Ensaio Filosófico
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Ensaio Filosófico
Será moralmente correta a morte medicamente assistida? E se for para acabar com o
sofrimento?
A eutanásia é um assunto delicado que gera muita controvérsia e é um tema
complexo que envolve o ato de provocar intencionalmente a morte de uma pessoa com
o objetivo de aliviar o seu sofrimento. Existem diferentes perspetivas éticas, morais,
religiosas e legais sobre a eutanásia, e as opiniões variam amplamente. Enquanto uns
são a favor, vários são contra. A legalidade e a aceitação da eutanásia variam em todo
o mundo. Alguns países, como Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Canadá e Colômbia,
têm leis que permitem formas específicas de eutanásia ou suicídio assistido. Outros
países têm leis restritivas ou proibições explícitas. Em Portugal, apesar de ser
aprovada pelo parlamento, o presidente da república nega que o doente esteja em
condições para decidir se quer uma morte medicamente assistida ou não. Como
sempre referiu, o presidente da república entende que em matéria desta sensibilidade
não podem resultar duvidas na sua aplicação. Por ser um problema tão sensível só
pela quinta vez que o parlamento português aceitou é que ela foi realmente aprovada
em Portugal.
A palavra eutanásia resulta da associação de dois termos gregos — “eu” (bom, com
bondade) e “thanatos” (morte), podendo ser traduzida literalmente por “boa morte”. No
seu sentido etimológico original, representava uma morte natural, serena e sem
sofrimento, não envolvendo a intervenção de outra pessoa. Existem três variações de
eutanásia, a voluntária, quando a morte é provocada atendendo a uma vontade do
paciente, a involuntária, quando a morte é provocada contra a vontade do paciente, e a
não voluntária, quando a morte é provocada sem que o paciente tivesse manifestado
sua posição em relação a ela.
A abordagem utilitarista, proposta por filósofos como John Stuart Mill, considera a
moralidade em termos de maximização do bem-estar. Dentro dessa perspetiva, a
eutanásia pode ser justificada se se resultar em um maior benefício líquido para a
sociedade, aliviando o sofrimento do paciente e dos seus familiares. No entanto, é
importante considerar os riscos de abusos e a possibilidade de se estabelecer um
precedente perigoso, onde a vida humana pode ser facilmente descartada em nome da
utilidade. Por outro lado, a ética deontológica, proposta por Immanuel Kant, baseia-se
no dever moral e na universalidade dos princípios. Nessa perspetiva, a eutanásia seria
intrinsecamente errada, pois viola o princípio fundamental de que a vida humana é um
fim em si mesma e deve ser tratada como tal. Segundo Kant, não podemos tratar seres
humanos como meros meios para atingir um fim, mesmo que esse fim seja o alívio do
sofrimento. Assim, a eutanásia seria uma afronta à dignidade humana.
A eutanásia é moralmente correta? No nosso ponto de vista, a morte medicamente
assistida é moralmente correta uma vez que se um indivíduo estiver em sofrimento e
quiser acabar com essa condição, se não houver medicamentos nem tratamento, a
única maneira de ele tem para deixar de sentir dor é a eutanásia. Estes indivíduos têm
autonomia para conseguirem decidir se querem aceitar a morte ou não, ou seja,
quando os médicos aceitam aplicar a eutanásia estão a respeitar a liberdade e a
decisão do seu paciente. Defensores da eutanásia argumentam que permitir que uma
pessoa tome a decisão de terminar sua própria vida, quando enfrenta um sofrimento
intolerável, é um reconhecimento da sua dignidade. Acredita-se que a autonomia
individual inclua o direito de controlar o próprio corpo e o destino da própria vida,
especialmente quando a qualidade de vida está comprometida de forma irreversível.
Alguns dos argumentos utilizados contra a eutanásia são a nível religioso, ou seja,
defendem que deus foi quem criou a vida e que só ele tem o direito de a terminar e a
nível médico, ou seja, vai contra a sua ética pois consideram que a vida é sagrada
logo, tendo em conta o seu juramento, a eutanásia é considerada homicídio. Os
oponentes defendem que a vida humana é intrinsecamente valiosa e que a eutanásia
viola esse princípio fundamental, permitindo que a vida seja tratada como descartável
ou negociável. Uma das principais preocupações com a legalização da eutanásia é o
risco de abusos. Algumas pessoas temem que, uma vez que a eutanásia seja
permitida, os critérios sejam ampliados de forma descontrolada e pessoas vulneráveis
possam ser pressionadas ou coagidas a optar pela morte antecipada, mesmo que não
desejem isso. A proteção dos direitos dos pacientes e a implementação de
salvaguardas adequadas são consideradas fundamentais para mitigar esse risco. A
legalização da eutanásia pode ter um impacto significativo na sociedade e na cultura
em geral. Algumas pessoas acreditam que a disponibilidade da eutanásia pode mudar
a perceção da vida e da morte, e que os valores fundamentais relacionados ao
cuidado, à preservação da vida e à responsabilidade mútua podem ser afetados. Essas
mudanças culturais são motivo de preocupação para aqueles que se opõem à
eutanásia.
Além disso, a legalização da eutanásia pode ter consequências sociais e culturais,
influenciando a perceção da sociedade sobre o valor da vida e a responsabilidade em
cuidar dos mais vulneráveis. Também pode criar um precedente perigoso, abrindo a
porta para abusos ou negligência. É crucial, portanto, considerar cuidadosamente as
implicações éticas e sociais antes de tomar decisões relacionadas à eutanásia.
Para concluir, a eutanásia é um tema muito atual, complexa e desafia as bases éticas
e filosóficas que fundamentam as nossas conceções de vida e morte. Não existe uma
resposta fácil ou universalmente aceitável para essa questão. É essencial ponderar os
princípios éticos e filosóficos em jogo, levando em consideração a autonomia individual,
a dignidade humana, o sofrimento e o bem-estar geral da sociedade. Qualquer decisão
sobre a eutanásia deve ser tomada com base em um debate aberto, informado e
cuidadoso, considerando-se as implicações éticas e as salvaguardas necessárias para
evitar abusos. Portanto, encontrar um equilíbrio entre as considerações éticas,
cuidados paliativos adequados e respeito aos desejos individuais é essencial para
abordar essa questão complexa da maneira mais compassiva possível e é fundamental
considerar os contextos legais, éticos e culturais específicos ao discutir a eutanásia em
um determinado país ou região.