Atividade Assistida Por Animais Na Unidade de Terapia Intensiva
Atividade Assistida Por Animais Na Unidade de Terapia Intensiva
Atividade Assistida Por Animais Na Unidade de Terapia Intensiva
AUTORES
RESUMO
A doença grave e o ambiente de terapia intensiva são potenciais estressores aos pacientes,
sendo comum a presença de ansiedade, tristeza, dor e desenvolvimento de delirium. A Atividade
Assistida por Animais (AAA) surge como uma estratégia que proporciona o contato de animais
treinados e submetidos a protocolos sanitários com pacientes internados, proporcionando
benefícios a estes e à equipe multiprofissional. Na literatura científica e nas experiências do pro-
jeto Cão Carinho, implementado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto, a estratégia tem se mostrado uma ferramenta útil no tratamento não-farmacológico dos
pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva.
Palavras-chave: Terapia intensiva; Humanização; Atividade assistida por animais; Multidisciplinar
INTRODUÇÃO
Desde 400 a.C., Hipócrates já utilizava cavalos para regenerar a saúde de seus pacientes (1).
Em 1860, Florence Nightingale recomendou a presença de animais de estimação para pacientes
crônicos. Apenas nos últimos 20 anos, houve uma maior disseminação dessa atividade envol-
vendo a terapia de pacientes em hospitais. É importante salientar também o trabalho da psiquiatra
brasileira Dra. Nise da Silveira, que propôs uma nova forma de tratamento com gatos e cães aos
pacientes que sofriam de esquizofrenia, eliminando a eletroconvulsoterapia e a lobotomia (2).
A Terapia Assistida por Animais é uma intervenção médica complementar em que tipica-
mente utilizam-se cães treinados para serem obedientes, calmos e reconfortantes (3, 4). Os bene-
fícios das visitas de cães de terapia perduram além do tempo do encontro e mostram até mesmo
mudanças no sistema imunológico, hormonal e neuropsicológico. Nesta direção, a Intervenção
Assistida por Animais envolve também a Atividade Assistida por Animais (AAA), que tem caráter
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OBJETIVO
Relatar o funcionamento do projeto Cão Carinho, descrevendo a experiência dos pacien-
tes e de integrantes da equipe de saúde durante as atividades realizadas até o momento, com o
intuito de reiterar sua importância como tratamento complementar aos pacientes dentro da UTI.
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METODOLOGIA
Estudo descritivo do tipo relato de experiência dos pacientes e dos profissionais de saúde
da UTI de um hospital universitário terciário durante a implementação do projeto Cão Carinho
e as atividades ocorridas até o momento desde sua criação.
O projeto Cão Carinho nasceu em julho de 2019, com quatro cães vinculados, com a pro-
posta de reduzir a dor física e emocional dos pacientes, humanizando o ambiente do cuidado
hospitalar. As metas instituídas pelo programa foram: reduzir a dor física; ajudar na reabilitação
motora; reduzir o sofrimento; humanizar o ambiente da UTI; promover mudanças comporta-
mentais positivas na autopercepção e autoestima dos pacientes; e melhorar a interação social
entre paciente e equipe multiprofissional.
Trata-se de um serviço realizado por voluntários e profissionais da saúde com seus próprios
animais de estimação, que são treinados e submetidos a rígidos critérios de análise de comporta-
mento e saúde. As atividades do projeto têm frequência semanal, com visitas aos pacientes que
aceitaram participar previamente. O paciente pode ser visitado regularmente no dia da semana
designado ao projeto, se assim o desejar. A duração máxima da visita é de uma hora, e não envolve
metodologia ou procedimentos próprios, tendo um conteúdo espontâneo durante a visita e sendo
o paciente livre para interagir com o animal, à distância ou fisicamente, caso deseje.
Visando à segurança em saúde em primeiro lugar, os pacientes elegíveis a serem visitados
são avaliados quanto a critérios de exclusão para a atividade, sendo eles: ter algum grau de imu-
nodepressão ativa (associada a quimioterápicos ou outros medicamentos, ou alguma imunode-
pressão adquirida); estar em precaução por contato e/ou respiratória (gotículas ou aerossóis);
ser alérgico; possuir qualquer tipo de ferida aberta; relatar fobia por animais; ou apresentar
histórico de algum distúrbio psiquiátrico ou agitação psicomotora.
Quanto à escolha dos animais, a participação deve seguir as diretrizes internacionais
preconizadas pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (8), que recomendam os
cuidados para evitar transmissão de doenças e riscos na segurança do paciente, familiares e
equipe multiprofissional. São escolhidos preferencialmente cães, com mais de 2 anos de idade,
castrados, treinados, com obediência imediata, de raça dócil, com pouca vocalização, e previa-
mente ambientados ao local onde irão atuar. Os animais são avaliados por médicos veteriná-
rios, sendo necessário atestado de saúde de frequência semestral, com todas as imunizações
atualizadas. Os animais também recebem vermífugos, como anti-helmínticos e antiparasitários,
são investigados periodicamente com swab nasal e retal quanto à colonização por germes mul-
tirresistentes, e somente são liberados para atuar se, durante a semana anterior ao dia da visita,
não tiverem apresentado intercorrências clínicas.
RESULTADOS
Com as atividades realizadas até o momento, foram observados relatos positivos por parte
dos pacientes, com alívio dos sintomas de ansiedade e aumento de sensação de bem-estar e
alegria, melhorando a experiência durante a internação. Em relação aos parâmetros clínicos,
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observou-se redução da frequência cardíaca, maior controle da pressão arterial, maior adesão
do paciente ao tratamento clínico e maior abertura de comunicação com a equipe multiprofis-
sional após as sessões. A Figura 1 mostra o primeiro paciente recebendo a visita de um animal
do projeto Cão Carinho na UTI. Durante a visita, observou-se controle da pressão arterial do
paciente, o que se manteve ao longo da internação e contribuiu para agilizar sua alta da uni-
dade. A Figura 2 mostra a interação de uma paciente que se apresentava deprimida desde sua
admissão na unidade e demonstrou melhora do humor e abertura a conversas com a equipe
multiprofissional após receber a visita de um cão que era muito parecido com o seu. A paciente
sorriu pela primeira vez durante toda a internação.
Figura 1: Um dos pacientes recebendo a visita do Dante, cão integrante da equipe do Cão Carinho
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Desde o início do projeto, não houve intercorrências durante a realização das atividades,
o que demonstra se tratar de um projeto seguro. A Figura 3 mostra a interação do paciente junto
com a equipe multiprofissional de saúde e o cão.
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Além dos benefícios relatados pelos pacientes, houve boa aceitação pelos profissionais da
equipe multiprofissional. Trata-se de um momento durante o dia de trabalho em que os profis-
sionais lidam com a surpresa da quebra da rotina de suas atividades laborais e experimentam
uma sensação de missão cumprida, e do cuidado com o paciente valer a pena. Houve também
relatos de tornar o ambiente de trabalho mais alegre e descontraído. A Figura 5 mostra os inte-
grantes da equipe atual de cães do projeto Cão Carinho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com baixo risco aos pacientes e à equipe multiprofissional e um baixo custo de realiza-
ção, as AAA têm ganhado espaço no ambiente hospitalar. Nascem a partir de uma preocupa-
ção de valorizar o tratamento não-farmacológico, principalmente dentro da UTI, e humanizar o
ambiente de tratamento dos pacientes.
Por meio das evidências da literatura científica internacional, os benefícios são diversos em
toda a dimensão biopsicossocial do ser humano. As experiências relatadas até o momento com
as atividades na UTI do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto refor-
çam os benefícios já observados em outros centros de AAA e validam que, dentro do ambiente
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da terapia intensiva potencialmente estressor aos pacientes, trata-se de uma estratégia muito
bem-vinda e com benefícios também à equipe multiprofissional.
REFERÊNCIAS
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