História Da Psicologia

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

HISTÓRIA DA PSICOLOGIA – INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS

Há milhares de anos atrás, desde que o homem se percebeu como um ser pensante,
inserido em um complexo que chamou de Natureza, ele vem buscando respostas para
suas dúvidas e fatos que comprovem e expliquem a origem, as causas e as
transformações do mundo.

No entanto, o comportamento e a conduta humana são assuntos que sempre nos


fascinaram e estão registrados historicamente ao longo desses anos, Isso faz com que
a Psicologia seja uma das mais antigas e uma das mais novas disciplinas acadêmicas,
criando assim esse paradoxo. Durante muito tempo se procurou explicações para as
questões naturais e humanas através de personagens mitológicos. Para os gregos, os
Mitos eram narrativas sagradas sobre a origem de tudo; eram tudo em que
acreditavam como verdadeiro.

Os poetas-videntes, que narravam os Mitos, possuíam uma autoridade mística sobre


os demais, pois eram “escolhidos dos deuses” que lhe mostravam os acontecimentos
passados através de revelações e sonhos, para que esses fossem transmitidos aos
ouvintes.

Com o passar do tempo a Mitologia parecia não satisfazer mais, pois notava-se
insuficientemente eficaz para a quantidade cada vez maior de questões, e no início do
século VI antes de Cristo, nasce a Filosofia, que significa “Amizade pelo Saber” e define
uma forma característica de pensar (pensamento racional). Com ela vários filósofos se
destacaram cada um com sua forma particular de pensar e de procurar a sabedoria.

Alguns dos fatos históricos que facilitaram o surgimento da Filosofia na Grécia foram
às viagens marítimas (descobertas de novos mundos), as invenções do calendário
(abstrato do tempo), a invenção da moeda (forma de troca), o surgimento da vida
urbana (ambiente para propagação), a invenção da escrita alfabética (registro abstrato
de ideias), a invenção da política (Ética da Polis), que introduziu três fatores decisivos:
as leis, o surgimento de um espaço público e a estimulação de um pensamento
coletivo, onde as ideias eram transmitidas em forma de discurso público. Através da
Filosofia grega, que foi instituída no Ocidente, foi-nos possível conhecer as bases e os
princípios fundamentais de conceitos que conhecemos como razão, racionalidade,
ética, política, técnica, arte, física, pedagogia, cirurgia, cronologia e, principalmente o
conceito de ciência. Entre os vários filósofos gregos que contribuíram com suas ideias,
temos:
- Pitágoras (séc. V a.C) – para ele, a completa sabedoria pertencia somente aos deuses,
mas era possível apreciá-la, amá-la e com isso, obtê-la. Dizia que a natureza é formada
por um sistema de relações ou de proporções matemáticas, de tal modo que essas
combinações aparecem aos nossos órgãos dos sentidos sob forma de qualidades
dualísticas.

- Parménides (544 – 450 a.C) – segundo ele, para chegarmos à verdade não podemos
confiar nos dados empíricos, temos que recorrer à razão. Nada pode mudar, só existe
o ser imutável, eterno e único, em oposição ao não ser. Temos de ignorar os sentidos e
examinar as coisas com a força do pensamento. O que está fora do ser não é o ser, é
nada, o ser é um.

- Heráclito (540 – 470 a.C) – as suas ideias são contrárias às de Parménides e é


considerado o mais importante dos pré-socráticos. É dele as frases: Tudo flui. O LOGOS
é o princípio cósmico. Não entramos no mesmo rio duas vezes. A verdade encontra-se
no DEVER e não no ser. A alma não tem limites, pois o seu logos é profundo e aumenta
gradativamente. O pensamento humano participa e é parte do pensamento universal.
Deus manifesta-se na natureza e está cheio de opostos. A terra cria tudo e tudo volta
para ela.

Estes e muitos outros filósofos, que não são chamados de pré-socráticos, contribuíram
para o encerrar de uma visão mítica e religiosa que se tinha até então da natureza e a
partir daí foi adotada uma forma científica e racional de pensar. Sócrates é
considerado um “divisor de águas” na Filosofia.

Sócrates (470 – 399 a.C), a sua biografia é contada por Platão em várias das suas obras,
pois Sócrates, conforme dizem era analfabeto.

Usando um método próprio, chamado de “maiêutica” (trazer à Luz – fazer parir), que
partia de perguntas feitas às pessoas, ele fazia com que elas “parissem as suas próprias
ideias” sobre as coisas.

Comparava a sua técnica filosófica, a qual acreditava que ajudava a existência humana
à aperfeiçoar seu espírito, com a atividade da sua mãe, que era parteira. Para Sócrates
as etapas do saber são quatro: Ignorar a sua própria ignorância; Conhecer a sua
ignorância; Ignorar o seu saber e conhecer o seu saber. Teve vários seguidores, causou
muita irritação por suas “ideias pervertidas” e por um júri de cinquenta pessoas, foi
condenado à morte por envenenamento bebendo a Cicuta.

Poderia ter fugido da prisão, ter pedido clemência ou ainda ter saído de Atenas, mas
simplesmente não quis, tornando-se assim o primeiro mártir da Filosofia. Após
Sócrates, temos alguns filósofos cujas ideias são de extrema importância para que a
Psicologia se destacasse.
Por exemplo, Platão, Aristóteles e outros filósofos gregos preocupavam-se com muitos
dos problemas que hoje cabe aos psicólogos tentarem explicar, como a: memória, a
aprendizagem, a percepção, a motivação, os sonhos e principalmente o
comportamento anormal.

- Aristóteles (384 – 322 a.C) – Foi criado com um grupo de médicos amigos de seu pai.
Aos dezoito anos foi para Atenas, entrou para a Academia, onde se tornou discípulo de
Platão. Defendeu alguns princípios platônicos nos seus escritos durante esse período
na Academia, mas a sua inteligência e disciplina extraordinária fez com que ele fosse
um dos primeiros e maiores críticos da teoria platônica das ideias, principalmente na
Metafísica.

Em 334 a.C regressou a Atenas, onde fundou sua própria escola, o Liceu. O seu estilo
sempre foi predominantemente científico, mas muitos dos seus livros perderam-se por
causa de constarem do Índice de Livros Proibidos da Igreja Católica. Pode-se dizer que
foi ele quem realizou um importante e decisivo trabalho de revisão e elaboração da
história dos pré-socráticos. Aristóteles argumenta que é a razão que controla os nossos
atos e nela há um raciocínio a partir dos dados dos sentidos; contudo, para ele a
relação sujeito-objeto era direta. O mundo é dividido entre orgânico e inorgânico,
sendo o orgânico que encerra em si a capacidade de transformação. Assim, ele
concorda com Platão que punha a essência do homem na alma. A função do homem é
a atividade da sua alma, que segue ou implica um princípio racional, daí sua famosa
afirmação “O homem é um ser racional”. Podemos dizer que a ciência ocidental
efetivamente começou com Aristóteles. Ele convenceu-se de que a infinita variedade
da vida podia ser disposta numa série contínua e que existe uma “escada” da natureza,
que evolui dos organismos mais simples para os mais elevados. Mesmo assim, a sua
Fisiologia (ciência dos fenômenos físicos) era precária, pois acreditava em coisas como,
por exemplo: que o cérebro é um órgão para resfriar o sangue; que o corpo do homem
é mais completo do que o da mulher; na reprodução a mulher é passiva e recebe,
enquanto o homem é ativo e semeia. Sendo assim, as características seriam
predominantemente do pai. Até o século XVII os filósofos estudavam a natureza
humana mediante a especulação, a intuição e a generalização, pois baseavam-se na
sua pouca experiência. Até este período, o homem olhava para o passado a fim de
obter as suas respostas. Somente aplicavam instrumentos e métodos científicos que já
se tinham mostrado eficazes nas ciências físicas e biológicas.

Contudo, ocorreu uma transformação substancial nos seus estudos, fazendo assim um
estudo essencialmente científico, apoiado em observações e experimentações
cuidadosamente controladas para estudar a mente humana, fazendo com que a
Psicologia alcançasse uma identidade que a distinguisse das suas raízes filosóficas.
Com os avanços da Física e das novas tecnologias, os métodos e as descobertas da
ciência cresciam vertiginosamente, fazendo surgir maravilhosas e extravagantes
formas de divertimento nos jardins reais da Europa. Através da água, que fluindo
através de tubulações subterrâneas, colocavam-se em funcionamento figuras
mecânicas que realizavam movimentos variados. Esses divertimentos aristocráticos
refletiam e reforçavam o espanto do homem diante do milagre das máquinas.
Desenvolveu-se e aperfeiçoou-se todos os tipos de máquinas para a ciência, indústria e
entretenimento, como relógios mecânicos bastante preciosos, bombas, alavancas,
roldanas, guindastes e outros, tudo isto criado para servir ao homem. Parecia não
haver limites de criação e usos para essas máquinas. A idéia básica originou-se da
Física (ou “filosofia natural” como era conhecida) das obras de Galileu, que implantou
a idéia de que o universo era formado de partículas de matéria (átomos) em
movimento, portanto, estaria sujeito a leis de medição, cálculo e passível de previsão.
A observação e a experimentação, seguidos pela medição eram marcas distintas da
ciência e começou a ficar evidente que todos os fenômenos poderiam ser descritos e
definidos por um número, ou seja, eram quantificáveis. Essa necessidade de medição
era vital para o estudo do universo como máquina e fez surgir diversos aparelhos de
medição como termômetros, réguas, barômetros, relógios de pêndulo e etc. A relação
deste fato, quase deu aproximadamente 200 anos antes do estabelecimento da
Psicologia como ciência é direta e conveniente, pois isso deu sentido à uma forma que
uma nova Psicologia, que estava a ser germinada, teria que adotar, pois se todo
universo era agora como uma máquina, ordenado, previsível, observável, mensurável,
por que é que o homem não pode ser visto sob a mesma luz?. Dito por outras palavras,
os mesmos eficazes métodos experimentais e quantitativos, utilizados para revelar os
segredos do universo físico, podiam ser aplicados na exploração e previsão dos
processos e condutas humanas.

Quando o empirismo se tornou dominante, surgiu uma nova desconfiança sobre todo
o conhecimento até então obtido, dos conceitos e da visão que se tinha das coisas, dos
dogmas filosóficos e teológicos do passado, aos quais a ciência estava presa. Vários
homens contribuíram na elaboração de questões, tão importantes para a mudança.
Dentre eles um destacou-se por contribuir diretamente para a história da Psicologia
Moderna, libertando-nos dos dogmas teológicos e tradicionais rígidos que dominaram
desde a época aristotélica.

Esse grande homem, que simboliza a transição da Renascença para o período moderno
da ciência e que representa os primórdios da Psicologia Moderna foi René Descartes.

A maior contribuição de Descartes para a história da psicologia Moderna foi a tentativa


de resolver o problema corpo-mente que era uma questão controversa e que
perdurava desde o tempo de Platão, sendo que a maioria dos pensadores deixaram de
adotar uma visão monista (mente e corpo são uma só entidade) e adotaram a sua
posição dualista: mente e corpo são de naturezas distintas. Contudo esta posição
cartesiana implicava uma outra questão: Qual é a relação entre mente e corpo? A
mente e o corpo influenciam-se mutuamente ou só a mente influenciava o corpo
conforme se pensava até então? Descartes “absorveu” a posição dualista, mas
defendia que a interação entre mente e corpo era muito maior do que se imaginava e
que não só a mente poderia influenciar o corpo, mas o corpo também influenciava a
mente. Descartes argumentou que a função da mente era somente a do pensamento e
que todos os outros processos eram realizados pelo corpo. Mente e corpo, apesar de
serem duas entidades distintas, são capazes de exercer influências mútuas e interagir
no organismo humano. Essa teoria foi chamada de interacionismo mente-corpo. Uma
vez que o corpo está separado da mente e é formado por matéria física, este deve
compartilhar então as suas características com todas as leis da Física que explicam a
ação e o movimento. Descartes concluiu que o corpo é como uma máquina, onde o
seu funcionamento pode ser explicado por essas leis mecânicas da física. Descartes foi
profundamente influenciado e influenciou bastante o espírito mecanicista do seu
tempo. Por outro lado, por não possuir quaisquer propriedades da matéria, a mente
tem como função o pensamento e a consciência; é ela que nos fortalece o
conhecimento do mundo externo. Essa “coisa pensante” é livre e imaterial. Ora, uma
vez que existe essa interação mútua entre corpo e mente, Descartes foi forçado a crer
que havia um ponto no corpo onde essa interação poderia acontecer e, como
percebeu que as sensações viajam até o cérebro por percursos bem definidos,
acreditou ser este o órgão responsável por esta interação. Mais precisamente a
glândula pineal, pois é esta a única estrutura não duplicada no cérebro. Considerou
então ser este o ponto onde acontecia a interação mente-corpo. A obra mais
importante de Descartes foi O Discurso do Método, que era dividido em seis partes.
Nessa obra, Descartes estabeleceu que somente através da razão, que mediava todas
as relações sujeito-objeto, é que se pode chegar à verdade sobre as coisas; o filósofo
francês fez também severas críticas ao sensualismo dizendo que os sentidos podem
enganar e, partindo as ideias de Galileu, disse que a chave para a compreensão do
universo estava na matemática.

Após Descartes, a ciência moderna e a psicologia desenvolveram-se rapidamente e,


em meados do século XIX, o pensamento europeu foi impregnado por um novo
espírito: o Positivismo. Esse conceito foi obra de Auguste Comte que para tornar os
seus conceitos o mais viáveis possíveis, se limitou nessa obra a apenas fatos cuja
verdade estavam acima de qualquer suspeita, ou seja, somente aos fatos que
poderiam ser comprovados cientificamente, observáveis e indiscutíveis. Este espírito
materialista gerou ideias de que a consciência poderia ser explicada através da Física e
da Química e os investigadores neste campo concentraram-se na estrutura anatômica
e fisiológica do cérebro.

Durante este período histórico, na Inglaterra, estavam em grande atividade um


terceiro grupo de filósofos, os empiristas. Investigavam como a mente adquire os
conhecimentos e diziam ser somente através das experiências sensoriais que isso
acontece. Positivismo, materialismo e empirismo converteram-se nos alicerces
filosóficos de uma nova psicologia, onde os fenômenos psicológicos eram constituídos
de provas factuais, observacionais e quantitativas, sempre baseados na experiência
sensorial. O método dos empiristas apoiava-se completamente na observação objetiva
e na experimentação, e diz que a mente se desenvolve através da acumulação
progressiva das experiências sensoriais. Desta forma, é nítido que estas ideias iam de
encontro às teorias de Descartes, que dizia que algumas ideias eram inatas. Dentre os
empiristas britânicos, as suas principais contribuições para a Psicologia é nos dada por
John Locke (1632-1704) – Ensaio Acerca do Entendimento Humano – 1690, que
começou por negar a existência de ideias inatas e que através da experiência o homem
adquire conhecimentos, e que esse processo era composto de duas fases: as sensações
e as reflexões e através das reflexões os indivíduos recordam e combinam as
impressões sensoriais para formar abstrações e outras ideias de nível superior. A
origem geral das ideias são sempre as experiências ou as impressões sensoriais, mas a
formação das ideias de nível superior proporcionou a noção da associação de ideias,
assim como a decomposição de processos mentais em ideias simples e as combinações
dessas ideias passaram a ser o núcleo da investigação central da Nova Psicologia
Científica. Uma outra doutrina importante de Locke foi a noção de qualidades
primárias (inerente aos objetos e independentes dos nossos sentidos) e as qualidades
secundárias (dependentes da pessoa que percebe). As qualidades secundárias só
existem no ato da percepção e são de natureza subjetiva. Ora, isto vem numa tentativa
de explicar o fato de nem sempre existir uma correspondência exata entre o mundo
físico e a forma como este é percebido pelo sujeito. Isto fez com que alguém
perguntasse se esta diferença de qualidades realmente existia ou se, todas as
qualidades de alguma coisa não dependem somente da percepção e da subjetividade
do observador. Quem levantou esta questão foi George Berkeley (1685-1753) – Um
Ensaio Para Uma Nova Teoria da Visão (1709) e o Tratado Sobre os Princípios do
Conhecimento Humano (1710).

A sua contribuição para a psicologia ficou nestes dois livros e no fato de ter
concordado com Locke acerca de que todo conhecimento provinha da experiência,
mas discordou quanto às qualidades primárias, dizendo só existirem as secundárias,
pois todo conhecimento é ‘produto’ da pessoa que percebe ou experimenta.

Alguns anos depois, esta oposição à idéia de Locke foi chamada de Mentalismo, pois
data total ênfase aos fenômenos mentais.

Tudo que podemos crer é naquilo que percebemos, pois a percepção está dentro de
nós e portanto, é individualmente subjetiva, assim como se eliminarmos a percepção a
qualidade desaparece, não existindo assim substância material de que possamos estar
certos. Outros três filósofos historiadores que contribuíram para a história da
Psicologia foram David Hume (1711-1776), com a obra Tratado Sobre a Natureza
Humana (1739), David Hartley (1705-1757) com sua obra: Observações Sobre o
Homem, Sua Constituição, Seu Dever e Suas Expectativas (1749) e James Mill (1773-
1836) com sua obra: Análise dos Fenômenos da Mente Humana (1829).
HISTÓRIA DA PSICOLOGIA – INFLUÊNCIAS FISIOLÓGICAS

As influências da fisiologia na Psicologia ocorrem devido às diferenças individuais,


dadas pelos fatores pessoais, que foram recebidas e sobre as quais não se tem
controle. Trata-se da subjetividade influenciando na percepção dos fenômenos
mentais. Os cientistas, no final do século XIX, passaram então à investigação e estudo
dos órgãos dos sentidos, através dos quais, recebemos as informações acerca do
mundo externo e temos as sensações e percepções.

Vários foram os cientistas que recorreram ao método experimental para estudo da


psicologia e realizaram estudos sobre o comportamento, os movimentos voluntários,
involuntários e os movimentos reflexos. Dentre eles, na Alemanha tivemos quatro que
são responsáveis diretos pelas primeiras aplicações desse método: Hermann Von
Helmholtz, Ernest Weber, Gustav T. Fechner e Wilhelm Wundt.

Todos eles estavam integrados com o desenvolvimento da fisiologia e da ciência que


ocorreu na metade do século XIX. Os seus trabalhos foram decisivos para a fundação
da Nova Psicologia. Helmholtz, através de pesquisas com rãs, realizou importantes
experiências sobre a velocidade dos impulsos nervosos e o tempo que os músculos
levam para responder. Realizando assim a primeira medição desse tempo, que antes
se pensava que seria rápido demais para que pudesse ser medido. Realizou pesquisas
também sobre a visão e a audição.

Weber foi um pouco mais além de Helmholtz, realizou pesquisas no campo das
sensações cutâneas e musculares, mas a sua principal contribuição para a Psicologia foi
o seu trabalho designado de “Limiar de Dois Pontos”, que consistiu em determinar a
distância em que dois pontos de estimulação na pele pudessem ser discriminados
como somente um ponto ou dois distintos de estimulação. Weber também realizou
outras pesquisas importantes no que respeita à percepção, e mostrou que há relação
direta entre um estímulo físico e a nossa percepção deste. Fechner era mais ligado a
interesses intelectuais e em 1833, após muitos anos de trabalhos árduos, entrou em
profunda depressão que durou vários anos, perdendo o seu interesse pela vida. Após
uma breve melhora, Fechner percebeu que a quantidade de sensação (mental)
depende da quantidade de estímulo (físico ou material), logo que seria possível
relacionar quantitativamente os mundos mental e material.

Seria necessário, entretanto, que fossem medidos de forma precisa o estímulo físico e
sensação mental. Medir os estímulos físicos era relativamente fácil, mas como medir
se o estímulo estava ou não a ser sentido era uma tarefa que somente o sujeito pode
determinar, através do relato da sensação. Isso foi chamado de Limiar Absoluto de
Sensibilidade. Fechner propôs também o Limiar Diferencial, onde a menor quantidade
de mudança de estímulo produz ainda uma mudança de sensação. O resultado das
pesquisas de Fechner foi chamado de Psicofísica, que significa um relacionamento
entre os mundos mental e material. Através de seus métodos foi possível quebrar uma
barreira imposta no início do século XIX, quando Immanuel Kant insistia que a
Psicologia jamais poderia tornar-se uma ciência, pois seria impossível realizar
experiências com processos psicológicos, que até então eram impossíveis de serem
medidos. Com algumas modificações, os métodos de Fechner na pesquisa dos
problemas psicológicos são utilizadas até hoje, sendo que já na época foram ele que
nortearam todo o trabalho de psicologia experimental de Wilhelm Wund.

Este último deu à psicologia técnicas de medidas precisas e elegantes, fazendo dela
uma ciência. Wundt estabeleceu o seu primeiro laboratório na Universidade de
Leipzig, na Alemanha. Utilizou técnicas usadas pelos fisiologistas e os métodos
experimentais das ciências naturais. Apesar de utilizar o método reducionista,
concordava serem os elementos da consciência entidades estáticas, mas que estes
participavam ativamente no processo de organização do que aos elementos em si. O
método de estudo de Wundt era o da introspecção analítica, cujo conceito ele adaptou
de Sócrates, inovando apenas no uso de um controle experimental preciso no método.
Considerava as sensações e os sentimentos formas elementares da experiência, apesar
de considerar a mente e o corpo sistemas paralelos mas não inter-atuantes, e como a
mente não dependia do corpo, era possível estudá-la eficazmente em si mesma. Nos
primeiros anos do Laboratório de Leipzig, Wundt teve que desvincular o seu trabalho
de um passado não científico, cortando vínculos com a velha filosofia mental; deixou
para esta última, discussões sobre a natureza da alma imortal e o seu relacionamento
com o corpo mortal, o que contribuiu ainda mais para seu trabalho científico e foi
considerado um grande salto. Isto gerou algumas controvérsias, mas outros estudiosos
participaram e se mantiveram unidos em termos de tema e propósito para a psicologia
ser científica e não o “estudo da alma”. Em 1892 uma versão da psicologia de Wundt
foi levada aos Estados Unidos pelo seu aluno E. B. Titchener, que a alterou
consideravelmente, propondo uma nova abordagem que denominou estruturalismo.

Apesar de ser a introspecção o método de estudo, Titchener criticou publicamente a


abordagem wundtiana. Na sua abordagem própria, os observadores (que eram os
próprios psicólogos), eram treinados e tinham que aprender a perceber para que
pudessem descrever o seu estado consciente e não o estímulo em si. Muitas pesquisas
foram realizadas sobre as várias qualidades das sensações básicas que foram
“descobertas”, apesar disso o estruturalismo apresentava algumas limitações óbvias,
mostrando que o método de estudo, a introspecção formal, falhava por ser obscuro e
pouco confiável, portanto fora do alcance do objetivo científico. Outro movimento que
veio remediar estas falhas foi o funcionalismo.
William James (1842-1910), um dos mais influentes psicólogos americanos, professor
de Filosofia em Harvard, não se identificou com nenhum movimento e via o
estruturalismo como sendo limitado, artificial e extremamente inexato.

Além disso, argumentou James “a consciência é subjetiva, está em constante


movimento de evolução, é seletiva na escolha dos inúmeros estímulos que a
bombardeiam e tem como papel principal a adaptação dos indivíduos aos seus
ambientes”. Vários psicólogos foram influenciados pela visão de James e como os
processos mentais funcionavam para ajudar na adaptação dos homens em um mundo
hostil. Apesar de se oporem fortemente ao estruturalismo, discordaram entre si em
alguns aspectos. Isso fez com que o funcionalismo não pudesse mais se auto sustentar-
se e, em 1912 surgiu um novo movimento norte-americano, o Behaviorismo. Liderado
por John Watson (1878-1958), o Behaviorismo tinha a proposta de fazer da Psicologia
uma ciência respeitável como as ciências naturais, algo só possível se os psicólogos
utilizassem como objeto de estudo o comportamento observável, isto é, que pode ser
mensurado, e métodos objetivos, pois os processos mentais pouco importavam por
não serem passíveis de mensuração até então.

A maior crítica do behaviorismo ao estruturalismo foi exatamente o objeto de estudo:


a mente. Essa nova proposta atraiu vários jovens seguidores psicólogos americanos
que se sentiram atraídos pela proposta objetiva, e o estilo fulgurante do Behaviorismo,
que marcou bastante a psicologia norte-americana. A filosofia principal do
Behaviorismo começou por estudar os comportamentos controlados em laboratórios
dos animais (os quais podiam ser comparados aos dos humanos), de acordo com
estímulos que lhes eram apresentados. Com o passar do tempo essa filosofia foi
ampliada pelas ideias de B. F. Skinner (1904-1990), uma das mais importantes figuras
do comportamentarismo. Enquanto isso, na Alemanha crescia a Psicologia da Gestalt
(que significa forma, estrutura). Tanto o Behaviorismo norte-americano, como a
Psicologia Gestalt alemã, surgiram, em parte, como protesto, baseado nas críticas ao
estruturalismo, mas a Psicologia da Gestalt, no lugar de criticar o objeto de estudo,
que no caso era a mente, vem criticar o método utilizado até então, que era o da
introspecção. Para além disto, critica também o reducionismo praticado pelos
behavioristas.

Em 1912, Max Wertheimer (1880-1943), considerado o fundador da Psicologia da


Gestalt, publicou um relatório sobre os seus estudos acerca do fenômeno que chamou
de Movimento Aparente, ou seja, a impressão de movimento quando na verdade ele
não ocorre. O cinema e as imagens de telas de TV são ótimos exemplos deste
fenômeno, onde uma sequência de imagens consecutivas nos é apresentada e esaa
consecução nos dá a nítida idéia de movimento. Com isso, pela primeira vez, foi
demonstrado que “O todo é mais que a soma das partes”, pois se uma imagem apenas
nos for apresentada (reducionismo), a idéia principal que é o movimento
simplesmente deixa de existir. É o mesmo que acontece com uma sinfonia, onde se
somente uma nota for apresentada, perde-se a idéia da harmonia musical que esta
proporcionada ao conjunto. Paralelamente, mas alheio às influências da psicologia
acadêmica, na Europa surgia um movimento chamado de Teoria Psicanalítica, onde
Sigmund Freud (1856-1939) foi seu precursor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alberto Cotrim, Fundamentos da Filosofia, SP, Editora Savariva, 1993.


Chaui Marilena, Convite à Filosofia, SP, Editora Ética, 1994.
Duane P. Schultz & Sydney E. Shultz, História da Psicologia Moderna, Cutrix, 10º.
Edição, sd..
Linda L. Davidoff, Introdução à Psicologia, SP, McGraw-Hill do Brasil, 1983.
Rezende, António, Cursos de Filosofia, RJ, Jorge Zahar Editora, 1996.

Você também pode gostar