Unidade I Texto1

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LO 1

Neste tema se procura construir de maneira colaborativa, com base nas fontes
disponíveis, uma síntese explicativa da Didática Geral, enquanto teoria do ensino.
Uma abordagem dessa natureza impõe, inicialmente, que explicite, pelo menos, uma
organização formal do texto. Em primeiro Iugar, analisam-se diferentes definições de
Didática, elaboradas ao longo da evolução histórica dessa ciência e disciplina pedagógica,
desde J. A. Comênio,' até os dias atuais, para chegar a um conceito próprio. Em segundo
Iugar, identifica-se e caracteriza-se o objeto de estudo da Didática Geral. Em terceiro
Iugar, estabelece-se uma delimitação do objeto da Didática Geral a partir dos campos que
a integram (investigativo, profissional e disciplinar) e de suas tarefas mais importantes,
com foco no campo disciplinar.

1 Filósofo e protestante nascido na cidade de Nivnice, Morávia (então domínio de Habsburgos,


hoje República Tcheca). É considerado o pai da Didática Moderna, combateu o sistema medieval, defendeu
o ensino de “tudo para todos” e deixou como uma de suas maiores contribuições para a educação a
introdução dos meios tecnológicos mais avançados à disposição. Seu nome é o aportuguesamento da
assinatura latina (Comenius) de Jan Amos Komensky. Seguiu carreira religiosa e teve de fugir para a Polônia
quando, no início da Guerra dos 30 Anos, em 1618, o rei Ferdinando II decidiu reimpor o catolicismo
na Boêmia. Sua revolta com a situação o levou a escrever obras filosóficas e pedagógicas satirizando a
ordem vigente e propondo mudanças radicais. Essas ideias seduziram pensadores da Inglaterra, que o
convidaram a trabalhar no país, mas o projeto foi abortado pela eclosão da Guerra Civil Inglesa, em 1642.
Tentativas de reforma escolar a pedido dos governos da Suécia e da Hungria acabaram fracassando — em
parte por causa da insistência do pensador em divulgar sua «pansofia», sem sucesso — e ele voltou para
a Polônia. Seus livros de texto ilustrados para o aprendizado de línguas e ciências tinham se tornado uma
bem- sucedida novidade nas escolas da Europa (Ferrari, S/D).
A didática geral ou teoria do ensino

1-O conceito, o objeto e os campos da Didáüca Geral.

1.1-QuestÕes relaÜvas ao conceito e objeto de estudo da


DidáÜca Geral.

A Didática Geral, inclusive seu conceito e seu objeto de estudo, têm sido motivo de
sistematização teórica, epistemológica e metodológica desde os tempos de W. Ratke
(1571-1635) e J. A. Comênio (1592-1670), até hoje. Contudo, observa-se um crescimento
expressivo pela temática nas últimas quatro décadas, tanto em nível internacional (Reyes;
Pairol, 1988; Danilov e Skatkin, 1978; Klingberg, 1978; Oramas; Toruncha, 2002; Savin,
1976; Marhuenda, 2000), como nacional (Nérici, 1977, 1981; Marques, 1983; Carvalho,
1984; Martins, 1985; Libâneo, 2008a, 2008b; Candau, 1989; Haydt, 2006; etc.).

Esse movimento, além de exprimir as divergências, desavenças e contradições que


são comuns entre teóricos e pesquisadores de uma área específica do conhecimento,
também põe de manifesto a riqueza e complexidade de um campo cientifico que se
reinventa e se reformula permanentemente, em razão das exigências que colocadas por
fatores internos e externos.

A palavra didática ingressa no Iéxico português, segundo Castanho e Castanho

(2008), em meados do século XIX, mas desde 1613 já fazia parte do vocabulário
europeu (no qual se inclui Portugal). Junto com Syllabus, aula ou classe, catecismo e
currículo, constitui uma das cinco palavras que entraram para o vocabulário educacional
europeu no período de cem anos, ou seja, do início do século XVI ao início do século XVII.

Não obstante, foi em 1629 que a palavra Didática loi empregada por primeira vez,
com o sentido de ensinar, pelo educador alemão W. Ratke em seu livro Aphorisma
Didactici Precipiu (Principais Aforismos Didáticos). Ratchius, com cujo nome também
foi conhecido, elaborou um sistema de educação baseado na filosofia de Francis Bacon.
Além disso, foi o primeiro em utilizar novos métodos para o ensino da língua vernácula
e das línguas clássicas; defendeu uma reforma educativa e sugeriu um método universal
para ensinar “artes, ciências e língua de uma forma rápida e segura”. Em 1612, já tinha
apresentado um plano de reforma em que defendia, em primeiro Iugar, a criação de
escolas que permitiriam aos alunos, usando os novos métodos de ensino, aprender com
rapidez tanto as línguas modernas e como as mortas; em segundo, o estabelecimento
de uma escola popular de ensino de ciências e oficios manuais em língua materna; em
terceiro, a consolidação da unificação de Alemanha, pela junção da língua, o governo e

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a religião.

Mas, foi J. A. Comênio quem, quarenta e cinco anos depois de Ratke, consagrou o
termo de Didática em sua famosa obra Didática Magna (1657). Nesse livro, Comênio,
sobre a base das reflexões filosóficas, das tentativas e estudos realizados por seus
predecessores,e da análise teórica da experiência de trabalho das escolas daquele tempo,
elaborou pela primeira vez de maneira orgânica, sistemática e científica os fundamentos
ou princípios, os métodos e o conteúdo do ensino geral. Além disso, reconheceu a
enorme contribuição dada à educação não somente por Ratke, mas também por Lubin,
Helwig, Ritter, Bodin, Glaum, Vogel, Wolfstirn e João Valentim Andréa, que na sua época
criticaram os males da escola e propuseram remédios para eles (Comênio, 1657/2001).

De modo que, ainda quando destacados filósofos, cientistas do passado (Sócrates,


Demócrito, Heráclito, Platão e Aristóteles), educadores e pedagogos precursores,
expressaram desde muito tempo atrás suas ideias acerca do ensino, seu papel na
educação das crianças e os modos de melhora-o, foi Comênio (Figura 1) quem elaborou
pela primeira vez na história do pensamento pedagógico, a teoria do ensino enquanto
um sistema de conhecimentos cientificos, isto é, enquanto uma ciência pedagógica.

Figura 1: João Amos Comênio (1592-1670)

Fonte: http://janaina-pedagogia.blogspot.com.br/2009/03/por-uma-educacao-de-qualidade-e-sem.html

Comênio fez, com isso, importantes contribuições à educação. Entre os principais


apartem estão: efetuar uma adequada racionalização de todas as ações educativas, indo
da teoria didática até as questões do cotidiano da sala de aula; defender a ideia de que
a prática escolar deveria imitar os processos da natureza; considerar a relevância das
possibilidades e dos interesses das crianças na relação entre professor e alunos durante
o processo de ensino; visualizar o professor como um profissional da educação que
deveria ser bem remunerado; Ievar em consideração os limites do corpo e a necessidade,

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A didática geral ou teoria do ensino

tanto dos alunos quanto dos professores na organização do tempo e do currículo; insistir
no valor da diversidade de atividades de aprendizagem; combater o pedantismo literário
e o sadismo pedagógico;2 incluir os portadores de deficiência mental e as meninas no
modelo de escola que deveria ensinar “tudo a todos”; defender o acesso irrestrito à
escrita, à leitura e ao cálculo; conceber uma nova concepção de criança; defender o
princípio do ensino vinculado à brincadeira; por fim, defendeu o uso do método empírico
de exploração do mundo e da experimentação (figura 2).

Figura 2: Gravura do próprio Comênio para um de seus livros de texto: aprender brincando

Deve-se a Comênio, justamen te, uma das primeiras e melhores definições de Didática
que se conheça. Na quinta página de seu livro Didática Magna (1657/2001) afirmou:

Nós ousamos prometer uma Didática Magna, isto é, um método uni-


versal de ensinar tudo a todos. E de ensinar com tal certeza, que seja
impossível não conseguir bons resultados. E de ensinar rapidamente,
ou seja, sem nenhum enfado e sem nenhum aborrecimento para os
alunos e para os professores, mas antes com sumo prazer para uns e
para outros. E de ensinar solidamente, não superficialmente e ape-
nas com palavras, mas encaminhando os alunos para uma verdadeira
instrução, para os bons costumes e para a piedade sincera. Enfim,
demonstraremos todas estas coisas a priori, isto é, derivando-as da
própria natureza imutável das coisas, como de uma fonte viva que
produz eternos arroios que vão, de novo, reunir-se num único rio;
assim estabelecemos um método universal de fundar escolas univer-
sais (Comênio, 1657/2001, p.5).
2 O termo sadismo deriva do nome do escritor e filósofo francês Donatien Alphonse François de
Sade (Marquês de Sade), e denota a excitação e prazer provocados pelo sofrimento alheio. Em educação,
representa um modelo de escola que funcionava sob a forte influência da palmatória (objeto confeccionado
de madeira com uma parte arredondada usado para punir), da prática do castigo e onde não oferecia
elementos para que depois as pessoas se situassem de forma mais ampla na sociedade.

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A raiz do conceito original de Didática advém do termo grego Techné didaktiké, que
significa arte ou técnica de ensinar e, desde os tempos de J. A. Comênio, entende-se por
tal o sistema cientifico dos conhecimentos relacionados com “o que” e “o como ensinar”
aos escolares. Não foi de maneira gratuita que Comênio iniciou sua obra com a seguinte
frase: Didática significa arte de ensinar Dessa maneira, o termo Didática significou
inicialmente arte de ensinar e, como tal, dependeu muito da habilidade, da intuição
do professor e do dom natural para ensinar, muito mais do que de um repertório de
conhecimentos a serem aprendidos sobre o ensino.

Só muito recentemente passaram a ser empregados, junto com o termo de Didática


propriamente dito, os de Teoria do Ensino e Teoria da Instrução. É importante afirmar
também que foi possível consultar inúmeras definições de Didática enquanto era
elaborado esse livro de estudo para você. Contudo, ao considerar desnecessário neste
momento fazer uso de tanto enciclopedismo pedagógico, terminou-se selecionando
apenas quatro definições que ajudassem a esclarecer, em primeiro Iugar, o que é a
Didática enquanto ciência (seu conceito ou definição) e de que ela se ocupa ou vem
tentando dar conta hoje (seu objeto) (Figura 3).

“...parte da pedagogia que adquire naatualidade DANILOV, M. A.; SKATKIN, M. N. Didáctica


características de disciplina independente” e lhe de la escuela media. La Habana: Editorial
atribuem por objeto de estudo “os processos de Pueblo e Educación, 1978.
instrução e ensino, estreitamente vinculados com a
educação, que constituem sua parte orgânica” (p.
10).

O objeto da Didática é “a instrução e a KLINGBERG, L. Introducción a la didáctica


aprendizagem, como manifestações sociais general. La Habana: Editorial Pueblo y
universais...” (p. 48). Educación, 1978.

“uma disciplina que elabora os princípios mais REYES, G. L.; PAIROL, G. E. V. Pedagogia. La
gerais do ensino, aplicáveis a todas as disciplinas, Habana: Editorial Pueblo y Educación, 1988.
na sua relação com os processos educativos e cujo
objeto de estudo o constitui o processo de ensino e
aprendizagem” (p. 12).

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A didática geral ou teoria do ensino

“os processos de ensino e aprendizagem LIBANÊO, José Carlos. Didática. 28a


referentes ao ensino de conteúdos específicos, em reimpressão. São Paulo: Cortez Editora, 2008.
situações sociais concretas” (p. 234).

Tal como pode ser observado, em Libâneo (2008), tanto quanto em Klingberg (1978),
em Danilov e Skatkin (1978) e em Teyes e Pairol (1988), há uma preocupação em atribuir
à Didática a responsabilidade pela mediação docente dos processos de aprendizagem.
O próprio Libâneo tem insistido nas suas últimas falas que o objeto da Didática é a
mediação docente dos processos de mediação da aprendizagem. Com outras palavras, a
Didática compreende desde essas quatro posições marxistas, o conteúdo (a matéria), a
aprendizagem e o ensino.

Síntese: Ao final, posso afirmar que a Didática faz parte da Pedagogia e adquire
na atualidade características de disciplina cientifica independente, porque tem objeto
próprio (o ensino) e métodos e maneiras peculiares de abordá-lo. Ao mesmo tempo,
pode ser considerada como teoria geral do ensino, pelo fato de elaborar os princípios de
caráter geral que são válidos para todas as disciplinas. A Didática estuda o ensino com o
objetivo de elaborar seus fundamentos, condições e modos a fim de assegurar a realização
de processos que permitam aos alunos a interiorização (apropriação ou reprodução) dos
conhecimentos sistematizados, habilidades, hábitos, valores, capacidades, destrezas e
competências, bem como o desenvolvimento integral da personalidade e das funções
mentais superiores(memória, linguagem, atenção, concentração, raciocínio, pensamento
lógico, resolução de problemas e imaginação).

Os fundamentos fazem referência ao conjunto de saberes, conhecimentos, teorias,


tendências, paradigmas, ideias, pensamentos, juízos, discursos, argumentos etc. que
obedecem a certas exigências de racionalidade e que são utilizados para justificar,
explicar ou embasar as ações didáticas (a organização das condições e dos modos) que
realizo na posição de professor.

As condiçôes tratam das condições externas (sociedade, comunidade, família,


políticas educacionais, organização do trabalho pedagógico da escola etc.) e das internas
(organização do trabalho didático - o ambiente educativo: espaço, tempo e recursos-,
os programas de aprendizagem, o papel educativo do processo docente) indispensáveis
para a realização do trabalho docente em sala de aula.

Os modos discutem os objetivos, o sistema de conteúdos, os métodos, as atividades


e as estratégias de aprendizagem, a organização do ambiente educativo, a avaliação e as

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MÓDULO 1

referências, que se experimentam e empregam para desenvolver os processos.

O ensino faz referência ao modo peculiar de orientar a aprendizagem dos alunos e


criar cenários mais formativos entre docentes e estudantes.

Finalmente, a aprendizagem trata do processo de construção de diversos repertórios


de saberes, conhecimentos, capacidades, habilidades e procedimentos (processos de
pensamento), atitudes e sentimentos (subjetividades) e as competências para mobilizá-
los (esses repertórios) diante da necessidade de formular e resolver problemas concretos
do cotidiano (seja ele escolar, profissional ou social).

Ensino: Stenhouse define o ensino como “as estratégias que adota a escola para
cumprir com sua responsabilidade. Ensino não equivale meramente a instrução, mas
à promoção sistemática da aprendizagem mediante diversos meios. E a estratégia do
ensino constitui um importante aspecto do currículo” (apud MARHUENDA, 2000, p. 56).

Segundo Marhuenda (2000), o problema e a pretensão da Didática é lograr que o


ensino que é realizado em contextos escolares provoque nos alunos a aprendizagem
desejada — ainda sabendo que o ensino não causa a aprendizagem — e consegui-lo
de maneira moralmente aceitável. O próprio autor espanhol oferece, também, uma
aproximação genérica ao objeto da Didática:

A Didática se ocupa do estudo do ensino, dos processos de ensino e aprendizagem


e das relações entre ambos os processos (p. 20). Crio que se ocupa preferentemente
do ensino, mais que da aprendizagem. E crio que se ocupa do ensino, não só na sua
vertente institucional — o ensino nos sistemas educativos, mas também no seu aspecto
profissional (p. 22).

1.2-Questôes relaÜvas aos campos da DidáÜca


Para seu estudo a Didática pode ser delimitada seguindo critérios específicos, pelo
menos, em três níveis diferentes, considerando:

a) sua projeção espacial e temporal b) sua especificidade c) seus campos de


abrangência

Se levarmos em consideração a projeção espacial e temporal da Didática pode ser


classificada de duas maneiras diferentes:

I - A Didática em nível mundial; II - A Didática em nível brasileiro.

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A didática geral ou teoria do ensino

Se considerarmos a Didática segundo sua especificidade poderemos classificá-la


como: I - Didática Geral II - Didática dos Níveis:

1) Didática da Educação Infantil (Creche e Pré-escola); 2) Didática do Ensino


Fundamental (Anos iniciais); 3) Didática do Ensino Fundamental (Anos finais); 4) Didática
do Ensino Médio e;

5) Didática da Educação Superior. III- Didáticas Específicas, Aplicadas, Especiais ou


Metodologias do ensino

Não obstante, ainda que a nossa preocupação tenha a ver com todos esses tipos
específicos de Didática, apenas trabalharemos a Didática Geral.

Por fim, se abordamos a Didática com base em seus campos de abrangência podemos
estabelecer três campos específicos:

I-O campo teórico ou investigativo da Didática; II- O campo profissional da Didática; III
- O campo disciplinar da Didática.

1.2.1- O campo disciplinar da Didáüca


Para uma melhor compreensão, dividimos este campo em dois subcampos: I - a
pós-graduação - lato sensu (Especialização) e strito sensu (Mestrado e Doutorado); II - a
graduação (o curso de Pedagogia e os demais cursos de Licenciatura).

Na pós-graduação, especificamente, a maioria das discussões e as questões mais


acirradas giram em torno do tipo e da qualidade da formação que estão recebendo os
formadores de formadores.

Freitas (2008), em pesquisa na qual analisa os Projetos Políticos Pedagógicos de 73


cursos de especialização ofertados por instituições de educação superior do estado de
Minas Gerais, chega às seguintes considerações:

1- em apenas 26 cursos (36%) é oferecida a disciplina de Didática contrariando, com


isso, uma exigência do Conselho Federal de Educação que estabelece em Resolução
12/83 a obrigatoriedade de uma disciplina para a formação dessa natureza em cursos
que pretendem profissionalizar o professor para o exercício da docência no ensino
superior;

2- ainda assim em apenas 2 deles (8%) é comprida a exigência legal da própria


Resolução 12/83 do Conselho Federal de Educação que estabelece que a carga horária

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MÓDULO 1

dessa disciplina deva ser, no mínimo, de 60 horas/ aula;

3- a maior parte dos conteúdos sugeridos na ementa da disciplina Metodologia do


Ensino Superior é de caráter filosófico, epistemológico, psicológico e antropológico, no
Iugar de didático-metodológicos propriamente dito como indica o titulo da disciplina.

Curso de Especialização: A Citada Resolução 12/83 diz textualmente: que os cursos


de especialização devem ter “duração mínima de 360 horas, sendo que, pelo menos 60
(sessenta) horas de carga horária serão utilizadas com disciplina de formação didático-
pedagógica, devendo o restante ser dedicado ao conteúdo específico do curso, incluindo
a iniciação à pesquisa”.

No mestrado e no doutorado a situação do campo disciplinar da Didática não


é menos desalentadora. Uma pesquisa realizada por Veiga, Silva, Xavier e Fernandes
(2008) acaba de divulgar que os principais problemas da didática nesse nível estão nos
seguintes aspectos:

1- embora os planos de ensino analisados enfatizem o trabalho pedagógico, as


ementas propostas elegem, como eixo estruturador da docência universitária, apenas
algumas das dimensões do processo de ensino e aprendizagem (avaliação, conteúdos
ou metodologias), secundarizando os demais elementos e dificultando a construção do
saber didático;

2- a disciplina de Didática é trabalhada na pós-graduação de maneira muito similar


à Didática ministrada nas licenciaturas. Tal deslocamento compromete a formação do
docente, na medida em que as características e necessidades da educação superior
ficam relegadas ao segundo plano, uma vez que a disciplina não considera os alunos
adultos, e muitos já bacharéis, nem estabelece relação dos conteúdos tratados coma
formação deles. Enfim, a disciplina, que tem como seu objeto de estudo a docência na
educação superior, não se ocupa dela tanto quanto deveria;

3- segundo a observação realizada foi possível afirmar que os professores dominam


o conteúdo que ministram e, até chegam a ser criativos quando utilizam diferentes
situações de aprendizagem, mas, tudo isso é feito com base num conteúdo que não é
propriamente didático;

4- nos planos de ensino analisados enfatizam-se atividades e estratégias de


ensino que oportunizam a construção do conhecimento de forma colaborativa, por
exemplo, as leituras prévias, as discussões, as sistematizações individuais e coletivas,
os seminários e a elaboração de um artigo cientifico. Ainda assim, a ênfase é colocada

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A didática geral ou teoria do ensino

no desenvolvimento de habilidades intelectuais comuns à pesquisa cientifica, como é o


caso da elaboração de artigo cientifico (nos próprios moldes que estabelece a CAPES com
os critérios de avaliação e de produtividade que estabelece); enquanto se observa um
esquecimento das habilidades intelectuais e práticas próprias ao exercício da docência
que é o objeto da disciplina (oficinas voltadas a desenvolver conhecimentos e habilidades
de planejamento, execução e avaliação dos processos de ensino-aprendizagem em
contextos universitários). Enfim, a disciplina de didática na pós-graduação procura formar
um profissional competente para a pesquisa didática em detrimento da formação de um
profissional que seja também competente para o exercício da docência, como se isso
fosse possível.

Plano de Ensino: É o plano de disciplinas, de unidades e experiências propostas pela


escola, professores, alunos ou pela comunidade. Situa-se no nível bem mais específico e
concreto em relação aos outros planos, pois define e operacionaliza toda a ação escolar
existente no plano curricular da escola (BAFFI, 2002, p. 3-4).

Na graduação (tanto nos cursos de pedagogia, quanto nas licenciaturas de maneira


geral) os principais problemas no campo disciplinar situam-se em volta do Iugar e papel
que têm sido assinados à Didática dentro do Projeto Político Pedagógico dos cursos
que formam professores dentro da universidade, na sua identidade, nas características
específicas dos planos de ensino, nos conteúdos selecionados, na forma como esses
conteúdos são tratados do ponto de vista metodológico, nas condições existentes para
se realizar os processos de ensino e aprendizagem etc.

Os cursos de Pedagogia, especificamente, vêm sendo criticados sistematicamente


nos últimos anos por não cumprir seu papel com competência, eficiência e rigor.
Passamos a listar a continuação das dez principais insuficiências que temos identificado
por intermédio das pesquisas nos cursos de Pedagogia.

1)-A Didática, de maneira geral, faz parte de um Projeto Pedagógico no qual a


matriz curricular é disciplinar.

Com a entrada em vigor da LDBN 9.394/96 (1996) as instituições educacionais


brasileiras foram desafiadas a construir coletivamente um projeto norteador, tendo
como foco uma matriz globalizada ou em redes (transdisciplinar) ou, no mínimo,
integrativa (interdisciplinar). Não obstante, o modelo predominante ainda centra a
atenção acadêmica na grade curricular, que fragmenta, separa, compartimenta, confina
e despedaça o saber, o ser humano e a realidade em áreas isoladas chamadas de
disciplinas ou matéria.

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MÓDULO 1

Interdisciplinar: O termo surgiu na França e na Itália em meados da década de 1960.


No final da própria década chegou ao Brasil e desde então sua presença no cenário
educacional tem se intensificado, sobretudo, com sua influência na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (no. 9.394/96) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs). Trata-se de uma espécie de interação entre disciplinas ou áreas do saber.

Transdisciplinar: Constitui um nível de integração disciplinar que vai além da


interdisciplinaridade, porque representa uma espécie de coordenação de todas as
disciplinas e interdisciplinas do sistema de ensino sobre a base de uma máxima geral.

2)-A matriz curricular disciplinar, sem o devido trabalho interdisciplinar, prejudica


a qualidade do tratamento da Didática.

A Didática deveria ter nas metodologias específicas uma de suas fontes mais
importantes de pesquisa, ao Iado da teoria da educação, da teoria do conhecimento, da
psicologia, da sociologia, e outras ciências auxiliares da educação. Mas isso não acontece
pela falta de trabalho interdisciplinar. Juntando os elementos dessa relação, pela a via
do trabalho interdisciplinar, a Didática seria capaz generalizar as manifestações e leis de
aprendizagem para o ensino das diferentes disciplinas.

3)-Formação centrada em psicologia da aprendizagem, Didática e metodologias de


ensino e certo descaso das disciplinas que tratam dos chamados “fundamentos da
educação” (história, filosofia, psicologia, sociologia).

Muitas vezes a Didática tem assumido o espaço e o Iugar dessas disciplinas. E ao


fazê-lo erra e assume um caráter tecnicista, por tratar de fundamentos e de conteúdos
que não constituem parte do universo de seu objeto. Os aspectos que caracterizam
a pedagogia tecnicista poderão ser estudados no texto básico do módulo III titulado
Trajetória histórica da didática em nível mundial e brasileiro.

4)-Em outros casos se observa certo empobrecimento do campo da Didática


no currículo do curso, cedendo Iugar a outras disciplinas (sociologia da educação,
psicopedagogia, história da educação, formação de professores etc.).

5)-Relativo abandono do objeto de estudo “clássico” da Didática, o que se observa


nos conteúdos (saberes) sugeridos na ementa da Disciplina.

Para Libâneo (2008b), os programas de Didática tratam de todos os temas,


menos daqueles que ajudam os professores a atuarem eficazmente nos processos de
aprendizagem dos alunos. Cunha (2004) organizou os diferentes saberes dos professores
que se relacionam com o campo da Didática:

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A didática geral ou teoria do ensino

1.Saberes relacionados com o contexto da prática pedagógica; 2.Saberes


relacionados com a ambiência de aprendizagem; 3.Saberes relacionados com o contexto
sócio histórico do aluno; 4.Saberes relacionados com o planejamento das atividades de
ensino; 5.Saberes relacionados com a condução da aula nas suas múltiplas possibilidades;
6.Saberes relacionados com a avaliação da aprendizagem.

6)-A disciplina de Didática muitas vezes carece de identidade própria no curso de


Pedagogia.

A Didática oferecida no curso de Pedagogia é muito similar àquela que é ofertada


nos outros cursos de Licenciatura e na Pós-Graduação, quando o certo é que deveria
aproximar-se mais do que estou chamando de Didática dos Níveis.

a)-Didática para a Educação Infantil e Ensino Fundamental (Anos Iniciais) — Curso de


Pedagogia b)-Didática para o Ensino Fundamental (Anos Finais)e Ensino Médio — Cursos
de Licenciatura c)-Didática para o Ensino Superior - Mestrados e Doutorados

7)-O predomínio de Planos de Ensino no lugar de Programas de Aprendizagem.

O Plano de Ensino tem sua centralidade no conteúdo, no professor, no isolamento,


no individualismo e nos saberes experienciais; os Programas de Aprendizagem, na versão
de Anastasiou (2003), privilegiariam o aluno e sua aprendizagem, o trabalho colaborativo
e os saberes da ação pedagógica. Trabalharemos na didática II.

8)-Os Planos de Ensino são desenvolvidos, na maior parte das vezes, apenas de
maneira horizontal, longitudinal ou linear negligenciando a abordagem vertical,
transversal ou em profundidade.

A apresentação dos conteúdos é feita de maneira sequencial ou linear. Não há


redundância pedagógica, isto é, os professores não acostumam a volver mais de uma
vez aos conteúdos para tratar deles levando em consideração os diferentes níveis de
complexidade de assimilação cognitiva (familiarização, reprodução, aplicação e criação).
O ensino é praticado com base na reprodução e na memorização. De acordo com
Fernando González Rey:

Aos alunos Ihes é transmitido um mundo feito, não um mundo em


processo de construção e representação... O conhecimento é compre-
endido como conhecimento de algo e não como produção de conhe-
cimento (GONGÁLEZ REY, 2008).

9)-Os processos de ensino-aprendizagem da Didática são caracterizados, algumas


vezes, pela falta de vínculo com o cotidiano das escolas (estágio), pela autonomia

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MÓDULO 1

exagerada dos professores em sala de aula, pela privacidade das práticas pedagógicas
e pela fragilidade dos mecanismos institucionais.

Parece que há um tempo para se ensinar Didática e um tempo para se estagiar. Assim
a Didática perde seu sentido porque não é pensada com base na análise das práticas
escolares. A didática deixa de teorizar sobre seus fundamentos e teoriza sobre o que
deveria ser prático ou técnico.

A autonomia exagerada opõe-se à autonomia colegiada, isto é, aquela autonomia


que pressupõe a capacidade do grupo fazer escolhas dentro de certos limites. A
autonomia exagerada é o direito do professor fazer as coisas a sua maneira ou deixar de
fazê-las quando assim considera oportuno.

A privacidade das práticas dificulta a identificação, premiação, divulgação e o


reconhecimento acadêmico das experiências inovadoras que tem Iugar e, o que é
pior, impossibilita a passagem dessas experiências de inovação isoladas e individuais à
inovação institucional.

A fragilidade dos mecanismos institucionais se expressa pela paralisia geral dos


processos de formação, que resultam da contradição existente entre o discurso oficial
dos gestores e a prática por eles exercida e exigida.

10)-Inadequação nos modos e nas condiçôes necessárias que asseguram a


aprendizagem dos alunos.

a) O número de atividades adequadas ou estimulantes é limitado; b) É limitado o


tempo da aula previsto para atividades práticas por parte dos alunos;

c) Não é valorizado o tempo de empenho e de aprendizagem do aluno que fica


envolvido na realização ou resolução de atividades;

d) Predomínio da aula expositiva ou da aula copiada que só ensina a copiar; e) É


baixo ou insignificante o grau de dificuldade das atividades de aprendizagem;

f) A sala de aula é considerada como o único espaço de ensino e aprendizagem.

g) Salas de aulas lotadas dificultam o atendimento individualizado e, com isso, o


caráter singular do processo de aprender é esquecido.

h) Os recursos tecnológicos são utilizados, muitas vezes, apenas para reproduzir


informações e não para favorecer os processos de pensamento ao permitir ao aluno
estabelecer relações, ainda que de maneira indireta, com os objetos ou fenômenos da
realidade (sensações, percepções, representações e conceitos).

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