O CRUSP Processos de Socializacao e Cons
O CRUSP Processos de Socializacao e Cons
O CRUSP Processos de Socializacao e Cons
São Paulo
2003
Laranjo, Thais Helena Mourão
O CRUSP: processos de socialização e consumo de drogas /
Thais Helena Mourão Laranjo. – São Paulo: T.H.M.Laranjo; 2003.
140 p.
2
A vida não t em pena de ninguém
Ser á que somos r obôs pr ogr amados
para dizer amém?
(Paulinho Moska – Amém)
3
Agradecimentos
Aos amigos Willian Winkler e Celi Jover pela ajuda na “ret a f inal”.
4
Resumo
5
ABSTRACT
The aim of this paper is to analyse and acknowledge the speech of dwellers on
their socialization processes in the University of São Paulo´s halls of residence –
CRUSP, highlighting the risks of drug intake. Such dormitories were taken as a
space for juvenile socialization which enables the attendance of needy students
quite likely to be related to abuse drugs. Twenty undergraduates were
interviewed. Interviews beyond the socioeconomic characterization comprised
three aspects: students´ awareness about CRUSP´s history, experience in living
in CRUSP (drawbacks and advantages) and their view on drug use. In this
qualitative research, all collection and compilation of information obtained in the
interview was grounded on the “Collective Subject Speech” methodological
process. All results were presented in such format. It was noticeable that
students have little knowledge about the history of CRUSP, and that alternatives
for the problems experienced by these students have been found individually,
which in its turn recalls the neo-liberal capitalism ideology. Also, as regards drug
intake, as well as society in general, this study observes the two main existing
conceptions which have been building the drug prevention arena: war on drugs
and harm reduction.
6
Sumário
7
1 Introdução e justificativa: o objeto e o problema de estudo
8
Esses estudos se caracterizam pela preocupação em estabelecer quais
as drogas mais usadas, qual o padrão de uso, qual o perfil do usuário, quais as
atitudes destes sobre o consumo de drogas e quais os fatores que podem levar
ao uso ou experimentação caracterizando-se como levantamentos
epidemiológicos de natureza descritiva. Carlini e col (1994) também verificaram
essa tendência nos trabalhos científicos sobre o tema drogas em geral, pois a
partir da análise do Banco de dados do CEBRID (Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas) constataram que a maioria das pesquisas
registradas nesse centro consistia em levantamentos epidemiológicos,
especificamente sobre epidemiologia do uso.
Essas pesquisas têm se utilizado de questionário de auto-preenchimento,
anônimo, com perguntas fechadas de múltipla escolha. Os dados são
analisados estatisticamente e a partir daí são feitas associações entre algumas
variáveis. Em alguns trabalhos é realizada uma caracterização sócio-
demográfica dos participantes da pesquisa que inclui: idade, estado civil, ano e
tipo de curso, situação de moradia (com pais ou não), renda familiar (em alguns
casos) e escolaridade dos pais. Porém, variáveis sócio-econômicas que
indiquem a condição de classe social dos sujeitos pesquisados não são
incluídas na maioria dos estudos. Nos que levantam esses indicadores,
prevalece uma análise descritiva. Há explicitamente um recorte dos sujeitos de
pesquisa que os reduz à condição de usuários de drogas, sem remetê-los à sua
classe social ou às condições em que se instalam consumos prejudicais de
drogas.
Os levantamentos epidemiológicos estão interessados no diagnóstico
quantitativo do uso das diferentes substâncias e nos fatores que podem motivá -
lo. Embora, em alguns casos, se baseiem no conceito de que os problemas
associados ao uso de drogas se devem a três fatores - biológicos, psicológicos
e sociais - apresentam em suas conclusões apenas as motivações individuais,
ou seja, aspectos que são percebidos como de responsabilidade do indivíduo.
Os aspectos relativos à classe social e à cultura do sub-grupo estudado
(universitários, por exemplo), não são mencionados.
9
Os estudos realizados com os alunos da USP (Andrade e col 1995,
Andrade e col 1997, Barría 2000, Queiroz 2000) também se constituem em
levantamentos epidemiológicos do uso de drogas. Algumas associações sobre
uso de drogas por universitários têm levado a crer que o fato de morar longe da
família aumenta a chance do uso de drogas (Boskovitz e col 1995, Andrade e
col 1997, Queiroz 2000). No caso da USP, essa afirmação é particularmente
delicada, pois colabora para a manutenção do estigma de que morar no
CRUSP (Conjunto Residencial da USP) significa ser liberal com relação ao uso
de drogas ou mesmo usuário, o que remete ao ideário de ser problemático em
vários outros aspectos da vida1 (Velho 1999).
A associação feita nesses estudos entre as variáveis morar fora de casa
(no CRUSP) e o uso de drogas merece melhor compreensão. Esse
aprofundamento se relaciona também a uma compreensão mais ampla do
significado de morar no CRUSP, ou viver a sociabilidade juvenil sob tais
condições de moradia.
São os estudos qualitativos relativos ao tema drogas e universitários que,
embora apareçam em menor número (Magalhães e col 1989, Santos e col
2000), tratam de analisar de maneira mais aprofundada os elementos
envolvidos na problemática, dificilmente identificados pelos estudos
epidemiológicos. No estudo realizado por Magalhães e col (1989) sobre
freqüência do uso de maconha por universitários, pode-se notar que as
mudanças nos padrões de sociabilidade e de inserção social foram apontadas
pelos alunos como capazes de afetar a freqüência de uso, e que idéias pré-
concebidas a respeito do padrão de uso de maconha - droga polêmica e que
figura em primeiro lugar dentre as drogas ilícitas consumidas por jovens -
podem não se confirmar, necessitando de exploração científica. No estudo
conduzido por Santos e col (2000), com universitários da área de saúde, pode-
se constatar que para os alunos o meio universitário estimula o uso abusivo de
1
Embora não existam trabalhos sobre isso, a constatação feita é linguagem corrente na Universidade.
Durante meu trabalho no PRODUSP tenho presenciado essa fala com muita freqüência.
10
álcool, que este consumo é visto como moda e sinal de maturidade e que
atitudes contrárias ao uso levam o sujeito ao isolamento.
As críticas sobre a forma como vêm sendo conduzidos os estudos
científicos relativos ao tema drogas não devem obscurecer a importância da
realização de pesquisas epidemiológicas, pois a alternativa para que se possa
sair do patamar do senso comum, transmitido pelos meios de comunicação e
pelos projetos de prevenção, é a realização de pesquisas científicas (Carlini e
col 1994).
Não se trata, portanto, de enfatizar a importância de uma ou outra
abordagem metodológica, uma vez que objetiva-se níveis de apreensão da
realidade diferentes entre si. Deve -se estar atento, no caso das pesquisas
quantitativas, para não se restringir a realidade social ao observável, contável e
possível de apreensão empiricamente (Minayo 1999). Dessa forma, se o
pesquisador pretende alcançar um maior aprofundamento da realidade não
deve se restringir a um referencial quantitativo (Minayo 1999). Até mesmo
porque uma postura dialética impõe a qualificação de dados quantitativos para
serem compreendidos no contexto histórico em que foram coletados, referindo-
se o fenômeno observado à totalidade.
O conjunto problematizador deste estudo se refere às seguintes
indagações: como os jovens percebem os espaços e processos de socialização
da moradia estudantil? O fato de morar num conjunto residencial estudantil teria
relação com uma percepção socialmente diferenciada a respeito do consumo e
dos consumidores de drogas? E que sugestões os moradores têm sobre como
deveria ser a prevenção ao uso de drogas na moradia?
11
jornal, documentos internos da USP, livro e vídeo) que retratam essa história
sua localização não é tarefa fácil. Não menos difícil é encontrar a história do
CRUSP contada como parte integrante da história da USP. Um ex-aluno e ex-
morador do CRUSP que escreveu um livro sobre morar no CRUSP afirma no
prefácio que as histórias ali presentes se referem a sua própria experiência
como morador e a relatos orais, devido a sua dificuldade em localizar
documentos antigos (Cunha, s/d, p.2).
Assim como Cunha (s/d) verifica-se que a reconstrução da história do
CRUSP também é dificultada pela parcialidade e falta de transparência com
que são descritas as situações vividas por alunos moradores em sua relação
com a universidade e com o Estado. Foi através da leitura de artigos dos jornais
Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde que se pôde
perceber o quanto fatos descritos nos documentos de forma acética
apresentavam implicações políticas importantes.
Para a organização do histórico aqui apresentado foram consultados
documentos internos da COSEAS (s/d) – Coordenadoria de Assistência Social
da USP, que não estão disponíveis para o público e artigos de jornais sobre o
CRUSP e o livro O espaço da USP: presente e futuro (USP 1985).2
A análise do material revela uma história de descaso da Universidade em
relação ao CRUSP. Verifica-se que a proposta de oferecimento de uma moradia
para os estudantes como alternativa para democratizar o acesso foi
obscurecida, pois a Universidade negligenciou a administração da moradia
desde o início, posicionando-se apenas nos momentos de crise.
Para compreender a origem da idéia de se construir uma residência
estudantil dentro do campus da universidade se faz necessário recorrer ao
modelo de universidade presente no projeto da USP.
O projeto inicial da Universidade de São Paulo teve, portanto, como
modelo os projetos das universidades americanas, que propunha a moradia
para os alunos dentro do campus.
2
Pesquisa bibliográfica sobre a USP patrocinado pela Prefeitura da Cidade Universitária
“Armando de Salles Oliveira”, em 1985.
12
O projeto inicial do CRUSP foi premiado no 12o. Salão Paulista de Arte
Moderna e previa a construção de doze prédios com seis andares. A decisão de
que cada apartamento alojaria três estudantes foi do FUNDUSP (Fundo de
Obras da USP). Os motivos para tal decisão são desconhecidos.
Durante o governo de Ademar de Barros, em São Paulo, foram
construídos seis prédios do CRUSP que inicialmente abrigariam os atletas dos
jogos Pan Americanos de 1963 e posteriormente seriam destinados aos
estudantes.
Os prédios ficaram prontos, mas os jogos não se realizaram em São
Paulo devido a um surto de meningite. Os estudantes ocuparam os
apartamentos e nesse momento a USP ainda não tinha desenvolvido uma
política para as moradias estudantis.
Atualmente sabe-se que a política da Universidade para a moradia já
estava descrita naquela época em um documento intitulado ”Diretrizes e regras
adotadas em caráter experimental”. E que em 1964 o Conselho Universitário
aprovou um regimento para o CRUSP que só foi normatizado em 1966. Essa
normatização incluía o pagamento de taxas e as formas de organização e
incumbências dos representantes dos alunos. Não há informação disponível
sobre a implementação dessas regras.
Mas sabe-se que o que regulamentava a vida no CRUSP eram as
assembléias organizadas pela AURK (Associação Universitária Rafael Kaun),
entidade representativa dos moradores. Nesse período a vida política e cultural
no CRUSP era intensa e as atividades eram promovidas também pela AURK.
Em 1968 ficou pronto mais um bloco do CRUSP que passou a ser
ocupado pelo ISSU (Instituto de Saúde e Serviço Social da Universidade). Mas
devido a necessidade de vagas os estudantes acabaram por ocupá-lo. A
organização e seleção dos moradores nesse novo prédio acabou ficando a
cargo da AURK.
Neste momento o Brasil vivia sob a ditadura militar, a repressão se
intensificava, os líderes estudantis foram presos e o CRUSP era um dos únicos
lugares onde ainda os estudantes se reuniam e discutiam diferentes tendências
13
políticas, atividade proibida na época. Essa conjuntura culminou com a invasão
da polícia repressiva que espancou e expulsou os alunos, deixando os prédios
vazios. Esse foi mais um recurso utilizado pelas forças repressoras do Estado
para desmobilizar politicamente os estudantes.
O livro “O espaço da USP: presente e futuro” acima citado refere que
após a invasão e com o esvaziamento dos prédios esses acabaram por se
destinar a várias finalidades. Segundo os documentos da COSEAS dentre elas
estavam as salas de aula da Faculdade de Letras, posto do Banespa (Banco do
Estado de São Paulo), Museu de Arqueologia, alojamento para estrangeiros e
para estudantes de fora da grande São Paulo de passagem rápida pela cidade,
mas os critérios utilizados para a seleção desses alunos não eram claros. Para
servir a esses novos fins houve mudanças na estrutura inicial dos
apartamentos.
Será então a partir de 1979 sob o clima nacional de reabertura política
que os alunos retomarão o CRUSP como moradia, ocupando dois andares do
bloco A. dois anos seguintes os alunos continuaram ocupando o espaço da
moradia e a Universidade não se posicionou quanto a isso.
Em 1982, o então coordenador da COSEAS compareceu a uma
assembléia de moradores e reconheceu que o CRUSP retomou suas funções -
ser moradia para estudantes - e assumiu um compromisso verbal de que no
próximo ano iniciariam-se as reformas no CRUSP, que seria ativado um serviço
de manutenção dos prédios e teriam inicio as negociações com os moradores
para elaborar um estatuto para a moradia. No cenário político acenava-se para
as eleições estaduais.
Já em 1983, o coordenador da COSEAS anunciou que os blocos
destinados a Faculdade de Letras se transformariam em moradia novamente e
dentre as medidas propostas estava a cobrança de taxa de manutenção. Os
professores do departamento de Letras em entrevista à Folha de São Paulo
(Docentes 1983) denunciaram que embora tivesse sido anunciado que o
departamento deixaria o CRUSP, possibilitando a abertura de 300 novas vagas
na moradia, isso ainda não estava acertado. Os professores não tinham ainda
14
para onde ir e temiam que esse anúncio feito pelo coordenador da COSEAS
criasse um impasse entre eles e os alunos.
Segundo o jornal a Folha de São Paulo, (Moradores 1983) a maioria dos
alunos acreditava que esse anúncio feito pela COSEAS era uma estratégia de
divisão dos moradores em oficiais e não oficiais, criando uma rivalidade entre
eles. Além disso, repudiavam a idéia de cobrança de taxa e queriam participar
do processo seletivo para os novos moradores. Por outro lado, passados 20
anos da construção da moradia, a Divisão de Promoção Social divulgava a idéia
de que a grande novidade era que a universidade assumiria a questão da
moradia.
No mesmo período o jornal o Estado de São Paulo (CRUSP 1983)
publicava que embora tivessem se passado quatro anos desde que os blocos A
e F haviam sido tomados pelos alunos, a universidade não sabia informar quem
eram esses moradores, mas sabia que os prédios não apresentavam nem
segurança e nem infra-estrutura para que as pessoas pudessem habitá-los.
A COSEAS abriu inscrições para os novos moradores e os antigos
moradores fizeram a mesma coisa. Foi então realizada uma reunião para
discutir o impasse relacionado a criação das novas vagas com a participação de
moradores e da COSEAS na presença de jornalista da Folha de São Paulo.
Nessa reunião os alunos anunciaram que formariam uma comissão de
negociação e que forneceriam a lista de moradores. A assembléia geral do
CRUSP, realizada após essa reunião aceitou a negociação com a COSEAS e
estabeleceu que os 2o , 4o , 5o e 6o. andares do bloco B e os 2o, 3o, 4o , 5o e 6o
do bloco C seriam áreas de litígio e não poderiam ser ocupados por nenhuma
das partes até que o impasse se resolvesse, a COSEAS aceitou essas
resoluções.
O conflito entre a universidade e os alunos continuava se manifestando
de diversas formas. A próxima reunião entre moradores e COSEAS foi adiada,
pois o coordenador da COSEAS foi nomeado secretário das finanças do
município. A diretora da DPS (Divisão de Promoção Social) passou a responder
pela COSEAS, participando das negociações com os alunos. Manteve -se um
15
impasse nas negociações, os alunos solicitaram que antes de qualquer coisa
deveria ser estabelecida a gratuidade da moradia, mas a COSEAS pretendia
discutir uma política global. Diante dessa situação os alunos invadiram os
blocos B e C.
Em 1984 constituiu-se o comitê de defesa da moradia estudantil formado
por representantes de entidades estudantis, Associação dos Docentes da USP
(ADUSP), Associação dos Servidores da USP (ASUSP) e parlamentares.
Estabeleceu-se que a seleção dos moradores seria feita pela COSEAS, teria
caráter classificatório e seria baseada em critérios sócio-econômicos, o
Diretório Central dos Estudantes (DCE) seria responsável pela inscrição dos
interessados e os moradores seriam responsáveis pelo levantamento do
número de vagas. Neste mesmo ano a COSEAS finalmente solicitou à Escola
Politécnica uma reforma nos prédios do CRUSP.
O jornal o Estado de São Paulo (As obras 1984) publicou que com o
início das obras no CRUSP, a polícia pôde invadi-lo e fazer a retirada de
marginais que lá moravam. No entanto, chama a atenção que os tais marginais,
ainda segundo a reportagem, não ofereceram resistência à evacuação do
prédio “sem violência e sem a necessidade de se recorrer à tropa de choque,
está se conseguindo retirar esse pessoal” (O Estado de São Paulo, 1984, p.15).
Na mesma época a Folha de São Paulo (Degradação 1984) publicou artigo
enfatizando que “a degradação urbana e social chegou ao campus da mais
importante instituição de ensino superior do país”.
Assim vai se construindo a imagem do CRUSP como um lugar perigoso
e habitado por bandidos, marginais e delinqüentes. Nenhum dos artigos de
jornal ou documentos consultados apresentou os aspectos positivos da moradia
estudantil. O único aspecto valorizado foi o fato do projeto inicial da estrutura do
CRUSP ter sido premiado e isso na década de 60.
O ápice dos problemas no CRUSP evidenciou-se com a morte de dois
alunos, em novembro de 1984, durante uma festa na moradia. Houve uma
briga, os alunos caíram do quarto andar do bloco A e segundo artigo do Jornal
da Tarde (Briga 1984) o que teria provocado a morte dos estudantes seria a
16
fragilidade das placas e janelas do CRUSP. No entanto, a ênfase dada nos
artigos de outros jornais foi a necessidade de expulsão dos marginais, pessoas
estranhas à Universidade (Duas mortes 1984). Esse fato gerou uma série de
mudanças na moradia.
A partir daí a COSEAS assumiu o gerenciamento do CRUSP e publicou
no Diário Oficial de 23/11/84 o regimento definindo normas para ocupação e
permanência na moradia. Esse regimento previa sua reformulação com a
participação da Associação dos Moradores. Essa associação foi criada em
dezembro do mesmo ano, chamada então de AMORCRUSP (Associação de
Moradores do CRUSP) (Moradores 1984).
As negociações não avançaram, pois a COSEAS queria retirar os
moradores para realizar as reformas e esses queriam garantias de que
poderiam voltar ao CRUSP. A COSEAS e a Reitoria desmarcaram reunião e os
alunos interpretaram isso como falta de disponibilidade para negociar. Mais
uma vez essas instâncias não chegaram a um acordo. Mesmo assim as
reformas aconteceram e em 1985, foram concluídas aquelas tidas como
essenciais pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e pela Escola
Politécnica.
Em 1987 a COSEAS publicou novo regimento com o conceito de bolsa
moradia, onde os critérios mais importantes para a seleção passaram a ser o
sócio-econômico e o desempenho acadêmico. No final desse ano foi eleita nova
chapa da AMORCRUSP, que passou a discutir com a COSEAS os critérios
acadêmicos a serem incluídos no novo regimento. Através de uma consulta aos
moradores estabeleceram, em acordo com a COSEAS, que para a renovação
da bolsa-moradia o mínimo de créditos exigidos seria o necessário para que o
aluno completasse o seu curso em 1,5 vezes o tempo mínimo de duração,
definiu-se também que para resolver os casos de alunos que não cumprissem
essa regra e entrassem com recurso seria consultada uma comissão tripartite
formada pela COSEAS, DCE e AMORCRUSP.
Em 1989, a COSEAS e a AMORCRUSP se reuniram para discutir as
condições de permanência no CRUSP dos não-moradores – os hóspedes. O
17
acordo estabelecido foi que os alunos da USP poderiam ser hospedados nos
apartamentos desde que houvesse consentimento dos três moradores até a
seleção para novos moradores e isso se daria por um número indefinido de
vezes. Com isso ficou acordada a possibilidade da existência do quarto
morador.
Em 1994 mais um fato trágico levou o CRUSP às notícias de jornais, um
aluno que caiu no poço do elevador e se feriu gravemente. Posteriormente a
esse fato a Reitoria deu início às negociações com estudantes para definição
de um novo regimento e ao plano de reforma dos prédios.
18
2 Considerações teóricas:
19
As repercussões da crise econômica dos anos 70 e a adoção dos
padrões de acumulação neoliberais na América Latina, principalmente nos
países mais periféricos, que vivem pesadamente do setor primário da economia
são inúmeras. Os preços das matérias primas caíram durante a crise. Sem
conseguir acesso à economia os agricultores gradualmente trocaram a cultura
de algodão e outros produtos agrícolas pela narcocultura, principalmente nos
países andinos (Kaplan 1997). A narcocultura é de um lado, conhecida, pelos
hábitos culturais locais. De outro lado, foi se consolidando pela conveniência do
dinheiro “magicamente” conveniente à especulação, uma vez que pode ser
lavado e transformado em bens limpos com a facilidade que os bancos
necessitam para girar para o capital (Coggiola 2001).
Conforme Queiroz, Salum (1997), o Brasil foi o último país latino-
americano a adotar o ideário do neoliberalismo, submetendo-se ao processo de
globalização. O neoliberalismo funda-se na desigualdade, que estimulando a
“saudável” competição de mercado desresponsabiliza o Estado em prover
direitos de cidadania. O desemprego cresceu assustadoramente nas últimas
décadas com a desregulamentação das atividades econômicas e sociais pelo
Estado e a insegurança penetrou no cotidiano das pessoas, famílias e grupos
sociais pela reversão de alguns padrões de proteção social adquiridos ao longo
do processo civilizatório.
Essa análise estrutural tem poder para explicar porque a partir
principalmente da década de 70 e 80 há uma disseminação do consumo de
drogas em todo o mundo e particularmente no Brasil, uma vez que a droga
passa a uma condição clara de mercadoria cujo consumo pode “atender” a
diferentes finalidades, que vão desde o aplacamento de angústias provenientes
da vida insegura em que os mecanismos de confiança estão balançados à
reprodução de valores que contemporaneamente fornecem as bases para a
vida em sociedade - competição, individualismo e hedonismo (Soares 1997).
Para entender como, em contextos específicos, pode haver um consumo
de drogas prejudicial, no entanto, é preciso mergulhar nas condições
20
particulares ou nos contextos específicos em que esse consumo se realiza,
compreendendo quem fala, de que lugar fala e o que diz (Soares 1997).
21
vividas por pais e filhos nessa etapa da vida, essas formulações não se
confirmam ao se realizar uma leitura histórica sobre esse fenômeno. Pois será
somente a partir do século XX que a adolescência começará a despontar no
cenário social, os adultos passarão a se preocupar em saber o que eles
pensam e surgirão algumas pesquisas sobre essa faixa etária (Áries 1981).
Abramo (1994) ressalta que com a industrialização aparece a necessidade
de preparar o jovem para o trabalho, ou seja, aparecem novas exigências
impostas pela nova condição de trabalho e pelo desenvolvimento tecnológico. A
escolarização deixa de ser exclusividade das camadas sociais mais abastadas.
Com isso, o tempo necessário para a entrada no mundo adulto se alarga, os
jovens têm uma maior convivência, unem-se enquanto grupo, passam a
descobrir características comuns e assim se firmam perante a sociedade.
22
Embora, atualmente, a adolescência ou a juventude sejam caracterizadas
como um período de transição da infância para a vida adulta e de mudança de
pertença de grupo as conseqüências e a intensidade dos fenômenos que
acontecem nesse período variam de acordo com a cultura e a classe social
(Lapassade 1975).
Segundo Soares (1997) embora fatores econômicos, culturais e
psicológicos possam convergir para determinar o comportamento dos
adolescentes, a condição de classe de suas famílias é preponderante. O que
leva a supor, de acordo com Novaes (2000), que não existe a juventude e sim
várias juventudes que convivem num mesmo espaço social e temporal. Dessa
forma, o termo juventude torna - se vazio de significado (Novaes 2000).
25
No Brasil, nos últimos anos, verifica-se também um aumento das
instituições particulares de ensino superior com apoio governamental sendo que
a mesma regra não é seguida no que se refere às universidades públicas
(Salum 2001).
3
O fracasso do sistema repressivo, relativo às drogas, tem sido discutido por vários autores entre eles:
Barata (1994), Karan (1997) e Sá (1993). Estes autores, ligados a área do direito, demonstram a
necessidade de ampliação da discussão sobre os efeitos negativos da criminalização das condutas
relativas ao uso de algumas drogas psicotrópicas.
26
discussão concluiu-se que a prevenção deveria ter centro na educação. Esta
conclusão foi um marco no que se refere às perspectivas de trabalho na área
(Bucher 1989).
No entanto, num primeiro momento, a educação preventiva foi
transformada em ação através da realização de campanhas veiculadas na
imprensa e pela inserção do tema no currículo escolar, com o único objetivo de
promover a abstinência. As informações disseminadas eram alarmistas e
procuravam gerar medo sobre as conseqüências maléficas do uso de qualquer
substância. Este tipo de abordagem logo caiu em descrédito, pois a
disseminação do medo extinguiu a possibilidade de diálogo entre a escola e os
alunos, a primeira passando a ser vista como repressiva e ameaçadora (Bucher
1989, Carlini-Cotrin 1992).
Avaliações fundamentadas em metodologias consagradas
cientificamente, realizadas em vários países, constataram que a educação
preventiva que dissemina informações alarmistas gera curiosidade e desejo de
experimentar alguma droga. A constatação do fracasso desse modelo reforça a
necessidade de desenvolver novas concepções para se abordar o tema sendo
estas divergentes e contraditórias (Bucher 1992).
A concepção de prevenção que se apresenta em franca oposição à
repressiva também é chamada de educação preventiva, no entanto, parte de
pressupostos completamente diferentes, tendo como preocupação principal o
investimento na auto-realização, na auto -estima e no desenvolvimento do senso
de responsabilidade em relação à própria vida. Na formação ao invés de
exclusivamente na informação.
27
Para Bucher (1992) e Carlini-Cotrim (1992) não existe prevenção neutra,
qualquer modelo adotado está permeado por uma forma de compreender o ser
humano, sua vida em sociedade, as contradições presentes nas relações
humanas e numa significação valorativa atribuída ao uso de drogas. Para ele,
embora existam diversos modelos de prevenção, estes podem ser agrupados
em duas concepções fundamentais: uma atrelada ao modelo repressivo, mais
ou menos evidente e outra ao modelo educativo.
Na concepção repressiva dominante as drogas são percebidas como o
mal que precisa ser eliminado para que a sociedade viva em paz, os usuários
são vistos como frágeis seres que precisam ser “educados” para se adequarem
às normas sociais (Velho 1999). O tráfico e os problemas advindos do uso e da
dependência são percebidos como os maiores problemas atuais. Não se
percebe como afirma Barata, (1994) que a produção não está determinada
pelas necessidades nem do produtor nem do consumidor e sim pela lógica do
mercado cujo principal objetivo é a obtenção de lucro.
Na concepção educativa, o uso de drogas é compreendido como um
fenômeno da sociedade, uma resposta ao “mal estar” causado pelo modos
vivendi atual. Este não é o único e nem o maior problema, pois a subnutrição a
corrupção, a falta de emprego e de perspectiva de futuro aos jovens são tão
importantes quanto aqueles relacionados às drogas. O que se pode concluir é
que o uso de drogas e o tráfico são um problema sócio-político de grandes
dimensões, tanto nacional como internacionalmente, mas que culpabilizar estas
substâncias por todos os flagelos da sociedade atual colabora para que outras
discussões mais amplas não se dêem. A compreensão do significado atual do
uso de drogas só é possível a partir da discussão do contexto social, político e
econômico (Birmam 2000, Bucher 1992, Soares 1997).
Viver numa sociedade onde não existem mais utopias políticas e o ideal
de felicidade em que os homens viveriam em condições de igualdade,
independentemente de suas crenças religiosas, cor de pele e origem social
deixou de ser um ideal comum, substituído pela lógica do esforço individual e
acúmulo de dinheiro e bens, proporcionou para muitos, a busca de amparo na
28
religião e, para os incrédulos, em substâncias que proporcionam estados
nirvânicos. É neste contexto histórico que se constrói o império das drogas
(Birman 2000).
Mas, os problemas relacionados ao uso de drogas não ocorrem com
todas as pessoas, nem mesmo com todos os jovens que as experimentam. Isto
se deve ao fato de que existem especificidades individuais, psicológicas e
talvez biológicas que transformam o uso de substâncias que alteram a
consciência, as emoções e as sensações, em única alternativa de alívio ao
sofrimento e de prazer (Birmam 2000).
Essa constatação da realidade tem concordância com a concepção
teórica de que estes problemas ocorrem devido a complexa relação entre três
fatores: o indivíduo, a droga e a sociedade. Estão implicados então: um
indivíduo dotado de personalidade, crenças e valores, inserido de uma dada
forma na sociedade, o produto droga, suas características e efeitos no
organismo e o contexto sócio-cultural que cerca o momento em que se dá o
encontro do indivíduo e da droga (Soares 1997, Bucher 1989).
Portanto, para que se possa fazer um programa de prevenção se faz
necessário levar em conta todos os aspectos envolvidos, explicitando a que tipo
de concepção o programa estará atrelado. Autores como Sá (1993), Carlini
(1990) e Soares (1997) postulam que não existem programas preventivos
universais e que não se deve adaptar programas provenientes de realidades
distintas.
Recomenda-se conhecer a realidade da população com a qual se
pretende trabalhar sob vários aspectos, entre eles a forma de inserção social, a
cultura específica, os valores e as drogas mais usadas (Carlini e col 1990).
Além disso, é importante que desde o início se esclareça qual o objetivo do
trabalho, para que este possa ser avaliado e para que os participantes possam
escolher se querem ou não participar.
Um dos problemas evidentes no modelo dominante de prevenção,
segundo Soares (1997), é que este mascara as diferenças de inserção social,
29
apresenta o dependente como único responsável por sua condição e não
discute os determinantes sociais presentes na configuração desta problemática.
Para que se possa realizar um programa de prevenção comprometido
com o respeito pelas pessoas individualmente e ao grupo a que pertencem
deve-se ter, assim como assinala Soares (1997), como objetivo geral a
vinculação destas duas dimensões: a individual relacionada à formação do
cidadão crítico e a outra relacionada à organização social que deve
proporcionar os meios para que esta existência se efetive.
Um outro aspecto que nos auxilia a compreender as dificuldades
relativas a mudanças de atitudes sobre como abordar o tema drogas no cenário
atual brasileiro, se refere a como são tratadas oficialmente essas questões pela
atual Política Nacional Antidrogas (PNAD), lançada em 11 de dezembro de
2001, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Essa política apresenta os pressupostos teóricos, os objetivos gerais e
as diretrizes para prevenção, tratamento, recuperação e inserção social,
redução de danos sociais e de saúde, tráfico, estudos, pesquisas e avaliação
sobre drogas em território nacional.
O texto da PNAD em sua introdução descreve o problema do uso
indevido de drogas como “(...) uma ameaça à humanidade e à estabilidade das
estruturas e valores políticos, econômicos, sociais e culturais de todos os
Estados e sociedades”. Além disso, apresenta como pressuposto a construção
de uma sociedade livre do uso de drogas ilícitas e do abuso das lícitas.
Em seu aspecto geral, o texto apresenta a idéia de que o governo e a
sociedade devem travar uma luta contra as drogas, como se as substâncias
fossem um mal em si, e apresenta os problemas relacionados ao uso como
descolados da realidade social, econômica e política atual do país.
Há uma preocupação evidente com a redução da demanda, termo que
aparece em itens que versam sobre a prevenção e sobre a repressão. Pode-se
verificar neste documento alguns antagonismos, pois ao mesmo tempo em que
trata quase que exclusivamente sobre as drogas ilícitas, usa como referência os
dados do Centro Brasileiro de Estudos sobre Drogas (CEBRID) que assinalam
30
que as drogas mais usadas por estudantes são as lícitas (álcool, tabaco,
solventes e anfetaminas).
Esta política é um bom exemplo de como se reproduz a ideologia
dominante. Esta entendida como:
32
ameaça ao “status quo”, logo em problema político”
(Velho 1999 p 60).
33
3 Objetivo e finalidade
3.1 Objetivo
34
3.2 Finalidade
35
4 Procedimentos metodológicos
36
pressuposto de que o pensamento individual se expressa em formato de
discurso, e que por sua vez, esse discurso é compartilhado por um grupo.
Portanto, para se conhecer o que um dado grupo social pensa sobre
determinado tema faz-se necessário acessar os discursos individuais,
agrupando-os por semelhança ou complementaridade.
O início das entrevistas se deu após a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa da Escola de Enfermagem da USP (anexo 1) e da autorização da
COSEAS – Coordenadoria de Assistência Social (anexo 2) que gerencia o
CRUSP.
Não foi possível discutir o projeto com a representação dos alunos
moradores do CRUSP (AMORCRUSP), embora tivesse sido procurada por
diversas vezes.
37
Esclarecido (anexo 3). A maioria das entrevistas foi realizada no CRUSP, mas
houve casos em que ocorreu na faculdade, em uma sala específica na Escola
Politécnica liberada para esse fim e até mesmo em banco de jardim na USP.
O roteiro de perguntas foi elaborado de forma a se obter a caracterização
sócio-demográfica do aluno, seu conhecimento da história do CRUSP, seu
sentimento sobre a moradia, sua participação em atividades de lazer, sua
opinião sobre: quem usa drogas, o uso de drogas no CRUSP, a idéia presente
na USP de que o CRUSP é um ambiente livre e que propicia o uso de drogas e
quais as suas sugestões sobre o que pode ser feito – prevenção (anexo 4).
O enunciado de algumas perguntas (no 3 e 6) sofreu alterações durante o
processo de realização das entrevistas, o que condiz com uma idéia presente
na pesquisa qualitativa de que o roteiro freqüentemente será atualizado a partir
do diálogo estabelecido entre pesquisador e os pesquisados (Schraiber, 1995).
Por entender-se, em primeiro lugar, que a pesquisa qualitativa constitui
um processo de aperfeiçoamento que depende, entre outras coisas, da relação
entre entrevistador e sujeito da pesquisa, e, em segundo lugar, que o objeto
deste trabalho está centrado nas particularidades do CRUSP, não foram
realizadas entrevistas piloto, tomando-se as mudanças que por ventura se
fizessem necessárias ao roteiro, como parte do processo de aprimoramento do
estudo (Demartine, 2001).
De maneira geral, o número de pessoas a serem entrevistadas na
pesquisa qualitativa (amostra) só é definido a partir: da obtenção de dados que
de fato correspondem ao objeto empírico e do processo de reincidência das
informações que devem, por outro lado, permitir um certo grau de diversificação
presente num grupo determinado (Minayo, 1994). No caso particular do
discurso do sujeito coletivo, a técnica vem estipulando, a partir da experiência
acumulada, o número de 20, quando então a probabilidade de mudanças no
discurso é muito pequena (Lefèvre, 2000).
Assim, foram realizadas 20 entrevistas, pedindo-se sempre aos
entrevistados que indicassem pelo menos dois colegas de outros cursos,
moradores do CRUSP. Essa técnica, conhecida como snowball, tem sido
38
indicada, por possibilitar melhor recepção e disponibilidade do entrevistado em
relação a pesquisa pois permite que o pesquisador e entrevistado sejam de
alguma forma apresentados (Becker 1994, Nappo 1999).
As duas primeiras entrevistadas foram alunas da Escola de Enfermagem
com quem se mantinha algum contato. As entrevistas posteriores com os
alunos indicados foram marcadas por contato telefônico. Houve muitas
dificuldades na marcação de horários, uma vez que, na maioria das vezes, os
estudantes trabalham e estudam, ocasionando remarcações. Esse processo se
repetiu até a entrevista no. 12 e durou aproximadamente dois meses. Por causa
disso mudou-se a estratégia de contato com os alunos. A pesquisadora foi até o
CRUSP em dois finais de semana (um sábado e um domingo), realizando as
entrevistas a partir da consulta a estudantes que estavam no corredor, nos
apartamentos, indagando, e solicitando a um entrevistado que indicasse um
colega que estivesse no CRUSP naquele dia. Assim foram realizadas as 8
entrevistas que faltavam.
Durante todo esse processo houve uma preocupação em entrevistar
alunos que moram nos diferentes blocos da graduação (foram entrevistados 4
alunos por bloco), sendo metade de cada sexo, em cursos diferentes (40% dos
entrevistados estão fazendo algum curso na FFLCH (Faculdade de Filosofia
Letrtas e Ciências Humanas da USP) pois segundo o perfil dos moradores do
CRUSP elaborado pela COSEAS essa é a proporção dessa unidade no total de
moradores). Esses procedimentos se deram devido a importância de se obter
um grupo heterogêneo de entrevistados. Pois, embora o número de pessoas
entrevistadas se apresenta como uma questão fundamental para a pesquisa
qualitativa, para a construção dos Discursos do Sujeito Coletivo (DSC), que
pretende abarcar o universo de idéias, crenças, valores presentes sobre
determinado assunto, numa dada comunidade o mais importante é que a
amostra seja diversificada.
As entrevistas foram transcritas literalmente (encontram-se na íntegra no
CD rom na contra capa desse trabalho) para que após análise do material, se
obtenha os Discursos do Sujeito Coletivo. O interesse por estes discursos se
39
dá, pois parte-se do pressuposto que “o pensamento coletivo pode ser visto
como um conjunto de discursos sobre um dado tema” (Lefévre 2002 p. 11).
4
Os dados apresentados referem -se a reavaliação de 590 alunos, em documento interno da COSEAS. -
Coordenadoria de Assistência Social - Perfil sócio-econômico dos moradores do CRUSP- Graduação. São
Paulo; 1999.
40
dos alunos para cada categoria apresentada.
Idade
17-21 22-24 25-28 29-35 Acima de 35 Total
26% 37% 27% 8% 2% 100%
Fonte de renda*
bolsa de
estágio família Outras fontes salário Total
estudos
41
Quadro 2 - Distribuição dos alunos de graduação selecionados para morar
no CRUSP, segundo a caracterização do curso. Perfil sócio-econômico
dos moradores do CRUSP- Graduação. São Paulo; 1999
Curso
FFLCH ECA EP IF IME EE FEA FCF EEFE FAU subtotal
46% 8% 5% 5% 5% 4% 4% 3% 2% 2% 84%
Curso
FE FM IAG IB IQ IGc FSP FO IP FMVZ total
2% 2% 2% 2% 2% 2% 1% 1% 1% 1% 100%
Período
42
Quadro 3 - Distribuição dos alunos de graduação selecionados para morar
no CRUSP, segundo a caracterização sócio-demográfica de suas famílias.
Perfil sócio-econômico dos moradores do CRUSP - Graduação. São Paulo,
1999.
Grau de escolaridade
Pai Mãe
1o. grau incompleto 38% 37%
1o. grau completo 17% 17%
2o. grau incompleto 4% 5%
2o. grau completo 13% 17%
Superior incompleto 4% 3%
Superior 12% 12%
Analfabeto 3% 6%
Não consta 7% 2%
Falecido 2% 1%
Total 100% 100%
43
5 Procedimentos para análise dos dados
44
vantagens da pesquisa qualitativa que prevê que no decorrer da entrevista, os
sujeitos retomem e aprofundem os pontos que consideram mais relevantes.
Esses aspectos foram levados em conta, ou seja, embora a organização inicial
do material tenha sido feita, por pergunta do roteiro, num segundo momento, as
respostas que representavam idéias presentes em outras perguntas foram
reagrupadas de acordo com o sentido.
No presente trabalho optou-se por não separar das idéias-centrais a
terceira figura metodológica do DSC denominada ancoragem, uma vez que as
crenças e valores cristalizados que constituem a ancoragem no discurso dos
estudantes foram incorporados às expressões que designam os diferentes
sentidos.
O DSC, a quarta e última figura metodológica do método utilizado, é
formado por operações realizadas para que o discurso apresente um sentido,
com começo meio e fim. Essas são realizadas pelo pesquisador nas
expressões-chave para que tenham um significado conjunto. O DSC é
apresentado na primeira pessoa do singular, como se o coletivo estivesse
falando.
A etapa final constituiu-se na criação do discurso do sujeito coletivo
(DSC) para cada idéia central. Essas foram agrupadas por temas ou categorias
de análise provenientes do marco teórico do estudo.
45
6 Resultados e análise
46
Quadro 4 - Distribuição dos participantes da pesquisa, segundo a
caracterização sócio-demográfica. CRUSP, São Paulo, 2003.
Sexo Idade
Masculino Feminino 20 -- 25 25 -- 30 30 -- 35 35 -- 40
N % N % N % N % N % N %
10 50 10 50 14 70 3 15 2 10 1 5
Fonte de renda*
N % N % N % N % N %
5 25 4 20 6 30 3 15 6 30
7 35 7 35 2 10 3 15
*4 entrevistados referem duas fontes de renda. **A pergunta sobre a renda não foi feita a um dos
entrevistados.
47
próprio estudante - bolsa de estudos de várias naturezas ou estágio (14 alunos
– 70%) - e está na faixa de até dois salários mínimos (14 alunos – 70%).
Curso*
EE FFLCH FM FE FAU EP EEFE ECA
N % N % N % N % N % N % N % N %
2 10 9 45 2 10 1 5 1 5 3 15 1 5 1 5
Ano Período
N % N % N % N % N % N % N %
3 15 8 40 7 35 2 10 3 15 8 40 9 45
N % N % N % N % N %
2 10 8 40 6 30 2 10 2 10
48
Quadro 6 - Distribuição dos participantes da pesquisa, segundo a
caracterização sócio-demográfica de suas famílias. CRUSP, São Paulo,
2003.
49
pais não concluíram o ensino fundamental (7) e 40% das mães (8). Os filhos
visitam seus pais, em sua maioria, freqüentemente (9 alunos – 45%), mas vale
ressaltar a expressividade daqueles que os visitam ocasionalmente (7alunos –
35%).
50
depois que foi esvaziado no período militar, essas coisas assim,
o histórico. Quando eu cheguei aqui eu tentei fazer um trabalho
de campo sobre o CRUSP, a dificuldade das pessoas que vem
de fora se adaptarem, então eu procurei algumas coisas.
51
Na parte de arquitetura eu sei que foi acho que do
“Coron”, que queria fazer um jeito de morar diferente, com as
áreas coletivas, enfim essas coisas.
É foi no meio dos anos 80 e no começo dos anos 90
começou uma, uma reforma em cada bloco, começou no bloco
F e veio até esse aqui que é o último bloco que foi reformado.
Tanto que ele é um bloco novo, foi entregue em 2001
Eu vejo desde quando eu vim pra cá em 2000 algumas
coisas melhoraram. Quando eu cheguei mesmo esse corredor
hoje tem piso, era todo esburacado, era uma calçada. Isso ali
eles melhoraram, eles terminaram a reforma do bloco.
Esperamos que melhore mais ainda, pelo menos o prédio
tá tendo melhorias, tentando melhorar, isso quanto aos prédios.
53
No passado não havia controle sobre quem
morava no CRUSP, a COSEAS foi criada para
regulamentar isso
54
tranqüilidade do ambiente, admitindo inclusive que pode ser bom ficar aos
domingos no CRUSP; e mesmo o alojamento pode ser positivo se o estudante
está interessado em ter alguma cultura geral.
56
em possibilidade de ascensão como tornar-se professor da USP por exemplo);
para outros há ênfase na possibilidade de aprender a conviver com a
diversidade e aprender com pessoas de outras áreas e até mesmo o cuidado
dispensado pelos funcionários do CRUSP (faxineiras e porteiros) aos alunos da
moradia é observado por alguns estudantes.
Bom, pra mim eu acho que pra estudar, pra quem tem o
propósito de estudar, como é o meu caso, eu acho um espaço
extremamente agradável, porque você tem a sua privacidade,
você tem o seu quarto, uma escrivaninha a cama o guarda -
roupa tudo que você precisa pra estar aqui estudando mesmo.
Você pode estudar tranqüilamente é silencioso é bem arejado,
claro, acho bem legal, pelo menos no bloco onde eu estou dá
pra estudar sem ser incomodado com o som alto.
Pra mim que só moro e fico aqui de dia de semana pra
estudar eu acho que são quatro anos a gente passa numa boa.
Então se você vem de muito fora de uma outra realidade que
não é a universidade é bastante positivo porque você observa e
aprende, agora se isso aqui for seu objeto de consumo, se você
de fato quiser virar professor aí é lamentável.
E sei lá, eu acho que existe uma atenção muito boa por
parte dos porteiros, eles anotam os recados, os telefones,
alguns sabem até o seu nome, se metem na sua vida, sua mãe
ligou duas vezes e você não estava. Isso eu acho até legal
porque, a gente ta aqui sozinho. Tipo, ninguém vê a hora que
você chega ora que você sai, acontece alguma coisa com você
ninguém dá falta. Então eu acho legal essa preocupação. Eu
gosto dos porteiros aqui do meu bloco, acho eles muito
atenciosos, a moça que limpa o corredor também.
59
campus terá menos oportunidade de aproveitar o que a universidade oferece),
desorganização no planejamento e divulgação das atividades e mesmo a
própria desorganização.
60
como o coral que começou a ensaiar no ano passado eu acho,
eu me sentia sobrecarregado e não tinha aquele pique pra
participar.
Existe também um outro programa que chama vídeo
CRUSP onde são oferecidas sessões de filmes atuais até todos
os fins de semana, isso eu nunca participei ou por falta de
interesse ou por não estar no campus no fim de semana, não
estar no CRUSP no fim de semana
61
Não consegue se organizar para fazer uma
atividade física
63
passar a viver num mundo à parte o que pode gerar uma desconexão com a
realidade. Há também a possibilidade do aluno se envolver em outras
atividades e deixar o curso em segundo plano . O isolamento do campus e a
falta de infra-estrutura geram também problemas relacionados à alimentação e
ao acesso a outros bens de consumo nos finais de semana.
Claramente, os alunos apontam que os padrões de sociabilidade dos
jovens são alterados em função do isolamento a que ficam submetidos nos
finais de semana, uma vez que, como foi visto, poucos conseguem ir para casa,
sendo a solidão então apontada como conseqüência desse isolamento. Nesse
contexto sintomas depressivos podem aparecer, agravados pela falta de apoio
para trocar idéias seja com familiares, seja com amigos.
65
Um dos problemas do CRUSP é que alguns
alunos deixam a faculdade em segundo plano
66
Os próprios alunos apontam alternativas para enfrentar o problema da
solidão e do isolamento no CRUSP: transformação do apartamento em um
espaço de convivência e organização de atividades de lazer diversificadas que
possam se constituir numa oportunidade de socialização. Além disso, referem
ser de suma importância sair do campus nos finais de semana e compreender a
transitoriedade da condição de morador, não depositando na moradia o peso de
uma situação estável quando se faz projetos de vida.
67
É preciso sair do CRUSP no final de semana
68
segurança do apartamento à convivência com os vizinhos, estabelecendo
muitas vezes contatos superficiais e rápidos diferentes, por exemplo, das
amizades do interior.
69
Os moradores não têm respeito para com o
espaço coletivo
70
O CRUSP parece alegre, mas é um ambiente
perturbador
A sujeira incomoda
73
Quanto mais antigos os blocos mais
problemáticos
74
Antes faltava água às vezes mas a muito tempo não
acontece já parece que realmente eles deram uma melhorada
nisso, mas a gente percebe ainda que tem um descuido com
essas coisas e desse lance da fiscalização.
É um apartamento ou outro por andar às vezes um ou
outro por bloco assim que tem algumas pessoas que o
COSEAS também não toma providência, que usam drogas,
depredam o lugar e não respeitam o silêncio esse tipo de coisa.
77
social que se tem da moradia. Para agravar, a mídia tem tido um papel
importante na divulgação apenas de fatos negativos que acontecem no CRUSP
e mesmo na criação de fatos.
Assim o CRUSP é visto como um espaço bagunçado e perigoso, “um
espaço cumprido, cheio de beliches, como num campo nazista”. Trata-se de um
julgamento moral socialmente disseminado que imputa ao projeto de vida de
alguns estudantes, que questionam o modo de vida dominante, uma função de
“desvio”, inclusive valendo-se da idéia de que os moradores apoiam atividades
“desviantes” como é considerado o uso de drogas por exemplo. Assim, os
estudantes moradores são rotulados como miseráveis e vagabundos, há um
“preconceito de classe”.
78
geral encare isso de uma forma mais objetiva então eles acham
que a gente apoia o uso de drogas e usa também quando não
tem nada a ver assim.
Eu acho que [existe] uma idéia errada até hoje sobre o
CRUSP muito errada e que tem muita gente que mora aqui e
que não sabe lidar com isso também, que não se sente bem em
falar que mora aqui. [Além disso], já saiu várias vezes na
televisão pesquisas mostrando que na USP a incidência de
usuário de drogas é muito grande. Então morar numa
república, onde tem estudante [eu] acho que [gera essa idéia].
[Mas por outro lado] apesar de haver contestações, de
dizerem não o CRUSP é um lugar super tranqüilo, onde as
coisas correm normalmente, não é verdade isso, não é
realmente. Existem blocos conturbados, existem apartamentos
muito conturbados, então o que eu acho que ocorre é uma
generalização. Por existirem grupos que se tornam conhecidos
por utilizarem ou por pessoas ouvirem histórias das pessoas
que usam e que são do CRUSP ou que moram no CRUSP e
que é uma bagunça então se tem uma idéia de que todo o
CRUSP, todos os moradores são pessoas usuárias de droga,
vivem em baderna, vivem na esbornia. [Isso] é também uma
atitude super extremista eu acho que no fim das contas acaba
sendo dividido, realmente existem esses usuários, mas o
CRUSP não é só um lugar onde se usa droga, existem pessoas
que ralam demais, trabalham o dia inteiro, se esforçam pra
manter o curso ali em dia, ajudam suas famílias, quer dizer
pessoas sérias também, não dá pra você falar assim: o CRUSP
só tem vagabundo isso não é uma idéia correta.
81
O CRUSP é um local onde há alto índice de uso
Há pouco uso
82
Há rumores sobre o uso de drogas pesadas no
CRUSP
84
[o que] acontece é que as repúblicas estão juntas, então fica
mais fácil, mais evidente de você observar isso.
Alguns alunos referem que não gostam nem do CRUSP nem de quem
mora lá, um outro denuncia que a vida na universidade é complicada e que as
oportunidades são menores para os alunos pobres, que constituem o universo
87
dos moradores do CRUSP e há ainda aqueles que não se sentem seguros no
CRUSP e na região em torno.
88
Auxílio às mães dado pela COSEAS pode
estimular a gravidez
89
No que se refere às teorias explicativas que enfocam o indivíduo tem-se
a proposição de que as pessoas usam drogas porque são frágeis para enfrentar
um cotidiano de problemas, numa espécie de fuga e também uma explicação a
partir de um conjunto desqualificador dos usuários de drogas, vistos como
criaturas menos humanas.
Bom, eu não faço uso porque acho que isso pra mim
muitas vezes é uma fuga, tem pessoas que usam pra relaxar e
tudo, mas eu acho que isso a gente usa porque está com
problema, quer esquecer, está com a vida difícil, ah então vou
usar pra dar uma relaxada, esquecer um pouco das coisas, pra
mim muitas vezes isso é usado com uma fuga.
Na minha opinião a pessoa está passando por uma fase
difícil da vida porque ninguém usa drogas assim, porque está
totalmente estável emocionalmente. Eu acho que tem alguma
coisa que está errada pra pessoa começar a fazer isso, pra
querer uma reação tão violenta, assim no corpo e na mente, eu
acho que desequilibra totalmente.
Eu já escutei cada papo, assim, tem gente que fala, os
estudantes mesmo falam que a gente vive sobre intensa pressão
então eles recorrem a isso [uso de drogas] e como tem muita
gente que usa, muita gente vê, essas pessoas que vêem se
sentem meio assim também vão procurar.
Além disso, o fato de ter entrado na USP não é a solução
de todos os problemas, esses continuam, não alivia em nada na
verdade, surgem novos em virtude de você ter entrado na USP.
Isso eu acho também que de certa forma pode trazer um
desânimo e pra canalizar esse desânimo, continuar tocando a
vida, essa pessoa procura se refugiar num baseado.
90
são retardados mesmo, que vai lá porque é legal e acha que é o
topo da parada, mas tem gente que vai por pura inocência.
Acho que depende muito, mas quem não tem muita
personalidade lá [no CRUSP] acaba fugindo pro lado das
drogas mesmo. Se todo mundo que morasse lá fosse contra as
drogas, não fizesse o uso, e um que aparecesse lá a gente
chutasse essa pessoa, eu acho que não ia ter essa coisa
Eu não quero ser assim, mas eu tenho um desprezo
muito grande por usuário de drogas. Eu tenho desprezo porque
eu não respeito as pessoas que usam drogas, até amigos meus,
muitos eu parei de falar quando eu descobri que fumavam. É
difícil conversar com a pessoa que usa droga, eu prefiro
conversar com uma parede, porque a parede não fica retardada.
Eu tenho uma opinião bem negativa sobre pessoas entende a
linguagem da porrada, eu não sei se eles estão dispostos a
conversar, eles não gostam de conversar, eles não gostam de
dialogar.
[Bom, tem também] esse problema dessas pessoas que já
usam o quê que acontece pra quem trafica vai preso [porque] é
crime, [para] quem usa você pode oferecer ajuda, [mas] a
pessoa tem que aceitar se ela não aceita tem um impasse qual é
a solução desse impasse? eu acredito na força, eu acho que não
há outra solução possível infelizmente.
No entanto, eu já tentei ajudar várias pessoas, mas foi
tudo em vão, todas as pessoas que eu tentei ajudar querem me
comprovar que isso não tem efeito nenhum na vida delas. Por
exemplo, tem uma menina da minha sala que é usuária de
maconha, cocaína e sei lá mais o quê. Eu já tentei convencer
ela de várias maneiras, mas ela tenta me convencer totalmente
ao contrário, então eu não consigo nem formular uma idéia
sobre essas pessoas, eu acho que essas pessoas são tão
imaturas ainda pra saberem as coisas direito, não quererem ver.
[Tem gente que fala] ah, a pessoa está passando por
dificuldades e por isso procurou droga eu acho essa explicação
totalmente banal. Eu passei por tantas dificuldades e nunca
procurei. Porque que as pessoas vão [usar]? Porque querem
mesmo, porque gostam.
91
acredito que a pessoa é madura o suficiente para saber o quê é
bom e ruim, é realmente uma opção muito pessoal. Eles sabem
muito bem o que está acontecendo o que eles podem fazer, o
que eles não medem são as conseqüências, então acho que não
é questão de conscientização, porque eu acho que isso eles
tem, acho que é um pouco de falta de vergonha na cara, todo
mundo ter medo de ficar usando.
Se você está a fim de levar o seu curso com seriedade
você vai levar, mas tem épocas que você descamba. Eu estou
falando isso não é que eu sou assim ah! meu maior CDF essa
daí, não cara, você apronta, tem época que você apronta pra
caramba , mas tem época que você tem que dá uma segurada.
[Eu acho que] as pessoas são livres pra decidirem que
tipo de drogas usam, eu tomo sorvete. As pessoas usam o que
elas precisam, o que elas se satisfazem, o quê satisfaz a elas.
[Pra mim], a pessoa só precisa de ajuda realmente se ela
buscar. [O uso de drogas] não me causa nenhum espanto,
nenhum assombro, não me dá vontade de ajudar a pessoa esse
tipo de coisa. Mas não acho que esse é o mesmo caso de um
adolescente por exemplo, ou de um senhor alcoólatra, de um
pai de família que se mete com bebida e tal.
92
Os alunos ainda contam que ver alguém usando cocaína é uma
experiência marcante e que o uso pode estar relacionado a faixa etária e a uma
fase de curiosidade.
93
As pessoas precisam ter mais consciência sobre
suas vidas
94
O álcool não é uma droga
95
policiamento lá dentro [do CRUSP], só tirando o pessoal,
fazendo uma inspeção rígida mesmo.
Um policiamento ostensivo no combate a tráfico de
drogas tem que ter aqui dentro. Não contra o uso, o uso eu
acho que aí é um problema mais sério, mas tem que ter um
combate oficial de coerção violenta da polícia militar que é
violência querendo ou não de uma forma ou de outra.
Então eu acho que no começo uma ação forte, de
policiamento, [se] eu não posso fumar maconha na rua, não
pode aqui dentro também. Então, eu acho que devia ter uma
coerção maior de alguma entidade [como] da guarda
universitária, não quer que entre a polícia aqui não entra, mas
tem que cercear essas pessoas, como é ilegal o uso e o tráfico,
acho que tem [que ter] uma resposta legal. O encarceramento,
é uma resposta legal pra esse tipo de prática. Não sei se eles
aceitariam uma ajuda de cunho humanista, eu acho que não.
Eu conheci muita gente que é da pesada mesmo , eles não
querem ajuda. Bom é isso. É só em uma ação que eu acredito
96
É preciso identificar quem precisa de ajuda
98
assim sabe? Tanto é que no alojamento a gente fazia rateio pra
comprar bebida, comida e aí os caras ficavam juntando
dinheiro e 30% ia pra droga e os 70 outros ia pra [outras
coisas] E na verdade era uma reunião, e todos iam lá pras
pedras e tocavam violão e tomavam vinho e fumavam
maconha a noite toda e tal, nós que não usávamos íamos lá e
ficávamos lá porque na verdade era aquele o tipo [de] vínculo
que o pessoal estava necessitando
Fumar maconha é meio que uma socialização e tem até
uma história que eles não faziam churrasco se não tivesse
maconha, não tem festa sem a ervinha. É até interessante
porque chega um ponto que se você não tiver uma
personalidade um pouco forte você perde um pouco da
sociabilidade. Parece que a sociabilidade passa
necessariamente pelo uso de drogas, o que é uma coisa
interessante, não tem nem errado nem certo é no mínimo
interessante como a sociabilidade se dá, tem que passar
necessariamente pela droga.
[No que se refere] a universidade em si ela é muito,
muito vazia em questões de relacionamentos questões de
relacionamentos intersubjetivos, aqui no CRUSP [é assim]. A
pessoa que usa drogas tende a aprofundar isso aqui, mesmo
porque você é obrigado a estudar e se desligar às vezes parece
que você fica me io esquecido aqui. Eu acho muito
compartimentados os apartamentos é como se fosse uma cela
pra cada um, uma cela individual aí quem já vem pra cá com o
vício das drogas tem isso como incentivo pra continuar usando
ou usar mais, agora quem não usa, não sei se tende a usar por
causa disso.
Discurso cientificista
101
O uso faz mal a saúde
[Eu acho que as pessoas] deveriam parar de usar porque faz mal
a saúde
102
linguagem mais próxima, murais, acho que ajuda, mas
freqüente, tudo isso coligado não isolados, pode fazer isso todo
o mês, usar o mural, o teatro, usar o CINUSP. Filmes com o
tema, teatro, palestras sobre o tema, pode usar até o próprio
Anfiteatro Camargo Guarnieri e discutir o tema, panfletos.
É verdade, então eu acho que [os moradores]
participariam, isso a longo prazo, eu acho que pra já, num
primeiro momento não,[mas] com continuidade, com ações
regulares[sim]. Eu acho que dessa forma ajudaria bastante a
tratar da questão drogas no CRUSP, [não] só no CRUSP, mas
nas escolas [também]. Eu acho que ajudaria bastante essas
atividades diversificadas, com várias linguagens. Eu acho que
isso ajudaria muito a atingir o usuário de drogas, sinceridade
eu acho que pensando em alternativas eu acho que contribuiria
bastante. Não fazer sempre da mesma forma sempre com a
palestra
Daí a necessidade de criar ações com linguajares, com
leituras diferentes, com abordagens diferenciadas pra atingir o
usuário de drogas, eu acho que dessa forma envolveria sim
104
Você fazendo uma palestra abordando o tema drogas
sempre da mesma forma a pedagogia oculta que é passada é
essa você está errado, toma cuidado, você vai se ferrar. Em vez
de aproximar mais o usuário pra participação dele. Quando
você não vê uma acessibilidade, uma pessoa que você pode
consultar, conversar a respeito, acho que fica difícil você ter a
aproximação, o envolvimento do usuário. Se não for feito dessa
forma eu acho que fica difícil ter resultados.
Assim,
105
Coerentemente ao conjunto de explicações mais amplas que os
estudantes elaboraram e às estratégias por ele propostas para a prevenção,
são elaborados também discursos sobre a necessidade de superar o
preconceito relacionado ao usuário bem como uma atitude mais tolerante que
envolve a não punição dos usuários.
106
suas famílias seja a própria pessoa é aí que o trabalho deve ser
começado para que o uso se reduza, para que o narcotráfico se
enfraqueça, que na verdade se tornou um negócio altamente
lucrativo hoje em dia. Infelizmente [é] trágico demais e mais eu
acredito que exista uma saída sim, eu acho que nem tudo é a
morte, nem tudo é o caixão. É assim que eu vejo essa questão.
107
mais além, porque na verdade você não ta falando com pessoas
que [tem] o mínimo de instrução.
Atividades [podem ser] culturais e principalmente com
calouros. Tipo de tentar criar um ambiente, um estilo de
sociabilidade que não necessite, que não precise
necessariamente passar pela droga. [Para que] você não
necessite fazer [ou] elaborar uma rede social que passe pela
droga.
108
Desenvolver programas que promovam a
integração entre os moradores e diminuam a solidão
109
Procurar conscientizá-lo do uso, claro com o objetivo de levá-
lo a ponto de não querer usar mais, eu até cheguei a comentar,
me deixou mais a vontade em manter contato com usuários de
drogas. Porque assim não tem a preocupação de discriminá-lo,
mas sim é mais fácil, quando você passa a procurar entender o
porquê dele estar usando, dele ter esse vício, se de fato é vício,
nem todos os casos são, fica mais fácil o relacionamento a
aproximação. Você não vê o outro como inimigo, nem ele te
vê como inimigo. A aproximação fica mais fácil, acho que
possibilita muitas coisas, maiores trocas. A partir desse
estágio, [que] me ajudou bastante nesse sentido, passou a ser
indiferente uma pessoa que usa com uma que não usa, tanto
também como uma pessoa que fuma cigarro como uma que
fuma maconha, pra mim essa diferença passou a ser
insignificante, uma pessoa que usa, uma pessoa que não usa e
pronto. Pra mim não tem nenhuma diferença não, hoje não me
incomoda mais.
110
Conhecem o programa de prevenção
desenvolvido pela COSEAS
111
Essas campanhas não têm sido eficientes na medida em
que o consumo continua o mesmo, quer dizer você continua
tendo as mesmas pessoas utilizando e além do mais grande
parte dos moradores do CRUSP mantém uma atitude de
descrédito em relação a COSEAS, então isso prejudica muito o
trabalho deles de combate nesse sentido.
Por mais que não queira, você acaba indo com um certo
preconceito dependendo de quem vai dar a palestra. [O
palestrante tem] um olhar diferente, um olhar de quem nunca
viu, mesmo que nunca tenha fumado de que nunca viu, de que
nunca conviveu com uma pessoa que use drogas e que é
normal como a gente. Todo mundo taxa e acha que é louco,
não é assim uma grande parte não é assim. Todo mundo pega
só a exceção eu acho que esse é um grande problema em
relação as drogas.
Muita gente vai pras drogas em relação a tudo que eu
falei pra você no CRUSP, que acontece todo mundo pega o
que é notícia, assim o que é [manchete] e é isso em todo o
lugar.
113
Não condena o usuário, mas condena o traficante
Do lado mais tolerante então há uma parte considerável dos alunos que
reconhece o consumo de drogas no CRUSP, sem que isso lhes cause
problemas. Os problemas com o consumo são relativizados na admissão de
que há diferentes tipos de usuários e que nem todos têm problemas com o uso
de drogas, necessitando de tratamento, por exemplo, e que a porcentagem de
quem precisa de algum tipo de ajuda devido a problemas decorrentes do
consumo de drogas é pequena.
114
ninguém.Não sei assim, dizem que existe até traficante, mas eu
não conheço se tiver é discreto não incomoda a vizinhança.
No meu andar tem gente que usa e usa bastante, quase
todos os dias assim, mas não incomoda ninguém em nada
Vamos dizer assim conheço pessoas que dizem que usam
drogas, mas eu nunca vi, eu nunca experimentei nada, eu não
posso dizer.
Muita gente fala porque às vezes vê alguém usando
alguma coisa, mas as pessoas que usam que eu conheço são
pessoas excelentes. São pessoas ótimas que nunca
atrapalharam a vida de ninguém. [Eu] acho que muitas pessoas
falam porque tem, [mas] tem em todos os lugares. Só que ali o
pessoal não faz questão de esconder tanto. Usam e não
escondem e muita gente não entende isso e acha que é só ali e
não é só ali, está em todo o lugar. O uso de drogas está em
todo o lugar.
Eu nunca vi caso de gente drogada no corredor, de briga,
pancadaria alguma coisa assim, eu nunca vi. Você vê o pessoal
fumando na escada de incêndio, acho que quanto aos
apartamentos cada um tem a sua regra, tipo, alguns
apartamentos não permitem que fume dentro tem que ir fora,
eu não acho que é diferente, por exemplo, de [outras
universidades]. Entre os estudantes de humanas de [outras
universidades], ou estudantes assim, eu não vejo muita
diferença até mesmo na minha cidade. Tem festa o pessoal
bebe, chega tem vezes que você a vê gente bêbada, mas não
acho que seria pernicioso.
Eu vejo que tem pessoas que já vem pra cá e já tem
histórico de uso de drogas e que sabem digamos, administrar
bem isso, isso não prejudica. Eu percebo a grande maioria das
pessoas que fazem uso de droga, a grande maioria já são
adultos e usam droga, maconha principalmente, como quem
fuma cigarro, como quem toma uma cervejinha de vez em
quando. A pessoa sabe que ela não é drogada, ela não é uma
viciada que está precisando de auxílio, a pessoa vai lá de vez
em quando e dá um peguinha numa boa, não incomoda
ninguém e nem sei também o que isso traz pra vida dela
porque não parece afetar a vida social,nem estudantil, nem
nada.
115
conseguiu. Gente que vem de onde eu venho acaba não
fazendo nada é uma questão de escolha que tem a ver com o
seu tipo de vida. Eu não vou falar pra você que eu acho
horrível quem usa droga, o pessoal usa droga e curte, usa droga
e leva a vida e vai continuar levando, eu não julgo [acho que
isso] tem muito a ver com eles, de onde eles vêm. [Tudo isso]
pode ser complicado ou não dependendo também do apoio que
você tem.
Eu tenho vários amigos que usam, como eu falei, que
administram isso muito bem em compensação tem outras
pessoas que não, mas eu acho que é muito complicado. Eu
nunca usei e não tenho como apontar mais afirmativamente ah
esse usou porque é maloqueiro, esse usou porque é vagabundo,
esse usou porque, às vezes você tem uma pessoa que leva uma
vida dita correta, tranqüila, vem a aprovar se torna usuário,
então é uma questão complicada.
[Eu percebo que] depende do quanto a pessoa consome a
droga no sentido do quanto ela se deixa consumir e o quanto
ela consome, tem gente que se deixa consumir e tem gente que
consome. Ë só essa noção de ser consumido pela droga ou
consumir a sua revelia de uma maneira um pouco mais real.
116
Morar no crusp não mudou sua visão sobre o
usuário de drogas
Por fim, há alguns alunos que parecem estar abertos para ampliar a
compreensão do jogo complexo que está envolvido no consumo de drogas,
mas têm dificuldade em formar uma opinião, assumindo uma certa dualidade no
eixo aceitação-condenação.
117
7 Discussão e considerações finais
118
fatos da história do CRUSP, notadamente sobre os acontecimentos
conturbados, se relacione ao conjunto de idéias acerca da moradia que até hoje
circulam socialmente.
A discussão sobre a história do CRUSP é fundamental para a
valorização da moradia pelos moradores, pela universidade e por outras
instâncias que compõem a formação social.
O resgate das lutas e impasses historicamente relacionados ao conjunto
residencial pode gerar o conhecimento necessário para que se aprenda com a
experiência dos antecessores.
No que se refere a experiência de morar no CRUSP os alunos
consideram que esse cumpre, apesar do problemas, a sua função principal que
é viabilizar o curso universitário para os alunos pobres e/ou que moram longe
da universidade (em um bairro muito afastado, em outra cidade, Estado ou
país). São apontados vários problemas que dificultam a estadia no CRUSP e a
passagem pela universidade sendo boa parte deles percebidos logo após o final
da euforia de ter entrado em uma das melhores universidades do país e
conquistado uma vaga no CRUSP.
Os alunos apresentam também as alternativas encontradas por eles
próprios como forma de enfrentar esses problemas, visto que não sentem
respaldo das instâncias administrativas da universidade. Verifica-se assim, que
a solução possível tem sido buscada principalmente no plano individual.
Essa situação vivida pelos moradores do CRUSP em sua relação com a
universidade não é singular e sim um reflexo do que acontece na sociedade de
forma mais ampla.
Assim como afirma Chauí (1999) a universidade é uma instituição
intrinsecamente relacionada com a sociedade e, portanto, sofre os efeitos do
modelo político vigente - neoliberal. Nesse modelo segundo a autora as
relações sociais passam a ser mediadas pelas leis do mercado, os direitos civis
passam a ser vistos como favor, “neste país a educação passa a ser
considerada um privilégio” (Chauí 1999 p37), como algo a ser comprado e o
Estado tende a se tornar cada vez menor em importância na resolução de
119
problemas relacionados à estrutura e dinâmica social. O Estado retira-se do
âmbito das mediações entre capital e trabalho e omite-se com relação às
políticas sociais públicas e aos problemas estruturais de maior igualdade na
distribuição das riquezas que são socialmente produzidas.
Nesse sentido, a universidade oferece o mínimo necessário para que os
alunos possam ter onde morar, não se apresentando para a solução de
problemas estruturais que dificultam o acesso à moradia e ao cotidiano dos
estudantes, ou o faz de forma muito lenta, como pode-se perceber em alguns
DSCs como os seguintes: “Há problemas na forma como são distribuídas as
vagas”, “A COSEAS demora em resolver problemas de diversas ordens”, “A
instituição se omite para resolver problemas na moradia principalmente os
relacionados com as drogas” e em outros de forma subliminar
O CRUSP possibilita a democratização da universidade facilitando a vida
daqueles que contornaram o esquema capitalista neoliberal e mesmo sendo
pobres conseguiram entrar em uma universidade pública de boa qualidade
destinada aos filhos da classe rica que puderam estudar em colégios
particulares, onde o ensino é de melhor qualidade na nossa sociedade. Aos
alunos pobres o curso “natural”, ou seja, previsto é a inserção direta no
mercado de trabalho ou então o preenchimento das vagas nas universidades
particulares de qualidade duvidosa (Chauí 1999).
Segundo Foracchi (1972) os jovens que ultrapassam a barreira de
classe e chegam à universidade são muito mais impactados pela vivência de
uma nova realidade do ponto de vista cultural do que pelos conteúdos
ministrados nas salas de aula. No entanto, esse aspecto é paradoxal pois pode
levar a um deslumbramento irreal dessa nova possibilidade. Já aqueles que
vêm de classes mais abastadas tiveram a oportunidade de ir gradualmente
construindo esse repertório cultural o que torna essa vivência parte de um
processo iniciado anteriormente, não se apresentando, portanto, como uma
ruptura aos padrões conhecidos.
Esse ponto de vista é compartilhado pelos alunos do CRUSP quando no
Discurso do Sujeito Coletivo intitulado “Morar no CRUSP ensina a conviver com
120
a diversidade” essa idéia se manifesta explicitamente “O CRUSP é uma espécie
de redemoinho cultural é muito bom para quem vem das classes mais baixas.
Tipo onde gente de tudo que é lugar, com diferentes experiências chega com a
vontade de querer trocar na verdade com a necessidade de ter um diálogo e tal
e isso foi muito bom pra mim porque até então, por exemplo, eu fui conhecer a
primeira pessoa que fazia [ciências] sociais aqui na faculdade. Então na
verdade você sente essa necessidade de trocar e tal aí quando você chega
você fala nossa! Que mundo, é bem legal! Acho que pra mim foi positivo não só
pelo lado econômico, mas pelo lado de experiência mesmo”.
Toda a vivência universitária é intensificada aos moradores do CRUSP
que como eles mesmos dizem vivem a universidade 24 horas por dia. Talvez
seja também na moradia que os problemas da crise da universidade se
agudizem ou mesmo produzam tantos sintomas como o uso de drogas e
depressão.
Vários autores Chauí (1999), Menezes (1996) e Foracchi (1972) apontam
a necessidade da universidade repensar seu papel e os rumos aparentemente
naturais que esta instituição vem tomando. Segundo Chauí (1999) faz-se
necessária uma reflexão política sobre as conseqüências da ideologia
neoliberal na universidade, que propõe uma diminuição dos espaços públicos e
alargamento dos privados com aniquilamento dos direitos.
Menezes (1996) afirma que (...) “Isso tudo tem contribuído para as
universidades não atenderem a sinalização no sentido de que, mais do que alta
especialização está fazendo falta ao profissional de nível superior uma
formação geral melhor, que amplie sua visão de mundo e sua capacidade de
aprender no trabalho, além do que já apontamos a ausência da vivência, de
contato com a realidade, de capacidade e iniciativa” (p 58).
Foracchi (1971) aponta que a universidade está imersa em uma
sociedade tecnológica, com grupos cujos interesses são opostos e que não
possuem um compromisso maior com a cultura estando sim centralizados na
comercialização de seus produtos. É nesse contexto que estão imersos os
moradores do CRUSP com seus anseios e angústias.
121
Deve-se, portanto, analisar as questões trazidas pelos Discursos do
Sujeito Coletivo dos moradores sobre dois ângulos um macro estrutural, que
procuramos fazer até aqui analisando o impacto do projeto neoliberal na vida
universitária ressaltando a importância de repensá-la e também analisar
questões do micro cosmo do CRUSP que serão apresentadas a partir de agora.
Ambas estão intrinsecamente relacionadas, ficando a separação apenas a
cargo de organizar a discussão.
Algumas questões que merecem destaque nesta discussão são
levantadas pelos alunos, sendo a primeira delas o lazer que parece ser para
muitos uma atividade esporádica devido a uma série de problemas, sendo
também pouco estudado e percebido como uma questão secundária mesmo
em trabalhos acadêmicos (Abramo 1994). Mas “o lazer para os jovens, aparece
como um espaço especialmente importante para o desenvolvimento de
relações de sociabilidade, das buscas e experiências através das quais
procuram estruturar suas novas referências e identidades individuais e
coletivas” (Abramo 1994 p 62).
Outro aspecto discutido é a dificuldade dos moradores na vivência
coletiva, com predominância do individualismo. Mais uma vez estamos diante
de uma questão da sociedade capitalista pós-moderna, pois essa é a principal
forma de relacionamento das pessoas e assim se repete o padrão na
universidade. Segundo Bock (2000) o individualismo acontece entre outros
fatores porque por princípio os colegas são concorrentes, podemos acrescentar
que com a crescente violência as pessoas desconhecidas ou com as quais
temos um contato superficial são vistos como potencialmente perigosas.
Os alunos também referem sofrer preconceito pelo fato de morar no
CRUSP e mostram-se por vezes preconceituosos em relação por exemplo aos
consumidores de drogas. O preconceito é uma construção de natureza
ideológica. As generalizações provenientes da mídia, que se encarrega de
expor os acontecimentos negativos e explosivos a respeito da moradia e dos
moradores, e aquelas provenientes da chamada lei do menor esforço que
122
caracteriza o cotidiano das pessoas são mecanismos indutores do preconceito
(Konder. 2002).
No caso dos consumidores de drogas, a formação social incumbiu-se de
utilizar a categoria drogado como uma categoria de acusação que em si encerra
um conjunto tota lizador de negatividades, em que os acusados são moralmente
nocivos e podem ameaçar o status quo (Velho, 1999 p.60).
A idéia de que o CRUSP não é o responsável pelo consumo de drogas
de alguns moradores está presente na fala de muitos alunos. Os alunos
apresentam motivações variadas para o início do uso, sendo que essas não se
referem necessariamente ao CRUSP. Nota-se nos discursos dos moradores
que eles procuram desfazer a relação simplista e preconceituosa que
culpabiliza o CRUSP pelo uso de drogas e que afirma que lá o uso é maior do
que, por exempl, o em outros locais dentro da universidade.
No que se refere a moradia de forma geral uma sugestão importante
apresentada para os alunos e que se apresenta como alternativa viável para
busca de soluções para os problemas vividos pelos moradores é a realização
de pesquisas científicas que proporcionem um conhecimento mais aprofundado
da realidade dos moradores do CRUSP. É preciso conhecer a realidade para
que se possa transformá-la.
Os moradores do CRUSP consituem um grupo heterôgenio sob vários
aspectos, pois são pessoas que vêm de cidades, Estados e países diferentes,
com tradições e culturas distintas e isso se reflete na visão desses moradores
sobre o uso e o usuário de drogas e nas sugestões para amenizar os possíveis
problemas relacionados ao consumo de drogas na moradia. Além disso, são
influenciados em graus diferentes e com críticas diferenciadas, pela ideologia
dominante sobre o tema - repressiva.
Dessa forma, há discursos conservadores e repressores com propostas
de coerção da liberdade e punição severa aos usuários de drogas,
culpabilização desses pelos problemas advindos do uso de drogas e
desvalorização dos usuários proferidos em parte por alunos que se sentem de
alguma forma ameaçados ou incomodados por esses usuários.
123
Segundo Zaluar (1994) as propostas repressivas e punitivas não tem
sido eficazes no que se propõe, eliminar as drogas, mas disseminam o
preconceito contra o usuário de drogas. Dentre as propostas repressivas a mais
expressiva é a chamada guerras as drogas e os Estados Unidos é o país que
lidera essa cruzada anti-drogas com uma política repressiva e violenta
indistintamente contra o usuário, dependente, traficante e o produtor da droga.
Mas essa estratégia não tem nem mesmo diminuído as taxas de criminalidade
(Zaluar 1994).
A pergunta que se faz é porque se mantém essa política? A resposta não
é simples, pois há uma complexa trama de interesses políticos e econômicos e
não é objetivo desse trabalho explorá-la. Pode se dizer de forma resumida que
essa política tem sido uma forma de dominação Americana em relação aos
países Latino Americanos principalmente e que a guerra contra as drogas
alimenta o mercado, por exemplo, de armas (Coggiola, 2001; Kaplan 1997).
Além disso, segundo Karan (2003) “a hostilidade e o medo despertado facilitam
a intensificação do controle social, a ampliação do poder do Estado de punir e o
simultâneo enfraquecimento do Estado Democrático de Direito” (p 64).
A culpabilização do indivíduo por sua dependência, a visão
exclusivamente relacionada a aspectos negativos do usuário presentes no
discurso dos alunos assim como na sociedade de forma geral encontram
reforço na mídia. Essa tem preferido destacar as desgraças vividas por pessoas
que têm problemas sérios advindos do uso de drogas, os conflitos entre as
organizações criminosas e a polícia e as apreensões de drogas do que as
alternativas encontradas para minimizar os problemas dos dependentes de
drogas e a discussão sobre os determinantes do consumo (Bastos 2003).
Carlini-Cotrin e col (1995) afirmam que a mídia tem um papel
fundamental na fabricação de um verdadeiro estado de pânico na população
brasileira uma vez que grande parte dessa população só tem acesso a
informações veiculadas nos meios de comunicação de massa.
Os estudos sobre as informações veiculadas na mídia escrita sobre
drogas realizados por Carlini-Cotrim e col (1995) e Noto e col (2003), concluem
124
que as drogas que mais aparecem nas reportagens não são aquelas mais
usadas pela população (álcool e tabaco) de acordo com os estudos
epidemiológicos.
O esperado seria que houvesse uma distribuição mais equilibrada e
compatível com os indicadores epidemiológicos. Esta desproporção reflete-se
na percepção da população, e distorce as crenças relativas ao consumo de
drogas no Brasil.
Essa distorção sobre os diferentes aspectos que envolvem o tema
drogas está presente também nos livros didáticos usados em escolas de
primeiro e segundo graus. Em pesquisa sobre a abordagem do tema drogas em
livros didáticos verifica-se que o conteúdo apresentado está permeado pela
pedagogia do amedrontamento e pelo conceito de dependência. Não se discute
os dados sobre incidência, não se analisam as causas e não há referência
sobre a prevenção (Carlini-Cotrim 1991). Esta situação também é encontrada
nos textos oficiais (Bucher, Oliveira 1994). Assim vai se estabelecendo uma
visão acrítica e distorcida do tema.No entanto, há um contraponto a essas
idéias até aqui apresentadas, são os discursos dos alunos que reconhecem a
importância da contextualização do uso de drogas, a relativização do
julgamento do usuário de drogas (como herói ou bandido) e que fazem
propostas de prevenção interativa, a partir do conhecimento da realidade do
usuário objetivando a superação do preconceito e a promoção de um debate
social mais amplo.
Velho (1994) ressalta a importância da contextualização do uso de
drogas e afirma que as generalizações têm apenas contribuído para a
estigmatização dos usuários. O autor refere que a Antropologia tem ajudado na
compreensão de que existem diferentes maneiras de usar drogas em função de
variáveis culturais e sociológicas. Portanto, não se deve homogeneizar o
comportamento dos usuários de drogas, o estilo de vida e a condição de classe
que são determinantes na particularidade que o consumo de determinada
substância pode ter em determinado grupo em determinado momento histórico.
125
Zaluar (1994) concorda com Velho (1994) e afirma que “não se pode
concluir que todos os usuários de drogas são iguais ou até professem o mesmo
credo cultural” (p 13). Para essa autora existem diferenças no grau de
envolvimento com a droga e com o grupo, o que se reflete no lugar que a droga
ocupa na vida das pessoas.
Alguns discursos apresentam temas importantes e que fogem dos
estereótipos sociais vigentes. Um exemplo é o discurso intitulado “As pessoas
não mudam seu comportamento porque usam drogas” tema polêmico e que
está em concordância com o que afirma Bastos (2003) “nenhuma substância
determina comportamentos, mas tão somente contribui para a explicitação de
comportamentos e atitudes que já são característicos da pessoa”(p 37).
Os alunos apresentam também a idéia de que o uso de drogas no
CRUSP está relacionado aos processos de socialização. Bastos (2003) afirma
que de forma geral o primeiro contato com a droga acontece em atividades
sociais, que em termos gerais podem ser situações de festas, churrasco,
encontro de amigos. Portanto, há particularidades do CRUSP nesse processo e
semelhanças com o que acontece na sociedade de forma geral.
As propostas de prevenção ao uso indevido de drogas apresentadas
pelos moradores se coadunam com os pressupostos da redução de danos.
Nessa proposta, diferentemente da guerra às drogas e tolerância zero, postula -
se que o uso de drogas sempre existiu e que trabalhar com o propósito de
conquistar um mundo sem drogas é irreal (Marlatt 1999).
Na proposta de redução de danos procura-se desviar a atenção do uso
de drogas para se discutir as conseqüências e os efeitos do comportamento do
adicto e embora reconheça a importância da abstinência aceita e trabalha com
alternativas que reduzam os riscos relacionados ao consumo de drogas (Marlatt
1999).
Nos programas de prevenção em redução de danos a educação é o
elemento primordial, valoriza -se a informação trazida pelos participantes, o
especialista não se coloca no lugar de único detentor do saber, o formato das
126
atividades é interativo, com estímulo à discussão e com a participação de todos
(Marlatt 1999).
Outra sugestão apresentada pelos alunos é a realização de um debate
social amplo. Bastos (1994) afirma que essa é uma alternativa viável. O debate
deve reunir diferentes setores da sociedade com posições contrastantes, que
devem ser respeitadas. Assim, pode-se formular políticas públicas sintonizadas
com os pontos de vista da maioria sem excluir as minorias.
Partindo do pressuposto que a universidade pública tem o dever de
promover esse debate e outras atividades que previnam os prejuízos que
possam advir do consumo de drogas junto aos universitários (Soares, Faria
2000), concordamos com as idéias sobre prevenção trazidas pelos alunos, que
sugerem que o tema uso de drogas no CRUSP seja amplamente discutido com
essa comunidade. O objetivo desse fórum de discussão pode ser o
estabelecimento de uma política sobre o uso de drogas no CRUSP, o
esclarecimento sobre o encaminhamento para o tratamento da dependência e a
formulação de um programa de prevenção ao uso indevido de drogas que se
proponha a desenvolver atividades de lazer e promova interação entre os
moradores. O processo não é simples, mas é viável, pode-se começar com os
calouros do CRUSP, sugestão dada pelos próprios alunos.
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134
Anexo 1
135
Anexo 2
136
Anexo 3
137
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENFERMAGEM
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
EM SAÚDE COLETIVA
Av. Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 419 - CEP 05403-000
Tel.: (011) 3066-7652 - FAX 3066-7662
_________________________________
Pesquisado
138
Anexo 4
139
ROTEIRO DAS ENTREVISTAS
Caracterização da inserção social
1. Há quanto tempo mora no CRUSP?
2. Onde mora sua família?
3. Com que regularidade você vai visitar os seus pais?
4. O que os seus pais fazem. Qual que é ocupação deles?
5. Até que série eles estudaram?
6. Qual a sua idade?
7. Você é casado?
8. Você tem filhos?
9E a sua fonte de renda, qual é?
10. Pra gente pegar em termos de salário mínimo quanto que é, um salário
mínimo, dois a grana que você vive?
11. Que curso você está fazendo?
12. Em que ano está?
13. Em que período estuda?