Amanda Lima Santos: Instituto Federal Do Espírito Santo Curso de Engenharia Elétrica
Amanda Lima Santos: Instituto Federal Do Espírito Santo Curso de Engenharia Elétrica
Amanda Lima Santos: Instituto Federal Do Espírito Santo Curso de Engenharia Elétrica
Vitória
2017
AMANDA LIMA SANTOS
Vitória
2017
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)
108 f. : il. ; 30 cm
CDD 21 – 621.31243
AMANDA LIMA SANTOS
COMISSÃO EXAMINADORA
Quero agradecer à minha família, na figura de meus pais e irmãos, pelo apoio
incondicional ao meu objetivo de concluir uma graduação. Agradeço também meus
amigos de turma e de curso, que foram fundamentais nos momentos de dificuldade e
presentes nos momentos de alegria. Quero agradecer aos professores que foram
fundamentais para este trabalho: Clainer Bravin Donadel, como orientador, Cláudio
Brotto e José Marcos Stelzer Entringer, por todo o apoio acadêmico e pessoal que me
deram durante o processo.
RESUMO
The maximum use of energy from fossil fuels is a goal and a challenge for the industrial
sector. Once this energy source is exhaustible, it is wanted that all energetic potential
is used. In some industrial plants, such as petrochemical, one part of the fuel is burned
– usually components that plants are not capable to process and specify to sale to the
market – and the products resulting from burning are released in the atmosphere,
causing two unwanted effects: environmental degradation and energy waste. In light
of this, it is necessary to give usefulness to this energy, with consequently
environmental impact reduction. One of the most known ways to solve this kind of
problem is the electrical energy generation. In this case study, it is sought forms to
benefit from this energy which currently is wasted as well as turning it into electrical
energy. For this purpose, it was analysed the main forms of thermoelectric generation
which use gases as fuels. This analysis passed by technical and economic viability
aspects. It was made an initial economic analysis to exhibit the order of economics
options; based on that it was accomplished a technical viability, not in depth of an
executive project but in order of magnitude related to main equipment of the typologies.
At the end of study, it was made an economic analysis of the typology that, following
the initial economic viability rank, satisfied the technical criteria. This final analysis
aimed to reveal the economics of typology which presented the best result in the
previous two stages.
Figura 11 – Ciclo Brayton: (a) circuito aberto; (b) circuito fechado ............................ 40
Figura 12 - Fluxograma de uma turbina a gás ciclo Brayton movida a gás natural ... 41
Figura 22 - Curva de demanda ativa da UTG, no período AGO 2016 – MAR 2017,
UTG .......................................................................................................... 64
Figura 26 – Entrada, saídas e balanço anual (mil R$), para a usina térmica a
vapor ...................................................................................................... 97
Tabela 4 – High heating value (HHV) e low heating value (LLV), por hidrocarboneto
................................................................................................................. 25
Tabela 15 – Preços unitários do kWh, por tarifa, referente à tarifa azul. ................... 66
Tabela 16 – Valores de demanda ativa e energia ativa, em FEV 2017, UTG ........... 66
Tabela 17– Tarifas de Uso do Serviço de Distribuição, para o grupo A2 (88 a 138kV),
no período de FEV 2017, Espírito Santo ............................................... 67
Tabela 18– Valores estimados de energia (kWh) e potência nominal (MW), por
tipologia de geração ............................................................................... 68
Tabela 22 – Custo de investimento, O&M fixo anual e O&M variável anual, por
tipologia.................................................................................................. 73
A Ampére
ACL Ambiente de Contratação Livre
ACR Ambiente de Contratação Regulada
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
AT Alta Tensão
CNTP Condições Normais de Temperatura e Pressão
CR Caldeira de Recuperação
DMCR Demanda Máxima Corrigida e Registrada
Eq. Equação
EPE Empresa de Pesquisa Energética
FC Fator de Correção
FOV Fast opening valve
FP Fator de Potência
FVP Fator de Valor Presente
GASENE Gasoduto Sudeste Nordeste
GD Geração Distribuída
GE General Eletric
GWh Gigawatt-hora
HHV High Heating Value
HRSG Heat Recovery Steam Generation
HV Heating Value
IW Índice de Wobbe
kg/h quilograma por hora
Kg/m3 quilograma por metro cúbico
Kg/s quilograma por Segundo
KW quilowatt
KWh quilowatt-hora
KJ Quilojoule
KJ/Nm3 Quilojoule por normal metro cúbico
KPa Quilopascal
LHV Low Heating Value
MCI Motor a combustão interna
MJ/kg Megajoule por quilograma
MJ/Nm3 Megajoule por normal metro cúbico
MW Megawatt
MON Motor Octane Number
NM Número de Metano
Nm3 Normal metro cúbico
Nm3/h Normal metro cúbico por hora
NOx Óxidos de Nitrogênio
ONS Operador Nacional do Sistema
O&M Operação e Manutenção
PCI Poder Calorífico Inferior
PCS Poder Calorífico Superior
PIE Produtor Independente de Energia Elétrica
PLANGÁS Plano Nacional de Antecipação do Gás
PRODIST Procedimentos de Distribuição
PRORET Procedimentos de regulação tarifária
Rpm rotações por minuto
SELIC Sistema Especial de Liquidação e Custódia
SIN Sistema Interligado Nacional
TE Tarifa de Energia
TG Turbina a gás
TIR Taxa Interna de Retorno
Ton/h toneladas por hora
TRC Tempo de Retorno de Capital
TUSD Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição
TV Turbina a vapor
UTG Unidade de Tratamento de Gás
V Volts
VA Volt-Ampére
VPL Valor Presente Líquido
W Watt
LISTA DE SÍMBOLOS
η Rendimento
ηele Rendimento elétrico absoluto
ηg Rendimento do gerador
ηm Rendimento mecânico
ηri Rendimento relativo interno
ηt Rendimento térmico
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 18
2 REVISÃO DE LITERATURA................................................................. 20
2.1 TARIFAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA................................................. 20
2.2 PROPRIEDADES QUÍMICAS DOS COMBUSTÍVEIS ........................... 21
2.3 REAPROVEITAMENTO DE GÁS QUEIMADO EM TOCHA ................. 26
2.4 USINAS TERMELÉTRICAS A GÁS ...................................................... 27
2.4.1 Termelétricas a vapor ......................................................................... 28
2.4.1.1 Caldeiras convencionais ........................................................................ 32
2.4.1.2 Turbina a vapor ..................................................................................... 36
2.4.1.3 Condensador ......................................................................................... 37
2.4.1.4 Torres de resfriamento .......................................................................... 38
2.4.2 Termelétricas a gás de ciclo simples ................................................. 40
2.4.3 Termelétricas com motores de combustão interna (MCI)
alternativos...........................................................................................43
2.4.4 Termelétricas de ciclo combinado ..................................................... 44
2.5 CENTRAIS GERADORAS DE ENERGIA ELÉTRICA ........................... 48
2.6 CENTRAIS TERMELÉTRICAS E O SISTEMA ELÉTRICO ................... 51
2.7 VIABILIDADE ECONÔMICA ................................................................. 55
2.7.1 Conceitos básicos de análise econômica ......................................... 55
2.7.2 Custos associados a centrais termelétricas ..................................... 56
3 ESTUDO DE CASO .............................................................................. 59
3.1 AQUISIÇÃO DE DADOS ....................................................................... 59
3.1.1 Características do gás ........................................................................ 59
3.1.2 Demanda da UTG ................................................................................. 64
3.1.3 Contrato de energia elétrica ............................................................... 65
3.2 ESTIMATIVA DE POTÊNCIA E ENERGIA ELÉTRICA GERADA ......... 67
3.3 DEFINIÇÃO DO MERCADO ................................................................. 68
3.4 ANÁLISE ECONÔMICA INICIAL ........................................................... 69
3.5 ESPECIFICAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE GERAÇÃO .................. 75
3.6 ESPECIFICAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE INTERLIGAÇÃO COM O
SISTEMA DE TOCHA ........................................................................... 80
3.7 ESPECIFICAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE INTERLIGAÇÃO COM
A REDE..................................................................................................87
3.8 ANÁLISE ECONÔMICA DA TERMELÉTRICA A VAPOR ............................ 89
4 CONCLUSÃO ............................................................................................ 100
REFERÊNCIAS...........................................................................................101
18
1 INTRODUÇÃO
O Banco Mundial estima que 140 bilhões de metros cúbicos de gás são queimados
em plantas petroquímicas anualmente, causando uma emissão de mais de 300
toneladas de CO2 na atmosfera. Essa prática ocorre por motivos técnicos, de
segurança operacional e até financeiro (BANCO MUNDIAL, 2016).
O reaproveitamento desse gás pode ser feito distribuindo-o na rede de gás natural,
armazenamento (liquefação), reinjeção em poços produtores ou geração de energia
elétrica (RAHIMPOUR et al., 2012).
Dentro desse cenário, em 2015 o Brasil queimou 1,229 bilhões de m3 de gás natural
(4% da produção total), apresentando uma redução de 13,68% quando comparado
com o ano de 2014 (AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NAURAL E
BIOCOMBUSTÍVEIS, 2016). O Brasil possui um grande desafio para zerar a prática
rotineira de queima de gás.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Para os clientes AT, existem três tipos de tarifações: convencional binômia, horária
azul e horária verde. A convencional binômia é caracterizada por tarifas de consumo
de energia e demanda de potência únicas, independente do horário de utilização, e
está em desuso. Na horária verde, existem tarifas diferenciadas para consumo,
dependendo do horário, sendo que a tarifa de demanda de potência é única. Na
horária azul, existem tarifas distintas para consumo e demanda, sendo definidos dois
valores: ponta e fora ponta. O horário de ponta é definido pela distribuidora, sendo
composto por 3 horas diárias consecutivas, com exceção dos finais de semana e
feriados nacionais. O horário fora ponta é o conjunto das horas diárias
complementares àquelas definidas no horário de ponta (AGÊNCIA NACIONAL DE
ENERGIA ELÉTRICA, 2016d).
21
Existem duas situações limites, uma quando a água resultante da combustão está
completamente em estado gasoso, não fornecendo o calor resultante da condensação
e outra quando a água está totalmente em estado líquido. No primeiro caso tem-se o
Poder Calorífico Inferior (PCI) e no segundo, Poder Calorífico Superior - PCS
(TEIXEIRA; LORA, 2004).
Onde:
PCI𝑠 : PCI da mistura (MJ/Nm3)
PCIi : PCI do componente (MJ/Nm3)
xi : fração volumétrica (-)
23
d
ρ= d1 (2)
2
Onde:
ρ: densidade relativa (-)
d1: densidade absoluta do gás 1 (kg/m3)
d2: densidade absoluta do gás 2 (kg/m3)
PC
IW= (3)
√ρ
Onde:
IW: Índice de Wobbe (MJ/Nm3)
PC: poder calorífico (MJ/Nm3)
ρ: densidade relativa do gás com relação ao ar (-)
Caso seja utilizado o PCI, obtém-se o Índice de Wobbe mínimo, caso usemos o PCS,
obtém-se IW máximo. A utilidade do Índice de Wobbe é que, para um determinado
orifício (bicos injetores, por exemplo), todos os gases que tiverem o mesmo IW
fornecerão a mesma quantidade de calor ao serem queimados. Assim, ao se estudar
a alteração de combustível em uma máquina, o IW deverá ser comparado
(ZACHARIAH-WOLFF; EGYEDI; HEMMES, 2007).
24
Hidrogênio 40,67
Metano 47,95
Etano 62,51
Acetileno 46,65
Monóxido de carbono 12,81
Fonte: Elaborado pela autora adaptado de Pinheiro; Cimbleris, 2010.
Para uma determinada mistura, o heating value (HV) pode ser determinado por meio
das equações 4 e 5.
mi
x i= (4)
mtotal
Onde:
25
Tabela 4 – High heating value (HHV) e low heating value (LLV), por hidrocarboneto
Componente HHV (MJ/kg) LHV (MJ/kg)
Metano (C1) 55,53 50,05
Etano (C2) 51,90 47,52
Propano (C3) 50,33 46,34
Butano (C4) 49,15 45,37
Pentano (C5s) 47,76 44,63
Fonte: Çengel; Boles, 2013.
H H H 2 H 3
MON= (-406,14× C) + (508,04× C) + (-173,55×( C ) ) + (20,17×( C ) ) (6)
NM=MON×1,624-119,1 (7)
Onde:
MON: Número de octano motor (-)
26
A geração de energia elétrica é uma das alternativas mais viáveis à pratica de flaring;
apesar de possuir custo elevado, possui também uma alta taxa de retorno
(RAHIMPOUR et al., 2012). No Brasil, o governo federal tem incentivado formas
descentralizadas de geração de energia, com o objetivo de diversificar a matriz
energética e aumentar a oferta de energia.
Um dos desafios ao projetar uma termelétrica que utiliza essa corrente de gás é definir
cenários representativos da vazão e da composição do gás, a fim de avaliar qual ciclo
e quais equipamentos serão apropriados para uma taxa de retorno mais elevada
(HEIDARI; ATAEI; RAHDAR, 2016).
típicos de geração de potência, podendo ser centrais com turbinas a vapor, motores
a combustão interna ou turbinas a gás (TEIXEIRA; LORA, 2004).
Essa tecnologia apresenta eficiências entre 42% e 44%, sendo esse valor muito
influenciado pela qualidade do combustível. Apresentam também elevadas potências
unitárias (caso seja desejado). As temperaturas típicas do vapor estão entre 400 ºC e
600 ºC, temperaturas mais elevadas na entrada da turbina aumentam a eficiência,
mas são limitadas pelo material construtivo da turbina. Outra forma de se aumentar a
eficiência é utilizar o vapor de exaustão como fonte de calor em processos externos,
no regime de cogeração (TOLMASQUIM, 2016).
A força motriz de circulação do fluido de trabalho pode ser natural, forçada ou de passe
único (Figura 6). As de circulação natural se equivalem da diferença de densidade
entre o vapor e a água líquida para o seu funcionamento. Uma das limitações é a
necessidade de tubos de maior diâmetro e com inclinação, aumentando os custos
com materiais. Já as de circulação forçada possuem uma bomba que fornece energia
para movimentação do fluido e um único tambor separador de vapor saturado,
permitindo caldeiras mais compactas e eficientes. Nas caldeiras de passe único não
33
há recirculação: a água líquida passa pela tubulação apenas uma vez, sendo
convertida em vapor superaquecido, geralmente são utilizadas em centrais de grande
porte (LORA et al., 2004).
As caldeiras utilizadas na geração de energia podem ser de pressão alta (10-16 MPa),
super alta (> 17 MPa) e supercrítica (>22,1 MPa). Há também as de operação
deslizante, onde a pressão da caldeira varia conforme a carga da turbina. Com relação
ao tipo de combustível, podem operar com combustíveis sólidos, líquidos ou gasosos.
processo de tiragem, conforme pode ser visto na Figura 7, podem ser de tiragem
natural (a própria chaminé é suficiente para extrair os gases de exaustão da caldeira,
sendo mais utilizada em usinas de pequeno porte), forçada (presença de sopradores
na entrada da fornalha, que fornecem ar sob pressão para a caldeira), induzida
(presença de ventiladores de exaustão, que geram uma pressão ligeiramente negativa
na fornalha) ou balanceada (combinação entre tiragem forçada e induzida). O objetivo
da tiragem é proporcionar a quantidade de ar necessária para a queima do
combustível e forçar a circulação dos gases de exaustão (LORA et al., 2004).
A quantidade de vapor gerado em uma caldeira pode ser calculada de acordo com a
equação 8 (JOHNSTON BOILER COMPANY, 2006).
C× (η × HHV)
Vp = (8)
(hv - ha )
Onde:
Vp : Vapor produzido (kg/s)
C: vazão de combustível (kg/s)
η: rendimento da caldeira (-)
HHV: high heating value (MJ/kg)
hv : entalpia do vapor a 100 PSIg (MJ/kg)
ha : entalpia da água de alimentação na temperatura de saturação (MJ/kg)
H = U + p×V (9)
Onde:
H: entalpia (kJ)
U: Energia interna (kJ)
P: pressão (kPa)
36
V: volume (m3)
1000[kJ]
HR = (11)
0,309[kWh]×nele
Onde:
HR: heat rate (kJ/kWh)
nele : rendimento elétrico do ciclo (-)
2.4.1.3 Condensador
É um trocador de calor no qual o vapor que sai da turbina é convertido ao seu estado
líquido, ao entrar em contato com o fluido de resfriamento que passa dentro dos tubos
(geralmente água). Os tubos do condensador devem ser resistentes à corrosão, sendo
constituídos de ligas a base de cobre, latão e aço inoxidável e disposto de forma
ondulada, para aumentar a superfície de contato e reduzir a velocidade do vapor
(LORA; ANDRADE, 2004) - Figura 9.
38
São elementos típicos nos sistemas de água de resfriamento de ciclo fechado e sua
função é diminuir a temperatura da água de circulação. Podem ser classificadas pelo
tipo de acionamento (mecânico ou natural), pelo sentido da movimentação dos fluxos
de ar e água (cruzado ou contracorrente) e pelo tipo predominante de transferência
de calor (úmido ou seco). Nas torres úmidas, o resfriamento é consequência da
evaporação de parte da água durante o contato com o ar (LORA; ANDRADE, 2004),
por isso também chamado de resfriamento evaporativo. A Figura 10 apresenta um
esquema do sistema de fornecimento de resfriamento de água.
39
A configuração em sistema aberto possui baixa eficiência, pois após passarem pela
turbina, os gases são resfriados e dispersados na atmosfera. Já no circuito fechado,
o fluido de trabalho permanece no sistema e o combustível é queimado fora, em um
trocador de calor. A vantagem do circuito fechado é utilizar alta pressão em todo o
sistema, o que reduz o tamanho da turbina, e a possibilidade de variação de potência
(ao variar a pressão de trabalho). A maior desvantagem é a necessidade de um
sistema de aquecimento entre o compressor e a turbina (NASCIMENTO et al., 2004).
Figura 12 - Fluxograma de uma turbina a gás ciclo Brayton movida a gás natural
As turbinas a gás (TG) em ciclo simples possuem partida rápida, sendo ideais para
atender a demanda em períodos de pico. Os componentes básicos de uma turbina a
gás são (Figura 13):
- turbina: conjunto de palhetas por onde passam os gases em expansão, fazendo com
que o eixo da turbina gire e, consequentemente, gire o eixo do gerador elétrico
(EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2016).
42
A máxima potência útil fornecida pela turbina é limitada pela temperatura máxima que
o material pode suportar e pela vida útil requerida. Os principais fatores que afetam o
desempenho da TG são a eficiência dos componentes e a temperatura de entrada na
turbina. Outro fator relevante é o tipo da câmara de combustão, podendo ser a pressão
constante ou a volume constante. Na teoria, a eficiência térmica a volume constante
é maior, porém as dificuldades mecânicas também aumentam, sendo necessárias
válvulas com poder de isolação elevado (NASCIMENTO et al., 2004).
As turbinas a gás industriais podem ser aeroderivativas ou heavy duty. Como o próprio
nome diz, as aeroderivativas são turbinas aeronáuticas que sofrem alterações para
trabalharem com combustível industrial. Basicamente são formadas por um gerador
de gás acoplado a uma turbina livre. São conhecidas pela eficiência, confiabilidade,
pelo tamanho reduzido e flexibilidade de manutenção. São usadas geralmente em
plataformas, potência de pico em termelétricas e propulsão naval. As heavy duty são
projetadas para aplicação industrial e conhecidas por sua robustez, flexibilidade no
uso de combustível, confiabilidade e baixo custo. São de eixo simples, um compressor
e uma câmara de combustão. De acordo com o porte, as turbinas industriais podem
ser divididas em pequeno porte - até 1 MW, médio porte - 1 a 15MW e grande porte –
acima de 15 MW (NASCIMENTO et al., 2004).
Os Motores a Combustão Interna (MCI) são máquinas térmicas nas quais a energia
térmica do combustível se transforma em energia mecânica no eixo. Os MCI
alternativos são subdivididos de acordo com sua ignição, podendo ser por centelha
(ciclo Otto) ou por compressão (ciclo Diesel). Na ignição por centelhamento, uma
mistura ideal ar/combustível é admitida na câmara de combustão e somente será
queimada após o centelhamento causado por uma vela de ignição. No motor ignitado
por compressão, o ar admitido é comprimido até uma determinada pressão, com esse
aumento de pressão há também a elevação da temperatura dentro do cilindro,
fazendo com que ocorra combustão espontânea do combustível quando esse for
injetado (TEIXEIRA; COBAS, 2004). Na figura 14, é mostrado um motor a combustão
da Wartisilla.
44
Os MCIs são máquinas eficientes em carga nominal e parcial, chegando até 50% de
eficiência, principalmente para pequenas capacidades. Na geração de energia
elétrica, podem ser usados para gerar até 50MW (ARRIETA; NASCIMENTO;
MAZURENKO, 2004). Também existem os MCIs híbridos, que utilizam sistemas de
ignição de centelhamento e de compressão, com o intuito de obter a melhor razão de
compressão, elevando a eficiência.
- Série: os gases de exaustão da turbina a gás são utilizados para aquecer uma
caldeira de recuperação, que gerará o vapor que será fornecido para a turbina a vapor.
- Paralelo: o combustível é usado para gerar calor para os dois ciclos. A maior
dificuldade desta configuração é a necessidade de combustível de alta qualidade.
Para que uma CR seja viável, os seguintes parâmetros devem ser estabelecidos:
pressão do gás de entrada; níveis de pressão e temperatura desejados; diferença
48
Pinch point 11 – 28 ºC
Devido a essas diferentes definições, diversas fontes energéticas podem ser usadas
para aderir ao modelo de geração distribuída, sendo as fontes renováveis
(fotovoltaica, eólica e biomassa) as mais incentivadas. No ramo das energias não
renováveis são comuns motogeradores e microturbinas a gás, cogeração a gás,
motores a diesel.
50
O autoprodutor é a pessoa física ou jurídica que recebe autorização para gerar energia
que será destinada exclusivamente ao seu próprio consumo (BRASIL, 1996) e que
pode, mediante autorização da ANEEL, comercializar o excedente (AGÊNCIA
NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2016c).
69kV; novos consumidores, com carga maior que 3.000 kW, em qualquer tensão;
conjunto de consumidores, independente de tensão ou carga, nas condições
previamente ajustadas com a concessionária local e qualquer consumidor que
demonstre não ter sido atendido pela concessionária dentro do prazo de 180 dias após
a solicitação. Poderá o PIE permutar blocos de energia economicamente equivalentes
para possibilitar o consumo em instalações industriais de sua propriedade (BRASIL,
1996).
p×n
f= (12)
𝟏𝟐𝟎
Onde:
f: frequência (Hz)
p: número de pólos (-)
n: velocidade de rotação do motor (rpm)
PT ×ηg
SN = (13)
FPN
Onde:
SN : Potência nominal do gerador (VA)
PT : Potência nominal da turbina (W)
ηg : Rendimento do gerador (-)
Com relação à potência nominal, o gerador pode ser conectado a um barramento por
meio de um transformador, que será responsável por compatibilizar a tensão. Esse é
o caso de centrais que são interligadas nas linhas de transmissão com tensões acima
de 13,8kV. O segundo caso é quando o gerador é acoplado diretamente no
barramento, com apenas um disjuntor, devendo ter a tensão de saída igual à do
barramento; esse caso é o das indústrias que fazem cogeração (LIMA, 2002).
<5 4.160
< 15 6.900
> 10 13.800
Fonte: Eletrobrás, 1982.
SN
IN = (14)
√3×UN
Cinv
TRC= (15)
B
Onde:
TRC: Tempo de Retorno de Capital (anos)
B: Balanço anual (R$)
Cinv: Custo de investimento (R$)
- Valor Presente Líquido (VPL): são as projeções de fluxo de caixa futuros trazidos ao
valor presente (GITMAN, 2001). É um método interessante para se comparar
alternativas mutuamente excludentes. Deve-se considerar apenas os aspectos que
diferenciam uma alternativa da outra, mantendo o período de análise o mesmo para
todas as alternativas. A alternativa que obtiver o maior valor de VPL, será a mais
atraente economicamente (MARTINS, 2004). Para o cálculo do VPL, são utilizadas as
equações 16 e 17:
56
( (1 + i ) t ) - 1
FVP = ×B (16)
((1+i)t)× i
Onde:
FVP : Fator de Valor Presente (-)
i : Taxa anual de juros (-)
t : tempo (anos)
B : Balanço anual (R$)
Cinv : custo do investimento (R$)
- Taxa Interna de Retorno (TIR): taxa de retorno necessária para igualar o valor do
custo de investimento com os respectivos fluxos de caixa futuros, ou seja, a taxa
necessária para igualar o fluxo de receita ao fluxo de custos. A TIR é muito utilizada
para a comparação entre investimentos dos tipos mais variados setores, propiciando
uma avaliação rápida e de fácil entendimento para o investidor (SOUZA; CLEMENTE,
2001),. Para o cálculo da TIR, é utilizada a equação 18:
B
0=Cinv + ∑N
t=1 (18)
(1+TIR)t
Onde:
3 ESTUDO DE CASO
Medidores ultrassônicos utilizam pulsos de ondas moduladas, que são emitidas dentro
da tubulação, no sentido da corrente e no sentido oposto à corrente de fluido. Esses
sinais são emitidos alternadamente e ocorre uma diferença no tempo de transmissão
através do fluido em função da corrente agir a favor do movimento de um sinal e contra
o movimento do outro. Essa diferença é proporcional à velocidade de escoamento.
Assim, esses sinais podem ser convertidos em medida de vazão.
A vazão de queima medida no intervalo exposto acima variou entre 73,74 Nm3/h e
115.280 Nm3/h, com média calculada pela equação 19.
∑ Vinst
Vmédia = = 1.335,84Nm3 /h (19)
n
Onde:
Vmédia : Vazão média no período aquisitivo (Nm3/h)
Vinst : Vazão instantânea (Nm3 /h)
n: Número de medições
Onde:
Vmas : Vazão mássica (kg/h)
Vmédia : Vazão média volumétrica (Nm3/h) – Eq. 19
𝜌: densidade (kg/m3) – Tabela 12
A cromatografia do gás queimado não foi realizada por não haver ponto de
amostragem adequado, porém a maior parcela do gás de queima é proveniente da
abertura da válvula de alívio do topo da torre desbutanizadora – PV-1237054B (Figura
21) e nesse ponto há uma análise de composição em linha, que foi a cromatografia
utilizada no decorrer deste trabalho.
Figura 22 - Curva de demanda ativa da UTG, no período AGO 2016 – MAR 2017,
UTG
A energia média consumida durante um mês pôde ser calculada pela equação 21.
Onde:
Econsumida : Energia consumida no mês (kWh)
Dmed: Demanda média (kW) – Tabela 13
O valor encontrado para a energia média consumida em um mês foi de 1,046 GWh.
Para simplificar os cálculos, foi escolhido o mês de fevereiro/2017 para uma análise
das tarifas aplicadas e dos gastos com energia da unidade de tratamento de gás,
sendo esse o último mês completo antes do início dessa análise. Esses valores são
representativos, pois não houve nenhuma mudança importante na curva de demanda
no período entre agosto/2016 e março/2017, conforme mostrado na Figura 22. Os
valores contratados pela UTG juntamente com a concessionária de energia, estão na
tabela 14. As tarifas aplicadas pela concessionária estão na tabela 15 e correspondem
ao tarifário azul. Os valores de demanda e energia encontrados através da curva de
demanda estão na tabela 16.
Uma característica que pôde ser observada pela Figura 23 é que a demanda da
unidade não varia significativamente durante o dia.
Tabela 17– Tarifas de Uso do Serviço de Distribuição, para o grupo A2 (88 a 138kV),
no período de FEV 2017, Espírito Santo
Preço por demanda
Tarifa Preço por consumo (R$/kWh)
(R$/kW)
30
Egerada = P×24h× 1000 (23)
Onde:
P: Potência nominal da tipologia (MW)
Egerada : Energia gerada em um mês (GWh)
Vmed : Vazão média de gás queimado (Nm3 /h) – Eq. 19
PCI: Poder Calorífico Inferior do gás (MJ/Nm3 ) – Tabela. 12
68
Tabela 18– Valores estimados de energia (kWh) e potência nominal (MW), por
tipologia de geração
Potência nominal (MW) – Eq. Energia gerada em 1 mês
Tipologia
22 (GWh) – Eq. 23
Central a vapor 15,75 11,34
Turbina a gás 13,16 9,48
Ciclo combinado 18,69 13,46
Motores a combustão
15,06 10,84
interna
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
A legislação brasileira permite que ocorra a venda de energia elétrica excedente, nas
seguintes modalidades (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2016c):
geração distribuída, produtor independente ou autoprodutor (mediante autorização
expressa da agência e interesse da concessionária ou permissionária).
Onde:
Eexc : Energia excedente em um mês (GWh)
Egerada : Energia gerada em um mês (GWh) - Tabela. 18
Econsumida : Energia consumida em um mês (GWh) – Eq. 21
69
Além disso, foi definido que a usina atuaria no Ambiente de Contratação Livre (ACL),
uma vez que no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) é necessária garantia do
fornecimento de energia na forma estabelecida pela ANEEL (CÂMARA DE
COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA, 2017a) e no ACL o contrato é feito
diretamente entre gerador e consumidor, sendo mais flexível.
Para determinar qual tipologia seria a mais viável economicamente, dentre as quatro
apresentadas, foi utilizado o critério do Valor Presente Líquido (VPL). Nesse método,
para avaliar alternativas mutuamente excludentes, faz-se necessário avaliar somente
o que diferencia essas alternativas. Sendo assim, foram desconsideradas as
seguintes características – uma vez que são iguais para todas as modalidades:
bandeiras tarifárias (foi considerada bandeira verde), sistema de transformação e
interligação na rede e vida útil (30 anos).
70
O primeiro passo foi calcular a economia anual com o não pagamento do consumo de
energia para a concessionária. Como foi possível observar na Figura 22, o consumo
da UTG não alterou significativamente ao longo dos meses e a curva diária é
praticamente constante (Figura 23), não há variação considerável de consumo e
demanda entre os períodos de ponta e fora da ponta, assim a energia consumida
nesses períodos pôde ser calculada por meio das equações 25 e 26 (considerando
um mês de 30 dias):
Onde:
Ec,p: energia consumida na ponta, em um mês (kWh)
Ec,fp: energia consumida fora da ponta, em um mês (kWh)
Pmédia: potência média de demanda (kW) – tabela. 13
Para o cálculo, foi utilizada a bandeira verde, a fim de representar o pior cenário de
retorno econômico dessa parcela. No período de 24 meses (abril/2015 e abril/2017),
a bandeira verde esteve vigente por 10 meses, representando 41,7 % do período
(AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, [s.d.]). Para realizar este cálculo,
utilizou-se a equação 27.
71
Onde:
TEmensal: Tarifa de energia mensal (R$)
Ep: Energia consumida mensalmente na ponta (R$) – tabela 16
R$kWh,p: Valor unitário do kWh na ponta (R$) – tabela 15
Efp: Energia consumida mensalmente fora da ponta (R$) – tabela 16
R$kWh,fp: Valor unitário do kWh fora da ponta (R$) – tabela 15
Onde:
V: Valor gerado anualmente por cada tipologia (R$)
Eexc: energia excedente em um mês (kWh) – tabela 19
R$kWh: Valor unitário do kWh = R$ 0,13078/kWh (CAVALIERE, 2017)
TUSDg: Valor unitário do kW = R$ 2,661/kW (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA
ELÉTRICA, 2017)
Pinj: Potência injetada na rede (kW) – tabela 19
Ciclo
Variável Central a vapor Turbina a gás MCI
Combinado
Receita mensal
venda excedente
1.347 1.104 1.624 1.282
em um mês (mil
R$)
Gasto mensal
com TUSDg (mil 38 31 46 37
R$)
Valor gerado em
um ano (mil R$) – 15.708 12.870 18.942 14.951
Eq. 28
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Para estimar os custos de investimento, O&M fixo e O&M variável do caso em estudo,
foram utilizados os valores presentes na tabela 10 (custos encontrados nas
bibliografias) e aplicados aos valores de potência e energia que estão na tabela 18.
Os cálculos estão nas equações 29, 30 e 31.
Onde:
Cinv : Custo de investimento (R$)
Ctab : Custo de investimento tabelado (US$/kW) - tabela 9
O&Mfixo : Custo fixo de operação e manutenção em um ano (R$)
O&Mvar : Custo variável de operação e manutenção em um ano (R$)
CUS$ : Cotação do dólar em Março⁄17 (R$) = R$3,13 (UOL ECONOMIA, [s.d.])
P: Potência nominal da unidade (kW) – tabela 18
O&Mfixo-tab : Custo fixo de operação e manutenção ( US$⁄(kW×ano) ) - tabela10
O&Mvar-tab : Custo variável de operação e manutenção (US$/kWh) - tabela 10
Egerada : Energia gerada em um mês (kWh) - tabela 18
Tabela 22 – Custo de investimento, O&M fixo anual e O&M variável anual, por
tipologia.
Ciclo
Custo Central a vapor Turbina a gás MCI
Combinado
Custo de
investimento (mil 79.510 46.298 58.392 65.553
R$) – Eq. 29
O&M fixo em um
ano (mil R$) – 538 306 864 775
Eq. 30
O&M variável em
um ano (mil R$) – 3.695 4.755 1.832 2.458
Eq. 31
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Os custos de combustíveis foram retirados do cálculo, uma vez que o gás utilizado
como combustível é queimado em tocha. Dessa forma, espera-se um aumento da
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taxa de retorno, em relação a outras plantas de geração termelétrica, uma vez que o
gasto com o combustível é um dos maiores custos da geração termelétrica
(TEIXEIRA; LORA, 2004). Caso fosse considerado o custo do combustível, na mesma
vazão de gás da tocha, esse custo não precisaria ser computado nessa etapa de
comparação entre as tipologias, uma vez que seria o mesmo para todas e, para o
cálculo de VPL, os custos que são comuns e iguais não são inseridos no cálculo.
Com esses dados das tabelas 21 e 22, foi possível calcular o balanço anual, que é a
subtração entre a entrada (economia com fatura de energia e venda de excedente de
energia) e saída (custos com O&M), no período de um ano.
Onde:
B: Balanço anual (R$)
Vecon: Valor economizado em um ano com o pagamento de consumo de energia (R$)
– tabela 20
V: Valor gerado em 1 ano com a venda de excedente de energia (R$) – tabela 21
O&Mfixo : Custo fixo de operação e manutenção em um ano (R$) – tabela 22
O&Mvar : Custo variável de operação e manutenção em um ano (R$) – tabela 22
Os resultados do cálculo de balanço anual, para cada uma das tipologias, estão na
tabela 23.
A etapa seguinte foi especificar apenas a turbina a gás e a partir dela, especificar os
outros equipamentos que constituem uma usina de ciclo combinado. Para essa etapa,
76
foi utilizado o Poder Calorífico Inferior do gás de tocha (tabela 12) e o heat rate
fornecido pelos fabricantes (tabela 24), a fim de determinar a potência real que seria
fornecida pela turbina (Eq. 22). Para essa pesquisa, foram utilizadas tabelas
internacionais que condensam informações básicas sobre os fabricantes de turbina
em todo o mundo (ANSALDO ENERGIA, 2013).
Porém, ao realizar a pesquisa dos dados técnicos dessas turbinas, observou-se que
elas apresentam limitações quanto à qualidade de combustível, podendo operar
apenas com gás natural (SIEMENS) ou com gás natural e óleo destilado (HITACHI) e
o gás que é queimado na tocha, não atende a essa especificação (SIEMENS AG,
2009;HITACHI, 2010).
Foi iniciada a busca por fabricantes de motores a combustão interna que utilizem gás
como combustível. O primeiro critério utilizado foi a flexibilidade de combustível, uma
vez que o gás a ser queimado tem propriedades distintas do gás natural. Os
77
Diante de mais esse entrave tecnológico, foi iniciada a pesquisa das centrais a vapor,
que foi a quarta e última possibilidade para utilização do gás queimado com a
finalidade de gerar energia. Na análise de viabilidade inicial foi encontrado um VPL
negativo, o que significa a inviabilidade da tipologia.
O primeiro equipamento a ser definido foi a caldeira de vapor, pois é nela onde ocorre
a queima do combustível. A operação da caldeira é bem mais flexível no que se refere
à qualidade do combustível, o que a torna propícia para o projeto em estudo. Foram
pesquisados os fabricantes de caldeiras que atuam no mercado brasileiro e avaliadas
as especificações técnicas, sendo eles Babcock & Wilcox, Sathel e Zanini. Os valores
encontrados na literatura das entalpias e do rendimento da caldeira estão na tabela
26.
Com os dados da tabela 28, foi possível especificar a potência estimada a ser gerada
pela turbina, o resultado está na tabela 29.
O próximo equipamento a ser a definido foi o gerador, sendo ele acoplado no eixo da
turbina acima. Dentre as opções de mercado, os fabricantes encontrados foram a
General Eletric (GE) e WEG. Considerando um fator de potência igual a 0,85 indutivo
(os valores típicos encontrados na literatura foram de 0,8 – 0,9), foi possível calcular
a potência do gerador por meio da equação 13. O valor de potência foi de
SN =16,4 MVA. A potência mínima dos geradores da GE encontrados foi de 70 MVA,
sendo inviável tecnicamente para este projeto (GENERAL ELETRIC, [s.d.]). Dentre os
geradores da WEG, os que operam nessa faixa de potência são o 2-Pole Turbine
generation e o ST40 e suas especificações estão na tabela 31.
Fonte: WEG, acesso em 2 set. 2017; Machinery, acesso em: 2 set. 2017; Eletric Machinery Company
llc, acesso em 24 set. 2017.
80
Definiu-se que a tensão de saída do gerador seria de 13,8 kV, após ser consultada a
tabela 7, de posse do valor da potência nominal do gerador, e pelo fato de a
subestação da unidade estar também nessa classe de tensão.
Miranga 280
Estação Carmo 250
Com relação ao tempo de operação na falta de gás de tocha, foi decidido especificar
um vaso capaz de suprir a usina por 12 horas. Esse tempo foi obtido levando em
consideração que as paradas de manutenção geralmente duram apenas um turno (12
horas) e que as paradas emergenciais geralmente demoram menos de um turno.
Para o cálculo de autonomia, o primeiro passo foi calcular o volume (nas CNTP) de
gás para alimentar a usina por 12 horas (equação 33), considerando o gás como ideal
e que a que a pressão do gás no interior da parte de combustão da caldeira é
aproximadamente a atmosférica (LORA, 2004). No segundo passo, utilizou-se uma
manipulação da lei dos gases ideais (ÇENGEL; BOLES, 2013), conforme a equação
34:
Vgás ×Patm
Vvaso = (34)
Pvaso
Onde:
Vgás: Volume de gás a ser acumulado nas CNTP (m3)
Vmédia: Vazão volumétrica média do gás de tocha (Nm3/h) – Eq. 19
Vvaso: Volume de gás a ser acumulado na pressão do sistema de gás combustível (m3)
Patm: Pressão atmosférica = 101,325 kPa
Pvaso: Pressão do vaso de gás combustível (kPa)
82
O gás de queima será desviado para a usina antes do vaso separador de líquido da
tocha (Figura 1), pois não serão feitas modificações no sistema de tocha a fim de que
em paradas da usina térmica, o sistema de tocha permaneça disponível e operando.
Assim, é necessária a instalação de um vaso separador de líquido à montante do
compressor. Esse vaso tem a função de não permitir que líquidos não adentrem ao
compressor, danificando o equipamento.
k-1
k P2 k
PCOMP =P1 ×Q1 × k-1 [(P ) -1] (35)
1
Onde:
Pcomp: Potência demanda pelo compressor (kW)
P1: Pressão na sucção (kPa)
P2: Pressão na descarga (kPa)
Q1: Vazão de gás na sucção (m3/s)
k: coeficiente em um processo isentrópico1
1Processo isentrópico: onde não há troca de calor com o ambiente e é reversível. Para cálculos
aproximados, usa-se a compressão isentrópica como referência. (NASCIMENTO et al., 2004).
85
Onde:
k𝑠 : k da amostra (-)
ki : k do componente (-)
xi : fração volumétrica (-)
Pcomp
Pm = (37)
η
Onde:
Pm: potência do motor (kW)
Pcomp: potência do compressor (kW)
η: rendimento do motor (-)
P
W
Pcv = 0,736 (38)
WP
Php = 0,746 (39)
Onde:
Pcv: potência (cv)
Php: potência (hp)
Pw: potência (kW)
Com os dados de potência (106 kW/144 cv/142 hp) e tensão (alguma existente na
UTG), foram pesquisados com os fabricantes que vendem motores no Brasil (WE e
ABB) os motores disponíveis no mercado que operam em atmosfera com presença
de gases inflamáveis, uma vez que o motor estará acoplado ao eixo de um compressor
de gás.
P
i= 3Vm (40)
87
Onde:
V: tensão de alimentação
Como pôde ser visto, a corrente é inversamente proporcional à tensão e, por isso, foi
usado o valor de 440V, que foi a maior tensão encontrada na etapa de seleção dos
motores para reduzir a bitola dos cabos. Foram feitos os cálculos para o método de
referência D, por contemplar cabos em canaleta enterrada (característica já existente
na UTG). Pelo critério de capacidade de corrente, a seção mínima dos cabos foi de
185 mm2 para isolação de PVC e de 150mm2 para isolação EPR ou XLPE, sendo
ambos os condutores de cobre.
Potência (MVA) 20 - 25
Os custos que foram analisados nessa etapa são: custos de investimento e custos de
geração. A tabela 41 apresenta a composição dos custos típicos de investimento de
uma central a vapor.
90
Foi realizada uma consulta às tabelas internacionais mais recentes sobre os custos
de investimento detalhados e os dados levantados estão na tabela 42.
Onde:
Cvapor: Custo para a usina em estudo (mil R$)
Ctabela: Custos típicos da literatura (mil US$/MW) – tabela 42
Pvapor: Potência da usina a vapor (MW) – tabela 29
dólar2017: cotação média do dólar em março de 2017 (R$) – R$ 3,13 (UOL
ECONOMIA, [s.d.]).
Indiretos 2.083
TOTAL 52.488
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Nota: Real 2017.
Optou-se por utilizar o cabo de 150mm2 XLPE para a alimentação do motor, devido
ao seu menor custo com relação ao 185 mm 2 PVC. O custo total com cabeamento
pôde ser calculado pela equação 42 (foi efetuado o cálculo para o motor e gerador
sendo ligados a 4 fios, ou seja, com o custo mais elevado).
Onde:
Ccabos: Custo total com cabeamento (R$)
Cger: Custo do cabeamento do gerador (US$/m)
Dger-sub: Distância aproximada entre gerador e subestação principal (m)
93
Fundação 214
Estruturas de aço 138
Obras civis 110
Isolamento 46
Instrumentação 154
Elétrica 257
Tubulações 1.240
Pintura 37
Diversos 99
Cabeamento do gerador 225
O valor de custo total de investimento atualizado para o caso em estudo pôde ser
encontrado de acordo com a equação 43 e os resultados estão na tabela 46:
Onde:
Cinv: Custo de investimento total (R$)
94
Motocompressor 1.163
Vasos de pressão 675
Tubulação 3.407
Elétrica 3.146
Cabeamento do gerador 225
Engenharia 2.687
Obras civis 5.402
Contingência de projetos 10.498
R$ P
motor
Co&m =0,296[ hp×h ]× 0,746 ×8640 [h] (44)
[kW]
95
Onde:
Co&m: Custo de O&M
Pmotor: Potência do motor do compressor (kW)
Onde:
Ecos,UTG: energia consumida mensalmente pelo compressor da interligação com o gás
de tocha (kWh)
Pcomp: Potência consumida pelo motor do compressor = 106 kW – Eq. 37
Eexc,atual: energia excedente mensal atualizada para cálculo do valor gerado (kWh)
Eger: energia gerada mensalmente pela usina a vapor (kWh)
Com os dados da tabela 47, foi possível obter o valor atualizado com a venda de
energia excedente (tabela 48).
96
Figura 26 – Entrada, saídas e balanço anual (mil R$), para a usina térmica a vapor
Onde:
Ccomb : Custo anual com combustível (R$)
Cgas : Custo unitário do gás (US$/kJ)
HR: Heat Rate da usina a vapor (kJ/kWh) – Tabela 29
Eger : Energia gerada em um ano (kWh) – Tabela 47
dólar2017 : Cotação do dólar em março⁄17 = R$ 3,13 (UOL ECONOMIA, [s.d.])
Foi realizado o cálculo de custo de combustível e balanço anual para os dois casos
extremos de custo de combustível (US$ 8/MMBtu e US$ 12/MMBtu). Os novos
2 1 MMBtu = 1.055.055,85 kJ
99
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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