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Apresentação
Uma das definições de violência mais aceitas pelos estudiosos é a elaborada pela World Health
Organization (WHO, 2001), a qual afirma que a violência diz respeito a uma ação proposital
direcionada a uma pessoa, grupo ou a si mesmo (próprio autor), com o intuito de causar prejuízos
físicos, psicológicos, sociais e/ou morais. Entre os meios mais utilizados para essa prática estão o
uso da força física, o uso de armas, ameaças e até mesmo o aprisionamento.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá estudar um tipo específico de violência, que tem sido
largamente discutido, tanto pela área do Direito quanto pela ciência da Psicologia, sendo de
fundamental importância para o psicólogo que trabalha no sistema legal: a violência familiar e
conjugal. Para isso, você irá conhecer o conceito de violência intrafamiliar e os fatores envolvidos
nessa prática.
Bons estudos.
Neste Infográfico, você vai compreender melhor esse tipo de violência, além de ver, de forma
sintetizada, quatro características definidoras da violência intrafamiliar, sendo estas de
conhecimento fundamental para profissionais que trabalham na interface entre a Psicologia e o
Direito.
No capítulo Violência familiar e conjugal: os maus tratos como sintoma, da obra Psicologia jurídica,
você vai aprofundar os seus conhecimentos acerca dessa importante temática, entendendo que é
fundamental que o psicólogo jurídico saiba definir e identificar a violência intrafamiliar, assim como
seus fatores associados, para que possa pensar em práticas profissionais que de fato sejam efetivas
em casos como esses.
PSICOLOGIA
JURÍDICA
Sabine Heumann
Violência familiar e
conjugal: os maus-tratos
como sintoma
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
A violência é um dos grandes problemas de saúde pública na atualidade.
É um tema complexo e carente de discussão. Uma das definições mais
aceitas pelos estudiosos é a de que a violência diz respeito a uma ação
proposital direcionada a uma pessoa, grupo ou a si mesmo (próprio autor),
com o intuito de causar prejuízos físicos, psicológicos, sociais e/ou morais.
A temática da violência por si só já desperta o interesse de diversas áreas
e, quando se trata da violência no contexto familiar, esse interesse é ainda
maior, principalmente nas áreas do Direito e da Psicologia. Isso se deve
à relevância do tema, uma vez que a família é o primeiro núcleo social
do qual a pessoa faz parte e que as relações que ali se estabelecem
costumam ser as mais próximas e duradouras que a pessoa tem e terá.
Essa configuração da família contribui para que os fatos que ocorrem em
seu contexto tenham um impacto de curto, médio e longo prazo na vida
das pessoas, de uma maneira global.
A partir dessa compreensão, neste capítulo, você vai estudar o con-
ceito de violência intrafamiliar, os fatores que impactam esse fenômeno
e as diferentes práticas profissionais que podem ser adotadas.
2 Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma
Violência física: quando uma pessoa (em uma relação de poder) causa ou
tenta causar dano à outra por meio de força física ou algum tipo de arma.
■ Exemplos: socos, empurrões, chutes, queimaduras, amarrar, arrastar,
ações, obrigar a tomar drogas ou medicamentos, tirar à força de casa ou
atos voluntários largar em ambientes desconhecidos, entre outros.
Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma 3
Violência sexual: quando uma pessoa (em uma relação de poder), por
meio da força física, coerção ou intimidação, obriga outra ao ato sexual
ou a interações sexuais de maneira ampla.
■ Exemplos: estupro, carícias indesejadas, sexo forçado no casamento,
abuso sexual infantil, uso de linguagem erotizada, masturbação
forçada, abuso incestuoso, assédio sexual, entre outros.
Violência psicológica: quando uma pessoa (em relação de poder) causa
dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento de outra pessoa
por meio de uma ação proposital ou de uma omissão.
■ Exemplos: humilhação, negligência, chantagem, ridicularização,
ameaças, manipulação afetiva, omissão de carinho, entre outros.
econômico, livre desenvolvimento da personalidade, auto estima
omissão,
Ao analisar a literatura, facilmente você verá que a maior parte dos estu-
dos que tratam da violência intrafamiliar tem o homem como perpetrador.
Porém, é importante destacar que há casos em que a mulher é a perpetradora,
ainda que em menor escala, conforme afirma Huss (2009). Em geral, casos
relacionados a abusos físicos e/ou sexuais estão mais ligados aos homens; já
a violência física e a negligência são, muitas vezes, cometidas por mulheres
(BRASIL, 2002). Quanto às vítimas, sabe-se que qualquer membro da família
pode sofrer violência intrafamiliar, porém, as mulheres costumam ser vítimas
frequentes, conforme você verá no tópico a seguir.
Você sabia que autores de feminicídio podem receber penas que variam entre 13 e
30 anos de reclusão? E que, além disso, se a vítima estava em período gestacional ou
até três meses após o parto, essa pena tem possibilidade de acréscimo de um terço
até metade do seu período de reclusão?
Fatores demográficos:
■ A idade do perpetrador costuma ser um fator de risco, sendo que,
quanto mais jovem, maior o risco de violência doméstica.
■ A condição socioeconômica também costuma ser um fator de risco:
condições socioeconômicas mais baixas estão mais relacionadas à
violência doméstica e, inclusive, aos casos mais graves de agressão
física.
■ A etnia também pode ser considerada um fator de risco, ainda que as
estatísticas demonstrem que há casos de violência em todos os grupos
étnicos. Foi identificado que a prevalência de violência doméstica é
mais alta em grupos afro-americanos, hispânicos e em não brancos
de maneira geral.
Fatores históricos:
■ Outra variável que contribui para a prática de violência é o histórico
de exposição à violência doméstica na infância. Percebe-se que, de
maneira geral, homens que se desenvolvem em ambientes em que
há violência têm maiores chances de se tornarem autores.
Fatores psicológicos:
■ A expressão da raiva e a hostilidade costumam estar associadas aos
comportamentos violentos.
■ O uso e o abuso de substâncias também costumam contribuir para
a existência de casos de violência; nos dias em que o perpetrador
faz uso da substância (por exemplo, do álcool), as chances de que
ocorram episódios violentos aumentam em até oito vezes.
■ A depressão também aparece como uma característica psicológica
associada à ocorrência de violência; há estudos que demonstram
que homens mais violentos têm maior risco de sofrer de depressão.
Fatores referentes às relações familiares:
■ Em famílias com disparidade na distribuição de poder (por exemplo,
relacionado ao gênero) ou, por outro lado, sem nenhuma diferen-
Violência familiar e conjugal: os maus-tratos como sintoma 7
Vale destacar ainda que, quando o profissional realiza apenas uma dessas
práticas, tal conduta é considerada insuficiente para o manejo de situações de
violência, sendo necessário pelo menos a realização de mais de uma prática.
Hasse e Vieira (2014) também elencaram como práticas inadequadas:
Veja a seguir alguns cuidados éticos que devem ser tomados na prática profissional
em situações de violência contra mulheres, crianças e adolescentes:
Leituras recomendadas
CAMPOS, C. H. Feminicídio no Brasil: uma análise crítico-feminista. Sistema Penal e
Violência, Porto Alegre, v. 7, nº. 1, p. 103-115, 2015.
HASSELMANN, M. H.; REICHENHEIM, M. E. Adaptação transcultural da versão em por-
tuguês da Conflict Tactics Scales Form R (CTS-1), usada para aferir violência no casal:
equivalências semântica e de mensuração. Cadernos Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.
19, n. 4, p. 1083-1093, jul./ago. 2003.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Global Tuberculosis Control: WHO report
2001. Geneva, Switzerland, WHO/CDS/TB, 2001.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
Dica do professor
A avaliação do risco e da intensidade de condutas violentas é uma tarefa frequente para o
psicólogo jurídico. Existem diferentes formas de avaliar situações como essa, incluindo exames
clínicos, entrevistas psicológicas e a utilização de instrumentos reconhecidos internacionalmente.
Um instrumento muito utilizado com esse fim é a Escala de Tática de Conflito (CTS2), publicada em
1996, nos Estados Unidos. Ela permite a avaliação, de uma forma rápida e comprovadamente
eficaz, de casos de violência conjugal.
Na Dica do Professor a seguir, você vai conhecer um pouco mais sobre essa importante estratégia
de avaliação.
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Exercícios
B) É considerado violência intrafamiliar todo e qualquer ato, incluindo omissão, que prejudique
física, moral ou psicologicamente outra pessoa que vive no mesmo ambiente domiciliar.
C) É considerado violência intrafamiliar todo e qualquer ato, incluindo omissão, intencional que
prejudique física, moral ou psicologicamente outra pessoa que vive no mesmo ambiente
domiciliar.
2) Sobre os fatores que contribuem para a ocorrência de violência familiar contra crianças,
assinale a alternativa correta.
A) Fatos que ocorreram previamente ao nascimento das crianças não devem ser considerados,
correndo o risco de contaminar impressões e desviar a atenção.
C) O estilo parental, quando se configura como muito liberal, atua como um fator de proteção
para a violência intrafamiliar em crianças, visto que estilos parentais muito rigorosos
costumam ter o efeito contrário.
E) Gravidez indesejada pode ser um fator que contribui para a ocorrência de violência
intrafamiliar em crianças.
3) Sobre a mulher no contexto da violência familiar e doméstica, assinale a alternativa correta.
A) É visto que, tratando-se da violência contra a mulher, o pai/responsável tem sido o principal
perpetrador.
C) É visto que o problema da violência contra a mulher tem sido muito discutido em diferentes
esferas da sociedade. Isso se dá devido ao fato de esse ser um problema recente.
D) Entende-se por violência contra a mulher todo e qualquer ato agressivo contra a mulher em
função de seu gênero.
E) Para que a mulher tenha direito a acionar a Lei Maria da Pena (Lei n.° 11.340/2006) é
necessário que a violência seja provada com evidências físicas.
4) No Brasil são identificadas algumas dificuldades associadas à prática dos profissionais que
atendem casos de violência, suspeita e confirmada. Sobre esse assunto, assinale a alternativa
correta.
C) Profissionais de psicologia não devem fazer notificações sobre suspeita de maus tratos em
mulheres devido ao sigilo ético.
D) Práticas profissionais como: orientação da vítima, aconselhando ela a falar com o seu
agressor, é uma prática que costuma ser considerada adequada.
C) Uma estratégia que pode ser utilizada no manejo de casais para evitar casos de violência
conjugal é o treino da capacidade para negociação em casos de conflito.
D) Famílias com pouca interação externa tendem a ter menos problemas de violência conjugal.
E) O abuso de drogas costuma ser um fator de risco para a violência intrafamiliar, entretanto,
tratando-se de violência conjugal, é percebido que esse fator tem pouca relevância.
Na prática
A mulher é uma das vítimas mais frequentes de violência intrafamiliar. Os casos mais comuns são
referentes à violência conjugal, ou seja, em que o parceiro íntimo é o perpetrador. Casos como esse
são muito delicados e precisam de uma atenção extra por parte dos profissionais da saúde. Muitas
vezes os profissionais ficam em dúvida sobre as práticas que devem ser aplicadas em situações
como essa.
Tratando-se do manejo profissional, cada caso deve ser pensado de forma individualizada.
Entretanto, algumas práticas são recomendadas e até mesmo obrigatórias.
A seguir você vai ver algumas práticas profissionais consideradas adequadas para casos de violência
conjugal contra a mulher.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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