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Violência familiar e conjugal: o “mau

trato” como sintoma.

Apresentação
Uma das definições de violência mais aceitas pelos estudiosos é a elaborada pela World Health
Organization (WHO, 2001), a qual afirma que a violência diz respeito a uma ação proposital
direcionada a uma pessoa, grupo ou a si mesmo (próprio autor), com o intuito de causar prejuízos
físicos, psicológicos, sociais e/ou morais. Entre os meios mais utilizados para essa prática estão o
uso da força física, o uso de armas, ameaças e até mesmo o aprisionamento.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá estudar um tipo específico de violência, que tem sido
largamente discutido, tanto pela área do Direito quanto pela ciência da Psicologia, sendo de
fundamental importância para o psicólogo que trabalha no sistema legal: a violência familiar e
conjugal. Para isso, você irá conhecer o conceito de violência intrafamiliar e os fatores envolvidos
nessa prática.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Definir violência intrafamiliar.


• Identificar fatores que contribuem para a prática da violência familiar e conjugal.
• Reconhecer diferentes práticas profissionais frente aos maus tratos identificados em
mulheres, crianças e adolescentes.
Desafio
Entre os tipos de violência familiar, a violência conjugal é uma das mais recorrentes, sendo a mulher
a principal vítima. Nesse sentido, psicólogos do meio jurídico são convidados a avaliar e investigar,
além de dar prognósticos sobre casos como esse. Para que o psicólogo esteja apto a investigar
esses casos com qualidade, é importante que ele tenha em mente a complexidade dos fatores que
os envolvem, conhecendo o que a literatura aponta como fatores de risco e de proteção.
a) Quatro aspectos que devem ser investigados nessa entrevista.
b) Elabore quatro perguntas que você acredita serem importantes para atingir o objetivo dessa
avaliação.
Infográfico
A violência intrafamiliar é um problema que afeta a sociedade de maneira global. Esse tipo de
violência considera todo e qualquer ato, ou mesmo omissão, de um integrante da família que
impacte negativamente no bem-estar e na integridade física, psicológica ou até mesmo na liberdade
e no desenvolvimento de outro membro.

Neste Infográfico, você vai compreender melhor esse tipo de violência, além de ver, de forma
sintetizada, quatro características definidoras da violência intrafamiliar, sendo estas de
conhecimento fundamental para profissionais que trabalham na interface entre a Psicologia e o
Direito.

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Conteúdo do livro
A violência intrafamiliar é um problema que afeta a sociedade como um todo, atingindo,
principalmente, mulheres, crianças, adolescentes, idosos e portadores de deficiência.

No capítulo Violência familiar e conjugal: os maus tratos como sintoma, da obra Psicologia jurídica,
você vai aprofundar os seus conhecimentos acerca dessa importante temática, entendendo que é
fundamental que o psicólogo jurídico saiba definir e identificar a violência intrafamiliar, assim como
seus fatores associados, para que possa pensar em práticas profissionais que de fato sejam efetivas
em casos como esses.
PSICOLOGIA
JURÍDICA

Sabine Heumann
Violência familiar e
conjugal: os maus-tratos
como sintoma
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir violência intrafamiliar.


 Identificar fatores que contribuem para a prática da violência familiar
e conjugal.
 Reconhecer diferentes práticas profissionais frente aos maus-tratos
identificados em mulheres, crianças e adolescentes.

Introdução
A violência é um dos grandes problemas de saúde pública na atualidade.
É um tema complexo e carente de discussão. Uma das definições mais
aceitas pelos estudiosos é a de que a violência diz respeito a uma ação
proposital direcionada a uma pessoa, grupo ou a si mesmo (próprio autor),
com o intuito de causar prejuízos físicos, psicológicos, sociais e/ou morais.
A temática da violência por si só já desperta o interesse de diversas áreas
e, quando se trata da violência no contexto familiar, esse interesse é ainda
maior, principalmente nas áreas do Direito e da Psicologia. Isso se deve
à relevância do tema, uma vez que a família é o primeiro núcleo social
do qual a pessoa faz parte e que as relações que ali se estabelecem
costumam ser as mais próximas e duradouras que a pessoa tem e terá.
Essa configuração da família contribui para que os fatos que ocorrem em
seu contexto tenham um impacto de curto, médio e longo prazo na vida
das pessoas, de uma maneira global.
A partir dessa compreensão, neste capítulo, você vai estudar o con-
ceito de violência intrafamiliar, os fatores que impactam esse fenômeno
e as diferentes práticas profissionais que podem ser adotadas.
2 Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma

Principais características da violência


intrafamiliar
De acordo com a publicação intitulada Violência intrafamiliar — orientações
para a prática em serviço (BRASIL, 2002), este é um problema que afeta
a sociedade como um todo, atingindo, principalmente, mulheres, crianças,
adolescentes, idosos e portadores de deficiência.
De acordo com Cesca (2004) e o Ministério da Saúde (BRASIL, 2002),
pode ser considerada violência intrafamiliar toda e qualquer ação, ou mesmo
omissão, de um membro da família, que impacte de forma negativa no bem-
-estar e na integridade física e psicológica ou na liberdade e no desenvolvi-
mento pleno de outro membro. Uma característica importante da violência
intrafamiliar é que ela pode ser cometida dentro ou fora do ambiente familiar
concreto (a casa, em geral). Ou seja, ela envolve as relações familiares, incluindo
também pessoas sem laços consanguíneos. Tem-se como base a compreensão
de família como um grupo de pessoas que desenvolve vínculos afetivos, de
consanguinidade ou de convivência.

Quando falamos em violência intrafamiliar, deve-se considerar toda e qualquer re-


lação de abuso praticada por um membro da família contra outro. Essa relação não
necessariamente precisa ocorrer em um ambiente específico (como a casa da família),
nem por pessoas com laços consanguíneos, bastando a existência de vínculo afetivo
ou convivência.

Esse tipo de violência pode se manifestar de diferentes formas. O Minis-


tério da Saúde (BRASIL, 2002) divide violência intrafamiliar nos seguintes
tipos:

 Violência física: quando uma pessoa (em uma relação de poder) causa ou
tenta causar dano à outra por meio de força física ou algum tipo de arma.
■ Exemplos: socos, empurrões, chutes, queimaduras, amarrar, arrastar,
ações, obrigar a tomar drogas ou medicamentos, tirar à força de casa ou
atos voluntários largar em ambientes desconhecidos, entre outros.
Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma 3

 Violência sexual: quando uma pessoa (em uma relação de poder), por
meio da força física, coerção ou intimidação, obriga outra ao ato sexual
ou a interações sexuais de maneira ampla.
■ Exemplos: estupro, carícias indesejadas, sexo forçado no casamento,
abuso sexual infantil, uso de linguagem erotizada, masturbação
forçada, abuso incestuoso, assédio sexual, entre outros.
 Violência psicológica: quando uma pessoa (em relação de poder) causa
dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento de outra pessoa
por meio de uma ação proposital ou de uma omissão.
■ Exemplos: humilhação, negligência, chantagem, ridicularização,
ameaças, manipulação afetiva, omissão de carinho, entre outros.
econômico, livre desenvolvimento da personalidade, auto estima
omissão,

A violência psicológica resulta em marcas profundas no desenvolvimento de quem a


sofre, podendo comprometer a vida dessa pessoa de forma global.
Um tipo importante de violência psicológica é a negligência, principalmente por
afetar de forma mais direta crianças e adolescentes. A negligência se configura quando
pais (ou responsáveis) não promovem os cuidados básicos necessários para o de-
senvolvimento de um de seus dependentes, como cuidados relacionados à saúde,
à nutrição, à higiene pessoal, à educação, à vestimenta e à sustentação emocional.
Para ser configurada como negligência, é importante que essa falha não esteja
relacionada às condições de vida da família que fogem ao controle, como o caso
de famílias em pobreza extrema, por exemplo. Em geral, a negligência aparece com
maior frequência em famílias jovens, em que a criança está doente e é mantida pela
mãe. Além disso, as estatísticas mostram que a uniparentalidade tende a aumentar
em 220% o risco de negligência (OLIVEIRA et al., 1999).

 Violência econômica ou financeira: quando uma pessoa (em relação


de poder) afeta a saúde emocional e a sobrevivência financeira de outra.
■ Exemplos: roubo, não pagamento de pensão alimentícia, recusa ao
pagamento de gastos básicos da família, destruição de bens de outro
membro da família ou uso de recursos econômicos de pessoa idosa,
incapaz ou tutelada.
4 Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma

É importante que você saiba diferenciar violência familiar e violência doméstica.


Violência intrafamiliar diz respeito ao contexto familiar, envolvendo vínculos afetivos,
de consanguinidade ou de convivência. Já a violência doméstica é mais abrangente,
incluindo pessoas que convivem no espaço físico familiar, mas que não fazem parte
da família (como empregados, amigos, prestadores de serviço ou visitantes eventuais),
conforme afirmam Day et al. (2003).
Por isso, fique atento para não confundir: o critério essencial para a definição de
uma violência doméstica é o ambiente no qual ela ocorre; já a violência intrafamiliar
tem como critério essencial a relação familiar estabelecida entre autor e vítima. Sendo
assim, a violência intrafamiliar, quando ocorre no contexto doméstico, é um tipo de
violência doméstica. Da mesma forma, a violência doméstica, quando ocorre entre
membros de uma mesma família, é um tipo de violência intrafamiliar.

Ao analisar a literatura, facilmente você verá que a maior parte dos estu-
dos que tratam da violência intrafamiliar tem o homem como perpetrador.
Porém, é importante destacar que há casos em que a mulher é a perpetradora,
ainda que em menor escala, conforme afirma Huss (2009). Em geral, casos
relacionados a abusos físicos e/ou sexuais estão mais ligados aos homens; já
a violência física e a negligência são, muitas vezes, cometidas por mulheres
(BRASIL, 2002). Quanto às vítimas, sabe-se que qualquer membro da família
pode sofrer violência intrafamiliar, porém, as mulheres costumam ser vítimas
frequentes, conforme você verá no tópico a seguir.

A violência conjugal contra a mulher


Um ponto importante que você deve ter em mente é que, mesmo que a violên-
cia familiar possa ter diversas vítimas, a mulher costuma ser a mais afetada,
tendo como seu principal agressor seu parceiro íntimo (marido, namorado
ou amante). Entende-se como violência contra a mulher todo e qualquer ato
agressivo desferido contra a mulher, tendo como base a sua condição de
gênero, podendo causar danos nas esferas social, psicológica, sexual, entre
outros (WHO, 2015 apud MORAES, 2017, p. 20). O feminicídio (homicídio
contra mulheres em função do gênero) é a sua forma mais grave de ocorrência.
A violência contra a mulher é um problema cada vez mais discutido e,
ainda que não seja um fenômeno recente, tem-se identificado uma maior
preocupação por parte da sociedade quanto à sua gravidade e seriedade nos
Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma 5

últimos 50 anos. No contexto brasileiro, uma das primeiras pesquisas que


denunciaram a gravidade da violência sofrida por mulheres foi realizada
pela Fundação Perseu Abramo, em 2001, e indicou que 43% delas já sofreram
algum tipo de violência sexista e, em 70% dos casos, esse ato foi perpetrado
por seus parceiros ou ex-parceiros conjugais. Outro dado alarmante que essa
mesma pesquisa indicou é a estimativa de que, a cada 15 segundos, uma
mulher é espancada no país ((FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 2001 apud
GUIMARÃES; PEDROZA, 2015, p. 257).
A partir desse cenário, em 2006, foi criada no Brasil a Lei Maria da Penha
(Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006) (BRASIL, 2006), com o objetivo de
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Para a efetivação de
suas medidas, foram criados também os juizados de violência doméstica e
familiar contra a mulher. Essa lei especificou os tipos de violência causados
contra a mulher, que são: violência física, violência psicológica, violência
sexual, violência moral e violência patrimonial. Os tipos se assemelham com
os que você estudou anteriormente neste capítulo, sendo que a diferença
essencial é que eles ocorrem em função do gênero da vítima (BRASIL, 2006).

Você sabia que autores de feminicídio podem receber penas que variam entre 13 e
30 anos de reclusão? E que, além disso, se a vítima estava em período gestacional ou
até três meses após o parto, essa pena tem possibilidade de acréscimo de um terço
até metade do seu período de reclusão?

Fatores envolvidos na prática da violência


familiar e conjugal
Algumas famílias possuem condições particulares e/ou coletivas que aumentam
o risco de que episódios de violência intrafamiliar ocorram. É importante que
o profissional da área de interface entre a Psicologia e o Direito conheça essas
características, não só para a identificação de possíveis casos, mas também
para a intervenção e a elaboração de medidas preventivas.
É importante ter em mente que um comportamento violento não ocorre de
forma automática. Existem muitas razões que o antecedem e uma variedade de
6 Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma

fatores que o influenciam (psicológicos, sociais e biológicos). Um dos papéis


do psicólogo jurídico é fazer a avaliação de risco para casos de violência
familiar e doméstica. Para estar apto a fazer essa avaliação, é importante que
o psicólogo conheça alguns aspectos peculiares desse tipo de violência. A
seguir, você verá alguns fatores que contribuem para a prática de violência
familiar, doméstica e conjugal, conforme expõem Huss (2009), Brasil (2002),
Pires e Miyazaki (2005):

 Fatores demográficos:
■ A idade do perpetrador costuma ser um fator de risco, sendo que,
quanto mais jovem, maior o risco de violência doméstica.
■ A condição socioeconômica também costuma ser um fator de risco:
condições socioeconômicas mais baixas estão mais relacionadas à
violência doméstica e, inclusive, aos casos mais graves de agressão
física.
■ A etnia também pode ser considerada um fator de risco, ainda que as
estatísticas demonstrem que há casos de violência em todos os grupos
étnicos. Foi identificado que a prevalência de violência doméstica é
mais alta em grupos afro-americanos, hispânicos e em não brancos
de maneira geral.
 Fatores históricos:
■ Outra variável que contribui para a prática de violência é o histórico
de exposição à violência doméstica na infância. Percebe-se que, de
maneira geral, homens que se desenvolvem em ambientes em que
há violência têm maiores chances de se tornarem autores.
 Fatores psicológicos:
■ A expressão da raiva e a hostilidade costumam estar associadas aos
comportamentos violentos.
■ O uso e o abuso de substâncias também costumam contribuir para
a existência de casos de violência; nos dias em que o perpetrador
faz uso da substância (por exemplo, do álcool), as chances de que
ocorram episódios violentos aumentam em até oito vezes.
■ A depressão também aparece como uma característica psicológica
associada à ocorrência de violência; há estudos que demonstram
que homens mais violentos têm maior risco de sofrer de depressão.
 Fatores referentes às relações familiares:
■ Em famílias com disparidade na distribuição de poder (por exemplo,
relacionado ao gênero) ou, por outro lado, sem nenhuma diferen-
Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma 7

ciação de papéis, existem maiores riscos de ocorrência de violência


intrafamiliar.
■ Em famílias com nível de tensão elevado e constante, em que o
diálogo é difícil e há descontrole e agressividade entre os membros,
existem maiores chances de ocorrência de violência doméstica.
■ Famílias com pouca interação externa e com baixo nível de autonomia
entre os membros são consideradas potencialmente críticas.
■ Famílias em situação de crise (como desemprego, separação, luto,
entre outras) também têm maiores chances de desenvolver situações
de violência intrafamiliar.
 Fatores referentes às relações conjugais:
■ Casais com indicativos de violência no início da relação, como o
desapego, ou objetivos perversos para a relação, como o objetivo de
ganho financeiro, costumam ter maior risco para violência conjugal.
■ Quando há o fechamento da relação apenas no casal (casal com
dificuldade de lidar com outras pessoas), existe um fator de potencial
risco para a ocorrência de violência conjugal.
■ Quando o casal tem baixa capacidade de negociação em relação aos
conflitos da convivência conjugal, existe um fator contribuinte para
a ocorrência de episódios violentos.
■ Algumas características dos parceiros também costumam contribuir
para a violência conjugal, como baixa autoestima ou pouca autonomia
de um (ou de ambos), sentimento de posse (gerando ciúme exagerado)
e alcoolismo e/ou uso e abuso de drogas.
 Fatores de risco para a violência contra crianças:
■ Crianças oriundas de gravidez indesejada, de gestações com mães
depressivas e sem acompanhamento pré-natal costumam sofrer maior
violência.
■ Pais ou mães com múltiplos parceiros também têm maior chance de
desenvolverem comportamentos violentos contra seus filhos.
■ Expectativas muito altas em relação à criança também podem fun-
cionar como fator de risco para a violência.
■ O estilo parental muito rigoroso também tende a contribuir para a
ocorrência de violência, assim como pais ciumentos ou possessivos
em relação aos filhos.
■ Também é visto que crianças separadas da mãe ao nascer (por
doença ou prematuridade, por exemplo) têm maiores chances de
serem vítimas de violência intrafamiliar, assim como crianças com
malformações congênitas, doenças crônicas e anormalidade físicas.
8 Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma

 Fatores de risco para a violência contra idosos:


■ Ter diversas doenças ao mesmo tempo tende a ser um fator de risco
para a violência intrafamiliar em idosos, assim como os déficits
cognitivos.
■ A dependência física e/ou mental também pode contribuir para a
ocorrência de episódios violentos, assim como a incontinência uri-
nária/fecal e as alterações no sono.
■ Outro ponto que costuma contribuir para a ocorrência de violência é
quando o idoso precisa de muitos cuidados, não conseguindo realizar
suas atividades rotineiras de maneira independente (como usar o
banheiro, alimentar-se, entre outras).
 Fatores de risco para a violência contra pessoas com deficiências:
■ Pessoas com maiores comprometimentos físicos ou mentais e redu-
zida autonomia costumam estar mais suscetíveis a episódios violentos.
■ Pessoas com maior hiperatividade e dispersão também costumam
estar entre as vítimas, tratando-se de pessoas com deficiência no
contexto intrafamiliar.

A violência intrafamiliar é um problema dinâmico e sistêmico. Não pode ser


considerada um fenômeno individual, mas sim a manifestação de um fenômeno
interacional. Muitas vezes a violência intrafamiliar é compreendida como um
sintoma. Isso é importante para que se pense em ações preventivas e de inter-
venção que abarquem características sistêmicas e que atuem diretamente nas
relações que se estabelecem dentro da família, como defende Sánchez (2001).

Quer conhecer uma forma de avaliação da violência conjugal bastante utilizada?


Acesse o link a seguir e conheça a adaptação transcultural para o Brasil da Escala de
Tática de Conflito (CTS2), que foi desenvolvida nos Estados Unidos por Straus, Hamby,
Boney-Mccoy e Sugarman em 1996 e, atualmente, é um instrumento bastante popular
para esse fim no Brasil e no mundo.
https://goo.gl/868DcK
Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma 9

Práticas profissionais frente aos maus-tratos de


mulheres, crianças e adolescentes
Em geral, os casos de maus-tratos com evidências físicas são diagnosticados
e atendidos por profissionais da saúde. Vale destacar que, quando o dano
não é visível, o profissional deve prestar atenção e suspeitar de possíveis
casos sempre que encontre lesões sem explicação, sendo que a suspeita e a
denúncia dessa suspeita são práticas fundamentais para afastar a vítima do
agressor, conforme afirmam Pires e Miyazaki (2005). Ou seja, entende-se que
os profissionais da saúde estão em uma posição privilegiada e estratégica para
fazer a detecção de possíveis casos de violência contra mulheres, crianças,
adolescentes, idosos e deficientes.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, maus-tratos ocorrem quando uma


pessoa em condição superior de poder (como idade, força, posição social, entre outras)
comete um ato, ou mesmo uma omissão, que cause dano físico, psicológico ou sexual
à outra (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2001).

No Brasil, a legislação proposta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente


(Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990) (BRASIL, 1990) sobre maus-tratos a
crianças e adolescentes adota o padrão americano, em que a notificação de
casos suspeitos ou confirmados e o encaminhamento deles para organismos
competentes é obrigatória para os profissionais, podendo acarretar punições a
que não o fizer. Da mesma forma, a partir da Lei nº. 10.778, de 24 de novembro
de 2003 (BRASIL, 2003), a notificação também se tornou obrigatória para casos
em que for identificada violência contra a mulher (suspeita ou confirmada)
em serviços de saúde públicos e privados. Entretanto, a realidade do Brasil
é diferente da americana; aqui há escassez de profissionais, de regulamentos
que definam procedimentos técnicos sobre as medidas que devem ser tomadas
e também de meios legais de proteção para os profissionais que fazem as
notificações, o que dificulta todo o processo e faz com que a subnotificação
seja um fato, como afirmam Gonçalves e Ferreira (2002) e Azambuja (2005).
10 Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma

Ainda de acordo com Gonçalves e Ferreira (2002), apesar do conhecimento


da obrigatoriedade da notificação, há algumas necessidades emergenciais de
esclarecimento para que ela ocorra da forma mais coerente com a realidade
possível, como:

a) necessidade de explicitação do que se compreende por maus-tratos e


quais situações exatamente devem ser notificadas — é visto que os
profissionais sabem da obrigatoriedade da notificação, mas ainda têm
dúvidas sobre o que deve ser notificado;
b) necessidade de explicitação da compreensão de suspeita — como não há
orientações claras, na prática, a notificação de suspeitas fica a critério
do profissional, o que pode aumentar ou diminuir as notificações;
c) necessidade de discussão das consequências do ato de notificar, pro-
blematizando a questão da justiça e das consequências às famílias.

O Conselho Federal de Psicologia permite a quebra de sigilo em casos em que é


necessário notificar uma situação de violência suspeita ou confirmada.

Apesar dessas dificuldades na realidade brasileira, é importante que você


conheça algumas práticas consideradas adequadas para o manejo de situações
de violência familiar, segundo Hasse e Vieira (2014):

 a realização de atendimentos rotineiros;


 a solicitação de que o companheiro saia do consultório em situações
em que há suspeita de violência;
 a avaliação de necessidade de exames complementares;
 a escuta atenta e qualificada da situação (o que permite a identificação
de possíveis casos);
 o registro no prontuário e a notificação aos órgãos competentes de pos-
síveis casos (como conselho tutelar, delegacia da mulher, entre outros); e
 a orientação da potencial vítima, objetivando a preservação de sua
segurança e o rompimento da situação violenta.
Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma 11

Vale destacar ainda que, quando o profissional realiza apenas uma dessas
práticas, tal conduta é considerada insuficiente para o manejo de situações de
violência, sendo necessário pelo menos a realização de mais de uma prática.
Hasse e Vieira (2014) também elencaram como práticas inadequadas:

 responsabilizar a vítima pela situação;


 chamar a polícia;
 buscar confirmar a situação;
 orientar para que a vítima converse com o perpetrador;
 elaborar laudo pericial; e
 encaminhar a vítima para um órgão inexistente ou fazer um encami-
nhamento genérico, sem clareza no direcionamento.

Em complementariedade às práticas citadas acima, o Ministério da Saúde


(BRASIL, 2002) destaca mais alguns pontos no manejo dos profissionais frente
a situações de maus-tratos. A orientação é que os profissionais fiquem atentos
a todo momento na busca por possíveis casos de violência, mesmo que não
haja evidência aparente. Essa busca pode ser feita por meio da observação, da
realização de perguntas diretas e indiretas a respeito, da aproximação com a
família (para que esta se sinta mais à vontade para relatar algum fato), entre
outros. Outra prática importante dos profissionais é a orientação e o suporte
à vítima, para que ela possa compreender a situação que está vivendo e con-
siga analisar as possíveis soluções. Além disso, tratando-se em específico
do suporte que deve ser proporcionado, é importante que se inclua a rede
de serviços especializados (área de saúde, social, de segurança e justiça)
e também da comunidade (grupos de mulheres, grupos familiares, grupos
religiosos, entre outros).
12 Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma

Veja a seguir alguns cuidados éticos que devem ser tomados na prática profissional
em situações de violência contra mulheres, crianças e adolescentes:

 Sigilo e segurança: em casos em que a notificação é necessária, é importante


explicar para a família o papel dos profissionais da saúde, destacando que, apesar
de a denúncia ser necessária, o sigilo será mantido.
 A intervenção não pode provocar maiores danos aos envolvidos: é funda-
mental que o profissional mantenha uma atitude compreensiva e não julgue os
comportamentos dos envolvidos. Além disso é importante que se evite que os
envolvidos sejam interrogados diversas vezes, por diferentes profissionais, tendo
em vista o princípio do menor dano para um caso que essencialmente já causa
tantos problemas.
 Respeitar as decisões e o ritmo de cada pessoa: é importante que o profissional
tenha clareza de que cada pessoa lida de uma forma com situações de violência. É
necessário esperar o tempo de reação da pessoa, sem apressá-la a tomar decisões
ou a seguir caminhos que a equipe considera mais apropriados. Os profissionais
de saúde devem respeitar o tempo e as decisões da pessoa.
Fonte: Ministério da Saúde (BRASIL, 2002).

Analisando a realidade atual, percebe-se que nem os instrumentos jurídicos,


nem o sistema de proteção ou o sistema punitivo estão conseguindo diminuir as
taxas de violência no contexto intrafamiliar. Há duas hipóteses que podem ajudar
na compreensão dessa realidade. A primeira fala de uma certa herança cultural,
em que se acreditava que a intervenção junto às famílias violava a privacidade e
o direito ao pátrio poder (BRASIL, 2002). E, como segunda hipótese, acredita-se
que esse cenário pode estar relacionado à falta de formação do serviço de saúde
para o atendimento de casos de violência. De acordo com o estudo desenvolvido
por Hasse e Vieira (2014), apenas 27% dos profissionais de saúde relataram ter
tido alguma capacitação sobre o tema, o que é um dado preocupante.
Em síntese, percebe-se que, devido às já mencionadas características dos
serviços de atendimento no Brasil, em geral, as práticas profissionais têm sido
pontuais, não abrangendo as características sistêmica, social e relacional, entre
outras envolvidas no processo. Entretanto, observa-se que há um movimento
do Ministério da Saúde direcionado à busca por novas formas de ação para
esses casos, mais compatíveis com a sua complexidade, abarcando ações mais
sistêmicas, que entendam os maus-tratos e a violência familiar como sintomas
de famílias que precisam de ajuda (BRASIL, 2002).
Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma 13

1. Sobre a compreensão de b) Expectativas demasiadamente


violência intrafamiliar, assinale altas em relação ao
a alternativa correta: desempenho escolar,
a) Uma característica definidora acadêmico e à perspectiva de
da violência intrafamiliar é a futuro da criança são fator de
relação familiar consanguínea proteção contra a violência
entre agressor e vítima. intrafamiliar na infância.
b) É considerado violência c) O estilo parental muito liberal
intrafamiliar todo e qualquer é um fator de proteção contra
ato, incluindo omissão, que a violência intrafamiliar em
prejudique física, moral ou crianças, pois estilos parentais
psicologicamente outra muito rigorosos costumam
pessoa que vive no mesmo ter o efeito contrário.
ambiente domiciliar. d) A idade dos pais não interfere
c) É considerado violência na ocorrência de violência
intrafamiliar todo e qualquer ato, familiar em crianças.
incluindo omissão, intencional, e) Gravidez indesejada pode
que prejudique física, moral ser um fator que contribui
ou psicologicamente outra para a ocorrência de violência
pessoa que vive no mesmo intrafamiliar contra crianças.
ambiente domiciliar. 3. Sobre a mulher, no contexto da
d) É considerado violência violência familiar e doméstica,
intrafamiliar todo e qualquer assinale a alternativa correta:
ato, incluindo omissão, de a) É visto que, tratando-se da
um membro da família, que violência contra a mulher,
prejudique o bem estar e a o pai/responsável tem sido
integridade física, psicológica ou o principal perpetrador.
a liberdade e o desenvolvimento b) O feminicídio é o
pleno de outro membro. homicídio contra mulheres,
e) Uma característica definidora independentemente da razão, e
da violência intrafamiliar é o é considerado o caso mais grave
ambiente em que ela ocorre. de violência contra a mulher.
2. Sobre os fatores que contribuem c) A violência contra a mulher
para a ocorrência de violência tem sido muito discutida
familiar em crianças, assinale em diferentes esferas da
a alternativa correta: sociedade por se tratar de
a) Fatos que ocorreram previamente um problema recente.
ao nascimento das crianças d) Entende-se por violência contra
não devem ser considerados, a mulher todo e qualquer ato
pois podem contaminar agressivo contra a mulher
impressões e desviar a atenção. em função de seu gênero.
14 Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma

e) Para que a mulher tenha direito o seu agressor, é uma prática


a acionar a Lei Maria da Penha é considerada adequada.
necessário que a violência seja e) Em casos confirmados de
provada, com evidências físicas. violência contra a mulher é
4. No Brasil, existem dificuldades obrigatório que o profissional
associadas à prática dos profissionais de saúde chame a polícia.
que atendem casos de violência, 5. Sobre a violência conjugal,
suspeita e confirmada. Sobre esse assinale a alternativa correta:
assunto, assinale a alternativa correta: a) Para que a incidência de violência
a) Em casos confirmados, conjugal diminua é importante
ou suspeitos, de violência que os conflitos de convivência
contra crianças, adolescentes entre o casal não ocorram.
e mulheres, a notificação b) Em casos de violência conjugal é
aos órgãos competentes importante que se analise todo
é obrigatória para o período de relacionamento
profissionais da saúde. do casal, sendo que, de acordo
b) Quando há suspeita de com algumas pesquisas, pode-se
maus tratos em crianças e dizer que o histórico de cada um
adolescentes é necessário que dos membros não interfere na
os profissionais encaminhem forma como eles se relacionam.
a notificação aos órgãos c) Uma estratégia que pode ser
competentes. Essa é uma utilizada no manejo de casais
orientação do ECA. Já em casos para evitar a violência conjugal
de violência contra a mulher, a é o treino da capacidade para
notificação não é obrigatória. negociação em casos de conflito.
c) Profissionais de psicologia d) Famílias com pouca interação
não devem fazer notificações externa tendem a ter menos
sobre suspeita de maus problemas de violência conjugal.
tratos em mulheres, em e) O abuso de drogas costuma ser
razão do ao sigilo ético. um fator de risco para violência
d) Práticas profissionais como intrafamiliar; em casos de
orientação da vítima, violência conjugal, no entanto,
aconselhando-a a falar com esse fator tem pouca relevância.
Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma 15

AZAMBUJA, M. P. R. Violência doméstica: reflexões sobre o agir profissional. Psicologia


Cienc. Prof., Brasília ,v. 25, nº. 1, p. 4-13, mar. 2005.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/l8069.htm>. Acesso em: 25 jun. 2018.
BRASIL. Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003. Estabelece a notificação compulsória,
no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for atendida em
serviços de saúde públicos ou privados. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/Leis/2003/L10.778.htm>. Acesso em: 25 jun. 2018.
BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Cria mecanismos para
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art.
226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a eliminação de todas as formas
de discriminação contra as mulheres e da Convenção Interamericana para prevenir,
punir e erradicar a violência contra a mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a mulher; altera o Código de Processo Penal,
o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso
em: 25 jun. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar:
orientações para prática em serviço. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. (Cadernos
de atenção básica; nº. 8). (Normas e manuais técnicos; nº. 131).
CESCA, T. B. O papel do psicólogo jurídico na violência intrafamiliar: possíveis articu-
lações. Psicologia & Sociedade, Porto Alegre, v. 16, nº. 3, p. 41-46, dez. 2004.
DAY, V. P. et al. Violência doméstica e suas diferentes manifestações. Revista de Psiquiatria
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 25, supl 1, p. 9-21, abr. 2003.
GONCALVES, H. S.; FERREIRA, A. L. A notificação da violência intrafamiliar contra
crianças e adolescentes por profissionais de saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro
,v. 18, nº. 1, p. 315-319, fev. 2002 .
GUIMARÃES, M. C.; PEDROZA, R. L. S. Violência contra a mulher: problematizando
definições teóricas, filosóficas e jurídicas. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte ,v.
27, nº. 2, p. 256-266, ago. 2015.
HASSE, M.; VIEIRA, E. M. Como os profissionais de saúde atendem mulheres em
situação de violência? Uma análise triangulada de dados. Saúde em Debate, Rio de
Janeiro, v. 38, nº. 102, p. 482-493, jul./set. 2014.
HUSS, M. T. Psicologia Forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Porto Alegre:
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MORAES, C. L.; HASSELMANN, M. H.; REICHENHEIM, M. E. Adaptação transcultural


para o português do instrumento “Revised Conflict Tactics Scales (CTS2)” utilizado
para identificar violência entre casais. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.
18, nº. 1, p. 163-176, fev. 2002.
MORAES, M. S. B. Homens autores de violência conjugal: caracterização biopsicossocial
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– Universidade Federal do Pará. Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento,
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– Parte A: apenas boas intenções não bastam. In: Associação de Apoio à Criança e ao
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PIRES, A. L. D.; MIYAZAKI, M. C. O. S. Maus-tratos contra crianças e adolescentes: revisão
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SÁNCHEZ, J. A. W. Violencia intrafamiliar: causas biológicas, psicológicas, comunica-
cionales e interacciónales. México: Plaza y Valdés, 2001.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Guia de atuação frente a maus-tratos
na infância e na adolescência: orientações para pediatras e demais profissionais que
trabalham com crianças e adolescentes. 2. ed. Rio de Janeiro: SBP/FIOCRUZ/MJ, 2001.

Leituras recomendadas
CAMPOS, C. H. Feminicídio no Brasil: uma análise crítico-feminista. Sistema Penal e
Violência, Porto Alegre, v. 7, nº. 1, p. 103-115, 2015.
HASSELMANN, M. H.; REICHENHEIM, M. E. Adaptação transcultural da versão em por-
tuguês da Conflict Tactics Scales Form R (CTS-1), usada para aferir violência no casal:
equivalências semântica e de mensuração. Cadernos Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.
19, n. 4, p. 1083-1093, jul./ago. 2003.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Global Tuberculosis Control: WHO report
2001. Geneva, Switzerland, WHO/CDS/TB, 2001.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
Dica do professor
A avaliação do risco e da intensidade de condutas violentas é uma tarefa frequente para o
psicólogo jurídico. Existem diferentes formas de avaliar situações como essa, incluindo exames
clínicos, entrevistas psicológicas e a utilização de instrumentos reconhecidos internacionalmente.
Um instrumento muito utilizado com esse fim é a Escala de Tática de Conflito (CTS2), publicada em
1996, nos Estados Unidos. Ela permite a avaliação, de uma forma rápida e comprovadamente
eficaz, de casos de violência conjugal.

Na Dica do Professor a seguir, você vai conhecer um pouco mais sobre essa importante estratégia
de avaliação.

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Exercícios

1) Sobre a compreensão da violência intrafamiliar, assinale a alternativa correta.

A) Uma característica definidora da violência intrafamiliar é a relação familiar consanguínea


entre agressor e vítima.

B) É considerado violência intrafamiliar todo e qualquer ato, incluindo omissão, que prejudique
física, moral ou psicologicamente outra pessoa que vive no mesmo ambiente domiciliar.

C) É considerado violência intrafamiliar todo e qualquer ato, incluindo omissão, intencional que
prejudique física, moral ou psicologicamente outra pessoa que vive no mesmo ambiente
domiciliar.

D) É considerado violência intrafamiliar todo e qualquer ato, incluindo omissão, de um membro


da família que prejudique o bem-estar e a integridade física, psicológica ou a liberdade e o
desenvolvimento pleno de outro membro.

E) Uma característica definidora da violência intrafamiliar é o ambiente no qual ela ocorre.

2) Sobre os fatores que contribuem para a ocorrência de violência familiar contra crianças,
assinale a alternativa correta.

A) Fatos que ocorreram previamente ao nascimento das crianças não devem ser considerados,
correndo o risco de contaminar impressões e desviar a atenção.

B) Quando a família tem expectativas demasiadamente altas em relação ao desempenho escolar,


acadêmico e à perspectiva de futuro da criança, isso se configura como um fator de proteção
para a violência intrafamiliar na infância.

C) O estilo parental, quando se configura como muito liberal, atua como um fator de proteção
para a violência intrafamiliar em crianças, visto que estilos parentais muito rigorosos
costumam ter o efeito contrário.

D) A idade dos pais não interfere na ocorrência de violência familiar em crianças.

E) Gravidez indesejada pode ser um fator que contribui para a ocorrência de violência
intrafamiliar em crianças.
3) Sobre a mulher no contexto da violência familiar e doméstica, assinale a alternativa correta.

A) É visto que, tratando-se da violência contra a mulher, o pai/responsável tem sido o principal
perpetrador.

B) O feminicídio é o homicídio contra mulheres, independentemente da razão, sendo


considerado o caso mais grave de violência contra a mulher.

C) É visto que o problema da violência contra a mulher tem sido muito discutido em diferentes
esferas da sociedade. Isso se dá devido ao fato de esse ser um problema recente.

D) Entende-se por violência contra a mulher todo e qualquer ato agressivo contra a mulher em
função de seu gênero.

E) Para que a mulher tenha direito a acionar a Lei Maria da Pena (Lei n.° 11.340/2006) é
necessário que a violência seja provada com evidências físicas.

4) No Brasil são identificadas algumas dificuldades associadas à prática dos profissionais que
atendem casos de violência, suspeita e confirmada. Sobre esse assunto, assinale a alternativa
correta.

A) Em casos confirmados ou suspeitos de violência contra crianças, adolescentes e mulheres, a


notificação aos órgãos competentes é obrigatória para profissionais da saúde.

B) Quando há suspeita de maus tratos em crianças e adolescentes é necessário que os


profissionais encaminhem a notificação aos órgãos competentes. Isso ocorre devido às
orientações do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Já em casos de violência contra a
mulher, a notificação não é obrigatória.

C) Profissionais de psicologia não devem fazer notificações sobre suspeita de maus tratos em
mulheres devido ao sigilo ético.

D) Práticas profissionais como: orientação da vítima, aconselhando ela a falar com o seu
agressor, é uma prática que costuma ser considerada adequada.

E) Em casos confirmados de violência contra a mulher é obrigatório que o profissional de saúde


chame a polícia.

5) Sobre a violência conjugal, assinale a alternativa correta.


A) Para que a incidência de violência conjugal diminua é importante que os conflitos de
convivência entre o casal não ocorram.

B) Em casos de violência conjugal é importante que se analise todo o período de relacionamento


do casal, sendo que, de acordo com algumas pesquisas, pode-se dizer que o histórico de cada
um dos membros não interfere na forma como eles se relacionam.

C) Uma estratégia que pode ser utilizada no manejo de casais para evitar casos de violência
conjugal é o treino da capacidade para negociação em casos de conflito.

D) Famílias com pouca interação externa tendem a ter menos problemas de violência conjugal.

E) O abuso de drogas costuma ser um fator de risco para a violência intrafamiliar, entretanto,
tratando-se de violência conjugal, é percebido que esse fator tem pouca relevância.
Na prática
A mulher é uma das vítimas mais frequentes de violência intrafamiliar. Os casos mais comuns são
referentes à violência conjugal, ou seja, em que o parceiro íntimo é o perpetrador. Casos como esse
são muito delicados e precisam de uma atenção extra por parte dos profissionais da saúde. Muitas
vezes os profissionais ficam em dúvida sobre as práticas que devem ser aplicadas em situações
como essa.

Tratando-se do manejo profissional, cada caso deve ser pensado de forma individualizada.
Entretanto, algumas práticas são recomendadas e até mesmo obrigatórias.

A seguir você vai ver algumas práticas profissionais consideradas adequadas para casos de violência
conjugal contra a mulher.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Cicatrizes: documentário sobre violência doméstica


Neste documentário você verá alguns casos de violência doméstica e familiar e suas consequências,
principalmente casos de violência conjugal contra a mulher.

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A experiência de prisão preventiva por violência conjugal: o


discurso de homens
No artigo a seguir você vai poder conhecer um estudo que trata o outro lado da violência conjugal:
o discurso dos homens sobre a experiência de prisão preventiva.

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A estratégia saúde da família frente à violência contra crianças:


revisão integrativa
O seguinte artigo traz uma revisão integrativa da literatura sobre a atuação da equipe Estratégia de
Saúde da Família (ESF) em situações de violência contra crianças.

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