Boletim Macrofiscal - Novembro
Boletim Macrofiscal - Novembro
Boletim Macrofiscal - Novembro
Ministro da Fazenda
Fernando Haddad
Panorama geral 6
Inflação 15
Panorama Macroeconômico
O Panorama Macroeconômico é um conjunto amplo de indicadores de conjuntura e de
projeções da Grade de Parâmetros para o processo orçamentário, produzido pela SPE.
Apresenta dados selecionados de atividade econômica: PIB, produção setorial,
emprego e renda, preços e inflação, crédito e mercado financeiro, política fiscal, setor
externo e economia internacional.
BOLETIM MACROFISCAL
Resumo
Neste Boletim, a estimativa para o crescimento do PIB de 2023 passou de 3,2% para 3,0%. A menor
previsão para o ano repercute a revisão na expectativa de crescimento para o 3T23, de 0,1% no Boletim
anterior para 0,0%, além de projeções menos otimistas para o setor de serviços até o restante do ano. Apesar
dessas alterações, a perspectiva ainda é de aceleração no ritmo da atividade no 4T, motivada pelo cresci-
mento de alguns subsetores menos sensíveis ao ciclo e pela resiliência do consumo das famílias, em função
do aumento da massa de renda real do trabalho e das melhores condições no mercado de crédito.
No ano, o menor crescimento esperado para o setor de serviços foi parcialmente compensado por um
aumento na projeção de crescimento para a Indústria. Para o setor agropecuário, a projeção de cresci-
mento em 2023 permaneceu em 14,0%. Para a Indústria, o crescimento esperado avançou de 1,5% para
1,9%, enquanto para Serviços a projeção recuou de 2,5% para 2,2%.
Para 2024, a expectativa de crescimento foi revisada de 2,3%, no último Boletim, para 2,2%. A mudança
repercute o aumento das incertezas no ambiente externo, tanto do ponto de vista da política monetária dos
países centrais, quanto da possibilidade de agravamento nos conflitos geopolíticos globais. Em contrapartida,
as atividades menos influenciadas pelo setor externo devem se beneficiar com a política monetária menos
contracionista, com as melhores condições de crédito e com o crescimento da massa de rendimento real.
Nesse sentido, a composição do crescimento brasileiro no próximo ano deverá ser bastante distinta da verifi-
cada em 2023, com maior contribuição da absorção doméstica.
A previsão para a variação do IPCA recuou de 4,85% para 4,66% em 2023 e avançou de 3,40% para
3,55% em 2024. O processo de desinflação ocorreu mais rápido do que o inicialmente projetado, principal-
mente para os componentes subjacentes, levando a inflação para dentro do intervalo proposto pelo regime
de metas já em 2023. Para 2024, a estimativa para inflação medida pelo IPCA avançou em 0,15 p.p., motivada
pelo reajuste de ICMS anunciado pelos estados, além de mudanças pontuais no cenário projetado para o
câmbio e para os preços de commodities. Nessa previsão, já estão compatibilizados os efeitos do El Niño nos
preços de alimentação, energia e etanol. Para o IGP-DI e INPC, as projeções para 2023 também foram revi-
sadas para baixo.
No Prisma Fiscal de novembro, a projeção mediana para o déficit primário aumentou, mas ainda se
manteve inferior à mediana das expectativas em janeiro. De agosto a outubro, a mediana das projeções
para o déficit primário de 2023 se manteve em torno de R$ 107 bilhões em média, avançando para cerca de
R$ 113,5 bilhões em novembro. Em janeiro, no entanto, a estimativa era de cerca de R$ 126 bilhões. A
melhora da perspectiva desde o início do ano reflete os diversos pacotes fiscais e econômicos entregues até
o momento, além da expansão nas projeções para o crescimento.
BOLETIM MACROFISCAL
Panorama geral
Desde o último Boletim, um conjunto de fatores elevou as incertezas no ambiente internacional. Destacam-se,
nesse sentido, o aumento das tensões geopolíticas em função dos conflitos no Oriente Médio; a intensificação da crise
no setor imobiliário chinês; e a volatilidade nos juros de títulos de maior maturidade do Tesouro americano. O aumento
da aversão ao risco decorrente desse cenário de maior incerteza tem levado ao fortalecimento do dólar frente às demais
moedas, bem como ao aumento da volatilidade nos mercados de renda fixa.
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Jan Jul Fev Ago Mar Out Abr Nov
2020 2020 2021 2021 2022 2022 2023 2023
Fonte: Bloomberg
Os conflitos no Oriente Médio têm potencial de afetar as cadeias globais de suprimento, apesar de seus im-
pactos econômicos estarem, por ora, contidos. Até o momento, grandes países produtores de petróleo e gás da
região, como Irã, Arábia Saudita e Catar, não se envolveram no conflito entre Israel e Hamas, fator que contribuiu para
o retorno das cotações de petróleo a patamar inferior ao observado antes do início da guerra (após escalada até cerca
de US$ 97/bbl). No entanto, a continuidade dos conflitos segue como fator de risco, sobretudo para os preços de
commodities energéticas.
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Nov Abr Set Fev Ago Jan Jun Nov
2020 2021 2021 2022 2022 2023 2023 2023
Fonte: Bloomberg
Na China, permanecem os riscos de desaceleração mais acentuada do setor imobiliário, cenário que pode
afetar a demanda por commodities. No acumulado do ano até outubro, as vendas de imóveis residenciais já caíram
3,7%, enquanto os investimentos em imóveis recuaram 9,3%. Esses dados, junto com a desaceleração dos investi-
mentos fixos até outubro, revelam que o setor imobiliário, que responde por cerca de 25% da atividade chinesa, conti-
nua apresentando contração expressiva. Por ora, a resposta do governo à crise imobiliária vem sendo balanceada, a
fim de evitar uma retração mais acentuada desse setor, mas também um novo sobre-endividamento (a exemplo do
default da Evergrande, em 2021, e da Country Garden, mais recentemente). No entanto, de acordo com o banco central
chinês, ainda há espaço para adoção de medidas adicionais de liquidez e de estímulo ao crédito (tanto inflação ao
consumidor como no atacado registraram deflação em doze meses até outubro). Com base nesses prospectos, se-
guem os riscos de desaceleração mais acentuada da economia chinesa apesar da surpresa positiva com o PIB do 3T.
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BOLETIM MACROFISCAL
Os yields de títulos americanos seguem voláteis apesar do fechamento recente, exacerbando a aversão ao
risco de investidores e a pressão sobre os juros, moedas e ativos dos demais países. A alta nos yields dos títulos
americanos esteve relacionada ao aumento nas projeções para o déficit e dívida pública; ao crescimento das emissões
do Tesouro em simultâneo à menor demanda por títulos por parte da China, Japão e do próprio Fed (que vem reduzindo
seu balanço); e à resiliência do mercado de trabalho e consumo das famílias, que retarda o processo de desinflação.
Embora parcela da alta dos juros longos já tenha sido devolvida recentemente como reflexo da divulgação de indica-
dores econômicos abaixo do esperado, discussões a respeito da questão fiscal e incertezas relacionadas ao ritmo de
crescimento futuro seguem pressionando não somente as curvas americanas, mas também os juros longos de outras
economias. A volatilidade e a pressão sobre os juros têm potencial de retardar o processo de flexibilização monetária
já em curso em algumas localidades, com impactos negativos sobre o crescimento mundial.
No cenário prospectivo, permanece como questão central o ritmo de desaceleração (e desinflação) da econo-
mia americana. Dados divulgados recentemente revelaram desaquecimento bastante modesto do mercado de traba-
lho, com leve alta do desemprego e pequena redução dos ganhos médios por hora trabalhada. Esse quadro, somado
à recente revisão para cima nos dados de excesso de poupança pelo Fed e aos estímulos fiscais ainda elevados
(Inflation Reduction Act é exemplo), afasta a possibilidade de recessão da economia americana no curto prazo, ele-
vando as chances de “pouso suave”. Essa perspectiva, junto como o recente fechamento das treasuries em função da
desinflação mais intensa do que a prevista em outubro, é positiva para a economia global, permitindo continuidade do
ciclo de flexibilização monetária em países que já se encontram em etapas mais avançadas do processo de desinfla-
ção.
0 3 0
Out Abr Out Abr Out Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set
2021 2022 2022 2023 2023 2020 2020 2021 2021 2022 2022 2023 2023
Fonte: Bloomberg Fonte: Fed San Francisco
As demais economias avançadas têm mantido suas taxas de juros elevadas a fim de evitar o enfraquecimento
de suas moedas e dar continuidade ao processo desinflacionário. O banco central do Japão decidiu flexibilizar o
controle sobre o nível de juros para títulos de 10 anos, adotando 1% como valor de referência e não mais como limite.
Na Europa, tanto o banco central europeu como o inglês anunciaram que devem manter as taxas de juros em patama-
res elevados por mais tempo, em função da persistência da inflação, ainda elevada. Nesses países, o mercado de
trabalho segue resiliente, com taxas de desemprego próximas ao mínimo histórico, dificultando a desaceleração mais
pronunciada dos componentes subjacentes da inflação de serviços – ou a chamada “segunda etapa” do processo de
desinflação.
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BOLETIM MACROFISCAL
Na América Latina e em outros países emergentes, o aumento das incertezas relacionadas ao ambiente ex-
terno, somado à inflação ainda elevada, também tem levado à postergação do processo de flexibilização mo-
netária. A Colômbia e o México ainda não reduziram os juros, na expectativa de queda mais acentuada da inflação e
de redução dos riscos externos. O Peru vem mantendo cortes graduais de 25 p.b., enquanto o Chile reduziu o ritmo de
cortes de 75 p.b. para 50 p.b. na última reunião a fim de evitar maior depreciação do peso chileno, com efeitos inflaci-
onários. Na região, a atividade tem mostrado sinais de desaceleração, pesando nessa dinâmica os juros elevados e a
demanda externa fraca. O México é exceção, beneficiado por fluxos comerciais e de investimentos resultantes de
políticas de nearshoring com os EUA. Na Argentina, segue o quadro de crise no balanço de pagamentos, com inflação
elevada e recessão. Alguns países do leste europeu, como Turquia e Rússia, e asiáticos, como Indonésia, Filipinas e
Tailândia, tiveram que até mesmo elevar suas taxas de juros em resposta às pressões inflacionárias decorrentes da
depreciação cambial.
PIB de países da América Latina (% a.a.) Inflação de países da América Latina (% a.a.)
Chile Colômbia México
Chile Colômbia México Peru Argentina (dir)
Peru Argentina 15 150
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7
5 10 100
3
1 5 50
-1
-3 0 0
-5 Abr Nov Jun Jan Ago Mar Out
3T21 4T21 1T22 2T22 3T22 4T22 1T23 2T23 2020 2020 2021 2022 2022 2023 2023
Fonte: Bloomberg Fonte: Bloomberg
Para o Brasil, o impacto do aumento das incertezas no ambiente externo tem sido modesto. Comparativamente
aos pares, o Brasil foi, em geral, menos afetado pelos riscos externos quando comparada a evolução dos indicadores
financeiros como bolsa, câmbio, juros dos títulos de 10 anos e CDS desde o último Boletim. A posição mais robusta
dos fluxos comerciais, do investimento direto e do volume de reservas internacionais do Brasil tem auxiliado a reduzir
os impactos da forte volatilidade internacional na economia doméstica.
Bolsas - var.% desde 18/set Moedas - var. % desde 18/set (positivo = depreciação)
Brasil 5,8 Colômbia 3,9
Colômbia 2,3 Peru 1,1
México 1,9 Brasil 0,4
África do Sul 0,5 Índia 0,2
China -1,8 Chile 0,2
Índia -2,9 México 0,0
Peru -3,0 China -1,7
Chile -3,4 África do Sul -3,1
Fonte: Bloomberg Fonte: Bloomberg
Juros soberanos de 10 anos - var. desde 18/set (bps) CDS 5 anos - var. desde 18/set (pontos)
BOLETIM MACROFISCAL
Apesar da recente elevação da aversão ao risco, a perspectiva de desaceleração menos intensa da atividade
nos EUA e China é benigna para o Brasil. A despeito do aumento das incertezas, com potencial de postergar deci-
sões de investimento e consumo, indicadores coincidentes de atividade nos EUA e medidas de estímulo recém anun-
ciadas na China apontam para desaceleração apenas moderada da atividade desses dois países no próximo ano, sem
grandes rupturas financeiras que comprometam de maneira substancial o desempenho das demais economias. O
recente fechamento das treasuries longas também contribuiu nesse sentido. Para a inflação, o desaquecimento mode-
rado da atividade global pesa favoravelmente no balanço de riscos, em contraposição ao aumento das tensões geo-
políticas e às perspectivas mais adversas para o clima.
0 0
3T23 4T23 1T24 2T24 3T24 4T24 1T25 3T23 4T23 1T24 2T24 3T24 4T24 1T25
Fonte: Bloomberg Fonte: Bloomberg
Desde o último Boletim, as projeções de mercado para o crescimento brasileiro permaneceram estáveis, en-
quanto as previsões para a inflação caíram. Desde meados de setembro, as previsões de crescimento do PIB no
Focus permaneceram relativamente estáveis, passando de 2,90% para 2,85% em 2023 e permanecendo em 1,50%
para 2024; 1,90% para 2025; e 2,00% para 2026. Para a inflação medida pelo IPCA, a mediana das projeções para
2023 recuou de 4,90%, em meados de setembro, para 4,55%. A queda repercute surpresas com a inflação de outubro,
abaixo da prevista; a redução anunciada para o preço da gasolina nas refinarias; e as perspectivas favoráveis para a
inflação de bens industriais e serviços subjacentes, em função da desaceleração expressiva desses preços nas últimas
divulgações do índice e do desaquecimento econômico esperado para o segundo semestre. Para 2024, a projeção de
inflação se manteve praticamente estável, próxima a 3,90%, e permaneceu em 3,50% para 2025 e 2026.
PIB - mediana das expectativas de mercado (% a.a.) IPCA - mediana das expectativas de mercado (% a.a.)
2023 2024 2025 2026 2023 2024 2025 2026
3,5 5,5
3,0 5,0
2,5 4,5
2,0 4,0
1,5 3,5
1,0 3,0
08 23 08 25 10 26 13 08 23 08 25 10 26 13
Ago Ago Set Set Out Out Nov Ago Ago Set Set Out Out Nov
Fonte: BCB/Focus Fonte: BCB/Focus
A curva de juros, que vinha abrindo para vencimentos mais longos nos últimos meses, voltou a cair. Durante
setembro e outubro, o aumento dos yields de títulos americanos condicionou também a alta nos rendimentos de títulos
no Brasil, sobretudo para maiores maturidades. No entanto, com o fechamento das treasuries americanas em novem-
bro, a curva de juros brasileira também voltou a cair, evidenciando a forte influência de desdobramentos externos no
movimento das taxas mais longas. Apesar dessa volatilidade na curva, a mediana projetada no Focus para a taxa Selic
em fins de 2023 permaneceu em 11,75% e apresentou apenas elevações modestas de 9,00% para 9,25% em 2024 e
de 8,50% para 8,75% em 2025.
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BOLETIM MACROFISCAL
Meta SELIC - mediana das expectativa de mercado (% a.a.) Curva de juros - BM&F Pré x DI %
2023 2024 2025 2026 27/set 17/out 17/nov
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11
12
10
9 11
8
08 23 08 25 10 26 13 10
Ago Ago Set Set Out Out Nov - 1M 2M 3M 6M 1A 2A 5A
Fonte: BCB/Focus Fonte: Bloomberg
O mercado de trabalho seguiu resiliente, com destaque para o crescimento da massa de rendimento. Do tri-
mestre encerrado em junho ao trimestre encerrado em setembro, dados já dessazonalizados da PNAD mostraram
estabilidade na taxa de desemprego, em 7,8%, resultante de leve avanço na força de trabalho e na população ocupada.
No mesmo período, houve crescimento significativo do rendimento real médio – habitual e efetivo, fator que junto com
o crescimento da população ocupada levou à aceleração no ritmo de crescimento da massa real de rendimento. As
taxas de participação e subocupação se mantiveram praticamente estáveis no período e houve queda na taxa de
desalentados. Dados do Caged, também após ajuste sazonal, mostram desaceleração na criação líquida de novas
vagas de junho a setembro, embora esse movimento não tenha ocorrido de maneira homogênea entre setores. En-
quanto para a Indústria houve queda nos postos de trabalho, para a Agropecuária o saldo líquido foi positivo e crescente
no período.
A dinâmica no mercado de crédito melhorou, sobretudo para pessoas físicas. As concessões aumentaram 4,4%
no trimestre encerrado em setembro comparativamente ao anterior (após ajuste sazonal), sendo impulsionadas pela
redução dos juros e spreads bancários. Destaca-se o avanço trimestral nas concessões de crédito para pessoas físicas,
repercutindo a redução da inadimplência, do comprometimento de renda e do endividamento, além das menores taxas
de juros. Para esse aumento no dinamismo no crédito para pessoas físicas, o Desenrola foi fundamental, já que cerca
de 64% das renegociações possibilitadas pelo programa envolveram pagamentos à vista das dívidas (dados até 31/ou-
tubro). Para pessoas jurídicas, as concessões também cresceram no trimestre encerrado em setembro, porém houve
aumento da inadimplência. No mercado de capitais, o volume de emissões de títulos privados registrou expansão
significativa no trimestre, puxado pela emissão de debêntures incentivadas, bem como pela queda dos spreads, já em
níveis próximos aos praticados no início de 2023, antes da crise de empresa do setor varejista.
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BOLETIM MACROFISCAL
Indicadores coincidentes trazem sinais mistos para atividade no segundo semestre. A PIM mostrou estabilidade
da produção industrial no 3T23, ante alta de 0,3% no trimestre anterior. O carregamento estatístico para o 4T é de
0,1%. Para outubro, o PMI da Indústria recuou para 48,6, de 49,0 em setembro, enquanto os índices de confiança da
Indústria e dos Empresários industriais caíram 0,2 e 1,2 p.p. no mês, respectivamente. Vale notar, no entanto, que
essas quedas refletem apenas o movimento do componente de expectativas, já que o índice de situação atual aumen-
tou para ambos os índices. O ITCC recuou 1,3% no 3T, ante queda de 0,3% no trimestre anterior. O carregamento
para esse indicador no 4T é de -1,3%. A confiança da Construção recuou em outubro na comparação mensal, após
registrar alta expressiva em setembro. A PMS apontou crescimento de 0,1% para o volume de serviços no 3T, ante
alta de 0,3% no trimestre anterior. Nesse ramo de atividade, destacou-se, sobretudo, a recuperação de Serviços pres-
tados às famílias em setembro, com alta de 3,0% na margem, compensando parcialmente a queda de 3,7% em agosto.
O carregamento estatístico para o setor no 4T, de acordo com a PMS, é de -0,6%. Em outubro, a confiança dos Serviços
recuou 1,6 p.p. comparativamente a setembro, repercutindo queda no componente de expectativas, mas avanço no
componente de situação atual (assim como no caso das Sondagens da Indústria). Em contrapartida, o PMI de serviços
avançou de 48,7 em setembro para 51,0 em outubro, sinalizando que a atividade no setor passou para o campo ex-
pansionista. As vendas no varejo no conceito ampliado desaceleraram de 0,1% no 2T para 0,0% no 3T. Para o 4T, o
carregamento estatístico é de -0,3%. Apesar da queda acentuada na confiança do Comércio e dos Consumidores em
outubro, perspectivas mais favoráveis para o varejo vêm com avanço de 3,2% das vendas de veículos no mês.
Indicadores coincidentes - média 2019 = 100, dessaz. Índices de Confiança - média 2019 = 100, dessaz.
IBC-BR Indústria Indústria Serviços Construção
Varejo Ampliado Serviços Consumidores Comércio Empresarial
120 120
110
100
100
80
90
80 60
70 40
Set Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set Out Abr Out Abr Out Abr Out Abr Out
2019 2020 2020 2021 2021 2022 2022 2023 2023 2019 2020 2020 2021 2021 2022 2022 2023 2023
Fonte: IBGE, BCB Fonte: Ibre/FGV
BOLETIM MACROFISCAL
No trimestre, a expectativa é de nova retração da atividade no setor agropecuário. Projeta-se queda de 5,3% na
margem para a Agropecuária, ante recuo de 0,4% no 2T23.1 A variação na margem reflete a desaceleração interanual
desse setor, de 17,0% para 8,8% na passagem entre trimestres, como consequência do fim da colheita de produtos
agropecuários com forte expansão na comparação interanual. A alta em relação ao mesmo trimestre do ano anterior,
no entanto, é explicada pelo avanço na colheita de cana-de-açúcar; milho 2ª safra; e algodão e pelo bom desempenho
da bovinocultura de corte. As projeções de curto prazo para o setor agropecuário são similares às apresentadas no
Boletim anterior.
Para o PIB da Indústria, projeta-se desaceleração na passagem entre trimestres. A projeção de crescimento para
o 3T foi revisada de 0,4% para 0,7% na margem, repercutindo melhores resultados observados para a Transformação
em agosto e para a Extrativa em setembro. Ainda assim, o PIB da Indústria deverá desacelerar em relação ao segundo
trimestre, quando a expansão foi de 0,9%1. Na comparação interanual, a Indústria deve crescer 1,5% no 3T, próxima
à variação observada no segundo trimestre. Por subsetor produtivo, ainda na comparação interanual, a expectativa é
de redução no ritmo de retração da Indústria de transformação, possivelmente como reflexo do avanço na produção
de bens de consumo; e de leve desaceleração da Indústria extrativa, em repercussão ao menor ritmo de crescimento
da produção de minério de ferro. Enquanto para a Produção e distribuição de energia e gás a expectativa é de aumento
do crescimento comparativamente ao mesmo trimestre do ano anterior, para a Construção, a queda deverá se tornar
mais acentuada.
O PIB de Serviços também deverá desacelerar no terceiro trimestre. A expectativa para o crescimento desse setor
na margem foi revisada de 0,5% para 0,1% em decorrência de resultados abaixo do esperado observados na PMS
para Transportes terrestres; Armazenagem; e Serviços prestados às famílias em agosto e para Serviços Técnicos-
Profissionais em setembro. Na PMC, também desapontou o desempenho de Vendas de produtos alimentícios no ata-
cado em agosto. Em parte, esses resultados repercutem o fim dos spillovers positivos vindos da forte colheita agrícola
no primeiro semestre desse ano. Na comparação interanual, projeta-se desaceleração de 2,3% no 2T para 1,3% no
terceiro trimestre, repercutindo, ainda nessa base de comparação, menores taxas de crescimento projetadas para
Outros serviços; Informação e comunicação; e Atividades financeiras e queda para Comércio.
Com o resultado projetado para o 3T23, o PIB deverá desacelerar de 3,2% para 2,8% no acumulado em 4 tri-
mestres. Nessa mesma métrica de comparação, o PIB agropecuário deverá acelerar de 11,2% para 12,4% do segundo
para o terceiro trimestre, o PIB industrial passará de 2,2% para 1,9% e o PIB de Serviços deverá desacelerar de 3,3%
para 2,5%.
1/
PIB pela ótica da oferta - var. trimestral % dessaz
Considera dessazonalização até o 3T23.
Agropecuária Serviços Indústria PIB
BOLETIM MACROFISCAL
Para o setor agropecuário, a previsão de crescimento no ano continuou em 14,0%. Apesar do carregamento
estatístico para esse setor ser de cerca de 18,4% em 2023 (considerando dados até o 2T), a expectativa é que o PIB
agropecuário recue na margem nos próximos dois trimestres, repercutindo o fim da colheita de produtos agrícolas com
maior crescimento na comparação interanual. A previsão não se alterou em relação ao último Boletim. A surpresa
positiva com a forte expansão do abate de bovinos e suínos no 3T (de acordo com resultados preliminares da Pesquisa
Trimestral do Abate) e ainda a revisão para cima nas estimativas de colheita de cana-de-açúcar pela LSPA de outubro
foram compensadas pelo menor abate de frangos e produção de leite em comparação ao esperado e pela leve revisão
para baixo nas estimativas para a safra de grãos de 2023, já impactada pelas fortes chuvas neste fim de ano.
Para a Indústria, passou a se projetar avanço de 1,9 % em 2023, ante 1,5% no Boletim anterior. A mudança reflete
o aumento na projeção de crescimento desse setor no 3T, de 0,4% para 0,7% na margem, e ainda as melhores pers-
pectivas para o PIB de atividades menos sensíveis ao ciclo monetário, como a extrativa e a de Produção e distribuição
de energia e gás. Na Indústria extrativa, a produção de petróleo deve seguir em ritmo de forte expansão na comparação
interanual, enquanto a produção de minério de ferro pode ganhar novo impulso com as medidas de estímulo à atividade
na China. A Indústria de transformação, no entanto, deverá apresentar retração pelo segundo ano consecutivo. Para a
Construção, apesar das altas taxas de juros e do alto comprometimento de renda das famílias, segue a perspectiva de
crescimento modesto no ano em repercussão ao aumento dos subsídios para moradia popular (com o Programa Minha
Casa Minha Vida – MCMV).
O crescimento projetado para o setor de serviços foi revisado de 2,5%, no último Boletim, para 2,2%. A revisão
foi motivada pela menor projeção de expansão para esse setor no 3T, de 0,5% para 0,1% na margem. No 4T, no
entanto, a atividade em Serviços deverá voltar a acelerar, dessa vez motivada pelo avanço em setores mais depen-
dentes do ciclo de crédito, como Comércio e Outros serviços. Além da política monetária menos contracionista, deverão
auxiliar na recuperação da atividade desses subsetores a resiliência do mercado de trabalho; a expansão da massa
de renda real (em função do aumento nos rendimentos do trabalho e da redução da inflação); e o aumento nas con-
cessões de crédito em repercussão à queda do comprometimento de renda e inadimplência de pessoas físicas.
Para o PIB nominal de 2023, a projeção é de alta de 8,0%. Essa variação reflete crescimento real de 3,0% e deflator
implícito de 4,9%. Em termos nominais, o PIB deve atingir R$ 10,7 trilhões. Para o PIB per capita, a previsão é de
crescimento de 2,4% em 2023, ante 2,5% no Boletim anterior.
Para 2024, a projeção para o crescimento do PIB também foi revisada para baixo, de 2,3% no Boletim anterior,
para 2,2%. A mudança reflete o aumento das incertezas no ambiente externo em função da eclosão de conflitos geo-
políticos; dos riscos relacionados à desaceleração do crescimento chinês; e da perspectiva de manutenção dos juros
americanos em alto patamar por mais tempo. Também repercute a perspectiva menos favorável para a safra do pró-
ximo ano após a divulgação de prognósticos para a safra de 2024. Em contrapartida à menor contribuição do setor
externo, devem auxiliar na expansão da atividade no próximo ano o crescimento de setores mais cíclicos, beneficiados
com a flexibilização monetária em curso. Nesse sentido, a composição do crescimento brasileiro em 2024 deverá ser
bastante distinta da verificada neste ano, com maior contribuição da absorção doméstica.
Projeta-se desaceleração da atividade agropecuária no próximo ano. Para o PIB agropecuário, a expectativa de é
de crescimento de 0,5% em 2024. Essa estimativa considera tanto os resultados do 1º prognostico da safra para 2024
como o levantamento feito pela Conab sobre a evolução do plantio de algumas culturas agrícolas até meados de 2024.
Também leva em consideração projeções internas para o avanço do abate. A desaceleração esperada para a atividade
desse setor repercute a queda nos preços agrícolas em 2023, desestimulando a expansão das áreas plantadas, além
dos impactos de eventos climáticos extremos nas decisões de plantio e cultivo.
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BOLETIM MACROFISCAL
A atividade na Indústria, em contrapartida, deverá acelerar em 2024. Projeta-se crescimento do setor industrial de
2,4% em 2024. Para esse desempenho, a contribuição da Transformação será predominante, auxiliada pela política
monetária menos contracionista e, consequentemente, pelas melhores condições para tomada de crédito no mercado
bancário e de capitais. O PAC e as linhas especiais para inovação, digitalização e para projetos no âmbito da Trans-
formação ecológica (com destaque para os recursos do Fundo Clima), somados ainda à perspectiva de aumento do
investimento externo direto, em resposta às oportunidades crescentes de investimentos em ativos e projetos sustentá-
veis no Brasil, também devem impulsionar a produção manufatureira no próximo ano. A Construção, amparada por
programas de subsídio para compra de moradia popular, é outro subsetor que deverá contribuir para o maior dinamismo
da atividade industrial em 2024.
Serviços deverá apresentar ritmo crescimento similar ao de 2023. Para o setor, a expectativa é de crescimento de
2,2%, taxa similar à projetada para 2023. Atividades menos sensíveis ao ciclo, como Transporte e Atividades financei-
ras, devem contribuir menos para o crescimento desse setor no ano. Em contrapartida, atividades mais dependentes
do crédito tendem a se beneficiar com menores taxas de juros, menor inadimplência das famílias, menor inflação, maior
salário mínimo real, e ainda pelas condições favoráveis observadas no mercado de trabalho. Pela ótica da demanda,
a expectativa para 2024 é de leve desaceleração do consumo das famílias, estabilidade no consumo do governo,
crescimento da FBCF e menor dinamismo do setor externo.
Para os anos seguintes, a projeção de crescimento segue próxima a 2,5%. As ações de política econômica têm
como foco elevar o potencial de crescimento do país, com responsabilidade ambiental, social e fiscal. As reformas
fiscal, tributária e financeira devem funcionar como bases para possibilitar o aumento da produtividade e a redução
estrutural dos juros, enquanto as políticas de transformação ecológica e de redução da desigualdade deverão garantir
crescimento dos investimentos sustentáveis e da inclusão social.
Projeções de crescimento do PIB (% a.a.) PIB pela ótica da oferta - var. % a.a.
Agropecuária Serviços
Data da projeção Indústria PIB
Ano
16
Setembro/23 Novembro/23 14,0
12
2023 3,2 3,0
8
2024 2,3 2,2 4 3,0
2,2
0 1,9
2025 2,8 2,8
-4
2026 2,5 2,5
-8
4T20 2T21 4T21 2T22 4T22 2T23 4T23
2027 2,6 2,6
Fonte: IBGE e SPE
15
BOLETIM MACROFISCAL
Inflação
De agosto a outubro, a variação acumulada em doze meses do IPCA subiu em repercussão à aceleração nos
preços de monitorados. A inflação medida pelo IPCA avançou de 4,61% em agosto para 4,82% em outubro, influen-
ciada principalmente pela alta de monitorados, de 7,69% para 9,99%. No caso dos monitorados, o aumento da inflação
refletiu a saída dos efeitos de desonerações de combustíveis e energia da base de cálculo. Pequena parcela da ace-
leração nos preços de monitorados pode ser atribuída também ao efeito líquido de reajustes nos preços da gasolina e
diesel, anunciados em agosto e outubro. Em contrapartida, nesse mesmo período, destaca-se a desaceleração da
inflação de plano de saúde, energia elétrica e plano de telefonia fixa.
20
15
10
5
-1,30
0
-5
Nov Abr Set Fev Jul Dez Mai Out
2020 2021 2021 2022 2022 2022 2023 2023
Fonte: IBGE
A inflação de bens industriais também seguiu desacelerando no período, refletindo o menor ritmo de acelera-
ção nos preços de componentes menos voláteis. De agosto a outubro, a inflação de bens industriais desacelerou
de 3,71% para 2,66% no acumulado em doze meses, contribuindo para essa dinâmica a menor aceleração nos preços
de vestuário, produtos de higiene pessoal, artigos de limpeza e mobiliário. Para a métrica subjacente, que exclui etanol;
fumo; automóveis novos e usados; e eletrodomésticos do cálculo da inflação de bens, a desinflação foi ainda mais
16
BOLETIM MACROFISCAL
acentuada. A desaceleração nos preços de bens segue repercutindo, com defasagem, a deflação observada para os
preços industriais no atacado e a apreciação cambial observada ao longo do ano. A queda nos preços de derivados
de petróleo e a redução da inflação de energia após o choque durante a pandemia, junto com o menor ritmo de cres-
cimento da atividade global no terceiro trimestre, também vêm contribuindo para o processo de desinflação de bens.
12 5,4
5,2
8
5,0
4
2,66 4,8
0 4,6
Nov Abr Set Fev Jul Dez Mai Out Out Dez Jan Mar Mai Jun Ago Set Nov
2020 2021 2021 2022 2022 2022 2023 2023 2022 2022 2023 2023 2023 2023 2023 2023 2023
Fonte: IBGE, BCB Fonte: Bloomberg
Apesar da inflação de serviços ter se mantido constante de agosto a outubro, a métrica de inflação subjacente
desacelerou. A inflação de serviços passou de 5,43% em agosto para 5,45% em outubro, influenciada pela aceleração
nos preços de itens mais voláteis como acesso à internet; combo de telefonia, internet e TV por assinatura; plano de
telefonia móvel; e passagem aérea. A inflação de serviços subjacentes, em contrapartida, seguiu em desaceleração,
passando de 5,48% em agosto para 5,01% em outubro, menor nível desde agosto de 2021, evidenciando que o “se-
gundo estágio” do processo desinflacionário já se observa no Brasil. Em doze meses, destaque para a menor acelera-
ção dos preços de serviços bancários, de alimentação fora do domicílio e de aluguel residencial e para a deflação em
seguro de veículo. Os preços desses itens foram impactados não somente pelos efeitos da política contracionista na
demanda, mas também pela deflação dos IGPs e de alimentos no atacado (caso de aluguel, refeição e lanche, por
exemplo).
10
6 5,45
4 5,01
0
Nov Abr Set Fev Jul Dez Mai Out
2020 2021 2021 2022 2022 2022 2023 2023
Em novembro e dezembro, o processo de desinflação deve continuar, liderado pela menor aceleração proje-
tada para os preços de componentes subjacentes da inflação. Até o final do ano, a inflação acumulada em doze
meses dos preços de monitorados deve recuar, em paralelo à continuidade do processo de desinflação dos preços
livres. Destaca-se a variação trimestral dessazonalizada e anualizada das cinco principais medidas de núcleo, que
desde julho já se encontra dentro do intervalo da meta, devendo fechar o ano em patamar próximo à 3,90%, de cerca
de 5,60% em fins de 2022.
17
BOLETIM MACROFISCAL
IPCA, livres e administrados - var. % 12m Média trimestral dos 5 principais núcleos de inflação -
Livres Administrados IPCA cheio var. % dessaz.
Meta +/- 1,5 Média trimestral
20
15
15
12
10
9
5 6
0 3
-5 0
Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Dez Abr Ago Dez Abr Ago Dez Abr Ago Dez
2020 2021 2021 2022 2022 2023 2023 2020 2021 2021 2021 2022 2022 2022 2023 2023 2023
Fonte: BCB Fonte: BCB, SPE-MF
Com base nesses desdobramentos, a projeção para o IPCA foi revisada de 4,85% para 4,66% em 2023. O pro-
cesso de desinflação vem ocorrendo com velocidade maior do que a projetada até meados do ano (pelo mercado e
pela SPE), levando a inflação para dentro do intervalo proposto pelo regime de metas já em 2023. A variação acumu-
lada em doze meses das 5 principais medidas de núcleo também deve fechar o ano abaixo do limite superior do
intervalo proposto para a meta, em torno de 4,40%. Conforme já destacado, no Brasil, a segunda etapa do processo
de desinflação já está em andamento e segue superando as expectativas.
10
1
Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez
2020 2021 2021 2022 2022 2023 2023
Fonte: IBGE, BCB, SPE
Para 2024, a inflação projetada passou para 3,55%, ante 3,40% no Boletim anterior. A revisão para cima em 0,15
p.p. reflete ajustes pontuais no cenário de inflação, decorrentes de mudanças marginais nas projeções para o câmbio
e para os preços de commodities. Também incorpora os reajustes do ICMS sobre gasolina, diesel e GLP, anunciados
pelos estados para entrar em vigor a partir de fevereiro do próximo ano, e impactos esperados do El Niño sobre os
preços de alimentos, energia e combustíveis. A materialização de El Niño de grande intensidade e de rupturas nas
cadeias de fornecimento global em repercussão ao acirramento de conflitos geopolíticos são riscos altistas para esse
cenário, parcialmente compensados pela perspectiva de desaceleração do crescimento global.
Apesar da elevação na estimativa para a inflação de 2024, a dinâmica positiva em curso para os preços menos
voláteis de serviços e bens deve seguir sendo observada. O boxe “Mudanças nos preços relativos de bens e
serviços e perspectivas para a inflação” traz considerações nesse sentido. Atualmente se observa um descolamento
desses preços em relação à tendência observada no pré-pandemia e o retorno à essa tendência, ainda que de maneira
parcial, tende a auxiliar o processo desinflacionário. Os preços de monitorados também devem desacelerar, menos
influenciados por mudanças tributárias.
18
BOLETIM MACROFISCAL
1,0
0,5
0,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Fonte: NOAA
Para o INPC, a expectativa é de variação acumulada em doze meses de 4,04% em 2023, ante projeção de 4,36%
no último Boletim. A revisão em -0,32 p.p. frente à projeção do Boletim anterior foi maior que a do IPCA (-0,20 p.p.)
e reflete a incorporação de valores já divulgados para o Índice em setembro e outubro. No ano, a inflação para consu-
midores com renda mensal de até cinco salários mínimos deverá ser inferior àquela medida pelo IPCA em mais de
0,60 p.p., evidenciando que o processo desinflacionário vem ocorrendo de maneira mais pronunciada para as menores
classes de renda.
O IGP-DI de 2023 foi novamente revisado para baixo, passando de -3,00% para -3,30%. Desde o último Boletim,
os preços agropecuários do IPA-DI surpreenderam para baixo, voltando a apresentar deflação acentuada em setembro
como reflexo da forte queda nos preços de bovinos, leite e ovos. Em outubro, a alta do IPA também foi abaixo da
esperada já que a queda nos preços da soja e do leite compensou parcialmente a alta sazonal da batata e a elevação
da inflação de bovinos. Para 2024, projeta-se aceleração nos preços no atacado, motivada pela maior ocorrência de
anomalias climáticas, com impactos sobre o plantio de alimentos e, consequentemente, sobre os preços de commodi-
ties agropecuárias.
BOLETIM MACROFISCAL
Indicadores Macrofiscais e
Projeções do Sistema PRISMA
Fiscal
Expectativas para 2023
Restando apenas o mês de dezembro para concluir a coleta de expectativas de mercado em relação à situação fiscal
do país ao longo de 2023, avalia-se a trajetória das projeções das principais variáveis fiscais encaminhadas pelas
instituições participantes do Sistema PRISMA Fiscal até o mês de novembro. É possível observar que, no período entre
janeiro e novembro de 2023, as expectativas de mercado em relação à situação fiscal da economia brasileira em 2023
foram marcadas pela seguinte dinâmica:
Houve melhora na expectativa do Resultado Primário para 2023. Entre janeiro e novembro de 2023, a previsão
de déficit primário para o ano passou de R$ 125,99 bilhões para R$ 113,51 bilhões, apresentando queda de 9,9% entre
as duas coletas. Essa estimativa reflete estabilidade da expectativa em relação às despesas totais ao longo do ano e
melhora na expectativa de receita líquida. Com a expectativa do mercado para o PIB de 2023 em R$ 10,69 trilhões, a
projeção mediana é de que o déficit primário no ano corresponda a 1,06% do PIB.
Houve melhora na estimativa de Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) em relação ao PIB, com consecutivas
projeções de queda deste indicador. Em janeiro de 2023, o mercado esperava que a DBGG do ano corresponderia
a 79,1% do PIB. Já em novembro, a projeção caiu para 75,8%, representando queda acumulada de 3,3 p.p. no ano,
até o presente mês. A expectativa de um déficit primário menor, conjuntamente à melhora na perspectiva de cresci-
mento do PIB e de queda na taxa de juros1, entre janeiro e novembro deste ano, são fatores que auxiliam no entendi-
mento da dinâmica favorável observada na expectativa de DBGG/PIB para 2023.
1 Segundo o Boletim Focus, a expectativa da taxa Selic para 2023 passou de 12,25% em janeiro para 11,75% em novembro de 2023 (-0,5 p.p.).
20
BOLETIM MACROFISCAL
A expectativa de PIB Nominal registrou aumento. Entre janeiro e novembro de 2023, a projeção de PIB nominal
para o ano corrente passou de R$ 10,4 trilhões para R$ 10,7 trilhões, exibindo variação positiva de 2,80%. O aumento
da projeção para o PIB nominal ao longo do ano teve reflexo na melhora dos indicadores fiscais de arrecadação,
resultado primário/PIB e DBGG/PIB.
11.500
11.000
10.403
10.500 10.694
10.000
9.500
9.000
jan/2023 fev/2023 mar/2023 abr/2023 mai/2023 jun/2023 jul/2023 ago/2023 set/2023 out/2023 nov/2023
Fonte: Sistema PRISMA Fiscal/SPE-MF
A expectativa para a Receita Líquida do Governo Central teve variação positiva. Em janeiro de 2023, a projeção
mediana das Instituições participantes do Sistema Prisma para a Arrecadação das Receitas Federais no corrente ano
era de R$ 2,310 trilhões, em novembro, atingiu a magnitude de R$2,330 trilhões (+0,87%). Quando se considera a
Receita Líquida do Governo Central, a projeção de janeiro era de R$1,89 trilhões, ao passo que, em novembro, a
expectativa atingiu R$1,91 trilhões, exibindo aumento de 1,02%.
A expectativa de Despesa Total do Governo Central permaneceu estável. Dados do PRISMA apontam pequena
elevação na projeção para o ano de 2023 de R$ 2,017 trilhões em janeiro para em R$ 2,202 trilhões em novembro
(+0,17%).
2.100
2.017 2.020
1.900
1.700
1.500
jan/2023 fev/2023 mar/2023 abr/2023 mai/2023 jun/2023 jul/2023 ago/2023 set/2023 out/2023 nov/23
BOLETIM MACROFISCAL
A expectativa de mercado para a relação entre resultado primário e PIB é de queda ao longo dos anos. Embora
se tenha registrado piora nas projeções para o resultado primário de 2025 e 2026 quando se compara as coletas de
janeiro e novembro de 2023, a expectativa é de uma dinâmica cadente para o indicador de resultado primário em
proporção do PIB. A projeção é de déficit primário 0,80% para 2024, 0,64% em 2025 e 0,41% em 2026.
-0,40%
-0,41%
-0,80% -0,64%
-0,80%
-1,20% -1,06%
Fonte: Sistema PRISMA Fiscal/SPE-MF
Houve aumento na expectativa de despesa total e receita líquida em todos os anos. Entre janeiro e novembro de
2023, a projeção de despesa total aumentou de R$ 2,11 trilhões para R$ 2,17 trilhões em 2024 (+2,52%), de R$ 2,20
trilhões para 2,28 trilhões em 2025 (+3,68%) e R$ 2,31 trilhões para 2,41 trilhões em 2026 (+4,29%). Para o mesmo
período, a expectativa de receita líquida passou de R$ 2,00 trilhões para R$ 2,08 trilhões em 2024 (+3,99%), de R$
2,13 trilhões para R$ 2,21 trilhões em 2025 (+3,87%) e de R$ 2,27 trilhões para 2,36 trilhões em 2026 (+4,00%).
Portanto, percebe-se certo compasso entre as projeções de aumento de Despesa Total e Receita Líquida do Governo
Central no médio prazo.
22
BOLETIM MACROFISCAL
Despesa Total (R$ Bilhões) 2023-2026 Receita Líquida (R$ Bilhões) 2023-2026
2023 2024 2025 2026 2023 2024 2025 2026
2.500 2.500
2.400 2.400
2.300 2.300
2.200 2.200
2.100 2.100
2.000 2.000
1.900 1.900
1.800 1.800
O PRISMA registrou aumento nas expectativas de PIB Nominal para os anos de 2023 a 2026, quando se com-
para as projeções enviadas em janeiro e novembro de 2023. A expectativa passou de R$ 11,00 trilhões para R$
11,32 trilhões em 2024 (+2,95%), de R$ 11,56 trilhões para R$ 12,00 trilhões em 2025 (+3,80%) e de R$ 12,20 trilhões
para R4 12,72 trilhões em 2026 (+4,31%).
12.000
11.000
10.000
2023 2024 2025 2026
Fonte: Sistema PRISMA Fiscal/SPE-MF
Houve aumento na expectativa de Arrecadação das Receitas Federais de médio prazo. Entre janeiro e novembro
de 2023, a projeção passou de R$ 2,44 trilhões para 2,52 trilhões em 2024 (+3,44%), de R$ 2,59 trilhões para R$ 2,68
trilhões em 2025 (+3,69%) e de R$ 2,75 trilhões para R$ 2,84 trilhões em 2026 (+3,65%).
2.800
2.600
2.400
2.200
2.000
2023 2024 2025 2026
Fonte: Sistema PRISMA Fiscal/SPE-MF
Houve queda na projeção do indicador DBGG/PIB para todos os anos entre 2023 e 2026, quando se compara
as expectativas de janeiro e novembro. Embora as expectativas para a DBGG (% PIB) sejam de aumento deste
indicador entre 2023 e 2026, passando de 75,8% em 2023 para 83,5% em 2026 (+7,7 p.p.) no último relatório do
Prisma, quando se comparam as coletas de janeiro e novembro, registram-se revisões para baixo para a projeção de
cada ano. Entre janeiro e novembro de 2023, a projeção de DBGG/PIB passou de 82,4% para 78,8% em 2024 (-3,6
p.p.), de 85,0% para 81,2% em 2025 (-3,8 p.p.) e de 87,1% para 83,5% em 2026 (-3,6 p.p.).
Quando se analisa a série mais ampliada da DBGG/PIB, é possível verificar que as expectativas dos agentes em
relação a esse indicador têm mantido trajetória de queda, após intensa elevação no período da pandemia iniciado em
março de 2020.
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BOLETIM MACROFISCAL
95
90
85
80
75
BOLETIM MACROFISCAL
No entanto, mesmo com o fim do isolamento e normalização das cadeias produtivas, a razão entre os preços
de serviços e bens não retornou ao patamar observado no período pré-pandêmico. Esta razão voltou a exibir
trajetória ascendente somente a partir do segundo trimestre de 2022, porém com inclinação menos pronunci-
ada.
Figura 1: Razão entre preços de serviços e bens industriais - Índices de preços dessaz, 2019 = 100
Razão Tendência 2014-2019
120
100
80
60
Out Dez Fev Abr Jun Ago Out
2010 2012 2015 2017 2019 2021 2023
Fonte: IBGE, SPE/MF
Analisando separadamente os preços de serviços e bens, é possível notar que ambos ainda mantêm desvios das
tendências que exibiam antes da pandemia, e que o desvio é significativamente maior no caso dos preços de bens.
Verifica-se, ainda, que enquanto os preços de bens voltaram a exibir tendência com inclinação similar àquela do
pré-pandemia (diferença entre a tendência e realizado se tornou constante, na Figura 2), no caso dos preços de
serviços a tendência se tornou menos inclinada (diferença entre tendência e realizado crescente, na Figura 3).
120 10
100 0
80 -10
60 -20
Out Dez Fev Abr Jun Ago Out
2010 2012 2015 2017 2019 2021 2023
Fonte: IBGE, SPE/MF
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120
10
100
80
0
60
40 -10
Out Dez Fev Abr Jun Ago Out
2010 2012 2015 2017 2019 2021 2023
Fonte: IBGE, SPE/MF
Entender os determinantes dessa nova dinâmica de preços é relevante para projetar a inflação futura. Se os
desvios que ainda se mantêm forem atribuídos a choques temporários, é plausível supor o retorno dos preços
às tendências verificadas no pré-pandemia. Esse retorno poderia contribuir para o processo desinflacionário
em curso em até 3,0 p.p. (já considerando os pesos de serviços e bens no IPCA). No entanto, se os desvios
dos preços forem explicados por choques permanentes, o impacto para a inflação tenderia a ser mais durador.
É possível contextualizar o desvio dos preços de serviços e bens tanto por fatores temporários como estrutu-
rais. O preço dos bens industriais pode estar sendo impactado pelo excesso de poupança das famílias no
pós-pandemia, que ainda persiste em menor grau, e pela volatilidade dos preços da energia, em razão da
continuidade dos conflitos geopolíticos. Esses efeitos tendem a se dissipar no tempo, podendo contribuir para
o retorno dos preços dessa categoria à tendência observada antes da pandemia.
Fatores estruturais também podem estar interferindo na dinâmica dos preços de bens. O aumento da frag-
mentação geopolítica, resultante da adoção de políticas protecionistas e de nearshoring em grandes econo-
mias, é uma tendência que vem se acentuando nos últimos anos e que dificilmente será revertida. O acirra-
mento da disputa por commodities energéticas ligadas à transição ecológica contribui como fonte de pressão
adicional para essa tendência.
No caso dos serviços, o retorno dos preços à tendência pré-pandêmica pode não ter ainda ocorrido devido
ao impacto da política monetária contracionista no mercado de crédito. O desvio dos preços nessa categoria
pode ser, em certa medida, também atribuído à deflação nos preços de commodities agrícolas e industriais
ao longo de 2023, fenômeno que no Brasil tem impacto indireto em alguns preços de serviços como alimen-
tação fora do domicílio e aluguel.
No entanto, além desses choques de natureza temporária que ainda se observam no cenário conjuntural,
com efeitos que tendem a se dissipar no tempo, para o setor de serviços foram especialmente relevantes as
mudanças estruturais induzidas pela pandemia. Com o isolamento decorrente da crise sanitária, a continui-
dade das atividades nesse setor passou a depender da digitalização. O rápido crescimento da digitalização
elevou a concorrência na prestação de serviços, por reduzir a assimetria de informação dos clientes; e reduziu
custos de deslocamento e com salários, pela possibilidade de contratação de mão-de-obra remota. Dados de
rendimento real habitual mostram, nesse sentido, que os salários no setor de serviços somente retornaram
ao patamar observado no início da pandemia mais recentemente, mesmo com o aumento real do salário
mínimo no início de 2023 (Figura 4).
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BOLETIM MACROFISCAL
101
97
93
89
85
Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set
2019 2019 2020 2020 2021 2021 2022 2022 2023 2023
Fonte: IBGE, SPE/MF
A maior digitalização contribuiu também para a expansão de atividades contratadas por meio de aplicativos,
incentivando a prestação de serviços por conta própria. Dados da PNAD corroboram essa percepção: houve
uma elevação no percentual de trabalhadores por conta própria e informais como proporção dos trabalhado-
res com carteira assinada no setor de serviços durante a pandemia, e esse percentual se manteve mais
elevado nos anos seguintes (Figura 5). A mudança também implica em menores custos de contratação e,
consequentemente, menor pressão sobre os preços de serviços.
Figura 5: Percentual de trabalhadores por conta própria e informais como proporção dos trabalhadores
com carteira assinada no setor de serviços
0,95
0,85
0,75
0,65
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023
Fonte: IBGE, SPE/MF
Vale notar ainda que os serviços de tecnologia da informação (TI), voltados para otimizar o funcionamento da
infraestrutura tecnológica; e de aluguéis não-imobiliários, para locação e leasing de meios de transporte e
máquinas e equipamentos sem condutor ou operador, foram as categorias com maior crescimento na PMS
desde a eclosão da pandemia. Enquanto o crescimento expressivo dos serviços de TI está diretamente rela-
cionado ao avanço da digitalização, a expansão de aluguéis não-imobiliários é exemplo de atividade que se
beneficiou com o aumento da infraestrutura tecnológica de serviços e que possibilitou o aumento da prestação
de serviços por conta própria.
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160
120
80
40
0
Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set
2019 2019 2020 2020 2021 2021 2022 2022 2023 2023
Fonte: IBGE, SPE/MF
Vale ressaltar, ainda, que o aumento do dinamismo no setor de serviços não é um fenômeno observado
apenas no Brasil, mas em muitas outras localidades. Nos Estados Unidos e Zona do Euro, por exemplo, o
mercado de trabalho segue resiliente apesar do aperto das condições monetárias. Logo, atribuir esse fenô-
meno exclusivamente a fatores internos (como a reforma trabalhista) pode ser uma avaliação bastante pre-
matura e precipitada.
Fatores de natureza temporária e permanente auxiliam a contextualizar a dinâmica recente dos preços de
serviços e bens. No caso dos preços de bens, choques temporários parecem ser preponderantes para explicar
o desvio que ainda se mantém. Assim que o excesso de poupança das famílias à nível mundial se dissipar e
que a volatilidade nos preços da energia cessar, é provável pensar em retorno desses preços à tendência
observada no pré-pandemia, ainda que de maneira parcial. No caso de serviços, o desvio parece estar mais
relacionado a fatores estruturais, já que não se observa apenas uma mudança de tendência, mas também
uma mudança na inclinação da tendência. Destaca-se, como fator estrutural preponderante, o aumento da
digitalização, fenômeno que trouxe maior dinamismo e potencial produtivo para o setor de serviços. Tanto o
retorno dos preços de bens à tendência anterior à pandemia como a mudança na inclinação da evolução dos
preços de serviços tendem a contribuir positivamente para a dinâmica inflacionária.
28
BOLETIM MACROFISCAL