O Grego Bíblico

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O Grego Bíblico

Quando o grego entrou para a história do povo de Deus?

O idioma original falado pelo povo de Deus é o hebraico. As Escrituras Sagradas foram escritas
originalmente neste idioma. Porém, depois de instalados em sua terra prometida desde o século 15 AEC, os
israelitas sofrem com uma série de cativeiros e deportações ao longo dos séculos 8 a 5. Devido sua
desobediência à palavra de Deus, eles foram deportados de sua terra prometida na Palestina e levados
cativos para regiões da Assíria, Pérsia, Babilônia e até no Egito, onde chegamos ao nosso objeto de estudo.

Por volta do ano 285 AEC, vários judeus faziam parte da subcultura egípcia. Neste local, mais
especificamente em Alexandria, a língua padrão era o grego. Este foi muito difundido por muitas partes do
oriente médio no século anterior ao citado acima com as conquistas de Alexandre, o Grande.

Lá havia uma biblioteca onde intencionava-se reunir escritos de várias partes do mundo, era a famosa
Biblioteca de Alexandria. Veja a região pintada de azul no mapa abaixo.
Por volta dessa época, se acendeu o desejo de possuir a Lei dos judeus (a Torá) nessa biblioteca, no idioma
local, o grego. Deste modo surge a primeira tradução das Escrituras Hebraicas para o grego, que hoje
conhecemos como Septuaginta.

A Septuaginta foi redigida no início da dinastia ptolemaica, isto é, durante o reinado de Ptolomeu II
Filadelfo, que reinou entre 309 - 246 AEC. Como é de se notar, seu reinado é posterior às conquistas de
Alexandre, o Grande (356 - 323) que, como já dissemos, difundiu a cultura e língua grega por muitas partes
do mundo oriental (as regiões verde, laranja, amarelo e azul no mapa acima).

Demétrio de Faleros, responsável pela Biblioteca em Alexandria, perguntou ao rei Ptolomeu do Egito se
ele conseguia a tradução grega da Lei judaica para a biblioteca. Para realizar isso, o rei liberou centenas de
escravos judeus que tinha em seu domínio, e os enviou com presentes generosos até Eleazar, sumo
sacerdote de Jerusalém, e assim fez seu pedido. O rei desejava que fossem selecionados 6 sábios de cada
tribo, somando total de 72. Eles deveriam ir à Alexandria para trabalhar na tradução.

Os sábios foram enviados a uma ilha onde haviam acessórios preparados para o seu trabalho. Em 72 dias
eles traduziram toda a Torá (os 5 primeiros livros da Bíblia, também conhecidos como Pentateuco).
Eles foram tão incentivados que no final das contas todos concordaram com o trabalho um do outro. Este
trabalho hoje entre nós é conhecido como Septuaginta, um vocábulo latino que significa “setenta”.

Alguns estudiosos estimam que só a Torá tenha sido traduzida neste primeiro empreendimento, e que os
demais escritos levaram mais tempo e foram traduzidos por várias pessoas. Por isso há quem acredite que a
Septuaginta só foi concluída próximo do século 1 EC.

O documento mais antigo que relata tanto essa história da tradução da Septuaginta como a biblioteca de
Alexandria é a carta de Aristeias a seu irmão Filócrates. O historiador judeu Flávio Josefo, que viveu na
época dos apóstolos, relata essa carta e a tradução da Bíblia hebraica para o grego em sua obra
Antiguidades Judaicas.

Embora os relatos desse documento sejam aceitos como verdadeiros por muitos pesquisadores modernos,
outros porém o consideram uma lenda. Estes pensam que a carta foi escrita posteriormente à época de seus
eventos com o intuito de estabelecer a superioridade do texto grego da Septuaginta sobre qualquer outra
versão da Bíblia hebraica.

Não obstante a isso, um relato de Irineu (130-202 EC), registrado pelo historiador Eusébio de Cesareia no
livro História Eclesiástica, dá indícios de que essa história é verdadeira. O relato diz:
"Pois antes de os romanos estabelecerem seu império, enquanto os macedônios ainda tinham posse
da Ásia, Ptolomeu, filho de Lago, tendo a ambição de adornar a biblioteca estabelecida por ele em
Alexandria com as obras de todos os homens, todas quantas fossem dignas de estudo, requisitou dos
habitantes de Jerusalém que traduzissem suas obras para o grego.
Pelo que, por estarem ainda sujeitos aos macedônios, enviaram a Ptolomeu setenta de seus anciãos
mais capacitados nas Escrituras e em ambas as línguas, e assim a Providência cumpriu seu propósito.
Mas visto que Ptolomeu desejava que o fizessem separadamente e temendo de comum acordo que
escondessem a verdade das Escrituras na tradução, separou-os uns dos outros e ordenou que todos
escrevessem a mesma tradução. E isso fez em todos os livros.
Reunindo, portanto, no mesmo lugar, na presença de Ptolomeu, e cada um comparando sua versão,
Deus foi glorificado e as Escrituras foram reconhecidas como verdadeiramente divinas, uma vez que
todos eles traduziram da mesma maneira, com as mesmas expressões, e as mesmas palavras, do
início ao fim.
De modo que os gentios presentes souberam que as Escrituras foram traduzidas por uma inspiração
divina."
(História Eclesiástica pág. 175, CPAD)

A prova, porém, de que a Septuaginta foi escrita realmente por eruditos judeus, falantes da língua hebraica, é
o fato de que o Nome de Deus ainda era conservado em caracteres paleo-hebraicos, ao menos nas
primeiras edições da mesma, conforme achados dos manuscritos do Mar Morto. Veja a indicação da seta na
imagem abaixo.
A Septuaginta e o Novo Testamento em grego.
Citações da Torá e dos profetas ao longo de todo o texto do Novo Testamento bíblico em grego são extraídos
da Septuaginta, a tradução grega das Escrituras Hebraicas. Vejamos, portanto, alguns exemplos.

O texto de Isaías 40:13 na Bíblia hebraica, por exemplo, diz o seguinte:

‫ עֲ צָתֹו‬que homem ‫ ו ְאִ יׁש‬de Yahweh ‫ י ְהו ָה‬o sopro/vento ַ‫ אֶ ת רּוח‬direcionou ‫ תִ ּכֵן‬quem ‫מִ י‬
lhe ensinou ‫ יֹודִ יעֶ ּנּו‬conselho

Na Septuaginta, porém, temos, além de uma tradução, uma leve paráfrase do texto, como se segue:

τις quem εγνω conheceu νουν mente κυριου Senhor και e τις quem αυτου ele
mesmo συμβουλος conselheiro εγενετο foi ος que συμβιβα instruiu αυτον a ele

Isaías 40:13, portanto, é uma citação da Septuaginta no Novo Testamento


grego, e não do texto hebraico.

O texto grego de Isaías 40:13 contido na Septuaginta foi reproduzido ao menos duas vezes nos escritos
gregos do NT em vez do texto hebraico. Este texto foi, portanto, reproduzido nas traduções, como se segue:

“Pois quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?” (Romanos 11:34 NAA)

“Pois quem conheceu a mente do Senhor, para que o possa instruir?” (1 Coríntios 2:16a NAA)

Salmo 8:3 também é uma citação da Septuaginta em Mateus 21:16.


“Da boca dos bebês e crianças de peito recebes perfeito louvor, por causa dos teus adversários, para
que possas derrubar o inimigo e o vingador." (Salmo 8:2 Traduzido da Septuaginta grega)

“Tu ordenaste força da boca das crianças e dos que mamam, por causa dos teus inimigos, para fazer
calar ao inimigo e ao vingador.” (Salmos 8:2 NAA - traduzido do texto hebraico)

— Você está ouvindo o que estão dizendo? Jesus respondeu: — Sim! Vocês nunca leram: “Da boca
de pequeninos e crianças de peito tiraste o perfeito louvor”? (Mateus 21:16 NAA - aqui já citada a
Septuaginta)

Salmo 14:3 é uma citação da Septuaginta em Romanos 3:12-18.

Tradução do grego:

2 O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum deles que
entendesse ou buscasse a Deus.
3 Todos se afastaram do caminho, tornaram-se de serventia alguma; não há ninguém que faça o bem,
nem um sequer. A sua garganta é um sepulcro aberto. com as suas línguas tratam enganosamente.
Veneno de víbora está nos seus lábios e a sua boca está cheia de maldição e de amargura. São os
seus pés ligeiros para derramar sangue, e em seus caminhos há destruição e miséria. O caminho da
paz, entretanto, não conheceram; não há temor de Deus diante de seus olhos.
4 Não saberão isto todos os que praticam a iniquidade, os que comem o meu povo como se
estivessem a comer pão? Todavia, eles não invocam ao Senhor. (Salmo 14:2-3 Septuaginta)

O trecho destacado acima está em falta no texto hebraico massorético que normalmente se usa (datado dos
séculos 6 a 10 EC). Vejamos a tradução hebraica do Salmo em questão:

“O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse
entendimento e buscasse a Deus.
Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um.
Não terão conhecimento os que praticam a iniqüidade, os quais comem o meu povo, como se
comessem pão, e não invocam ao Senhor?” (Salmos 14:2-4 NAA)

Citação do Salmo no NT:

“Todos se desviaram e juntamente se tornaram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um
sequer.
A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua enganam, veneno de víbora está nos seus lábios.
A boca, eles a têm cheia de maldição e amargura;
os seus pés são velozes para derramar sangue.
Nos seus caminhos, há destruição e miséria;
eles não conhecem o caminho da paz.
Não há temor de Deus diante de seus olhos.” (Romanos 3:12-18 NAA)

Alguns destes trechos supostamente em falta no texto padrão hebraico do Salmo 14:3, encontram-se no
Salmo 10:7, Provérbios 1:16 e Isaías 59:7-8.

Isso não quer dizer, porém, que o trecho adicional da Septuaginta grega seja uma adição feita diretamente
nela. Já que os 72 judeus foram chamados para traduzir as Escrituras Hebraicas para o grego, então eles
certamente tinham o texto hebraico em mãos quando traduziram, e naquele texto que eles usavam constava
o trecho que hoje está em falta no texto hebraico massorético que temos. Quem sabe este trecho se perdeu
com a destruição de Jerusalém no ano 70 EC, onde muitos manuscritos devem ter sido destruídos no templo
e nas sinagogas das terras de Judá também.

Mateus 1:23 é uma citação de Isaías 7:14 da Septuaginta grega, e não do


texto hebraico.

O texto hebraico diz “uma moça/jovem (‫ עלמה‬- ̀almah) dará à luz um filho”, enquanto em lugar de “moça” o
texto grego diz diretamente “virgem” (παρθενος - parthenos).

"Eis pois que o Eterno, Ele mesmo, vos dará um sinal: eis que a moça grávida dará à luz um filho e o
chamará Imanuel ('Deus está conosco')." (Is 7:14, Tanah Completo, Hebraico-Português)

“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel.”
(“Emanuel” significa: “Deus conosco”.)
(Mateus 1:23 NAA - traduzido do NT grego)

Outras curiosidades.
O livro de Jeremias da Septuaginta é menor do que o livro no texto hebraico que hoje conhecemos, o texto
massorético. Então estima-se que a Septuaginta teve como base um texto hebraico mais antigo do que o
atual usado por nós. O livro de Jeremias ganhou conteúdo extra no atual texto hebraico porque tanto ele
quanto os demais livros passavam em certos momentos por uma evolução literária.

Ou seja, os livros da Bíblia não nasceram já prontos do jeito que temos hoje, mas antes, com o passar do
tempo, o conteúdo foi sendo compilado e revisado até que se chegasse à sua forma final. Como o texto
massorético é datado dos séculos 6 a 10 EC, então outros conteúdos devem ter sido revisados e compilados
a este livro em específico. Assim também acontece com alguns outros livros. A Bíblia de Jerusalém tem
muitos comentários e pesquisas a respeito da redação e transmissão do texto bíblico.

Nas descobertas dos manuscritos do Mar Morto foram encontrados manuscritos em hebraico que comprovam
o texto que foi usado de base para tradução da Septuaginta. Ou seja, alguns trechos do texto grego da
Septuaginta estão mais próximos deste texto hebraico encontrado em 1947, em Qumran, do que o próprio
texto hebraico usado atualmente por nós. Os textos encontrados em Qumran foram redigidos por volta dos
séculos 3 AEC e 1 EC. Alguns fragmentos do Jeremias, por exemplo, eram mais curtos e mais próximos ao
texto da Septuaginta do que do texto massorético.

Há cerca de 300 menções nos escritos gregos do NT que são da Septuaginta.

“Cristo” na Septuaginta.

A palavra grega "christos" (χριστος), aportuguesada como “cristo”, que significa "ungido", por exemplo, já
existia no texto grego da Septuaginta antes mesmo do Senhor vir ao mundo, e aparece em Levítico 4:5, por
exemplo. De modo que “Cristo” não é um sobrenome do Senhor, nem um nome composto, como muitos
imaginam, quando na verdade o termo correto seria “Jesus, o Ungido”. O adjetivo, no entanto, passou a ser
um sobrenome depois da tradução para o latim, que em vez de traduzir o termo grego “christos” para o termo
latino “unctus” (ungido) o “substantivou”, e por isso hoje se parece com um sobrenome na língua portuguesa e
em outros idiomas que vieram do latim. Veja “christos” (ungido) em Levítico 4:5 na Septuaginta, por exemplo:

καὶ λαβὼν ὁ ἱερεὺς ὁ χριστὸς (christos) ὁ τετελειωμένος τὰς χεῖρας ἀπὸ τοῦ αἵματος τοῦ μόσχου καὶ
εἰσοίσει αὐτὸ ἐπὶ τὴν σκηνὴν τοῦ μαρτυρίου.

Então o sacerdote ungido pegará um pouco do sangue do novilho e o trará à tenda do encontro; (NAA)

Este termo aparece cerca de 40 vezes no texto da Septuaginta.

“Igreja” na Septuaginta.

A palavra grega "ekklesia", geralmente traduzida por “igreja” na grande maioria das vezes que aparece no
Novo Testamento bíblico em português, mas que na verdade significa “congregação” ou "assembléia", foi
construída a partir de duas palavras gregas. Essas palavras são “ek” (de dentro de, de, por, fora de) e “kaleo”
(chamar). Sendo assim o significado direto que se dá a isso é “chamados para fora”. Este termo já era usado
pelos gregos para se referir a reunião de cidadãos chamados para fora de seus lares para algum lugar
público, ou seja, uma assembleia. O intuito era debater alguma questão pública (também). Fonte: Strong-PT
Dicionários BDB-Thayer-TVM.

Ekklesia aparece cerca de 73 vezes no texto da Septuaginta, mais uma vez, ainda antes do Senhor vir ao
mundo, portanto não é uma palavra criada no NT bíblico.

Vejamos o texto de 1 Reis 8:55 na Septuaginta, por exemplo:

και εστη και ευλογησεν πασαν εκκλησιαν (ekklesian) ισραηλ φωνη μεγαλη λεγων

Ele se pôs em pé e abençoou toda a congregação de Israel em alta voz, dizendo: (NAA)

No texto grego, as palavras do mártir Estêvão são traduzidas por “ekklesia” em Atos 7:38 para se referir à
congregação dos israelitas que estava com Moisés no deserto.

"Οὗτός ἐστιν ὁ γενόμενος ἐν τῇ ἐκκλησίᾳ (ekklesia) ἐν τῇ ἐρήμῳ, μετὰ τοῦ ἀγγέλου τοῦ λαλοῦντος αὐτῷ
ἐν τῷ Ὄρει Σινᾶ καὶ τῶν πατέρων ἡμῶν, ὃς ἐδέξατο λόγια ζῶντα δοῦναι ἡμῖν·" (NT Família 35 Πραξ
7:38)

“É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e
com os nossos pais. Foi ele quem recebeu palavras vivas para nos transmitir.”
O Novo Testamento em grego.
Os manuscritos em grego existentes do novo testamento são cerca de 5600. Isto mostra como o texto grego
foi bastante difundido na Ásia menor (atual Turquia), na Antiga Macedônia, Grécia e por fim grande parte do
continente europeu. Ao chegar nas américas já tínhamos os recursos de impressões e os textos compilados..
Veja a área “caramelada” no mapa abaixo.

De todos estes manuscritos, os mais antigos são datados próximos ao período medieval (entre os séculos 5
e 15), ou seja, datam do século 4 em diante.
São pelo menos 2 os principais grupos de manuscritos estudados pelos especialistas e linguistas: os
manuscritos bizantinos e os alexandrinos. O primeiro grupo foi muito usado e difundido pelas regiões aos
arredores do Mar Mediterrâneo, Turquia, Itália, norte de Israel (atual Jordânia) e outras. O segundo grupo é de
origem de Alexandria, no Egito.
Em destaque deste segundo grupo estão os códices Vaticanus e Sinaiticus, os principais usados na tradução
do NT das Bíblias modernas (NVI, NVT, NAA, ARA, TB, KJA, etc.)
Com o passar do tempo o texto do NT encontrado nestes manuscritos foi sendo compilado (unificado) em um
volume só, até que hoje em dia nós temos pelo menos 4 principais compilações do texto grego do Novo
Testamento:
1. Textus Receptus, a primeira, criada em 1517 por Erasmo de Roterdã que reuniu praticamente tudo
que se conhece dos manuscritos.
2. Texto majoritário. Esta compilação reúne somente os textos que aparecem na maioria dos
manuscritos. Com isso alguns trechos até muito conhecidos ficaram de fora por não aparecerem em
um número maior de manuscritos, como uma parte do diálogo do Senhor com Paulo em Atos 9.
Compare na NVI e na ACF, por exemplo.
3. Nestle Aland 1904. Esta é a compilação de preferência dos tradutores modernos, pois ela geralmente
traz o texto que consta nos manuscritos mais antigos, julgando eles serem este o mais próximo do que
o texto do NT verdadeiramente é. Abaixo estão as fotos dos dois principais, mencionados acima (os
alexandrinos).
4. Família 35. Uma compilação mais recente produzida pelo PhD Wilbur Norman Pickering. Segundo ele,
essa é a melhor linha de transmissão dos manuscritos gregos, a mais coesa e completa. Ele acredita
ser essa a exata redação original do Novo Testamento grego.

Uma minoria de fragmentos de papiros é de um período anterior, que são os nomeados P52, P90 e P104.
Estes três fragmentos de manuscritos em grego datam do século 2 EC e contém trechos dos evangelhos.
A importância da língua grega nos tempos do Novo
Testamento bíblico.
O grego bíblico, e nomeadamente o grego do Novo Testamento, não é apenas uma língua exclusiva da
Sagrada Escritura; ela é antes uma língua de génio popular, uma língua viva durante cerca de dez séculos.
Com as conquistas de Alexandre, o Grande no século 4 AEC, a cultura e língua grega se tornaram populares
por quase todo oriente médio e até no sul da atual Europa.

O grego bíblico (koiné), era a linguagem das relações pessoais, da conversação familiar, compreendida por
todos e portanto ideal para nela se escreverem livros que deviam ser, pelo fim a que se destinavam,
inteiramente populares.

O grego neotestamentário é também uma língua literária. Nela se escreveram, além dos Livros Sagrados,
contratos comerciais, inscrições religiosas e profanas, fórmulas de magia, cartas particulares, etc.

Dela se serviram os historiadores Políbio (203 - 120 AEC), Dionísio de Halicarnasso (séc. 1 AEC), Estrabão
(63 - 23 AEC), Filo de Alexandria (20 AEC - 50 EC), Flávio Josefo (37 - 100 EC), Plutarco (46 - 120 EC), os
pais da Igreja, etc.

Haviam alguns dialetos diferentes da língua grega que contribuíram para escrever algumas palavras no Novo
Testamento bíblico. Vejamos alguns:

São jônicos (uma das quatro principais tribos gregas antigas) os termos:
● εκτρωμα - ektroma (aborto, feto abortivo, nascido fora de tempo), 1 Cor. 15:8;
● ἀπαρτισμός - apartismos (conclusão), Lc 14:28;

e as formas:
● οστεα - ostea (ossos), Lc. 24:39;
● οστεων - osteon (ossos), Heb. 11:22;
● αφεωνται - apheontai (enviar para outro lugar, mandar ir embora ou partir, etc.), Lc 5:20:

Dóricos:
● πιαζω -piazō (comprimir com as mãos), At. 3:7;
● αμφιαζω - amphiazo (vestir), Lc. 12:28;

Macedônios:
● ῥύμη - rume (rua estreita, beco), Mt 6:2; Lc. 14:21;
● κράββατος - krabbatos (leito pobre), Mc. 2,4, 12; 6:55; Jo. 5:8;

Fenícios:
● βυσσος, bussos (linho fino), Lc 16:19: Ap 18:12;
● ἀῤῥαβών - arrhabon (sinal, penhor), 2 Cor. 1:22; 5:5;

Persas:
● ἀγγαρεύω - aggareuo (requisitar), Mt. 27:32;
● μαγοι - magoi (magos), Mt 2:1;
● γαζα - gaza (tesouro público), At 8.27;
● παράδεισος - paradeisos (paraíso), Lc 23:43.

Não obstante aos termos emprestados de outros dialetos/idiomas, o hebraico e o aramaico foram os que mais
influenciaram na redação do Novo Testamento bíblico. E não era de ser para menos, pois estes idiomas eram
falados naturalmente pelo povo judeu, de onde veio nosso Senhor, as Escrituras e nossa salvação (vide Jo
4:22; Rom. 9:4-5).

Mesmo os que tinham nascido fora da Palestina, como Paulo e Lucas, tiveram uma cultura hebraica.

Acrescente a isso, ainda, que o arameu palestinense (ou aramaico galileu) foi a língua do Senhor. Foi neste
idioma que ele expôs sua mensagem. A versão grega do evangelho de Marcos foi o que mais conservou
expressões do idioma original falado pelo Senhor, por exemplo. Mas quase todos os outros escritos
neotestamentários também o tem.

Alguns exemplos são:

- Maranata:
- 1 Cor. 16:22;
- Abba
- Mc 14:36
- Rm 8.15;
- Gl 4.6.
- Amén
- (Mat. 6:13; Rom. 1:25; 9:5; 11:36; 15:33; 16:24, 27; 1 Cor. 14.16; 2Co 1.20; Gál. 1:5; 6:18; Ef 3:21;
Fil. 4:20; 1 Tim. 1:17; 6:16; 2 Tim. 4:18; Heb. 13:21; 1 Pe 4:11; 5:11; 1 Jo 3:11, 18, 23; 4:7; 2 Jo 1:5; Jd 1:25;
Rev. 1:6, 7; 3:14; 5:14; 7:12; 19:4; 22:20; cf. a origem da palavra em Deut. 27:15, 16).
- Aleluia (Halellu-Yah), isto é, “Louvai a Yahweh”.
- Apo. 19.1, 3, 4, 6.
- Hosana
- Mat. 21.9, 15;
- Mar. 11.9,10;
- Jo 12:13.
- "Eloi, Eloi, lama, sabactani".
- Mar. 15:34;
- Efatá
- Mar. 7:34.
- Talita cumi
- Mar. 5:41.
- Raboni
- João 20:16.
- Geena (Mat. 5:22, 29, 30; 10:28; 18:9; 23:15,33; Mar. 9:45,47; Luc. 12:5; Tg 3:6). Erroneamente traduzido
por “inferno” nestes trechos citados.
A expressão geena é encontrada 12 vezes no texto original grego do NT (a Tradução Brasileira os
conservou, bem como a Bíblia de Jerusalém), e geralmente é traduzida por "inferno". No entanto, seus
significados são completamente diferentes. "Geena" é proveniente do hebraico "gueyhinnom", isto é, vale de
Hinom.
Este vale se localizava (e ainda se localiza) ao sul de Jerusalém. Lá era queimado o lixo da cidade com
enxofre e fogo. Além disso, havia vários sepulcros no local. Como era colocado fogo ali constantemente e os
vermes comiam o que não era alcançado pelo fogo, além dos cadáveres, ele tornou-se uma referência à
destruição final dos ímpios.
O Mestre por várias vezes usa este termo se dirigindo aos fariseus com o intuito de dizer que eles não
herdariam a ressurreição da vida eterna, o que era a esperança deles (vide Atos 23:6-8).

- O apelido "Barnabé" também é de origem aramaica, vide Atos 4:36.


- A expressão “ raka”: Mat 5:22 é de origem aramaica.
- Simão Bar-Jonas, nome cuja origem também é aramaica (Simão, filho de Yoná).
- Mateus 16:17.
- Gábata.
- João 19:13.
- Rabi, rabi
- Mat. 23:7.

O grego e o império romano.


É certo que os romanos reduziram a Grécia a uma província romana sob o nome de Acaia (cf. At 18:12; Rom.
15:26), e apoderaram-se do Egito e dos países helenizados da Ásia Menor (cf. At 2:9; 6:9; 16:6; 19:22; 1 Pe
1:1) até à Mesopotâmia (cf. At 2:9; 7:2). Mas, em virtude da difusão e da superioridade da cultura grega, o
latim nunca se impôs no Oriente. A superioridade da cultura grega sobre a romana não permitiu romanizar a
Grécia, mas pelo contrário. Roma foi grecizada. Foi ainda Roma, como já dissemos, que favoreceu a
expansão do grego no Ocidente e preparou os caminhos ao Cristianismo (religião oficial do Império à partir do
séc. 4 EC).

Uma das provas da influência da língua grega sobre a romana (o latim) na tradução do NT bíblico é o termo
“christos”, que já abordamos aqui. O termo grego “christos” é uma tradução do original hebraico “mashiach”
que significa “ungido”. No latim a tradução seria “unctus”, conforme aparece em Levítico 4:3, por exemplo.
No entanto, no 2º e 4º século EC, quando se fizeram as principais traduções bíblicas para o latim, em vez de
se traduzir para “unctus” conservou-se o termo grego “Christus” e suas variações suavemente latinizadas.
Mas essa versão era usada somente quando se referia ao Senhor, vide Mar. 1:1. E dessa forma
erroneamente pensamos que “Cristo” é o sobrenome do Senhor.

O grego era mesmo o meio de comunicação entre as longínquas partes do Império Romano e a capital.

Clemente Romano (talvez seja este o mencionado por Paulo em Filipenses 4:3), escrevendo de Roma para
os crentes em Corinto, o fez também em grego. O Pastor de Hermas, escrito em Roma, foi redigido em grego.
Em grego também foram redigidas e gravadas muitas das inscrições das Catacumbas.

Algumas frases romanas (latinas) porém, influenciaram a língua grega da época, e muitas delas estão
registradas no Novo Testamento. Algumas destas conhecemos, elas são:

● κεντυρίων - kenturiōn (centuriâo), Mc 15:39.44;


● λεγεών - legeon (legião), Mt 26:53; Mc 5:9; Lc 8:30;
● κολωνία - kolonia (colónia), Act 16:12;
● δηναοιον - denarion (denário), Mt 18:28; Mc 6:37; Jo 6:7;
● κῆνσος - kensos (tributo), Mt 17:25; Mc 12:14;
● κοδράντης - kodrantēs (quadrante), Mc 12:42;
● σπεκουλάτωρ - spekoulatōr, (carrasco, executor), Mc 6:27;
● φραγέλλιον - phragellion (instrumento de flagelação), Jo 2:15.

Os discípulos de fala grega.


A comunidade de discípulos do Senhor de fala grega começou a crescer cerca de 8 anos após a ressurreição
dele (anos 40-41, segundo a BKJ de Estudo Holman). A perseguição causada pela morte de Estêvão
contribuiu muito para isso.

Leiamos este relato:

“Os que foram dispersos a partir da perseguição que começou com a morte de Estêvão se espalharam
até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a palavra a ninguém que não fosse judeu.
Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene e que foram até Antioquia, falavam também aos
gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus.
A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor.”
(Atos 11:19-21)

O versículo 26 relata ainda que Paulo e Barnabé ficaram ensinando uma numerosa multidão daquela
comunidade durante um ano. Neste caso é natural imaginarmos que os crentes ali usavam a Septuaginta
grega para consultar a Torá e os profetas, já que estas eram as Escrituras de seu tempo e nem todos os livros
do Novo Testamento ainda haviam sido escritos.

Nesta ocasião e nesta mesma cidade, os discípulos foram pela primeira vez chamados de “cristãos”, isto é,
christianos, um vocábulo proveniente da língua grega (Χριστιανός). Embora eles mesmos não tenham se
nomeado assim, mas os cidadãos dali, de modo depreciativo, ou seja, para ridicularizá-los ou zombar deles.
Haja vista que Simão Pedro relata este mesmo nome, “cristãos”, no capítulo 4 versículo 16 de sua primeira
carta, afirmando que seus irmãos na fé estavam sendo ridicularizados com isso. O rei Agripa também tenta
ridicularizar Paulo citando este nome em Atos 26:28. Apesar disso, podemos ver no versículo seguinte que o
apóstolo, de certa forma, se identifica com este título, pois ele se referia certamente à sua ligação com o
Ungido de Israel, identificando-se como seu seguidor.

Essas são as únicas 3 vezes que o nome “cristão” aparece no texto grego do Novo Testamento (ou “escritos
dos nazarenos”, cf. At. 24:5).

Somente a partir do 3º século, com os pais da igreja, é que os crentes começam a se identificar com este
nome, tendo em vista que Eusébio de Cesareia, historiador desta mesma época, chama o nome de “novo”.
Ele diz em seu livro, História Eclesiástica (que foi escrito na transição do 3º para o 4º século):

“E, de fato, embora sejamos evidentemente um novo povo, esse novo nome de cristãos vem se
tornando conhecido de todas as nações.”
(História Eclesiástica, pág. 26)

Com o crescimento da comunidade de fala grega, ao traduzir-se os escritos nazarenos para o grego, novas
palavras nessa língua foram criadas (a partir de algumas já existentes) a fim de explicar conceitos da fé e
mensagem do Senhor. Vejamos algumas delas:

● ἀλλοτριεπίσκοπος - allotriepiskopos (intruso, falso bispo/supervisor/ancião), 1 Pe 4:15;


● ψευδαπόστολος - pseudapostolos (que ensina sem autoridade, falso apóstolo), 2 Cor. 11:13;
● ψευδάδελφος - pseudadelphos (falso irmão), 2 Cor. 11,26;
● ψευδοπροφήτης - pseudoprophetes (que falsamente se intitula profeta de Deus), Mt 24:11. 24; Mc
13:22).

As seguintes palavras receberam significados relacionados a mensagem do Senhor:

● εὐαγγέλιον - euaggelion (pregação de Jesus e dos apóstolos, esse vocábulo já era usado antes e
significa apenas “boas novas” ou “boas notícias”, foi então substantivado no português como
“evangelho”, isto é, a mensagem do Senhor e de seus apóstolos a respeito dele), Mt 4:23; Mc 1:14.
● πειρασμός - peirasmos (tentação), Mt 6:13; Mc 14:38; Lc 4:13);
● οδος, hodos (caminho - no sentido de ensino), Jo. 14:6;
● σκάνδαλον - skandalon (escândalo, tropeço, ação que induz ao pecado), Mt 18:7; Rom. 11:9;

Editado por Gabriel da Rocha Filgueiras.

Fontes de consulta:
● Particularidades do grego do Novo Testamento, por Antonio de Brito Cardoso.
● Dicionário Bíblico Strong.
● Wikipédia, a Enciclopédia Livre.

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