Aula 8 Empresarial

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Prepostos

Como organizador de atividade empresarial, o empresário (pessoa


física ou jurídica) necessariamente deve contratar mão de obra,
que é um dos fatores de produção.

Seja como empregado pelo regime do Direito do Trabalho (CLT)


ou como representante, autônomo ou pessoal terceirizado
vinculados por contrato de prestação de serviços, vários
trabalhadores desempenham tarefas sob a coordenação do
empresário.

Para efeitos do direito das obrigações, esses trabalhadores,


independentemente da natureza do vínculo contratual mantido
com o empresário, são chamados prepostos (CC, arts. 1.169 a
1.178).

Prepostos

Os atos dos prepostos praticados no estabelecimento empresarial


e relativos à atividade econômica ali desenvolvida obrigam o
empresário preponente.

Se alguém adentra a loja e se dirige a pessoa uniformizada que lá


se encontra, e com ela inicia tratativas negociais (quer dizer, pede
informações sobre produto exposto, indaga sobre preço e
garantias, propõe forma alternativa de parcelamento etc.), o
empresário dono daquele comércio (pessoa física ou jurídica) está
sendo contratualmente responsabilizado.

As informações prestadas pelo empregado, autônomo ou


funcionário terceirizado, bem como os compromissos por eles
assumidos, atendidos aqueles pressupostos de lugar e objeto,
criam obrigações para o empresário (CC, art. 1.178).
Prepostos

Os prepostos, por evidente, respondem pelos seus atos de que


derivam obrigações do empresário com terceiros.

Se agiram com culpa, devem indenizar em regresso o preponente


titular da empresa; se com dolo, respondem eles também perante
o terceiro, em solidariedade com o empresário.

Está o preposto proibido de concorrer com o seu preponente.


Quando o faz, sem autorização expressa, responde por perdas e
danos. O empresário prejudicado tem também direito de retenção,
até o limite dos lucros da operação econômica irregular de seu
preposto, sobre os créditos deste.

Configura-se, também, o crime de concorrência desleal, se houver


usurpação de segredo de empresa (LPI, art. 195).

Prepostos

Dois prepostos têm sua atuação referida especificamente no


Código Civil: o gerente e o contabilista.

O gerente é o funcionário com funções de chefia, encarregado da


organização do trabalho num certo estabelecimento (sede,
sucursal, filial ou agência).

Os poderes do gerente podem ser limitados por ato escrito do


empresário. Para produzir efeitos perante terceiros, este ato deve
ser arquivado na Junta Comercial ou comprovadamente informado
para estes.

Não havendo limitação expressa, o gerente responsabiliza o


preponente em todos os seus atos. Pode ainda atuar em juízo, em
nome do proponente.
Prepostos

O contabilista é o responsável pela escrituração dos livros do


empresário. Só nas grandes empresas este preposto costuma ser
empregado; nas pequenas e médias, normalmente, é profissional
com quem o empresário mantém contrato de prestação de
serviços.

Enquanto é facultativa a função do gerente (o empresário pode,


simplesmente, não ter este tipo de preposto), a do contabilista é
obrigatória (salvo se nenhum houver na localidade – CC, art.
1.182).

Ademais, qualquer pessoa pode trabalhar como gerente, mas


apenas os regularmente inscritos no órgão profissional podem
trabalhar como contador ou técnico em contabilidade.

Livros Comerciais

Em princípio, assim, o empresário, pessoa natural ou jurídica,


independentemente do ramo de atividade em que atue, da forma
societária adotada ou quaisquer outras circunstâncias, é obrigado a
escriturar os livros obrigatórios.
Existem duas categorias de empresários dispensados de escriturar os
livros obrigatórios:
a) os Microempresários e Empresários de Pequeno Porte optantes pelo
Simples Nacional (Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa
de Pequeno Porte, art. 27);
b) os Microempreendedores Individuais (MEIs) (CC, arts. 970 e 1.179, §
2.° e Lei n. 123/2006, art. 68).
Livros Comerciais

É necessário distinguir entre livros empresariais e livros do


empresário.
Livros empresariais são aqueles cuja escrituração é obrigatória ou
facultativa ao empresário, em virtude da legislação comercial.
Porém, além destes, também se encontra o empresário obrigado a
escriturar outros livros, não mais por causa do direito comercial, mas, sim,
por força de legislação de natureza tributária, trabalhista ou
previdenciária.
Os livros empresariais são uma parte dos livros do empresário.

Livros Comerciais

Os livros empresariais, por sua vez, são de duas espécies: obrigatórios ou


facultativos.
Obrigatórios são aqueles cuja escrituração é imposta ao empresário; a
sua ausência, por isso, traz consequências sancionadoras (inclusive no
campo penal).
Já os facultativos são os livros que o empresário escritura com vistas a
um melhor controle sobre os seus negócios e cuja ausência não importa
nenhuma sanção.
Sendo obrigatórios, os livros empresariais se subdividem em duas
categorias: os comuns e os especiais.
Livros Comerciais

Comuns são os livros obrigatórios cuja escrituração é imposta a todos os


empresários, indistintamente.
Especiais são aqueles cuja escrituração é imposta apenas a uma
determinada categoria de exercentes de atividade empresarial.
No direito comercial brasileiro de hoje há apenas um livro comercial
obrigatório comum, que é o “Diário” (CC, art. 1.180).
Somente a escrituração deste livro é obrigatória a todos os empresários,
independentemente da natureza da atividade econômica que exploram,
do tipo de sociedade adotado ou outras condições. Qualquer empresário
e todos os empresários, pessoas naturais ou jurídicas, devem escriturar o
livro “Diário”.

Livros Comerciais

Já na categoria dos livros obrigatórios especiais, cabe menção ao:


a) livro “Registro de Duplicatas”, cuja escrituração é imposta a todos os
empresários que emitem duplicatas (Lei 5.474/68, LD, art. 19);
b) O livro “Entrada e Saída de Mercadorias”, que deve ser escriturado
pelo empresário que explora Armazém-Geral (Decreto 1.102/1903, art.
7.°);
c) os livros de escrituração imposta a todas as sociedades por ações,
como “Registro de Ações Nominativas”, “Transferência de Ações
Nominativas”, “Atas das Assembleias Gerais”, “Presença dos
Acionistas” (Lei 6.404/76, LSA, art. 100).
Os livros facultativos (e.g. caixa/conta corrente) são raramente utilizados.
Livros Comerciais

Um livro empresarial obrigatório, comum ou especial, ou facultativo, para


produzir os efeitos jurídicos que a lei lhe atribui, deve atender a requisitos
de duas ordens: intrínsecos e extrínsecos.
Intrínsecos são os requisitos pertinentes à técnica contábil, estudada pela
Contabilidade (CC, art. 1.183).
Para atender a estes requisitos, a escrituração deve ser feita em idioma e
moeda corrente nacionais, em forma mercantil, por ordem cronológica de
dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões,
emendas ou transportes para as margens.

Livros Comerciais

Extrínsecos são os requisitos relacionados com a segurança dos livros


empresariais.
Atende aos requisitos desta ordem o livro que contiver termos de abertura
e de encerramento, e estiver autenticado pela Junta Comercial (CC, art.
1.181).
Somente é considerada regular a escrituração do livro empresarial que
observe os dois tipos de requisitos.
Um livro irregularmente escriturado, vale dizer, que não preencha
qualquer dos requisitos legais, equivale a um “não livro”. O titular de um
livro, a que falte requisito intrínseco ou extrínseco, é, para o direito, titular
de livro nenhum.
Livros Comerciais

Para fins penais (CP, art. 297, § 2.°), os livros mercantis (comerciais ou
empresariais) se equiparam ao documento público.

Assim sendo, quem falsificar a escrituração do livro comercial estará


sujeito a pena mais grave que a reservada para o crime de falsificação de
documentos administrativos não contábeis do empresário.

Outrossim, um livro empresarial falsificado não tem a eficácia probatória


que lhe é própria.

Livros Comerciais

Se faltar a um livro obrigatório do empresário um dos requisitos legais –


intrínseco ou extrínseco – ou se não possuir livro obrigatório, estará ele
sujeito a consequências na órbita civil e penal.

No plano civil, o empresário não poderá valer-se da eficácia probatória


que o Código de Processo Civil concede aos livros empresariais.

É uma consequência de menor vulto ao empresário que mantém irregular


a sua escrituração, na medida em que apenas o impede de desfrutar de
benefícios dados pela lei aos empresários que cumprem a obrigação de
escrituração contábil.
Livros Comerciais

Outra consequência:

Se for requerida a exibição de livro obrigatório contra o empresário, não o


possuindo, ou possuindo-o irregular, presumir-se-ão como verdadeiros os
fatos relatados pelo requerente, acerca dos quais fariam prova os livros
em questão (CPC, art. 400, I).

Esta é a sanção, na esfera do direito civil, mais séria para o empresário


que não cumpre a obrigação de manter escrituração regular de seu
negócio.

Livros Comerciais

No campo do direito penal, a consequência para a ausência ou


irregularidade na escrituração de livro obrigatório encontra-se no art. 178
da LF, que reputa crime falimentar:
“deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença
que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o
plano de recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração
contábil obrigatórios”.
Falindo o empresário ou sociedade empresária que não cumpre a
obrigação de manter escrituração regular de seu negócio, a falência será
necessariamente fraudulenta.
Livros Comerciais

Os livros empresariais devem ser conservados até a prescrição das


obrigações neles escrituradas (CC, art. 1.194).

Após o decurso do prazo prescricional de todas as obrigações


escrituradas em certo livro, a sua inexistência ou mesmo irregularidade
não acarretam as consequências, civis e penais, acima listadas.

Os Microempresários e os Empresários de Pequeno Porte optantes pelo


Simples Nacional estão dispensados de manter escrituração mercantil.

Livros Comerciais

Os livros comerciais, em tese, gozam da proteção do princípio do sigilo


(CC, art. 1.190).

A exibição de livros empresariais em juízo, por esta razão, não pode ser
feita por simples vontade das partes ou por decisão do juiz, senão em
determinadas hipóteses da lei.

A exibição total dos livros comerciais só pode ser determinada pelo juiz a
requerimento da parte e em apenas algumas ações (por exemplo:
questões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou
gestão à conta de outrem ou falência).
Livros Comerciais

A exibição parcial pode ser decretada também de ofício e em qualquer


ação judicial (CPC, arts. 420 e 421; CC, art. 1.191).

Somente na falência pode o juiz determinar de ofício a exibição total dos


livros.
A Súmula 260 do STF, pela qual “o exame de livros comerciais, em ação
judicial, fica limitado às transações entre os litigantes”, não exclui a
exibição total da escrita dos empresários, quando autorizada em lei.

Livros Comerciais

Exibido total ou parcialmente, ou tendo sido objeto de perícia judicial


contábil, o livro empresarial terá a força probante (ou eficácia probatória)
que a lei estabelece.

O livro empresarial prova contra o seu titular, sendo-lhe permitido,


contudo, demonstrar, por outros meios probatórios, a eventual
inveracidade dos dados contábeis que lhe são desfavoráveis (CPC, art.
417);

Prova a favor de seu titular, em demanda entre empresários, desde que


atendidos os requisitos intrínsecos e extrínsecos já assinalados (art. 418).
Livros Comerciais

Todo empresário, pessoa natural ou jurídica, está sujeito à obrigação de


levantar, anualmente, dois balanços:

a) o balanço patrimonial, demonstrando o ativo e passivo,


compreendendo todos os bens, créditos e débitos; e
b) o balanço de resultado econômico, demonstrando a conta dos lucros e
perdas (CC, art. 1.179, in fine).

A esta obrigação não pode se furtar nenhum empresário, exceto o MEI, o


Microempresário e o de Pequeno Porte.

Livros Comerciais

A lei tipifica como crime falimentar a inexistência dos documentos de


escrituração contábil obrigatórios, entre os quais se incluem os balanços
patrimoniais e de resultado econômico (LF, art. 178).

Os empresários cumprem a obrigação de levantar os balanços para


desfrutarem de benefícios ou evitarem alguns prejuízos. Por exemplo:
a) as sociedades anônimas estão sujeitas a regime próprio sobre
demonstrações financeiras, que incluem o balanço patrimonial (LSA, arts.
178 a 184) e o demonstrativo de resultados do exercício (art. 187), e a
ausência de seu levantamento acarreta responsabilidade dos
administradores;
Livros Comerciais

b) a legislação tributária sobre imposto de renda sujeita determinadas


categorias de empresários contribuintes ao dever de elaboração de
balanços periódicos;

c) o acesso ao crédito bancário tem sido condicionado à apresentação


dos balanços regularmente elaborados, de modo a restar fechado o
acesso ao crédito bancário aos empresários que não os possuam;

d) a participação em licitações públicas depende de comprovação da


regularidade econômico-financeira, feita inclusive por meio da
apresentação de balanços (Lei 8.666/93, art. 31, I).

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