Resolução de Caso - Análise Atuarial de Riscos

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CENTRO UNIVERSITÁRIO IBMR

Especialização em Direito Empresarial


Disciplina: Análise Atuarial de Riscos
Aluna: Denize Cristina Alves da Penha
Matrícula: 2022301788

Resolução de Caso (N1) – Desafios dos Fundos de Previdência Privada

No Brasil, além de existir um programa de Previdência Social, gerido pelo Governo, para
conferir aos trabalhadores o recebimento de renda após alcançada a idade mínima, estabelecida
por Lei, para aposentadoria há, ainda, a possibilidade de participar de um Plano de Previdência
Complementar, de natureza privada, para que os indivíduos possam dispor de uma renda
adicional quando aposentados.

O sistema de Previdência Complementar Privada faz uso da contribuição dos


participantes, constituindo um fundo onde será alocada essa contribuição. Esses fundos são
geridos por entidades de previdência complementar com o objetivo de obter rendimentos
satisfatórios para propiciar benefícios aos participantes (DE CONTI, 2016).

Como explica GONZAGA, 2012, p.6:

§ 3º Os regimes de previdência complementar privados têm como objetivo essencial


garantir aos assegurados uma opção de regime de aposentadoria com valores
superiores aos tetos dos benefícios pagos pelo governo ou àqueles trabalhadores que
estão excluídos do mercado formal de trabalho (que não possui contribuição ao
INSS), mas que querem adquirir um fundo de previdência.

A previdência complementar tem cinco subdivisões conceituais: temos as entidades


fechadas (EFPCs) e as entidades abertas (EAPCs); bem como os planos de benefício definido
(BD), de contribuição definida (CD) e de contribuição variável (CV).

Os fundos podem ser fechados ou abertos. A principal diferença entre eles é quanto à
adesão dos participantes e, por conseguinte, ao universo dos participantes que alcança. Os fundos
fechados, conhecidos como de fundos de pensão, são exclusivos para os funcionários de certas
empresas, servidores dos entes federados e associações profissionais, classistas ou setoriais.
Esses fundos são administrados por instituições sem fins lucrativos, que mantêm planos de
previdência coletivos (GONZAGA, 2012).
Enquanto os fundos fechados, como sugere o nome, são voltados a grupos específicos, os
fundos abertos são disponíveis a qualquer pessoa física (ainda que não tenha um vínculo
empregatício) ou jurídica que deseje conceder previdência complementar a seus funcionários e
tornar-se participante do fundo. Tais fundos são administrados por bancos ou instituições
financeiras e, atualmente, são ofertados em duas modalidades: PGBL (Plano Gerador de
Benefício Livre) e VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), sendo a incidência de Imposto de
Renda (IR) a principal diferença entre elas.

Nos planos de previdência de benefício definido (BD), o participante adquire o plano já


sabendo a renda exata que receberá no momento de sua aposentadoria, logo, as contribuições são
calculadas tomando por base esse rendimento futuro. Este é o benefício mais seguro para o
participante, pois há uma garantia quanto ao benefício que ele receberá (GONZAGA, 2012).

Por outro lado, nos planos de contribuição definida (CD) as contribuições feitas pelos
beneficiários durante o período laboral têm valor definido, mas a remuneração a ser recebida no
futuro vai variar de acordo com a rentabilidade gerada pela aplicação dos valores da
contribuição. Portanto, esse plano é o que melhor contempla os interesses da instituição
financeira gestora, porque não há fixação de valores exatos a serem pagos, de forma que não há
compromisso quanto ao rendimento futuro.

Considerando o funcionamento do plano de previdência complementar, é necessário levar


em conta fatores como flutuações de mercado, índices demográficos e riscos de liquidez, uma
vez que estão diretamente ligados à eficácia no cumprimento dos objetivos junto aos
beneficiários participantes do fundo (DUARTE JUNIOR, 2005).

No caso em análise, temos um fundo de investimento aberto, cujo plano é de benefício


definido. Portanto, o aumento da expectativa de vida é o primeiro fator de risco a ser
considerado, pois, uma vez que a população tem sido cada vez mais longeva, cresce a
probabilidade de pagar o benefício aos participantes por mais tempo do que o previsto
inicialmente, podendo afetar a liquidez do fundo, caso os valores a serem pagos aos beneficiários
sejam maiores do que as contribuições que entram no fundo.

O risco de liquidez consiste justamente nesse descompasso entre as entradas e saídas do


fundo. Nesse contexto, quando a liquidez funciona adequadamente, há um casamento entre os
ativos e passivos ao longo do tempo, permitindo que o fundo honre completamente os
compromissos assumidos perante seus participantes, disponibilizando os recursos nas datas de
pagamento das obrigações, independentemente de quais sejam essas datas (PREVIC, 2019).

Em outro plano, as variações do mercado são, também, um ponto crucial para a gestão de
planos de previdência complementar, visto que a redução da taxa de juros projeta uma incerteza
quanto aos rendimentos de investimentos, sobretudo os de renda fixa.

Deste modo, além da redução da taxa de juros, projeções de aumento da inflação, isto é,
redução do poder de compra da população, impacta nos planos de benefício definido, dado que o
valor dele deriva dos salários dos participantes enquanto ativos e, portanto, o valor da
contribuição será ajustado também de acordo com a inflação.

Considerando os riscos de ordem demográfica, mercadológica e de liquidez do fundo,


será necessário que o gestor do Fundo de Previdência Hórus Fim adote algumas medidas com
vistas a evitar o colapso do fundo, para que não incorra em iliquidez e no consequente
descumprimento das obrigações firmadas com os beneficiários.

A primeira medida a ser adotada pelo gestor deveria ser o aumento da expectativa de vida
dos participantes. Atualmente, a expectativa considerada pelo fundo em questão é de apenas 50
anos de idade, o que está muito distante da realidade brasileira que, no momento, tem como
expectativa de vida 75,5 anos. Se o fundo permanecer com os cálculos e projeções baseados
nessa expectativa de 50 anos, na prática, terá que pagar o benefício aos participantes por muito
mais tempo do que o antevisto. Logo, o ideal seria adequar a expectativa de vida à realidade
brasileira, fixando a expectativa de vida em 75 anos.

Outra atitude que poderia ser implementada pelo gestor seria a substituição do plano de
contribuição definida (CD) para um plano de contribuição variável (CV), que é estabelecido de
acordo com os rendimentos da contribuição dos participantes, de modo que o fundo não se
comprometesse a entregar valores preestabelecidos aos beneficiários, havendo margem para não
incorrer em débito caso as variações de mercado sejam desfavoráveis no futuro, devendo,
portanto, tornar as metas de rentabilidade do plano mais duras e mais ousadas, a fim de garantir a
maior rentabilidade alcançável.
Cabe, ainda, ao gestor do plano aplicar os recursos do fundo no mercado financeiro,
podendo ser alocados em diversos seguimentos, como rendas fixa e variável, podendo investir
em opções mais ousadas como Ações, cambio, fundos imobiliários, de renda variável ou que
unem elementos da renda fixa e da variável (BCB, 2015).

Considerando que esses produtos financeiros, arrojados e moderados, são mais rentáveis
do que ativos de Renda Fixa - porque não ficam limitados à alta da taxa de juros - podem ser
adotados como uma possibilidade de aumentar a rentabilidade do fundo. Contudo, considerando
o perfil conservador do gestor, para conferir maior conforto e menos receio de riscos, o ideal
seria diversificar a carteira de investimentos, optando por aplicar parte em renda fixa e parte em
renda variável, pois, assim, caso a taxa de juros diminua significativamente, será possível obter
proveito dos produtos de renda variável, mas mantendo a possibilidade de auferir renda oriunda
de investimentos mais seguros de renda fixa.

Cumpre destacar que, ao realizar tais alterações no plano, um risco inerente seria o de
possíveis desligamentos e queda na adesão ao fundo, afinal, planos de benefício definido e de
renda vitalícia possuem maior grau de atratividade de investidores, que querem ter a garantia de
recebimento dos valores na maior brevidade possível e considerando o maior período possível de
recebimento do benefício, isto é, até o fim de suas vidas.

Entretanto, no atual cenário, em que temos aumento da expectativa de vida e flutuações


de mercado, os interesses dos investidores de fundos de previdência estão em direta oposição em
relação aos interesses das instituições financeiras. Desta feita, é necessário que o gestor do plano
faça uma avaliação dos riscos que se apresentam e trace o melhor plano para garantir a
manutenção do fundo, mas sem comprometer a liquidez e nem a confiança de seus beneficiários
participantes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BCB — BANCO CENTRAL DO BRASIL. Resolução nº 4.444, de 13 de novembro de


2015. Dispõe sobre as normas que disciplinam a aplicação dos recursos das reservas
técnicas, das provisões e dos fundos das sociedades seguradoras, das sociedades de
capitalização, das entidades abertas de previdência complementar e dos resseguradores
locais, sobre as aplicações dos recursos exigidos no País para a garantia das obrigações de
ressegurador admitido e sobre a carteira dos Fundos de Aposentadoria Programada
Individual (Fapi). Brasília, DF, 2015. Disponível
em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-n-4-444-de-13-de-novembro-de-2015-
33341586. Acesso em: 18 mai. 2024.
DE CONTI, B. Os fundos brasileiros de previdência complementar: segmentações
analíticas e estudos preliminares sobre a alocação de seus recursos. Brasília, DF:
Ipea, 2016. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?
option=com_content&view=article&id=27216:td-2175-os-fundos-brasileiros-de-
previdencia-complementarsegmentacoes-analiticas-e-estudos-preliminares-sobre-a-
alocacao-de-seus-recursos&catid=390:2016&directory=1. Acesso em: 18 mai. 2024;
DUARTE JUNIOR, A. M. Gestão de riscos para fundos de investimentos. São Paulo:
Prentice Hall, 2005.

GONZAGA, R. D. Um estudo de caso para previdência privada complementar. Revista


de Finanças Aplicadas, v. 1, p. 1-20, 2012. Disponível
em: http://www.financasaplicadas.net/index.php/financasaplicadas/article/view/124.
Acesso em: 18 mai. 2024.
PREVIC — SUPERINTENDÊNCIA NACIONAL DE PREVIDÊNCIA
COMPLEMENTAR (Brasil). Melhores práticas atuariais para entidades fechadas de
previdência complementar. Brasília, DF: Previc, 2019.

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