Transferências de Calor

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TRANSFERÊNCIA DE CALOR:

UM GUIA PARA A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS PRÁTICOS

ARMANDO CARLOS F. COELHO OLIVEIRA


TRANSFERÊNCIA DE CALOR:
UM GUIA PARA A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS PRÁTICOS
1ª edição
Publicado pelo autor
Copyright © 2022
Qualquer parte desta publicação só pode ser reproduzida ou distribuída por qualquer meio
com o consentimento do autor e referência da fonte
Este livro é publicado eletronicamente
ISBN 978-989-33-2674-9
“Quem gosta da prática sem teoria assemelha-se ao
marinheiro que navega sem leme nem bússola,
nunca sabendo aonde irá parar.”
Leonardo Da Vinci
Prefácio

Este livro resulta da experiência letiva e pedagógica do seu autor, como docente da Faculdade
de Engenharia da Universidade do Porto ao longo de mais de 40 anos, nas áreas da
Transferência de Calor (fundamental e aplicada).
Dessa experiência constatou o autor que, com muita frequência, os estudantes são levados a
procurar “a equação”, ou conjunto de equações, para o mais rapidamente possível chegarem ao
resultado (“solução”), sem discutirem as hipóteses subjacentes, e muitas vezes sem criticarem
os resultados obtidos e o seu nível de aproximação à realidade física. O que na gíria académica
se designa por aplicação da “receita” para obter “a solução”. Este livro debruça-se na resolução
de problemas práticos. No entanto, mais do que fornecer as ditas “receitas”, tem como objetivo
a discussão das hipóteses e métodos a aplicar, e a definição de uma metodologia para a obtenção
da “solução”, discutindo também a aproximação a resultados reais.
Não é o intuito deste livro substituir os muitos manuais teóricos de Transferência de Calor
existentes, muitos em língua inglesa e outros em língua portuguesa, que se dedicam a apresentar
os principais conceitos e ferramentas teóricas para resolução de problemas. Muitos desses
manuais contêm também exercícios resolvidos, no entanto em vários casos sem as
preocupações expressas no parágrafo anterior. No presente texto, a metodologia geral para a
resolução de problemas práticos assenta na compreensão dos fenómenos físicos e definição de
hipóteses simplificativas, que levam à construção de um modelo de cálculo recorrendo às
ferramentas conhecidas dos manuais teóricos. Fomenta-se a tomada de consciência de que por
vezes não existe uma solução única, sendo que cada solução tem um dado nível de aproximação
e depende das hipóteses consideradas.
Este livro cobre os tópicos tradicionalmente abordados num curso de Transferência de Calor
básico (com a duração de 1 semestre). Assim, são abordados tópicos de condução (em regime
permanente e instacionário, com aproximações 1D e 2D), convecção (forçada e natural, nas
geometrias e fluidos mais simples), condensação em filme, ebulição em reservatório, e radiação
térmica (envolvendo 1, 2 ou mais superfícies separadas por um meio não participante). Em cada
tópico/capítulo são inicialmente apresentados os principais conceitos e soluções teóricas
conhecidas, a que se segue a resolução e discussão de variados problemas práticos. Um último
capítulo trata em mais detalhe exemplos da combinação dos vários modos de transferência de
calor. Os 90 problemas apresentados e discutidos constituem casos de estudo representativos
de situações típicas da prática da engenharia térmica, que permitem a consolidação dos
conhecimentos.

Porto, Janeiro de 2022

Armando C. F. C. Oliveira
Conteúdos
1 Condução ........................................................................................................................................................... 1
1.1 Condução em regime permanente ........................................................................................................................ 2
1.1.1 Condução monodimensional em placa plana (sem e com fontes internas de calor) ..............................2
1.1.2 Condução radial cilíndrica (sem e com fontes internas de calor) ..........................................................5
1.1.3 Condução radial esférica (sem e com fontes internas de calor) .............................................................7
1.1.4 Condução monodimensional com convecção superficial (como em alhetas) .........................................8
1.1.5 Condução bidimensional em placa e cilindro (métodos numéricos) .................................................... 11
1.1.6 Problemas práticos resolvidos (P1.1 a P1.13) ..................................................................................... 14
1.2 Condução em regime instacionário .................................................................................................................... 45
1.2.1 Sistema global ..................................................................................................................................... 45
1.2.2 Condução monodimensional em placa, cilindro e esfera...................................................................... 46
1.2.3 Condução multidimensional instacionária (métodos numéricos) ........................................................ 49
1.2.4 Problemas práticos resolvidos (P1.14 a P1.22) ................................................................................. 50

2 Convecção........................................................................................................................................................ 67
2.1 Escoamentos, camadas limite e coeficiente de convecção ................................................................................. 67
2.2 Escoamentos forçados externos: placa plana, cilindro e esfera ........................................................................... 69
2.3 Escoamentos forçados internos ......................................................................................................................... 73
2.4 Escoamentos por diferença de temperatura (convecção natural) ....................................................................... 78
2.5 Aplicação de métodos numéricos ...................................................................................................................... 81
2.6 Problemas práticos resolvidos (P2.1 a P2.20) ................................................................................................... 82

3 Condensação em filme ................................................................................................................................... 133


3.1 Condensação em filme e em gotas ................................................................................................................... 133
3.2 Modelo simplificado de Nusselt ....................................................................................................................... 134
3.3 Correlações para placas, cilindros e esferas ..................................................................................................... 135
3.4 Problemas práticos resolvidos (P3.1 a P3.7) ..................................................................................................... 138

4 Ebulição em reservatório ............................................................................................................................... 153


4.1 Ebulição saturada e subarrefecida .................................................................................................................... 153
4.2 Regimes de ebulição e correlações respetivas .................................................................................................. 154
4.3 Problemas práticos resolvidos (P4.1 a P4.6) ..................................................................................................... 157

5 Radiação térmica .......................................................................................................................................... 173


5.1 Radiação eletromagnética e térmica ................................................................................................................. 173
5.2 Corpo negro e suas propriedades ....................................................................................................................... 174
5.3 Propriedades radiativas dos corpos reais .......................................................................................................... 177
5.4 Radiosidade, irradiação e fator de visão ............................................................................................................ 179
5.5 Trocas de radiação entre superfícies cinzentas e difusas em meio não participante .......................................... 183
5.5.1 Trocas entre N superfícies formando um volume fechado .................................................................183
5.5.2 Trocas entre 2 superfícies formando um volume fechado .................................................................. 185
5.6 Problemas práticos resolvidos (P5.1 a P5.18).................................................................................................... 187

6 Transferência de calor combinada ................................................................................................................. 215


6.1 Considerações gerais ........................................................................................................................................ 215
6.2 Problemas práticos resolvidos (P6.1 a P6.17) .................................................................................................. 216

Referências .......................................................................................................................................................... 275


Lista de Símbolos

Os símbolos são fundamentais para a escrita de equações, sendo também a imagem simplificada
de grandezas físicas conhecidas. Neste texto foi adotado um conjunto de símbolos semelhante
ao encontrado na literatura da especialidade existente. No entanto, relativamente ao encontrado
na maioria da literatura de origem anglo-americana, há algumas diferenças: as principais dizem
respeito ao fluxo de calor e à potência calorífica, para os quais se usa respetivamente 𝒒̇ e 𝑸̇,
denotando o ponto o calor por unidade de tempo, e a grandezas associadas aos fenómenos de
radiação, como o poder emissivo ou a radiosidade. Para estas últimas, que são fluxos de calor,
usa-se o mesmo símbolo geral desses fluxos (𝒒̇ ), distinguindo-se umas das outras pelo índice
usado.

Símbolos em letras romanas


Símbolo Designação Unidade
𝐴 Área m2

𝐵𝑖 Número de Biot -

𝑐𝑝 Calor específico a pressão constante J/(kgK), ou J/(kgºC)

𝐷 Diâmetro m

𝑒 Espessura m

𝐹 Fração de energia emitida -


ou Fator de visão/forma -
𝐹𝑜 Número de Fourier -

𝑔 Aceleração da gravidade m/s2

𝑔̇ Potência gerada por unidade de volume W/m3

𝐻 Altura m

ℎ; ℎ̅ Coeficiente de convecção ou de transferência de calor W/(m2K), ou W/(m2°C)


ou Entalpia; J/kg
Coeficiente médio numa dada superfície W/(m2K), ou W/(m2°C)
𝑖 Intensidade de radiação W/(m2sr)

𝑘 Condutibilidade térmica W/(mK), ou W/(m°C)

𝐿 Comprimento m
ou Dimensão de referência
𝑙 Largura m

𝑀 Massa kg

m Parâmetro usado em condução com convecção (e m-1


alhetas)
𝑀̇ Caudal mássico kg/s

̅̅̅̅
𝑁𝑢; 𝑁𝑢 Número de Nusselt; Nu médio -

𝑃 Perímetro m
ou Parâmetro adimensional de condensação -
𝑝 Pressão N/m2 ou Pa

𝑃𝑟 Número de Prandtl -

𝑄 Calor J
𝑄̇ Potência calorífica W

𝑞̇ Fluxo calorífico W/m2

𝑅 Resistência térmica K/W, ou ºC/W

𝑟 Resistência térmica por unidade de área m2K/W, ou m2ºC/W


ou Coordenada espacial radial m
ou Raio m
𝑅𝑎 Número de Rayleigh -

𝑅𝑒 Número de Reynolds -

𝑆; 𝑠 Passo ou espaçamento m

𝑇; 𝑇̅ Temperatura; Temperatura média K, ou ºC

𝑡 Tempo s

𝑈 Coeficiente global de transferência de calor W/(m2K), ou W/(m2°C)

𝑉 Volume m3

𝑣 Velocidade m/s

𝑣̅ Velocidade média ou de caudal m/s

𝑥 Coordenada espacial cartesiana m

𝑦 Coordenada espacial cartesiana m

𝑧 Coordenada espacial cartesiana m

Símbolos em letras gregas


Símbolo Designação Unidade
𝛼 Difusibilidade térmica m2/s
ou Coeficiente de absorção -
𝛽 Coeficiente de expansão térmica K-1, ou ºC-1

∆ Variação depende da variável associada

𝛿 Espessura da camada limite m

𝜂 Rendimento -, ou %

𝜃 Ângulo, ou Coordenada espacial circunferencial rad


ou Diferença de temperatura K, ou ºC
𝜆 Comprimento de onda m, ou m

𝜇 Viscosidade dinâmica kg/(s m)

𝜈 Viscosidade cinemática m2/s

𝜌 Massa volúmica kg/m3


ou Coeficiente de reflexão -
𝜎 Constante de Stefan-Boltzmann W/(m2K4)
ou Tensão superficial N/m
𝜏 Coeficiente de transmissão -
ou Tensão viscosa N/m2
𝜙 Ângulo, ou Coordenada espacial circunferencial rad

𝜔 Ângulo sólido sr
Índices*

Índice Designação
𝑎𝑏𝑠 relativo a absorção de radiação

𝑎𝑙ℎ relativo a alheta

𝑎𝑡𝑚 atmosférica

𝑏 base (de uma alheta)

𝑐 característica, ou corrigida

𝑐𝑜𝑛𝑑 relativo a condução

𝑐𝑜𝑛𝑣 relativo a convecção

𝐶𝑁 relativo a corpo negro

𝑐𝑟 crítico

𝑒𝑏𝑢𝑙 relativo a ebulição

𝑒𝑚 relativo a emissão de radiação

𝑒𝑛𝑡 entrada

𝑒𝑥𝑡 exterior

ℎ hidráulico

ℎ𝑒𝑚 hemisférico(a)

𝑖 inicial

𝑖𝑛𝑐 relativo a radiação incidente

𝑖𝑛𝑡 interior

𝑖𝑠 isolante, ou isolamento

𝑙 líquido

𝑚 média, ou mistura

n normal (a uma superfície)

𝑝 parede

𝑟𝑎𝑑 relativo a radiação

𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠 radiosidade

𝑟𝑒𝑓 relativo a reflexão de radiação

𝑠 secção

𝑠𝑎𝑖 saída

𝑠𝑎𝑡 saturação

sf interface sólido-fluido

𝑠𝑜𝑙 relativo à radiação solar

𝑠𝑢𝑝 superficial

𝑠/𝑎𝑙ℎ sem alhetas

𝑡 tubo, ou térmica
𝑡𝑜𝑡 total

𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠 relativo a transmissão de radiação

v vapor

𝑥 na direção x

𝑦 na direção y

∞ longe da superfície (parede sólida)

* estes são os índices gerais usados; nalguns problemas práticos são usados índices específicos não listados aqui
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

1 Condução
No início deste capítulo apresentam-se os principais conceitos e soluções teóricas mais
utilizadas na resolução de problemas práticos que envolvem a condução do calor. Os modos de
transferência da convecção e radiação poderão estar presentes, mas são descritos por meios
simplificados, como por exemplo através de um coeficiente de transferência constante e
conhecido. O estudo foi dividido em 2 secções principais: a que trata da transferência em regime
permanente ou estacionário, quando as temperaturas e fluxos se mantêm constantes no tempo,
e a que trata do regime dinâmico ou instacionário, quando variam ao longo do tempo.
No caso do regime permanente abordam-se os casos monodimensionais (1D), nas geometrias
mais simples (placa, cilindro e esfera), e é feita referência à utilização de métodos numéricos
para casos bidimensionais (2D). Para o regime instacionário distinguem-se o caso em que se
despreza a variação de temperatura no corpo (sistema global), e os casos em que se considera
que a temperatura varia ainda numa direção do espaço (placa, cilindro e esfera).
No final de cada secção apresentam-se diversos problemas práticos que ilustram a aplicação
dos conceitos e métodos de cálculo vistos.
A distribuição de temperatura no interior de um sólido ou fluido em repouso com
condutibilidade térmica constante – que será sempre assim considerada – pode obter-se a partir
da chamada equação geral da condução. Esta resulta de um balanço de energia feito a um
elemento de volume infinitesimal do material, que expressa que a variação da energia contida
no elemento ao longo de tempo é o resultado do balanço das trocas de calor com os elementos
adjacentes, e eventualmente da energia que se gera por unidade de tempo no elemento em causa.
Como os fluxos de calor dependem da variação (gradiente) de temperatura no material – lei de
Fourier – a temperatura num dado ponto depende da variação de temperatura no corpo.
A lei de Fourier pode expressar-se através da equação:
𝜕𝑇
𝑞̇ = −𝑘 𝜕𝑛 (1.1)

sendo n a direção/coordenada normal ao fluxo de calor. Como este é na realidade uma grandeza
vetorial, o sinal negativo denota o facto de o fluxo ter o sentido oposto ao do aumento de
temperatura, ou seja, o fluxo verifica-se no sentido oposto ao do gradiente de temperatura.
A equação geral da condução pode ser escrita de formas diferentes, consoante a geometria do
corpo e do seu elemento de volume representativo, nomeadamente aplicando coordenadas
cartesianas (elemento paralelepipédico), cilíndricas (elemento/porção de casca cilíndrica) ou
esféricas (elemento/porção de casca esférica). A Figura 1.1 representa os 3 elementos
infinitesimais referidos, bem como os eixos coordenados a considerar.

1
Capítulo 1 - Condução

Figura 1.1 – Geometrias consideradas: (a) paralelepipédica; (b) cilíndrica; (c) esférica

A equação geral da condução pode então escrever-se nas formas:

𝜕2𝑇 𝜕2𝑇 𝜕2𝑇 𝑔̇ 1 𝜕𝑇


+ 𝜕𝑦 2 + 𝜕𝑧 2 + 𝑘 = 𝛼 𝜕𝑡 (1.2)
𝜕𝑥 2

1 𝜕 𝜕𝑇 1 𝜕2𝑇 𝜕2 𝑇 𝑔̇ 1 𝜕𝑇
(𝑟 𝜕𝑟 ) + 𝑟 2 𝜕𝜃2 + 𝜕𝑧 2 + 𝑘 = 𝛼 𝜕𝑡 (1.3)
𝑟 𝜕𝑟

1 𝜕 𝜕𝑇 1 𝜕2𝑇 1 𝜕 𝜕𝑇 𝑔̇ 1 𝜕𝑇
(𝑟 2 𝜕𝑟 ) + 𝑟 2 𝑠𝑒𝑛2𝜙 𝜕𝜃2 + 𝑟 2𝑠𝑒𝑛𝜙 𝜕𝜙 (𝑠𝑒𝑛𝜙 𝜕𝜙) + 𝑘 = 𝛼 𝜕𝑡 (1.4)
𝑟 2 𝜕𝑟

O termo de geração de calor (𝑔̇ ) deverá ser considerado sempre que exista uma fonte de calor
no interior do corpo. Um caso típico ocorre quando um material metálico é percorrido por
corrente elétrica, gerando-se calor por efeito de Joule de modo uniforme (por unidade de
volume). Na maioria das situações correntes esse termo será nulo.
O cálculo da distribuição de temperatura num corpo, e ao longo do tempo, exige então a
resolução de uma das equações (1.2, 1.3 ou 1.4). Tal não é tarefa simples no caso geral de
variação tridimensional (3D), ou mesmo bidimensional (2D), exigindo a utilização de métodos
numéricos (aproximados). O cálculo das temperaturas depende ainda das condições nas
fronteiras do espaço e da condição inicial. A partir das temperaturas, e usando a equação (1.1),
podem calcular-se os fluxos de calor.
1.1 Condução em regime permanente
No caso do regime permanente não há alteração das temperaturas ao longo do tempo, pelo que
o 2º membro das equações (1.2), (1.3) e (1.4) é igual a zero.

1.1.1 Condução monodimensional em placa plana (sem e com fontes internas de calor)

Para o caso de uma placa, variando a temperatura unicamente ao longo da coordenada x, a


equação (1.2) reduz-se a:

𝑑2 𝑇 𝑔̇
+𝑘 =0 (1.5)
𝑑𝑥 2

e no caso de não existirem fontes de calor internas, à sua forma mais simples:

𝑑2 𝑇
=0 (1.6)
𝑑𝑥 2

2
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Estas equações podem ser utilizadas com boa aproximação quando uma placa com espessura
(segundo x) muito menor que a sua secção (perpendicular à espessura) está sujeita a diferentes
condições nas suas faces externas; tal equivale a considerar que a secção da placa – secção de
passagem do calor – é infinita. Mas também podem aplicar-se se as superfícies nos limites da
secção (direções y e z) estiverem perfeitamente isoladas termicamente, não havendo nelas
transferência de calor; como por exemplo num cilindro isolado na superfície/raio exterior, com
variação da temperatura ao longo do seu eixo, não havendo variação radial nem circunferencial
da temperatura. Pode também considerar-se condução monodimensional em placas ou outras
geometrias em que a secção (no plano y-z) tenha dimensões muito pequenas face ao
comprimento segundo x, sendo desprezada a variação da temperatura ao longo de cada secção,
embora neste caso seja necessária a consideração do que acontece na superfície exterior da
secção, nomeadamente se existe convecção (a ver em 1.1.4). A Figura 1.2 ilustra estes casos.

Figura 1.2 – Casos que podem ser tratados com condução monodimensional segundo x: (a) placa de secção
infinita com condução ao longo da espessura; (b) corpo com qualquer secção e superfície exterior
da secção isolada; (c) corpo com qualquer secção de dimensões pequenas face ao comprimento de
condução.

A integração da equação (1.5) conduz a uma distribuição quadrática da temperatura (do 2º grau
em x) quando o termo fonte é constante. A integração de (1.6) conduz a uma distribuição linear
da temperatura ao longo de x. A solução para cada caso específico depende das condições
fronteira existentes, que podem ser de temperatura imposta/conhecida, de fluxo de calor
imposto/conhecido, ou de convecção (coeficiente e temperatura exterior conhecidos). As
referências [1, 2] apresentam soluções para alguns desses casos. Na secção dedicada aos
problemas práticos (1.1.6) serão vistas algumas, e a metodologia seguida para a sua obtenção.
Não existindo fontes de calor no interior do material, e sendo as temperaturas nas fronteiras
extremas (x) 𝑇1 e 𝑇2 , pode concluir-se que a potência calorífica transferida através do material
(de espessura e) é igual a:
𝑘
𝑄̇ = 𝑒 𝐴𝑠 (𝑇1 − 𝑇2 ) (1.7)

que mostra que a potência é proporcional a T, e proporcional ao quociente 𝑘𝐴𝑠 ⁄𝑒. A mesma
potência pode escrever-se com recurso à noção de resistência térmica, expressando que ela é
igual à diferença de potencial térmico a dividir pela resistência de condução:
(𝑇 − 𝑇 )
𝑄̇ = 𝑅1 2 (1.8)
𝑐𝑜𝑛𝑑

3
Capítulo 1 - Condução

Da comparação de (1.7) e (1.8) conclui-se que a resistência é proporcional à espessura e


inversamente proporcional à condutibilidade e à área, ou seja:
𝑒
𝑅𝑐𝑜𝑛𝑑 = 𝑘𝐴 (1.9)
𝑠

É muitas vezes usada a resistência para uma área unitária, igual à espessura a dividir pela
condutibilidade (𝑟𝑐𝑜𝑛𝑑 = 𝑒⁄𝑘).
A noção de resistência térmica facilita o cálculo da transferência de calor quando esta se dá
através de um conjunto de materiais diferentes. Por exemplo, para duas placas (1 e 2) colocadas
em série pode calcular-se o fluxo global somando as resistências individuais de cada placa:
𝑒1 𝑒2
𝑅𝑠é𝑟𝑖𝑒 = 𝑘 +𝑘 (1.10)
1 𝐴𝑠 2 𝐴𝑠

Também se podem associar resistências em paralelo, mas nesse caso com a suposição de que
os fluxos nos 2 materiais têm apenas a direção x, ou seja, não existe fluxo entre os 2. Tal é
razoável nalguns casos, mas não sempre, como se verá no problema P1.1. Quando 2 resistências
se associam em paralelo, a resistência global é
1 1 1 𝑘1 𝐴𝑠1 𝑘2 𝐴𝑠2
=𝑅 +𝑅 = + (1.11)
𝑅𝑝𝑎𝑟𝑎𝑙𝑒𝑙𝑜 1 2 𝑒1 𝑒2

A Figura 1.3 representa esquematicamente as associações de resistências referidas.

Figura 1.3 – Associação de 2 resistências térmicas de condução em série e em paralelo e respetivas potências
transferidas: (a) série; (b) paralelo.

As equações (1.10) e (1.11) são generalizáveis a 3 ou mais materiais/corpos. Também se podem


adicionar resistências correspondentes à convecção superficial nas fronteiras. Sendo a
resistência igual à diferença de temperatura a dividir pela potência transferida, nesse caso cada
resistência é o inverso do produto do coeficiente de convecção pela área superficial, ou seja:
1
𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣 = ℎ (1.12)
𝑐𝑜𝑛𝑣 𝐴𝑠

Note-se que a noção de resistência térmica não é aplicável quando há fontes de calor internas,
uma vez que nesse caso o fluxo de calor varia ao longo da espessura do material (ao longo de
x).

4
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

1.1.2 Condução radial cilíndrica (sem e com fontes internas de calor)

Em muitos casos práticos intervém a geometria cilíndrica, para a qual se devem usar as
coordenadas cilíndricas – equação (1.3). Uma simplificação frequente consiste em admitir que
a temperatura só varia ao longo do raio, pelo que o calor tem a direção radial, desprezando
assim a variação circunferencial () e ao longo do eixo (z). Tratando-se de regime permanente
e intervindo apenas a coordenada radial, a equação (1.3) reduz-se a
1 𝑑 𝑑𝑇 𝑔̇
(𝑟 𝑑𝑟 ) + 𝑘 = 0 (1.13)
𝑟 𝑑𝑟

e no caso de não existirem fontes de calor internas, a:


𝑑 𝑑𝑇
(𝑟 𝑑𝑟 ) = 0 (1.14)
𝑑𝑟

A equação (1.13) pode aplicar-se a cilindros cheios ou ocos (tubos) com geração de calor
interna. No entanto, a equação (1.14) só pode aplicar-se a cilindros ocos ou tubos, uma vez que
nos cilindros cheios existe apenas uma superfície em contacto com o exterior (correspondente
ao raio exterior), e trocando essa superfície calor (recebendo ou perdendo), não há mais
nenhuma superfície para equilibrar as trocas de modo a manter a temperatura constante no
tempo (regime permanente).
A distribuição de temperatura radial pode obter-se integrando as equações (1.13) ou (1.14).
Mais uma vez, a solução para cada caso específico depende das condições fronteira existentes,
apresentando as referências [1, 2] soluções para alguns casos típicos. Algumas serão vistas na
secção dedicada aos problemas práticos (1.1.6). No caso da condução radial em tubos sem
fontes de calor internas – equação (1.14) – obtém-se da integração, impondo as temperaturas
𝑇1 e 𝑇2 nas superfícies interior (𝑟𝑖𝑛𝑡 ) e exterior (𝑟𝑒𝑥𝑡 ) do tubo, a solução:
𝑇 −𝑇2 𝑟
𝑇(𝑟) = 𝑙𝑛(𝑟 1 𝑙𝑛 (𝑟 ) + 𝑇2 (1.15)
𝑖𝑛𝑡 /𝑟𝑒𝑥𝑡 ) 𝑒𝑥𝑡

que traduz uma variação logarítmica (ou exponencial) da temperatura com o raio. Através desta
pode obter-se a potência que atravessa radialmente a parede cilíndrica:
2𝜋𝑘𝐿
𝑄̇ = 𝑙𝑛(𝑟 /𝑟 (𝑇1 − 𝑇2 ) (1.16)
𝑒𝑥𝑡 𝑖𝑛𝑡 )

em que L é o comprimento do tubo ao longo do seu eixo. Tal como para a placa, pode definir-
se uma resistência de condução, igual à diferença de temperatura dividida pela potência, vindo
𝑙𝑛(𝑟𝑒𝑥𝑡 /𝑟𝑖𝑛𝑡 )
𝑅𝑐𝑜𝑛𝑑 = (1.17)
2𝜋𝑘𝐿

expressão que mostra que a resistência aumenta com a espessura da parede do tubo, embora
não linearmente. Note-se que o fluxo de calor não é constante ao longo do raio: a potência
calorífica é constante, mas como a secção de passagem de calor aumenta com o raio, o fluxo
vai diminuindo do interior para o exterior.

Tal como para a placa plana, é possível em tubos associar resistências de materiais colocados
em série, usando a equação (1.17) para calcular cada uma das resistências. A esse propósito, é
vulgar utilizar um tubo de isolante térmico (manga isoladora) no exterior de tubos metálicos,

5
Capítulo 1 - Condução

com o objetivo de reduzir a potência calorífica transferida para o exterior, como em tubagens
de água quente ou vapor. No entanto, como veremos, em certas condições podemos obter um
efeito indesejado. Para tal, consideremos então um tubo rodeado por outro, com um contacto
perfeito entre ambos. No interior do tubo mais pequeno existe um fluido a temperatura mais
elevada que a temperatura exterior ao tubo maior, conhecendo-se os coeficientes de convecção
interior e exterior. Pode escrever-se então a seguinte resistência global
1 𝑙𝑛(𝐷1 /𝐷𝑖𝑛𝑡 ) 𝑙𝑛(𝐷𝑒𝑥𝑡 /𝐷1 ) 1
𝑅𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 = ℎ + + +ℎ (1.18)
𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡 𝜋𝐷𝑖𝑛𝑡 𝐿 2𝜋𝑘𝑡 𝐿 2𝜋𝑘𝑖𝑠 𝐿 𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 𝜋𝐷𝑒𝑥𝑡 𝐿

sendo 𝐷1 o diâmetro intermédio. Vamos admitir que se varia a espessura do tubo maior,
constituído normalmente por material isolante, ou seja, o diâmetro exterior do isolante (𝐷𝑒𝑥𝑡 ).
Esse diâmetro intervém na resistência de condução do isolante, que aumenta com o aumento da
espessura, e na resistência de convecção exterior, que diminui com o aumento de 𝐷𝑒𝑥𝑡 por haver
uma maior área exterior de transferência. Assim, existem dois efeitos opostos. Para melhor
analisar o efeito global pode calcular-se a derivada da 𝑅𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 em ordem a 𝐷𝑒𝑥𝑡 . Verifica-se que
existe um mínimo para a resistência global, que corresponde a um máximo para o valor da
potência transferida. Tal acontece para
2𝑘𝑖𝑠 𝑘𝑖𝑠
𝐷𝑐𝑟 = ℎ ou 𝑟𝑐𝑟 = ℎ (1.19)
𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡

designados por diâmetro e raio crítico de isolamento.

A Figura 1.4 mostra a variação do raio crítico quando se considera um valor típico para 𝑘𝑖𝑠 , e
varia o coeficiente de convecção exterior. Para este foi considerado um intervalo entre 5 e 100
W/m2ºC, valores que correspondem à existência de convecção natural ou forçada para o ar, no
caso máximo a velocidades elevadas.

Figura 1.4 – Variação do raio crítico de isolamento com o coeficiente de convecção exterior, para um cilindro/tubo
e para kis=0,035 W/m2ºC.

Note-se que o valor do raio crítico é maior para coeficientes baixos (caso da convecção natural),
mas é sempre bastante baixo (< 8 mm) e não depende da geometria (diâmetro) do tubo interior.
Tal quer dizer que não ocorre um aumento da potência transferida (até ao valor crítico máximo)
se o tubo interior tiver um raio (𝑟1) igual ou superior ao crítico, pelo que nesse caso compensa
sempre usar isolante.

6
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Também tem interesse analisar o caso de um cilindro cheio (não oco) quando percorrido por
corrente elétrica (caso por exemplo de um cabo elétrico revestido por um isolante). Nesta
situação é a potência calorífica dissipada que é imposta, igual à gerada no interior, e não a
temperatura interior. Nesse caso só fazem sentido as duas últimas parcelas de (1.18) ao calcular
a resistência global, o que conduz ao mesmo resultado para o raio crítico, uma vez que sendo
constantes as primeiras 2 parcelas de (1.18) o mínimo da resistência global é o mesmo. Só que
neste caso, sendo a potência total constante (igual à gerada no interior do cilindro/cabo), esse
mínimo corresponde a uma diferença de temperatura mínima entre a superfície (𝑇1 , com raio
𝑟1) e o exterior (𝑇𝑒𝑥𝑡 ). Qualquer outro valor do raio 𝑟𝑒𝑥𝑡 conduzirá a temperaturas interiores
mais elevadas. Saliente-se que no caso de um cabo elétrico já é típico haver um raio mais
pequeno que num tubo, pelo que a espessura do isolante poderá ser calculada de modo a
minimizar a temperatura do cabo.

1.1.3 Condução radial esférica (sem e com fontes internas de calor)

No caso da condução radial esférica devem usar-se as coordenadas esféricas – equação (1.4).
Admite-se então que a temperatura só varia ao longo do raio, pelo que o calor tem a direção
radial, desprezando assim a variação com os ângulos  e . Em regime permanente a equação
(1.4) reduz-se a
1 𝑑 𝑑𝑇 𝑔̇
(𝑟 2 𝑑𝑟 ) + 𝑘 = 0 (1.20)
𝑟2 𝑑𝑟

e no caso de não existirem fontes de calor internas, a:


𝑑 𝑑𝑇
(𝑟 2 𝑑𝑟 ) = 0 (1.21)
𝑑𝑟

De modo equivalente ao discutido para os cilindros, a equação (1.20) pode aplicar-se a esferas
cheias ou ocas com geração de calor interna, mas a equação (1.21) só pode aplicar-se a esferas
ocas (ou cascas esféricas), de modo a assegurar a existência de regime permanente.
Podem também obter-se soluções típicas para a integração das equações (1.20) ou (1.21),
dependendo das condições fronteira existentes [1, 2]. Algumas serão vistas na secção dedicada
aos problemas práticos (1.1.6). No caso da condução radial em esferas ocas sem fontes de calor
internas – equação (1.21) – obtém-se da integração, impondo as temperaturas 𝑇1 e 𝑇2 nas
superfícies interior (𝑟𝑖𝑛𝑡 ) e exterior (𝑟𝑒𝑥𝑡 ) da esfera/casca, a solução:
1−𝑟𝑖𝑛𝑡 /𝑟
𝑇(𝑟) = 𝑇1 − (𝑇1 − 𝑇2 ) 1−𝑟 (1.22)
𝑖𝑛𝑡 /𝑟𝑒𝑥𝑡

Através desta pode obter-se a potência que atravessa radialmente a parede esférica:
4𝜋𝑘
𝑄̇ = 1/𝑟 (𝑇1 − 𝑇2 ) (1.23)
𝑖𝑛𝑡 −1/𝑟𝑒𝑥𝑡

Pode também definir-se uma resistência de condução esférica, igual à diferença de temperatura
dividida pela potência, vindo
1/𝑟𝑖𝑛𝑡 −1/𝑟𝑒𝑥𝑡
𝑅𝑐𝑜𝑛𝑑 = (1.24)
4𝜋𝑘

7
Capítulo 1 - Condução

Tal como no cilindro, sendo a potência calorífica constante, como a secção de condução de
calor aumenta com o raio, o fluxo vai diminuindo do interior para o exterior.

Também de forma semelhante ao cilindro, é possível calcular um raio crítico de isolamento,


correspondente à colocação de um isolante no exterior de um cilindro ou casca esférica, e sendo
conhecido o coeficiente de convecção exterior (constante). Ele vem dado por
2 𝑘𝑖𝑠
𝑟𝑐𝑟 = ℎ (1.25)
𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡

Note-se que o valor obtido pela equação (1.25) é exatamente o dobro do raio crítico para um
cilindro/tubo, para a mesma condutibilidade e coeficiente de convecção – comparar com a
equação (1.19). Por isso, é possível ocorrer a situação crítica com esferas de maior raio do que
os dos cilindros representados na Figura 1.4.

1.1.4 Condução monodimensional com convecção superficial (como em alhetas)

Como referido a propósito da Figura 1.2(c), num corpo alongado na direção x, em comparação
com as dimensões da sua secção (perpendicular a x), pode admitir-se que a condução é
monodimensional. Mas nesse caso, para calcular a evolução de temperatura ao longo de x torna-
se necessário contabilizar as trocas de calor na superfície exterior da secção. No caso mais
simples essas trocas dão-se por convecção para o fluido situado junto à superfície exterior,
considerando-se o respetivo coeficiente de convecção constante ao longo de x.
Esta situação ocorre frequentemente na prática em alhetas. As alhetas são extensões de uma
superfície, quer do mesmo material, quer de material diferente com uma boa ligação à superfície
original. O seu objetivo é o de aumentar a potência calorífica transferida pelo aumento da área,
muitas vezes para compensar um baixo coeficiente de convecção (como no caso de ar a baixa
velocidade junto à superfície). Há aplicações diversas, com diferentes geometrias, como as
ilustradas na Figura 1.5.

Figura 1.5 – Diferentes geometrias de alhetas: (a) – retangular de secção constante em superfície plana; (b) –
retangular de secção constante em tubo; (c, d) – retangulares de secção variável; (e) –circular de
espessura constante; (f) – circular de espessura variável; (g) – pino de secção constante; (h, i) – pinos
de secção variável.

8
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

A distribuição de temperatura na condução 1D (ao longo de x) quando há convecção superficial,


e quando a secção de condução é constante, como numa alheta retangular de secção constante,
pode obter-se considerando o balanço térmico de um elemento de volume infinitesimal, como
representado na Figura 1.6.

Figura 1.6 – Representação do balanço de um elemento de volume com condução e convecção.

Em regime permanente a potência que entra no elemento é igual à que sai – por condução para
o elemento à direita e por convecção à superfície. Como os fluxos de condução dependem do
gradiente de temperatura, o balanço resulta em
𝑑 𝑑𝑇
𝑘 𝑑𝑥 (𝐴𝑠 𝑑𝑥 ) = ℎ 𝑑𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣 (𝑇 − 𝑇∞ ) (1.26)

Sendo a secção constante, e a área de convecção elementar igual ao perímetro da secção P vezes
o comprimento do elemento (dx), vem

𝑑2 𝑇 ℎ𝑃
− 𝑘 𝐴 (𝑇 − 𝑇∞ ) = 0 (1.27a)
𝑑𝑥 2 𝑠
ou
𝑑2 𝜃
− 𝑚2 𝜃 = 0 (1.27b)
𝑑𝑥 2

ℎ𝑃
com 𝜃 = 𝑇 − 𝑇∞ e 𝑚 = √𝑘 𝐴 .
𝑠

Esta equação pode ser resolvida analiticamente, dependendo o resultado das condições nas
fronteiras (x=0 e x=L). É usual considerar uma condição de temperatura em x=0, secção que no
caso de uma alheta é designada por base da alheta. Quanto à extremidade (x=L) – secção
designada por topo numa alheta – diferentes condições se podem considerar: alheta com
convecção no topo, alheta sem convecção no topo (ou topo isolado), alheta com temperatura
imposta no topo, e alheta muito longa ou infinita (atingindo no topo a temperatura exterior).
A solução mais simples corresponde à alheta muito longa (ou corpo muito longo), para a qual
𝜃 = 𝜃𝑏 𝑒 −𝑥 (1.28)

𝑄̇ = 𝜃𝑏 √ℎ𝑃𝑘𝐴𝑠 (1.29)

sendo 𝜃𝑏 a diferença entre a temperatura da base e a exterior, e 𝑄̇ a potência dissipada.


A alheta sem convecção no topo é uma hipótese que também é razoável quando existir
convecção, uma vez que a área de transferência do topo é normalmente desprezável face à área
de convecção (área superficial), devido à reduzida espessura típica.

9
Capítulo 1 - Condução

Para este caso a solução corresponde a


cosh[𝑚(𝐿−𝑥)]
𝜃 = 𝜃𝑏 (1.30)
cosh(𝑚𝐿)

𝑄̇ = 𝜃𝑏 √ℎ𝑃𝑘𝐴𝑠 tanh(𝑚𝐿) (1.31)

sendo 𝜃𝑏 a diferença entre a temperatura da base e a exterior, e 𝑄̇ a potência dissipada.


Para a alheta com transferência no topo, sendo o coeficiente de transferência o mesmo, a
temperatura e potência podem obter-se com
cosh[𝑚(𝐿−𝑥)]+(ℎ/𝑚𝑘) senh[𝑚(𝐿−𝑥)]
𝜃 = 𝜃𝑏 (1.32)
cosh(𝑚𝐿)+(ℎ/𝑚𝑘) senh(𝑚𝐿)

senh(𝑚𝐿)+(ℎ/𝑚𝑘) cosh(𝑚𝐿)
𝑄̇ = 𝜃𝑏 √ℎ𝑃𝑘𝐴𝑠 (1.33)
cosh(𝑚𝐿)+(ℎ/𝑚𝑘) senh(𝑚𝐿)

Numa alheta é conveniente definir uma grandeza designada por rendimento da alheta. Este
rendimento traduz a maior ou menor aproximação à situação definida como ideal, que consiste
em toda a alheta se encontrar à temperatura da base. Ou seja:
𝑄̇
𝜂𝑎𝑙ℎ = ℎ𝐴 (1.34)
𝑐𝑜𝑛𝑣 𝜃𝑏

Para a alheta retangular de secção constante sem trocas no topo vem

𝜃𝑏 √ℎ𝑃𝑘𝐴𝑠 tanh(𝑚𝐿) tanh(𝑚𝐿)


𝜂𝑎𝑙ℎ = = (1.35)
𝜃𝑏 ℎ𝑃𝐿 𝑚𝐿

Figura 1.7 – Rendimento de alhetas circulares de espessura constante; adaptado de [2].

10
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Nas alhetas de secção variável as soluções analíticas são mais complexas, exigindo o recurso a
funções de Bessel, [1, 2]. Nas alhetas circulares, mesmo com espessura constante a área de
condução (secção) aumenta ao aumentar o raio. Assim, o método mais expedito para calcular a
potência que atravessa a alheta consiste em utilizar informação do rendimento da alheta. Essa
informação está disponível na forma gráfica, [1, 2], e foi obtida a partir das soluções analíticas.
A Figura 1.7 apresenta o rendimento para alhetas circulares de espessura constante. Note-se
que ela contabiliza também o calor trocado no topo da alheta, através da correção feita ao seu
comprimento (Lc).
Quando se utilizam alhetas é usual colocar várias, com uma grande proximidade entre si, de
modo a conseguir um incremento significativo da área de transferência. Ao contabilizar a
potência total transferida é necessário entrar em conta com a área superficial das alhetas e com
a área superficial que não contém alhetas (não alhetada). Admitindo que a base das alhetas e a
superfície exterior não alhetada do corpo se encontram à mesma temperatura, podemos
considerar que há 2 resistências em paralelo: uma na área não alhetada e outra nas alhetas. A
resistência das alhetas pode expressar-se com o rendimento, como
𝜃𝑏 1
𝑅𝑎𝑙ℎ = = (1.36)
𝜂𝑎𝑙ℎ ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣 𝜃𝑏 𝜂𝑎𝑙ℎ ℎ𝐴𝑎𝑙ℎ

Quanto à potência total transferida (zona com e sem alhetas) pode escrever-se

𝑄̇ = 𝑄̇𝑎𝑙ℎ + 𝑄̇𝐴 𝑠/𝑎𝑙ℎ = (𝜂𝑎𝑙ℎ ℎ𝐴𝑎𝑙ℎ + ℎ𝐴𝑠/𝑎𝑙ℎ )𝜃𝑏 = 𝜂𝑠𝑢𝑝 ℎ𝐴𝑡𝑜𝑡 𝜃𝑏 (1.37)

admitindo o mesmo coeficiente de convecção nas 2 zonas, e introduzindo uma eficiência das 2
zonas 𝜂𝑠𝑢𝑝 (área total). Esta eficiência superficial é uma média pesada entre 𝜂𝑎𝑙ℎ (área das
alhetas) e 1 (eficiência da área não alhetada), sendo os pesos proporcionais às respetivas áreas.
Assim, é sempre superior à eficiência das alhetas.

1.1.5 Condução bidimensional em placa e cilindro (métodos numéricos)

A equação geral da condução – equações (1.2) a (1.4), consoante as coordenadas usadas – não
tem uma solução analítica geral, mesmo em regime permanente, em particular nos casos 2D e
3D. No caso do regime permanente e 2D existem algumas soluções analíticas, para condições
fronteira muito simples, mas ainda assim recorrendo ao uso de séries.
Podem obter-se soluções aproximadas para todas as situações, incluindo aquelas em que não há
soluções analíticas, usando métodos numéricos. Esses métodos permitem tratar casos 2D e 3D,
e também 1D, por exemplo quando há coeficientes de convecção/transferência variáveis
espacialmente ou no tempo. Podem também tratar casos com ou sem fontes de calor internas.
Os métodos numéricos são usualmente divididos em 3 grupos: método das diferenças finitas,
método dos volumes finitos, e método dos elementos finitos. O método das diferenças finitas
recorre à transformação das derivadas em diferenças (finitas), sendo os outros 2 grupos mais
baseados em conceitos físicos, como balanços de energia. Apresentam-se de seguida alguns dos
princípios do método dos volumes finitos e do método dos elementos finitos para aplicações à
condução 2D em regime permanente.
No método dos volumes finitos a definição dos elementos de volume a usar depende da
geometria do problema. Para geometrias adequadas a coordenadas cartesianas (retangulares em
2D) são usados elementos retangulares, e para coordenadas cilíndricas elementos encurvados

11
Capítulo 1 - Condução

(porções de setores circulares). A Figura 1.8 representa os elementos a usar em cada caso,
situados em torno de um ponto genérico do material (P).

a b
Figura 1.8 – Elementos de volume no método dos volumes finitos: (a) geometria retangular; (b) geometria circular.

No método dos volumes finitos é feito um balanço energético de cada um dos volumes que
compõem o material. Cada elemento de volume é considerado a uma temperatura uniforme, e
troca os 4 fluxos correspondentes às 4 fronteiras representadas na Figura 1.8, escritos em função
das temperaturas dos elementos vizinhos. Por exemplo, a equação de balanço para o elemento
(i, j) da Figura 1.8(a), considerando a possibilidade de haver fontes internas será (em regime
permanente, com condutibilidade constante, e considerando ∆𝑥 e ∆𝑦 constantes)
𝑘 𝑘 𝑘
∆𝑦(𝑇𝑖−1,𝑗 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + ∆𝑥 ∆𝑦(𝑇𝑖+1,𝑗 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + ∆𝑦 ∆𝑥(𝑇𝑖,𝑗−1 − 𝑇𝑖,𝑗 ) +
∆𝑥
𝑘
+ ∆𝑦 ∆𝑥(𝑇𝑖,𝑗+1 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + 𝑔̇ ∆𝑥∆𝑦 = 0 (1.38)

Construída uma malha de nodos (pontos) e elementos de volume, existirá uma equação de
balanço análoga a (1.38) para cada nodo/elemento. O sistema de equações pode ser resolvido
de forma a calcular as temperaturas em todos os nodos. As temperaturas em pontos intermédios
(que não os nodos) podem estimar-se por interpolação. O método é tanto mais preciso quanto
menores as dimensões ∆𝑥 e ∆𝑦, ou seja, quanto mais elementos forem usados. Para a obtenção
de uma boa solução é em muitos casos necessário resolver um sistema de muitas equações, pelo
que se requer o uso de meios computacionais. A identificação de zonas simétricas de
distribuição de temperatura é importante para reduzir o esforço de cálculo.
Os elementos e nodos situados nas fronteiras do domínio em estudo merecem atenção
particular. Como recomendado em [3], devem colocar-se nodos nas fronteiras do domínio a
estudar, como representado na Figura 1.9(a). Nesse caso, tratando-se de uma fronteira com
convecção (em 2 lados, podendo as temperaturas e coeficientes ser diferentes), a equação para
o elemento fronteira será
𝑘 ∆𝑦 𝑘 ∆𝑥
(𝑇𝑖+1,𝑗 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + ∆𝑦 (𝑇𝑖,𝑗−1 − 𝑇𝑖,𝑗 ) +
∆𝑥 2 2
∆𝑦 ∆𝑥 ∆𝑥 ∆𝑦
+ℎ1 (𝑇𝑒𝑥𝑡,1 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + ℎ2 (𝑇𝑒𝑥𝑡,2 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + 𝑔̇ =0 (1.39)
2 2 2 2

12
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

a b
Figura 1.9 – Situações especiais no método dos volumes finitos: (a) elemento fronteira (canto); (b) elemento
contendo materiais diferentes.

Outro caso especial ocorre na fronteira entre 2 materiais diferentes. Nessa altura pode usar-se
um único elemento de volume composto pelos 2 materiais – ver Figura 1.9(b). Nesse caso a
equação a usar será
𝑘𝐴 ∆𝑦 𝑘 ∆𝑦 𝑘 ∆𝑦 𝑘 ∆𝑦
(𝑇𝑖−1,𝑗 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + ∆𝑥𝐵 (𝑇𝑖−1,𝑗 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + ∆𝑥𝐴 (𝑇𝑖+1,𝑗 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + ∆𝑥𝐵 (𝑇𝑖+1,𝑗 −
∆𝑥 2 2 2 2
𝑘 𝑘 ∆𝑦 ∆𝑦
−𝑇𝑖,𝑗 ) + ∆𝑦𝐴 ∆𝑥(𝑇𝑖,𝑗+1 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + ∆𝑦𝐵 ∆𝑥(𝑇𝑖,𝑗−1 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + 𝑔̇ 𝐴 ∆𝑥 + 𝑔̇ 𝐵 ∆𝑥 =0 (1.40)
2 2

Quanto ao método dos elementos finitos, ele não assenta na utilização de elementos baseados
nas coordenadas cartesianas ou cilíndricas vistas. Ele usa um conjunto de nodos e elementos
triangulares (em 2D) que se distribuem pelo domínio a estudar. As fronteiras do domínio são
aproximadas a segmentos de reta. São elementos muito mais fáceis de adaptar a geometrias
encurvadas (não retangulares nem circunferenciais) – Figura 1.10.

a b
Figura 1.10 – Elementos finitos: (a) elementos triangulares e nodos; (b) sistemas nodais (fronteiras fechadas).

Nos elementos da Figura 1.10(a) a temperatura é suposta variar linearmente entre os 3 vértices
(nodos) de cada elemento. O problema consiste em calcular a temperatura em cada nodo. Cada
elemento triangular tem 3 graus de liberdade, pois são necessários 3 valores nodais para calcular
a temperatura em qualquer ponto no interior do elemento triangular. Variando a temperatura
linearmente em cada lado dos triângulos definidos, as isotérmicas são perpendiculares a esses
lados, podendo representar-se elementos de volume com 6 isotérmicas em torno de cada nodo
interior – os sistemas nodais da Figura 1.10(b). É feito um balanço energético para cada um dos
sistemas nodais, expressando os fluxos de calor através das suas fronteiras. Para os detalhes
matemáticos pode consultar-se a referência [4].

13
Capítulo 1 - Condução

1.1.6 Problemas práticos resolvidos (P1.1 a P1.13)

Na resolução de problemas de transferência de calor, é fundamental identificar as hipóteses


físicas subjacentes ao modelo de cálculo que se vai construir. É também importante fazer uma
representação esquemática do problema a resolver, constituída por um desenho da geometria,
dos fluxos de calor, ou das resistências térmicas envolvidas. Esta representação é um auxiliar
de memória das condições impostas no problema, e permite resumir os dados e grandezas
conhecidas e desconhecidas. Aplica-se esta metodologia nos problemas seguintes.
P1.1

10 mm painel de madeira
suporte
130 mm
isolante
10 mm painel de madeira
x
40 mm
y

A figura acima representa (em corte num plano horizontal) uma parede exterior de um edifício,
cujo espaço interior é mantido a 20ºC, estando o ar exterior à temperatura constante de 0ºC. O
coeficiente de convecção interior é de 5 W/m2ºC, e o coeficiente de transferência de calor na
face exterior da parede é de 20 W/m2ºC.
A parede é composta por painéis de madeira (exterior e interior, com k=0,16 W/mºC), separados
por placas de suporte também em madeira (mesmo k=0,16 W/mºC), e preenchidos por material
isolante térmico (fibra de vidro, com k=0,038 W/mºC). Sendo a largura da parede de 6 m, com
10 placas de suporte igualmente espaçadas, e a sua altura (na direção perpendicular ao plano da
figura) de 2,5 m, calcule a potência calorífica que a atravessa.
Resolução e discussão

Trata-se de um problema em que as temperaturas se mantêm constantes no tempo (regime


permanente). Admitindo que não há variação de temperatura na vertical, pela uniformidade da
geometria e dos materiais nessa direção, as temperaturas no conjunto (parede) variam nas
direções x e y (condução bidimensional permanente). No entanto, é possível obter soluções
aproximadas com base na formulação monodimensional, e nomeadamente recorrendo à noção
de resistências térmicas. Assim, consideremos o seguinte esquema de resistências entre o
interior e o exterior, para um elemento típico da parede (em toda a largura existem 10 elementos
semelhantes:

300 mm 300 mm

10 mm

130 mm

10 mm

40 mm

14
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

O esquema de resistências representado admite que a temperatura dos painéis de madeira não
varia ao longo da largura da parede (é igual no mesmo valor de x, para qualquer coordenada y).
No interior da parede, existindo em paralelo o isolante e o suporte, para o mesmo valor de x a
temperatura não é igual nos 2 materiais; no entanto, é feita a simplificação de desprezar o fluxo
de calor entre os mesmos, segundo a direção y; ou seja, os fluxos de calor só têm a direção x.
As resistências para cada elemento considerado são:
1 1
𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡 = ℎ = 5×(0,6×2,5) = 0,133 ºC/W
𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑝𝑚

𝑒 0,01
𝑅𝑝𝑚,𝑖𝑛𝑡 = 𝑘 𝑝𝑚,𝑖𝑛𝑡 = 0,16×(0,6×2,5) = 0,0417 ºC/W
𝐴𝑝𝑚 𝑝𝑚

𝑒𝑠𝑢𝑝 0,130
𝑅𝑠𝑢𝑝 = 𝑘 = 0,16×(0,04×2,5) = 8,125 ºC/W
𝑚 𝐴𝑠𝑢𝑝

𝑒𝑖𝑠𝑜𝑙 0,130
𝑅𝑖𝑠𝑜𝑙 = 𝑘 = 0,038×(0,56×2,5) = 2,444 ºC/W
𝑖𝑠𝑜𝑙 𝐴𝑖𝑠𝑜𝑙

𝑒𝑝𝑚,𝑒𝑥𝑡 0,01
𝑅𝑝𝑚,𝑒𝑥𝑡 = 𝑘 = 0,16×(0,6×2,5) = 0,0417 ºC/W
𝑝𝑚 𝐴𝑝𝑚

1 1
𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 = ℎ = 20×(0,6×2,5) = 0,0333 ºC/W
𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑝𝑚

Note-se que a resistência do isolante é 3,3 vezes menor que a resistência do suporte: apesar da
menor condutibilidade do isolante (cerca de 4 vezes menor), a área (largura) é bastante maior.
Assim, a resistência do paralelo vem igual a 1,879 ºC/W, e a resistência global, somando essa
às restantes resistências em série, é igual a 2,129 ºC/W. A potência calorífica transmitida por
cada elemento, do interior para o exterior, igual à diferença de temperatura dividida pela
resistência, é de 9,39 W. Havendo 10 elementos na parede, a potência total é de 93,9 W.
No entanto, e ainda com uma aproximação monodimensional (1D) usando resistências
térmicas, é também possível usar o esquema seguinte:

Neste esquema, assume-se que a temperatura dos painéis pode variar na direção y, com exceção
das faces externas da parede. As resistências parciais (índices 1 e 2) correspondem,
respetivamente, às áreas da secção do suporte e da secção do isolante, e são:

15
Capítulo 1 - Condução

𝑒𝑝𝑚 0,01
𝑅𝑝𝑚,𝑖𝑛𝑡,1 = 𝑅𝑝𝑚,𝑒𝑥𝑡,1 = 𝑘 = 0,16×(0,04×2,5) = 0,625 ºC/W
𝑝𝑚 𝐴𝑠𝑢𝑝

𝑒𝑝𝑚 0,01
𝑅𝑝𝑚,𝑖𝑛𝑡,2 = 𝑅𝑝𝑚,𝑒𝑥𝑡,1 = 𝑘 = 0,16×(0,56×2,5) = 0,0446 ºC/W
𝑝𝑚 𝐴𝑖𝑠𝑜𝑙

Para este esquema alternativo a resistência equivalente do paralelo é igual a 1,994 ºC/W, e a
resistência global é de 2,160 ºC/W. Esta conduz a uma potência por elemento de 9,26 W e uma
potência total de 92,6 W. Saliente-se a pequena diferença nos resultados: inferior a 2%. Essa
diferença tenderá a aumentar em casos em que a diferença de condutibilidades térmicas dos
elementos em paralelo se acentue.
Pode ainda considerar-se um esquema de resistências alternativo, admitindo que nas faces
exteriores dos painéis de madeira (lado interior e lado exterior da parede) a temperatura também
pode variar com y, podendo assumir 2 valores. Tal corresponde a dividir cada uma das
resistências de convecção 𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡 e 𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 em 2 resistências em paralelo, como feito
anteriormente para 𝑅𝑝𝑚,𝑖𝑛𝑡 e 𝑅𝑝𝑚,𝑒𝑥𝑡 (divididas em 1 e 2). Com essa abordagem a resistência
global do elemento vem igual a 2,191 ºC/W, e a potência total a 91,3 W. Este valor é também
menos de 2% inferior ao anterior.
Vamos agora aplicar um método de resolução que contabilize de forma mais adequada a
variação bidimensional da temperatura no conjunto (com x e y). Para tal foi aplicado um modelo
numérico com o método dos elementos finitos, começando por simplificar a geometria em
causa, através da consideração dos vários eixos de simetria identificáveis. A geometria simulada
está representada na figura seguinte:

Cada um dos 10 elementos considerados anteriormente foi dividido a meio, considerando o


eixo de simetria que passa pelo centro de cada suporte. Tal permite reduzir para metade o
número de elementos de volume a utilizar. Foram ainda impostas as seguintes condições
fronteira: convecção (coeficiente e temperatura exterior) nas faces exteriores da parede; fluxo
de calor igual a zero nos eixos de simetria da figura acima.
Mesmo assim, na procura de uma maior precisão dos resultados, foram considerados 1073
nodos na malha criada, o que corresponde a resolver um sistema de 1073 equações a 1073
incógnitas. Com recurso a meios computacionais, foram obtidas as temperaturas nos elementos
em causa. A figura seguinte mostra a distribuição de temperaturas no conjunto, através da
representação das linhas isotérmicas correspondentes às temperaturas de 17ºC até 1ºC, com um
intervalo de 2ºC entre linhas. Nota-se que as isotérmicas são praticamente horizontais no
material isolante (temperatura praticamente só varia com x), o que não acontece junto ao
suporte, em particular nas extremidades, onde a temperatura varia mais acentuadamente com y.
A figura representa ainda vetores fluxos de calor em diversos pontos do conjunto. Como se
sabe, em cada ponto estes vetores são perpendiculares à isotérmica que passa nesse ponto.

16
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Verifica-se que os fluxos se dão praticamente só na direção x no material isolante, tendo


componentes x e y junto ao suporte, sobretudo nas extremidades deste, como resulta da
distribuição de temperaturas.

Da soma dos fluxos na fronteira do domínio (fronteira superior ou inferior), e considerando a


existência de 20 elementos semelhantes em toda a largura da parede, obtém-se uma potência
total transferida de 92,0 W. O valor que mais se aproxima deste com a aproximação
monodimensional, foi o calculado com base no segundo esquema de resistências considerado
(92,6); no entanto, também o terceiro esquema apresenta uma diferença semelhante (neste caso
com um valor inferior, igual a 91,3).
Também se reveste de interesse verificar o que acontece quando o material usado nos painéis
externos e suportes se altera, bem como a sua condutibilidade térmica. Usando aço inox em vez
de madeira, com uma condutibilidade térmica de 15 W/mºC, que é cerca de 100 vezes superior
à considerada para a madeira, e cerca de 400 vezes superior à do material isolante, obtêm-se as
isotérmicas e fluxos da figura seguinte.

17
Capítulo 1 - Condução

Note-se que nos painéis de aço os fluxos são praticamente na direção y; o calor passa quase
totalmente pelo aço, concretizando o efeito de “ponte térmica”. A potência total transferida na
parede (com 20 elementos como os da figura) será agora de 524,5 W (5,7 vezes maior). Usando
as resistências térmicas, e o segundo esquema visto antes, obter-se-iam 761,2 W, pelo que o
erro desse método se agrava com o aumento da condutibilidade (e da diferença de
condutibilidades). O valor real (ou o mais próximo, usando a aproximação 2D) é bastante menor
que o calculado com as resistências 1D, uma vez que como se vê na figura anterior o calor que
passa no aço tem um percurso bastante mais longo, tendo de atravessar a largura dos painéis e
o comprimento do separador.

18
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.2

Uma parede é composta por uma camada de 10 cm de espessura de cimento, colocada entre 2
placas de aço com 10 mm (cada). As placas são unidas ao cimento através de rebites, cujo
diâmetro é de 10 mm, existindo 9 rebites/m2 de parede. Desprezando o efeito/existência das
cabeças dos rebites, calcule o coeficiente global de transferência de calor desta parede.

Resolução e discussão

Trata-se de um problema em que a temperatura varia nas 3 direções do espaço (x, y e z). No
entanto é possível fazer um cálculo de um valor aproximado, admitindo condução do calor
apenas na direção x. Tal hipótese é razoável, apesar da diferença de condutibilidades entre o
aço e o cimento (12,5 vezes maior para o aço).
No entanto, e por referência ao problema P1.1, em que se analisou o efeito de diferentes
condutibilidades de materiais/resistências transferindo calor em paralelo, estamos bastante
longe da situação vista para o caso aço/isolante, em que uma diferença de cerca de 400 vezes
criava uma “ponte térmica” que fazia com que o calor não passasse predominantemente ao
longo da espessura das placas. Neste caso, para além da muito menor diferença de
condutibilidades, os rebites de aço não ocupam toda a altura da parede (como acontecia com os
suportes em P1.1), ocupando apenas o espaço que corresponde ao seu diâmetro e densidade de
rebites. Assim sendo, é razoável considerar que os fluxos de calor ocorrem unicamente na
direção x.
Podem usar-se resistências monodimensionais, como as vistas no esquema 2 do problema 1.1,
excluindo as resistências de convecção. A resistência global virá igual a 0,0841 m2ºC/W, e o
correspondente coeficiente global de transferência de calor será igual a 11,9 W/m 2ºC. Note-se
que ao desprezar a existência dos rebites se obteria um coeficiente global de 11,8 W/m2ºC,
muito semelhante ao anterior, pois eles têm uma resistência térmica muito inferior à do betão.

19
Capítulo 1 - Condução

P1.3

O tratamento térmico da placa A da figura


exige que uma das suas superfícies seja
mantida à temperatura de 150ºC. Para tal,
a placa é aquecida por contacto com uma
placa metálica (B),
que é atravessada por uma corrente elétrica que gera uma potência calorífica uniforme por
unidade de volume. O conjunto tem um comprimento de 2 m e uma largura de 2 m.
A face superior da placa A, que não é percorrida por eletricidade, é arrefecida por ar a 30ºC,
com um coeficiente de convecção igual a 15 W/m2ºC. A face inferior da placa B está
perfeitamente isolada.
Desprezando a resistência de contacto entre as placas, calcule a potência a fornecer à placa B.
Calcule também a temperatura da face superior da placa A e a da face inferior da placa B. Sabe-
se que kA=100 W/mºC e kB=15 W/mºC.

Resolução e discussão

Trata-se de um problema em regime permanente, em que se pode considerar a condução apenas


na direção x assinalada na figura abaixo, sendo o início do eixo (x=0) colocado na superfície
inferior de B. Devido à pequena espessura, serão desprezadas as perdas de calor pelas
superfícies laterais das placas (direções y e z).

A figura representa a potência calorífica que atravessa a placa A (constante ao longo de x) e a


que passa para o óleo por convecção, assim como as respetivas resistências térmicas. Quanto à
placa B não se pode definir uma resistência, uma vez que a potência varia ao longo de x, devido
à geração de calor. Mas podemos integrar a equação (1.5)

𝑑 2 𝑇𝐵 𝑔̇ 𝑑𝑇𝐵 𝑔̇
 = − 𝑘𝑔 𝑥 + 𝐶1 
̇
+𝑘 =0 𝑇𝐵 = − 2𝑘 𝑥 2 + 𝐶1 𝑥 + 𝐶2
𝑑𝑥 2 𝐵 𝑑𝑥 𝐵 𝐵

A constante de integração 𝐶1 é igual a 0, a partir da condição de fluxo zero (ou 𝑑𝑇𝐵 ⁄𝑑𝑥 = 0)
em x=0 (superfície inferior de B isolada).
Também podemos calcular o fluxo de calor que sai de B, através da diferença de temperatura
(150-30) e da associação em série das resistências de A e convecção (por unidade de área),
vindo
150−30 120
𝑞̇ 𝐴 = 𝑒𝐴 1 = 0,05 1 = 1787 W/m2
+ +
𝑘𝐴 ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 100 15

20
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

que por sua vez é igual ao produto da condutibilidade de B pelo gradiente de temperatura na
interface (da lei de Fourier, em x=0,05), ou seja
𝑑𝑇𝐵 𝑔̇
𝑞̇ 𝐴 = 𝑞̇ 𝐵 |𝑥=0,05 = −𝑘𝐵 | = −𝑘𝐵 (− 𝑘 × 0,05 + 𝐶1 ) = 𝑔̇ × 0,05 − 0=
𝑑𝑥 𝑥=0,05 𝐵

Da igualdade das 2 equações anteriores pode calcular-se 𝑔̇ = 3,574 × 104 W/m3. A potência
total a fornecer a B será então, multiplicando pelo volume, de 7148 W.
A temperatura em x=0,05 m é conhecida e igual a 150ºC. Dessa condição e da equação de 𝑇𝐵
(com 𝐶1 =0) vem
𝑔̇
150 = − × 0,052 + 𝐶2
30

que permite calcular 𝐶2 = 153,0ºC, que é igual à temperatura em x=0 (𝑇𝐵 |𝑥=0 ).
Quanto a 𝑇𝑠𝑢𝑝 , usando o fluxo (𝑞̇ 𝐴 ) e qualquer das resistências de convecção ou condução, vem
igual a 149,1ºC.
Note-se que se a mesma potência total fosse fornecida à placa B por contacto na sua face
inferior, para a mesma condição na placa A, a temperatura máxima de B seria de 156ºC, sendo
a variação de temperatura em B linear.

21
Capítulo 1 - Condução

P1.4

A placa B da figura representa um elemento de combustível nuclear, que é revestido dos 2 lados
por placas de aço com condutibilidades diferentes (A e C). O calor gerado no combustível
nuclear, com uma taxa de 4 MW/m3, é removido em ambas as superfícies exteriores (de A e C)
por um escoamento de água a 25ºC, com um coeficiente de convecção de 1000 W/m2ºC.
Assumindo resistências de contacto desprezáveis e as restantes condições indicadas na figura,
calcule as temperaturas das várias faces/interfaces das placas e a temperatura máxima no
conjunto.
Resolução e discussão

Vamos considerar que a transferência de calor se dá em regime permanente, com variação de


temperatura apenas ao longo da espessura das placas. A origem do eixo x pode ser colocada em
qualquer ponto, não havendo neste caso vantagem, em termos de cálculos, em colocá-la no eixo
central do conjunto ABC, uma vez que não existe simetria lateral (devido às diferentes
condutibilidades de A e C). Nos cálculos que se seguem considera-se a origem na interface A-
B. A figura seguinte representa esquematicamente os fluxos e resistências térmicas em A e C.

Para o combustível (B), havendo geração de calor interna, podemos escrever:

𝑑 2 𝑇𝐵 𝑔̇ 𝑑𝑇𝐵 𝑔̇
 = − 𝑘𝑔 𝑥 + 𝐶1 
̇
+𝑘 =0 𝑇𝐵 = − 2𝑘 𝑥 2 + 𝐶1 𝑥 + 𝐶2
𝑑𝑥 2 𝐵 𝑑𝑥 𝐵 𝐵

O fluxo de condução em A pode obter-se pela associação das resistências do lado esquerdo. E
será igual ao verificado na interface A-B, ou seja
𝑇 −25 𝑇𝐵,𝑥=0 −25 𝐶 −25
𝑞̇ 𝐴 = − 𝑒𝐴𝐴−𝐵 1 = − 0,025 1 = − 0,0252 1 =(note-se que o fluxo se dá no sentido negativo de x)
+ + +
𝑘𝐴 ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,𝐴 25 1000 25 1000

22
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

𝑑𝑇𝐵 𝑔̇
𝑞̇ 𝐴 = 𝑞̇ 𝐵 |𝑥=0 = −𝑘𝐵 | = −𝑘𝐵 (− 𝑘 × 0 + 𝐶1 ) = −15 𝐶1 =
𝑑𝑥 𝑥=0 𝐵

O equivalente pode ser feito para o fluxo em C, vindo


𝑔̇
𝑇 −25 𝑇𝐵,𝑥=0,05 −25 (− ×0,052 +𝐶1 ×0,05+𝐶2 )−25
𝑞̇ 𝐶 = 𝑒𝐶𝐵−𝐶1 = 0,025 1 = 2×15
0,025 1 =
+ + +
𝑘𝐶 ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,𝐶 50 1000 50 1000

𝑑𝑇𝐵 𝑔̇
𝑞̇ 𝐶 = 𝑞̇ 𝐵 |𝑥=0,05 = −𝑘𝐵 | = −𝑘𝐵 (− 𝑘 × 0,05 + 𝐶1 ) = 𝑔̇ × 0,05 − 15 𝐶1 =
𝑑𝑥 𝑥=0,05 𝐵

Igualando as 2 equações para 𝑞̇ 𝐴 e as 2 para 𝑞̇ 𝐶 , obtém-se um sistema de equações para cálculo


de 𝐶1 e 𝐶2 . O seu resultado é 𝐶1 = 6179 e 𝐶2 = 210,4.
A partir do cálculo das constantes pode então escrever-se

𝑇𝐵 = −133333 𝑥 2 + 6179 𝑥 + 210,4=

que permite calcular 𝑇𝐴−𝐵 =𝑇𝐵,𝑥=0 =210,4ºC e 𝑇𝐵−𝐶 =𝑇𝐵,𝑥=0,05=186,0ºC.


Para calcular 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝐴 e 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝐶 podem usar-se os fluxos e resistências de convecção. Com 𝑞̇ 𝐴 =
−92700 W/m2 e 𝑞̇ 𝑐 = 107333 W/m2, resultam 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝐴 = 117,7 ºC e 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝐶 = 132,3ºC.
Quanto à temperatura máxima, verifica-se no interior do combustível (B), mas não a meio. Pode
calcular-se o máximo da função 𝑇𝐵 (𝑥), e depois calcular o ponto em que ocorre e o seu valor.
Resulta 𝑥 = 0,023 m como ponto de temperatura máxima, com o valor de 282,0ºC.
O gráfico seguinte mostra o perfil de temperaturas no conjunto ABC.

23
Capítulo 1 - Condução

P1.5

A figura representa a secção de uma


tubagem, na qual se encontra vapor a
uma temperatura de 200ºC. É
constituída por um tubo de aço, com
espessura desprezável, isolado com 2
materiais diferentes (A e B), ambos
com 50 mm de espessura.
No interior o coeficiente de convecção do vapor é de 100 W/m2ºC. No exterior circula ar a
25ºC, e o coeficiente de transferência para o exterior é igual a 25 W/m2ºC.
Admitindo que não passa calor na junção A-B, calcule a potência calorífica perdida pela
tubagem, e ainda as temperaturas superficiais de A e B.

Resolução e discussão

Este problema pode ser tratado através da solução vista para condução monodimensional radial
(em regime permanente), visto que se admite não passar calor entre A e B, o que faz com que
a temperatura não varie circunferencialmente (ângulo  da Figura 1.1).
Como representa a figura seguinte, temos a possibilidade de considerar 2 conjuntos de
resistências em paralelo: no material A e no B (meio tubo cada). Cada conjunto engloba 3
resistências, somando a convecção interior, a condução (A ou B) e a convecção exterior (a
condução no tubo de aço é desprezável). Para além das áreas de convecção. As áreas que
intervêm nas resistências de convecção correspondem a metade do tubo, e a equação (1.17) para
a resistência de condução radial deverá ser adaptada para contabilizar um perímetro de
condução que corresponde a  e não 2. Faremos uma análise por metro de comprimento de
tubagem, uma vez que não se conhece esse comprimento, o que não é importante uma vez que
se despreza a variação da temperatura e fluxos ao longo do eixo do tubo.

Assim, teremos as seguintes resistências (por metro de comprimento)


1 1
𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡,𝐴 = ℎ = 100×𝜋×0,050 = 0,0637 mºC/W
𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡 𝜋𝑟𝑖𝑛𝑡

𝑙𝑛(𝑟𝑒𝑥𝑡 /𝑟𝑖𝑛𝑡 ) 𝑙𝑛(100/50)


𝑅𝑐𝑜𝑛𝑑,𝐴 = = = 0,110 mºC/W
𝜋𝑘𝐴 𝜋×2

24
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

1 1
𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡,𝐴 = ℎ = 25×𝜋×0,100 = 0,127 mºC/W
𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 𝜋𝑟𝑒𝑥𝑡

1 1
𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡,𝐵 = ℎ = 100×𝜋×0,050 = 0,0637 mºC/W
𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡 𝜋𝑟𝑖𝑛𝑡

𝑙𝑛(𝑟𝑒𝑥𝑡 /𝑟𝑖𝑛𝑡 ) 𝑙𝑛(100/50)


𝑅𝑐𝑜𝑛𝑑,𝐵 = = = 0,883 mºC/W
𝜋𝑘𝐵 𝜋×0,25
1 1
𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡,𝐵 = ℎ = 25×𝜋×0,100 = 0,127 mºC/W
𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 𝜋𝑟𝑒𝑥𝑡

As resistências de cada conjunto são: 𝑅𝐴 = 0,301 mºC/W e 𝑅𝐵 = 1,074 mºC/W. Com esses
valores obtêm-se as seguintes potências caloríficas: 𝑄̇𝐴 = 582 W/m e 𝑄̇𝐵 = 163 W/m; a
potência total perdida é de 745 W/m. Note-se que, sendo a condutibilidade de A 8 vezes
superior à de B, a potência transferida através de A é apenas cerca de 3,5 vezes superior à
transferida através de B.
Para as temperaturas superficiais teremos:
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡,𝐴 = 𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑄̇𝐴 𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡,𝐴 = 200 − 582 × 0,0637 = 162,9 ºC
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡,𝐴 = 𝑇𝑒𝑥𝑡 + 𝑄̇𝐴 𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡,𝐴 = 25 + 582 × 0,127 = 98,9 ºC
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡,𝐵 = 𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑄̇𝐵 𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡,𝐵 = 200 − 163 × 0,0637 = 189,6 ºC
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡,𝐵 = 𝑇𝑒𝑥𝑡 + 𝑄̇𝐵 𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡,𝐵 = 25 + 163 × 0,127 = 45,7 ºC

De modo a julgar a aproximação utilizada – não passagem de calor na junção A-B – aplicou-se
um modelo numérico 2D considerando transferência entre A e B, usando o método dos
elementos finitos. As figuras seguintes apresentam resultados para 7872 nodos.

25
Capítulo 1 - Condução

O primeiro gráfico representa a distribuição de temperaturas com 10 intervalos de temperatura


e respetivos códigos de cores. O segundo gráfico sobrepõe ao anterior os vetores de fluxo de
calor. Note-se que os fluxos se dão praticamente na direção radial, pelo que a aproximação de
condução 1D radial é bastante boa. A exceção verifica-se numa pequena zona muito próxima
da interface A-B, em que há uma componente circunferencial dos fluxos. As temperaturas
superficiais em A e B calculadas anteriormente (modelo 1D) estão dentro dos intervalos da
representação 2D. As potências obtidas com o modelo 2D são de: 𝑄̇𝐴 = 560 W/m e 𝑄̇𝐵 = 178
W/m, sendo o total de 738 W. O valor de 𝑄̇𝐴 é um pouco inferior (4%) no cálculo 2D e o valor
de 𝑄̇𝐵 um pouco superior (9%). O menor valor da potência em A deve-se a que parte do calor
que passaria na hipótese 1D radialmente junto à junção A-B, é na realidade “desviado” para B,
devido à menor temperatura em B (ver figura), indo então aumentar a potência que passa em
B. No entanto os valores totais são muito próximos (745 versus 738 W), com uma diferença
inferior a 1%. Note-se que apesar da melhor aproximação à realidade do método numérico 2D,
este não é exato, estando também sujeito a erros.

26
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.6

A figura acima representa uma peça cilíndrica em aço (k=25 W/mºC), com as dimensões
assinaladas. A peça é aquecida por uma manga de resistências elétricas, que lhe fornece uma
potência superficial de 250 W/m2. Os topos da peça transferem calor para o exterior (a 25ºC) a
uma taxa de 20 W/m2K. Calcule as temperaturas máxima e mínima na peça, em regime
permanente.

Resolução e discussão

Trata-se de um problema de condução em regime permanente. Atendendo ao pequeno diâmetro


da peça, face ao seu comprimento, é razoável admitir que a temperatura não varia na sua secção,
variando apenas ao longo do comprimento. Assim, procuramos uma solução 1D, que pode
representar-se na figura seguinte, sendo x a coordenada ao longo do comprimento.

Por uma questão de simetria, e facilidade de cálculo, a origem do eixo x foi colocada no centro
da peça. Será nesse ponto (x=0) que se verificará a temperatura máxima. A temperatura
decrescerá desse ponto para a esquerda, e desse ponto para a direita, até aos topos, onde a
temperatura será mínima, transferindo-se calor para o exterior.
Não se pode usar a equação (1.6) uma vez que a peça recebe calor na superfície (ao longo de
x), mas pode adaptar-se a equação (1.5), válida para geração interna de calor. Uma vez que a
temperatura por hipótese não varia na secção, a potência fornecida à superfície tem o mesmo
efeito na temperatura que o fornecimento uniforme por unidade de volume. Há só que adaptar
a equação (1.5) de modo a calcular a fonte equivalente (𝑔̇ ). Essa fonte pode obter-se dividindo
a potência total pelo volume, vindo então a equação

𝑑2 𝑇 𝑔̇ 𝑑2 𝑇 𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 𝑃𝐿/𝑉 𝑑2 𝑇 𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 4/𝐷


+ 𝑘 = 𝑑𝑥 2 + = 𝑑𝑥 2 + =0
𝑑𝑥 2 𝑘 𝑘

onde P é o perímetro da secção da peça, L o comprimento, V o volume e D o diâmetro.

27
Capítulo 1 - Condução

A sua integração conduz a


2𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝
𝑇=− 𝑥 2 + 𝐶1 𝑥 + 𝐶2
𝑘𝐷

Tendo colocado x=0 no centro da peça, a que corresponde um eixo de simetria, pode impôr-se
𝑑𝑇/𝑑𝑥|𝑥=0 = 0, o que leva a que 𝐶1 = 0. Quanto a 𝐶2 , que equivale a 𝑇|𝑥=0 = 𝑇𝑚𝑎𝑥 , pode
calcular-se pela condição fronteira no topo:
𝑑𝑇 4𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 2𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝
−𝑘 𝑑𝑥 | = ℎ( 𝑇|𝑥=0,1 − 25)= −𝑘 (− × 0,1) = ℎ (− 0,12 + 𝐶2 − 25)
𝑥=0,1 𝑘𝐷 𝑘𝐷

da qual resulta 𝐶2 = 285.

Assim, 𝑇𝑚𝑎𝑥 = 𝑇|𝑥=0 = 𝐶2 = 285ºC, e da equação de T vem 𝑇𝑚𝑖𝑛 = 𝑇|𝑥=0,1 = 275ºC.

A temperatura da peça varia então 10ºC entre o centro e os topos.


Poder-se-ia obter uma solução com um método numérico 2D, considerando a variação da
temperatura com x e com o raio r, tendo em conta que a temperatura não varia
circunferencialmente (com o ângulo  da Figura 1.1), uma vez que a peça é aquecida
uniformemente em todo o perímetro da superfície cilíndrica. Mas, como suposto inicialmente,
a variação radial é desprezável face à longitudinal.

28
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.7
Numa rede de distribuição de água
quente a 80ºC esta circula num tubo de
aço com as dimensões da figura. O tubo
é revestido por uma manga de isolante
térmico, com a espessura de 20 mm. O
coeficiente de convecção interior (água)
é de 2000 W/m2ºC, e o coeficiente de
transferência de calor para o exterior de 5 W/m2ºC. Calcule a potência calorífica perdida (por
metro de comprimento) e as temperaturas nos vários pontos do conjunto. Diga se será benéfico
aumentar a espessura do isolamento.
Resolução e discussão

Este é um problema de condução em regime permanente, que com muito boa aproximação se
pode considerar monodimensional radial. A simetria de condições em torno do conjunto
(circunferencial) assim o justifica, bem como a consideração de condições constantes ao longo
do comprimento de escoamento. A figura seguinte resume a transferência de calor do interior
para o exterior, com as respetivas resistências de condução cilíndrica e temperaturas mais
relevantes.

Pode calcular-se a resistência global somando as 4 resistências em série. Usando a equação


(1.18), para um comprimento de 1 m:

1 𝑙𝑛(𝐷𝑡,𝑒𝑥𝑡 /𝐷𝑡,𝑖𝑛𝑡 ) 𝑙𝑛(𝐷𝑒𝑥𝑡 /𝐷𝑡,𝑒𝑥𝑡 ) 1


𝑅𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 = ℎ + + +ℎ =
𝑖𝑛𝑡 𝜋𝐷𝑖𝑛𝑡 2𝜋𝑘𝑎ç𝑜 2𝜋𝑘𝑖𝑠 𝑒𝑥𝑡 𝜋𝐷𝑒𝑥𝑡

1 𝑙𝑛(26/25) 𝑙𝑛(46/26) 1
= 2000𝜋×2×0,025 + + 2𝜋×0,035 + 5𝜋×2×0,046 = 3,290 mºC/W
2𝜋×15

A potência calorífica pode então calcular-se dividindo a diferença de temperaturas (80-20) pela
resistência global, o que resulta em 𝑄̇ = 18,2 W/m.
Podem obter-se as temperaturas relevantes a partir das resistências individuais:

𝑇𝑡,𝑖𝑛𝑡 = 𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑄̇ 𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡 = 80 − 18,2 × 0,00318 = 79,94 ºC

𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 = 𝑇𝑡,𝑖𝑛𝑡 − 𝑄̇ 𝑅𝑐𝑜𝑛𝑑,𝑎ç𝑜 = 79,94 − 18,2 × 4,161 × 10−4 = 79,93 ºC

29
Capítulo 1 - Condução

𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 = 𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 − 𝑄̇ 𝑅𝑐𝑜𝑛𝑑,𝑖𝑠 = 79,93 − 18,2 × 2,594 = 32,72 ºC

Como as resistências de convecção interior e de condução no tubo de aço são muito baixas, a
temperatura praticamente só varia no isolante, e daí para o exterior. Podemos obter a
temperatura para qualquer ponto do isolante através da integração da equação (1.14):
𝑑 𝑑𝑇𝑖𝑠 𝑑𝑇𝑖𝑠 ̇
(𝑟 )=0  𝑑𝑟
= 𝐶𝑟1  𝑇𝑖𝑠 = 𝐶1 𝑙𝑛(𝑟) + 𝐶2
𝑑𝑟 𝑑𝑟

podendo calcular-se 𝐶1 e 𝐶2 a partir das condições nas fronteiras do isolante, que podem ser as
temperaturas já calculadas. Virá assim
𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 −𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 𝑟 𝑟
𝑇𝑖𝑠 (𝑟) = 𝑙𝑛 (𝑟 ) + 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 = 32,72 − 82,75 𝑙𝑛 (0,046)
𝑙𝑛(𝑟𝑡,𝑒𝑥𝑡 /𝑟𝑒𝑥𝑡 ) 𝑒𝑥𝑡

O gráfico seguinte mostra a evolução da temperatura do isolante ao longo do raio. Note-se a


maior variação para raios menores, devida à menor área da secção de condução.

Para avaliar o benefício do aumento da espessura de isolante podemos recorrer ao cálculo do


raio crítico. Como visto na equação (1.19), 𝑟𝑐𝑟 = 𝑘𝑖𝑠 ⁄ℎ𝑒𝑥𝑡 , o que dará 𝑟𝑐𝑟 = 0,007 m. Assim,
como o raio exterior do tubo (mínimo para o isolante) é de 26 mm, neste caso não existe uma
espessura de isolante que conduza a uma potência transferida máxima, pelo que o aumento
dessa espessura se traduz sempre numa diminuição da potência. Poderá ser definido um valor
ótimo tendo em conta o aumento do custo do isolante com a espessura, e a diminuição das
perdas (de energia) com o aumento da espessura – a chamada espessura económica de
isolamento.

30
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.8
Um cabo elétrico é constituído por um
cilindro em cobre (k=250 W/mK) com
50 mm de diâmetro, revestido por um
isolante elétrico de plástico (k=0,15
W/mK) com espessura de 2 mm. Ao
passar corrente elétrica, gera-se a
potência uniforme no cobre de 39000
W/m3.
O conjunto está rodeado por ar calmo à temperatura de 20ºC, com um coeficiente de
transferência para o exterior de 5 W/m2K.
Calcule a temperatura na superfície exterior (plástico) e na interface cobre-plástico, e ainda a
temperatura máxima no cobre. Alterando a espessura do revestimento do cabo conseguiria uma
menor temperatura interior?

Resolução e discussão

Trata-se de outro problema de condução radial (1D) em regime permanente. Neste caso um
material (cobre) tem uma fonte de calor interna, e no outro há condução sem fontes.
A figura seguinte esquematiza o problema. Queremos calcular 𝑇𝑠𝑢𝑝 , 𝑇1 e 𝑇𝑚𝑎𝑥 . A temperatura
máxima ocorre no centro (r=0).

Em regime permanente a potência que passa para o exterior é exatamente igual à que se gera
no interior do cobre, que se pode calcular por

𝑄̇ = 𝑔̇ 𝑉 = 39000 × 𝜋𝑟𝑖2 × 1 = 76,6 W/m


Podem obter-se as temperaturas na superfície exterior e na interface a partir das resistências
individuais:
1
𝑇𝑠𝑢𝑝 = 𝑇𝑒𝑥𝑡 + 𝑄̇ 𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 = 20 + 76,6 × 5×2𝜋×0,027×1 = 110,31ºC

𝑙𝑛(27/25)
𝑇1 = 𝑇𝑠𝑢𝑝 + 𝑄̇ 𝑅𝑐𝑜𝑛𝑑 = 110,31 + 76,6 × 2𝜋×0,15×1 = 116,57ºC

Quanto a 𝑇𝑚𝑎𝑥 , teremos de a calcular considerando a condução radial com fontes internas, ou
seja, através da resolução da equação (1.13).
1 𝑑 𝑑𝑇𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 𝑔̇ 𝑑𝑇𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒
 = − 2𝑘𝑔 𝑟 + 𝐶𝑟1 
̇
(𝑟 )+𝑘 =0 𝑑𝑟
𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝑟 𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒

31
Capítulo 1 - Condução

𝑔̇ 𝑟 2
 𝑇𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 = − 4𝑘 + 𝐶1 𝑙𝑛(𝑟) + 𝐶2
𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒

podendo calcular-se 𝐶1 e 𝐶2 a partir das condições nas fronteiras do cilindro de cobre. Estas
são: na interface 𝑇𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 = 𝑇1 , e em r=0 𝑑𝑇𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 ⁄𝑑𝑟 = 0, porque no eixo existe simetria e fluxo
zero, daí resultando que 𝐶1 = 0. Quanto a 𝐶2 virá
𝑔̇ 𝑟12
𝑇𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 |𝑟=𝑟1 = − 4𝑘 + 0 × 𝑙𝑛(𝑟) + 𝐶2 = 116,57
𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒

pelo que 𝐶2 = 116,59. Assim, em r=0: 𝑇𝑚𝑎𝑥 = 𝐶2 = 116,59ºC. Esta temperatura é muito
pouco superior à temperatura da interface (𝑇1 ) porque o cobre tem uma condutibilidade térmica
muito elevada.
Quanto à análise da espessura do revestimento isolador, o raio crítico é de 𝑟𝑐𝑟 = 𝑘𝑖𝑠 ⁄ℎ𝑒𝑥𝑡 , o que
dá 𝑟𝑐𝑟 = 0,03 m ou 30 mm. Isso significa que ao aumentar a espessura de 2 mm (raio exterior
de 27 mm) para 5 mm (raio exterior de 30 mm) se diminui a resistência para o exterior,
diminuindo a temperatura interior (assumindo que o coeficiente exterior se mantém). Com 5
mm de espessura a temperatura 𝑇1 virá igual a 116,09ºC. A maior redução de temperatura
verificar-se-á na superfície exterior, com uma temperatura de 101,3ºC, ou seja, uma redução de
9ºC.

32
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.9

Um depósito esférico de aço (k=15 W/mK) contém reagentes


químicos que libertam calor para o exterior. O depósito tem
um diâmetro interior de 1 m e um diâmetro exterior de 1,1 m.
Com uma temperatura exterior de 25ºC, mede-se uma
temperatura de 50ºC na superfície exterior do depósito, que
se mantém constante no tempo. Nestas condições, estima-se
um coeficiente de transferência de calor exterior de 40
W/m2K.
Calcule a potência transferida para o exterior e a temperatura em 2 secções do depósito: parede
interior e espessura intermédia da parede.
Resolução e discussão

Mantendo-se a temperatura do depósito ao longo do tempo, verifica-se a existência de regime


permanente. Admitem-se condições idênticas a toda a volta do depósito, pelo que, desprezando
a influência da estrutura de suporte, podemos admitir que a condução do calor se dá apenas
radialmente. A figura seguinte resume as condições gerais.

O conhecimento da temperatura da parede exterior, da temperatura exterior e do coeficiente de


transferência, permite calcular a potência transferida:

𝑄̇ = ℎ 𝐴𝑝,𝑒𝑥𝑡 (𝑇𝑝,𝑒𝑥𝑡 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 ) = 40 × 4𝜋 × 0,552 × (50 − 25) = 3801 W

A partir da potência já calculada e da resistência de condução esférica na parede pode calcular-


se a temperatura da parede interior. No entanto, como também é pedida a temperatura a meio
da parede, opta-se por usar a equação (1.21) para condução esférica sem fontes, que pode ser
integrada, permitindo calcular a temperatura em qualquer secção da parede esférica:
𝑑 𝑑𝑇𝑝 𝑑𝑇𝑝 𝐶1
(𝑟 2 )=0  𝑑𝑟
= 𝐶𝑟21  𝑇𝑝 = − + 𝐶2
𝑑𝑟 𝑑𝑟 𝑟

As condições fronteira para cálculo de 𝐶1 e 𝐶2 são a temperatura 𝑇𝑝,𝑒𝑥𝑡 = 50ºC e a potência


calorífica já calculada (igual em 𝑟 = 𝑟𝑖𝑛𝑡 e em 𝑟 = 𝑟𝑒𝑥𝑡 ). Ou seja,
𝐶 𝑑𝑇𝑝 𝐶
1
50 = − 0,55 + 𝐶2 e 𝑄̇ = −𝑘 𝐴𝑝,𝑒𝑥𝑡 𝑑𝑟 | = −15 × 4𝜋 × 0,552 0,551 2 = 3801
𝑟=𝑟𝑒𝑥𝑡

33
Capítulo 1 - Condução

Calculam-se assim 𝐶1 = −20,16 e 𝐶2 = 12,55. A equação para a temperatura da parede em


função do raio vem
20,16
𝑇𝑝 = + 12,55
𝑟

Substituindo r por 𝑟𝑖𝑛𝑡 = 0,5, e r por (𝑟𝑖𝑛𝑡 + 𝑟𝑒𝑥𝑡 )/2 = 0,525, obtêm-se

𝑇𝑝,𝑖𝑛𝑡 = 52,9ºC e 𝑇𝑝,𝑚𝑒𝑖𝑜 = 51,0ºC


A temperatura varia mais (maior gradiente) no interior que no exterior da parede, pela menor
área da secção no interior.

34
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.10
Considere uma alheta retangular de secção constante, com
17 mm de comprimento (L), 2 mm de espessura (e) e 10
cm de largura (l), em liga de alumínio (k=200 W/mK). A
temperatura na base é de 100ºC, a temperatura exterior de
20ºC, e o coeficiente de transferência exterior é de 50
W/m2K. Obtenha a distribuição de temperatura e a
potência calorífica transferida na alheta. Compare os
resultados obtidos ao desprezar ou considerar perdas no
topo.
Resolução e discussão

Vamos então admitir uma solução 1D, com a temperatura a variar ao longo de x, mantendo-se
igual em qualquer ponto da secção da alheta (com uma área constante). As condições estão
resumidas na figura seguinte.

Para calcular a temperatura em qualquer ponto vamos então recorrer à equação (1.30), que
admite nula/desprezável a transferência de calor no topo (x=L).
cosh[𝑚(𝐿−𝑥)] cosh[𝑚(𝐿−𝑥)]
𝜃 = 𝜃𝑏 = (100 − 20)
cosh(𝑚𝐿) cosh(𝑚𝐿)

com
ℎ𝑃 50×(2∗0,10+2∗0,002)
𝑚 = √𝑘𝐴 = √ = 15,97 m-1
𝑠 200×0,10∗0,002

Em particular, para o topo vem


cosh(0)
𝜃𝑥=0,017 = (100 − 20) cosh(15,97×0,017) = 77,1 ºC  𝑇𝑥=0,017 = 97,1 ºC

Quanto à potência transferida, usando a equação (1.31), também válida para trocas desprezáveis
no topo

𝑄̇ = 𝜃𝑏 √ℎ𝑃𝑘𝐴𝑠 tanh(𝑚𝐿) =

= 80√50 × 0,204 × 200 × 0,0002 tanh(15,97 × 0,017) = 13,5 W

Usando a solução com perdas no topo – equação (1.32) – vamos obter


cosh(0)+senh(0)
𝜃𝑥=0,017 = 80 cosh(15,97×0,017)+(50/(15,97×200)) senh(15,97×0,017) = 76,8 ºC

𝑇𝑥=0,017 = 96,8 ºC

35
Capítulo 1 - Condução

e de (1.33):
senh(𝑚𝐿)+(ℎ/𝑚𝑘) cosh(𝑚𝐿)
𝑄̇ = 𝜃𝑏 √ℎ𝑃𝑘𝐴𝑠 =
cosh(𝑚𝐿)+(ℎ/𝑚𝑘) senh(𝑚𝐿)
50
senh(15,97×0,017)+( ) cosh(15,97×0,017)
15,97×200
= 80√50 × 0,204 × 200 × 0,0002 50 =
cosh(15,97×0,017)+( ) senh(15,97×0,017)
15,97×200

= 14,3 W

Note-se que considerando as perdas no topo, a temperatura no topo é um pouco inferior (menos
0,3ºC, porque o topo perde mais calor) e a potência dissipada é um pouco superior (cerca de
5%).
Vamos ainda comparar com um cálculo mais realista, considerando a existência de condução
2D na alheta (também ao longo da espessura). Aplicando um modelo numérico de elementos
finitos com 288 nodos a toda a espessura e comprimento da alheta, no caso da imposição de
fluxo zero no topo obtiveram-se as seguintes isotérmicas e representação de fluxos:

No caso de existirem trocas no topo obteve-se a figura:

Note-se que os vetores fluxo de calor são quase horizontais (sobretudo quando maiores), o que
mostra a aproximação a 1D. As exceções verificam-se junto ao topo e superfícies, mas com
pouco peso. As temperaturas no topo são quase iguais (diferença menor que 0,1ºC). Quanto às
potências são ligeiramente superiores na solução 1D, mas há que considerar que as soluções 2D
não consideram as trocas nas superfícies laterais (correspondentes à largura de 0,1 m da alheta):
por exemplo, com o modelo 1D a potência sem trocas no topo e superfícies laterais será de 13,3
W, muito próxima dos 13,1 W da solução 2D.

36
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.11
Para aproveitar o calor de uma tubagem de vapor vão ser colocadas
alhetas circulares com 60 mm de diâmetro e espessura de 1 mm em
tubos de 50 mm de diâmetro. As alhetas são em liga de alunínio
(k=186 W/mK) e a superfície exterior dos tubos pode considerar-se à
temperatura do vapor, de 180ºC. O ambiente exterior está a 25ºC, e o
coeficiente de transferência exterior é de 40 W/m2K.
Sendo o espaçamento entre alhetas de 3 mm, ou seja, havendo 250
alhetas por metro de comprimento, calcule o aumento da transferência
de calor devido à adição das alhetas.

Resolução e discussão

Existe condução radial num tubo e em alhetas circulares, que se pode supôr 1D (ao longo do
raio); admitem-se condições iguais ao longo do eixo do tubo, pelo que o cálculo será feito por
unidade de comprimento de tubo. Uma das hipóteses a considerar é a de todos os pontos da
superfície exterior do tubo se encontrarem a 180ºC, quer na zona em contacto com o exterior,
quer na zona em contacto com as alhetas, o que é uma aproximação à realidade. A figura
seguinte resume as condições do problema

Comecemos por calcular a potência transferido se não se utilizarem alhetas. Teremos:

𝑄̇𝑠/𝑎𝑙ℎ = ℎ𝐴𝑠/𝑎𝑙ℎ (𝑇𝑏 − 𝑇∞ ) = 40 × 𝜋 × 0,05 × (180 − 25 ) = 974 W/m

O efeito das alhetas pode contabilizar-se usando o seu rendimento. Recorrendo à Figura 1.7
encontramos
𝐿 = 𝑟2 − 𝑟1 = 0,005 𝑚 ; 𝐿𝑐 = 𝐿 + 𝑒⁄2 = 0,0055 m
𝑟2𝑐 ⁄𝑟1 = (𝑟2 + 𝑒/2)⁄𝑟1 = 1,22
1/2
𝐿𝑐 3/2 (ℎ⁄𝑘𝐿 𝑒) = 0,08
𝑐

resultando um rendimento 𝜂𝑎𝑙ℎ = 0,97.


A potência que atravessa uma alheta pode agora ser calculada, contabilizando toda a área de
convecção da alheta circular (incluindo o topo):

37
Capítulo 1 - Condução

𝑄̇1𝑎𝑙ℎ = 𝜂𝑎𝑙ℎ ℎ𝐴𝑠𝑢𝑝,1𝑎𝑙ℎ (𝑇𝑏 − 𝑇∞ ) =

= 0,97 × 40 × 2𝜋 × (0,032 − 0,0252 + 0,03 × 0,001) × (180 − 25 ) = 11,53 W

Para todas as alhetas contidas num metro de tubo (250), e somando ainda a potência que se
transfere nos espaços entre alhetas, temos

𝑄̇𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑛𝑎𝑙ℎ ( 𝑄̇1𝑎𝑙ℎ + 𝑄̇𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎𝑙ℎ ) =

= 250 × (11,53 + 40 × 𝜋 × 0,05 × 0,003 × 155) = 3613 W/m

Relativamente à não utilização de alhetas, há um aumento muito significativo da potência


calorífica transmitida, que é de 2639 W/m (aumento para 3,7 vezes).
Pode também calcular-se o rendimento superficial, referido na equação (1.37), que será
𝑛𝑎𝑙ℎ 𝐴1𝑎𝑙ℎ 𝑛𝑎𝑙ℎ 𝐴𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎𝑙ℎ
𝜂𝑠𝑢𝑝 = 𝜂𝑎𝑙ℎ + = 0,970 × 0,803 + 0,197 = 0,976
𝐴𝑡𝑜𝑡 𝐴𝑡𝑜𝑡

um pouco superior ao rendimento das alhetas.

38
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.12
A figura representa um pequeno forno
para tratamentos térmicos. O seu
aquecimento é feito através de
resistências elétricas colocadas em
contacto com placas laterais, em aço
(k=15 W/mK) e com 3 mm de
espessura. As 10 resistências estão
igualmente espaçadas, fornecendo
uma potência total de 1,5 kW. As
paredes do forno estão bem isoladas.
Com as resistências ligadas, no interior do forno atinge-se o regime permanente com uma
temperatura do ar interior de 600ºC, sendo o coeficiente de convecção de 30 W/m2K.
Calcule a temperatura máxima e a temperatura mínima nas placas. Se se pretender limitar a
temperatura máxima nas placas a 700ºC, com a mesma potência do forno, o que se deverá fazer?
Resolução e discussão

Vamos admitir condução monodimensional (permanente) nas placas laterais, tendo em conta a
sua reduzida espessura e boa condutibilidade; a condução dá-se na direção vertical. As placas
transferem calor simultaneamente por convecção para o ar interior, pelo que podemos aplicar
soluções vistas em 1.1.4, como as das alhetas. Atendendo à simetria vertical, podemos analisar
uma zona situada entre uma resistência e o plano médio entre resistências. Esse plano médio (a
meia distância entre resistências) não transfere calor devido à simetria (equivale a um plano
isolado). O que se passa nessa zona repete-se diversas vezes ao longo da vertical. A figura
seguinte resume a situação e condições do problema.

Então podemos usar as equações (1.30) e (1.31), válidas para 𝜃𝑏 na base (plano da resistência)
e fluxo zero para x=L (plano a meia distância entre resistências). Cada resistência, com uma
potência igual a 150 W, fornecerá 75 W para cada lado.
O parâmetro m contabilizará um perímetro de convecção igual à profundidade da placa (que só
transfere calor na face interior), e uma secção igual à espessura vezes a profundidade:

39
Capítulo 1 - Condução

ℎ𝑃 30×0,5
𝑚 = √𝑘𝐴 = √15×0,003∗0,5 = 25,82 m-1
𝑠

Da equação (1.31) pode obter-se a temperatura (máxima) a partir da potência:


𝑄̇ 75
𝜃𝑏 = = = 139,8 ºC
√ℎ𝑃𝑘𝐴𝑠 tanh(𝑚𝐿) √30×0,5×15×0,003×0,5 tanh(25,82×0,0625)

𝑇𝑚𝑎𝑥 = 𝑇𝑥=0 = 739,8 ºC

Da equação (1.30) vamos obter a temperatura mínima:


cosh(0) cosh(0)
𝜃𝑥=𝐿=0,0625 = 𝜃𝑏 cosh(𝑚𝐿) = 139,8 cosh(25,82×0,0625) = 53,6 ºC

𝑇𝑚𝑖𝑛 = 𝑇𝑥=0,0625 = 653,6 ºC

Assim, temos uma variação de 86ºC em 62,5 mm.


Para limitar a temperatura máxima na placa, e ao mesmo tempo reduzir a variação de
temperatura, podem usar-se mais resistências de menor potência, mais próximas umas das
outras.
Por exemplo, usando 20 resistências de 75 W cada, em vez de 10 resistências de 150 W,
teríamos L=0,03125 m. O valor de 𝜃𝑏 seria 96,7ºC e a 𝑇𝑚𝑎𝑥 =696,7ºC, menor do que os 700ºC
como requerido. Quanto a 𝑇𝑚𝑖𝑛 seria 672,0ºC, vindo o diferencial de temperatura igual a cerca
de 25ºC (3,4 vezes menor).

40
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.13

Para eliminar a condensação no vidro traseiro de um automóvel são usados fios elétricos de
espessura desprezável, ligados à superfície interior do vidro. Os fios estão espaçados 4 cm e
geram uma potência calorífica de 10 W/m (por metro de largura do vidro) quando atravessados
pela corrente elétrica. Devido à reduzida espessura do vidro, pode considerar-se que a sua
temperatura não varia ao longo da espessura, e que a potência fornecida pelos fios é também
uniforme na sua espessura.
O vidro pode considerar-se como uma placa plana, tem uma condutibilidade térmica k=0,84
W/mºC e uma difusibilidade térmica  = k//cp = 0,39x10-6 m2/s. Os coeficientes de
transferência de calor na superfície interior e exterior do vidro são de 6 e 20 W/m 2ºC,
respetivamente. Sendo a temperatura interior e exterior de 5ºC, calcule a temperatura máxima
e mínima no vidro no espaço entre fios, em regime permanente.

Resolução e discussão

Vamos admitir condução 1D (permanente) no vidro, entre fios, tendo em conta a sua reduzida
espessura. O vidro transfere calor nas 2 superfícies, interior e exterior, sendo os coeficientes
diferentes nos 2 lados. Como no problema P1.12, podemos analisar uma zona situada entre um
fio elétrico e o plano médio entre fios, que se repete simetricamente ao longo de todo o vidro.
Podemos adaptar as soluções vistas em 1.1.4, para contabilizar os diferentes coeficientes de
transferência para fora do vidro. A figura seguinte resume a situação e condições do problema.

Podemos novamente usar as equações (1.30) e (1.31), válidas para 𝜃𝑏 na base (plano do fio
elétrico) e fluxo zero para x=L (plano a meia distância entre fios elétricos). Cada fio, com uma

41
Capítulo 1 - Condução

potência igual a 10 W/m, fornecerá 5 W/m para cada lado. Quanto à largura, será considerada
uma dimensão unitária (1 m).
O parâmetro m deverá contabilizar toda a transferência de calor para fora do vidro, pelo que se
deverá somar o que acontece no interior e exterior:

ℎ𝑃 = ℎ𝑖𝑛𝑡 𝑃𝑖𝑛𝑡 + ℎ𝑒𝑥𝑡 𝑃𝑒𝑥𝑡 = 6 × 1 + 20 × 1 = 26 Wm-1K-1

ℎ𝑃 26
𝑚 = √𝑘𝐴 = √0,84×0,004∗1 = 87,97 m-1
𝑠

Da equação (1.31) pode obter-se a temperatura (máxima) a partir da potência:


𝑄̇ 5
𝜃𝑥=0 = = = 18,0 ºC
√ℎ𝑃𝑘𝐴𝑠 tanh(𝑚𝐿) √26×0,84×0,004×1 tanh(87,97×0,020)

𝑇𝑚𝑎𝑥 = 𝑇𝑥=0 = 23,0 ºC

Da equação (1.30) vamos obter a temperatura mínima:


cosh(0) cosh(0)
𝜃𝑥=𝐿=0,020 = 𝜃𝑏 cosh(𝑚𝐿) = 18,0 cosh(87,97×0,020) = 6,0 ºC

𝑇𝑚𝑖𝑛 = 𝑇𝑥=0,02 = 11,0 ºC

A hipótese considerada de condução 1D é menos realista que no problema P1.12. Isto porque,
apesar da reduzida espessura, a condutibilidade térmica do vidro é relativamente baixa. Com o
objetivo de fazer essa avaliação, construiu-se um modelo numérico 2D (elementos finitos). O
domínio espacial considerado foi exatamente o que corresponde ao espaço entre um fio elétrico
e meia distância entre fios. Foi usada uma malha com 5697 nodos. As condições fronteira
impostas foram: potência nula a meia distância entre fios elétricos (simetria), transferência nas
superfícies laterais (para o interior e o exterior do vidro, fornecendo a temperatura e respetivos
coeficientes de transferência), e 2 condições na fronteira horizontal junto ao fio elétrico (x=0);
nesta fronteira, numa área muito pequena é gerada a potência de 5 W/m (quase pontualmente),
e na restante zona fronteira há condições de simetria.
Os resultados, apresentados na forma de intervalos de temperatura com diferentes cores e
vetores fluxo de calor, encontram-se na figura seguinte. Note-se que a transferência de calor ao
longo da espessura, e portanto a diferença para a situação 1D, é mais significativa junto à
fronteira aquecida pelo fio elétrico, e respetivo canto. Mais para baixo as isotérmicas são menos
inclinadas. No entanto, a diferença entre os coeficientes à esquerda (interior) e à direita
(exterior) faz com que as isotérmicas nunca sejam horizontais. No modelo 2D a temperatura
média da fronteira junto ao fio (x=0) é próxima da calculada no modelo 1D (23ºC), e as
temperaturas a meia distância (x=L) são muito próximas (10,8ºC em 2D versus 11,0ºC com
1D). Numa outra figura apresentam-se resultados para o caso em que a temperatura à esquerda
(interior) é mais alta que à direita (exterior) – 15ºC e 5ºC. Nesta situação não é aplicável o
modelo 1D e as equações apresentadas em 1.1.4, porque estas exigem uma temperatura
constante fora do corpo. O modelo 2D mostra que neste caso se acentua o comportamento 2D,
ou seja, a condução na direção da espessura do vidro.

42
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

43
Capítulo 1 - Condução

44
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

1.2 Condução em regime instacionário


Os sistemas térmicos reais funcionam em regime instacionário ou dinâmico, variando as
temperaturas e fluxos de calor ao longo do tempo. Mesmo os sistemas concebidos para
funcionar em condições quase permanentes enfrentam alterações no tempo, quando há
modificação de alguma condição operativa, ou nas fases de arranque e paragem. A
instacionariedade torna a resolução de problemas mais complicada, em particular quando a
temperatura também varia em mais do que uma direção espacial.
Sob certas condições, que veremos de seguida, pode desprezar-se a variação de temperatura no
interior do corpo (espacial), situação designada por sistema global. No caso geral teremos de
considerar a variação temporal e espacial da temperatura, o que analisaremos em 1.2.2 e 1.2.3.

1.2.1 Sistema global

Diz-se que um corpo transfere calor ao longo do tempo como um sistema global quando a sua
temperatura se considera uniforme em toda a sua extensão espacial. Tal não deixa de ser um
paradoxo, porque sendo a temperatura uniforme não há condução do calor (o gradiente é nulo).
Trata-se no entanto de uma simplificação cuja validade vamos analisar.
Considere-se o caso mais simples de um corpo, com volume V e qualquer forma, que se
encontra inicialmente à temperatura 𝑇𝑖 , transferindo calor por convecção na sua superfície em
contacto com um fluido (a 𝑇∞ ). Um balanço de energia expressa que a variação temporal da
energia contida no corpo deverá igualar a potência calorífica trocada com o fluido. Ou seja:
𝑑𝑇
𝜌𝑉𝑐𝑝 𝑑𝑡 = ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣 (𝑇∞ − 𝑇) (1.41)

Esta equação é facilmente integrada, sujeita à condição 𝑇|𝑡=0 = 𝑇𝑖 , resultando em


𝑇−𝑇∞ ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣
= exp (− 𝑡) (1.42)
𝑇𝑖 −𝑇∞ 𝜌𝑉𝑐𝑝

Note-se que a equação (1.42) é válida se o coeficiente ℎ for constante, quer o corpo receba quer
perca calor, e mostra que a temperatura do corpo tende para 𝑇∞ (equilíbrio térmico), que
matematicamente só atinge ao fim de um tempo infinito (exponencial igual a 0). O quociente
𝜌𝑉𝑐𝑝 ⁄(ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣 ) expressa a velocidade de variação da temperatura (resposta térmica), e é
usualmente designado por constante de tempo do corpo; um maior valor significa que a
temperatura varia mais lentamente.
Para analisar a variação de temperatura dentro do corpo consideremos que, durante um instante,
a transferência de calor se dá em regime permanente. Podemos então associar 2 resistências
térmicas: uma de convecção à superfície do corpo que troca calor com o fluido, e outra de
condução no interior do corpo. Para esta consideremos uma espessura média igual a
𝑉
𝐿𝑐 = 𝐴 (1.43)
𝑐𝑜𝑛𝑣

A razão entre a resistência de condução e a de convecção, que permite comparar a variação de


temperatura no interior do corpo com a variação exterior, será
𝑟𝑐𝑜𝑛𝑑 𝐿𝑐 ⁄𝑘 ℎ𝐿𝑐
= = = 𝐵𝑖 (1.44)
𝑟𝑐𝑜𝑛𝑣 1⁄ℎ 𝑘

razão adimensional conhecida por número de Biot. Para um valor elevado, ou seja 𝑟𝑐𝑜𝑛𝑑 elevado
face a 𝑟𝑐𝑜𝑛𝑣 , ∆𝑇𝑐𝑜𝑛𝑑 ≫ ∆𝑇𝑐𝑜𝑛𝑣 ; para um valor muito baixo, ∆𝑇𝑐𝑜𝑛𝑑 ≪ ∆𝑇𝑐𝑜𝑛𝑣 .

45
Capítulo 1 - Condução

Verifica-se que se Bi for menor que 0,1 a variação de temperatura no interior do corpo (∆𝑇𝑐𝑜𝑛𝑑 )
é desprezável, ou seja, podemos considerar o corpo como um sistema global. Tal é uma boa
aproximação quando h é baixo (por exemplo para convecção natural em gases), quando a
espessura é reduzida, ou quando a condutibilidade térmica do corpo é elevada (como nos
metais).
Outros casos de sistema global podem ocorrer, como no caso de um corpo que recebe e perde
calor simultaneamente em zonas/áreas diferentes. Nesses casos o balanço de energia expressa
que a variação temporal da energia contida no corpo deverá igualar a potência calorífica
recebida menos a perdida. Por exemplo, se o corpo receber uma potência 𝑄̇𝑒𝑛𝑡 do exterior (zona
1) e perder/trocar calor por convecção (zona 2), ter-se-á
𝑑𝑇
𝜌𝑉𝑐𝑝 𝑑𝑡 = 𝑄̇𝑒𝑛𝑡 − ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣 (𝑇 − 𝑇∞ ) (1.45)

que tem a seguinte solução analítica:


𝑇−𝑇∞ −𝑄̇𝑒𝑛𝑡 /(ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣 ) ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣
= exp (− 𝑡) (1.46)
𝑇𝑖 −𝑇∞ −𝑄̇𝑒𝑛𝑡 /(ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣 ) 𝜌𝑉𝑐𝑝

Pode ainda incluir-se em (1.45) e (1.46) a geração de calor no interior do corpo, bastando para
isso somar 𝑔̇ 𝑉 a 𝑄̇𝑒𝑛𝑡 .
Outras situações podem ser consideradas, como as trocas de calor por convecção natural e
radiação com o meio exterior ao corpo. O balanço energético do corpo é semelhante ao visto
acima, mas os coeficientes de transferência dessas trocas são função da temperatura, o que
complica o cálculo. Serão apresentados exemplos destas situações em problemas nos capítulos
2 e 6.

1.2.2 Condução monodimensional em placa, cilindro e esfera

Quando não se pode desprezar a variação interna da temperatura no corpo, a situação mais
simples é aquela em que se pode admitir uma variação espacial unicamente numa direção. A
variação em 2 ou 3 direções só pode ser tratada, no caso geral, com métodos numéricos
(aproximados), o que será referido em 1.2.3. Para a variação 1D referem-se de seguida as
geometrias e condições mais simples. Refere-se ainda a possibilidade de utilizar as soluções 1D
para tratar alguns casos de 2D e até 3D.
Os casos 1D a considerar são a condução ao longo da espessura de uma placa (x), e ao longo
do raio de um cilindro ou de uma esfera (r). Regressando à forma respetiva da equação geral da
condução – equações (1.2) a (1.4) – teremos nestes casos monodimensionais e instacionários,
e sem fontes de calor internas:
𝜕2𝑇 1 𝜕𝑇
= 𝛼 𝜕𝑡 (1.47)
𝜕𝑥 2

1 𝜕 𝜕𝑇 1 𝜕𝑇
(𝑟 𝜕𝑟 ) = 𝛼 𝜕𝑡 (1.48)
𝑟 𝜕𝑟

1 𝜕 𝜕𝑇 1 𝜕𝑇
(𝑟 2 )= (1.49)
𝑟 2 𝜕𝑟 𝜕𝑟 𝛼 𝜕𝑡

Pode obter-se uma solução analítica nestes 3 casos, desde que a condição inicial seja de
temperatura uniforme no corpo, e desde que haja apenas trocas por convecção na superfície,
com um coeficiente e temperatura exterior iguais em toda a extensão superficial, e constantes
no tempo. Todos os restantes casos só podem ser resolvidos com métodos numéricos.
46
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

A Figura 1.11 ilustra as geometrias e condições a considerar.

a b
Figura 1.11 – Geometrias e condições para soluções analíticas de condução instacionária 1D: (a) placa plana; (b)
cilindro ou esfera.

As soluções exigem a soma dos termos de uma série (em número infinito). No entanto, desde
que o tempo adimensional não seja muito pequeno, o primeiro termo basta para uma solução
muito próxima da exata, [1, 2]. O tempo adimensional, ou número de Fourier (Fo), define-se
como
𝛼𝑡 𝛼𝑡
𝐹𝑜 = ou 𝐹𝑜 = 𝑟 (1.50)
𝐿2 𝑒𝑥𝑡
2

sendo  = k//cp
A solução é o produto de 2 funções: uma unicamente função do tempo (t) e outra unicamente
função do espaço (x ou r). Desde que 𝐹𝑜 > 0,2, as soluções para a temperatura em x=0 ou r=0
(centro do corpo) são do tipo:
𝜃0 𝑇 −𝑇
𝜃0∗ = = 𝑇0−𝑇∞ = 𝐶1 exp(−𝜆12 𝐹𝑜) (1.51)
𝜃𝑖 𝑖 ∞

sendo 𝑇0 a temperatura em x=0 ou r=0, e 𝐶1 e 𝜆1 constantes do 1º termo da série (solução exata)


que dependem da geometria e do número de Biot, e que podem ser obtidas da Tabela 1.1. Note-
se que no caso do cilindro e da esfera se usa um número de Biot modificado, Bi’, definido com
base no raio e não na equação (1.43) – Lc é diferente de rext.
Para o cálculo da temperatura noutros pontos, que não x=0 ou r=0, a forma das equações varia
consoante a geometria. Para a placa, com 𝑥 ∗ = 𝑥/𝐿:
𝜃 𝑇−𝑇
𝜃 ∗ = 𝜃 = 𝑇 −𝑇∞ = 𝜃0∗ cos(𝜆1 𝑥 ∗ ) (1.52)
𝑖 𝑖 ∞

Para o cilindro, com 𝑟 ∗ = 𝑟/𝑟𝑒𝑥𝑡 :


𝜃 𝑇−𝑇
𝜃 ∗ = 𝜃 = 𝑇 −𝑇∞ = 𝜃0∗ 𝐽0 (𝜆1 𝑟 ∗ ) (1.53)
𝑖 𝑖 ∞

sendo J0 uma função de Bessel de 1º tipo e ordem 0 (que pode obter-se da Tabela 1.1).
Para a esfera:
𝜃 𝑇−𝑇 1
𝜃 ∗ = 𝜃 = 𝑇 −𝑇∞ = 𝜃0∗ 𝜆 ∗
sen(𝜆1 𝑟 ∗ ) (1.54)
𝑖 𝑖 ∞ 1𝑟

47
Capítulo 1 - Condução

Tabela 1.1 – Constantes 𝐶1 e 𝜆1 , e função de Bessel J0, para utilização em soluções 1D instacionárias.

Usando o princípio da sobreposição de soluções 1D, podem obter-se soluções para casos 2D e
até 3D. Uma barra infinita de secção retangular, com condução nas 2 direções da secção (2D)
pode ser descrita como a interseção de 2 placas planas de área infinita – ver Figura 1.12(a). E
um cilindro de comprimento finito pode ser descrito como a interseção de um cilindro de
comprimento infinito com uma placa plana infinita – ver Figura 1.12(b). Para o método ser
aplicável exige que o coeficiente e temperatura exteriores sejam iguais em todas as superfícies
do corpo.

a b
Figura 1.12 – Sobreposição de geometrias 1D: (a) barra infinita; (b) cilindro finito. Adaptado de [2].

48
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Para a barra infinita a solução 2D pode obter-se com


𝜃 𝑇(𝑥,𝑦,𝑡)−𝑇∞ ∗ ∗
𝜃∗ = 𝜃 = = 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 (𝑥, 𝑡) ∙ 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 (𝑦, 𝑡) (1.55)
𝑖 𝑇𝑖 −𝑇∞

e para o cilindro finito com


𝜃 𝑇(𝑥,𝑟,𝑡)−𝑇∞ ∗ ∗
𝜃∗ = 𝜃 = = 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 (𝑥, 𝑡) ∙ 𝜃𝑐𝑖𝑙𝑖𝑛𝑑𝑟𝑜∞ (𝑟, 𝑡) (1.56)
𝑖 𝑇𝑖 −𝑇∞

Também se pode obter a solução 3D para um paralelepípedo, interseção de 3 placas planas


infinitas, através de
𝑇(𝑥,𝑦,𝑡)−𝑇∞ ∗ ∗ ∗
𝜃∗ = = 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 (𝑥, 𝑡) ∙ 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 (𝑦, 𝑡) ∙ 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 (𝑧, 𝑡) (1.57)
𝑇𝑖 −𝑇∞

1.2.3 Condução multidimensional instacionária (métodos numéricos)

Os métodos numéricos apresentados em 1.1.5 podem ser estendidos à situação instacionária. O


domínio em estudo é dividido na mesma malha de nodos e elementos de volume referidos na
altura. As equações a usar para cada nodo/elemento traduzem um balanço de energia ao longo
do tempo.
Por exemplo, para um elemento de volume genérico (a meio do domínio 2D em causa), usando
o método dos volumes finitos, a equação (1.38) é modificada para contabilizar a variação
temporal da energia contida no elemento; com coordenadas cartesianas (geometria retangular
da Figura 1.8a) ter-se-á
0
𝑇𝑖,𝑗 −𝑇𝑖,𝑗 𝑘 ∗ ∗ 𝑘∗ ∗ ∗ 𝑘 ∗
𝜌𝑐𝑝 ∆𝑥∆𝑦 = ∆𝑥 ∆𝑦(𝑇𝑖−1,𝑗 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + ∆𝑥 ∆𝑦(𝑇𝑖+1,𝑗 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + ∆𝑦 ∆𝑥(𝑇𝑖,𝑗−1 − 𝑇𝑖,𝑗 )+
∆𝑡
𝑘 ∗ ∗
+ ∆𝑦 ∆𝑥(𝑇𝑖,𝑗+1 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + 𝑔̇ ∆𝑥∆𝑦 (1.58)

0
sendo 𝑇𝑖,𝑗 a temperatura no elemento/nodo genérico no instante anterior, e 𝑇𝑖,𝑗 a temperatura no
mesmo elemento no instante seguinte. As várias temperaturas assinaladas com * variam durante
∆𝑡. Para contabilizar essas variações podem seguir-se aproximações mais simples ou mais
complexas. As mais simples consistem em assumir que as temperaturas se mantêm durante ∆𝑡
iguais às do instante anterior – método designado por explícito – ou que elas têm imediatamente
os valores do instante seguinte – método implícito. Uma combinação dos dois métodos consiste
em admitir para cada temperatura uma média aritmética das temperaturas nos 2 instantes
consecutivos – método semi-implícito, ou de Crank-Nicolson. O método explícito torna a
resolução do sistema de equações mais simples, mas por vezes conduz a problemas de
convergência, devendo o passo de integração (∆𝑡) ser limitado. Tal como para a discretização
espacial (∆𝑥 e ∆𝑦), quanto mais pequenos os valores de ∆𝑡 melhor a qualidade dos resultados.
O processo de cálculo consiste em resolver o sistema de equações das temperaturas para todos
os nodos/elementos para cada instante. Conhecendo as temperaturas no instante 𝑡, parte-se para
o cálculo em 𝑡 + ∆𝑡, evoluindo-se no tempo.
O método pode ser generalizado também para 3D.

49
Capítulo 1 - Condução

1.2.4 Problemas práticos resolvidos (P1.14 a P1.22)

P1.14
É usual dizer-se que o pepino é frio (“cucumber is cool”). Avalie a
veracidade dessa afirmação, comparando o aquecimento de um pepino e
de uma banana, com as mesmas dimensões, quando retirados do
frigorífico a 5ºC e colocados num ambiente a 20ºC, com um coeficiente
de transferência exterior de 5 W/m2K.
As dimensões são as de um cilindro aproximado, com 4 cm de diâmetro
e 22 cm de comprimento. O pepino, composto por 96% de água, tem:
=960 kg/m3, cp=4100 J/kgK, k=0,6 W/mK. A banana, composta por
75% de água, tem: =700 kg/m3, cp=3350 J/kgK, k=0,34 W/mK.
Resolução e discussão

Vamos admitir que cada uma das peças de fruta é geometricamente um cilindro, desprezando
as trocas de calor nos topos. Avaliemos o número de Biot para cada um:
ℎ (𝑉/𝐴) 5×0,02/2
𝐵𝑖𝑝𝑒𝑝 = 𝑘𝑝𝑒𝑝
= 0,6
= 0,083

ℎ (𝑉/𝐴) 5×0,02/2
𝐵𝑖𝑏𝑎𝑛 = = = 0,147
𝑘𝑏𝑎𝑛 0,34

O Bi para a banana é um pouco superior a 0,1, limite definido para a aproximação a sistema
global. Prossigamos no entanto como se Bi<0,1, aproximação que depois avaliaremos.
Para qualquer dos frutos usaremos então a equação (1.42):
𝑇−20 5
= exp (− 0,01 𝜌𝑐 𝑡)
5−20 𝑝

O gráfico seguinte mostra a evolução da temperatura nos 2 casos. Nota-se o aquecimento


(resposta térmica) mais rápido da banana, mantendo-se o pepino sempre mais frio. A banana
atingirá 19ºC ao fim de 210 minutos, enquanto o pepino demorará 355 minutos a atingir essa
temperatura. Claro que ao fim de um tempo mais longo ficarão em equilíbrio à temperatura
ambiente (20ºC), não havendo diferença entre ambos. É na situação instacionária que o pepino
é mais frio.

A massa do pepino é de 265 g e a da banana de 194 g. Mas o mais relevante para a resposta
térmica é o produto 𝑀𝑐𝑝 /(ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣 ), ou seja, a constante de tempo: para o pepino é de 7872 s
(2,2 horas) e para a banana de 4690 s (1,3 horas), tendo esta uma resposta mais rápida.

50
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Analisemos agora o que se passa na banana quanto à variação espacial da temperatura, supondo-
a como um cilindro infinito (topos isolados) com condução radial. Para tal, vamos calcular a
temperatura no centro (r=0) e na superfície (r=rext) ao fim de 1 hora.
Nessa altura Fo=1,305, cumprindo a validade da equação (1.51), da qual obtemos
𝑇0 −20 1,450×10−7 ×3600
= 𝐶1 exp(−𝜆12 𝐹𝑜) = 1,0698 exp (−0,73962 )  𝑇0 = 12,1 ºC
5−20 0,022

tendo 𝐶1 e 𝜆1 sido calculados da Tabela 1.1 por interpolação, com 𝐵𝑖′ = ℎ𝑟𝑒𝑥𝑡 ⁄𝑘 = 0,294.

Quanto à temperatura na superfície, da equação (1.53) temos


𝑇𝑟𝑒𝑥𝑡 −20
= 𝜃0∗ 𝐽0 (𝜆1 𝑟𝑒𝑥𝑡 ⁄𝑟𝑒𝑥𝑡 ) = 0,5239 × 0,8679 = 0,4547  𝑇0 = 13,2 ºC
5−20

A temperatura difere cerca de 1ºC entre o interior e o exterior. Recorde-se que com o método
do sistema global a temperatura seria de 13,0ºC ao fim de 1 hora, o que constitui uma boa
aproximação apesar do número de Biot ser um pouco maior que 0,1.

51
Capítulo 1 - Condução

P1.15
Uma esfera sólida de aço (=7800 kg/m3, cp=560 J/kgK, k=45
W/mK) com 300 mm de diâmetro é revestida com um material
dielétrico (isolante elétrico), com k=0,04 W/mK e 2 mm de
espessura. Quando o processo de revestimento termina o conjunto
encontra-se a uma temperatura de 500ºC.
A esfera revestida é depois colocada num banho de arrefecimento de óleo, a uma temperatura
de 100ºC, com um coeficiente de convecção de 300 W/m2K. Calcule o tempo necessário a que
a esfera atinja 150ºC. Calcule a energia que a esfera perde para o óleo durante o processo de
arrefecimento. Calcule também o tempo necessário se o arrefecimento fosse feito com uma
corrente de ar a 20ºC, com um coeficiente de transferência de 100 W/m 2K. Calcule ainda o
tempo que a esfera demoraria a atingir os 150ºC se não fosse revestida.
Resolução e discussão

Durante o processo de arrefecimento existe variação temporal das temperaturas no aço e no


revestimento. No entanto, o revestimento tem uma capacidade térmica (espessura, massa e calor
específico) muito baixa, e consequentemente uma constante de tempo muito baixa. Deste modo,
pode considerar-se que o revestimento se comporta em regime permanente em cada instante,
variando continuamente de instante a instante. Pode então tratar-se a transferência de calor
através do revestimento e da convecção exterior com a já conhecida associação de resistências.
A figura seguinte resume a análise.

Comecemos por verificar a validade da análise da esfera de aço como sistema global. O número
de Biot deverá ser avaliado com o coeficiente global de transferência do aço para o exterior,
que se obtém da resistência global:
0,002 1
𝑈 (𝑉/𝐴)𝑎ç𝑜 1⁄(𝑟𝑐𝑜𝑛𝑑 +𝑟𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 )×𝑟𝑎ç𝑜 /3 1⁄( + )×0,15/3
0,04 300
𝐵𝑖𝑎ç𝑜 = = = = 0,0208
𝑘𝑎ç𝑜 𝑘𝑎ç𝑜 45

desprezando a pequena curvatura do revestimento (tratado como placa plana). Está confirmada
a validade da análise como sistema global.
Pode então obter-se o tempo necessário a atingir 150ºC na esfera, pela equação (1.42):
150−100 𝑈 18,75
= exp (− 𝑟 𝑡) = exp (− 0,15 𝑡)  𝑡 = 24221 s
500−100 𝑎ç𝑜 /3 (𝜌𝑐𝑝 )𝑎ç𝑜 ×7800×560
3

ou seja 6,72 horas. Note-se que entre as 2 resistências (condução no revestimento e convecção
exterior) a que condiciona mais o tempo de arrefecimento é a de condução (representa 94% do
total); assim, aumentar a convecção exterior não acelera significativamente o arrefecimento.

52
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

O gráfico seguinte representa a evolução de temperatura na esfera (aço) e na superfície exterior


(revestimento) ao longo do tempo. Para a temperatura do aço usou-se a equação de anterior,
obtendo-se 𝑇𝑠𝑢𝑝 a partir da igualdade de 𝑄̇ nas 2 resistências em cada instante (regime
permanente ou quasi-estacionário). A superfície exterior do revestimento rapidamente tende
para a 𝑇𝑒𝑥𝑡 .

Se o arrefecimento fosse feito com uma corrente de ar a 20ºC, com um coeficiente de


transferência de 100 W/m2K, o coeficiente seria 3 vezes menor, mas sem grande influência
devido à resistência do revestimento já vista. Já a menor temperatura do fluido (20 em vez de
100ºC) facilitaria o arrefecimento. Repetindo os cálculos anteriores para este caso, obtém-se a
evolução de temperatura do gráfico seguinte, que está comparada com a do arrefecimento em
óleo. Com o ar a 20ºC o número de Biot é de 0,0185 (o coeficiente U é ligeiramente mais baixo)
e são necessários 17117 s (4,8 horas) para atingir os 150ºC.

Quanto à energia perdida pela esfera até atingir os 150ºC, calcula-se muito facilmente a partir
da variação da energia nela contida desde o instante inicial, ou seja
4
𝑄 = 𝜌𝑉𝑐𝑝 ∆𝑇 = 7800 × 3 𝜋 × 0,153 × 560(500 − 150) = 21,6 MJ

Poderia obter-se o mesmo resultado a partir da soma das potências caloríficas dissipadas ao
longo do tempo, o que no entanto seria mais complicado.
Se a esfera não fosse revestida, o número de Biot durante o arrefecimento com óleo seria igual
a 0,333 (maior que 0,1), o que indica uma variação radial não desprezável da sua temperatura.
Vamos calcular o tempo necessário a que toda a esfera atinja os 150ºC, ou seja, o tempo

53
Capítulo 1 - Condução

necessário a que o seu centro (r=0) fique a 150ºC. Usando a equação (1.51) e a Tabela 1.1 (com
𝐵𝑖′𝑎ç𝑜 = ℎ 𝑟𝑎ç𝑜 ⁄𝑘𝑎ç𝑜 = 1):
150−100 1,030×10−5 𝑡
= 𝐶1 exp(−𝜆12 𝐹𝑜) = 1,2732 exp (−1,57082 )  𝑡 = 2055 s
500−100 0,152

tempo muito inferior ao da esfera quando revestida (34 min em vez de 6,72 horas).
Com a equação (1.54) podemos calcular a temperatura na superfície da esfera (não revestida)
quando o centro está a 150ºC:
𝑇𝑟𝑎ç𝑜 −100 1 1
= 𝜃0∗ 𝜆 ∗
sen(𝜆1 𝑟 ∗ ) = 0,125 × 1,5708×1 × sen(1,5708)  𝑇𝑟𝑎ç𝑜 = 131,8 ºC
500−100 1𝑟

existindo agora uma diferença de cerca de 18ºC entre o centro e a superfície da esfera.
O gráfico seguinte mostra a evolução de temperatura do centro da esfera não revestida,
comparada com o que aconteceria se o arrefecimento fosse feito com ar a 20ºC (𝐵𝑖′ = 0,333).
O arrefecimento é muito mais rápido, quer com óleo, quer com ar, e não havendo revestimento
o arrefecimento até 150ºC a óleo é mais rápido que a ar, ao contrário do que acontecia com a
esfera revestida. A partir dos 70 minutos as 2 curvas cruzam-se, porque devido à menor
temperatura do ar (20ºC em vez de 100ºC) existe um maior potencial para a transferência de
calor.

54
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.16
Uma esfera de aço (=7800 kg/m3, cp=560 J/kgK, k=45 W/mK) com
12 mm de diâmetro, é mergulhada num banho de água à temperatura
de 25ºC. Através de medição sabe-se que ao fim de 30 s (da colocação
em água) a temperatura da esfera é de 28,2ºC, e ao fim de 60 s a
temperatura é de 25,1ºC. Calcule a temperatura inicial da esfera e o
coeficiente de convecção.
Resolução e discussão

Tendo em conta as propriedades e dimensões da esfera, vamos admitir que pode ser tratada
como um sistema global, o que será depois verificado.
Poderemos então usar a equação (1.42), para cada um dos instantes em que foi medida a
temperatura:
28,2−25 ℎ ℎ
= exp (− 𝑟 𝑡1 ) = exp (− 0,006/3 ×7800×560 × 30)
𝑇𝑖 −25 𝑒𝑥𝑡 /3 𝜌𝑐𝑝

25,1−25 ℎ ℎ
= exp (− 𝑟 𝑡2 ) = exp (− 0,006/3 ×7800×560 × 60)
𝑇𝑖 −25 𝑒𝑥𝑡 /3 𝜌𝑐𝑝

Da resolução deste sistema de 2 equações obtêm-se 𝑇𝑖 e ℎ, vindo


𝑇𝑖 = 127,4 ºC
ℎ = 1009 W/m2ºC

Saliente-se que se supõe o coeficiente de convecção para a água (h) constante no tempo, o que
é razoável no caso da convecção forçada. Se h variar, como no caso da convecção natural, a
equação (1.42) não é válida.
Podemos agora verificar a validade do sistema global, calculando
ℎ (𝑉/𝐴) 1009 ×0,006/3
𝐵𝑖 = 𝑘
= 45
= 0,045 < 0,1

55
Capítulo 1 - Condução

P1.17

A câmara de arrefecimento da figura é usada para arrefecer esferas de rolamentos, com um raio
de 2 cm, a uma temperatura de entrada de 100ºC. O ar da câmara é mantido a -15ºC, por um
sistema de refrigeração, e as esferas atravessam a câmara (com um comprimento de 10 m)
pousadas numa correia transportadora, devendo sair à temperatura de 50ºC.
Sabendo que o coeficiente de transferência de calor das esferas está relacionado com a
velocidade destas, de acordo com a expressão ℎ = 350𝑣 0,6, com v em m/s e h em W/m2K,
calcule a velocidade que deve ter a correia (v).
Propriedades das esferas: =5500 kg/m3, cp=450 J/kgK, k=50 W/mK.

Resolução e discussão

Vamos admitir que as esferas podem ser consideradas a temperatura uniforme em cada instante
(sistema global), tendo em conta as suas propriedades e dimensões. Isso poderá ser verificado
após cálculo de v e de h, que não são conhecidos.
As esferas entram a 100ºC (temperatura inicial), devendo sair a 50ºC (temperatura ao fim do
tempo de permanência na câmara, a -15ºC). O tempo de permanência depende da velocidade e
do comprimento da câmara. Aplicando a equação (1.42):
50−(−15) ℎ 350𝑣 0,6 10
= exp (− 𝑟 𝑡) = exp (− 0,02/3 ×5500×450 × )
100−(−15) 𝑒𝑥𝑡 /3 𝜌𝑐𝑝 𝑣

Obtém-se da equação uma velocidade v = 0,084 m/s. O coeficiente de transferência vem igual
a 79 W/m2ºC.
Pode então agora calcular-se o número de Biot:
ℎ (𝑉/𝐴) 79 ×0,02/3
𝐵𝑖 = = = 0,01 < 0,1
𝑘 50

o que confirma a validade do sistema global.

56
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.18
Uma placa de aço inox (=8055 kg/m3, cp=480 J/kgK, k=15
W/mºC) com uma espessura de 1 cm está inicialmente à
temperatura de 100ºC e será arrefecida pelas 2 faces. De um
lado existe ar exterior a 20ºC, com um coeficiente de
transferência de 5 W/m2ºC, e do outro lado o ar (também a
20ºC) circula com maior velocidade, sendo o coeficiente de 20
W/m2ºC. Analise a evolução da temperatura da placa.

Resolução e discussão

A placa transfere calor em 2 faces (desprezando as trocas pelos topos) em regime instacionário,
com coeficientes diferentes em cada face. Para análise como sistema global vamos avaliar o
número de Biot. A espessura característica da placa é igual a metade da espessura, pois há
convecção nos 2 lados (saída de calor). Quanto ao coeficiente de convecção ou transferência
superficial, considera-se o maior dos 2 (mais desfavorável), vindo:
ℎ𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟 𝑒/2 20×0,01/2
𝐵𝑖 = = = 0,0067 < 0,1
𝑘 15

pelo que vamos considerar a placa como um sistema global.


Quanto à variação da temperatura podem adaptar-se as equações (1.41) e (1.42), de modo a
contabilizar a transferência com coeficientes diferentes nas 2 faces (1 e 2):
𝑇−20 (ℎ1 +ℎ2 )𝐴𝑠 20+5
= exp (− 𝑡) = exp (− 8055×480×0,01 𝑡)
100−20 𝜌𝑐𝑝 𝑒𝐴𝑠

O gráfico seguinte representa a equação anterior, e a variação de temperatura ao longo do


tempo. Ao fim de 30 minutos a placa atinge 45ºC, e ao fim de 60 minutos 27,8ºC.

57
Capítulo 1 - Condução

P1.19
Um tubo de aço inox (=8055 kg/m3, cp=480 J/kgK, k=15
W/mºC) está inicialmente à temperatura do ar exterior de 20ºC.
A partir desse instante passa a circular água no seu interior à
temperatura de 80ºC. Sabe-se que o coeficiente de convecção
interior (água) é igual a 1000 W/m2ºC, e no exterior o
coeficiente é de 10 W/m2ºC. Analise a evolução da
temperatura do tubo até atingir o regime permanente.
Resolução e discussão

Ao iniciar-se a circulação de água o tubo passa a receber calor desta, e a perder calor para o
exterior (pois a sua temperatura vai subir). A temperatura do tubo vai variar ao longo do tempo,
devido à inércia térmica do material. Vamos admitir que a temperatura da água se mantém ao
longo de todo o comprimento do tubo. A figura seguinte esquematiza o problema.

Comecemos por avaliar a variação espacial da temperatura no tubo. Para tal vamos calcular um
número de Biot, mas, tendo em conta que o calor atravessa toda a espessura do tubo, vamos
usar a resistência de condução cilíndrica correspondente à espessura da parede a dividir pela
menor resistência de convecção (que corresponde ao interior). Usar uma dimensão
característica igual ao volume dividido pela área (interior mais exterior) subestimaria a variação
e não seria correto, uma vez que a transferência de calor para o tubo não se dá no mesmo sentido
no interior (positiva) e no exterior (negativa). Então temos
𝑅𝑐𝑜𝑛𝑑 𝑙𝑛(25/23)
𝐵𝑖 = 𝑅 = × 1000 × 2𝜋 × 0,023 = 0,128 > 0,1
𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖𝑛𝑡 2𝜋×15

Note-se que uma avaliação com a resistência de convecção exterior daria um valor de 0,00128,
muito inferior a 0,1. Neste caso, e em regime permanente, dá-se uma variação mais significativa
de temperatura entre o tubo e o exterior (maior resistência) do que entre o tubo e o interior. De
qualquer modo a aproximação a sistema global para a parede do tubo é bastante razoável,
mesmo com Bi = 0,128. Para o caso do regime permanente podemos calcular as temperaturas
das paredes interior e exterior, que são 𝑇𝑝,𝑖𝑛𝑡 = 79,4ºC e 𝑇𝑝,𝑒𝑥𝑡 = 79,3ºC, diferindo apenas em
0,1ºC.
Então podemos fazer um balanço global do tubo:
𝑑𝑇
𝜌𝑉𝑐𝑝 = 𝑄̇𝑖𝑛𝑡 − 𝑄̇𝑒𝑥𝑡 = ℎ𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑖𝑛𝑡 (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇) − ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑒𝑥𝑡 (𝑇 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 ) =
𝑑𝑡
= (ℎ𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑖𝑛𝑡 𝑇𝑖𝑛𝑡 + ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑒𝑥𝑡 𝑇𝑒𝑥𝑡 ) − (ℎ𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑖𝑛𝑡 + ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑒𝑥𝑡 )𝑇
que, definindo as constantes

58
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

ℎ𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑖𝑛𝑡 𝑇𝑖𝑛𝑡 +ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑒𝑥𝑡 𝑇𝑒𝑥𝑡 ℎ𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑖𝑛𝑡 +ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑒𝑥𝑡
𝑎= e 𝑏=
𝜌𝑉𝑐𝑝 𝜌𝑉𝑐𝑝

tem a seguinte solução analítica:


𝑎−𝑏𝑇
= exp(−𝑏 𝑡)
𝑎−𝑏𝑇𝑖

que se pode também escrever na forma mais desenvolvida:

ℎ𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑖𝑛𝑡 +ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑒𝑥𝑡


𝑇 = 𝑇𝑖 exp (− 𝑡) +
𝜌𝑉𝑐𝑝

ℎ𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑖𝑛𝑡 𝑇𝑖𝑛𝑡 +ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑒𝑥𝑡 𝑇𝑒𝑥𝑡 ℎ𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑖𝑛𝑡 +ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑒𝑥𝑡
+ [1 − exp (− 𝑡)]
ℎ𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑖𝑛𝑡 +ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑒𝑥𝑡 𝜌𝑉𝑐𝑝

Substituindo os valores dados, obtém-se para este caso:

𝑇 = 20 exp(−0,1253 𝑡) + 79,4 [1 − exp(−0,1253 𝑡)]

O gráfico seguinte representa a evolução da temperatura do tubo ao longo do tempo. Note-se a


rápida subida de temperatura, que ao fim de 30 s já é de 78ºC. Em regime permanente a
temperatura é de 79,4ºC. Note-se que a água perde calor para o exterior (93 W/m em regime
permanente), pelo que a sua temperatura irá baixar ligeiramente ao longo do comprimento do
tubo, o que não foi considerado (veremos no capítulo 2 como contabilizar esse facto).

59
Capítulo 1 - Condução

P1.20
A base de um ferro de engomar é uma placa com uma espessura de
7 mm e uma área de 0,040 m2, feita em liga de alumínio (=2800
kg/m3, cp=900 J/kgK, k=180 W/mºK). Tem uma resistência
elétrica ligada à superfície interior da base, que lhe fornece uma
potência de 500 W. A superfície exterior da base está em contacto
com ar exterior a 25ºC, transferindo calor com um coeficiente de
18 W/m2ºC.
Calcule o tempo necessário a que, após ligado, o ferro atinja a
temperatura de 135ºC.

Resolução e discussão

Trata-se de um problema de condução instacionária numa placa, que se pode considerar 1D,
devido à reduzida espessura e dimensão dos topos. A placa recebe uma potência constante numa
face e troca calor (potência variável) na outra. A figura seguinte resume a situação.

Vamos confirmar a possibilidade de considerar a placa como um sistema global. O número de


Biot basear-se-á na espessura da placa, e é:
ℎ𝑒 18×0,007
𝐵𝑖 = = = 0,0007 < 0,1
𝑘 180

Então podemos considerar válidas as equações (1.45) e (1.46), quando um corpo recebe uma
dada potência calorífica e transfere também calor com o exterior. Daí resulta:
𝑇−25−𝑄̇/(ℎ𝐴) ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣
= exp (− 𝑡)
25−25−𝑄̇/(ℎ𝐴) 𝜌𝑉𝑐𝑝

135−25−500/(18×0,04) 18×0,04
= exp (− 2800×0,04×0,007×900 𝑡)
25−25−500/(18×0,04)

sendo então necessários 169 s (2,8 min) para a base atingir os 135ºC.
No caso de a base ser feita em aço inox (=8055 kg/m3, cp=480 J/kgK, k=15 W/mºC), e com
as mesmas dimensões, a condutibilidade térmica seria mais de 10 vezes inferior. O número de
Biot continuaria a ser <0,1. Nesse caso, o tempo necessário para atingir os mesmos 135ºC seria
de 259 s (4,3 min); a maior densidade/massa é a principal responsável por esse aumento. Para
se conseguir o aumento de temperatura até 135ºC no mesmo intervalo de tempo (169 s), seria
necessário aumentar a potência do ferro para 745 W.

60
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P1.21
Uma barra longa de aço inox (=8055 kg/m3, cp=480 J/kgK, k=15
W/mºC), com uma secção retangular de 1 m x 0,5 m, inicialmente à
temperatura uniforme de 200ºC, passa a transferir calor para o exterior
a 20ºC, com um coeficiente superficial de 10 W/m2ºC, igual em todas
as faces.
Calcule a temperatura máxima e mínima na secção ao fim de 4 horas
com o método de sobreposição de soluções 1D, e avalie o esforço necessário ao cálculo da
potência dissipada para o exterior nesse instante.

Resolução e discussão

Trata-se de um problema de condução instacionária 2D (não há variação de temperatura na


direção perpendicular à folha do desenho). Pelo método de sobreposição de soluções vamos
considerar que se trata da sobreposição de 2 casos 1D de placas com área infinita nas outras
direções, como representa a figura abaixo. Os eixos x e y serão definidos a partir do centro da
secção, para tirar partido da solução 1D, em que cada placa tem espessura 2L e condições
simétricas dos 2 lados (Figura 1.11). Note-se que o método de sobreposição só é válido para
igual condição de temperatura exterior e coeficiente de transferência (h) nas 4 fronteiras.

Após o instante inicial, em cada instante a temperatura máxima verificar-se-á no centro da


secção (origem dos eixos x e y) e a mínima nos 4 cantos. Vamos começar por calcular a
temperatura no centro.
Considerando as 2 placas (placa x e placa y), podemos escrever a relação já apresentada na
equação (1.55)

∗ 𝜃𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 𝑇(0,0,𝑡)−𝑇∞ ∗ ∗
𝜃𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 = 𝜃𝑖
= 𝑇𝑖 −𝑇∞
= 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑥 (𝑥 = 0, 𝑡) ∙ 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑦 (𝑦 = 0, 𝑡)

Para cada uma das placas teremos, em x=0 ou y=0 (com 𝐹𝑜 > 0,2):
∗ 2 𝛼𝑡 ℎ𝐿𝑥
𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑥 (𝑥 = 0, 𝑡) = 𝐶1,𝑥 exp(−𝜆1,𝑥 𝐹𝑜𝑥 ) , com 𝐿𝑥 = 0,50, 𝐹𝑜𝑥 = 𝐿 2 e 𝐵𝑖𝑥 = 𝑘
𝑥

∗ 2 𝛼𝑡 ℎ𝐿𝑦
𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑦 (𝑦 = 0, 𝑡) = 𝐶1,𝑦 exp(−𝜆1,𝑦 𝐹𝑜𝑦 ) , com 𝐿𝑦 = 0,25, 𝐹𝑜𝑦 = 𝐿 2 e 𝐵𝑖𝑦 = 𝑘
𝑦

Sendo, com auxílio da Tabela 1.1:


𝐹𝑜𝑥 = 0,223, 𝐵𝑖𝑥 = 0,333, 𝜆1𝑥 = 0,5456, 𝐶1,𝑥 = 1,0493
𝐹𝑜𝑦 = 0,894, 𝐵𝑖𝑦 = 0,167, 𝜆1𝑦 = 0,3961, 𝐶1,𝑦 = 1,0262

61
Capítulo 1 - Condução

vem então:

𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑥 (𝑥 = 0, 14400 s) = 0,9819


𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑦 (𝑦 = 0, 14400 s) = 0,8919

∗ 𝑇(0,0,14400 s)−𝑇∞
𝜃𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 = = 0,9819 × 0,8919 = 0,8758
𝑇𝑖 −𝑇∞

𝑇(0,0,14400 s) = 177,6 ºC

Quanto à temperatura num canto, teremos:

∗ 𝜃𝑐𝑎𝑛𝑡𝑜 𝑇(0,50;0,25;𝑡)−𝑇∞ ∗ ∗
𝜃𝑐𝑎𝑛𝑡𝑜 = 𝜃𝑖
= 𝑇𝑖 −𝑇∞
= 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑥 (𝑥 = 0,50, 𝑡) ∙ 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑦 (𝑦 = 0,25, 𝑡)

com
∗ ∗ ∗
𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑥 (𝑥 = 0,50, 𝑡) = 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑥 (𝑥 = 0, 𝑡) cos(𝜆1𝑥 𝑥 )
∗ ∗ ∗
𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑦 (𝑦 = 0,25, 𝑡) = 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑦 (𝑦 = 0, 𝑡) cos(𝜆1𝑦 𝑦 )

Como no canto 𝑥 ∗ e 𝑦 ∗ são iguais a 1 (máximo x e máximo y), vêm



𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑥 (𝑥 = 0,50; 14400) = 0,9819 cos(0,5456 × 1) = 0,8393

𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 𝑦 (𝑦 = 0,25; 14400) = 0,8919 cos(0,3961 × 1) = 0,8228

∗ 𝑇(0,5;0,25;14400)−𝑇∞
𝜃𝑐𝑎𝑛𝑡𝑜 = = 0,8393 × 0,8228 = 0,6906
𝑇𝑖 −𝑇∞

𝑇(0,50; 0,25; 14400) = 144,3 ºC

Existe então, ao fim de 4 horas, uma diferença de cerca de 33ºC entre a temperatura máxima e
a mínima.
Se pretendessemos calcular a potência calorífica dissipada para o exterior seria necessário
calcular a temperatura em todos/muitos pontos das fronteiras da secção, e somar os fluxos
nesses pontos, de modo a obter a potência total. Não é, portanto, uma tarefa simples, seguindo
o método de cálculo visto. Tal é na prática mais simples depois de aplicar um método numérico
para calcular a distribuição de temperatura 2D na peça ao longo do tempo. Como em cada
instante se obtêm as temperaturas em muitos pontos da peça, incluindo nas fronteiras, a partir
dessas temperaturas é possível calcular os vários fluxos e somá-los para obter a potência total
em cada instante. Um método numérico pode também ser aplicado quando há condições
diferentes nas fronteiras, como temperaturas ou coeficientes diferentes, e até variáveis no
tempo.
De seguida apresentam-se resultados da aplicação do método de elementos finitos ao problema
visto, com representação da distribuição de temperatura em 2 instantes de tempo, ao fim de 2
horas e ao fim de 4 horas (neste caso, também representados os vetores fluxo de calor). Foram
considerados 545 nodos na secção da barra. Foi usado um passo de integração de 1 minuto.
Note-se que os resultados reproduzem os valores calculados para a temperatura máxima e
mínima ao fim de 4 horas, a menos de 1ºC. A partir dos resultados calcula-se uma potência
dissipada ao fim de 4 horas de 4081 W por metro de profundidade da barra.

62
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

63
Capítulo 1 - Condução

P1.22

Um cilindro de bronze de 10 cm de diâmetro e 12 cm de altura está


inicialmente a 120ºC, e depois transfere calor para ar a 25ºC, com um
coeficiente de transferência igual a 60 W/m2ºC em todas as faces. As
suas propriedades são: k=110 W/mºC, =33,9x10-6 m2/s.
Usando o método de sobreposição de soluções 1D, calcule a
temperatura no centro do cilindro e no centro da superfície superior
ao fim de 15 minutos.

Resolução e discussão

Trata-se de um problema de condução instacionária 2D: há variação radial da temperatura e ao


longo do eixo do cilindro, não variando circunferencialmente. Pelo método de sobreposição de
soluções vamos considerar que se trata da sobreposição de 2 casos 1D: uma placa de área
infinita com espessura igual à altura do cilindro (2L), e um cilindro de altura infinita de 10 cm
de diãmetro. Os eixos x e r serão definidos a partir do centro do cilindro, para tirar partido das
soluções 1D, em que a placa tem espessura 2L e condições simétricas dos 2 lados e o cilindro
tem r=0 no eixo.
Note-se que o método de sobreposição só é válido para igual condição de temperatura exterior
e coeficiente de transferência (h) em todas as fronteiras.
Pelo método de sobreposição podemos escrever:

∗ 𝜃0,0,𝑡 𝑇(0,0,𝑡)−𝑇∞ ∗ ∗
𝜃0,0,𝑡 = = = 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 (𝑥 = 0, 𝑡) ∙ 𝜃𝑐𝑖𝑙𝑖𝑛𝑑𝑟𝑜 ∞ (𝑟 = 0, 𝑡)
𝜃𝑖 𝑇𝑖 −𝑇∞

Para a placa e o cilindro teremos, em x=0 e r=0 (desde que 𝐹𝑜 > 0,2):
∗ 𝛼𝑡 ℎ𝐿𝑥
𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 (𝑥 = 0, 𝑡) = 𝐶1,𝑥 exp(−𝜆21,𝑥 𝐹𝑜𝑥 ) , com 𝐿𝑥 = 0,06, 𝐹𝑜𝑥 = 2 e 𝐵𝑖𝑥 =
𝐿 𝑥 𝑘

∗ 2 𝛼𝑡 ℎ𝑟𝑒𝑥𝑡
𝜃𝑐𝑖𝑙 ∞ (𝑟 = 0, 𝑡) = 𝐶1,𝑟 exp(−𝜆1,𝑟 𝐹𝑜𝑟 ) , com 𝑟𝑒𝑥𝑡 = 0,05, 𝐹𝑜𝑟 = 𝑟 2
e 𝐵𝑖𝑟 = 𝑘
𝑒𝑥𝑡

Temos
𝐹𝑜𝑥 = 8,475, 𝐵𝑖𝑥 = 0,0327, 𝜆1𝑥 = 0,1776, 𝐶1,𝑥 = 1,0050
𝐹𝑜𝑟 = 12,204, 𝐵𝑖𝑟 = 0,0273, 𝜆1𝑟 = 0,2294, 𝐶1,𝑟 = 1,0068
com os coeficientes 𝜆1 e 𝐶1 obtidos a partir da Tabela 1.1.
Vem então:
∗ (𝑥 = 0, 15 min) = 1,0050 exp(−0,17762 × 8,475) = 0,769
𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎

∗ 2
𝜃𝑐𝑖𝑙𝑖𝑛𝑑𝑟𝑜 ∞ (𝑟 = 0, 15 min) = 1,0068 exp(−0,2294 × 12,204) = 0,530

∗ 𝑇(0,0,15 min)−𝑇∞
𝜃0,0,𝑡 = = 0,769 × 0,530 = 0,408
𝑇𝑖 −𝑇∞

𝑇(0,0,15 min) = 25 + (120 − 25) × 0,408 = 63,8 ºC

64
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Quanto à temperatura no centro da superfície superior (ver figura anterior), teremos:

∗ 𝜃𝐿,0,𝑡 𝑇(0,06;0;𝑡)−𝑇∞ ∗ ∗
𝜃𝐿,0,𝑡 = = = 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 (𝑥 = 0,06, 𝑡) ∙ 𝜃𝑐𝑖𝑙𝑖𝑛𝑑𝑟𝑜 ∞ (𝑟 = 0, 𝑡)
𝜃𝑖 𝑇𝑖 −𝑇∞

com
∗ ∗
(𝑥 = 0,06, 𝑡) = 𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 (𝑥 = 0, 𝑡) cos(𝜆1𝑥 𝑥 ∗ ) =
𝜃𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎
= 0,769 cos(0,1776 × 1) = 0,757

𝜃𝑐𝑖𝑙𝑖𝑛𝑑𝑟𝑜 ∞ (𝑟 = 0, 𝑡 = 15 min) = 0,530

Então teremos
∗ 𝑇(0,06;0;15min)−𝑇∞
𝜃𝐿,0,15min = = 0,757 × 0,530 = 0,401
𝑇𝑖 −𝑇∞

𝑇(0,06; 0; 15 min) = 25 + (120 − 25) × 0,401 = 63,1 ºC

Há uma pequena variação da temperatura dentro do cilindro, o que era de prever face aos valores
dos números de Biot já calculados. A temperatura 𝑇(𝐿, 𝑟𝑒𝑥𝑡 , 15 min) será um pouco inferior.

65
Capítulo 1 - Condução

66
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

2 Convecção
A transferência de calor por convecção é o modo de transferência quando há fluidos em
movimento. O movimento torna a transferência mais intensa, por comparação com a condução
no fluido. O calor transfere-se entre uma superfície/corpo e o fluido em causa devido a uma
diferença de temperaturas. De uma forma prática, a relação entre a potência calorífica
transferida e a diferença de temperaturas é expressa através do coeficiente de convecção,
conforme visto já no capítulo anterior:
𝑞̇ = ℎ(𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜,∞ ) (2.1)

A temperatura a considerar para o fluido é a temperatura longe da superfície sólida (parede),


uma vez que na parede ele se encontrará à temperatura dela. A definição da temperatura longe
da parede variará consoante se trate de um escoamento interno ou externo, como veremos.
A via teórica para cálculo do coeficiente de convecção é complexa, mesmo em regime
permanente (único a tratar), pois envolve resolver a equação da energia para um escoamento. E
só existem soluções analíticas em casos muito simples. Nos outros casos há 2 abordagens
possíveis: uma abordagem numérica ao cálculo do campo de velocidades, pressões e
temperaturas (vulgarmente conhecida por CFD – Computational Fluid Dynamics), que exige o
recurso a meios computacionais, ou uma abordagem semi-empírica assente em correlações
experimentais, sendo o coeficiente estimado a partir de parâmetros do escoamento.
Após uma abordagem ao que se passa de um modo geral num escoamento junto a uma parede
sólida, trataremos em separado os escoamentos externos e os escoamentos internos (condutas).
Será ainda tratada a convecção quando o movimento do fluido se deve à própria diferença de
temperaturas existente no seu seio, ou seja, quando há convecção natural.
No final do capítulo apresentam-se diversos problemas práticos que ilustram a aplicação dos
conceitos e métodos de cálculo vistos.
2.1 Escoamentos, camadas limite e coeficiente de convecção
A transferência de calor entre uma superfície sólida e um fluido em movimento depende de
como varia a temperatura no interior do fluido (escoamento). Ou seja, o coeficiente de
convecção (h) depende da distribuição de temperatura no fluido. Para expressar como varia a
temperatura do fluido efetua-se um balanço de energia a um elemento de volume (volume de
controlo) infinitesimal do fluido, tal como foi feito no caso da condução, e levou à equação
geral da condução. O balanço de energia dirá que, em regime permanente (único a considerar),
a variação da energia contida no escoamento entre a entrada e a saída do volume de controlo é
igual ao balanço de trocas de energia desse volume (por condução e outras).

67
Capítulo 2 - Convecção

O balanço energético traduz-se na chamada equação da energia para um escoamento.


Considerando um escoamento 2D em regime laminar, e um fluido incompressível (com massa
específica constante), a equação pode escrever-se em coordenadas cartesianas como:
𝜕𝑇 𝜕𝑇 𝜕2𝑇 𝜕2𝑇
𝜌𝑐𝑝 (𝑣𝑥 𝜕𝑥 + 𝑣𝑦 𝜕𝑦) = 𝑘 (𝜕𝑥 2 + 𝜕𝑦 2 ) + 𝜇𝛷 + 𝑔̇ (2.2)

sendo 𝑔̇ a já conhecida taxa de geração interna de calor (se existir), e 𝛷 a função dissipação
viscosa, que traduz o calor gerado pelo atrito viscoso; esta função tem um peso significativo
quando a viscosidade do fluido é elevada ou o gradiente de velocidade é muito elevado,
podendo desprezar-se nos outros casos. Note-se que no caso da velocidade ser zero (fluido em
repouso), a equação se reduz à equação geral da condução em regime permanente (2D).
Não existe uma solução analítica geral para a equação (2.2), mesmo que se conheça o campo
de velocidades. Alguns exemplos a ver em 2.6 tratarão, com muitas simplificações, da obtenção
de uma solução analítica. Quando a solução analítica existir, é possível obter o coeficiente de
convecção a partir do cálculo do gradiente de temperatura no fluido junto à parede/superfície
sólida. Com efeito, junto à parede a velocidade do fluido é nula, pelo que o calor passa nesse
ponto por condução. Podemos escrever:
𝜕𝑇
𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 = −𝑘𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜 𝜕𝑛| = ℎ(𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜,∞ ) (2.3)
𝑠𝑢𝑝

em que n é a direção normal à superfície sólida, e que mostra que o coeficiente de convecção é
proporcional ao gradiente de temperatura do fluido na parede/superfície.
Quando um escoamento encontra uma parede sólida, o campo de velocidades altera-se: junto à
parede a velocidade é muito baixa (zero mesmo na parede), aumentando à medida que a
distância à parede aumenta. A zona de maior variação (99% da variação) é designada por
camada limite dinâmica. Quanto ao campo de temperaturas, também é influenciado pela parede,
desde que esta se encontre a uma temperatura diferente (maior ou menor). De modo análogo ao
campo de velocidades pode falar-se de uma zona onde a temperatura varia mais acentuadamente
– a camada limite térmica. A Figura 2.1 representa esquematicamente as 2 camadas limite e a
sua evolução ao longo do escoamento. Como a influência da parede se vai estendendo para mais
longe dela ao longo do escoamento, a espessura de ambas as camadas vai aumentando. No que
toca à camada limite térmica, isso implica que o gradiente de temperatura na parede vai
diminuindo, pelo que o coeficiente de convecção vai diminuindo, de acordo com a equação
(2.3). O eventual aparecimento de turbulência na camada limite irá aumentar o coeficiente,
como veremos à frente.

Figura 2.1 – Evolução das camadas limite junto a uma superfície sólida. Adaptado de [1].

68
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

As limitações na obtenção de uma solução exata/analítica para a equação da energia, que se


juntam às dificuldades já conhecidas da Mecânica de Fluidos para a obtenção de uma solução
exata para o campo de velocidades (equação da quantidade de movimento), levaram a que se
tratasse de forma semi-empírica o cálculo do coeficiente de convecção. Esse método não
permite obter a distribuição de temperatura no fluido, mas sim quantificar valores de h e,
consequentemente, calcular a potência calorífica trocada entre a superfície sólida e o fluido em
movimento.
O método semi-empírico baseia-se na quantificação de uma relação adimensional entre o
coeficiente de convecção e parâmetros do escoamento como a sua geometria, regime de
escoamento e propriedades do fluido. A relação foi quantificada para uma variedade de
geometrias, regimes e fluidos, e a sua forma funcional pode obter-se a partir da
adimensionalização da equação da energia. No caso de escoamentos impostos por ações
externas – ditos escoamentos forçados – ela tem a forma:

𝑁𝑢 = 𝑓(geometria, 𝑅𝑒, 𝑃𝑟) (2.4)

e assenta na definição de 3 números adimensionais: o número de Nusselt (𝑁𝑢 = ℎ𝐿𝑐 /𝑘), que
compara a resistência de convecção com a de condução no fluido numa espessura característica
𝐿𝑐 (que depende da geometria), o número de Reynolds (𝑅𝑒 = 𝜌𝑣𝑐 𝐿𝑐 /𝜇), que compara as forças
de inércia do escoamento (velocidade característica ou de referência) com as forças de
viscosidade que se opõem ao escoamento, e o número de Prandtl (𝑃𝑟 = 𝜇𝑐𝑝 /𝑘), que caracteriza
o fluido, comparando as aptidões para transferir quantidade de movimento e para transferir
calor.
Como veremos nas secções seguintes, encontram-se disponíveis relações funcionais (f) para
uma grande variedade de geometrias correntes, regimes de escoamento (laminar e turbulento)
e fluidos. Mas note-se que todas elas consideram que o fluido é incompressível e não viscoso
(efeito nulo da função dissipação viscosa). Nos casos mais simples, nos poucos para os quais
há solução analítica da equação da energia, a relação pode obter-se teoricamente. Para a grande
maioria dos casos a relação funcional é obtida por via experimental (correlação), o que se traduz
numa incerteza dos resultados que nalguns casos poderá chegar a 15%.
2.2 Escoamentos forçados externos: placa plana, cilindro e esfera
Nos escoamentos externos o fluido contacta com uma superfície sólida, mas não está confinado
por paredes. O exemplo mais simples é o do escoamento paralelo a uma placa plana, que
começaremos por considerar.
No caso do escoamento ter regime laminar (Re até 5 × 105 calculado com um comprimento
característico – Lc – igual ao comprimento da placa na direção do escoamento) é possível obter
o coeficiente de convecção analiticamente, com algumas simplificações. O resultado depende
da condição fronteira na superfície da placa, considerando-se os 2 casos mais simples:
temperatura constante ou fluxo de calor constante, ao longo do comprimento (x). Para Tsup
constante ao longo de x, o valor local do coeficiente é dado por (para Pr>0,6)
1/2
𝑁𝑢𝑥 = 0,332 𝑅𝑒𝑥 𝑃𝑟 1/3 (2.5)

sendo 𝑅𝑒𝑥 = 𝜌𝑣∞ 𝑥/𝜇 e 𝑁𝑢𝑥 = ℎ𝑥/𝑘.


Note-se que o Nux aumenta ao longo de x. No entanto h diminui, pois x cresce mais que Nux.

69
Capítulo 2 - Convecção

Quando a condição na superfície é de fluxo constante, a relação é:


1/2
𝑁𝑢𝑥 = 0,453 𝑅𝑒𝑥 𝑃𝑟 1/3 (2.6)

ou seja, o coeficiente é 36% superior ao do caso Tsup constante.


Quanto ao valor para cálculo do coeficiente de convecção médio (entre 0 e L), obtém-se a partir
dos valores locais:
1/2
𝑁𝑢𝐿 = 0,664 𝑅𝑒𝐿 𝑃𝑟 1/3 para Tsup constante (2.7)
1/2
𝑁𝑢𝐿 = 0,680 𝑅𝑒𝐿 𝑃𝑟 1/3 para 𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 constante (2.8)

que traduzem uma pequena diferença (2%) entre as 2 condições, ao contrário do que acontece
para os valores locais.
Quando o número de Re atinge 5 × 105 aparece turbulência na camada limite, o que intensifica
a transferência (de quantidade de movimento e de calor). Nessas condições não existe solução
analítica, mas valores experimentais permitiram obter para os valores locais
4/5
𝑁𝑢𝑥 = 0,0296 𝑅𝑒𝑥 𝑃𝑟 1/3 para Tsup constante e Pr>0,6 (2.9)
4/5
𝑁𝑢𝑥 = 0,0308 𝑅𝑒𝑥 𝑃𝑟 1/3 para 𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 constante e Pr>0,6 (2.10)

também com uma pequena diferença (4%) entre as 2 condições. Saliente-se que na prática
muitas vezes não existe nenhuma das condições: nem a temperatura nem o fluxo são constantes;
a pequena diferença torna menos importante a escolha da relação a usar.
Quanto ao valor médio do coeficiente, é possível agrupar as 2 zonas/regimes – laminar e
turbulenta – numa única expressão, vindo, para Pr>0,6 e 5x105 < Re < 107:
4/5
𝑁𝑢𝐿 = (0,037 𝑅𝑒𝐿 − 871)𝑃𝑟 1/3 (2.11)

aproximadamente igual, portanto, para as 2 condições fronteira.


Como representa a Figura 2.2, dentro do mesmo regime (laminar ou turbulento) há uma
diminuição do coeficiente de convecção local com o comprimento. Ao passar do
regime/camada laminar para o turbulento há um aumento. Essa transição é na realidade gradual,
havendo uma zona de transição, que por facilidade de cálculo se assume ocorrer bruscamente.
O coeficiente médio representa a média para toda a superfície. É, portanto, uma simplificação
a consideração de um coeficiente constante numa superfície (como feito na secção 1).

Figura 2.2 – Zonas laminar e turbulenta numa placa plana e variação do coeficiente de convecção local.
Adaptado de [2].

70
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Saliente-se que ao aplicar as correlações de convecção vistas, todas as propriedades físicas dos
fluidos que intervêm nos 3 números adimensionais (Nu, Re e Pr) devem ser avaliadas a uma
temperatura média aritmética entre a temperatura da superfície e a do fluido longe da parede.
Algumas das correlações da literatura, assim como algumas a apresentar mais à frente, usam
propriedades à temperatura média ou a 𝑇𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜,∞ , e um fator de correção para a variação de
propriedades com a temperatura (propriedades a 𝑇𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜,∞ e propriedades a 𝑇𝑠𝑢𝑝 ).
Outra geometria que ocorre frequentemente na prática é a de escoamentos no exterior de
cilindros longos, ou outros prismas, sendo o escoamento perpendicular ao eixo do
cilindro/prisma. Nestes casos o escoamento é complexo, nomeadamente na zona de trás do
objecto, devido à formação de vórtices e possibilidade de descolamento da parede. Uma
correlação experimental genérica, válida para Pr>0,7, é
̅̅̅̅𝐷 = 𝐶 𝑅𝑒𝐷𝑚 𝑃𝑟 1/3
𝑁𝑢 (2.12)

sendo C e m coeficientes dados na Tabela 2.1, para várias geometrias e intervalos de Re.

Tabela 2.1 – Coeficientes 𝐶 e 𝑚 para cálculo do número de Nusselt em cilindros/prismas – equação (2.12).

Uma outra geometria relacionada é a dos escoamentos perpendiculares a conjuntos de cilindros


ou, mais frequentemente, feixes de tubos. Nestes casos há que distinguir se o feixe é alinhado
ou alternado, o que altera o padrão do escoamento – Figura 2.3. Enquanto num cilindro isolado
o Re é calculado com a velocidade antes do obstáculo, no caso dos feixes é usada a velocidade
máxima na secção de passagem mínima entre cilindros/tubos, que pode ser a secção transversal
(AT) ou diagonal (AD) – ver Figura 2.3.

71
Capítulo 2 - Convecção

(a) (b)

Figura 2.3 – Configurações, dimensões, passos (S) e secções de passagem em feixes de tubos: (a) alinhados;
(b) alternados. l é a largura (perpendicular à figura). Adaptado de [2].

Uma correlação experimental genérica, válida para Pr > 0,7, é


1/4
𝑃𝑟
̅̅̅̅ 𝑚
𝑁𝑢𝐷 = 𝐶1 𝐶2 𝑅𝑒𝐷,𝑚𝑎𝑥 𝑃𝑟 0,36 (𝑃𝑟 ) (2.13)
𝑠𝑢𝑝

sendo 𝐶1 , 𝐶2 e m coeficientes dados na Tabela 2.2, para várias configurações e intervalos de Re.
𝐶2 é igual a 1 para um número de filas maior que 16. Nesta correlação devem usar-se
propriedades à temperatura média entre a superfície dos tubos e o fluido longe dela, com
exceção de Prsup (à temperatura Tsup).

Tabela 2.2 – Coeficientes 𝐶1 , 𝑚 e 𝐶2 para cálculo do número de Nusselt em feixes de tubos – equação (2.13).

72
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Um último caso de escoamento externo a referir é o do escoamento em torno de uma esfera.


Uma correlação experimental válida para 𝑃𝑟 > 0,7 e 3,5 < 𝑅𝑒𝐷 < 7,6 × 104 , é
1/4
1/2 2/3 𝜇
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐷 = 2 + (0,4 𝑅𝑒𝐷 + 0,06 𝑅𝑒𝐷 )𝑃𝑟 0,4 (𝜇 ) (2.14)
𝑠𝑢𝑝

sendo todas as propriedades avaliadas a 𝑇∞ e 𝜇𝑠𝑢𝑝 a Tsup.


2.3 Escoamentos forçados internos
Nos escoamentos internos o fluido está confinado numa conduta, que pode ter uma secção
qualquer e variável. Como se viu em 2.1 e 2.2, a tendência geral num dado regime de
escoamento é haver um aumento da espessura da camada limite ao longo do escoamento, que
leva a uma diminuição do coeficiente de convecção. No caso de um escoamento confinado
existe um limite para o desenvolvimento da espessura da camada limite, devido à interação das
várias superfícies da conduta.
A Figura 2.4 representa a evolução da camada limite dinâmica e da camada limite térmica ao
longo de um tubo, a partir de uma velocidade e temperatura constantes à entrada. As camadas
crescem até se encontrarem no eixo da conduta. A partir daí o perfil de velocidades é constante
(em regime permanente), ou desenvolvido; na zona de escoamento desenvolvido a velocidade
só tem componente paralela ao eixo da conduta (vx). O perfil de temperaturas pode variar, pois
o fluido pode trocar calor com o exterior através da parede; no entanto, na zona desenvolvida é
constante a diferença de temperatura adimensional entre a superfície da parede e o fluido –
(𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇)⁄(𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑚 ), sendo 𝑇𝑚 a temperatura média do fluido na secção, a definir à frente.
Os comprimentos de entrada (até à zona desenvolvida) não são no geral iguais para a camada
limite dinâmica e para a térmica – apenas são iguais quando Pr=1 (nesse caso o fluido tem a
mesma aptidão para transferir quantidade de movimento e calor).

Figura 2.4 – Escoamento num tubo circular: (a) evolução da camada limite dinâmica e perfis de velocidade; (b)
evolução da camada limite térmica e perfis de temperatura (diferentes condições na parede, 𝑇𝑠𝑢𝑝 ou
𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 constante, considerada mais quente que o fluido). Adaptado de [1].

73
Capítulo 2 - Convecção

Ocorrem evoluções semelhantes em condutas não circulares, de qualquer secção. Tratam-se as


diferentes secções (constantes ao longo do escoamento) com auxílio da definição de diâmetro
hidráulico, igual a:
4 𝐴𝑠
𝐷ℎ = (2.15)
𝑃

sendo 𝐴𝑠 a área da secção transversal do escoamento e P o perímetro de contacto entre o fluido


e a conduta (nessa mesma secção). Nos escoamentos internos usa-se este diâmetro hidráulico
como comprimento característico para cálculo do Re e do Nu, e não o comprimento ao longo
do escoamento (x), como no caso visto da placa plana.
O coeficiente de convecção é maior na zona de entrada de uma conduta, vai baixando ao longo
da direção do escoamento, e torna-se constante na zona desenvolvida. E isso acontece quer em
regime de escoamento laminar (ReD<2300) quer em regime turbulento. Os comprimentos de
entrada dinâmico e térmico numa conduta circular em regime laminar podem estimar-se com

(𝐿𝑒𝑛𝑡,𝑑 ⁄𝐷)𝑙𝑎𝑚 ≈ 0,05 𝑅𝑒𝐷 (2.16)

(𝐿𝑒𝑛𝑡,𝑡 ⁄𝐷 )𝑙𝑎𝑚 ≈ 0,05 𝑅𝑒𝐷 𝑃𝑟 (2.17)

que podem usar-se com alguma cautela no caso de condutas não circulares (com o 𝐷ℎ ). No caso
de ReD=2300, isso significa que o comprimento de entrada dinâmico será de cerca de 115
diâmetros, podendo o comprimento de entrada térmico ser menor ou maior, dependendo de Pr.
No caso do ar, com um Pr de cerca de 0,7, o comprimento de entrada térmico será inferior (até
80D para ReD=2300).
Em regime turbulento os comprimentos são menores, podendo usar-se
1/4
(𝐿𝑒𝑛𝑡,𝑑 ⁄𝐷)𝑡𝑢𝑟𝑏𝑢𝑙 ≈ 1,359 𝑅𝑒𝐷 (2.18)

(𝐿𝑒𝑛𝑡,𝑡 ⁄𝐷 )𝑡𝑢𝑟𝑏𝑢𝑙 ≈ 10 (regra prática) (2.19)

O coeficiente de convecção é relacionado com a diferença entre a temperatura na superfície e


longe da superfície – equação (2.1). Como a temperatura do fluido varia na secção do
escoamento, usa-se para referência da temperatura longe da parede a temperatura média na
secção, ou temperatura de mistura, que corresponde a uma temperatura que a verificar-se
constante em todos os pontos da secção, conduziria à mesma energia transportada nessa secção.
Ou seja, matematicamente:

𝑀̇𝑐𝑝 𝑇𝑚 = ∫𝐴 𝜌𝑣𝑥 (𝑟)𝑐𝑝 𝑇(𝑟)𝑑𝐴𝑠 (2.20)


𝑠

Para um escoamento laminar com dissipação viscosa desprezável, no caso da zona desenvolvida
pode deduzir-se teoricamente o valor do coeficiente de convecção adimensional, (Nu) tendo
este um valor constante (independentemente do valor de Re). E isso verifica-se para qualquer
forma/secção da conduta. No entanto, o valor depende da condição fronteira na parede:
temperatura ou fluxo constante são as duas consideradas. Note-se que na realidade há situações
que não correspondem a nenhuma dessas condições, pelo que o uso de um ou outro valor tem
sempre uma margem de incerteza. A Tabela 2.3 apresenta os valores para várias geometrias.
Tal como acontece com o fator de atrito, o efeito da rugosidade da parede da conduta em h é
desprezável em regime laminar.

74
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Tabela 2.3 –Número de Nusselt em regime laminar, na zona desenvolvida, para diferentes secções de condutas.
Adaptado de [2].

Na zona de entrada o coeficiente tem valores maiores, e dependentes de Re (e Pr). A Figura 2.5
apresenta os valores dos coeficientes adimensionais (NuD) locais e médios, para um tubo
circular. Consideram-se 2 hipóteses: camada limite dinâmica já desenvolvida à entrada, ou
ainda não desenvolvida (em ambos os casos a camada limite térmica não está desenvolvida).

a b
Figura 2.5 – Número de Nusselt em regime laminar, na zona desenvolvida, para um tubo circular: (a) valores
locais; (b) valores médios na conduta de comprimento L, com Tsup constante. Adaptado de [1].

75
Capítulo 2 - Convecção

Para o caso de Tsup constante e camada limite dinâmica já desenvolvida à entrada do tubo (só a
camada limite térmica se desenvolve), pode obter-se o coeficiente médio com
0,0668 𝑅𝑒 𝑃𝑟𝐷/𝐿
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐷 = 3,66 + 1+0,04( 𝑅𝑒 𝐷𝑃𝑟𝐷/𝐿)2/3 (2.21)
𝐷

Para o caso de ambas as camadas se desenvolverem desde o início, pode encontrar-se uma
expressão em [1].
No caso do escoamento se dar em regime turbulento também existe uma evolução semelhante
entre a zona de entrada e a desenvolvida. Só que nesse regime, o comprimento das zonas de
entrada é muito menor que no regime laminar – até 10 diâmetros para a camada limite térmica
como mostra a Figura 2.6. Isso faz com que na maior parte das situações práticas a zona de
entrada tenha pouca importância neste regime. Também tem menos peso a diferença entre
temperatura ou fluxo constante na superfície da parede da conduta.

Figura 2.6 – Número de Nusselt local em regime turbulento, para um tubo circular e para diferentes valores de Re.
Adaptado de [2].

Para regime turbulento desenvolvido, a expressão mais conhecida para cálculo do coeficiente
de convecção é:
𝑁𝑢𝐷 = 0,023 𝑅𝑒𝐷0,8 𝑃𝑟 𝑛 (2.22)

conhecida por equação de Dittus-Boelter, válida para Pr > 0,7, ReD >10000, com propriedades
a Tm, e em que o expoente n é igual a 0,3 quando o fluido arrefece (perde calor) e 0,4 quando
aquece (recebe calor da superfície).
No caso de tubos muito curtos, em que se queira contabilizar o efeito da zona de entrada, pode
usar-se a correlação empírica:
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐷 1
= 1 + (𝐿/𝐷)2/3 (2.23)
𝑁𝑢𝐷, 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣

que mostra existir um acréscimo de 20% ao coeficiente desenvolvido quando L/D=10.

76
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Há também correlações na literatura, [1], para contabilizar o efeito da rugosidade da conduta,


que tem um efeito maior no regime turbulento. Podem ainda encontrar-se soluções para
escoamentos entre cilindros concêntricos (escoamento anelar), e para tubos enrolados em hélice
(serpentinas), em [1], para regime laminar.
Uma questão importante nos escoamentos internos é a da variação da temperatura média, ou de
mistura (Tm), ao longo do escoamento, e a sua relação com o coeficiente de convecção. Para
avaliar a variação de temperatura média podemos efetuar o balanço energético de um elemento
de volume de fluido genérico, abrangendo toda a secção da conduta – Figura 2.7. Vamos
novamente distinguir 2 casos de condições na parede: temperatura ou fluxo constante ao longo
do escoamento. O caso de fluxo constante verifica-se quando um elemento aquecedor em
contacto com a parede fornece uma potência constante em toda a sua área. A situação de
temperatura constante pode aproximar casos em que, variando a temperatura, se assume um
valor médio desta para toda a conduta.

a b

Figura 2.7 – Evolução da temperatura média do fluido num escoamento, com a parede a temperatura mais alta: (a)
fluxo constante na parede (com zona de entrada e desenvolvida; (b) temperatura constante na parede.
Adaptado de [1].

Quando o fluxo na parede é constante – Figura 2.7(a) – a diferença (𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑚 ) mantém-se


constante na zona desenvolvida, pois é igual a 𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 /ℎ e ambos são constantes em x. Quanto à
evolução da temperatura média, o balanço do elemento representado na Figura 2.7 é:
𝑀̇𝑐𝑝 𝑑𝑇𝑚 = 𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 𝑃 𝑑𝑥 (2.24)

o que significa que, sendo 𝑑𝑇𝑚 /𝑑𝑥 constante, a temperatura média varia linearmente.
Quando a temperatura da parede é constante ao longo de x – Figura 2.7(b) – o fluxo convectivo
é proporcional a h e à diferença de temperaturas, ou seja:
𝑀̇𝑐𝑝 𝑑𝑇𝑚 = ℎ 𝑃 𝑑𝑥 (𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑚 ) (2.25)

77
Capítulo 2 - Convecção

Sendo h constante com x, caso da zona desenvolvida, ou usando um valor médio suposto
constante, podemos integrar facilmente a equação (2.25). Sendo T=Tm,ent para x=0, obtém-se
para a temperatura ao fim do comprimento L:
( 𝑇𝑠𝑢𝑝 −𝑇𝑚,𝑠𝑎𝑖 ) ℎ𝑃𝐿
( 𝑇𝑠𝑢𝑝 −𝑇𝑚,𝑒𝑛𝑡 )
= exp (− 𝑀̇𝑐 ) (2.26)
𝑝

equação que mostra que a temperatura média do fluido varia exponencialmente entre a entrada
e a saída da conduta. Pode desprezar-se o comprimento de entrada, o que é frequentemente uma
boa aproximação no caso do regime turbulento, ou então obter uma solução aproximada com o
valor médio de h.
2.4 Escoamentos por diferença de temperatura (convecção natural)
Quando um fluido em repouso experimenta uma diferença de temperatura no seu interior, como
por exemplo ao contactar uma superfície mais quente ou mais fria, gera-se uma diferença de
densidades (massa específica). As porções de fluido mais quente são mais leves, e portanto vão
subir na vertical, devido à menor ação da gravidade; ao contrário, as porções mais frias tenderão
a descer. Quando se gera um escoamento devido a essa diferença de densidades dizemos que
estamos perante um escoamento de convecção natural. Neste caso a resolução analítica das
equações da quantidade de movimento e energia é ainda mais difícil, pois uma das forças que
atuam no fluido, a de impulsão, depende do campo de temperaturas.
No caso dos escoamentos de convecção natural a relação funcional (2.4) é diferente, uma vez
que as velocidades do fluido são devidas à diferença de temperatura. Então, em vez de uma
velocidade imposta, quantificada no Re, intervém um outro número adimensional – número de
Grashoff – que compara as forças de impulsão por diferença de densidade do fluido com as
forças de viscosidade (que se opõem ao movimento). É calculado através de:
𝑔𝛽(𝑇𝑠𝑢𝑝 −𝑇∞ )𝐿3𝑐
𝐺𝑟 = (𝜇 ⁄𝜌)2
(2.27)

sendo 𝛽 o coeficiente de expansão térmica, calculável para os gases perfeitos como o inverso
da temperatura (em K). Então a relação funcional para a convecção natural é
ℎ𝐿𝑐
𝑁𝑢 = = 𝑓(geometria, 𝐺𝑟, 𝑃𝑟) (2.28)
𝑘

A dimensão característica 𝐿𝑐 depende da geometria considerada. A Tabela 2.4 apresenta


correlações para diferentes geometrias, como placas e cilindros, verticais e horizontais. Todas
as propriedades do fluido devem ser avaliadas à temperatura média entre a do fluido e a da
superfície sólida. Em muitas correlações aparece o número de Rayleigh, 𝑅𝑎 = 𝐺𝑟. 𝑃𝑟.
Na prática há situações em que ocorrem simultaneamente, e com o mesmo peso, a convecção
forçada e natural (situações de convecção mista). Tal ocorre quando o quociente Gr/Re2 é da
ordem de 1. O cálculo é mais complexo, e não será considerado neste texto.
Uma outra situação de convecção natural corrente ocorre num espaço confinado entre
superfícies (cavidades onde o fluido está contido). Quando a geometria é definida por placas
planas paralelas, separadas por uma dada distância L, essa é a dimensão característica a usar.
Existem correlações para cavidades retangulares horizontais, verticais e inclinadas – ver Figura
2.8. Note-se que nesta geometria o Nu e o coeficiente de convecção quantificam a transferência
de calor nas 2 superfícies limites da cavidade (às temperaturas T1 e T2).

78
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Tabela 2.4 – Correlações empíricas para cálculo do número de Nusselt médio na convecção natural sobre
superfícies (mais quentes ou mais frias que o fluido).

a b c
Figura 2.8 – Cavidades retangulares e dimensões relevantes: (a) horizontal; (b) inclinada; (c) vertical.

79
Capítulo 2 - Convecção

Para uma cavidade horizontal, pode usar-se


+ 1/3 +
1708 𝑅𝑎
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐿 = 1 + 1,44 [1 − 𝑅𝑎 ] + [ 18𝐿 − 1] , para 𝑅𝑎𝐿 < 108 (2.29)
𝐿

denotando o sinal + que se o valor calculado for negativo, deve ser tomado como zero.
Note-se que na equação anterior, quando 𝑅𝑎𝐿 é menor que 1708, ̅̅̅̅ 𝑁𝑢𝐿 vem igual a 1. Tal
significa que o coeficiente de convecção ℎ é igual ao de condução entre as 2 placas, 𝑘/𝐿. O
espaço entre as placas não permite o movimento do fluido, só podendo o calor transferir-se por
condução.
No caso da cavidade inclinada de um ângulo 𝜃 em relação à horizontal, também se verifica que
a convecção desaparece quando 𝑅𝑎𝐿 cos 𝜃 ≤ 1708. A correlação para essa geometria é
+ 1,6 1/3 +
̅̅̅̅𝐿 = 1 + 1,44 [1 − 1708 ] (1 − 1708 (sen1,8 𝜃) ) + [(𝑅𝑎𝐿 cos 𝜃)
𝑁𝑢 − 1] (2.30)
𝑅𝑎 cos 𝜃
𝐿 𝑅𝑎 cos 𝜃 18𝐿

válida para 𝑅𝑎𝐿 ≤ 105 , 𝐻/𝐿 ≥ 12 e 0 ≤ 𝜃 < 70º.


Quanto à cavidade retangular vertical, há várias correlações, para diferentes razões altura sobre
profundidade (𝐻/𝐿):
0,29
̅̅̅̅𝐿 = 0,18 ( 𝑃𝑟 𝑅𝑎𝐿 )
𝑁𝑢 , para 1 <
𝐻
<2 e
𝑅𝑎𝐿 𝑃𝑟
> 103 (2.31)
0,2+𝑃𝑟 𝐿 (0,2+𝑃𝑟)

0,28 𝐻 −1/4
̅̅̅̅𝐿 = 0,22 ( 𝑃𝑟 𝑅𝑎𝐿 )
𝑁𝑢 (𝐿 ) , para 2 <
𝐻
< 10 e 103 < 𝑅𝑎𝐿 < 1010 (2.32)
0,2+𝑃𝑟 𝐿

𝐻 −0,3 𝐻
̅̅̅̅ 1/4
𝑁𝑢𝐿 = 0,42 𝑅𝑎𝐿 𝑃𝑟 0,012 ( 𝐿 ) , para 10 < < 40 e 104 < 𝑅𝑎𝐿 < 107 (2.33)
𝐿

𝐻
̅̅̅̅𝐿 = 0,46 𝑅𝑎1/3
𝑁𝑢 𝐿 , para 1 < 𝐿 < 40 , 106 < 𝑅𝑎𝐿 < 109 e 1 < 𝑃𝑟 < 20 (2.34)

Para avaliação das propriedades do fluido deve usar-se (T1+T2)/2, em todas as equações
anteriores.
Mas também ocorrem na prática casos de cavidades cilíndricas (entre cilindros concêntricos) e
esféricas (entre esferas) – ver Figuras 2.9 e 2.10.

Figura 2.9 – Cavidade cilíndrica (entre cilindros concêntricos): dimensões e temperaturas relevantes, e
circulação natural do fluido.

Figura 2.10 – Cavidade esférica (entre esferas concêntricas): dimensões e temperaturas relevantes.
80
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Nestas cavidades, devido à variação da secção com o raio, define-se uma resistência radial em
tudo semelhante à resistência de condução radial vista em 1.1.2. Essa resistência é calculada
com uma condutibilidade térmica efetiva, 𝑘𝑒𝑓 , que seria a condutibilidade que daria a mesma
potência transferida por convecção natural, se houvesse condução. Ou seja, a potência para a
cavidade cilíndrica calcula-se por:
2𝜋𝐿 𝑘𝑒𝑓 (𝑇𝑖𝑛𝑡 −𝑇𝑒𝑥𝑡 )
𝑄̇ = ln(𝑟 ⁄𝑟 )
(2.35)
𝑒𝑥𝑡 𝑖𝑛𝑡

A correlação para o número de Nusselt médio, e 𝑘𝑒𝑓 , em cilindros horizontais, é:


𝑘 𝑃𝑟 1/4 1/4
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐿𝑐 = 𝑘𝑒𝑓 = 0,386 (0,861+𝑃𝑟) (𝑅𝑎𝐿𝑐 ) (2.36)

válida para 0,7 ≤ 𝑃𝑟 ≤ 6000 e 102 < 𝑅𝑎𝐿𝑐 ≤ 107 , e sendo a dimensão característica
2 [ln(𝑟𝑒𝑥𝑡 ⁄𝑟𝑖𝑛𝑡 )]4/3
𝐿𝑐 = −3/5 −3/5 5/3
(2.37)
(𝑟𝑖𝑛𝑡 +𝑟𝑒𝑥𝑡 )

Note-se que se 𝑅𝑎𝐿𝑐 ≤ 100 há condução (𝑘𝑒𝑓 = 𝑘).


Para a cavidade esférica tem-se
4𝜋 𝑘 (𝑇𝑖𝑛𝑡 −𝑇𝑒𝑥𝑡 )
𝑄̇ = (1⁄𝑟𝑒𝑓 )−(1 ⁄𝑟 )
(2.38)
𝑖𝑛𝑡 𝑒𝑥𝑡

1/4 1/4
̅̅̅̅𝐿 = 𝑘𝑒𝑓 = 0,74 ( 𝑃𝑟 )
𝑁𝑢 (𝑅𝑎𝐿𝑐 ) (2.39)
𝑐 𝑘 0,861+𝑃𝑟

válida para 0,7 ≤ 𝑃𝑟 ≤ 4000 e 102 < 𝑅𝑎𝐿𝑐 ≤ 104 , e sendo a dimensão característica
(1⁄𝑟𝑖𝑛𝑡 −1⁄𝑟𝑒𝑥𝑡 )4/3
𝐿𝑐 = −7/5 −7/5 5/3
(2.40)
21/3 (𝑟𝑖𝑛𝑡 +𝑟𝑒𝑥𝑡 )

2.5 Aplicação de métodos numéricos


Tal como se viu para a condução do calor, em 1.1.5, podem aplicar-se métodos numéricos como
o dos volumes finitos ou o dos elementos finitos para resolver a equação da energia num
escoamento. No entanto, devido ao termo de transporte convectivo necessitar do conhecimento
do campo de velocidades (ver equação (2.2)), tal exige a sua obtenção prévia. E o campo de
velocidades depende por sua vez da distribuição de pressões no escoamento. Assim, no caso
geral torna-se necessário resolver as equações da quantidade de movimento ou Navier-Stokes
(tantas equações quanto o número de dimensões consideradas), e a da continuidade, antes de
resolver a da energia (ou em simultâneo se se tratar de convecção natural). A existência de
turbulência é uma complicação adicional (introduzindo parâmetros de turbulência), que exige
o recurso a meios computacionais, para que os resultados tenham uma aproximação razoável à
realidade.
Os problemas P2.8 e P2.13 apresentam exemplos de aplicação do método dos volumes finitos
a escoamentos no interior de um tubo, partindo do conhecimento prévio do perfil de velocidades
desenvolvido.

81
Capítulo 2 - Convecção

2.6 Problemas práticos resolvidos (P2.1 a P2.20)


Apresentam-se vários problemas relacionados com o cálculo de coeficientes de convecção e
temperaturas em escoamentos fluidos, discutindo-se as hipóteses, a resolução e resultados.
Alguns exemplos tratarão, com muitas simplificações, da obtenção de uma solução analítica
para a distribuição de temperaturas num escoamento. São também apresentadas soluções
numéricas em casos particulares.

P2.1

O teto de uma carruagem de comboio pode considerar-se uma placa plana com um comprimento
de 8 m, e desloca-se na horizontal em ar calmo, à velocidade v. A temperatura do ar é de 25ºC,
sendo as suas propriedades a esta temperatura: k=0,0259 W/mK, =1,589 x10-5 m2/s,
Pr=0,728. O teto fica a uma temperatura mais elevada, devido à incidência da radiação solar.
Analise a variação do coeficiente de convecção no teto para velocidades entre 10 e 120 km/h.

Resolução e discussão

Temos então um escoamento de ar paralelo a uma placa plana, cujo coeficiente pode ser
calculado como visto em 2.2. As propriedades físicas do ar a usar deveriam ser tomadas à
temperatura média entre a superfície do teto e o ar longe desta (25ºC); no entanto, não se
conhecendo a temperatura do teto, são usadas propriedades a 25ºC, o que não alterará
significativamente os valores do coeficiente de convecção, já que as propriedades do ar não
variam apreciavelmente com a temperatura, nas condições descritas.
Comecemos por avaliar o regime de escoamento nas diversas situações (velocidades), através
do número de Reynolds para o comprimento da placa:
𝑣∞ 𝐿 𝑣∞ ×8
𝑅𝑒𝐿 = = = 5,035 × 105 𝑣∞
𝜈 1,589×10−5

O seu valor, para velocidades entre 10 e 120 km/h (2,8 e 33,3 m/s), estará compreendido entre
1,400 × 106 e 1,678 × 107 . O regime turbulento verifica-se a partir de 5 × 105 , o que significa
que na gama de velocidades considerada existirá sempre regime turbulento (depois da zona
inicial da placa, em regime laminar).
A correlação vista para o regime turbulento, válida para temperatura ou fluxo constante na
parede, é a equação (2.11), da qual resulta
𝑘 4/5
ℎ = 𝐿 (0,037 𝑅𝑒𝐿 − 871)𝑃𝑟 1/3 = 3,927 𝑣∞ 0,8 − 2,537

Esta variação está representada graficamente na figura seguinte, na qual se vê que na gama de
velocidades considerada o coeficiente de convecção varia entre 6 e 62 W/m2ºC. O efeito do
aumento da velocidade está expresso no expoente 0,8; um aumento da velocidade para o dobro
traduz-se num aumento de cerca de 20,8 ou 1,74 vezes do coeficiente de convecção.

82
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Só se verificará regime laminar em toda a placa (teto) para uma velocidade muito reduzida,
igual ou inferior a 0,993 m/s (3,6 km/h). Para essa velocidade o coeficiente de convecção é
significativamente menor, obtendo-se um valor de 1,4 W/m2ºC. Note-se também que no caso
de regime laminar em toda a placa o efeito do aumento da velocidade é menor, proveniente do
expoente 0,5 da equação (2.7): nessas condições, um aumento da velocidade para o dobro
traduz-se num aumento de 1,41 vezes do coeficiente de convecção.

83
Capítulo 2 - Convecção

P2.2
Uma placa de um circuito integrado com 15 cm x 20
cm dissipa uniformemente 30 W, para uma corrente de
ar a 20ºC e a 5 m/s, que circula paralelamente à placa,
na direção de menor dimensão (k=0,0265 W/mK,
=1,655 x10-5 m2/s, Pr=0,7268).
Desprezando a transferência de calor na face posterior
da placa e admitindo regime turbulento (efeito dos
“chips”), calcule a temperatura dos componentes na
zona de entrada e na zona de saída do escoamento.
A direção do escoamento de ar será a mais adequada para limitar a temperatura máxima
verificada na placa?

Resolução e discussão

Temos convecção forçada da placa para o ar, que se escoa paralelamente a esta. A superfície da
placa fornece um fluxo constante ao ar, que se pode facilmente calcular, considerando a face
inferior isolada termicamente:
𝑄̇ 30
𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 = 𝐴 = 0,15×0,20 = 1000 W/m2
𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎

A figura seguinte resume as condições do problema.

A diferença de temperatura entre um ponto da placa (x) e o ar longe da placa depende do


coeficiente de convecção nesse ponto (local):
𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝
𝑇𝑥 −𝑇∞ = ℎ𝑥

Na zona de entrada (x=0) tem-se Nux=0, e hx tende para infinito, pelo que 𝑇𝑥=0 será igual a 𝑇∞ ,
ou seja, 20ºC.
Na zona de saída (x=L=0,15 m) vamos calcular o número de Reynolds:
𝑣∞ 𝐿 5×0,15
𝑅𝑒𝐿 = = 1,655×10−5 = 4,532 × 104
𝜈

Apesar de numa placa plana esse valor corresponder a regime laminar, a presença dos “chips”
induz o aparecimento da turbulência, pelo que usaremos a equação (2.10) para calcular o valor
do coeficiente à saída:
4/5
𝑁𝑢𝑥=𝐿 = 0,0308 𝑅𝑒𝐿 𝑃𝑟 1/3 = 0,0308 × (4,532 × 104 )0,8 × 0,72681/3 = 147
𝑁𝑢𝑥=𝐿 𝑘 147×0,0265
ℎ𝐿 = = = 26 W/m2ºC
𝐿 0,15

vindo então
𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 1000
𝑇𝑥=𝐿 = 𝑇∞ + = 20 + = 58,5ºC
ℎ𝐿 26

84
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Note-se que se se considerasse o escoamento como laminar, usando a equação (2.6) obter-se-ia
𝑁𝑢𝑥=𝐿 = 86,7, vindo ℎ𝐿 = 15,3 W/m2ºC e 𝑇𝑥=𝐿 = 85,4ºC. A temperatura à saída seria quase
27ºC mais elevada.
Se a direção do escoamento de ar fosse perpendicular, com o escoamento feito ao longo da
maior dimensão da placa (20 cm), e com turbulência, ter-se-iam 𝑁𝑢𝑥=𝐿 = 185, ℎ𝐿 = 24,5
W/m2ºC e 𝑇𝑥=𝐿 = 60,8ºC. O menor coeficiente à saída (comparado com o escoamento segundo
a menor dimensão) faz com que a temperatura à saída seja mais elevada (mais 2,3ºC), pelo que
será mais adequada a direção inicial para limitar a temperatura máxima na placa (admitindo
sempre um escoamento paralelo à placa).

85
Capítulo 2 - Convecção

P2.3
Para transferir calor entre 2 correntes de ar é colocada
uma vareta de alumínio (k=177 W/mK) que atravessa
a parede que separa os fluidos. A vareta tem 100 mm
de comprimento e 5 mm de diâmetro, e a parede tem
espessura desprezável.
Calcule a potência calorífica transferida pela vareta.
Será que existe um comprimento de contacto com cada
fluido ótimo, para o mesmo comprimento total da
vareta?

Resolução e discussão

Vamos considerar que ambos os fluidos transferem calor com a vareta num escoamento
perpendicular ao eixo desta, e a velocidade constante em toda a extensão de contacto – junto à
parede a velocidade não se reduz. Quanto às propriedades físicas dos fluidos, e apesar da
pequena diferença, considera-se o seu efeito. Admitem-se à pressão atmosférica e a uma
temperatura média entre a vareta e o respetivo fluido longe dela: a vareta é considerada à
temperatura média de 25ºC, pelo que se tomam propriedades para o fluido quente a 32,5ºC e
para o fluido frio a 17,5ºC.
Têm-se então
para o fluido quente: kq=0,02671 W/mK, q=1,644 x10-5 m2/s, Prq=0,706;
para o fluido frio: kf=0,02554 W/mK, f=1,504 x10-5 m2/s, Prf =0,710.
Quanto à vareta, ela recebe calor do fluido quente e conduz o calor ao longo da sua extensão,
transferindo-o depois para o fluido frio. Vamos considerar a transferência em regime
permanente, com a temperatura variando apenas ao longo do eixo, atendendo ao reduzido
diâmetro e elevada condutibilidade térmica. A vareta conduz o calor em simultâneo com a
convecção superficial, pelo que se comporta como um conjunto de 2 alhetas em série. A figura
seguinte esquematiza a situação. Na secção intermédia da vareta (base das 2 “alhetas”) a
potência calorífica recebida do fluido quente (𝑄̇𝑞 ) iguala a que sai para o fluido frio (𝑄̇𝑓 ).

Embora se pudesse considerar a transferência de calor nos topos da vareta, como a sua área é
muito pequena face à área da superfície lateral da vareta (cerca de 2,5%) ela vai ser desprezada,
o que permite simplificar as equações a usar, considerando alhetas com o topo isolado. Então,
recorrendo à equação (1.31)
86
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

𝑄̇𝑞 = (𝑇𝑏 − 𝑇𝑞∞ )√ℎ𝑞 𝑃𝑘𝐴𝑠 tanh(𝑚𝑞 𝐿𝑞 )

𝑄̇𝑓 = (𝑇𝑏 − 𝑇𝑓∞ )√ℎ𝑓 𝑃𝑘𝐴𝑠 tanh(𝑚𝑓 𝐿𝑓 )


com
ℎ𝑞 𝑃 𝑓 ℎ 𝑃
𝑚𝑞 = √ 𝑘𝐴 , 𝑚𝑓 = √ 𝑘𝐴 e 𝐿𝑞 = 𝐿𝑓 = 0,050 m
𝑠 𝑠

O cálculo dos dois coeficientes de convecção permite, pela igualdade das 2 potências, a
obtenção da temperatura na base (𝑇𝑏 ), e por substituição o valor dessa potência. Então vamos
calcular os coeficientes, considerando escoamentos perpendiculares ao eixo de um cilindro,
através da equação (2.12) e Tabela 2.1. Temos
𝑣𝑞∞ 𝐷 3×0,005 0,466 1/3
𝑅𝑒𝐷,𝑞 = = 1,644×10−5 = 912 ⇒ ̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐷,𝑞 = 0,683 𝑅𝑒𝐷,𝑞 𝑃𝑟𝑞 = 14,6
𝜈𝑞

𝑣𝑓∞ 𝐷 10×0,005 0,466 1/3


𝑅𝑒𝐷,𝑓 = = 1,504×10−5 = 3324 ⇒ ̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐷,𝑓 = 0,683 𝑅𝑒𝐷,𝑓 𝑃𝑟𝑓 = 26,7
𝜈𝑓

e
̅̅̅̅𝐷,𝑞 𝑘𝑞
𝑁𝑢
ℎ𝑞 = = 78 W/m2K
𝐷
̅̅̅̅𝐷,𝑓 𝑘𝑓
𝑁𝑢
ℎ𝑓 = = 136 W/m2K
𝐷

vindo então
ℎ𝑞 𝑃 78×𝜋×0,005
𝑚𝑞 = √ 𝑘𝐴 = √177×𝜋×0,0052/4 = 18,78
𝑠

𝑓 ℎ 𝑃 136×𝜋×0,005
𝑚𝑓 = √ 𝑘𝐴 = √177×𝜋×0,0052/4 = 24,79
𝑠

Podemos agora igualar as potências e obter 𝑇𝑏 . Note-se que as potências têm sinais contrários,
como visto anteriormente: a “alheta” quente recebe calor, enquanto a “alheta” fria perde calor:
𝑄̇𝑓 = −𝑄̇𝑞

(𝑇𝑏 − 𝑇𝑓∞ )√ℎ𝑓 𝑃𝑘𝐴𝑠 tanh(𝑚𝑓 𝐿𝑓 ) = −(𝑇𝑏 − 𝑇𝑞∞ )√ℎ𝑞 𝑃𝑘𝐴𝑠 tanh(𝑚𝑞 𝐿𝑞 )

vindo então 𝑇𝑏 = 21,9ºC. Por substituição vem

𝑄̇𝑓 = (𝑇𝑏 − 𝑇𝑓∞ )√ℎ𝑓 𝑃𝑘𝐴𝑠 tanh(𝑚𝑓 𝐿𝑓 ) =

= (21,9 − 10)√136 × 𝜋 × 0,005 × 177 × 𝜋 × 0,0052 /4 × tanh(24,79 × 0,05) =

= 0,867 W
Podemos também calcular as temperaturas nos topos da vareta. Recorrendo à equação (1.30)
teremos:
cosh[𝑚𝑞 (𝐿𝑞 −𝐿𝑞 )]
𝑇𝑥𝑞=𝐿𝑞 = 𝑇𝑞∞ + (𝑇𝑏 − 𝑇𝑞∞ ) =
cosh(𝑚𝑞 𝐿𝑞 )

1
= 40 + (21,9 − 40) cosh(18,78×0,05) = 27,7ºC

87
Capítulo 2 - Convecção

cosh[𝑚𝑓 (𝐿𝑓 −𝐿𝑓 )]


𝑇𝑥𝑓 =𝐿𝑓 = 𝑇𝑓∞ + (𝑇𝑏 − 𝑇𝑓∞ ) =
cosh(𝑚𝑓 𝐿𝑓 )

1
= 10 + (21,9 − 10) cosh(24,79×0,05) = 16,4ºC

ou seja, existe uma variação de temperatura de 11,3ºC ao longo da vareta.


O valor da potência trocada pela vareta pode parecer muito baixo, mas é necessário compará-
lo com o da potência que se transfere pela parede que separa os 2 fluidos. Assumindo que nos
2 fluidos existe um canal entre 2 placas (com uma comum, de separação entre os fluidos), com
uma espessura de 50 mm cada, e com as velocidades médias indicadas, os coeficientes de
convecção na parede, admitindo camadas limites desenvolvidas, serão aproximadamente ℎ𝑞 =
10 W/m2K e ℎ𝑓 = 40 W/m2K. Desprezando a resistência térmica da parede, tem-se um 𝑈 = 8
W/m2K; com um fluido a 40ºC e outro a 10ºC é necessária uma área de 0,0036 m2=36 cm2.
Essa área é bastante superior à área (da secção) ocupada pela vareta, pelo que a transferência
de calor através da vareta é mais eficiente que através da parede de separação.
Para analisar o efeito de variar o comprimento de contacto com cada fluido, vamos admitir que
𝐿𝑞 e 𝐿𝑓 podem variar, mantendo-se a sua soma igual ao comprimento total de 100 mm. Podemos
analisar a transferência global de calor do fluido quente para o frio através da consideração de
2 resistências térmicas: as resistências em série das 2 “alhetas”. Usando a definição de
resistência de uma alheta vista na equação (1.34), pode escrever-se
1 1
𝑅𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 = +
𝜂𝑎𝑙ℎ,𝑞 ℎ𝑞 𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑞 𝜂𝑎𝑙ℎ,𝑓 ℎ𝑓 𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑓

sendo o rendimento das 2 alhetas, com trocas no topo desprezáveis, definido pela equação
(1.35):
tanh(𝑚𝑞 𝐿𝑞 ) tanh(𝑚𝑓 𝐿𝑓 )
𝜂𝑎𝑙ℎ,𝑞 = e 𝜂𝑎𝑙ℎ,𝑓 =
𝑚𝑞 𝐿𝑞 𝑚𝑓 𝐿𝑓

Então vem para a resistência global:


𝑚𝑞 𝐿𝑞 𝑚𝑓 𝐿𝑓
𝑅𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 = tanh(𝑚 + tanh(𝑚
𝑞 𝐿𝑞 )ℎ𝑞 𝜋𝐷𝐿𝑞 𝑓 𝐿𝑓 )ℎ𝑓 𝜋𝐷𝐿𝑓

18,78 24,79
𝑅𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 = tanh(18,78 𝐿 + tanh(24,79 𝐿
𝑞 )×78×𝜋×0,005 𝑓 )×136×𝜋×0,005

a partir da qual se pode calcular a potência trocada com:

40−10 15,33 11,60


𝑄̇ = 𝑅 = 30⁄(tanh(18,78 𝐿 ) + tanh(24,79 𝐿 ))
𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 𝑞 𝑓

Ao variarem 𝐿𝑞 e 𝐿𝑓 , mantendo a sua soma igual a 100 mm, verifica-se que existe um mínimo
para a resistência global, a que corresponde um máximo para a potência. O gráfico seguinte
mostra os resultados. O ótimo verifica-se para 𝐿𝑓 ≅ 43 mm e 𝐿𝑞 ≅ 57 mm, sendo a potência
máxima trocada de 0,878 W. Em vez de usar a mesma área de transferência da vareta nos 2
fluidos, é preferível usar uma área um pouco maior no fluido com pior coeficiente de
convecção, o que desvia o ponto ótimo do ponto médio (50 mm).

88
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

89
Capítulo 2 - Convecção

P2.4
O “chip” de silício da figura está soldado a um módulo
dissipador de calor em alumínio (k=180 W/mK). O ar,
a 20ºC e 3 m/s, move-se na direção indicada na figura.
Em funcionamento o “chip” liberta uma potência
calorífica uniforme de 10 W na área de contacto.
Calcule o coeficiente de convecção médio entre o
módulo e o ar, e a variação de temperatura no módulo
entre a área de contacto e a zona mais fria. Despreze a
radiação térmica.

Resolução e discussão

O dissipador é composto por várias placas dissipadoras (alhetas retangulares), transferindo-se


calor pelas alhetas e pela área entre alhetas, por convecção para o escoamento de ar. Vamos
admitir que, atendendo à pequena espessura das placas (alhetas), se pode desprezar a aceleração
do fluido no espaço entre elas. Vamos também considerar que a temperatura nas placas e na
base só varia na direção x representada na figura seguinte.

Para as propriedades do ar vamos considerar uma temperatura de 300 K, não sendo conhecida
a temperatura das superfícies do dissipador, inevitavelmente mais altas. No entanto, as
propriedades do ar não variam de modo significativo. Assim, teremos: k=0,0263 W/mK,
=184,6 x10-7 Ns/m2, =1,1614 x10-7 kg/m3, Pr=0,707.
Quanto ao escoamento, poderemos considerá-lo como paralelo a placas planas. No entanto, a
proximidade das alhetas pode provocar um efeito semelhante ao de um escoamento interno.
Vamos avaliar a importância desse efeito calculando a espessura das camadas limite para um
escoamento paralelo a uma placa, com um comprimento de 20 mm (comprimento ao longo do
dissipador). O número de Reynolds para o comprimento de escoamento é
𝜌𝑣∞ 𝐿 1,164×3×0,020
𝑅𝑒𝐿 = = = 3775
𝜇 184,6×10−7

pelo que toda a placa se encontra em regime laminar (𝑅𝑒𝐿 < 5 × 105 ).
Consultando [1], obtêm-se as expressões seguintes para cálculo da espessura das camadas limite
dinâmica (𝛿) e térmica (𝛿𝑡 ), em regime laminar:
5𝑥
𝛿=
√𝑅𝑒𝑥

𝛿 ⁄𝛿𝑡 ≅ 𝑃𝑟 1/3

90
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

que nos conduzem a


5𝐿
𝛿𝐿 = = 5 × 0,02 × 3775−0,5 = 0,00163 m
√𝑅𝑒𝐿

𝛿 0,00163
𝛿𝑡,𝐿 ≅ 𝑃𝑟 1𝐿⁄3 = 0,7071⁄3 = 0,0018 m

Assim, apenas a camada limite térmica atinge meia distância entre placas, à saída, pelo que é
perfeitamente razoável considerar o escoamento entre placas como um escoamento externo.
Para calcular o coeficiente de convecção médio no dissipador podemos recorrer às equações
(2.7) ou (2.8), para o caso de um escoamento paralelo a uma placa em regime laminar. A
primeira é válida para temperatura superficial constante (na direção do escoamento) e a segunda
para fluxo superficial constante. A diferença entre ambas é pequena, como visto em 2.2, e na
realidade neste caso nenhuma delas se verifica. Tendo em conta a potência dissipada pelo
“chip” uniforme na área de contacto, vamos optar pela (2.8), que conduz a
1/2
𝑁𝑢𝐿 = 0,680 𝑅𝑒𝐿 𝑃𝑟 1/3 = 0,680 × 37751/2 0,7071/3 = 36,3
vindo
𝑁𝑢𝐿 𝑘 36,3×0,0263
ℎ= = = 48 W/m2K
𝐿 0,02

Quanto à potência dissipada por uma alheta podemos recorrer à equação (1.35), desprezando
as trocas no topo, o que é razoável considerando a sua pequena área (3% da área de convecção
da alheta):
ℎ𝑃 48×(2×0,02+2×0,001)
𝑚 = √𝑘𝐴 = √ = 23,6 m-1
𝑠 180×0,001×0,02

tanh(𝑚𝐿𝑎𝑙ℎ ) tanh(23,6×0,015)
𝜂𝑎𝑙ℎ = = = 0,960
𝑚𝐿𝑎𝑙ℎ 23,6×0,015

Podemos expressar a potência total transferida, considerando a dissipada nas alhetas e a


dissipada na área da base entre alhetas
𝑄̇𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑄̇𝑎𝑙ℎ + 𝑄̇𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎𝑙ℎ = (𝑛𝑎𝑙ℎ 𝜂𝑎𝑙ℎ ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣,1𝑎𝑙ℎ + ℎ𝐴𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎𝑙ℎ ) × (𝑇𝑏 − 𝑇∞ ) =

= (6 × 0,96 × (2 × 0,02 + 2 × 0,001) × 0,015 + 5 × 0,02 × 0,0036) × 48 ×


× (𝑇𝑏 − 20 ) = 10 W

Então obtém-se 𝑇𝑏 = 72,2ºC. A temperatura no topo da alheta (𝑇𝑚𝑖𝑛 ) pode obter-se da equação
(1.30)
cosh[𝑚(𝐿𝑎𝑙ℎ −𝐿𝑎𝑙ℎ )]
𝑇𝑚𝑖𝑛 = 𝑇𝑥=𝐿𝑎𝑙ℎ = 𝑇∞ + (𝑇𝑏 − 𝑇∞ ) =
cosh(𝑚𝐿𝑎𝑙ℎ )
1
= 20 + (72,2 − 20) cosh(23,6×0,015) = 69,1ºC

Quanto à temperatura máxima no módulo dissipador (𝑇𝑚𝑎𝑥 ), através da condução 1D numa


placa de 3 mm (entre o contacto e as alhetas):
𝑘 180
𝑄̇𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑒 𝐴(𝑇𝑚𝑎𝑥 − 𝑇𝑏 ) = 0,003 × 0,02 × 0,024 × (𝑇𝑚𝑎𝑥 − 72,2) = 10 W

pelo que 𝑇𝑚𝑎𝑥 = 72,5ºC.

91
Capítulo 2 - Convecção

P2.5
O feixe de tubos da figura é usado para
aquecer ar ambiente, através de água quente
que circula no interior dos tubos, e mantém
a superfície destes a 70ºC. Antes do feixe o
ar está a 15ºC e circula a 6 m/s.
Calcule a potência transferida para o ar e a
sua temperatura média de saída.
Faça uma análise do efeito do número de filas (5 a 25) e da velocidade do ar (5 a 20 m/s) na
potência e na temperatura de saída.
Propriedades do ar a 15ºC: k=0,0253 W/mK, =1,482 x10-5 m2/s, Pr=0,710, =1,217 kg/m3,
cp=1007 J/kgK; a 70ºC: Pr=0,701).

Resolução e discussão

Temos um escoamento perpendicular a um feixe de tubos, mas em que se quer contabilizar o


aumento de temperatura do escoamento externo ao feixe (ar). Ou seja, o escoamento do ar é
externo em relação ao feixe, mas interno em relação à conduta onde ele circula. Admite-se igual
velocidade em todos os pontos da secção da conduta em que circula o ar antes deste atingir o
feixe (efeito da parede desprezável). Faremos os cálculos por unidade de profundidade
(perpendicular ao plano da figura), uma vez que essa dimensão não é conhecida.
Vamos usar a correlação (2.13) e a Tabela 2.2 para calcular o coeficiente de convecção entre
os tubos e o ar. O número de Nusselt é dado por
1/4
𝑃𝑟
̅̅̅̅ 𝑚
𝑁𝑢𝐷 = 𝐶1 𝐶2 𝑅𝑒𝐷,𝑚𝑎𝑥 𝑃𝑟 0,36 (𝑃𝑟 )
𝑠𝑢𝑝

sendo 𝑅𝑒𝐷,𝑚𝑎𝑥 calculado com a velocidade máxima no interior do feixe. Como o passo
transversal (ST) é menor que o longitudinal (SL), e menor que o diagonal, a secção de passagem
mínima é a transversal e a velocidade máxima verifica-se nessa secção. O seu valor é então
𝑆𝑇 31,3
𝑣 𝑚𝑎𝑥 = 𝑆 𝑣 = 31,3−16,4 × 6 = 12,6 m/s
𝑇 −𝐷 ∞

e
𝑣𝑚𝑎𝑥 𝐷 12,6×0,0164
𝑅𝑒𝐷, 𝑚𝑎𝑥 = = = 13943
𝜈 1,482×10−5

Para cálculo de 𝐶1 e 𝐶2 , usando a Tabela 2.2, temos


𝑆𝑇 𝑆 1/5
= 0,91 < 2 ⇒ 𝐶1 = 0,35 (𝑆𝑇 ) = 0,34 e 𝑚 = 0,6
𝑆𝐿 𝐿

e quanto a 𝐶2 , havendo 7 filas 𝐶2 = 0,95.


Então
1/4
̅̅̅̅𝐷 = 0,34 × 0,95 × 139430,6 × 0,7100,36 × (0,710)
𝑁𝑢 = 87,9
0,701

e
̅̅̅̅
𝑁𝑢 𝑘 87,9×0,0253
ℎ̅𝑎𝑟 = 𝐷𝐷 = 0,0164 = 136 W/m2K

92
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Note-se que, com a correlação usada, seria mais correto usar as propriedades (com exceção de
Prsup) à temperatura média entre a média do ar (não conhecida) e a da superfície dos tubos. Para
uma maior precisão, depois de calculada a temperatura de saída poderão refazer-se os cálculos.
No entanto, para um fluido em que as propriedades pouco variam com a temperatura – caso do
ar à pressão atmosférica – o erro cometido é menor do que o erro associado à correlação para
cálculo do Nu.
Para determinar a temperatura de saída podemos considerar um balanço como feito em 2.3, para
um elemento de fluido que troca calor com uma área superficial elementar dAsup – equação
(2.25):
𝑀̇𝑐𝑝 𝑑𝑇𝑚 = ℎ̅𝑎𝑟 (𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑚 ) 𝑑𝐴𝑠𝑢𝑝
que integrada entre Asup=0 (T=Tent) e Asup=Atotal (T=Tsai) dá uma relação semelhante a (2.26)
para a temperatura média de saída do ar:
( 𝑇𝑠𝑢𝑝 −𝑇𝑠𝑎𝑖 ) ̅𝑎𝑟 𝑁𝑡 𝜋𝐷𝑙

= exp (− )
( 𝑇𝑠𝑢𝑝 −𝑇𝑒𝑛𝑡 ) 𝑀̇𝑐𝑝

considerando a área de todos os Nt tubos do feixe, com a largura l (aqui considerada unitária).

Considerando o caudal por unidade de largura vem:


(70−𝑇𝑠𝑎𝑖 ) 136×56×𝜋×0,0164
(70−15)
= exp (− 1,217×6×0,0313×8×1007) ⇒ 𝑇𝑠𝑎𝑖 = 25,6ºC

Quanto à potência recebida pelo ar, a partir da variação da temperatura:


𝑄̇ = 𝑀̇𝑐𝑝 (𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑒𝑛𝑡 ) = 1,217 × 6 × 0,0313 × 8 × 1007 × (25,6 − 15) =

= 19,5 kW/m

Para analisar o efeito do número de filas (Nfilas = 5 a 25) e da velocidade do ar (v =5 a 20 m/s)


na potência e na temperatura de saída, podem repetir-se os cálculos anteriores para diferentes
números de filas e velocidades. Os resultados estão representados nos gráficos seguintes.
Ao aumentar o número de filas (área de transferência) a temperatura de saída tende para 70ºC
(máximo possível), embora aumente cada vez menos. A partir de certo número não há grande
vantagem em aumentar mais Nfilas. Uma evolução semelhante acontece com a potência, que
aumenta com o aumento da variação de temperatura do ar entre a entrada e a saída.
Ao aumentar a velocidade do ar, mantendo o número de filas de tubos, diminui a temperatura
de saída. O caudal aumenta e o produto do caudal pela diferença de temperatura também
aumenta, pelo que a potência aumenta. No entanto, a potência aumenta menos que com o
aumento do número de filas, e com a agravante de a perda de carga (potência de ventilação)
aumentar fortemente com a velocidade; a potência de ventilação também aumenta ao aumentar
o número de filas, mas não tão acentuadamente. Assim, para aumentar a potência a melhor
opção é aumentar o número de filas. Se se pretender aumentar a temperatura de saída e a
potência, então aumentar o número de filas é a única solução.

93
Capítulo 2 - Convecção

94
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P2.6
Entre o veio e o rolamento da figura existe uma película
de óleo de 0,2 mm (k=0,17 W/mK, =0,05 Ns/m2).
Em condições permanentes o veio atingiu o equilíbrio
térmico com o óleo, podendo desprezar-se o calor
transferido entre ambos, enquanto o rolamento é
mantido a 50ºC (arrefecido por água).
Admitindo desprezável o efeito da curvatura na camada de óleo (pequena espessura), mas
considerando a importância da viscosidade do fluido, calcule a temperatura máxima no óleo e
o calor transferido para o rolamento.

Resolução e discussão

Vamos recorrer à equação fundamental para um escoamento – equação da energia – para


resolver o problema, considerando o efeito da dissipação viscosa e introduzindo várias
simplificações. A primeira tem a ver com a geometria: atendendo à pequena espessura da
película de óleo, vamos admitir que se trata de um escoamento plano – entre 2 placas planas,
estando uma parada e outra em movimento; esse escoamento é conhecido por escoamento de
Couette, sabendo-se da Mecânica de Fluidos que o perfil de velocidades varia linearmente desde
0 (na placa parada) até à velocidade da placa em movimento.
A figura seguinte representa esquematicamente o escoamento da película de óleo e o problema.

O perfil de velocidades pode então escrever-se como


𝑦 3000 𝑦
𝑣𝑥 = 𝑣𝑚𝑎𝑥 = 𝜋 × 0,06 × × = 47,1 × 103 × 𝑦
𝐻 60 0,2

sendo então a velocidade máxima do óleo (junto ao veio) de 9,4 m/s (33,9 km/h).
A equação da energia vista (equação 2.2), aplicada a este escoamento, não contém a
componente 𝑦 da velocidade, e substituindo a função dissipação viscosa pelo quadrado do
gradiente de velocidade em 𝑦, [1], obtém-se
𝜕𝑇 𝜕2𝑇 𝜕2𝑇 𝜕𝑣 2
𝜌𝑐𝑝 (𝑣𝑥 𝜕𝑥 ) = 𝑘 (𝜕𝑥 2 + 𝜕𝑦 2) + 𝜇 ( 𝜕𝑦𝑥 )

Vamos agora introduzir simplificações que, sendo razoáveis, permitam obter uma solução
analítica para o perfil de temperaturas no óleo. Vamos considerar que o termo do transporte
convectivo (𝑣𝑥 𝜕𝑇⁄𝜕𝑥 ) e o termo de condução segundo x têm muito menos peso (desprezável)
que os termos de condução segundo y e de dissipação viscosa. Assim, a equação reduz-se a
𝑑2 𝑇 𝑑𝑣 2
𝑘 (𝑑𝑦 2 ) + 𝜇 ( 𝑑𝑦𝑥 ) = 0

95
Capítulo 2 - Convecção

que traduz uma variação da temperatura unicamente com y. A integração conduz a uma variação
quadrática:
𝑑2 𝑇 2
𝜇 𝑣𝑚𝑎𝑥 2
𝜇 𝑣𝑚𝑎𝑥 𝑦2
= −𝑘 ⇒ 𝑇 = −𝑘 + 𝐶1 𝑦 + 𝐶2
𝑑𝑦 2 𝐻2 𝐻2 2

As condições fronteira, que permitem calcular 𝐶1 e 𝐶2 , são a temperatura de 50ºC em y=0 e


fluxo de calor (𝑑𝑇⁄𝑑𝑦) nulo em y=H, que conduzem a
2
𝜇 𝑣𝑚𝑎𝑥 𝑦2
𝑇 = 𝑇𝑦=0 + (𝑦 − 2𝐻)
𝑘𝐻

vindo então
2
𝜇 𝑣𝑚𝑎𝑥 0,05×9,4252
𝑇𝑚𝑎𝑥 = 𝑇𝑦=𝐻 = 𝑇𝑦=0 + = 50 + = 63,1ºC
2𝑘 2×0,17

Apesar da muito reduzida espessura da película de óleo (0,2 mm), a dissipação viscosa gera
calor suficiente para um aumento de 13,1ºC.
Quanto à potência calorífica trocada com o rolamento, pode calcular-se através de
𝑑𝑇 2
𝜇 𝑣𝑚𝑎𝑥 0,05×9,4252
𝑄̇𝑦=0 = −𝑘𝐴 𝑑𝑦| = −𝑘𝐴 = −𝜋 × 0,06 × 0,20 × = −837 W
𝑦=0 𝑘𝐻 0,0002

expressando o sinal negativo o facto de a potência ser no sentido de y negativo.


Vamos ainda analisar o efeito da variação da velocidade de rotação do veio na potência
mecânica dissipada por atrito no óleo. Note-se que essa potência, necessária ao acionamento do
veio, é exatamente igual à potência calorífica transferida (a energia é a mesma).
Trata-se de repetir o cálculo para diferentes rotações/velocidades. Como mostra a figura
seguinte (para rotações até 5000 rpm) a potência dissipada varia com o quadrado da rotação
(como mostrava a equação anterior).

96
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P2.7
Para um escoamento laminar desenvolvido entre 2
placas planas, avalie a importância da dissipação
viscosa na distribuição de temperatura no fluido.
O perfil desenvolvido de velocidades, conhecido da
Mecânica de Fluidos está indicado na figura.
Considere escoamentos típicos de ar, água e óleo.

Resolução e discussão

Consideremos então um escoamento entre placas planas de um fluido incompressível, em


regime laminar e com camadas limite desenvolvidas. Com componente da velocidade apenas
segundo x e desprezando a condução e o transporte convectivo segundo x, como no problema
anterior (P2.6), obtêm-se
𝑑2 𝑇 𝑑𝑣 2
𝑘 (𝑑𝑦 2 ) + 𝜇 ( 𝑑𝑦𝑥 ) = 0

e
𝑑2 𝑇 2
4𝜇 𝑣𝑚𝑎𝑥
=− 𝑦2
𝑑𝑦 2 𝑘 𝐻4

As condições nas fronteiras a considerar serão uma temperatura junto à parede das placas igual
a Tsup (igual nas 2 placas). Tais condições conduzem a
2
𝜇 𝑣𝑚𝑎𝑥
(𝑇 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 )𝑚𝑎𝑥,𝑦=0 = 3𝑘

Assim, o aumento de temperatura devido à dissipação viscosa depende do quadrado da


velocidade, da viscosidade e (inversamente) da condutibilidade térmica.
Vejamos então o que pode acontecer com fluidos e condições típicas correntes.
Num escoamento de ar com 𝑣𝑚𝑎𝑥 =5 m/s, com viscosidade =184,6 x10-7 Ns/m2 e k=0,0263
W/mK, vem (𝑇 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 )𝑚𝑎𝑥 = 0,006ºC; já a 360 km/h (100 m/s) virá (𝑇 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 )𝑚𝑎𝑥 = 2,3ºC.

Num escoamento de água com 𝑣𝑚𝑎𝑥 =2 m/s, com viscosidade =1,08 x10-3 Ns/m2 e k=0,6
W/mK, vem (𝑇 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 )𝑚𝑎𝑥 = 0,002ºC; já a 30 m/s virá (𝑇 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 )𝑚𝑎𝑥 = 0,5ºC.

Num escoamento de óleo com 𝑣𝑚𝑎𝑥 =2 m/s, com viscosidade =0,05 Ns/m2 e k=0,17 W/mK,
vem (𝑇 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 )𝑚𝑎𝑥 = 0,4ºC; já a 10 m/s virá (𝑇 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 )𝑚𝑎𝑥 = 9,8ºC.

Assim, para estes fluidos e velocidades mais baixas, o efeito da dissipação viscosa pode
considerar-se desprezável. Tal já não acontece para aplicações com velocidades elevadas ou
viscosidades elevadas. Note-se que não foi considerada a turbulência, que tem relevância a
velocidades mais elevadas, embora não alterando as principais conclusões.

97
Capítulo 2 - Convecção

P2.8

Considere um escoamento de ar no interior de um tubo de 20 cm de diâmetro, e 2 m de


comprimento, com uma velocidade no eixo de 0,3 m/s. À entrada o perfil de velocidades já se
encontra desenvolvido, e a temperatura do ar é uniforme e igual a 20ºC.
Sabendo que a superfície do tubo aquece o fluido com um fluxo constante de 100 W/m2, calcule
o coeficiente de convecção interior. Conhecendo o perfil de velocidades desenvolvido em
função do raio, avalie a distribuição de temperaturas no fluido com um método numérico.
Compare o cálculo do coeficiente de convecção obtido por este método com o anterior.
Propriedades a considerar para o ar: =1,2 kg/m3, cp=1005 J/kgK, k=0,025 W/mK, =1,8 x10-
5
Ns/m2, Pr=0,710.

Resolução e discussão

Este é um escoamento interno, num tubo de secção circular. Pode avaliar-se o número de
Nusselt, e o coeficiente de convecção, a partir do número de Reynolds. Para este interessa a
velocidade média na secção do tubo, que é igual a metade da velocidade máxima (no eixo).
Então tem-se:
𝜌𝑣𝑚 𝐷 1,2×0,15×0,20
𝑅𝑒𝐷 = = = 2000
𝜇 1,8×10−5

Este valor significa que o regime de escoamento é laminar. O comprimento de entrada da


camada limite térmica, em regime laminar, é dado pela equação (2.17), que se traduz em
(𝐿𝑒𝑛𝑡,𝑡 ⁄𝐷 )𝑙𝑎𝑚 ≈ 0,05 𝑅𝑒𝐷 𝑃𝑟 = 0,05 × 2000 × 0,724 = 72,4

o que significa que só ao fim de um comprimento equivalente a cerca de 72 diâmetros se atinge


a camada limite térmica desenvolvida. Isso equivale a cerca de 14 metros, um comprimento
muito superior aos 2 m do tubo. Para regime laminar com camada limite térmica desenvolvida,
num escoamento no interior de um tubo circular com fluxo na superfície (𝑞̇ 𝑠𝑢𝑝 ) constante, da
Tabela 2.3 obtém-se:
𝑁𝑢𝑑𝑒𝑠 = 4,36
Como a zona de camada limite térmica desenvolvida nunca se atinge, vamos então usar uma
adaptação da equação (2.21) para estimar o valor incrementado do Nu médio (admitindo um
incremento idêntico ao verificado com temperatura constante na superfície do tubo):
̅̅̅̅𝐷 = 4,36 + 0,0668 𝑅𝑒 𝑃𝑟 𝐷/𝐿2/3 = 8,96
𝑁𝑢 1+0,04(𝑅𝑒 𝑃𝑟 𝐷/𝐿)

que conduz ao coeficiente de convecção médio


̅̅̅̅ 𝑘
𝑁𝑢 8,96×0,025
ℎ̅ = 𝐷𝐷 = = 1,1 W/m2K
0,2

98
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

um valor bastante baixo, fruto das propriedades do ar e da sua reduzida velocidade; na zona
desenvolvida o coeficiente atingiria 0,55 W/m2K.
A equação da energia para este escoamento em regime permanente e laminar, com dissipação
viscosa desprezável, e usando as coordenadas r e z, é:

𝜕𝑇 1 𝜕 𝜕𝑇 𝜕2𝑇
𝜌𝑐𝑝 𝑣𝑧 𝜕𝑧 = 𝑘 𝑟 𝜕𝑟 (𝑟 𝜕𝑟 ) + 𝑘 𝜕𝑧 2

e traduz que a variação da energia transportada pelo escoamento (à velocidade vz) resulta do
balanço das trocas de condução nas direções r e z; esse balanço é feito para o elemento de
volume infinitesimal representado acima. Esta equação não tem solução analítica sem
simplificações adicionais, mesmo conhecendo já o campo de velocidades.
A utilização de um método numérico é então a única alternativa para resolver a equação e obter
a distribuição de temperatura com r e z. Neste caso aplicou-se o método dos volumes finitos,
utilizando uma malha com 41 elementos/nodos segundo o raio (r) e 81 elementos segundo o
comprimento (z), perfazendo um total de 3321 temperaturas a calcular.
As 3321 equações necessárias ao modelo numérico expressam os balanços energéticos de
elementos de volume cilíndricos, como o da figura seguinte, sendo que foram usados r=2,5
mm e z=25 mm (valores constantes).

Cada elemento de volume é referenciado por 2 índices, i e j, sendo o primeiro relativo ao raio r
(usados valores de i de 1 a 41) e o segundo relativo ao comprimento z (usados valores de j de 1
a 81). Para elementos interiores (i=2 a 40 e j=2 a 80) a equação para o elemento é:

𝑘 𝛥𝑟
𝜌𝑐𝑝 𝑣𝑧 (𝑟𝑖 ) 2𝜋 𝑟𝑖 𝛥𝑟(𝑇𝑖,𝑗 − 𝑇𝑖,𝑗−1 ) = 𝛥𝑟 2𝜋 (𝑟𝑖 − ) 𝛥𝑧 (𝑇𝑖−1,𝑗 − 𝑇𝑖,𝑗 ) +
2
𝑘 𝛥𝑟 𝑘 2𝜋 𝑟𝑖 𝛥𝑟
+ 2𝜋 (𝑟𝑖 + ) 𝛥𝑧 (𝑇𝑖+1,𝑗 − 𝑇𝑖,𝑗 ) + (𝑇𝑖,𝑗−1 + 𝑇𝑖,𝑗+1 − 2𝑇𝑖,𝑗 )
𝛥𝑟 2 𝛥𝑧

sendo 𝑟𝑖 o raio médio do elemento em causa, e usando a equação para o perfil de velocidades
desenvolvido indicada atrás.
Os elementos na fronteira de entrada (z=0) têm temperatura igual a 20ºC (𝑇𝑖,1 = 20). Os
elementos de saída (z=L) são considerados sem transferir calor com elementos à direita (fora
do domínio). Quanto aos elementos que correspondem a i=1, são pequenos cilindros cheios,
com raio externo igual a 𝛥𝑟⁄2, e têm como condição (fronteira) uma condição de simetria radial
de temperatura, que equivale a fluxo zero em r=0, sendo a velocidade igual à máxima. Para os
elementos junto à parede (i=41), com raio entre (𝑟𝑚𝑎𝑥 − 𝛥𝑟 ⁄2) e 𝑟𝑚𝑎𝑥 , a condição imposta em
𝑟 = 𝑟𝑚𝑎𝑥 é a de fluxo de calor na parede (igual a 100 W/m2), para além de velocidade nula.

99
Capítulo 2 - Convecção

A figura seguinte apresenta os resultados obtidos para a distribuição de temperaturas, usando


una cor diferente para cada intervalo de 10ºC. Como se pode observar, a temperatura em mais
de metade da secção mantém-se próxima de 20ºC até à saída, sendo a zona de gradiente mais
acentuado (camada limite) de menor dimensão, que vai crescendo até à saída. A temperatura
junto à parede aquecida atinge 160ºC à saída. As altas temperaturas da parede, a par das baixas
velocidades, provocarão efeitos de convecção natural, que aqui são desprezados.

O coeficiente de convecção pode ser obtido, para cada valor de z (ou j), dividindo o fluxo na
parede pela diferença entre a temperatura desta e a temperatura média nessa secção, temperatura
média (ou de mistura) que pode calcular-se a partir das temperaturas nesse j, para todos os
valores de i, usando a equação (2.20) com o integral calculado numericamente. A partir dos
valores locais pode então calcular-se a média para todo o comprimento de escoamento. Obteve-
se um coeficiente de convecção médio de 1,2 W/m2K, muito próximo do obtido com o cálculo
teórico aproximado. Prolongando o comprimento do tubo até aos 15 m também é possível obter
um coeficiente na zona desenvolvida de 0,566 W/m2K, também muito próximo do estimado
antes.
A figura seguinte representa a evolução do coeficiente de convecção ao longo do escoamento
no tubo, bem como a evolução da temperatura média e da temperatura máxima.

100
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P2.9

Para um escoamento turbulento num tubo circular,


compare o coeficiente de convecção em zona
desenvolvida para água e ar, representando ainda as
respetivas evoluções em função da velocidade média.
Resolução e discussão

Vamos usar a correlação de Dittus-Boelter, válida para Pr>0,7, ReD>10000:


𝑁𝑢𝐷 = 0,023 𝑅𝑒𝐷0,8 𝑃𝑟 𝑛
com n=1/3 (para aproximar as 2 situações de aquecimento e arrefecimento do fluido).
No caso do ar vamos considerar um tubo com um diâmetro de 25 cm e velocidades médias entre
0,25 e 5 m/s, que correspondem a ReD entre 15700 e 79000.
No caso da água vamos considerar um tubo com um diâmetro de 2,5 cm e velocidades médias
entre 0,25 e 2 m/s, que correspondem a ReD entre 6250 e 50000.
Considerando propriedades físicas à temperatura ambiente, obtiveram-se os gráficos seguintes
para o coeficiente de convecção, igual a
𝑁𝑢𝐷 𝑘
ℎ= 𝐷

Note-se a evolução semelhante com o aumento de velocidade, resultante do expoente 0,8 do


número de Reynolds. Quanto aos valores de h, a água tem coeficientes de convecção turbulenta
entre 1000 e 6000 W/m2K, enquanto os do ar estão entre 4 e 18 W/m2K. Os valores para a água
são 250 a 350 vezes superiores aos do ar, para as velocidades e dimensões correntes
consideradas, fundamentalmente devido às propriedades físicas em causa.
Comparem-se estes valores com os verificados em regime laminar desenvolvido, nas mesmas
condições geométricas e com iguais propriedades: nesse caso os coeficientes não dependem da
velocidade, e, considerando Tsup constante, o Nusselt desenvolvido é igual a 3,66. Para a água
o coeficiente será de 88 W/m2K (velocidade até 0,1 m/s) e para o ar será de 0,4 W/m2K
(velocidade até 0,15 m/s).

101
Capítulo 2 - Convecção

P2.10

Uma casa construída junto a um rio é


arrefecida no Verão por uma corrente
de ar ambiente (a 25ºC) que é
arrefecido ao circular numa conduta
mergulhada no rio (a 15ºC). A
temperatura da conduta (com 20 cm
de diâmetro e comprimento de 15 m)
é idêntica à da água.
Calcule a temperatura a que o ar entra na casa (saída da conduta). Avalie o efeito da velocidade
do ar na temperatura obtida por este sistema natural de arrefecimento.
(propriedades do ar a 20ºC: =1,204 kg/m3, cp=1007 J/kgK, k=0,0251 W/mK, =1,516 x10-5
m2/s, Pr=0,731)

Resolução e discussão

Consideremos então o escoamento interno do ar numa conduta circular, com um comprimento


linear de 15 m (vamos desprezar as curvaturas do tubo). O ar vai perder calor para a superfície
interior do tubo, que se encontra mais fria devido ao contacto com a água. É indicada a
temperatura de 15ºC para o tubo, igual à da água, o que se deve ao facto do coeficiente de
convecção exterior para a água ser bastante superior ao interior do ar. Não sendo dadas
especificações do material e espessura do tubo, na hipótese de ele ser metálico e de reduzida
espessura, assumiremos desprezável a resistência de condução da parede.
Vamos calcular o Re para o escoamento interior, que é igual a
𝑣𝑚 𝐷 3×0,20
𝑅𝑒𝐷 = = 1,516×10−5 = 3,958 × 104
𝜈

o que significa que o escoamento se dá em regime turbulento. Neste regime, quando a camada
limite se encontra desenvolvida, o número de Nusselt é calculável pela equação de Dittus-
Boelter:
𝑁𝑢𝐷,𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣 = 0,023 𝑅𝑒𝐷0,8 𝑃𝑟 0,3 = 99,7
sendo neste caso o expoente do número de Prandtl igual a 0,3, uma vez que o ar está a arrefecer
ao longo da conduta.
No regime turbulento o comprimento de entrada (até à zona de camada limite térmica
desenvolvida) é de cerca de 10 diâmetros – equação (2.19) – o que neste caso significa 2 m de
comprimento. Este valor é bastante inferior ao comprimento total, mas ainda assim podemos
contabilizar o seu efeito usando a equação (2.23):
1 1
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐷 = 𝑁𝑢𝐷, 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣 (1 + (𝐿/𝐷)2/3 ) = 99,7 × (1 + (15/0,20)2/3 ) = 105,3

Então o coeficiente de convecção médio será:


̅̅̅̅ 𝑘
𝑁𝑢 105,3×0,0251
ℎ̅ = 𝐷𝐷 = = 13,2 W/m2ºC
0,20

Note-se que foram usadas propriedades do ar à temperatura média (aritmética) entre a


temperatura de entrada do ar e a da superfície do tubo, ou seja, a 20ºC. Depois de calcular a

102
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

temperatura de saída do ar poderão refazer-se os cálculos usando propriedades à temperatura


média (aritmética) entre a média (aritmética) das temperaturas de entrada e saída, e a
temperatura da superfície. No entanto, no caso do ar e das temperaturas em causa o impacto
será reduzido.
Pode calcular-se a temperatura (média) de saída do ar recorrendo à equação (2.26), válida para
temperatura da superfície do tubo constante ao longo do tubo, e ainda admitindo o coeficiente
de convecção médio constante. Resulta:
̅ 𝑃𝐿

𝑇𝑠𝑎𝑖 = 𝑇𝑠𝑢𝑝 + ( 𝑇𝑒𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 ) exp (− 𝑀̇𝑐 ) =
𝑝

13,2×𝜋×0,20×15
= 15 + (25 − 15) × exp (− ) = 18,4ºC
1,204×3×𝜋×0,202 /4×1007

O ar é assim introduzido no edifício a uma temperatura que pode assegurar o conforto térmico
interior. Este tipo de sistemas de arrefecimento natural é bastante interessante, uma vez que usa
recursos naturais e económicos. Uma variante bastante utilizada consiste em enterrar tubos no
solo, que durante o Verão se mantém a uma temperatura bastante inferior à do ar exterior,
permitindo arrefecer o ar naturalmente.
Analisemos agora o efeito da velocidade (caudal) de ar no arrefecimento conseguido. Repetindo
os cálculos anteriores para velocidades entre 1 e 7 m/s, calculou-se a temperatura de saída, a
potência trocada (arrefecimento) e a potência necessária à movimentação do ar (nesta só foi
contabilizada a perda por atrito na conduta, e foi incluído o rendimento do ventilador). O gráfico
seguinte apresenta os resultados.

Ao aumentar-se a velocidade, e caudal, o coeficiente de convecção aumenta (não


proporcionalmente, devido ao expoente 0,8 do Re no Nu) o que faz aumentar a potência
transferida do ar para o tubo. No entanto o ar arrefece ligeiramente menos ( 𝑇𝑒𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑎𝑖 é
menor), porque o caudal é maior; aumentando o caudal proporcionalmente à velocidade, como
a potência não aumenta ao mesmo ritmo, o T diminui.
A potência de ventilação necessária para garantir o escoamento do ar aumenta rapidamente com
a velocidade, embora tenha um valor muito inferior ao da potência de arrefecimento. Assim,
este sistema tem um comportamento energético bastante eficiente, comparando o consumo
(ventilação) e o benefício (arrefecimento) energético.

103
Capítulo 2 - Convecção

P2.11

Numa instalação de água quente, esta sai de um coletor solar e entra no tubo da figura a 80ºC.
O tubo, com as dimensões da figura, é de aço inoxidável AISI 316 (k = 13,4 W/mK). No exterior
do tubo (a 20ºC) o coeficiente global de transferência de calor é de 20 W/m2ºC.
Determine o coeficiente médio de convecção no interior do tubo, sabendo que à entrada o perfil
de velocidades se encontra desenvolvido. Calcule a temperatura de saída da água e a
temperatura média da superfície interior do tubo.
Propriedades a considerar para a água: =974 kg/m3, cp=4195 J/kgK, k=0,668 W/mK, =365
x10-6 Ns/m2, Pr=2,29.

Resolução e discussão

Este é também um escoamento interno de água numa conduta circular, com um comprimento
de 5 m. A água vai perder calor para a superfície interior do tubo, que se encontra mais fria
devido ao contacto da superfície exterior com o ar exterior. Vamos considerar a parede do tubo,
quer a superfície interior, quer a exterior, a temperatura constante ao longo do escoamento, e
igual ao seu valor médio. Trata-se de uma aproximação à realidade, pois as temperaturas variam
também na direção do escoamento; essa aproximação permite também considerar que há apenas
condução radial no tubo.
A velocidade e o número de Reynolds para o escoamento interior são
𝑀̇ 0,03
𝑣𝑚 = 𝜌𝜋𝐷2 = 974×𝜋×0,0502/4 = 0,0157 m/s
𝑖𝑛𝑡 /4

𝜌𝑣𝑚 𝐷𝑖𝑛𝑡 974×0,0157×0,050


𝑅𝑒𝐷 = = = 2072
𝜇 365×10−6

o que significa que o escoamento se dá em regime laminar, devido ao reduzido caudal. Neste
regime, quando a camada limite se encontra desenvolvida, o número de Nusselt é independente
da velocidade e igual a 3,66, na hipótese de temperatura constante na superfície.
A camada limite térmica só estará desenvolvida ao fim de um comprimento (de entrada) dado
pela equação (2.17):
𝐿𝑒𝑛𝑡,𝑡 ≈ 0,05 𝑅𝑒𝐷 𝑃𝑟𝐷𝑖𝑛𝑡 = 0,05 × 2072 × 2,29 × 0,050 = 11,9 m
comprimento que não é atingido pelo escoamento, pelo que todo o tubo (5 m) se encontra na
zona de entrada; vamos então usar a equação (2.21) para calcular o Nu médio:

̅̅̅̅𝐷 = 3,66 + 0,0668 𝑅𝑒𝐷 𝑃𝑟 𝐷𝑖𝑛𝑡/𝐿2/3 = 3,66 + 0,0668×2072×2,29×0,05/52/3 = 5,74


𝑁𝑢 1+0,04( 𝑅𝑒 𝑃𝑟 𝐷 /𝐿)
𝐷 𝑖𝑛𝑡 1+0,04×(2072×2,29×0,05/5)

que conduz ao coeficiente de convecção médio:

104
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

̅̅̅̅ 𝑘
𝑁𝑢 5,74×0,668
ℎ̅𝑖𝑛𝑡 = 𝐷 𝐷 = 0,050 = 76,7 W/m2K
𝑖𝑛𝑡

A temperatura (média) de saída da água pode relacionar-se com a temperatura de entrada e a


temperatura média da superfície interior do tubo – equação (2.26):
𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 ̅𝑖𝑛𝑡 𝜋𝐷𝑖𝑛𝑡 𝐿

= exp (− )
𝑇𝑒𝑛𝑡 −𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 𝑀̇𝑐𝑝

Não sendo conhecidas 𝑇𝑠𝑎𝑖 e 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 , outra equação é necessária. Ela resulta da igualdade entre
a potência calorífica perdida para o exterior através do tubo e a potência perdida pelo
escoamento de água:
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 −𝑇𝑒𝑥𝑡
𝑙𝑛(𝐷𝑒𝑥𝑡 /𝐷𝑖𝑛𝑡 ) 1
= 𝑀̇𝑐𝑝 (𝑇𝑒𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑎𝑖 )
+
2𝜋𝑘𝑡 𝐿 ℎ𝑒𝑥𝑡 𝜋𝐷𝑒𝑥𝑡 𝐿

A resolução simultânea destas 2 equações permite calcular 𝑇𝑠𝑎𝑖 e 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 :


𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 76,7×𝜋×0,05×5
= exp (− )
80−𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 0,03×4195
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 −20
𝑙𝑛(54⁄50) 1 = 0,03 × 4195 ×(80 − 𝑇𝑠𝑎𝑖 )
{ +
2×𝜋×13,4×5 20×𝜋×0,054×5

equações que se podem escrever como:


𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 = (80 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 ) × 0,6196
{
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 − 20 = (1,83 × 10−4 + 0,0589) × 125,85 ×(80 − 𝑇𝑠𝑎𝑖 )
resultando em:
𝑇𝑠𝑎𝑖 = 74,0o C
{
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 = 64,3o C
Note-se a pequena resistência de condução do tubo, comparada com a resistência de convecção
exterior (320 vezes menor): a temperatura da superfície exterior do tubo é de 64,2ºC. A água
arrefece 6ºC entre a entrada e a saída, o que corresponde a uma potência perdida de 755 W.
Neste caso a temperatura da superfície interior do tubo não é muito próxima da temperatura da
água, devido ao relativamente baixo coeficiente de convecção da água (regime laminar). No
caso de um maior caudal, existindo regime turbulento, a temperatura do tubo aproximar-se-ia
muito mais da temperatura da água, como no problema P1.7.

105
Capítulo 2 - Convecção

P2.12
Retomemos o problema P1.19, em que um tubo de aço inox
(=8055 kg/m3, cp=480 J/kgK, k=15 W/mºC), inicialmente à
temperatura do ar exterior de 20ºC, passou a ser aquecido ao
circular água no seu interior à temperatura de 80ºC. O
coeficiente de convecção interior (água) é igual a 1000
W/m2ºC, e o exterior é de 10 W/m2ºC.
Calculou-se a evolução da temperatura do tubo até atingir o regime permanente. Vamos agora
contabilizar ainda a variação de temperatura da água, que entra a 80ºC, saindo ao fim de 10 m.
Resolução e discussão

Como visto na altura, o tubo pode ser tratado como um sistema global, sendo a sua temperatura
uniforme em cada instante. Ao iniciar-se a circulação de água o tubo passa a receber calor desta,
e a perder calor para o exterior (pois a sua temperatura vai subir). Vamos agora considerar que
a água arrefece até à saída do tubo, arrefecimento esse que depende da temperatura do tubo: a
água começa por perder mais calor, reduzindo-se a perda à medida que o tubo aquece. A
potência 𝑄̇𝑖𝑛𝑡 da figura deve igualar a variação de energia por unidade de tempo entre a entrada
e a saída da água, não considerando inércia térmica na água, ou seja, admitindo que a
transferência de calor no fluido se dá em regime permanente em cada instante.

Desse modo, podemos fazer um balanço global do tubo, combinado com a equação para a
evolução de temperatura do tubo, que em cada instante está à temperatura média 𝑇𝑡 :
𝑑𝑇𝑡
𝜌𝑡 𝑉𝑡 𝑐𝑝,𝑡 = 𝑄̇𝑖𝑛𝑡 − 𝑄̇𝑒𝑥𝑡 = 𝑀̇𝑐𝑝,á𝑔 (𝑇𝑒𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑎𝑖 ) − ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑒𝑥𝑡 (𝑇𝑡 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 )
𝑑𝑡

𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑡 ℎ𝑖𝑛𝑡 𝜋𝐷𝑖𝑛𝑡 𝐿


𝑇𝑒𝑛𝑡 −𝑇𝑡
= exp (− 𝑀̇𝑐𝑝,á𝑔
)

sistema de equações que permite calcular 𝑇𝑡 e 𝑇𝑠𝑎𝑖 ao longo do tempo, conhecido o caudal. Este
pode ser obtido a partir do conhecimento de ℎ𝑖𝑛𝑡 . Sendo a 1ª equação uma equação diferencial
é necessária a sua integração.
Para obter o caudal, vamos partir do valor de ℎ𝑖𝑛𝑡 = 1000 W/m2K, que sugere a existência de
regime turbulento (a verificar posteriormente). Vamos usar como propriedades para a água (a
80ºC): =974 kg/m3, cp=4195 J/kgK, k=0,668 W/mK, =365 x10-6 Ns/m2, Pr=2,29. O Nu em
regime turbulento desenvolvido relaciona-se com o número de Reynolds (equação de Dittus-
Boelter):
ℎ𝑖𝑛𝑡 𝐷𝑖𝑛𝑡 1000×0,046
= = 0,023 𝑅𝑒𝐷0,8 𝑃𝑟 0,3 ⇒ 𝑅𝑒𝐷 = 16232
𝑘 0,668

106
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Este valor de 𝑅𝑒𝐷 aponta para um escoamento turbulento. O comprimento de entrada térmico
(igual a cerca de 10 vezes o diâmetro), é igual a 0,46 m, e portanto desprezável face aos 10 m
do tubo. Pode então tomar-se o Nu da equação acima como o valor que corresponde ao ℎ𝑖𝑛𝑡
médio. Com o 𝑅𝑒𝐷 calculado podemos então obter a velocidade média e o caudal:

𝑅𝑒𝐷 𝜇 16232×365×10−6
𝑣𝑚 = = = 0,132 m/s
𝜌𝐷𝑖𝑛𝑡 974×0,046
2 2
𝜋𝐷 𝜋×0,046
𝑀̇ = 𝜌𝑣𝑚 4𝑖𝑛𝑡 = 974 × 0,132 × = 0,214 kg/s
4

Temos então todos os valores definidos para cálculo do sistema de equações:

𝑑𝑇𝑡 0,214 ×4195×(80−𝑇𝑠𝑎𝑖 )−10×𝜋×0,050×10(𝑇𝑡 −20)


=
𝑑𝑡 8055×𝜋×(0,0252 −0,0232 )×10×480
{
𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑡 1000×𝜋×0,046×10
= exp (− ) = 0,200
80−𝑇𝑡 0,214 ×4195

𝑑𝑇𝑡
= 320,32 − 15,708 𝑇𝑡 − 0,07699 𝑇𝑠𝑎𝑖
{ 𝑑𝑡
𝑇𝑠𝑎𝑖 = 0,8 𝑇𝑡 + 16
que, por substituição da 2ª equação na 1ª, permite obter uma única equação a integrar para obter
a temperatura do tubo ao longo do tempo:
𝑑𝑇𝑡
= 4,954 − 0,06294 𝑇𝑡
𝑑𝑡

Separando as variáveis e aplicando a condição inicial (𝑇𝑡 (𝑡 = 0) = 20) obtém-se


4,954−0,06294 𝑇𝑡
= exp(−0,06294 𝑡)
4,954−0,06294× 20

ou
𝑇𝑡 = 78,71 − 58,71 exp(−0,06294 𝑡)

O gráfico seguinte representa a evolução da temperatura do tubo ao longo do tempo, comparada


com a obtida anteriormente (P1.19). Note-se que a subida de temperatura é mais lenta, pois o
tubo recebe menos calor que quando a água não arrefece (se mantém a 80ºC até à saída). Em
consequência, também demora mais tempo a atingir o regime permanente. A temperatura de
equilíbrio do tubo é de 78,7ºC, enquanto antes era de 79,4ºC.

107
Capítulo 2 - Convecção

P2.13

Considere um escoamento de ar no interior de um tubo de 20 cm de diâmetro, e 2 m de


comprimento, semelhante ao do problema P2.8, mas agora com uma velocidade média de 5
m/s. À entrada o perfil de velocidades já se encontra desenvolvido, mas é agora turbulento,
podendo usar-se as equações indicadas na figura.
A temperatura do ar à entrada é uniforme e igual a 20ºC, e o tubo aquece o fluido com um fluxo
constante de 100 W/m2. Calcule o coeficiente de convecção interior médio. Tomando o perfil
de velocidades desenvolvido fornecido, avalie a distribuição de temperaturas no fluido e o
coeficiente de convecção se se usar um método numérico semelhante ao de P2.8.
Propriedades a considerar para o ar: =1,2 kg/m3, cp=1005 J/kgK, k=0,025 W/mK, =1,8 x10-
5
Ns/m2, Pr=0,710.

Resolução e discussão

Este é um escoamento interno, num tubo de secção circular, semelhante ao do problema P2.8,
com a diferença de o regime de escoamento ser turbulento. Vamos calcular o número de
Reynolds. Usando a definição, tem-se:
𝜌𝑣𝑚 𝐷 1,2×5×0,20
𝑅𝑒𝐷 = = = 66667
𝜇 1,8×10−5

Este valor comprova que o regime de escoamento é turbulento. O comprimento de entrada da


camada limite térmica, em regime turbulento, é dado pela equação (2.19), que se traduz em
(𝐿𝑒𝑛𝑡,𝑡 ⁄𝐷 )𝑡𝑢𝑟𝑏𝑢𝑙 ≈ 10 ⇒ 𝐿𝑒𝑛𝑡,𝑡 = 10 × 0,20 = 2 m

o que significa que o comprimento de entrada é exatamente igual ao comprimento de


escoamento, estando todo o tubo em zona de entrada térmica.
O Nu em regime turbulento desenvolvido relaciona-se com o número de Reynolds (equação de
Dittus-Boelter para fluido aquecido):
𝑁𝑢𝐷,𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣 = 0,023 𝑅𝑒𝐷0,8 𝑃𝑟 0,4 = 145,0
que conduz ao coeficiente de convecção na zona desenvolvida de
𝑁𝑢𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣 𝑘 145,0×0,025
ℎ 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣 = = = 18,1 W/m2K
𝐷 0,2

No entanto, contabilizando a zona de entrada (que é todo o comprimento) pela equação (2.23),
temos:
1 1
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐷 = 𝑁𝑢𝐷, 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣 (1 + (𝐿/𝐷)2/3 ) = 145,0 × (1 + (2/0,20)2/3) = 176,2

Então o coeficiente de convecção médio será:


̅̅̅̅
𝑁𝑢 𝑘 176,2×0,025
ℎ̅ = 𝐷𝐷 = = 22,0 W/m2ºC
0,20

108
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Aplicou-se em seguida um modelo numérico idêntico ao do problema P2.8, usando o método


dos volumes finitos, e com uma malha com 41 elementos/nodos segundo o raio (r) e 81
elementos segundo o comprimento (z), perfazendo um total de 3321 temperaturas a calcular.
Note-se que esse modelo despreza a turbulência na equação da energia (difusibilidade
turbulenta).
A figura seguinte apresenta os resultados obtidos para a distribuição de temperaturas, usando
una cor diferente para cada intervalo de 2ºC. Como se pode observar, a temperatura em grande
parte da secção mantém-se próxima de 20ºC até à saída, sendo a zona de gradiente mais
acentuado a que corresponde à sub-camada laminar do escoamento. A temperatura junto à
parede aquecida atinge 41ºC à saída.

A partir dos valores locais do coeficiente de convecção, representados na figura seguinte, foi
calculado o valor médio para todo o comprimento de escoamento, obtendo-se um coeficiente
médio de 6,4 W/m2ºC, bastante inferior ao calculado com a correlação de Dittus-Boelter. A
turbulência (e a difusibilidade turbulenta) têm assim um papel importante, o que exige a
aplicação de um modelo numérico de turbulência.

109
Capítulo 2 - Convecção

P2.14
Propriedade Gás quente Ar frio
p (atm) 4 0,5
 (kg/m ) 3
2,163 0,582
cp (J/kgK) 1072 1055
k (W/mK) 0,0341 0,0280
 (Pa.s) 2,75 x 10 -5
2,38 x 10-5

A figura acima representa um permutador de calor de placas alhetadas (alhetas retangulares),


usado no sistema de ar condicionado de um avião. O permutador aquece ar mais frio que entra
a 56ºC, com um caudal de 0,54 kg/s, através de uma corrente de gases de combustão quentes,
que entram a 355ºC, com um caudal de 0,57 kg/s.
O permutador é constituído por 20 canais de 152 mm de comprimento para o fluido quente, e
20 canais de 216 mm de comprimento para o fluido frio (a figura representa um total de apenas
6 canais, sendo 3 para cada corrente).
As placas, em aço inox, têm uma condutibilidade térmica de 15 W/mK, uma espessura de 0,15
mm e estão espaçadas de 6,5 mm. As alhetas, do mesmo material, têm uma espessura de 0,15
mm e estão espaçadas de 1,6 mm (entre eixos).
Pretende-se calcular o coeficiente global de transferência de calor no permutador, entre as duas
correntes.
Resolução e discussão

Este tipo de permutador é composto por várias placas sobrepostas, espaçadas de 6,5 mm neste
caso, formando canais onde alternadamente e em direções cruzadas circulam os 2 fluidos. No
interior do espaço entre placas são colocadas alhetas retangulares, pela inserção de chapas
dobradas com secção retangular. As figuras seguintes ilustram 2 canais genéricos (1 de fluido
quente e 1 de fluido frio) e o espaço entre placas, com as respetivas dimensões.

110
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Admite-se uma ligação (contacto) perfeita entre as porções horizontais da chapa/alhetas e as


placas, passando estas a fazer parte da base da alheta (consideradas à temperatura da placa). As
porções verticais são as alhetas propriamente ditas, com dimensões características a ver mais à
frente. Supõe-se que o calor passa por condução na direção vertical, havendo convecção nos 2
lados da alheta. Considerando uma distribuição uniforme do caudal por cada um dos 20 canais,
e em toda a sua largura para cada fluido, pode calcular-se o Re e o Nu. A geometria é a de um
escoamento interno num canal retangular, sendo a velocidade diferente em cada fluido. Para o
fluido quente (gases) temos um comprimento útil de escoamento de 152 mm e uma largura útil
de 216 mm, largura na qual cabem 135 alhetas (espaçadas de 1,6 mm). O espaço/secção
disponível para passagem do fluido obtém-se descontando ao espaço entre placas o espaço
ocupado pela chapa/alhetas:

𝐴𝑠,𝑐𝑎𝑛𝑎𝑙 𝑞 = 0,0065 × 0,216 − 135 × (0,0016 × 0,00015 + 0,0062 × 0,00015) =


= 0,00124605 m2
A velocidade média de circulação num canal de fluido quente pode calcular-se através de
𝑚̇𝑞 /𝑛𝑐𝑎𝑛𝑎𝑖𝑠 𝑞 0,57/20
𝑣𝑚,𝑞 = = 2,163×0,00124605 = 10,57 m/s
𝜌𝑞 𝐴𝑠,𝑐𝑎𝑛𝑎𝑙 𝑞

O número de Reynolds pode avaliar-se com esta velocidade e o diâmetro hidráulico. Este pode
ser calculado para cada espaço entre alhetas (ver figura seguinte).

4𝐴𝑠,𝑞 4×(0,0016−0,00015)×(0,0065−0,00015)
𝐷ℎ,𝑞 = 𝑃𝑞
= 2×(0,0016−0,00015)+2×(0,0065−0,00015) = 0,00236 m

diâmetro hidráulico que será igual para o fluido frio, devido à igual geometria das alhetas.
O número de Reynolds para o fluido quente será:
𝜌𝑞 𝑣𝑚,𝑞 𝐷ℎ,𝑞 2,163×10,57×0,00236
𝑅𝑒𝑞 = = = 1962
𝜇𝑞 2,75×10−5

pelo que o escoamento será feito em regime laminar. Neste regime, com camada limite
dinâmica e térmica desenvolvidas, o Nu é constante, e igual a 4,44 (da Tabela 2.3, com a/b≈4,
para Tsup constante). O comprimento de entrada pode estimar-se a partir da equação (2.17),
vindo
2,75×10−5 ×1072
𝐿𝑒𝑛𝑡,𝑡,𝑞 ≈ 0,05 𝑅𝑒𝑞 𝑃𝑟𝑞 𝐷ℎ,𝑞 = 0,05 × 1962 × × 0,00236 = 0,2001 m
0,0341

o que significa que, sendo o comprimento útil de escoamento de 152 mm, o fluido quente não
chega a atingir a camada limite desenvolvida. Vamos então usar uma adaptação da equação
(2.21) para estimar o valor incrementado do Nu médio (admitindo um incremento idêntico ao
verificado num tubo circular):

111
Capítulo 2 - Convecção

0,0668 𝑅𝑒𝑞 𝑃𝑟𝑞 𝐷ℎ,𝑞 /𝐿 𝑞


̅̅̅̅𝑞 = 4,44 +
𝑁𝑢 2/3 = 5,74
1+0,04( 𝑅𝑒𝑞 𝑃𝑟𝑞 𝐷ℎ,𝑞 /𝐿 𝑞 )

a partir do qual se pode calcular o valor médio do coeficiente de convecção:


̅̅̅̅
𝑁𝑢𝑞 𝑘𝑞
ℎ̅𝑞 = 𝐷 = 83 W/m2K
ℎ,𝑞

Podem fazer-se cálculos análogos para chegar ao coeficiente de convecção médio para o fluido
frio (ar), que tem um comprimento de escoamento de 216 mm e uma largura útil de 152 mm,
com 95 alhetas de iguais dimensões e espaçamento, obtendo-se então:

𝐴𝑠,𝑐𝑎𝑛𝑎𝑙 𝑓 = 0,0065 × 0,152 − 95 × (0,0016 × 0,00015 + 0,0062 × 0,00015) =


= 0,00087685 m2
𝑚̇𝑓 /𝑛𝑐𝑎𝑛𝑎𝑖𝑠 𝑓 0,54/20
𝑣𝑚,𝑓 = = 0,582×0,00087685 = 52,9 m/s
𝜌𝑓 𝐴𝑠,𝑐𝑎𝑛𝑎𝑙 𝑓

𝐷ℎ,𝑓 = 𝐷ℎ,𝑞 = 0,00236 m

𝜌𝑓 𝑣𝑚,𝑓 𝐷ℎ,𝑓 0,582×52,9×0,00236


𝑅𝑒𝑓 = = = 3053
𝜇𝑓 2,38×10−5

No caso do fluido frio o regime de escoamento é já de transição para o turbulento. Não sendo
o regime nitidamente turbulento, e sendo a equação de Dittus-Boelter (2.22) válida apenas para
ReD>10000, vamos considerar como hipótese conservadora que o escoamento é ainda laminar.
Nesse caso:
𝑁𝑢𝑑𝑒𝑠,𝑓 = 4,44

0,0668 𝑅𝑒𝑓 𝑃𝑟𝑓 𝐷ℎ,𝑓 /𝐿 𝑓


̅̅̅̅
𝑁𝑢𝑓 = 4,44 + 2/3 = 5,88
1+0,04( 𝑅𝑒𝑓 𝑃𝑟𝑓 𝐷ℎ,𝑓 /𝐿 𝑓 )

̅̅̅̅
𝑁𝑢𝑓 𝑘𝑓
ℎ̅𝑓 = 𝐷 = 70 W/m2K
ℎ,𝑓

O coeficiente global de transferência de calor tem de considerar as resistências de convecção e


condução nas placas, sendo que na convecção existe uma área de contacto da base das placas
(área entre alhetas) e uma área de convecção das alhetas, sujeita ao rendimento destas. Usando
a definição vista em 1.1.4 podemos escrever para a resistência da transferência placas/alhetas –
fluido:
1 1
𝑅𝑠𝑢𝑝 = 𝜂 = (𝜂
𝑠𝑢𝑝 ℎ 𝐴𝑡𝑜𝑡 𝑎𝑙ℎ 𝐴𝑎𝑙ℎ +𝐴𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎𝑙ℎ ) ℎ

sendo o rendimento superficial em cada fluido


𝑛𝑎𝑙ℎ 𝐴1𝑎𝑙ℎ 𝑛𝑎𝑙ℎ 𝐴𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎𝑙ℎ
𝜂𝑠𝑢𝑝 = 𝜂𝑎𝑙ℎ +
𝐴𝑡𝑜𝑡 𝐴𝑡𝑜𝑡

A resistência global, relacionável com o coeficiente global (𝑈𝑟𝑒𝑓 ), será então

1 1 𝑒𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 1
𝑅𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 = 𝑈 =𝜂 ̅
+𝑘 +𝜂 ̅
𝑟𝑒𝑓 𝐴𝑟𝑒𝑓 𝑠𝑢𝑝,𝑞 𝑞 𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑞
ℎ 𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 𝐴𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 𝑠𝑢𝑝,𝑓 𝑓 𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑓

112
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Como o coeficiente global se expressa por unidade de área e as áreas variam – existe a área de
condução, igual à da secção das placas, a área de contacto com o fluido quente e a área de
contacto com o fluido frio – definiu-se uma área de referência (𝐴𝑟𝑒𝑓 ) que se considera igual à
área das placas (seria a área de transferência se não existissem alhetas). Ficará então
1 𝐴𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 𝑒 𝐴𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠
=𝜂 ̅𝑞 𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑞
+ 𝑘𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 + 𝜂 ̅𝑓 𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑓
𝑈𝑟𝑒𝑓 𝑠𝑢𝑝,𝑞 ℎ 𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 𝑠𝑢𝑝,𝑓 ℎ

Vamos então calcular as áreas, os rendimentos, e depois obter o coeficiente global. A área das
placas será, em cada canal, a área das 2 placas em contacto com o fluido e alhetas (uma acima
e outra abaixo), sendo a total a que corresponde ao número de canais para cada fluido (20); no
entanto, uma face de cada uma das placas nos canais extremos não transfere calor (não há fluido
do outro lado), pelo que devem ser descontadas 2 faces (1 placa). Então:
𝐴𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 = 𝐴1 𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 (2𝑛𝑐𝑎𝑛𝑎𝑖𝑠,1𝑓𝑙𝑢𝑖 − 1) = 0,216 × 0,152 × (2 × 20 − 1) = 1,280 m2
Quanto às áreas de convecção teremos em cada canal, para fluido quente ou frio, a área de
convecção das alhetas e a área da base (entre alhetas), tendo também em conta que nos canais
extremos não há transferência de calor. A figura seguinte ilustra as dimensões a considerar para
cada alheta (iguais nos 2 fluidos). A configuração equivale a 2 alhetas, uma ligada à placa de
cima e uma ligada à placa de baixo, sem transferência no topo, devido à simetria; para o
comprimento de cada alheta (𝐿𝑎𝑙ℎ ) é considerada uma média dos 2 lados, devido à diferença
provocada pela espessura da chapa.

Então, considerando o perímetro de convecção de cada alheta (igual a 2 vezes o comprimento


de escoamento, por haver convecção dos 2 lados), têm-se:
𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑞 𝑜𝑢 𝑓 = (2𝑛𝑐𝑎𝑛𝑎𝑖𝑠,𝑞 𝑜𝑢 𝑓 − 1)(𝑛𝑎𝑙ℎ,𝑞 𝑜𝑢 𝑓 𝐴1𝑎𝑙ℎ + 𝑛𝑎𝑙ℎ 𝐴𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎𝑙ℎ,𝑞 𝑜𝑢 𝑓 )

𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑞 = (2 × 20 − 1) × (135 × 2𝐿𝑞 𝐿𝑎𝑙ℎ + 135 × 𝑙𝑏𝑎𝑠𝑒 𝐿𝑞 )

= 39 × (135 × 2 × 0,152 × 0,003175 + 135 × 0,00145 × 0,152)

= 6,242 m2

𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑓 = (2 × 20 − 1) × (95 × 2𝐿𝑓 𝐿𝑎𝑙ℎ + 95 × 𝑙𝑏𝑎𝑠𝑒 𝐿𝑓 )

= 39 × (95 × 2 × 0,216 × 0,003175 + 95 × 0,00145 × 0,216) =

= 6,242 m2

Para calcular o rendimento das alhetas vamos recorrer à figura anterior, e considerar que a base
da chapa dobrada está à mesma temperatura da placa (temperatura da base da alheta), usando

113
Capítulo 2 - Convecção

um comprimento médio (média dos 2 lados representada na figura). Os rendimentos, usando a


equação (1.35) para uma alheta retangular isolada no topo, serão
̅𝑞 𝑃𝑎𝑙ℎ
ℎ 83×0,152×2
𝑚𝑞 = √𝑘 = √15×0,00015×0,152 = 271,6 m-1
𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 𝐴𝑠,1𝑎𝑙ℎ

tanh(𝑚𝑞 𝐿𝑎𝑙ℎ ) tanh(271,6×0,003175)


𝜂𝑎𝑙ℎ,𝑞 = = = 0,809
𝑚𝑞 𝐿𝑎𝑙ℎ 271,6×0,003175

𝑛𝑎𝑙ℎ,𝑞 𝐴1𝑎𝑙ℎ 𝑛𝑎𝑙ℎ,𝑞 𝐴𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎𝑙ℎ 39×135×2×0,152×0,003175


𝜂𝑠𝑢𝑝,𝑞 = 𝜂𝑎𝑙ℎ,𝑞 + = 0,809 +
𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑞 𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑞 6,242

39×135×0,00145×0,152
+ = 0,845
6,242

̅𝑓 𝑃𝑎𝑙ℎ
ℎ 70×0,216×2
𝑚𝑓 = √𝑘 = √15×0,00015×0,216 = 249,4 m-1
𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 𝐴𝑠,1𝑎𝑙ℎ

tanh(𝑚𝑓 𝐿𝑎𝑙ℎ ) tanh(249,4×0,003175)


𝜂𝑎𝑙ℎ,𝑓 = = = 0,833
𝑚𝑓 𝐿𝑎𝑙ℎ 249,4×0,003175

𝑛𝑎𝑙ℎ,𝑓 𝐴1𝑎𝑙ℎ 𝑛𝑎𝑙ℎ,𝑓 𝐴𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎𝑙ℎ 39×95×2×0,216×0,003175


𝜂𝑠𝑢𝑝,𝑓 = 𝜂𝑎𝑙ℎ,𝑓 + = 0,833 +
𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑞 𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑓 6,242

39×95×0,00145×0,216
+ = 0,864
6,242

O rendimento das superfícies, apesar de superior ao das alhetas, poderia ser aumentado usando
um material com maior condutibilidade, como o alumínio. Com uma condutibilidade das
alhetas igual a 180 W/mK conseguir-se-iam 𝜂𝑎𝑙ℎ,𝑞 = 0,980 e 𝜂𝑎𝑙ℎ,𝑓 = 0,983, e ainda 𝜂𝑠𝑢𝑝,𝑞 =
0,984 e 𝜂𝑠𝑢𝑝,𝑓 = 0,986, valores já bastante próximos de 1.
Podemos finalmente calcular o coeficiente global de transferência:
1 𝐴𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 𝑒 𝐴𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠
=𝜂 ̅𝑞 𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑞
+ 𝑘𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 + 𝜂 ̅𝑓 𝐴𝑡𝑜𝑡,𝑓
=
𝑈𝑟𝑒𝑓 𝑠𝑢𝑝,𝑞 ℎ 𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎𝑠 𝑠𝑢𝑝,𝑓 ℎ

1,280 0,00015 1,280


= 0,845×83×6,242 + + 0,864×70×6,242 = 0,00632
15

𝑈𝑟𝑒𝑓 = 158 W/m2K


O valor deste coeficiente, a par da área global de transferência, permitirá calcular as
temperaturas de saída das 2 correntes, e a potência calorífica transferida no permutador, através
do cálculo da eficiência do permutador. O produto UA é o parâmetro mais relevante para a
avaliação da eficiência. Neste caso tem-se 𝑈𝐴 = 𝑈𝑟𝑒𝑓 𝐴𝑟𝑒𝑓 = 202 W/K, o que, através de
cálculos aqui não tratados, conduzirá a uma eficiência do permutador de 25% e a uma potência
transferida de 43,3 kW.
Esta eficiência, bem como a potência, poderão ser aumentadas com um aumento do número de
placas, mesmo sem aumentar os caudais. Admitindo que se duplica o número de canais para 40
em cada fluido (81 placas, com 2 extremas, ou seja 79 que transferem calor), as áreas de
transferência de calor praticamente duplicarão (aumentam 79/39 vezes). Mantendo os caudais,
as velocidades médias dos fluidos reduzir-se-ão para metade (pois os caudais dividem-se pelo
dobro dos canais). No entanto, como os escoamentos se dão em regime laminar, os coeficientes

114
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

de convecção na zona desenvolvida não são afetados pela redução da velocidade (são
constantes). Há uma pequena variação devida ao peso da zona de entrada; por exemplo, para o
fluido frio o coeficiente de convecção passa de 70 para 62 W/m2K. Assim, o aumento da
potência será bastante significativo, e pode mesmo duplicar com um pequeno aumento dos
caudais.

115
Capítulo 2 - Convecção

P2.15

Uma placa quadrada, com 1 m x 1 m, pode ser


mantida a uma temperatura constante graças a um
sistema de aquecimento de potência variável. A placa
está rodeada de ar calmo, à temperatura de 20ºC.

Para temperaturas da placa entre 21ºC e 40ºC calcule o coeficiente de convecção entre a placa
e o ar para duas posições da placa: vertical ou horizontal. Calcule também o fluxo de calor. A
placa só transfere calor por uma das faces (superior no caso horizontal).

Resolução e discussão

Vamos comparar os coeficientes de convecção natural e fluxos de calor numa placa vertical e
numa placa horizontal (médios), para várias diferenças de temperatura entre a placa e o fluido
(ar). Para tal, vamos aplicar as correlações da Tabela 2.4. Para efetuar os cálculos foi criado um
pequeno programa de computador que ajusta (faz variar) as propriedades físicas do ar,
considerando sempre a temperatura média entre a temperatura da superfície da placa e a do ar.
Para a placa vertical foi considerada a correlação mais geral:
2
0,387 (𝐺𝑟.𝑃𝑟)1/6
𝑁𝑢 = [0,825 + 9/16 8/27
] , válida para 104 < 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 ≤ 1013
[1+(0,492/𝑃𝑟) ]

sendo o Gr calculado com a dimensão característica igual à altura da placa (L), neste caso igual
a 1 m.
Quanto à placa horizontal, considerando transferência de calor na face superior mais quente,
foram usadas as 2 correlações da Tabela 2.4:

𝑁𝑢 = 0,54 (𝐺𝑟. 𝑃𝑟)1/4 , para 104 < 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 ≤ 107

𝑁𝑢 = 0,15 (𝐺𝑟. 𝑃𝑟)1/3 , para 107 < 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 ≤ 1011

Na placa horizontal a dimensão característica é igual à área da placa dividida pelo seu perímetro,
o que neste caso equivale a 1/4 = 0,25 m.
Para as propriedades do ar e as temperaturas da superfície consideradas – de 21 a 40ºC –
verificam-se sempre os limites de validade das correlações acima indicados.
Os coeficientes de convecção médios são calculados a partir das correlações acima (em função
da diferença de temperaturas), e os fluxos pela multiplicação do coeficiente por T.
Os gráficos seguintes representam os resultados obtidos, comparando as 2 posições das placas.
Verifica-se que na face superior da placa horizontal o coeficiente de convecção é superior ao
da placa vertical, para as mesmas temperaturas. Na placa vertical forma-se uma camada limite
junto à superfície, que vai aumentando no sentido do escoamento (de baixo para cima),
prejudicando a transferência de calor.

116
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

O coeficiente de convecção médio varia até 3,8 W/m2K para um T de 20ºC na placa vertical,
e até 4,7 W/m2K para um T de 20ºC na placa horizontal. O aumento de h com T não é
proporcional, variando com T elevado a um expoente menor que 1 (cerca de 0,3). Note-se que
a descontinuidade na curva da placa horizontal é devida à utilização de 2 correlações para
intervalos diferentes de 𝐺𝑟. 𝑃𝑟.
Já o fluxo de calor (e a potência) aumenta mais que proporcionalmente a T, pois resulta da
multiplicação de h por T, sendo o expoente superior a 1.
Assim, para uma placa arrefecer mais rapidamente quando em contacto com um fluido mais
frio (a partir de uma dada temperatura inicial) ela deve ser colocada na horizontal. No entanto,
se a transferência de calor se der pelas 2 faces a conclusão será diferente: numa placa vertical
o coeficiente é igual nas 2 faces, enquanto numa placa horizontal o coeficiente na face inferior
é cerca de metade do da face superior (pela maior dificuldade de movimentação do ar).
Para avaliar melhor essa situação, considere-se a correlação da Tabela 2.4 para a face inferior
da placa horizontal:
𝑁𝑢 = 0,27 (𝐺𝑟. 𝑃𝑟)1/4 , para 106 < 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 ≤ 1011

117
Capítulo 2 - Convecção

O gráfico seguinte mostra os coeficientes para as 2 faces e o valor médio para as 2 posições,
concluindo-se que, com transferência nas 2 faces, é melhor a placa vertical.

118
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P2.16

Um cilindro, com 10 cm de diâmetro e 1 m de altura,


pode ser mantida a uma temperatura constante graças
a um sistema de aquecimento de potência variável.
Está rodeado de ar calmo, à temperatura de 20ºC.
Para temperaturas da superfície do cilindro entre 1ºC e 40ºC calcule o coeficiente de convecção
para duas posições do cilindro: vertical ou horizontal. Calcule também o fluxo de calor.

Resolução e discussão

Considere-se então um cilindro vertical e horizontal, aplicando as correlações da Tabela 2.4.


Para efetuar os cálculos foi também criado um pequeno programa de computador que ajusta
(faz variar) as propriedades físicas do ar, considerando sempre a temperatura média entre a
temperatura da superfície do cilindro e a do ar.
Para o cilindro vertical foi considerada a correlação mais geral da placa vertical:
2
0,387 (𝐺𝑟.𝑃𝑟)1/6
𝑁𝑢 = [0,825 + 9/16 8/27
] , válida para 104 < 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 ≤ 1013
[1+(0,492/𝑃𝑟) ]

sendo o Gr calculado com a dimensão característica igual à altura (L), neste caso igual a 1 m.
Para esta correlação ser aplicável, a razão entre o diâmetro e a altura do cilindro deve satisfazer
a relação
35 𝐿
𝐷≥ 1/4
𝐺𝑟𝐿

que iremos avaliar depois de calculado o número de Grashoff para as várias T.
Quanto ao cilindro horizontal, a correlação da Tabela 2.4 é:
2
0,387 (𝐺𝑟.𝑃𝑟)1/6
𝑁𝑢 = [0,6 + 9/16 8/27
] , válida para 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 ≤ 1012
[1+(0,559/𝑃𝑟) ]

No cilindro horizontal a dimensão característica é igual ao diâmetro, D = 0,10 m.


Para as propriedades do ar e as temperaturas da superfície consideradas – de 21 a 40ºC –
verificam-se sempre os limites de validade de 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 das 2 correlações acima indicados. No
entanto, a relação para D/L que valida a utilização da correlação para a placa vertical não se
verifica, devendo o mínimo D estar entre 0,32 m e 0,15 m quando T varia entre as temperaturas
consideradas. No entanto, não sendo a diferença para 0,1 m muito grande, e na ausência de
outra correlação, foi utilizada a da placa vertical, desprezando-se o efeito da curvatura da
superfície.
Os coeficientes de convecção médios são calculados a partir das correlações acima (em função
da diferença de temperaturas), e os fluxos pela multiplicação do coeficiente por T.
Os gráficos seguintes representam os resultados obtidos, comparando as 2 posições dos
cilindros. Verifica-se que no cilindro horizontal o coeficiente de convecção médio é superior
ao do vertical, para as mesmas temperaturas.

119
Capítulo 2 - Convecção

No cilindro vertical a camada limite junto à superfície cresce ao longo de um comprimento


maior (L), o que faz reduzir o coeficiente de convecção local de baixo para cima, e também
reduzir o coeficiente médio para toda a superfície. As figuras seguintes ilustram a evolução da
camada limite nos 2 casos.

O coeficiente de convecção médio varia até 3,8 W/m2K para um T de 20ºC no cilindro vertical,
e até 4,4 W/m2K para um T de 20ºC no cilindro horizontal. Tal como no caso das placas
vertical e horizontal, o aumento de h com T não é proporcional, variando com T elevado a
um expoente menor que 1, enquanto o fluxo de calor (e a potência) aumenta mais que
proporcionalmente a T.
120
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Assim, para um cilindro arrefecer mais rapidamente quando em contacto com um fluido mais
frio (a partir de uma dada temperatura inicial), deve ser colocado na horizontal, aumentando a
transferência de calor.

121
Capítulo 2 - Convecção

P2.17

Numa instalação de água quente, esta sai de um coletor solar e entra no tubo da figura a 80ºC.
O tubo, com as dimensões da figura, tem k = 13,4 W/mK. No exterior do tubo (ar a 20ºC) existe
apenas convecção natural, e o tubo está colocado horizontalmente.
Determine o coeficiente médio de convecção no interior do tubo, sabendo que à entrada o perfil
de velocidades se encontra desenvolvido. Calcule a temperatura de saída da água e a
temperatura média da superfície interior do tubo.
Propriedades a considerar para a água: ág=974 kg/m3, cp,ág=4195 J/kgK, kág=0,668 W/mK,
ág=365 x10-6 Ns/m2, Prág=2,29.
Propriedades a considerar para o ar: ar=1,204 kg/m3, cp,ar=1007 J/kgK, kar=0,0251 W/mK, ar
=1,516 x10-5 m2/s, Prar = 0,731, ar = 0,0034 K-1.

Resolução e discussão

Trata-se do problema P2.11, com a diferença de o coeficiente de convecção exterior ao tubo ser
agora devido à convecção natural. Assim sendo, ele depende da diferença de temperatura entre
a superfície exterior do tubo e o ar exterior, diferença que não é conhecida por não se conhecer
a temperatura do tubo.
Vamos recorrer à informação já calculada em P2.11, nomeadamente o coeficiente de convecção
médio no interior do tubo:
𝑁𝑢 ̅̅̅̅𝑘á𝑔 5,74×0,668
ℎ̅𝑖𝑛𝑡 = 𝐷,𝑖𝑛𝑡 = 0,050 = 76,7 W/m2K
𝐷 𝑖𝑛𝑡

Como visto em P2.11, a temperatura (média) de saída da água pode relacionar-se com a
temperatura de entrada e a temperatura média da superfície interior do tubo – equação (2.26):
𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 ̅𝑖𝑛𝑡 𝜋𝐷𝑖𝑛𝑡 𝐿

= exp (− )
𝑇𝑒𝑛𝑡 −𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 𝑀̇𝑐𝑝

e a temperatura média da superfície interior do tubo pode relacionar-se com a transferência de


calor para o exterior e a variação de temperatura da água:
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 −𝑇𝑒𝑥𝑡
𝑙𝑛(𝐷𝑒𝑥𝑡 /𝐷𝑖𝑛𝑡 ) 1
= 𝑀̇𝑐𝑝 (𝑇𝑒𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑎𝑖 )
+
2𝜋𝑘𝑡 𝐿 ℎ𝑒𝑥𝑡 𝜋𝐷𝑒𝑥𝑡 𝐿

Agora, sendo ℎ𝑒𝑥𝑡 função da temperatura da superfície exterior do tubo, 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 , intervém uma
incógnita adicional. Atendendo à reduzida espessura e à pequena resistência de condução do
tubo, poderíamos desprezar a diferença de temperatura entre a superfície interior e exterior do
tubo. No entanto vamos considerá-la, para um tratamento mais geral do problema.

122
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Dessa forma, temos de relacionar ℎ𝑒𝑥𝑡 com (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 −𝑇𝑒𝑥𝑡 ), e utilizar uma equação adicional
para cálculo de 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 , que pode ser a igualdade entre a potência que atravessa o tubo por
condução e a potência de convecção exterior:
2𝜋𝑘𝑡 𝐿
(𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 ) = ℎ𝑒𝑥𝑡 𝜋𝐷𝑒𝑥𝑡 𝐿(𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 )
𝑙𝑛(𝐷𝑒𝑥𝑡 /𝐷𝑖𝑛𝑡 )

Para relacionar ℎ𝑒𝑥𝑡 com (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 −𝑇𝑒𝑥𝑡 ) vamos usar a correlação da Tabela 2.4 para cilindros
horizontais:
2
0,387 (𝐺𝑟𝐷 .𝑃𝑟)1/6
𝑁𝑢𝑒𝑥𝑡 = [0,6 + 8/27 ] , válida para 𝐺𝑟𝐷 . 𝑃𝑟 ≤ 1012
[1+(0,559/𝑃𝑟)9/16]

com
𝑔𝛽𝑎𝑟 (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 −𝑇∞ )𝐷3𝑒𝑥𝑡
𝐺𝑟𝐷 . 𝑃𝑟 = (𝜈𝑎𝑟 )2
𝑃𝑟 = 16688 × (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 − 20)

sendo 𝐺𝑟𝐷 . 𝑃𝑟 sempre inferior a 1012 (mesmo que 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 fosse igual a 80ºC).
Então o coeficiente de convecção exterior pode relacionar-se com (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 −𝑇𝑒𝑥𝑡 ) através de:
1/6 2
̅̅̅̅ 𝑘
𝑁𝑢 0,0251 0,387× (16688×(𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 −20) )
ℎ̅𝑒𝑥𝑡 = 𝐷𝑒𝑥𝑡 𝑎𝑟 = 0,054 × [0,6 + [1+(0,559/0,731)9/16 ]8/27
] =
𝑒𝑥𝑡

1/6 2
= 0,465 × [0,6 + 1,628 × (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 − 20) ]

Temos assim um sistema de 3 equações que permite calcular 𝑇𝑠𝑎𝑖 , 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 e 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 :
𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 76,7×𝜋×0,05×5
= exp (− )
80−𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 0,03×4195
2𝜋×13,4×5
(𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 ) = 0,03 × 4195 ×(80 − 𝑇𝑠𝑎𝑖 )
𝑙𝑛(54/50)
2𝜋×13,4×5 1/6 2
{ (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 ) = 0,465 × [0,6 + 1,628 × (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 − 20) ] × 𝜋 × 0,054 × 5× (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 − 20)
𝑙𝑛(54/50)

onde se substituiu a 2ª equação pela igualdade entre a potência de condução no tubo e a potência
perdida pela água, e que equivale a
𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 = (80 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 ) × 0,6196
5470 × (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 ) = 125,85 × (80 − 𝑇𝑠𝑎𝑖 )
1/6 2
5470 × (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 ) = 0,3944 × [0,6 + 1,628 × (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 − 20) ] × (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 − 20)
{
Note-se a não linearidade do sistema, introduzida pela dependência não linear do coeficiente de
convecção natural em T. O sistema resulta em:
𝑇𝑠𝑎𝑖 = 77,6o C
o
{𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑡 = 73,74 C
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑥𝑡 = 73,69o C
O coeficiente de convecção natural (exterior) é então igual a 6,6 W/m2ºC.
Este menor coeficiente de convecção (o anterior era de 20 W/m2ºC) faz com que o tubo perca
menos calor, sendo a sua temperatura mais alta – a superfície interior está a 73,74ºC, quando
antes estava a 64,3ºC. A água arrefece agora apenas 2,4ºC (em vez de 6ºC) entre a entrada e a
saída, o que corresponde a uma potência perdida de 302 W.

123
Capítulo 2 - Convecção

P2.18
Durante o tratamento térmico da peça da figura esta
é aquecida até uma temperatura de 100ºC
(uniforme). Após certo tempo, desliga-se o
aquecedor e a peça é arrefecida, trocando apenas
calor por convecção com o ar na face superior.
A peça, com 20 cm de diâmetro, tem =2770 kg/m3,
cp=880 J/kgK e k=179 W/mK.
Escreva o coeficiente de convecção em função da temperatura da superfície da peça, admitindo
propriedades do ar constantes, e calcule o tempo necessário a que a face inferior da peça atinja
30ºC.
Resolução e discussão

Trata-se de um problema instacionário, uma vez que a temperatura da peça varia ao longo do
tempo. A peça está sujeita a arrefecimento por convecção na face superior. No entanto, havendo
convecção natural, o coeficiente de convecção varia ao longo do tempo, por variar a temperatura
superficial.
Assim, no caso de se considerar a variação da temperatura da peça com a espessura (25 mm), a
solução analítica vista em 1.2.2 não é aplicável, pois pressupõe um coeficiente constante ao
longo do tempo. A solução de considerar a peça como um sistema global, vista em 1.2.1 –
equação (1.42) – também não é aplicável, pelas mesmas razões. No entanto, no caso do sistema
global (condição a verificar) poder-se-á encontrar uma solução analítica, recorrendo ao balanço
fundamental
𝑑𝑇
𝜌𝑉𝑐𝑝 𝑑𝑡 = ℎ𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣 (𝑇∞ − 𝑇)

Escrevendo o coeficiente ℎ em função de ∆𝑇 é possível resolver esta equação. Então


consideremos a correlação da Tabela 2.4 para uma placa (superfície) horizontal e propriedades
do ar a uma temperatura média – média entre a superfície e o ar exterior, tomando-se para a
superfície a média entre a temperatura inicial e final, ou seja, 130/2=65ºC. Assim, a temperatura
média para avaliação das propriedades será (65+20)/2=42,5ºC.
As propriedades do ar a essa temperatura (e à pressão atmosférica) são: ar=1,104 kg/m3,
cp,ar=1007 J/kgK, kar=0,0268 W/mK, ar =1,93 x10-5 Ns/m2, Prar = 0,724, ar = 0,00317 K-1.
Então temos:
1/4
̅̅̅̅ 𝑘𝑎𝑟
𝑁𝑢 0,0268 0,0268×0,54 9.8×0,00317×(0,20/4)3
ℎ= = × 0,54 (𝐺𝑟. 𝑃𝑟)1/4 = × 0,7241/4 × ( (1,93×10−5 ⁄1,104)2
) × ∆𝑇 1/4 =
𝐴𝑠 ⁄𝑃 𝐷/4 0,20/4

= 2,835 × ∆𝑇 1/4

admitindo (a verificar) que 104 < 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 ≤ 107 . No instante inicial ∆𝑇 = 100 − 20 = 80ºC,
vindo 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 = 7,36 × 105 (que verifica a condição de validade da correlação) e ℎ = 8,5
W/m2K. No instante final ∆𝑇 = 30 − 20 = 10ºC, vindo 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 = 9,20 × 104 (que também
verifica a condição de validade da correlação) e ℎ = 5,0 W/m2K.
Quanto à consideração da peça como um sistema global, há que verificar se o número de Biot
permite essa suposição. O caso mais desfavorável (maior Bi) corresponde ao instante inicial,
quando
ℎ (𝑉/𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣 )𝑝𝑒ç𝑎 8,5× 0,025
𝐵𝑖𝑎ç𝑜 = = = 0,0012
𝑘𝑝𝑒ç𝑎 179

124
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

muito menor que 0,1, validando a hipótese de sistema global.


Podemos então usar a relação entre ℎ e ∆𝑇 na equação diferencial anterior, com o pressuposto
de que em cada instante temos convecção em regime permanente, vindo
𝑑𝑇
(𝜌𝑉𝑐𝑝 )𝑝𝑒ç𝑎 𝑑𝑡 = −2,835 × 𝐴𝑐𝑜𝑛𝑣 (𝑇 − 20)5/4

que resulta em
𝑑𝑇 2,835
= − 2770×880×0,025 (𝑇 − 20)5/4 = −4,652 × 10−5 (𝑇 − 20)5/4
𝑑𝑡

que integrada, sujeita à condição 𝑇|𝑡=0 = 100ºC, resulta em


(𝑇 − 20)−1/4 = (100 − 20)−1/4 + 1,163 × 10−5 𝑡
Para se ter 𝑇 = 30ºC serão então necessários 𝑡 = 19602 segundos, ou 5,4 horas.
Pode analisar-se o resultado da utilização da equação (1.42), com um coeficiente de convecção
médio, igual à média aritmética do coeficiente inicial e final. Sendo estes iguais a 8,5 e 5,0
W/m2K, a média aritmética é de 6,75 W/m2K, que utilizada na equação (1.42) conduz a
30−20 6,75
= exp (− 2770×880×0,025 𝑡)
100−20

resultando em 𝑡 = 18774 segundos, ou 5,2 horas.


Em alternativa, também se poderia utilizar um coeficiente médio (constante) igual ao
coeficiente para a temperatura média aritmética entre a inicial e a final. Sendo essa temperatura
média igual a (100+30)/2=65ºC, viria
ℎ(𝑇) = 2,835 × (65 − 20)1/4 = 7,3 W/m2K
que sendo substituído na equação anterior conduz a 𝑡 = 17359 segundos, ou 4,8 horas.
Qualquer destes cálculos aproximados introduz um erro no resultado – 4% no 1º caso e 11% no
2º caso – ambos subestimando o tempo de arrefecimento.

125
Capítulo 2 - Convecção

P2.19
Um coletor solar plano tem uma cobertura de vidro e
uma placa absorvente (da radiação solar) espaçadas
entre si, contendo ar entre ambas (à pressão
atmosférica). Os topos são selados a toda a volta.
Para um dado valor de radiação solar, o coletor atinge
o equilíbrio térmico, sendo a temperatura da placa de
60ºC e a temperatura do vidro de 30ºC.
Nessas condições, e sabendo que a distância entre a placa e o vidro é de 15 mm, calcule o
coeficiente de convecção entre a placa e o vidro, bem como a potência perdida por convecção.
Analise se a distância entre a placa e o vidro será a mais adequada, nas condições de temperatura
existentes. Discuta também o que se passará para temperaturas diferentes.
Resolução e discussão

Temos aqui um caso de convecção natural numa cavidade retangular, formada no espaço entre
a placa e a cobertura de vidro. O coeficiente de convecção pode ser obtido com auxílio da
correlação (2.30), em que a dimensão característica é a distância entre a placa e o vidro (L):
+ 1,6 1/3 +
1708 1708 (sen1,8 𝜃) (𝑅𝑎𝐿 cos 𝜃)
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐿 = 1 + 1,44 [1 − 𝑅𝑎 cos 𝜃] (1 − ) + [ − 1]
𝐿 𝑅𝑎 cos 𝜃 𝐿 18

sendo 𝜃 o ângulo em relação à horizontal (neste caso 50º) e denotando o sinal + que se o valor
calculado for negativo deve ser tomado como zero; a correlação é válida para 𝑅𝑎𝐿 ≤ 105 ,
𝐻/𝐿 ≥ 12 e 0 ≤ 𝜃 < 70º. O coeficiente de convecção pode depois ser calculado por
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐿 𝑘𝑎𝑟
ℎ= 𝐿

Vamos então começar por considerar propriedades do ar à temperatura média aritmética entre
60 e 30ºC, ou seja a 45ºC (e à pressão atmosférica): =1,095 kg/m3, k=0,0270 W/mK, =1,94
x10-5 Ns/m2, Pr = 0,723,  = 0,00314 K-1. Então temos:
9.8×0,00314×(60−30)×0,0153
𝑅𝑎𝐿 = 𝐺𝑟𝐿 . 𝑃𝑟 = (1,94×10−5 ⁄1,095)2
× 0,723 = 6549

vindo, da correlação acima:


+ o 1,6 o )1/3 +
1708 1708 (sen 90 ) (6549 cos 50
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐿 = 1 + 1,44 [1 − 6549 cos 50o ] (1 − 6549 cos 50o ) + [ − 1] =
18

= 1,51
valor que significa que a transferência de calor é 1,5 vezes maior do que se verificaria se
houvesse condução na camada de ar de 15 mm de espessura; o coeficiente de convecção é então
1,51×0,0270
ℎ= = 2,7 W/m2ºC
0,015

Note-se que são satisfeitos os limites de aplicação da correlação do ̅̅̅̅


𝑁𝑢𝐿 : 𝜃 = 50º, 𝑅𝑎𝐿 ≤ 105
e 𝐻/𝐿 = 2/0,015 = 133 ≥ 12.
A potência trocada por convecção é:
𝑄̇ = ℎ𝐴(𝑇𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 − 𝑇𝑣𝑖𝑑𝑟𝑜 ) = 2,7 × 2 × 1 × (60 − 30) = 162 W

126
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Vamos agora analisar como varia o coeficiente de convecção com a espessura da cavidade, de
modo a avaliar se é ou não adequada a minimizar as perdas de calor para a cobertura. Num
coletor solar deste tipo, quanto menores forem essas perdas, mais calor está disponível para
transferir da placa para um fluido circulando na sua face posterior.
Variando a distância placa-vidro, obtiveram-se os resultados do gráfico seguinte, admitindo que
as temperaturas da placa e do vidro se mantêm.

Para todos os valores de L (entre 6 e 20 mm) se verifica a condição 𝑅𝑎𝐿 ≤ 105 . Para distâncias
mais pequenas verifica-se que Nu=1, havendo condução na camada de ar: ao aumentar a
espessura diminui a transferência de calor. A partir de uma dada distância o ar já se movimenta,
dando origem à convecção natural, vindo Nu>1, e aumentando o coeficiente de convecção com
o aumento de L. A partir de certo ponto há uma tendência para o coeficiente estabilizar. Isto
significa que existe uma distância ótima, à qual corresponde o mínimo coeficiente (e a mínima
potência trocada). O valor ótimo de L está muito próximo do que torna 𝑅𝑎𝐿 cos 𝜃 = 1708 na
correlação do Nu (anulando a 2ª e 3ª parcelas da correlação), ou seja:
9.8×0,00314×(60−30)×𝐿3
𝑅𝑎𝐿 cos 𝜃 = (1,94×10−5 ⁄1,095)2
× 0,723 × cos 50o = 1708 ⇒ 𝐿 = 0,011 m

Assim, a distância de 15 mm não é a ideal para minimizar as perdas de calor do coletor, para as
temperaturas em causa.
Mas durante o funcionamento do coletor essas temperaturas variam (ao variar a radiação solar
recebida pelo coletor). Ao variarem as temperaturas, e em especial ∆𝑇, o ponto ótimo irá
deslocar-se. Admitindo que as propriedades se mantêm, podemos relacionar a distância ótima
com ∆𝑇, impondo a condição 𝑅𝑎𝐿 cos 𝜃 = 1708.
Desse modo, vem
0,0335
𝐿ó𝑡𝑖𝑚𝑜 = ∆𝑇 1/3

Assim, ao aumentar ∆𝑇, o que acontece quando aumenta a radiação solar recebida, diminui a
distância ótima. O gráfico seguinte ilustra a variação, que se deve a uma maior facilidade de
movimentação do ar ao aumentar ∆𝑇: com maior ∆𝑇 a convecção inicia-se para L mais baixo.
A gama de valores de L entre 10 e 12 mm (em torno de 11 mm) é adequada à maior parte das
condições operativas num coletor deste tipo.

127
Capítulo 2 - Convecção

128
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P2.20
Um coletor solar é constituído por vários tubos de vidro
(com 100 mm de diâmetro), no interior dos quais existe um
outro tubo em alumínio (com 50 mm de diâmetro) que
absorve a radiação solar incidente. O espaço entre os tubos
contém ar à pressão atmosférica. Os tubos têm um
comprimento de 2 m e são selados nas extremidades,
estando colocados na horizontal.
Num dia de céu limpo, com radiação elevada, a temperatura
atingida pelo tubo de alumínio é de 45ºC, e a do tubo de
vidro de 23ºC.
Nessas condições, calcule o coeficiente de convecção entre os dois tubos, bem como a potência
perdida por convecção. Avalie o efeito da variação do diâmetro do tubo de vidro no coeficiente
de convecção.
Resolução e discussão

Num coletor solar de tubos é frequentemente evacuado o espaço dentro do tubo de vidro,
suprimindo a convecção, de modo a reduzir ao máximo as perdas de calor – são os chamados
coletores de tubos de vácuo. No entanto, também existem coletores não evacuados, como neste
caso. Aqui trata-se de avaliar o efeito da convecção na cavidade de ar entre tubos.
O coeficiente de convecção pode ser obtido com auxílio da correlação (2.36):
𝑘 𝑃𝑟 1/4 1/4
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐿𝑐 = 𝑘𝑒𝑓 = 0,386 (0,861+𝑃𝑟) (𝑅𝑎𝐿𝑐 )

válida para 0,7 ≤ 𝑃𝑟 ≤ 6000 e 102 < 𝑅𝑎𝐿𝑐 ≤ 107 , e sendo a dimensão característica (𝐿𝑐 )
dada pela equação (2.37):
2 [ln(𝑟𝑒𝑥𝑡 ⁄𝑟𝑖𝑛𝑡 )]4/3
𝐿𝑐 = −3/5 −3/5 5/3
(𝑟𝑖𝑛𝑡 +𝑟𝑒𝑥𝑡 )

Note-se que se 𝑅𝑎𝐿𝑐 ≤ 100 há condução (𝑘𝑒𝑓 = 𝑘). A potência transferida obtém-se a partir de
𝑘𝑒𝑓 :
2𝜋𝐿 𝑘𝑒𝑓 (𝑇𝑖𝑛𝑡 −𝑇𝑒𝑥𝑡 )
𝑄̇ = ln(𝑟 ⁄𝑟 )
𝑒𝑥𝑡 𝑖𝑛𝑡

Vamos utilizar propriedades do ar à temperatura média (aritmética) dos 2 tubos (34ºC):


=1,134 kg/m3, k=0,0262 W/mK, =1,89 x10-5 Ns/m2, Pr = 0,726,  = 0,00326 K-1. Então,
com os restantes dados do problema:
2 [ln(𝑟𝑒𝑥𝑡 ⁄𝑟𝑖𝑛𝑡 )]4/3 2× [ln(50⁄25)]4/3
𝐿𝑐 = −3/5 −3/5 5/3
= 5/3 = 0,0132 m
(𝑟𝑖𝑛𝑡 +𝑟𝑒𝑥𝑡 ) (0,025−3/5 +0,050−3/5 )

𝑘𝑒𝑓 𝑃𝑟 1⁄4 1⁄4


= 0,386 (0,861+𝑃𝑟) (𝑅𝑎𝐿𝑐 ) =
𝑘

1⁄4 1⁄4
0,726 9.8×0,00326×(45−23)×0,01323 ×0,726
= 0,386 × (0,861+0,726) × ( (1,89×10−5 ⁄1,134)2
) =

= 0,317 × 42251⁄4 = 2,6

129
Capítulo 2 - Convecção

Assim, passa 2,6 vezes mais calor do que se houvesse condução no ar, e 𝑘𝑒𝑓 = 0,0681 W/mºC.
A potência calorífica vem igual a:
2𝜋𝐿 𝑘𝑒𝑓 (𝑇𝑖𝑛𝑡 −𝑇𝑒𝑥𝑡 ) 2𝜋×2×0,0681×(45−23)
𝑄̇ = ln(𝑟 ⁄𝑟 )
= = 27 W
𝑒𝑥𝑡 𝑖𝑛𝑡 ln(50⁄25)

Se quisermos indicar um coeficiente de convecção, usando como referência a área do tubo


interior, ele será igual a 3,9 W/m2intºC.
Vamos agora analisar como varia o coeficiente de convecção com o espaço entre tubos.
Repetindo os cálculos anteriores para vários diâmetros do tubo de vidro obteve-se o gráfico
seguinte, admitindo que as temperaturas da placa e do vidro se mantêm.

Para todos os valores de 𝑟𝑒𝑥𝑡 (entre 27 e 150 mm) se verifica a condição 𝑅𝑎𝐿 ≤ 105 . Tal como
no problema P2.19, para raios/diâmetros mais pequenos verifica-se que Nu=1 (𝑘𝑒𝑓 = 𝑘),
havendo condução na camada de ar. Isso verifica-se até que 𝑅𝑎𝐿𝑐 = 100, o que ocorre para um
raio de 34 mm. A partir daí ocorre movimento do ar e o coeficiente aumenta. O valor ótimo de
𝑟𝑒𝑥𝑡 (espaço entre tubos) pode então obter-se igualando 𝑅𝑎𝐿𝑐 a 100. No entanto, em comparação
com o problema P2.19, a convecção ocorre com espessuras da camada de ar menores, pelo que
uma pequena variação do raio (para valores inferiores ao ótimo) se pode traduzir num aumento
significativo do calor perdido.

Durante o funcionamento do coletor com diferentes temperaturas, o ponto ótimo irá deslocar-
se. Admitindo que as propriedades se mantêm, podemos relacionar a distância ótima com ∆𝑇,
impondo a condição 𝑅𝑎𝐿𝑐 = 100. Obter-se-á:
0,01062
𝐿𝑐 ó𝑡𝑖𝑚𝑜 = ∆𝑇 1/3

O gráfico seguinte ilustra a variação do raio exterior (do tubo de vidro) ótimo em função de ∆𝑇.
Ao aumentar ∆𝑇 há uma maior facilidade de movimentação do ar, pelo que o ótimo corresponde
a um menor espaço entre tubos. Raios entre 33 e 36 mm – ou espaços entre tubos entre 8 e 11
mm – correspondem ao ótimo para diferenças de temperatura entre 35 e 10ºC. No entanto, como
dito anteriormente, o modo mais eficaz de reduzir as perdas convectivas deste coletor é a
utilização do vácuo entre os 2 tubos.

130
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

131
Capítulo 2 - Convecção

132
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

3 Condensação em filme
A condensação, tal como a convecção, ocorre num fluido em movimento. O que a distingue da
convecção é a ocorrência de mudança de fase: um vapor a temperatura igual ou superior à de
saturação (à pressão a que se encontra) passa, total ou parcialmente ao estado líquido. Para que
tal aconteça, o fluido entra em contacto com uma superfície a temperatura inferior à de
saturação, formando-se uma zona de líquido junto à superfície fria. Veremos como quantificar
o coeficiente de transferência de calor quando toda a superfície fria é coberta por uma película
de líquido – condensação em filme – que é a situação mais corrente na prática. As geometrias
a considerar para a superfície são: placa plana, cilindro e feixes de tubos, e esferas.
3.1 Condensação em filme e em gotas
Na maior parte das superfícies, a película de líquido que se forma junto a elas estende-se a toda
a sua área. O líquido escorre na vertical, de cima para baixo, por ação da gravidade, uma vez
que é mais pesado que o vapor que o rodeia. Nas superfícies com muito pequena rugosidade,
como vidros, espelhos ou metais muito polidos, formam-se gotas de líquido junto à superfície
fria, que escorrem nesta (também de cima para baixo), não se formando uma película contínua
líquida. Neste caso, as gotas cobrem a maior parte da área da superfície fria. A Figura 3.1 ilustra
as duas situações.

a b
Figura 3.1 – Tipos de condensação: (a) em filme; (b) em gotas.

Ao condensar, o fluido liberta o seu calor latente de vaporização (diferença entre a entalpia do
vapor saturado e a do líquido saturado), o que, devido ao seu elevado valor, gera taxas de
transferência de calor elevadas. Esse calor transfere-se da temperatura mais alta (Tsat) para a
mais baixa (Tsup), mas para atingir a superfície tem de atravessar o líquido, que oferece uma
resistência (térmica) a essa transferência. Assim, quanto maior a quantidade de líquido presente,
menor será o coeficiente de transferência. Por esse motivo, na condensação por gotas
conseguem-se coeficientes (bastante) mais elevados. No entanto, para além de superfícies
133
Capítulo 3 – Condensação em filme

especiais, a condensação por gotas é difícil de controlar, motivos pelos quais na maior parte das
aplicações práticas (condensadores de vapor) se usa a condensação em filme.
3.2 Modelo simplificado de Nusselt
Existe um modelo teórico simplificado para a condensação em filme junto a uma placa vertical
– o modelo de Nusselt. Este modelo assenta em várias hipóteses simplificativas, que são: (i) o
escoamento do líquido dá-se em regime laminar e com propriedades constantes; (ii) a fase
gasosa é constituída por vapor puro a Tsat ; (iii) o atrito na interface líquido-vapor é desprezável,
sendo a velocidade do líquido máxima na extremidade da película () e a velocidade do vapor
nula; (iv) o transporte convectivo de quantidade de movimento e energia no filme é desprezável,
devido à baixa velocidade. A Figura 3.2 ilustra os perfis simplificados de velocidade e
temperatura no filme líquido.

Figura 3.2 – Perfis de velocidade e temperatura simplificados no modelo de Nusselt de condensação em filme.

Recorrendo então ao balanço da quantidade de movimento e energia para um elemento de


volume do filme líquido de comprimento dx, é possível chegar a uma relação entre a espessura
do filme líquido () e o comprimento/altura de escoamento (x), e que é:
1/4
4𝜇𝑙 𝑘𝑙 (𝑇𝑠𝑎𝑡 −𝑇𝑠𝑢𝑝 ) 𝑥
𝛿(𝑥) = [ ] (3.1)
𝑔𝜌𝑙 (𝜌𝑙 −𝜌𝑣 )∆ℎ𝑙𝑣

denotando o índice l as propriedades do líquido, v as do vapor saturado, e sendo ∆ℎ𝑙𝑣 o calor


latente de vaporização/condensação. Atente-se que o aumento da diferença de temperatura
provoca um aumento da espessura do filme líquido (mais vapor condensa).
O coeficiente de transferência de calor, na hipótese de transporte convectivo desprezável,
corresponde ao coeficiente de condução através da espessura de filme, ou seja
1/4
𝑘𝑙 𝑔𝜌 (𝜌 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙3 ∆ℎ𝑙𝑣
ℎ𝑥 = = [ 4𝜇𝑙 (𝑇𝑙 )𝑥
] (3.2)
𝛿 𝑙 𝑠𝑎𝑡 −𝑇𝑠𝑢𝑝

Calculando a média para o comprimento/altura L, vem:


3 ′ 1/4
𝑔𝜌 (𝜌 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣
ℎ̅𝐿 = 0,943 [ 𝜇 𝑙(𝑇 𝑙 −𝑇 )𝐿
] (3.3)
𝑙 𝑠𝑎𝑡 𝑠𝑢𝑝

Nesta equação as propriedades do líquido devem ser avaliadas à temperatura média (aritmética)
entre a de saturação e a da superfície, enquanto 𝜌𝑣 e ∆ℎ𝑙𝑣 devem ser avaliadas á temperatura de
saturação.

134
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Ao comparar os resultados deste modelo simplificado e da equação (3.3) com resultados


experimentais, concluiu-se que o modelo subestima a transferência de calor, por não considerar
o perfil não linear de temperatura no filme, a convecção, e o subarrefecimento do líquido; assim
introduziu-se uma correção no calor latente já incluída na equação (3.3):

∆ℎ𝑙𝑣 = ∆ℎ𝑙𝑣 + 0,68 𝑐𝑝𝑙 (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 ) (3.4)

O caudal condensado pode calcular-se a partir de


𝑄 ̇ ̅
ℎ𝐿 𝐴(𝑇𝑠𝑎𝑡 −𝑇𝑠𝑢𝑝 )
𝑀̇𝑙 = ∆ℎ′ = (3.5)
𝑙𝑣 ∆ℎ′ 𝑙𝑣

A equação (3.3), com a correção expressa por (3.4), é portanto válida para regime de
escoamento a baixa velocidade – laminar – do filme de líquido. Este regime verifica-se até um
certo limite da velocidade, a que corresponde um determinado limite do número de Reynolds.
Esse Re pode definir-se a partir de um diâmetro hidráulico:
4𝐴𝑠 4𝑙𝛿
𝐷ℎ = 𝑃 = = 4𝛿 (3.6)
𝑚𝑜𝑙ℎ𝑎𝑑𝑜 𝑙

onde l é a largura do filme em contacto com a superfície.


Com essa definição, o Re aumenta com o aumento de  :
𝜌𝑙 𝑣𝑚 4𝛿 4𝑀̇𝑙
𝑅𝑒𝛿 = = (3.7)
𝜇𝑙 𝜇𝑙 𝑙

Verifica-se que o regime de escoamento do filme é laminar para 𝑅𝑒 <1800, distinguindo-se o


regime laminar não ondulante (𝑅𝑒 <30) e o laminar ondulante (𝑅𝑒 de 30 a 1800). A partir de
𝑅𝑒 =1800, o regime de escoamento torna-se turbulento. A equação (3.3) dá bons resultados
para o regime laminar não ondulante (𝑅𝑒 <30).
3.3 Correlações para placas, cilindros e esferas
Para o caso da condensação numa placa vertical é possível, desprezando 𝜌𝑣 face a 𝜌𝑙 , escrever
o número de Reynolds como:
4𝑔𝜌𝑙2 𝛿 3
𝑅𝑒𝛿 = (3.8)
3𝜇𝑙2

Combinando a equação (3.8) com as equações (3.1) e (3.3) é possível chegar a


1/3
̅𝐿 (𝜈𝑙2 /𝑔)
ℎ −1/3
= 1,47 𝑅𝑒𝛿 (3.9)
𝑘𝑙

válida portanto para 𝑅𝑒𝛿 ≤ 30 – regime laminar não ondulante, sendo o 𝑅𝑒 calculado para a
espessura na extremidade inferior da placa (x=L). Para os outros regimes devem usar-se outras
correlações, apresentadas na Figura 3.3.
Para contornar o facto de 𝑅𝑒𝛿 não ser conhecido sem saber 𝛿 ou 𝑚̇𝑙 , pode definir-se um
parâmetro de condensação
𝑘𝑙 𝐿(𝑇𝑠𝑎𝑡 −𝑇𝑠𝑢𝑝 )
𝑃= ′ (𝜈 2 ⁄𝑔 ) 1/3 (3.10)
𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑙

que permite efetuar diretamente o cálculo do coeficiente de transferência, sem necessidade de


um processo iterativo. A Figura 3.4 apresenta as correlações com a utilização deste parâmetro.

135
Capítulo 3 – Condensação em filme

Figura 3.3 – Correlações para cálculo do coeficiente médio de condensação em placas verticais, nos diferentes
regimes de escoamento do filme. Adaptado de [1].

Figura 3.4 – Correlações para cálculo do coeficiente médio de condensação em placas verticais, nos diferentes
regimes de escoamento do filme, usando o parâmetro P. Adaptado de [1].

Existem também correlações para outras geometrias. Para uma placa inclinada, fazendo um
ângulo 𝜃 ≤ 60º com a vertical (com condensação na face superior da placa), é razoável
substituir 𝑔 por 𝑔 cos θ, o que no caso laminar se traduz num coeficiente menor, dado por
ℎ̅𝐿 = ℎ̅𝐿, 𝑣𝑒𝑟𝑡𝑖𝑐𝑎𝑙 (cos θ)1/4 (3.11)

Quanto à condensação no exterior de tubos, há a distinguir tubos horizontais de tubos verticais


– Figura 3.5.

136
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

a b
Figura 3.5 – Condensação no exterior de um tubo vertical (a) ou horizontal (b), e respetivos parâmetros.

Nos tubos verticais podem usar-se as equações para placas verticais, desde que o diâmetro do
tubo seja muito maior que a espessura do filme, o que acontece quase sempre. Para tubos
horizontais isolados de diâmetro D:
3 ′ 1/4
𝑔𝜌 (𝜌 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣
ℎ̅𝐷 = 0,729 [ 𝜇 𝑙(𝑇 𝑙 −𝑇 )𝐷
] (3.12)
𝑙 𝑠𝑎𝑡 𝑠𝑢𝑝

No caso da condensação num conjunto de tubos horizontais – feixe de tubos – o filme de


condensado escorre para os tubos situados a nível inferior, o que aumenta a espessura de filme
nesses tubos, reduzindo o coeficiente médio – ver Figura 3.6. Pode usar-se a equação (3.12),
substituindo 𝐷 por 𝑁𝑡 𝐷, em que 𝑁𝑡 é o número de tubos alinhados na vertical.

Figura 3.6 – Condensação no exterior de um feixe de tubos.

Para a condensação no exterior de uma esfera de diâmetro D pode usar-se uma correlação
semelhante à equação (3.12):
3 ′ 1/4
𝑔𝜌 (𝜌 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣
ℎ̅𝐷 = 0,826 [ 𝜇 𝑙(𝑇 𝑙 −𝑇 )𝐷
] (3.13)
𝑙 𝑠𝑎𝑡 𝑠𝑢𝑝

cuja única diferença reside no coeficiente – 0,836 em vez de 0,729.


Note-se que nos cilindros horizontais e esferas não há necessidade de mais que uma correlação,
pois atendendo às dimensões típicas não ocorre o regime turbulento.

137
Capítulo 3 – Condensação em filme

3.4 Problemas práticos resolvidos (P3.1 a P3.7)


Os problemas que se seguem exemplificam a aplicação das correlações vistas para cálculo da
transferência de calor quando há condensação em filme, em diferentes geometrias, fluidos e
condições operativas.

P3.1
A superfície exterior de um tubo vertical de 1 m de altura, com
um diâmetro de 80 mm, está exposta a vapor de água à pressão
atmosférica e é mantida a 50ºC através de água de
arrefecimento que circula no interior.
Calcule a potência transferida para a água e o caudal de vapor
condensado na superfície.
Analise o efeito do comprimento do tubo e a sua colocação na
horizontal.

Resolução e discussão

Ao contactar com a superfície exterior do tubo, a temperatura inferior à de saturação, o vapor


de água irá condensar, formando um filme de líquido junto à parede, como visto antes.
As propriedades da água necessárias são:
a Tsat=100ºC: v=0,596 kg/m3, ∆ℎ𝑙𝑣 =2257 kJ/kg;
a 75ºC: l=975 kg/m3, cpl =4193 J/kgK, l=375x10-6 kg/ms, kl=0,668 W/mK, l=385x10-9 m2/s
Podemos admitir que a condensação se passa como numa placa vertical, devido à reduzidíssima
espessura do filme, que avaliaremos posteriormente. Para calcular o coeficiente de transferência
de calor vamos recorrer às equações para uma placa vertical, usando o parâmetro P da equação
(3.10), de modo a facilitar o cálculo:

∆ℎ𝑙𝑣 = ∆ℎ𝑙𝑣 + 0,68 𝑐𝑝𝑙 (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 ) = 2257 + 0,68 × 4,193 × 50 = 2400 kJ/kg
𝑘𝑙 𝐿(𝑇𝑠𝑎𝑡 −𝑇𝑠𝑢𝑝 ) 0,668×1×(100−50)
𝑃= ′ (𝜈 2 ⁄𝑔 )1/3
= 375×10−6 ×2400×103×((385×10−9 )2⁄9,8)1/3 = 1501
𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑙

Recorrendo à Figura 3.4, identificamos o regime de escoamento do líquido como laminar


ondulado, sendo o coeficiente:
𝑘𝑙 0,668
ℎ̅𝐿 = 2 1/3 (0,68𝑃 + 0,89)0,82 = 2 1/3
(0,68 × 1501 + 0,89)0,82 =
𝜈 (385×10−9 )
( 𝑙) 𝑃 ( ) ×1501
𝑔 9,8

= 5300 W/m2 K
A partir do coeficiente podemos calcular a potência transferida, e depois o caudal condensado:
𝑄̇ = ℎ̅𝐿 𝜋𝐷𝐿 × (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 ) = 5300 × 𝜋 × 0,08 × 1 × (100 − 50) = 66,6 kW
𝑀̇𝑙 = 𝑄̇ ⁄∆ℎ𝑙𝑣

= 0,0276 kg/s
Podemos calcular agora a espessura do filme líquido na extremidade do tubo, usando a equação

(3.1) com ∆ℎ𝑙𝑣 . Obtém-se 𝛿(𝐿) = 0,218 mm, muito inferior ao diâmetro do tubo, validando a
hipótese de considerar a superfície como uma placa vertical.
Também podemos calcular o número de Reynolds do escoamento de condensado, que é

138
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

3
4𝑔𝜌𝑙2 𝛿(𝐿)3 4×9,8×9752 ×(0,218×10−3 )
𝑅𝑒𝛿,𝐿 = = = 915
3𝜇𝑙2 3×(375×10−6 )2

confirmando a existência do regime laminar ondulado na extremidade do tubo.


Vamos agora avaliar o efeito do comprimento do tubo, fazendo-o aumentar desde 1 até 1,7 m.
Para tal, podemos usar um valor do parâmetro P que depende linearmente de L, sendo neste
caso 𝑃 = 1501 𝐿. Substituindo na equação que dá ℎ̅𝐿 no regime laminar ondulado, e na
potência, obtiveram-se os valores representados no gráfico abaixo.

O coeficiente vai diminuindo quando o comprimento de tubo aumenta, uma vez que a espessura
do filme líquido vai aumentando, diminuindo o coeficiente médio. No entanto, a potência
calorífica aumenta, porque ao aumentar o comprimento aumenta proporcionalmente a área de
transferência (esse aumento é maior que a diminuição do coeficiente).
O comprimento 𝐿 = 1,7 m corresponde ao fim do regime laminar ondulado (𝑃 = 2530),
passando a haver regime turbulento. Ao usar esse valor na correlação para regime turbulento, a
qual depende do número de Prandtl do líquido (igual a 2,35), obtém-se ℎ̅𝐿 = 5011 W/m2K,
valor superior ao que se obtém com a correlação para regime laminar ondulado (4806).
Ao surgir a turbulência o coeficiente médio de transferência aumenta. Se o comprimento do
tubo for de 2 m o coeficiente passará a ser ℎ̅𝐿 = 5219 W/m2K.
Se o tubo (com 𝐿 = 1 m) for colocado na horizontal, aplicando a equação (3.12):
3 ′ 1/4 1/4
𝑔𝜌 (𝜌 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 9,8×975×(975−0,596)×0,6683 ×2400×103
ℎ̅𝐷 = 0,729 [ 𝜇 𝑙(𝑇 𝑙 −𝑇 ] = 0,729 [ ] =
𝑙 )𝐷
𝑠𝑎𝑡 𝑠𝑢𝑝 375×10−6 ×(100−50) ×0,08

= 5951 W/m2 K

O caudal de condensado será 𝑀̇𝑙 = 0,0312 kg/s e 𝑅𝑒𝛿 = 166 (escoamento laminar do filme).
Assim, é mais vantajoso colocar o tubo horizontalmente. Mesmo com escoamento laminar, a
mais reduzida espessura do filme líquido faz com que o coeficiente de transferência seja
bastante superior. Por este motivo, os condensadores tubulares, com condensação no exterior
dos tubos, usam sempre tubos horizontais.

139
Capítulo 3 – Condensação em filme

P3.2
Vapor de água saturado e à pressão atmosférica entra em
contacto com uma placa vertical de 2,5 m de altura, que pode
ser mantida a diferentes temperaturas, entre 50 e 90ºC.
Represente a variação da potência calorífica transferida com a
diferença de temperatura entre o vapor e a placa.
Faça a mesma representação para uma placa com metade da
altura.
Resolução e discussão

Temos então condensação em filme numa placa vertical, variando a diferença de temperatura
entre o vapor saturado (a 100ºC) e a placa. Ao variar essa diferença de temperatura varia o
coeficiente médio de transferência, como se vê na equação (3.3) para regime laminar.
Vamos quantificar essa variação, e a da potência transferida, fazendo também variar todas as
propriedades físicas relevantes: as propriedades do líquido consideradas à temperatura média

(aritmética) entre 100ºC e a temperatura da placa, sendo 𝜌𝑣 e ∆ℎ𝑙𝑣 consideradas a 100ºC; ∆ℎ𝑙𝑣
variará ligeiramente, por variar 𝑇𝑠𝑢𝑝 .
Assim, foi desenvolvido um programa para repetir o cálculo para várias temperaturas 𝑇𝑠𝑢𝑝 ,
desde 50 até 90ºC, usando o parâmetro P e os limites e equações da Figura 3.4. Os cálculos
foram repetidos para uma altura da placa de 2,5 m e 1,25 m. O gráfico seguinte resume os
resultados para a potência em função da temperatura da placa.

Para cada uma das alturas a potência diminui quando 𝑇𝑠𝑢𝑝 aumenta (diminui a diferença de
temperaturas). Para a altura de 2,5 m verifica-se que o regime se torna turbulento para uma
temperatura da placa menor que 76ºC; acima de 76ºC o regime é laminar ondulado; a transição
conduz à descontinuidade nas curvas (corresponde a 𝑃 = 2530), mais notória para o
coeficiente. O coeficiente é praticamente constante entre 50 e 70ºC, quando existe regime
turbulento.
Para a altura de 1,25 m o regime é sempre laminar ondulado, variando P entre 582 e 1843.
Assim, não se verificam descontinuidades nas curvas.

140
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P3.3

O condensador de uma central térmica é composto por vários tubos horizontais. No exterior
condensa vapor de água a 0,135 bar, e no interior circula água a uma temperatura média de
20ºC. Os tubos são de aço inox (k=15 W/mK), com um diâmetro externo de 30 mm e interno
de 26 mm. O caudal em cada tubo é de 0,25 kg/s.
Analise o efeito do caudal de água no comportamento do condensador.
Resolução e discussão

Neste problema, em cada tubo do condensador transfere-se calor em regime permanente entre
o vapor (no exterior) e a água (no interior). Há condensação em filme no exterior do tubo e
convecção forçada no interior, para além da condução na parede do tubo. Assim, poderemos
representar o problema esquematicamente como na figura seguinte, recorrendo às resistências
térmicas respetivas.

No entanto, devemos notar que a resistência exterior (de condensação) depende do coeficiente
respetivo, que por sua vez depende da temperatura da superfície exterior (𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 ), que não é
conhecida.
Podemos igualar a potência de condensação à que passa para o interior do tubo (por unidade de
comprimento de tubo):
𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 −𝑇𝑖𝑛𝑡
ℎ̅𝑒𝑥𝑡 𝜋𝐷𝑒𝑥𝑡 (𝑇𝑠𝑎𝑡 −𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 ) = 𝑙𝑛(𝐷𝑒𝑥𝑡 /𝐷 ) 1
𝑖𝑛𝑡 +̅
2𝜋𝑘𝑡 ℎ𝑖𝑛𝑡 𝜋𝐷𝑖𝑛𝑡

E, substituindo o coeficiente exterior pela equação (3.12), considerando que não há interação
entre tubos:
1/4
𝑔𝜌 (𝜌 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙3 ∆ℎ𝑙𝑣

𝑇 −20
𝑙 𝑙
0,729 [𝜇 (52−𝑇 ] 𝜋𝐷𝑒𝑥𝑡 (52−𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 ) = 𝑙𝑛(𝐷𝑒𝑥𝑡 /𝐷𝑡,𝑒𝑥𝑡)
𝑙 𝑡,𝑒𝑥𝑡 ) 𝐷𝑒𝑥𝑡 𝑖𝑛𝑡 +̅
1
2𝜋𝑘𝑡 ℎ𝑖𝑛𝑡 𝜋𝐷𝑖𝑛𝑡

equação que, após utilização das propriedades físicas e geométricas, permite calcular 𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 .
As propriedades da água necessárias são:
a 20ºC, p=1 bar: ág=998 kg/m3, cp,ág =4184 J/kgK, ág=0,001 kg/ms, kág=0,598 W/mK;
a Tsat=52ºC, p=0,135 bar: v=0,0904 kg/m3, ∆ℎ𝑙𝑣 =2377 kJ/kg, l=987 kg/m3, cpl=4182 J/kgK,
l=0,000531 kg/ms, kl=0,645 W/mK, l=5,376x10-7 m2/s
Note-se a utilização de propriedades do líquido saturado à temperatura de saturação, em vez da
mais correta média entre essa e a temperatura exterior do tubo, por esta última ser desconhecida

- a avaliar. Note-se ainda que na equação acima ∆ℎ𝑙𝑣 depende também de 𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 .
141
Capítulo 3 – Condensação em filme

Quanto à convecção interior, não sendo dado o comprimento do tubo, vamos admitir que ele é
muito longo, sendo o coeficiente de convecção médio igual ao da zona desenvolvida, e dado
pela equação de Dittus-Boelter (o regime é turbulento). Então obtêm-se:
4𝑀̇á𝑔 4×0,25
𝑅𝑒𝐷,𝑖𝑛𝑡 = 𝜋𝐷 = 𝜋×0,026×0,001 = 12243
𝑖𝑛𝑡 𝜇á𝑔

𝑘 0,598
ℎ̅𝑖𝑛𝑡 = 𝐷 á𝑔 0,023 𝑅𝑒 0,8 𝑃𝑟 0,4 = 0,026 × 0,023 × 122430,8 × 7,000,4 = 2146 W/m2K
𝑖𝑛𝑡

Temos então possibilidade de resolver a equação anterior para cálculo de 𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 :


1/4
𝑔𝜌𝑙 (𝜌𝑙 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙3 (∆ℎ𝑙𝑣 +0,68 𝑐𝑝𝑙 (52−𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 )) 𝑇 −20
0,729 [ ] 𝜋𝐷𝑒𝑥𝑡 (52−𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 ) = 𝑙𝑛(𝐷𝑒𝑥𝑡 /𝐷𝑡,𝑒𝑥𝑡)
𝜇𝑙 (52−𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 ) 𝐷𝑒𝑥𝑡 𝑖𝑛𝑡 +̅
1
2𝜋𝑘𝑡 ℎ𝑖𝑛𝑡 𝜋𝐷𝑖𝑛𝑡

que resulta em
1/4 3/4
43,5 × (2377 × 103 + 2844 × (52 − 𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 )) (52−𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 ) =

= 138,44 × (𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 − 20)


e com aplicação de um método numérico permite obter:
𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 = 48,9ºC
Susbstituindo 𝑇𝑡,𝑒𝑥𝑡 em algumas das equações anteriores obtêm-se:
ℎ̅𝑒𝑥𝑡 = 13673 W/m2K
𝑄̇ = 3995 W/m
𝑀̇𝑙 = 𝑄̇ ⁄∆ℎ𝑙𝑣

= 0,00167 kg/s/m
O coeficiente de condensação é bastante elevado, pelo que a temperatura exterior do tubo está
próxima da de saturação do vapor. Assim, o erro nas propriedades do condensado (que não
foram tomadas à temperatura média) é baixo. Note-se que a resistência térmica dominante é a
de convecção interior, pelo que atuar na sua redução tem bastante impacto.
Nesse sentido, avaliamos de seguida o efeito do aumento do caudal de água no interior do tubo,
fazendo-o variar entre 0,25 kg/s (𝑣𝑚 = 0,47 m/s, situação anterior) e 2,5 kg/s (𝑣𝑚 = 4,7 m/s).
Fazendo variar também as propriedades do condensado, usando a temperatura média,
obtiveram-se os valores do gráfico seguinte.

142
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

O aumento do caudal de 0,25 kg/s para 1,5 kg/s praticamente duplica a potência transferida. A
temperatura da superfície diminui com o aumento do caudal de água, reduzindo cerca de 5ºC
para um caudal de 1,5 kg/s. A partir deste valor de caudal (𝑣𝑚 = 2,8 m/s) as variações são
menos acentuadas – diminui o impacto do aumento do caudal de água.

143
Capítulo 3 – Condensação em filme

P3.4
Vapor de água saturado à pressão atmosférica,
proveniente de um processo químico, condensa na
superfície interior de um recipiente cilíndrico.
O recipiente, com a parede interior a 95ºC, mantida
constante através de um banho de água no exterior, tem
uma altura de 30 cm e um diâmetro de 20 cm.
Determine ao fim de quanto tempo fica o recipiente
cheio de água. Considere que ocorre condensação em
filme, em regime laminar não ondulado.

Resolução e discussão

Trata-se de um problema em que a massa de água contida vai aumentando ao longo do tempo,
e portanto instacionário. Mas podemos relacionar a variação da massa de água com a água que
condensa, devido à transferência de calor para a parede interior (mais fria).
As propriedades da água necessárias são:
a Tsat=100ºC: v=0,596 kg/m3, ∆ℎ𝑙𝑣 =2257 kJ/kg;
a 97,5ºC: l=960 kg/m3, cpl =4213 J/kgK, l=289x10-6 kg/ms, kl=0,676 W/mK.
Então, o balanço mássico de água dirá que, em cada instante, a variação da massa de água
contida no recipiente é igual ao caudal que nesse instante condensa:
𝑑𝑀á𝑔
= 𝑀̇𝑙
𝑑𝑡

Para expressar a massa de água contida vamos considerar a água acumulada no fundo do
recipiente, desprezando a que está contida no filme que escorre junto à parede. Assim,
recorrendo à altura L da figura abaixo – altura sem água – podemos escrever
𝑑𝑀á𝑔 𝜋𝐷 2 𝑑(𝐻−𝐿) 𝜋𝐷 2 𝑑𝐿
= 𝜌𝑙 = −𝜌𝑙
𝑑𝑡 4 𝑑𝑡 4 𝑑𝑡

O sinal negativo traduz que quando L diminui a massa contida aumenta. Quanto ao caudal que
condensa, vamos admitir que se trata de uma placa vertical (desprezando a curvatura), e recorrer
à relação com o coeficiente de transferência de calor e respetivas temperaturas:
144
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

̅ 3 ′ 1/4
ℎ𝐿 𝜋𝐷𝐿 𝑔𝜌𝑙 (𝜌𝑙 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 𝜋𝐷𝐿
𝑀̇𝑙 = 𝑄̇ ⁄∆ℎ𝑙𝑣

= ∆ℎ ′ (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 ) = 0,943 [ 𝜇 (𝑇 ] ′ (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 )
𝑙𝑣 −𝑇 ) 𝐿 𝑙 𝑠𝑎𝑡 𝑠𝑢𝑝 ∆ℎ𝑙𝑣

admitindo, como indicado, que a condensação se dá em regime laminar não ondulado (ℎ̅𝐿 dado
pela equação (3.3)), e relembrando que

∆ℎ𝑙𝑣 = ∆ℎ𝑙𝑣 + 0,68 𝑐𝑝𝑙 (100 − 95) = 2271 kJ/kg
O caudal condensado varia então com o comprimento L, e reproduzindo o balanço mássico
temos:
1/4
𝜋𝐷 2 𝑑𝐿 𝑔𝜌𝑙 (𝜌𝑙 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙3 ∆ℎ𝑙𝑣

𝜋𝐷𝐿
−𝜌𝑙 = 0,943 [ ] ′ (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 )
4 𝑑𝑡 𝜇𝑙 (𝑇𝑠𝑎𝑡 −𝑇𝑠𝑢𝑝 ) 𝐿 ∆ℎ𝑙𝑣

ou
3/4
𝑑𝐿 4×0,943×𝑔1/4 𝑘𝑙 3/4 3/4
=− ′ 3/4 𝜇 1/4 𝐷
(𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 ) 𝐿
𝑑𝑡 𝜌𝑙0,5 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑙

Utilizando as propriedades e temperaturas em causa, obtém-se


𝑑𝐿
= −3,520 × 10−4 𝐿3/4
𝑑𝑡

equação que pode ser integrada, sujeita à condição inicial 𝐿(𝑡 = 0) = 𝐻, resultando em
𝐿1/4 = 𝐻1/4 − 8,800 × 10−5 𝑡
Quando o recipiente ficar cheio L=0, sendo
𝑡 = 8410 s = 140 min = 2,34 horas
Verifiquemos a hipótese considerada de condensação em regime laminar não ondulado. Para
isso, vamos calcular o parâmetro P quando 𝐿 = 0,3 m, ou seja, no início do processo:
𝑘𝑙 𝐿(𝑇𝑠𝑎𝑡 −𝑇𝑠𝑢𝑝 ) 0,668×0,3×(100−95)
𝑃= ′ (𝜈 2 ⁄𝑔 )1/3
= 375×10−6 ×2271×103×((385×10−9 )2⁄9,8)1/3 = 47,4 > 15,8
𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑙

Nesta altura o valor de P é ligeiramente superior ao limite, embora reduza ao longo do tempo.
O erro cometido não é muito significativo (ver Figura 3.4).
O gráfico seguinte representa a evolução temporal de L. Como é patente, o recipiente fica
praticamente cheio (pelo menos 90%) ao fim de 60 minutos.

145
Capítulo 3 – Condensação em filme

P3.5
Num permutador de calor condensa-se vapor de água a 0,1 bar
no exterior de um feixe de 100 tubos dispostos num arranjo
quadrado (tubos alinhados). Os tubos têm um diâmetro
exterior de 8 mm e a superfície é mantida à temperatura média
de 30ºC, através de água que circula no seu interior.
Sem alterar o número total de tubos ou o seu diâmetro, nem a
temperatura superficial, analise o efeito de diferentes arranjos
dos tubos.
Resolução e discussão

Neste problema existe condensação no exterior de um feixe de tubos, geometria para a qual se
pode aplicar a correlação (3.12) para cálculo do coeficiente de transferência, introduzindo o
número de tubos alinhados na vertical (𝑁𝑡 ).
A temperatura de saturação do vapor, a 0,1 bar, é de aproximadamente 46ºC, sendo as
propriedades relevantes da água:
a Tsat=46ºC: v=0,067 kg/m3, ∆ℎ𝑙𝑣 =2393 kJ/kg;
a 38ºC: l=993 kg/m3, cpl =4178 J/kgK, l=703x10-6 kg/ms, kl=0,627 W/mK.
Então, na configuração inicial (10 x 10 tubos alinhados) o coeficiente médio de condensação
será, com 10 tubos alinhados na vertical:
3 ′ 1/4 1/4
𝑔𝜌𝑙 (𝜌𝑙 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 9,8×993×(993−0,067)×0,6273 ×2438×103
ℎ̅𝐷 = 0,729 [𝜇 (𝑇 ] = 0,729 [ ] =
𝑙 −𝑇 ) 𝑁 𝐷
𝑠𝑎𝑡 𝑠𝑢𝑝 𝑡 703×10−6 ×(46−30) ×10×0,008

= 6534 W/m2 K
A potência transferida e o caudal condensado, por metro de comprimento dos tubos, serão:
𝑄̇ = ℎ̅𝐷 𝐴(𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 ) = 6534 × 100 × 𝜋 × 0,008 × (46 − 30) = 262,7 kW/m
𝑀̇𝑙 = 𝑄̇ ⁄∆ℎ𝑙𝑣

= 0,108 kg/s/m
Consideremos agora diferentes arranjos dos tubos, começando por desalinhar os tubos (10 x 10
tubos desalinhados), como esquematiza a figura:

Neste arranjo existem sempre 5 tubos na mesma linha vertical, passando o coeficiente médio
de condensação a ser de 7770 W/m2K e a potência de 312,4 kW/m.
Outras configurações possíveis, mantendo os mesmos 100 tubos são:
146
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

20 x 5 tubos alinhados: 20 x 5 tubos desalinhados:

Note-se que ter 20 x 5 tubos alinhados ou 10 x 10 tubos desalinhados conduz aos mesmos
resultados, já que existem nos 2 casos 5 tubos na mesma linha vertical. Com 20 x 5 tubos
desalinhados o número médio de tubos na vertical a usar na equação é de 2,5.
Pode ainda reduzir-se mais o número de tubos na mesma linha vertical, usando 50 x 2 tubos (2
na vertical), de preferência desalinhados (equivalendo a 100 x 1). No entanto, a dimensão
horizontal aumenta proporcionalmente ao número de tubos na horizontal, o que pode levantar
problemas de espaço.
O gráfico seguinte representa os resultados (potência calorífica) dos vários arranjos.

147
Capítulo 3 – Condensação em filme

P3.6
Para arrefecer módulos eletrónicos é usual colocá-los num
banho de fluorcarboneto líquido saturado. O calor
libertado pelo módulo para o líquido provoca a ebulição
deste, e o vapor gerado condensa depois ao contactar com
a superfície exterior de um tubo mais frio, onde circula
água.
Considere um tubo horizontal reto (sem curvas) de
espessura desprezável e 10 mm de diâmetro, em que a
água entra a 12ºC e sai a 42ºC. O fluxo de calor no módulo
é de 105 W/m2, numa área de 100 mm x 100 mm. A
temperatura de saturação do fluorcarboneto é de 57ºC.
As propriedades relevantes do fluorcarboneto são:
a Tsat=57ºC: v=13,4 kg/m3, ∆ℎ𝑙𝑣

≈ ∆ℎ𝑙𝑣 =84400 J/kg;
líquido: l=1619 kg/m , cpl =1100 J/kgK, l=440x10-6 kg/ms, kl=0,0537 W/mK.
3

Calcule o caudal de água e o comprimento de tubo necessários.


Resolução e discussão

Neste caso sabemos a potência que o tubo (e a água) têm de retirar, que tem de ser transferida
por condensação do fluorcarboneto no tubo horizontal.
Comecemos por calcular o respetivo valor:
𝑄̇ = 𝑄̇𝑚ó𝑑 = (𝑞̇ 𝐴)𝑚ó𝑑 = 105 × 0,1 × 0,1 = 1000 W

Sabendo o aumento de temperatura da água no tubo, é fácil calcular o caudal necessário:


𝑄̇ 1000
𝑀̇á𝑔 = 𝑐 = 4179×(42−12) = 0,00798 kg/s
𝑝,á𝑔 𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑒𝑛𝑡 )
(𝑇

As propriedades a usar para a água são tomadas a 27ºC (média aritmética entre a entrada e a
saída): ág=997 kg/m3, cp,ág =4179 J/kgK, ág=855x10-6 kg/ms, kág=0,613 W/mK.
A potência transferida por condensação, já calculada, pode relacionar-se com o coeficiente de
condensação e a diferença de temperaturas. Vamos considerar o tubo a uma temperatura média
(𝑇̅𝑡 ), podendo então escrever para a potência de condensação
3 ′ 1/4
𝑔𝜌 (𝜌 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣
ℎ̅𝐷,𝑒𝑥𝑡 𝜋𝐷𝑡 𝐿𝑡 (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇̅𝑡 ) = 0,729 [ 𝜇𝑙 (𝑇𝑙 −𝑇̅ )𝐷
] 𝜋𝐷𝑡 𝐿𝑡 (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇̅𝑡 ) = 1000 W
𝑙 𝑠𝑎𝑡 𝑡 𝑡

Para a evolução de temperatura da água, entre a entrada e a saída, e a sua relação com a
temperatura média do tubo, podemos recorrer a uma equação já vista na convecção forçada
(2.26):
(𝑇̅𝑡 −𝑇á𝑔,𝑠𝑎𝑖 ) ̅
ℎ 𝜋𝐷𝑡 𝐿𝑡
(𝑇̅𝑡 −𝑇á𝑔,𝑒𝑛𝑡 )
= exp (− 𝑀á𝑔
̇ 𝑐
)
á𝑔 𝑝,á𝑔

Definimos então um sistema de equações que permite calcular 𝑇̅𝑡 e 𝐿𝑡 , desde que o coeficiente
médio de convecção tubo-água (interior) seja conhecido. Para calcular este coeficiente vamos
avaliar o regime de escoamento:
4𝑀̇ 4×0,00798
𝑅𝑒á𝑔 = 𝜋𝐷 𝜇á𝑔 = 𝜋×0,01×855×10−6 = 1188
𝑡 á𝑔

148
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Sendo o regime laminar, e considerando a parede do tubo a uma temperatura média constante,
o número de Nusselt para escoamento desenvolvido é igual a 3,66 (Tabela 2.3). Como não
sabemos o comprimento do tubo, vamos admitir que ele é tão longo que o coeficiente de
convecção médio é igual ao da zona desenvolvida, o que verificaremos posteriormente. Então,
vem:
𝑁𝑢 𝑘á𝑔 3,66×0,613
ℎ̅á𝑔 = = = 224 W/m2K
𝐷𝑡 0,01

Podemos então concretizar o sistema de 2 equações encontrado:


1/4
9,8×1619×(1619−13,4)×0,05373 ×84400
0,729 [ ] × 𝜋 × 0,01 × 𝐿𝑡 × (57 − 𝑇̅𝑡 ) = 1000
440×10−6 ×(57−𝑇̅𝑡 )×0,010

𝑇𝑡 −42 224×𝜋×0,010×𝐿𝑡
= exp (− )
𝑇̅𝑡 −12 0,00798×4179

sistema não linear a resolver por método iterativo, que conduz a


𝑇̅𝑡 = 53,7o C
{
𝐿𝑡 = 6,0 m

Vamos agora verificar a hipótese de escoamento desenvolvido no interior do tubo. Em regime


laminar, admitindo o perfil de velocidades desenvolvido desde o início e o perfil térmico em
desenvolvimento, pela equação (2.21) ter-se-á um valor médio de Nusselt:
0,0668 𝑅𝑒á𝑔 𝑃𝑟á𝑔 𝐷𝑡 /𝐿𝑡 0,0668×1188×5,83×0,01/6
̅̅̅̅á𝑔 = 3,66 +
𝑁𝑢 2/3 = 3,66 + = 4,30
1+0,04( 𝑅𝑒á𝑔 𝑃𝑟á𝑔 𝐷𝑡 /𝐿𝑡 ) 1+0,04×(1188×5,83×0,01/6)2/3

que representa um aumento de 17% no coeficiente, que virá ℎ̅á𝑔 = 264 W/m2K.
Uma nova iteração de cálculo, usando este valor do coeficiente no sistema de equações anterior,
conduz a:
𝑇̅𝑡 = 53,0o C
{
𝐿𝑡 = 5,3 m
Note-se que se aumentassemos o caudal de água de modo a ter regime de escoamento
turbulento, conseguiríamos reduzir significativamente o comprimento de tubo necessário, uma
vez que a resistência de convecção no interior do tubo é bastante maior que a resistência de
condensação no exterior (usando os valores da última iteração: ℎ̅á𝑔 = 264; ℎ̅𝐷,𝑒𝑥𝑡 = 1501
W/m2K). Um caudal 10 vezes maior (0,0798 kg/s, a que corresponde uma velocidade média
de 1 m/s) permite regime turbulento, conseguindo-se, mesmo sem contabilizar o comprimento
de entrada (que neste caso será pouco importante), ℎ̅á𝑔 = 5192 W/m2K. Com esse coeficiente
obtém-se 𝑇̅𝑡 = 19,8o C, e consegue-se um comprimento 𝐿𝑡 = 0,98 m. Nesse caso a água sairá
a 15ºC e ℎ̅𝐷,𝑒𝑥𝑡 = 874 W/m2K, passando a condensação a oferecer a maior resistência térmica,
devido à redução da temperatura média do tubo (há mais condensado).

149
Capítulo 3 – Condensação em filme

P3.7
Uma esfera de alumínio com um diâmetro de 10 cm,
inicialmente a 50ºC, é colocada num ambiente de vapor
saturado a 1 atm. Estime o tempo necessário a que a esfera
atinja o equilíbrio térmico, e calcule a massa de condensado
formado durante esse período de tempo.
As propriedades relevantes do alumínio são: =2702 kg/m3,
cp=903 J/kgK, k=237 W/mºC.
Resolução e discussão

Neste caso a esfera vai variar a sua temperatura ao longo do tempo, ou seja, trata-se de um
problema em regime instacionário. Para quantificação da transferência por condensação na
superfície da esfera vamos admitir que em cada instante se atinge o regime permanente (quase
estacionário).
Quanto à variação da temperatura no interior da esfera, quando comparada com a exterior,
vamos admitir que é desprezável, ou seja, vamos admitir a esfera como um sistema global, a
temperatura uniforme em cada instante. Esta hipótese será avaliada posteriormente, quando
calcularmos os coeficientes de condensação, que variam no tempo.
Para as propriedades da água vamos considerar valores constantes:
a Tsat=100ºC: v=0,596 kg/m3, ∆ℎ𝑙𝑣 =2257 kJ/kg;
líquido a 87,5ºC: l=967 kg/m3, cpl =4203 J/kgK, l=324x10-6 kg/ms, kl=0,672 W/mK.
Para o líquido (condensado) foi considerada a temperatura média (aritmética) entre 75ºC

(início) e 100ºC (fim). Quanto a ∆ℎ𝑙𝑣 = ∆ℎ𝑙𝑣 + 0,68 𝑐𝑝𝑙 (100 − 87,5) = 2293 kJ/kg
Então, um balanço ao sistema global (esfera à temperatura 𝑇) traduz-se por:
4𝜋(𝐷/2)3 𝑑𝑇
𝜌𝑎𝑙𝑢𝑚 𝑐𝑝,𝑎𝑙𝑢𝑚 = ℎ̅𝐷,𝑒𝑥𝑡 4𝜋(𝐷/2)2 (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇)
3 𝑑𝑡

com ℎ̅𝐷,𝑒𝑥𝑡 dado pela equação (3.13), vindo


′ 1/4
4𝜋(𝐷/2)3 𝑑𝑇 𝑔𝜌𝑙 (𝜌𝑙 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙3 ∆ℎ𝑙𝑣
𝜌𝑎𝑙𝑢𝑚 𝑐𝑝,𝑎𝑙𝑢𝑚 = 0,826 [ ] 4𝜋(𝐷/2)2 (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇)
3 𝑑𝑡 𝜇𝑙 (𝑇𝑠𝑎𝑡 −𝑇) 𝐷

ou
1/4
𝑑𝑇 6 𝑔𝜌𝑙 (𝜌𝑙 −𝜌𝑣 )𝑘𝑙3 ∆ℎ𝑙𝑣

(𝑇𝑠𝑎𝑡 −𝑇)3/4
=𝜌 × 0,826 [ ] 𝑑𝑡
𝑎𝑙𝑢𝑚 𝑐𝑝,𝑎𝑙𝑢𝑚 𝐷 𝜇𝑙 𝐷

ou, substituindo as propriedades e o diâmetro:


1/4
𝑑𝑇 6 9,8×967×(967−0,596)×0,6723 ×2293×103
(100−𝑇)3/4
= 2702×903×0,1 × 0,826 [ ] 𝑑𝑡 =
324×10−6 ×0,1

= 0,4279 𝑑𝑡
A integração desta equação, sujeita à condição 𝑇|𝑡=0 = 50ºC, é
(100 − 𝑇)1/4 = 501/4 − 0,1070 𝑡
A esfera atinge 𝑇 = 100ºC, quando
𝑡 = 24,9 s

150
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

O gráfico seguinte representa a rápida evolução da temperatura da esfera. Ela é rápida devido
às propriedades da esfera e elevados coeficientes de transferência (condensação).

Vamos avaliar a hipótese de sistema global, através do cálculo do número de Biot. No início
(T=50ºC) o coeficiente de condensação é igual a
3 ′ 1/4
𝑔𝜌 (𝜌 −𝜌 )𝑘 ∆ℎ
ℎ̅𝐷,𝑒𝑥𝑡 = 0,826 [ 𝜇𝑙 (𝑇𝑙 𝑣−𝑇)𝑙 𝐷 𝑙𝑣 ] =
𝑙 𝑠𝑎𝑡

1/4
9,8×967×(967−0,596)×0,6723 ×2293×103
= 0,826 [ ] = 6542 W/m2K
324×10−6 ×(100−50)×0,1

O número de Biot nessa altura será


̅𝐷,𝑒𝑥𝑡 𝐿𝑐
ℎ ̅𝐷,𝑒𝑥𝑡 (𝐷/6)
ℎ 6542×(0,1/6)
𝐵𝑖 = = = = 0,46
𝑘𝑎𝑙𝑢𝑚 𝑘𝑎𝑙𝑢𝑚 237

ou seja, superior ao limite de 0,1 definido na secção 1.2.1. E o 𝐵𝑖 irá aumentar ainda mais ao
longo do tempo, porque a diferença de temperatura (vapor-esfera) vai diminuir e o coeficiente
vai aumentar. Assim, a hipótese de sistema global não é válida, permitindo apenas uma
aproximação grosseira. A esfera demorará mais tempo a atingir os 100ºC, em particular no
centro. Mas o método de cálculo 1D instacionário visto em 1.2.2 também não é aplicável, pois
não é válido com coeficientes de transferência variáveis no tempo.
Para obter uma evolução de temperaturas mais próxima da realidade, foi aplicado um método
numérico 1D (de volumes finitos), dividindo a esfera em elementos de volume (cascas
esféricas), que se traduziu na definição de 11 nodos igualmente espaçados (5 mm) ao longo do
raio da esfera (de 50 mm). Foi usado um passo de integração no tempo de 1 segundo. O cálculo
ao longo do tempo traduz-se no gráfico seguinte, que apresenta as temperaturas no centro, a
meio e na superfície da esfera, e a sua comparação com o resultado do método do sistema
global. O mesmo gráfico mostra a evolução do coeficiente de condensação. Note-se que
enquanto com o sistema global a esfera demora cerca de 25 s a atingir o equilíbrio, com o
método numérico 1D (condução radial) demora cerca de 35 s, um tempo superior. Chega a
existir uma diferença de cerca de 10ºC entre o centro e a superfície da esfera. Quanto ao
coeficiente de condensação, aumenta muito rapidamente até valores da ordem das dezenas de
milhar, o que reforça o afastamento da situação de sistema global.

151
Capítulo 3 – Condensação em filme

Vamos agora estimar a massa de água condensada até se atingirem os 100ºC, a partir do cálculo
da energia total recebida pela esfera. Esta é
4𝜋(𝐷/2)3 4𝜋(0,1/2)3
𝑄𝑎𝑙𝑢𝑚 = 𝜌𝑎𝑙𝑢𝑚 𝑐𝑝,𝑎𝑙𝑢𝑚 (𝑇𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 − 𝑇𝑖 ) = 2702 × 903 × (100 − 50)=
3 3

= 63877 J
e é a mesma que o vapor perdeu ao condensar, pelo que
𝑄𝑎𝑙𝑢𝑚 63877
𝑀𝑙 = ′ = 2293×103 = 0,028 kg = 28 g
∆ℎ𝑙𝑣

Note-se que este cálculo da massa condensada não é afetado pela consideração ou não de
sistema global na esfera, uma vez que só depende das temperaturas inicial e final.

152
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

4 Ebulição em reservatório
Tal como na condensação, na ebulição existe mudança de fase. Neste caso a mudança inversa,
ou seja, a passagem de líquido a vapor junto a uma interface sólido-líquido. Estando envolvido
o calor latente de vaporização, os coeficientes de transferência são também usualmente
elevados, quando comparados com os de convecção forçada.
Trataremos apenas a ebulição em reservatório, que ocorre quando o fluido se encontra contido
num recipiente (em repouso). Nesse caso, os movimentos do fluido são provocados pela
diferença de densidades das fases em presença, como acontece na convecção natural (nesse
caso apenas com uma fase). A ebulição em escoamento, que encontra o seu paralelo na
convecção forçada (esta sem mudança de fase), não será abordada neste texto.
4.1 Ebulição saturada e subarrefecida
Para ocorrer ebulição o fluido tem de estar em contacto com uma superfície a uma temperatura
superior à temperatura de saturação ou ebulição para a pressão a que se encontra. Se o fluido
estiver a uma temperatura inferior à de saturação dizemos que se trata de ebulição subarrefecida
ou local. Se estiver a uma temperatura igual à de saturação temos ebulição saturada ou global.
A Figura 4.1 ilustra os dois casos. Durante a ebulição saturada a temperatura do fluido mantém-
se inalterada, transferindo-se calor latente (de vaporização). E a diferença de densidades entre
as 2 fases gera uma força de impulsão adicional, em relação à convecção natural.

Figura 4.1 – Ilustração da ebulição em reservatório subarrefecida e saturada, para a água à pressão atmosférica.

Iremos tratar sobretudo a ebulição saturada. Depois veremos como estimar a transferência de
calor no caso da ebulição subarrefecida.
É de assinalar que a quantificação da transferência de calor quando há ebulição se faz por
correlações empíricas, e não utilizando a metodologia adimensional vista na convecção. Assim,
as correlações existentes, baseadas na experimentação, em vez de expressarem o número de
Nusselt, expressam diretamente o fluxo de calor, ou o coeficiente de transferência de calor.

153
Capítulo 4 – Ebulição em reservatório

4.2 Regimes de ebulição e correlações respetivas


De acordo com a diferença de temperatura entre a superfície (mais quente) e o líquido
(saturado), podem verificar-se diferentes regimes de ebulição. A Figura 4.2 representa esses
regimes, para o caso da água à pressão atmosférica. Curvas semelhantes podem ser obtidas para
pressões diferentes, e fluidos diferentes.

Figura 4.2 – Regimes de ebulição saturada em reservatório. Valores para a água a patm. Adaptado de [2].

Para baixas diferenças de temperatura (até cerca de 5ºC no caso da água a patm), ou seja até ao
ponto A representado na Figura 4.2, não se observam bolhas de vapor, havendo convecção
natural, com o movimento ascendente do líquido junto à superfície mais quente. Pode calcular-
se o coeficiente de transferência, e o fluxo de calor respetivo, utilizando as equações vistas na
convecção natural (em 2.4), sendo o coeficiente proporcional a ∆𝑇 1/4 ou ∆𝑇 1/3, consoante a
geometria e regime.
Para diferenças de temperatura maiores, observa-se a formação de bolhas de vapor junto à
superfície mais quente, que se libertam e sobem no líquido. Até ao ponto B da Figura 4.2
(correspondente a ∆𝑇 ≅ 10ºC no caso da água a patm), as bolhas colapsam no líquido antes de
atingirem a superfície. Para valores maiores e até ao ponto C da Figura 4.2 (∆𝑇 ≅ 30ºC no caso
da água a patm) as bolhas sobem até à superfície, havendo libertação do vapor para o ar exterior.
Ambas as zonas (AB e BC) correspondem ao regime dito de ebulição nucleada. Neste regime,
a correlação mais usada para cálculo do fluxo de calor é a equação de Rohsenow:
3
𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/2 𝑐𝑝,𝑙 (𝑇𝑠𝑢𝑝 −𝑇𝑠𝑎𝑡 )
𝑞̇ = 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ ] [ ] (4.1)
𝜎 𝐶𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙𝑛

em que intervêm várias propriedades do líquido (a tomar a 𝑇𝑠𝑎𝑡 ), o calor latente de vaporização,
a massa específica do vapor e a tensão superficial, 𝜎. Aparecem também 2 coeficientes
empíricos: 𝐶𝑠𝑓 e o expoente n. Estes coeficientes dependem da combinação sólido-fluido, e do
acabamento superficial do sólido – ver Tabela 4.1.

154
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Tabela 4.1 – Valores de 𝐶𝑠𝑓 para várias combinações sólido-fluido.

Tabela 4.2 – Tensão superficial (𝜎) na interface sólido-líquido para a água.

Os valores da Tabela 4.1 podem usar-se para qualquer geometria, pois verificou-se que o fluxo
de calor na ebulição nucleada é independente da geometria e orientação da superfície quente.
A Tabela 4.2 apresenta valores da tensão superficial na interface vapor-líquido, para a água.
A correlação de Rohsenow (4.1) expressa uma forte variação do fluxo de ebulição com ∆𝑇,
variando com o cubo da diferença de temperatura. O coeficiente de ebulição pode obter-se
dividindo o fluxo por ∆𝑇, e portanto varia com o quadrado desta diferença. Para a água à pressão
atmosférica o fluxo chega a 1 MW/m2, tendo o coeficiente valores entre 10000 e 30000
W/m2ºC.

Tabela 4.3 – Coeficiente 𝐶𝑐𝑟 para utilização na equação (4.2).

155
Capítulo 4 – Ebulição em reservatório

O ponto C da Figura 4.2 (correspondente a ∆𝑇 ≅ 30ºC no caso da água a patm) designa-se por
fluxo máximo, ou fluxo crítico. O seu valor pode obter-se com
𝜎𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/4
𝑞̇ 𝑐𝑟 = 𝐶𝑐𝑟 ∆ℎ𝑙𝑣 𝜌𝑣 [ ] (4.2)
𝜌𝑣2

sendo independente do material (superfície) e pouco dependente da geometria, dependência que


é traduzida pelo fator 𝐶𝑐𝑟 , que é dado na Tabela 4.3 para diferentes geometrias. Note-se que o
fluxo crítico depende bastante da pressão de saturação, devido sobretudo à dependência da
tensão superficial e do calor latente.
O fluxo crítico corresponde a um máximo relativo, e designa-se por critico porque no caso de
sistemas em que se pode controlar/variar a potência de aquecimento, um aumento para além
desse valor conduzirá a uma temperatura da superfície demasiado elevada, em muitos casos
suficiente para a fusão do material – ver ponto E e valores de ∆𝑇 na Figura 4.2.
Em sistemas em que se controla a temperatura da superfície, ao ultrapassar a ∆𝑇 do ponto C
começam a formar-se bolsas de vapor, resultantes do rebentamento das bolhas antes de se
libertarem da superfície. Forma-se uma película de vapor junto à superfície quente, e devido à
má condutibilidade térmica do vapor, a transferência de calor diminui. Por isso, entre o ponto
C e o ponto D o fluxo diminui, sendo o regime designado por regime de transição, havendo
partes da superfície com bolsas de vapor e partes em contacto com líquido. À medida que a
temperatura aumenta a zona coberta por bolsas de vapor vai aumentando de extensão, até cobrir
toda a superfície.
O ponto D é um ponto de fluxo mínimo (relativo), também designado por ponto de Leidenfrost.
Corresponde a ∆𝑇 ≅ 120ºC no caso da água a patm. A partir do ponto D toda a superfície está
coberta pelo filme de vapor, designando-se esse regime por ebulição em filme. Nessa zona, a
radiação térmica passa a ter também um peso importante na transferência de calor. Podem
encontrar-se correlações para cálculo do fluxo mínimo (em D) e para o fluxo na zona DE em
[1, 2]. No entanto, a esmagadora maioria dos equipamentos para ebulição são projetados para
funcionar no regime de ebulição nucleada, que permite fluxos de calor elevados, sem
necessidade de elevadas temperaturas superficiais (graças aos elevados coeficientes de
transferência de calor).
As equações vistas assumem a existência de ebulição saturada, com todo o líquido à
temperatura de saturação. No caso da ebulição subarrefecida, no regime de ebulição em
𝑛
convecção natural podem calcular-se os coeficientes usando (𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑙𝑖𝑞 ) ou (∆𝑇𝑒𝑥𝑐𝑒𝑠𝑠 + ∆𝑇𝑠𝑢𝑏 )𝑛 .
Na ebulição nucleada a influência do subarrefecimento é desprezável, embora 𝑞̇ 𝑐𝑟 e 𝑞̇ 𝑚𝑖𝑛
aumentem linearmente com ∆𝑇𝑠𝑢𝑏 .
Saliente-se finalmente que é possível utilizar superfícies especiais, concebidas para facilitar e
intensificar o mecanismo de formação e libertação das bolhas de vapor. Há vários materiais e
soluções comercialmente disponíveis. No entanto, na maioria dos casos a informação relativa
a coeficientes de transferência é bastante limitada a fluidos e condições operativas particulares.

156
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

4.3 Problemas práticos resolvidos (P4.1 a P4.6)


Os problemas que se seguem exemplificam a aplicação das correlações vistas para cálculo da
transferência de calor quando há ebulição em reservatório. São considerados exemplos em
regime permanente e também em regime instacionário.

P4.1
Dentro de uma chaleira é colocado 1 litro de água,
inicialmente a 20ºC. A resistência elétrica de
aquecimento é em aço inox polido, tem um
comprimento de 20 cm e 4 mm de diâmetro, e
fornece uma potência à água de 750 W.
Calcule o tempo necessário a que toda a água atinja
100ºC, desde que se liga a resistência.
O coeficiente global de perdas da água para o exterior (a 20ºC) é igual a 10 W/m2K, e ela perde
calor através das paredes laterais e tampa da chaleira, que se podem considerar à temperatura
da água. A água ocupa um diâmetro de 10 cm e uma altura de 12,7 cm.
Depois de se atingir a ebulição (saturada), é retirada a tampa, mas, por esquecimento, a
resistência permanece ligada. Nessa situação, calcule a temperatura da resistência e a massa de
água que permanece na chaleira ao fim de 15 minutos da retirada a tampa.
Resolução e discussão

Temos de considerar 2 situações diferentes: numa 1ª fase a água é aquecida com aumento da
sua temperatura ao longo do tempo; numa 2ª fase, depois de toda a massa de água atingir a
temperatura de ebulição, a água continua a receber calor, mas a sua temperatura não se altera
(o calor recebido é usado para passar a água ao estado de vapor).
Na 1ª fase é razoável admitir a água a uma temperatura uniforme (sistema global), pois, para
além das perdas não serem muito elevadas, o aquecimento provoca movimentos na água que
tendem a uniformizar a temperatura (convecção natural). Assim, temos uma situação de um
corpo (água) que recebe potência calorífica constante (do aquecedor) e perde uma potência em
função da diferença de temperaturas para o exterior. É a situação das equações (1.45) e (1.46),
pelo que podemos escrever
𝑑𝑇
𝜌á𝑔 𝑉á𝑔 𝑐𝑝,á𝑔 𝑑𝑡 = 𝑄̇𝑎𝑞 − (𝑈𝐴)𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 (𝑇 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 )

com a solução
𝑇−𝑇𝑒𝑥𝑡 −𝑄̇𝑎𝑞 /(𝑈𝐴)𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 (𝑈𝐴)𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠
= exp (− 𝜌 𝑡)
𝑇𝑖 −𝑇𝑒𝑥𝑡 −𝑄̇𝑎𝑞 /(𝑈𝐴)𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 á𝑔 𝑉á𝑔 𝑐𝑝,á𝑔

com (𝑈𝐴)𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 igual a


2
(𝑈𝐴)𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 = 10 × (𝜋𝐷á𝑔 𝐻á𝑔 + 𝜋𝐷á𝑔 /4) = 10 × 𝜋 × (0,1 × 0,127 + 0,12 /4) =
= 0,478 W/ºC
Substituindo as temperaturas inicial (20ºC) e final (100ºC), e propriedades da água líquida (a
(20+100)/2):
100−20−750/0,478 0,478
= exp (− 983×0,001×4185 𝑡)
20−20−750/0,478

157
Capítulo 4 – Ebulição em reservatório

que conduz a um tempo igual a


𝑡 = 450,4 s = 7,5 min.
Depois, durante a 2ª fase, passaremos a ter ebulição na água, provocada pelo contacto com a
resistência elétrica mais quente. No entanto, não conhecemos a temperatura desta. Vamos
assumir que ela provoca ebulição nucleada, o que verificaremos posteriormente. Neste regime
de ebulição temos – equação (4.1):
𝑔(𝜌 −𝜌 ) 1/2 𝑐 (𝑇 −𝑇 ) 3
𝑄̇𝑎𝑞 = 𝐴𝑠𝑢𝑝 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ 𝑙𝜎 𝑣 ]
𝑠𝑢𝑝 𝑠𝑎𝑡
[ 𝑝,𝑙 ]
𝐶𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙𝑛

que, com as propriedades da água a 𝑇𝑠𝑎𝑡 = 100ºC, e coeficientes da Tabela 4.1, equivale a
9,8×(957,9−0,60) 1/2
𝑄̇𝑎𝑞 = 𝜋 × 0,004 × 0,20 × 0,282 × 10−3 × 2257 × 103 [ ] ×
0,0589
3
4217×(𝑇𝑠𝑢𝑝 −100)
× [0,013×2257×103×1,751] = 750
e permite calcular
𝑇𝑠𝑢𝑝 = 112,9ºC
temperatura da superfície da resistência que se mantém constante durante a 2ª fase, e que
corresponde ao regime de ebulição nucleada admitido (ver Figura 4.2). O coeficiente de
transferência por ebulição correspondente é igual a 23195 W/m2ºC.
Durante a 2ª fase, nem toda a potência fornecida pela resistência está disponível para a
evaporação da água à superfície do líquido (interface com o ar), porque há perdas para o
exterior. Considerando o coeficiente de perdas conhecido para as paredes laterais, e que a
transferência de calor na superfície se dá só por evaporação (muito mais significativa que a
convecção ou a radiação, devido ao elevado calor latente de vaporização), podemos escrever
um balanço energético formulando que a variação total de energia (na água líquida – a
temperatura constante e igual a 𝑇𝑠𝑎𝑡 – e no vapor de água), igual a:
𝑑(𝑀á𝑔,𝑙 𝑐𝑝,𝑙 𝑇) 𝑑(𝑀á𝑔,𝑣 ℎ𝑣 ) 𝑑𝑀á𝑔,𝑙
+ = 𝑐𝑝,𝑙 𝑇𝑠𝑎𝑡 + ℎ𝑣 𝑀̇𝑣 = −𝑀̇𝑣 ℎ𝑙 + 𝑀̇𝑣 ℎ𝑣 = 𝑀̇𝑣 ∆ℎ𝑙𝑣
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡

é devida à energia fornecida menos as perdas, ou seja:


𝑀̇𝑣 ∆ℎ𝑙𝑣 = 𝑄̇𝑎𝑞 − (𝑈𝐴)𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠,2ª𝑓𝑎𝑠𝑒 (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 )

Então podemos calcular o caudal evaporado à superfície na 2ª fase:


̇
𝑄𝑎𝑞 −(𝑈𝐴)𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠,2ª𝑓 (𝑇𝑠𝑎𝑡 −𝑇𝑒𝑥𝑡 ) 750−0,399×(100−20)
𝑀̇𝑣 = = = 3,182 × 10−4 kg/s
∆ℎ 𝑙𝑣 2257×103

Decorridos 15 min da 2ª fase, a variação de massa de água líquida é


Δ𝑀á𝑔,𝑙 = −𝑀̇𝑣 Δ𝑡 = −3,182 × 10−4 × 15 × 60 = −0,286 kg
o que corresponde a cerca de 30% da massa de água inicial.
Note-se que neste caso as perdas para o exterior (coeficiente de perdas) têm um peso pequeno.
Se o coeficiente de perdas aumentar para o dobro (20 W/m2ºC), o tempo necessário para atingir
100ºC seria de 463 s (mais 13 s), e a massa evaporada na 2ª fase seria de 0,274 kg. Tal depende
do grau de isolamento das paredes da chaleira e também do seu revestimento exterior, devido
à radiação emitida para o exterior (modo que trataremos no capítulo seguinte).

158
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P4.2
A figura representa um dispositivo para experiências de
ebulição. A barra de cobre (k=400 W/mK) está exposta a água
em ebulição na extremidade superior, e tem um aquecedor
elétrico na outra extremidade, estando bem isolada nas outras
fronteiras. São colocados 2 termopares na barra, medindo as
temperaturas em 2 pontos, às distâncias 𝑥1 = 10 mm e 𝑥2 =
25 mm da extremidade superior.
A experiência, com ebulição nucleada em regime permanente
na água saturada à pressão atmosférica, permite calcular o
coeficiente 𝐶𝑠𝑓 de uma superfície revestida.
Nessas condições, as temperaturas registadas são 𝑇1 = 133,7ºC e 𝑇2 = 158,6ºC. Se o expoente
n for igual a 1, qual será o valor de 𝐶𝑠𝑓 para a superfície revestida?
Represente 𝑇1 , 𝑇2 e 𝑇𝑠𝑢𝑝 para fluxos entre 105 W/m2 e 𝑞̇ 𝑐𝑟 .
Resolução e discussão

Há transferência de calor em regime permanente na barra de cobre, sendo que a potência


fornecida pelo aquecedor é totalmente transferida para a água, provocando a ebulição desta.
Para as temperaturas medidas vamos calcular o fluxo de calor. Em regime permanente:
𝑘 400
𝑞̇ = ∆𝑥 (𝑇2 − 𝑇1 ) = 0,015 (158,6 − 133,7) = 6,64 × 105 W/m2

Como a variação de temperatura na barra é linear, podemos calcular a temperatura da superfície


revestida:
𝑥 0,010
𝑇𝑠𝑢𝑝 = 𝑇1 − 𝑘1 𝑞̇ = 133,7 − 400 × 6,64 × 105 = 117,1ºC

Podemos agora usar a equação (4.1) para a ebulição nucleada, relacionando o fluxo com ∆𝑇, o
que permite calcular 𝐶𝑠𝑓 :
𝑐𝑝,𝑙 (𝑇𝑠𝑢𝑝 −𝑇𝑠𝑎𝑡 ) 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 1/3 𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/6
𝐶𝑠𝑓 = ( ) [ ]
∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙𝑛 𝑞̇ 𝜎

Sendo então o expoente n igual a 1 (para a água), e as propriedades a 100ºC, vem:


1/3
4217×(117,1−100) 0,282×10−3 ×2257×103 9,8×(957,9−0,60) 1/6
𝐶𝑠𝑓 = ( ) [ ] = 0,01325
2257×103 ×1,751 6,64×105 0,0589

Para analisar como variam 𝑇1 , 𝑇2 e 𝑇𝑠𝑢𝑝 com o fluxo fornecido, para valores do fluxo entre 105
W/m2 e 𝑞̇ 𝑐𝑟 , vamos certificar-nos de que nos encontramos sempre no regime de ebulição
nucleada.
Vamos calcular 𝑇𝑠𝑢𝑝 para o valor mais baixo do fluxo:
3
𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/2 𝑐𝑝,𝑙 (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑚𝑖𝑛 −𝑇𝑠𝑎𝑡 )
𝑞̇ 𝑚𝑖𝑛 = 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ ] [ ] = 105 W/m2
𝜎 𝐶𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙𝑛

que, para as mesmas propriedades, resulta em


𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑚𝑖𝑛 = 109,1ºC
Estamos assim na zona de ebulição nucleada mesmo com o fluxo menor a considerar, como se
pode confirmar pela Figura 4.2.
159
Capítulo 4 – Ebulição em reservatório

O fluxo máximo ou crítico pode calcular-se pela equação (4.2), com


𝐶𝑐𝑟 = 0,149
porque sendo a superfície aquecedora um plano horizontal, vem da Tabela 4.3
𝐿∗ = 𝐿[𝑔(𝜌𝑙 − 𝜌𝑣 )/𝜎]1/2 = 399 𝐿
verificando-se muito provavelmente que 𝐿∗ >27 (desde que 𝐿>7 cm).
Então, pela correlação (4.2):
𝜎𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/4
𝑞̇ 𝑐𝑟 = 𝐶𝑐𝑟 ∆ℎ𝑙𝑣 𝜌𝑣 [ ] = 0,149 × 2257 × 103 × 0,60 ×
𝜌𝑣2

0,0589×9,8×(957,9−0,60) 1/4
×[ ] = 1,263 × 106 W/m2
0,602

A temperatura da superfície que corresponde a este fluxo crítico pode obter-se da equação (4.1),
impondo o valor do fluxo:
3
𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/2 𝑐𝑝,𝑙 (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑚𝑎𝑥 −𝑇𝑠𝑎𝑡 )
𝑞̇ 𝑐𝑟 = 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ ] [ ] = 1,263 × 106 W/m2
𝜎 𝐶𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙𝑛

o que, com as mesmas propriedades, permite calcular


𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑚𝑎𝑥 = 121,2ºC
Repetindo a equação de Rohsenow (4.1) para vários valores de fluxo intermédios podemos
calcular os vários valores de 𝑇𝑠𝑢𝑝 . Quanto a 𝑇1 e 𝑇2 , podem ser calculados pelas equações da
condução em regime permanente já usadas para o fluxo inicial.
O gráfico abaixo representa então a temperatura da superfície, e as temperaturas 𝑇1 e 𝑇2 , em
função do fluxo fornecido.

Note-se que a temperatura da superfície revestida aumenta relativamente pouco com o aumento
do fluxo de calor fornecido, porque o coeficiente de ebulição aumenta fortemente com o
aumento dessa temperatura. Para o fluxo crítico de 1263 kW/m2 a temperatura da superfície é
de 121,2ºC, como calculado anteriormente, e para metade do fluxo é de 116,8ºC, ou seja, apenas
4,4ºC mais baixa. Quanto a 𝑇1 e 𝑇2 , variam mais acentuadamente, em especial 𝑇2 .

160
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P4.3
Uma caldeira produz vapor de água saturado, alimentada
por gases de combustão à temperatura de 700ºC. A
transferência de calor dos gases para a água dá-se através
de 5 tubos de cobre polido muito finos (de espessura
desprezável) com 25 mm de diâmetro e 8 m de
comprimento (cada), mergulhados em água pressurizada a
4,37 bar. As paredes dos tubos podem considerar-se
isotérmicas. O caudal de gases (com propriedades
semelhantes às do ar a 1 atm) é de 0,08 kg/s/tubo.
Calcule a temperatura média dos tubos e a temperatura de saída dos gases, assim como a
potência transferida e o caudal de vapor produzido. Analise o efeito da pressão da caldeira (para
1< psat <10 atm).
Resolução e discussão

Nesta caldeira são os gases que fornecem a potência necessária à vaporização da água líquida,
que depois é retirada. Em regime permanente há então igualdade entre a variação da energia
por unidade de tempo perdida pelos gases (entre a entrada e a saída), e a energia por unidade
de tempo transferida entre a superfície dos tubos e a água líquida (por ebulição), que se traduz
pela equação
𝑄̇𝑔𝑎𝑠𝑒𝑠 = 𝑄̇𝑒𝑏𝑢𝑙
ou
1/2 𝑐 (𝑇̅ 3
𝑔(𝜌 −𝜌 ) 𝑠𝑢𝑝 −𝑇𝑠𝑎𝑡 )
𝑀̇𝑐𝑝,𝑔𝑎𝑠 (𝑇𝑒𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑎𝑖 ) = 𝐴𝑠𝑢𝑝 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ 𝑙𝜎 𝑣 ] [ 𝑝,𝑙 ]
𝐶𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙𝑛

admitindo a existência de ebulição nucleada, o que verificaremos depois de calcular 𝑇̅𝑠𝑢𝑝 . A


temperatura média dos tubos é responsável pela ebulição. Para a ebulição saturada vamos usar
a 𝑇𝑠𝑎𝑡 que corresponde à pressão da caldeira, de 4,37 bar, e que é igual a 147ºC. As propriedades
da água líquida e vapor são então tomadas a essa temperatura. Quanto aos coeficientes, 𝐶𝑠𝑓 =
0,013 e 𝑛 = 1 (da Tabela 4.1). As propriedades dos gases serão consideradas iguais às do ar a
1 atm e 700ºC (não se conhecendo as outras temperaturas).
Como os 5 tubos estão colocados em paralelo, podemos efetuar o cálculo apenas para um deles,
vindo então
0,08 × 1075 × (700 − 𝑇𝑠𝑎𝑖 ) = 𝜋 × 0,025 × 8 × 185 × 10−6 × 2123 × 103 ×
3
9,8×(919−2,4) 1/2 4302×(𝑇̅𝑠𝑢𝑝 −147)
× [ ] × [0,013×2123×103×1,161]
0,0494

Como não conhecemos a temperatura de saída dos tubos (𝑇𝑠𝑎𝑖 ) nem a temperatura média dos
tubos (𝑇̅𝑠𝑢𝑝 ), necessitamos de outra equação. Vamos recorrer à equação para a evolução de
temperatura dos gases desde a entrada à saída – a já conhecida equação (2.26):
(𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇̅𝑠𝑢𝑝 ) ̅𝑔𝑎𝑠 𝜋𝐷𝑡 𝐿𝑡

(𝑇𝑒𝑛𝑡 −𝑇̅𝑠𝑢𝑝 )
= exp (− )
𝑀̇𝑐𝑝,𝑔𝑎𝑠

que exige o conhecimento do coeficiente de convecção interior (gases) para, juntamente com a
equação anterior, permitir calcular 𝑇𝑠𝑎𝑖 e 𝑇̅𝑠𝑢𝑝 .

161
Capítulo 4 – Ebulição em reservatório

O coeficiente de convecção interior pode calcular-se como vimos no capítulo 2, considerando


que o tubo é reto. Para o caudal dado, o escoamento é turbulento, daí resultando um coeficiente
na zona desenvolvida igual a 502 W/m2ºC. O comprimento de entrada, em regime turbulento,
corresponde a cerca de 10 diâmetros, ou seja neste caso 0,25 m, pelo que se pode tomar um
valor médio aproximado como o da zona desenvolvida, ou para ser mais exato usar a equação
(2.23), e obter ℎ̅𝑔𝑎𝑠 = 552 W/m2ºC.
O sistema de 2 equações a resolver, considerando ℎ̅𝑔𝑎𝑠 = 502, é então
3
86 × (700 − 𝑇𝑠𝑎𝑖 ) = 255,3 × (𝑇̅𝑠𝑢𝑝 − 147)
{
(𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑇̅𝑠𝑢𝑝 ) = (700 − 𝑇̅𝑠𝑢𝑝 ) × exp(−0,007306 × 502)
que permite calcular
𝑇𝑠𝑎𝑖 = 166,6o C

𝑇𝑠𝑢𝑝 = 152,6o C
Por substituição obtém-se uma potência transferida de 45,9 kW em cada tubo (229,4 kW nos 5
tubos), e, dividindo a potência pelo calor latente, obtém-se um caudal total vaporizado de 0,108
kg/s (com os 5 tubos).
A temperatura média da superfície dos tubos obtida corresponde efetivamente ao regime de
ebulição nucleada, como veremos mais à frente. Apesar de a temperatura dos gases variar
bastante entre a entrada e a saída (de 700ºC até 166,6ºC), devido ao seu calor específico
relativamente baixo, a temperatura da superfície dos tubos não varia apreciavelmente, como
veremos a seguir. Podemos avaliar a temperatura dos tubos à entrada e à saída, igualando em
cada secção o fluxo de convecção ao de ebulição:
3
𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/2 𝑐𝑝,𝑙 (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑛𝑡 −𝑇𝑠𝑎𝑡 ) 3
ℎ𝑔𝑎𝑠,𝑒𝑛𝑡 (𝑇𝑒𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑛𝑡 ) = 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ 𝜎
] [ 𝐶𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙𝑛
] = 406,3(𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑛𝑡 − 147)
3
𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/2 𝑐𝑝,𝑙 (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑠𝑎𝑡 ) 3
ℎ𝑔𝑎𝑠,𝑠𝑎𝑖 (𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑠𝑎𝑖 ) = 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ ] [ ] = 406,3(𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑠𝑎𝑖 − 147)
{ 𝜎 𝐶𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙𝑛

Usando para a saída o coeficiente da zona desenvolvida (502 W/m2ºC), e para a entrada o
mesmo, apesar de se estar na zona de entrada do tubo, obtêm-se
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑛𝑡 = 155,8o C
{
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑠𝑎𝑖 = 149,8o C
ou seja, uma diferença de apenas 6ºC, diferença que será ainda menor se se considerar que à
entrada o coeficiente de convecção é superior ao da zona desenvolvida. Por substituição destes
valores nos fluxos obtêm-se
𝑞̇ 𝑒𝑏𝑢𝑙,𝑒𝑛𝑡 = 276,9 kW/m2 ; ℎ𝑒𝑏𝑢𝑙,𝑒𝑛𝑡 = 31464 W/m2o C
{
𝑞̇ 𝑒𝑏𝑢𝑙,𝑠𝑎𝑖 = 8,919 kW/m2 ; ℎ𝑒𝑏𝑢𝑙,𝑠𝑎𝑖 = 3185 W/m2o C

Como os coeficientes de ebulição são muito superiores ao de convecção interior, a temperatura


do tubo aproxima-se muito mais da temperatura de saturação, e isso atenua a variação ao longo
do tubo. As variações do coeficiente de ebulição e da potência são muito maiores do que a da
temperatura, devido à forte dependência do coeficiente e potência da diferença de temperaturas
(expoente 2 e 3, respetivamente).

162
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Uma avaliação mais correta dos valores locais dos coeficientes e da temperatura da superfície
dos tubos exigiria o cálculo em diferentes pontos do tubo, usando um método numérico de
volumes finitos por exemplo, como feito no problema P2.8 para a convecção forçada.
A temperatura do tubo para a qual se inicia o regime de ebulição nucleada pode ser calculada
para este caso (equivale ao ponto A da Figura 4.2 para a pressão da caldeira) através da
igualdade entre os coeficientes de convecção natural e de ebulição nucleada: a igualdade das 2
expressões permite calcular o valor de 𝑇𝑠𝑢𝑝 de transição. Considerando a expressão do Nu para
a convecção natural num cilindro horizontal da Tabela 2.4, teremos que resolver a equação:
1/6 2 3
𝑘𝑙 0,387 (𝑔𝛽𝑙 (𝑇𝑠𝑢𝑝 −𝑇𝑠𝑎𝑡 )𝐷𝑡3 /𝜈𝑙2 .𝑃𝑟𝑙 ) 𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/2 𝑐𝑝,𝑙 2
𝐷𝑡
[0,6 + 8/27 ] = 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ 𝜎
] [
𝐶𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑛𝑙
] (𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑠𝑎𝑡 )
[1+(0,559/𝑃𝑟𝑙 )9/16 ]

2 1/6 2
0,686 0,387 (9,8×0,001×(𝑇𝑠𝑢𝑝 −147)×0,0253 /(2,013×10−7 ) ×1,16) 2
0,025
× [0,6 + 8/27 ] = 406,3 × (𝑇𝑠𝑢𝑝 − 147)
[1+(0,559/1,16)9/16]

que permite obter para o ponto A, 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝐴 = 148,3ºC, pelo que neste caso estamos acima desse
valor.
Para a pressão reinante na caldeira podemos calcular o fluxo de ebulição crítico. Sendo L*>1,2,
obtém-se da Tabela 4.3 𝐶𝑐𝑟 = 0,12, vindo da equação (4.2):
𝜎𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/4
𝑞̇ 𝑐𝑟 = 𝐶𝑐𝑟 ∆ℎ𝑙𝑣 𝜌𝑣 [ ] =
𝜌𝑣2

0,0494×9,8×(919−2,4) 1/4
= 0,12 × 2123 × 103 × 2,4 × [ ] = 1,811 MW/m2
2,42

3
Igualando este fluxo ao fluxo escrito anteriormente (406,3(𝑇𝑠𝑢𝑝 − 147) ), pode calcular-se a
temperatura da superfície a que corresponde o fluxo crítico, resultando 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑐𝑟 =163,5ºC.
Estamos assim sempre na zona de ebulição nucleada, já que as temperaturas do tubo são
bastante inferiores à do ponto crítico.
Para analisar o efeito da regulação da pressão da caldeira, foram repetidos os cálculos anteriores
para as diferentes pressões. A figura seguinte representa as temperaturas obtidas.

Saliente-se que ao aumentar a pressão aumenta a temperatura de saturação, seguindo a


temperatura média da superfície dos tubos e a temperatura de saída evoluções semelhantes.

163
Capítulo 4 – Ebulição em reservatório

A figura seguinte representa a potência transferida (num dos 5 tubos) e o caudal total
vaporizado, para as diferentes pressões.

A potência diminui com o aumento da pressão, porque a diferença de temperatura para a


transferência de calor diminui (com o aumento da temperatura de saturação da água). Quanto
ao caudal de vapor, também diminui, mas não tão acentuadamente; isso deve-se a que o calor
latente de vaporização também diminui quando a pressão/temperatura aumenta.

164
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P4.4
Uma barra cilíndrica de cobre polido (=117x10-6 m2/s,
k=400 W/mºC), inicialmente à temperatura de 120ºC, é
colocada num banho de água saturada, à pressão
atmosférica. Admitindo que a temperatura do banho se
mantém inalterada, calcule o tempo que demora a que a
barra atinja o equilíbrio térmico com o banho.
Resolução e discussão

Neste problema a barra cilíndrica vai variar a sua temperatura ao longo do tempo, ou seja, trata-
se de um problema em regime instacionário. Para quantificação da transferência de calor da
superfície da barra para o banho, que se dá por ebulição, vamos admitir que em cada instante
se atinge o regime permanente (quase estacionário).
Vamos também admitir que a variação da temperatura no interior da barra, quando comparada
com a exterior (entre a superfície e o banho), é desprezável, ou seja, vamos admitir a barra como
um sistema global, a temperatura uniforme em cada instante. Esta hipótese será válida se o
número de Biot for inferior a 0,1. Considerando a espessura característica
𝑉 𝜋𝐷 2 𝐿/4
𝐿𝑐 = 𝐴 = 𝜋𝐷𝐿+2𝜋𝐷2/4 = 0,00476 m
𝑠𝑢𝑝

podemos ter 𝐵𝑖 < 0,1 desde que o coeficiente de ebulição seja


𝑘 400
ℎ < 0,1 𝐿 = 0,1 × 0,00476 = 8403 W/m2ºC
𝑐

o que avaliaremos posteriormente, quando calcularmos os coeficientes de ebulição, que variam


no tempo.
Para as propriedades da água saturada, a 100ºC, vamos considerar:
𝜇𝑙 =0,282x10-3 kg/ms, ∆ℎ𝑙𝑣 =2257 kJ/kg, l=957,9 kg/m3, v=0,6 kg/m3, 𝜎=0,0589 N/m, cpl
=4217 J/kgK, Prl=1,75, kl=0,683.
Comecemos por verificar se na situação inicial ocorre o regime de ebulição nucleada. O fluxo
crítico pode obter-se a partir da equação (4.2):
𝐶𝑐𝑟 = 0,12 , pois da Tabela 4.3: 𝐿∗ = 𝐷/2[𝑔(𝜌𝑙 − 𝜌𝑣 )/𝜎]1/2 = 3,99
𝜎𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/4
𝑞̇ 𝑐𝑟 = 𝐶𝑐𝑟 ∆ℎ𝑙𝑣 𝜌𝑣 [ ] = 0,12 × 2257 × 103 × 0,60 ×
𝜌𝑣2

0,0589×9,8×(957,9−0,60) 1/4
×[ ] = 1,017 × 106 W/m2
0,602

e da correlação (4.1), podemos obter a temperatura da superfície correspondente


9,8×(957,9−0,60) 1/2
1,017 × 106 = 0,282 × 10−3 × 2257 × 103 × [ ] ×
0,0589
3
4217×(𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑐𝑟 −100)
× [0,013×2257×103×1,751]

com 𝐶𝑠𝑓 = 0,013 e n=1 (da Tabela 4.1 para água e cobre polido), de onde resulta
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑐𝑟 = 119,3ºC
e o correspondente coeficiente de ebulição de 52694 W/m2ºC. Este valor é muito superior ao
limite de 8403 para satisfazer Bi<0,1; equivale a Bi=6,3. Vamos, no entanto, continuar a

165
Capítulo 4 – Ebulição em reservatório

considerar a barra como um sistema global, apesar do erro cometido, que só se conseguiria
evitar com a utilização de um método numérico, considerando a variação de temperatura no
interior da barra (como se fez no problema P3.7 para uma esfera com coeficiente de
condensação à superfície variável no tempo).
Vamos considerar que esta temperatura é praticamente igual à temperatura inicial da barra
(120ºC), e portanto considerar que no instante inicial (e seguintes) existe ebulição nucleada,
podendo usar-se a correlação acima (de Rohsenow). Quando as temperaturas da superfície se
tornam próximas da temperatura de saturação, o regime de ebulição nucleada dá lugar ao de
convecção natural (ponto A da Figura 4.2). Isso ocorre quando o coeficiente de ebulição dado
pela correlação de Rohsenow iguala o coeficiente de convecção natural, ou seja, quando
1/6 2 3
𝑘𝑙 0,387 (𝑔𝛽𝑙 (𝑇𝑠𝑢𝑝 −𝑇𝑠𝑎𝑡 )𝐷𝑡3 /𝜈𝑙2 .𝑃𝑟𝑙 ) 𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/2 𝑐𝑝,𝑙 2
𝐷𝑡
[0,6 + 8/27 ] = 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ 𝜎
] [ 𝑛] (𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑠𝑎𝑡 )
𝐶𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙
[1+(0,559/𝑃𝑟𝑙 )9/16 ]

2 1/6 2
0,683 0,387 (9,8×0,000751×(𝑇𝑠𝑢𝑝 −100)×0,023 /(2,944×10−7 ) ×1,75) 2
0,02
× [0,6 + 8/27 ] = 138,6 × (𝑇𝑠𝑢𝑝 − 100)
[1+(0,559/1,75)9/16 ]

que permite obter para o ponto A, 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝐴 = 102,3ºC; o coeficiente de transferência de calor
correspondente é igual a 733 W/m2ºC. Para simplificar a resolução, vamos admitir que se pode
continuar a usar a equação de Rohsenow (4.1) para a ebulição nucleada, mesmo quando há
convecção natural. Para ser mais exato, dever-se-ia dividir a evolução em 2 partes: uma primeira
parte até 𝑇𝑠𝑢𝑝 = 102,3ºC usando a correlação de ebulição nucleada, e uma segunda parte desde
esta temperatura até 100ºC usando a correlação para convecção natural.
Considerando essa simplificação, vamos então escrever o balanço de sistema global (barra à
temperatura 𝑇), traduzido por:
3
𝑑𝑇 𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/2 𝑐𝑝,𝑙 (𝑇−𝑇𝑠𝑎𝑡 )
𝜌𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 𝑐𝑝,𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 𝐿𝑐 𝑑𝑡 = − 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ ] [𝐶 ]
𝜎 𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙𝑛

𝑑𝑇
16273,5 𝑑𝑡
= −138,6 × (𝑇 − 100)3

ou
𝑑𝑇
(𝑇−100)3
= −0,00852 𝑑𝑡

A integração desta equação, sujeita à condição 𝑇|𝑡=0 = 120ºC, é


(𝑇 − 100)−2 = 0,01703 𝑡 + 20−2
ou
1
𝑇 = 100 +
√0,01703 𝑡+0,0025

Matematicamente a barra atinge 𝑇 = 100ºC apenas ao fim de um tempo infinito. No entanto, a


variação de temperatura é rápida, devido aos elevadíssimos coeficientes de ebulição,
especialmente nos instantes iniciais (quando a temperatura da barra é mais elevada). As figuras
seguintes representam a evolução da temperatura da barra, usando a equação acima, e também
a evolução do coeficiente de ebulição. Note-se novamente que se considerou a correlação para
ebulição nucleada mesmo no regime de convecção natural (quando 𝑇 < 102,3ºC). O tempo
necessário para atingir esta temperatura é de apenas 11 s. Usando a correlação para o coeficiente

166
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

de convecção natural para temperaturas abaixo desta, o arrefecimento a partir desse ponto seria
mais rápido (maiores coeficientes de transferência).

167
Capítulo 4 – Ebulição em reservatório

P4.5
Um tubo de calor, ou termosifão, consiste num tubo ou
recipiente fechado que recebe calor na zona de ebulição
(de uma fonte quente) e rejeita calor na zona de
condensação (para uma fonte fria). Considere um tubo de
aço inox polido de espessura reduzida, com um diâmetro
D igual a 20 mm.
O calor fornecido faz entrar em ebulição a água saturada,
à pressão atmosférica, na zona de ebulição de
comprimento Lze=20 mm. O calor é rejeitado quando o
vapor condensa em filme na parede interior da zona de
condensação, de comprimento Lzc=40 mm, regressando o
líquido à zona de ebulição. O comprimento da zona
intermédia, sem transferência de calor, é Lzi=40 mm.
Considerando a face superior da zona de condensação isolada, calcule a temperatura superficial
da zona de ebulição, Tsup,ze, quando o fluxo de calor de ebulição é igual a 30% do fluxo crítico,
e calcule o caudal condensado e a temperatura superficial da zona de condensação, Tsup,zc.
Compare a potência calorífica transferida com a transferida por uma barra cilíndrica de cobre
(k=400 W/mK) com o mesmo diâmetro e comprimento Lzi (isolada na superfície lateral), e para
as mesmas temperaturas extremas.
Resolução e discussão

A figura seguinte ilustra a transferência de calor no tubo/termosifão. Em regime permanente, a


potência recebida provoca a ebulição da água, que depois condensa na zona superior, libertando
a mesma potência recebida. Pretendemos calcular essa potência e as temperaturas superficiais
de ebulição e condensação.

Para as propriedades da água saturada, a 100ºC, vamos considerar:


𝜇𝑙 =0,282x10-3 kg/ms, ∆ℎ𝑙𝑣 =2257 kJ/kg, l=957,9 kg/m3, v=0,6 kg/m3, 𝜎=0,0589 N/m, cpl
=4217 J/kgK, Prl=1,75, kl=0,683.
Comecemos por calcular o fluxo máximo ou crítico, que se pode estimar pela equação (4.2):
168
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

𝜎𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/4


𝑞̇ 𝑐𝑟 = 𝐶𝑐𝑟 ∆ℎ𝑙𝑣 𝜌𝑣 [ ]
𝜌𝑣2

sendo 𝐶𝑐𝑟 dado na Tabela 4.3, em função da geometria e dimensão da superfície aquecedora.
Neste caso o líquido é aquecido pela superfície inferior (disco horizontal) e lateral da zona de
ebulição (superfície cilíndrica vertical); o fator 𝐶𝑐𝑟 distingue fundamentalmente se a superfície
aquecedora é grande ou pequena, com base nos parâmetros 𝐿 e 𝐿∗ , verificando-se
experimentalmente que não tem muita importância se a superfície é horizontal ou vertical;
assim, poderemos considerar
𝐿 = 𝐷 + 2𝐿𝑧𝑒 = 0,06 m
𝐿∗ = 𝐿[𝑔(𝜌𝑙 − 𝜌𝑣 )/𝜎]1/2 = 24
e, apesar de 𝐿∗ ser um pouco inferior a 27, usar
𝐶𝑐𝑟 = 0,149
Então, pela correlação (4.2):
𝜎𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/4
𝑞̇ 𝑐𝑟 = 𝐶𝑐𝑟 ∆ℎ𝑙𝑣 𝜌𝑣 [ ] = 0,149 × 2257 × 103 × 0,60 ×
𝜌𝑣2

0,0589×9,8×(957,9−0,60) 1/4
×[ ] = 1,263 × 106 W/m2
0,602

A temperatura da superfície que corresponde ao fluxo fornecido, igual a 30% deste fluxo crítico,
pode obter-se da equação de Rohsenow (4.1), impondo o valor do fluxo:
3
𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/2 𝑐𝑝,𝑙 (𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑧𝑒 −100)
𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ ] [ ] = 3,789 × 105 W/m2
𝜎 𝐶𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙𝑛

o que, com as mesmas propriedades, e com 𝐶𝑠𝑓 = 0,013 e n=1 (da Tabela 4.1 para água e aço
inox polido), permite calcular
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑧𝑒 = 113,9ºC
A potência total recebida na zona de ebulição é (multiplicando o fluxo pela área):
𝑄̇𝑧𝑒 = 3,789 × 105 × (𝜋 × 0,022 /4 + 𝜋 × 0,02 × 0,02) = 595 W
potência que, em regime permanente, será dissipada na zona de condensação.
A potência transferida por condensação pode relacionar-se com o respetivo coeficiente e
diferença de temperaturas; considerando a correlação para condensação numa placa vertical, de
altura 𝐿𝑧𝑐 , em regime laminar não ondulado (a verificar):
3 ′ 1/4
𝑔𝜌 (𝜌 −𝜌 )𝑘 ∆ℎ 3/4
𝑄̇𝑧𝑐 = ℎ̅𝐿𝑧𝑐 𝐴𝑧𝑐 (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑧𝑐 ) = 0,943 [ 𝑙 𝑙𝜇 𝐿𝑣 𝑙 𝑙𝑣 ] (𝑇𝑠𝑎𝑡 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑧𝑐 ) 𝐴𝑧𝑐
𝑙 𝑧𝑐

Como se viu no capítulo 3, as propriedades do líquido deverão ser tomadas à temperatura média
entre a da superfície e a de saturação. Não sendo ainda conhecida a temperatura superficial,

vamos usar as propriedades a 100ºC, que depois poderão ser revistas. Quanto a ∆ℎ𝑙𝑣 , como
também depende de 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑧𝑐 , vamos considerá-la igual a ∆ℎ𝑙𝑣 . Então, temos:
1/4
9,8×957,9×(957,9−0,6)×0,6833 ×2257×103 3/4 595
0,943 × [ ] (100 − 𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑧𝑐 ) = 𝜋×0,02×0,04
0,282×10−3 ×0,04

que resulta em
169
Capítulo 4 – Ebulição em reservatório

𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑧𝑐 = 80,9ºC

Refazendo as propriedades e ∆ℎ𝑙𝑣 = 2312 × 103 J/kg para a temperatura média, obtém-se um
valor quase idêntico:
𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑧𝑐 = 81,0ºC
Quanto ao caudal condensado – igual ao vaporizado – é igual a
𝑀̇𝑙 = 2,6 × 10−4 kg/s
Podemos agora verificar se o regime do escoamento do condensado é laminar não ondulado.
Usando a equação (3.7):
4𝑀̇𝑙 4×2,6×10−4
𝑅𝑒𝛿 = = 0,282×10−3×𝜋×0,02 = 58,7
𝜇𝑙 𝑙

que corresponde a regime laminar, mas ondulado (𝑅𝑒𝛿 > 30). No entanto, como se vê pela
Figura 3.3, a diferença no coeficiente de condensação é pequena. Considerando a correlação
para regime ondulado da Figura 3.3 obtém-se ℎ̅𝑧𝑐 = 12916, muito próximo do valor do regime
não ondulado, ℎ̅𝑧𝑐 = 12460 W/m2ºC.
Vamos agora comparar a potência transferida com a que se transferiria numa barra cilíndrica de
cobre (diâmetro de 20 mm e comprimento de 40 mm), sujeita às mesmas temperaturas nas 2
extremidades: 113,9 e 81ºC. Em regime permanente obtém-se:
𝑘 400 2
𝜋×0,02
𝑄̇𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 = 𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 𝐴𝑠,𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 (𝑇𝑧𝑒 − 𝑇𝑧𝑐 ) = × × (113,9 − 81,0) = 103 W
𝐿 𝑧𝑖 0,04 4

Este valor mostra que a barra de cobre transfere quase 6 vezes menos calor que o termosifão
(595 W para este), apesar da sua elevada condutibilidade térmica. O tubo de calor/termosifão,
graças aos elevados coeficientes de ebulição (27259 W/m2ºC) e condensação (12460 W/m2ºC),
oferece uma resistência global bastante menor à transferência de calor. Os tubos de calor podem
também usar-se para transferir calor entre 2 fontes (fluidos, etc) a temperaturas muito próximas,
e inferiores a 100ºC, usando como fluido no interior do tubo a água a uma pressão abaixo da
atmosférica, ou outros fluidos de menor temperatura de ebulição.

170
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P4.6
Um sistema para arrefecimento de “chips” de
computador usa um termosifão contendo
fluorcarbono saturado. O “chip” está perfeitamente
ligado ao fundo do recipiente termosifão, sendo o
calor do “chip” dissipado na ebulição do líquido (a
57ºC), e posteriormente transferido para água de
arrefecimento, que mantém a temperatura da parede
superior do recipiente mais fria.
As propriedades do fluorcarbono à temperatura de saturação (57ºC) e as constantes de ebulição
são: 𝜇𝑙 =440x10-6 kg/ms, ∆ℎ𝑙𝑣 =84400 J/kg, l=1619,2 kg/m3, v=13,4 kg/m3, 𝜎=0,0081 N/m,
cpl =1100 J/kgK, Prl=9,01, kl=0,054, 𝐶𝑠𝑓 = 0,005 e n=1,7.
Se o “chip”, com 2 cm x 2 cm, operar em condições de regime permanente a 90% do fluxo
crítico, qual será a potência dissipada? Se o diâmetro superior do recipiente (D) for de 3 cm, e
a sua superfície for mantida a 25ºC (𝑇𝑠𝑢𝑝 ), qual será o comprimento L requerido?
Resolução e discussão

O sistema termosifão é suposto operar em regime permanente, pelo que a potência recebida do
“chip” é depois transferida por condensação do vapor de fluorcarbono formado para as paredes
laterais, e por sua vez daí para a água.
Vamos começar por calcular o fluxo com que opera o “chip” e que é igual a 90% do fluxo
crítico. Da equação (4.2):
𝜎𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/4
𝑞̇ = 0,9 × 𝑞̇ 𝑐𝑟 = 0,9 × 𝐶𝑐𝑟 ∆ℎ𝑙𝑣 𝜌𝑣 [ ]
𝜌𝑣2

sendo 𝐶𝑐𝑟 dado na Tabela 4.3, em função da geometria e dimensão da superfície aquecedora.
Neste caso o líquido é aquecido por uma placa horizontal (o “chip”) com largura 𝐿 = 0,02 m;
assim, poderemos considerar
𝐿∗ = 𝐿[𝑔(𝜌𝑙 − 𝜌𝑣 )/𝜎]1/2 = 0,02 × [9,8 × (1619,2 − 13,4)/0,0081]1/2 = 27,9
que, sendo > 27, conduz a
𝐶𝑐𝑟 = 0,149
Então, teremos para o fluxo de ebulição
𝜎𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/4
𝑞̇ = 0,9 × 𝐶𝑐𝑟 ∆ℎ𝑙𝑣 𝜌𝑣 [ ] = 0,9 × 0,149 × 84400 × 13,4 ×
𝜌𝑣2

0,0081×9,8×(1619,2−13,4) 1/4
×[ ] = 1,392 × 105 W/m2
13,42

A temperatura da superfície que corresponde a este fluxo é, usando a equação (4.1) para a
ebulição nucleada, e as propriedades/coeficientes conhecidas, obtém-se de
3
9,8×(1619,2−13,4) 1/2 1100×(𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑏𝑢𝑙 −57)
440 × 10−6 × 84400 × [ ] [ 0,005×84400×9,011,7 ] = 1,392 × 105
0,0081

o que permite calcular


𝑇𝑠𝑢𝑝,𝑒𝑏𝑢𝑙 = 79,4ºC

171
Capítulo 4 – Ebulição em reservatório

A potência total recebida na zona de ebulição é (multiplicando o fluxo pela área):


𝑄̇ = 1,392 × 105 × 0,02 × 0,02 = 55,7 W
potência que, em regime permanente, será dissipada na zona de condensação.
Quanto ao caudal condensado, dividindo a potência pelo calor latente, temos
𝑀̇𝑙 = 6,600 × 10−4 kg/s
e o número de Reynolds pela equação (3.7):
4𝑀̇𝑙 4×6,6×10−4
𝑅𝑒𝛿 = = 440×10−6×𝜋×0,03 = 63,7
𝜇𝑙 𝑙

A este valor de 𝑅𝑒𝛿 corresponde o regime laminar ondulado, para o qual podemos usar a
correlação da Figura 3.3:
𝑘𝑙 𝑅𝑒𝛿 0,054 63,7
ℎ𝐿 = = = 1055 W/m2ºC
2
(𝜈𝑙 /𝑔)
1/3 1,08 𝑅𝑒𝛿1,22 −5,2 2
(2,717×10−7 /9,8)
1/3
1,08×63,71,22 −5,2

Podemos então agora relacionar o comprimento requerido com o coeficiente e a potência


𝑄̇ 55,7
𝐿=ℎ = 0,0175 m
𝐿 𝜋𝐷(𝑇𝑠𝑎𝑡 −𝑇𝑠𝑢𝑝 ) 1055×𝜋×0,03×(57−25)

ou seja, o comprimento/altura da zona superior deverá ser de 17,5 mm.


Note-se que a temperatura operativa do “chip” (79,4ºC) permite o seu funcionamento normal
(não é excessiva). Este é um eficaz e compacto sistema de arrefecimento.

172
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

5 Radiação térmica
A radiação térmica é o modo de transferência de calor que não exige a presença de matéria para
o transporte do calor, que é transportado por ondas eletromagnéticas. No entanto, é a matéria
que está na sua origem, e no seu destino.
Neste texto resumem-se os princípios ligados à radiação térmica e ao comportamento dos
corpos reais quanto à radiação que emitem e que recebem. São definidas as propriedades
radiativas como a emissividade e os coeficientes de absorção, reflexão e transmissão. São
quantificadas as trocas de radiação térmica em regime permanente entre várias superfícies,
consideradas como cinzentas e difusas, e separadas por um meio não participante na radiação.
No final do capítulo apresentam-se diversos problemas práticos em que se comenta a aplicação
dos conceitos e métodos de cálculo vistos.
5.1 Radiação eletromagnética e térmica
Todos os corpos emitem radiação eletromagnética, sob a forma de ondas eletromagnéticas com
diferentes comprimentos de onda. A radiação que os corpos emitem em consequência do seu
nível interno de energia (temperatura) é chamada radiação térmica. No entanto, a maior parte
dessa radiação é invisível aos nossos olhos. A Figura 5.1 representa o espetro de radiações
eletromagnéticas, assinalando a zona de comprimentos de onda que corresponde à radiação
térmica, e dentro desta a zona visível. Chamamos luz à porção visível do espetro, contida num
pequeno intervalo entre cerca de 0,4 e 0,7 m.

Figura 5.1 – Espetro de radiações eletromagnéticas de acordo com o seu comprimento de onda ().

A radiação térmica emitida pelos corpos propaga-se através do vazio (caso da radiação solar no
espaço) e da maioria dos gases. Muitos gases, como o ar seco, não interferem nas ondas que os
atravessam, designando-se por meios não participantes. Outros, como o vapor de água e o
dióxido de carbono, interferem, absorvendo e refletindo parte das ondas, designando-se por
meios participantes.

173
Capítulo 5 – Radiação térmica

Em materiais opacos a radiação térmica é um fenómeno superficial, pois a radiação emitida


pelas partículas interiores não chega à superfície, e a radiação recebida é absorvida numa
camada até alguns microns da superfície. Daí que, como veremos, as quantidades de energia
associadas à radiação possam ser alteradas apenas com revestimentos superficiais.
Como também veremos, um corpo a temperatura superior ao zero absoluto emite radiação numa
gama alargada de comprimentos de onda, e em várias direções do espaço. Então a radiação
térmica é um fenómeno em que é necessário tratar a sua natureza espetral e direcional.
5.2 Corpo negro e suas propriedades
Um corpo negro é utilizado como um padrão em relação ao qual são quantificadas as
propriedades radiativas dos corpos reais. Ou seja, o corpo negro é um corpo ideal, em termos
de comportamento à radiação térmica emitida e recebida. Assim, um corpo negro emite o
máximo de radiação possível à temperatura a que se encontra, e com igual intensidade em todas
as direções do espaço. Por outro lado, um corpo negro absorve toda a radiação que nele incide,
em todos os comprimentos de onda e todas as direções.
A potência calorífica por unidade de área emitida por um corpo negro – também designada por
poder emissivo – é dada pela lei de Stefan-Boltzmann:
𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁 = 𝜎𝑇 4 (5.1)

sendo 𝜎 a constante de Stefan-Boltzmann, igual a 5,670 × 10−8 Wm−2 K −4 .


A equação anterior quantifica o total de radiação que um corpo negro emite (em todas as
direções e comprimentos de onda), variando com o comprimento de onda de acordo com a lei
de Planck (representada graficamente na Figura 5.2):
3,742×108
𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 = 𝜆5 [exp(1,439×104/𝜆𝑇)−1] (5.2)

Figura 5.2 – Variação do poder emissivo de um corpo negro com o comprimento de onda ( ) e a temperatura.

174
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Como mostra a Figura 5.2, para cada temperatura existe um comprimento de onda para o qual
o poder emissivo espetral é máximo. A curva que une os máximos está também representada
na figura (expressa a lei do deslocamento de Wien). O máximo desloca-se para os
comprimentos de onda menores quando a temperatura aumenta. À medida que esta aumenta, o
corpo negro também pode emitir radiação em comprimentos de onda mais baixos. Como se vê
na figura, um corpo à temperatura ambiente (300 K) não emite radiação visível, apenas
infravermelha. A radiação emitida pelo Sol equivale à de um corpo negro a 5800 K, e
compreende radiação ultravioleta, visível e infravermelha; a percentagem vísivel é de cerca de
46% do total, e a percentagem infravermelha é a maior.
A partir da lei de Planck – equação (5.2) – é possível calcular a fração/percentagem de energia
radiante emitida pelo corpo negro entre 2 comprimentos de onda, através do cálculo do integral
entre 2 limites. Por razões práticas, há tabelas que permitem um cálculo rápido, apresentando
os valores da fração emitida entre 0 e 𝜆 (𝐹0−𝜆 ), que obviamente depende da temperatura do
corpo negro. Mostra-se que a variável T pode ser combinada com 𝜆, de modo a existir uma
única variável independente, 𝜆𝑇 – ver Tabela 5.1.

Tabela 5.1 – Fração de radiação emitida por um corpo negro entre 0 e 𝜆 (𝐹0−𝜆 ).

A fração entre 2 comprimentos de onda pode obter-se por diferença, ou seja:


𝐹𝜆1 −𝜆2 = 𝐹0−𝜆2 − 𝐹0−𝜆1 (5.3)

Conforme dito atrás, na radiação térmica é necessário tratar a sua natureza espetral e direcional.
Para tratar a variação direcional, define-se uma propriedade chamada intensidade de radiação
(emitida). Ela representa a radiação por unidade de área perpendicular à direção considerada e
por unidade de ângulo sólido associado à direção. Por seu turno, o ângulo sólido caracteriza a
porção de espaço centrada em torno de um ponto qualquer (P) – ver Figura 5.3.

175
Capítulo 5 – Radiação térmica

a b
Figura 5.3 – Definição de ângulo plano (a) e ângulo sólido (b).

Figura 5.4 – Representação da intensidade de radiação emitida na direção (𝜃, 𝜙).

Assim, num sistema de coordenadas 3D (ver Figura 5.4), a intensidade de radiação pode definir-
se matematicamente como:
𝑑𝑄̇ 𝑑𝑄̇
𝑖(𝜃, 𝜙) = 𝑑𝐴 = 𝑑𝐴 (5.4)
𝑛 𝑑𝜔 1 cos 𝜃 𝑑𝜔

e quantifica-se em W/m2/sr. Pode também falar-se de uma intensidade de radiação espetral,


correspondente à intensidade num dado comprimento de onda.
Podemos relacionar o poder emissivo com a intensidade de radiação. Se para uma dada
superfície plana fizermos variar 𝜃 entre 0 e 𝜋/2, e 𝜙 entre 0 e 2 𝜋 – ver Figura 5.4 – e se a
intensidade de radiação for constante (igual em todas as direções) obtém-se
𝑞̇ 𝑒𝑚 = 𝜋 𝑖𝑒𝑚 (5.5)

As superfícies cuja intensidade de radiação é independente da direção (constante) são


designadas por superfícies difusas. O corpo negro é também difuso, pelo que, associando as
equações (5.1) e (5.5), se pode obter a intensidade de radiação em função da temperatura do
corpo.
Também se pode falar de intensidade de radiação incidente (recebida) numa dada superfície.
Ela representa a potência radiativa recebida por unidade de área e unidade de ângulo sólido
associadas à direção considerada. Sendo constante em todas as direções, também se verifica
uma relação análoga a (5.5) para a irradiação (potência incidente por unidade de área da
superfície):
𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐 = 𝜋 𝑖𝑖𝑛𝑐 (5.6)

176
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

5.3 Propriedades radiativas dos corpos reais


As propriedades radiativas dos corpos reais traduzem o seu comportamento relativamente à
emissão de radiação, e à receção de radiação (absorção, reflexão ou transmissão). No que diz
respeito à emissão e absorção, as propriedades dos corpos reais são referidas ao corpo padrão,
o corpo negro.
A propriedade que compara a capacidade de um corpo emitir radiação com um corpo negro é
chamada emissividade. A emissividade de um corpo negro é igual a 1. A emissividade também
pode variar com o comprimento de onda (valores espetrais) e com a direção (valores
direcionais). O poder emissivo de um corpo real é então igual ao produto da sua emissividade
pelo poder emissivo do corpo negro, à mesma temperatura. Assim
𝑞̇ 𝑒𝑚 = 𝜀 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁 (5.7)

Se a emissividade (espetral) do corpo for constante para todos os comprimentos de onda


dizemos que se trata de um corpo cinzento, ou superfície cinzenta. Se variar com o comprimento
de onda podemos calcular a emissividade total a partir da sua variação espetral:
∞ ∞ ∞
∫0 𝜀𝜆 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 ∫0 𝜀𝜆 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 ∫0 𝜀𝜆 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆
𝜀𝑡𝑜𝑡 = ∞ = = (5.8)
∫0 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁 𝜎𝑇 4

A emissividade total é portanto a média pesada dos valores espetrais, sendo o peso o poder
emissivo do corpo negro em cada comprimento de onda. Se a variação espetral da emissividade
se puder aproximar a vários intervalos com valores constantes, podemos usar as frações F vistas
atrás para efetuar o cálculo da emissividade total, como se verá em exemplos em 5.6.
Os corpos/materiais que têm emissividade variável com o comprimento de onda,
nomeadamente privilegiando (em termos de emissão) alguns valores de 𝜆, são designados por
seletivos. Há revestimentos superficiais, como a tinta preta normal, que têm um comportamento
de superfície cinzenta (𝜀𝜆 elevada e constante), e outros, como a tinta branca, que têm um
comportamento seletivo (𝜀𝜆 baixa para os menores comprimentos de onda, e bastante mais alta
para os maiores comprimentos de onda).
A emissividade também pode variar com a direção do espaço considerada. Fala-se assim de
uma emissividade direcional (𝜀𝜃,𝜙 ) e de uma emissividade hemisférica, que representa a média
para todas as direções do espaço. Considerando as coordenadas da Figura 5.4, podemos escrever
2𝜋 𝜋/2
∫𝜙 ∫𝜃 𝜀𝜃,𝜙 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜃,𝜙 𝑑𝜃 𝑑𝜙 ∫0 ∫0 𝜀𝜃,𝜙 𝑖𝑒𝑚,𝐶𝑁 cos 𝜃 sen𝜃 𝑑𝜃 𝑑𝜙
𝜀ℎ𝑒𝑚 = = (5.9)
∫𝜙 ∫𝜃 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜃,𝜙 𝑑𝜃 𝑑𝜙 𝜋 𝑖𝑒𝑚,𝐶𝑁

Note-se que se um corpo for difuso, ou seja, com intensidade de radiação emitida igual em todas
as direções, ele também tem emissividade direcional constante, porque um corpo negro é difuso,
e portanto a razão entre a intensidade de radiação do corpo e a do corpo negro (igual à
emissividade) também é constante.
Na maioria das superfícies a variação com o ângulo 𝜙 é desprezável, pelo que se pode escrever:
𝜋/2
𝜀ℎ𝑒𝑚 = 2 ∫0 𝜀𝜃 cos 𝜃 sen𝜃 𝑑𝜃 (5.10)

177
Capítulo 5 – Radiação térmica

Quanto à variação da emissividade com o ângulo 𝜃, ela depende da natureza do


material/revestimento. Na maioria dos casos é razoável considerar a emissividade hemisférica
igual à emissividade na normal à superfície (𝜃 = 0º), em especial nos materiais não condutores.
Em relação à radiação térmica que um corpo recebe, há que distinguir os corpos opacos e os
semitransparentes (ou translúcidos), como os vidros e alguns plásticos. Um corpo opaco pode
absorver ou refletir a radiação que nele incide. A fração da radiação incidente que é absorvida
é designada por coeficiente de absorção (𝛼), e a fração refletida é designada por coeficiente de
reflexão (𝜌). A soma das duas frações é igual a 1 (igual ao total de radiação incidente). Os
coeficientes de absorção e reflexão também podem variar com o comprimento de onda da
radiação incidente e com a sua direção. Tal como a emissividade, dependem do
estado/revestimento superficial, mais do que do material em si. Quando a superfície é seletiva,
o coeficiente de absorção varia, sendo maior em certos comprimentos de onda. Por exemplo,
existem revestimentos seletivos para coletores solares, como o dióxido de titânio, que têm um
elevado coeficiente de absorção (quase igual a 1) para os comprimentos de onda mais
energéticos da radiação solar, e muito baixo para a radiação de comprimentos de onda longos.
Num corpo semitransparente, além da absorção e da reflexão da radiação incidente, uma parte
desta atravessa o corpo, sendo a fração correspondente chamada coeficiente de transmissão.
Nesses casos:
𝛼+𝜌+𝜏 =1 (5.11)

Esta relação pode aplicar-se para os valores totais e espetrais (para um dado comprimento de
onda), uma vez que a reflexão e a transmissão não alteram os comprimentos de onda da radiação
incidente. Os corpos semitransparentes têm um comportamento seletivo típico. Como mostra a
Figura 5.5, um vidro claro normal deixa passar 80 a 90% da radiação solar incidente (quase
toda situada nos comprimentos de onda entre 0,35 e 3 m), mas é opaco para os comprimentos
de onda mais longos. Tal implica que a radiação emitida por corpos à temperatura ambiente não
atravessa os vidros, o que dá origem ao chamado efeito de estufa.

Figura 5.5 – Coeficiente de transmissão espetral para vidros.

Sob certas condições, podemos relacionar a emissividade com o coeficiente de absorção. Se


considerarmos 2 corpos em equilíbrio térmico, um muito pequeno, no interior de outro muito
grande, separados pelo vácuo e portanto trocando calor apenas por radiação, podemos concluir
que, para estarem à mesma temperatura, o coeficiente de absorção do corpo pequeno tem de ser
igual à sua emissividade – o que traduz a chamada lei de Kirchoff. Assim, a emissividade (total
e hemisférica) de um corpo a uma dada temperatura é igual ao seu coeficiente de absorção (total
e hemisférico) para a radiação incidente proveniente da mesma temperatura. No entanto, se a
radiação incidente vier de um corpo a temperatura diferente e a emissividade variar com o
comprimento de onda, como a temperaturas diferentes correspondem distribuições espetrais da
178
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

radiação diferentes, a emissividade total pode ser diferente. A emissividade total hemisférica
será igual ao coeficiente de absorção total hemisférico se ambos os corpos forem cinzentos e
difusos (propriedades constantes com o comprimento de onda e a direção).
5.4 Radiosidade, irradiação e fator de visão
Quando há trocas de radiação entre superfícies, é útil agrupar toda a radiação que sai de uma
superfície numa única grandeza. Assim, define-se a radiosidade de uma superfície como o fluxo
radiativo que sai de uma superfície opaca, incluindo o fluxo emitido (poder emissivo) e o fluxo
refletido. Ou seja:
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠 = 𝑞̇ 𝑒𝑚 + 𝑞̇ 𝑟𝑒𝑓 = 𝜀 𝜎𝑇 4 +𝜌𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐 (5.12)

Para expressar a radiação que sai de uma superfície e chega a outra, quaisquer que sejam as
suas posições relativas, consideremos 2 superfícies de área elementar – 𝑑𝐴1 que envia radiação,
emitida e refletida, e 𝑑𝐴2 que a recebe (ver Figura 5.6).

Figura 5.6 – Representação da radiação que sai de uma superfície elementar numa dada direção e chega a outra.

Considerando as 2 superfícies à distância r entre si, podemos escrever o fluxo radiativo em 2,


proveniente de 1, usando a intensidade de radiação de 1 na direção de 2 igual a 𝑖1 , e recorrendo
à equação (5.4):
𝑑𝐴 cos 𝜃 cos 𝜃1 cos 𝜃2
𝑑𝑄̇𝑖𝑛𝑐,2 = 𝑖1 𝑑𝐴1 cos 𝜃1 𝑑𝜔 = 𝑖1 𝑑𝐴1 cos 𝜃1 2 𝑟 2 2 = 𝑖1 𝑑𝐴1 𝑑𝐴2 (5.13)
𝑟2

Se as superfícies não forem infinitesimais, mas finitas, temos:


cos 𝜃1 cos 𝜃2
𝑄̇𝑖𝑛𝑐,2 = ∫𝑨 ∫𝑨 𝑖1 𝑑𝐴1 𝑑𝐴2 (5.14)
𝟐 𝟏 𝑟2

Se 𝑖1 for a intensidade da radiosidade, ou seja, se incluir a radiação emitida e a refletida por 1,


e se a superfície 1 for difusa quanto à emissão e reflexão, usando a relação (5.5) podemos
escrever
𝑞̇ cos 𝜃1 cos 𝜃2
𝑄̇𝑖𝑛𝑐,2 = 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 ∫𝑨𝟐 ∫𝑨𝟏 𝑑𝐴1 𝑑𝐴2 (5.15)
𝜋 𝑟2

179
Capítulo 5 – Radiação térmica

A fração da radiação que sai de 1 e vai incidir em 2 é:


𝑄̇𝑖𝑛𝑐,2 1 cos 𝜃1 cos 𝜃2
𝐹1−2 = 𝑞̇ = 𝐴 ∫𝑨 ∫𝑨 𝑑𝐴1 𝑑𝐴2 (5.16)
𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐴1 1 𝟐 𝟏 𝜋𝑟 2

Esta fração é meramente geométrica – depende apenas das dimensões e posições relativas das
2 superfícies – designando-se por fator de visão ou fator de forma.
Note-se que ao escrever a fração da radiação que sai de 2 e incide em 1 chegaremos à conclusão
de que
𝐴2 𝐹2−1 = 𝐴1 𝐹1−2 (5.17)

O cálculo do fator de visão exige a avaliação dos integrais complexos em (5.16). De modo a
facilitar o cálculo, existem expressões e gráficos para algumas geometrias correntes – Figuras
5.7 a 5.11. A utilização dessa informação em conjunto com alguns princípios permite calcular
os fatores em muitos problemas práticos, como se poderá ver na secção 5.6.
O primeiro princípio é chamado princípio da reciprocidade, e está expresso na equação (5.17).
Assim, conhecendo o fator de visão de uma superfície para outra, facilmente se calcula o seu
recíproco. O segundo princípio é o da simetria: utilizando planos de simetria pode concluir-se
que fatores simétricos são iguais. O terceiro princípio é o da soma, e diz que o somatório de
todos os fatores de visão de uma superfície para o seu exterior é igual a 1 (toda a energia que
sai da superfície é igual a 100%). O quarto princípio é o da sobreposição, que permite agrupar
fatores parciais; pode traduzir-se por
𝐹1−(2+3) = 𝐹1−2 + 𝐹1−3 (5.18)

Note-se que nalguns casos existe fator de visão de uma superfície para ela própria, o que
acontece em superfícies côncavas.

Figura 5.7 – Fatores de visão para várias superfícies planas de comprimento infinito.

180
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Figura 5.8 – Fatores de visão para várias superfícies cilíndricas de comprimento infinito.

Figura 5.9 – Fator de visão para planos paralelos alinhados.

181
Capítulo 5 – Radiação térmica

Figura 5.10 – Fator de visão para planos perpendiculares com uma aresta comum.

Figura 5.11 – Fator de visão para discos paralelos coaxiais.

182
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

5.5 Trocas de radiação entre superfícies cinzentas e difusas em meio não


participante
Aborda-se em primeiro lugar a troca de radiação térmica entre um número qualquer de
superfícies formando um volume fechado. De seguida, é abordado de forma particular o caso
de 2 superfícies apenas. Em todos os casos as superfícies são cinzentas e difusas, e o meio que
as separa não interfere na radiação trocada.

5.5.1 Trocas entre N superfícies formando um volume fechado

O conceito de radiosidade é particularmente útil para quantificar as trocas de radiação entre


superfícies. Se considerarmos N superfícies formando um volume fechado, vamos identificar a
superfície genérica com o índice i, e uma outra superfície genérica, com a qual i troca calor,
com o índice j, como representa a Figura 5.12.

Figura 5.12 – Superfícies de um volume fechado e trocas de radiação entre 2 superfícies genéricas.

Relembrando a equação (5.12), a radiosidade da superfície genérica i é


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 = 𝜀𝑖 𝜎𝑇𝑖4 +𝜌𝑖 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑖 = 𝜀𝑖 𝜎𝑇𝑖4 +(1 − 𝜀𝑖 ) 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑖 (5.19)

sendo a irradiação em i o fluxo que resulta da radiação que sai das outras superfícies e chega a
i, o que permite escrever
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 = 𝜀𝑖 𝜎𝑇𝑖4 + (1 − 𝜀𝑖 ) ∑𝑁
𝑗=1(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 𝐴𝑗 𝐹𝑗−𝑖 )/ 𝐴𝑖 =

= 𝜀𝑖 𝜎𝑇𝑖4 + (1 − 𝜀𝑖 ) ∑𝑁
𝑗=1(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 𝐹𝑖−𝑗 ) (5.20)

Note-se que o somatório para as N superfícies pode incluir a própria superfície i, desde que esta
seja côncava e exista (seja diferente de 0) o fator 𝐹𝑖−𝑖 .
O balanço radiativo de cada superfície (i), para todas as trocas no volume fechado, será:
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑,𝑖 = 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑖 − 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 = ∑𝑁
𝑗=1(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 𝐹𝑖−𝑗 ) − 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 (5.21)

Assim, se conhecermos as N temperaturas das N superfícies, podemos calcular as N


radiosidades com um sistema de equações semelhantes à equação (5.20). A partir das
radiosidades podemos calcular os balanços energéticos de cada superfície – equação (5.21).
No caso de não ser conhecida a temperatura de alguma superfície, conhecendo o seu balanço
global, que inclui as trocas do lado exterior ao volume fechado, pode usar-se a equação de
balanço – equação (5.21) – para substituir a equação de radiosidade no sistema de equações.
Após o cálculo da radiosidade pode obter-se a temperatura da superfície da equação (5.20).

183
Capítulo 5 – Radiação térmica

Nos casos em que o volume é composto por menos de 4 superfícies (3 ou 2) é possível utilizar
um esquema de resistências de radiação para representar o problema.
Podemos usar a equação (5.19) para expressar a irradiação na superfície i:
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 −𝜀𝑖 𝜎𝑇𝑖4
𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑖 = (5.22)
1−𝜀𝑖

equação que substituída na equação de balanço dá


𝜀
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑,𝑖 = 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑖 − 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 = 1−𝜀𝑖 (𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 − 𝜎𝑇𝑖4 ) (5.23)
𝑖

Este balanço pode ser analisado como uma diferença de potencial (a radiosidade menos o poder
emissivo de um corpo negro à mesma temperatura) a dividir por uma resistência superficial:
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 −𝜎𝑇𝑖4 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 −𝜎𝑇𝑖4
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,𝑖 = 1−𝜀𝑖 = (5.24)
𝑅𝑠𝑢𝑝,𝑖
𝐴𝑖 𝜀𝑖

Esta resistência superficial traduz a diferença do comportamento da superfície em relação a um


corpo negro. Se a superfície for negra a resistência é igual a zero e a radiosidade igual à do
corpo negro (igual ao seu poder emissivo).
Quanto às trocas de radiação entre 2 superfícies quaisquer (i e j), como representadas na Figura
5.12, pode escrever-se
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,𝑖−𝑗 = 𝐴𝑖 𝐹𝑖−𝑗 (𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 − 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 ) = 1 = (5.25)
𝑅𝑒𝑠𝑝,𝑖−𝑗
𝐴𝑖 𝐹𝑖−𝑗

representando 𝑅𝑒𝑠𝑝,𝑖−𝑗 uma resistência espacial (geométrica) entre ambas as superfícies.

A Figura 5.13 representa as resistências associadas à superfície i. O balanço das trocas


(superficial) equivale à soma dos balanços das trocas (espaciais) entre cada 2 superfícies.

Figura 5.13 – Resistências de radiação associadas ao nodo (superfície) i.

A Figura 5.14 representa o esquema de resistências para um volume fechado formado por 3
superfícies. Esse caso pode ser ainda mais simplificado, permitindo a obtenção de uma única
resistência equivalente a todas, se uma das superfícies for isolada termicamente do lado exterior
ao volume fechado. Essa superfície é designada por superfície re-radiante. Sendo o seu balanço
igual a zero, resulta da equação (5.24) que a sua radiosidade é igual à de um corpo negro. Ou
seja, mesmo com emissividade diferente de 1, a soma da radiação emitida e refletida por uma
tal superfície iguala a radiosidade (poder emissivo) de um corpo negro à mesma temperatura.
Assim, a sua resistência superficial é também igual a zero.

184
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Figura 5.14 – Esquema de resistências de radiação para um volume fechado com 3 superfícies.

5.5.2 Trocas entre 2 superfícies formando um volume fechado

O caso de um volume fechado composto por apenas 2 superfícies ocorre muitas vezes na
prática, normalmente por simplificação da realidade, associando superfícies individuais que
estão à mesma temperatura e têm propriedades idênticas.
Usando o esquema de resistências visto atrás, para o caso de 2 superfícies teremos a
representação da Figura 5.15.

Figura 5.15 – Esquema resistências de radiação para um volume fechado com 2 superfícies.

Neste caso teremos um balanço global (assumindo que T1 é maior que T2):
𝜎(𝑇14 −𝑇24 ) 𝐴1 𝜎(𝑇14 −𝑇24 )
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 = −𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 = 𝑄̇1−2 = 1−𝜀1 1 1−𝜀2 = 1 1 𝐴 1 (5.26)
+ +
𝐴1 𝜀1 𝐴1 𝐹1−2 𝐴2𝜀2 −1+ + 1 ( −1)
𝜀1 𝐹1−2 𝐴2 𝜀2

Há vários casos particulares desta equação. No caso de 2 planos paralelos e infinitos (na prática
de dimensões muito maiores que a distância entre eles), sendo 𝐴1 = 𝐴2 e 𝐹1−2 = 1, vem
𝐴 𝜎(𝑇 −𝑇 ) 4 4
𝑄̇1−2 = 11 11 2 (5.27)
+ −1
𝜀1 𝜀2

No caso de uma superfície (1) muito maior do que a outra (2), sendo 𝐴1 ≪ 𝐴2 e 𝐹1−2 = 1, vem
𝑄̇1−2 = 𝜀1 𝐴1 𝜎(𝑇14 − 𝑇24 ) (5.28)

que mostra que o balanço radiativo não depende da emissividade da superfície maior.

185
Capítulo 5 – Radiação térmica

Um dos casos típicos em que se consideram 2 superfícies é o de um corpo trocando radiação


com comprimentos de onda longos apenas com a atmosfera. Para esse efeito, a atmosfera pode
considerar-se como uma superfície de área muito maior do que a do corpo, podendo utilizar-se
a equação (5.28). A temperatura a considerar para a atmosfera depende da humidade do ar, e
da nebulosidade. Há 2 equações simplificadas para calcular a temperatura da atmosfera,
relacionada com a temperatura do ar ambiente: uma em condições de céu muito nublado:
𝑇𝑎𝑡𝑚 = 𝑇𝑎𝑟 − 6 (5.29)

e outra em condições de céu limpo:


1,5
𝑇𝑎𝑡𝑚 = 0,0552 𝑇𝑎𝑟 (com T em K) (5.30)

Verifica-se que no caso de céu limpo a temperatura da atmosfera pode ser bastante inferior à
do ar ambiente. O problema P6.3 mostra o efeito desta temperatura nas trocas de calor de uma
superfície.
Os corpos expostos ao ambiente exterior também recebem, no período diurno, radiação de
comprimentos de onda mais baixos: a radiação solar. Para tratar a radiação solar recebida
recorre-se normalmente a valores medidos (em W/m2), para uma dada direção dos raios solares
incidentes na superfície. Na secção seguinte tratam-se alguns casos em que intervém a radiação
solar incidente.

186
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

5.6 Problemas práticos resolvidos (P5.1 a P5.18)


Os problemas que se seguem são especificamente dedicados ao modo da radiação térmica. No
capítulo 6 são apresentados outros problemas práticos envolvendo radiação, mas em que
simultaneamente ocorrem outros modos de transferência de calor, quer em regime permanente,
quer em regime instacionário.

P5.1
A figura ao lado representa o espetro visível da radiação
solar. Calcule a percentagem de energia emitida pelo sol
em cada uma das cores identificadas. O sol pode ser
considerado, em termos de distribuição espetral da
radiação, um corpo negro a 5800 K.
Resolução e discussão

Usando a informação da Tabela 5.1 e a equação (5.3) podem calcular-se as frações de energia
radiante para cada intervalo de comprimentos de onda (cor). Assim, para o vermelho teremos

𝐹( ) = 𝐹0−0,740 𝜇𝑚 (5800 𝐾) − 𝐹0−0,625 𝜇𝑚 (5800 𝐾) = 𝐹𝜆𝑇=4292 − 𝐹𝜆𝑇=3625 =


= 0,52550 − 0,40261 = 0,123
𝐹( ) = 𝐹0−0,625 𝜇𝑚 (5800 𝐾) − 𝐹0−0,590 𝜇𝑚 (5800 𝐾) = 𝐹𝜆𝑇=3625 − 𝐹𝜆𝑇=3422 =
= 0,40261 − 0,36007 = 0,043
𝐹( ) = 𝐹0−0,590 𝜇𝑚 (5800 𝐾) − 𝐹0−0,565 𝜇𝑚 (5800 𝐾) = 𝐹𝜆𝑇=3422 − 𝐹𝜆𝑇=3277 =
= 0,36007 − 0,32886 = 0,031
𝐹( ) = 𝐹0−0,565 𝜇𝑚 (5800 𝐾) − 𝐹0−0,520 𝜇𝑚 (5800 𝐾) = 𝐹𝜆𝑇=3277 − 𝐹𝜆𝑇=3016 =
= 0,32886 − 0,27181 = 0,057
𝐹( ) = 𝐹0−0,520 𝜇𝑚 (5800 𝐾) − 𝐹0−0,500 𝜇𝑚 (5800 𝐾) = 𝐹𝜆𝑇=3016 − 𝐹𝜆𝑇=2900 =
= 0,27181 − 0,24638 = 0,025
𝐹( ) = 𝐹0−0,500 𝜇𝑚 (5800 𝐾) − 𝐹0−0,450 𝜇𝑚 (5800 𝐾) = 𝐹𝜆𝑇=2900 − 𝐹𝜆𝑇=2610 =
= 0,24638 − 0,18362 = 0,063
𝐹( ) = 𝐹0−0,450 𝜇𝑚 (5800 𝐾) − 𝐹0−0,430 𝜇𝑚 (5800 𝐾) = 𝐹𝜆𝑇=2610 − 𝐹𝜆𝑇=2494 =
= 0,18362 − 0,15915 = 0,024
𝐹( ) = 𝐹0−0,430 𝜇𝑚 (5800 𝐾) − 𝐹0−0,350 𝜇𝑚 (5800 𝐾) = 𝐹𝜆𝑇=2494 − 𝐹𝜆𝑇=2030 =
= 0,15915 − 0,06792 = 0,091
Foi usada interpolação do 3º grau para cálculo dos valores intermédios.
A máxima intensidade espetral verifica-se para
𝜆𝑚𝑎𝑥 𝑇 = 2897,8 ⇒ 𝜆𝑚𝑎𝑥 = 0,500 𝜇𝑚
ou seja, entre o azul e o ciano (azul claro).
O intervalo/cor a que corresponde uma maior quantidade de energia radiante é o vermelho, que
também é o maior intervalo, com 12,3% do total de radiação, seguido do violeta com 9,1% do
total.
A radiação na zona visível corresponde a cerca de 46% do total de radiação solar.

187
Capítulo 5 – Radiação térmica

P5.2
A superfície P é um painel radiante com características de um
emissor difuso. Avalie o efeito da distância 𝐷 e da posição
relativa () de uma superfície recetora (R), na percentagem da
radiação recebida do painel, relativamente ao máximo
possível.
Considere que as dimensões das superfícies são muito menores que a distância que as separa.
Resolução e discussão

Vamos considerar que as superfícies P e R são quase infinitesimais. Assim, a sua área é uma
área elementar, e 𝐷 e  não variam com o ponto da superfície considerado. Desse modo,
podemos escrever a potência radiativa recebida por R, a partir da que sai de P, recorrendo à
definição de intensidade de radiação (de P) e ângulo sólido – equação (5.13):
𝐴 cos 𝜃
𝑄̇𝑖𝑛𝑐,𝑅 = 𝑖𝑃 𝐴𝑃 cos 𝜃 𝜔𝑃−𝑅 = 𝑖𝑃 𝐴𝑃 cos 𝜃 𝐷𝑅2 = 𝑖𝑃 𝐴𝑃 𝐴𝑅 𝐷2

Esta equação expressa que a radiação recebida é máxima quando 𝜃 = 0º, aumentando com a
proximidade a P (menor D). Note-se no entanto que se D for muito reduzida a hipótese de
superfícies com dimensões pequenas face a D passa a não ser válida.
A potência radiativa que sai de P em todas as direções é (sendo P difusa):
𝑄̇𝑠𝑎𝑖,𝑃 = π 𝑖𝑃 𝐴𝑃
que será igual ao máximo (ideal) que R poderia receber de P. O quociente entre ambas as
potências, para uma área 𝐴𝑅 unitária, será:
𝑄̇𝑖𝑛𝑐,𝑅 cos 𝜃
=
𝑄̇𝑠𝑎𝑖,𝑃 π𝐷 2

O gráfico seguinte representa este quociente em percentagem, para distâncias entre 0,6 e 3 m.

A percentagem recebida aumenta inversamente com o quadrado da distância, pelo que uma
redução da distância para metade aumenta 4 vezes a radiação recebida. O afastamento (em
ângulo) da normal reduz a radiação recebida, que é zero para a direção tangencial (𝜃 = 90º).

188
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P5.3
Um sensor infravermelho de movimento (S) deve
assinalar a aproximação de uma peça quente a
100ºC, com uma área de 100 cm2, quando esta está
a uma distância 𝑥1 = 0,5 m.
Considerando que a superfície da peça tem um
comportamento de corpo negro, qual será a
irradiação no sensor a partir da qual deve actuar o
seu sinal de saída?
Considere que as dimensões das superfícies do sensor e da peça são muito menores que a
distância que as separa.
Resolução e discussão

Sendo a superfície da peça quente um corpo negro, podemos calcular a intensidade de radiação
que ela emite. Das equações (5.1) e (5.5):
𝜎𝑇 4 5,670×10−8 ×373,154
𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁 (𝑇) = 𝜎𝑇 4 = 𝜋 𝑖 ⇒ 𝑖𝑍𝑄 = = = 350 W/m2sr
𝜋 𝜋

Vamos recorrer à geometria representada na figura seguinte

e expressar a potência emitida pela peça quente (ZQ) que chega ao sensor (S):
𝐴 cos 𝜃
𝑄̇𝑍𝑄−𝑆 = 𝑖𝑍𝑄 𝐴𝑍𝑄 cos 𝜃𝑍𝑄 𝜔𝑍𝑄−𝑆 = 𝑖𝑍𝑄 𝐴𝑍𝑄 cos 𝜃𝑍𝑄 𝑆 𝐷2 𝑆

considerando as áreas em causa muito pequenas face a D.


D é facilmente calculável pela figura acima, assim como 𝜃𝑍𝑄 :
𝐷 = √(12 + 0,52 ) =1,118 m
1
cos 𝜃𝑍𝑄 = cos 𝜃𝑠 = 𝐷 = 0,894

vindo então
0,894
𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑆 = 𝑄̇𝑍𝑄−𝑆 /𝐴𝑆 = 350 × 0,01 × 0,894 × 1,1182 = 2,2 W/m2

A partir deste valor de irradiação o sensor deverá permitir sinalizar a proximidade da peça.
Note-se que se a sinalização passar a ser dada para metade da distância (𝑥1 = 0,25 m), a
irradiação correspondente passará a ser de 3,1 W/m2, valor superior pelas reduções de 𝜃𝑆 e de
D.

189
Capítulo 5 – Radiação térmica

P5.4

A emissividade hemisférica espectral de uma


superfície foi medida a 800 K, e pode ser aproximada
pelo gráfico ao lado.
Calcule a sua emissividade total hemisférica e o poder
emissivo.

Resolução e discussão

Trata-se de uma superfície com um comportamento seletivo (não cinzenta). A sua emissividade
total corresponde à média das emissividades espetrais. Mas essa média tem de ser pesada com
a radiação efetivamente emitida nos vários comprimentos de onda, o que depende da
temperatura em causa.
A partir da definição de emissividade, e dividindo em 3 intervalos de acordo com o gráfico:
∞ 𝜆 𝜆 ∞
𝑞̇ 𝑒𝑚 (𝑇) ∫0 𝜀𝜆 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 𝜀1 ∫0 1 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 𝜀2 ∫𝜆 2 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 𝜀3 ∫𝜆 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆
1 2
𝜀(𝑇) = 𝑞̇ = ∞ = ∞ + ∞ + ∞
𝑒𝑚,𝐶𝑁 (𝑇) ∫0 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 ∫0 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 ∫0 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 ∫0 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆

ou seja
𝜀(𝑇) = 𝜀1 ∙ 𝐹0−𝜆1 (𝑇) + 𝜀2 ∙ 𝐹𝜆1 −𝜆2 (𝑇) + 𝜀3 ∙ 𝐹𝜆2 −∞ (𝑇) =
= 0,3 × 𝐹0−3 (800 K) + 0,8 × 𝐹3−7 (800 K) + 0,1 × 𝐹7−∞ (800 K)

As frações para o corpo negro obtêm-se a partir da Tabela 5.1:


𝐹0−3 (800 K) = 𝐹(𝜆𝑇 = 2400 μmK) = 0,1403
𝐹3−7 (800 K) = 𝐹(𝜆𝑇 = 5600 μmK) − 𝐹0−3 (800 K) = 0,7010 − 0,1403 = 0,5607
𝐹7−∞ (800 K) = 1 − 𝐹0−7 (800 K) = 1 − 0,7010 = 0,2990
vindo então a emissividade total
𝜀(800 K) = 0,3 × 0,1403 + 0,8 × 0,5607 + 0,1 × 0,2990 = 0,521
O poder emissivo é igual a
𝑞̇ 𝑒𝑚 (800 K) = 𝜀 𝜎𝑇 4 = 0,521 × 5,670 × 10−8 × 8004 = 12100 W/m2
O gráfico seguinte sobrepõe o poder emissivo de um corpo negro, a emissividade e o poder
emissivo da superfície, todos em termos espetrais.

190
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P5.5
Um coletor solar a ar simples é composto por uma placa
coletora com uma face exposta à radiação solar, revestida com
dióxido de titânio, que tem um comportamento
aproximadamente difuso, e as seguintes propriedades
espetrais:
𝜀0−2,5 μm = 0,95 , 𝜀𝜆>2,5 μm = 0,05.
A placa transfere calor para o ar que circula na face posterior, e perde calor para o exterior
(ambiente), por convecção e por radiação.
Calcule os valores de 𝛼 e 𝜀 totais quando a placa recebe radiação solar e se encontra a uma
temperatura de 90ºC. Qual o efeito do revestimento seletivo na transferência de calor para o
fluido a aquecer (ar)?

Resolução e discussão

A emissividade total da placa é a média pesada das emissividades espetrais, existindo dois
valores diferentes (abaixo de 2,5 μm e acima):
2,5 ∞
0,95 ∫0 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 0,05 ∫2,5 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆
𝜀(𝑇𝑝𝑙𝑎𝑐𝑎 ) = ∞ + ∞ =
∫0 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 ∫0 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆

= 0,95 × 𝐹0−2,5 (2,5 × 363,15 μmK) + 0,05 × (1 − 𝐹0−2,5 ) ≅ 0 + 0,05 × 1 = 0,05


A emissividade total da placa é igual à emissividade espetral acima de 2,5 μm, porque a 90ºC
a placa não emite radiação abaixo desse comprimento de onda.
Quanto ao coeficiente de absorção, pela lei de Kirchoff os valores espetrais são iguais aos da
emissividade, isto é
𝜀𝜆 = 𝛼𝜆
mas a radiação recebida é radiação solar proveniente de uma temperatura muito mais elevada
(equivalente a um corpo negro a 5800 K), pelo que
𝛼(𝑇𝑠𝑜𝑙, 𝐶𝑁 ) = 0,95 × 𝐹0−2,5 (2,5 × 5800 μmK) + 0,05 × (1 − 𝐹0−2,5 (14500 μmK))
= 0,95 × 0,966 + 0,05 × (1 − 0,966) = 0,92
ou seja, como quase toda a radiação solar se situa nos comprimentos de onda abaixo de 2,5 μm,
o coeficiente de absorção é muito elevado.
Este revestimento permite reduzir as perdas de calor por radiação para o exterior, e aumentar a
temperatura da placa, o que por sua vez permite aumentar a potência calorífica recebida pelo ar
(ver figura seguinte). O problema P6.11 tratará do balanço energético global de um coletor deste
tipo.

191
Capítulo 5 – Radiação térmica

P5.6
Uma superfície cinzenta tem o coeficiente de
absorção direcional representado no gráfico ao
lado. O coeficiente de absorção é isotrópico em
relação ao ângulo circunferencial.
Calcule a emissividade total hemisférica de uma
placa com essas propriedades.
Se essa placa estiver em órbita fora da atmosfera
terrestre, recebendo uma irradiação solar de 1400
W/m2 perpendicular à superfície, a que
temperatura ficará? Admita a placa isolada na face
posterior.
Resolução e discussão

Para calcular a emissividade hemisférica teremos de avaliar o valor médio das várias direções.
Usando a equação (5.10)
𝜋/2 2𝜋/6 𝜋/2
𝜀ℎ𝑒𝑚 = 2 ∫0 𝜀𝜃 cos 𝜃 sen𝜃 𝑑𝜃 = 2 (∫0 0,9 cos 𝜃 sen𝜃 𝑑𝜃 + ∫2𝜋/6 0,1 cos 𝜃 sen𝜃 𝑑𝜃 )

0,9 𝜋/3 0,1 𝜋/2


= 2 × ( 2 sen2 𝜃|0 + 2
sen2 𝜃|𝜋/3 ) = 0,9 × 0,75 + 0,1 × 0,25 = 0,7

Note-se que os pesos dos intervalos angulares dependem, não da sua amplitude, mas da
amplitude do sen2 𝜃. Usando a amplitude dos intervalos a média pesada seria igual a
0,9 × 2/3 + 0,1 × 1/3 = 0,63.
Se a placa se encontrar em órbita receberá a radiação solar (na perpendicular à superfície) e
perderá calor por emissão de radiação para o espaço, em todas as direções. Não havendo outras
fontes de calor (o espaço está a 0 K, e despreza-se qualquer radiação proveniente da Terra), a
temperatura da placa resultará do equilíbrio entre esses fluxos. A figura abaixo representa-os.

A equação de balanço, em regime permanente, é então


𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐 𝛼|𝜃=0 = 𝜀ℎ𝑒𝑚 𝜎𝑇 4
vindo
𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐 𝛼|𝜃=0 1/4 1400×0,9 1/4
𝑇=( ) = (0,7×5,670×10−8) = 422,11 K = 149 ºC
𝜀ℎ𝑒𝑚 𝜎

192
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P5.7
O filamento de uma lâmpada de incandescência, em
funcionamento normal, está a 2500 K. O bolbo de vidro da
lâmpada (com 0,8 mm de espessura) tem um coeficiente de
transmissão igual a 0,91 de 0,3 a 3 μm, sendo 0 para outros
comprimentos de onda. O filamento (de tungsténio) tem as
seguintes propriedades
𝜀0−1 μm = 0,5 , 𝜀𝜆>1 μm = 0,15.
Em relação à radiação emitida pelo filamento, calcule a
percentagem da radiação visível e a percentagem da radiação total que atravessam o bolbo de
vidro.

Resolução e discussão

Temos de calcular as frações de radiação emitidas na zona de comprimentos de onda visíveis,


e na zona que pode atravessar o vidro (visível e infravermelha), uma vez que o vidro é opaco a
partir dos 3 μm.
Vamos começar por calcular as frações para um corpo negro (que o filamento não é), recorrendo
à Tabela 5.1:
𝐹0,35−0,74 μm (2500 K) = 𝐹0−0,74 μm − 𝐹0−0,35 μm = 0,045 − 0 = 0,045
𝐹0,35 −3 μm (2500 𝐾) = 𝐹0−3 μm = 0,834
Estes valores significam que se o filamento fosse um corpo negro, 4,5% da radiação emitida
seria visível, e 83,4% estariam em condições de atravessar o vidro. Como não é negro, teremos
de calcular a sua emissividade total e as frações (percentagens) em causa. A fração emitida na
zona visível é dada por
0,74 0,35
𝑓𝑖𝑙 ∫0 𝜀𝑓𝑖𝑙,𝜆 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆−∫0 𝜀𝑓𝑖𝑙,𝜆 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆
𝐹0,35−0,74μm (2500 𝐾) = 𝜀𝑓𝑖𝑙 𝜎𝑇 4

usando o sobreíndice fil para distinguir a fração da fração de um corpo negro. É necessário
calcular também a
1 ∞
𝜀0−1μm ∫0 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 𝜀1−∞ ∫1 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆
𝜀𝑓𝑖𝑙 = ∞ + ∞ =
∫0 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆 ∫0 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆

= 𝜀0−1 𝐹0−1 (2500 K) + 𝜀1−∞ 𝐹1−∞ (2500 K) =

= 0,5 × 0,1617 + 0,15 × (1 − 0,1617) = 0,2066

Então temos
𝑓𝑖𝑙 𝜀0−0,74 𝜀0−0,35 0,5
𝐹0,35−0,74 = 𝐹0−0,74 − 𝐹0−0,35 = × 0,045 − 0 = 0,1089
𝜀𝑓𝑖𝑙 𝜀𝑓𝑖𝑙 0,2066
Desta fração (visível) emitida atravessam o vidro
𝑓𝑖𝑙
𝐹0,35−0,74 𝜏𝑣𝑖𝑑𝑟𝑜,0,35−0,74 = 0,1089 × 0,91 = 0,099

ou seja, cerca de 10% da radiação emitida.

193
Capítulo 5 – Radiação térmica

Quanto a toda a radiação que pode atravessar o vidro, incluindo a infravermelha até 3 μm, temos
a fração emitida
3
𝑓𝑖𝑙 𝑓𝑖𝑙 ∫0,74 𝜀𝑓𝑖𝑙,𝜆 𝑞̇ 𝑒𝑚,𝐶𝑁,𝜆 𝑑𝜆
𝐹0,35−3μm (2500 𝐾) = 𝐹0,35−0,74μm + =
𝜀𝑓𝑖𝑙 𝜎𝑇 4

𝑓𝑖𝑙 0,5 0,15


= 𝐹0,35−0,74 + 0,2066 𝐹0,74−1 + 0,2066 𝐹1−3 =

0,5 0,15
= 0,1089 + 0,2066 (0,1617 − 0,045) + 0,2066 (0,834 − 0,1617) = 0,879

Neste caso atravessam o vidro


𝑓𝑖𝑙
𝐹0,35−3 𝜏𝑣𝑖𝑑𝑟𝑜,0,35−3 = 0,879 × 0,91 = 0,800
ou seja, 80% da radiação emitida.
Assim, em relação ao objetivo da lâmpada, que é o de gerar luz visível, apenas uma pequena
percentagem da energia gasta cumpre esse objetivo. Devido à sua baixa eficiência este tipo de
lâmpada foi já abandonado, sendo substituído por tipos mais eficientes, como as lâmpadas LED.
Em relação aos restantes 20% de radiação (100-80%) que não atravessam o bolbo, são na sua
maioria absorvidos ou refletidos para o interior, aquecendo o bolbo de vidro, que também troca
calor com o exterior. No problema P6.9 faz-se o balanço global desta lâmpada, permitindo
calcular a temperatura atingida pelo bolbo.

194
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P5.8

Calcule o fator de visão da superfície 2 para a superfície 3 da


figura ao lado.

Resolução e discussão

Podemos calcular os fatores de visão 𝐹3−1 e 𝐹3−(1+2) usando a expressão da Figura 5.10 (planos
perpendiculares com uma aresta comum). Usando a figura abaixo como referência, temos
𝑍1 1
𝐻3−1 = = 2 = 0,5
𝑋
{ 𝑌3 1 } 𝐹3−1 = 0,241
𝑊3−1 = = 2 = 0,5
𝑋

𝑍 +𝑍 2
𝐻3−(1+2) = 1 𝑋 2 = 2 = 1
{ 𝑌 1 } 𝐹3−(1+2) = 0,292
𝑊3−(1+2) = 𝑋3 = 2 = 0,5

O fator 𝐹3−(1+2) relaciona-se com os individuais, através do princípio da sobreposição:


𝐹3−(1+2) = 𝐹3−1 + 𝐹3−2
Podemos desta equação, e dos valores anteriores, calcular 𝐹3−2.

𝐹3−2 = 𝐹3−(1+2) − 𝐹3−1 = 0,292 − 0,241 = 0,051


Agora, pela relação de reciprocidade, podemos calcular:
𝐴 1×2
𝐹2−3 = 𝐴3 𝐹3−2 = 1×2 × 0,051 = 0,051
2

195
Capítulo 5 – Radiação térmica

P5.9
Calcule o fator de visão da ranhura da figura para o exterior.
Calcule também o fator de visão das superfícies verticais da
ranhura para o exterior. Considere a largura (l) muito grande.
Avalie o erro cometido nos cálculos anteriores se 𝑙 = 10 𝑎, com
𝑎 = 1 e 𝑏 = 1.

Resolução e discussão

Considerando a largura (l) infinita, podemos identificar 4 superfícies planas que formam um
volume fechado: 2 verticais e uma horizontal, formando a ranhura, e uma outra virtual, que
fecha o volume e representa a passagem para o exterior, como representa a figura seguinte.

Então queremos começar por calcular o fator de visão das 3 superfícies que compõem a ranhura
para o exterior, ou seja 𝐹(1+2+3)−4. Pela relação de reciprocidade podemos escrever
𝐹(1+2+3)−4 = 𝐴4 𝐹4−(1+2+3) /𝐴(1+2+3)
Tendo em conta que toda a radiação que sai de 4 (face virtual inferior) vai ter a 1, 2 ou 3, ou
seja que 𝐹4−(1+2+3) = 1:
𝑎
𝐹(1+2+3)−4 = 𝐴4 × 1/𝐴(1+2+3) = 𝑎+2𝑏

Queremos também calcular o fator 𝐹(1+3)−4. Usando a mesma relação de reciprocidade:


𝐹(1+3)−4 = 𝐴4 𝐹4−(1+3) /𝐴(1+3)
Quanto a 𝐹4−(1+3) , podemos usar o princípio da sobreposição e depois o da simetria, vindo:
𝑎×2 𝑎
𝐹(1+3)−4 = 𝐴4 (𝐹4−1 + 𝐹4−3 )/𝐴(1+3) = 𝐴4 × 2𝐹4−1 /𝐴(1+3) = 𝐹 = 𝐹4−1
2×𝑏 4−1 𝑏

Podemos calcular 𝐹4−1 pela expressão da Figura 5.7, para planos perpendiculares com uma
aresta comum, sendo então:
1/2 1/2
1+𝑤1 ⁄𝑤4 −(1+(𝑤1 /𝑤4 )2 ) 1+𝑏⁄𝑎−(1+(𝑏/𝑎)2 )
𝐹4−1 = 2
= 2

e por sua vez:


1/2
𝑎 1+𝑏⁄𝑎−(1+(𝑏/𝑎)2 )
𝐹(1+3)−4 = 𝑏 2

Considerando 𝑎 = 𝑏 = 1 temos os seguintes valores para os 2 fatores:


𝑎 1
𝐹(1+2+3)−4 = 𝑎+2𝑏 = 1+2×1 = 0,333

1/2 1/2
𝑎 1+𝑏⁄𝑎−(1+(𝑏/𝑎)2 ) 1 1+1−(1+(1)2 )
𝐹(1+3)−4 = 𝑏 = × = 0,293
2 1 2

196
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Pode concluir-se que a maior parte da radiação que sai da ranhura fica na própria ranhura (2/3).
Quanto à radiação que sai das superfícies verticais, 29,3% vão para o exterior, outros 29,3%
vão para a superfície horizontal (2), e os restantes 41,4% ficam nas próprias superfícies verticais
(1+3).
Vamos agora efetuar os cálculos para uma largura finita, igual a 10. Vamos considerar 2 novas
superfícies virtuais nos topos, como mostra a figura:

Queremos então calcular agora: 𝐹(1+2+3)−(4+5+6) e 𝐹(1+3)−(4+5+6) . Podemos expressar o


primeiro usando os vários princípios vistos:
𝐹(1+2+3)−(4+5+6) = 𝐹(1+2+3)−4 + 𝐹(1+2+3)−5 + 𝐹(1+2+3)−6 =
𝐴4 𝐴5
=𝐴 (𝐹4−1 + 𝐹4−2 + 𝐹4−3 ) + 2 × (𝐹5−1 + 𝐹5−2 + 𝐹5−3 )
(1+2+3) 𝐴(1+2+3)

𝐴4 𝐴5
=𝐴 (2 × 𝐹4−1 + 𝐹4−2 ) + 2 × (2 × 𝐹5−1 + 𝐹5−2 )
(1+2+3) 𝐴(1+2+3)

Usando as expressões das Figuras 5.9 (planos paralelos alinhados) e 5.10 (planos
perpendiculares com aresta comum) podemos calcular os fatores de visão 𝐹4−1 , 𝐹4−2 , 𝐹5−1 e
𝐹5−2 . Obtêm-se então os valores:
𝐹4−1 = 0,282
𝐹4−2 = 0,386
𝐹5−1 = 0,249
𝐹5−2 = 𝐹5−1 = 0,249
1×10 1×1
𝐹(1+2+3)−(4+5+6) = 3×10 (2 × 0,282 + 0,386) + 2 × 3×10 (2 × 0,249 + 0,249) = 0,366

Quanto a 𝐹(1+3)−(4+5+6) temos:


𝐹(1+3)−(4+5+6) = 𝐹(1+3)−4 + 𝐹(1+3)−5 + 𝐹(1+3)−6 =
𝐴4 𝐴5
=𝐴 (𝐹4−1 + 𝐹4−3 ) + 2 × (𝐹5−1 + 𝐹5−3 ) =
(1+3) 𝐴(1+3)

𝐴4 𝐴5
=𝐴 (2 × 𝐹4−1 ) + 2 × (2 × 𝐹5−1 ) =
(1+3) 𝐴(1+3)

1×10 1×1
= 2×10 (2 × 0,282) + 2 × 2×10 (2 × 0,249) = 0,332

Então, considerando a largura finita da ranhura e portanto as perdas pelos topos, o fator de visão
da ranhura para o exterior é igual a 0,366, comparado com os 0,333 calculados anteriormente
(largura infinita); há um aumento de 10%. Quanto ao fator de visão das superfícies verticais da
ranhura (1 e 3) para o exterior, é igual a 0,332, enquanto sem considerar os topos se tinha 0,293
(mais 13%).

197
Capítulo 5 – Radiação térmica

P5.10

Uma sala é um espaço fechado, com o teto (1, 𝜀 =


0,8, 30ºC) e chão (2, 𝜀 = 0,9, 30ºC) aquecidos por
elementos elétricos. A parede da direita (3) tem 𝜀 = 0,7
e encontra-se a uma temperatura de equilíbrio de 15ºC
num dia de Inverno. A parede da esquerda (4) e as
restantes (5A e 5B) estão muito bem isoladas pelo
exterior; estas (5A e 5B) podem tratar-se como uma
única (5).
Sendo todas as superfícies cinzentas e difusas, calcule o balanço radiativo e a temperatura de
cada superfície, desprezando a convecção).

Resolução e discussão

Vamos considerar que as superfícies apenas trocam calor por radiação, como especificado.
Podemos escrever as equações de radiosidade das 3 superfícies cuja temperatura é conhecida:
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 𝜀1 𝜎𝑇14 + (1 − 𝜀1 )(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝐹1−2 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 𝐹1−3 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 𝐹1−4 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 𝐹1−5 )
{𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 𝜀2 𝜎𝑇24 + (1 − 𝜀2 )(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐹2−1 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 𝐹2−3 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 𝐹2−4 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 𝐹2−5 )
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 = 𝜀3 𝜎𝑇34 + (1 − 𝜀3 )(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐹3−1 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝐹3−2 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 𝐹3−4 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 𝐹3−5 )

Quanto às superfícies cuja temperatura não é conhecida (4 e 5), vamos utilizar as suas equações
de balanço energético, relembrando que não trocam calor a não ser com as outras superfícies, e
que a superfície 5 envia radiação para si própria:
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐹4−1 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝐹4−2 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 𝐹4−3 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 𝐹4−5
{
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐹5−1 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝐹5−2 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 𝐹5−3 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 𝐹5−4 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 𝐹5−5

Calculados os fatores de visão, poderemos resolver o sistema linear de 5 equações e calcular as


5 radiosidades. Usando as expressões das Figuras 5.9 (planos paralelos alinhados) e 5.10
(planos perpendiculares com aresta comum), a par dos princípios da reciprocidade, simetria e
sobreposição, podemos calcular:
entre 1 e 2: 𝑋⁄𝐿 = 10⁄4 = 2,5 ; 𝑌⁄𝐿 = 6⁄4 = 1,5 ; 𝐹1−2 = 𝐹2−1 = 0,39

entre 1 e 3/4: 𝑍 ⁄𝑋 = 4⁄10 = 0,4 ; 𝑌⁄𝑋 = 6⁄10 = 0,6 ; 𝐹1−3 = 𝐹1−4 = 0,19
entre 3 e 4: 𝑋⁄𝐿 = 10⁄6 = 1,66 ; 𝑌⁄𝐿 = 4⁄6 = 0,67 ; 𝐹3−4 = 𝐹4−3 = 0,19

por simetria: 𝐹2−4 = 𝐹1−3 = 0,19


𝐴 𝐴 60
por reciprocidade e simetria: 𝐹3−2 = 𝐴2 𝐹2−3 = 𝐴2 𝐹1−3 = 40 0,19 = 0,285 = 𝐹3−1
3 3

𝐹1−5 = 1 − 𝐹1−2 − 𝐹1−3 − 𝐹1−4 = 0,23


𝐴 60
𝐹5−1 = 𝐴1 𝐹1−5 = 48 0,23 = 0,288 = 𝐹5−2
5

𝐹2−5 = 1 − 𝐹2−1 − 𝐹2−3 − 𝐹2−4 = 1 − 0,39 − 0,19 − 0,19 = 0,23

𝐹3−5 = 1 − 𝐹3−1 − 𝐹3−2 − 𝐹3−4 = 1 − 0,285 − 0,285 − 0,19 = 0,24

198
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

𝐴 40
𝐹5−3 = 𝐴3 𝐹3−5 = 48 0,24 = 0,20 = 𝐹5−4
5

𝐹5−5 = 1 − 𝐹5−1 − 𝐹5−2 − 𝐹5−3 − 𝐹5−4 = 1 − 0,288 − 0,288 − 0,2 − 0,2 = 0,024

Temos então o sistema:


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 0,8 𝜎 303,154 + 0,2(0,39 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 + 0,19 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 + 0,19 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 + 0,23 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 )
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 0,9 𝜎 303,154 + 0,1(0,39 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 + 0,19 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 + 0,19 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 + 0,23 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 )
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 = 0,7 𝜎288,154 + 0,3(0,285 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 + 0,285 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 + 0,19 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 + 0,24 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 )
𝑞̇𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 = 0,285 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 + 0,285 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 + 0,19 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 + 0,24 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5
{ 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 = 0,288 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 + 0,288 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 + 0,2 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 + 0,2 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 + 0,024 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5

cuja solução é:
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 474,7 𝑊/𝑚2
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 476,7 𝑊/𝑚2
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 = 414,3 𝑊/𝑚2
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 = 460,2 𝑊/𝑚2
{ 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 = 459,9 𝑊/𝑚2

Note-se que as maiores radiosidades correspondem às superfícies mais quentes (teto e chão,
que são aquecidos eletricamente), embora não seja a temperatura o único fator decisivo (a
emissividade tem um papel importante na radiosidade).
Podemos recorrer às equações de balanço térmico de 1, 2 e 3, para calcular as potências que
elas devem trocar para estarem em equilíbrio, e às equações de radiosidades de 4 e 5, para
calcular as suas temperaturas. Temos:

𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 = −1008 𝑊
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 = −1177 𝑊
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,3 = +2186 𝑊
𝑇4 = 300,15 K = 27o C
{ 𝑇5 = 300,10 K ≅ 27o C

Note-se na pequeníssima diferença entre as potências caloríficas perdidas (1 e 2) e ganhas (3)


no interior do volume fechado, que é de apenas 1 W, e se deve a erros de arredondamento. As
superfícies 4 e 5 têm um balanço nulo, as superfícies 1 e 2 (teto e chão) perdem calor para as
restantes, devendo receber igual potência do sistema de aquecimento elétrico para se
encontrarem em equilíbrio, e a superfície 3 recebe a potência perdida pelas superfícies
aquecidas (1 e 2), que liberta para o exterior.

199
Capítulo 5 – Radiação térmica

P5.11

O tratamento térmico da superfície de um espelho refletor


parabólico passa por mantê-lo a uma temperatura de 600 K,
usando-se para tal um aquecedor de infravermelhos, cuja
superfície é mantida a 1000 K. A emissividade do aquecedor é
de 0,9 e a do refletor de 0,5 (ambos cinzentos e difusos). O
conjunto está colocado numa sala com superfícies envolventes
a 300 K, que se comportam como corpos negros.
Calcule a potência de aquecimento, considerando as superfícies muito longas para cálculo dos
fatores de visão (infinitas no plano perpendicular ao do desenho), e desprezando a convecção.

Resolução e discussão

Temos uma situação de trocas radiativas entre 3 superfícies cinzentas e difusas que formam um
volume fechado: a superfície do aquecedor (superfície 1), a superfície do refletor (2), e as
superfícies envolventes do conjunto (3).
Podemos representar as trocas através do seguinte esquema de resistências de radiação:

Não podemos calcular uma resistência global equivalente, uma vez que a superfície 3 (mais
fria) não se encontra isolada: ela tem um balanço radiativo positivo (recebe energia) que irá ter
de libertar para o seu exterior de modo a assegurar o regime permanente. No entanto, podemos
usar o esquema acima, efetuando o balanço dos nodos radiosidade, o que resulta em:
𝜎𝑇14 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝜎𝑇34
(1−𝜀1 )⁄𝜀1
= 1⁄𝐹1−2
+ 1⁄𝐹1−3

𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 −𝜎𝑇24 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 −𝜎𝑇34 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2


(1−𝜀2 )⁄(𝐴2 𝜀2 )
+ =
1⁄(𝐴2 𝐹2−3 ) 1⁄(𝐴1 𝐹1−2 )

Conhecem-se as temperaturas 𝑇1 = 1000 K e 𝑇2 = 600 K, e as emissividades, pelo que através


do cálculo dos fatores de visão se podem obter as radiosidades de 1 e 2. Para calcular o fator
𝐹1−2 vamos servir-nos do facto de a superfície 2 poder ser considerada infinita em
profundidade, pelo que, como representa a figura seguinte, se pode considerar como o fator
entre 2 planos paralelos (1 e 2’).

200
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Então, usando a informação da Figura 5.9, obtém-se


𝐹1−2 = 𝐹1−2′ = 0,39
vindo ainda
𝐹1−3 = 1 − 𝐹1−2 = 0,61
𝐴2′ 10
𝐴2 𝐹2−3 = 𝐴2′ 𝐹2′−3 = 𝐴2′ 𝐹1−3 ⟹ 𝐹2−3 = 𝐹1−3 = 15 × 0,61 = 0,41
𝐴2

Substituindo estes fatores nas equações anteriores obtemos o sistema de equações


56700−𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −459
(1−0,9)⁄0,9
= +
1⁄0,39 1⁄0,61
{ 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 −7348 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 −459 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2
(1−0,5)⁄(15×0,5)
+ =
1⁄(15×0,41) 1⁄(10×0,39)

cuja resolução conduz a


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 51547 W/m2
{
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 12538 W/m2

A partir das radiosidades podemos então calcular os balanços de 1 e 2, vindo:


4
𝜎𝑇1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 = − (1−𝜀 )⁄(𝐴 𝜀 )
= −463,8 kW
1 1 1

𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 −𝜎𝑇2 4
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 = (1−𝜀 )⁄(𝐴 𝜀 )
= 77,85 kW
2 2 2

A potência de aquecimento (a fornecer ao aquecedor) é então de 463,8 kW, enquanto o refletor


recebe 77,85 kW. As superfícies exteriores recebem um total de 385,95 kW, de modo a verificar
a conservação de energia.
Se o reflector não fosse infinito, para as mesmas temperaturas das superfícies, a potência ganha
por 2 (𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 ) seria menor, porque o fator 𝐹1−2 seria menor (parte da radiação de 1 perdia-se
para 3, em vez de chegar a 2 – nos topos).
Se o refletor fosse plano, em vez de parabólico, e com a mesma área do aquecedor, refazendo
os cálculos obter-se-ia uma potência (𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2) de 65 kW, ou seja, ganharia menos calor por ter
menor área. E |𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 | seria um pouco menor: 456 kW (a área a aquecer seria menor).

201
Capítulo 5 – Radiação térmica

P5.12
Um aquecedor radiativo consiste num conjunto
de tubos cerâmicos com elementos aquecedores
internos. Os tubos têm um diâmetro de 20 mm e
estão espaçados de 50 mm. É colocada uma
superfície isolada por trás dos tubos. Determine
o fluxo radiativo ganho pelo material aquecido
quando os tubos são mantidos a 1000 K.
O material está a 500 K, e todas as superfícies são cinzentas e difusas.

Resolução e discussão

Temos uma situação de trocas radiativas entre 3 superfícies cinzentas e difusas que formam um
volume fechado: a superfície dos elementos aquecedores (no seu conjunto a superfície 1), a
superfície do material aquecido (2), e a superfície isolada no lado oposto ao material (3).
Podemos representar as trocas através do seguinte esquema de resistências de radiação:

Como a superfície 3 está perfeitamente isolada, é uma superfície re-radiante, recebendo e


perdendo a mesma quantidade de energia do lado do volume fechado, e com uma radiosidade
igual à de um corpo negro. Assim, o balanço radiativo de 1 é igual ao de 2, em valor absoluto,
e podemos calcular uma resistência global equivalente, vindo:
𝜎𝑇14 −𝜎𝑇24
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 = 1−𝜀1 1 1−𝜀2
+ +
𝐴1 𝜀1 𝐴1𝐹1−2 +[(1⁄(𝐴1 𝐹1−3 ))+(1⁄(𝐴2 𝐹2−3 ))]−1 𝐴2 𝜀2

O fator de visão do material para os aquecedores pode calcular-se através de uma expressão
constante da Figura 5.8:
0,5 0,5
𝐷 2 𝐷 𝑠2 −𝐷2
𝐹2−1 = 1 − [1 − ( 𝑠 ) ] + 𝑠 tan−1 [( ) ]=
𝐷2
0,5 0,5
20 2 20 0,052 −0,022
= 1 − [1 − (50) ] + 50 tan−1 [( ) ] = 0,5472
0,022

sendo possível obter 𝐹1−2 pela relação de reciprocidade. Também permite calcular o fator 𝐹2−3 ,
por diferença para 1, sendo igual a 0,4528.
Quanto ao outro fator necessário, 𝐹1−3 , é igual a 1 − 𝐹1−2, e 𝐹3−1 é o seu recíproco.

202
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Expressando o balanço radiativo de 2 por unidade de área, e considerando uma secção unitária
entre 2 tubos aquecedores (representada na figura seguinte), tem-se:

𝜎𝑇14 −𝜎𝑇24
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑,2 = (1−𝜀1)𝐴2 𝐴2 (1−𝜀2 )𝐴2 =
+ +
𝜀1 𝐴1 𝐴2 𝐹2−1 +[(1⁄(𝐴3 𝐹3−1 ))+(1⁄(𝐴2 𝐹2−3 ))]−1 𝜀2 𝐴2

𝜎𝑇14 −𝜎𝑇24
= (1−𝜀1)𝑠 𝑠 (1−𝜀2 ) = 12590 W/m2
+ +
𝜀1 𝜋𝐷 𝑠𝐹2−1 +[(1⁄(𝑠𝐹3−1 ))+(1⁄(𝑠𝐹2−3 ))]−1 𝜀2

Note-se que numa situação real, de isolamento não ideal da superfície 3, o material (2) receberia
menos calor dos aquecedores. Na situação ideal, a radiação dos aquecedores que não vai
diretamente para o material acaba por lá chegar por re-radiação de 3.

203
Capítulo 5 – Radiação térmica

P5.13

O aquecedor radiador da figura contém um elemento cilíndrico com uma resistência elétrica no
seu interior, que mantém a superfície à temperatura de 600ºC. O elemento aquecedor
(com  = =0,8) é rodeado por uma superfície semi-cilíndrica com boas características
refletoras ( =0,9, cinzenta e difusa), com 2 topos semi-circulares com as mesmas
características. Este conjunto refletor está muito bem isolado nas faces exteriores.
Estando o aquecedor colocado numa sala cujas superfícies se mantêm à temperatura de 20ºC,
calcule a potência radiativa que o aquecedor fornece às superfícies da sala, e a temperatura das
superfícies refletoras, desprezando a convecção.
Resolução e discussão

Temos uma situação de trocas radiativas entre 3 superfícies cinzentas e difusas que formam um
volume fechado: a superfície do elemento cilíndrico aquecedor (superfície 1), as superfícies
aquecidas da sala (2), e as superfícies refletoras isoladas (3).
Podemos representar as trocas através do seguinte esquema de resistências de radiação:

esquema que traduz o isolamento perfeito das superfícies refletoras (③), que sendo re-radiantes
têm uma radiosidade igual à de um corpo negro, e que as superfícies da sala (②), de área muito
superior às restantes, se comportam como um corpo negro. Podemos calcular uma resistência
equivalente do conjunto, de modo a calcular 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 = 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 (em módulo).
Os fatores de visão que intervêm no esquema acima são: 𝐹1−2 , 𝐹1−3 e 𝐹3−2 . Os 2 primeiros são
muito simples de calcular: atendendo à simetria, 𝐹1−2 = 𝐹1−3 = 0,5. Já 𝐹3−2 é mais difícil de
calcular, pois existem os fatores 𝐹3−1 , 𝐹3−2 e 𝐹3−3 .
O fator 𝐹3−1 obtém-se da relação de reciprocidade:
𝐴 𝜋𝐷1 𝐿 0,02×1 0,02
𝐹3−1 = 𝐴1 𝐹1−3 = 𝜋𝐷 2 𝐹1−3 = 0,3×1/2+0,32/4 × 0,5 = 0,1725 × 0,5 = 0,058
3 3 𝐿/2+𝜋𝐷 3 /4

desprezando os topos do aquecedor ①, e considerando para ③ as áreas dos 2 topos semi-


circulares.

204
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Quanto a 𝐹3−3 , vamos recorrer à referência [5], que indica para o fator de uma superfície semi-
cilíndrica infinita para si própria (③), com a existência de uma superfície cilíndrica infinita
com o mesmo centro/eixo (①):
2 0,5 𝜋
𝐹3−3 = 1 − 𝜋 ((1 − 𝑅𝐷 2 ) + 𝑅𝐷 180 arcsen 𝑅𝐷 ) [com o arcsen 𝑅𝐷 em graus]

sendo 𝑅𝐷 a razão dos diâmetros. Vem então:


0,5
2 2 2 2 𝜋 2
𝐹3−3 = 1 − 𝜋 ((1 − (30) ) + 30 180 arcsen 30) = 0,362

Note-se que as superfícies ① e ③ não são infinitas; no entanto os 2 topos semi-circulares


equivalem à restante dimensão (para além de L=1 m). Note-se também que se calculassemos o
fator 𝐹3−3 desprezando a existência de ① teríamos um valor pouco superior igual a 0,363, o
que se deve à pequena dimensão de ① relativamente a ③.
Podemos finalmente calcular o fator 𝐹3−2:
𝐹3−2 = 1 − 𝐹3−1 − 𝐹3−3 = 1 − 0,058 − 0,362 = 0,580

e a potência radiativa (balanço):


𝜎𝑇14 −𝜎𝑇24
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 = 1−𝜀1 1 =
+
𝐴1 𝜀1 𝐴1𝐹1−2 +[(1⁄(𝐴1 𝐹1−3 ))+(1⁄(𝐴3 𝐹3−2 ))]−1

5,67×10−8 ×(873,154 −293,154 )


= 1−0,8 1 = 1576 W
+
𝜋×0,02×1×0,8 𝜋×0,02×1×0,5+[(1⁄(𝜋×0,02×1×0,5))+(1⁄(𝜋×0,1725×0,58))]−1

Saliente-se que o coeficiente de reflexão das superfícies ③ não teve qualquer impacto na
potência calculada. No entanto, tal só acontece pelo seu perfeito isolamento nas faces
posteriores, o que é uma situação ideal. No problema P6.16 será considerada uma situação não
ideal para este aquecedor, com perdas de calor das superfícies refletoras.
Quanto à temperatura das superfícies refletoras (③), pode obter-se recorrendo ao esquema de
resistências visto, e ao balanço dos nodos radiosidade 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 e 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 . Podemos escrever:

𝜎𝑇14 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝜎𝑇24 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝜎𝑇34


(1−𝜀1 )⁄(𝐴1 𝜀1 )
= +
1⁄(𝐴1 𝐹1−2 ) 1⁄(𝐴1 𝐹1−3 )
{
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝜎𝑇34 𝜎𝑇34 −𝜎𝑇24
=
1⁄(𝐴1 𝐹1−3 ) 1⁄(𝐴3 𝐹3−2 )

𝜎×873,154 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝑞̇ −𝜎×293,154 𝑞̇ −𝜎𝑇 4


(1−0,8)⁄(𝜋×0,02×1×0,8)
= 1𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1
⁄(𝜋×0,02×1×0,5)
𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 3
+ 1⁄(𝜋×0,02×1×0,5)
{
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝜎𝑇34 𝜎𝑇34 −𝜎×293,154
=
1⁄(𝜋×0,02×1×0,5) 1⁄(𝜋×0,1725×0,58)

que conduz aos resultados:


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 26689 W/m2
{
𝑇3 = 471,7 K = 198,5o C
A temperatura 𝑇3 também não é influenciada pelo coeficiente de reflexão de ③, o que deixa
de acontecer numa situação mais realista de isolamento imperfeito. A temperatura será tanto
mais elevada quanto menor for o seu coeficiente de reflexão.
205
Capítulo 5 – Radiação térmica

P5.14
O interior de um forno com a forma semi-cilíndrica,
com uma dimensão perpendicular ao plano da figura
muito grande, pode considerar-se dividido em 3
superfícies: a zona de aquecimento, com uma placa
cerâmica mantida a 1600 K com queimadores de gás,
a zona de carga, onde produtos metálicos são
mantidos a 500 K, e a parede construída em tijolo
refratário (isolante).
Sendo todas as superfícies cinzentas e difusas, calcule a potência radiativa que os queimadores
de gás têm de fornecer para as condições especificadas. Calcule a temperatura das paredes na
hipótese de a convecção interior ser desprezável.

Resolução e discussão

Temos uma situação de trocas radiativas entre 3 superfícies cinzentas e difusas que formam um
volume fechado: a superfície aquecedora (superfície 1), a superfície dos produtos metálicos
aquecidos (2), e a superfície das paredes isoladas (3).
Podemos representar as trocas através do seguinte esquema de resistências de radiação:

Note-se que não há radiação trocada diretamente entre o aquecedor (1) e as peças (2), havendo
trocas entre 1 e 3, e entre 2 e 3. A superfície das paredes (3) pode considerar-se re-radiante, por
estar isolada, tendo uma resistência superficial nula. Por outro lado, os fatores de visão 𝐹1−3 e
𝐹2−3 são iguais a 1. Associando as 4 resistências em série do esquema, podemos calcular a
potência com:
𝜎𝑇14 −𝜎𝑇24 5,67×10−8 ×(16004 −5004 )
|𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 | = 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 = 1−𝜀1 1 1 1−𝜀2 = 1−0,85 1 1 1−0,8 = 151,7 kW/m
+ + + + + +
𝐴1 𝜀1 𝐴1𝐹1−3 𝐴2𝐹2−3 𝐴1 𝜀2 1×0,85 1×1 1×1 1×0,8

Para calcular a temperatura das paredes (𝑇3 ) podemos associar as resistências 2 a 2:


𝜎(16004 −𝑇34 ) 𝜎(𝑇34 −5004 )
1−0,85 1 = 1 1−0,8
+ +
1×0,85 1×1 1×1 1×0,8

o que nos permite calcular:


𝑇3 = 1359 K
Note-se que apesar de as 2 resistências associadas terem valores semelhantes (1,176 e 1,25), a
temperatura 𝑇3 está bastante mais próxima da de 𝑇1 que da de 𝑇2 . É o efeito do expoente 4.

206
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P5.15
Um forno utiliza um elemento aquecedor
cilíndrico, de 10 mm de diâmetro, que é
mantido a 1500 K e tem  = =0,95. A
superfície das peças, colocadas no fundo, é
mantida a 500 K e tem  = =0,6. As
paredes do forno, em material refratário,
podem considerar-se isoladas. A
profundidade do forno, na perpendicular ao
plano do desenho, pode ser considerada
infinita face às outras dimensões.
Considerando todas as paredes à mesma temperatura, e desprezando a convecção, calcule a
potência a fornecer ao elemento aquecedor para manter as condições especificadas. Calcule
também a temperatura das paredes.

Resolução e discussão

Temos uma situação de trocas radiativas entre 3 superfícies cinzentas e difusas que formam um
volume fechado: a superfície aquecedora (superfície 1), a superfície das peças aquecidas (2), e
a superfície re-radiante das paredes isoladas (3).
Podemos representar as trocas através do seguinte esquema de resistências de radiação:

Podemos calcular o balanço de 1 e 2 (igual a menos do sinal) usando a resistência equivalente


do conjunto acima representado:
𝜎(𝑇14 −𝑇24 )
|𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 | = 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 = 1−𝜀1 1 1−𝜀2
+ +
𝐴1 𝜀1 𝐴1𝐹1−2 +[(1⁄(𝐴1 𝐹1−3 ))+(1⁄(𝐴2 𝐹2−3 ))]−1 𝐴2𝜀2

Precisamos de calcular os fatores de visão 𝐹1−2 , 𝐹1−3 e 𝐹2−3 . Para calcular 𝐹1−2 podemos
assumir que o fator é igual ao ângulo  da figura abaixo dividido por 360º (fração do total que
sai de 1).

207
Capítulo 5 – Radiação térmica

Como,
40
𝜃 = 2 arctan 100 = 43,6º

então
43,6
𝐹1−2 = = 0,121
360

𝐹1−3 = 1 − 𝐹1−2 = 0,879


𝐴 𝜋×0,010
𝐹2−1 = 𝐴1 𝐹1−2 = × 0,121 = 0,005
2 0,80

𝐹2−3 = 1 − 𝐹2−1 = 0,995

Substituindo os valores na equação da potência:

5,67×10−8 ×(15004 −5004 )


|𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 | = 1−0,95 1 1−0,6 = 8030 W/m
+ +
𝜋×0,01×0,95 𝜋×0,01×0,121+[(1⁄(𝜋×0,01×0,879))+(1⁄(0,8×0,995))]−1 0,8×0,6

Para calcular a temperatura das paredes (𝑇3 ) vamos começar por calcular as radiosidades de 1
e 2. Atendendo ao esquema de resistências anterior:
𝜎15004 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1
(1−0,95)⁄(𝜋×0,01×0,95)
= 8030

𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 −𝜎5004
(1−0,6)⁄(0,8×0,6)
= 8030

vindo
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 273591 W/m2

𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 10235 W/m2

Recorrendo novamente ao esquema de resistências anterior, podemos efetuar o balanço do nodo


radiosidade de 3:
𝐴1 𝐹1−3 (𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝜎𝑇34 ) = 𝐴2 𝐹2−3 (𝜎𝑇34 − 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 )
ou seja, teremos:
𝜋 × 0,01 × 0,879 × (273591−𝜎𝑇34 ) = 0,8 × 0,995 × (𝜎𝑇34 − 10235)
𝑇3 = 761,5 K
Neste problema a temperatura das paredes do forno (𝑇3 ) está muito mais próxima da
temperatura da superfície aquecida (𝑇2 ) do que da do aquecedor (𝑇1 ), ao contrário do que
acontecia no forno do problema P5.14. Isso deve-se à grande resistência espacial entre 1 e 3,
em consequência da reduzida área do aquecedor, que faz aumentar a diferença entre as
temperaturas dessas superfícies (aquecedor e paredes). No problema P5.14 as resistências
espaciais entre 1 e 3 e entre 2 e 3 eram exatamente iguais, enquanto agora a primeira é quase
30 vezes maior que a segunda.
Note-se também a diferença na potência necessária do forno, que é cerca de 20 vezes menor.

208
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P5.16
Considere o sótão de um edifício
representado na figura, durante o Verão. A
dimensão perpendicular ao desenho é
muito grande. O proprietário pretende
reduzir o calor ganho pelo telhado
instalando folha de alumínio (𝜀 = 0,07) a
revestir as superfícies interiores.
Para as mesmas temperaturas 𝑇1 e 𝑇2 , calcule a redução na potência transferida por radiação
para: folha colocada na face 1, folha colocada nas faces 2, folha colocada em ambas.

Resolução e discussão

O sótão de um edifício é uma zona de potencial ganho excessivo de calor no Verão, devido à
incidência de radiação solar no exterior ser elevada. Uma das formas de evitar que esse calor
chegue ao interior consiste em reduzir a condução do calor no telhado (2) ou cobertura (1),
colocando um material isolante térmico. A outra, que pode ser usada em combinação com a
anterior, consiste em reduzir as trocas de radiação entre o telhado mais quente (2) e a cobertura
(1), colocando um material de baixa emissividade (folha de alumínio neste caso).
Podemos usar o seguinte esquema de resistências de radiação para representar as trocas entre 1
e 2:

A potência será então:


𝜎(𝑇24 −𝑇14 )
𝑄̇2−1 = 1−𝜀1 1 1−𝜀2
+ +
𝐴1 𝜀1 𝐴1 𝐹1−2 𝐴2 𝜀2

cujo valor dependerá da resistência global:


1−𝜀1 1 1−𝜀2
𝑅𝑟𝑎𝑑 = 𝐴 +𝐴 +𝐴
1 𝜀1 1 𝐹1−2 2 𝜀2

Vamos então comparar as resistências nos 3 casos possíveis para a colocação da folha de
alumínio, com a sua não utilização:
1−0,85 1 1−0,85
𝑅𝑟𝑎𝑑,𝑠𝑒𝑚 𝑓𝑜𝑙ℎ𝑎 = 10×0,85 + 10×1 + 10/cos30o ×0,85 = 0,133 m-2
1−0,07 1 1−0,85
𝑅𝑟𝑎𝑑,𝑓𝑎𝑐𝑒 1 = 10×0,07 + 10×1 + 10/cos30o ×0,85 = 1,44 m-2
1−0,85 1 1−0,07
𝑅𝑟𝑎𝑑,𝑓𝑎𝑐𝑒 2 = 10×0,85 + 10×1 + 10/cos30o ×0,07 = 1,27 m-2
1−0,07 1 1−0,07
𝑅𝑟𝑎𝑑,𝑓𝑎𝑐𝑒𝑠 1 𝑒 2 = 10×0,07 + 10×1 + 10/cos30o ×0,07 = 2,58 m-2

Como se esperava, a melhor solução consiste em revestir as 2 faces com folha de alumínio, o
que reduz a potência trocada para 5% (para as mesmas temperaturas). No entanto, o
revestimento de apenas uma face já reduz as trocas para 9% (face 1) e 10% (face 2). A colocação
apenas na face 1 é eventualmente mais interessante, pois permite gastar menos material com
bons resultados (melhor do que com colocação apenas na face 2).
209
Capítulo 5 – Radiação térmica

P5.17
Um coletor solar é constituído por vários tubos de vidro
(com 100 mm de diâmetro), no interior dos quais existe um
outro tubo em alumínio (com 50 mm de diâmetro) que
absorve a radiação solar incidente. O espaço entre os tubos
foi evacuado, havendo perdas de calor entre o tubo de
alumínio e o de vidro, perdas que depois são transferidas
para o exterior.

O tubo de vidro tem um coeficiente de transmissão (hemisférico) que varia com o comprimento
de onda da radiação incidente (𝜆), sendo igual a 0,85 para 𝜆 entre 0 e 3 m e 0 para 𝜆 acima de
3 m, e um coeficiente de absorção para 𝜆<3 m de 0,05, comportando-se como uma superfície
cinzenta e difusa para 𝜆>3 m, com =0,8.

O tubo de alumínio pode ter diferentes revestimentos, desde o dióxido de titânio que lhe confere
uma emissividade para 𝜆>3 m de 0,05 (igual ao coeficiente de absorção), até uma tinta preta
corrente que lhe confere uma emissividade para 𝜆>3 m de 0,95 (igual ao coeficiente de
absorção).
Considerando valores de emissividade do tubo interior entre 0,05 e 0,95, calcule a potência
perdida por metro de comprimento, quando a temperatura do tubo de alumínio é de 52ºC e a
temperatura do tubo de vidro é de 20,5ºC. Admita que estas temperaturas se mantêm para
diferentes emissividades.

Resolução e discussão

O vidro do tubo exterior é transparente à radiação solar situada na sua quase totalidade nos
comprimentos de onda até 3 m. Se calcularmos a fração de energia que um corpo negro a 5800
K (equivalente ao Sol) emite entre 0 e 3 m, a partir da Tabela 5.1 encontramos um valor igual
a
𝐹0−3 (3 × 5800 μmK) = 0,98
Ao invés, a radiação emitida pelo tubo de alumínio (a 52ºC) está toda situada nos comprimentos
de onda acima de 3 m; usando a mesma tabela para um corpo negro encontraríamos um valor
quase igual a 0, que se mantém verdadeiro para o tubo interior. O vidro também emite radiação
só acima dos 3 m, uma vez que se encontra a uma temperatura ainda mais baixa. Assim, acima
de 3 m, o tubo interior e o de vidro trocam radiação como 2 corpos/superfícies opacos,
podendo considerar-se cinzentos e difusos nessa gama de comprimentos de onda.
Dessa forma, podemos calcular a potência trocada usando a equação (5.26) para o balanço das
trocas entre 2 superfícies cinzentas e difusas (t – tubo interior e v – tubo de vidro):

𝜎(𝑇𝑡4 −𝑇𝑣4 ) 𝜎(𝑇𝑡4 −𝑇𝑣4 )𝐴𝑡 5,67×10−8 ×(325,154 −293,654 )×𝜋×0,05


𝑄̇𝑡−𝑣 = 1−𝜀𝑡 1 1−𝜀𝑣 = 1−𝜀𝑡 1 𝐴 (1−𝜀𝑣 ) = 1−𝜀𝑡 1 50×(1−0,8) =
+ +
𝐴𝑡 𝜀𝑡 𝐴𝑡 𝐹𝑡−𝑣 𝐴𝑣𝜀𝑣 + + 𝑡 𝜀𝑡
+ +
1 100×0,8
𝜀𝑡 𝐹𝑡−𝑣 𝐴𝑣 𝜀𝑣

33,324
= 1−𝜀𝑡 W/m
+1,125
𝜀𝑡

A figura seguinte mostra a variação da potência com 𝜀𝑡 . Obviamente ela aumenta quando a
emissividade do tubo interior aumenta. E aumenta de uma forma quase linear.

210
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Para as mesmas temperaturas, a utilização de um revestimento de dióxido de titânio (=0,05)


reduz cerca de 7 vezes a potência perdida em relação à utilização de uma tinta preta corrente
(=0,95). A quase linearidade da curva verifica-se na hipótese de as temperaturas dos 2 tubos
se manterem iguais. Na realidade, uma maior potência perdida fará com que a temperatura de
equilíbrio do tubo de alumínio baixe, reduzindo em consequência a potência útil transferida
para a água que circula no interior do tubo.

211
Capítulo 5 – Radiação térmica

P5.18
O fundo de um tanque de combustível líquido
criogénico de uma nave espacial é protegido da
radiação solar através de um escudo metálico fino.
O conjunto está situado no espaço (a 0 K).
Assumindo o fator de visão entre o escudo e o
tanque (a 100 K) igual a 1, e a mesma área, sendo as
superfícies cinzentas e difusas, calcule o fluxo de
calor que ele recebe.
Compare-o com o fluxo recebido se não for utilizado o escudo (para a mesma temperatura do
tanque).

Resolução e discussão

O escudo recebe uma irradiação (solar) de 1250 W/m2. Desta, uma parte correspondente ao
coeficiente de absorção do escudo é absorvida, sendo a restante refletida e perdida para o
espaço. Por sua vez, a face exterior do escudo emite radiação para o espaço, em função da sua
temperatura. E a face interior troca radiação com o fundo do depósito, a temperatura diferente.
Ou seja, podemos representar o seguinte esquema de fluxos de calor:

que se traduz no balanço:


4
𝛼1 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐 = 𝜀1 𝜎𝑇𝑒𝑠𝑐 + 𝑞̇ 𝑒−𝑡
4 −𝑇 4 )
𝜎(𝑇𝑒𝑠𝑐
4 𝑡
𝛼1 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐 = 𝜀1 𝜎𝑇𝑒𝑠𝑐 + 1⁄𝜀
2 +1⁄𝜀𝑡 −1

Substituindo os valores conhecidos:


5,67×10−8 ×(𝑇𝑒𝑠𝑐
4 −1004 )
0,05 × 1250 = 0,05 × 5,67 × 10−8 × 𝑇𝑒𝑠𝑐
4
+ 1⁄0,05+1⁄0,1−1

que permite calcular


𝑇𝑒𝑠𝑐 = 338,2 K
O fluxo recebido pelo tanque será então
4 −𝑇 4 )
𝜎(𝑇𝑒𝑠𝑐 5,67×10−8 ×(338,24 −1004 )
𝑞̇ 𝑒−𝑡 = 1⁄𝜀 𝑡
= = 25,4 W/m2
2 +1⁄𝜀𝑡 −1 1⁄0,05+1⁄0,1−1

fluxo que terá de ser retirado para manter a temperatura do tanque de combustível.
Se não se utilizar escudo de radiação, ter-se-á o seguinte esquema de fluxos

sendo o balanço de energia mais simples:

212
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

𝑞̇ 𝑡 = 𝛼𝑡 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐 − 𝜀𝑡 𝜎𝑇𝑡4 = 0,1 × 1250 − 0,1 × 5,67 × 10−8 × 1004 = 124,4 W/m2
O fluxo recebido sem escudo é cerca de 5 vezes superior ao recebido com escudo, o que
aumenta consideravelmente as necessidades de arrefecimento do tanque, para manter o
combustível à temperatura desejada. Se o tanque não for arrefecido, a sua temperatura de
equilíbrio resultará da igualdade entre 𝛼𝑡 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐 e 𝜀𝑡 𝜎𝑇𝑡4 , o que conduzirá a 385 K.

213
Capítulo 5 – Radiação térmica

214
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

6 Transferência de calor combinada

6.1 Considerações gerais


Este capítulo apresenta vários exemplos práticos em que coexistem diferentes modos de
transferência de calor. Se bem que tal também ocorra em problemas de capítulos anteriores,
como por exemplo na condução com convecção superficial, nos exemplos agora referidos existe
um maior número de modos envolvidos. Em particular, a consideração da radiação térmica
introduz complicações adicionais, quer nos balanços de energia, quer no método de cálculo para
obtenção da solução.
É mais importante nestes problemas a elaboração de um esquema de fluxos de calor ou
resistências térmicas, resumindo as condições e apontando para a sua resolução.
6.2 Problemas práticos resolvidos (P6.1 a P6.17)
P6.1
Uma placa pode ser mantida em equilíbrio a diferentes
temperaturas, variando a potência de aquecimento que lhe é
fornecida. A placa, colocada horizontalmente, pode considerar-
se a uma temperatura uniforme, e transfere calor na sua
superfície superior, por convecção e por radiação, sendo a
temperatura do ar e de todas as superfícies exteriores de 20ºC.
A placa, com 1m x 1m, pode considerar-se como cinzenta e difusa, com emissividade igual a
0,9. Analise a variação dos coeficientes de transferência de calor por convecção e por radiação,
quando a temperatura varia entre 20 e 200ºC. Considere 2 hipóteses para a convecção:
convecção forçada, com um coeficiente de 20 W/m2K, e convecção natural.

Resolução e discussão

Trata-se de comparar coeficientes de transferência de calor pelos 2 modos. No caso da


convecção forçada o coeficiente só depende da temperatura na medida em que as propriedades
variam com a temperatura. Mas para o ar as variações não são muito significativas, e vamos
supôr um coeficiente de convecção forçada constante com a temperatura da superfície. O valor
dado, de 20 W/m2K, é típico de uma placa situada num ambiente exterior e sujeita à ação do
vento.
Existindo convecção natural, o coeficiente de convecção depende da diferença de temperatura
(𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 ), como se viu na secção 2.4, e pode calcular-se através dos números de Grashoff e
Nusselt. Considerando o caso de uma placa horizontal perdendo calor na face superior, a Tabela
2.4 apresenta 2 correlações para diferentes intervalos de 𝐺𝑟. 𝑃𝑟:

215
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

𝑁𝑢 = 0,54 (𝐺𝑟. 𝑃𝑟)1/4 , para 104 < 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 ≤ 107


𝑁𝑢 = 0,15 (𝐺𝑟. 𝑃𝑟)1/3 , para 107 < 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 ≤ 1011
Para as (diferenças de) temperaturas verificadas, existem valores nos 2 intervalos, sendo
𝐺𝑟. 𝑃𝑟 > 107 a partir de 𝑇𝑠𝑢𝑝 = 27ºC. A placa tem 𝐿𝑐 = 𝐴/𝑃 = 0,25 m. Foram variadas as
propriedades do ar, utilizando em cada caso a temperatura média entre a superfície e o ar.
Quanto ao coeficiente de radiação, foi calculado a partir da potência radiativa trocada entre a
superfície e as superfícies exteriores, considerando que estas têm uma área muito superior,
comportando-se como um corpo negro em relação à superfície. Desse modo:
4 4 )
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑 𝜀𝑠𝑢𝑝 𝜎(𝑇𝑠𝑢𝑝− 𝑇𝑒𝑥𝑡 0,9×5,67×10−8 ×(𝑇𝑠𝑢𝑝
4 −293,154 )
ℎ𝑟𝑎𝑑 = (𝑇 )
= (𝑇𝑠𝑢𝑝 −𝑇𝑒𝑥𝑡 )
= (𝑇𝑠𝑢𝑝 −293,15)
𝑠𝑢𝑝 −𝑇𝑒𝑥𝑡

O gráfico seguinte compara a evolução dos coeficientes de convecção forçada e radiação


quando a temperatura da superfície varia. Representa-se também o coeficiente total, igual à
soma dos dois. Claro que o de convecção não varia, por se ter assumido um valor constante. O
coeficiente de convecção forçada é sempre superior, e apenas para uma diferença de
temperaturas acima de 130ºC é que a radiação tem um peso maior que 50% da convecção. E
note-se que o coeficiente de radiação já foi calculado com uma emissividade elevada (0,9).

O gráfico seguinte compara os coeficientes de convecção natural e radiação.

216
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Quando há convecção natural, é a radiação que passa a ter um peso maior (para a emissividade
considerada). E o peso acentua-se para uma diferença de temperaturas a partir dos 100ºC,
porque o coeficiente de radiação cresce mais rapidamente que o de convecção natural.
Se a emissividade da superfície for menor o peso da radiação será evidentemente menor.
Considerando 𝜀𝑠𝑢𝑝 = 0,5, obtiveram-se os valores do gráfico seguinte.

O coeficiente de radiação passa a ser menor que o de convecção natural, aproximando-se mais
para temperaturas mais elevadas.
A principal conclusão é a de que quando há convecção natural e radiação em simultâneo
(paralelo), não se pode desprezar o modo da radiação. Quando há convecção forçada e radiação,
esta é menos importante, sobretudo para (diferenças de) temperaturas mais baixas.

217
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

P6.2
Uma placa metálica está colocada horizontalmente no
exterior, com a face superior em contacto com ar a
20ºC, com um coeficiente de convecção igual a 20
W/m2K. A face inferior pode considerar-se isolada.
Todas as superfícies exteriores e a atmosfera se podem
considerar à mesma temperatura do ar.

A placa recebe uma irradiação solar de 1000 W/m2. Calcule a temperatura de equilíbrio da
superfície da placa nas seguintes hipóteses:
- a superfície está pintada com tinta negra corrente, que pode ser considerada cinzenta e difusa,
com 𝜀𝑠𝑢𝑝 = 𝛼𝑠𝑢𝑝 = 0,95;
- a superfície está pintada com tinta negra seletiva, para a qual se tem 𝛼𝑠𝑢𝑝 = 0,92 para a
radiação solar e 𝜀𝑠𝑢𝑝 = 𝛼𝑠𝑢𝑝 = 0,08 para a radiação emitida e trocada com o exterior;
- a superfície está pintada com tinta branca corrente, para a qual se tem 𝛼𝑠𝑢𝑝 = 0,15 para a
radiação solar e 𝜀𝑠𝑢𝑝 = 𝛼𝑠𝑢𝑝 = 0,90 para a radiação emitida e trocada com o exterior.

Resolução e discussão

Trata-se de um problema em regime permanente, trocando a superfície da placa calor com o


exterior por convecção (ar) e radiação (superfícies e atmosfera).
A figura seguinte representa os fluxos envolvidos, que nas várias situações a considerar diferem
apenas nas propriedades radiativas.

Note-se que da irradiação solar na superfície, esta apenas retém a porção absorvida, uma vez
que a que reflete se perde para o exterior. Quanto à radiação trocada entre a superfície da placa
e as superfícies exteriores, podemos considerar que se trata de uma superfície muito pequena,
rodeada por uma muito grande. A equação de balanço térmico da superfície será então:
𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 𝛼𝑠𝑢𝑝 = 𝑞̇ 𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑝−𝑒𝑥𝑡 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑,𝑝−𝑒𝑥𝑡

1000 × 𝛼𝑠𝑢𝑝 = 20 × (𝑇𝑠𝑢𝑝 − 293,15) + 𝜀𝑠𝑢𝑝 × 5,67 × 10−8 × (𝑇𝑠𝑢𝑝


4
− 293,154 )

equação (não linear) a partir da qual se pode calcular a temperatura da superfície, para cada
conjunto de propriedades.
A tabela seguinte resume os resultados obtidos.

218
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Revestimento Propriedades radiativas Temperatura de equilíbrio (ºC)

tinta negra corrente 𝜀𝑠𝑢𝑝 = 𝛼𝑠𝑢𝑝 = 0,95 55,8ºC

tinta negra seletiva 𝛼𝑠𝑢𝑝,𝑠𝑜𝑙 = 0,95; 𝜀𝑠𝑢𝑝 = 0,08 66,2ºC

tinta branca corrente 𝛼𝑠𝑢𝑝,𝑠𝑜𝑙 = 0,15; 𝜀𝑠𝑢𝑝 = 0,90 25,9ºC

A tinta negra seletiva, absorvendo a mesma radiação solar que a tinta negra corrente, tem muito
menos facilidade em perder calor por radiação, pelo que a sua temperatura de equilíbrio é cerca
de 10ºC mais alta. Já a tinta branca absorve muito menos radiação solar, e tem uma emissividade
elevada, pelo que ficará a uma temperatura bastante mais baixa, muito próxima da ambiente.

219
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

P6.3
Uma placa metálica está colocada horizontalmente no
exterior durante a noite, com a face superior em
contacto com ar calmo. A sua face superior troca
radiação apenas com a atmosfera, podendo considerar-
se cinzenta e difusa, e a sua face inferior pode
considerar-se isolada. A placa tem 1m x 1m.
Considerando a diferença entre a temperatura do ar e
da atmosfera, encontre a temperatura de equilíbrio da placa para diferentes temperaturas do ar.
Admita 2 emissividades para a placa: 0,1 e 0,9.

Resolução e discussão

A placa encontra-se em regime permanente, trocando calor com o exterior por convecção (ar)
e radiação (atmosfera). Como se viu em 5.5.2, pode relacionar-se a temperatura efetiva da
atmosfera, considerada como uma superfície envolvente de área muito grande, com a do ar
ambiente exterior, através das correlações
𝑇𝑎𝑡𝑚 = 𝑇𝑎𝑟 − 6 , em condições de céu nublado
1,5
𝑇𝑎𝑡𝑚 = 0,0552 𝑇𝑎𝑟 , em condições de céu limpo (com T em K)
Sendo a temperatura da atmosfera inferior à do ar, e não havendo qualquer fonte de calor
externa, a placa atingirá o equilíbrio térmico através das trocas de calor na face superior (a
inferior está isolada e desprezam-se os topos). Assim, em equilíbrio atingirá uma temperatura
intermédia, entre a do ar e a da atmosfera. Como representa a figura seguinte, a superfície da
placa receberá calor do ar por convecção (natural) e perderá calor por radiação (balanço das
trocas nos 2 sentidos entre a placa e a atmosfera).

Na convecção natural verifica-se que a face superior da placa recebe calor, pelo que podemos
aplicar a correlação da Tabela 2.4:
𝑁𝑢 = 0,27 (𝐺𝑟. 𝑃𝑟)1/4 , para 105 ≤ 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 ≤ 1011
O número de Grashoff é calculado com uma dimensão característica 𝐿𝑐 = 𝐴/𝑃 = 0,25 m.
Quanto às trocas de radiação térmica, podemos considerar uma superfície muito pequena (face
superior da placa) rodeada por outra com área muito grande (atmosfera).
Vamos então escrever o balanço térmico em equilíbrio:
4 4
ℎ𝑐𝑛 (𝑇𝑎𝑟 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 ) = 𝜀𝑠𝑢𝑝 𝜎(𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑎𝑡𝑚 )
𝑘 1/4 4 4
0,27 (𝐺𝑟𝐿𝑐 . 𝑃𝑟) (𝑇𝑎𝑟 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 ) = 𝜀𝑠𝑢𝑝 𝜎(𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑎𝑡𝑚 )
𝐿𝑐

Desta igualdade, tendo em conta as propriedades do ar e que o 𝐺𝑟 também depende da diferença


de temperatura, podemos calcular a 𝑇𝑠𝑢𝑝 .

220
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Vamos considerar temperaturas do ar, entre 0 e 10ºC, considerando uma noite de Inverno. Nesse
caso, de acordo com as condições de nebulosidade, a temperatura da atmosfera variará entre -
24 e -6ºC (para 𝑇𝑎𝑟 = 0ºC) e entre -10 e -4ºC (para 𝑇𝑎𝑟 = 10ºC).
O gráfico seguinte apresenta a temperatura superficial da placa para ambas as condições de
nebulosidade e para ambas as emissividades (0,1 e 0,9), ao variar a temperatura do ar exterior.
A placa atinge temperaturas muito inferiores às do ar para a maior emissividade (0,9) e em
condições de céu limpo, chegando a atingir 15 a 17ºC menos que a temperatura do ar; para a
maior emissividade e céu nublado a placa fica cerca de 5ºC mais fria que o ar. Para 𝜀𝑠𝑢𝑝 = 0,1,
com céu limpo a placa fica cerca de 6ºC mais fria, e com céu nublado cerca de 2ºC mais fria.

Este efeito de arrefecimento da placa é conhecido por arrefecimento radiativo. É por esse efeito
que se torna possível congelar água, exposta a ar calmo e à atmosfera, mesmo quando o ar tem
uma temperatura bastante superior a 0ºC. A água tem uma emissividade de cerca de 0,9,
podendo, nas condições deste problema, atingir os 0ºC com o ar a 5ºC (céu nublado) ou mesmo
a 14ºC (céu limpo).

221
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

P6.4
As placas condutoras elétricas da figura têm
uma altura (L) de 40 mm e uma largura muito
maior, e estão encastradas numa base cerâmica
isolada. Têm um espaçamento entre si de 10
mm (S). A passagem da corrente elétrica
mantém a sua temperatura 𝑇1 a 500 K (podendo
considerar-se uniforme). As placas estão
situadas numa sala cujas superfícies se
encontram a 300 K.
Quer as placas quer a base são cinzentas e difusas, com 𝜀1 = 0,8 e 𝜀2 = 0,6.
As placas estão sujeitas a uma corrente de ar a 300 K que provoca um coeficiente de convecção
em todas as superfícies de 25 W/m2K.
Calcule a potência que se dissipa em cada placa (por metro de largura), e calcule a temperatura
𝑇2 .

Resolução e discussão

Temos transferência de calor das placas e da base por radiação térmica (entre si e com o
exterior) e por convecção com o ar. A espessura das placas é desprezável.
Vamos considerar o espaço entre placas intermédias, e para contabilizar adequadamente as
trocas de radiação vamos considerar uma superfície virtual (3) que fecha o volume entre placas.
A figura a seguir representa as 3 superfícies, as potências caloríficas de radiação (balanço de
cada superfície) e convecção, e as resistências de radiação associadas. A superfície 3, que
corresponde às superfícies exteriores, devido à área muito superior destas relativamente a 1 e a
2 tem um comportamento de corpo negro.

Note-se que havendo simetria dos 2 lados de cada placa, as potências transferidas numa placa
são iguais às transferidas nas 2 superfícies consideradas como superfície 1. Note-se também
que estando a superfície 2 (base) isolada, as potências de convecção e radiação têm de ter sinal
contrário, de forma a traduzir o seu equilíbrio térmico.
Podemos escrever o balanço da base (2):

222
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2− 𝜎𝑇24
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 𝐴2 (𝑇2 − 𝑇𝑎𝑟 ) = 1−𝜀2
𝐴2 𝜀2

Quanto ao balanço das placas (1), elas receberão a mesma potência total que perdem por
radiação e convecção:
𝜎𝑇14 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1
𝑄̇1 = 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣,1 + 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 = ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 𝐴1 (𝑇1 − 𝑇𝑎𝑟 ) + 1−𝜀1
𝐴1 𝜀1

Quanto às radiosidades, fazendo o balanço dos nodos radiosidade da figura acima tem-se
𝜎𝑇14 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝜎𝑇34
1−𝜀1 = 1 + 1
𝐴1 𝜀1 𝐴1 𝐹1−2 𝐴1 𝐹1−3

𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2− 𝜎𝑇24 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 −𝜎𝑇34


1−𝜀2 = 1 − 1
𝐴2 𝜀2 𝐴1 𝐹1−2 𝐴2 𝐹2−3

Podemos então substituir nas equações acima 𝑇1 e 𝑇3 , as áreas e propriedades conhecidas, e


calcular os fatores de visão que permitem calcular as 4 incógnitas: 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 , 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 , 𝑇1 e 𝑄̇1.
Os fatores de visão necessários são 𝐹1−2 , 𝐹1−3 e 𝐹2−3 . Quanto a 𝐹2−3, podemos usar a expressão
da Figura 5.7 (largura infinita), com 𝑊𝑖 = 𝑊𝑗 = 10/40 = 0,25, vindo
1/2 1/2
((0,25+0,25)2 +4) −(02 +4)
𝐹2−3 = = 0,1231
2×0,25

Quanto a 𝐹3−2 é igual a 𝐹2−3 , e 𝐹3−1 é o complementar de 𝐹3−2 para 1, pelo que 𝐹3−1 = 0,8769.
Então pode obter-se 𝐹1−3 da relação de reciprocidade:
𝐴3 𝐹3−1 10×𝑙×0,8769
𝐹1−3 = = 0,1096
𝐴1 2×40×𝑙

Quanto a 𝐹1−2 é igual a 𝐹1−3 , por simetria. Temos então todos os fatores necessários.
O sistema de equações a resolver é:
𝜎5004 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝜎3004
1−0,8 = 1 + 1
0,8 0,1096 0,1096
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2− 𝜎𝑇24 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 −𝜎3004
1−0,6 = 1 − 1
0,01×0,6 2×0,04×0,1096 0,01×0,1231
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2− 𝜎𝑇24
25 × (𝑇2 − 300) = 1−0,6
0,6
𝜎5004 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1
𝑄̇1 = 25 × 2 × 0,04 × (500 − 300) + 1−0,8
{ 2×0,04×0,8

que conduz aos resultados:

𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 3417 W/m2


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 1745 W/m2
𝑇2 = 352 K
{𝑄̇1 = 400 + 41 = 441 W/m

Note-se que a potência transferida pelas placas por convecção é bastante superior à transferida
por radiação: esta representa menos de 10% do total. Apesar da elevada temperatura das placas,
como elas se encontram bastante próximas entre si (10 mm), a perda radiativa para o exterior e
223
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

para a base é bastante baixa – o fator de visão das placas para o exterior, igual ao das placas
para a base, é apenas igual a cerca de 0,11, ou de outra forma, o fator de visão das placas para
si próprias é igual a cerca de 0,78. A base (superfície 2), não tendo fontes de calor, transfere a
mesma potência por convecção e por radiação (equação de equilíbrio vista); mas em
consequência fica a uma temperatura de equilíbrio bastante mais próxima da do ar.
No caso da utilização de alhetas retangulares (geometricamente semelhantes às placas vistas
neste problema) ou circulares, que estão normalmente muito próximas entre si, as trocas por
radiação têm também um peso pequeno por comparação com a convecção.

224
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P6.5
A base de um ferro de engomar é uma placa com uma espessura de
7 mm e uma área de 0,040 m2, feita em liga de alumínio (=2800
kg/m3, cp=900 J/kgK, k=180 W/mºK). Tem uma resistência
elétrica ligada à superfície interior da base, que lhe fornece uma
potência de 500 W. A superfície exterior da base está em contacto
com ar calmo a 25ºC, e todas as superfícies do local se encontram
também a 25ºC. A base pode considerar-se cinzenta e difusa, com
𝜀 = 0,8, e tem uma altura média de 25 cm.
Calcule o tempo necessário a que, após ligado, o ferro atinja a
temperatura de 135ºC.

Resolução e discussão

Trata-se de uma alteração ao problema P1.20, no qual era dado um coeficiente de transferência
de calor entre a base do ferro e o exterior constante no tempo (igual a 18 W/m2ºC).
Vamos admitir novamente que a base pode ser tratada como um sistema global, a temperatura
uniforme, o que poderemos verificar mais tarde.
Neste caso vamos escrever o balanço instantâneo da base do ferro, considerando as trocas de
calor por convecção com o ar e por radiação trocada com as superfícies da sala (consideradas
todas como uma única superfície com área muito maior):
𝑑𝑇
𝜌𝑉𝑐𝑝 𝑑𝑡 = 𝑄̇ − ℎ𝐴𝑏𝑎𝑠𝑒 (𝑇 − 𝑇∞ ) − 𝜀𝜎𝐴𝑏𝑎𝑠𝑒 (𝑇 4 − 𝑇𝑒𝑥𝑡
4 )

Note-se que o coeficiente de convecção (ℎ) não é constante, pois existe convecção natural que
o torna dependente da diferença de temperaturas. Considerando que se trata de convecção
natural numa placa vertical podemos usar a correlação da Tabela 2.4:
𝑁𝑢 = 0,59 (𝐺𝑟. 𝑃𝑟)1/4 , válida para 104 < 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 ≤ 109
sendo o Gr calculado com a dimensão característica igual à altura da placa (L), neste caso igual
a 0,25 m. Com efeito, considerando propriedades do ar à temperatura média aritmética entre a
média (base/ar) no início e no final, ou seja a 52,5ºC (e à pressão atmosférica) – =1,07 kg/m3,
k=0,02754 W/mK, =1,975 x10-5 Ns/m2, Pr = 0,7216,  = 0,003071 K-1 – verifica-se que se
tem 𝐺𝑟. 𝑃𝑟 acima de 104 a partir de uma temperatura da base de 25,1ºC, e que mesmo no final
(com 𝑇 = 135ºC), se tem 𝐺𝑟 < 109 , com ℎ = 6,6 W/m2K.
Usando as propriedades do ar acima referidas podemos escrever ℎ em função de 𝑇, e a equação
para a variação da temperatura como:
𝑑𝑇
𝜌𝑉𝑐𝑝 𝑑𝑡 = 𝑄̇ − 2,053𝐴𝑏𝑎𝑠𝑒 (𝑇 − 𝑇∞ )5/4 − 𝜀𝜎𝐴𝑏𝑎𝑠𝑒 (𝑇 4 − 𝑇𝑒𝑥𝑡
4 )

Esta equação não tem solução analítica (exata). Pode, no entanto, obter-se uma solução
numérica (aproximada), calculando a evolução de 𝑇 em diferentes instantes de tempo. Foi
aplicado o método semi-implícito ou de Crank-Nicolson, a partir do instante inicial (𝑇 = 25ºC),
usando um passo de 1 segundo. A figura seguinte mostra a evolução dos 2 coeficientes de
transferência de calor: o de convecção natural e o de radiação (fluxo radiativo dividido pela
diferença de temperatura). Mostra ainda o coeficiente global, resultado da soma dois 2
individuais.

225
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

Como se esperava, ambos os coeficientes aumentam ao aumentar a diferença de temperatura


entre a base e o exterior. O coeficiente de radiação (curva a azul) é superior ao de convecção
(curva a preto), e cresce mais rapidamente. O coeficiente global atinge 15 W/m2K ao fim de
170 s (2,83 minutos). Este valor é inferior aos 18 W/m2K do problema P1.20, o que valida a
hipótese sistema global.
A figura seguinte mostra a evolução da temperatura da base do ferro, e a sua comparação com
a evolução nas condições do problema P1.20, com um coeficiente global constante de 18
W/m2K (curva a traço interrompido). A base do ferro atinge os 135ºC ao fim de 165 s.

No problema P1.20, atingiam-se os 135ºC ao fim de 169 s, valor que também se verifica ao
aplicar o mesmo método numérico à integração da equação que dá a variação de temperatura
no tempo. Em ambos os casos as evoluções são muito próximas, com a temperatura
ligeiramente mais baixa quando o coeficiente é constante, por ser mais elevado que os
coeficientes variáveis (há mais perdas para o exterior). A pequena diferença deve-se a que o
peso das perdas é bastante mais baixo que o da potência fornecida, de 500 W. A perda máxima,
quando o coeficiente global de transferência é já de cerca de 15 W/m2K (nos instantes finais),
é de cerca de 65 W, muito inferior aos 500 W fornecidos. Por isso as curvas estão próximas e
têm uma evolução que não se afasta muito da linear (a que aconteceria se não houvesse perdas
para o exterior).
226
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P6.6

No rinque de patinagem da figura, com um diâmetro de 50 m, pretende-se avaliar a ocorrência


de condensação no teto, o que acontece se a sua temperatura for inferior a 9,4ºC. As paredes e
o piso de gelo comportam-se como corpos negros. Avalie a utilização no teto de painéis
refletores (𝜀 = 𝛼 = 0,05) ou painéis pintados (𝜀 = 𝛼 = 0,94). Os coeficientes de convecção
no interior e no exterior do teto estão indicados na figura, bem como as respetivas temperaturas.
De seguida considere que as paredes têm 𝜀 = 𝛼 = 0,8, mantendo-se o gelo como um corpo
negro, e refaça os cálculos.

Resolução e discussão

Temos de avaliar a temperatura da face interior do teto, de modo a verificar se existe


condensação. Para tal, temos de contabilizar as trocas de calor que essa face tem. Para o exterior
ela transfere calor por condução através da sua espessura (sendo a resistência significativa a de
30 cm de isolante), e depois da face exterior para o ar. No interior ela troca calor com o ar por
convecção e com as restantes superfícies por radiação. Podemos reduzir as restantes superfícies
a 2: o piso de gelo (a -5ºC) e as superfícies das paredes laterais (a 15ºC). No interior há, portanto,
trocas radiativas entre 3 superfícies que formam um volume fechado.
O esquema seguinte representa os fluxos envolvidos no teto.

Podemos então escrever o balanço dos fluxos que chegam e saem da face interior do teto:
𝑞̇ 𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑖 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑔 𝐹𝑡−𝑔 +𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑝 𝐹𝑡−𝑝 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑡 + 𝑞̇ 𝑡−𝑒𝑥𝑡
e, substituindo as radiosidades do gelo e paredes (corpos negros), e usando as 2 resistências em
série para o exterior:
𝑇 −𝑇𝑒𝑥𝑡
ℎ𝑖𝑛𝑡 (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑡 ) + 𝜎𝑇𝑔4 𝐹𝑡−𝑔 + 𝜎𝑇𝑝4 𝐹𝑡−𝑝 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑡 + 𝑒𝑡𝑡 1
+
𝑘𝑡 ℎ𝑒𝑥𝑡

227
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

Quanto à radiosidade da superfície interior do teto podemos escrever a soma da radiação emitida
e refletida:
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑡 = 𝜀𝑡 𝜎𝑇𝑡4 + (1 − 𝜀𝑡 )(𝜎𝑇𝑔4 𝐹𝑡−𝑔 + 𝜎𝑇𝑝4 𝐹𝑡−𝑝 )

Substituindo esta última equação na anterior obtém-se


𝑇𝑡 −𝑇𝑒𝑥𝑡
ℎ𝑖𝑛𝑡 (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑡 ) + 𝜀𝑡 𝜎𝑇𝑔4 𝐹𝑡−𝑔 + 𝜀𝑡 𝜎𝑇𝑝4 𝐹𝑡−𝑝 = 𝜀𝑡 𝜎𝑇𝑡4 + (𝑒
𝑡 ⁄𝑘𝑡 )+1/ℎ𝑒𝑥𝑡

equação que permite calcular 𝑇𝑡 depois de se calcularem os fatores F, uma vez que se conhecem
as restantes temperaturas, propriedades e coeficientes. 𝜀𝑡 pode ser igual a 0,05 ou 0,94,
consoante se trate de painéis refletores ou painéis pintados. O fator de visão 𝐹𝑡−𝑔 pode calcular-
se para 2 discos paralelos, com 50 m de diâmetro e à distãncia de 10 m; usando a Figura 5.11
obtém-se um valor igual a 0,672. O fator 𝐹𝑡−𝑝 é igual ao complementar para 1, ou seja, é igual
a 0,328.
Então, a equação a resolver é:

5 × (288,15 − 𝑇𝑡 ) + (0,05
0,94
) × 𝜎 × 268,154 × 0,672 + 𝜎 × 288,154 × 0,328 =

𝑇 −268,15
= (0,05
0,94
) 𝜎𝑇𝑡4 + (0,3⁄𝑡0,035)+1/20

equação não linear, que por método iterativo conduz aos resultados:
𝜀 =0,05 ⟹ 𝑇 =14,0ºC, 𝑞̇ 𝑡−𝑒𝑥𝑡 =2,2 W/m2, 𝑄̇𝑡−𝑒𝑥𝑡 =4327 W
( 𝜀𝑡 =0,94 ⟹ 𝑇𝑡 =8,6ºC,
𝑞̇ 𝑡−𝑒𝑥𝑡 =1,6 W/m2, 𝑄̇𝑡−𝑒𝑥𝑡 =3097 W
)
𝑡 𝑡

Assim, irá verificar-se condensação no teto se se usarem painéis pintados, devendo optar-se por
painéis refletores. Essa opção terá como consequência um aumento significativo da potência
calorífica perdida para o exterior, ou seja, um aumento da potência de aquecimento do recinto,
de modo a assegurar a manutenção das suas condições interiores. Poderá optar-se por painéis
de baixa emissividade, mas não tão baixa como 0,05.
Vamos agora considerar que as paredes não se comportam como um corpo negro, tendo 𝜀 =
𝛼 = 0,8. A sua radiosidade deixa de ser igual à de um corpo negro (𝜎𝑇𝑝4 ), passando a ter de ser
calculada através da soma da radiação emitida e refletida:

𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑝 = 𝜀𝑝 𝜎𝑇𝑝4 + (1 − 𝜀𝑝 )(𝜎𝑇𝑔4 𝐹𝑝−𝑔 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑡 𝐹𝑝−𝑡 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑝 𝐹𝑝−𝑝 )

não esquecendo que como a superfície é circular, envia radiação para si própria.
Temos então um sistema de 3 equações, juntamente com a equação da radiosidade da superfície
interior do teto e a respetiva equação de balanço:
𝑇 −𝑇𝑒𝑥𝑡
ℎ𝑖𝑛𝑡 (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑡 ) + 𝜎𝑇𝑔4 𝐹𝑡−𝑔 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑝 𝐹𝑡−𝑝 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑡 + 𝑒𝑡𝑡 1
+
𝑘𝑡 ℎ𝑒𝑥𝑡

Substituindo os valores conhecidos e resolvendo o sistema obtêm-se:


⟹ 13,9ºC
𝑇𝑡 = (𝜀𝜀𝑡=0,05
=0,94 ⟹ 8,3ºC
)
𝑡
323,8 W/m2
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑡 = (𝜀𝜀𝑡=0,05 ⟹
=0,94 ⟹ 353,6 W/m2
)
𝑡
⟹ 376,9 W/m2
{ 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑝 = (𝜀𝜀𝑡=0,05
=0,94 ⟹ 379,4 W/m2
)
𝑡

228
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Os valores da temperatura do teto são muito semelhantes aos anteriores. A troca radiativa
dominante é a devida ao gelo (a -5ºC), pelo que a emissividade das paredes tem uma pequena
influência na temperatura do teto.

229
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

P6.7
Pretende medir-se a temperatura de um escoamento de gás
a 200ºC numa conduta cujas paredes estão a 400ºC, com
um termopar cuja junção se assemelha a uma esfera com
as propriedades: D = 0,7 mm,  = 8500 kg/m3, cp =
400 J/kgK,  = = 0,9. O gás é um meio não participante
na radiação.
Calcule a temperatura de equilíbrio da junção sabendo que o coeficiente de convecção é igual
a 400 W/m2K, e o tempo necessário a que ela atinja uma diferença de 1ºC para essa temperatura,
sabendo que o termopar é introduzido no escoamento a 25ºC.

Resolução e discussão

A junção do termopar tem trocas convectivas com o escoamento de ar e trocas radiativas com
a parede da conduta. Em equilíbrio, o balanço radiativo iguala o convectivo, e como a parede
da conduta está mais quente que o gás, a junção ficará a uma temperatura intermédia, como
representa a figura seguinte.

Então podemos escrever o seguinte balanço para a situação de equilíbrio (regime permanente):
ℎ𝐴𝑡 (𝑇𝑔 − 𝑇𝑡,𝑒𝑞 ) + 𝜀𝑡 𝜎(𝑇𝑝4 − 𝑇𝑡,𝑒𝑞
4
)𝐴𝑡 = 0
considerando para as trocas de radiação que a área das paredes da conduta é muito superior à
área da esfera do termopar; a equação traduz-se, por unidade de área, em
400 × (473,15 − 𝑇𝑡,𝑒𝑞 ) + 0,9 × 5,67 × 10−8 × (673,154 − 𝑇𝑡,𝑒𝑞
4
)=0
e que permite calcular a temperatura de equilíbrio:
𝑇𝑡,𝑒𝑞 = 218,7ºC
valor que mostra a influência da radiação trocada com a parede da conduta na medição da
temperatura do gás. Note-se que essa influência aumenta se a velocidade do gás diminuir (ou
seja, se o coeficiente de convecção diminuir).
Na situação instacionária o termopar vai aumentar a sua temperatura até atingir o equilíbrio
térmico. Atendendo à pequena dimensão e às propriedades da junção esférica do termopar,
podemos admitir que se trata de um sistema global, pelo que podemos escrever:
𝑑𝑇𝑡
𝜌𝑐𝑝 𝑉 = ℎ𝐴𝑡 (𝑇𝑔 − 𝑇𝑡 ) + 𝜀𝑡 𝜎𝐴𝑡 (𝑇𝑝4 − 𝑇𝑡4 )
𝑑𝑡

Esta equação não tem uma solução exata (analítica). Podemos, no entanto, usar um método
numérico para encontrar a evolução temporal da temperatura assinalada pelo termopar (𝑇𝑡 )
desde o instante inicial, quando é igual a 25ºC. Obtém-se uma temperatura de 217,7ºC (1ºC
abaixo da de equilíbrio) ao fim de 5 segundos. A resposta do termopar é muito rápida pela sua
reduzida constante de tempo (inércia térmica).

230
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P6.8
A figura mostra um termómetro de bolbo negro, que regista
a temperatura superficial de uma esfera plástica pintada de
preto, cinzenta e difusa com 𝜀 = 𝛼 = 0,95, e com um
diâmetro de 10 cm. O bolbo está rodeado por ar calmo à
temperatura de 20ºC, e encontra-se numa sala cujas
superfícies estão todas as 16ºC.
Nessas condições, calcule a temperatura de equilíbrio lida
pelo termómetro.
Calcule a temperatura registada se a temperatura das superfícies da sala estiver entre 16 e 24ºC,
para a mesma temperatura do ar. Será que o diâmetro da esfera afeta a medição? E a sua
emissividade?

Resolução e discussão

Em equilíbrio, a superfície esférica do termómetro troca calor por convecção (natural) com o
ar e por radiação com as superfícies da sala. O balanço radiativo iguala o convectivo, e como
as superfícies da sala estão a uma temperatura diferente da do ar, o termómetro ficará a uma
temperatura intermédia, como representa a figura seguinte. Se as superfícies estiverem mais
frias que o ar, o termómetro indicará uma temperatura inferior à do ar.

O balanço térmico para a situação de equilíbrio (regime permanente) é:


ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 𝐴𝑡 (𝑇𝑎𝑟 − 𝑇𝑡 ) = 𝜀𝑡 𝜎(𝑇𝑡4 − 𝑇𝑠𝑢𝑝
4
)𝐴𝑡
considerando para as trocas de radiação que a área das superfícies da sala é muito superior à
área da esfera do termómetro.
Substituindo os valores conhecidos, e usando a correlação da Tabela 2.4 para o coeficiente de
convecção natural em função da temperatura (𝐺𝑟𝐷 depende da diferença de temperatura,
devendo ser 𝐺𝑟𝐷 𝑃𝑟 ≤ 1011 e 𝑃𝑟 ≥ 0,7 – a verificar posteriormente), tem-se:
𝑘𝑎𝑟 0,589 (𝐺𝑟.𝑃𝑟)1/4
(2 + 4/9 ) (293,15 − 𝑇𝑡 ) = 0,95 × 𝜎(𝑇𝑡4 − 289,154 )
0,10 [1+(0,469/𝑃𝑟)9/16 ]

Usando propriedades do ar à temperatura de 20ºC, calculam-se:


𝑇𝑡 = 290,6 K = 17,5ºC
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 = 3,1 W/m2K
𝐺𝑟𝐷 𝑃𝑟 = 2,6 × 105 (verifica a validade da correlação do 𝑁𝑢).

231
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

A temperatura medida pelo termómetro é conhecida por temperatura resultante, e engloba o


efeito da convecção e da radiação. É uma temperatura mais representativa do conforto térmico
sentido por uma pessoa numa sala, que depende das temperaturas do ar e das superfícies. É
menor que a temperatura do ar quando as superfícies estão mais frias que o ar, e maior quando
elas estão mais quentes que o ar. Representa uma média pesada das 2 temperaturas, sendo os
coeficientes os pesos, ou seja, recorrendo aos coeficientes de convecção e radiação:
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 ×𝑇𝑎𝑟 +ℎ𝑟𝑎𝑑 ×𝑇𝑠𝑢𝑝
𝑇𝑡 = ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣 +ℎ𝑟𝑎𝑑

Muitas vezes é estimada uma temperatura resultante calculada simplesmente como a média
aritmética das 2 temperaturas, que neste caso seria de 18ºC, e portanto 0,5ºC mais elevada que
a medida. A temperatura resultante é inferior porque o coeficiente de radiação (5,2 W/m2K) é
superior ao de convecção (3,1 W/m2K).
Repetindo os cálculos para temperaturas das superfícies entre 16 e 24ºC, obtiveram-se os
valores do gráfico seguinte, que compara a temperatura resultante (do termómetro) com a
temperatura média aritmética.

Como se pode observar, a diferença entre a temperatura medida (resultante) e a média aritmética
é maior para maiores diferenças entre a temperatura do ar e das superfícies. O coeficiente de
convecção aumenta com a maior diferença |𝑇𝑠𝑢𝑝 − 𝑇𝑎𝑟 |, por aumentar também |𝑇𝑡 − 𝑇𝑎𝑟 |, e o
coeficiente de radiação diminui (embora pouco), aumentando o coeficiente total (até 8,3 W/m2K
para uma diferença de 4ºC).
Para analisar o efeito do diâmetro do bolbo/esfera, refizeram-se os cálculos com um diâmetro
de 5 cm. A diminuição do diâmetro tem como consequência um aumento do coeficiente de
convecção, para as mesmas temperaturas. O gráfico seguinte mostra a aproximação da
temperatura medida/resultante da média aritmética, quando comparada com a curva anterior.
Estes termómetros têm normalmente diâmetros entre 5 e 15 cm, sendo que essa dimensão afeta,
portanto, a medida da temperatura.
Quanto à emissividade do bolbo, foram repetidos os cálculos para uma emissividade de 0,7,
mantendo o diâmetro de 10 cm. Os resultados do gráfico seguinte mostram que essa alteração
também aproxima a temperatura medida da média aritmética, por reduzir o fluxo radiativo. No

232
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

entanto, os termómetros existentes têm emissividades típicas de 0,95, tentando reproduzir a


emissividade da pele humana.

Neste exemplo a temperatura de todas as superfícies da sala foi considerada igual. Numa
situação real diferentes superfícies têm temperaturas diferentes. Por isso este termómetro tem
uma forma esférica, de modo a receber radiação de todas as direções do espaço (todas as
superfícies). A temperatura das várias superfícies que o termómetro de bolbo negro contabiliza
é a chamada temperatura média radiante.

233
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

P6.9
A lâmpada de incandescência vista no problema P5.7,
funcionando com o filamento de tungsténio a 2500 K, tem um
bolbo de vidro com 5 cm de diâmetro que pode ser considerado
esférico. Para além das propriedades do filamento fornecidas em
P5.7, sabe-se que tem um diâmetro de 0,2 mm e um
comprimento de 35 cm.
Efetue o balanço energético da lâmpada e do bolbo de vidro,
calculando a temperatura de equilíbrio deste.
A lâmpada está colocada numa sala em que o ar está calmo a 25ºC, e todas as superfícies se
encontram a 20ºC. Sabe-se que o vidro tem as seguintes características:
- entre 0 e 3 μm: 𝜏𝑣 = 0,91, 𝜌𝑣 = 0,04, 𝛼𝑣 = 0,05
- acima de 3 μm: 𝜏𝑣 = 0, 𝜌𝑣 = 0,2, 𝛼𝑣 = 0,8 = 𝜀𝑣

Resolução e discussão

As lâmpadas deste tipo têm o espaço no interior do bolbo de vidro evacuado, ou preenchido por
um gás inerte. Desse modo evita-se a combustão do oxigénio no ar, que ocorreria se existisse
ar no seu interior (devido à elevada temperatura do filamento), e também a oxidação do
filamento. Nada sendo especificado, vamos considerar um bolbo evacuado. Assim, no interior
do bolbo há que considerar apenas trocas de radiação térmica (não há convecção, ou é
desprezável).
O problema P5.7 levou-nos ao cálculo da fração da radiação total emitida pelo filamento da
lâmpada que está situada entre 0 e 3 μm, os comprimentos de onda que podem atravessar o
vidro. A fração calculada foi
𝑓𝑖𝑙 𝑓𝑖𝑙
𝐹0−3 μm = 𝐹0,35−3 μm = 0,879

A restante fração não consegue atravessar o vidro, que é opaco a esses comprimentos de onda.
Uma vez que a absorção e a reflexão de radiação não alteram o comprimento de onda desta,
podemos dividir o balanço do bolbo de vidro, quanto à radiação recebida do filamento, em 2
partes: os comprimentos de onda até 3 μm (vidro semitransparente) e os comprimentos de onda
a partir de 3 μm (vidro opaco).
Vamos então identificar as parcelas de radiação transmitidas e recebidas pelo vidro, do lado
interior, para os comprimentos de onda que podem atravessar o vidro (𝜆 < 3 μm). A figura
seguinte tenta esquematizar o balanço das múltiplas reflexões, absorções e transmissões da
radiação proveniente do filamento, para aqueles comprimentos de onda.
A principal parcela da radiação que atravessa o vidro (𝑄̇𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠,1) é igual a 91% da radiação total
emitida pelo filamento. Mas como uma pequena parte (𝜌𝑣 = 4%) é refletida para o interior
(𝑄̇𝑟𝑒𝑓,1), uma fração dela atravessará o vidro (𝑄̇𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠,2 ), igual a 4% × 91% = 3,64% da
radiação emitida pelo filamento, que se soma à anterior. E podemos também adicionar uma
terceira parcela (𝑄̇𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠,3 ), igual a 0,15%. Após mais reflexões deixa de ter significado o valor
acrescentado.

234
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Com as 3 reflexões consideradas, teremos que o total de radiação emitida pelo filamento que é
transmitida pelo vidro é:
𝑓𝑖𝑙
𝑄̇𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠
0−3
= 𝑄̇𝑒𝑚,𝑓𝑖𝑙
0−3
(0,91 + 0,0364 + 0,0015) = 0,948 𝐹0−3 4
μm 𝜀𝑓𝑖𝑙 𝜎𝑇𝑓𝑖𝑙 𝐴𝑓𝑖𝑙 =

= 0,948 × 0,879 × 0,2066 × 5,67 × 10−8 × 25004 × 𝜋 × 0,0002 × 0,35 =


= 83,85 W
Esta radiação atravessa o vidro e não contribui para o seu balanço energético. Ao contrário, a
restante radiação nestes comprimentos de onda é totalmente recebida pelo vidro (desprezando
a que é reenviada ao filamento), após as múltiplas reflexões e absorções. Desprezamos a
radiação que o filamento recebe, da parte que o vidro reflete, devido à pequena área do
filamento. Então, o vidro recebe, pelo interior:
𝑓𝑖𝑙
𝑄̇𝑖𝑛𝑐,𝑖𝑛𝑡
0−3 4
= (1 − 0,948) 𝐹0−3 μm 𝜀𝑓𝑖𝑙 𝜎𝑇𝑓𝑖𝑙 𝐴𝑓𝑖𝑙 =
= 0,052 × 0,879 × 0,2066 × 5,67 × 10−8 × 25004 × 𝜋 × 0,0002 × 0,35 =
= 4,60 W
Para os comprimentos de onda nos quais o vidro é opaco (𝜆 > 3 μm), as trocas radiativas no
interior do bolbo relativas à radiação emitida pelo filamento estão esquematizadas na figura
seguinte.

235
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

Para estes comprimentos de onda toda a radiação fica “capturada” no interior do bolbo, pelo
que após múltiplas reflexões e absorções acaba toda por ser recebida pela superfície interior do
vidro (desprezando a que vai ser recebida pelo filamento). Deste modo, a radiação recebida é
𝑓𝑖𝑙
𝑄̇𝑖𝑛𝑐,𝑖𝑛𝑡
3−∞ 4
= (1 − 𝐹0−3 μm )𝜀𝑓𝑖𝑙 𝜎𝑇𝑓𝑖𝑙 𝐴𝑓𝑖𝑙 =
= (1 − 0,879) × 0,2066 × 5,67 × 10−8 × 25004 × 𝜋 × 0,0002 × 0,35 =
= 12,18 W
Então, o total de radiação recebida pelo bolbo de vidro na face interior é
𝑄̇𝑖𝑛𝑐,𝑖𝑛𝑡 = 𝑄̇𝑖𝑛𝑐,𝑖𝑛𝑡
0−3
+ 𝑄̇𝑖𝑛𝑐,𝑖𝑛𝑡
3−∞
= 4,60 + 12,18 = 16,78 W

Por seu lado, a superfície interior do bolbo de vidro vai também emitir radiação, toda situada
nos comprimentos de onda 𝜆 > 3 μm, para os quais o vidro é opaco, devido à relativamente
baixa temperatura a que se encontra. O vidro também reflete radiação (𝜆 > 3 μm), mas a
parcela mais importante (vinda do filamento) foi já contabilizada anteriormente. Parte da
radiação emitida irá incidir no próprio bolbo, devido à sua área ser muito superior à do filamento
(o fator de visão do bolbo para si próprio é muito elevado). A radiação emitida pelo vidro que
este perde para o interior é:
𝑄̇𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎,𝑖𝑛𝑡 = 𝜀𝑣,𝜆>3 𝜎𝑇𝑣𝑖𝑑
4 4
𝐴𝑣 𝐹𝑣𝑖𝑑−𝑓𝑖𝑙 = 𝜀𝑣,𝜆>3 𝜎𝑇𝑣𝑖𝑑 𝐴𝑓𝑖𝑙

uma vez que o fator de visão do filamento para o bolbo é igual a 1.


O balanço da superfície interior do bolbo será então:
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,𝑖𝑛𝑡 = 𝑄̇𝑖𝑛𝑐,𝑖𝑛𝑡 − 𝑄̇𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎,𝑖𝑛𝑡 = 16,78 − 0,8 × 𝜎𝑇𝑣𝑖𝑑
4
× 2,2 × 10−4
Note-se que a parcela da perda é muito menos significativa, apesar do seu valor exato não ser
ainda conhecido, e poderia desprezar-se.
Podemos agora efetuar o balanço do bolbo, considerando as trocas para o exterior, que se dão
por convecção natural para o ar da sala e por radiação térmica trocada com as superfícies da
sala, de área muito superior à da lâmpada, radiação para a qual o vidro é opaco. Note-se também
que o vidro é cinzento e difuso para 𝜆 > 3 μm. O balanço está representado na figura seguinte,
e despreza a condução no vidro, de espessura muito reduzida.

Pode escrever-se

236
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

𝑄̇𝑟𝑎𝑑,𝑖𝑛𝑡 = 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,𝑒𝑥𝑡 + 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 =


4 4
= 𝜀𝑣𝑖𝑑,𝜆>3 𝐴𝑣𝑖𝑑 𝜎(𝑇𝑣𝑖𝑑 − 𝑇𝑠𝑢𝑝 ) + ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑣𝑖𝑑 (𝑇𝑣𝑖𝑑 − 𝑇𝑎𝑟,𝑒𝑥𝑡 )

ou seja, considerando o bolbo uma esfera perfeita:


4
16,78 − 0,8 × 5,67 × 10−8 × 𝑇𝑣𝑖𝑑 × 2,2 × 10−4 =
0,05 2 4
= 4𝜋 × ( ) (0,8 × 5,67 × 10−8 × (𝑇𝑣𝑖𝑑 − 293,154 ) + ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 (𝑇𝑣𝑖𝑑 − 298,15))
2

O coeficiente de convecção natural pode calcular-se pela correlação da Tabela 2.4, em função
da temperatura (Gr depende da temperatura):
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 𝐷 0,589 (𝐺𝑟.𝑃𝑟)1/4
𝑁𝑢 = = 2+ 4/9 , válida para 𝐺𝑟𝑃𝑟 ≤ 1011 e 𝑃𝑟 ≥ 0,7
𝑘𝑎𝑟 [1+(0,469/𝑃𝑟)9/16 ]

Resolvendo as 2 equações, obtêm-se:


𝑇𝑣𝑖𝑑 = 407 K = 133,8ºC
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑒𝑥𝑡 = 10,9 W/m2K
𝐺𝑟𝑃𝑟 = 5,0 × 105 (verifica a validade da correlação do 𝑁𝑢).

237
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

P6.10

Um automóvel fechado exposto ao sol


pode atingir temperaturas muito elevadas
no seu interior, fundamentalmente devido
à sua superfície envidraçada, o que se
agrava com o habitáculo fechado.
Considere que os seus vidros têm um coeficiente de transmissão (hemisférico) que varia com o
comprimento de onda da radiação solar incidente (𝜆), sendo igual a 0,85 para 𝜆 entre 0 e 3 m
e 0 para 𝜆 acima de 3 m.
No sentido de estimar a temperatura máxima atingida no habitáculo do veículo, assuma as
seguintes hipóteses simplificativas:
- o ar e as superfícies interiores do habitáculo (opacas) encontram-se à mesma temperatura;
- o habitáculo só perde calor pela área envidraçada, sendo as restantes superfícies adiabáticas
para o exterior;
- a espessura dos envidraçados é desprezável;
- os envidraçados têm uma irradiação solar total uniforme de 500 W/m2, encontrando-se todos
à mesma temperatura;
- os envidraçados têm um coeficiente de absorção para 𝜆<3 m de 0,05, comportando-se como
superfícies cinzentas e difusas para 𝜆>3 m, com =0,8; as superfícies interiores têm um
coeficiente total de absorção de 0,7 e comportam-se como superfícies cinzentas e difusas.
Nessas condições, calcule a temperatura dos envidraçados e a temperatura no interior do
habitáculo em regime permanente, sabendo que a área total envidraçada é de 3 m2, a área útil
das superfícies interiores opacas é de 4,5 m2, e o fator de visão entre os envidraçados e as
restantes superfícies interiores é igual a 0,65. Os coeficientes de convecção interior e exterior
são de 5 e 20 W/m2K (respetivamente), e a temperatura exterior é de 25ºC (ar e superfícies).

Resolução e discussão

Vamos efetuar o balanço, em regime permanente, do interior do habitáculo (ar e superfícies


opacas) e das superfícies envidraçadas (semitransparentes).
Em relação à radiação solar, que é a fonte de calor, vamos começar por analisar os
comprimentos de onda respetivos. Quase toda a radiação solar se situa nos comprimentos de
onda para os quais o vidro é semitransparente, o que pode ser verificado calculando a fração de
energia emitida pelo Sol (como corpo negro a 5800 K) até 3 m. Da Tabela 5.1:
𝐹0−3 (3 × 5800 μmK) = 0,98
Este é um valor aproximado, já que a radiação solar que chega ao nível do solo tem uma
distribuição espetral um pouco alterada (em relação ao corpo negro a 5800 K). Como para além
disso a diferença é muito pequena, vamos considerar que toda a radiação solar incidente no
vidro se situa até 3 m. Caso contrário, considerar-se-iam 98% dos 500 W/m2. Os vidros
absorverão 5% da radiação solar incidente na superfície exterior, tendo em conta o seu
coeficiente de absorção (𝛼𝑣 = 0,05, para 𝜆<3 m).

238
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

A radiação solar que os envidraçados refletem para o exterior representa uma perda, e é como
se nunca tivesse lá chegado. A radiação solar que atravessa os envidraçados (𝜏𝑣 ) é parcialmente
absorvida pelas superfícies interiores opacas (𝛼𝑖𝑛𝑡 ). A que não é absorvida é refletida (sem
alteração do comprimento de onda), com um coeficiente de reflexão 𝜌𝑖𝑛𝑡 . Admite-se que a
reflexão é difusa, ou seja, a radiação é igualmente refletida em todas as direções. Esta radiação
refletida vai ter às superfícies envidraçadas e às próprias superfícies interiores,
proporcionalmente aos fatores de visão respetivos: 𝐹𝑖𝑛𝑡−𝑣 e 𝐹𝑖𝑛𝑡−𝑖𝑛𝑡 . A radiação proveniente
destas parcelas refletidas irá por sua vez ser parcialmente absorvida e parcialmente refletida;
esta 2ª reflexão, e outras re-reflexões, são, no entanto, grandezas de “2ª ordem”, já bastante
pequenas pela multiplicação sucessiva pelos coeficientes de reflexão, pelo que serão
desprezadas. A figura seguinte representa as potências caloríficas ganhas pelas superfícies,
associadas à radiação solar (comprimentos de onda até 3 m).

Quanto à radiação de maiores comprimentos de onda (acima dos 3 m) trocada pelas superfícies
(interiores opacas, envidraçados e superfícies exteriores), toda ela é proveniente de corpos a
baixa temperatura. Mesmo que as superfícies interiores opacas atinjam 100ºC (373,15 K) a
fração de energia emitida até 3 m é virtualmente nula: mesmo para um corpo negro
𝐹0−3 (3 × 373,15 μmK) < 0,001. Há então a contabilizar as trocas no interior entre 2
superfícies opacas, cinzentas e difusas (interiores opacos, e envidraçados nesses 𝜆), e as trocas
no exterior entre 2 superfícies opacas, cinzentas e difusas (exterior e envidraçados nesses 𝜆).
Quanto aos restantes modos de transferência de calor, não iremos considerar a condução nas
superfícies interiores opacas (por se encontrarem isoladas) nem nos envidraçados (pela pequena
espessura). Há que considerar a convecção entre os vidros e o ar interior (natural) e entre os
vidros e o ar exterior, sendo os coeficientes já conhecidos. Saliente-se que se considera que o
ar interior atingiu o equilíbrio térmico com as superfícies interiores opacas, pelo que não se
torna necessário contabilizar a sua temperatura (é igual à das superfícies).
A figura seguinte resume todas as potências referidas, que permitem fazer os balanços de todas
as superfícies.

Então, podemos escrever a seguinte equação de balanço em regime permanente do conjunto


ar/superfícies opacas interiores:

239
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝛼𝑖𝑛𝑡 + 𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝜌𝑖𝑛𝑡 𝐹𝑖𝑛𝑡−𝑖𝑛𝑡 𝛼𝑖𝑛𝑡 = 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑖𝑛𝑡−𝑣 + 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑖𝑛𝑡−𝑣
e a equação de balanço das superfícies envidraçadas:
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝛼𝑣 + 𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝜌𝑖𝑛𝑡 𝐹𝑖𝑛𝑡−𝑣 𝛼𝑣 + 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑖𝑛𝑡−𝑣 + 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑖𝑛𝑡−𝑣 = 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑣−𝑒𝑥𝑡 + 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑣−𝑒𝑥𝑡
que, na forma de um sistema de equações, e expressando as temperaturas em causa, se pode
escrever como
4
𝜎(𝑇𝑖𝑛𝑡 −𝑇𝑣4 )
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝛼𝑖𝑛𝑡 + 𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝜌𝑖𝑛𝑡 𝐹𝑖𝑛𝑡−𝑖𝑛𝑡 𝛼𝑖𝑛𝑡 = (1−𝜀𝑖𝑛𝑡 ) 1 (1−𝜀𝑣 )
+ ℎ𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑣 (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑣 )
+ +
𝐴𝑖𝑛𝑡 𝜀𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑣 𝐹𝑣−𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑣 𝜀𝑣
4
𝜎(𝑇𝑖𝑛𝑡 −𝑇𝑣4 )
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝛼𝑣 + 𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝜌𝑖𝑛𝑡 𝐹𝑖𝑛𝑡−𝑣 𝛼𝑣 + (1−𝜀𝑖𝑛𝑡 ) 1 (1−𝜀𝑣 )
+ℎ 𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑣 (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑣 ) =
+ +
𝐴𝑖𝑛𝑡 𝜀𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑣𝐹𝑣−𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑣 𝜀𝑣

{ = 𝐴𝑣 𝜀𝑣 𝜎(𝑇𝑣4 − 𝑇𝑒𝑥𝑡
4 )
+ ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑣 (𝑇𝑣 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 )

Para resolver o sistema precisamos de definir os fatores de visão:


𝐹𝑣−𝑖𝑛𝑡 = 0,65 (dado no enunciado do problema)
𝐹𝑖𝑛𝑡−𝑣 = 𝐹𝑣−𝑖𝑛𝑡 𝐴𝑣 /𝐴𝑖𝑛𝑡 = 0,65 × 3/4,5 = 0,4333
𝐹𝑖𝑛𝑡−𝑖𝑛𝑡 = 1 − 𝐹𝑖𝑛𝑡−𝑣 = 0,5667
Substituindo os valores conhecidos teremos:

500 × 3 × 0,85 × 0,7 + 500 × 3 × 0,3 × 0,5667 × 0,7 =


4
5,67×10−8 ×(𝑇𝑖𝑛𝑡 −𝑇𝑣4 )
= (1−0,7) 1 (1−0,8) + 5 × 3 × (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑣 )
+ +
4,5×0,7 3×0,65 3×0,8
4
5,67×10−8 ×(𝑇𝑖𝑛𝑡 −𝑇𝑣4 )
500 × 3 × 0,05 + 500 × 3 × 0,85 × 0,3 × 0,4333 × 0,05 + (1−0,7) 1 (1−0,8) +
+ +
4,5×0,7 3×0,65 3×0,8

{ +5 × 3 × (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑣 ) = 3 × 0,8 × 5,67 × 10−8 × (𝑇𝑣4 − 298,154 ) + 20 × 3 × (𝑇𝑣 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 )


4
892,5 + 178,5 = 8,2008 × 10−8 × (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑣4 ) + 15 × (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑣 )
4
{ 75 + 8,287 + 8,2008 × 10−8 × (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑣4 ) + 15 × (𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑣 ) =
= 1,3608 × 10−7 × (𝑇𝑣4 − 298,154 ) + 60 × (𝑇𝑣 − 298,15)

o que nos conduz aos resultados


𝑇𝑖𝑛𝑡 = 351,6 K = 78,5o C
{
𝑇𝑣 = 313,0 K = 39,9o C
A temperatura interior será na realidade bastante elevada, mas menor do que a calculada neste
exemplo (será da ordem dos 60-70ºC num dia de sol). Isso devido às perdas de calor para o
exterior que ocorrem na envolvente opaca (superfícies opacas), que aqui foram esquecidas, e
também à menor radiação solar incidente. Na realidade os envidraçados não terão uma
irradiação uniforme, sendo que alguns, pela sua posição relativamente aos raios solares,
receberão bastante menos radiação solar que outros: a radiação recebida é tanto maior quanto
mais perto da perpendicular às superfícies estiverem os raios solares, sendo que o máximo na
perpendicular num dia de Verão andará pelos 1000 W/m2; o valor médio em todas os
envidraçados será mais baixo, da ordem dos 300-400 W/m2.
Para analisar o efeito da irradiação solar nos envidraçados, foram repetidos os cálculos,
variando 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 entre 100 e 600 W/m2. O gráfico seguinte apresenta os resultados.

240
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Note-se a variação quase linear de ambas as temperaturas (interior e dos envidraçados) com a
variação da irradiação solar até cerca de 400 W/m2 (a partir desse valor há um menor aumento,
sobretudo para a temperatura interior). Claro que um aumento da temperatura exterior (aqui não
quantificado) também contribui para o aumento da temperatura interior, por reduzir as perdas
de calor do habitáculo.

241
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

P6.11

O coletor solar plano da figura aquece uma corrente de ar de 0,05 m3/s que circula num canal
retangular de 10 mm de altura e 1 m de largura entre a placa e o fundo do coletor. O fundo e os
topos laterais são muito bem isolados termicamente. A distância entre a placa e o vidro é de 12
mm.
A cobertura de vidro tem um coeficiente de transmissão (hemisférico) que varia com o
comprimento de onda da radiação incidente (𝜆), sendo igual a 0,85 para 𝜆 entre 0 e 3 m e 0
para 𝜆 acima de 3 m, e um coeficiente de absorção para 𝜆<3 m de 0,05, comportando-se
como uma superfície cinzenta e difusa para 𝜆>3 m, com =0,8. Quanto à placa coletora, com
um revestimento seletivo de dióxido de titânio, tem as propriedades do problema P5.5, com
𝜀0−2,5 μm = 0,95 e 𝜀𝜆>2,5 μm = 0,05.
Efetue o balanço térmico do coletor em regime permanente, calculando as temperaturas médias
da placa coletora e da cobertura de vidro, e a potência recebida pelo ar, quando a sua
temperatura de entrada é igual à temperatura exterior (ar ambiente e superfícies) de 25ºC, e a
radiação solar incidente na cobertura é de 1000 W/m2. O coeficiente de convecção para o ar
exterior é igual a 20 W/m2K.

Resolução e discussão

Vamos efetuar o balanço do coletor em regime permanente, começando pela radiação solar
ganha. Quase toda a radiação solar se situa nos comprimentos de onda para os quais o vidro é
semitransparente, o que pode ser verificado calculando a fração de energia emitida pelo Sol
(como corpo negro a 5800 K) até 3 m. Da Tabela 5.1:
𝐹0−3 (3 × 5800 μmK) = 0,98
Este é um valor aproximado, já que a radiação solar que chega ao nível do solo tem uma
distribuição espetral um pouco alterada (em relação ao corpo negro a 5800 K). Como para além
disso a diferença é muito pequena, vamos considerar que toda a radiação solar incidente no
vidro se situa até 3 m. Caso contrário, considerar-se-iam 98% dos 500 W/m2. O vidro
absorverá 5% da radiação solar incidente na superfície exterior, tendo em conta o seu
coeficiente de absorção (𝛼𝑣 = 0,05 para 𝜆<3 m).
Quanto à placa seletiva, vamos utilizar os valores já calculados no problema P5.5: 𝛼𝑝 = 0,92
(para 𝜆<3 m, caso da radiação solar) e 𝜀𝑝 = 0,05 (esta para 𝜆>3 m, caso da radiação que a
placa emite).
A radiação solar que a superfície exterior do vidro reflete para o exterior representa uma perda,
e é como se nunca tivesse lá chegado. A radiação solar que atravessa o vidro (𝜏𝑣 ) é parcialmente
242
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

absorvida pela placa (𝛼𝑝 ). A que não é absorvida é refletida (sem alteração do comprimento de
onda), com um coeficiente de reflexão 𝜌𝑝 . Admite-se que a reflexão é difusa, ou seja, a radiação
é igualmente refletida em todas as direções. Esta radiação refletida vai ter à superfície interior
da cobertura de vidro e uma pequena parte desta é absorvida (𝛼𝑣 = 0,05 para 𝜆<3 m). Por sua
vez o vidro reflete novamente uma parte desta radiação, que chega à placa, sendo parcialmente
absorvida (𝛼𝑝 ). A figura seguinte ilustra a radiação solar ganha pela cobertura de vidro e pela
placa pela incidência direta, representando-se também a potência refletida pela placa e
absorvida pelo vidro (𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝜌𝑝 𝛼𝑣 ) e a potência re-refletida pelo vidro (vinda da refletida da
placa) e absorvida pela placa (𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝜌𝑝 𝜌𝑣 𝛼𝑝 ).

No entanto estas reflexões-absorções têm um peso muito pequeno e são vulgarmente


desprezadas. Comparando os valores para este caso, temos para a radiação absorvida pelo vidro:
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝛼𝑣 = 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 𝐴𝑣 𝛼𝑣 = 100 W comparada com 𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝜌𝑝 𝛼𝑣 = 6,8 W (6,8%)
e para a radiação absorvida pela placa:
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝛼𝑝 = 1564 W comparada com 𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝜌𝑝 𝜌𝑣 𝛼𝑝 = 12,5 W (0,8%)
Como se vê, é perfeitamente razoável desprezar as reflexões-absorções. Outras re-reflexões
podem também desprezar-se. Nestes cálculos desprezou-se o efeito dos topos laterais que
fecham o coletor, porque a distância entre a placa e o vidro é muito pequena face ao seu
comprimento e largura. É mesmo vulgar desprezar também a radiação absorvida pela cobertura
de vidro, que representa apenas 5% da radiação incidente. No entanto, iremos considerá-la no
balanço que se segue, desprezando apenas as reflexões-absorções.
Quanto à radiação de maiores comprimentos de onda (acima dos 3 m) trocada pela placa e
pela superfície interior do vidro, e a trocada pela superfície exterior do vidro e as superfícies
exteriores ao coletor, toda ela é proveniente de corpos a baixa temperatura. Mesmo que a
superfície da placa atinja 100ºC (373,15 K), a fração de energia emitida até 3 m é virtualmente
nula: mesmo para um corpo negro 𝐹0−3 (3 × 373,15 μmK) < 0,001. Há então a contabilizar as
trocas no interior do coletor (placa-vidro) entre 2 superfícies opacas, cinzentas e difusas (𝜆>3
m), e as trocas no exterior entre 2 superfícies opacas, cinzentas e difusas (cobertura de vidro
e superfícies exteriores, para 𝜆 >3 m).
Quanto aos restantes modos de transferência de calor, não iremos considerar a condução na
placa (de muito pequena espessura), nem no vidro (também pela pequena espessura). Também
se despreza a condução de calor longitudinal na placa (na direção do escoamento),
considerando-se esta a uma temperatura média em toda a extensão. Há que considerar a
convecção natural na cavidade formada no espaço entre o vidro e a placa, e a convecção
(forçada) entre a cobertura de vidro e o ar exterior, sendo este coeficiente já conhecido. Existe
ainda a transferência de calor por convecção forçada entre a placa e a corrente de ar. Quanto à
243
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

radiação trocada entre a superfície inferior da placa e o fundo do coletor (através do canal de
ar), é também desprezada – esta hipótese será analisada em detalhe posteriormente.
A figura seguinte resume todas as potências referidas, que permitem fazer os balanços de todas
as superfícies.

Podemos escrever a seguinte equação de balanço da cobertura de vidro, em regime permanente


(à temperatura média 𝑇𝑣 ):
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝛼𝑣 + 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑝−𝑣 + 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑝−𝑣 = 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑣−𝑒𝑥𝑡 + 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣,𝑣−𝑒𝑥𝑡
e a equação de balanço da placa (à temperatura média 𝑇𝑝 ):
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝛼𝑝 = 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑝−𝑣 + 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑝−𝑣 + 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑝−𝑎𝑟
Quanto ao escoamento de ar, a sua temperatura aumenta entre a entrada (𝑇𝑒𝑥𝑡 ) e a saída (𝑇𝑠𝑎𝑖 ),
devido à potência calorífica recebida da placa, o que pode traduzir-se pela adaptação da equação
(2.26):
(𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑝 ) ̅𝑎𝑟 𝐴𝑝

(𝑇𝑒𝑥𝑡 −𝑇𝑝 )
= exp (− 𝑀̇𝑐 )
𝑝,𝑎𝑟

Expressando as temperaturas em causa, podemos escrever o sistema de equações:


4
𝜎(𝑇𝑝 −𝑇𝑣 )𝐴𝑝 4
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝛼𝑣 + 1 1 + ℎ𝑝−𝑣 𝐴𝑝 (𝑇𝑝 − 𝑇𝑣 ) = 𝐴𝑣 𝜀𝑣 𝜎(𝑇𝑣4 − 𝑇𝑒𝑥𝑡
4 )
+ ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑣 (𝑇𝑣 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 )
+ −1
𝜀𝑝 𝜀𝑣

𝜎(𝑇𝑝4 −𝑇𝑣4 )𝐴𝑝


𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝛼𝑝 = 1 1 + ℎ𝑝−𝑣 𝐴𝑝 (𝑇𝑝 − 𝑇𝑣 ) + 𝑀̇𝑐𝑝,𝑎𝑟 (𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 )
+ −1
𝜀𝑝 𝜀𝑣

(𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑝 ) ̅𝑎𝑟 𝐴𝑝



= exp (− 𝑀̇𝑐 )
{ (𝑇𝑒𝑥𝑡 −𝑇𝑝 ) 𝑝,𝑎𝑟

Este sistema de 3 equações permite calcular as 3 temperaturas (𝑇𝑝 , 𝑇𝑣 e 𝑇𝑠𝑎𝑖 ), desde que
calculados os coeficientes de convecção (ℎ̅𝑎𝑟 e ℎ𝑝−𝑣 ).
Para o escoamento de ar, com as propriedades tomadas a 40ºC (como estimativa da média placa-
fluido), vem:
𝑉̇𝑎𝑟 0,05
𝑣𝑚 = = 1×0,010 = 5 m/s
𝑙𝐻

𝜌𝑎𝑟 𝑣𝑚 𝐷ℎ 1,112×5×0,0198
𝑅𝑒𝐷ℎ = = = 5740
𝜇𝑎𝑟 1,918×10−5
244
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

o que significa que o escoamento se dá em regime turbulento, vindo pela equação de Dittus-
Boelter:
𝑁𝑢𝐷ℎ ,𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣 = 0,023 𝑅𝑒𝐷0,8 𝑃𝑟 0,4 = 20,6
No regime turbulento o comprimento de entrada (até à zona de camada limite térmica
desenvolvida) é de cerca de 10 diâmetros – equação (2.19) – o que neste caso significa 0,2 m
de comprimento (10% do comprimento de escoamento). Contabilizando o seu efeito com a
equação (2.23), temos:
1 1
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐷ℎ = 𝑁𝑢𝐷ℎ ,𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣 (1 + (𝐿/𝐷 )2/3 ) = 20,6 × (1 + (2/0,02)2/3) = 21,6

Então o coeficiente de convecção médio será:


̅̅̅̅
𝑁𝑢 𝑘 21,6×0,02662
ℎ̅𝑎𝑟 = 𝐷𝐷 = = 28,7 W/m2ºC
ℎ 0,02

Quanto ao coeficiente de convecção entre a placa e o vidro, consideraremos a correlação (2.30),


em que a dimensão característica é a distância entre a placa e o vidro (𝐿𝑝−𝑣 ):
+ +
𝑘𝑎𝑟 1708 1708 (sen 90o )1,6 (𝑅𝑎𝐿 cos 50o )1/3
ℎ𝑝−𝑣 = 𝐿 [1 + 1,44 [1 − 𝑅𝑎 o ] (1 − o ) + [ − 1] ]
𝑝−𝑣 𝐿 cos 50 𝑅𝑎𝐿 cos 50 18

denotando o sinal + que se o valor calculado for negativo deve ser tomado como zero; há que
escrever 𝑅𝑎𝐿 em função da diferença de temperatura entre a placa e o vidro, e das propriedades
do ar (tomadas a 45ºC). Tem-se:
𝑅𝑎𝐿 = 111,8 (𝑇𝑝 − 𝑇𝑣 )

Então, o sistema das 3 equações anteriores a resolver, mais a de ℎ𝑝−𝑣 , é


5.67×10−8 ×(𝑇𝑝4 −𝑇𝑣4 )×2
2000 × 0,05 + 1 1 + ℎ𝑝−𝑣 × 2 × (𝑇𝑝 − 𝑇𝑣 ) =
+ −1
0,05 0,8

= 2 × 0,8 × 5.67 × 10−8 × (𝑇𝑣4 − 298,154 ) + 20 × 2 × (𝑇𝑣 − 298,15)


5.67×10−8 ×(𝑇𝑝4 −𝑇𝑣4 )×2
2000 × 0,85 × 0,92 = 1 1 + ℎ𝑝−𝑣 × 2 × (𝑇𝑝 − 𝑇𝑣 ) +
+ −1
0,05 0,8
+ 0,0556 × 1005 × (𝑇𝑠𝑎𝑖 − 298,15)
(𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑝 ) 28,7×2
= exp (− 0,0556×1005)
{(298,15−𝑇𝑝 )

que conduz à solução:

𝑇𝑝 = 63,3o C
𝑇𝑣 = 30,8o C
𝑇𝑠𝑎𝑖 = 49,6o C
2
{ ℎ𝑝−𝑣 = 2,6 W/m K

Podemos quantificar o comportamento térmico do coletor através da razão entre a potência


calorífica recebida pelo ar (efeito útil) e a potência disponível (da radiação solar). Esse
quociente é designado por rendimento térmico do coletor. Neste caso ele é igual a
𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑝−𝑎𝑟 1373
𝜂𝑐𝑜𝑙 = = 2000 = 0,69
𝑄̇𝑠𝑜𝑙

245
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

De seguida analisa-se o efeito da variação da irradiação solar no coletor. Foram repetidos os


cálculos, variando 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 entre 300 e 1000 W/m2. O gráfico seguinte apresenta os resultados.

Como era de esperar, as temperaturas (placa, vidro e saída do ar) aumentam com o aumento da
radiação solar recebida. As variações são aproximadamente lineares. Quanto ao rendimento
térmico do coletor, mantém-se bastante estável, com um ligeiro decréscimo ao aumentar a
irradiação. Note-se que se a temperatura do ar à entrada fosse superior à temperatura do ar
ambiente exterior, passaria a haver um aumento do rendimento térmico com o aumento da
irradiação.
Vamos agora analisar a hipótese considerada relativamente à radiação trocada através do canal
de passagem do ar, entre a face inferior da placa e a face interior do fundo do coletor (fundo
que se considera perfeitamente isolado). A figura seguinte ilustra as trocas de calor entre as
superfícies (balanço radiativo) e as trocas convectivas com o ar.

Existe efetivamente uma troca radiativa, que constitui uma perda para a placa (tende a diminuir
a temperatura da placa, 𝑇𝑝 ), para além da convectiva. No entanto essa potência é “recuperada”
pelo ar, já que estando o fundo isolado existe igualdade entre 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑝−𝑓 e 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑓−𝑎𝑟 . A
temperatura da placa e a do fundo (𝑇𝑓 ) dependem das emissividades das superfícies.
Considerando diferentes emissividades possíveis (iguais aos coeficientes de absorção),
adicionando 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑝−𝑓 ao balanço da placa, e acrescentando o balanço do fundo às equações
anteriores, obtiveram-se os valores da tabela seguinte, para 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 = 1000 W/m2. Como se
verifica, a influência global nos resultados é muito pequena. A potência calorífica recebida pelo
ar varia, para os valores extremos considerados, apenas cerca de 1%, enquanto o rendimento
do coletor varia também apenas cerca de 1%.
246
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

𝜀𝑝,𝑖𝑛𝑓 = 𝜀𝑓 𝑇𝑝 𝑇𝑓 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑝−𝑓 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑝−𝑎𝑟 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑎𝑟


= 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑓−𝑎𝑟 𝜂𝑐𝑜𝑙
(ºC) (ºC) (W) (W)
0,01 64,8 41,1 2 1360 1362 0,681

0,5 63,3 43,1 106 1266 1372 0,686

0,7 62,5 44,0 158 1220 1378 0,689

0,99 61,3 45,6 243 1144 1387 0,693

247
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

P6.12
Um coletor solar é constituído por vários tubos de
vidro (com 100 mm de diâmetro), no interior dos
quais existe um outro tubo em alumínio (com 50
mm de diâmetro) que absorve a radiação solar
incidente. O espaço entre os tubos contém ar à
pressão atmosférica. Os tubos têm um
comprimento de 2 m e são selados nas
extremidades, estando colocados na horizontal.
No interior do tubo de alumínio circula água, que entra a 40ºC, com um caudal de 4 g/s (em
cada tubo). As espessuras dos tubos podem desprezar-se.
No exterior o ar (a 20ºC) tem um coeficiente de convecção de 20 W/m2K. A atmosfera e
superfícies exteriores estão a 20ºC.
As propriedades radiativas do tubo de alumínio são: coeficiente de absorção para a radiação
solar – 0,95; emissividade para a radiação de comprimentos de onda longos (emitida e trocada
com o vidro) – 0,1. As propriedades radiativas do tubo de vidro são: coeficiente de transmissão
para a radiação solar – 0,90; coeficiente de absorção para a radiação solar – desprezável;
emissividade para a radiação de comprimentos de onda longos (emitida e trocada com o
alumínio) – 0,9.
Calcule a temperatura média dos tubos e a potência recebida pela água, quando a irradiação
solar (perpendicular ao plano em que se encontram os tubos) é de 1000 W/m2. Avalie o
comportamento do colector quando varia a radiação solar.

Resolução e discussão

Trata-se de um coletor solar, como o do problema P6.11, mas neste caso com uma geometria
tubular, e usando como fluido a água.

A figura seguinte representa as potências caloríficas trocadas no coletor. São usados os índices
v para o tubo de vidro e t para o tubo metálico. Relembre-se que se despreza a radiação solar
absorvida pelo tubo de vidro (𝛼𝑣 ≈ 0). Também não se considera a variação circunferencial da
temperatura dos tubos. Quanto à potência devida à radiação solar que incide no tubo metálico,
atendendo à geometria circular deve contabilizar-se a área projetada na perpendicular aos raios
solares (ver figura). Então:
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 = 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 𝐴𝑡,𝑝𝑟𝑜𝑗 𝜏𝑣 = 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 𝐷𝑡 𝐿𝑡 𝜏𝑣 = 1000 × 0,050 × 2 × 0,85 = 85 W

248
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Desprezam-se reflexões no vidro que a superfície do tubo possa receber. Veja-se a esse
propósito a discussão no problema P6.11.
A partir da figura podemos então efetuar o balanço térmico (em regime permanente) dos 2 tubos
(vidro e metálico), expressando as potências em função das temperaturas. A essas 2 equações
juntaremos o balanço da evolução da temperatura (média) da água entre a entrada (𝑇𝑒𝑛𝑡 ) e a
saída (𝑇𝑠𝑎𝑖 ), e a sua relação com a temperatura (média) da parede do tubo (equação (2.26)).
Temos então 3 equações para cálculo de 3 temperaturas (𝑇𝑡 , 𝑇𝑣 e 𝑇𝑠𝑎𝑖,á𝑔 ):
2𝜋𝐿𝑡 𝑘𝑒𝑓,𝑐𝑛 (𝑇𝑡 −𝑇𝑣 ) 𝐴𝑡 𝜎(𝑇𝑡4 −𝑇𝑣4 )
+ 1 1 𝑟 = ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑣 (𝑇𝑣 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 ) + 𝐴𝑣 𝜀𝑣 𝜎(𝑇𝑣4 − 𝑇𝑒𝑥𝑡
4 )
𝑙𝑛(𝑟𝑣 ⁄𝑟𝑡 ) +( −1) 𝑡
𝜀𝑡 𝜀𝑣 𝑟𝑣
2𝜋𝐿𝑡 𝑘𝑒𝑓,𝑐𝑛 𝑡 −𝑇𝑣 (𝑇 ) 𝐴𝑡 𝜎(𝑇𝑡4 −𝑇𝑣4 )
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝛼𝑡 = 𝑀̇𝑐𝑝,á𝑔 (𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑒𝑛𝑡 ) + + 1 1 𝑟
𝑙𝑛(𝑟 ⁄𝑟 ) 𝑣 𝑡 +( −1) 𝑡
𝜀𝑡 𝜀𝑣 𝑟𝑣
(𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑡 ) ̅á𝑔 𝜋𝐷𝑡 𝐿𝑡

= exp (− )
{ (𝑇𝑒𝑛𝑡 −𝑇 )
𝑡 𝑀̇𝑐𝑝,á𝑔

contabilizando a condutibilidade efetiva do ar (𝑘𝑒𝑓,𝑐𝑛 ) a convecção natural no espaço confinado


(cavidade) entre os 2 tubos. É necessário o seu cálculo, bem como o do coeficiente de convecção
na água. Para a condutibilidade efetiva do ar deve seguir-se o método referido no capítulo 2, e
aplicado no problema P2.20, que aqui não se detalhará. Para o coeficiente de convecção entre
o tubo e a água, seguindo também a metodologia do capítulo 2, com um caudal de 4 g/s obter-
se-á um escoamento laminar, com ℎ̅á𝑔 = 56 W/m2ºC.
Susbstituindo os valores conhecidos temos:
2𝜋×2× 𝑘𝑒𝑓,𝑐𝑛 (𝑇𝑡 −𝑇𝑣 ) 𝜋×0,05×2×5,67×10−8 ×(𝑇𝑡4 −𝑇𝑣4 )
+ 1 1 50 = 20 × 𝜋 × 0,1 × 2 × (𝑇𝑣 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 ) +
𝑙𝑛(100⁄50) +( −1)×
0,1 0,9 100

+𝜋 × 0,1 × 2 × 0,9 × 5,67 × 10−8 × (𝑇𝑣4 − 293,154 )


2𝜋×2× 𝑘𝑒𝑓,𝑐𝑛 (𝑇𝑡 −𝑇𝑣 )
100 × 0,85 × 0,95 = 0,004 × 4190 × (𝑇𝑠𝑎𝑖 − 313,15) + +
𝑙𝑛(100⁄50)
𝜋×0,05×2×5,67×10−8 ×(𝑇𝑡4 −𝑇𝑣4 )
+ 1 1 50
+( −1)×
0,1 0,9 100
(𝑇𝑠𝑎𝑖 −𝑇𝑡 ) 56×𝜋×0,05×2
{ (313,15−𝑇𝑡 )
= exp (− )
0,004×4190

A resolução deste sistema, em simultâneo com o cálculo de 𝑘𝑒𝑓,𝑐𝑛 , permite encontrar a solução:

𝑇𝑡 = 48,2o C
𝑇𝑣 = 22,4o C
𝑇𝑠𝑎𝑖 = 42,8o C
2
{ ℎ𝑐𝑛,𝑡−𝑣 = 4,0 W/m𝑡 K

O coeficiente de convecção natural ℎ𝑐𝑛,𝑡−𝑣 refere-se à área de tubo interior (diâmetro interior).
Pode calcular-se um coeficiente global de transferência de calor, desde a temperatura do tubo
interior até à temperatura exterior, que representa um coeficiente global de perdas do coletor, e
é igual a 4,3 W/m2𝑡 K. Pode também quantificar-se a percentagem da radiação solar incidente
(fora do coletor) que é comunicada ao fluido, que é o seu rendimento térmico:
𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑡−á𝑔 0,004×4190×(42,8−40)
𝜂𝑐𝑜𝑙 = = = 0,47
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 𝐴𝑡,𝑝𝑟𝑜𝑗

249
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

Para avaliar o comportamento do colector quando varia a radiação solar incidente foram
repetidos os cálculos com valores de 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 entre 400 e 1000 W/m2, apresentando-se os
resultados no gráfico seguinte.

Ao variar 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐 o coeficiente de convecção natural varia pouco, entre 3,8 e 4,0 W/m2𝑡 K, variando
a temperatura do tubo entre 41,2 e 48,3ºC. A temperatura do vidro varia muito pouco, mais
influenciada pela temperatura exterior. Quanto ao coeficiente global de perdas do coletor, varia
entre 4,0 e 4,3 W/m2𝑡 K; o seu aumento deve-se ao aumento da temperatura do tubo interior,
aliada ao maior peso da radiação com o aumento de 𝑇𝑡 .
Pode melhorar-se o comportamento (rendimento) do coletor eliminando as perdas por
convecção entre o tubo interior e o de vidro, o que se consegue fazendo o vácuo no espaço entre
ambos – coletores designados por coletores de tubos de vácuo. Refazendo os cálculos com a
eliminação do termo de convecção natural dos balanços, obtêm-se os resultados do gráfico
seguinte.

A comparação com o gráfico anterior mostra que se atingem temperaturas do tubo interior mais
altas (até 53,7ºC, em vez de até 48,3ºC), resultando num maior rendimento do coletor, com uma
maior diferença para irradiações mais baixas. O rendimento atinge 78% para a irradiação
máxima, em vez dos 47% quando não há vácuo. O coeficiente global de perdas do coletor tem
agora valores muito inferiores, variando entre 0,64 e 0,66 W/m2𝑡 K.
250
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P6.13
A figura representa uma conduta em que circulam 0,025
m3/s de ar, sendo metade do seu perímetro em vidro e a
outra metade numa superfície opaca com um revestimento
seletivo, e isolada na face posterior. Ambas as metades se
podem considerar com espessura desprezável. O
escoamento faz-se ao longo de 2 m (dimensão
perpendicular ao plano da figura), entrando o ar a 25ºC.
No exterior o ar (a 25ºC) tem um coeficiente de convecção
de 20 W/m2K. A atmosfera e superfícies exteriores estão
a 25ºC.
As propriedades radiativas do revestimento são: coeficiente de absorção para a radiação solar
– 0,92; emissividade para a radiação de comprimentos de onda longos (emitida e trocada com
o vidro) – 0,05. As propriedades radiativas do vidro são: coeficiente de transmissão para a
radiação solar – 0,85; coeficiente de absorção para a radiação solar – desprezável; emissividade
para a radiação de comprimentos de onda longos (emitida e trocada com o revestimento) – 0,8.
Calcule a temperatura média do revestimento e do vidro, e a temperatura de saída do ar, quando
a irradiação solar (perpendicular ao plano em que se encontra o conjunto) é de 1000 W/m2.
Avalie o comportamento deste colector solar quando varia a radiação solar.

Resolução e discussão

A conduta em análise comporta-se como um coletor solar, captando radiação solar graças à
metade superior em vidro, e transferindo parte do calor ganho para o ar, que aquece ao longo
do escoamento.

A figura seguinte representa as potências caloríficas trocadas na conduta coletora. São usados
os índices v para a parede de vidro e r para a metade opaca e revestida da conduta. Despreza-se
a radiação solar absorvida pelo tubo de vidro (𝛼𝑣 ≈ 0). Também não se considera a variação
circunferencial da temperatura dos tubos e o calor transferido por condução entre a metade
revestida e a metade em vidro.

Quanto à potência associada à radiação solar que incide no exterior da conduta, atendendo à
geometria circular e à incidência perpendicular, ela é igual à irradiação multiplicada pela área
projetada da conduta, ou seja:
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 = 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 𝐴𝑝𝑟𝑜𝑗 = 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 𝐷𝐿 = 1000 × 0,1 × 2 = 200 W

251
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

Note-se que se a incidência solar não for perpendicular ao plano da conduta, a área projetada
será menor e menos potência atravessa o vidro, como ilustra a figura seguinte.

Uma parte da potência 𝑄̇𝑠𝑜𝑙 atravessa o vidro (𝜏𝑣 ) e uma parte desta é absorvida pelo
revestimento (𝛼𝑟 ). A outra parte (não absorvida) é refletida pelo revestimento, e uma parte desta
é recebida e absorvida pelo próprio revestimento; considerando a reflexão difusa será igual a
𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝜌𝑟 𝐹𝑟−𝑟 𝛼𝑟
sendo 𝐹𝑟−𝑟 o fator de visão que corresponde à radiação que o revestimento envia para si próprio.
Assim, o total de potência devida à radiação solar que é absorvida (ganha) pelo revestimento é
igual a:
𝑄̇𝑠𝑜𝑙,𝑎𝑏𝑠,𝑟 = 𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝛼𝑟 + 𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝜌𝑟 𝐹𝑟−𝑟 𝛼𝑟 = 𝑄̇𝑠𝑜𝑙 𝜏𝑣 𝛼𝑟 (1 + 𝜌𝑟 𝐹𝑟−𝑟 )
Desprezam-se re-reflexões por terem um peso diminuto. Considera-se que a parte que o
revestimento reflete e não vai para o próprio revestimento, atravessa novamente o vidro e vai
para o exterior (perde-se).
O fator 𝐹𝑟−𝑟 pode calcular-se com auxílio de um plano imaginário (i) situado no centro do
círculo, cujo fator 𝐹𝑖−𝑟 = 1, pelo que da relação de reciprocidade vem
𝐴𝑖 𝐷 2
𝐹𝑟−𝑖 = 𝐹𝑖−𝑟 = 𝜋𝐷/2 𝐹𝑖−𝑟 = 𝜋 = 0,637 ⟹ 𝐹𝑟−𝑟 = 1 − 𝐹𝑟−𝑖 = 0,363
𝐴𝑟

Note-se que o fator de visão do revestimento para o vidro (que é igual ao seu recíproco), que
usaremos a seguir, é igual a 𝐹𝑟−𝑖 .
Então a potência absorvida pelo revestimento será:
𝑄̇𝑠𝑜𝑙,𝑎𝑏𝑠,𝑟 = 200 × 0,85 × 0,92 × (1 + 0,08 × 0,363) = 161 W
Como 𝜌𝑟 é muito baixo (0,08), a segunda parcela é muito menor, e poderia ter sido desprezada
(o valor a considerar seria de 156 W).
A partir do esquema de potências da figura podemos então efetuar o balanço térmico (em
regime permanente) das 2 superfícies que formam a conduta (revestimento e vidro), e expressar
as potências em função das temperaturas:
𝑄̇𝑠𝑜𝑙,𝑎𝑏𝑠,𝑟 = 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑟−𝑎𝑟 + 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑟−𝑣
{
𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑎𝑟−𝑣 + 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑟−𝑣 = 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑣−𝑒𝑥𝑡 + 𝑄̇𝑟𝑎𝑑, 𝑣−𝑒𝑥𝑡

𝜎(𝑇 −𝑇 ) 4 4
𝑄̇𝑠𝑜𝑙,𝑎𝑏𝑠,𝑟 = ℎ𝑎𝑟 𝐴𝑟 (𝑇𝑟 − 𝑇𝑎𝑟 ) + 1−𝜀𝑟 𝑟1 𝑣 1−𝜀𝑣
+ +
𝐴𝑟 𝜀𝑟 𝐴𝑟 𝐹𝑟−𝑣 𝐴𝑣𝜀𝑣
𝜎(𝑇𝑟4 −𝑇𝑣4 )𝐴𝑟
ℎ𝑎𝑟 𝐴𝑣 (𝑇𝑎𝑟 − 𝑇𝑣 ) + 1−𝜀𝑟 1 1−𝜀𝑣 = ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑣 (𝑇𝑣 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 ) + 𝜀𝑣 𝜎(𝑇𝑣4 − 𝑇𝑒𝑥𝑡
4 )𝐴
𝑣
+ +
{ 𝜀𝑟 𝐹𝑟−𝑣 𝜀𝑣

252
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Nas equações anteriores admite-se o mesmo coeficiente de convecção nas 2 superfícies (ℎ𝑎𝑟 ),
e considera-se que 𝑇𝑟 , 𝑇𝑣 e 𝑇𝑎𝑟 são temperaturas médias ao longo da conduta. No caso do ar
podemos associar a evolução da sua temperatura com a transferência de calor para as paredes
da conduta (neste caso as 2 superfícies – revestimento e vidro). Para tal, teremos de adaptar a
equação (2.26), que foi obtida para uma parede da conduta a uma única temperatura (média).
O sentido considerado para as 2 potências convectivas (𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑟−𝑎𝑟 e 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑎𝑟−𝑣 ) foi o que
corresponde à realidade, ou seja, o revestimento está mais quente que o ar, e este mais quente
que o vidro, como veremos nos resultados. No entanto repare-se que poderíamos ter
considerado sentidos diferentes: se considerassemos 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑣−𝑎𝑟 em vez de 𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣, 𝑎𝑟−𝑣 a
potência viria com sinal contrário mas seria contabilizada como um ganho, o que é equivalente.
Assim, podemos efetuar o seguinte balanço para a evolução da temperatura de mistura do ar,
em substituição da equação (2.25):
𝑃
𝑀̇𝑎𝑟 𝑐𝑝,𝑎𝑟 𝑑𝑇𝑚,𝑎𝑟 = ℎ𝑎𝑟 𝑑𝑥[(𝑇𝑟 − 𝑇𝑚,𝑎𝑟 ) + (𝑇𝑣 − 𝑇𝑚,𝑎𝑟 )] =
2
𝑇𝑟 +𝑇𝑣
= ℎ𝑎𝑟 𝑃 𝑑𝑥 ( − 𝑇𝑚,𝑎𝑟 )
2

que, integrada desde a entrada (𝑇𝑒𝑛𝑡 ) até à saída (𝑇𝑠𝑎𝑖 ), permite escrever:
𝑇 +𝑇
𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑟 𝑣 ℎ 𝜋𝐷𝐿
2
𝑇 +𝑇 = exp (− 𝑀̇𝑎𝑟𝑐 )
𝑇𝑒𝑛𝑡 − 𝑟 𝑣 𝑎𝑟 𝑝,𝑎𝑟
2

Juntando a esta equação o balanço global para o escoamento de ar (variação de energia entre a
entrada e a saída igual ao balanço das trocas convectivas), e às 2 equações anteriores, temos o
seguinte sistema de 4 equações para calcular 𝑇𝑟 , 𝑇𝑣 , 𝑇𝑎𝑟 e 𝑇𝑠𝑎𝑖 :

𝜎(𝑇 −𝑇 ) 4 4
𝑄̇𝑠𝑜𝑙,𝑎𝑏𝑠,𝑟 = ℎ𝑎𝑟 𝐴𝑟 (𝑇𝑟 − 𝑇𝑎𝑟 ) + 1−𝜀𝑟 𝑟1 𝑣 1−𝜀𝑣
+ +
𝐴𝑟 𝜀𝑟 𝐴𝑟 𝐹𝑟−𝑣 𝐴𝑣 𝜀𝑣
𝜎(𝑇𝑟4 −𝑇𝑣4 )𝐴𝑟
ℎ𝑎𝑟 𝐴𝑣 (𝑇𝑎𝑟 − 𝑇𝑣 ) + 1−𝜀𝑟 1 1−𝜀𝑣 = ℎ𝑒𝑥𝑡 𝐴𝑣 (𝑇𝑣 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 ) + 𝜀𝑣 𝜎(𝑇𝑣4 − 𝑇𝑒𝑥𝑡
4 )𝐴
𝑣
+ +
𝜀𝑟 𝐹𝑟−𝑣 𝜀𝑣

𝑀̇𝑎𝑟 𝑐𝑝,𝑎𝑟 (𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑒𝑛𝑡 ) = ℎ𝑎𝑟 𝐴𝑟 (𝑇𝑟 − 𝑇𝑎𝑟 ) − ℎ𝑎𝑟 𝐴𝑣 (𝑇𝑎𝑟 − 𝑇𝑣 )


𝑇 +𝑇
𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑟 𝑣 ℎ𝑎𝑟 𝜋𝐷𝐿
2
𝑇 +𝑇 = exp (− )
{ 𝑇𝑒𝑛𝑡 − 𝑟 𝑣 𝑀̇𝑎𝑟 𝑐𝑝,𝑎𝑟
2

𝑇𝑎𝑟 é, como se disse, o valor médio da temperatura do ar na conduta (diferente da média


aritmética entre 𝑇𝑒𝑛𝑡 e 𝑇𝑠𝑎𝑖 ). Teremos de calcular o coeficiente de convecção, para podermos
resolver o sistema de equações.
Para o escoamento de ar, com as propriedades tomadas a 30ºC (como estimativa da média
conduta-fluido), vem:
𝑉̇ 0,025
𝑣𝑚 = 𝜋𝐷𝑎𝑟
2 /4 = 𝜋×0,12 /4 = 3,2 m/s

𝜌𝑎𝑟 𝑣𝑚 𝐷 1,149×3,2×0,1
𝑅𝑒𝐷ℎ = = = 19641
𝜇𝑎𝑟 1,872×10−5

o que significa que o escoamento se dá em regime turbulento, vindo pela equação de Dittus-
Boelter:
𝑁𝑢𝐷,𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣 = 0,023 𝑅𝑒𝐷0,8 𝑃𝑟 0,4 = 55,1
253
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

No regime turbulento o comprimento de entrada (até à zona de camada limite térmica


desenvolvida) é de cerca de 10 diâmetros – equação (2.19) – o que neste caso significa 0,2 m
de comprimento (10% do comprimento de escoamento). Contabilizando o seu efeito com a
equação (2.23), temos:
1 1
̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐷 = 𝑁𝑢𝐷,𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣 (1 + (𝐿/𝐷)2/3 ) = 55,1 × (1 + (2/0,1)2/3 ) = 62,6

Então o coeficiente de convecção médio será:


̅̅̅̅
𝑁𝑢𝐷 𝑘 62,6×0,02588
ℎ𝑎𝑟 = = = 16,2 W/m2ºC
𝐷ℎ 0,1

Substituindo todos os valores conhecidos, o sistema de equações a resolver é então:


𝜋×0,1×2
𝜋×0,1×2 𝜎×(𝑇𝑟4 −𝑇𝑣4 )×
161 = 16,2 × × (𝑇𝑟 − 𝑇𝑎𝑟 ) + 1−0,05 1
2
1−0,8
2 + +
0,05 0,637 0,8
𝜋×0,1×2
𝜋×0,1×2 𝜎×(𝑇𝑟4 −𝑇𝑣4 )× 𝜋×0,1×2 𝜋×0,1×2
16,2 × × (𝑇𝑎𝑟 − 𝑇𝑣 ) + 1−0,05 1
2
1−0,8 = 20 × × (𝑇𝑣 − 𝑇𝑒𝑥𝑡 ) + 0,8 × 𝜎 × (𝑇𝑣4 − 298,154 ) ×
2 + + 2 2
0,05 0,637 0,8
𝑇𝑟 +𝑇𝑣
0,0287 × 1005 × (𝑇𝑠𝑎𝑖 − 298,15) = 16,2 × 𝜋 × 0,1 × 2 × ( − 𝑇𝑎𝑟 )
2
𝑇 +𝑇
𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑟 𝑣 16,2×𝜋×0,1×2
2
𝑇 +𝑇 = exp (− )
{ 298,15− 𝑟 𝑣 0,0287×1005
2

que conduz aos seguintes resultados


𝑇𝑟 = 58,7o C
𝑇 = 26,4o C
{ 𝑣
𝑇𝑎𝑟 = 27,8o C
𝑇𝑠𝑎𝑖 = 30,2o C

Pode também quantificar-se a percentagem da radiação solar incidente (fora do coletor na área
projetada) que é comunicada ao ar, que é o seu rendimento térmico:
𝑄̇ 0,0287×1005×(30,2−25)
𝜂𝑐𝑜𝑙 = 𝑄̇ 𝑎𝑟 = = 0,75
𝑠𝑜𝑙 200

Para avaliar o comportamento do colector quando varia a radiação solar incidente, foram
repetidos os cálculos com valores de 𝑞̇ 𝑖𝑛𝑐,𝑠𝑜𝑙 entre 400 e 1000 W/m2, apresentando-se os
resultados no gráfico seguinte.

254
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

As variações das temperaturas quando varia a intensidade da radiação solar são praticamente
lineares, e o rendimento térmico mantém-se praticamente constante nos 75%. Note-se que, no
entanto, e como se disse anteriormente, se assumiu que a radiação solar incide sempre
perpendicularmente ao plano da conduta/coletor. Como tal não se verifica na maior parte do
tempo (a não ser que a conduta/coletor siga o sol), há uma perda de área útil de captação, pelo
que a sua performance irá diminuir.

255
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

P6.14
A figura representa um dispositivo de produção de vapor de
água à pressão atmosférica, composto por um aquecedor
cilíndrico mantido a 1000ºC, separado 100 mm do
contentor de água. Depois de a água entrar em ebulição,
produz-se vapor. O conjunto está colocado num ambiente
no qual ar e superfícies se encontram a 25ºC, tendo estas
uma área muito superior às do aquecedor e contentor. A
superfície do aquecedor (cinzenta e difusa) tem uma
emissividade de 0,9, tal como o fundo do contentor (de
espessura desprezável).
Calcule a temperatura do fundo do recipiente, o caudal de vapor produzido e a potência de
aquecimento, considerando todos os modos de transferência de calor.

Resolução e discussão

Quando a água entra em ebulição saturada mantém a sua temperatura a 100ºC, havendo
evaporação à superfície. O fundo do contentor (f) está a uma temperatura superior, provocando
a ebulição, que se deve à radiação térmica recebida da superfície aquecedora (aq), mantida a
1000ºC. As superfícies exteriores (ext) em conjunto com as outras 2 formam um volume
fechado, e podem considerar-se negras por terem uma área muito grande.
Então podemos representar as trocas radiativas pelo esquema seguinte:

Não conseguimos calcular uma resistência equivalente, embora possamos usar o esquema
acima para expressar as potências radiativas. No entanto, como existem outros modos de
transferência de calor, vamos considerar todos os fluxos no fundo do contentor, e o seu balanço
térmico. A figura seguinte ilustra os fluxos em presença.

O balanço térmico pode escrever-se como:


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑒𝑥𝑡 𝐹𝑓−𝑒𝑥𝑡 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑎𝑞 𝐹𝑓−𝑎𝑞 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑓 + 𝑞̇ 𝑐𝑜𝑛𝑣 + 𝑞̇ 𝑒𝑏𝑢𝑙

256
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

O fluxo de ebulição corresponde ao calor ganho pela superfície inferior, e pode expressar-se
em função da temperatura do recipiente e da temperatura de saturação da água. Vamos admitir
a existência de ebulição nucleada e usar a equação de Rohsenow (4.1), o que verificaremos após
calcular a temperatura do fundo do recipiente. Então:
3
𝑔(𝜌𝑙 −𝜌𝑣 ) 1/2 𝑐𝑝,𝑙 (𝑇𝑓 −𝑇𝑠𝑎𝑡 )
𝑞̇ 𝑒𝑏𝑢𝑙 = 𝜇𝑙 ∆ℎ𝑙𝑣 [ ] [𝐶 ]
𝜎 𝑠𝑓 ∆ℎ𝑙𝑣 𝑃𝑟𝑙𝑛

ou, com as propriedades da água a 𝑇𝑠𝑎𝑡 = 100ºC, e 𝐶𝑠𝑓 = 0,013 (recipiente em aço polido):
3
9,8×(957,9−0,60) 1/2 4217×(𝑇 −373,15)
𝑓
𝑞̇ 𝑒𝑏𝑢𝑙 = 0,282 × 10−3 × 2257 × 103 × [ ] × [0,013×2257×103 ×1,751
]
0,0589
3
= 140,71 × (𝑇𝑓 − 373,15)
usando a temperatura em K, devido aos fluxos radiativos.
Em relação à convecção natural, vamos desprezar as interações dos movimentos do ar nas
superfícies do aquecedor e do recipiente; no fundo do recipiente temos o equivalente a uma
placa mais quente que o ar, com convecção na face inferior. Usando a correlação da Tabela 2.4
temos
1/4
𝑁𝑢 = 0,27 (𝐺𝑟𝐿𝑐 𝑃𝑟) = ℎ𝑓 𝐿𝑐 ⁄𝑘𝑎𝑟
cujos limites de validade (105 < 𝐺𝑟 𝑃𝑟 < 1011 ) verificaremos depois de calculada a
temperatura, e em que a dimensão característica (disco) é igual a:
𝐴 𝜋𝐷 2 /4 𝐷
𝐿𝑐 = 𝑃 = = = 0,05 m
𝜋𝐷 4

Para avaliação das propriedades do ar vamos usar uma temperatura média de 65ºC, admitindo
para o recipiente uma temperatura próxima dos 105ºC. Podemos então escrever o coeficiente
de convecção natural como:
1⁄4
𝑘𝑎𝑟 𝑔𝛽𝑎𝑟 𝐿3𝑐 1⁄4
ℎ𝑓 = × 0,27 × ( 𝑃𝑟) × (𝑇𝑓 − 298,15) =
𝐿𝑐 𝜈𝑎𝑟 2

1⁄4
= 1,390 × (𝑇𝑓 − 298,15)
O fluxo convectivo será então:
5⁄4
𝑞̇ 𝑐𝑜𝑛𝑣 = 1,390 × (𝑇𝑓 − 298,15)

Vamos também usar as equações das radiosidades do aquecedor (aq) e do fundo do recipiente
(f):
4 4
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑎𝑞 = 𝜀𝑎𝑞 𝜎𝑇𝑎𝑞 + (1 − 𝜀𝑎𝑞 )(𝜎𝑇𝑒𝑥𝑡 𝐹𝑎𝑞−𝑒𝑥𝑡 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑓 𝐹𝑎𝑞−𝑓 )
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑓 = 𝜀𝑓 𝜎𝑇𝑓4 + (1 − 𝜀𝑓 )(𝜎𝑇𝑒𝑥𝑡
4
𝐹𝑓−𝑒𝑥𝑡 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑎𝑞 𝐹𝑓−𝑎𝑞 )

Os fatores de visão 𝐹𝑎𝑞−𝑓 = 𝐹𝑓−𝑎𝑞 são obtidos para 2 discos circulares paralelos, através da
informação da Figura 5.11. Sendo 𝑅𝑖 = 𝑟𝑖 /𝐿 = 1, 𝑅𝑗 = 1 e 𝑆 = 3, vem 𝐹𝑎𝑞−𝑓 = 0,38 e
𝐹𝑎𝑞−𝑒𝑥𝑡 = 1 − 𝐹𝑎𝑞−𝑓 = 0,62 = 𝐹𝑓−𝑒𝑥𝑡

Podemos então combinar estas 2 equações de radiosidade com o balanço do fundo do recipiente,
usando as expressões obtidas parar os fluxos de ebulição e convecção.

257
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

Temos assim o sistema de 3 equações:


5⁄4 3
𝜎 × 298,154 × 0,62 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑎𝑞 × 0,38 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑓 + 1,390 × (𝑇𝑓 − 298,15) + 140,71 × (𝑇𝑓 − 373,15)
{ 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑎𝑞 = 0,9 × 𝜎 × 1273,154 + 0,1 × (𝜎 × 298,154 × 0,62 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑓 × 0,38)
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑓 = 0,9 × 𝜎 × 𝑇𝑓 4 + 0,1 × (𝜎 × 298,154 × 0,62 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑎𝑞 × 0,38)

sistema não linear que permite calcular as 2 radiosidades e a temperatura do fundo do recipiente.
Os resultados são:
𝑇𝑓 = 380 K = 106,8o C
{ 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑎𝑞 = 134346 W/m2
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑓 = 6197 W/m2
Quanto à validade das correlações usadas, podemos agora verificar que o regime de ebulição é
efetivamente o de ebulição nucleada, tendo em conta a temperatura da superfície de 106,8ºC.
Para a convecção natural também se verifica um valor de 𝑅𝑎 = 5,4 × 105 , validando a
correlação usada.
A partir dos valores calculados podemos agora calcular as potências caloríficas envolvidas. A
potência radiativa (balanço) recebida pelo fundo é de 1418 W, dos quais 1407 W são usados
para promover a ebulição da água. A potência de convecção, devido ao reduzido coeficiente,
igual a 4 W/m2K, é de apenas 11 W, tendo um pequeno peso.
Podemos também calcular o caudal de água vaporizado; desprezando perdas de calor do
recipiente, teremos
̇
𝑄𝑒𝑏𝑢𝑙 1407
𝑀̇𝑣 = ∆ℎ = 2257×103 = 0,623 × 10−3 kg/s
𝑙𝑣

A potência a fornecer ao aquecedor, de modo a mantê-lo a 1000ºC, será igual ao balanço


radiativo das trocas com o recipiente e exterior, acrescida da potência perdida por convecção
para o ar. Quanto à parcela radiativa, tomando por base o esquema de resistências anteriormente
apresentado, deverá ser de:
4 −𝑞̇
𝜎𝑇𝑎𝑞 5,67×10−8 ×1273,154 −134346
|𝑄̇𝑟𝑎𝑑,𝑎𝑞 | = 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑎𝑞
1−𝜀𝑎𝑞 = 1−0,9 = 4135 W
𝐴𝑎𝑞 𝜀𝑎𝑞 𝜋×0,12 ×0,9

Quanto à convecção, estando a superfície do aquecedor a 1000ºC, e usando propriedades do ar


à temperatura média aritmética (512,5ºC), obtêm-se com a correlação da Tabela 2.4 (placa com
superfície superior mais quente que o fluido):
𝑅𝑎𝑎𝑞 = 161384 ⟹ ℎ𝑎𝑞 = 10,6 W/m2K
Adicionando a convecção ao balanço radiativo já calculado temos:
𝑄̇𝑎𝑞 = 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,𝑎𝑞 − ℎ𝑎𝑞 𝐴𝑎𝑞 (𝑇𝑎𝑞 −𝑇𝑎𝑟 ) = −4135 − 10,6 × 𝜋 × 0,12 × (1000 − 25) =
= −4460 W
No caso do aquecedor a convecção tem mais peso, devido à elevada temperatura. No entanto
representa menos de 8% da potência a fornecer ao aquecedor.
Também se nota que, da potência gasta no aquecedor, a maior parte é perdida para o exterior,
sobretudo por radiação. A percentagem que efetivamente produz vapor é de apenas cerca de
32%.

258
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P6.15
Pretende-se avaliar o conjunto da figura para
aquecimento de uma superfície parabólica, usando
um aquecedor de infravermelhos cilíndrico (com 1
cm de diâmetro), cuja superfície é mantida a 1300
K. A emissividade do aquecedor é de 0,9 e a da
superfície parabólica de 0,5 (ambas cinzentas e
difusas). O refletor cilíndrico está perfeitamente
isolado na face superior.
O conjunto está colocado numa sala com superfícies envolventes a 300 K, que se comportam
como corpos negros face ao conjunto (área muito superior).
Calcule a potência de aquecimento e a temperatura conseguida na superfície a tratar,
considerando as superfícies muito longas para cálculo dos fatores de visão (infinitas no plano
perpendicular ao do desenho), e considerando a existência de convecção com o ar calmo na sala
a 300 K. Atendendo à sua forma, a convecção na face inferior do refletor cilíndrico pode ser
desprezada. Quanto à superfície parabólica, considere-a como uma placa plana (com 1,5 m x
10 m) para efeitos de convecção, não transferindo calor na face inferior (isolada).

Resolução e discussão

Este problema assemelha-se ao problema P5.11, sendo o aquecedor plano substituído por um
aquecedor cilíndrico, que dispõe de um refletor isolado posteriormente para orientar a radiação
para a superfície a tratar (parabólica). Mas as condições de temperatura são diferentes, bem
como a existência de convecção.
Temos um volume fechado composto por 4 superfícies que trocam radiação: o aquecedor (1),
a superfície a tratar (2), o refletor cilíndrico isolado (3) e as superfícies exteriores (4). O
conjunto é muito longo (leia-se infinito) na direção perpendicular ao plano do desenho. A figura
seguinte esquematiza as superfícies a considerar.

Sendo neste caso o esquema de resistências de radiação complicado, sem possibilidade de


calcular uma resistência equivalente, vamos usar as equações de radiosidades e balanços de
modo a calcular a potência de aquecimento (de 1) e as temperaturas desconhecidas (de 2 e 3).
Conhecemos as temperaturas 𝑇1 e 𝑇4 , desconhecendo 𝑇2 e 𝑇3 . O refletor (3) está em equilíbrio
apenas com as trocas radiativas, uma vez que a convecção na sua superfície se despreza; por

259
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

outro lado sabemos que tem uma radiosidade igual à de um corpo negro, por estar perfeitamente
isolada e só trocar calor por radiação. A superfície parabólica (2) está em equilíbrio com as
trocas radiativas e convectivas, não se considerando trocas de calor na face inferior. A superfície
4 tem uma radiosidade igual à de um corpo negro, pela sua elevada área. Vamos usar as
equações de radiosidade das superfícies 1 e 2, e as equações de balanço daquelas cuja
temperatura é desconhecida (2 e 3).
Temos então o seguinte sistema de equações para cálculo das radiosidades, 𝑇2 e 𝑇3 :
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 𝜀1 𝜎13004 + 𝜌1 (𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝐹1−2 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 𝐹1−3 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 𝐹1−4 )
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 𝜀2 𝜎𝑇24 + 𝜌2 (𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐹2−1 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝐹2−2 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 𝐹2−3 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 𝐹2−4 )
𝑞̇ 𝑐𝑜𝑛𝑣,2 +𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐹2−1 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝐹2−2 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 𝐹2−3 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 𝐹2−4
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 = 𝜎𝑇34
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐹3−1 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝐹3−2 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 𝐹3−3 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 𝐹3−4
{ 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 = 𝜎𝑇44 = 𝜎 × 3004 = 459
A potência trocada por 2 por convecção, para uma placa horizontal mais quente que o fluido, e
admitindo 107 < 𝐺𝑟 𝑃𝑟 < 1011 (a verificar posteriormente), é dada pela correlação da Tabela
2.4, vindo:
1⁄3
𝑘𝑎𝑟 𝑔𝛽𝑎𝑟 𝐿3𝑐
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,2 = × 0,15 × ( 𝑃𝑟) × (𝑇2 − 300)1⁄3
𝐿𝑐 𝜈𝑎𝑟 2

Sendo 𝐿𝑐 = 𝐴/𝑃 = 15/23 = 0,652 m (que neste caso não tem influência no coeficiente) e
usando propriedades do ar a 350 K (estimativa), teremos:
ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,2 = 1,801 × (𝑇2 − 300)1⁄3
e
𝑞̇ 𝑐𝑜𝑛𝑣,2 = 1,801 × (𝑇2 − 300)4⁄3

Para resolver o sistema precisamos de vários fatores de visão. Para calcular 𝐹1−2 podemos
assumir que o fator é igual ao ângulo  da figura anterior dividido por 360º (fração do total que
sai de 1). O ângulo é de 53,1º, e o fator 𝐹1−2 vem igual a 0,148. O fator 𝐹1−3 , atendendo aos
eixos de simetria, é igual a 0,5. E o fator 𝐹1−4 , pelo princípio da soma, é:
𝐹1−4 = 1 − 𝐹1−2 − 𝐹1−3 = 1 − 0,148 − 0,5 = 0,352
Em relação aos fatores com origem em 2, temos:
𝐴 𝜋×0,01×10
𝐹2−1 = 𝐴1 𝐹1−2 = × 0,148 = 0,003
2 15

Para calcular 𝐹2−2 , vamos servir-nos da superfície virtual 2’ representada na figura anterior.
Sendo 𝐹2′ −2 = 1, vem
𝐴2′ 10
𝐹2−2 = 1 − 𝐹2−2′ = 1 − 𝐹2′ −2 = 1 − 15 × 1 = 0,333
𝐴2

Podemos também usar a superfície 3’ virtual da figura e calcular, através da Figura 5.7, o fator
𝐹2′ −3′ para 2 planos paralelos com uma dimensão infinita. Vem 𝐹2′ −3′ = 0,414. Usando
𝐴
𝐹2′ −3′ = 𝐹2′ −3 + 𝐹2′ −1 = 𝐹2′ −3 + 𝐴 1 𝐹1−2′ = 0,414
2′

vem
𝐴 𝐴 𝜋×0,01
𝐹2′ −3 = 𝐹2′ −3′ − 𝐴 1 𝐹1−2′ = 𝐹2′ −3′ − 𝐴 1 𝐹1−2 = 0,414 − × 0,148 = 0,409
2′ 2′ 1

260
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Podemos escrever ainda que:


𝐴2′ 1
𝐹3−2 = 𝐹3−2′ = 𝐹2′ −3 = 𝜋×0,5 × 0,409 = 0,260
𝐴3

vindo o recíproco
𝐴 15
𝐹2−3 = 𝐴2 𝐹3−2 = 𝜋×0,5×10 × 0,260 = 0,248
3

e
𝐹2−4 = 1 − 𝐹2−1 − 𝐹2−2 − 𝐹2−3 = 1 − 0,003 − 0,333 − 0,248 = 0,416

Em relação aos fatores com origem em 3, temos:


𝐴 𝜋×0,01×10
𝐹3−1 = 𝐴1 𝐹1−3 = × 0,5 = 0,01
3 𝜋×0,5×10

O fator 𝐹3−2 já foi calculado acima. Para 𝐹3−3 vamos recorrer a vamos recorrer à referência
[5], que indica para o fator de uma superfície semi-cilíndrica infinita para si própria, com a
existência de uma superfície cilíndrica infinita com o mesmo centro/eixo:
2 0,5 𝜋
𝐹3−3 = 1 − 𝜋 ((1 − 𝑅𝐷 2 ) + 𝑅𝐷 180 arcsen 𝑅𝐷 ) [com o arcsen 𝑅𝐷 em graus]

sendo 𝑅𝐷 a razão dos diâmetros. Vem então:


2 1 2 0,5 1 𝜋 1
𝐹3−3 = 1 − ((1 − ( ) ) + arcsen ) = 0,363(3)
𝜋 100 100 180 100

Note-se que se desprezarmos a existência do cilindro 1 vamos obter um valor praticamente


igual de 0,363(4), devido ao seu pequeno diâmetro. Para os cálculos que se seguem, em que
foram usadas 3 casas decimais para os valores dos fatores de visão, não há qualquer diferença.
Finalmente, podemos obter 𝐹3−4 por diferença para 1:
𝐹3−4 = 1 − 𝐹3−1 − 𝐹3−2 − 𝐹3−3 = 1 − 0,01 − 0,260 − 0,363 = 0,367

Substituindo todos os valores conhecidos, o sistema para cálculo das radiosidades é:


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 0,9 𝜎13004 + 0,1 × (𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 × 0,148 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 × 0,5 + 459 × 0,352)
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 0,5 𝜎𝑇24 + 0,5 × (𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 × 0,003 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 × 0,333 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 × 0,248 + 459 × 0,416)
1,801 × (𝑇2 − 300)4⁄3 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 × 0,003 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 × 0,333 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 × 0,248 + 459 × 0,416
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 = 𝜎𝑇43
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 × 0,01 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 × 0,260 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 × 0,363 + 459 × 0,367
{ 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 = 459 W⁄m2

O resultado do sistema é:
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 145951 W/m2
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 1435 W/m2
𝑇2 = 363 K (𝐺𝑟. 𝑃𝑟 = 8,0 × 107 , ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,2 = 7,1 W/m2 K)
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 = 3141 W/m2
𝑇3 = 485 K
{ 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 = 459 W/m2

261
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

Antes de calcular a potência a fornecer ao aquecedor, podemos desde já ver que o conjunto não
permite uma temperatura muito elevada para um tratamento térmico na superfície parabólica.
A temperatura conseguida é apenas 63º superior à exterior. Isso deve-se às perdas radiativas da
superfície 2 para o exterior, a par do baixo fator de visão do aquecedor para 2 (0,148). Uma
possível solução seria aumentar a temperatura do aquecedor, mas com aumento do consumo de
energia: aumentando a temperatura para 1500 K, um novo cálculo conduziria a uma temperatura
de 396 K, ainda assim não muito elevada, mas com um aumento de 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 para
258666 W/m2 . Mantendo a temperatura do aquecedor, poderia colocar-se a superfície a tratar
mais perto deste; passando a distância na vertical a ser de 0,5 m (em vez de 1 m), e refazendo
todos os cálculos (novos fatores de visão), passaríamos a ter;
𝐹1−2 = 0,25; 𝐹1−3 = 0,5; 𝐹1−4 = 0,25
𝐹2−1 = 0,005; 𝐹2−2 = 0,333; 𝐹2−3 = 0,371; 𝐹2−4 = 0,246
𝐹3−1 = 0,01; 𝐹3−2 = 0,388; 𝐹3−3 = 0,363; 𝐹3−4 = 0,239
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 146012 W/m2 ; 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 2188 W/m2 ; 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 = 3797 W/m2
𝑇2 = 396 K; 𝑇3 = 509 K
Essa alteração permitirá aumentar a temperatura também para 396 K, sem alteração da potência
consumida.
Quanto à potência a fornecer ao aquecedor, temos de considerar o termo devido à radiação e o
termo devido à convecção. Na situação original, teremos:
4
𝜎𝑇1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 4
𝜎×1300 −145951
|𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 | = (1−𝜀 )⁄(𝐴 𝜀 )
= (1−0,9)⁄(𝜋×0,01×10×0,9) = 45,2 kW
1 1 1

Já agora, a potência radiativa ganha pela superfície parabólica (2) é igual a


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 −𝜎𝑇2 4 4
1435−𝜎×363
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 = (1−𝜀 )⁄(𝐴 𝜀 )
= (1−0,5)⁄(15×0,5) = 6,8 kW
2 2 2

que representa apenas 15% da potência radiativa consumida pelo aquecedor. Se se reduzisse a
distância para metade (0,5 m), a potência radiativa ganha pela superfície a tratar (2) seria de
11,9 kW (26% do consumo).
Mas regressando à potência a fornecer ao aquecedor, para o termo convectivo é necessário
calcular o coeficiente de convecção, neste caso para convecção em torno de um cilindro
horizontal. Usando a correlação da Tabela 2.4 para essa geometria, obter-se-á ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,1 = 15
W/m2K, vindo:
𝑄̇𝑐𝑜𝑛𝑣,1 = ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,1 𝐴1 (𝑇1 − 300) = 15 × 𝜋 × 0,01 × 10 × (1300 − 300) =
= 4,7 kW
que aumenta o consumo total para 49,9 kW.

262
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P6.16

O aquecedor radiador do problema P5.13 deve agora ser tratado considerando que as superfícies
refletoras não têm qualquer isolamento e têm uma espessura reduzida. Também se deve
considerar a convecção (natural) nas superfícies do aquecedor (elemento aquecedor e
superfícies refletoras). Considere o coeficiente de convecção natural nas superfícies refletoras
(faces interiores e exteriores) igual a 2 W/m2K. Estas têm um elevado coeficiente de reflexão
na face interior ( =0,9, cinzentas e difusas), mas baixo nas faces exteriores ( =0,2, cinzentas
e difusas).
Os restantes dados mantêm-se: temperatura do elemento aquecedor de 600ºC (com  = =0,8),
superfícies do local e ar ambiente à temperatura de 20ºC.
Calcule a potência total que o aquecedor fornece à sala (superfícies do local e ar), e a
temperatura das superfícies refletoras.

Resolução e discussão

Agora há a considerar que as superfícies refletoras se dividem em 2 com propriedades


diferentes: as faces interiores (bastante refletoras) e as faces exteriores (pouco refletoras). Estas
últimas só trocam radiação com as superfícies da sala. Poderíamos representar as trocas
radiativas pelo esquema seguinte.

No entanto, este esquema não facilita os cálculos radiativos, nem permite adicionar as
potências convectivas, que terão de ser também contabilizadas. Também podemos notar que as
superfícies só trocam radiação com ②.
A potência radiativa ganha por ② pode escrever-se somando os 3 balanços das suas trocas com
①, e :
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝜎𝑇24 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 −𝜎𝑇24
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 = 1 + 1 + 𝐴3𝑒 𝜀3𝑒 𝜎(𝑇34 − 𝑇24 )
𝐴1 𝐹1−2 𝐴3𝑖 𝐹3𝑖−2

dependendo o seu valor do cálculo de 𝑇3 , 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 e 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 .

263
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

Para as radiosidades podemos escrever:


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 𝜀1 𝜎𝑇14 + (1 − 𝜀1 )(𝜎𝑇24 𝐹1−2 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 𝐹1−3𝑖 )
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 = 𝜀3𝑖 𝜎𝑇34 + (1 − 𝜀3𝑖 )(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐹3𝑖−1 + 𝜎𝑇24 𝐹3𝑖−2 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 𝐹3𝑖−3𝑖 )
O balanço energético total de ③, consideradas as 2 faces à mesma temperatura, pela sua
reduzida espessura, é:
(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐹3𝑖−1 + 𝜎𝑇24 𝐹3𝑖−2 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 𝐹3𝑖−3𝑖 )𝐴3𝑖 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 𝐴3𝑖 +

+𝐴3𝑒 𝜀3𝑒 𝜎(𝑇34 − 𝑇24 ) + ℎ𝑐𝑜𝑛𝑣,3 (𝐴3𝑖 + 𝐴3𝑒 )(𝑇3 − 𝑇𝑎𝑟 )

Estas 3 equações e os fatores calculados em P5.13 permitem-nos escrever o sistema:


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 0,8 𝜎 873,154 + 0,2 (𝜎 293,154 × 0,5 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 × 0,5)
{ 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 = 0,1 𝜎 𝑇34 + 0,9 (𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 × 0,058 + 𝜎 293,154 × 0,58 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 × 0,362)
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 × 0,058 + 𝜎 293,154 × 0,58 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 × 0,362 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 + 0,8𝜎(𝑇34 − 293,154 ) + 2 × 2 × (𝑇3 − 293,15)

que nos conduz a:


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 26656 W/m2
{ 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 = 2472 W/m2
𝑇3 = 316,3 K = 43,2o C
A radiosidade do elemento aquecedor é quase igual à do problema P5.13, que era de 26689
W/m2, quando as superfícies refletoras estavam perfeitamente isoladas. O não isolamento destas
faz com que a sua temperatura seja significativamente inferior (43,2ºC em vez de 198,5ºC).
Claro que a convecção também contribui para essa diferença. A convecção é responsável por
uma perda de 50,2 W nas faces interiores e exteriores do refletor (3i e 3e), enquanto a radiação
nas faces exteriores (3e) é responsável por uma perda de 64,5 W.
Quanto à potência radiativa ganha pelas superfícies da sala (②), ela vem igual a
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝜎𝑇24 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3𝑖 −𝜎𝑇24
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 = 1 + 1 + 𝐴3𝑒 𝜀3𝑒 𝜎(𝑇34 − 𝑇24 ) =
𝐴1 𝐹1−2 𝐴3𝑖 𝐹3𝑖−2

26658−𝜎 293,154 2492−𝜎 293,154


= 1 + 1 + 𝜋 × 0,1725 × 0,8𝜎(316,54 − 293,154 ) =
𝜋×0,02×1×0,5 𝜋×0,1725×0,58

= 1534 W
Em P5.13 o correspondente valor era de 1576 W, muito próximo deste, uma vez que o elemento
aquecedor é mantido à mesma temperatura. Mas considerando a convecção no elemento
aquecedor, a potência para o manter à mesma temperatura terá de ser superior. Considerando a
correlação para o coeficiente de convecção natural num cilindro horizontal, para a temperatura
em causa obtém-se uma potência libertada por convecção de 431 W (o coeficiente de convecção
é igual a 11,8 W/m2K). A potência total a fornecer ao elemento aquecedor será a que ele liberta
por convecção (431) mais a que liberta por trocas de radiação (1584), sendo o total de 2015 W.
Quanto à sala (②), ganha ainda a potência libertada por convecção pelo elemento aquecedor
(①) e pelo refletor (3i e 3e) para o ar interior, num total de 481 W. O total de potência recebida
pelas superfícies (𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2) e ar é de 2015 W, o que verifica a conservação de energia.

264
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Foi feita uma análise à variação do coeficiente de reflexão das superfícies interiores do refletor
( ). Este foi variado entre 0 (superfícies negras) e 1 (refletor ideal). A repetição dos cálculos
feitos anteriormente conduziu a várias representações gráficas.
O gráfico seguinte apresenta a variação da temperatura das superfícies refletoras (𝑇3 ). Como se
pode notar a temperatura diminui acentuadamente com o aumento do coeficiente de reflexão,
em particular para valores elevados do coeficiente. Se o coeficiente for igual a 1, toda a radiação
que é recebida é refletida, e as superfícies não têm qualquer ganho radiativo, pelo que em
equilíbrio ficam à temperatura do ar ambiente (20ºC). A temperatura máxima, quando o
coeficiente de reflexão é 0 e a emissividade é 1 (corpo negro), é de 110ºC. Note-se que este
valor é inferior ao do problema P5.13 (quase 200ºC), porque as superfícies perdem calor por
convecção (nas faces interiores e exteriores do refletor).

O gráfico que se segue representa a variação da potência que as superfícies da sala ganham por
radiação (𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2) e a potência que as superfícies do refletor (3i e 3e) perdem por convecção.
Esta última segue a evolução da temperatura 𝑇3 vista no gráfico anterior, diminuindo com o
aumento do coeficiente de reflexão. Quanto a 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 aumenta ligeiramente com o aumento do
coeficiente de reflexão, aumento que se acentua para os maiores coeficientes: a maior reflexão
de aumenta a radiação ganha por ②. O gráfico também mostra em separado a parcela dos
ganhos vinda das superfícies ① e , 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2,𝑖 , e a que vem de , 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2,𝑒 . Esta separação
mostra bem que, além de aumentar a potência radiativa global, o aumento do coeficiente de
reflexão dirige mais radiação para o “lado i”.

265
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

O gráfico seguinte apresenta a mesma variação de 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2 com o coeficiente de reflexão de 3i,
a par da potência perdida pelo elemento aquecedor por radiação e por convecção. A potência
que o aquecedor perde por radiação diminui ligeiramente com o aumento do coeficiente de
reflexão; a radiosidade de 1 varia pouco, entre 26531 e 26689 W/m2, aumentando ligeiramente
com o aumento de 𝜌3𝑖 , mas o elemento aquecedor tem mais radiação incidente vinda de 3i, que
diminui um pouco a sua perda global. Quando o coeficiente de reflexão é igual a 1, a potência
radiativa perdida pelo aquecedor (𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1) é igual à ganha pelas superfícies da sala (𝑄̇𝑟𝑎𝑑,2),
porque 3 não ganha nada (em termos de balanço), havendo equilíbrio entre 1 e 2.

Na análise feita foi considerado constante o coeficiente de convecção nas superfícies do refletor.
Na realidade ele depende da temperatura destas. Poder-se-ia contabilizar uma variação
proporcional a ∆𝑇 1/4 ou ∆𝑇 1/3, mas tal não iria alterar as principais conclusões do estudo.

266
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

P6.17
Uma nave espacial situada no espaço, a uma
temperatura de 0 K, tem um conjunto de placas
retangulares ligadas à sua superfície exterior, como
mostra a figura ao lado.
A superfície exterior e a base das placas (①) encontra-
se a uma temperatura de 325 K, sendo todas as
superfícies cinzentas e difusas, com ==0,7 (① e
②).
Considerando a secção em U entre placas adjacentes, com S=25 mm, L=125 mm, e um
comprimento perpendicular ao plano da figura muito grande, e desprezando a espessura (e) e a
condução do calor nas placas, calcule a temperatura da superfície ② e a potência calorífica
perdida pela nave em cada secção, por unidade de comprimento.
Divida agora a superfície ② (comprimento L) em 4 superfícies de igual dimensão e calcule as
novas temperaturas e potência perdida. Depois divida ② em mais elementos e calcule as suas
temperaturas e a potência dissipada; neste último caso considere ainda a condução do calor ao
longo da dimensão L, com e=5 mm e uma condutibilidade térmica de 15 W/mK (aço).

Resolução e discussão

Vamos considerar o espaço entre placas intermédias, e para contabilizar adequadamente as


trocas de radiação vamos considerar uma superfície virtual (3) que fecha o volume entre placas.
A figura a seguir representa as 3 superfícies, as potências caloríficas de radiação (balanço de
cada superfície), e as resistências de radiação associadas. A superfície 3, que corresponde ao
espaço exterior, está a 0 K (não emite radiação) e comporta-se como um corpo negro, pelo que
tem uma radiosidade nula.

Note-se que havendo simetria dos 2 lados de cada placa, as potências transferidas numa placa
são iguais às transferidas nas 2 superfícies consideradas como superfície 2. Por outro lado,
devido à simetria dos 2 lados de uma mesma placa, a superfície 2 equivale a uma superfície
isolada (adiabática) e pode classificar-se como superfície re-radiante. Assim, ela recebe a
mesma potência radiativa que perde. Em consequência, a potência perdida pela base (𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1) é
toda dissipada para o espaço (=𝑄̇𝑟𝑎𝑑,3).
Para calcular 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 = 𝑄̇𝑟𝑎𝑑,3 podemos calcular a resistência equivalente do triângulo de
resistências da figura anterior e da resistência superficial de 1, e a partir dela calcular a potência.

267
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

Como também pretendemos calcular 𝑇2 vamos efetuar os balanços nos nodos radiosidade de 1
e de 2:
𝜎3254 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −0
1−0,7 = 1 + 1
0,025×0,7 0,025𝐹1−2 0,025𝐹1−3

𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 −0


1 = 1
0,025𝐹1−2 0,025𝐹3−2

sendo
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 𝜎𝑇24
Os fatores de visão necessários são 𝐹1−3 e 𝐹3−2 . Quanto a 𝐹1−3 , podemos usar a expressão da
Figura 5.7 (largura infinita), com 𝑊𝑖 = 𝑊𝑗 = 25/125 = 0,20, vindo
1/2 1/2
((0,2+0,2)2 +4) −(02 +4)
𝐹1−3 = = 0,099
2×0,2

Quanto a 𝐹3−2 é igual a 1 − 𝐹3−1, sendo 𝐹3−1 = 𝐹1−3 por simetria. Então 𝐹3−2 = 0,901.
Substituindo os fatores no sistema de 2 equações acima obtém-se
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 = 511,65 W/m2
{
𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 = 255,83 W/m2

Então a potência perdida pela base e a temperatura das placas serão:


𝜎3254 −𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1
𝑄̇𝑟𝑎𝑑,1 = 1−0,7 = 7,1 W/m
0,025×0,7

1/4
𝑇2 = (𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 /𝜎) = 259 K
sendo a temperatura 66º inferior à temperatura da base.
Note-se que se não existissem placas na base da nave a potência perdida seria igual a 11,1 W/m
(= 𝜀𝜎𝑇14 𝐴1 ), pelo que as placas diminuem a perda de calor da base da nave.
Vamos de seguida dividir as superfícies ② em 2 (cada), o que corresponde à configuração
usada na figura que se segue.

Cada superfície i tem uma radiosidade dada por:


𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 = 𝜀𝜎𝑇𝑖4 + (1 − 𝜀) ∑5𝑗=1(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 𝐹𝑖−𝑗 )
sendo 𝑇1 = 325 K. Nesta configuração não existe irradiação de cada superfície para si própria,
pelo que os termos 𝑗 = 𝑖 do somatório são nulos.
268
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Para além das 5 radiosidades, precisamos de calcular as 4 temperaturas desconhecidas (𝑇2 a


𝑇5 ). Para tal vamos considerar as 4 equações de balanço de cada uma (i), na forma:
∑5𝑗=1(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 𝐹𝑖−𝑗 ) = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖

uma vez que cada uma delas está isolada e portanto não tem outras trocas de calor.
A superfície virtual que corresponde ao exterior/vazio (ext) não vai ser considerada, por não
enviar radiação para as superfícies 1 a 5 (está a 0 K). Isto não significa que as superfícies não
enviem radiação para o exterior: ela está incluída na radiosidade de cada uma, que compreende
toda a radiação que sai de cada superfície.
Para obter as 5 radiosidades e as 4 temperaturas teremos de resolver o sistema de 9 equações,
necessitando dos fatores de visão entre superfícies. Usando expressões da Figura 5.7, a par das
relações de reciprocidade e sobreposição, obtêm-se os fatores da tabela seguinte.

outra superf
(j) c
superf i ① ② ③ ④ ⑤ ext
considerada

① 0 0,4037 0,0468 0,4037 0,0468 0,0990

② 0,1615 0 0 0,6770 0,1428 0,0187

③ 0,0187 0 0 0,1428 0,6770 0,1615

④ 0,1615 0,6770 0,1428 0 0 0,0187

⑤ 0,0187 0,1428 0,677 0 0 0,1615

A soma dos fatores de cada linha é igual a 1, como se esperava (com a superfície exterior forma-
se um volume fechado). A figura seguinte resume os resultados da resolução do sistema de
equações.

Quanto à potência dissipada para o exterior, pode obter-se do balanço de 1, ou:


𝑄̇𝑒𝑥𝑡 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐴1 𝐹1−𝑒𝑥𝑡 + 2𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝐴2 𝐹2−𝑒𝑥𝑡 + 2𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 𝐴3 𝐹3−𝑒𝑥𝑡 = 5,9 W/m

269
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

Note-se a simetria da distribuição de temperaturas e radiosidades, como esperado. A


temperatura média das superfícies 2 e 3 (ou 4 e 5) é de 259,4 K, quando antes as 2 superfícies
agrupadas tinham uma temperatura praticamente igual de 259 K. No entanto, a potência
dissipada é agora menor: 5,9 em vez de 7,1 W/m. Este facto deve-se à menor temperatura das
superfícies laterais próximas do exterior, que é mais baixa do que na hipótese anterior (só com
2 superfícies laterais que foram agrupadas), reduzindo a potência perdida para o exterior; são
as superfícies 3 e 5 (mais frias, a 238,9 K) que têm um maior fator de visão para o exterior,
tendo por isso mais peso nas perdas.
Agora vamos contabilizar o efeito da variação da temperatura nas superfícies 2 originais ao
longo da distância à base (L=125 mm), tendo também em conta a condução do calor ao longo
de uma placa, que tem uma espessura de 5 mm e uma condutibilidade de 15 W/mK.
Para esse efeito vamos dividir a placa em elementos de volume finitos, tendo-se optado por usar
6 elementos e 6 nodos igualmente espaçados, desde a base até ao topo, como representa a figura
seguinte. O nodo/elemento 0 representa a base, cuja temperatura é conhecida (325 K). Os
elementos fronteira (0 e 5) têm metade do comprimento, estando os respetivos nodos colocados
na sua extremidade. Os restantes têm um comprimento ∆𝐿 = 25 mm. Em termos de trocas
radiativas, o elemento 0 inclui uma pequena parte da superfície lateral, superfície que é
considerada toda a 325 K. As superfícies dos outros elementos (1 a 5) são também consideradas
a uma temperatura uniforme (𝑇1 a 𝑇5 ).

Cada elemento recebe e troca radiação com elementos análogos da superfície da placa vizinha.
Não havendo trocas dos elementos da mesma placa entre si, os elementos/superfícies da placa
vizinha foram designados pelos mesmos números (0 a 6). Deste modo, as trocas de radiação
entre superfícies de placas contíguas são referidas com fatores de visão 𝐹𝑖−𝑗 , em que i é o
número do elemento de uma superfície da placa e j é o número do elemento da superfície em
frente (da placa vizinha). A figura acima representa todos os fluxos (recebidos e perdidos)
associados ao elemento 2. Há fluxos de radiação incidente (um para cada um dos
correspondentes elementos da superfície oposta, e outro da base), um fluxo que sai (a
radiosidade) e fluxos de condução através da espessura da placa (fronteiras do elemento).
Saliente-se que existem outros tantos fluxos radiativos no elemento 2 na face oposta da mesma
placa, pelo que em cada placa os fluxos radiativos serão multiplicados por 2. A título de
exemplo, escreve-se a seguir a equação de balanço térmico para o elemento 2:
𝑘 𝑘
𝑒(𝑇1 − 𝑇2 ) + 2∆𝐿 ∑5𝑗=0(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 𝐹2−𝑗 ) = ∆𝐿 𝑒(𝑇2 − 𝑇3 ) + 2∆𝐿𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2
∆𝐿

270
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Note-se que o elemento não recebe radiação do exterior, por este estar a 0 K. No entanto, perde
calor para o exterior (incluído no que sai do elemento, 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 ). As equações para os outros
elementos interiores (3 e 4) são análogas a esta. As equações dos elementos 1 e 5 são diferentes
(note-se que se conhece a temperatura 𝑇0 = 325 K):
𝑘 𝑘
𝑒(325 − 𝑇1 ) + 2∆𝐿 ∑5𝑗=0(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 𝐹1−𝑗 ) = ∆𝐿 𝑒(𝑇1 − 𝑇2 ) + 2∆𝐿𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1
∆𝐿

𝑘 2∆𝐿 2∆𝐿
𝑒(𝑇4 − 𝑇5 ) + ∑5𝑗=0(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 𝐹5−𝑗 ) = 𝑒𝜀𝜎𝑇54 + 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5
∆𝐿 2 2

Às 5 equações de balanço térmico dos 5 elementos (1 a 5) é necessário adicionar 6 equações de


radiosidade, por forma a conseguir calcular as 5 temperaturas (1 a 5) e as 6 radiosidades (0 a 5)
desconhecidas. Estas têm a forma conhecida:

𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑖 = 𝜀𝜎𝑇𝑖4 + (1 − 𝜀) ∑5𝑗=0(𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,𝑗 𝐹𝑖−𝑗 )

sendo que para i=0 (base) se multiplicam as irradiações de 1 a 5 por 2, por receber radiação de
2 faces das placas contíguas. Resta definir os fatores de visão para se poder resolver o sistema
de equações. Considerando um volume fechado formado pelos 6 elementos (0 a 5) e pelo
exterior (espaço entre topos de placas consecutivas), tendo em conta que o exterior não envia
radiação, são necessários 6 × 6 = 36 fatores de visão. No entanto, diversos são iguais, devido
à existência de simetrias. A tabela seguinte lista os fatores necessários, assinalando com a
mesma cor fatores que têm o mesmo valor, atendendo à simetria existente.

superf
contígua
superf ⓪ ① ② ③ ④ ⑤
considerada

⓪ 𝐹0−0 𝐹0−1 𝐹0−2 𝐹0−3 𝐹0−4 𝐹0−5

① 𝐹1−0 𝐹1−1 𝐹1−2 𝐹1−3 𝐹1−4 𝐹1−5

② 𝐹2−0 𝐹2−1 𝐹2−2 𝐹2−3 𝐹2−4 𝐹2−5

③ 𝐹3−0 𝐹3−1 𝐹3−2 𝐹3−3 𝐹3−4 𝐹3−5

④ 𝐹4−0 𝐹4−1 𝐹4−2 𝐹4−3 𝐹4−4 𝐹4−5

⑤ 𝐹5−0 𝐹5−1 𝐹5−2 𝐹5−3 𝐹5−4 𝐹5−5

O cálculo de 𝐹0−0 pode obter-se da relação de reciprocidade com uma superfície imaginária
que une os extremos da superfície 0, vindo 𝐹0−0 = 25⁄50 × 1 = 0,5. Esta superfície
imaginária é também útil para calcular os fatores 𝐹𝑖−0 . Para além disso, agrupando superfícies
e usando expressões da Figura 5.7, a par das relações de reciprocidade e sobreposição, obtêm-
se os fatores da tabela seguinte.

271
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

superf
contígua
superf ⓪ ① ② ③ ④ ⑤
considerada

⓪ 0,5 0,1464 0,0445 0,0184 0,0098 0,0061

① 0,2928 0,4142 0,2038 0,0524 0,0170 0,0080

② 0,0890 0,2038 0,4142 0,2038 0,0524 0,0105

③ 0,0368 0,0524 0,2038 0,4142 0,2038 0,0340

④ 0,0196 0,0170 0,0524 0,2038 0,4142 0,1353

⑤ 0,0122 0,0160 0,0210 0,0680 0,2706 0,2361

Note-se que, para as superfícies 1 a 5, a diferença da soma dos valores de cada linha para 1
representa o fator dessa superfície para o exterior (vazio). A superfície 0 (base) troca radiação
com duas faces contíguas das placas, pelo que se verifica:

𝐹0−0 + 2(𝐹0−1 + 𝐹0−2 + 𝐹0−3 + 𝐹0−4 + 𝐹0−5 ) + 𝐹0−𝑒𝑥𝑡 = 1

sendo então 𝐹0−𝑒𝑥𝑡 = 0,0495.


Pode então resolver-se o sistema de equações, calculando as 5 temperaturas e as 6 radiosidades.
A potência que é dissipada em cada secção entre placas (ou em cada placa e porção da base
respetiva) pode calcular-se através de:

𝑄̇𝑒𝑥𝑡 = 𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,0 (∆𝐿 + 𝑆)𝐹0−𝑒𝑥𝑡 + 2∆𝐿𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,1 𝐹1−𝑒𝑥𝑡 + 2∆𝐿𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,2 𝐹2−𝑒𝑥𝑡 +
+2∆𝐿𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,3 𝐹3−𝑒𝑥𝑡 + 2∆𝐿𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,4 𝐹4−𝑒𝑥𝑡 + 2∆𝐿𝑞̇ 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑜𝑠,5 𝐹5−𝑒𝑥𝑡 + 𝑒𝜀𝜎𝑇54

sendo o último termo a perda no topo da placa.


A potência dissipada numa placa é igual a 14,1 W/m, sendo a parcela que passa por condução
na base de 11,8 W/m. Há, portanto, um incremento muito grande da transferência de calor
devido à condução. A figura seguinte representa as temperaturas nos 6 nodos, e mostra que ela
varia relativamente pouco devido à condução (curva a cor azul). Para permitir uma comparação
com os cálculos anteriores (sem condução), a figura representa também as temperaturas quando
não se considera condução (curva a cor preta). Sem condução, a temperatura varia muito mais
acentuadamente, e sobretudo junto à extremidade da placa, que perde mais calor para o exterior
que as zonas junto à base. A potência dissipada, sem condução, é de 5,5 W/m, valor muito
inferior aos 14,1 W/m quando se contabiliza a condução. Sem condução, a temperatura média
das superfícies laterais (entre a base e o topo) é semelhante à calculada anteriormente (271
versus 259 K). A potência, sem condução, é mais baixa que as anteriores (5,5 versus 5,9 versus
7,1 W/m). Isto deve-se a que as zonas mais extremas (como o elemento 5) se encontram mais
frias que ao considerar menos superfícies laterais (2 ou 1 superfície), havendo menos calor
perdido para o exterior.

272
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

273
Capítulo 6 – Transferência de calor combinada

274
Transferência de Calor: um guia para a resolução de problemas práticos

Referências
[1] Theodore Bergman, Adrienne Lavine, Frank Incropera, David Dewitt (2011). Fundamentals
of Heat and Mass Transfer. 7th edition. Ed. John Wiley & Sons.
[2] Yunus Çengel, Afshin Ghajar (2015). Heat and Mass Transfer: Fundamentals &
Applications. 5th edition. Ed. McGraw-Hill.
[3] Suhas Patankar (1980). Numerical Heat Transfer and Fluid Flow. Ed. CRC Press.
[4] Jean-Michel Bergheau, Roland Fortunier (2008). Finite Element Simulation of Heat
Transfer. Ed. Wiley.
[5] John Howell (1982). A Catalog of Radiation Configuration Factors. Ed. McGraw-Hill.

275
TRANSFERÊNCIA DE CALOR:
Um Guia para a Resolução de Problemas Práticos

ARMANDO CARLOS F. COELHO OLIVEIRA


Professor Catedrático da Universidade do Porto
Este livro revê conceitos e soluções para diversos
problemas de Transferência de Calor, com o intuito
de constituir um guia sistemático para a sua análise
e resolução. Fomenta-se a compreensão dos
fenómenos físicos e discutem-se hipóteses de
cálculo, criticando sempre os resultados obtidos

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