizava sobre “bens de má qualidade”.
Em documento do AHU de 24.04.1766, quando da morte de João de Sequeira, principal
sócio de João de Souza Lisboa, foram encontrados diamantes que poderiam ser uma
forma de “ocultar as importâncias devidas”.
Ainda no documento do Deputado da Junta da Fazenda Real, este afirma
que as execuções de bens dos que deviam aos contratadores, pagava-se “diminutas
quantias a proporção do legítimo valor dos escravos, bestas, gados, e de toda a mais
qualidade de fazendas, e gêneros de fácil saída.” A condição de agir como Fazenda
Real, prevista nos contratos, facultava o poder submeter os produtores da capitania
como integrantes que eram, mesmo que momentaneamente, do aparelho estatal.
Em outro documento do AHU, de 1753li Francisco Ferreira da Silva,
contratador de diamantes, comenta do “privilégio executivo” dos contratadores de
entradas e dízimos de agirem como Fazenda Real, para executarem dívidas não somente
relativas aos contratos mas também para “executar dívidas particulares” e citando os
devedores para responder à execução 100, até 200 léguas de seus locais de origem. Ali
rematavam os bens penhorados por valores diminutos e “multiplicavam muitas vezes os
principais das dívidas”.
Nos contratos de dízimos era prática dos contratadores, utilizar-se de um
expediente que gerou diversas reclamações dos “povos” da Capitania. Em carta aos seus
avençadoreslii, por diversas vezes, João de Souza Lisboa, pedia não promover de
imediato a cobrança dos dízimos aguardando o melhor momento, isto é, o momento de
melhores preços numa postura claramente especulativa. Entre as reclamações mais
comuns das “vexações” que os contratadores impunham aos produtores, encontradas em
diversos documentos do AHU, está a obrigação dos produtores terem que armazenar a
produção relativa aos dízimos aquardando a cobrança. Esta, muitas vezes não ocorrendo
de imediato, ocorria quando parte da produção relativa ao dízimo fora perdida,
resultando na execução de bens dos produtores. Esta situação era favorável ao

X Seminário sobre a Economia Mineira 20


contratador tanto pela sua condição de Fazenda Real, como pelos contratos previrem
como obrigação do produtor a guarda da “décima parte devida a Deus”.
Com este quadro, dois são os instrumentos que permitem o enriquecimento
dos contratadores, numa aparente condição de prejuízos pelos resultados dos contratos.
O primeiro é a condição de política de integrante do aparato fiscal, durante a vigência
dos contratos e para efeito da cobranças posteriores ao seu termínio, isto é, a condição
de Fazenda Real.
O segundo a conivência da Coroa, complacente com os ricos contratadores
no pagamento dos débitos relativos aos valores das arrematações. O quadro Sócios Em
Contratos, nos permite vizualizar as relações não somente econômicas mas também de
poder que envolviam os contratos. João de Sequeira, aqui já mencionado, além de
oficial de ordenança, fora Juiz Almotácel em Vila Rica. A ele caberia fiscalizar o
comércio dos gêneros de primeira necessidade zelar pela higiene e limpeza públicas.
Providenciar para que não faltassem mantimentos, verificar e conferir as medidas e
pesos, portanto, fiscalizar as atividade de seu sócio e as próprias. A maioria dos sócios
era constituída de intergrantes dos “corpos de ordenança” e merece especial atenção
José Caetano Rodrigues da Horta, Bisneto de Fernão Dias Paes Lemes e sobrinho do
Guarda mor das Minas Pedro Dias Paes Lemes.
No quadro Procuradores e fiadores, além de pertencentes aos corpos de
ordenança, encontramos os seu principal procurador em Lisboa nas questões financeiras
e comerciais envolvendo os contratos ao longo das década de 1760 e 1770, José da Silva
Ribeiro. Listado por Pedreira entre os 60 maiores negociantes de Portugal para o
período de 1790-1822. Outro procurador quando dos contratos de maior valor foi José
da Costa Carneiro, que antes de estabelecer-se em Lisboa, fora secretário do
Governador das Minas, Dom Lourenço de Almeida e tabelião na Vila de São José,
além de integrante das ordenanças.
Sintetizando, na sociedade pré-capitalista mineira, encontramos uma
realidade onde a acumulação de riquezas, se fazia através de relações de exploração que
tinham no Estado instrumento desta acumulação. Homens de negócio e o Estado, como
parceiros seja no enriquecimento daqueles residentes na metrópole ou daqueles que
permaneciam na área colonial, formando uma rede de poder e privilégios integrada por
um reduzido grupo de autoridades e homens de negócio de Portugal e da colônia.

X Seminário sobre a Economia Mineira 21


SÓCIOS EM CONTRATOS
Na Maioria dos Contratos
§ Tenente de ordenança.
§ Juiz Almotácel em Ouro Preto (Costa Matoso)
João de Sequeira § Detentor de Sesmarias (2) na Comarca do Rio das Mortes
§ Minerador
§ Arrematou por “conta própria” dois contratos de passagens.
No Iº Contrato de Dízimos (1750-1753)
Pedro Teixeira de § Capitão-mor de ordenança na Vila de São José.
Carvalho § Detentor de Sesmaria (1) na Comarca do Rio das Mortes.
No IIIº Contrato de Dízimos (1756-1759)
Manoel Dias da § Capitão de Ordenanças.
Costa § Minerador.
Nos últimos Contratos – Entradas/IVº de Dízimos/Passagens (1762-1765)
§ Tenente-coronel do Regimento de Cavalaria Ligeira Auxiliar em Mariana.
José Caetano
§ Detentor de Sesmaria (1) no Caminho Novo de Goiases.
Rodrigues da
Horta § Bisneto de Fernão Dias Paes Lemes e sobrinho do Guarda mor das Minas Pedro
Dias Paes Lemes.
§ Detentor de Sesmarias (7) nas Comarcas de Sabará e do Rio das Mortes.
Manoel Machado
§ Sócio na posse de Sesmarias com Manoel Teixeira Sobreira (2).
Manoel Teixeira
§ Detentor de Sesmarias (14) nas Comarcas de Sabará e do Rio das Mortes.
Sobreira

Procuradores e Fiadores
Procuradores
Franco Ant° Roiz § Capitão de Ordenança.
Feijó § Procurador no Iº e IIIº contratos de Dízimos (década de 1750).
§ Alferes
§ Procurador de João de Souza Lisboa em Portugal e principal intermediário nas
José da Silva
transações financeiras e comerciais a partir da década de 1760.
Ribeiro
§ Listado por PEDREIRA entre os 60 maiores negociantes de Portugal para o
período de 1790-1822.
§ Sargento-mor de ordenança em Vila Rica (1726).
§ Ocupou cargo de secretário do Governador-Capitão General das Minas, Dom
José da Costa Lourenço de Almeida (1732). RAPM – Ano 7º págs. 275-7
Carneiro
§ Desde 1750 foi 1º e 2º tabelião da Vila de São José.
§ Procurador nos contratos dos Dízimos, Entradas e Passagens (1762-65)
Fiadores
Pedro Gomes
§ Fiador no Iº Contrato de Dízimos (1750-1753)
Moreira
§ Fiador dos últimos contratos e intermediária em relações financeira e de
João Batista influência.
de Carvalho § Residente em Lisboa quando dos contratos.
§ Detentor de Sesmaria (1) na Comarca de Ribeirão do Carmo.

X Seminário sobre a Economia Mineira 22


7. Fontes Primárias

“CD”, disponibilizada pela Fundação João Pinheiro e disponível no Arquivo Público


Mineiro, é o Inventário dos Manuscritos Avulsos do Arquivo Ultramarino (Lisboa).
CC/APM → Coleção “Casa dos Contos” do Arquivo Público Mineiro.
Códice Costa Matoso, publicado pela Fundação João Pinheiro.
Revista do Arquivo Público Mineiro.
SC/APM → Coleção “Seção Colonial” do Arquivo Público Mineiro.
“Coleção Casa dos Contos”, do Arquivo Nacional.

7. Bibliografia

BARBOSA, Waldemar de Almeida. História de Minas. Belo Horizonte, Ed.


Comunicação, 1979, Vol. 2.

BOSCHI, Caio C. As diretrizes metropolitanas, a realidade colonial e as


irmandades mineiras. Revista Brasileira de Estudo Políticos. Belo Horizonte, 65:
131-51, jul. 1987.

BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Comércio e Capitalismo - nos séculos XV-


XVIII. Tomo II. O Jogo das Trocas. Lisboa, Teorema, sd.

BOXER, Charles R. O Império Marítimo Português (1415-1825). Tradução de Ines


Silva Duarte. Lisboa, Ed. 70, 1993.

_______. A Idade do Ouro do Brasil: Dores de Crescimento de uma Sociedade


Colonial. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000.

CARRARA, Angelo Alves. A Economia Rural da Capitania de Minas Gerais (1674-


1807). Tese de doutoramento do Programa de Pós-Graduação em História do Instituto
de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1997

CARDOSO, C. F. S. As concepções acerca do Sistema Econômico Mundial: a


preocupação obsessiva com a extração do excedente. In: LAPA, José de A. Modos de
Produção e Realidade Brasileira. Petrópolis, Vozes, 1980.

_________ e BRIGNOLI, Héctor Pérez. História da América Latina. Rio de Janeiro,


Ed. Graal, 1983.

CIAFARDINI, Horácio. Capital, Comércio e Capitalismo: a propósito do chamado


“Capitalismo comercial”1 In. GEBRAN, p. Conceito de Modo de Produção. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1978, p 221-245

CHAVES, Cláudia Maria das Graças. Perfeitos Negociantes: Mercadores das Minas
Setecentistas. São Paulo, Annablume, 1999.

X Seminário sobre a Economia Mineira 23


ELLIS, Myriam. Contribuição ao Estudo do Abastecimento das Áreas Mineradoras
do Brasil no Século XVIII (Coleção Os Cadernos de Cultura). Rio de Janeiro:
Ministério de Educação e Cultura, 1961.

______. Comerciantes e Contratadores do Passado Colonial. São Paulo, Revista do


Instituto de Estudos Brasileiros, USP, 1982, pags. 97-122.

FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento: Fortuna e família no


Cotidiano Colonial. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1998.

FAORO, Raymundo. Cap. VI: “Traços Gerais da Organização Administrativa, Social,


Econômica e Financeira da Colônia”, itens 1- “Administração e o Cargo Público”; e
2- “O espectro Político e Administrativo da Metrópole e da colônia” In Os Donos do
Poder. Formação do Patronato Político Brasileiro, Vol. 1, Porto Alegre, Editora
Globo, 1984

FILHO, Gilberto Guerzoni. Política e Crise do Sistema Colonial em Minas Gerais


(1768-1808). Ouro Preto, Imprensa Universitária da UFOP, 1986, 125 p.

FIGUEIREDO, Luciano Raposo de. Revoltas, Fiscalidade e Identidade Colonial na


América Portuguesa: Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais (1640-1761). Tese de
Doutoramento. São Paulo, FFLCH-USP, 1996.

FONTES, Virgínia. História e Modelos. In: CARDOSO, C.F.S. e VAINFAS, R.


(org.). Domínios da História: Ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro, Ed.
Campus, 1997

FRAGOSO João. A Nobreza da República: notas sobre a formação da primeira elite


senhorial do Rio de Janeiro (séculos XVI e XVII).

_________. Homens de Grossa Aventura: Acumulação e Hierarquia na Praça


Mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,
1998.

FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de Negócio: A Interiorização da Metrópole e do


Comércio nas Minas Setencetistas. São Paulo, 1996, 364 p. Tese de Doutorado
(História Social). FFLCH/USP.

GORENDER, Jacob. O Escravismo Colonial. São Paulo, Ática, 1978

GORESTEIN, Riva e MENEZES, Lenira M. Negociantes e Caixeiros na Sociedade


da Independência. RJ, Sec. Municipal de Cultura/Div. Ed., 1993. (Coleção
Biblioteca Carioca, vol. 24)

GUERZONI, Gilberto. Política e Crise do Sistema Colonial em Minas Gerais.


Imprensa Universitária da Ufop, 1986.

HESPANHA, A. M. e XAVIER, A.B. “A Representação da Sociedade e do Poder” e


“As Redes Clientelares” in MATTOSO, José (dir.). História de Portugal. O Antigo
Regime (1620-1807), vol. 4, Lisboa, Editorial Estampa, 1993.

X Seminário sobre a Economia Mineira 24


___________. Para uma Teoria da História Institucional do Antigo Regime. In.:
Poder e instituições na Europa do Antigo Regime (Colectânea de Textos — Diversos
autores). Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1994

HOLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História Geral da Civilização Brasileira.


Tomo I, 2° vol., livro quarto, capítulo VI, Metais e Pedras Preciosas. Difel, Rio de
Janeiro, 1977.

JÚNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo, Ed.


Brasiliense, 1995.

_______. História Econômica do Brasil. Brasiliense, 1978.

LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação. São Paulo, Ed. Símbolo, 1979.

LEVY, Maria Bárbara, História Financeira do Brasil Colonial.

LYRA, Maria de Lourdes Viana. Os Dízimos Reais na Capitania de São Paulo:


Contribuição à História Tributária do Brasil Colonial (1640-1750), São Paulo,
1970, Manuscrito.

LOBO, Eulália M. L. O Comércio Atlântico e a Comunidade de Mercadores no Rio


de Janeiro e em Charlenston no Século XVIII. Separata da Revista de História, n°
101, São Paulo, 1975, p. 49-106.

MADUREIRA, Nuno L. Mercado e Privilégios: A Indústria Portuguesa entre 1750-


1834. Lisboa, Ed. Estampa, 1997

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro Terceiro, vol. V. Rio de
Janeiro, Civ. Brasileira, 1981.

MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas. Parte I: "A Constituição da Elite Aristocrática" e


IV: "Ofício e Serviço: Sondagem sobre os Grandes e a elite de Poder da Monarquia"
in O Crepúsculo dos Grandes (1750-1832), Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da
Moeda, 1998.

NOVAIS, Ferrando. Portugal e o Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial. São


Paulo, Hucitec, 1983.

OLIVEIRA, Mônica R. Mercado Interno e Agroexpoertação, as origens da


expansão cafeeira na Zona da Mata Mineira: notas para uma pesquisa. Revista de
História Logus. Juiz de Fora, Edufjf, 01: 09-21, 1995.

OSÓRIO, Helen. Comerciantes do Rio Grande de São Pedro: formação,


recrutamentoe negócios de um grupo mercantil da América Portuguesa. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul - Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 20, nº 39,
p. 115-134. 2000

PEDREIRA, J. M. Viana. OS HOMENS DE NEGÓCIO DA PRAÇA DE LISBOA


DE POMBAL AO VINTISMO (1755-1822): diferenciação, reprodução e

X Seminário sobre a Economia Mineira 25


identificação de um grupo social. Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,
1995.

PUJOL, Xavier G. Centralismo e localismo? Sobre as Relações Políticas e Culturais


entre Capital e Territórios nas Monarquias Européias dos Séculos XVI e XVII, in
Penélope: Fazer e Desfazer História, n. 6, Lisboa, 1991.

SILVA, Maria B. Nizza da (coord). O Império Luso-Brasileiro (1750-1822). Lisboa,


Ed. Estampa, 1986, vol. VIII.

SOUZA, Laura de Mello e Souza. Os Desclassificados do Ouro: A pobreza mineira


no século XVIII. Rio de Janeiro, Ed. Graal, 1982

THOMPSON, E.P. Costumes em comum: Estudos sobre a Cultura Popular Tradicional.


Cap. 4, A Economia Moral da Multidão Inglesa no século XVIII. SP, Cia das
Letras, 1998

VAIFAS, Ronaldo. História das Mentalidades. In: CARDOSO, C.F.S. E VAINFAS,


R. Domínios da História: Ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro, Ed.
Campus, 1997

ZEMELLA, Mafalda P. O Abastecimento da Capitania das Minas Gerais no Século


XVIII. São Paulo, Ed. Hucitec-Edusp, 1990.

X Seminário sobre a Economia Mineira 26


8. Notas

i
HOLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História Geral da Civilização Brasileira. Tomo I, 2° vol., livros
quarto, capítulo VI, Metais e Pedras Preciosas. Difel, Rio de Janeiro, 1977, p. 281.
ii
A respeito desta tipologia ver ZEMELLA, Mafalda P. O Abastecimento da Capitania das Minas Gerais
no Século XVIII, São Paulo, Ed. Hucitec-edusp, 1990 e CHAVES, Cláudia Maria das Graças. Perfeitos
Negociantes: Mercadores das Minas Setecentistas. São Paulo, Annablume, 1999.
iii
CARRARA, Angelo Alves. A Economia Rural da Capitania de Minas Gerais (1674-1807). Tese de
doutoramento do Programa de Pós-Graduação em História do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da
Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1997, manuscrito.
iv
LEVY, Maria Bárbara. História Financeira do Brasil Colonial. p. 34
v
Nas Minas Gerais o equivalente geral de troca é o ouro que tinha uma cotação em réis.
vi
Tal é o caso do comerciante Francisco Pinheiro analisado pôr LEVY, Bárbara, op.cit. e FURTADO,
Júnia Ferreira. Homens de Negócio: A Interiorização da Metrópole e do Comércio nas Minas
Setecentistas. São Paulo, 1996, 364 p. Tese de Doutorado (História Social). FFLCH/USP
vii
ELLIS, Myriam. Comerciantes e Contratadores do Passado Colonial. São Paulo, Revista do Instituto de
Estudos Brasileiros, USP, 1982, p. 98.
viii
Idem, p. 102.
ix
LEVY, Maria Bárbara, op. cit, p. 34.
x
BOSCHI, Caio C. As diretrizes metropolitanas, a realidade colonial e as irmandades mineiras. Revista
Brasileira de Estudo Políticos. Belo Horizonte, 65: 131-51, jul. 1987, p. 131.
xi
CHAVES, Cláudia Maria das Graças. Op. Cit., p. 66.
xii
Para o debate do tema ler PUJOL, Xavier G. Centralismo e localismo? Sobre as Relações Políticas e
Culturais entre Capital e Territórios nas Monarquias Européias dos Séculos XVI e XVII, in Penélope:
Fazer e Desfazer História, n. 6, Lisboa, 1991.
xiii
FRAGOSO João. A Nobreza da República: notas sobre a formação da primeira elite senhorial do Rio
de Janeiro (séculos XVI e XVII). Pesquisa desenvolvida na UFRJ, manuscrita.
xiv
MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas. Parte I: "A Constituição da Elite Aristocrática" e IV: "Ofício e
Serviço: Sondagem sobre os Grandes e a elite de Poder da Monarquia" in O Crepúsculo dos Grandes
(1750-1832), Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1998.
xv
MONTEIRO, N.G. Op. cit. p. 24.
xvi
HESPANHA, António M. Para uma teoria da História institucional do Antigo Regime. In.: Poder e
instituições na Europa do Antigo Regime (Colectânea de Textos — Diversos autores). Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa, 1994, pp.26-9.
xvii
CC/APM, doc. 1386
xviii
AHU – doc 0430
xix
AHU – doc 6883. Comparação com a finta 226:560$000 = 36 arrobas e 28 libras. Valor equivalente a
mais de 1/6 de mínimo de 300 arrobas do quinto para o mesmo triênio relativo à Finta (100 arrobas/ano).
xx
João da Costa Carneiro, neste momento residente em Portugal, foi secretário do Governador-Capitão
General das Minas, Dom Lourenço de Almeida. (RAPM – Ano 7º pp. 275-7).
xxi
Arrobas = @
Libras = £
xxii
SC/APM - Códice SC-96, pag. 133 e 136.

X Seminário sobre a Economia Mineira 27


xxiii
O dízimo incidente sobre as criações de gado eram pago em espécie, isto é, cabeças de gado, donde a
necessidade do dízimeiro de possuir fazendas para o gado e posterior venda, realizando parte dos lucro
com o negócio.
xxiv
CC/APM-1135.
xxv
AHU – doc. 9583.
xxvi
Segundo a documentação o vencimento total deste Contrato é a 31 de Julho de 1788
xxvii
PEDREIRA, J. M. Viana. Os Homens de Negócio da Praça de Lisboa de Pombal ao Vintismo (1755-
1822): diferenciação, reprodução e identificação de um grupo social. Lisboa, Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, 1995, p. 150.
xxviii
As sociedades formadas por João de Souza Lisboa, temporárias na medida que duravam o tempo do
contrato, seriam típicas do Antigo Regime onde tudo é partilhado, inclusive no limite dos seus bens. Para
Braudel, ao analisar a evolução das sociedades comerciais “Estamos portanto perante três gerações de
sociedades, segundo os historiadores do direito comercial: gerais, em comandita, anómimas. A evolução
é clara. Pelo menos em teoria.” As sociedades que envolviam os contratos aqui analisados, se
enquadrariam nas primeiras segundo. BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Economia e
Capitalismo, Séculos XV-XVIII. Tomo 2: Os Jogos da Troca. Cap. 4: O Capitalismo em Casa. p. 391
xxix
CC/APM - Doc. 1135.
xxx
Catálogo de documentos avulsos da “Coleção Casa dos Contos”, Arquivo Nacional.
xxxi
Códice Costa Matoso – APM – págs. 558-569.
xxxii
Estes valores foram extraídos de M. ZEMELLA, op. cit., p. 153, e B. LEVY, op. cit., p. 108.
xxxiii
ELLIS, M. Op. cit. p. 98
xxxiv
SIMONSEN, R.C. História Econômica do Brasil (1500-1820). São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 5ª ed., 1967, pp. 373-4.
xxxv
LOBO, Eulália M. Lahmeyer. O Processo Administrativo Íbero-Americano (Aspectos sócio-
econômicos – Período Colonial). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército – Editora, 1962, p. 329.
xxxvi
ELLIS, M. Op., cit., p. 98.
xxxvii
PEDREIRA, J.M.V. Os Homens de Negócio da Praça de Lisboa de Pombal ao Vintismo (1755-
1822): diferenciação, reprodução e identificação de um grupo social. Lisboa, Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, 1995.
xxxviii
Pedreira, op. cit., p. 154.
xxxix
Op. cit., p. 102.
xl
AHU – Cx: 70 – Doc: 41 – Data: 25/7/1756
xli
Este valor representava, aproximadamente, uma média de 68 arrobas/ano a serem pagos a Coroa. No
mesmo período a média anual de arrecadação do quinto foi de pouco menos de 98 arrobas. É claro que
devemos levar em conta que do total de 205 arrobas relativos ao valor das arrematações, 27 arrobas
(13,17%) continuavam devidas à Coroa como conta de relatório do Governador Luís da Cunha Menezes
de 22 de Setembro de 1780 (AHU – Cx 121 – Doc. 19 – cd 35).
xlii
Pedreira, op. cit. p. 154.
xliii
FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida. Protestos, Revoltas e Fiscalidade no Brasil Colonial.
LPH: Revista de História. N.º 5, 1995, pp. 56-87.
xliv
Processo semelhante ocorreu na colonização espanhola. Na fase inicial da colonização, os colonos
possuíam, entre outras vantagens, a isenção de impostos e o direito de elegerem seus próprios juízes. In.:
LOBO, E. M. L. O Processo Administrativo Íbero. Op. cit., p. 119.
xlv
FIGUEIREDO, op. cit., p. 60.
xlvi
FIQUEIREDO, op. cit., p. 62.

X Seminário sobre a Economia Mineira 28


xlvii
Para tanto vou me utilizar, principalmente, das informações contidas em trabalhos já mencionados ao
longo desta dissertação, e de fontes primárias como o Erário Régio de 1786, documentos diversos do
AHU três contratos de Entradas, três de Dízimos e um de Passagem, todos relativos a Minas Gerais e
encontrados no AHU.
xlviii
AHU – doc 9583
xlix
AHU – doc 6899.
l
MADEIRA, Mauro de Albuquerque. Letrados, Fidalgos e Contratadores de Tributos no Brasil
Colonial. Brasília: Coopermídia, Unafisco/Sindifisco, 1993, p. 145.
li
AHU - cx 63 – doc 77.
lii
CC/APM – rolo ac4 – 1094

X Seminário sobre a Economia Mineira 29

Você também pode gostar