P2 - Aulas 6-7
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Beatriz Cunha
10/05/2024
Então, primeiro eu queria saber, nessa aula a gente iria começar a falar sobre os
poderes, né? E aí, que faz parte de constitucional IV, então, é, falar, fazer uma revisão
de separação de poderes, entre as legislativas e as legítimas judiciais. E aí eu já sei
que vocês já deram um pouco de legislativo com a Ju, não foi isso? Tá, e aí eu, pelo
que ela me falou, ficou faltando processo legislativo e tribunais de contas. É, pelo que
ela me falou, se vocês achassem que faltou mais alguma coisa vocês me falem.
E aí, só que, como já tem um tempo, né, eu vou fazer uma breve revisão pra situar
vocês, assim como eu fiz com liberdade de expressão. Mas aí antes eu queria saber
de vocês, se vocês ficaram com alguma dúvida em relação aos direitos sociais, em
relação principalmente ao direito à educação, porque eu acabei falando muito rápido
na última aula. É, vocês querem que eu fale mais sobre isso ou vocês acham que já,
já conseguiram entender?
Bom, então eu vou entrar aqui direto na separação dos poderes, tá?
Então, vocês já sabem que o princípio da separação dos poderes está previsto lá no
artigo 2º da Constituição em que ele basicamente divide as funções de Estado em três
grandes funções. A primeira seria a função legislativa, a segunda a função executiva,
né, do poder executivo e a terceira a função do poder judiciário.
No passado, se afirma, né, que a teoria da separação dos poderes, ela começou lá
com o filósofo que foi Montesquieu, que foi quem dividiu as funções do Estado nessas
três grandes funções. Então a ideia do Montesquieu e desse início, desse primórdio
do princípio da separação dos poderes era justamente evitar uma concentração
excessiva de poderes em um único órgão.
Então a ideia foi romper com aquele modelo de organização do Estado que vigorava
na época do absolutismo em que todos os poderes do Estado se concentravam nas
mãos do soberano, né, que era o rei. E a ideia do princípio da separação dos poderes
foi dissipar esses poderes entre três poderes, foi dissipar essas funções entre três
poderes que são equivalentes em termos de estatura constitucional e que devem
conviver harmonicamente, que são justamente esses poderes, o poder executivo,
legislativo e judiciário.
Só que no passado essa teoria do princípio da separação dos poderes era uma teoria
que focava nessa ideia de reduzir a concentração dos poderes e partia de uma
concepção de que esses poderes deveriam ser equidistantes em princípio.
Então de que haveria três poderes equidistantes com funções diferentes que não
poderiam um exercer funções atribuídas aos outros.
Então é a ideia de que, apesar das três principais funções do Estado serem
diferentes entre si e serem exercidas por poderes diferentes, esses poderes
devem ser harmônicos e eles devem se controlar reciprocamente.
Então a ideia aqui também desse princípio, dessa ideia de freios e contrapesos,
é evitar que haja uma concentração excessiva dentro desses próprios poderes.
Então evitar que não seja possível controlar algum desses poderes. Então é
um pouco da lógica do princípio republicano, que a gente já viu que parte da
ideia de que o poder, quanto ele é exercido por agentes públicos, ele deve ser
passível de controle. Se deve evitar que haja o exercício de poderes ilimitados.
Cada um dos órgãos tem autonomia para propor normas sobre o seu próprio
orçamento, mas esse orçamento vai para o Poder Legislativo, que é quem vai
definitivamente fixar as regras sobre aquele orçamento.
Então, a nossa Constituição trouxe esses vários mecanismos dos check and balances.
Além disso, é importante dizer, e eu acho que é um tema que eu não falei com vocês
no último período, e não sei se a Juliana falou também, mas é um tópico recente que
eu acho importante falar, que, recentemente, o Supremo declarou a inexistência
de um poder moderador aqui no Brasil.
Esse poder moderador era exercido pelo Imperador, aqui no Brasil, e era um poder
que tinha por atribuição manter a harmonia entre os outros três poderes. Então, a
ideia desse poder moderador era assegurar a harmonia entre os três poderes de
Estado, fazendo com que eles desempenhassem ali bem as suas funções, e se
garantisse, enfim, liberdade de exercer essas funções e tudo.
Essa ideia do poder moderador, que havia sido adotada pela Constituição de 1824,
ela teve por inspiração a teoria de Benjamin Constant. Então, embora essa teoria
de Benjamin Constant tenha sido utilizada como inspiração pela nossa
Constituição, na prática, ela foi, de certa forma, desvirtuada, porque, aqui no Brasil,
quem exercia o poder moderador era o Imperador, que era, de sua vez, quem
comandava também o poder executivo.
Por quê? Porque o chefe do poder executivo, que era o Imperador, ele poderia,
ele exercia também esse poder moderador sobre outros poderes, sobre o
legislativo inicial.
Então, aqui no Brasil, embora a teoria do Benjamin Constant tivesse uma boa
intenção, aqui no Brasil ela foi desvirtuada na medida em que quem exercia o
poder moderador era a mesma pessoa que exercia o poder executivo. Então, no
final das contas, era uma forma de você concentrar mais poderes do chefe do
poder executivo.
Recentemente, a gente sabe que essa ideia do poder moderador, ela foi
retomada durante o governo Jair Bolsonaro, em razão de algumas falas que
começaram a ser ditas sobre o fato de que as forças armadas exerciam essa
espécie de poder moderador aqui no Brasil.
Então, durante a nossa crise da democracia, durante o governo de Jair
Bolsonaro, se pretendeu atribuir essa espécie de poder moderador às forças
armadas, no sentido de que caberia a elas exercerem essa harmonia entre os
três poderes.
Ou seja, as forças armadas seriam responsáveis por manter, digamos assim, a ordem
entre os três poderes constitucionais aqui do Brasil. Então, essa informação começou
a circular no debate público, com a intenção de atribuir o maior poder às forças
armadas.
E aí, o que o Supremo decidiu nesses dois casos? O Supremo disse que não
existe poder moderador aqui no Brasil, que, na verdade, essa é uma
interpretação, digamos assim, retrospectiva, que não procede porque a
Constituição atual não prevê esse poder moderador. A Constituição que previa
era a Constituição de 1824.
Disse que a nossa Constituição só prevê a existência de três poderes entre si,
três poderes, que é o Executivo Legislativo e o Judiciário.
O Supremo disse também que não cabe a gente interpretar o Artigo 142 tal
como se esse artigo autorizasse a intervenção das Forças Armadas nesses
outros poderes. Porque o Artigo 142, ele fala o seguinte... Alguém pode ler para
mim o Artigo 142, por favor, da Constituição?
Art. 142 CF/1988 “As Forças Armadas constituídas pela Marinha, pelo Exército
e pela Aeronáutica são instituições nacionais permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina sob a autoridade suprema
do Presidente da República e destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos
poderes constitucionais e por iniciativa de qualquer destas, da lei e da ordem.”
E o Supremo disse que não, disse que o Artigo 2º prevê somente a existência
desses três poderes, que esse dispositivo, embora seja um dispositivo que
traga ali um certo componente de freios e contrapesos, ele tem por objetivo que
as Forças Armadas assegurem a defesa do desempenho das suas funções
pelos poderes, ele não significa que essas Forças Armadas podem intervir
nesses poderes, a ponto de violar e de impossibilitar o exercício dessas
funções.
Então, por exemplo, as Forças Armadas não podem, pela Constituição, querer
tomar o Supremo, querer tomar o Congresso, querer tomar os demais poderes
de Estado sob a justificativa de que estão defendendo a pátria.
Então, essa era uma teoria, esse era um discurso que se teve lá na época do
governo Bolsonaro com a intenção de legitimar um eventual golpe de Estado,
por exemplo, de dizer que o Supremo estava exercendo ali, recebendo ali
essas funções e que por isso era possível se tomar ali o Supremo com o
objetivo de defender a pátria.
E aí o Supremo disse que não, que na verdade, embora exista sim essa função de
garantir a harmonia entre os poderes, essa norma deve ser interpretada no sentido
de que somente, de que não pode haver usurpação ao exercício desses poderes.
Então, dito isso, agora eu vou fazer uma breve revisão para vocês de poder
legislativo, para a gente lembrar um pouco do que vocês estudaram lá com a Ju,
e aí depois entrar com mais detalhes no processo legislativo mesmo que foi o que
vocês não deram.
Poder Legislativo
O poder legislativo, ele tem duas funções típicas principais, duas funções
típicas:
Função legiferante - A primeira é a função legiferante, que é a função de editar
leis e outros atos normativos. Então, é o poder de editar normas que inovam
na ordem jurídica, que criam direitos e obrigações. Então, essa é uma função
por excelência do poder legislativo.
Poder de fiscalização - E o poder legislativo também tem uma outra função que
também é uma função típica. Atualmente se reconhece que essa também é
uma função típica do poder legislativo, que é o poder de exercer fiscalização.
Então, o poder legislativo, ele tem como atribuição, como função típica, o fato
de exercer fiscalização sobre a administração pública, de fiscalizar outros
poderes.
Como que isso se manifesta? Por exemplo, mediante essa possibilidade
do poder legislativo julgar as contas do Presidente da República.
Outra possibilidade, o fato do poder legislativo poder julgar um processo
de impeachment, poder determinar o impeachment de um Presidente da
República.
O fato do poder legislativo ter um órgão que é vinculado a ele, que tem
por objetivo fiscalizar as contas públicas, que é o Tribunal de Contas.
Apesar do Tribunal de Contas ser um órgão autônomo pela Constituição,
é um órgão que está vinculado ali ao Poder Judiciário. É um órgão que
tem por objetivo permitir que o Poder Judiciário exerça essa função
fiscalizadora.
Então, é uma função atípica porque, em regra, quem exerce a função judicial é o Poder
Judiciário, como vocês sabem, mas, de forma excepcional, o Poder Legislativo
também faz julgamentos.
Essas são funções que são, de certa forma, executivas, são funções
administrativas que, normalmente, são atribuídas ao Poder Executivo. Então,
normalmente, quando a gente vai estudar, a gente estuda a administração
pública fazendo licitação, a administração pública fazendo contrato.
Então, quando o Poder Legislativo exerce essas funções administrativas para
permitir o exercício da sua função, são atividades meios, não são atividades
fins, ele acaba desempenhando algumas funções que são, em princípio,
próprias do Poder Executivo, mas que, diante da autonomia administrativa que
é atribuída àquele Poder, têm que ser exercidas por ele.
A gente estudou, para quem não ouviu, a gente estudou que o Controle de
Constitucionalidade, ele também pode, excepcionalmente, ser exercido pelo
Poder Legislativo.
Então, aqui no Brasil, a gente tem duas hipóteses principais que a gente viu em que
isso é exercido:
I. Na primeira, a gente pode dizer que seria uma função típica do Poder
Executivo, do Poder Legislativo. Por quê? Porque está no âmbito da tramitação
daquele processo legislativo.
Então, aquele projeto de lei ainda está sendo analisado pelo Congresso
Nacional e o Congresso Nacional vai emitir uma avaliação de direitos sobre a
constitucionalidade no âmbito daquele projeto de lei. Como ainda está no
âmbito daquele processo legislativo, essa seria uma função típica.
II. Por outro lado, quando a gente fala do Senado poder sustar atos normativos
que foram declarados inconstitucionais pelo Supremo, com efeitos interpartes
e a finalidade do Congresso, é dar efeitos vinculantes àquele ato normativo, a
gente já não está mais no âmbito do processo legislativo.
Por quê? Porque, na verdade, aquele ato normativo já foi publicado, ele já está
em vigor, o Supremo já analisou sua constitucionalidade depois que ele entrou
em vigor. Então, aquele processo legislativo, na verdade, já acabou.
Ainda assim, eu diria que é uma função típica. Por quê? Porque, de certa forma,
o Congresso faz aquilo por meio da expedição de decreto legislativo, que vai
sustar aquele ato. E é uma função típica do Poder Legislativo expedir decretos.
Então, eu diria que é uma função típica também.
Por que é diferente, ele está exercendo ali uma função que já é atribuída a ele, que
é a expedição de atos normativos. A diferença é que esse ato vai estar
suspendendo a eficácia de um outro ato que foi evitado por ele próprio.
Então, no meu modo de ver, seria uma função típica, porque isso se dá por meio
de um instrumento que já é habitualmente expedido pelo Congresso, que são os
decretos legislativos. E a gente vai ver isso no processo legislativo. Entendeu?
E as CPIs?
As CPIs são funções típicas. Por quê? Porque eles estão no exercício da função
de fiscalização. Então, no passado, a gente viu as CPIs, para quem não se lembra,
são as Comissões Parlamentares de Inquérito, que são comissões que a gente
vai... Eu vou revisar com vocês daqui a pouco, mas são comissões que se
destinam a exercer essa função típica de fiscalização.
Até quando o Dino ainda era ministro, até veio uma notícia de que eles
queriam convocar o Dino, mas que eles não iam convocar para prestar
informações porque o Dino era tão bom de lábia que ia acabar gerando os
holofotes para ele, não para os próprios parlamentares.
Mas essa é uma função típica também, porque quando eles chamam para
prestar depoimento, eles estão no exercício da fiscalização da administração
pública.
O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que tem duas casas, a
primeira é a Câmara dos Deputados e a segunda é o Senado Federal.
Então, quantos deputados tem cada um dos Estados ou Distrito Federal? Isso
depende do número da sua população. Então, o número de deputados que existe
por Estado e pelo Distrito Federal é proporcional, ele varia a depender do número
de população, do número de habitantes que aquele Estado ou Distrito Federal tem.
Então, existem Estados que têm 70 deputados e existem Estados que têm 8
deputados. Isso varia, né?
E dentro desse intervalo também existem Estados que têm um número dentro
desse intervalo. Então, por exemplo, o Estado de São Paulo tem 70 deputados, o
Estado de Roraima tem 8 deputados. Por quê? Porque o Estado de São Paulo é
maior, então, proporcionalmente, ele tem mais deputados. O Estado de Roraima é
menor, Amapá, são Estados menores e, por consequência, eles têm menos
deputados.
Atualmente, existe até uma crítica. Por quê? Porque o número de deputados
por Estado, o número máximo e o número mínimo, está fixado na própria
Constituição.
Está lá nesse artigo 45. Então, existe uma crítica porque esse número, de certa
forma, está desatualizado.
Por quê? Porque além do número de votos que um determinado deputado teve,
a Constituição também estabelece que se deve levar em configuração o
número de votos que aquele partido teve.
Então, são dois fatores que fazem com que um deputado seja efetivamente
eleito no Brasil. Primeiro, o número de votos que ele teve e, segundo, é o
número de votos que o partido teve. Então, o primeiro é o coeficiente
eleitoral e o segundo é o coeficiente partidário.
E esse sistema é algo de algumas críticas pela doutrina. Por quê? Porque isso
gera uma certa discussão do sistema na medida em que gera não só uma
concorrência entre os próprios partidos, que já é natural, já é esperada, são grupos
que pensam de maneira diferente politicamente, que têm ideais diferentes.
Agora, isso também gera uma concorrência dentro dos próprios partidos.
Então, é um sistema que é um pouco disfuncional em alguma medida.
Além disso, existe uma outra crítica, que é o fato de que o sistema eleitoral
brasileiro acaba incentivando a criação de muitos partidos. Cada um dos
partidos recebe uma verba do fundo partidário. Esses partidos têm um horário
eleitoral próprio. Um horário é gratuito, no rádio, na televisão. E, muitas vezes,
se incentiva a criação de novos partidos para fugir da regra de infidelidade
partidária.
Então, existe uma disfuncionalidade naquele ponto, porque o partido em que se está
é algo determinante para definir se você vai ser eleito ou não. Mas, por outro lado, na
prática os candidatos atualmente nem sempre têm qualquer afinidade com os ideais
políticos daquele partido.
O Senado, por outro lado, é a segunda casa legislativa. Então, a gente já viu
que o Congresso é composto da Câmara dos Deputados, que a gente acabou
de falar, e do Senado.
E o Senado tem, por objetivo, representar cada um dos estados. Então,
diferentemente da Câmara dos Deputados, que tem o seu número, tem o
número de deputados variando a depender do estado, do número de habitantes
do estado, no Senado, o número de senadores é fixo entre todos os
estados do Distrito Federal.
Por quê? Porque há uma alternância entre os mandatos. Existe uma eleição
em que haverá dois senadores para serem eleitos, e na eleição subsequente,
quatro anos depois, haverá um senador para ser eleito.
Então, sempre que tem eleição para senador, essa eleição tem por objetivo
fazer uma renovação parcial somente da composição do Senado. Por quê?
Porque sempre haverá alguns senadores cujo mandato ainda não vai ter
terminado.
Então, a eleição sempre vai ser ou para dois terços do Senado, ou para um
terço do Senado. Por que isso acontece? Para que haja uma permanência,
uma mínima continuidade daquela legislatura.
Então, a ideia é que não se gere, ao mesmo tempo, uma imobilização da
legislatura a ponto de fazer com que, durante oito anos, permaneçam os
mesmos senadores. Então, a ideia é permitir uma oxigenação periódica da
legislatura. De quatro em quatro anos, tem alguma mudança. Mas, ao mesmo
tempo, evitar que haja uma solução de continuidade. Ou seja, evitar que haja
uma interrupção das atividades.
Porque toda vez que muda as pessoas eleitas, acaba gerando uma certa...
Durante alguns meses, eles demoram a engrenar na função. Eles demoram a
entender qual é a logística do ambiente.
Então, a ideia é que o Senado sempre tenha alguns senadores que já sejam mais
antigos, que já estejam ali há um tempo e que, por essa razão, vão poder dar
continuidade aos seus projetos e suas políticas.
Então, essa renovação é sempre parcial. Em toda eleição para senador, nunca se
vai estar elegendo todos os senadores que vão comprar o Senado. É sempre
apenas uma parcela deles, ou um terço ou dois terços.
Então, não são em todos os lugares do mundo que existem duas casas
legislativas. Na verdade, até se a gente for parar para pensar, a Constituição
estabelece duas casas legislativas apenas no plano federal. No plano dos
estados e dos municípios, nas assembleias estaduais e nas câmaras dos
vereadores, é apenas uma casa legislativa.
Aqui no Rio é a ALERG e a Câmara dos Vereadores. Então, não existem dois
órgãos diferentes dentro do poder legislativo.
E qual é a razão pela qual o Constituinte optou por colocar duas casas legislativas
no Congresso Nacional?
Pessoas privadas de liberdade exercem seu direito de visita no final do ano, de saída
temporária no final do ano, para passar as festas de final de ano em casa com a sua
família. E todo ano a imprensa vai e coloca o número de pessoas que não voltaram
para o sistema carcerário. E aí se a gente for olhar em termos absolutos, é um número
alto.
São milhares de pessoas no Brasil todo. Mas se a gente for olhar em termos
proporcionais, isso equivale, eu acho que equivale a 5% das pessoas privadas de
liberdade que exerceram aquele direito e saíram dali. Então 95% daquelas pessoas
voltam depois.
Mas aí enfim, todo ano é a mesma discussão. Vamos acabar com a saída temporária
porque os presos não voltaram. E aí esse ano não foi diferente.
Então essa questão, ela é inserida no debate público. Os parlamentares sempre tem
a obrigação de dar uma resposta para a sociedade. Então muitos são convencidos
por esse clamor e querem aprovar uma norma.
Acabando com a saída temporária, e aí a ideia de ter duas casas legislativas serve
um pouco para evitar isso, para frear isso. Não no sentido de que aquelas normas que
forem aprovadas ali diante da opressão popular não vão ser aprovadas. Mas com a
intenção de promover uma maior reflexão sobre o que estiver sendo debatido ali pelo
Poder Legislativo.
Então são duas casas para proporcionar essa oportunidade de uma casa revisar o
que houve eventualmente decidido. Uma revisão sobre competências do Congresso
Nacional. Então eu vou falar sobre algumas bem rápido aqui.
O artigo 48, ele estabelece matérias que só podem ser tratadas por lei. Então o artigo
48 da Constituição trata sobre o processo legislativo ordinário. Então são matérias que
precisam ser necessariamente decididas por lei, em sentido formal.
Então são atos que, depois de aprovados pelo Congresso, eles não dependem de
sanção presidencial. Ou seja, são atos que são decididos somente no âmbito do poder
legislativo. Então, no processo legislativo ordinário, a gente já tem falado, mas a gente
vai ver com mais detalhes na próxima aula.
Os atos normativos, eles terminam com uma sanção presidencial, ou seja, eles
começam no legislativo, ou às vezes até no executivo, mas a discussão se dá no
legislativo e eles terminam no executivo para sanção ou pena. Nesse artigo 49, não,
no artigo 49, os atos normativos são decididos (inaudível) no Congresso. São atos
infralegais. Exemplos. O fato do Congresso Nacional internalizar um tratado
internacional. Então, a gente sabe que o Brasil, ele exerce relações diplomáticas e
muitas vezes ele, no âmbito dessas relações diplomáticas, ele decide por celebrar
alguns tratados.
É... Como a gente sabe, o Poder Legislativo tem função do típica de editar atos
normativos. Então, essa é uma função que compete pela Constituição ao Poder
Legislativo com prioridade. Só que a Constituição estabelece que, em algumas
situações, o Poder Executivo pode exercer essa função.
Exemplo. Editar medidas provisórias. A gente vai estudar o processo legislativo.
Só que a Constituição, estabelece alguns limites para o exercício dessa função pelo
Poder Legislativo. Então, as medidas provisórias, por exemplo, elas só podem
regulamentar algumas matérias específicas que estão na Constituição. As medidas
provisórias têm curso de lei ordinária.
Então, somente os assuntos que puderem ser tratados por lei ordinária podem ser
tratados em uma medida provisória. Existe-se ainda relevância e urgência para que
seja editada a medida provisória. A gente vai chutar tudo isso com calma.
E aí, quando ele fizer isso, ele vai fixar os limites dessa competência. Então, ele vai
dizer até onde o Poder Executivo pode ir, até onde o Poder Executivo não pode ir, qual
vai ser o conteúdo, qual vai ser o objeto daquela proposta que vai poder ser editada
pelo Poder Executivo. Digamos que o Poder Executivo exorbite o exercício dessas
funções.
Digamos que o Poder Executivo edite uma medida provisória que não tenha
relevância e urgência. Ou edite uma medida provisória cujo tema não pode ser tratado
por medida provisória. Ou digamos que o Poder Executivo edite uma lei delegada pelo
Congresso Nacional.
Ou seja, o Congresso disse que ele poderia editar, mas exerce os limites daquela
delegação. Nesse caso, nesses dois casos, o Poder Legislativo vai poder editar um
decreto legislativo, sustando aquele ato que foi editado pelo Poder Executivo.
Significa afetar a eficácia daquele ato, impedir que aquele ato produza seus efeitos.
Outro exemplo que eu já apercebi. Fixar subsídio para deputados e senadores. Então,
para o ato de apoio do Congresso, a remuneração é fixada por lei.
Então, é o exemplo de função atípica que a gente comentou. Quer dizer, de função
típica é o exercício de uma função fiscalizatória, o julgamento das contas do
presidente. Então, esse é um processo que também trabalha inteiramente no
legislativo.
Autorizar referenda e convocar plebiscito. Então, a gente viu um pouco disso quando
a gente estava falando de educação participativa. Então, é uma forma de consulta
popular, que é convocada por meio de um decreto legislativo.
Aqui, o exemplo que a gente estava falando agora, no artigo 50. Tanto a Câmara como
o Senado podem convocar ministros de Estado e titulares de órgãos submetidos à
presidência da República para prestar informações perante aquela respectiva casa
legislativa. Então, a gente vê isso direto na televisão.
Fixar normas que digam respeito às atividades da própria Câmara dos Deputados.
Então, é um pouco o que a gente falou de uma função atípica do Poder Legislativo.
Por quê? Porque ele está exercendo a administração ali daquele órgão.
Por exemplo, fixar normas sobre os seus serviços, dizer o horário que vai abrir e que
vai fechar a Câmara, fixar iniciativa de lei para a respectiva remuneração, criar e
transformar cargos. Então, é um exercício da autonomia administrativa daquele órgão.
Então, é uma função administrativa.
Então, vocês já sabem que para abrir o processo, para instalar o processo, é uma
missão que compete à Câmara dos Deputados. Mas quem vai processar e julgar,
depois que esse processo já foi aberto pela Câmara, é o Senado. Então, esse
processamento e julgamento é o artigo 52 do Senado.
É importante destacar que o Senado só vai ser competente para julgar o Ministro do
Estado quando esses crimes forem conexos a crimes imputados ao próprio Presidente
ou ao Vice-Presidente. Então, quando se tratar, por exemplo, de um crime que se está
analisando ali, que teria em tese sido cometido pelo Presidente junto com o Ministro,
aí quem vai processar e julgar é o Senado. Mas digamos que seja um crime que só
um Ministro tenha praticado, sem coautoria com o Presidente.
Se tivesse sido só um Ministro isoladamente que tiver praticado, aí a competência é a
do Supremo Tribunal Federal. Então, nesse caso, aqui no artigo 52, o Senado julga
crimes praticados por Ministros de Estado conexos a crimes praticados pelo
Presidente ou pelo Vice-Presidente. Se o Ministro tiver cometido um crime sozinho,
quem julga é o Supremo Tribunal Federal.
Outra competência importante, acho que é a última que eu vou destacar, mas vale
que vocês olharem o art. 52, é a sabatina que é feita pelo Senado. Então, está lá no
inciso III. Aprovar brevemente, com voto secreto, a escolha pública de magistrados
quando estabelecido pela Constituição. Então, é o exemplo de Ministros do Supremo.
Então, é uma competência do Senado fixada pela Constituição. Outros casos que se
exige sabatina. Ministros do Tribunal de Contas.
Acho que é isso. Depois vale a pena você revisar em normativo 52. E, por fim, a última
competência que vale a pena destacar é a suspensão do todo e parte de ato normativo
que foi declarado inconstitucional pelo Supremo.
O Senado pode ir lá e aplicar efeito erga omnes a aquela decisão. Como? Por meio
de um decreto que vai sustar a eficácia daquele ato normativo com base na decisão
do Supremo. Então, uma decisão do Supremo produzir efeito só em relação a aquelas
partes, o Senado vai lá e diz que aquela decisão tem efeito esperando de todos.
Ou seja, ela entra na prisão e nunca mais sai até terminar o último dia de pena que
ela tem para cumprir. E aí, o Supremo foi lá e, numa decisão com efeitos interpartes,
declarou a inconstitucionalidade desse dispositivo. Por quê? Porque reconheceu que
esse dispositivo violava a individualização da pena.
Ou seja, ele não permitia que você estabelecesse um tratamento diferente a depender
se o condenado cumpre, por exemplo, um bom comportamento ou não. Ele não
permitia um tratamento diferente a depender do tempo de pena que já foi cumprido
por aquele condenado. E aí, qual é o problema disso? Além de ser injusto, porque
você tem pessoas em situações diferentes que estão sendo submetidas ao mesmo
tratamento, além de ser injusto, você não gera nenhuma perspectiva para aquela
pessoa.
Então, é algo que vai na contramão da função de ressocialização da pena. Por quê?
Porque se a pessoa não tem nenhum motivo para ter um bom comportamento, se ela
não vai sair de lá nunca, só depois de 20, 30 anos do homicídio que ela praticou, que
também é crime equiparado a hediondos, você não estabelece nenhum incentivo para
que ela tenha um bom comportamento. Então, o Supremo declarou a
inconstitucionalidade numa decisão inter partes, dizendo que mesmo as pessoas
condenadas por crimes hediondos ou equiparado a hediondos têm sim direito a
progredir de regime, ou seja, sair do regime aberto e pro semiaberto e depois pro
aberto.
Só que isso foi uma decisão inter partes. Então, depois veio o Senado e sustou aquela
norma que o Supremo tinha declarado informacional para dizer que aquela decisão
passava a valer para todo mundo. Então, era o exercício de uma competência do
Senado, que é acabar com a eficácia de uma norma diante de uma decisão do
Supremo que havia declarado aquela norma inconstitucional.
Ah, vou falar agora das imunidades, também vale a pena revisar. A Constituição
estabelece também um regime jurídico próprio para parlamentares. Então, é como se
fosse o Estatuto dos Parlamentares que tem várias normas específicas previstas na
Constituição.
Uma das normas mais importantes é a norma que traz a imunidade material dos
parlamentares, que está lá no artigo 53 da Constituição. Então, no artigo 53 fala o
seguinte, os deputados e senadores são invioláveis ivil e penalmente por quaisquer
entre as opiniões, palavras e votos. Então, isso é o que a gente chama de imunidade
material.
Depois a gente vai ver a imunidade formal. O que que significa isso? Significa uma
maximização do direito à liberdade de expressão desses parlamentares. Ou seja, se
todos os cidadãos já têm direito à liberdade de expressão, os parlamentares têm um
direito mais ampliado ainda.
Por quê? Porque eles não podem nem ser responsabilizados pelo que eles falam em
algumas condições. Por que a Constituição estabeleceu isso? É uma tentativa de você
permitir que os parlamentares exerçam livremente as suas funções. Ou seja, que eles
não sejam ameaçados, que eles não vivam com o fantasma de a qualquer momento
serem processados, seja civil, seja penalmente, seja administrativamente, pelo que
eles falarem na tribuna.
Então, quando eles estão desempenhando as suas funções, eles são invioláveis pelas
palavras que eles dizem. Então, ninguém pode processar, processá-los por eventual
organização, por danos morais, pelo que eles eventualmente tenham falado. Ou
ninguém pode processá-los por calúnia, difamação, injúria, porque eles
eventualmente ofenderam a honra de alguém pelo que eles falaram em plenário.
De forma que ele não vai poder ser processado nem civil, nem penal, nem
administrativamente pelo que ele falou. Caso ele se exceda, cabe à própria casa
legislativa contê-lo. Então, o Supremo diz que o Judiciário não pode eventualmente
reprimir um parlamentar pelo que ele falou dentro da casa legislativa.
E a imunidade relativa?
Quando o parlamentar está fora da casa legislativa, mas está no exercício das suas
funções. Nesse caso, o Supremo exige que haja uma conexão com o exercício do
mandato. Ou seja, que se demonstra que aquela fala tinha alguma relação com as
atividades do Poder Legislativo. E aí o Supremo diz que isso é admissível tanto
quando ele estiver no exercício de uma função legisferante, por exemplo, ele estiver
falando sobre um projeto de lei que ele ia taxar por conta, como quando ele estiver no
exercício de uma função fiscalizatória.
Então, já houve casos que não tinha nada a ver com nenhum projeto de lei que estava
em implementação no Congresso, mas o Supremo reconheceu a imunidade
parlamentar porque entendeu que, embora as críticas do parlamentar tenham sido
ácidas, elas foram proferidas no exercício dessa função de fiscalização do Congresso.
Mas já houve casos também em que o Supremo entendeu que houve um abuso do
direito. Ou seja, que, embora a imunidade fosse relativa e tivesse alguma relação com
o exercício da função, que o parlamentar se estrapolou, e foi além do que ele poderia
ter feito.
Um exemplo interessante que o ministro Barroso até acabou de contar e que é super
atual. O parlamentar está dentro das instalações da Câmara dos Deputados e aí ele
fala, ele grava um vídeo xingando, criticando um secretário de Estado de São Paulo.
Olha como essa situação é difícil.
Por quê? Porque ele está dentro das instalações da Casa Parlamentar, ou seja, em
princípio, essa imunidade seria absoluta, pelo que o Supremo entende. Só que aí ele
pega o vídeo, ele não estava na tribuna, ele estava dentro da sala dele gravando o
vídeo e ele pega o vídeo e publica nas redes sociais. Nesse caso, o Supremo
entendeu que ele não estava acobertado pela imunidade parlamentar.
Por quê? Porque ele estava dentro da Casa Legislativa, mas ele não estava na tribuna
e ele gravou aquele vídeo com a intenção de publicá-lo nas redes sociais. Então, o
vídeo, na verdade, ele não estava exatamente no exercício das funções propriamente,
quando ele gravou o vídeo. Por quê? Porque, na verdade, ele pretendia publicar
aquele vídeo nas redes sociais, então ele pretendia divulgar fora daquela Casa
Legislativa.
Então seria diferente se, por exemplo, ele estivesse na tribuna votando um projeto de
lei, tivesse proferido aquelas palavras e aí depois pegasse aquele vídeo e publicasse
nas redes. Não foi essa situação. Ele gravou um vídeo único e exclusivamente com a
intenção de publicar nas redes.
E aí o Supremo entendeu que, naquele caso, ele não estava acobertado pela
imunidade parlamentar. Por quê? A intenção do vídeo foi ser publicado externamente
e porque ele tinha se excedido no seu direito à liberdade de expressão. Não era um
agente de Estado da Administração Pública Federal, era um agente da Administração
Pública Estadual, ele não tinha nada a ver com aquela história e ele proferiu palavras
que não tinham embasamento.
Por quê? Porque na Constituição existe uma previsão de que a imunidade parlamentar
para vereadores, que são parlamentares no âmbito dos municípios, ela só alcança os
limites da circunscrição do município. Então, por exemplo, uma pessoa trabalha na
Câmara de Vereadores aqui do Rio e vai para Itaguaí. E aí, esse parlamentar se acede
ali na sua liberdade de expressão.
Mesmo que tenha relação com a função que ele esteja exercendo aqui, ele não vai
ter proteção. Por quê? Porque a Constituição estabelece esse limite territorial em
relação à imunidade parlamentar dos vereadores, especificamente.
Aluno: Quando é uma briga generalizada de uma Câmara igual houve na Câmara de
Belford roxo há uns três meses? Porque não é só briga física. É um surto dentro do
estabelecimento em si. Cabe algum tipo de... Um quer processar o outro. É uma
situação complicada.
Professora: Ali dentro, em princípio, vai a imunidade. Absoluta. É muito difícil eles
conseguirem... Que nesse é até tiro ferido. Não, não é isso aí. Aí não é imunidade.
Não é nada verbal. Já é um crime, no caso, tentativa de homicídio. Aí não se aplica a
imunidade. A imunidade é para palavras, para opiniões.Não para tiros.
Atualmente o Supremo está discutindo essa questão. Não sei se vocês viram no
noticiário. O Supremo sempre entendeu que se aplica a regra da atualidade da função.
Ou seja, no passado o Supremo sempre entendeu o seguinte. O crime tem que ter
sido praticado no exercício da função durante, quer dizer, não no exercício da função.
Durante o mandato.
Durante o mandato daquele parlamentar. E aí, nesse caso, existe uma atração da
competência do Supremo. Digamos que ele perde o mandato.
Então foi um caso antigo. Estou sem número aqui, mas depois eu passo para vocês.
Era um ex-governador que era o parlamentar federal.
E que estava com o julgamento marcado no STF. E aí, logo depois, para evitar aquele
julgamento ele renunciou ao cargo. Por quê? Porque ele sabia que o Supremo tinha
a intenção, porque o Supremo tinha uma jurisprudência pacífica de que se ele
perdesse o cargo o processo saía do Supremo.
E aí, o que o Supremo decidiu? Que não. Que na verdade, como a intenção
líticamente foi de fraude, ele estava agindo de má fé. O processo iria continuar lá, no
próprio Supremo.
Atualmente, o que o Supremo está decidindo? E aí, no HC 232627. Agora, esse
julgamento está em andamento, mas já tem maioria. O ministro André é o nosso
mediomista.
O Supremo está decidindo que, caso o crime tenha sido cometido durante o exercício
do mandato e em razão dele, mesmo que o parlamentar saia da função por algum
motivo, o processo continua sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Então, o
que eles estão entendendo agora? Que, se o parlamentar cometeu o crime no
exercício do cargo, durante o exercício do cargo, o processo começou a ser julgado
pelo Supremo. Se ele interromper aquele mandato por algum motivo, acabar o prazo,
ele renunciar, ou for expulso, o processo vai continuar no Supremo.
Então, o que o Supremo está decidindo agora? Ele está coibindo esse pimba pimba.
Ou seja, não é que ele está dizendo que ele vai julgar parlamentares por crimes
cometidos no passado, ou que ele vai julgar parlamentares em qualquer situação. Ele
está simplesmente evitando que o processo que começou lá vá para as primeiras
instâncias, depois que ele já está sendo julgado lá.
Então, o Supremo está entendendo que isso viola o princípio da eficiência, o princípio
da segurança jurídica, etc. Então, é isso. Então, em síntese, né? Qual é o
entendimento atual? Os parlamentares têm foro por prerrogativa de função no
Supremo Tribunal Federal quando eles tiverem cometido o crime durante o exercício
do cargo e que tenham relação com a função desempenhada.
Isso se aplica, inclusive, depois que ele tiver perdido o cargo. Ou seja, ele cometeu o
crime durante o exercício do mandato e aí o mandato acabou, o processo continua no
Supremo. Esse é o entendimento atual da Corte.
Para concluir, imunidades formais. Então, a gente estava falando das imunidades
materiais que dizem respeito aos discursos, às opiniões, às falas que impedem que
aquele parlamentar seja processado por causa de violência de informação ou danos
morais. As imunidades formais, por outro lado, dizem respeito à instauração de ações
penais, ao alongamento de ações penais e às prisões ocorridas em torno de ações
penais.
Durante esse prazo de suspensão, se isso ficar decidido, também suspende o curso
do prazo prescricional. Ainda no âmbito das imunidades formais, a Constituição
também estabelece que senadores e deputados têm impunidade em relação a
prisões. Ou seja, senadores e deputados só podem ser presos em flagrante delito.
Eles não podem ser presos preventivamente. Então, eles só podem ser presos em
flagrante delito. Isso está lá no artigo 53, parágrafo segundo.
Aluno: E o Brazão?
Professor: O caso do Brazão já estava aqui no meu radar para falar. Vocês viram que
recentemente o Brazão foi preso por estar sendo investigado segundo os autores do
crime de assassinato da Marielle. O que o Supremo fez? O Supremo determinou a
prisão dele porque ele entendeu que ele estava em flagrante de crime de organização
criminosa e de crime de obstrução à justiça.Porque pelo conteúdo das provas, estava
caracterizado ali, segundo o Supremo, que havia uma tentativa de você obstruir a
justiça, de você impedir que a justiça elucide aquele fato. E aí o Supremo entendeu
que ele estava em flagrante em relação a esse crime. E aí por isso determinou a
prisão.
E ato contínuo se identificou a casa legislativa. Então, a gente acabou de ver que se
for instaurada uma ação penal, o Supremo tem que notificar a casa legislativa. Se for
preso em flagrante, também tem que notificar a casa legislativa.
Porque nesse caso o Congresso tem que dar uma decisão dizendo que é para
suspender. Isso é muito mais politicamente desconcertante para o Congresso do que
se ele já fosse suspenso automaticamente. Então, por exemplo, existe uma pressão
pública para que nesse caso, possivelmente foi a pressão pública que fez com que o
Congresso não suspendesse a prisão do Domingos Brazão, mas poderia ter
suspenso.
Então, eu acho que é isso, gente. Eu acho que essa foi uma revisão geral de poder
legislativo. E aí na próxima aula a gente vai começar outro tempo, um novo tempo,
que é a parte do processo legislativo.
Que é a parte que eu sei que vocês não tiveram. Tá bom? Então, bom final de semana.
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Transcritores:
- Ana Beatriz Cavalcanti de Albuquerque de Andrade Figueira
- Aline Victoria da Costa
- Camila Sousa Gonçalves
- Everton Lima Teixeira do Nascimento
- Julia Pitres Silva
- Maria Fernanda Almeida Lopes
PROCESSO LEGISLATIVO
O processo legislativo é uma sucessão de atos que dá origem à edição dos atos normativos
emitidos pelo poder legislativo.
Então, o conceito de processo legislativo é o conjunto de atos que precisam ser percorridos
para que haja a edição de uma lei válida, sendo lei considerada em sentido amplo.
Então, quando a gente fala de processo legislativo, a gente não está se referindo somente à
lei em sentido estrito, mas a gente está se referindo a atos normativos em geral, editados
pelo poder legislativo e, às vezes, pelo poder executivo.
- Então, leis, medidas provisórias, decretos legislativos, emendas condicionais, as
leis tanto ordinárias como complementares
- As proposições legislativas, elas são listadas a partir do artigo 59 da
Constituição.
→ Então, é importante que, no estudo de vocês, vocês deem uma olhada nesses artigos.
A gente já viu que existe um instrumento processual que é comumente utilizado para que
seja assegurado esse devido processo legislativo.
- Alguém se lembra qual é esse procedimento?
- O mandado de segurança parlamentar.
E aí, no âmbito do Congresso Nacional, quando for o parlamentar que esteja no Congresso
Nacional, a competência para julgar este mandado de segurança parlamentar será do
Supremo Tribunal Federal.
- O Supremo adota, em regra, um entendimento restritivo em relação à análise de
méritos desses mandados de segurança parlamentar.
Então, como regra, o Supremo só admite/ analisa mandados de segurança
impetrados por parlamentares quando houver violação a uma norma constitucional
sobre o processo legislativo.
As normas sobre o processo legislativo estão na Constituição, mas elas também estão nos
regimentos internos do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal. Só que o Supremo só admite que o parlamentar entre com esse mandado de
segurança parlamentar quando ele alegar que houve uma violação a uma norma
constitucional sobre o processo legislativo.
Ou seja, se tiver sido violado uma norma constante no regimento interno da Câmara dos
Deputados, do Senado ou do Congresso Nacional, não vai se admitir, em regra, o mandado
de segurança parlamentar.
- Só que o Supremo, ele excepciona isso quando essa norma do regimento interno
concretizar diretamente alguma das normas constitucionais.
Então, em resumo, como regra, o Supremo admite o mandado de segurança impetrado por
parlamentar quando houver violação a uma regra constitucional de devido processo
legislativo.
- Então, em regra, o Supremo não admite controle do processo legislativo quando
houver violação a uma norma regimental.
Mas o Supremo admite algumas exceções quando essa norma regimental concretizar
diretamente alguma previsão constitucional.
- O Supremo excepciona e admite o mandado de segurança parlamentar que é alegar
violação a uma norma regimental quando essa norma regimental quando essa
norma regimental for uma decorrência direta de alguma norma da Constituição.
Todas essas regras que estão na Constituição, a partir do artigo 59, sobre o devido
processo legislativo, devem necessariamente ser observadas pelos estados e pelo Distrito
Federal.
Então, vocês lembram que quando a gente estava estudando a federação, uma das coisas
que a gente aprendeu é que cada um dos entes federativos têm autonomia para editar suas
próprias Constituições, para editar suas próprias regras.
- Não existe hierarquia entre União, estado, Município e Distrito Federal.
E aí, por consequência, a Constituição estabelece prazos que devem ser observados na
apreciação daquele projeto de lei.
- Então, o prazo para apreciação em cada casa legislativa vai ser de 45 dias.
E se esse prazo não for observado? Vai acontecer o trancamento da pauta, ou seja,
nada mais vai poder ser deliberado até que aquele projeto, que é urgente, seja efetivamente
apreciado.
Qual é a consequência disso? Cada casa legislativa terá 45 dias para analisar.
- Se esse prazo for ultrapassado, a pauta é trancada, de modo que nada mais pode
ser apreciado antes daquele projeto legislativo ser apreciado.
Pergunta de uma aluna: Qualquer projeto de lei ou precisa de algum motivo/ requisito
para que tenha urgência? Art. 64, CF.
- Então, pelo que está no dispositivo, não tem nenhum requisito, basta que se exerça
essa prerrogativa.
- Só que a imprensa, com frequência, costuma criticar requerimentos de apreciação
de urgência quando não existe efetivamente uma urgência ou quando aquele tema
não é um tema prioritário para o país, quando é um mero interesse político dos
partidos ou do Presidente.
- Então, pela Constituição, não existe esse requisito, mas, por vezes, isso acaba
sendo criticado pela imprensa quando é requerida alguma urgência que
efetivamente não seria uma urgência.
PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO
O processo legislativo ordinário é dividido em três fases.
- A primeira fase é a fase preliminar
- A segunda fase é a fase constitutiva
- A terceira fase é a fase complementar.
E por fim, existe a fase complementar, que é a terceira fase, que é a fase em que existe a
promulgação e a publicação da lei.
O Vitor leu ali no artigo 64 uma norma muito importante, que é a norma que fala que, como
regra, os projetos de lei têm início, a deliberação tem início na Câmara dos Deputados.
- Isso está lá, tanto no artigo 61 do parágrafo 2º, 62 do parágrafo 8º e no artigo 64.
Então, a gente já viu, eu fiz uma reunião com vocês na última aula, que a Câmara dos
Deputados é a casa legislativa que representa o povo, ao passo que o Senado representa
os Estados. Então a ideia da deliberação começar na Câmara dos Deputados é justamente
permitir que o povo discuta sobre aquele projeto, simbolicamente permitir que a população
debate sobre aquele projeto.
- Simbolicamente isso é permitir que a população debate sobre aquele projeto.
Então, como regra, os projetos de lei, eles têm a sua discussão iniciada na Câmara dos
Deputados.
Qual é a exceção? A exceção é quando o projeto de lei for de autoria do Senado Federal.
- E aí, nesse caso, quando a proposição vier de um senador a discussão vai se iniciar
no Senado.
Fase preliminar
A fase preliminar do projeto de lei que a gente acabou de ver é a fase de iniciativa.
→ A gente está entrando agora na segunda espécie de iniciativa, que eu acabei de falar.
A iniciativa privativa ou reservada, ela está prevista, também no artigo 61, mas no §1º.
- Então, quando a iniciativa é privativa ou reservada, a Constituição estabelece que
apenas alguns atores, um ou alguns titulares específicos, têm a possibilidade de
propor um projeto de lei sobre determinada matéria.
- De modo que, caso outra autoridade proponha um projeto de lei sobre aquela
matéria, automaticamente aquele projeto vai ser inconstitucional e vai estar sujeito a
uma declaração de inconstitucionalidade pelo Supremo.
→ As regras de iniciativa estão não só nesse artigo 61, § 2º, que são as regras de
referência ao Presidente, mas também estão dispersas pela Constituição.
- Então, por exemplo, o Supremo, ele tem a iniciativa privativa sobre as normas que
tratam sobre o próprio Supremo, e isso está lá no artigo 93.
- Os Tribunais Superiores e Tribunais de Justiça, da mesma forma. Isso está lá no
artigo 96, Ii, e 125, §1º.
- O mesmo que você refere aos Tribunais de Contas. Está lá no artigo 73 e 96, II.
- MP, está no artigo 128, §5º.
- Câmara dos Deputados e Senado estão no art. 51, IV e art. 52, inciso VIII.
- Defensoria, mesma coisa. Está lá no artigo 134.
Então, no que toca ao Presidente, por exemplo, a gente viu que ele é um dos atores que
tem atribuição/ competência concorrente para apresentar qualquer projeto de lei sobre
qualquer tema, que é a iniciativa geral, mas ele também tem a iniciativa privativa em
relação aos questões que estão previstas no artigo 61.
Qual é a ideia disso? É evitar que o Poder Legislativo interfira muito no Poder Executivo. É
preservar a harmonia entre os poderes.
- Se o Poder Legislativo pudesse propor projetos de lei aumentando o salário dos
servidores, isso impactaria não só na administração pública, mas impactaria também
no orçamento, nas receitas que são vinculadas para pagamento de servidores
públicos, poderia desorganizar os corpos públicos.
- Então, essa é a razão de ser desse dispositivo, evitar que um poder interfira no
outro.
Com frequência, no passado, o Poder Executivo pedia para que fosse declarada a
inconstitucionalidade de qualquer projeto de lei de autoria parlamentar que gerasse despesa
para a administração pública.
- Então, era uma alegação recorrente dos procuradores, quando eles viam à
propositura de algum projeto de lei que trouxesse alguma despesa para a
administração pública, os procuradores do estado, do município, a Advocacia Geral
do União, alegaram que esse projeto de lei era inconstitucional com base nesse
dispositivo.
- Alegavam que o projeto de lei era inconstitucional porque estava criando despesa
para a administração pública.
- Mas essa tese não foi acolhida pela jurisprudência.
- Então, se um projeto de lei criar despesa para a administração pública, ainda que
ele seja de autoria de um parlamentar, ele não vai ser inconstitucional por conta
disso.
- Então, atualmente o que Supremo tem analisado de forma mais detida a relação a
esse aspecto financeiro, é a existência de um estudo de impacto orçamentário
financeiro, que é outro requisito que a gente vai estudar mais à frente, mas o simples
fato de um projeto de lei criar despesa não é suficiente para que um parlamentar não
possa propor aquele projeto de lei.
- O que o parlamentar vai ter que fazer é fazer um estudo de impacto financeiro e
orçamentário para demonstrar que, eventualmente, é possível arcar com aquele
valor e assegurar a previsão, a indicação de onde vai sair aquele dinheiro.
- Então, dizer que, por exemplo, para puxar aquela verba que vai ser necessária, para
puxar aquela implementação da obrigação decorrente daquele projeto de lei, que as
despesas vão sair, por exemplo, do fundo tal ou que vão sair do orçamento tal.
- Então, o importante quando um projeto cria despesas é, primeiro, que haja um
estudo de impacto orçamentário e, segundo, que haja a indicação da fonte de
custeio.
Outra norma importante em relação a esse ponto que eu falei agora, é o artigo 169 da
Constituição.
§1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de
cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a
admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da
administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo
poder público, só poderão ser feitas: (Renumerado do parágrafo único, pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998) (Vide Emenda constitucional nº 106, de 2020)
I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de
despesa de pessoal e aos acréscimos dela decorrentes; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias, ressalvadas
as empresas públicas e as sociedades de economia mista. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
Então, o que significa isso? Significa que, se algum projeto de lei criar vantagem ou
aumento de remuneração, necessariamente tem de ser indicada a fonte de custeio, ou seja,
onde dentro do orçamento vai sair aquele dinheiro necessário para custear aquela
obrigação. Então, é mais uma regra de responsabilidade fiscal.
Então, resumindo tudo o que a gente disse agora, a gente começou dizendo que o
presidente tem iniciativa para criar normas que disponham sobre cargos, funções ou
empregos públicos na administração.
- Isso é o que está lá no artigo 61, §1º, II, alínea a.
Embora haja iniciativa privativa do presidente para isso, o Supremo tem entendido que esse
artigo não significa que qualquer norma que crie despesa deve necessariamente ser de
autoria do Poder Executivo. Ou seja, o Supremo admite que normas que criem despesa
à administração sejam emanadas de autoria do Poder Legislativo.
No entanto, existem dois requisitos gerais para qualquer projeto de lei que crie despesa
1) Primeiro, artigo 113 da ADCT, tem que ter estimativa de impacto orçamentário,
ou seja, tem que ter um estudo prévio dizendo se o Poder Público tem condição de
arcar com aquela obrigação.
2) Segundo requisito, artigo 169, parágrafo 1º da Constituição, de modo que a
concessão de vantagens, o aumento de remuneração, a criação de cargos,
empregos e funções, a estrutura de carreira e a admissão de pessoal devem
necessariamente ter a prévia dotação orçamentária, ou seja, deve ter indicação de
fonte de custeio.
Essas duas regras que a gente falou agora, tanto no artigo 169, § 1º, como no artigo 113 da
DCT, são regras que promovem a responsabilidade fiscal.
- É a ideia de que, para a implementação de direitos, isso gera custos.
- Então, o Poder Público precisa ver se ele efetivamente tem dinheiro para pagar
aquilo.
Pergunta de um aluno: [inaudível]? Então, no caso do piso, não foi. Mas você está
confundindo porque foi analisado pelo Judiciário. Mas o piso dos professores foi uma norma
do Poder Legislativo. Não me lembro agora se era uma emenda ou se era um projeto de lei.
Eu acho que teve emenda constitucional também. Só que o que eles fizeram, o Congresso
Nacional, ele indicou exatamente de onde ia sair a verba, que era uma verba que ia sair do
FUNDEB, que é o Fundo da Educação para Segurar a Educação Básica. É um fundo que
tem verbas públicas que se destinam a custear uma receita específica. Nesse caso, o
FUNDEB é uma receita específica para custear a educação em âmbito nacional. E aí o
Congresso fixou o piso salarial dos professores e disse expressamente que o dinheiro para
custear esse piso ia sair do FUNDEB.
- Então o Congresso fez exatamente o que a gente falou aqui agora. Ele disse de
onde ia sair o dinheiro. E aí o Supremo, por essa razão lá atrás, reconheceu que
essa verba era constitucional porque o Congresso tinha indicado de onde ia sair o
dinheiro, tinha dito, tinha assegurado o dinheiro para custear aquele piso.
- Então o ônus sobre estados e municípios não foi tão grande assim, porque afinal a
União estava dando a ele um dinheiro para que aquele piso fosse custeado.
- Então foi um piso fixado pelo Poder Legislativo, mas depois o Supremo declarou a
constitucionalidade desse piso, numa ação constitucional.
Alínea c)
- É o exemplo que a gente falou.
- Então se tiver uma norma que interfirá no regime jurídico dos servidores, por
exemplo, queira dizer o que os servidores podem fazer ou não, atribuição de
servidores, necessariamente a iniciativa desse projeto é a do Presidente da
República.
Alínea d)
- Essa alínea fala das leis orgânicas.
- Então, tanto a Defensoria como o MP têm leis orgânicas que falam sobre as suas
atribuições, as suas funções, os seus princípios institucionais, são normas gerais
que tratam sobre aquelas carreiras.
- Essas leis orgânicas são de iniciativa do presidente.
- Então no caso da Defensoria, por exemplo, é a lei orgânica número 80 de 1994.
- Então essa lei é uma iniciativa do presidente.
Alínea e)
- Então é um pouco do que a gente falou na noção de servidores.
- Criação de órgãos, ministérios são órgãos da administração pública. Então, para
criar o órgão da administração pública, a iniciativa é do presidente.
Alínea f)
- Então o regime jurídico das Forças Armadas e dos Militares também compete ao
Presidente da República.
Ex.: Digamos que um parlamentar tenha editado uma norma sobre uma matéria
desse artigo 61. Ou seja, uma norma que seja de uma matéria de iniciativa
reservada do presidente da República.
- Digamos que no final daquele processo legislativo, aquela norma vá para o
presidente sancionar ou vetar. Se o presidente sancionar aquela norma, a gente já
viu que esse ato de sanção ou veto pelo presidente é também um exemplo de
controle de constitucionalidade político, feito pelo chefe do poder executivo.
- Vale vocês botaram esse exemplo na prova, inclusive.
- Se o presidente sancionar aquele projeto de lei, ou seja, um projeto de lei de
iniciativa do presidente que, no entanto, for de autoria de um parlamentar, aquela
sanção vai ter a possibilidade de convalidar aquela inconstitucionalidade?
- Os procuradores do Estado, dos advogados da União e dos procuradores do
município diziam que, olha, tudo bem, o projeto foi editado por um parlamentar e a
matéria seria, em princípio, de iniciativa do chefe do poder executivo. Mas o chefe
do poder executivo depois recebeu esse projeto, ele poderia ter vetado por vício de
inconstitucionalidade e ele não vetou. Então, a sanção do chefe do poder executivo
convalidou aquele vício. Então, as procuradorias sempre falam isso.
- No entanto, a jurisprudência do Supremo não admite isso. Então, para o Supremo,
a sanção de um projeto de lei, de iniciativa parlamentar, que deveria ter sido de
iniciativa do chefe do poder executivo, não convalida aquela inconstitucionalidade.
- Então, o que o Supremo entende que o vício de inconstitucionalidade é um vício
que é insanado. É um pouco o que a gente viu com a matéria de interpretação
constitucional no período passado. Então, nada tem como solucionar. Se uma norma
é inconstitucional, não tem como nada fazer com que aquela norma vire
inconstitucional depois.
- Então, nem a sanção é capaz de convalidar o vício de iniciativa.
- Então, para o Supremo, se um projeto de lei for de iniciativa parlamentar, mas
devesse ser de iniciativa do chefe do poder executivo, se o chefe do poder executivo
sancionar aquele projeto de lei, aquele projeto de lei ainda assim vai ser
inconstitucional e o Supremo vai poder declarar a inconstitucionalidade daquele
projeto de lei.
Pergunta de uma aluna: [inaudível]? Isso, o certo mesmo seria ele vetar e aí ele criar. Só
que o que acontece é que, normalmente, eles não querem, porque gera despesa, porque
politicamente não é bom.
- Mas, um exemplo que é raro, não acontece muito: Os deputados querem aumentar
a remuneração dos servidores. E aí eles vão e editam um projeto de lei que vai
aumentar a remuneração dos servidores.
- É super chato para o chefe do poder executivo vetar aquele projeto de lei, porque
eles não querem dizer para os seus próprios servidores que eles não vão ter
aumento. Então, politicamente, é muito constrangedor.
- Então, com frequência, eles sancionam e aí depois entram com uma ação
declaratória de inconstitucionalidade ou dizem que aquele projeto não pode ser
aplicado, porque, infelizmente, não tem previsão orçamentária.
- O que o Supremo fica irritado, com razão, é que o Congresso edita uma norma
aumentando a ficção no piso, uma norma que popularmente é muito boa, só que não
segue as regras, não diz de onde o dinheiro vai sair, e aí joga o problema para os
entes federativos e para o Supremo. E aí o ônus político de ser o ruim do negócio
acaba ficando com o Supremo. Então, todo mundo atribui ao Supremo, quando o
piso da enfermagem não estava valendo. Só que, na verdade, o problema era
anterior ao Supremo. E aí os estados e municípios estavam levando isso ao
Supremo.
- Hoje em dia, já foi mais ou menos equacionado, mas ainda assim já é muito
problema.
- Porque agora os estados e municípios dizem que a União não está fechando tudo e
aí não querem pagar o valor integral, enfim, é um problema sem fim.
- E aí o processo está até com a União, para a União se manifestar.
- Porque eles ficam brigando sobre quais verbas, porque os estados e municípios
falam: “não, mas a União está pagando o valor específico para complementar a
remuneração”. Mas e as verbas de aposentadoria? E as verbas que eu tenho que
transferir para a previdência? E as verbas dos auxílios? Isso eles não estão
pagando.
- Então os estados e municípios querem que a União custeie tudo e a União quer
custear só uma parte.
Pergunta de um aluno: [inaudível]? Não, porque em princípio, a gente viu isso até, que
não cabe controle de constitucionalidade preventivo. São exceção são duas exceções, na
verdade: mandado de segurança parlamentar ou projeto de emenda constitucional que viola
a cláusula pétrea. Aí se admite, mas como regra não.
- Mas o que acontece é que às vezes, por exemplo, o governo tem parlamentares de
apoio. Então eles podem pedir para os próprios parlamentares de apoio, da sua
base, entrarem com o mandado parlamentar.
Então, a iniciativa popular permite que cidadãos proponham projetos de lei que eles achem
importantes e que vão ser deliberados no Congresso Nacional e, se for o caso, aprovados.
Então, basicamente, o que você tem que saber é a iniciativa de projeto de lei pelo povo, a
iniciativa popular, cabe a 1% do eleitorado nacional, distribuídos em 5 estados da
federação.
- Cai muito em prova objetiva, uma pegadinha.
- Em relação a projetos de lei municipais, a iniciativa popular de projeto de lei
municipal é 5% do eleitorado do município.
→ Então, para iniciativa popular de projetos que vão ser debatidos no Congresso Nacional
e nas Assembleias Legislativas, é 1%.
→ Se for uma iniciativa popular de projeto de lei municipal para ser debatida na Câmara dos
Deputados, é 5% do eleitorado. Está lá no artigo 29, inciso VIII da Constituição.
Esse projeto de lei de iniciativa popular pode ser qualquer tema de competência
legislativa da União, como no Congresso Nacional, desde que não seja tema de
iniciativa reservada de alguém.
- Então, por exemplo, se for uma matéria de iniciativa reservada do Presidente da
República, não vai poder ter um projeto de iniciativa popular sobre essa matéria.
O artigo dos estados é o art. 27 §4º, e o dos municípios, que é o diferente, é o art. 29,
inciso VIII.