Hepatoesplenomegalias Crônicas (Capítulo de Livro) - 3
Hepatoesplenomegalias Crônicas (Capítulo de Livro) - 3
Hepatoesplenomegalias Crônicas (Capítulo de Livro) - 3
características principais
das
hepatoesplenomegalias
crônicas infecciosas?
5.1 INTRODUÇÃO
Este capítulo tem como função reunir as duas doenças
infecciosas que causam mais hepatomegalia e esplenomegalia no
Brasil: leishmaniose visceral e esquistossomose. Exatamente por
causar sintomas e sinais pareados, uma serve de diagnóstico
diferencial para a outra em vários aspectos. Por esse motivo, a
apresentação de ambas no mesmo capítulo facilita a comparação
e o entendimento.
5.2 LEISHMANIOSE VISCERAL
5.2.1 Introdução e epidemiologia
A leishmaniose visceral é conhecida como calazar e é causada
por um protozoário, com apresentação de doença sistêmica. Esse
protozoário flagelado é da mesma família que o Trypanosoma
cruzi. Existem 3 espécies que formam o complexo donovani, e
estão relacionadas no Quadro 5.1.
Quadro 5.1 - Complexo donovani
#importante
O tipo de resposta imunocelular define
quem vai desenvolver a doença.
▶ Icterícia;
▶ Fenômenos hemorrágicos — exceto epistaxe;
▶ Edema generalizado;
▶ Sinais de toxemia, como letargia, má perfusão, cianose,
taquicardia ou bradicardia, hipoventilação ou hiperventilação e
instabilidade hemodinâmica.
Eventualmente, o protozoário da leishmaniose visceral pode
causar leishmaniose cutânea, sendo característica mais
frequente da L. donovani, presente na Índia e, portanto, rara no
Brasil. Deve ser lembrado que o causador habitual de
leishmaniose cutâneo-mucosa não é nenhum destes, e sim o L.
braziliensis, L. guyanensis e L. amazonensis. A L. donovani é
causadora ocasional. Neste capítulo, abordaremos apenas a
leishmaniose visceral.
A coinfecção pelo HIV é mais frequente na Europa do que no
Brasil, mas existem diversos casos descritos no país. A principal
alteração que o HIV pode causar em associação com a
leishmaniose é o desenvolvimento quase certo da doença, ou
seja, o paciente não costuma ter leishmaniose assintomática.
Além disso, esses pacientes têm risco de evolução para gravidade
maior.
5.2.4 Diagnóstico
O padrão-ouro para o diagnóstico na leishmaniose é o encontro
do protozoário no tecido parasitado, e o melhor local para o
encontro deste é no aspirado de medula óssea — mielograma.
Entretanto, outras medidas podem ser tomadas para o
diagnóstico, específicas ou não.
5.2.4.1 Específico
Quadro 5.3 - Diagnóstico de leishmaniose
#importante
O padrão-ouro para o diagnóstico na
leishmaniose é o encontro do
protozoário no tecido parasitado, e o
melhor local para o encontro deste é no
aspirado de medula óssea —
mielograma.
5.2.4.2 Inespecífico
#importante
Existem três drogas que fazem
tratamento efetivo para leishmaniose,
que são: o antimonial pentavalente
Glucantime®, a anfotericina e a
pentamidina.
#importante
Após penetrar a pele, as larvas caem na
circulação e são levadas aos pulmões,
onde é possível surgir uma pneumonite
eosinofílica.
#importante
A febre aparece, principalmente, quando
os vermes se instalam no mesentério, já
na fase adulta, conhecida como febre de
Katayama.
#importante
O padrão-ouro para o diagnóstico
consiste em encontrar o verme.
#importante
O tratamento do parasita da
esquistossomose não elimina os
sintomas de hipertensão portal, caso
estes já estejam presentes, apenas
impede a evolução da doença pelo
parasita. Os tratamentos dos sintomas
devem ser mantidos.
5.3.6 Profilaxia
A principal profilaxia diz respeito ao cuidado com águas em que
haja o caramujo. Sua erradicação pode ser difícil, mas é uma boa
medida de prevenção. Em situações nas quais há ineficiência de
medidas de controle do hospedeiro intermediário, o ato simples
de não entrar em águas com muitos caramujos e,
consequentemente de parasitas, é boa medida de prevenção.
O desenvolvimento de uma vacina para esquistossomose foi alvo
de grande euforia, tendo sido realizado pelo Instituto Oswaldo
Cruz, no Rio de Janeiro. A vacina foi criada com a utilização da
proteína Sm14, obtida do Schistosoma mansoni. Desde 2011, há
testes em humanos, com ótimos resultados e previsão de
lançamento comercial nos próximos anos.
Como distinguir as
características principais
das
hepatoesplenomegalias
crônicas infecciosas?
Enquanto a leishmaniose visceral tem como principal
característica a pancitopenia febril com encontro do
parasita na medula ao mielograma, a esquistossomose
apresenta como principal característica a ascite na fase
tardia e o possível encontro do parasita em biópsia do
reto. Ambas terão epidemiologia semelhante, em
regiões específicas do Brasil. Não se esqueça!
Universidade Federal de Mato Grosso
O processo Revalida da UFMT começa com a entrega e análise de
documentos. Em seguida, se necessário, há um exame composto
por uma prova objetiva, com 100 questões, cada uma com quatro
alternativas, e uma discursiva, com apenas 5 questões. Ao
estudar, é importante considerar os temas imunização, sintomas
gastrintestinais, desenvolvimento da criança, Urologia Infantil,
parto, prematuridade, pré-natal e anticoncepção.
Atente-se também para pós-operatório, trauma raquimedular,
pancreatite aguda, litíase biliar, parasitoses intestinais, doenças
respiratórias e pulmonares, dengue, insuficiência cardíaca
congestiva, Medicina Legal, atenção primária, métodos
diagnósticos, Epidemiologia e Sistema Único de Saúde (SUS).
Em seguida, há uma prova prática para testar as habilidades
clínicas do candidato em dez estações, com cenários simulados,
em que o candidato será avaliado nas áreas de Clínica Médica,
Cirurgia, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia e Medicina de Família
e Comunidade e Saúde Coletiva.
UFMT | 2021
Pré-escolar, 4 anos de idade, sexo feminino, natural e procedente
de Várzea Grande - MT, residente na área rural, deu entrada na
UPA com quadro de febre de 39 °C, intermitente e irregular com
dois ou três picos por dia há três semanas, astenia, perda de peso.
Ao exame: sinais vitais: FR: 28 irpm, FC: 130 bpm, Tax: 39,3 °C.
REG, prostrada, palidez cutaneomucosa, hidratada. A ausculta
cardíaca e pulmonar eram normais. Abdome globoso, ruídos
hidroaéreos positivos, à palpação, fígado a 3 cm RCD e baço a 5
cm do RCE, sem sinal de irritação peritoneal. Linfonodos não
palpáveis. Demais sem alteração. Hemograma: hemácias: 3,6
milhões, Hb: 9,0 g/dL, Ht: 27%; leucócitos: 3.900 mm³; plaquetas
60.000 mm³; ureia: 17 mg/dL; creatinina: 0,6 mg/dL; VHS: 55mm;
bilirrubina total: 0,3 mg/dL; bilirrubina indireta: 0,2 mg/dL;
bilirrubina direta: 0,1 mg/dL; amilase: 153 mg/dL; AST: 27 U/mL;
ALT: 15 UI/mL; proteínas totais: 5,15; albumina: 3,0 mg/dL;
globulina: 2,15 mg/dL.
Qual é a principal hipótese diagnóstica?
a) leishmaniose visceral
b) linfoma de Hodgkin
c) malária por P. falciparum
d) esquistossomose
Gabarito: a
Comentários:
a) Começamos pela epidemiologia positiva para Leishmaniose
Visceral (LV) na região do Mato Grosso descrita. Observe que há
pancitopenia descrita, associada a febre e hepatoesplenomegalia
sem icterícia. Transaminases também normais. LV é forte
hipótese e deve ser investigada através da realização de
mielograma e procura do protozoário na medula.
b) O linfoma de Hodgkin é diagnóstico diferencial importante, mas
haveria descrição de gânglios. A pancitopenia também não é
característica do linfoma de Hodgkin, apesar de poder ter febre
com hepatoesplenomegalia.
c) Na malária haveria icterícia se o caso fosse grave a ponto de dar
anemia tão importante. Apesar de hepatomegalia poder estar
presente e da epidemiologia ser possível para malária pela região,
também não haveria trombocitopenia com leucopenia tão
importante. Por fim, os acessos de febre seriam regulares pelo
ciclo do Plasmodium.
d) A esquistossomose não leva a pancitopenia, apesar de quadros
agudos poderem cursar com febre e ainda com
hepatoesplenomegalia.